Consenso Brasileiro de Ronco e Apneia - Aspectos de Interesse Aos Ortodontistas

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O objetivo deste artigo é explicitar o posicionamento das sociedades médicas que, reu-nidas, estabeleceram consenso sobre os parâmetros clínico-laboratoriais que envolvem osdistúrbios respiratórios do sono, em especial o ronco e a síndrome da apneia obstrutiva dosono (SAOS). Os ortodontistas, que vêm ocupando gradativamente seu espaço em equipesmultidisciplinares que atuam na área do sono humano, pouco conhecem sobre essa unifor-mização coordenada pela Associação Brasileira de Sono. Os trabalhos clínicos e as pesquisascientíficas oriundos da Odontologia, e em particular da Ortodontia, também devem ob-servar e seguir esses critérios de diagnóstico e tratamento estabelecidos pela comunidademédica brasileira.

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Consenso brasileiro de ronco e apneiado sono aspectos de interesse aosortodontistasCauby Maia Chaves Junior*, Cibele Dal-Fabbro**, Veralice Meireles Sales de Bruin***,Sergio Tufik****, Lia Rita Azeredo Bittencourt*****ResumoO objetivo deste artigo explicitar o posicionamento das sociedades mdicas que, reu-nidas, estabeleceram consenso sobre os parmetros clnico-laboratoriais que envolvem osdistrbios respiratrios do sono, em especial o ronco e a sndrome da apneia obstrutiva dosono (SAOS). Os ortodontistas, que vm ocupando gradativamente seu espao em equipesmultidisciplinares que atuam na rea do sono humano, pouco conhecem sobre essa unifor-mizao coordenada pela Associao Brasileira de Sono. Os trabalhos clnicos e as pesquisascientficas oriundos da Odontologia, e em particular da Ortodontia, tambm devem ob-servar e seguir esses critrios de diagnstico e tratamento estabelecidos pela comunidademdica brasileira.Palavras-chave: Apneia do sono tipo obstrutiva. Ronco. Polissonografia.INTRODUOOs distrbios do sono podem ser agrupadose classificados de diversas formas. J foram reali-zadas trs classificaes e, atualmente, segue-se omanual da classificao internacional dos distr-bios do sono da Academia Americana de Medici-na do Sono publicado em 2005 (ICSD-2, 2005) 1 .Duas outras classificaes precederam essa, a de1979 2 e a de 1990 3 , sendo essa ltima revisada em1997 4 . Os distrbios do sono so classificados emoito grupos, sendo a sndrome da apneia obstrutivado sono (SAOS) classificada dentro do grupo II,como um distrbio respiratrio relacionado aosono, ao lado da sndrome da apneia central dosono, e das sndromes de hipoventilao/hipxiarelacionadas ao sono 1 .Os distrbios respiratrios relacionados aosono so prevalentes, mas nem sempre diagnos-ticados ou tratados adequadamente 5,6 . A SAOS uma das entidades clnicas mais encontradas napopulao e suas consequncias envolvem sono-lncia excessiva e risco de acidentes de trabalho ede trnsito, alm de dficits cognitivos e doenascardiovasculares 7,8,9 .*Professor Associado I - Disciplina de Ortodontia Depto. Clnica Odontolgica - Universidade Federal do Cear (UFC). Ps-Doutorando emMedicina e Biologia do Sono Depto. Psicobiologia - Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP-EPM).**Mestre em Reabilitao Oral (FOB-USP). Doutoranda em Medicina e Biologia do Sono - Depto. Psicobiologia - UNIFESP-EPM. ***Professora Associada Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Cear (UFC). Ps-Doutoranda em Medicina e Biologia do Sono Depto. Psicobiologia - Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP-EPM). ****Professor Titular - Depto. Psicobiologia - UNIFESP-EPM.*****Professora Adjunto - Livre Docente - Depto. Psicobiologia - UNIFESP-EPM.Dental Press J Orthode.12011 Jan-Feb;16(1):34.e1-10Consenso brasileiro de ronco e apneia do sono aspectos de interesse aos ortodontistasSndromes de Hipoventilao/Hipxia relacio-nadas ao sono devido a condies mdicas, e ou-tros Distrbios Respiratrios do Sono (Quadro2). Alguns desses distrbios, como a SACS e asSndromes de Hipoventilao, possuem subtiposque no so o foco desse texto, alm disso, soentidades clnicas em que o ortodontista no tematuao. Sendo assim, a nfase maior ser dada SAOS e aos distrbios respiratrios nos quais oortodontista tem atuao efetiva.O ronco primrio definido, segundo a Clas-sificao Internacional dos Distrbios do Sono(ICSD-2), como a presena de rudo caractersticode ronco durante o sono, na ausncia de alteraesna saturao da oxi-hemoglobina, nas variveis dasmedidas ventilatrias e no eletroencefalograma 4 .No ano de 2007, por iniciativa da AssociaoBrasileira do Sono, juntamente com a AcademiaBrasileira de Neurologia, a Associao Brasileirade Otorrinolaringologia e Cirurgia Crvico-Facial,a Sociedade Brasileira de Pediatria, a SociedadeBrasileira de Pneumologia e Tisiologia e a Socieda-de Brasileira de Neurofisiologia Clnica, buscou-seuniformizar no Brasil o diagnstico e tratamentoda SAOS em adultos, crianas e adolescentes. AOdontologia foi representada por trs cirurgies-dentistas pesquisadores da rea de sono convida-dos pela Associao Brasileira de Sono.Vrias reunies entre os membros das referidassociedades e investigaes em estudos da literatu-ra mdica nortearam as recomendaes deste con-senso. O documento final teve por base os nveisde evidncias de I a V detalhados no Quadro 1.O intuito do presente artigo esclarecer asorientaes das sociedades mdicas quanto aodiagnstico e condutas teraputicas dos distr-bios respiratrios do sono, delimitando a rea deatuao dos ortodontistas com base nos consensosmdicos e nos nveis de evidncia que nortearamos critrios estabelecidos.SNDROMES DA APNEIA CENTRAL DO SONOApneia Central do Sono PrimriaApneia Central do Sono causada pelopadro de respirao de Cheyne-StokesApneia Central do Sono causada pelarespirao peridica da alta altitudeApneia Central do Sono causada porcondies mdicas que no Cheyne-StokesApneia Central do Sono causada por drogas ou substnciasDistrbios Respiratrios do SonoOs distrbios respiratrios relacionados aosono so classificados em: Sndrome da ApneiaCentral do Sono (SACS), Sndrome da ApneiaObstrutiva do Sono (SAOS), Sndromes de Hi-poventilao/Hipxia relacionadas ao sono,Apneia do Sono Primria da Infncia (do recm-nascido)Sndromes da Apneia Obstrutiva do SonoApneia Obstrutiva do Sono, adultoApneia Obstrutiva do Sono, peditricaSndromes da Hipoventilao/Hipoxemia relacionadas ao sonoHipoventilao Alveolar no-obstrutiva relacionada ao sono,idiopticaSndrome da Hipoventilao Alveolar Central CongnitaDESENHO DO ESTUDO ( NVEIS DE EVIDNCIA) Sndromes da Hipoventilao/Hipoxemia relacionadas ao sonocausadas por condies mdicasEstudo randomizado, desenho bem elaborado,com baixos erros alfa e beta (I) Hipoventilao/Hipoxemia relacionadas ao sono causadas pordoenas do parnquima e vasculatura pulmonarEstudo randomizado, com erros alfa e beta altos (II) Hipoventilao/Hipoxemia relacionadas ao sono causadas porobstruo da via area inferiorEstudo no randomizado, com controle simultneo (III)Hipoventilao/Hipoxemia relacionadas ao sono causadas pordoenas neuromusculares e da caixa torcicaEstudo no randomizado, com controle histrico (IV)Estudo de sries de casos (V)Outros distrbios respiratrios relacionados ao sonoquadro 1 - Erro alfa: probabilidade (geralmente estabelecida como 95%) de que um achado significativo no seja resultado do acaso.Erro beta: probabilidade (geralmente estabelecida em 80%) de que umachado no significativo seja o resultado correto do estudo. O erro beta dependente do tamanho da amostra. Modificado de Sackett 10 .Dental Press J OrthodApneia do Sono/ Distrbios Respiratrios relacionados ao sono,inespecficosquadro 2 - Classificao dos distrbios respiratrios relacionados aosono 1 .e.22011 Jan-Feb;16(1):34.e1-10Chaves Junior CM, Dal-Fabbro C, Bruin VMS, Tufik S, Bittencourt LRAintervir, mas que precisa conhecer, principalmentequando necessita estabelecer diagnstico diferen-cial entre distrbios do sono.Possui seis subtipos: Apneia do Sono CentralPrimria; Apneia do Sono Central devida ao Pa-dro Respiratrio de Cheyne-Stokes; Apneia doSono Central devida respirao peridica de altaaltitude; Apneia do Sono Central devido condi-o mdica no Cheyne-Stokes; Apneia do SonoCentral devida a drogas ou substncias; e Apneiado Sono Primria da Infncia (Apneia do SonoPrimria do recm-nascido) (Quadro 2).As Sndromes de Hipoventilao/Hipxia re-lacionadas ao sono (causadas ou no por condi-es mdicas) constituem-se num captulo espe-cfico dentro dos distrbios respiratrios do sono,no menos importante, mas que sero apenasmencionadas (Quadro 2). Seu estudo necessita deuma abordagem especfica para que seja possvelconhec-las em profundidade.O ronco, assim como a presena de apneias, podeser exacerbado aps a ingesto de lcool ou do au-mento de peso.A Sndrome da Resistncia Aumentada da ViaArea Superior (SRVAS) uma condio em queocorre limitao ao fluxo areo e aumento da re-sistncia da via area superior (VAS), associados microdespertares, levando fragmentao do sonoe sonolncia excessiva. Por definio, essas altera-es ocorrem na ausncia de apneias, hipopneiase/ou dessaturao significativa da oxi-hemoglobi-na 11 . O aumento da resistncia da VAS avaliadopelo aumento do esforo respiratrio (medido,mais precisamente, atravs da presso esofgica ouindiretamente atravs da cnula nasal/ transdutorde presso). A SRVAS para a maioria dos pesqui-sadores considerada um estgio inicial da SAOS,com as mesmas caractersticas fisiopatolgicas.A SAOS uma doena de causa multifatorialno totalmente esclarecida, decorrente, em parte,de alteraes anatmicas da via area superior edo esqueleto craniofacial associadas a alteraesneuromusculares da faringe. caracterizada poreventos recorrentes de obstruo da via area su-perior durante o sono, associados a sinais e sinto-mas clnicos. A obstruo manifesta-se de formacontnua, envolvendo um despertar relacionadoao esforo respiratrio aumentado, uma limita-o, reduo (hipopneia) ou cessao completa(apneia) do fluxo areo na presena dos movi-mentos respiratrios. A interrupo da ventila-o resulta, em geral, em dessaturao da oxi-hemoglobina e, ocasionalmente, em hipercapnia.Os eventos so frequentemente finalizados pormicrodespertares 12 .Sndrome da Apneia Obstrutiva doSono (SAOS)Na SAOS, a obstruo na via area ocorre con-comitantemente ao esforo respiratrio contnuocom inadequada ventilao. As formas do adultoe da criana so identificadas separadamente porpossurem diferentes formas de diagnstico e tra-tamento. A abordagem do presente texto ser di-recionada para a SAOS em adultos, onde a sndro-me mais prevalente.SAOS no adulto caracterizada por episdios repetidos de obs-truo completa ou parcial da via area durante osono. Esses eventos, frequentemente, resultam emredues na saturao sangunea de oxignio e des-pertares associados ao seu trmino. Por definio,esses eventos devem durar pelo menos 10 segun-dos e podem ocorrer em qualquer estgio do sono,porm so mais comuns nos estgios N1 (estgio1 do sono no REM), N2 (estgio 2 do sono noREM), R (sono REM) do que no N3 (estgio 3 doSndrome da Apneia Central doSono (SACS) um distrbio respiratrio do sono no qualo esforo respiratrio est reduzido ou ausente,de forma intermitente ou cclica, devido disfun-o cardaca ou do sistema nervoso central 1 . No uma entidade clnica que o ortodontista possaDental Press J Orthode.32011 Jan-Feb;16(1):34.e1-10Consenso brasileiro de ronco e apneia do sono aspectos de interesse aos ortodontistasgordura na regio submentoniana e osso hioidedeslocado inferiormente 17,18 .Ms ocluses sagitais (ex.: Classe II com en-volvimento mandibular), verticais (mordidasabertas) ou mesmo transversais (mordida cruza-da, presena de palato ogival e atresia da maxi-la) podem estar relacionadas a um crescimentoinadequado das bases sseas maxilar e/ou man-dibular, devendo ser avaliado, principalmente, oenvolvimento esqueltico dessas.Uma anatomia desproporcional da cavidadebucal, seja por aumento de tecidos moles (princi-palmente do volume da lngua) ou por hipodesen-volvimento da estrutura ssea maxilomandibular,pode ser identificada aplicando-se a Classificaode Mallampati modificada. O paciente coloca-do em posio sentada, com a boca em aberturamxima e com a lngua relaxada, observando a di-menso com que a orofaringe est exposta, sendoento classificado de I a IV, de acordo com a visu-sono no REM, ou sono de ondas lentas). Quandoocorrem no sono REM, em geral so mais longos eassociados dessaturao mais grave. A saturaode oxihemoglobina geralmente volta aos valores denormalidade aps o retorno da respirao normal 13 .Os sintomas mais comuns so o cansao aoacordar e a sensao de sono no reparador (inde-pendentemente da durao do sono), sonolnciaexcessiva durante o dia e piora na qualidade devida 13 . O companheiro de quarto relata ronco, epi-sdios de engasgo ou parada respiratria, alm demovimentos frequentes que interrompem o sono 14 .Fatores predisponentes e associadosOs fatores predisponentes so: obesidade, prin-cipalmente central; sexo masculino; anormalida-des craniofaciais, como hipoplasia maxilomandi-bular; aumento do tecido mole e do tecido lin-foide da faringe; obstruo nasal; anormalidadesendcrinas, como hipotireoidismo; acromegalia; ehistria familiar. Os fatores associados so: hiper-tenso arterial sistmica (HAS), hipertenso pul-monar, arritmias cardacas relacionadas ao sono,angina noturna, refluxo gastroesofgico, prejuzona cognio e na qualidade de vida e insnia 12 .Exame fsico geralAs variveis antropomtricas (peso e altura),a circunferncia do pescoo e a presso arterialdevem ser mensuradas. Dentre essas variveisdo exame fsico, destacam-se como tendo maiorvalor preditivo, a circunferncia do pescoo, ondice de massa corprea e a presena de hiper-tenso arterial 15,16 .

Avaliao craniofacial e da viaarea superior fundamental avaliar a morfologia craniofacialde cada indivduo, detectando alteraes do desen-volvimento da maxila (hipoplasia) e da mandbula(deficincia ou retroposio mandibular) (Fig. 1).Pacientes obesos com concentrao de gordura nonvel do tronco comumente apresentam pescoocurto, circunferncia cervical alargada, excesso deDental Press J OrthodFigura 1 - Paciente com SAOS grave. Morfologia craniofacial e cer-vical evidenciando um padro de Classe II com envolvimento da basessea mandibular, pescoo curto, circunferncia cervical alargada eexcesso de gordura na regio submentoniana.e.42011 Jan-Feb;16(1):34.e1-10Chaves Junior CM, Dal-Fabbro C, Bruin VMS, Tufi k S, Bittencourt Lraalizao maior ou menor do bordo livre do palatomole em relao base da lngua (Fig. 2). Deve-seavaliar, tambm, o tamanho das tonsilas palatinas(Fig. 3); o aspecto dos pilares, que podem ser volu-mosos e medianizados; da vula e do palato mole,que podem contribuir com a diminuio do espa-o retropalatal, principalmente se forem espessose alongados 17,18 . Tanto o exame que verifi ca a pro-poro entre os tecidos moles da cavidade bucalcom a orofaringe (classifi cao de Mallampati),bem como a avaliao das tonsilas palatinas sorealizados preferencialmente e rotineiramente porotorrinolaringologistas, mas podem ser realizadostambm em cadeiras odontolgicas.A nasofaringolaringoscopia e a cefalometriaso exames complementares, recomendados paraa avaliao da via area superior. O primeiro re-alizado exclusivamente por profi ssionais mdicose trata-se da avaliao endoscpia da via areasuperior (VAS), devendo ser realizado para iden-tifi car obstrues que possam contribuir para afi siopatologia da SAOS ou prejudicar a adapta-o ao CPAP (aparelho de presso positiva na viaarea). Com o endoscpio fl exvel avalia-se a re-lao espacial do palato mole e da base da lnguacom a parede posterior da faringe, e as alteraesanatmicas das estruturas da faringe. Alm dosfatores anatmicos, pode-se avaliar a tendnciade colapso e fl acidez do tecido mole da faringegrau Iatravs da inspirao forada com ocluso daboca e das narinas, criando uma presso negativadentro da VAS (Manobra de Mller).No entanto, a deteco do ponto de colapsoClasse IClasse IIClasse IIIClasse IVFIgura 2 - ndice de Mallampati modificado: Classe I visualiza-setoda a parede posterior da orofaringe, incluindo o plo inferior dastonsilas palatinas; Classe II visualiza-se parte da parede poste-rior da orofaringe; Classe III visualiza-se a insero da vula e opalato mole, no sendo possvel evidenciar-se a parede posterior daorofaringe; Classe IV visualiza-se somente parte do palato molee o palato duro.grau IIgrau IIIgrau IVFIgura 3 - graduao das tonsilas palatinas: grau I tonsilas palatinas ocupam at 25% do espao orofarngeo; grau II tonsilas palatinas ocupam entre25% e 50% do espao orofarngeo; grau III tonsilas palatinas ocupam entre 50% e 75% do espao orofarngeo; grau IV tonsilas palatinas ocupam mais de 75%do espao orofarngeo.Dental Press J Orthode.52011 Jan-Feb;16(1):34.e1-10Consenso brasileiro de ronco e apneia do sono aspectos de interesse aos ortodontistas eletromiograma de membros inferiores (ms-culo tibial anterior bilateralmente); fluxo areo nasal e oral registrado por sensoresdo tipo termstor ou termopar; registro de presso nasal obtido por transdutorde presso; registro do movimento torcico e abdominal pormeio de cintas de indutncia e piezo-eltricas; eletrocardiograma; oximetria digital; registro de ronco com microfone traqueal; registro de posio corporal.Os principais critrios de diagnstico e de gravi-dade das SAOS se encontram nos Quadros 3 e 4 1,12 :o diagnstico da SAOS no adulto requer a presenados critrios A+B+D ou C+D (Quadro 3).

Tratamento com aparelhosintra-oraisOs aparelhos intra-orais (AIO) se constituemem uma opo, com altos nveis de evidncia, paratratamento dos distrbios respiratrios do sono.Os tratamentos com aparelhos de presso positivana via area (como o CPAP), tratamentos cirrgi-cos de tecidos moles farngeos e/ou esquelticosfaciais tambm fazem parte do arsenal teraputicoda VAS bastante subjetiva e inespecfica, e a im-portncia da Manobra de Mller na avaliao dopaciente com SAOS tem sido questionada 19 . A ce-falometria pode auxiliar na identificao de stiosobstrutivos farngeos, assim como contribuir paraa avaliao do espao posterior da VAS, do com-primento do palato mole, posio do osso hioide,e na verificao do padro de crescimento e posi-cionamento espacial da maxila e da mandbula. Opresente consenso estabeleceu que a cefalometriano deve ser um exame de rotina para avaliaodo paciente com SAOS. Isso significa que no obrigatria a solicitao de telerradiografia cefalo-mtrica. Porm, indica que nos casos de suspeitade dismorfismo craniofacial (anormalidades mor-folgicas craniofaciais), o mtodo preferencial deavaliao a cefalometria 19 . Devemos lembrarque a SAOS possui etiologia multifatorial, e que acefalometria no um mtodo capaz de predizera gravidade ou a presena da doena. um exameimportante nos casos que envolvem cirurgia or-togntica e para acompanhamento de possveis al-teraes na posio de estruturas dentoesquelti-cas provocadas pelos aparelhos intra-orais. Outrosexames de imagem, como as tomografias compu-tadorizadas e a ressonncia magntica, tambmso usados como mtodos complementares na vi-sualizao de estruturas da via area de pacientescom distrbios respiratrios do sono.

DiagnsticoO estudo polissonogrfico (PSG) de noite in-teira, realizado no laboratrio sob superviso deum tcnico habilitado em polissonografia, cons-titui o mtodo diagnstico padro para a avalia-o dos distrbios respiratrios do sono (nvel deevidncia I) 20 . Recomenda-se um registro de pelomenos 6 horas, com a monitorizao mnima dosseguintes parmetros: eletroencefalograma: eletrodos F3, C3, O1 ecom referncia na mastoide contralateral; eletro-oculograma esquerdo e direito; eletromiograma da regio mentoniana;Dental Press J OrthodCritrios (A + B + D) ou (C + D)A) No mnimo uma queixa: Episdios de sono no intencionais durante a viglia, sonolnciadiurna excessiva (SDE), sono no reparador, fadiga ou insnia Acordar com pausas respiratrias, engasgos ou asfixia Companheiro relata ronco altoe/ou pausas respiratrias no sonoB) PSG: cinco ou mais eventos respiratrios detectveis (apneiase/ou hipopneias e/ou despertares relacionados a esforo respiratrio)por hora de sono. Evidncia de esforo respiratrio durante todo ouparte de cada eventoC) PSG: quinze ou mais eventos respiratrios detectveis (apneiase/ou hipopneias e/ou despertares relacionados a esforo respiratrio)por hora de sono. Evidncia de esforo respiratrio durante todo ouparte de cada eventoD) O distrbio no pode ser melhor explicado por outro distrbiodo sono, doenas mdicas ou neurolgicas, uso de medicaes oudistrbio por uso de substnciasquadro 3 - Critrios de diagnstico da SAOS.e.62011 Jan-Feb;16(1):34.e1-10Chaves Junior CM, Dal-Fabbro C, Bruin VMS, Tufik S, Bittencourt LRASAOSLevedar apropriadamente o paciente e encaminharao mdico. Solicitar exame polissonogrfico quando julgarnecessrio. Iniciar e monitorar o tratamento com AIOcomo parte da conduta conjunta com o m-dico. Monitorar e tratar potenciais efeitos colateraisdos AIOs. Realizar o acompanhamento em longo prazodo paciente em tratamento com AIO. Estar envolvido em equipes multidisciplinaresno manejo cirrgico dos pacientes com distr-bios respiratrios do sono, em especial quandohouver necessidade de cirurgia ortogntica. Trabalhar em crianas ou adolescentes de formapreventiva ou interceptora, promovendo cresci-mento sseo adequado para minimizar os com-ponentes anatmicos de um quadro futuro deronco e SAOS; ou em crianas j diagnostica-das com ronco ou SAOS, realizando tratamentoortodntico-ortopdico facial indicado.PSG: IAH maior ou igual a 5 e menor ou igual a 15 sonolncia diurna ou episdios de sono involuntriosocorrem durante atividades que requerem poucaateno, como assistir televiso, ler ou andar deveculo como passageiro; sintomas produzem discreta alterao da funosocial ou ocupacional.SAOSModerada PSG: IAH maior que 15 e menor ou igual a 30 a sonolncia ou os episdios involuntrios do sonoocorrem durante atividades que requerem algumaateno, como assistir a eventos sociais; sintomas produzem alterao na funo social ouocupacional.SAOSGrave PSG: IAH maior que 30 a sonolncia diurna ou os episdios de sonoinvoluntrios ocorrem durante atividades querequerem maior ateno, como comer, conversar,andar ou dirigir; sintomas provocam marcante alterao na funosocial ou ocupacional.quadro 4 - Critrios de gravidade da SAOS (PSG = polissonografia; IAH= ndice de apneia e hipopneia).para os distrbios respiratrios que acontecem du-rante o sono. Essas modalidades de tratamento nosero abordadas aqui, pois os ortodontistas utili-zam como ferramenta teraputica principalmenteos aparelhos intra-orais.Os parmetros utilizados atualmente na con-duo do tratamento com AIOs so os sugeridospela literatura mais recente e pelos consensos eforas-tarefa 21-26 . Caso seja indicado o tratamen-to com AIO, feito o encaminhamento mdicopor escrito ao cirurgio-dentista. Fazem parte daabordagem odontolgica a anamnese, o examefsico, a indicao do tratamento (ou contraindi-cao e retorno do paciente para o mdico), aconfeco e instalao do AIO, o retorno e ma-nuteno do tratamento, alm do acompanha-mento e tratamento de possveis efeitos colate-rais, modificaes no AIO e retorno ao mdicopara verificao da eficcia do tratamento. Paraos casos em que houve sucesso com o tratamen-to, o acompanhamento em longo prazo se tornaessencial 19,26 .Dessa forma, fica bem definido o papel do ci-rurgio-dentista para: Reconhecer um possvel distrbio do sono e/oufatores de risco associados, orientar e recomen-Dental Press J Orthod Pr-requisitosEstabelecer a condio basal, ou seja, a pre-sena e gravidade da SAOS, suas complicaes eos pacientes de risco. Essa avaliao inicial deveser obtida pelo mdico atravs da consulta clnicae do exame de polissonografia. Havendo indica-o mdica para o tratamento com AIO, o pa-ciente ser encaminhado ao cirurgio-dentista, oqual, por sua vez, verificar se o paciente possuiadequadas condies odontolgicas para terapiacom AIO 14,19,21-24,26 .

Adaptao do AIOA indicao, confeco e adaptao do AIOmais adequado a cada paciente devem ser conduzi-das por um cirurgio-dentista com treinamento notratamento e acompanhamento dos distrbios res-piratrios do sono (nvel de evidncia l). Esse pro-fissional deve estar apto a conduzir o caso, sendocapaz de avaliar as complicaes e efeitos colateraise.72011 Jan-Feb;16(1):34.e1-10Consenso brasileiro de ronco e apneia do sono aspectos de interesse aos ortodontistasFigura 4 - Aparelho BRD (Brazilian Dental Appliance): aparelho reposi-cionador mandibular para tratamento de ronco e SAOS 27 . Figura 5 - Aparelho TRD (Tongue Retaining Device): aparelho retentorlingual 26 .a que esses pacientes podem estar expostos, como:alteraes oclusais, disfunes temporomandibula-res e eventuais danos a estruturas associadas. im-portante ressaltar que a obteno da posio finalteraputica do AIO constitui um delicado equil-brio entre eficcia e efeitos colaterais 21,22,26 .

Indicaes do AIO PrimriasPacientes com Ronco primrio, SRVAS eSAOS leve a moderada (nvel de evidncia I) 21-24 . Secundrias (nvel de evidncia II e III)Pacientes com SAOS moderada a grave:1. que no aceitam o CPAP;2. que so incapazes de tolerar o tratamentocom CPAP;3. em que houve falncia no tratamento comCPAP ou comportamental;4. coadjuvante ao tratamento cirrgico.Sendo confirmada a indicao do AIO, deve-mos optar entre um aparelho reposicionador man-dibular (ARM) e um retentor lingual (ARL), queso as duas categorias disponveis atualmente (Fig.4, 5). Os ARMs de ajuste progressivo apresentam,atualmente, evidncia cientfica tanto para uso notratamento do ronco como da SAOS, enquanto osARLs possuem evidncia somente para ronco, es-pecialmente em condies de edentulismo 21-24,26 . Contraindicaes do AIO(nveis de evidncia II e III) 21-24 quadro de apneia do sono predominantementecentral; doena periodontal ativa ou perda sseaacentuada; disfuno temporomandibular grave.Dental Press J Orthod Objetivos do AIO (nvel de evidncia I)Em pacientes com ronco primrio sem SAOSou SRVAS: reduzir o ronco a um nvel subjetiva-mente aceitvel.Em pacientes com SAOS: resoluo dos sinais esintomas clnicos e normalizao do IAH, da satu-rao de oxi-hemoglobina e fragmentao do sono. Acompanhamento (nvel de evidncia I) 21-24,26 importante ficar claro que os AIOs seconstituem em uma forma de tratamento con-tnuo e por tempo indefinido.Pacientes com ronco primrio: recomen-dado o acompanhamento clnico odontolgico,sem necessidade de acompanhamento polisso-nogrfico.Pacientes com SRVAS ou SAOS (qualquergravidade): a polissonografia com o AIO na po-sio final indicada para assegurar benefcioteraputico satisfatrio.e.82011 Jan-Feb;16(1):34.e1-10Chaves Junior CM, Dal-Fabbro C, Bruin VMS, Tufik S, Bittencourt LRAcer em profundidade os parmetros de diagns-tico clnico-laboratoriais adotados, as definiesestabelecidas e os limites de sua rea de atuaojunto s equipes multidisciplinares que acompa-nham e tratam distrbios respiratrios do sono.O ortodontista pode solicitar avaliao polis-sonogrfica quando julg-la necessria, sendo odiagnstico definitivo dos distrbios do sono, desua gravidade e a avaliao das comorbidades atri-buies do mdico, com base nos achados polis-sonogrficos. O ortodontista muito importantena identificao de stios obstrutivos farngeos, naavaliao e tratamento ortopdico e/ou cirrgicodas desarmonias maxilomandibulares, bem comona terapia da SAOS com aparelhos intra-orais. Aps ajustes finais e comprovao da eficciacom a polissonografia: Acompanhamento odontolgico: a cada seismeses no primeiro ano e, depois, anualmente. Ointuito monitorar a adeso, avaliar a deterioraoou o desajuste do AIO, avaliar a sade das estru-turas orais e a integridade da ocluso, e abordar ossinais e sintomas da SAOS. Acompanhamento mdico: reavaliao clni-ca peridica e polissonogrfica quando o mdicojulgar necessrio.ConclusesO ortodontista que atua ou pretende atuar narea de sono precisa, fundamentalmente, conhe-Brazilian consensus of snoring and sleep apnea aspects of interestfor orthodontistsAbstractThe objective of this article is to clarify the positions of the medical societies that have worked together to establisha consensus regarding the clinical and laboratory parameters involved in sleep-disordered breathing, particularlysnoring and obstructive sleep apnea syndrome (OSAS). Orthodontists have gradually come to take part in multidis-ciplinary teams that act in the area of human sleep, but few know about the uniformity coordinated by the BrazilianAssociation of Sleep. Clinical and scientific studies from the field of dentistry (particularly orthodontics) also mustobserve and follow these diagnosis and treatment criteria established by the Brazilian medical community.Keywords: Sleep apnea. Obstructive. Snoring. Polysomnography.Referncias1. American Academy of Sleep Medicine. ICSD-2. InternationalClassification of Sleep Disorders. Diagnostic and CodingManual. 2 nd ed. Westchester: American Academy of SleepMedicine;2005.2. Sleep Disorders Classification Committee. DiagnosticClassification of Sleep and Arousals Disorders. 1979. 1 st ed.Association of Sleep Disorders Centers and the Associationfor the Psychophysiological Study of Sleep. Sleep. 1979Autumn;2(1):1-154.3. Diagnostic Classification Steering Committee. InternationalClassification of Sleep Disorders. Diagnostic and CodingManual. Rochester: American Sleep Disorders Association;1990.Dental Press J Orthod4.International Classification Sleep Disorders. Diagnostic andCoding Annual. Diagnostic Classification Steering Committee.Rochester: American Sleep Disorders Association; 1990.5. Conway SG, Tufik S, Frussa Filho R, Bittencourt LR.Repercussions of a sleep medicine outreach program. 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