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Considerações Finais

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Page 1: Considerações Finais

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegando ao final do trabalho gostaria de recapitular as principais considerações

que surgiram ao longo da pesquisa e que baseiam os resultados a que chegamos e a

expansão da compreensão de música que em mim esta investigação desenvolveu.

Mesmo sendo uma monografia, este trabalho abordou um número bastante grade de

áreas e conceitos, principalmente dentro do campo musical, do modo que vimos brotar

inúmeros filos diferentes de investigação e aprofundamento do tema. Neste sentido,

vamos retomar aqui apenas aqueles que mais diretamente relacionam-se com nosso

objetivo principal, a questão da significação musical.

É notória a visão que assumimos de que a música é um fenômeno significativo,

comunicacional e que sua potencialidade de significação é de caráter universal, apesar

de estar vinculada a algumas condições culturais para que os diferentes indivíduos

partilhem os mesmos significados.

Em primeiro lugar, então, a música é comunicacional já que assume a função de

código regulamentando a produção das mensagens dentro do processo de

comunicação. No papel deste, assume também a condição de linguagem, permitindo

aos sujeitos comunicacionais partilhar entre si suas subjetividades efetivando a relação

de comunicação.

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Em segundo lugar, a música é significativa exatamente porque é capaz de

carregar de um sujeito a outro estas subjetividades que efetivam a comunicação. É

claro que o processo significativo musical tem suas peculiaridades, a mais importante

delas é a dinamogenia. Os significados musicais são produzidos a partir de novos

estados sinestésicos desencadeados em seus ouvintes. Essas sensações que são

reconhecidas e observadas pela consciência, e batizadas pela linguagem verbal, nos

levam a situações psicológicas que já vivemos e que relacionamos com estas novas.

Isso com muito de metáfora e bastante de convenção.

Exatamente por que as significações musicais têm este caráter metafórico e

convencional é que a produção de significados comuns aos diferentes sujeitos está

condicionada ao compartilhamento cultural entre estes indivíduos.

Isso pode ser tomado como uma subdivisão do código musical. Assim como as

diferentes línguas, ou os dialetos dentro de uma mesma língua, são subdivisões de

uma mesma linguagem verbal, as diferentes escolas da música, os diferentes

processos musicais, assim como as diferentes relações culturais que se estabelecem

em relação a estes processos, também podem ser encarados como subdivisões de

uma mesma linguagem musical.

Como exemplo, podemos tomar as próprias noções de consonância e

dissonância musical. Como já referimos as definições de que intervalos musicais são

considerados consonantes e dissonantes passaram por uma longa evolução e

modificação no decorrer da história musical. Em cada época os músicos e os ouvintes

adotavam como certeza os parâmetros de seu tempo, culturalmente formados.

Desta forma podemos ver o quanto a questão cultural interfere nas apreensões

significativas da linguagem musical, tal qual acontece com todas as linguagens, através

do que podemos chamar de compartilhamento dos mesmos códigos.

E em terceiro lugar, observamos que o potencial significativo da música é

universal, e com isso queremos dizer que em qualquer indivíduo a música pode

desencadear um processo significativo. O que não que dizer que as significações sejam

as mesmas para todas as pessoas, como acabamos de ver, para isso elas necessitam

compartilhar elementos musico-culturais iguais.

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Também observamos os mecanismos de significação musical em ação na peça

que analisamos. Encontramos as forma de organização das estruturas musicais, e

através delas as sensações e significações que a música é capaz de provocar, como as

sensações de elevação e queda, as tensões e relaxamentos e o embalo rítmico.

Apesar de estar satisfeito com o ponto em que a pesquisa deste trabalho

chegou, sei que existe muito ainda para ser trilhado até que possamos fazer com que

os estudos em significação musical assumam uma maturidade incontestável.

Existem inúmeros músicos que a muito tempo voltam todos seus esforços na

pesquisa, teorização e análise dos significados da música. Apesar disso, acredito que,

para que esta temática tenha um desenvolvimento pleno e profundo, é indispensável

que um olhar a partir da visão comunicacional também recaia sobre ela. Isso porque,

como diz Peruzzolo, é sempre dentro dos processos comunicacionais que os signos se

organizam e fazem sentido (2004, p. 19).

Por isso, reitero a importância de que comunicólogos voltem-se à questão

musical – na verdade a toda a questão sonora, que muitas vezes passa despercebida

em nossas pesquisas, enquanto observamos somente outras linguagens – a fim de

acrescentar aos estudos de músicos, musicólogos, físicos e folcloristas a parcela

comunicacional e midiática da música.

Ficam também para o futuro, estudos que aprofundem e ampliem o trabalho de

compreensão e demonstração das várias estruturas que desencadeiam diferentes

estratégias significativas musicais, já que em nossa análise somente algumas

figuraram. Seriam interessantes ainda, pesquisas que fossem a campo observar estas

estratégias a partir da compreensão dos diferentes ouvintes, sejam eles conhecedores

da teoria e da técnica musical, conhecedores apenas das técnicas (os músicos práticos)

ou leigos que desconhecem a teoria e a técnica de execução musical.

É certo que cada um desses diferentes olhares sobre a música aumenta nossa

percepção sobre a complexidade de seus processos e relações. Exatamente por isso,

cada expansão de nossas formas de entendimento é também uma expansão e um

aprofundamento de nossos questionamentos a seu respeito.