12
Processo nº Data da autuação: Rubrica: 04/351.220/2015 16/04/2015 Fls. 282 CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 Sessão do dia 04 de outubro de 2018. RECURSO VOLUNTÁRIO Nº 17.756 Recorrente: COMUNICATIVA COOPERATIVA DE TRABALHO Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS Relatora: Conselheira DIRCE MARIA SALES RODRIGUES Representante da Fazenda: RACHEL GUEDES CAVALCANTE ISS – PRELIMINAR DE NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO Improcede a arguição de nulidade quando o lançamento observou todos os requisitos previstos na legislação pertinente, e não restou comprovado nos autos qualquer prejuízo ao pleno exercício do direito de defesa do contribuinte. Preliminar rejeitada. Decisão unânime. ISS – IMUNIDADE – SERVIÇO DE ASSESSORIA DE IMPRENSA E JORNALISMO – IMPROCEDÊNCIA A imunidade prevista no art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal é objetiva e somente alcança a circulação de livros, jornais e periódicos bem como o papel destinado à sua impressão, não podendo ser estendida ao serviço de assessoria de imprensa e jornalismo prestado para agência de comunicação. ISS – PENALIDADE – PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DO NÃO CONFISCO Não se caracteriza como de caráter confiscatório a penalidade graduada segundo a gravidade da infração que lhe deu causa, de acordo com a norma específica prevista no art. 51 da Lei nº 691, de 1984. Recurso voluntário improvido. Decisão unânime. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS R E L A T Ó R I O

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

Sessão do dia 04 de outubro de 2018. RECURSO VOLUNTÁRIO Nº 17.756 Recorrente: COMUNICATIVA COOPERATIVA DE TRABALHO Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E

JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS Relatora: Conselheira DIRCE MARIA SALES RODRIGUES Representante da Fazenda: RACHEL GUEDES CAVALCANTE

ISS – PRELIMINAR DE NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO

Improcede a arguição de nulidade quando

o lançamento observou todos os requisitos previstos na legislação pertinente, e não restou comprovado nos autos qualquer prejuízo ao pleno exercício do direito de defesa do contribuinte. Preliminar rejeitada. Decisão unânime.

ISS – IMUNIDADE – SERVIÇO DE ASSESSORIA

DE IMPRENSA E JORNALISMO – IMPROCEDÊNCIA

A imunidade prevista no art. 150, VI, “d”, da

Constituição Federal é objetiva e somente alcança a circulação de livros, jornais e periódicos bem como o papel destinado à sua impressão, não podendo ser estendida ao serviço de assessoria de imprensa e jornalismo prestado para agência de comunicação.

ISS – PENALIDADE – PRINCÍPIO

CONSTITUCIONAL DO NÃO CONFISCO Não se caracteriza como de caráter

confiscatório a penalidade graduada segundo a gravidade da infração que lhe deu causa, de acordo com a norma específica prevista no art. 51 da Lei nº 691, de 1984.

Recurso voluntário improvido. Decisão

unânime.

IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS

R E L A T Ó R I O

Page 2: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

Adoto o relatório da Representação da Fazenda, de fls. 263/269, que

passa a fazer parte integrante do presente. “Trata-se de Recurso Voluntário interposto por COMUNICATIVA

COOPERATIVA DE TRABALHO em face da decisão do Sr. Coordenador da F/SUBTF/CRJ de julgar improcedente a impugnação apresentada ao Auto de Infração nº 300.660, de 16 de abril de 2015, relativo ao Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISS.

O Auto de Infração conteve três itens. No primeiro, lançou-se o ISS devido pela prestação, no período contínuo entre janeiro de 2011 a julho de 2012, de serviços de assessoria de imprensa e jornalismo, capitulados no subitem 35.01 e erroneamente considerados como isentos ou não tributáveis na escrituração da contribuinte. O imposto lançado monta, em valores históricos, a R$ 293.943,24. Foi também lançada nesse item a multa de 60% prevista no art. 51, I, 2, “a” da Lei nº 691/84, para casos como esse.

No segundo item, lançou-se o ISS devido pela prestação, no período contínuo entre agosto de 2012 a dezembro de 2012, de serviços de assessoria de imprensa e jornalismo, capitulados no subitem 35.01 e devidamente escriturados pela contribuinte. O imposto lançado monta, em valores históricos, a R$ 42.428,38. Foi também lançada nesse item a multa de 50% prevista no art. 51, I, 1, da Lei nº 691/84, para casos como esse.

Por fim, no terceiro, lançou-se o ISS devido pela prestação, em período intermitente entre abril de 2010 a dezembro de 2013, de serviços de assessoria de imprensa e jornalismo, capitulados no subitem 35.01 e com receitas não escrituradas nos livros fiscais, tendo sido apuradas pela fiscalização a partir de documentos contábeis diretamente apresentados à fiscalização. O imposto lançado monta, em valores históricos, a R$ 221.709,69. Foi também lançada nesse item a multa de 90% prevista no art. 51, I, 5, “a”, da Lei nº 691/84, para casos como esse.

Ressalte-se ter sido consignado, no próprio Auto de Infração, que o contribuinte não teria apresentado o Livro Diário relativo aos últimos cinco anos.

Consignou-se também que teriam sido examinados pela fiscalização um Demonstrativo de Receita de Serviços de 2010 (elaborado especificamente para atender à fiscalização do ISS na medida em que teria havido extravio dos documentos fiscais, conforme fls. 189), o Livro Razão de 2013 e um contrato de prestação de serviços firmado com a firma Monte Carlo Ideias Ltda, além de Livro Fiscal eletrônico e notas fiscais. Foram juntados os respectivos Quadros Demonstrativos anexos ao Auto de Infração.

Page 3: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

Por fim, deve ser igualmente ressaltado que, em cada um dos três itens do Auto de Infração, foi mencionado expressamente que os acréscimos moratórios aplicáveis eram, para o período até 31/12/2002, os previstos no art. 181 da Lei nº 691/84, e para o período posterior, aqueles previstos no art. 1º da Lei nº 5.546//2012, observado o disposto no art. 3º desta última Lei.

Em sua impugnação, a contribuinte arguiu preliminar de nulidade do Auto de Infração por cerceamento de defesa, argumentando, em síntese, que a peça de autuação carecia de apresentação de cálculo analítico do total devido. A seu ver, o Auto não poderia se limitar a apresentar valores históricos e a mencionar os percentuais de multas devidos, devendo aplicar tais percentuais sobre os valores atualizados e informar o resultado.

A impugnante apresentou ainda uma segunda arguição preliminar de nulidade do Auto de Infração, desta feita ao argumento de que este careceria de fundamentação – consequentemente cerceando a defesa – ao classificar como assessoria de imprensa e jornalismo serviços que, nas notas fiscais e outros documentos da contribuinte, constavam como geração de conteúdo para boletins ou revistas informativas, classificáveis no subitem 17.06 da lista de serviços sujeitos ao ISS. Asseverou que sua documentação contábil fazia prova a seu favor, nos termos dos Decretos-Lei nº 486/99 e 1.598/77. Citou, ainda, Acórdão deste E. Conselho no Recurso Voluntário nº 11.407, no sentido de que, havendo, no curso da lide, alteração quanto às atividades e operações tributadas sem abertura de prazo para ciência e contraditório do contribuinte, é nula, por cerceamento de defesa, a decisão de primeira instância que apreciou o mérito sem regularizar tal omissão.

Consigne-se que, às fls. 27 e seguintes, há cópia de Contrato de Adesão para Prestação de Serviços Profissionais, datado de 1º de abril de 2006, entre a Monte Castelo Ideias e a contribuinte. Em sua cláusula primeira, consta que o objeto da avença seria “a prestação de serviços de assessoria de imprensa e jornalismo, nos termos de requisições de serviços, orçamentos e propostas de trabalho que se lhe anexam”. A vigência (cláusula quarta) do Contrato seria de 24 meses, prorrogáveis automaticamente por igual período se não houvesse manifestação por escrito com 30 dias de antecedência.

No Mérito, a impugnação sustentou que seus serviços seriam imunes ao ISS por força do art. 150, VI, “d”, da Constituição da República, por se referirem a periódicos informativos. Argumentou que a imunidade tem por escopo garantir a liberdade de expressão e acesso à informação, portanto não podendo ser limitada à confecção física dos periódicos. Citou em seu amparo precedente do TJ-SC, em cujas razões se mencionava que o objeto da referida imunidade constitucional não era apenas o livro acabado, mas o conjunto de serviços que o realiza, desde a redação até a revisão da obra, devido aos valores que a Constituição quer proteger. Citou, ainda, antigo precedente do STF no RE 102.141, de 1985, no mesmo sentido. E disse que teria sido equívoco seu ter destacado, em sua documentação fiscal, o

Page 4: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

ISS como devido no período de agosto a dezembro de 2012 (item 2 do Auto de Infração).

Por fim, ainda no Mérito, alegou que as multas de 60%, 50% e 90% do valor do imposto, aplicadas no Auto de Infração, teriam caráter confiscatório. Citou precedente do Supremo Tribunal Federal no RE 523.471, o qual, porém, se limita, no ponto, a afirmar que o STF considera o princípio do não confisco aplicável às multas tributárias, que a multa terá caráter confiscatório quando for desproporcional à gravidade da infração e que a Corte considera multas de 20 a 30% do valor do débito como adequadas à luz do princípio constitucional da vedação do confisco.

Foram acostadas, às fls. 128 e seguintes, cópias de notas fiscais de serviços eletrônicas emitidas pela contribuinte entre 30 de junho de 2011 e 29 de maio de 2013, quase todas tendo por tomador a Monte Castelo e referindo apenas “prestação de serviços de geração de conteúdo”. Ressalte-se, todavia, que todas as notas foram emitidas com o Código Fiscal “17.06.06 – Serviços de assessoria na edição de boletins ou revistas informativas ou publicitárias”.

Apenas três das notas foram emitidas para tomador diverso, a MCI Comunicação Direta Ltda., porém localizada no exato mesmo endereço da Monte Castelo (Av. Rio Branco, nº 20, 11º andar), sem inscrição municipal nem estadual. Nelas, foi usada a mesma descrição de serviços, mas também o mesmo Código Fiscal, das notas emitidas para a Monte Castelo.

Algumas das notas emitidas para a Monte Castelo e todas as emitidas para a MCI referem “não incidência de imposto conforme prevê a lei 5.764/71 e o Supremo Tribunal Federal”.

Nas notas fiscais, consta que o número de telefone fixo da Monte Castelo seria exatamente o mesmo da Comunicativa Cooperativa de Trabalho. Não há indicação de telefone para a MCI.

Em sua instrução para o julgamento de primeira instância, a autoridade lançadora assinalou que o Auto de Infração atendia a todos os requisitos previstos no art. 68 do Decreto nº 14.602/96, logo não fazendo sentido a primeira arguição preliminar de nulidade.

No que tange à segunda arguição preliminar de nulidade, destacou que supracitado o contrato com a Monte Castelo tinha por objeto a prestação de serviços de assessoria de imprensa e jornalismo. Agregou que, conforme a Sra. Maíra Cristina Pereira da Silva, procuradora da cooperativa que teria atendido à fiscalização, o referido contrato havia sido prorrogado automaticamente.

Além disso, salientou, as notas fiscais notas cobertas pelo item 2 do Auto haviam servido de supedâneo para a escrituração, efetuada pela própria contribuinte, como “receita tributada” e “provisão de ISS” em seu Livro Razão de 2013 (cópia às v. fls. 188). Acrescentou que as receitas de serviços constantes do Demonstrativo de 2010 e dos Livros Razão de 2012 e 2013, fontes do item 3 do Auto de Infração, se referiam a serviços sempre prestados para a Monte Castelo,

Page 5: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

conforme se constataria nas cópias acostadas às fls. 189-193 dos presentes autos. Quanto ao item 1, era equivocada a suposição de que se trataria de serviços não tributáveis, tendo a mesma natureza dos demais itens.

Destacou que o Demonstrativo havia sido requisitado na medida em que teria havido extravio dos Livros Diários e Razões de 2006 a 2010 por parte da contribuinte, conforme anúncio publicado no Jornal do Commercio em janeiro de 2005 (v. fls. 197).

Quanto à MCI Comunicação, asseverou a autoridade lançadora que, além de localizada no mesmo endereço que a Monte Castelo, teria tido seu alvará cancelado e pertenceria ao mesmo grupo da Monte Castelo, indicando que seus serviços, no fundo, também eram serviços prestados pela cooperativa à Monte Castelo. Para a autoridade lançadora, estava claro que a Comunicativa Cooperativa de Trabalho havia sido criada para reduzir os custos da Monte Castelo e com o objetivo de prestar serviços de assessoria de imprensa e jornalismo, conforme o supracitado contrato.

Por se tratar de serviços de assessoria de imprensa e jornalismo, tornavam-se inócuas, no entender do Fiscal de Rendas autor do Auto de Infração, as alegações da impugnante quanto a imunidade prevista na Constituição para periódicos.

Por fim, quanto às multas aplicadas, destacou a autoridade lançadora que eram as previstas na lei municipal, a qual ela não podia deixar de aplicar, sob pena de responsabilidade funcional.

Em suas razões de decidir, a F/SUBTF/CRJ destacou que, no verso da via do Auto de Infração entregue à contribuinte, existe a indicação do dever da autuada de comparecer ao órgão fiscalizatório a fim de ser notificado do total do crédito tributário apurado. O total do crédito atualizado com as discriminações dos acréscimos moratórios e das multas estava disponível às fls. 225-230 para ser informado à autuada quando de seu comparecimento. Era de se afastar, portanto, a primeira preliminar de nulidade arguida pela impugnante.

Por outro lado, a classificação dos serviços havia sido extraída com base em contratos de prestação de serviços. A escrituração contábil só faz prova a favor do contribuinte se lastreada em documentos capazes de certificar sua veracidade, conforme o § 1º do art. 9º da fonte normativa invocada pela própria impugnante (Decreto-Lei federal nº 1.598/77). As notas fiscais relativas aos itens 1 e 2 haviam sido emitidas com Código Fiscal destinado a assessoria de na edição de boletins ou revistas informativas ou publicitárias. Além disso, parte da escrituração contábil havia sido extraviada pela própria contribuinte. Em tais circunstâncias, era de ser afastada também a segunda arguição preliminar de nulidade apresentada pela impugnante.

No Mérito, a F/SUBTF/CRJ reproduziu conteúdo do site da Monte Castelo Ideias, onde esta empresa se definiria como “agência de conteúdo” oferecendo serviços tais como assessoria de imprensa, media-training,

Page 6: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

gerenciamento de crises, endomarketing, criação de logotipos, alerta de negócios, marketing político, elaboração de estratégias de comunicação e pesquisas, entre outros. No item “publicações institucionais” (apenas um dentre 16 tipos de serviços oferecidos), constaria edição e layout de revistas e jornais, mas também de folders e papelaria. Destacou a F/SUBTF/CRJ que a impugnante não trouxera aos autos qualquer prova de que os serviços autuados se refeririam efetivamente a periódicos. E quanto às alegações de caráter confiscatório das multas, afirmou que os percentuais incidentes estão previstos na legislação, são inferiores ao custo de captação de recursos no mercado financeiro e têm por objetivo coibir condutas infracionais, razão pela qual devem ser encaradas de maneira diversa daquela com que se aborda o percentual de tributação.

A decisão da F/SUBTF/CRJ foi cientificada pela via postal em 9 de junho de 2016, conforme comprovantes às fls. 228 e 230. O Recurso Voluntário foi interposto em 8 de julho daquele mesmo ano, conforme protocolo mecânico aposto às fls. 231, de modo que a interposição foi tempestiva.

Em sua peça recursal, a contribuinte insiste na primeira preliminar de nulidade por faltar, no Auto de Infração e seus quadros demonstrativos anexos, o cálculo analítico do total devido. Assinala que o prazo para defesa se computaria desde o recebimento do Auto de Infração pela contribuinte, de modo que não poderia prosperar o argumento invocado pela autoridade julgadora singular no sentido da possibilidade de comparecimento à repartição para tomar ciência posterior do cálculo analítico1.

Insiste também na segunda preliminar de nulidade, afirmando que a autoridade lançadora não apresentara qualquer motivo para desclassificar a descrição constante das notas fiscais de serviços. Reitera argumentos apresentados na impugnação e sustenta que o contrato não constituiria fundamentação para mudança de classificação dos serviços.

No Mérito, insiste nos mesmos argumentos quanto à imunidade, refutando a F/SUBTF/CRJ com a descrição presente nas suas Notas Fiscais, apontando geração de conteúdo.

Por fim, insiste nas mesmas alegações de caráter confiscatório das multas, afirmando que o legislador ordinário municipal não poderia ignorar o art. 150, V, da Constituição da República.”

A Representação da Fazenda requereu a rejeição da preliminar de nulidade do Auto de Infração, suscitada pelo Contribuinte e, no mérito, requereu o improvimento do recurso. 1 Ressalte-se que, na 1ª via do Auto de Infração, que inaugura os presentes autos, não está

consignada a respectiva data da assinatura do autuado. Tampouco consta tal data na cópia da 2ªa via, acostada pela contribuinte às fls. 120.

Page 7: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

É o relatório.

V O T O

O recurso voluntário ora analisado foi interposto em face da decisão do Coordenador da Coordenadoria de Revisão e Julgamento Tributários que julgou improcedente a impugnação ao Auto de Infração nº 300.660, lavrado em 16 de abril de 2015, relativo ao Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza.

Conforme já destacado no relatório inicial, o litígio diz respeito ao não recolhimento do ISS devido pela prestação dos serviços de assessoria de imprensa e jornalismo previsto no art. 8º, item 35, subitem 35.01, da Lei nº 691, de 1984, na redação dada pela Lei nº 3.691, de 2003. O auto de infração assinala que na apuração da falta de pagamento ocorreram três situações diversas: operações escrituradas como isentas ou não tributáveis, item 1; documentos emitidos e livros escriturados, item 2; e imposto apurado exclusivamente de documentos contábeis da própria empresa, item 3.

Na peça recursal, o Contribuinte reiterou os argumentos apresentados na impugnação. Solicitou, de início, a nulidade do auto de infração, apontando ausência de determinação da exigência tributária e inexistência de fundamentação e de prova tendente a descaracterizar os serviços prestados, o que, a seu ver, ofendeu o seu direito de defesa.

No mérito, alegou a imunidade tributária para os serviços de geração de conteúdo de revistas e boletins informativos, como também contestou os percentuais das multas aplicadas.

A princípio, cabe analisar a questão da nulidade do auto de infração.

O primeiro argumento diz respeito à determinação do valor do imposto exigido. Alegou o Recorrente, às fls. 234, que o Auditor Fiscal não realizou a indicação dos valores corretamente, não tendo efetuado o cálculo tributário total devido, utilizando, apenas, o valor histórico do imposto apurado com a simples menção dos percentuais das multas aplicadas.

A motivação apresentada não justifica a nulidade do lançamento, porquanto o auto de infração possui todos os informes necessários à compreensão de tudo que foi considerado infração, do que está sendo tributado e das penalidades

Page 8: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

aplicadas. Não restou constatada qualquer omissão dos elementos descritos no art. 68 do Decreto “N” nº 14.602, de 1996.

Estão registrados nos quadros demonstrativos anexos os valores do ISS devidos mês a mês, como também, no verso da via do auto de infração entregue ao Contribuinte, encontra-se a orientação necessária para a obtenção do crédito tributário atualizado e totalizado pela inclusão dos acréscimos legais relativos a mora e multas penais.

Ainda em preliminar, o Recorrente alegou cerceamento do seu direito de defesa, em razão de terem sido os serviços prestados classificados de maneira diferente daquela que consta nos registros contábeis.

Por certo são nulos os atos praticados e as decisões proferidas com preterição ou prejuízo do direito de defesa do contribuinte, conforme disposto no art. 40, inciso II, do Decreto “N” nº 14.602, de 1996. Entretanto, há de ser provado que realmente ocorreu o cerceamento de tal direito.

Neste caso, não assiste razão ao Recorrente, visto que não houve qualquer prejuízo ao seu direito de defesa. Há no corpo do auto de infração uma descrição circunstanciada e fundamentada dos fatos e das normas que levaram ao lançamento, com a indicação dos serviços de assessoria de imprensa e jornalismo, previstos no subitem 35.01 da lista de serviços disposta no art. 8º da Lei nº 691, de 1984.

O Fiscal de Rendas autuante, às fls. 199, informou que a referência dos serviços foi obtida na análise do contrato de prestação de serviços firmado com a empresa Monte Castelo Ideias Ltda. Esclareceu que apenas três notas fiscais de serviços não foram emitidas para a citada empresa, e sim para MCI Comunicação Direta Ltda. Ainda indicou que o Requerente e as duas empresas tomadoras dos serviços funcionam no mesmo endereço.

Nota-se que o Contribuinte sabia exatamente quais seriam os serviços abrangidos pela exigência fiscal. As peças contestatórias, tanto a impugnação como o recurso, evidenciam sua percepção das razões de fato e de direito que nortearam o lançamento.

Por entender que o auto de infração foi corretamente lavrado, e por não se perceber qualquer prejuízo ao direito de defesa do Autuado, NEGO ACOLHIDA às preliminares de nulidade do lançamento amparadas nas alegações de ausência de aplicação de cálculo analítico ou de classificação equivocada dos serviços prestados.

No mérito, alegou o Recorrente a imunidade do serviço de geração de conteúdo de revistas ou boletins e a natureza confiscatória das multas aplicadas.

O benefício constitucional previsto no artigo 150, inciso VI, alínea “d”, da Constituição Federal, que impede a instituição de impostos sobre livros, jornais,

Page 9: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

periódicos e o papel destinado a sua impressão, tem por escopo viabilizar, sem ônus maiores, a liberdade de expressão e a circulação de informações a que o público tem direito em virtude das garantias constitucionais.

A imunidade pretendida não se aplica ao caso referido nos autos, porquanto é objetiva, somente alcançando a circulação de livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão, e também porque não foi claramente definida a destinação dos serviços prestados pelo Recorrente.

Quanto à limitação do instituto por conta de sua natureza objetiva, este Colegiado já decidiu acerca da matéria, no Acórdão nº 15.905, de 22 de junho de 2017, tendo sido relator o ilustre Conselheiro Alfredo Lopes de Souza Junior, que refutou o pleito relativo à imunidade dos serviços de elaboração de noticiário, com os seguintes argumentos:

A questão da suposta imunidade alegada pela recorrente também não merece prosperar. É cediço na doutrina e jurisprudência que a imunidade prevista no artigo 150, VI, “d”, da Carta Maior é objetiva e somente alcança a circulação de livros, jornais e periódicos bem como o papel destinado à sua impressão, em nada se assemelhando aos serviços prestados pela recorrente.

No mesmo sentido, o douto Representante da Fazenda, em sua promoção de fls. 269/276, revela manifestação da doutrina:

Na mesma linha, Eduardo Sabbag, (“Manual de Direito Tributário”, Saraiva, 4ª ed., 2012, p. 363), afirma que a chamada “imunidade de imprensa”, prevista no art. 150, VI, “d”, da Constituição da República, possui natureza objetiva, e que as imunidades objetivas “referem-se aos impostos ditos reais – ICMS, IPI, II (Imposto de Importação) e IE (Imposto de Exportação). Os demais impostos deverão incidir normalmente sobre os bens constantes da alínea d.

Em relação ao posicionamento do Supremo Tribunal Federal, o precedente apresentado na peça recursal provém de ordenamento constitucional anterior. Atualmente outro é o entendimento daquele órgão, como demonstrado no voto do ilustre Ministro Luiz Fux, do qual foi retirado este significativo trecho:

Com efeito, conforme asseverado na decisão ora agravada, o entendimento tradicional do Supremo Tribunal Federal, desde a promulgação da atual Constituição, foi no sentido de que a imunidade em questão é objetiva e tem alcance restrito, limitando-se apenas aos livros, aos jornais, aos periódicos, bem como ao papel e assimilados destinados à impressão daqueles.

Page 10: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

Do mesmo modo, o caráter objetivo e o alcance restrito da norma podem ser observados nas duas decisões do STF a seguir indicadas:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS – ISS. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. ART. 150, INC. VI, ALÍNEA D, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. EXTENSÃO AOS SERVIÇOS DE COMPOSIÇÃO GRÁFICA: IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO ” (RE n. 435.978-AgR, Ministra Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJe 3.3.2011)

EMB. DECL. NO A G.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 504.615 SÃO PAULO RELATOR : MIN. RICARDO LEWANDOWSKI “AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DO ART. 150, VI, D, DA CF. ABRANGÊNCIA. IPMF. IMPOSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. AGRAVO IMPROVIDO. I – O Supremo Tribunal Federal possui entendimento no sentido de que a imunidade tributária prevista no art. 150, VI, d, da Constituição Federal deve ser interpretada restritivamente e que seu alcance, tratando-se de insumos destinados à impressão de livros, jornais e periódicos, estende-se, exclusivamente, a materiais que se mostrem assimiláveis ao papel, abrangendo, por consequência, os filmes e papéis fotográficos. Precedentes.

II – A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da Lei Maior não abrange as operações financeiras realizadas pela agravante. III – Agravo regimental improvido.

Ainda que assim não fosse interpretada a norma constitucional, verifica-se nos autos as seguintes indicações dos serviços prestados pelo Recorrente:

A cláusula primeira do contrato de prestação de serviços firmado com a empresa Monte Castelo Ideias Ltda registra que o contrato tem por objeto a prestação de serviços em assessoria de imprensa e jornalismo. Já nos documentos fiscais juntados aos autos, emitidos para a mesma empresa e para MCI Comunicação Direta Ltda, consta o registro da prestação de serviços de geração de conteúdo e, como referência ao serviço prestado, a indicação 17.06.08 – assessoria na edição de boletins ou revistas informativas ou publicitárias.

De acordo com o site da empresa Monte Castelo Ideias Ltda, conforme disposto às fls. 214/215, no parecer que serviu de suporte à decisão de primeira instância, a referida empresa se classifica como agência de comunicação e oferece aos clientes os seguintes préstimos: assessoria de imprensa, gerenciamento de

Page 11: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

crises, treinamento de mídia, marketing político, assessoria política para negócios, alerta de negócios, comunicação direta, publicações institucionais, campanhas institucionais, endomarketing, comunicação visual, lótus filmes – produção audiovisual, livros, pesquisas, mídia digital e mídias sociais.

Com essa infinidade de possibilidades, como identificar que o serviço prestado pelo Recorrente se destina exclusivamente à produção de livros.

Assim sendo, quer pela interpretação objetiva e restritiva da norma constitucional, quer pela natureza e destinação dos serviços de assessoria de imprensa e jornalismo prestados pelo Recorrente, não há que considerar tais serviços como alcançados pela imunidade de que trata o no artigo 150, inciso VI, alínea “d”, da Constituição Federal.

No que concerne ao pleito de reconhecimento da ilegalidade e da inconstitucionalidade das multas aplicadas no auto de infração, para que sejam reduzidas a patamares não confiscatórios, o pedido não deve ser deferido.

Outrossim, cabe esclarecer que não procede a contestação ao percentual das multas aplicadas – de 50%, 60% e 90% do valor do imposto devido, porque esses percentuais foram fixados consoante a natureza e a gravidade do ilícito cometido, de acordo com os respectivos dispositivos do art. 51 da Lei nº 691, de 1984.

Sendo assim, a imposição da multa penal, por atender aos princípios da legalidade e da razoabilidade, jamais poderá caracterizar uma afronta ao princípio constitucional do não confisco, como pretendido pelo Recorrente.

Em face do exposto, voto para que seja NEGADO PROVIMENTO ao recurso voluntário, mantendo-se a decisão recorrida que preservou integralmente o Auto de Infração nº 300.660, de 16 de abril de 2015.

A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos em que é Recorrente:

COMUNICATIVA COOPERATIVA DE TRABALHO e Recorrido: COORDENADOR DA COORDENADORIA DE REVISÃO E JULGAMENTO TRIBUTÁRIOS.

Acorda o Conselho de Contribuintes: 1) Por unanimidade, rejeitar a preliminar de nulidade do Auto de Infração,

suscitada pelo Contribuinte, nos termos do voto da Relatora; e

Page 12: CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572 RECURSO …smfweb.rio.rj.gov.br/bibliSMFWeb/bibliDocsWeb/2018/... · 2018. 10. 24. · para a MCI referem “não incidência de imposto

Processo nº Data da autuação: Rubrica:

04/351.220/2015 16/04/2015

Fls. 282

CONSELHO DE CONTRIBUINTES Acórdão nº 16.572

2) No mérito, por unanimidade, negar provimento ao recurso voluntário,

nos termos do voto da Relatora. Ausente das votações o Conselheiro DOMINGOS TRAVAGLIA,

substituído pelo Suplente ANTONIO FERNANDES DE FIGUEIREDO E SÁ. Conselho de Contribuintes do Município do Rio de Janeiro, 18 de outubro

de 2018.

DENISE CAMOLEZ PRESIDENTE

DIRCE MARIA SALES RODRIGUES CONSELHEIRA RELATORA