Considerações da Parashat Matot-Mas`ê Por Sha’ul Bensiyon

1) Resumo

A parashá dupla desta semana encerra o livro de Bamidbar, trazendo o relato da guerra contra Midyan, das jornadas feitas por Israel, e dos últimos preparativos antes de adentrar a terra da promessa.

Capítulo 30: As Leis dos Votos Detalha como os votos devem ser feitos e o seu anulamento para mulheres casadas e não-casadas.

Capítulo 31: Guerra contra Midyan Os filhos de Israel guerreiam contra Midyan em virtude do episódio da transgressão incitada. Depois da guerra, Moshé instrui acerca da purificação dos contaminados, e a divisão do espólio entre soldados e a nação

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Capítulo 32: Assentamento de Re'uben e Gad As tribos de Re'uben e Gad solicitam permissão para se assentarem do lado oriental do rio Jordão. Apesar da oposição inicial, Moshé consente, desde que eles adentrem a terra de Canaã para apoiarem seus irmãos na conquista.

Capítulo 33: As paradas de Israel Este capítulo lista todas as paradas durante a jornada de 40 anos do Egito às planícies de Moab, até a entrada na terra de Canaã. O Eterno ordena que os filhos de Israel expulsem os habitantes da terra e destruam seus ídolos, para que não se desviem.

Capítulo 34: Limites da Terra Define os limites da terra de Israel para as demais tribos, no lado ocidental do Jordão. Os líderes tribais deveriam supervisionar a divisão da terra.

Capítulo 35: As Cidades dos Levitas e de Refúgio O Eterno instrui acerca do estabelecimento das 48 cidades dos levitas, 6 das quais são estabelecidas como cidades de refúgio para concederem asilo para o assassino incidental. A Torá estabelece os critérios para o assassinato intencional e leis correlatas.

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Capítulo 36 A Herança das Filhas de Selofe’had Os líderes da meia-tribo de Menashé se preocupam quanto ao território de sua tribo ser reduzido caso as filhas de Selofe’had se casassem com homens de outras tribos. Devido a isso, Moshé instrui as filhas de Selofe’had a se casarem dentro de sua própria meia-tribo, para preservar a porção de Menashé.

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1) Votos

Existem dois tipos de votos: o de oferta, e o de arrependimento.

“Ibn `Ezra define um neder [voto] como uma solicitação feita ao Eterno, à qual o indivíduo (ou grupo) que faz o neder associa um compromisso condicional. Como ele explica: ‘[Alguém pode dizer] ‘se tal e tal resultado ocorrer eu darei tal e tal coisa ao Eterno ou jejuarei.’’ (Jejuar ou fazer qualquer tipo de auto-negação, se associada ao arrependimento - conforme expresso nas leis de Yom Kipur de auto-aflição - é considerado como fazer algo positivo no campo do serviço ao Eterno.)

Se o resultado desejado não ocorrer, a parte que faz o voto não é obrigada a cumprir o compromisso associado. De fato, a maior parte das provas bíblicas de um neder num contexto narrativo são compostos de uma oração de petição ao Eterno com o compromisso condicional a Ele que só se torna devido quando e se a oração for realizada. A ‘doação’ do voto pode ser considerada qualquer coisa feita para o Eterno.” (R. Moshe Shamah - Parashat Matot)

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2) Voto x Juramento

Há uma diferença entre o status legal de um voto, e de um juramento, a saber:

“Baseado em muitas provas da Escritura podemos dizer o seguinte sobre ְׁשֻבָעה (juramento). Quando um indivíduo decide se obrigar ao Eterno ou a outro indivíduo, ou a uma entidade como um grupo ou nação, acerca de qualquer tipo de assunto, um shebu`á era feito, nunca um neder. Esse também era o caso quando duas partes adentravam compromissos mútuos. O shebu`á transformava uma simples obrigação em um compromisso sagrado…

..Para fortalecer o compromisso de um para com o outro, um indivíduo proferia um shebu`á para a outra pessoa ‘pela Divindade’. Quando articulado plenamente, afirmaria que a shebu`á foi baHashem, especificamente empregando o prefixo ב. Um neder, por outro lado, era laHashem, para a Divindade, precedido pelo prefixo ל. Um neder nunca é atestado biblicamente entre homem e homem. Um shebu`á pode ser direcionado laHashem (ao Eterno), quando alguém jura compromisso a Ele.” (R. Moshe Shamah - Parashat Matot)

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3) Juramento das Mulheres

Por que as mulheres parecem ter status inferior, no que diz respeito a juramentos? Como entender essa passagem da Torá?

“Para apreciar plenamente o impacto dessas leis, deve-se ter em mente que no Oriente Médio antigo, conforme refletido na lei Mesopotâmia, o status legal das mulheres era inferior. Era amplamente aceito que um pai tinha jurisdição extensiva sobre sua filha quando ela era solteira e vivia em sua casa.

Ao se casar, os direitos do pai passavam para o marido. É claro, em certas circunstâncias as mulheres, como os homens, faziam uso de votos e juramentos, particularmente quando desejavam ter um filho, quando oravam por cura, livramento, etc., invocando o nome de seu deus.

Apesar dessas falas serem vistas como possuindo santidade, a autoridade de um pai sobre a filha morando em sua casa ou de um marido sobre sua esposa era geralmente suprema. Inevitavelmente, o desejo do pai ou marido às vezes conflitaria com o voto da filha ou da mulher. A Torá prescreveu as linhas gerais para regular a autoridade do pai e do marido.”

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Com a autoridade de anulação oficial que nossa parashá concedeu aos pais e maridos no dia em que ouvissem o voto, a Torá promoveu três objetivos monumentais. Primeiro, proveu maior harmonia familiar ao permitir que filhas e esposas violassem seus votos sob certas circunstâncias. Tais votos eram legalmente considerados nulos e vãos e aqueles que os proferissem eram perdoados pelo Eterno, e aliviados de qualquer peso em sua consciência.

Segundo, votos - frequentemente manifestações impensadas de impulsividade - eram grandemente diminuídos em valor. Em casos nos quais eles conflitassem com necessidades humanas maiores ou fossem causar mal, o povo indubitavelmente era encorajado a buscar anulação, claro, com um processo formal de anulação do voto.

Terceiro, ao conceder aos pais e maridos o poder de anular o voto de uma filha ou esposa no dia em que o ouviram, mas SOMENTE naquele dia, a jurisdição masculina sobre essas mulheres foi enormemente reduzida.

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A Torá assim continuou o processo de elevar o status das mulheres do papel limitado que elas tinham no mundo antigo.

O fato dos pais e maridos terem continuado a exercer autoridade legal sobre filhas e mulheres de forma limitada era uma manifestação da metodologia da Torá. Ela legislava uma lei operacional ao atingir uma adequação que não violasse integralmente a visão profundamente arraigada da sociedade daquela época da prerrogativa masculina de tomar decisões pela unidade familiar.

Prover às mulheres um papel mais igualitário na família e na sociedade avançou as visões enunciadas nas narrativas da criação no Gênesis… um processo que nossos sábios continuaram a promover.” (R. Moshe Shamah - Parashat Matot)

A maior prova do espaço que a Torá dá para a evolução de tais conceitos está na história das filhas de Selophehad, que reivindicaram direito à herança de seu pai, e obtiveram tal concessão, apesar da Torá não prever tal caso originalmente.

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4) Midian e `Amaleq

O que representam esses dois povos, que foram destruídos ao longo do caminho para a terra da promessa?

“Na Torá, `Amaleq e Midian representam dois tipos de mal que devem ser ativamente combatidos para assegurar que o comportamento civilizado e moral prevaleçam no mundo.

`Amaleq atacou os fracos e indefesos (os que caminhavam) de uma nação que passava, com a qual não tinha qualquer contenda.

Midian empregou sedução sexual, usando até mesmo filhas de sua nobreza, para seduzir para sua idolatria uma nação que passava por sua região.

Esses atos são a epítome das culturas de exploração, que não têm o menor padrão de consciência e decência humanas, são desprovidos de moralidade e santidade, e devem ser combatidos.” (R. Moshe Shamah - Parashat Matot)

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5) Recordando a Trajetória no Deserto

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6) Cidades de Refúgio - Trechos da Halakhá

“O Bet Din é obrigado a construir estradas que conduzam às cidades de refúgio. Elas devem ser mantidas e alargadas. Qualquer pedra de tropeço e obstáculo deve ser removido delas.

Nessas estradas nem montanha, nem vale, nem rio deve ser deixado. Ao invés disso, uma ponte deve ser construída de modo a não impedir uma pessoa de fugir para lá. Isso é inferido pela afirmação: ‘Preparás por ti mesmo o caminho.’ [Dt. 19:3]

A largura da cidade de refúgio não deve ser menor do que 32 cúbitos. Sinais afirmando ‘Refúgio, refúgio’ devem ser escritos nas intercessões, para que os assassinos possam conhecer o caminho e se voltarem para lá.” (Mishnê Torá - Hilkot Rossea uShemirat Nefesh 8:5)

“As cidades de refúgio que forem designadas não devem ser cidades grandes ou metrópoles, nem devem ser pequenas vilas. Ao invés disso, devem ser cidades de tamanho intermediário.

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Devem se localizar exclusivamente em locais de comércio, onde água é encontrada. Se não houver água próxima a elas, deve-se desviar água na direção delas.

Devem ser localizadas em áreas exclusivamente populadas. Se a população ao entorno for reduzida, deve ser aumentada. Se o número de habitantes da cidade de refúgio diminuir, sacerdotes, levitas e israelitas devem ser trazidos para lá viver.

Laços não devem ser colocados em tal cidade, nem armadilhas de cordas devem ser postas ali, para que o vingador de sangue não venha a elas.” (ibid 8:8)

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