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_________________________________________ISSN 1983-4209 – Volume 09 – Número 03 – 2013
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CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO DOS ALUNOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA NO
MUNÍCIPIO DE VITÓRIA DA CONQUISTA/BA SOBRE PLANTAS MEDICINAIS
Thalana Souza Santos Silva1 e Gabriele Marisco
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RESUMO: O presente estudo objetivou investigar o conhecimento etnobotânico dos alunos do
Colégio Estadual Kleber Pacheco de Oliveira, localizado em Vitória da Conquista - Bahia sobre
plantas medicinais, bem como discutir a importância da escola na disseminação de informações a
comunidade escolar acerca do uso de plantas medicinais. Para a realização do presente estudo foi
empregada uma abordagem qualitativa e quantitativa. Os dados foram coletados no segundo
semestre de 2011 com a aplicação de um questionário para 67 alunos da modalidade EJA
(Educação de Jovens e Adultos). O estudo revelou que os alunos possuem um amplo nível de
informações acerca das plantas medicinais, com 262 citações, demonstrando que se este tema fosse
abordado apresentaria uma alta aceitação dos estudantes, já que os mesmos (74,6%) reconhecem a
importância da valorização de seus conhecimentos sobre plantas medicinais para sua formação
escolar. Dessa forma, o papel da escola é ressaltado como ambiente de disseminação de
informações acerca do uso correto das plantas medicinais com comprovação científica.
Unitermos: Ensino de biologia, Etnobiologia, fitoterapia.
ETHNOBOTANICAL KNOWLEDGE OF STUDENTS OF A PUBLIC SCHOOL IN THE
MUNICIPALITY OF VITÓRIA DA CONQUISTA / BA ON MEDICINAL PLANTS
ABSTRACT: This study aimed to investigate the ethnobotanical knowledge of some students of
the Kleber Pacheco de Oliveira State School, located in Vitória da Conquista - Bahia about
medicinal plants, as well as discussing the importance of the school in the dissemination of
information to school community about the use of medicinal plants. For the realization of this study,
it was employed a qualitative and quantitative approach. The data were collected in the second
semester of 2011 with the application of a questionnaire to 67 students of the EJA (Educação de
Jovens e Adultos). The study revealed that students have a broad level of information about
medicinal plants, with 262 citations, demonstrating that if this topic was discussed, it would present
a high acceptance of the students, whereas the same (74.6%) recognize the importance of valuing
their knowledge of medicinal plants for their school formation. Thus, the role of the school is
emphasized as dissemination environment of information about the correct use of medicinal plants
with scientific evidence.
Uniterms: Teaching biology, Ethnobiology, Phytotherapy.
INTRODUÇÃO
Por meio da experiência e da observação, durante longos períodos da história o ser humano
aprendeu a fazer uso da flora para a cura de seus males (Moraes et al., 2010). Mesmo com os
avanços da medicina, para uma grande parte da população, o tratamento com plantas medicinais
1 Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Departamento de
Ciências Naturais, Vitória da Conquista- Ba-Brasil ([email protected]); 2 Bióloga, mestre em Genética e
Biologia Molecular, professora orientadora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia – UESB, Departamento de Ciências Naturais, Vitória da Conquista- Ba-Brasil ([email protected]) Recebido em 12/11/2012
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ainda constitui a principal alternativa para o tratamento de diversas doenças, simbolizando para
algumas comunidades o único recurso terapêutico existente (Maciel; Pinto; Veiga Junior, 2002).
O emprego de plantas medicinais, como medicamento, ainda é de grande importância em
todo o mundo, segundo dados da Organização mundial da Saúde (OMS) 80% da população mundial
utiliza-se de práticas tradicionais na atenção primária, e desse total, 85% usa plantas medicinais ou
preparações destas (Oliveira, 2010).
Nesta perspectiva, as plantas medicinais segundo Oliveira & Coutinho (2006) constituem
um importante tema não só pelo patrimônio natural e cultural, como também pode fornecer
orientações a população para um maior aproveitamento dos recursos terapêuticos de origem natural,
alertando a mesma sobre os problemas oriundos do uso indiscriminado de plantas medicinais e das
plantas com efeitos tóxicos comprovados.
Por acreditar que as plantas são naturais e incapazes de trazer malefícios, o uso
indiscriminado é recorrente. Oliveira & Gonçalves (2006) afirmam que essa crença de inocuidade
das plantas medicinais pode acarretar sérias consequências, sendo necessária uma implementação
de medidas de educação e informação que colabore para seu uso racional.
Diante dessa demanda a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos,
implementada (PNPMF) por meio do Decreto nº 5.813, em 2006, estabelece ações voltadas à
garantia do acesso seguro e uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos no Brasil. As
diretrizes da PNPMF relacionadas aos recursos humanos, propõem junto ao MEC a inserção do
tema Plantas Medicinais no ensino formal em todos os níveis (Brasil, 2006).
Apesar do uso de plantas medicinais ter sua propagação associada ao conhecimento
popular empírico, paulatinamente vem sendo reconhecido e incorporado ao saber científico, sendo a
etnobotânica um dos principais ramos da ciência que tem contribuído para a difusão da utilização
terapêutica das plantas medicinais (Dantas & Guimarães, 2007).
Costa (2008) afirma que uma didática que estabeleça um vínculo entre o conhecimento
etnobotânico com o conhecimento científico abordado na formação escolar, constitui uma das
maneiras de reduzir a distância entre o popular e o científico, favorecendo o processo de ensino-
aprendizagem, pois possibilita o envolvimento do aluno no processo de construção do
conhecimento.
Neste sentido o presente estudo teve como objetivo investigar o conhecimento etnobotânico
dos alunos sobre plantas medicinais, bem como discutir a importância da escola na disseminação de
informações a comunidade escolar acerca do uso de plantas medicinais.
Material e métodos
Esta pesquisa foi realizada em 2011, no Colégio Estadual Kleber Pacheco de Oliveira,
Vitória da conquista – Bahia, os sujeitos do presente trabalho foram alunos que estavam cursando a
disciplina biologia oferecida no eixo VII da modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos). A
determinação do tamanho da amostra foi através da utilização da fórmula estatística de Santos
(2011).
Para o levantamento dos dados foi utilizado um questionário contendo questões sobre dados
socioeconômicos, conhecimentos sobre plantas medicinais e contribuição do conhecimento sobre
plantas medicinais no ensino de Biologia. Os questionários foram respondidos pelos próprios
discentes na escola após os esclarecimentos dos objetivos da pesquisa, sendo mantido o anonimato
dos alunos.
No que se refere aos conhecimentos sobre plantas medicinais, não foi realizado a coleta das
plantas e identificação botânica, dessa forma apenas os nomes populares das plantas foram citadas.
A abordagem empregada foi qualitativa e quantitativa, e as questões foram analisadas pelo método
descritivo, com auxílio do programa software Microsoft EXCEL® 2007.
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Resultados e discussão
No presente estudo participaram um total de 67 alunos, sendo 57% do sexo feminino e 43%
do sexo masculino (Figura 1A), a faixa etária variou de 18 a 55 anos (Figura 1B), em relação ao
estado civil, 52,2% dos alunos são solteiros e 46,3% são casados (Figura 1C), e 45 alunos possuem
de 1 a 4 filhos (Figura 1D).
Figura 1: Perfil dos alunos entrevistadas quanto ao gênero dos alunos (A); idade (B); estado civil
(C); número de filhos (D).
Os resultados do presente estudo mostram que 74,6% dos alunos utilizam plantas medicinais
para o tratamento de doenças, corroborando com os resultados encontrados por Santos, Dias,
Martins (1995) e Barros (2011) demonstrando que a medicina alternativa é conhecida e utilizada
pela amostra estudada.
Foi verificado que 58% dos alunos que utilizam plantas medicinais são mulheres. O
conhecimento das mulheres acerca das plantas medicinais foi mais elaborado, pois além de citar o
maior número de plantas, detalharam mais aspectos quanto ao modo de preparo e se atentaram a
relatar a limpeza das plantas antes do preparo. Enquanto que os homens citaram plantas mais
comuns e de forma menos detalhada.
De acordo com Melis & Vieira (2007) a maior prevalência observada entre as mulheres deve
decorrer provavelmente do papel culturalmente atribuído e desempenhado pelo gênero feminino nas
atividades domésticas e na saúde da família, pois elas são as principais responsáveis pelo tratamento
caseiro das doenças mais simples através de plantas.
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Em relação as plantas medicinais citadas pelos alunos, foram obtidas um total de 262
citações referentes a 56 plantas diferentes. A relação dos nomes populares das plantas medicinais
citadas pelos alunos, bem como as indicações terapêuticas e partes utilizadas nas preparações estão
listadas na tabela 1.
Tabela 1: Relação das plantas medicinais citadas pelos alunos no questionário.
Plantas citadas Indicação Nº de
citações
Parte utilizada
Erva cidreira Calmante, gripe, dor de
cabeça, dores, mal estar,
cólicas, gases
36 Folhas, talos, flores
Erva doce Gases, calmante, dor no
pé da barriga, prisão de
ventre
32 Sementes
Hortelã Gripe, resfriado 25 Folhas
Capim santo Dor de cabeça 18 Folhas
Boldo Dor no estomago 18 Folhas
Capim da lapa Estômago, calmante,
gripe
16 Folhas
Mastruz Cicatrizar ferimentos,
inchaços
14 Folhas
Camomila Calmante, insônia 10 Flores
Barbatimão Cicatrização, dor de
estomago, mal estar
9 Casca
Quebra-pedra Rins 7 Raízes
Alecrim Gripe 6 Folhas
Babosa Câncer, cicatrizante 5 Folhas
Romã Garganta 4 Fruto
Cont.
Sabugueira Sarampo, gripe 4 Folhas e flores
Aroeira Inflamação 3 Folhas
Arruda Mal-olhado 3 Galhos
Poejo Gripe 3 Folhas
Umburana,
umburana
macho
Estômago 3 Semente
Agrião Tosse, bronquite, asma 3 Folhas e talos
Alfavaca Infecção urinária 2 Folhas
Bucha paulista Inflamação 2 Frutos
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Espinheira santa Gastrite 2 Folhas
Pitangueira Diarréia 2 Folhas
Transsagem Anti-inflamatório 2 Folhas
Pau ferro Gripe, asma 2 Casca e folhas
Água de colônia Pressão alta 1 Folhas
Anador Dor de cabeça. 1 Folhas
Andiroba Anti-inflamatório 1 Sementes
Angélica
africana
Calmante, gripe 1 Flores
Bananeira Disenteria 1 Caule
Caatinga de
porco
Indigestão 1 Casca
Canela Gripe, aromática 1 Casca
Contra erva Gripe 1 Folhas
Favaca grossa Inflamação, gripe 1 Folhas
Fedegoso Gripe 1 Folhas
Folha de abacate Diurético 1 Folhas
Hortelãzinha
pequeno
Calmante 1 Folhas
Insulina Diabete 1 Folhas
Noz moscada Cólicas, dores
musculares
1 Semente
Pata-de-vaca Diabete 1 Folhas
Pau de macaco Infecções urinárias 1 Folhas
Cont.
Pinhão roxo Cicatrizante 1 Fruto
Sena Laxativo 1 Folhas
Tioiô Gripe, febre, dor de
cabeça
1 Folhas
Folha de laranja Gripe 1 Folhas
Gengibre Garganta 1 Raiz
Casca de jatobá Dor de barriga 1 Casca
Manjericão Depressão 1 Folhas
Guaco Bronquite 1 Folhas
Jurema preta Cicatrizante 1 Casca
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Valeriana Insônia 1 Raiz
Mulungu Ansiedade e depressão 1 Raiz e folhas
Carqueja Estômago 1 Folhas
Pra-tudo Febre 1 Folhas
Marcela Problemas estomacais 1 Folhas
Eucalipto Asma 1 Folhas
Sendo as formas de obtenção mais frequente dessas plantas o cultivo em hortas e jardins
47,6%, seguido de 25,4% que compram as plantas em feiras livres e farmácias, 23,8% obtém
plantas com vizinhos e parentes, e 3,2% utilizam plantas que crescem espontaneamente (Fig. 2).
Esses resultados corroboram com estudos etnobotânicos de Almeida et al. (2009) e Bernardes,
Silva, Moleiro (2011) que observaram que os entrevistados obtém as plantas do cultivo próprio.
Figura 2: Formas de obtenção das plantas medicinais pelos alunos.
No presente estudo foi observado que o conhecimento sobre plantas medicinais é
transmitido através dos familiares (avós, pais), como relatado por cerca de 83,5% dos alunos,
resultados similares foram encontrados por Nunes & Dantas Moura (2007) e Barros (2011).
Segundo Brasileiro et al. (2008) o consumo de plantas medicinais tem base na tradição familiar,
sendo a comunicação oral o principal meio de transmissão deste conhecimento, a difusão do saber
entre os membros da família é contínua quanto aos hábitos e cuidados de saúde com a utilização de
plantas medicinais (Ceolin et al., 2011).
A decocção (método em que as partes das plantas são fervidas junto com a água) foi a
principal forma de preparo citada entre os alunos. Em diversas partes do Brasil é comum a prática
dos chás feitos pela decocção não só para as partes duras ou secas do vegetal, mas também a fervura
das folhas frescas. Este procedimento não é indicado para qualquer parte da planta, pois pode
degradar ou eliminar princípios ativos das mesmas, inativando o efeito terapêutico do chá ou
tornando-o perigoso à saúde (Albertasse; Thomaz; Andrade, 2010).
A parte da planta mais comumente empregada pelos alunos nas preparações foram as folhas,
corroborando com estudos de levantamentos de plantas medicinais que frequentemente citam as
folhas como a parte mais usada (Almeida et al., 2009; Jacoby et al., 2002). As folhas são
tradicionalmente as partes mais utilizadas para tratamento medicinal popular, provavelmente por
causa da facilidade de coleta e por estar presente na planta durante a maior parte do ano (Alves et
al., 2008).
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Ainda são necessários diversos esclarecimentos sobre o uso de plantas medicinais. A
população deve saber, por exemplo, qual parte da planta deve ser utilizada em cada caso e a
dosagem correta. Há também a dificuldade na identificação das plantas medicinais, uma vez que
essas plantas podem ser confundidas com outras que possuem características semelhantes, assim, o
espaço escolar torna-se um ambiente favorável para propor discussões com os alunos sobre estudos
que abordem a eficácia das plantas utilizadas pelos mesmos (Pereira & Defani, 2002).
A maioria dos alunos (74,6%) consideram que o seu conhecimento sobre plantas medicinais
pode contribuir em sua formação escolar. Esse resultado demonstra que os próprios alunos
reconhecem a importância da utilização desse conhecimento para o processo de ensino
aprendizagem, além de demonstrarem relevante interesse acerca do conteúdo plantas medicinais.
Em relação ao entendimento dos alunos sobre plantas medicinais, foi observado que de um
total de 67 respostas, apenas 4,5% se aproximaram do conceito proposto pela OMS (2000) que
definem as plantas medicinais como todas aquelas, silvestres ou cultivadas, que se utilizam como
recurso para prevenir, aliviar, curar ou modificar um processo fisiológico normal ou patológico, ou
como fonte de fármacos e de seus precursores.
A maioria dos alunos, 49,2% associou o conceito de plantas medicinais com o tratamento e
cura de enfermidades, se aproximando parcialmente do conceito proposto pela OMS, 11,4% dos
alunos entendem que plantas medicinais estão relacionadas com a produção de remédios ou que
possuem substâncias que são ponto de partida para os remédios sintéticos, esse resultado é
confirmado por Simões & Schenkel (2002) que citam as plantas e os extratos vegetais como de
grande relevância na área farmacêutica. E 35% das respostas dadas pelos alunos não contemplaram
nem parcialmente o conceito da OMS.
Quanto ao estudo de plantas medicinais nas aulas de biologia, 42% dos alunos apontaram
que os professores poderiam informar sobre a toxicologia ou plantas tóxicas usadas como
medicinais. Isto se mostra relevante visto que no Brasil, a população consome plantas medicinais
que apresentam pouca ou nenhuma comprovação dos componentes farmacológicos. A toxidade
dessas plantas acarreta efeitos adversos, e constitui um problema de saúde pública (Veiga Junior;
Pinto; Maciel, 2005).
Para 36% dos alunos, as aulas poderiam ser desenvolvidas a partir das plantas medicinais
conhecidas por eles, na abordagem dos conteúdos de botânica (morfologia, biodiversidade,
taxonomia etc.). Neta et al. (2010) consideram que o ensino de botânica é, em geral, tradicional e
centralizado em conteúdos extensos, onde há a necessidade expressiva da memorização de
conceitos e nomes científicos, tornando-se um conteúdo maçante e monótono.
Ainda em relação a abordagem do conhecimento sobre plantas medicinais nas aulas, 22%
dos alunos indicaram o desenvolvimento de aulas práticas a partir do cultivo de uma horta, ou de
plantas trazidas por eles. Vários estudos têm demonstrado que a construção de hortas e canteiros de
plantas medicinais constitui uma proposta pedagógica eficiente na aprendizagem significativa no
ensino de biologia (Ferreira et al., 2011; Barros, 2011; Nunes & Dantas, 2007).
Siqueira (2004) propõe que a etnobotânica deve permear o currículo escolar a fim de dar
significados às aulas. Costa (2008) sugere que os conhecimentos prévios dos alunos sejam
utilizados como uma ferramenta de mobilização cognitiva e afetiva do aluno, através do conflito e
da reflexão das concepções prévias, proporcionando uma apropriação do conhecimento científico
que lhe é apresentado na escola.
Diversas questões devem ser consideradas no desenvolvimento de um trabalho mais
apropriado as características dos alunos, isto porque a tendência predominante das propostas
curriculares é a da fragmentação do conhecimento, o que dificulta o estabelecimento de diálogos
entre as experiências vividas, os saberes anteriormente tecidos pelos educandos e os conteúdos
escolares. Em uma perspectiva inovadora os objetivos pedagógicos devem incorporar propostas que
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contribuam para melhoria da qualidade de vida desses estudantes, atendendo as suas necessidades
reais (Oliveira, 2007).
Cruz, Furlan, Joaquim (2009) em estudo realizado com cinco escolas, verificaram que existe
uma cautela por parte dos professores para inserção de conteúdos referentes às plantas medicinais, o
que justifica a necessidade de romper as barreiras que dificultam reflexões interdisciplinares mais
contundentes sobre o processo de ensino e aprendizagem dessas plantas, uma vez que esse tipo de
estudo é importante para advertir sobre os perigos que estas exercem se forem utilizadas de forma
incorreta.
Porém é importante ressaltar que ensinar, nesta perspectiva, demanda respeito aos saberes
que os estudantes já possuem e exige que se cumpra o papel da escola em informar esses alunos
sobre questões pertinentes acerca do uso correto das plantas medicinais, tendo em vista o difícil
acesso da população a estudos científicos que abordem a comprovação e eficácia de determinadas
plantas medicinais.
Conclusão
Neste estudo foi possível observar que as mulheres, são as maiores detentores de
informações acerca do uso das plantas, demonstrado pelo número considerável de plantas
medicinais citadas. A principal forma de preparo é através da decocção, utilizando-se as folhas das
plantas, sendo esse conhecimento transmitido pelos pais e avós.
Com relação ao conhecimento etnobotânico dos alunos, percebeu-se que se esse tema fosse
abordado em sala de aula, apresentaria uma alta aceitação dos estudantes devido ao conhecimento
prévio destes sobre o assunto. Sendo assim o tema plantas medicinais pode constituir uma
ferramenta eficaz no processo de ensino aprendizagem em Biologia. Não somente por possibilitar
várias abordagens nos conteúdos dessa área de ensino, mas, por considerar os conhecimentos
prévios dos alunos, promovendo assim uma aprendizagem significativa, no qual os conteúdos
abordados na escola apresentem sentido no cotidiano do aluno.
Faz-se necessário oferecer subsídios a qualificação dos professores acerca da temática
plantas medicinais, já que este profissional constitui o elo entre o conhecimento científico e o
conhecimento popular do aluno, podendo assim atuar na disseminação de informações que
contribuam para a melhora da qualidade de vida dos alunos.
Neste sentido o ambiente escolar torna-se um local propício para a realização de pesquisas
que visam a investigação etnobotânica, fornecendo subsídios para a implantação de programas que
integrem o conhecimento popular com o saber científico. Sendo assim ressalta-se a importância que
novos estudos sejam feitos sobre etnobotânica, uma vez que essas informações podem contribuir
para a manutenção do saber popular de plantas medicinais, e podem ser contextualizadas no ensino
de disciplinas ligadas ao meio ambiente, como biologia, ecologia e geografia.
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ANEXO 1
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QUESTIONÁRIO
Nº: Data de aplicação:
PARTE A: DADOS SOCIOECONÔMICOS
1-Sexo: Feminino ( ) masculino ( )
2-Idade:
3- Estado Civil:
( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Viúvo (a)
4- Numero de filhos:
5- Profissão:
6- No momento está trabalhando?
7- Naturalidade:_________________________ 8- Bairro onde mora:
PARTE B: CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS
1- O que você entende por plantas medicinais?
2- Você faz uso de plantas medicinais?
( ) Sim ( ) Não
3- De onde vem o seu conhecimento sobre o uso de plantas medicinais?
( ) De conhecimento tradicional familiar ( mãe, Pai, avós, etc.)
( ) De conhecimento oriundo da mídia (internet, televisão, radio)
( ) De contatos com técnicos (médicos, enfermeiros, biólogos, professores, etc).
( ) Outros: __________________________________________________________
4- Quando você precisa utilizar alguma planta medicinal, você consegue de que forma?
Cultivo próprio ( ) Compra (feiras, farmácia) ( ) vizinhos e parentes ( ) locais abertos ( )
Outros:
5- Você já se sentiu mal com o uso de alguma planta medicinal? Qual foi a planta, e o que você
sentiu?
6- Que planta você conhece:
- Partes usadas:
- Usa para que:
- Como você prepara:
_________________________________________ISSN 1983-4209 – Volume 09 – Número 03 – 2013
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- Que planta você conhece:
- Partes usadas:
- Usa para que:
- Como você prepara:
PARTE C: CONTRIBUIÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS
1- Você acha que o seu conhecimento sobre plantas medicinais pode contribuir para a sua formação
escolar? Sim ( ) ( Vá para questão 2) Não ( ) (Vá para questão 3)
2- De que forma você acha que o seu conhecimento sobre plantas medicinais poderia ser utilizado
nas aulas de Biologia?
( ) A partir das plantas medicinais conhecidas pelos alunos o professor poderia abordar conteúdos
da botânica (morfologia das plantas, biodiversidade, taxonomia etc.).
( ) Os professores poderiam informar sobre os cuidados no uso de plantas medicinais.
( ) Aulas praticas a partir do cultivo de uma horta, ou de plantas medicinais trazidas pelos alunos.
( ) Outros:
3-Nas aulas de Biologia de que maneira o conhecimento sobre plantas medicinais já foi abordado?