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Características da Consciência Ingênua x Consciência Crítica Fonte: FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. RJ: Paz e Terra, 1979. ** Características da Consciência Ingênua ** 1) Revela uma certa simplicidade, tendente a um simplismo, na interpretação dos problemas, isto é, encara um desafio de maneira simplista ou com simplicidade. Não se aprofunda na causalidade do próprio fato. Suas conclusões são apressadas, superficiais. 2) Há também uma tendência em considerar que o passado foi melhor. Por exemplo: os pais que se queixam da conduta de seus filhos, comparando-a ao que faziam quando jovens. 3) Tende a aceitar formas gregárias ou massificadoras de comportamento. Esta tendência pode levar a uma consciência fanática. 4) Subestima o homem simples. 5) É impermeável à investigação. Satisfaz-se com as experiências. Toda concepção científica para ela é um jogo de palavras. Suas explicações são mágicas. 6) É frágil na discussão dos problemas. O ingênuo parte do princípio de que sabe tudo. Pretende ganhar a discussão com argumentações frágeis. É polêmica, não pretende esclarecer. Sua discussão é feita mais de emocionalidades que de criticidades: não procura a verdade; trata de impô-las e procurar meios históricos para convencer com suas ideias. Curioso ver como os ouvintes se deixam levar pela manha, pelos gestos e pelo palavreado. Trata de brigar mais, para ganhar mais. 7) Tem forte conteúdo passional. Pode cair no fanatismo ou sectarismo. 8) Apresenta fortes compreensões mágicas. 9) Diz que a realidade é estática e não mutável. ** Características da Consciência Crítica ** 1) Anseio de profundidade na análise dos problemas. Não se satisfaz com as aparências. Pode-se reconhecer desprovida de meios para análise de problemas.

Consciencia Ingenua e Critica

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Page 1: Consciencia Ingenua e Critica

Características da Consciência Ingênua x Consciência CríticaFonte: FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. RJ: Paz e Terra, 1979.

** Características da Consciência Ingênua **

1) Revela uma certa simplicidade, tendente a um simplismo, na interpretação dos problemas, isto é, encara um desafio de maneira simplista ou com simplicidade. Não se aprofunda na causalidade do próprio fato. Suas conclusões são apressadas, superficiais.

2) Há também uma tendência em considerar que o passado foi melhor. Por exemplo: os pais que se queixam da conduta de seus filhos, comparando-a ao que faziam quando jovens.

3) Tende a aceitar formas gregárias ou massificadoras de comportamento. Esta tendência pode levar a uma consciência fanática.

4) Subestima o homem simples.

5) É impermeável à investigação. Satisfaz-se com as experiências. Toda concepção científica para ela é um jogo de palavras. Suas explicações são mágicas.

6) É frágil na discussão dos problemas. O ingênuo parte do princípio de que sabe tudo. Pretende ganhar a discussão com argumentações frágeis. É polêmica, não pretende esclarecer. Sua discussão é feita mais de emocionalidades que de criticidades: não procura a verdade; trata de impô-las e procurar meios históricos para convencer com suas ideias. Curioso ver como os ouvintes se deixam levar pela manha, pelos gestos e pelo palavreado. Trata de brigar mais, para ganhar mais.

7) Tem forte conteúdo passional. Pode cair no fanatismo ou sectarismo.

8) Apresenta fortes compreensões mágicas.

9) Diz que a realidade é estática e não mutável.

** Características da Consciência Crítica **

1) Anseio de profundidade na análise dos problemas. Não se satisfaz com as aparências. Pode-se reconhecer desprovida de meios para análise de problemas.2) Reconhece que a realidade é mutável.3) Substitui situações ou explicações mágicas por princípios autênticos de causalidade.4) Procura verificar ou testar as descobertas. Está sempre disposta às revisões.5) Ao se deparar com um fato, faz o possível para livrar-se de preconceitos. Não somente na captação, mas também na análise e na resposta.6) Repele posições quietistas. É intensamente inquieta. Torna-se mais crítica quanto mais reconhece em sua quietude a inquietude, e vice-versa. Sabe que é na medida que é e não pelo que parece. O essencial para parecer algo é ser algo; é a base da autenticidade.7) Repele toda transferência de responsabilidade e de autoridade e aceita a delegação das mesmas.8) É indagadora, investiga, força, choca.9) Ama o diálogo, nutre-se dele.10) Face ao novo, não repele o velho por ser velho, nem aceita o novo por ser novo, mas aceita-os na medida em que são válidos

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ALIENAÇÃO

Fonte: Fragmento retirado do livro Alienação e Humanismo, de Leôncio Basbaum, Símbolo, São Paulo, 1977, pp. 17, 24-26. 1ª ed, Fulgor, São Paulo, 1967.

A alienação é, antes de tudo, uma forma de relação entre os homens e determinados objetos ou coisas que lhes são exteriores. Essa forma de relação não é natural. Ela surge em um determinado momento, no processo do desenvolvimento histórico das sociedades humanas. Embora esse desenvolvimento seja criação e exteriorização dele próprio, o homem é profundamente afetado pelo processo: aliena-se.

O termo alienação, originariamente – e ainda hoje – era um termo da Psiquiatria que designava uma forma de perturbação mental, como a esquizofrenia – uma perda de consciência ou de identidade pessoal...

Do ponto de vista econômico-social, é a perda da consciência de si, em virtude de uma situação concreta. O homem perde sua consciência pessoal, sua identidade e personalidade, o que vale dizer, sua vontade é esmagada pela consciência de outro, ou pela consciência social – a consciência do grupo. É uma forma de para-consciência, ou seja, uma consciência particular incompleta, pela qual o homem perde parcial ou totalmente sua capacidade de decisão. É ainda sua integração absoluta no grupo: ele massifica, passa a pertencer à massa e não a si mesmo.

Diz-se ainda que o homem está alienado quando deixa de ser seu próprio objeto para se tornar objeto de outro. Deixa de ser algo para si mesmo. Sua vontade é assim a vontade do outro: ele é coisificado. Deixa de ser homem, criatura consciente e capaz de tomar decisões, para se tornar coisa, objeto.

Com o advento da máquina, o trabalho tornou-se duplamente alienante: à máquina e ao dono da máquina. No período em que vigorava ainda o regime de trocas, o homem, para suprir suas necessidades elementares, devia produzir não apenas aquilo de que necessitava, mas também as necessidades do outro, para qual ele era por sua vez o outro. Era ao mesmo tempo sujeito e objeto. Poderíamos dizer que se tratava de uma alienação parcial.

A introdução da máquina no sistema de produção subverteu totalmente esta situação. A máquina tem esta particularidade: substitui com eficiência o esforço físico humano, mas não dispensa o homem: é sempre necessário para movimentá-la, fazê-la andar corretamente e detê-la no momento preciso.

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O homem se torna parte dela, como um parafuso ou uma engrenagem. Não é o homem que produz, é a máquina. O homem limita-se a fazê-la funcionar. O aperfeiçoamento das máquinas, à medida que reduz o esforço físico do homem, mais reduz sua participação e, em consequência, mais reduz sua intervenção consciente no trabalho. A máquina moderna dispensa a inteligência e a consciência humana, e o anula como homem. Este se torna uma peça de engrenagem cada vez mais insignificante

Nesse sistema mecanizado de produção, o homem não mais produz o que quer. Limita-se a fazer a máquina funcionar. Ignora o destino do seu produto, que não lhe pertence e, quase sempre, nem sabe mesmo para que serve. Recebe apenas um salário em troca da sua força de trabalho, o qual lhe permite recuperar as energias gastas, recompor seu organismo, para que amanhã possa novamente vende-las ao dono da máquina. Ele se coisifica, anula-se nesse processo: é uma máquina, ou um apêndice da máquina, uma estranha máquina cujo óleo combustível é constituído de proteínas. Não é mais um homem com capacidade de pensar, agir, tomar decisões. É apenas uma peça de engrenagem que, quando gasta pelo uso, pode ser substituída.

Para o dono da máquina, ele não passa disso mesmo: uma peça da máquina que deve ser lubrificada diariamente. Não, é claro, com os mesmos cuidados, pois uma máquina custa dinheiro enquanto o homem nada custa: se adoece ou morre ele é facilmente substituído pelo exército industrial de reserva, a percentagem fixa de desempregados em cada nação capitalista que impede a luta dos salários.

Assim, o homem, assalariado pelas circunstâncias, não mais se pertence. Como parte da máquina, pertence ao patrão. Sua atividade tornou-se inconsciente e irracional e tanto mais quanto mais se aperfeiçoa a máquina: tornou-se um objeto que nem sequer necessita pensar.

E isso vale não apenas para a fábrica mas para toda atividade humana nesse processo de mecanização crescente que é o sistema capitalista de produção: o datilógrafo diante de sua máquina de escrever, o contador diante de sua máquina de calcular. Num caso, como noutro, o produto não é determinado pelo homem que trabalha mas pelo dono da máquina.

O ‘amor ao trabalho’ transforma-se numa expressão hipócrita cínica, pois nada significa e não tem outro objetivo senão condicionar o homem, desumanizando-o, tirando-lhe a capacidade de optar em sua vida. Como pode amar o trabalho uma pessoa que passa 8 ou 10 horas por dia apertando o mesmo pedal ou mesmo o botão, ou escrevendo ‘prezado Sr.’ mil vezes por dia? Nessas condições o trabalho torna-se realmente maldição, e essa maldição, esse trabalho maldito, é obra do capital, da propriedade privada.