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0 Conferência sobre Negócios Inclusivos Apoiando as Parcerias de Negócios entre o Sector Privado e as Comunidades: Um Caminho a Seguir RELATÓRIO Em Moçambique, os Negócios Inclusivos, embora não sejam muito visíveis, constituem a melhor forma de envolver as comunidades pobres no processo de desenvolvimento local como produtores, consumidores, trabalhadores, distribuidores e donos de negócios ao longo de toda a cadeia de valor. Maputo, 27 de Outubro de 2011

Conferência sobre Negócios Inclusivos · Inclusivos desenvolvem-se na base de relacionamentos de longo prazo para benefício mútuo. Com efeito, as empresas associam-se às comunidades

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Conferência sobre Negócios Inclusivos

Apoiando as Parcerias de Negócios entre o Sector Privado e as Comunidades:

Um Caminho a Seguir

RELATÓRIO

Em Moçambique, os Negócios Inclusivos, embora não sejam muito visíveis,

constituem a melhor forma de envolver as comunidades pobres no processo de

desenvolvimento local como produtores, consumidores, trabalhadores,

distribuidores e donos de negócios ao longo de toda a cadeia de valor.

Maputo, 27 de Outubro de 2011

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Índice

LISTA DE ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS............................................................................................. 2

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3

2. CONCEITO DE NEGÓCIOS INCLUSIVOS ......................................................................................... 3

3. RESULTADOS DO ESTUDO SOBRE A SITUAÇÃO DE NEGÓCIOS INCLUSIVOS EM

MOÇAMBIQUE E NO ZIMBABWE ............................................................................................................. 4

4. EXPERIÊNCIAS DE EMPRESAS A OPERAR EM MOÇAMBIQUE ................................................... 7

4.1 MOZFOODS ............................................................................................................................................................. 7

4.2 ECO-MICAIA............................................................................................................................................................ 9

4.3 RIO TINTO ............................................................................................................................................................... 9

5. APRESENTAÇÕES DO GOVERNO ................................................................................................... 10

5.1 Centro de Promoção de Investimentos ......................................................................................................... 10

5.2 Direcção Nacional de Promoção do Desenvolvimento Rural ...................................................................... 11

5.3 CEPAGRI ...................................................................................................................................................... 12

5.4 RESUMO DAS COMUNICAÇÕES DAS ENTIDADES DO ESTADO ............................................................................................ 13

6. DECLARAÇÃO DE MAPUTO SOBRE NEGÓCIOS INCLUSIVOS .................................................. 13

7. CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 14

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Lista de Abreviaturas e Acrónimos

ACTF – Áreas de Conservação Transfronteiriças

CEPAGRI – Centro de Promoção da Agricultura

CPI – Centro de Promoção de Investimentos

CTA – Confederação das Associações Económicas

DNPDR – Direcção Nacional de Promoção do Desenvolvimento Rural

DUAT – Direito de Uso e Aproveitamento da Terra

FAO – Fundo das Nações Unidas para Agricultura

FEMA – Fórum Empresarial para o Meio Ambiente

GAZEDA – Gabinete das Zonas Económicas de Desenvolvimento Acelerado

IFAD – Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura

INP – Instituto Nacional de Petróleo

MAE – Ministério de Administração Estatal

MIREM – Ministério de Recursos Minerais

MITUR – Ministério do Turismo

MPD – Ministério da Planificação e Desenvolvimento

MPMEs – Micro, Pequenas e Médias Empresas

ONG – Organização-Não-Governamental

PMEs – Pequenas e Médias Empresas

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

SNV – Organização Holandesa de Desenvolvimento

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1. Introdução

A Conferência sobre Negócios Inclusivos em Moçambique subordinada ao tema “Apoiando as parcerias de negócios entre o sector privado e as comunidades: Um caminho a seguir“, que teve lugar em Maputo no dia 27 de Outubro de 2011, foi organizada conjuntamente pelo Centro de Promoção de Investimentos (CPI), Direcção Nacional de Promoção do Desenvolvimento Rural (DNPDR) do Ministério da Administração Estatal, Organização Holandesa de Desenvolvimento (SNV) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A organização contou ainda com o apoio do Centro de Promoção da Agricultura (CEPAGRI) do Ministério da Agricultura, Confederação das Associações Económicas (CTA), Embaixada do Reino dos Países Baixos, Fundo das Nações Unidas para Agricultura (FAO), Fórum Empresarial para o Meio Ambiente (FEMA), Fundação Ford e Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura (IFAD).

O evento tinha como propósito reflectir sobre o conceito de Negócios Inclusivos em Moçambique, apresentando alguns exemplos nos sectores da agricultura, turismo e mineração. Foi, igualmente, objectivo do encontro, o estabelecimento de uma agenda nacional traduzida numa declaração (Declaração de Maputo) com directrizes de operacionalização.

Participaram da conferência vários estratos da sociedade, incluindo o Governo, sector privado, instituições académicas, ONG’s e agências de cooperação.

Ocuparam a mesa do presidium o Vice-Ministro da Administração Estatal, Vice-Ministro da Agricultura, Secretário Permanente do Ministério da Planificação e Desenvolvimento, e Vice-Presidente da Confederação das Associações Económicas.

Para além dos convidados de honra, foram oradores do encontro representantes do CEPAGRI, CPI, DNPDR, SNV – Organização Holandesa de Desenvolvimento, MozFoods, Rio Tinto e Eco-Micaia.

2. Conceito de Negócios Inclusivos

Negócio Inclusivo foi definido como uma iniciativa empresarial que envolve de forma rentável comunidades de baixa renda no estabelecimento e desenvolvimento de seus projectos comerciais.

Chamou-se atenção para a necessidade de se distinguir os Negócios Inclusivos da Responsabilidade Social Empresarial. Enquanto esta última busca resultados de curto prazo e não integra as suas acções na estratégia de negócio das empresas proponentes, os Negócios Inclusivos desenvolvem-se na base de relacionamentos de longo prazo para benefício mútuo. Com efeito, as empresas associam-se às comunidades não somente porque é correcto, mas

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porque esta associação traz valor acrescentado ao negócio e às comunidades, quer seja através da compra regular dos produtos e/ou serviços das comunidades (aumentando a base de produção das empresas), quer seja oferecendo ao mercado produtos e/ou serviços que reconheçam as necessidades das comunidades ajudando-as a supri-las, melhorando por conseguinte a qualidade de vida das comunidades (nos dois casos).

Como impulsionadores chave para o crescimento de Negócios Inclusivos, indicou-se a necessidade de se desenvolver (1) políticas públicas eficazes; (2) soluções baseadas na comunidade; (3) serviços financeiros inclusivos; (4) coesão social como pilares para um crescimento ao nível microeconómico e redução da inequidade através da inclusão económica e social.

A SNV, uma das promotoras do evento e da promoção desta iniciativa, justificou a aposta por Negócios Inclusivos como modelo de desenvolvimento local pelas seguintes razões: (1) necessidade de gerar um crescimento inclusivo; (2) necessidade de impulsionar a inovação; (3) necessidade de fortalecer a gestão das cadeias de valor; (4) promoção do desenvolvimento da força de trabalho; (5) necessidade de melhorar os relacionamentos institucionais; e (6) melhorar a estabilidade social.

3. Resultados do Estudo sobre a Situação de Negócios Inclusivos em Moçambique e no Zimbabwe

De acordo com o programa da conferência foram apresentados os resultados do estudo sobre Negócios Inclusivos realizado em Moçambique e Zimbabwe por consultores comissionados pela SNV.

A metodologia consistiu na visita de estudo a oito casos: dois no turismo e dois na agricultura respectivamente em Moçambique e no Zimbabwe. O estudo também baseou-se na revisão de casos documentados, nomeadamente dois no turismo e cinco na agricultura em Moçambique e quatro na agricultura no Zimbabwe. O estudo incluiu ainda uma visita ao Equador para que os consultores se familiarizassem com os casos de Negócios Inclusivos e com o ambiente regulador e político num contexto em que já existe certa tradição na implementação deste conceito.

Em Moçambique e no Zimbabwe a motivação para a introdução de Negócios Inclusivos advém de:

a) A insatisfação dos empresários com a prática “normal” ou “comum” de fazer negócios;

b) A necessidade de haver um turismo responsável e ético com modelos de negócios sustentáveis em termos de equidade, conservação da natureza e redução da pobreza;

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c) A necessidade de maior colaboração e estabelecimento de parcerias mútuamente vantajosas com as comunidades locais numa visão sustentável de longo prazo;

d) A necessidade de haver um maior benefício para as comunidades e não apenas o lucro para o investidor. Neste âmbito as empresas tiveram como vantagem não só o retorno dos seus investimentos, adquiriram vantagens competitivas no mercado, maior interesse por parte dos clientes no modelo de negócio, redução de custos operacionais, satisfação do cliente, interesse na replicação do modelo por parte de outras empresas e finalmente a conservação do meio ambiente.

As comunidades ao serem integradas como parceiras e beneficiárias de Negócios Inclusivos obtêm vantagens no que concerne ao emprego, renda através da venda dos produtos por si produzidos, distribuição e aquisição de produtos, desenvolvimento de pequenas e médias empresas, e em alguns casos, participação no capital social das empresas investidoras. Estas vantagens influem na sua qualidade de vida ao melhorar a sua segurança alimentar e nutricional, disponibilidade de mais recursos sociais e económicos para as suas famílias, e mais projectos sociais financiados.

Os Governos também obtêm vantagens com a prática de Negócios Inclusivos que se traduzem na melhoria das relações com as comunidades, maior consciência e conservação do meio ambiente, reforço de negócios entre empresas e entre empresas e as comunidades, maior dinâmica de negócios e emprego de força de trabalho local.

O estudo apurou como factores que contribuíram para o sucesso na implementação de Negócios Inclusivos no Zimbabwe e Moçambique:

a) Ser flexível e ter uma estratégia para ultrapassar obstáculos;

b) Ter visão de longo prazo, fé e determinação no modelo de Negócios Inclusivos;

c) Planificar, manter o controle para atingir a confiança e responder aos desafios no momento oportuno;

d) Fazer uso de uma comunicação efectiva;

e) Experimentar, aprender e adaptar-se;

f) Estar aberto a novas parcerias de negócios;

g) Providenciar treinamento adequado;

h) Ter tecnologias (manual e digital) apropriadas às condições locais;

i) Estabelecer contratos de produção (selecção cuidadosa dos produtores);

j) Ter a garantia de mercado para a sustentabilidade a longo prazo;

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k) Ter os investidores certos e assegurar o poder negocial colectivo;

l) As empresas e as comunidades devem ter um plano e acordarem momentos de avaliação;

m) Os contratos devem ser revistos anualmente;

n) As empresas devem ter um momento de recuperação do crédito concedido.

Quanto ao apoio necessário para o trabalho conjunto do sector privado e as comunidades locais em ambos países apresentaram-se as seguintes soluções: (1) existirem facilitadores ou intermediários comunitários (ex. ONG’s) com conhecimento técnico e da realidade local; (2) comunidades locais organizadas; (3) disponibilidade de recursos humanos e voluntários; e (4) o retorno de pessoal qualificado no caso do Zimbabwe

Em termos de ambiente legal e regulador adequado, constata-se ser necessário co-existirem as seguintes condições: (5) redução de taxas de impostos e incentivos fiscais; (6) um Governo local comprometido e que suporte a iniciativa; (7) infra-estruturas e meios de comunicação adequados nas zonas rurais; (8) conhecimento do Governo sobre como trabalhar com as comunidades; (9) mecanismos adequados para a implementação da legislação e politicas; (10) confiança e cooperação entre o Governo e o Sector Privado; (11) assistência para acelerar o processo do registo da terra; (12) facilidades de educação e treinamento.

Ao nível da assistência técnica, o estudo concluiu ser necessário o seguinte suporte: (13) taxas de juros realísticas e empréstimos bonificados; (14) interesse das instituições bancárias em financiarem este tipo de investimento; (15) aumentar o conhecimento entre instituições financeiras sobre os riscos/factores associados aos Negócios Inclusivos; (16) base de dados sobre os investidores sociais interessados neste tipo de negócios; (17) obter o apoio legal; (18) existência de banca e finanças rurais; (19) partilha dos riscos de investimento na fase inicial.

O estudo concluiu que a prática de Negócios Inclusivos está em franco crescimento em Moçambique e Zimbabwe, existindo companhias bem-sucedidas e estabelecidas implementando este modelo de desenvolvimento. Todavia, os poucos recursos técnico-financeiros alocados, não traduzem a importância do modelo.

O estudo chama atenção para o facto de que a maior parte dos Negócios Inclusivos que se verificam e sobretudo na economia rural têm como génese a decisão e motivação de cada empreendedor, e em alguns casos são notórias as razões do seu insucesso. A inclusão social precisa de se tornar uma norma na próxima década.

O estudo conclui existirem poucas empresas de inclusão social estabelecidas e bem-sucedidas no Turismo e na Agricultura; existem várias empresas com um certo grau de implementação de Negócios Inclusivos, porém nada bem estabelecido!

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Existem alguns doadores e ONG’s a tentarem apoiar iniciativas de Negócios Inclusivos, mas os seus esforços na implementação de programas são fracos e desarticulados.

O estudo critica, igualmente, a fraca coordenação das actividades do Governo, Sector Privado, Doadores e ONG’s.

A falta de legislação de suporte ou incentivos para a ocorrência de Negócios Inclusivos em Moçambique é também um factor apontado como crítico. Considera-se neste aspecto a inexistência ou fraco suporte legislativo, de políticas e estratégias do nível central e local.

A apresentação dos consultores terminou com propostas para as fases seguintes do Programa de Negócios Inclusivos, nomeadamente:

1. Criação do Conselho de Negócios Inclusivos: sugestões – envolvimento do S. Privado e do Governo. A preocupação é que o Governo poderá pretender deter o controle se for um programa do Governo; o Governo deve ser parte da solução estabelecendo o quadro legal e as políticas; um conselho de âmbito nacional deve estar ligado as plataformas de nível local

2. Opções de parcerias: ao nível do Governo - MPD ou MITUR e CPI, ao nível do Sector Privado – CTA ou FEMA

3. Capacitação do Governo em conhecimento e experiencia sobre Negócios Inclusivos: Necessidade do Governo poder solicitar do Sector Privado apoio para operacionalização de Negócios Inclusivos.

4. Experiências de Empresas em Moçambique

No âmbito da apresentação de experiências práticas de Negócios Inclusivos, ouviram-se apresentações do Grupo Mozfoods S.A., Grupo Eco-Micaia Limitada e Rio Tinto

4.1 Mozfoods

O Grupo Mozfoods S.A do Vale do Limpopo e Vanduzi iniciou as suas actividades em 2004 e tem como ramos de produção as hortícolas e cereais, abastecendo os mercados doméstico, sul–africano e europeu. Até 2010 haviam sido investidos cerca de 35 milhões de dólares com um volume de facturação anual de 10,2 milhões de dólares e um total de 2.200 colaboradores.

No vale do Limpopo o Grupo Mozfoods S.A faz produção directa de arroz, milho e leguminosas numa área de produção de 950 hectares dos quais 520 hectares são de rega pivot central e 450 hectares de rega a pé. Possui silos com uma capacidade de armazenamento de 16 mil toneladas de cereais e processamento de 20 mil toneladas de arroz em casca por ano.

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No âmbito de Negócios Inclusivos, a Mozfoods através do modelo de parceria tem como objectivo promover o desenvolvimento da comunidade agrícola, oferecendo-lhe emprego, e auto-emprego; criar oportunidades de negócio para provedores de serviços e, abrir rotas para os pequenos agricultores chegarem ao mercado.

Assim, a Mozfoods presta assistência técnica aos agricultores, disponibiliza boas variedades de sementes, crédito para os factores de produção, serviços mecanizados e lavoura até a colheita. Por exemplo, na campanha agrícola 2010/2011, estabeleceu uma parceria com o Banco Terra para o financiamento de 100 agricultores com áreas compreendidas entre os 8 a 16 hectares, e assumiu o risco de 40% dos prejuízos no empréstimo. O grupo também financiou 80 agricultores que tinham áreas inferiores a 8 hectares e iniciou o trabalho com 400 agricultores familiares com áreas de produção em média de 1,8 hectares de sementeira directa e 1 hectare na utilização de transplante.

Importa referir que a implementação do modelo de parceria constituiu um alto risco financeiro para o Grupo Mozfoods, ao impossibilita-lo de operar em todos os elos da cadeia de valor de produção do arroz, nomeadamente a gestão da infra-estrutura estatal de rega e drenagem. Quanto às acções desenvolvidas para o sucesso desta iniciativa, realce vai para o reforço das relações com o sector familiar, anúncio 4 meses antes da sementeira de um preço atractivo para o produtor, fornecimento de sementes de qualidade a crédito aos produtores, recrutamento de agricultores locais reconhecidos pela comunidade como agentes locais para mobilização e sensibilização dos restantes agricultores e, apoio a equipa de extensão do Grupo Mozfood S.A.

De referir que o Estado apoiou esta iniciativa, com a limpeza das valas de drenagem tendo o modelo de parceria adoptado pela Mozfoods incentivado uma grande parte da comunidade com potencial para a produção agrícola. A título de exemplo foram celebrados 1.250 contratos com produtores e a semente já foi distribuída. Espera-se que este número venha a aumentar para 2.500 ainda na presente campanha. A melhoria na comunicação e o contacto mais aproximado com as autoridades e produtores elevou a credibilidade da empresa na comunidade. O Grupo actualmente é membro dos órgãos consultivos e executivos que trabalham em prol do desenvolvimento do distrito.

Quanto às lições aprendidas durante a implementação de Negócios Inclusivos pelo grupo Mozfoods, destacam-se a necessidade de partilha dos riscos com os intervenientes interessados para que no modelo adoptado haja sucesso; a coordenação com as autoridades locais é crítica num ambiente bastante politizado como o Chokwé; as políticas agrária, fiscal e monetária favoráveis são críticas (as políticas em vigor favorece a importação do arroz em detrimento da produção nacional) e finalmente é necessário uma maior responsabilização e de todos os actores nos contratos. Importa referir como benefícios deste modelo o acesso ao mercado e melhor preço.

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4.2 Eco-Micaia

O Grupo Eco-Micaia apresentou o modelo de Negócios Inclusivos implementado com a comunidade de Mpunga localizada na Reserva Florestal de Moribane, Reserva de Chimanimani. A comunidade de Mpunga é constituída por uma população de 2,530 pessoas cuja actividade principal é a agricultura de subsistência e de rendimento (banana e gergelim).

Através do trabalho na vertente de desenvolvimento de economias locais fortes e criação de comunidades activas, o grupo Eco-Micaia criou uma empresa mista participada pela Associação Kubatana (comunidade de Mpunga) com 60% das quotas asseguradas por um financiamento às comunidades pelo programa ACTF do Ministério do Turismo e a Eco-Micaia Lda com 40% (capital próprio do grupo Eco-Micaia).

Para além da participação pecuniária, a comunidade entrou no negócio através da Associação Kubatana detentora do DUAT (Direito de Uso e Aproveitamento da Terra) onde foi instalado o lodge (acampamento turístico) pertença da sociedade.

Para além do emprego no lodge, os resultados desta parceria incluem a abertura de novos mercados para produtos locais (artesanato, aves, cabritos, hortícolas) e retornos financeiros para a comunidade provenientes dos lucros do negócio.

De realçar que os representantes da comunidades fazem parte da gestão do negócio (recrutamento, pagamento de salários, investimentos). A comunidade de Mpunga beneficia-se igualmente de treinamento na gestão do negócio.

4.3 Rio Tinto

A Rio Tinto, uma empresa transnacional do ramo mineiro, concentrou a sua comunicação na relevância de existir um ambiente favorável para o florescimento de Negócios Inclusivos em Moçambique.

Com efeito, indicou ser importante que o Sector Privado alinhe as aspirações de políticas socioeconómicas do Governo e das comunidades. Disse ser igualmente importante ter em conta as especificidades das comunidades, pois estas compreendem uma variedade de intervenientes, incluindo indivíduos, comunidades, trabalhadores e PME’s.

Sublinhou que o Sector Privado requere segurança para os investimentos, a manutenção da estabilidade política e social, boa governação que inclui uma administração pública transparente, que integre considerações do desenvolvimento sustentável na sua agenda que melhore o ambiente de negócios (reduzindo o custo do “doing business”), que promova o desenvolvimento regional através de infra-estruturas de transporte, o desenvolvimento do capital humano, infra-estruturas públicas e sociais. O ambiente onde o Sector privado opera deve igualmente ser onde

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se promovam os direitos humanos, se respeitem as comunidades e o meio ambiente e que as empresas pautem pela boa governação e transparência empresarial.

5. Apresentações do Governo

As apresentações feitas pelas instituições do Governo, nomeadamente o Centro de Promoção de Investimentos, a Direcção Nacional de Desenvolvimento Rural e o Centro de Promoção da Agricultura ressalvaram a necessidade da melhoria da coordenação entre as diferentes instituições Governamentais, Sector Privado, doadores e outros parceiros com vista a criação de um ambiente favorável para o desenvolvimento de Negócios Inclusivos, à semelhança do Equador no qual existe uma legislação específica para o efeito e um órgão coordenador do desenvolvimento económico e social.

5.1 Centro de Promoção de Investimentos

O Centro de Promoção de Investimentos (CPI), apresentou-se como uma instituição do Estado subordinada ao Ministro da Planificação e Desenvolvimento com o mandato de promover e atrair investimento estrangeiro e nacional, providenciar assistência institucional aos investidores ao facilitar a aprovação e implementação dos seus empreendimentos. Ao CPI também cabe a atribuição de identificar e disseminar oportunidades de investimento, incluindo promover ligações empresariais entre fornecedores nacionais (incluindo as comunidades) e as grandes empresas, promover parcerias entre investidores nacionais (incluindo as comunidades) e estrangeiros, e promover programas de assistência ao desenvolvimento do empresariado nacional (incluindo as comunidades).

De acordo com o CPI, a Politica de Investimentos em Moçambique é constituída por: (1) Lei de Investimentos de 1993, (2) Regulamento sobre a Lei de Investimentos de 2009 e, (3) Código dos Benefícios Fiscais de 2009. Durante a apresentação foi solicitado aos participantes para reflectirem sobre a suficiência deste quadro legal para a promoção de Negócios Inclusivos em Moçambique.

Quanto às oportunidades para Negócios Inclusivos foram mencionadas: a produção e fornecimento de produtos frescos (fruta e vegetais), carnes de aves e animais de pequenos porte, ovos, oleaginosas e produtos pesqueiros para as grandes empresas de mineração, energia, indústria transformadora, serviços intermediários ou de catering, indústria hoteleira e de turismo, supermercados e mercado no geral; fomento da produção de matéria-prima para a indústria de transformação (cevada, mandioca, cana-de-açúcar, algodão, tabaco, soja, etc.); fomento da produção de viveiros para a indústria florestal; colecta e separação de material reciclável para a indústria de reciclagem; distribuição de produtos e serviços (cimento, produtos alimentares,

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bebidas, detergentes, recargas telefónicas em porções adequadas a especificidade e nicho do mercado) e parcerias em novos investimentos.

O CPI, sugeriu como desafios para a implementação de Negócios Inclusivos em Moçambique:

1. Falta de um instrumento de persuasão aos investidores para incluírem as comunidades na sua cadeia de negócios e contribuírem para a sua assistência técnica;

2. Necessidade de se estruturar as comunidades para que se tornem auto-suficientes;

3. Necessidade de fundos para o investimento e assistência técnica as comunidades e fornecedores locais;

4. Melhoria das infra-estruturas e vias de acesso;

5. Necessidade de melhoria da coordenação inter-sectorial ao nível do Governo – a negociação com investidores (MIREM, GAZEDA, CPI, DNPDR-MAE, INP);

6. Necessidade de melhoria da colaboração entre o Governo, Sector Privado, Parceiros de Cooperação, Programas de Apoio ao Sector Privado, ONG’s e Agências de Desenvolvimento;

7. Desenvolvimento de Programas que estimulem investimentos que complementam as cadeias de valor de Negócios Inclusivos (intermediação, armazenamento, transformação e transporte).

5.2 Direcção Nacional de Promoção do Desenvolvimento Rural

A Direcção Nacional de Promoção do Desenvolvimento Rural (DNPDR), apresentou o Projecto de Parcerias entre Comunidades Locais e Investidores (PRO-PARCERIAS), uma iniciativa que visa promover parcerias concretas de negócios sustentáveis entre comunidades locais e investidores nas áreas rurais de Moçambique, integrado na operacionalização da Estratégia de Desenvolvimento Rural 2006-2025 na componente de Gestão produtiva e sustentável dos Recursos Naturais e do Ambiente e, na Boa Governação e Planeamento para o Mercado.

Para a DNPDR, o Projecto PRO-PARCEIRAS assenta na promoção da sustentabilidade das comunidades locais detentoras dos recursos naturais e terra, recursos humanos (mão-de-obra), através da comparticipação no capital (com base na terra) e fornecimento de matéria-prima e serviços, em parceria com o Sector Público (estratégias e políticas, provisão de infra-estruturas básicas, assistência técnica através de extensionistas, e marketing territorial) e o Sector Privado (garantias financeiras e de mercado, promotores de novos projectos/novas tecnologias para a produção e processamento e marketing de produtos).

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A fase Piloto do projecto (2011- 2013) está em curso nas províncias de Gaza, Manica, Sofala, Zambézia e Nampula e, espera-se que resulte em 5 parcerias realizadas com sucesso e documentadas, definição de directrizes e recomendações para uma política sustentável entre comunidades e investidores e finalmente um guião para o estabelecimento de parcerias economicamente sustentáveis.

5.3 CEPAGRI

O Centro de Promoção da Agricultura (CEPAGRI) apresentou as lições aprendidas sobre Negócios Inclusivos na América Latina, mais concretamente do Equador comparando-as com as condições em Moçambique. A visita ao Equador foi co-organizada pela DNPDR através do Projecto PRO-PARCERIAS e a Organização Holandesa de Desenvolvimento (SNV), tendo participado o CPI, CEPAGRI e a CTA.

De acordo com o CEPAGRI, a missão tinha como objectivo explorar o conhecimento e experiência do Equador na promoção dos Negócios Inclusivos e inteirar-se sobre as formas de coordenação e envolvimento dos diversos parceiros na promoção dos Negócios Inclusivos.

Como lições apreendidas da visita ao Equador destacam-se:

1. A mobilização e disponibilização de fundos para Negócios Inclusivos pelo Governo, Sector Privado e parceiros em que estes (Negócios Inclusivos) estabelecem-se numa relação de confiança entre as empresas, os empreendedores e o facilitador.

2. A institucionalização dos Negócios Inclusivos recomenda um alinhamento de políticas e estratégicas sectoriais, regionais e uma coordenação por um único organismo que integre todos os programas de desenvolvimento.

3. A nível de base é necessária a provisão de capital inicial no estabelecimento das MPME’s junto dos pequenos agricultores ao nível das comunidades locais/pequenos produtores, para garantir a sua participação em novos empreendimentos; a limitação das importações ou definição de quotas na importação de matérias-primas que são produzidas localmente.

Para o CEPAGRI o contexto de Moçambique caracteriza-se pela inexistência de instrumentos que regulem os contratos com os produtores, os negócios entre o Sector Privado e as comunidades na sua maior parte são informais, não existindo como tal, a harmonização entre as abordagens de Negócios Inclusivos.

Como aspectos positivos foram mencionados a existência de experiências boas de Negócios Inclusivos nas açucareiras e avicultura; a existência de um protocolo comercial que protege a importação do açúcar que poderia ser extensivo a alguns produtos estratégicos; a disponibilidade

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de recursos humanos; a existência de uma variedade de recursos naturais incluindo a terra arável por explorar e, a existência de instituições que promovem investimentos e negócios.

5.4 Resumo das Comunicações das Entidades do Estado

Os representantes do Centro de Promoção de Investimentos, da Direcção Nacional de Promoção do Desenvolvimento Rural e o Centro de Promoção da Agricultura foram unânimes em recomendar para se avançar com a criação de um Conselho de Negócios Inclusivos constituído por Sector Privado, Governo, Parceiros de Cooperação e Comunidades Locais, o estabelecimento extensivo e gradual das experiências de Negócios Inclusivos existentes em Moçambique, acompanhado da sensibilização de actores estratégicos.

Para estas instituições a inclusão das comunidades detentoras dos factores de produção tais como de trabalho,terra, mão-de-obra, constituem uma mais-valia para elas como parceiras de investidores, assumindo o Governo o papel de facilitador na promoção de tais parceiras, entre as comunidades e os investidores.

6. Declaração de Maputo sobre Negócios Inclusivos

Com o culminar da Conferência, foram apresentados em síntese os aspectos essenciais da Declaração de Maputo sobre Negócios Inclusivos, na qual foi reforçada a necessidade de implantação de Negócios Inclusivos em Moçambique como uma base de desenvolvimento local próspero e sustentável. Foi reconhecido e assumido por todos que o papel do Governo como actor estratégico juntamente com o Sector Privado é crucial na criação de um ambiente favorável aos Negócios Inclusivos.

Sendo assim, afigura-se necessário prosseguir com as seguintes acções: (1) Elaboração de uma Política e Estratégia específicas para promover e regular os Negócios Inclusivos, incluindo aspectos de coordenação, agilização e um possível regime de incentivos fiscais; (2) Existência de mecanismos para a preparação e apoio das comunidades locais como parceiros nos Negócios Inclusivos; (3) Mobilização e difusão de informação sobre fundos específicos para o desenvolvimento de Negócios Inclusivos, complementando com incentivos económicos; (4) Facilitação do acesso ao crédito, através da redução da taxa de juro; (5) Partilha e redução do risco do Sector Privado por parte do Governo através do estabelecimento de fundos de garantia, seguros de produção; (7) Promoção de Política Bancária para as Pequenas e Médias Empresas, constituindo linhas de crédito apropriadas e incentivos fiscais.

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7. Conclusão

Os trabalhos desenvolvidos durante a Conferência reforçaram o compromisso de parceria e

cooperação existentes entre as diferentes instituições presentes e a necessidade de mapeamento

das experiências de Negócios Inclusivos existentes em Moçambique que precisam de ser

harmonizadas e melhoradas.

A implementação de Negócios Inclusivos constitui um desafio num momento em que as

empresas enfrentam a crise financeira mundial, devendo ser encarado como outra forma de fazer

negócio, que acautela os problemas sociais, ambientais e económicos, privilegiando a equidade,

estabilidade social e económica do nosso país.

A Declaração de Maputo exprime o compromisso de todos os actores envolvidos nesta

Conferência, e as propostas contidas na Declaração são reflexo do desejo de mudar a abordagem

de fazer de negócios.

A advocacia junto do Governo para aprovar políticas e estratégias sobre os Negócios Inclusivos

em Moçambique constitui um factor importante para a materialização desta iniciativa no nosso

País.

Maputo, aos 27 de Outubro de 2011

MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO ESTATAL

Direcção Nacional de Promoção

do Desenvolvimento Rural

APOIO: EMBAIXADA DO REINO DO PAÍSES BAIXOS| CEPAGRI| FAO|FEMA|FORD FOUNDATION| IFAD