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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 1. RELAÇÕES INTERATIVAS EM SALA DE AULA Expõe o valor das relações que se estabelecem entre os professores, os alunos e os conteúdos no processo ensino e aprendizagem. Comenta que essas se sobre- põem às seqüências didáticas, visto que o professor e os alunos possuem certo grau de participação nesse pro-cesso, diferente do ensino tradicional, caracterizado pela compreensão e reprodução de conhecimentos. Examina, dentro da concepção construtivista, a natureza dos dife-rentes conteúdos, o papel dos professores e dos alunos, bem como a relação entre eles no processo, colocando que o professor necessita diversificar as estratégias, propor desafios, comparar, dirigir e estar atento à diversidade dos alunos, o que significa estabelecer uma interação direta com eles. O professor possui uma série de funções nessas relações interativas: o planejamento e a plasticidade na aplicação desse plano, o que permite uma adaptação às necessidades dos alunos; levar em conta as contribuições dos alunos no início e durante as atividades; auxiliá-los a encontrar sentido no que fazem, comunicando objetivos, levando-os a enxergar os pro- cessos e o que se espera deles; estabelecer metas alcan-çáveis; oferecer ajuda adequada no processo de construção do aluno; promover o estabelecimento de re-lações com o novo conteúdo apresentado, e exigir dos alunos análise, síntese e avaliação do trabalho; estabe-lecer um ambiente e relações que facilitem a auto-estima e o auto-conceito; promover canais de comunicação entre professor/aluno, aluno/aluno; potencializar a autonomia, possibilitando a metacognição; avaliar o aluno conforme sua capacidade e esforço. Em seguida, aborda a influ-ência dos tipos dos conteúdos procedimentais e atitudi-nais na estruturação das interações educativas na aula. Nos procedimentais, o professor necessita perceber e criar condições adequadas às necessidades específicas de cada aluno; nas atitudinais, é preciso articular ações formativas, não bastando propor debates e reflexões sobre comportamento cooperativo, tolerância, justiça, res-peito mútuo etc.; é preciso viver o clima de solidariedade, tolerância. Trabalhar conteúdos atitudinais é muito difícil, envolvendo em primeiro lugar a contradição entre o que é trabalhado na escola e o sistema social, ou o que é veiculado pela mídia. Contudo, em relação ao modelo militar vigente anteriormente já houve certos avanços consideráveis no processo das relações interativas. As relações humanas, embora complexas, são peças funda-mentais na realização comportamental e profissional de um indivíduo. Desta forma, a análise dos relacionamentos entre professor/aluno envolve interesses e intenções, sendo esta interação o expoente das conseqüências, pois a educação é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento comportamental e agregação de valores nos membros da espécie humana. Neste sentido, a inte-ração estabelecida caracteriza-se pela seleção de con-teúdos, organização, sistematização didática para facilitar o aprendizado dos alunos e exposição onde o professor demonstrará seus conteúdos. No entanto este paradigma deve ser quebrado, é preciso não limitar este estudo em relação comportamento do professor com resultados do aluno; devendo introduzir os processos construtivos como mediadores para superar as limitações do paradigma processo- produto. Segundo GADOTTI (1999: 2), o educa-dor para pôr em prática o diálogo, não deve colocar-se na posição de detentor do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem não sabe tudo, reconhecendo que mesmo um analfabeto é portador do conhecimento mais importante: o da vida. Desta maneira, o aprender se torna mais interessante quando o aluno se sente competente pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula. O prazer pelo aprender não é uma atividade que surge espontaneamente nos alunos, pois, não é uma tarefa que cumprem com satisfação, sendo em alguns casos enca-rada como obrigação. Para que isto possa ser melhor cultivado, o professor deve despertar a curiosidade dos alunos, acompanhando suas ações no desenvolver das atividades. O professor não deve preocupar-se somente com o conhecimento através da absorção de infor- mações, mas também pelo processo de construção da cidadania do aluno. Apesar de tal, para que isto ocorra, é necessária a conscientização do professor de que seu papel é de facilitador de aprendizagem, aberto às novas experiências, procurando compreender, numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tentar levá-los à auto-realização. Apostilas Decisão Apostilas Decisão 1

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

1. RELAÇÕES INTERATIVASEM SALA DE AULA

Expõe o valor das relações que se estabelecem entre os professores, os alunos e os conteúdos no processo ensino e aprendizagem. Comenta que essas se sobre-põem às seqüências didáticas, visto que o professor e os alunos possuem certo grau de participação nesse pro-cesso, diferente do ensino tradicional, caracterizado pela compreensão e reprodução de conhecimentos. Examina, dentro da concepção construtivista, a natureza dos dife-rentes conteúdos, o papel dos professores e dos alunos, bem como a relação entre eles no processo, colocando que o professor necessita diversificar as estratégias, propor desafios, comparar, dirigir e estar atento à diversidade dos alunos, o que significa estabelecer uma interação direta com eles. O professor possui uma série de funções nessas relações interativas: o planejamento e a plasticidade na aplicação desse plano, o que permite uma adaptação às necessidades dos alunos; levar em conta as contribuições dos alunos no início e durante as atividades; auxiliá-los a encontrar sentido no que fazem, comunicando objetivos, levando-os a enxergar os pro-cessos e o que se espera deles; estabelecer metas alcan-çáveis; oferecer ajuda adequada no processo de construção do aluno; promover o estabelecimento de re-lações com o novo conteúdo apresentado, e exigir dos alunos análise, síntese e avaliação do trabalho; estabe-lecer um ambiente e relações que facilitem a auto-estima e o auto-conceito; promover canais de comunicação entre professor/aluno, aluno/aluno; potencializar a autonomia, possibilitando a metacognição; avaliar o aluno conforme sua capacidade e esforço. Em seguida, aborda a influ-ência dos tipos dos conteúdos procedimentais e atitudi-nais na estruturação das interações educativas na aula. Nos procedimentais, o professor necessita perceber e criar condições adequadas às necessidades específicas de cada aluno; nas atitudinais, é preciso articular ações formativas, não bastando propor debates e reflexões sobre comportamento cooperativo, tolerância, justiça, res-peito mútuo etc.; é preciso viver o clima de solidariedade, tolerância. Trabalhar conteúdos atitudinais é muito difícil, envolvendo em primeiro lugar a contradição entre o que é trabalhado na escola e o sistema social, ou o que é veiculado pela mídia. Contudo, em relação ao modelo militar vigente anteriormente já houve certos avanços consideráveis no processo das relações interativas. As relações humanas, embora complexas, são peças funda-mentais na realização comportamental e profissional de um indivíduo. Desta forma, a análise dos relacionamentos entre professor/aluno envolve interesses e intenções, sendo esta interação o expoente das conseqüências, pois a educação é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento comportamental e agregação de valores nos membros da espécie humana. Neste sentido, a inte-ração estabelecida caracteriza-se pela seleção de con-teúdos, organização, sistematização didática para facilitar o aprendizado dos alunos e exposição onde o professor demonstrará seus conteúdos. No entanto este paradigma deve ser quebrado, é preciso não limitar este estudo em relação comportamento do professor com resultados do aluno; devendo introduzir os processos construtivos como mediadores para superar as limitações do paradigma processo-produto. Segundo GADOTTI (1999: 2), o educa-dor para pôr em prática o diálogo, não deve colocar-se na posição de detentor do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem não sabe tudo, reconhecendo que mesmo um analfabeto é portador do conhecimento mais importante: o da vida. Desta maneira, o aprender se torna

mais interessante quando o aluno se sente competente pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula. O prazer pelo aprender não é uma atividade que surge espontaneamente nos alunos, pois, não é uma tarefa que cumprem com satisfação, sendo em alguns casos enca-rada como obrigação. Para que isto possa ser melhor cultivado, o professor deve despertar a curiosidade dos alunos, acompanhando suas ações no desenvolver das atividades. O professor não deve preocupar-se somente com o conhecimento através da absorção de infor-mações, mas também pelo processo de construção da cidadania do aluno. Apesar de tal, para que isto ocorra, é necessária a conscientização do professor de que seu papel é de facilitador de aprendizagem, aberto às novas experiências, procurando compreender, numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tentar levá-los à auto-realização. De modo concreto, não podemos pensar que a construção do conhecimento é entendida como individual. O conheci-mento é produto da atividade e do conhecimento humano marcado social e culturalmente. O papel do professor consiste em agir com intermediário entre os conteúdos da aprendizagem e a atividade construtiva para assimilação. O trabalho do professor em sala de aula, seu relacio-namento com os alunos é expresso pela relação que ele tem com a sociedade e com cultura. ABREU & MASET-TO (1990: 115), afirma que “é o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas caracterís-ticas de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos; fundamenta-se numa deter-minada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da sociedade”. Segundo FREIRE (1996: 96), “o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movi-mento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”. Ainda segundo o autor, “o professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irrespon-sável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca”. Apesar da importância da existência de afetividade, confiança, empatia e respeito entre professores e alunos para que se desenvolva a leitura, a escrita, a reflexão, a apren-dizagem e a pesquisa autônoma; por outro, SIQUEIRA (2005: 01), afirma que os educadores não podem permitir que tais sentimentos interfiram no cumprimento ético de seu dever de professor. Assim, situações diferenciadas adotadas com um determinado aluno (como melhorar a nota deste, para que ele não fique de recuperação), apenas norteadas pelo fator amizade ou empatia, não deveriam fazer parte das atitudes de um “formador de opiniões”. Logo, a relação entre professor e aluno depende, fundamentalmente, do clima estabelecido pelo professor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de com-preensão dos alunos e da criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles. Indica também, que o professor, educador da era industrial com raras exceções, deve buscar educar para as mudanças, para a autonomia, para a liberdade possível numa abordagem global, trabalhando o lado positivo dos alunos e para a formação de um cidadão consciente de seus deveres e de suas respon-sabilidades sociais.

Educação, Ensino, Instrução e Treinamento

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

DEMO (1994) diz que o aprender a aprender é funda-mental, uma vez que a habilidade obtida em processos de mero ensino e de mera aprendizagem caracteriza-se pela cópia, pela imitação. Não se fazem "mestres", ape-nas aprendizes, executores de planos e projetos alheios, "fazedores" fidedignos. Disso resulta o "treinado", aquele trabalhador capaz de perfazer a tarefa como cópia perfeita no esquema do reflexo condicionado. Atual-mente, muitas são as técnicas específicas de auxiliar o aprender a aprender. Antes de qualquer coisa é impor-tante definir o que é aprender. DEPRESBITERIS (1999) nos esclarece que para os comportamentalistas, aprender é modificar comportamentos. Numa outra perspectiva, aprender é resolver problemas, é apropriar-se de respostas. Pessoas que defendem essa concepção acre-ditam que a inteligência não é um dom nem um acúmulo de saberes. Ela se constrói no decorrer de um longo pro-cesso. A inteligência é, portanto, o resultado de uma construção progressiva, mas não estritamente cumula-tiva. Ela produz respostas em diferentes níveis. O educa-dor dispõe de dois meios para desenvolver o aprender: transmitida seja assimilada por aquele a quem ela se destina. A descoberta pela experiência permite uma solu-ção original pela própria pessoa que aprende. Nesta pers-pectiva, aprender é agir na direção de construir respostas para problemas, suplantar os conflitos cognitivos em um ambiente estimulador, tendo direito ao erro, descobrir fatores invariáveis e variáveis e se apropriar de raciocínios. Para aqueles que defendem uma apren-dizagem significativa, o agir é um interagir consigo mês-mo e com outras pessoas. Atentos à definição de uma aprendizagem significativa, podemos começar a pensar sobre a diferença entre educação, ensino, instrução e treinamento, a partir dos meios multimídias. É inegável que estamos vivendo uma nova era, a era tecnológica na qual o mundo encontra-se plugado e globalizado de tal forma que o profissional de hoje não deve ser mais o melhor da "turma", ou do bairro, ou da sua cidade, nem mesmo do seu país, mas sim o melhor do mundo. Da mesma forma, a educação não pode, simplesmente, ignorar os avanços dessa nova era tecnológica, deve sim acompanhar as mudanças e aproveitar os benefícios que essa nova realidade traz para si. Quando se fala em educação, fala-se em educação, em casa, na escola, na rua e na igreja. A educação se dá de várias formas e em vários lugares e contextos. Ao falarmos que fulano não tem educação, pois entrou em sala de aula - após o início da mesma - sem pedir licença à professora, estamos nos referindo à educação dos pais, à educação de casa, à educação informal. Por outro lado, quando - ao procurar um emprego - exige-se do candidato o diploma de ensino médio, e este não o tem, diz-se que não tem a educação necessária, a educação formal. Não podemos esquecer que esses são apenas uns dos muitos exemplos que poderiam ter sido apresentados para distinguir educação formal da informal. Na verdade, dependendo do exemplo dado, elas poderiam mudar de papel. Desse modo, nota-se que há várias teorias em torno do que seja educação. Para DURKHÜEIM (1972) a educação é uma ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social e tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais recla-mados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança particularmente se destina. Essa definição é deveras tendenciosa e manipuladora, pois não leva em consideração os conhecimentos reais do educando, mas sim sua capacidade de adaptação à sociedade vigente, sem qualquer questionamento crítico.

Alguns teóricos defendem a idéia de que a educação deve ser individualizada, uma vez que o homem seria o objeto central do processo educativo. Outros defendem a tese da educação comunitária, uma vez que o destino do homem é viver em sociedade. Contudo, há, ainda, os que acreditam na educação socializante pela qual o homem integra-se à comunidade de forma ativa e participativa, preservando assim tanto os seus interesses como os da comunidade em que vive. Assim, a educação hodierna tem que atender igualmente aos interesses do indivíduo e da comunidade. Nessa concepção NÉRICI (1993) diz: educação é o processo que visa a revelar e a desenvol-ver as potencialidades do indivíduo em contato com a realidade, a fim de levá-lo a atuar na mesma de maneira consciente (com conhecimento), eficiente (com tecno-logia) e responsável (eticamente) a fim de serem aten-didas as necessidades e aspirações da criatura humana, de natureza pessoal, social e transcendental. No que diz respeito à definição de ensino, esse é entendido como conseqüência da educação. Para NÉRICI (1993) ensino é o processo que visa a modificar o comportamento do indivíduo por intermédio da aprendizagem com o propó-sito de efetivar as intenções do conceito de educação, bem como habilitar cada um a orientar a sua própria aprendizagem, a ter iniciativa, a cultivar a confiança em si, a esforçar-se, a desenvolver a criatividade, a entrosar-se com seus semelhantes, a fim de poder participar na sociedade como pessoa consciente, eficiente e responsável. Para o professor José A .Valente, da Uni-camp, informação é o fato, é o dado que encontramos nas publicações, na Internet ou trocando informações. O conhecimento é a informação interpretada, relacionada e processada. Logo, podemos partir para a diferença entre ensino, instrução e treinamento. Com o avanço tecno-lógico, o indivíduo encontra rapidamente informação, porém a informação só passará a ser conhecimento se esse for bem instruído, ou melhor, direcionado por um profissional da educação, para ajudá-lo a compreender que nem tudo que ele lê transformar-se-á em conhe-cimento, pois nem tudo que existe na rede é, primeiro de qualidade, e; segundo, de relevância educacional. O ensino confunde-se então com conhecimento e instrução; por esse prisma, confunde-se com a função do educador atual que é de facilitar a aprendizagem do educando. Por último, treinamento é algo que nos faz lembrar da teoria de condicionamento de Skinner na qual o educando é estimulado a aprender a partir da repetição de exercícios, seguida de recompensa. Também na rede podemos treinar e ser treinados, mas só poderemos nos instruir, ou nos educar se tivermos arreigados os conceitos de crítica e autonomia da educação, senão o que teremos é um enorme número de informações desconexas e, com certeza, não é esse o objetivo da educação. Portanto, Gabriel Mario Rodrigues conclui muito bem seu ensaio quando diz: a tecnologia facilita a transmissão da infor-mação, mas o papel do professor continua e continuará sendo fundamental para auxiliar o aluno a construir o conhecimento. Os que não entenderem essa nova realidade correm o risco de serem substituídos por uma máquina. O professor que trabalhar mais como um facili-tador será insubstituível e inesquecível, como até hoje é, para qualquer de nós, a figura da primeira professora. A relação professor-aluno é fundamental em todos os níveis e modalidades de ensino. Através dela o aluno pode ser motivado a construir seu conhecimento.

Relação professor-aluno segundo Vygotsky

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A relação educador-educando não deve ser uma rela-ção de imposição, mas sim, uma relação de cooperação, de respeito e de crescimento. O aluno deve ser consi-derado como um sujeito interativo e ativo no seu processo de construção de conhecimento. Assumindo o educador um papel fundamental nesse processo, como um indivíduo mais experiente. Por essa razão cabe ao professor considerar também, o que o aluno já sabe, sua bagagem cultural e intelectual, para a construção da aprendizagem. O professor e os colegas formam um conjunto de mediadores da cultura que possibilita pro-gressos no desenvolvimento da criança. Nessa perspe-ctiva, não cabe analisar somente a relação professor-aluno, mas também a relação aluno-aluno. Para Vygo-tsky, a construção do conhecimento se dará coletiva-mente, portanto, sem ignorar a ação intrapsíquica do sujeito. Assim, Vygotsky conceituou o desenvolvimento intelectual de cada pessoa em dois níveis: um real e um potencial. O real é aquele já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de fazer por si própria porque já tem um conhecimento consolidado. Por exemplo, se domina a adição esse é um nível de desenvolvimento real. O potencial é quando a criança ainda não aprendeu tal assunto, mas está próximo de aprender, e isso se dará principalmente com a ajuda de outras pessoas. Por exemplo, quando ele já sabe somar, está bom próximo de fazer uma multiplicação simples, precisa apenas de um «empurrão». Vai ser na distância desses dois níveis que estará um dos principais conceitos de Vygotsky: as zonas de desenvolvimento proximal, que é definido por ele como: (..) A distância entre o nível de desenvolvimento que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinando através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou de companheiros mais capazes. (VYGOTSKY apud GOMES , “A formação Social da mente: O desenvolvi-mento dos processos psicológicos superiores”. São Paulo, Martins Fontes. 1989, p.97) Esse conceito abre uma nova perspectiva a prática pedagógica colocando a busca do conhecimento e não de respostas corretas. Ao educador, restitui seu papel fundamental na aprendi-zagem, afinal, para o aluno construir novos conhecimen-tos precisa-se de alguém que os ajude, eles não o farão sozinhos. Assim, cabe ao professor ver seus alunos sob outra perspectiva, bem como o trabalho conjunto entre colegas, que favorece também a ação do outro na ZDP (zona de desenvolvimento proximal). Vygotsky acreditava que a noção de ZDP já se fazia presente no bom senso do professor quando este elaborava suas aulas. O pro-fessor seria o suporte, ou “andaime”, para que a apren-dizagem do educando a um conhecimento novo seja satisfatória. Para isso, o professor tem que interferir na ZDP do aluno, utilizando alguma metodologia, e para Vygotky, essa se dava através da linguagem. Baseado nisso, dois autores Newman, Griffin & Cole, desen-volveram essa idéia. Para eles era através do diálogo do professor com o aluno que a ZDP se desenvolve na sala de aula. Com um esquema I-R-F (iniciação – resposta – feedback), que o professor “dando pistas” para o aluno iniciava o processo, assim o aluno teria uma resposta e o professor dava o feedback a essa resposta (GOMES, 2002). Nessa perspectiva, a educação não fica à espera do desenvolvimento intelectual da criança. Ao contrário, sua função é levar o aluno adiante, pois quanto mais ele aprende, mais se desenvolve mentalmente. Segundo Vygotsky, essa demanda por desenvolvimento é característica das crianças. Se elas próprias fazem da brincadeira um exercício de ser o que ainda não são, o

professor que se contenta com o que elas já sabem é dispensável.

Relação professor-aluno segundo Piaget

Para Piaget a aprendizagem do estudante será signifi-cativa quando esse for um sujeito ativo. Isso se dará quando a criança receber informações relativas ao objeto de estudo para organizar suas atividades e agir sobre elas. Geralmente os professores “jogam” somente os símbolos falados e escritos para os alunos, alegando a falta de tempo. Segundo Piaget esse tempo utilizado apenas para a verbalização do professor é um tempo perdido, e se gastá-lo permitindo que os alunos usem a abordagem tentativa e erro, esse tempo gasto a mais, será na verdade um ganho. O modelo tradicional de intervenção do professor consiste em explicar como resolver os problemas e dizer “está certo” ou “está errado”. Isso está contra a teoria da psicologia genética de Piaget, que coloca a importância da observação do professor sobre o aluno. Uma observação criteriosa, para ver o momento de desenvolvimento que a criança está vivendo, assim saber que atividade cognitiva aquele aluno estará apto a investigar. O professor será o incen-tivador, o encorajador para a iniciativa própria do estu-dante. Coloca-se também a importância da esponta-neidade da criança. Muitas vezes o professor se mostra tão preocupado em ensinar que não têm paciência suficiente para esperar que as crianças aprendam. Dificil-mente aguardam as respostas dos educandos, e perdem a oportunidade de acompanhar a estrutura de raciocínio espontânea de seus alunos. Com a concepção das respostas “certas” e sem o incentivo para pesquisa pes-soal o estudante acaba por ter sua atividade dirigida e canalizada, podendo até dizer moldada pelo método de ensino tradicional. Por isso Piaget fixa tanto essa idéia da espontaneidade do aluno; porém, essa espontaneidade muitas vezes é distorcida em sua interpretação. Se um professor deixar a criança sem planejar sua atividade, achando que essa aprenderá sozinha, erroneamente estará aplicando o que Piaget diz. Ainda a respeito da relação professor-aluno, Piaget coloca que essa relação tem que ser baseada no diálogo mais fecundo, onde os “erros” dos estudantes passam a ser vistos como inte-grantes do processo de aprendizagem. Isso se dá porque à medida que o aluno “erra” o professor consegue ver o que já se está sabendo e o que ainda deve ser ensinado. Segundo Emilia Ferreiro e Ana Teberosky são esses “erros construtivos” que podem diferir das respostas corretas, mas não impedem que as crianças cheguem a ela. Piaget ainda reforça que o aprender não se reduz à memorização, mas sim ao raciocínio lógico, compreensão e reflexão. Diferentemente de Vygotsky, Piaget coloca que o aprendizado é individual. Será construído na cabe-ça do sujeito a partir das estruturas mentais que ele pos-sui. Voltando a relação professor-aluno, Piaget a coloca baseada na cooperação de ambos. Assim, será através do debate e discussão entre iguais que o processo do desenvolvimento cognitivo se dará; e o professor assu-mindo o papel apenas de instigador e provocador, man-tendo o clima de cooperação. As conseqüências serão à descentralização, à socialização, à construção de um conhecimento racional e dinâmico dos alunos. Dessa for-ma, a produção das crianças passa a fazer parte do pro-cesso de ensino e aprendizagem, buscando compreender o significado do processo e não só o produto.

2. A CRIANÇA E ODESENVOLVIMENTO COGNITIVO

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A palavra afeto vem do latim affectur (afetar, tocar) e constitui o elemento básico da afetividade. Afetividade e cognição parecem ser palavras opostas. Alguns pesqui-sadores mostram o contrário, como Jean Piaget (1962): “(...) apesar de diferentes em sua natureza, a afetividade e a cognição são inseparáveis, indissociadas em todas as ações simbólicas e sensório-motoras”. Ele fala ainda que “(...) toda ação e pensamento comportam um aspecto cognitivo, representado pelas estruturas mentais, e um aspecto afetivo, representado por uma energética, que é a afetividade”. De acordo com Piaget não existem estados afetivos sem elementos cognitivos, assim como não existem comportamentos puramente cognitivos. Percebe-se que a necessidade e o interesse levam a pessoa a ter afetividade com o objeto a ser estudado e que o comprometimento e a interação com o outro conduz a pessoa a ter afetividade com o que faz, seja em sala de aula ou em outro trabalho qualquer. Para Piaget a afetividade é o motor do desenvolvimento cognitivo, em que um não sobrevive sem o outro. “(...) separados um do outro, não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação; os problemas não seriam colocados e não haveria ações inteligentes” (Piaget, 1962). Atualmente, as pessoas vivem em um mundo onde não mais se prioriza a competição, mas sim a cooperação: “(...) nossos estudos têm mostrado que as normas racionais e, em particular, essa norma tão importante que é a reciprocidade, não pode se desenvolver senão na e pela cooperação” (Piaget, 1977, p.94). Para colaborar deve-se desenvolver afetividade e, para isso, é importante pensar sob o ponto de vista do outro e perceber o ser humano como um todo, onde sentimento, corpo e razão possuem um significado muito maior do que se forem segmentados em partes. Além dessa percepção é importante respeitar as diferenças e acolher o diferente porque receber o semelhante é fácil. No âmbito escolar, para haver a cognição, é necessário ter afetividade com conteúdos, colegas e professores, porém isso não quer dizer que se não tiver afetividade não haverá cognição. Segundo Piaget (1962):

(...) numa estrutura aritmética como 7+5=12, a compreensão da igualdade pode ser retardada por certas situações afetivas, ou pode ser acelerada onde o interesse estiver envolvido. Em ambos os casos, o sujeito acabará por aceitar que 7+5=12. Isto mostra a estrutura independente do afeto, mesmo que sua construção possa ser motivada, e por conseqüência acelerada ou retardada por sentimentos, interesse e afeto.(...) tentarei demonstrar geneticamente que a afetividade pode levar a aceleração ou retardamento, mas não é a causa da formação das estruturas cognitivas.

Percebe-se que do mesmo modo que a afetividade acelera a construção do conhecimento também pode retardar, por exemplo: quando o aluno não gosta ou não tem interesse por determinado conteúdo, ele não é afetado por ele e esse conteúdo se torna difícil para esse aluno aprender. Levando em conta esse aspecto, também declara Morin (2002), “sentimentos como raiva, amor e amizade podem nos cegar. Porém a afetividade, assim como pode asfixiar o conhecimento, pode também fortalecê-lo”.

A Influência da Afetividade para o Processo de Cognição

De acordo com Piaget, apud Espíndola (2002), o desenvolvimento intelectual é composto pelos componentes afetivo e cognitivo. O desenvolvimento afetivo ocorre paralelamente ao cognitivo e possui uma profunda autoridade sobre o desenvolvimento intelectual. Ocorrendo de forma paralela, as características mentais de cada fase do desenvolvimento serão determinantes para a construção da afetividade. Nos estudos sobre epistemologia genética, Piaget apud Ferreira (2003) demonstrou o desenvolvimento cognitivo infantil sob um ponto de vista lógico-formal. Desse modo, as atividades mentais, bem como as biológicas, têm como objetivo a adaptação do indivíduo ao meio. De acordo com essa postura, a mente é dotada de estruturas cognitivas através das quais o indivíduo se adapta e organiza o meio no qual está inserido. A criança, partindo de tal ponto de vista, nasceria com reflexos básicos (esquemas) e no intercâmbio com o meio passaria a construir o seu conhecimento acerca do mundo, desenvolvendo e expandindo seus esquemas. Percebendo que o desenvolvimento intelectual envolve os aspectos cognitivo e afetivo, Piaget apreciava a afetividade como um agente promotor e selecionador da atividade intelectual, pois acreditava que toda atividade intelectual é sempre direcionada a componentes e episódios característicos. Na visão de Piaget, essa escolha é provocada pela afetividade. Piaget apud Ferreira (2003) acreditava que o conhecimento é construído pela criança em sua interação com o meio. Além disso, considerava que as crianças se desenvolvem por intermédio de estágios, formas de apreensão da realidade, até atingirem o pensamento formal, onde conseguem ter capacidade para pensar sobre o pensar. Vygotsky pensava da mesma forma que Piaget na questão da construção de conhecimento pela criança e da importância de sua ação pelo meio. Mas, diversamente de Piaget, acreditava que o meio exercia influência fundamental sobre o desenvolvimento infantil. Para Vygotsky, apud Espíndola (2002) a interação entre indivíduos desempenha uma função importante na construção do ser humano, pois é na relação interpessoal concreta que o indivíduo interioriza as formas culturalmente estabelecidas de funcionamento psicoló-gico. Assim, a interação social é que vai fornecer elementos para que haja o desenvolvimento psicológico. É fundamental cuidar do aspecto afetivo no processo de aprendizagem. É necessário que se compreenda que a criança difere em cada estágio de desenvolvimento e exigir que ela aprenda regras de comportamento sem proporcionar a ela situações de interação que a conduzam a uma tomada de consciência pode dificultar a aquisição do desenvolvimento cognitivo e afetivo.

3. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO

O estudo do desenvolvimento do ser humano constitui uma área do conhecimento da Psicologia cujas proposições nucleares concentram-se no esforço de compreender o homem em todos os seus aspectos, englobando fases desde o nascimento até o seu mais completo grau de maturidade e estabilidade. Tal esforço, conforme mostra a  linha evolutiva da Psicologia, tem culminado na elaboração de várias teorias que procuram reconstituir, a partir de diferentes metodologias e pontos de vistas, as condições de produção da representação do mundo e de suas vinculações com as visões de mundo e de homem dominantes em cada momento histórico da

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

sociedade. Dentre essas teorias, a de Jean Piaget (1896-1980), que é a referência deste nosso trabalho, não foge à regra, na medida em que ela busca, como as demais, compreender o desenvolvimento do ser humano. No entanto, ela se destaca de outras pelo seu caráter inovador quando introduz uma 'terceira visão' representada pela linha interacionista que constitui uma tentativa de integrar as posições dicotômicas de duas tendências teóricas que permeiam a Psicologia em geral - o materialismo mecanicista e o idealismo - ambas marcadas pelo antagonismo inconciliável de seus postulados que separam de forma estanque o físico e o psíquico. Um outro ponto importante a ser considerado, segundo estudiosos, é o de que o modelo piagetiano prima  pelo rigor científico de sua produção, ampla e consistente ao longo de 70 anos, que trouxe contribuições práticas importantes, principalmente, ao campo da Educação - muito embora, curiosamente aliás, a intenção de Piaget não tenha propriamente incluído a idéia de formular uma teoria específica de aprendizagem (La Taille, 1992; Rappaport, 1981; Furtado et. al.,1999; Coll, 1992; etc.). 

1. A Visão Interacionista de Piaget: a Relação de Interdependência entre o Homem e o Objeto do Conhecimento

Introduzindo uma terceira visão teórica representada pela linha interacionista, as idéias de Piaget contrapõem-se, conforme mencionamos mais acima, às visões de duas  correntes antagônicas e inconciliáveis que permeiam a Psicologia em geral: o objetivismo e o subjetivismo. Ambas as correntes são derivadas de duas grandes vertentes da Filosofia (o idealismo e o materialismo mecanicista) que, por sua vez, são herdadas do dualismo radical de Descartes que propôs a separação estanque entre corpo e alma, id est, entre físico e psíquico. Assim sendo, a Psicologia objetivista, privilegia o dado externo, afirmando que todo conhecimento provém da experiência; e a Psicologia subjetivista, em contraste, calcada no substrato psíquico, entende que todo conhecimento é anterior à experiência, reconhecendo, portanto, a primazia do sujeito sobre o objeto (Freitas, 2000:63). Considerando insuficientes essas duas posições para explicar o processo evolutivo da filogenia humana, Piaget formula o conceito de epigênese, argumentando que "o conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos nem de uma programação inata pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas" (Piaget, 1976 apud Freitas 2000:64). Quer dizer, o processo evolutivo da filogenia humana tem uma origem biológica que é ativada pela ação e interação do organismo com o meio ambiente - físico e social - que o rodeia (Coll, 1992; La Taille, 1992, 2003; Freitas,  2000; etc.), significando entender com isso que as formas primitivas da mente, biologicamente constituídas, são reorganizadas pela psique socializada, ou seja, existe uma relação de interdependência entre o sujeito conhecedor e o objeto a conhecer.  Esse processo, por sua vez, se efetua através de um mecanismo auto-regulatório que consiste no processo de equilíbração progressiva do organismo com o meio em que o indivíduo está inserido, como procuraremos expor em seguida.

  2. O Processo de Equilibração: a Marcha do Organismo em Busca do Pensamento Lógico

Pode-se dizer que o "sujeito epistêmico" protagoniza o papel central do modelo piagetiano, pois a grande preocupação da teoria é desvendar os mecanismos processuais do pensamento do homem, desde o início da sua vida até a idade adulta. Nesse sentido,  a compreensão dos mecanismos de constituição do conhecimento, na concepção de Piaget, equivale à compreensão dos mecanismos envolvidos na formação do pensamento lógico, matemático. Como lembra La Taille (1992:17), "(...) a lógica representa para Piaget a forma final do equilíbrio das ações. Ela é 'um sistema de operações, isto é, de ações que se tornaram reversíveis e passíveis de serem compostas entre si'".  Precipuamente, portanto, no método psicogenético, o 'status' da lógica matemática perfaz o enigma básico a ser desvendado. O maior problema, nesse sentido, concentra-se na busca de respostas pertinentes para uma questão fulcral: "Como os homens constróem o conhecimento?" (La Taille: vídeo). Imbricam-se nessa questão, naturalmente, outras indagações afins, quer sejam: como é que a lógica passa do nível elementar para o nível superior? Como se dá o processo de elaboração das idéias? Como a elaboração do conhecimento influencia a adaptação à realidade? Etc. Procurando soluções para esse problema central, Piaget sustenta que a gênese do conhecimento está no próprio sujeito, ou seja, o pensamento lógico não é inato ou tampouco externo ao organismo mas é fundamentalmente construído na interação homem-objeto. Quer dizer, o desenvolvimento da filogenia humana se dá através de um mecanismo auto-regulatório que tem como base um 'kit' de condições biológicas (inatas portanto), que é ativado pela ação e interação do organismo  com o meio ambiente - físico e social (Rappaport, op.cit.). Id est, tanto a experiência sensorial quanto o raciocínio são fundantes do processo de constituição da inteligência, ou do pensamento lógico do homem. Está implícito nessa ótica de Piaget  que o homem é possuidor de uma estrutura biológica que o possibilita desenvolver o mental, no entanto,  esse fato per se não assegura o desencadeamento de fatores que propiciarão o seu desenvolvimento, haja vista que este só acontecerá a partir da interação do sujeito com o objeto a conhecer. Por sua vez, a relação com o objeto, embora essencial, da mesma forma também não é uma condição suficiente ao desenvolvimento cognitivo humano, uma vez que para tanto é preciso, ainda, o exercício do raciocínio. Por assim dizer, a elaboração do pensamento lógico demanda um processo interno de reflexão. Tais aspectos deixam à mostra que, ao tentar descrever a origem da constituição do pensamento lógico, Piaget focaliza o processo interno dessa construção. Simplificando ao máximo, o desenvolvimento humano, no modelo piagetiano, é explicado segundo o pressuposto de que existe uma conjuntura de relações interdependentes entre o sujeito conhecedor e o objeto a conhecer. Esses fatores que são complementares envolvem mecanismos bastante complexos e intrincados que englobam o entrelaçamento de fatores que são complementares, tais como: o processo de maturação do organismo, a experiência com objetos, a vivência social e, sobretudo, a equilibração do organismo ao meio. O conceito de equilibração torna-se especialmente marcante na teoria de Piaget pois ele representa o fundamento que explica todo o processo do desenvolvimento humano. Trata-se de um fenômeno que tem, em sua essência, um caráter universal, já que é de igual ocorrência para todos os indivíduos da espécie humana mas que pode sofrer variações em função de conteúdos culturais do meio em que o indivíduo está inserido. Nessa linha de raciocínio, o trabalho de Piaget

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

leva em conta a atuação de  2 elementos básicos ao desenvolvimento humano: os fatores invariantes e os fatores variantes.

a) Os Fatores Invariantes:  Piaget postula que, ao nascer, o indivíduo recebe como herança uma série de estruturas biológicas - sensoriais e neurológicas - que permanecem constantes ao longo da sua vida. São essas estruturas biológicas que irão predispor o surgimento de certas estruturas mentais. Em vista disso, na linha piagetiana, considera-se que o indivíduo carrega consigo duas marcas inatas que são a tendência natural à organização e à adaptação, significando entender, portanto, que, em última instância,  o 'motor' do comportamento do homem é inerente ao ser.

b) Os Fatores Variantes: são representados pelo conceito de esquema que constitui a unidade básica de pensamento e ação estrutural do modelo piagetiano, sendo um elemento que se tranforma no processo de interação com o meio, visando à adaptação do indivíduo ao real que o circunda. Com isso, a teoria psicogenética deixa à mostra que a inteligência não é herdada, mas sim que ela é construída no processo interativo entre o homem e o meio ambiente (físico e social) em que ele estiver inserido.

Em síntese, pode-se dizer que, para Piaget, o equilíbrio é o norte que o organismo almeja mas que paradoxalmente nunca alcança (La Taille, op.cit.), haja vista que no processo de interação podem ocorrer desajustes do meio ambiente que rompem com o estado de equilíbrio do organismo, eliciando esforços para que a adaptação se restabeleça. Essa busca do organismo por novas formas de adaptação envolvem dois mecanismos que apesar de distintos são indissociáveis e que se complementam: a assimilação e a acomodação.

a) A Assimilação: consiste na tentativa do indivíduo em solucionar uma determinada situação a partir da estrutura cognitiva que ele possui naquele momento específico da sua existência. Representa um processo contínuo na medida em que o indivíduo está em constante atividade de interpretação da realidade que o rodeia e, consequentemente, tendo que se adaptar a ela. Como o processo de assimilação representa sempre uma tentativa de integração de aspectos experienciais aos esquemas previamente estruturados, ao entrar em contato com o objeto do conhecimento o indivíduo busca retirar dele as informações que lhe interessam deixando outras que não lhe são tão importantes (La Taille, vídeo), visando sempre a restabelecer a equilibração do organismo.

b) A Acomodação: por sua vez,  consiste na capacidade de modificação da estrutura mental antiga para dar conta de dominar um novo objeto do conhecimento. Quer dizer, a acomodação representa "o momento da ação do objeto sobre o sujeito" (Freitas, op.cit.:65) emergindo, portanto, como o elemento complementar das interações sujeito-objeto.  Em síntese, toda experiência é assimilada a uma estrutura de

idéias já existentes (esquemas) podendo provocar uma transformação nesses esquemas, ou seja, gerando um processo de acomodação. Como observa Rappaport (1981:56), os processos de assimilação e acomodação são complementares e acham-se presentes durante toda a vida do indivíduo e permitem um estado de adaptação intelectual (...) É muito difícil, se não impossível, imaginar uma situação em que possa ocorrer assimilação sem acomodação, pois dificilmente um objeto é igual a outro já conhecido, ou uma situação é exatamente igual a outra. Vê-se nessa idéia de "equilibração" de Piaget a marca da sua formação como Biólogo que o levou a traçar um paralelo entre a evolução biológica da espécie e as construções cognitivas. Tal processo pode ser representado pelo seguinte:

- Ambiente

- Desequilíbrio

- Assimilação

- Adaptação

- Acomodação

- Equilibração Majorante

Dessa perspectiva, o processo de equilibração pode ser definido como um mecanismo de organização de estruturas cognitivas em um sistema coerente que visa a levar o indivíduo a construção de uma forma de adaptação à realidade. Haja vista que o "objeto nunca se deixa compreender totalmente" (La Taille, op.cit.), o conceito de equilibração sugere algo móvel e dinâmico, na medida em que a constituição do conhecimento coloca o indivíduo frente a conflitos cognitivos constantes que movimentam o organismo no sentido de resolvê-los. Em última instância, a concepção do desenvolvimento humano, na linha piagetiana, deixa ver que é no contato com o mundo que a matéria bruta do conhecimento é 'arrecadada', pois que é no processo de construções sucessivas resultantes da relação sujeito-objeto que o indivíduo vai formar o pensamento lógico. É bom considerar, ainda, que, na medida em que toda experiência leva em graus diferentes a um processo de assimilação e acomodação, trata-se de entender que o mundo das idéias, da cognição, é um mundo inferencial. Para avançar no desenvolvimento é preciso que o ambiente promova condições para transformações cognitivas, id est,  é necessário que se estabeleça um conflito cognitivo que demande um esforço do indivíduo para superá-lo a fim de que o equilíbrio do organismo seja restabelecido, e assim sucessivamente. No entanto, esse processo de transformação vai depender sempre de como o indivíduo vai elaborar e assimilar as suas interações com o meio, isso porque a visada conquista da equilibração do organismo reflete as elaborações possibilitadas pelos níveis de desenvolvimento cognitivo que o organismo detém nos diversos estágios da sua vida. A esse respeito, para Piaget, os modos de relacionamento com a realidade são divididos em 4 períodos, como destacaremos na próxima seção deste trabalho.

 

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Os Estágios do Desenvolvimento Hhumano

Piaget considera 4 períodos no processo evolutivo da espécie humana que são caracterizados "por aquilo que o indivíduo consegue fazer melhor" no decorrer das diversas faixas etárias ao longo do seu processo de desenvolvimento (Furtado, op.cit.). São eles:

1º Período: Sensório-Motoro 0 a 2 anos2º Período: Pré-Operatório 2 a 7 anos3º Período: Operações Concretas 7 a 11 ou 12 anos4º Período: Operações Formais 11 ou 12 anos em diante

Cada uma dessas fases é caracterizada por formas diferentes de organização mental que possibilitam as diferentes maneiras do indivíduo relacionar-se com a realidade que o rodeia (Coll e Gillièron, 1987). De uma forma geral, todos os indivíduos vivenciam essas 4 fases na mesma seqüência, porém o início e o término de cada uma delas pode sofrer variações em função das características da estrutura biológica de cada indivíduo e da riqueza (ou não) dos estímulos proporcionados pelo meio ambiente em que ele estiver inserido. Por isso mesmo é que "a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida", conforme lembra Furtado (op.cit.). Abordaremos, a seguir, sem entrar em uma descrição detalhada, as principais características de cada um desses períodos.

a) Período Sensório-Motor (0 a 2 anos): segundo La Taille (2003), Piaget usa a expressão "a passagem do caos ao cosmo" para traduzir o que o estudo sobre a construção do real descreve e explica. De acordo com a tese piagetiana, "a criança nasce em um universo para ela caótico, habitado por objetos evanescentes (que desapareceriam uma vez fora do campo da percepção), com tempo e espaço subjetivamente sentidos, e causalidade reduzida ao poder das ações, em uma forma de onipotência" (id ibid). No recém nascido, portanto, as funções mentais limitam-se ao exercício dos aparelhos reflexos inatos. Assim sendo, o universo que circunda a criança é conquistado mediante a percepção e os movimentos (como a sucção, o movimento dos olhos, por exemplo). Progressivamente, a criança vai aperfeiçoando tais movimentos reflexos e adquirindo habilidades e chega ao final do período sensório-motor já se concebendo dentro de um cosmo "com objetos, tempo, espaço, causalidade objetivados e solidários, entre os quais situa a si mesma como um objeto específico, agente e paciente dos eventos que nele ocorrem" (id ibid).

b) Período Pré-Operatório (2 a 7 anos): para Piaget, o que marca a passagem do período sensório-motor para o pré-operatório é o aparecimento da função simbólica ou semiótica, ou seja, é a emergência da linguagem. Nessa concepção, a inteligência é anterior à emergência da linguagem e por isso mesmo "não se pode atribuir à linguagem a origem da lógica, que constitui o núcleo do pensamento racional" (Coll e Gillièron, op.cit.). Na linha piagetiana, desse modo, a linguagem é considerada como uma condição necessária mas não suficiente ao desenvolvimento, pois

existe um trabalho de reorganização da ação cognitiva que não é dado pela linguagem, conforme alerta La Taille (1992). Em uma palavra, isso implica entender que o desenvolvimento da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência. Todavia, conforme demonstram as pesquisas psicogenéticas (La Taille, op.cit.; Furtado, op.cit., etc.), a emergência da linguagem acarreta modificações importantes em aspectos cognitivos, afetivos e sociais da criança, uma vez que ela possibilita as interações  interindividuais e  fornece, principalmente, a capacidade de trabalhar com representações para atribuir significados à realidade. Tanto é assim, que a aceleração do alcance do pensamento neste estágio do desenvolvimento, é atribuída, em grande parte, às possibilidades de contatos interindividuais fornecidos pela linguagem. Contudo, embora o alcance do pensamento apresente transformações importantes, ele  caracteriza-se, ainda, pelo egocentrismo, uma vez que a criança não concebe uma realidade da qual não faça parte, devido à ausência de esquemas conceituais e da lógica. Para citar um exemplo pessoal relacionado à questão, lembro-me muito bem que me chamava à atenção o fato de, nessa faixa etária, o meu filho dizer coisas do tipo "o meu carro do meu pai", sugerindo, portanto, o egocentrismo característico desta fase do desenvolvimento. Assim, neste estágio, embora a criança apresente a capacidade de atuar de forma lógica e coerente (em função da aquisição de esquemas sensoriais-motores na fase anterior) ela apresentará, paradoxalmente, um entendimento da realidade desequilibrado (em função da ausência de esquemas conceituais), conforme salienta Rappaport (op.cit.).

c) Período das Operações Concretas (7 a 11, 12 anos): neste período o egocentrismo intelectual e social (incapacidade de se colocar no ponto de vista de outros) que caracteriza a fase anterior dá lugar à emergência da capacidade da criança de estabelecer relações e coordenar pontos de vista diferentes  (próprios e de outrem ) e de integrá-los de modo lógico e coerente (Rappaport, op.cit.). Um outro aspecto importante neste estágio refere-se ao aparecimento da capacidade da criança de interiorizar as ações, ou seja, ela começa a realizar operações mentalmente e não mais apenas através de ações físicas típicas da inteligência sensório-motor (se lhe perguntarem, por exemplo, qual é a vareta maior, entre várias, ela será capaz de responder acertadamente comparando-as mediante a ação mental, ou seja, sem precisar medi-las usando a ação física).  Contudo, embora a criança consiga raciocinar de forma coerente, tanto os esquemas conceituais como as ações executadas mentalmente se referem, nesta fase, a objetos ou situações passíveis de serem manipuladas ou imaginadas de forma concreta. Além disso, conforme pontua La Taille (1992:17) se no período pré-operatório a criança ainda não havia adquirido a capacidade de reversibilidade, i.e., "a capacidade de pensar simultaneamente o estado inicial e o estado final de alguma transformação

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

efetuada sobre os objetos (por exemplo, a ausência de conservação da quantidade quando se transvaza o conteúdo de um copo A para outro B, de diâmetro menor)", tal reversibilidade será construída ao longo dos estágios operatório concreto e formal.

d) Período das Operações Formais (12 anos em diante): nesta fase a criança, ampliando as capacidades conquistadas na fase anterior, já consegue raciocinar sobre hipóteses na medida em que ela é capaz de formar esquemas conceituais abstratos e através deles executar operações mentais dentro de princípios da lógica formal. Com isso, conforme aponta Rappaport (op.cit.:74) a criança adquire "capacidade de criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta: discute valores morais de seus pais e contrói os seus próprios (adquirindo, portanto, autonomia)". De acordo com a tese piagetiana, ao atingir esta fase, o indivíduo adquire a sua forma final de equilíbrio, ou seja, ele consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta. Isso não quer dizer que ocorra uma estagnação das funções cognitivas, a partir do ápice adquirido na adolescência, como enfatiza Rappaport (op.cit.:63), "esta será a forma predominante de raciocínio utilizada pelo adulto. Seu desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de conhecimentos tanto em extensão como em profundidade, mas não na aquisição de novos modos de funcionamento mental". Cabe-nos problematizar as considerações anteriores de Rappaport, a partir da seguinte reflexão: resultados de pesquisas* têm indicado que adultos "pouco-letrados/escolarizados" apresentam modo de funcionamento cognitivo "balizado pelas informações provenientes de dados perceptuais, do contexto concreto e da experiência pessoal" (Oliveira, 2001a:148). De acordo com os pressupostos da teoria de Piaget, tais adultos estariam, portanto, no estágio operatório-concreto, ou seja, não teriam alcançado, ainda, o estágio final do desenvolvimento que caracteriza o funcionamento do adulto (lógico-formal). Como é que tais adultos (operatório-concreto) poderiam, ainda, adquirir condições de ampliar e aprofundar conhecimentos (lógico-formal) se não lhes é reservada, de acordo com a respectiva teoria, a capacidade de desenvolver "novos modos de funcionamento mental"? - aliás, de acordo com a teoria, não dependeria do desenvolvimento da estrutura cognitiva a capacidade de desenvolver o pensamento descontextualizado? Bem, retomando a nossa discussão, vale ressaltar, ainda, que, para Piaget, existe um desenvolvimento da moral que ocorre por etapas, de acordo com os estágios do desenvolvimento humano. Para Piaget (1977 apud La Taille 1992:21), "toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por estas regras". Isso porque Piaget entende que nos jogos coletivos as relações interindividuais são regidas por normas que, apesar de herdadas culturalmente, podem ser modificadas consensualmente entre os jogadores, sendo que o dever de 'respeitá-las'

implica a moral por envolver questões de justiça e honestidade. Assim sendo, Piaget argumenta que o desenvolvimento da moral abrange 3 fases:

a) anomia (crianças até 5 anos), em que a moral não se coloca, ou seja, as regras são seguidas, porém o indivíduo ainda não está mobilizado pelas relações bem x mal e sim pelo sentido de hábito, de dever;

b) heteronomia (crianças até 9, 10 anos de idade), em que a moral é = a autoridade, ou seja, as regras não correpondem a um acordo mútuo firmado entre os jogadores, mas sim como algo imposto pela tradição e, portanto, imutável;

c) autonomia, corresponde ao último estágio do desenvolvimento da moral, em que há a legitimação das regras e a criança pensa a moral pela reciprocidade, quer seja o respeito a regras é entendido como decorrente de acordos mútuos entre os jogadores, sendo que cada um deles consegue conceber a si próprio como possível 'legislador' em regime de cooperação entre todos os membros do grupo.

Para Piaget, a própria moral pressupõe inteligência, haja vista que as relações entre moral x inteligência têm a mesma lógica atribuída às relações inteligência x linguagem. Quer dizer, a inteligência é uma condição necessária, porém não suficiente ao desenvolvimento da moral. Nesse sentido, a moralidade implica pensar o racional, em 3 dimensões:

a) regras: que são formulações verbais concretas, explícitas (como os 10 Mandamentos, por exemplo);

b) princípios: que representam o espírito das regras (amai-vos uns aos outros, por exemplo);

c) valores: que dão respostas aos deveres e aos sentidos da vida, permitindo entender de onde são derivados os princípios das regras a serem seguidas.

Assim sendo, as relações interindividuais que são regidas por regras envolvem, por sua vez, relações de coação - que corresponde à noção de dever;  e de cooperação - que pressupõe a noção de articulação de operações de dois ou mais sujeitos, envolvendo não apenas a noção de 'dever' mas a de 'querer' fazer. Vemos, portanto, que uma das peculiaridades do modelo piagetiano consiste em que o papel das relações interindividuais no processo evolutivo do homem é focalizado sob a  perspectiva da ética (La Taille, 1992). Isso implica entender que "o desenvolvimento cognitivo é condição necessária ao pleno exercício da cooperação, mas não condição suficiente, pois uma postura ética deverá completar o quadro" (idem p. 21).

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

 

As Conseqüências do Modelo Piagetiano para a Ação Pedagógica

Como já foi mencionado, a teoria psicogenética de Piaget não tinha como objetivo principal propor uma teoria de aprendizagem. A esse respeito, Coll (1992:172) faz a seguinte observação: "ao que se sabe, ele [Piaget] nunca participou diretamente nem coordenou uma pesquisa com objetivos pedagógicos". Não obstante esse fato, de forma contraditória aos interesses previstos, portanto, o modelo piagetiano, curiosamente, veio a se tornar uma das mais importantes diretrizes no campo da aprendizagem escolar, por exemplo, nos USA,  na Europa e no Brasil, inclusive. De acordo com Coll (op.cit.) as tentativas de aplicação da teoria genética no campo da aprendizagem são numerosas e variadas, no entanto os resultados práticos obtidos com tais aplicações não podem ser considerados tão frutíferos. Uma das razões da difícil penetração da teoria genética no âmbito da escola deve-se, principalmente, segundo o autor, "ao difícil entendimento do seu conteúdo conceitual como pelos método de análise formalizante que utiliza e pelo estilo às vezes 'hermético' que caracteriza as publicações de Piaget" (idem p. 174). Coll (op.cit.) ressalta, também, que a aplicação educacional da teoria genética tem como fatores complicadores, entre outros:

a) as dificuldades de ordem técnica, metodológicas e teóricas no uso de provas operatórias como instrumento de diagnóstico psicopedagógico, exigindo um alto grau de especialização e de prudência profissional, a fim de se evitar os riscos de sérios erros;

b) a predominância no "como" ensinar coloca o objetivo do "o quê" ensinar em segundo plano,  contrapondo-se, dessa forma, ao caráter fundamental de transmissão do saber acumulado culturalmente que é uma função da instituição escolar, por ser esta de caráter preeminentemente político-metodológico e não técnico como tradicionalmente se procurou incutir nas idéias da sociedade;

c) a parte social da escola fica prejudicada uma vez que o raciocínio por trás da argumentação de que a criança vai atingir o estágio operatório secundariza a noção do desenvolvimento do pensamento crítico;

d) a idéia básica do construtivismo postulando que a atividade de organização e planificação da aquisição de conhecimentos estão à cargo do aluno acaba por não dar conta de explicar o caráter da intervenção por parte do professor;

e) a idéia de que o indivíduo apropria os conteúdos  em conformidade com o desenvolvimento das suas estruturas cognitivas estabelece o desafio da descoberta do "grau ótimo de desequilíbrio", ou seja, o objeto a conhecer  não deve estar nem além nem aquém da capacidade do aprendiz conhecedor.

Por outro lado, como contribuições contundentes da teoria psicogenética podem ser citados, por exemplo:

a) a possibilidade de estabelecer objetivos educacionais uma vez que a teoria fornece parâmetros importantes sobre o 'processo de pensamento da criança' relacionados aos estádios do desenvolvimento;

b) em oposição às visões de teorias behavioristas que consideravam o erro como interferências negativas no processo de aprendizagem, dentro da concepção cognitivista da teoria psicogenética, os erros passam a ser entendidos como estratégias usadas pelo aluno na sua tentativa de aprendizagem de novos conhecimentos (PCN, 1998);

c) uma outra contribuição importante do enfoque psicogenético foi lançar luz à questão dos diferentes estilos individuais de aprendizagem; (PCN, 1998); entre outros. Em resumo, conforme aponta Coll (1992), as relações entre teoria psicogenética x educação, apesar dos complicadores decorrentes da "dicotomia entre os aspectos estruturais e os aspectos funcionais da explicação genética" (idem, p. 192) e da tendência dos projetos privilegiarem, em grande parte, um reducionismo psicologizante em detrimento ao social  (aliás, motivo de caloroso debate entre acadêmicos*), pode-se considerar que a teoria psicogenética trouxe contribuições importantes ao campo da aprendizagem escolar.

Apropriação do Conhecimento

As concepções e práticas curriculares das escolas refletem construções conceituais que os sujeitos-professores vão construindo sobre o currículo, ao longo de sua trajetória profissional e pessoal, entrecortada pelos elementos pedagógicos e relacionais do próprio contexto escolar. Os conceitos de classificação e enquadramento desenvolvidos por Bernstein (1996, 1998) se constituíram como conceitos importantes para a compreensão do espaço da concretização curricular e da apropriação dos conhecimentos pelos sujeitos educacionais, no âmbito desse estudo.O conceito de classificação se refere, segundo Bernstein ( 1996, 1998), às relações existentes entre as diversas categorias, sejam instâncias, discursos ou práticas. No caso específico do ensino escolar, o conceito possibilita o exame da força das fronteiras entre as diversas disciplinas escolares que se estabelecem com identidades próprias, especificidades e vozes especiais, e entre o conhecimento formal e informal. A força da classificação gera especialização das categorias, ou seja, a especialização dos discursos escolares, sendo que esta especialização não se constitui pelo próprio discurso, mas pela lacuna que existe entre este e outros discursos diferenciados. Segundo Bernstein (1998), são as rupturas no fluxo potencial dos discursos que provocam a especialização das categorias. Sendo assim, é a separação entre as categorias do discurso que traduz a mensagem de poder implícita na especialização de cada conteúdo, mantendo os princípios da divisão social do trabalho. Todavia, é o próprio poder que trata de preservar essa separação, sendo que, quando essa separação é rompida, havendo uma maior proximidade entre as categorias, fica modificada ou alterada a forma da organização curricular e da divisão social do trabalho presente na educação. Um forte princípio de classificação pode produzir, na escola, uma fragmentação temporal do

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

conhecimento que é distribuído, construindo assim, o caráter do espaço social, produzindo estratificações e localizações. Discursos fortemente classificados, com identidades especializadas, conduzem a uma distribuição interna do conhecimento que segue progressões, partindo do conhecimento local e concreto para princípios gerais mais abstratos. Desta forma, o conhecimento é fragmentado e separado do sujeito conhecedor – o nível mais abstrato de um dado conhecimento somente pode ser adquirido pelo sujeito, num tempo posterior da transmissão. Existe na escola e, especialmente na atividade pedagógica, um jogo de forças que, somadas e/ou integradas, produzem uma escola particular, com suas especificidades e sua cultura escolar própria. O conceito de classificação nos ajuda a examinar parcelas desse conflito e possibilita o direcionamento do olhar do investigador para as relações de poder que emergem, de forma externa e interna, da organização do currículo e da forma pedagógica do ensino. Enquanto a classificação se refere à "voz" da comunicação, ou seja, a o "quê" é transmitido na escola, o enquadramento se refere ao "como" - a forma como os significados vão ser unidos e traduzidos como uma mensagem, um texto legítimo para a comunicação pedagógica. O enquadramento examina a natureza do controle presente na relação pedagógica quanto à seleção e seqüenciação da comunicação, seu ritmo e previsão de progressão para a aquisição, os critérios adotados para a transmissão e o controle da base social que torna possível essa comunicação. Na relação pedagógica, o controle está visivelmente nas mãos do professor, e quanto mais forte o enquadramento, mais nítido o controle sobre a seleção, a seqüenciação, os critérios e o ritmo do processo de transmissão e aquisição do conhecimento. Outro aspecto importante desse conceito se refere ao grau de fronteira entre o que pode ser ensinado e o que não deve fazer parte do ensino, entre o conhecimento escolar formal e o conhecimento extra-escolar, cotidiano, tanto do professor, quanto do aluno - quanto mais forte o enquadramento, menos opções são disponibilizadas para a implementação do processo pedagógico, e a mensagem a ser transmitida e assimilada pelos alunos se torna uma mensagem explícita e definida a priori. As forças do enquadramento e da classificação, para o autor, não estão automaticamente vinculadas, podendo se diferenciar independentemente, ou seja, seus valores internos podem variar em relação aos elementos da prática pedagógica.

4. O CONCEITO DE APRENDIZAGEMNA OBRA DE PIAGET

Tudo que ocorre na sociedade é educação. Começa ao nascer, tem a ver com os pais, com a família, com os amigos, o bairro e todo o meio em que a criança está envolvida. A educação que começa em casa, deve ter continuidade nos jardins de infância e, posteriormente, nos outros níveis escolares. As análises feitas a partir de estudos sobre o impacto de programas pré-escolares desenvolvidos em todo o mundo concluíram que a educação pré-escolar de qualidade tem um impacto duradouro no decursos da vida ulterior da criança. Assim, ela poderá vir a ter melhores resultados escolares (menos necessidade de freqüentar programas de educação compensatórios), poderá vir a desenvolver características importantes para o sucesso no trabalho e nas relações pessoais e sociais, com maior auto-confiança. E poderá vir a obter mais sucesso na sua vida pessoal e

profissional. Os educadores de infância têm o direito de exigir que, para a sua ação educativa, estejam garantidos espaços adequados, bem arranjados e dotados com equipamento suficiente e em bom estado de utilização. O educador é o construtor, o gestor do currículo, no âmbito do projeto educativo do estabelecimento ou do conjunto de estabelecimentos. O educador deve construir esse currículo com a equipa pedagógica, escutando os saberes das crianças e suas famílias, os desejos da comunidade e, também, as solicitações dos outros níveis educativos. A função do educador de infância parte primeiro da observação, observar cada criança e o grupo para conhecer as suas capacidades, interesses e dificuldades, recolher informações sobre o contexto familiar e o meio em que as crianças vivem. O conhecimento da criança e da sua evolução constitui o fundamento da diferenciação pedagógica que parte do que esta sabe e é capaz de fazer para alargar os seus interesses e desenvolver as suas potencialidades. A freqüência de um jardim de infância é, sem dúvida, um contributo para o sucesso escolar pois, quando a criança chega à escola já ouviu e contou histórias, fez "leituras" do mundo à sua volta, viu livros, teve contato com a escrita, comparou, identificou e classificou objetos, observou, pesquisou, expressou sentimentos e emoções, aprendeu a trabalhar sozinha e em grupo, desenvolveu a auto-estima e o desejo de aprender. Tudo isto vai ajuda-la numa melhor compreensão das aprendizagens formais da escola, permitindo-lhe o sucesso escolar e, mais amplamente, o sucesso na vida. Jean Piaget, para explicar o desenvolvimento intelectual, partiu da idéia que os atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico e organizações do meio ambiente, sempre procurando manter um equilíbrio. Assim, Piaget entende que o desenvolvimento intelectual age do mesmo modo que o desenvolvimento biológico (WADSWORTH, 1996). Para Piaget, a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento "total" do organismo (1952, p.7): Do ponto de vista biológico, organização é inseparável da adaptação: Eles são dois processos complementares de um único mecanismo, sendo que o primeiro é o aspecto interno do ciclo do qual a adaptação constitui o aspecto externo. Ainda segundo Piaget (PULASKI, 1986), a adaptação é a essência do funcionamento intelectual, assim como a essência do funcionamento biológico. É uma das tendências básicas inerentes a todas as espécies. A outra tendência é a organização. Que constitui a habilidade de integrar as estruturas físicas e psicológicas em sistemas coerentes. Ainda segundo o autor, a adaptação acontece através da organização, e assim, o organismo discrimina entre a miríade de estímulos e sensações com os quais é bombardeado e as organiza em alguma forma de estrutura. Esse processo de adaptação é então realizado sob duas operações, a assimilação e a acomodação.

Os Esquemas

Antes de prosseguir com a definição da assimilação e da acomodação, é interessante introduzir um novo conceito que é amplamente utilizado quando essas operações, assimilação e acomodação, são empregadas. Esse novo conceito que estamos procurando introduzir é chamado por Piaget de esquema (schema). WADSWORTH (1996) define os esquemas como estruturas mentais, ou cognitivas, pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio. Assim sendo, os esquemas são tratados, não como objetos reais, mas como conjuntos de processos dentro

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

do sistema nervoso. Os esquemas não são observáveis, são inferidos e, portanto, são constructos hipotéticos. Conforme PULASKI (1986), esquema é uma estrutura cognitiva, ou padrão de comportamento ou pensamento, que emerge da integração de unidades mais simples e primitivas em um todo mais amplo, mais organizado e mais complexo. Dessa forma, temos a definição que os esquemas não são fixos, mas mudam continuamente ou tornam-se mais refinados. Uma criança, quando nasce, apresenta poucos esquemas (sendo de natureza reflexa), e à medida que se desenvolve, seus esquemas tornam-se generalizados, mais diferenciados e mais numerosos. NITZKE et alli (1997a) escreve que os esquemas cognitivos do adulto são derivados dos esquemas sensório-motores da criança. De fato, um adulto, por exemplo, possui um vasto arranjo de esquemas comparativamente complexos que permitem um grande número de diferenciações. Estes esquemas são utilizados para processar e identificar a entrada de estímulos, e graças a isto o organismo está apto a diferenciar estímulos, como também está apto a generalizá-los. O funcionamento é mais ou menos o seguinte, uma criança apresenta um certo número de esquemas, que grosseiramente poderíamos compará-los como fichas de um arquivo. Diante de um estímulo, essa criança tenta "encaixar" o estímulo em um esquema disponível. Vemos então, que os esquemas são estruturas intelectuais que organizam os eventos como eles são percebidos pelo organismo e classificados em grupos, de acordo com características comuns.

A Assimilação e Acomodação

A assimilação é o processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra (classifica) um novo dado perceptual, motor ou conceitual às estruturas cognitivas prévias (WADSWORTH, 1996). Ou seja, quando a criança tem novas experiências (vendo coisas novas, ou ouvindo coisas novas) ela tenta adaptar esses novos estímulos às estruturas cognitivas que já possui. O próprio Piaget define a assimilação como (PIAGET, 1996, p. 13): ... uma integração à estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação. Isto significa que a criança tenta continuamente adaptar os novos estímulos aos esquemas que ela possui até aquele momento. Por exemplo, imaginemos que uma criança está aprendendo a reconhecer animais, e até o momento, o único animal que ela conhece e tem organizado esquematicamente é o cachorro. Assim, podemos dizer que a criança possui, em sua estrutura cognitiva, um esquema de cachorro. Pois bem, quando apresentada, à esta criança, um outro animal que possua alguma semelhança, como um cavalo, ela a terá também como cachorro (marrom, quadrúpede, um rabo, pescoço, nariz molhado, etc.).

Figura 000 – Ligeira semelhança morfológica entre um cavalo e um cachorro

Notadamente, ocorre, neste caso, um processo de assimilação, ou seja a similaridade entre o cavalo e o cachorro (apesar da diferença de tamanho) faz com que um cavalo passe por um cachorro em função da proximidades dos estímulos e da pouca variedade e qualidade dos esquemas acumulados pela criança até o momento. A diferenciação do cavalo para o cachorro deverá ocorrer por um processo chamado de acomodação. Ou seja, a criança, apontará para o cavalo e dirá "cachorro" . Neste momento, uma adulto intervém e corrige, "não, aquilo não é um cachorro, é um cavalo". Quando corrigida, definindo que se trata de um cavalo, e não mais de um cachorro, a criança, então, acomodará aquele estímulo a uma nova estrutura cognitiva, criando assim um novo esquema. Esta criança tem agora, um esquema para o conceito de cachorro e outro para o conceito de cavalo. Entrando agora na operação cognitiva da acomodação, iniciamos com definição dada por PIAGET (p. 18, 1996): Chamaremos acomodação (por analogia com os "acomodatos" biológicos) toda modificação dos esquemas de assimilação sob a influência de situações exteriores (meio) ao quais se aplicam. Assim, a acomodação acontece quando a criança não consegue assimilar um novo estímulo, ou seja, não existe uma estrutura cognitiva que assimile a nova informação em função das particularidades desse novo estímulo (Nitzke et alli, 1997a). Diante deste impasse, restam apenas duas saídas: criar um novo esquema ou modificar um esquema existente. Ambas as ações resultam em uma mudança na estrutura cognitiva. Ocorrida a acomodação, a criança pode tentar assimilar o estímulo novamente, e uma vez modificada a estrutura cognitiva, o estímulo é prontamente assimilado. WADSWORTH diz que (1996, p. 7) "A acomodação explica o desenvolvimento (uma mudança qualitativa), e a assimilação explica o crescimento (uma mudança quantitativa); juntos eles explicam a adaptação intelectual e o desenvolvimento das estruturas cognitivas." Essa mesma opinião é compartilhada por Nitzke et alli (1997a), que escreve que os processos responsáveis por mudanças nas estruturas cognitivas são a assimilação e a acomodação. PIAGET (1996), quando expõe as idéias da assimilação e da acomodação, no entanto, deixa claro que da mesma forma como não há assimilação sem acomodações (anteriores ou atuais), também não existem acomodações sem assimilação. Esta declaração de Piaget, significa que o meio não provoca simplesmente o registro de impressões ou a formação de cópias, mas desencadeia ajustamentos ativos. Procurando elucidar essas declarações, quando se fala que não existe assimilação sem acomodação, significa que a assimilação de um novo dado perceptual, motor ou conceitual se dará primeiramente em esquemas já existentes, ou seja, acomodados em fases anteriores. E quando se fala que não existem acomodações sem assimilação, significa que um dado perceptual, motor ou conceitual é acomodado perante a sua assimilação no sistema cognitivo existente. É neste contexto que Piaget (1996, p. 18) fala de "acomodação de esquemas de assimilação". Partindo da idéia de que não existe acomodação sem assimilação, podemos dizer que esses esquemas cognitivos não admitem o começo absoluto (PIAGET, 1996), pois derivam sempre, por diferenciações sucessivas, de esquemas anteriores. E é dessa maneira que os esquemas se desenvolvem por crescentes equilibrações e auto-regulações. Segundo WAZLAVICK (1993), pode-se dizer que a adaptação é um equilíbrio constante entre a assimilação e a acomodação. De uma

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

forma bastante simples, WADSWORTH (1996) escreve que durante a assimilação, uma pessoa impõe sua estrutura disponível aos estímulos que estão sendo processados. Isto é, os estímulos são "forçados" a se ajustarem à estrutura da pessoa. Na acomodação o inverso é verdadeiro. A pessoa é "forçada" a mudar sua estrutura para acomodar os novos estímulos. Assim, de acordo com a teoria construtivista, a maior parte dos esquemas, em lugar de corresponder a uma montagem hereditária acabada, constroem-se pouco a pouco, e dão lugar a diferenciações, por acomodação às situações modificadas, ou por combinações (assimilações recíprocas com ou sem acomodações novas) múltiplas ou variadas.  

A Teoria da Equilibração

Segundo Piaget (WADSWORTH, 1996), a teoria da equilibração, de uma maneira geral, trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, e assim, é considerada como um mecanismo auto-regulador, necessária para assegurar à criança uma interação eficiente dela com o meio-ambiente. A importância da teoria da equilibração, é notada principalmente frente a dois postulados organizados por PIAGET (1975, p.14): Primeiro Postulado : Todo esquema de assimilação tende a alimentar-se, isto é, a incorporar elementos que lhe são exteriores e compatíveis com a sua natureza. Segundo Postulado : Todo esquema de assimilação é obrigado a se acomodar aos elementos que assimila, isto é, a se modificar em função de suas particularidades, mas, sem com isso, perder sua continuidade (portanto, seu fechamento enquanto ciclo de processos interdependentes), nem seus poderes anteriores de assimilação. O primeiro postulado limita-se a consignar um motor à pesquisa, e não implica na construção de novidades, uma vez que um esquema amplo pode abranger uma gama enorme de objetos sem modificá-los ou compreendê-los. O segundo postulado afirma a necessidade de um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação na medida em que a acomodação é bem sucedida e permanece compatível com o ciclo, modificado ou não. Em outras palavras, Piaget (1975) define que o equilíbrio cognitivo implica em afirmar que :

1. A presença necessária de acomodações nas estruturas;

2. A conservação de tais estruturas em caso de acomodações bem sucedidas.

Esta equilibração é necessária porque se uma pessoa só assimilasse estímulos acabaria com alguns poucos esquemas cognitivos, muito amplos, e por isso, incapaz de detectar diferenças nas coisas, como é o caso do esquema "seres", já descrito nesta seção. O contrário também é nocivo, pois se uma pessoa só acomodasse estímulos, acabaria com uma grande quantidade de esquemas cognitivos, porém muito pequenos, acarretando uma taxa de generalização tão baixa que a maioria das coisas seriam vistas sempre como diferentes, mesmo pertencendo à mesma classe. Segundo WADSWORTH (1996), uma criança, ao experienciar um novo estímulo (ou um estímulo velho outra vez), tenta assimilar o estímulo a um esquema existente. Se ela for bem sucedida, o equilíbrio, em relação àquela situação estimuladora particular, é alcançado no momento. Se a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta, então, fazer uma acomodação, modificando um esquema

ou criando um esquema novo. Quando isso é feito, ocorre a assimilação do estímulo e, nesse momento, o equilíbrio é alcançado. Nesta linha de pensamento em torno da teoria das equilibrações, Piaget, segundo LIMA (1994, p.147), identifica três formas básicas de equilibração, são elas :

1. Em função da interação fundamental de início entre o sujeito e os objetos, há primeiramente a equilibração entre a assimilação destes esquemas e a acomodação destes últimos aos objetos.

2. Há, em segundo lugar, uma forma de equilibração que assegura as interações entre os esquemas, pois, se as partes apresentam propriedades enquanto totalidades, elas apresentam propriedades enquanto partes. Obviamente, as propriedades das partes diferenciam-se entre si. Intervêm aqui, igualmente, processos de assimilação e acomodação recíprocos que asseguram as interações entre dois ou mais esquemas que, juntos, compõem um outro que os integra.

3. Finalmente, a terceira forma de equilibração é a que assegura as interações entre os esquemas e a totalidade. Essa terceira forma é diferente da Segunda, pois naquela a equilibração intervém nas interações entre as partes, enquanto que nesta terceira a equilibração intervém nas interações das partes com o todo. Em outras palavras, na Segunda forma temos a equilibração pela diferenciação; na terceira temos a equilibração pela integração.

Dessa forma, podemos ver a integração em um todo, segundo a teoria da equilibração como uma tarefa de assimilação, enquanto que a diferenciação pode ser vista como uma tarefa de acomodação. Há, contudo, conservação mútua do todo e das partes. Embora, Piaget tenha apontando três tipos de equilibração, lembra que os tipos possuem o comum aspecto de serem todas relativas ao equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, além de conduzir o fortalecimento das características positivas pertencentes aos esquemas no sistema cognitivo.

Os Estágios Cognitivos Segundo Piaget

Piaget, quando descreve a aprendizagem, tem um enfoque diferente do que normalmente se atribui à esta palavra. Piaget separa o processo cognitivo inteligente em duas palavras : aprendizagem e desenvolvimento. Para Piaget, segundo MACEDO (1994), a aprendizagem refere-se à aquisição de uma resposta particular, aprendida em função da experiência, obtida de forma sistemática ou não. Enquanto que o desenvolvimento seria uma aprendizagem de fato, sendo este o responsável pela formação dos conhecimentos. Piaget, quando postula sua teoria sobre o desenvolvimento da criança, descreve-a, basicamente, em 4 estados, que ele próprio chama de fases de transição (PIAGET, 1975). Essas 4 fases são :

Sensório-motor (0 - 2 anos);

Pré-operatório ( 2 - 7,8 anos);

Operatório-concreto ( 8 - 11 anos);

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Operatório-formal (8 - 14 anos);

Sensório-Motor

Neste estágio, a partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio (LOPES, 1996). Também é marcado pela construção prática das noções de objeto, espaço, causalidade e tempo (MACEDO, 1991). Segundo LOPES, as noções de espaço e tempo são construídas pela ação, configurando assim, uma inteligência essencialmente prática. Conforme MACEDO (1991, p. 124) é assim que os esquemas vão "pouco a pouco, diferenciando-se e integrando-se, no mesmo tempo em que o sujeito vai se separando dos objetos podendo, por isso mesmo, interagir com eles de forma mais complexa." Nitzke et alli (1997b) diz-se que o contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento.

Exemplos: O bebê pega o que está em sua mão; "mama" o que é posto em sua boca; "vê" o que está diante de si. Aprimorando esses esquemas, é capaz de ver um objeto, pegá-lo e levá-lo a boca.

Pré-Operatório

É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de substituir um objeto ou acontecimento por uma representação (PIAGET e INHELDER, 1982), e esta substituição é possível, conforme PIAGET, graças à função simbólica. Assim este estágio é também muito conhecido como o estágio da Inteligência Simbólica. Contudo, MACEDO (1991) lembra que a atividade sensório-motor não está esquecida ou abandonada, mas refinada e mais sofisticada, pois verifica-se que ocorre uma crescente melhoria na sua aprendizagem, permitindo que a mesma explore melhor o ambiente, fazendo uso de mais e mais sofisticados movimentos e percepções intuitivas.

A criança deste estágio:

- É egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do outro.

- Não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é fase dos "por quês").

- Já pode agir por simulação, "como se".

- Possui percepção global sem discriminar detalhes.

- Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos.

Exemplos: Mostram-se para a criança, duas bolinhas de massa iguais e dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança nega que a quantidade de massa continue igual, pois as formas são diferentes. Não relaciona as situações.

Operatório-Concreto

Conforme Nitzke et alli (1997b), neste estágio a criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, ..., sendo então capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Apesar de não se limitar mais a uma representação imediata, depende do mundo concreto para abstrair. Um importante conceito desta fase é o desenvolvimento da reversibilidade, ou seja, a capacidade da representação de uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a transformação observada.

Exemplos: Despeja-se a água de dois copos em outros, de formatos diferentes, para que a criança diga se as quantidades continuam iguais. A resposta é afirmativa uma vez que a criança já diferencia aspectos e é capaz de "refazer" a ação.

Operatório-Formal

Segundo WADSWORTH (1996) é neste momento que as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento. A representação agora permite à criança uma abstração total, não se limitando mais à representação imediata e nem às relações previamente existentes. Agora a criança é capaz de pensar logicamente, formular hipóteses e buscar soluções, sem depender mais só da observação da realidade. Em outras palavras, as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de problemas.

Exemplos: Se lhe pedem para analisar um provérbio como "de grão em grão, a galinha enche o papo", a criança trabalha com a lógica da idéia (metáfora) e não com a imagem de uma galinha comendo grãos.

5. O CONCEITO DE APRENDIZAGEMNA OBRA DE PAULO FREIRE

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