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antiguidade tardia
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Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 1
O CONFLITO PELA PAIDEIA NA HISTORIOGRAFIA
DO IV AO VI SCULO.
MARCUS CRUZ
O perodo que se estende do III ao VI sculo marcado por profundas e
aceleradas transformaes no mbito do mediterrneo. Observa-se a progressiva
substituio das estruturas sociais, polticas e culturais que marcaram o que a
historiografia denomina de Antigidade Clssica.
O ponto de ruptura que marca o incio dessas transformaes sem dar lugar a
dvidas a chamada crise do III sculo. A sociedade estabelecida em torno do Mar
Mediterrneo atravessou neste momento um perodo particularmente difcil, marcado
por inmeros e diversos problemas, dentre os quais podemos destacar: dificuldades
monetrias, inflao, usurpaes, guerras civis e pela constante presso de povos hosts
junto ao limes.
Na verdade as dificuldades enfrentadas nas fronteiras apenas aceleram um
conjunto de problemas internos vividos pela sociedade romana. Nesta crise o aspecto
religioso assume uma importncia fundamental, pois como afirma Peter Brown nada
demonstra melhor o irrefutvel fato de que a vida nos moldes e critrios clssicos havia
se tornado intolervel, em decorrncia dos problemas enfrentadas pela sociedade
imperial ao longo do III sculo, do que o desenvolvimento e consolidao no seio desta
estrutura social de um conjunto de crenas diverso da religiosidade clssica.( BROWN,
Peter. 1972. p. 51-118). Em outras palavras as questes religiosas apontam e indicam
para profundas transformaes culturais daquela sociedade.
Uma das principais transformaes religiosas e culturais vivenciadas pelo
mundo romano ao longo do IV ao VI sculos foi acelerao do processo de expanso
do cristianismo pelos diferentes grupos da sociedade imperial e pelos diversos mbitos
geogrficos da bacia do Mediterrneo. Assim como, a consolidao da Igreja crist
enquanto um elemento importante tanto para o Imprio quanto para a populao romana
crist ou no.
Universidade Federal de Mato Grosso Doutor em Histria Social
Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 2
Este processo expansionista do cristianismo e de sua Igreja, importante
ressaltar, ocorre dentro dos moldes e parmetros da Paidia Greco-romana, ou seja o
progressivo crescimento da religio, seja em termos sociais quanto geogrfico, acontece
em um universo simblico dominado pela herana da cultura que marcou e caracterizou
a Antigidade Clssica.
Neste sentido uma questo central que perpassa tanto os autores cristos quanto
os autores pago do IV ao VI sculo diz respeito relao estabelecida pelo
cristianismo com a Paideia Greco-romana. Se correto afirmar a existncia de uma
ampla zona de contato e influencias entre os intelectuais pagos e os pensadores cristos
(Athanassiadi, 1992:28), isto no significa de forma alguma conceber as relaes
estabelecidas neste espao como pacficas ou harmnicas. Muito pelo contrrio o que
observamos uma situao de tenso e conflito na medida em que esses dois grupos
buscam se apropriar da Paidia Greco-romana, legitimando suas pretenses e interesses
pela condio de herdeiros desta tradio intelectual.
O presente trabalho tem por objetivo discutir essa luta pela apropriao da
Paidia Greco-romana utilizando-se como suporte documental a historiografia
produzida dos sculos IV ao VI. Nossa inteno no apenas discutir os elementos do
conflito, mas tambm analisar como este era travado a partir, dentro de um mesmo
campo cultural marcado pela herana, pela tradio clssica.
Para tanto, torna-se, necessrio apresentarmos, ainda que de foram sucinta o que
entendemos por Paidia Greco-romana. No Dicionrio da Civilizao Grega, Claude
Moss afirma que: O termo Paidia, que traduzimos como educao, esta ligado
raiz pais, criana. Na verdade este termo recobre uma noo muito mais complexa, que
passou por um grande desenvolvimento a partir da segunda metade do V
sculo.(MOSSE, 2004:107-108).
Na definio da helenista francesa, portanto, o conceito de Paidia encontra-se
vinculado, pelo menos inicialmente, a educao, ainda que a autora aponte para a
complexidade que a noo de Paidia ir assumir na sociedade grega, bem como na
sociedade clssica como um todo. Tal complexidade se explica pelas claras ligaes que
a idia de Paidia enquanto educao estabelece com a cultura e a tradio naquelas
formaes sociais.
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busca em entender essas relaes estabelecidas entre Paidia, cultura e
tradio que esta no cerne da monumental obra de Werner Jaeger Paidia: os ideais da
cultura grega. O autor identifica a noo de Paidia com a conceito de cultura: Y em
forma de Paidia, de cultura, consideraron los griegos la totalidad de su obra criadora
em relacin con otros pueblos de la Antiguedad de los cuales fueron herederos.
(JAEGER, 1987: 6) ou ainda esta outra passagem: Sin embargo, los verdaderos
representantes de la Paidia griega no son los artistas mudos escultores, pintores,
arquitetos -, sino los poetas y los msicos, los filsofos, los retricos y los oradores, ES
decir, los hombres de estado. (JAEGER, 1987: 14-15). Essas citaes demonstram que
para fillogo alemo a noo de Paidia encontra-se profundamente imbricada com
conceito de cultura, constituindo o universo simblico no qual os homens do mundo
antigo se inseriam e construam as suas identidades.
Ao longo do IV ao VI sculos a Paidia Greco-romana continua a ser o centro do
universo simblico dos homens do perodo, porm um aspecto novo se apresenta, a
saber: a ascenso do cristianismo. A questo a ser colocada diz respeito ao dilogo
estabelecido entre esses dois elementos. O prprio Werner Jaeger se debruou sobre
este problema na obra Cristianismo primitivo y Paidia griega. (JAEGER, 1965). No
entanto, neste texto a ateno do autor se voltou para os contatos iniciais entre a
doutrina crist e a tradio cultural clssica com especial nfase na situao vivenciada
na poro oriental do mundo mediterrneo.
Nossa analise, privilegiando o arco temporal compreendido entre o IV e o VI
sculo, buscar entender o conflito entre pagos e cristos para se apropriarem da
Paidia Greco-romana, a luta desses dois atores sociais para se legitimarem enquanto
herdeiros da tradio cultural clssica, a partir dos discursos historiogrficos deste
momento.
Como temos como suporte documental deste estudo a historiografia produzida
por autores pagos e cristos do IV ao VI sculo, comearemos nossa anlise discutindo
os principais elementos constitutivos da produo historiogrfica do perodo.
Em um artigo intitulado Historiografia pago e historiografia cristo no sculo
IV publicado em 1963 na coletnea The conflict between paganism and christianity in
the fourth century o historiador italiano Arnaldo Momigliano afirma no existir um
conflito entre os historiadores pagos e cristo no IV sculo, na medida que havia uma
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diviso de campos entre as duas historiografias. Cabendo aos autores cristos a histria
eclesistica e a biografia, enquanto aos pagos cultivavam as formas tradicionais do
discurso histrico. Nas palavras do autor: Podemos ver, pues, que en el siglo IV no se
poda esperar um conflicto direto entre cristianos y paganos em el plano superior de la
historiografia. Los cristianos, com toda su agresividad, se ayenan a sua nuevos tipos de
historia y biografia... Los paganos quedan em paz para cultivar cualquier discusin
directa com sus formidables vecinos em el campo de la historiografia. Em la mayora de
los estudiosos paganos de la historia, la oposicin al cristianismo se adivina pero casi
nunca se puede demonstrar.(MOMIGLIANO, 1993:107)
Discordamos frontalmente de Momigliano, pois entendemos que a historiografia
apresenta-se em primeiro lugar como fazendo parte da Paidia Greco-romana, sendo
portanto uma das amplas zonas de contato entre o pensamento pago e o cristo, uma
vez que essas duas historiografias constroem seus discursos a partir de uma herana
advinda da historiografia clssica, apesar de certas inovaes crist acerca da temtica
ou em termos das dimenses da cronologia do processo histrico, e principalmente no
que concerne a contribuio de Agostinho e de Paulo Orsio no estabelecimento de uma
filosofia da histria de carter transcendente.
Em segundo lugar a historiografia do sculo IV ao VI um dos lcus do conflito
entre os intelectuais pagos e cristos pela Paidia Greco-romana. Por meio do discurso
historiogrfico tanto os historiadores pagos quanto os historiadores cristos buscam
legitimar sua posio como os verdadeiros herdeiros da tradio clssica e
simultaneamente desqualificar seus adversrios na medida em que estes no so
autnticos representantes deste legado cultural.
Comecemos, portanto, a analisar a historiografia dos sculos IV ao VI enquanto
inserida na Paidia Greco-romana, destacando os elementos deste discurso, que
compartilhado pelos historiadores pagos e cristos, remontam a tradio historiogrfica
clssica.
O primeiro elemento que gostaramos de destacar concerne ao carter retrico do
discurso histrico, ou seja, escrever histria no mundo antigo era produzir um discurso
persuasivo, capaz de convencer a audincia, ao pblico. No seu livro Authority and
tradition in ancient historiography John Marincola afirma que os historiadores do
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period classic tinham que convencer seus leitores dos mritos da sua obra atravs da
apresentao desta (MARINCOLA, 1997).
Dos sculos IV ao VI os historiadores, tanto pagos quanto cristos, continuam a
ter que demonstrar aos seus leitores o valor e a confiabilidade de suas obras. O mtodo
mais tradicional era convencer o pblico da importncia e da grandeza das aes que
iriam ser tratada no texto. Podemos citar como exemplo a seguinte passagem de
Procpio de Cesaria, historiador pago do VI sculo: Pero ahora que me encamino a
outra empresa, em cierto modo rdua y terriblemente difcil de superar, la de las vidas
de Justianiano y Teodora, resulta que me encuentro temblando y me echo atrs em
buena medida cuano considero que esto habr de escribir em este momento pueda
increble o inverosmil a ls futuras generaciones; especialmente, cuando el tiempo, em
su largo flujo, haya avejentado mi relato, temo cosechar la reputacin de um mitografo
y ser incluido entre los poetas trgicos.(PROCOPIO DE CESAREIA,1.4)
Este procedimento no exclusivo da historiografia pag, os historiadores
cristos se utilizam do mesmo expediente vejamos o que escreve Theodoreto logo no
incio da sua Histria Eclesistica: When artists paint on panels and on walls the
events of ancient history, they alike delight the eye, and keep bright for many a year the
memory of the past. Historians substitute books for panels, bright description for
pigments, and thus render the memory of past events both stronger and more permanent,
for the painter's art is ruined by time. For this reason I too shall attempt to record in
writing events in ecclesiastical history hitherto omitted, deeming it indeed not right to
look on without an effort while oblivion robs noble deeds and useful stories of their due
fame.(TEODORETO 1.1.1-2)
Podemos observar desta forma que tanto a historiografia pago quanto a crist,
entre os sculos IV ao VI, busca convencer o seu pblico da importncia dos fatos a
serem narrados em seus escritos em um procedimento que data das origens do
conhecimento histrico com Herodoto e Tucdides. Basta lembrar as palavras iniciais da
obra de Herdoto: Ao escrever sua histria, Herodoto de Halicarnasso teve em mira
evitar que os vestgios das aes praticadas pelos homens se apagassem com o tempo e
que as grandes e maravilhosas exploraes dos Gregos, assim como as dos Brbaros,
permanecessem ignoradas...(HERDOTO, 1.1) ou ainda as afirmaes de Tucdides:
O ateniense Tucdides escreveu a histria da guerra entre os peloponsios e os
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atenienses, comeando desde os primeiros sinais, na expectativa de que ela seria grande
e mais importante que todas as anteriores, pois via que ambas as partes estavam
preparadas em todos os sentidos; alm disso, observava os demais helenos aderindo a
um lado ou ao outro, uns imediatamente, os restantes pensando em faze-lo. Com efeito,
tratava-se do maior movimento jamais realizado pelos helenos, estendendo-se tambm a
alguns povos brbaros a bem dizer a maior parte da humanidade.(TUCDIDES, 1.1)
Desta forma a historiografia do momento que estamos analisando demonstra ser
herdeira da tradio historiogrfica clssica, em outras palavras escrever histria entre
os sculos IV ao VI significava se inserir na Paidia Greco-romana.
Um segundo elemento compartilhado pela historiografia do sculos IV ao VI
tanto pelos autores pagos quanto cristo e que demonstram o quanto o discurso
historiogrfico se insere na Paidia Greco-romana a concepo de que a histria
possui um propsito moral. Utilizamos mais uma vez as palavras de Procpio como
exemplo de um autor pago: Consideraba en efecto que esta obra resultaria
incoveniente a las generaciones futuras porque antes conviene que las ms viles
acciones sean desconocidas, que el que lleguem a odos de los tiranos y susciten em
ellos el deseo de emularlas. Pues a la mayor parte de los que sustentan el poder siempre
es fcil que la ignorncia ls mueva fcilmente a imitar las malas acciones de sus
antepasados, y as se sientem invariablemente atrados, de uma forma natural y
espontnea, por los crmenes cometidos por los ms antiguos. Sin embargo al final uma
consideracin me llev a redactar la historia de estos hechos: el pensar que los tiranos
que vengan luego tendrn clara conciencia, em primer lugar de que no es improbable
que ls sobrevenga um castigo por sus crmenes justamente lo que llegaron a padecer
estos hombres -, y adems, de que sus acciones y caracteres quedarn para siempre
consignados por escrito: tal vez as Sean por este mismo motivo ms reluctantes a la
hora de transgredir las leyes. (PROCOPIO DE CESAREIA,1.6-8).
As palavras de Procpio so claras, pouco necessitam de comentrios para
percebemos que para este autor a histria tem uma funo moral, de tentar impedir que
os erros acontecidos no passado se repitam, na perspectiva consagrada pela mxima
ciceroniana histori magister vit est. O que insere Procpio no apenas na tradio
historiogrfica clssica, mas principalmente, para o nosso estudo, o coloca dentro da
Paidia Greco-romana, como um herdeiro dessa herana cultural.
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Esta preocupao de cunho moral, devemos salientar, encontramos tambm nos
autores cristos, como podemos perceber nesta passagem da Histria Eclesistica de
Sozomeno: In the first place, as I have already said, na historian ought to regard
everything as secondary in importance to truth ; and, moreover, the purity of the
doctrine of the Catholic church is evidenced by the fact of its being the most powerful,
for often has it been tested by the attacks of opinionists of antagonistic dogmas : yet, the
disposal of the lot being of God, the Catholic church has maintained its own
ascendency, has re-assumed its own power, and has led all the churches and the people
to the reception of its own truth.(SOZOMENO, 1.1.13)
Se para os historiadores pagos o objetivo era que a histria servisse de modelo
para a conduta dos governantes, para os autores cristos a histria serviria para a Igreja
crist evitasse o erro da heresia. No entanto, a concepo da histria como um discurso
moral perpassa tanto a historiografia crist quanto a historiografia pago.
No entanto a historiografia entre os sculos IV e VI no apenas um lcus em
que encontramos confluncia entre os autores pagos e cristos, pelo contrrio uma
zona de contato entre esses dois elementos marcada pelo conflito, pela luta visando
apropriao da Paidia Greco-romana.
Um primeiro ponto que gostaramos de discutir com o objetivo de analisar este
conflito entre pagos e cristos na historiografia dos sculos IV ao VI, diz respeito a
prpria noo de pago. Para um historiador pago como Amiano Marcelino o
paganismo um sistema de pensamento que se encontra alicerado na Paidia Greco-
romana e desta se considera legitimo herdeiro e guardio: Like from the immortal
poems of Homer we are given to understand that it was not the gods of heaven that
spoke with brave men, and stood by them or aided them as they fought, but that
guardian spirits attended them; and through reliance upon their special support, it is
Said, that Pythagoras. Socrates, and Numa Pompilius became famous; also the earlier
Scipio, and (as some believe) Marius and Octavianus, who first had the title of
Augustus conferred upon him and Hermes Trismegistus, Apollonius of Tyanna, and
Plotinus, who ventured to discourse on this mystic theme, and present a profund
discussion of the question by what elements these spirits are linked with mens souls
and taking them to their bosoms, as it were, protect them (as oong as possible) and give
them higher instruction, if they perceive that are pure and kept from the pollution of sin
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through association with an immaculate body.(AMMIANUS MARCELLINUS,
21.14.5).
Para os cristos, no entanto, o paganismo assume um carter prtico senso
associado aos seus templos, liturgias e sacrifcios, como podemos perceber neste
pequeno trecho da Histria Eclesistica de Teodoreto: Julian, wishing to make a
campaign against the Persians, dispatched the trustiest of his officers to all the oracles
throughout the Roman Empire, while he himself went as a suppliant to implore the
Pythian oracle of Daphne to make known to him the future. The oracle responded that
the corpses lying hard by were becoming an obstacle to divination; that they must first
be removed to another spot; and that then he would utter his prophecy, for, said he, "I
could say nothing, if the grove be not purified. (TEODORETO 3.6.1). Ou ainda estas
palavras de Sozomeno: I have also heard, that one day Julian descended into a noted
and terrific cavern, either for the purpose of participating in some ceremony, or of
consulting an oracle, and that, by means of machinery, or of en chantment, such
frightful spectres appeared before him, that, losing all reflection and presence of
mind(SOZOMENO, 5.2.5).
Os exemplos poderiam se multiplicar, porm o que podemos observar
repetidamente a existncia de um conflito entre os historiadores pagos e cristo pela
apropriao da Paidia Greco-romana. De um lado autores como Amiano Marcelino
buscando afirmar o paganismo enquanto uma filosofia, como um sistema de
pensamento oriundo da tradio clssica, mas principalmente herdeiro e continuador
desta herana cultural. De outros os pensadores cristos caracterizando o paganismo
como um conjunto de prticas mgicas e liturgias cada vez mais distantes da Paidia
Greco-romana. O curioso que tanto pagos quanto os cristo no deixam de ter certa
razo, pois o paganismo que encontramos entre o IV ao VI sculo apresenta-se como
uma realidade variada e multifacetada comportando destes prticas mgicas bastante
simplrias at complexos sistemas filosficos.
Um segundo elemento que merece nossa ateno para discutirmos o conflito
entre pagos e cristos pela apropriao da Paidia Greco-romana na historiografia do
sculo IV ao VI o movimento monstico.
Para os historiadores cristos a vida monstica se constitui na verdadeira
filosofia, como podemos perceber nesta passagem da Histria Eclesistica de
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Sozomeno: Those who at this period had embraced monasticism, manifested the glory
of the church, and evidenced the truth of their doctrines, by their virtuous line of
conduct, In deed, the most useful thing that has been received by man from God is their
philosophy. They neglected many branches of ma thematics and the technicalities of
dialects, because they regarded such studies as superfluous, and as a useless expenditure
of time, seeing that they contribute nothing towards the better regulation of life and
conduct. They applied themselves exclusively to the cultivation of natural and useful
science, in order that they might mitigate if not eradicate evil. (SOZOMENO, 1.12.1).
J um hsitoriador pago como Eunapio compara os monges aos brbaros no
fragmento 48: ...barbarians entered the empire disguised as monks, a disguise which
was not at all difficult, since merely wearing a gray cloak and tunic marked one out as a
monastic scoundrel. (EUNAPIO, 48.2).
A viso que os historiadores pagos e cristos em suas obras, respectivamente,
nos apresentam sobre os monges so profundamente diferentes. Para os primeiros os
monges so uns brbaros, ou seja, completamente excludos da Paidia Greco-romana.
No entanto, para os autores cristos, os monges representam a verdadeira filosofia, os
autnticos herdeiros da tradio cultural clssica.
Podemos perceber nos casos analisados como a historiografia dos sculos IV ao
VI um lcus do conflito entre pagos e cristos pela apropriao da Paidia Greco-
romana. O discurso historiogrfico neste momento uma zona de contato, talvez o
conceito mais adequado seja o de fronteira na medida em que este permite tanto o
convvio no mesmo espao simblico entre pagos e cristos, mas tambm nos alerta
sobre o carter conflituoso e tenso deste contato.
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