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CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS TRANSFORMAÇÕES NO CAMPO A PARTIR DO TURISMO DE VERANEIO
Livia Guilardi Universidade Federal de Santa Catarina-UFSCi
Resumo O presente artigo trata da reestruturação do ambiente rural no município de Garopaba/SC, a partir do desenvolvimento no litoral catarinense do turismo de massa. Discutimos a redução da produção agrícola, em detrimento do emprego nas atividades relacionadas ao turismo, a construção civil, e do parcelamento das terras em virtude da pressão imobiliária, acelerada pelo processo de urbanização. O espaço local está sendo recebendo novos significados, incorporados em novas relações entre o campo e a cidade.
Palavras-chave: Relações Campo-Cidade. Produção do Espaço. Multifuncionalidade
.
Introdução
A partir das transformações na organização social de Garopaba/SC pelo
desenvolvimento de sua economia pautado no turismo de massa, usufruindo de suas
belezas naturais, refletimos aqui acerca das novas características observadas no meio
rural, partindo da relação campo-cidade que se conforma.
Até a década de 1970 o município caracterizava-se como uma vila de pescadores com
meio rural ocupado pela produção agrícola familiar, e níveis de subsistência.
Como conseqüência do desenvolvimento industrial brasileiro, o litoral de Santa Catarina
teve sua organização sócio-econômica, e conseqüentemente sua organização espacial,
fortemente alterado devido o desenvolvimento do turismo de massa, com a atividade de
veraneio.
Abordaremos aqui, as alterações no meio rural, ocasionadas pelo desenvolvimento da
atividade, bem como, do processo de urbanização por ela desencadeadoii.
Características da organização social de Garopaba/SC
Garopaba está situada no litoral centro-sul de Santa Catarina, possui área de 108,1 Km²,
com aproximadamente 60% de sua superfície montanhosa, sua costa é formada por
enseadas recortadas, suas planícies caracteriza-se pela presença de banhados e pela
formação de lagoas.
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Seu território foi colonizado a partir do século XVIII, por imigrantes das Ilhas dos
Açores, por meio de um Projeto que combinava a produção de óleo de baleia para o
mercado internacional, e a pequena produção mercantil, de pescados e manufatura
agrícola (sobretudo farinha de mandioca) para abastecer o mercado interno.
A decadência da produção de óleo de baleia e a reestruturação do mercado interno
regional, a partir da imigração de europeus, sobretudo alemães, além de outros fatores,
fizeram com que o litoral centro-sul catarinense se caracterizasse como uma formação
social atrasada, com economia majoritariamente de subsistência.
Portanto, a partir de sua gênese a organização socialiii do litoral centro-sul catarinense,
caracterizava-se até meados do século XX, como uma economia agrícola e pesqueira,
tendo como principal produto agrícola a farinha de mandioca. O município de Garopaba
estava integrado a essa economia, a qual pode ser caracterizada como uma economia de
subsistência.
Nesse período Garopaba era uma vila de pescadores, com o interior ocupado pela
produção agrícola, com cultivos variados, como banana, feijão, arroz, cana-de-açúcar e
mandioca. A pesca era, e ainda o é, realizada nos rios, lagoas e no mar.
Pescadores interagiam com a população do interior trocando o pescado por farinha de
mandioca e outros produtos alimentícios. A circulação de moeda era pequena, existindo
poucas casas de comércio as quais também realizavam trocas de mercadorias, como
tecido, óleo para lamparinas entre outros, por produtos oriundos da produção agrícola e
da pesca.
Além da produção agrícola, o pequeno produtor, independente e autônomo, realizava
outras produções manufaturadas “[...] engenhos de açúcar, de farinha, alambiques,
confecção de roupas em teares próprios, produção de móveis, louças de barro,
ferramentas, utensílios caseiros, etc., o que reduzia a relação de consumo do campo para
com a cidade [...]” (CAMPOS, 1991, p.26), notando-se assim a auto-suficiência dos
pequenos produtores.
Tal constatação nos permite utilizar o termo, sugerido por Rangel, complexo rural para
classificar a organização em que se insere tanto o pescador quanto o pequeno produtor
rural, uma vez que a “[...] estrutura interna da unidade seminatural como um complexo
de atividades integradas vertical e horizontalmente, incluindo desde a produção de
matéria-prima até a elaboração final e não somente de um produto, mas de muitos [...]
(RANGEL, 2005, p. 98). Integra em sua unidade produção e consumo e, ao produzir se
ocupa de inúmeros produtos, compondo assim, um complexo rural.
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A fonte de recursos se dava pela comercialização do excedente produzido tanto do
pescado quanto da farinha de mandioca, os quais eram comprados nas praias por
atravessadores ou levados ao mercado de Florianópolis (antiga Desterro), em sua
maioria, transportados pelo mariv.
Nas pequenas propriedades o trabalho empregado era a mão-de-obra familiar, havendo
divisão sexual do trabalho, e pouca especialização produtiva e, sendo o excedente, o
qual variava devido a fatores endógenos a formação social, destinado ao escambo, como
no caso dos pescadores, ou do comércio ao longo da costa ou para exportação.
[...] a garantia da reprodução de sua unidade em função do abastecimento que realizavam às populações instaladas ao longo da orla marítima catarinense, como também fornecendo provisões às classes abastadas que gravitavam em torno da burocracia político-militar, além dos armazéns reais, estabelecidos em Desterro. (SILVA, 1992, p. 65-66)
O escoamento da produção de farinha era realizado por meio do transporte de
cabotagem por via fluvial, até Laguna, e pelo mar, até os portos de Imbituba e
Florianópolisv.
Como notamos, o espaço era dividido entre as atividades agrícolas e pesqueiras,
configurando uma organização social integrada a formação social brasileira. Sua
colonização deu-se a partir de uma manufatura de exportação, o óleo de baleia
combinada a produção de pescado, comercializado seco, e de farinha de mandioca,
exportada via cabotagem para o abastecimento do mercado interno colonial e
posteriormente do império e da república. Caracterizava-se, na divisão territorial do
trabalho como fornecedora de alimentos para o mercado interno, sendo uma economia
de baixo dinamismo interno.
Logo, tal configuração econômica compunha inicialmente a economia do Brasil colônia,
mantendo-se durante o Império, República Velha e Nova, quando a economia brasileira
era, sobretudo, agroexportadora, sofrendo alterações estruturais que acompanharam o
desenvolvimento industrial brasileiro, já em fase avançada.
O processo de transformação dessa organização foi impulsionado pela ascensão do
turismo de massa em virtude de suas belezas naturais (praias, lagunas e cachoeiras) e o
aspecto bucólico de uma formação social atrasada. O turismo foi viabilizado, em termos
econômicos, pelo crescimento econômico brasileiro vultoso do período (Milagre
Econômico) que aumentou o poder de consumo da classe média, e, em grande medida
pelo desenvolvimento da região sul que estava integrado à indústria nacional (o turista
que se direciona a Garopaba é, na maioria, originário do Rio Grande do Sul).
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O dinamismo econômico propiciado pelo desenvolvimento industrial brasileiro nos
estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, em fase de expansão produtiva
direcionada ao consumo de bens duráveis, enfocando a massificação do consumo, bem
como elevação do nível de renda em regiões industrializadas, permitiu, acompanhando a
economia nacional, o desenvolvimento do turismo voltado para o consumo de massa, a
partir do aumento do extrato populacional de renda média alta.
Acompanhando a industrialização, a aceleração das taxas de urbanização, direcionada,
sobretudo aos centros industriais, como oferta de mão-de-obra, configura um dos fatores
importantes ao entendimento das questões aqui levantadas. O litoral catarinense
diferencia-se por não acompanhar o desenvolvimento industrial brasileiro, porém, o vale
do Itajaí, ao norte do estado, sua principal região, bem como o Rio Grande do Sul
apresentava promissora industrialização, acompanhando o desenvolvimento nacional.
No litoral central está alocada a sede administrativa do governo estadual, Florianópolis,
a qual, a partir da década de 1950, devido à oferta de serviços que centraliza num
primeiro momento, acompanha, de forma menos acelerada o aumento populacional nas
maiores cidades e, conseqüentemente seu processo de urbanização, num segundo
momento acelerado devido ao desenvolvimento do turismo.
A efetivação de políticas voltadas à integração do estado, de Santa Catarina, e da nação,
Brasil, visando melhor oferta de infra-estrutura para o desenvolvimento industrial
possibilitaram novo dinamismo econômico ao litoral catarinense, primeiramente, em
Florianópolis, dada sua posição de sede administrativa, e posteriormente na orla
litorânea, devido o desenvolvimento do turismo.
A opção pelo transporte terrestre como meio de integração das regiões produtoras,
permitiu a integração entre os vales litorâneos, como o do Itajaí, as cidades do litoral.
Dessa forma, As obras de integração nacional, com destaque para a construção de
rodovias, permitiram o acesso à exploração das belezas naturais do litoral catarinense.
Até então, Garopaba se comunicava com os municípios vizinhos por meio de caminhos
para carros de boi, transporte fluvial e marítimo.
A construção de acesso rodoviário à Garopaba, por meio da construção de uma rodovia
estadual, SC-434, que liga a comunidade do Centro, enseada de Garopaba, a Araçatuba,
possibilitando o acesso a Laguna e Imbituba, por via terrestre e, a interligação entre
Garopaba e Paulo Lopes, no caminho pelo Costão do Siriú e da Gamboa, construídas na
década de 1940, e, a inauguração da interligação que viria a ser a rodovia federal BR
101, concluída na década de 1970, expuseram a costa litorânea e seus atrativos naturais,
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ao conhecimento geral, e viabilizaram o desenvolvimento do turismo em todo o litoral,
por ofertar a infra-estrutura necessária para o deslocamento do turista, inclusive
Garopaba.
O fortalecimento da atividade do setor terciário transformou a organização espacial
local pela oferta de infra-estrutura, visando atender as demandas para receber os
visitantes, assim como a construção de segundas residências destinadas para o veraneio.
Além disso, acarretou a migração para o município e região, o que ocasionou o aumento
significativo da população e, conseqüentemente da urbanização. Logo, o processo de
urbanização de Garopaba, teve como determinante estrutural, o desenvolvimento do
setor terciário, pautado no turismo de veraneio.
Os reflexos de tal fenômeno se fizeram sentir em Garopaba a partir da década de 1970,
com maior impulso na década de 1980.
A possibilidade de desfrutar das belezas naturais presentes no litoral, expressas em suas
enseadas, lagoas, rios e cachoeiras, bem como na mata preservada, além da
tranqüilidade da vivência na vila de pescadores, como era Garopaba, ou em suas outras
comunidades, atraiu a atenção de veranistas, sobretudo oriundos do Rio Grande do Sul.
O resultado foi um processo de reestruturação do espaço do município, que alterou a
organização social local, tendo efetuado, uma reestruturação do espaço, bem como das
relações sociais e das forças produtivas.
Notável, como conseqüência do desenvolvimento do turismo são os novos usos
designados ao espaço, entendido aqui como reprodutor das relações sociais, sendo este
socialmente produzido. (LEFEBVRE, 1969)
A praia, passando a ser ambiente de lazer, a construção de segundas residências,
alterando a organização espacial, a construção de infra-estrutura para receber os turistas,
são fatores das mudanças, mas, sobretudo, o novo desenho das relações sociais que se
coloca, acarretaram na abertura do complexo rural e, no surgimento de novas relações
de trabalho.
Assim, a reestruturação da economia local, acarreta na alteração das relações sociais
vigentes e de sua interação com as forças produtivas.
Vimos que a economia local baseava-se na produção agrícola e pesqueira voltadas para
a de subsistência, com comercialização do excedente, com pouca circulação de moeda e
inexpressível consumo de produtos industrializados.
Segundo relatos de moradores que vivenciaram o período, a opção por uma fonte de
renda externa à agricultura ou à pesca, teve primeiro impulso com a construção da
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rodovia estadual SC-434, a qual empregou mão-de-obra local, e posteriormente, ou
concomitantemente, da BR-101.
Dessa forma teve início a abertura do complexo rural, partindo membros da família para
o trabalho assalariado e, conseqüentemente, devido a redução da mão-de-obra houve
queda da produção agrícola.
Um segundo momento pode ser pontuado com a chegada de veranistas. Segundo os
moradores, como não havia infra-estrutura para recebê-los, num primeiro momento,
moradores da vila de Garopaba, alugavam suas residências (fato que ainda se verifica)
para os turistas, os quais passaram a adquirir propriedades para a construção de
segundas residências.
Aqui notamos duas novas possibilidades de auferir renda por parte dos habitantes locais,
o aluguel de residências para veraneio e a venda de terrenos.
Dessa forma, foi se alterando a organização social local, adquirindo a população novos
hábitos para a reprodução da vida, ou para a geração de renda, e de consumo, e,
constituindo-se, então o turismo como setor de maior importância em sua economia.
A aquisição de terrenos por parte dos veranistas e a construção de segundas residências,
por estes para desfrutar dos atrativos, resultou em novas possibilidades de geração de
emprego e renda. De um lado a possibilidade de parcelamento das terras e sua venda,
como fonte de renda, e de outro, o emprego na construção civil, bem como na
manutenção das residências.
A baixa densidade demográfica, com alta oferta de terras a baixos valores, no início do
desenvolvimento do turismo, combinada com o baixo nível de renda da população local,
caracterizaram terreno fértil para a especulação imobiliária e para a tendência de
crescimento dos valores dos terrenos, atualmente com preços exorbitantes.
Para compreendermos a aplicação da aquisição de terras visando especulação, ou
reserva de valor, observamos a tendência do direcionamento de investimentos em áreas
voltadas para o turismo, com grandes possibilidades de acelerada valorização,
destacamos a conjuntura econômica nacional, a qual tem tido queda dos investimentos
industriais desde a década de 1980, havendo a preferência pelos investimentos em
imóveis ou financeiros.
Temos assim, elementos que impulsionam a reestruturação da organização social
e acarretaram em novas relações sociais, bem como a relação campo-cidade, ou a
reestruturação do campo. Além disso, paralelo ao desenvolvimento das atividades do
turismo de massa, a indústria do surf desenvolveu-se com maior importância, mas em
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torno da construção civil vem-se desenvolvendo a produção voltada para atender esse
mercado. (VALENTIM, 2007)
As oportunidades de emprego geradas pelo desenvolvimento da atividade, seja nos
serviços oferecidos ou na construção civil, atraiu migrantes para o município, como
podemos notar nos dados abaixo. Além dos migrantes atraídos pelas oportunidades de
trabalho, há os que investem na construção de infra-estrutura, e aqueles que migram em
busca de tranqüilidade e bem-estar, como aposentados, por exemplo.
A presença de maior número de moradores acelerou o processo de urbanização, alterou
os costumes locais e contribui para a inserção dos moradores locais no mercado
consumidor nacional, ou no consumo de massa.
Os dados abaixo demonstram a taxa de crescimento da população urbana, em
detrimento da rural.
Síntese Demográfica 1970 1980 1991 2000 2010 População Total 7.458 8.237 9.918 13.164 18.144 Masculina 3.903 4.311 5.180 6.803 9.133 Feminina 3.555 3.926 4.738 6.361 9.011 Urbana 1.851 2.922 5.178 10.722 15.326 Rural 5.607 5.315 4.740 2.442 2.628 Taxa de Urbanização 24,80% 35,50% 52,20% 81,40% -84,50%
Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Censos Demográficos 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010.
A análise dos dados a primeira vista expressa o crescimento da população do município,
devido a natalidade e a migração, notavelmente a inversão da população urbana como
maioria em relação a rural ao longo dos anos. Mas há um aspecto importante a
considerarmos, a alteração dos espaços, antes rurais e destinados a produção agrícola,
para espaços urbanos, acompanhando o processo de urbanização.
Aquele processo de parcelamento das propriedades iniciado junto às praias alcançou as
áreas rurais, destinando-se tanto a segundas residências, como a moradias ou a
especulação imobiliária. Fato esse, que como vimos, transforma as relações de trabalho
no campo, ou no meio rural, passando seus habitantes a exercerem outras ocupações,
não agrícolas, ou a sobreviverem da renda dos recursos oriundos do parcelamento das
terras.
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Esse aspecto pode nos ser importante para compreendermos a alterações no campo no
município, o vemos como questão central relacionada o entendimento das razões que
levaram ao abandono da agricultura como fonte de renda.
Limites ao desenvolvimento ou a continuidade da agricultura agrícola no
município
Para delinear os limites ao desenvolvimento da atividade agrícola no município
levantamos algumas questões que pensamos serem relevantes.
Como um dos fatores históricos, já anterior ao desenvolvimento do turismo, limitantes a
expansão da produção agrícola encontramos o fracionamento das propriedades devido
ao sistema de sucessão de terras, desde o período colonial reduzia as possibilidades de
expansão da propriedade e, conseqüentemente, da produção.
Combinado a isso, o sistema produtivo adotado, sistema de rotação de terras primitivo,
levava ao rápido esgotamento do solo, havendo necessidade da expansão da área para a
produção, que, não respondida ocasionava o empobrecimento das famílias produtoras.
(WAIBEL, 1988)
A posse da terra era concedida pela Coroa por meio da data da terravi vinculada ao
sistema de sucessão de terras, segundo o qual os filhos dos colonos, os filhos herdavam
parte das terras, o que parcelava as áreas de cultivo. (CAMPOS, 1991) A redução da
área para cultivo combinada ao fato da utilização de um sistema agrícola extensivo,
acarretava na queda da produtividade dado o desgaste do solo. O que com o passar dos
anos foi determinante ao empobrecimento dessa população.
A relação entre os fatores acima mencionados e a pressão sobre as terras promovida
pela especulação imobiliária, juntamente com as oportunidades de emprego geradas
pela atividade do turismo, alteraram a relação dos habitantes da zona rural com o
campo, tendo o trabalho agrícola fonte secundária, ou inexistente de renda dessas
famílias. Para exemplificar a situação, segundo dados coletados por Santin (2005), nas
cinco comunidades com maior prática agrícola, 125 famílias viviam com maior parcela
da renda centrada na agricultura.
Desde 2003 vem se desenhando um novo ramo de atuação para os agricultores locais, a
produção agroecológica, com importante incentivo do escritório municipal da Empresa
de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), voltada,
sobretudo para a produção de hortaliças, direcionada ao mercado interno. Organizados
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em associação contava, em 2009, com dez produtores. (Epagri, 2009) A importância de
tal atividade manifesta-se pela oportunidade de abastecimento do mercado local, o qual,
supre sua demanda majoritariamente com a oferta de produtos comercializados na
CEASA (Centrais de Abastecimento do Estado de Santa Catarina).
Tais fatores caracterizam o campo, ou a zona rural do município como zona de
residência de trabalhadores urbanos, que devido a sua origem rural, identificam-se como
rurais, mantendo como atividade complementar a renda ou para o consumo, a produção
de hortaliças, gado, mandioca, entre outros.
Além desses, migrantes habitam a zona rural.Tendo o espaço ou meio rural, inter-
relação direta com o ambiente urbano, seja por localizar esse o emprego, seja por ser
aquele local de residência e não mais de residência e produção. Ou mesmo o ambiente
rural se organiza com características semelhantes, ou que se confundem com o ambiente
urbano, não havendo clara separação entre eles.
Mas o ambiente urbano também possui características do meio rural, sendo freqüente a
presença de gado, ou o cultivo de mandioca ou hortaliças, em terrenos sem construção,
ou mesmo de engenhos de farinha, inclusive nas zonas centrais do município.
Há ainda, na zona rural, os terrenos desocupados que pertencem a proprietários não
residentes, destinados a especulação.
Destacamos ainda um elemento negativo do turismo de veraneio, sua sazonalidade, a
qual, oferta empregos durante a temporada e havendo significativa alteração do
emprego fora da temporada de verão. Fato que limita a renda a partir dos trabalhos
relacionados à atividade, seja por parte dos habitantes locais, seja pelos migrantes.
Nesse aspecto o complemento da agricultura como fonte de renda se faz importante,
bem como, os recursos originários da assistência ou previdência social, como no caso da
aposentadoria rural.
Considerações Finais
Uma organização social local, seja ela de um município ou região, é parte de uma
formação social ou econômico-social, a qual só pode ser entendida no âmbito de uma
nação. Como uma formação reflete a interação entre as forças produtivas e as relações
sociais, interligadas em meio à superestrutura, o desenvolvimento de uma acarreta em
alterações em outras e, conseqüentemente nas diferentes esferas da nação.
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Dessa forma, como parte do desenvolvimento industrial, e concomitantemente do
consumo no Brasil, o turismo de massa, passa a ser um nicho específico de mercado. A
oferta de infra-estrutura para o setor industrial, por meio da estrutura de transportes,
rodoviário, permitiu o desenvolvimento desse ramo do setor terciário.
Por sua vez, o turismo, desencadeou em Garopaba, um acelerado processo de
urbanização e, conseqüentemente alterou a organização social local. O emprego das
forças produtivas deslocou-se para majoritariamente para o setor terciário visando o
atendimento das demandas do setor, em detrimento do setor primário, a pesca e a
agricultura.
O campo, ou meio-rural, recebe novos significados, o espaço tem seus usos
modificados, sendo o campo, ambiente de produção, na maioria complementar a renda,
ou simplesmente local de residência.
A nova configuração espacial transformou, dessa forma, um espaço destinado a
produção, seja o campo para a produção agrícola, sejam as praias, para atividades de
lazer, em espaços destinados ao consumo.
Notas i Área de concentração: Desenvolvimento Regional e Urbano. ii Este artigo resulta dos estudos em desenvolvimento voltados a elaboração de dissertação de mestrado, focados nas transformações na organização social do município de Garopaba, os resultados apresentados são resultados preliminares da pesquisa. iii Adotamos o termo organização social para tratarmos do estudo de uma região ou município por entendermos que o termo formação social ser próprio a uma análise patada na nação como um todo, em se pensando o território nacional. iv Os dados acima foram coletados por meio de reuniões realizadas nas comunidades do município durante o exercício do cargo de Agente de Desenvolvimento Local do Projeto Brasil Local, do Ministério do Trabalho. v Além dos pequenos produtores familiares havia senhores de escravos que organizavam suas produções para a comercialização, sobretudo de farinha de mandioca, mas que entraram em decadência devido a fatores que descaremos a seguir. vi “[...] uma extensão de um quarto de légua em quadro [...]” (DIEGUES, 1959, p. 76)
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