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NOVO CPC 18 de abril de 2015, 9h30 Por Giselle Souza O novo Código de Processo Civil vai entrar em vigor apenas em março do ano que vem, mas um ponto já vem preocupando especialistas: o artigo 190, que permite às partes celebrarem convenções processuais sobre o rito que desejam para a tramitação de um eventual litígio na Justiça. A constatação é de que o dispositivo é amplo demais e os envolvidos podem pactuar o que quiserem — inclusive a renúncia a direitos, como o de requerer tutela antecipada em determinada situação ou recorrer da decisão judicial. As implicações do artigo 190 do novo Código de Processo Civil foi tratada pelo advogado Paulo Cezar Pinheiro Carneiro e pelo promotor de justiça e professor Humberto Dalla Bernadino Pinho (foto), no Seminário Perspectivas do novo CPC, que a Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro promoveu nessa quinta-feira (16/4). Pelo artigo 190, nos processos que tratam sobre direitos que admitam autocomposição, “é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo”. Carneiro explicou que a nova previsão tem por objetivo fazer valer a vontade das partes. “Elas podem limitar as fases do processo, por exemplo, dizer que ele vai até o segundo grau. Acho que isso pode ter valia, ainda mais nos casos em que as partes não gostam da arbitragem”, afirmou. Convenção processual sobre o rito pode resultar em renúncia a direitos, diz promotor

ConJur - Convenção Processual Sobre Rito Pode Resultar Em Renúncia a Direitos

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  • 12/05/2015 ConJurConvenoprocessualsobreritopoderesultaremrennciaadireitos

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    NOVO CPC

    18 de abril de 2015, 9h30

    PorGiselle Souza

    O novo Cdigo de Processo Civil vai entrar em vigor apenas em maro do anoque vem, mas um ponto j vem preocupando especialistas: oartigo 190, quepermite s partes celebrarem convenes processuais sobre o rito que desejampara a tramitao de um eventual litgio na Justia.Aconstatao de que odispositivo amplo demais e os envolvidos podem pactuar o que quiserem inclusive a renncia a direitos, como o de requerer tutela antecipada emdeterminada situao ou recorrer da deciso judicial.

    As implicaes do artigo 190 do novoCdigo de Processo Civil foi tratadapelo advogado Paulo Cezar PinheiroCarneiro e pelo promotor de justia eprofessor Humberto Dalla BernadinoPinho (foto), no Seminrio Perspectivasdo novo CPC, que a Procuradoria-Geraldo Estado do Rio de Janeiro promoveunessa quinta-feira (16/4).

    Pelo artigo 190, nos processos que tratam sobre direitos que admitamautocomposio, lcito s partes plenamente capazes estipular mudanas noprocedimento para ajust-lo s especificidades da causa e convencionar sobreos seus nus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante oprocesso.

    Carneiro explicou que a nova previso tem por objetivo fazer valer a vontadedas partes. Elas podem limitar as fases do processo, por exemplo, dizer queele vai at o segundo grau. Acho que isso pode ter valia, ainda mais nos casosem que as partes no gostam da arbitragem, afirmou.

    Conveno processual sobre o rito poderesultar em renncia a direitos, diz promotor

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    Pinho no pareceu to otimista com relao ao novo dispositivo. Na palestraque fez, ele questionou os limites da conveno processual. Posso pactuar queno haver tutela provisria naquele processo? Que no haver Agravo deInstrumento em hiptese alguma? Que ningum vai apelar da sentena?,refletiu.

    reportagem, o promotor explicou que est mais ou menos tranquilo a tesede que as partes podem convencionar sobre o nus da prova, j que o artigo373 e pargrafos do novo CPC d as bases sobre a quem cabe o dever de provaros fatos constitutivos ou extintivos de direito.

    Rennciaa direitosA renncia a direitos o que mais preocupa, segundo o promotor de justia.Ele citou como exemplo a conveno processual em que as partes podemacordar que no iro impetrar Mandado de Segurana contra qualquerdeciso proferida no conflito. Ser que uma norma infraconstitucionalpoderia prever o direito de renncia a uma garantia constitucional? Tendo aacreditar que no, ponderou.

    Pinho lembrou que, pelo pargrafo nico do artigo 190, os juzes podemcancelar a conveno processual. Mas pelo dispositivo, esse controle excepcional. S se ele perceber que a parte incapaz, o direito indisponvel,que houve uma insero abusiva em um contrato de adeso ou que uma daspartes est manifestamente em situao de vulnerabilidade. Ele pode anular aconveno de ofcio, no precisa aguardar o requerimento das partes. Mas ofato que isso gera certa insegurana jurdica, destacou.

    O promotor comentou que, nos bastidores, advogados tm demonstrado certaindisposio com a nova regra. A impresso que ningum quer ser oprimeiro a test-la. Tenho ouvido de alguns advogados que no vo inseriruma conveno processual em um contrato de R$ 100 milhes, por exemplo.Ele insere e amanh o juiz a anula. Como ele vai fazer?, contou o promotor.Ento acho que vai haver certo receio, demorar a pegar um pouco,acrescentou.

    Para o promotor faltou do legislador a especificao de situaes sobre asquais as convenes processuais no poderiam versar. Acho que o legisladordeveria ter colocado pelo menos aquelas hipteses nas quais a conveno noseria cabvel. Por exemplo, a renncia a uma garantia constitucional ou aodireito de recorrer em determinadas questes relativas ordem pblica. Damaneira como ficou, est amplo demais.

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    Na avaliao dele, o artigo 190 pode, at mesmo, ser questionado no STF.Existe essa possibilidade. No por ao direta de inconstitucionalidade, poisacredito que isso no seja vivel, pois o projeto ficou em discusso por cincoanos, os ministros dos tribunais superiores foram ouvidos e o presidente dacomisso [de juristas, que elaborou o anteprojeto do novo CPC] um ministrodo Supremo [Luiz Fux] e ele tem umaforte viso constitucional. Mas,eventualmente, um dispositivo ou outro pode chegar ao Supremo por meio docontrole incidental de constitucionalidade, via recurso extraordinrio. Isso,acho possvel acontecer, ressaltou.

    Processo calendrioOutro artigo do novo CPC que o promotor acredita que pode ser questionado o 191. O dispositivo autoriza as partes e o juiz fixarem datas para a prtica dosatos processuais, quando for o caso. De acordo com ele, essa possibilidadeconflita com o artigo 12 do Cdigo, que estabelece que juzes e tribunais tm deobedecer a ordem cronolgica das aes para proferir sentenas ou acrdos.O processo calendrio pode, ainda que indiretamente, passar na frente dosoutros, afirmou o promotor.

    Giselle Souza correspondente da ConJur no Rio de Janeiro.

    Revista Consultor Jurdico, 18 de abril de 2015, 9h30