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Conselheiro Francisco Gomes do Silva (O CHALAÇA) MEMÓRIAS Prefácio e anotações de NORONHA SANTOS 2. 6 Edição EDITÕRA SOUZA Rio de Janeiro - Brasil - 1959-

Conselheiro Francisco Gomes do Silva - Reficio...V êmo-lo arrogante e desabusado, epicurista e prestativo, a um tempo, a garatujar pensamentos para D. Pedro I e a redigir com pena

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Conselheiro Francisco Gomes do Silva(O CHALAÇA)

MEMÓRIASPrefácio e anotações de

NORONHA SANTOS

2.6 Edição

EDITÕRA SOUZARio de Janeiro - Brasil

- 1959-

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PREFÁCIO

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Francisco Gomes da Silva - que passou à históriabrasileira com o cognome depreciativo de Chalaça, foi, semdúvida, curiosa figura popular no govêrno do Rei Velhoe de seu filho, de quem se fêz dedicado amigo, ajustando-seao temperamento irrequieto e mulherengo do primeiro Impe-rador.

Inseperével companheiro de D. Pedro e serviçal mesu-reiro desde a meninice do filho de Carlota Joaquina, comquase todos os seus defeitos - frascário, estouvado e velen-taço - uma coisa não se lhe poderá jamais negar dentrodaquele feitio de meridional turbulento e passional: - asua constante gratidão ao Imperador, correspondendo à emi-zade e aos favores recebidos do tresloucado rebento bmgentino:

Folgazão, itreverente, sempre disposto ao comentárioburlesco em tôrno de homens e coisas do seu tempo, degestos chalaceantes, de compleição robusta e dispondo deiôrç« física, era, contudo, cativante no trato e de muita astúciapara seduzir as mulheres e lisonjear os poderosos mais ligadosà côrte.

Filho do ourives da casa de Bragança, Antônio Gomeeda Silva e de Maria da Conceição Alves, nasceu em Lisboaa 22 de setembro de 1791 e batizaram-no na igreja matrizda freguesia de São Julião.

Foi, certamente, ali, que se lhe abriram os olhos àsmanhãs perfumadas e aos luares c1aríssimos da Estremedurs:Cresceu, ouvindo ternas ceniilenes de fados e a música salti-tante das guitarras.

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10 Memórias do Conselheiro

Em seu romance histórico - No tempo do rei, Morehade Azevedo apresenta-o à posteridade como filho natural doVisconde de Vila Nova da Rainha (1) - a quem, na ver-.dede, deveu solícita proteção até a adolescência.

Assis Cintra, em seu livro - "O Chalaça - favorito doImpério", apoiando-se no depoimento de Moreha de Azevedo-e em crônicas antigas de outros escritores, retreçe-lhe o perfil.

Ressurgem os amores clandestinos e as diabruras doievorito imperial. V êmo-lo arrogante e desabusado, epicuristae prestativo, a um tempo, a garatujar pensamentos paraD. Pedro I e a redigir com pena de pato artigos e parágrafosdlt Constituição Imperial de 25 de março de 1824 e da carta.constitucionel portuguêee, que, segundo memorialistas lusos,êle a trasladou com caprichosa caligrafia, registrando-a emlivros burocráticos, no Brasil e nos anais parlamentares doReino. (2).

Depois de inventariar os elementos de que dispôs para

(1) Tenente General Francisco José Rufino de Sousa Lobato.Fêz parte do estado maior general do exército português no Brasil,tendo aqui chegado com a familia real em 1803. Regressou à metró-pole na comitiva de D. João VI, deixando o Rio de Janeiro a 26 deabril de 1821 num dos navios da esquadra real constituída .pela nau'''D. Pedro Vl", duas fragatas e vários transportes e charruas. Che-gou a Lisboa a 3 de julho e' na mesma data resolveram as CõrtesPortuguêsas permitir o seu desembarque e de outros passageiros, con-siderados suspeitos, contanto que tõssem. residir longe da Capital doReino. Nesse sentido fOi notificado Vila Nova da Rainha a 11 dejulho de 18,21.

Faleceu em Portugal a 6 de maio de 1830, em idade avançada.

(2) Livros e jornais citados por Assis Cintra e que lhe serviram-âe achegas à elaboração de "O Ciuuaça" - iaoorito cio Império":

a) Os trabalhos dO próprio Francisco Gomes da Silva;b) Biografias: - a que foi escrita pelo Dr. Fran:]isco Gomes da

'Silva, a da -lavra de Pinheiro Chagas; a de Mendes Brito e a deAntônio Sampaio de Almeida - talvez a mais interessante pelasescandalosas referências acêrca da verdadeira filiação do "Chalaça"e da sua vida;

c) "Revelações do Marquês' de Barbacena";d) "Brasil Aflito" e "Tumores dos Braganças", de Clemente de

.(Jliveira; e ' •e) ••Les amours de Ia famille Bonaparte" - de Pierre Renaudin,

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eleborer o seu trabalho sôbte a tão discutida personagem doprimeiro reinado, escreve o conhecido historiador:

"Afinal o que se vai ler, não é meu; é dos outros, é degente antiga que escreveu essas coisas. Neste livro, eu fuiapenas um copiste. Copista também fui nos livros "As Amantesdo Imperador e Carlota Joaquina".

E, assim, escudedo em historiadores bisbilhoteiros dopassado, que se deram ao penoso trabalho de esmerilhar se-gredos de alcovas e dertiços amorosos, escreve Assis Cintrasôbre a vinda de Gomes da Silva a êete "vale de lágrimas" :

"O português Antônio Gomes da Silva, ourives dacasa real, deu-lhe o nome, perfilhando-o e legitimando-o,a pedido do Visconde de Vila Nova da Rainha, que erao verdadeiro pai. Essa legitimeçêo, que custou 8.000cruzados ao Visconde, foi conseqüência do contrato decasamento do fidalgo com a filha do Conde de Resende,que exigia, preliminarmente, que o noivo se desfizessedo garôto, que até então se criava na sua casa comregalias de filhote de raça.

A mãe, que o deu à luz em Lisboa, a 22 de setem-bro de 1791, era uma aldeã robusta e formosa cachopade 19 anos, serviçal de quarto da família do Viscondedonjuanesco.

Maria da Conceição Alves, a moçoila seduzido, re-gistrou o produto dos seus amores como filho de paisincógnitos. E, quando a condessinha de Resende, agraciosa e senhoril D. Inês, se deixou vencer pelosenleios amorosos do titular de Vila Nova da Rainha,exigiu-lhe a remessa da rapariga para a Ãirica e o afas-tamento do menino, então com oito anos de idade, paralonge de Lisboa. E foi assim que o fidalgo, conseguindodo seu protegido' Antônio Gomes a obrigação de legi-

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timet a criança, mediante um adjutório de 8. 000 cru-zados, ainda arranjou de lembugem, para o testa deferro sui generis, o emprêgo de ourives da casa real."

Estudante do seminário de Senterém, na província daEstremadura, sob o patrocínio do Visconde de Vila Nova daRainha, obteve algum aproveitamento nas aulas, mostrando-se,no entanto, inafeito à vida eclesiástica. Aprendeu o francês,o inglês, o italiano e o espanhol - "línguas que falava corren-temente na sua idade madura". (3)

Em novembro "de 1807 foi chamado a Lisboa pelo paique devia acompanhar a família real e apressadamente deixouo seminário.

Pouco lhe faltava para ultimar o curso e receber ordenssacerdotais, quando ocorreu a invasão francesa.

Chegou ao cais de embarque em Lisboa na manhã emque D. João e sua numerosa comitiva fugiam na esquadrareal ao mando do futuro Conde de Cesimbra.

Dir-se-ia a derrocada de uma nação em desespêro,apavorada ante a invasão de [unot, cujas avançadas já haviamdeixado Abrantes, a 22 léguas de Lisboa. Tudo embarcavanas vinte embarcações grandes e pequenas da esquadra, namaior desordem.

Diante do inimigo, que estava a poucas léguas da Capital,ninguém teve o cuidado nem o vagar para ordenar a devidaarrumação dos volumes, fardos e ninharias de objetos da casareal e da numerosa comitiva trensmigted«.

Francisco Gomes da Silva chegou ao Rio ne Janeiro a7 de março de 1808. Aqui desembarcou no dia seguinte, coma nobreza polvilhada, iletrede, mas pretensiosa - nobrezafadista e arruaceira, muito dada às festas de igrejas e do

(3) A$$Í$Cintra - "O ChaZaça- favorito do Império" - pá-gin'll 12.

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Curro, onde, de quando em vez, o Senado da Câmara mandavaanunciar uma tourada sangrenta.

Na ilorescêncie dos seus dezesseis anos, nessa quadrarisonha de sonhos, em que tudo se nos afigura fácil e belo,deveria ter achado deveras aprazível a grande vila português«assente à margem da Guanabara, com o pitoresco de costumes,muitos dêles vindos da metrópole.

E nesta "cidade, a mais ditosa do Novo Mundo" - nafrase do padre Luís Gonçalves dos Santos, o célebre padrePerereca das "Memórias para servir à história do Brasil", êleiria viver e representar a grande comédia da sua venturosaexistência.

A abertura dos portos brasileiros ao comércio de tódas asbandeiras amigas da monarquia lusa fôra o primeiro passopara a expansão do trabalho e, conseqüentemente, para o bem-estar da multidão de fidalgos ociosos que vieram com a fa-mília real.

A terra era dadivosa e atraente, "país encantador" -dizia dez anos depois da chegada da côrte portuguêse a sere-níssima senhora princesa Leopoldina - "cheio de lugares de-liciosos, montanhas elevadas, prados verdejantes, florestascom árvores taras e magníficas".

Iniciou Gomes da Silva no Rio de Janeiro a sua vidatrabalhando com o pai, estabelecido, ao que dizem, com ofi-cina de ourives na rua Direita. "Indisposto com o velho porcausa de serenatas e desordens - acrescenta Assis Cintraarmou na rua do Piolho (hoje da Carioca) uma lojinha debarbeiro, dentista e sangrador com aplicações de bichas e

ventosas". (4)

(4) Não encontramos em nossas pesquisas nenhuma referênciaa Francisco Gomes da Silva, 'como barbeiro, dentista e sangrador,através da farta documentação que possui o Arquivo Municip!ll. Porocasião do 3.0 Congresso Odontológico, servimo-nos dêsses excelentessv.n.fdins ",n.ra a notícia histórica publicaàa no "O Jornal", de 21 dejulho de 1925, sob o titulo" A arte den.tária no oetno Rio de Janeiro",

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Memórias do Conselheiro

"Amancebendo-se com a famosa Maria Pulquérie, vulgoMaricota Corneta (5), dona de uma hospedaria da rua dasViolas (hoje Teófilo Otoni), dali saiu em 1809 para se associarcom Sebastião Cauler, num botequim do largo do Paço, juntoao Arco do Teles."

Depois da ave-maria se reuniam 'naquela hospedariaboêmios e jogadores, cantadores e valentes e entre os seusfreqüentadores contava-se, ainda ao tempo do rei velho, SuaAlteza Real o Príncipe D. Pedra, que ali peneirava, pela pri-meira vez, disfarçado, com grande capa usada pelos peulistes,

"Aboleteâo numa das mesas de pau tosco, D. Pedroassistiu à disputa de dois turunas. De repente, José [e-nuarro, encarando o pseudopaulista, abriu a bôca numsorriso alvar e cantou:

Paulista é pássaro bisnau,sem fé, nem coração:é gente que se leva a pau,a sopapo ou pescoção.

Tôda a assistência olhou para o homem do capotepaulista e riu numa estrondosa gargalhada.

D. Pedro, rubto e nervoso, levantou-se. Afastando,colérico, a ponta do seu grande capote, com que ocultaraa face ao entrar na espelunca, gritou ao companheiro,dando-se a conhecer:

- Meta o pau nessa canalha. " O negrelhiio bran-queou ao reconhecer o príncipe e, " azulou na mais

(5) Mraricota Corneta - porque a nospetiaria dava o sinal dahora das refeições por meio de mna corneta, que pertencera ao fale-cido marido de Maricota, corneteiro do antigo corpo de infantaria daCõrte, segundo Assi.~ Cinira.

Hospedaria da Corneta - escrevem o 'auto?" do "O Chalaça" eAraúio Guimarães - "A Cõrte no Brasil" - Figuras e aspectos",

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desabalada das corridas, emprestando a melhor canela'do veado da fábula.

Os valentes sumiram-se, com exceção de um: oChalaça.

Para êle investiu o companheiro do príncipe, deCacete erguido. Esperto como um raposão, Cbiquinho-Chalaça evitou o golpe e com uma rasteira de arraia,pôs o agressor no chão, de pernas ao ar. Tomou-lhe opau e, segurando-o pelo casaco, atirou-o por uma porta,para o quintal da hospedaria.

Maricota Corneta escondeu-se debaixo da mesa.Defrontaram-se apenas dois homens: o Cheleçe e oPríncipe. 'Este último tremia de furor. Então, calmo e·sereno, o barbeiro tirou o largo chapéu catalão queusava e, numa curvatura de gentilhomem, fazendo como sombrero um semicitculo no ar, quase tocando o as-soalho, um sorriso nos cantos dos lábios, murmurou:- Francisco Gomes da Silva apresenta a Vossa Altezaos seus respeitos e os seus serviços.

D. Pedro não se conteve. Estrondou uma formi-dável gargalhada, dessas que só os portuguêses sebeardar depois de um bom vinho de Traz-os-Montes e deuma bacalhoada à minhota. Em seguida, alegre acei-toso :

- Chalaça, tu és um homem ... '.' (6)Naquela sociedade da côrte lusitana, onde D, Pedro e-

D. Miguel viviam à vontade, à rédea sõlte, uma vida desen-freada, de rudes ocupações campestres e de bravia incul-tura (7), o Chalaça era de fato um homem, um grandehomem ...

Crescera o filho de D. João VI - escreve o hanoverienoEduardo Teodoro Boesche em seus Quadros Alternados -

(6) Assis cmtra - "O Chalaça - favorito elo lmpério" - pá-ginas 26 e 27.

(7) Luís Norioti - "A Cõrte de PorttLgal no Brasil" - pág. 131.

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entre negros e mulatos, bem conhecera a ginástica e pouca<coisamais. .. Passava dias a fio nas estteberies do palécio,entre negros e moços de cavalariça ou estsiendo cavaios. (8)

D. Pedra satisfazia a sua paixão pelos cavalos, doido porcavalarias e voIteios, por galopadas frenéticas e arriscadasequitações, enquanto D. Miguel, munido de um longo agui-lhão e ajudado por alguns negros e pelo ieitor, lavrava ocampo com um arado puxado por três juntas de bois. (9)

Por uma das muitas estroinices do Chalaça, o ReiD. João VI o expulsara da casa real, castigo que lhe fôra im-pôsto por haver sido encontrado em coloquio amoroso comcerta senhora casada, dama da côrte, num dos bosques dafazenda de Santa Cruz. Com essa senhora fugiu para lugarignorado. De ordem del Rei, o ministro Tomás Antônio deVila Nova Portugal fêz baixar o aviso, que foi publicado naGazeta do Rio de Janeiro:

"Sr. Corregedor - Não devendo ficar impune odesatino em que caiu o reposteiro da Câmara FranciscoGomes da Silva de, aleivosamente, aliciar e raptar umadama do Paço, é EI Rei Nosso Senhor servido que vossamercê faça intimar o sobtedito reposteiro que não entremais no Paço, e que deve sair para fora da Côrte numadistância de dez léguas, até segunda ordem. O que par-ticipo a vossa mercê para que assim o execute. - Deusguarde a vossa mercê."

Não durou muito o cumprimento da pena miligide, pois,em 1816, nomeava-o o monarca juíz de balança da Casa daMoeda.

(8) "Apud" - •.Rio de Janeiro de antanno" -' Afonso Taunay- "Ren. do Inst. Hist. Bras." - tomo 90 - vol. 144 - pág. 526.

(9) Luis Nortott - "A Côrte de Portugal no Brasil".

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Por interferência do Visconde de Vila Nova da Rainha,expedira-se outro aviso ao cotregeâor, revogando o destêrto,proibindo-se-lhe, todavia, até segunda ordem, a entrada noPaço.

Reposteiro ou criado da casa real em 1810, agraciadocom o hábito de Cristo, em 1812, cavalheiro da Ordem doCruzeiro, comendador da Tôrre e Espada e da Ordem deLeopoldo, da Áustria, Coronel Comandante do 2.° esquadrãoda imperial guarda de honra, Iniendente das imperiais cava-lariças, Oficial maior da Secretaria de Estado dos Negóciosdo Império, empregado do Gabinete do Imperador... tras-ladou Francisco Gomes da Silva, em 1825, como Oficial maiorda Secretaria do Império, a Carta Constitucional de 1824,com a sua atraente caligrafia, datando o respectivo trasladode 4 de abril daquele primeiro ano.

Em consequencia da revolução do Pôrto, em 1820, queestabeleceu no reino o regime constitucional, partiu D. João VIpara Portugal a 26 de abril do ano seguinte.

Espalhados pelos navios da frota real seguiram os mi-nistros do gabinete do rei, os fidalgos mais ligados à sua côrte

e numerosos criados - excetua dos três ou quatro, em cujalista figurava Francisco Gomes da Silva - o Bem Conhecido,ou o Chalaça, que aqui deveria ficar ao serviço privativo dopríncipe D. Pedra.

Tôdas as embarcações surtas no pôrto, embendeiredes,acompanharam a frota, tendo a marujaa postos. Os coman-dantes, nos passadiços, assestaram binóculos para a nauD. João VI.

No momento da despedida, novas recomendações reite-rou o rei aos que aqui ficavam. Deveriam 'ler bons portu-guêses - -pere que se mantivesse íntegra a elinnçe do velho

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18 Memórias do Conselheiro

reino de além mar com o Brasil, para que a grande colônia'americana continuasse sob o domínio luso ...

No olhar saudoso do rei havia um misto de ternura edescontentamento e, talvez, de seus lábios saísse, gaguejadopela emoção, o conselho paternal ao príncipe regente - repe-tindo-lhe o que lhe dissera dois dias antes:

- "Pedro, se o Brasil se separar, seja para ti que mehás de respeitar, do que para alguns dêsses aventureiros."

Daí em diante transcorre a vida faustosa de FranciscoGomes da Silva, já trintão e gentilhomem da. casa imperial.

A 14 de agôsto de 1822 seguiu para São Paulo, acompa-nhando o príncipe regente, numa galopada de dez dias, ven-cendo as cinco pessoas da comitiva as noventa e seis léguas,que, através de péssimos caminhos, separavam a côrte doRio de Janeiro daquela cidade.

A proclamação da autonomia brasileira já fôra pre-estabelecida. Faltava-lhe apenas a oportunidade para suaefetivação, que dentro de poucos dias se iria consumar.

Os ânimos em São Paulo estavam exaltados. Nos cochi-chos o que mais se pronunciava era a palavra Indepen-dência. (10)

A 24 de egôeto, nas circunvizinhanças da capital deSão Paulo, Gomes da Silva e Francisco de Castro Canto eMeIo, irmão de Domitila - a futura marquesa de Santos -foram designados por D. Pedto para sondar o espírito dopovo e à meia-noite regressaram trazendo as melhores infor-mações.

A 7 de setembro estava Gomes da Silva no Ipiranga,e foi uma das testemunhas presenciais da proclamação daIndependência, assistindo a todos os lances do glorioso acon-tecimento. (11)

(10) Carlos Maul - H'A Marquesa de Santos" - pág. 31.(11) O "Brasil Reino" e "Brasil Império", de MeIo Morais, pai,

tomo 1, pág. 385, reproduz a notícia que tõra publicada no "Espelho",.em princípios de setembro de 1823.

O "Correio Mercantil", de 14 de janeiro de 1865, inseriu a âes-

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Soldado da guarda de honra do Imperador, era promo-vido a tenente a 24 de abril de 1823 e no mesmo ano, a 4de setembro, galgava o pôsto de ajudante. No ano seguinte,a 7 de setembro, recebia os galões de capitão. O favoritismodo monarca f~-lo, a 10 de outubro de 1827, coronel coman-dante da guarda de honra - acumulando estes funções comas de oiiciel de gabinete da secretaria do paço imperial, océlebre gabinete secreto, para o qual fôra nomeado a 1.° dedezembro de 1823.

Em 1825, novo cargo remunerado lhe iôre outorgado,por decreto de 4 de abril - o de olicial maior da Secretariado Império. Conselheiro e Cavalheiro da Imperial Ordem doCruzeiro, em 1826, recebeu no mesmo ano a comenda portu-guêsa da Tôrre e Espada - por serviços prestados à cartaconstitucional do reino, concedida por D. Pedro I, Imperadordo Brasil, à terra do seu nascimento.

Serviçal, o mais graduado e prestadio no gabinete pri-vado e nas confidências palacianas, conhecia segredos do Im-perador e das suas amantes, que, no dizer de MeIo Morais- foram de "diferentes classes, côres e condições" - permi-tindo-lhe partir "o amor em bocadinhos" - sublinha Es-ctegnolle Doria.

* * *Realizada a obra da Independência com o concurso

poderoso das lojas maçônicas, da sagacidade e cultura privi-legiada de José Bonifácio, auxiliado por Gonçalves Ledo, epelo Reverbero, de tendências francamente republicanas -restava, contudo, consolidar o Império a emancipação políticaproclamada no Ipirenge:

crição da viagem de D. Pedra, transcrevendo as notas publicadas porFrancisco de Castro Canto e MeIo, que ioram, por sua vez, transcritasno "Brasil Histórico", de MeIo Morais.

O "Quadro HistóriiXJ da Independência", de P. A. do Vale, pu-blicou-o o Jornal do Comércio de 20 de julho de 1854. Nêle figuramos nomes das quarenta testemunhas presenciais do gnto do Ipiranga .

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20 Memórias do Conselheiro

Para os brasileiros, a metrópole tôra mais que humi-lhação, governando sem justiç,a e cobrando tributos vexatórios.Com os recursos cruéis dos baraços, fuzilamentos e seqüestros,masmorras e degredos, sufocou sempre tôdas as manifestaçõesde liberdade.

"O Brasil de 1822 era mais republicano do que em 1789ou em 1817. A violência dos castigos aos revolucionáriosdaquelas épocas aumentou o número de adeptos do regimevitorioso em tôda a América e era aos republicanos quePedro I enfrentava." (12)

Neste trecho de carta da imperatriz Leopoldina, escritaa seu pai e datada de São Cristóvão, em 12 de dezembrode 1822, a espôsa do soberano brasileiro que, onze dias antesfôra coroado e sagrado Imperador - descrevia com exatidãoo verdadeiro cenário em que se encontrava o Brasil:

"O Barão de MarshaIl der-vos-é notícia de tudo,portanto, nada conto, somente peço que considereis osfatos sõbre outros pontos de vista e esteieis convencidode que não poderia ser de outro modo, visto o povoestar voltado às idéias republicanas,". (13).

* * *

De criado do paço ascendera ràpidamente FranciscoGomes da Silva a altos postos de distinção. Foi secretárioprivado do Imperador, e bem ou mal, juste.sou injustamente,deram-lhe a responsabilidade de muita coisa que então sefizera no paço e continuava a se praticar - provocando aira dos jornais incendiários, como eram chemsdos os órgãosde publicidade que moviam desabrida oposição ao monarca.

(12) Carlos Maul - "A Marquesa de Santos",(13) "Cartas da Imperatriz", conservadas no arquivo do Castelo

d'Eu - "Apud" - "A Côrte de Portugal no Brasil", Luis Norton,

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Francisco Gomes da Silva 21

Um dos mais virulentos dêsses jornais e panfletos eraA Malagueta - que se destinava a queimar com a pimentada crítica a língua louvaminheira e a bôca voraz dos adula-dores do paço e dos príncipes. (14)

O redator principal era Luís Augusto Ma}', ex-eluno daUniversidade de Coimbra. Servira no 3.° batalhão acadêmicocom José Bonifácio, durante a invasão francesa. Pertencia à!oja maçônica da Praia Grande - de que era uma das maisfortes influências o negociante português Manoel JoaquimPortugal de Lima, com loja na rua do Ouvidor ti" 15 e arma-zém nas proximidades da Alfândega. (15)

A reação que se operou entre os homens politicos do timdo primeiro reinado, proiligendo desmandos do Imperadore da camarilha que o cercava, obrigou D. Pedra em assentirna retirada do famoso Francisco Gomes da Silva, do Rio deJaneiro.

Em três capítulos de suas Memórias, publica das em1831, investe furibundo o favorito imperial, numa cerrada e

irritante acusação ao Marechal Brant Pontes - esmiuçandoepisódios e· fatos ocorridos nas missões diplomáticas de 1827

(14) O primeim número da '"A Malagueta" saiu a 15 de dezem-bro de 1821. Publicou-se o panfleto de May até 1832.

(15) Rico mercador e liberal exaltado, Portugal de Lima foiquem encomendou no Haure o material tipoçràtco para '"A Mala-aueta: - fazendo oferta de caixotins, tipos e máquinas a Luis AU!flL8toMay.

Em 1823 a tôlna do intrépido jornwista contava no Rio de Ja-neiro 500 assinaturas, tendo grande venda avulsa.

A 6 de junho âêsse ano, em sua casa, na rua São Cristóvão, sofreuDuis May brutal agressão, recaindo a autoria do atentado sôbre certosindivíduos ligados ao ministério e ao Imperador. Pouco depois, e$creviao tlestemeroso jornalista: .

- "Podem os capangas repetir as suas agressões, podem matar-me.Se eu morrer, aparecerá outro que me substituirá, porque o pensa-mento não morre com as pessoas. O que o govêrno não pode, a nãoser que queira fazer do Brasil, TttrqlLia ou Atrica. é impedir que"A Malagueta" circule e seja lida."

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22 Memórias do Conselheiro

a 1829 e dando ao velho titular a responsabilidade peladerrota de Ituzeingo, na guerra do Prata.

Os documentos hoje divulgados através da Vida doMarquês de Barbacena, de Antônio Augusto de Aguiar, sãosuficientes para que se tenha a certeza da solicitude comque sempre agira o marquês em relação a Gomes da Silva,até a quebra das relações cordiaIíssimas observadas durantelargos anos.

Numa carta de 25 de julho de 1828, referindo-se às des-pesas levadas à conta da viagem da menina D. Maria daGlória, dizia a Barbacena o secretário privado do Imperador:

"A demora do paquete deu-me logo a escrever-lhecom mais vagar e a ajuntar tôdas as contas das despesasfeitas com a viagem de S. M. F.

Da conta junta verá que ela importa em .97:081$345; todos os documentos estão na minha mão,exceto o que é da ucharia e meniierie, pois preciso detempo para bem os verificar e depois saber o que por láhouve; e como pretendo pagá-Ios em consignações men-sais, quando receber notícia da chegada de V. Exa. àEuropa, e obrar em conformidade do que me disser.

Diga-me V. Exa. uma coisa, como amigo, àquelaimportância de noventa e sete contos e tanto da despesafeita por conta de Portugal, não se poderie acrescentaruma comissão de 5% de compras, agênc:a etc.; se virque tudo isto tem lugar, parece-me que poderei ter pelomeu trabalho aquela comissêo; quando, porém, penseque não tem lugar, faça o obséquio de persuadir-me queem tal não falei."

Acusando o recebimento desta missiva .~ das que lhehaviam sido endereçadas a 22 e 27 de julho, dizia, a 9 deoutubro, Berbecene, já em Londres, que "a comissão a res-peito da qual me consulta na sua carta, é de lei em tôdas

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as compras e acho que a deve carreAar em tudo, menos llO$

33:650$970, da marinha, e formará o último artiAo da contaAeral das despesas feitas no Rio, dêste modo: comissão de ...por cento paAa a diferentes pessoas empreAadas na comprados objetos da ucharia etc. Dêste modo, não é V.S. quemrecebe a comissão e não haverá motivo de raiva, visto queos nossos faladores desejam sobretudo ver os fiéis servidoresdo imperante morrerem de fome".

E nessa carta, em que procurava salvar as aparências,satisfazendo a cupidez de Gomes da Silva, rematava Bar-bacena:

"Tenha dó de mim, pois o pêso dos importantes neAóciosa meu carAo excede de muito às minhas iôrçes"

Em resposta ao que lhe escrevera o velho titular, depoisde dar elguns informes sôbre os negócios de Portugal, daaventura de D. Miguel e a propósito do reconhecimento dasfilhas da marquesa de Santos, acentuava Gomes da Silvaque "o nosso bispo diocesano tem feito atos grandes; ban-deou-se com a canalha republicana. Nosso amo agora escreveà Sua Santidade, pedindo-lhe uma bula para o demitir debispo e capelâo-mor; a carta vai dirigida a Itabaiana; tomeisto a seu cuidado".

Agradecia o obséquio da comissão de 5% eôbre a quantialíquida de 64:547$875, abatidos os 33:650$970. citados porBarbacena, da importância total que iôre, no entanto, elevadaa 98:198$845, acrescidos com a comissão; ascendendo assima dívida a 101:426$235.

Da quantia líquida - deveriam caber-lhe 3:227$300que bem conta me fazem, confessava Gomes da Silva.

Pretendendo contestar as alegações do marquês de Bar-bacena, na célebre e vibrante carta dirigi da ao Imperador a15 de dezembro de 1830, acêrca das missões exercidas naEuropa, e da direção dada aos neAócios públicos, fêz publicarGomes da Silva no transcorrer de 1831, na cidade de Lon-

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24 Memórias do Conselheiro

dres, onde se achava, um opúsculo com o título - A Expo-sição do Marquês de Barbacena comentada por um brasileironato. (16)

~I' * :.;:

As Memórias oferecidas à Nação Brasileira por FranciscoGomes da Silva foram impressas em Londres em 1831 porL. Thompsom - in-4.o - com 165 páginas e uma fôlha. Asua autoria foi atribuída pelo Dr. MeIo Morais (pai), a AI-meida Garret, que, segundo o velho historiador, recebera por

êsse serviço trinta libras.Num exempler dêsse trabalho (pertencente à biblioteca

do Instituto Histórico) em que Gomes da Silva faz a suaautobiografia, exagera serviços e ataca rudemente o marquêsde Berbecena, figuram à margem das páginas elgumee notasa lápis, pelas quais se conclui que quem recebeu o dinheirodo Chalaça foi Rodrigo da Fonseca Magalhães.

O antigo possuidor dêsse exemplar foi o conselheiro An-tônio de Meneses Vasconcelos de Drumond, que profusa-mente o anotou. Em mais de uma nota atribui Drumond aautoria das Memórias (livro hoje rarÍssimo) a Rodrigo daFonseca Magalhães, posteriormente ministro de Estado emPortugal, político de grande nomeada e afamado orador.

Amigo do marechal de campo Luís do Régo Batreto, que

depois de se haver distinguido na guerra peninsular, fôraescolhido para governar a província de Pernambuco, quandosufocada a rebelião de 1817, desposou uma filha daquelegovernador. (17)

(6) 1i:sseopúsculo foi impresso por santerre rreres e continhaquarenta e três páginas in-B? de IV.

A autoria - diz Tancredo Paiva, em suas "'Achegas a um Dicio-nário de Pseudônimos", é atribuída a Alrneuia Gtirret,

(7) Rio Branco, em nota à "HisióTia da Independência", deVarnhagen, o dá corno um dos porínuruéses comprometidos na revo-lução pernambucana de 1817.

Fugiu para a Europa, ocultando-se em Lisboa, após o fracasso

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Faleceu em Portugal em 1858.Estudante em Coimbra em 1808, interrompera os estudos

e se fizera soldado para combater os franceses, tendo no til-timo período da guerra servido como tenente no regimentocomandado por seu futuro sógro.

* * *

Francisco Gomes da Silva, que vzera em 1808 com afamília real, aqui viveu à tripa iôtre. Esta.va na Europa já háalgum tempo quando se deram os acontecimentos de 1831,que determinaram a expulsão do primeiro Imperador.

A Regência trine, por ato de 9 de dezembro de 1831, odemitiu do cargo de oficial maior graduado de Secretaria doImpério.

Foram êstes os têrmos do decreto dos regentes:

"Sendo de pública notoriedade, por informações ve-ridices chegadas ultimamente da Europa, que FranciscoGomes da Silva que ali se achava com licença paratrete» de sua saúde, não só não está doente, mas antesbom, pelo contrário, e trabalha ativamente ao serviçode Portugal e do es-impetndor, hoje duque de Bragança.mostrando por isso não querer mais pertencer à grandefamília brasileira: a Regência, em nome do Imperador,há por bem demiti-lo do lugar de oficial maior graduadoda secretaria de Estado dos Negócios do Império."

da insurreição. Regressou à cidade do Recife em 1813, recebendo asüodo seu amigo chefe e amigo Luis do Rego .

••Assistiu, assim -- escreve Rio Branco, todos os acontecimentospolíticos de Pernambuco desde 1818 até 1821 e durante êles fOi omelhor conselheiro de seu sogro."

No navio "Ctuirles et Adéle" deixou Fonseca Magalhlíes a capiUllpernambucana a 26 de dezembro de 1821. Contava então 32 anos.

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NORONHA SANTOS

"26 Memórias do Conselheiro

Em represália ao que escrevera o grande jornalista Eva-risto da Veiga, constituiu Gomes da Silva advogado, dando-Iheprocuração e plenos poderes para chamar à responsabilidadeo redator da Aurora Fluminense. Evaristo compareceu peranteo Júri e foi absolvido, tendo a presidir o conselho de sentençao padre [enuério da Cunha Barbosa.

Em 1834, após a morte de D. Pedro IV, o autor dasMemórias Oferecidas à Nação Brasileira, acompanhou D. Amé-lia, duquesa de Bragança, a Munich, a Berlim e à ilha daMadeira, tornando-se amigo dedicado da sua antiga inimigade 1829-30 - e amigo confidencial no exercício do cargo desecretário particular, da casa de Bregençe e com a alta digni-dade de conde de Ourém.

A 30 de setembro de 1852 faleceu, em Lisboa, FranciscoGomes da Silva, contando 61 anos de idade e vinte e doisde ausência do Brasil.

Deixou avultada fortuna, além das quantias distribuídasa seus filhos, em 1851.

As suas últimas pelevres, proferidas in extremis, aopadre José de Assunção, foram de profundo etrependimento"por seus grandes pecaâos", .. (18)

(8) Assis Cintra - "O ctuaoca - favorito de Império" -pág. 21.

Faleceu - não a 30 de dezembro, mas sim a 30 de setembro de1852 - como se vê no ••Jornal do Comércio" de 25 de novembro âêsseano, ao publt;ar o convite dos amigos de Gomes da Si~t'a para a missado sexagésimo dia. de sua morte, a celebrar-se a 30 de novembro, naigreja dos Terceiros do Carmo, às 10 horas da manhã.