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CONFLITOS E ENFRENTAMENTOS: AS PRIMEIRAS MULHERES NA
FACULDADE DE MEDICINA NO IMPÉRIO.
PRISCILA DOS ANJOS MORAES*
INTRODUÇÃO
No ano 2000, na Cúpula do Milênio da ONU, 147 chefes de estado e de governo,
representando 189 países, reuniram-se e assumiram o compromisso de cumprir os Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio até 2015 (BRASIL, 2004).
Dentre estes pode-se destacar o terceiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio que trata
da promoção da igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres, e cuja principal meta
consiste em eliminar as disparidades entre os sexos no ensino fundamental e médio, se
possível até 2005, e em todos os níveis de ensino, o mais tardar até 2015 (BRASIL, 2004).
A redução da desigualdade de gênero pretende corrigir uma trajetória de disparidades entre os
sexos que envolvem trabalho e educação.
Dessa presente inquietação (desigualdade de gênero) surge a necessidade de “compreender o
presente pelo passado, e compreender o passado pelo presente” (BLOCH, 2001: 24). E o que
se percebe é a trajetória da desigualdade de gênero possui raízes históricas antigas.
Assim, no presente trabalho busca-se compreender uma parte específica dessa desigualdade
que foi o ingresso de mulheres nos cursos de medicina durante o século XIX.
É claro que o problema da desigualdade não começa neste momento. Afinal, só 1827
percebemos uma preocupação governamental com a educação de homens e mulheres. Com o
advento do Império foi promulgada a lei que permitia o acesso ao ensino público a meninos e
meninas, conhecido como ensino de primeiras letras (MORAES, 2006).
A EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO
Analisando sob uma perspectiva histórica, a necessidade da escolarização da população,
principalmente daquelas que eram consideradas pelos dirigentes como as “camadas inferiores
da sociedade”, foi intensamente discutida nas Províncias de todo o Império na primeira
metade do século XIX. Percebe-se, nesse momento, uma crescente intervenção do Estado na
instrução pública. Diversas leis foram produzidas com o objetivo de garantir a freqüência da
* Secretaria Municipal de Educação do RJ. Graduada em História. Bolsista do INCA.
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população livre à escola e de normatizar a formação que seria dada aos professores, que
atuariam no sistema público de ensino (ROSA, 2004).
Este período da história brasileira é marcado pela busca de afirmação da nacionalidade – ou
melhor pela construção do ideal de nação – em que a educação serve como instância de
treinamento e homogeneização da elite, especialmente no ensino superior como nos mostra
José Murilo de Carvalho (1980) em seu livro A construção da ordem: a elite política
imperial.
A educação como informadora/formadora do ideal de nação a fim de orientar
comportamentos, hábitos e mentalidades, surge com plena força a partir da constituição de
1824 em que se institui a educação de primeiras letras como obrigatória.
Educar tornava-se, pois, ação por meio da qual cada um dos alunos deveria adquirir os
princípios éticos e morais considerados fundamentais à convivência social, aderindo de modo
consciente ao espírito de associação. Era assim o complemento do ato de instruir, que
propiciava a cada indivíduo os germes da virtude e a idéia dos seus deveres como homem e
cidadão. Instruir e educar eram, em suma, uma das maneiras – quiçá a fundamental – de fixar
os caracteres que permitiriam reconhecer os membros que compunham a sociedade civil,
assim como aqueles que lhe eram estranhos, para além da fria letra do contexto constitucional
(MATTOS, 1987).
Gondra (2004) ressalta a importância do discurso médico, sob o aspecto da higiene, na
formação e educação de crianças e como este discurso, apoiado pelas elites, ganha força
principalmente após 1850.
A EDUCAÇÃO DE MULHERES NO IMPÉRIO
Apesar da Lei de 15 de outubro de 1827 (principalmente os artigos 11 e 12) indicar a criação
de escolas de meninas, é em 1832 que ocorre a constatação de que não há oferta de vagas na
instrução pública de Primeiras Letras no Município da Corte, embora houvesse 971 alunas em
escolas particulares (RELATÓRIOS MINISTERIAIS, 1832, pp. 12 e 13).
Os RELATÓRIOS MINISTERIAIS só passam a citar a inclusão de alunas a partir 1834.
Após esta lacuna de sete anos o número de escolas para meninas, assim como o número de
matriculas das mesmas, aumenta paulatinamente (MORAES, 2006).
No entanto, convém ressaltar, como previsto no artigo 12 e 13 da Lei de 15 de outubro de
1827, que embora as professoras recebessem os mesmos ordenados dos professores que
desempenhavam as mesmas atividades, existia uma pequena diferença nas disciplinas
ensinadas para meninas: a exclusão de noções de geometria e limitando-se a instrução de
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aritmética só às suas quatro operações, bem como o ensino de prendas que servem à economia
doméstica. Este detalhe revela um tratamento desigual que indica uma diferenciação entre a
educação dirigida a mulheres e homens. Por mais que, ao longo do século XIX, o acesso à
instrução para meninas adquirisse uma atribuição positiva, ela se dá enquanto associada à
promoção das funções da casa: mãe e esposa.
Como citado anteriormente, o período que está sendo analisado é marcado pela busca de
afirmação da nacionalidade, pela construção do ideal de nação em que a educação serve como
instância de treinamento e homogeneização da elite, especialmente no ensino superior onde se
dá a formação social daqueles que foram os condutores do processo político no Império
(CARVALHO, 1980).
Trata-se de um processo de civilização da nação, sendo que este conceito de civilização
ancorava-se no velho mundo, sendo assim a lógica seria recorrer a ele para se civilizar e
instruir. Em muitas províncias foram enviados professores à Europa para aprender mais sobre
os métodos de ensino. Também era aspiração antiga dos políticos que se preocupavam com a
educação o estabelecimento de uma corporação nos moldes da universidade francesa, criada
por Napoleão Bonaparte, que congregava e fiscalizava toda a educação. Desde 1843 o
deputado Justiniano José da Rocha propunha uma maior inspeção governamental, tamanha
era a facilidade de se abrir escolas, tanto que chegou a redigir um projeto procurando impor
limitações que dificultassem a abertura de estabelecimentos de ensino. Pouca atenção foi dada
ao projeto, e depois de muitas reformulações e tentativas ele foi aprovado em 1851, só sendo
efetivado em 1854 (MATTOS, 1987).
Para Mattos (1987) a regulamentação do ensino elementar e secundário revelava o seu caráter
modelar, no empenho centralizador e unificador que ia se impondo por meio de um corpo
legal. Revelava ainda algo mais significativo: o papel que os dirigentes imperiais reservaram à
Instrução Pública em seu projeto político e de sociedade. Não por acaso um deles comentaria,
por essa mesma época, ser a Instrução Pública “um dos ramos mais dificultosos da
administração; entretanto, a instrução pública forma o povo”.
Especificamente sobre a parte que trata da educação vemos que o texto de Manoel Salgado
Guimarães (1988) coaduna com o de Ilmar Rohloff de Mattos, principalmente no que se
refere ao modelo europeu (em especial o francês) e na utilização da educação e na produção
do conhecimento (IHGB) na construção de um Estado Nacional e no projeto de civilização e
socialização de um Brasil integrado com uma identidade tanto interna quanto externa.
No entanto, tal educação não se estendia às mulheres. Para estas a educação era tida como um
adorno (GONÇALVES, 2005). De acordo com Abrantes (2010) a instrução formal destinada
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as mulheres passou a ser valorizada como um componente fundamental na sua educação,
tornando-se seu símbolo moderno de “dote”. Com isso a autora mostra que essa educação
pretendia preparar as mulheres para serem as “mães educadoras” das novas gerações, mas ao
mesmo tempo criava brechas para a emancipação feminina.
Para Abrantes (2010) a educação feminina como dote cultural mostra como as mulheres
puderam utilizar esses discursos e as novas oportunidades no campo educacional para
conquistar mais espaços de autonomia e não simplesmente reforçar os papéis tradicionais
ligados à domesticidade e submissão, como era o objetivo do discurso dominante.
Convém lembrar, também, a importância de instituições que serviram de bastião da
modernidade e que permearam e influenciaram a concepção e estrutura do ensino e das
instituições primárias. Dentre elas destaca-se a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que
através de suas recomendações e normatizações da higiene e dos bons modos de saúde
influenciaram o acesso e a permanência de meninas no ensino público, contribuindo para um
melhor entendimento da inserção feminina na escolarização da população, enfatizando a
percepção positiva deste fato pela classe dirigente da Nação imbuída do ideário civilizatório,
calcada na educação como fator importante no processo de consolidação do Estado Nacional.
Tal fato contribuiu para que as mulheres pudessem fazer o uso do discurso oficial que
valorizava a educação da mãe de família como tática “que mobiliza para seus próprios fins,
uma representação imposta-aceita, mas que se volta contra a ordem que a produziu.”
(CHARTIER, 1995 citado por ABRANTES, 2010)
ACESSO AO CURSO DE MEDICINA
Embora o Ensino de primeiras letras fosse acessado gradativamente pelo público feminino,
somente no ano de 1879 que o Ministro Leôncio de Carvalho estabelece, entre outras
modificações, a possibilidade da matrícula de mulheres no curso médico, sendo a gaúcha Rita
Lobato a primeira a se formar na Escola de Medicina da Bahia, em 1887 (SANTOS FILHO,
1997; PICCININI, 2002; TEIXEIRA, 2001).
Podemos traçar a presença da mulher na Faculdade de Medicina do Império primeiramente
nos cursos de parteira. Em 1832 as duas Faculdades de Medicina (Bahia e Rio de Janeiro)
foram equiparadas nas cadeiras ministradas, bem como passaram a conceder aos concluintes o
título de doutor para os médicos e o de Parteiro Diplomado aos que concluíssem o Curso de
Partos realizado em 3 anos, possuindo várias cadeiras, entre elas: Parto, Moléstias de
Mulheres Pejadas e Paridas, e Recém-nascidos (PORTO e CARDOSO, 2009). Madame
Durocher foi a mais célebre parteira e se formar neste curso em 1834 e que adotava a estética
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de estilo masculino, por ser mais cômodo para a atividade exercida e decente para uma
Parteira Diplomada, alegando ainda que este estilo inspirava mais confiança às mulheres, bem
como o fato de não ser confundida à noite com as prostitutas, quando atendia (PORTO e
CARDOSO, 2009).
Figura 1: Madame Durocher (PORTO & CARDOSO, 2009).
A presença da mulher na medicina, ingressando na Faculdade de Medicina do Império no
curso de medicina e não apenas no curso de Partos, torna-se um fato relevante na sociedade da
época, gerando debates acalorados. Tal fato só seria permitido somente no ano de 1879
quando o Ministro Leôncio de Carvalho estabelece, entre outras modificações, a possibilidade
da matrícula de mulheres no curso médico, sendo a gaúcha Rita Lobato a primeira a se formar
na Escola de Medicina da Bahia, em 1887 (SANTOS FILHO, 2004; PICCININI, 2002;
TEIXEIRA, 2001). O decreto n° 7.247 de 19 de abril de 1879 estabeleceu a reforma do ensino
primário, secundário e superior do Império. Em relação ao ensino médico superior, essa
reforma, conhecida pelo nome de Reforma Leôncio de Carvalho, foi inspirada nas
universidades alemãs e estabelecia a liberdade de freqüência nas faculdades; a permissão ao
estudante de repetir os exames das matérias em que não tivesse conseguido habilitação, em
época apropriada (art. 20); a permissão a associações particulares para a fundação de cursos,
nos quais as matérias ensinadas fossem integrantes do programa de qualquer curso oficial de
ensino superior (art. 21); a concessão de salas do prédio das faculdades para funcionamento
de cursos livres de matérias ensinadas nos seus cursos regulares (art. 22); o direito das
mulheres de se inscreverem nos cursos, para as quais eram reservados lugares separados nas
aulas (art. 24). (ESCOLA DE CIRURGIA DA BAHIA, 2010).
De acordo com Meirelles e colaboradores (2004: 11):
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Também, no mesmo Decreto ficou determinado que as estudantes tivessem assentos
reservados nas salas de aula e laboratórios. Além dos ditames culturais e costumes
daquela época, na organização escolar brasileira do Brasil-colônia e até da
República Velha sempre prevaleceu o conceito machista que a educação feminina
“restringia-se a boas maneiras e prendas domésticas”. Daí porque, após a
promulgação do Decreto n° 7.247 de 1879, foram acaloradas as discussões, na
Congregação da FAMEB, sobre a hipótese de admissão de alguma estudante e os
seus aspectos práticos, a exemplo de como e onde seria a localização do lavabo e
outras dependências correlatas. (MEIRELLES et al, 2004: 11)
Estas modificações só foram efetivadas a partir da regulamentação da lei n° 3.141 de 30 de
outubro de 1882 e do decreto n° 9.311 de 25 de outubro 1884, referendado pelo Ministro do
Império Filippe Franco de Sá. As modificações estabelecidas ficaram conhecidas pelo nome
de Reforma Sabóia, devido a atuação do diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro,
Vicente Cândido Figueira de Sabóia, no processo de sua elaboração. (ESCOLA DE
CIRURGIA DA BAHIA, 2010).
Com a permissão dada às mulheres de se diplomarem, instituída por estas últimas reformas,
em 1887 formou-se na Faculdade de Medicina da Bahia a primeira mulher médica no Brasil -
Rita Lobato Velho Lopes. Natural do Rio Grande do Sul, defendeu tese intitulada "Paralelos
entre os métodos preconizados na Operação Cesariana" (ESCOLA DE CIRURGIA DA
BAHIA, 2010).
Figura 2: Rita Lobato (Acervo Arquivístico do Museu de História da Medicina do RS).
Nas palavras de Meirelles e colaboradores (2004, p.11):
Felizmente, a estudante gaúcha, de São Pedro do Rio Grande (RS), Rita Lobato
Velho Lopes, quando chegou à Bahia, transferida da Faculdade de Medicina do Rio
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Janeiro, para continuar o curso de Medicina, já encontrou algum conforto e muita
curiosidade quanto à sua pessoa. A quebra desse tabu mereceu notícias nos diários
populares da cidade do Salvador e inflamadas discussões no meio intelectual e até
nos encontros sociais da pequena aristocracia baiana. (MEIRELLES et al, 2004:
11).
CONFLITOS E ENFRENTAMENTOS
Mas como era de se esperar o ingresso de mulheres nas Faculdades de Medicina do Império
se deu de forma lenta, muito lenta. Num levantamento das teses doutorais da Faculdade
Medicina da Bahia de 1840 a 1928, Meirelles e colaboradores (2004) informam que de um
total de 2.502, só 15 ou 0,6% das Theses Doutorais foram defendidas por mulheres, sendo,
portanto, as Doutoras pioneiras do Brasil.
Tabela 1: Formadas em Medicina no século XIX
Faculdade de Medicina da Bahia Faculdade de Medicina do Rio de janeiro
1887 - Rita Lobato Velho Lopes 1890 - Anna Machado Marinho Falcão. - Ephigenia Veiga - Amélia Pedrosa Benebaim 1892 - Glafra Corina de Araújo 1893 - Francisca Barreto Praguer
1888 - Ermelinda Lopes Vasconcelos 1889 - Antonieta César Dias 1892 - Maria Amélia Cavalcanti de Albuquerque
A dificuldade do ingresso das mulheres no ensino superior reflete a concepção consolidada de
que a mulher possuía capacidade inferior ao do homem para pensar e produzir ciência. Tal
fato é marcante na prática médica higienista ao reforçar a inferioridade da mulher, que sendo
mais fraca e menos provida de razão, não podia se representar nem política, nem
cientificamente, necessitando, portanto, de uma voz autorizada para fazê-lo (MARTINS,
2004).
Nesse contexto, de acordo com Saffioti (1992: 192):
“o corpo de uma mulher, por exemplo, é essencial para definir sua situação no
mundo, contudo insuficiente para defini-la como uma mulher na sociedade. Esta
definição só se processa através da atividade desta mulher na sociedade. Isto
equivale a dizer, para enfatizar, que o gênero se constrói-expressa através das
relações sociais.” (SAFFIOTI, 1992: 192).
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Deste modo, o ingresso das mulheres no ensino superior constitui-se um importante passo à
emancipação feminina (RAGO, 2008).
Figura 3: Ermelinda Lopes e Antonieta Dias (Acervo Arquivístico do Museu de História
da Medicina do RS).
No entanto tal emancipação não se deu sem uma troca por parte das pioneiras. Para serem
aceitas e se afirmarem enquanto capazes e iguais por seus pares muitas abandonaram as
cuidados femininos com a aparência, passando a se vestir “sobriamente para obter o respeito
dos colegas homens, a exemplo de Rita Lobato. Essa sobriedade, e certo isolamento a que
muitas se expunham, era uma maneira de se preservar enquanto mulher honrada, evitando um
embate direto em um ambiente altamente conservador e masculino” (SILVA & SAMPAIO,
2010: 105).
Anteriormente, Madame Durocher já trajava saia longa, gravata borboleta, sobrecasaca e
cartola pretas em função do “caráter masculino da profissão” (MOTT, 1994). Essa alteração
na aparência física não foi exclusividade das mulheres que ingressaram nas Faculdades de
Medicina no Brasil em fins do século XIX. É notável o caso, no século XIX, do inglês James
Barry, que após servir por 45 anos como médico nas forças armadas britânicas, descobriu-se
por ocasião do seu óbito que tratava-se de uma mulher cujo nome de batismo era Miranda
Stuart (FERNANDES, 2011).
No Brasil temos o caso marcante de Ermelinda Lopes de Vasconcelos, formada em medicina
em 1888 pela faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que foi acusada de “Machona” em um
artigo da época assinado por Silvio Romero que disse: “Fique certo a doutora, que seus pés de
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Machona não pisarão jamais o meu lar” (RAGO, 2007, p. 217). Como o destino também
prega das suas, vinte e cinco anos depois a Doutora Ermelinda Lopes de Vasconcelos atende a
um pedido de urgência, a mulher de Silvio Romero estava a dar a luz. Após realizar o parto e
“contrariando conhecidos estereótipos de feminilidade, a doutora não perdeu a chance de lhe
responder: O senhor me pagará caro e de uma vez!” (RAGO, 2007, p. 217).
Com relação as teses produzidas pelas médicas pioneiras no Brasil nota-se que as mesmas não
diferem daquelas produzidas pelos homens, mas pode-se perceber uma preocupação em
oferecer uma medicina que se ocupasse da saúde e qualidade de vida das mulheres ( SILVA e
SAMPAIO, 2010).
No escopo da abertura do ensino de medicina às mulheres, dentre as muitas estratégias que as
mulheres que ingressavam nas Faculdades de Medicina do Rio e da Bahia utilizavam para se
adaptar e permanecer nas referidas instituições encontra-se a incorporação de características
masculinas no discurso, nas práticas e na aparência física, tendo-se em conta o contexto sócio-
político-cultural do período. Assim, a entrada de mulheres na Faculdade de Medicina vem
atender a uma demanda por mudanças no contexto da formação da nação que busca se
legitimar na contraposição ao modelo cultural colonial. Nesse ínterim, o conflito de gênero
contribuirá para moldar as mentalidades das pioneiras da medicina no Brasil.
Tais exemplos permitem considerar a existência do conflito de gênero na busca, pelas
mulheres, de uma trajetória no âmbito profissional e intelectual em um espaço sócio-político-
cultural restritivo.
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