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CONTEÚDOS ESCOLARES DE QUÍMICA: UM MOVIMENTO HISTÓRICO
Renato da Silva Custódio1
Considerações Preliminares
A constituição de uma disciplina escolar apresenta uma relação entre sua
constituição histórica, seus programas escolares desenvolvidos e os instrumentos
pedagógicos inseridos para o ensino dessa disciplina. Com isso, a análise histórica de
um programa de ensino pode nos evidenciar resquícios que estejam ainda presentes no
ensino de terminada disciplina escolar. Destacamos nesse trabalho a constituição e
evolução de conteúdos referentes à disciplina escolar de Química e seu consequente
Ensino com desdobramentos desses conteúdos escolares nos livros didáticos da época.
Segundo Scheffer (1997, p. 11), a disciplina escolar de Química passou a
integrar e fazer parte do currículo em nível secundário no Brasil, em 1837, no Colégio
de Pedro II2, localizado no Rio de Janeiro, até então município da corte. A autora relata
as diversas modificações que a disciplina de Química passou ao longo dos anos,
principalmente no quesito de inserção e exclusão de conteúdos.
A partir disso, Karl Lorenz e Ariclê Vechia (1998) nos apresentam em sua
obra: Programa de Ensino da Escola Secundária Brasileira 1850-1951, os programas
disciplinares referentes às disciplinas ensinadas no Colégio de Pedro II, que servia como
modelo para os demais colégios e escolas brasileiras. Fazem-nos observar como mais
atenção o ano de 1837, ano em que foi inserida a disciplina de Química neste colégio.
Ao aproximarmos nosso olhar, a disciplina de Química em terras
catarinenses, observamos a sua inserção no ensino secundário apenas, em 1850, com a
abertura do Colégio de Bellas Letras, localizado em Nossa Senhora do Desterro. Este
colégio, como muitos outros existentes, era destinado à formação da elite catarinense.
A partir disso e imersos em referenciais teóricos da História da Educação
tem-se como objetivo principal desta comunicação apresentar uma evolução histórica
1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina 2Criado pelo Decreto de 2 de dezembro de 1837, o Imperial Collegio de Pedro II representou a primeira
iniciativa do Governo Imperial de estabelecer o ensino secundário público no Município da Corte e, de
buscar alguma uniformização do ensino secundário no Brasil (VECHIA e LORENZ, 2006, p. 6004).
dos programas de ensino do Colégio de Pedro II, a partir de 1850, até 1890, ano do
Decreto n. 9813, tendo como principal articulador Benjamin Constant.
Este documento aprovou um novo Regulamento para o colégio e ao tratar
do ensino secundário no Titulo V, artigo 26, ficou estabelecido que o ensino secundário
integral passaria a ser oferecido pelo Estado no Gymnasio Nacional (antigo Instituto
Nacional de Instrucção Secundaria), sendo a disciplina de Química ministrada ao
Quinto Ano, com uma carga horária de 6 horas por semana onde faria parte do curso
integral de estudos. Além disso, observou-se que o Decreto n. 981, outorgado em um
período de transição, o final do período Imperial e os primórdios da República, se
apresentava como confirmador de uma tendência de inserção do conhecimento
científico nas instituições educacionais (BRASIL, 1890).
A partir de uma metodologia que utiliza como fonte os programas de ensino,
compilados por Vechia e Lorenz (1998) e também os trabalhos de Sampaio e Santos
(2007), Mori e Curvelo (2004), Lorenz (1986;1994) que fazem luz aos livros utilizados
no Ensino de Ciências, mais precisamente no ensino da disciplina de Química, será
possível traçar uma evolução quanto aos conteúdos e aos livros utilizados no colégio
para o ensino da Química.
Segundo Vechia e Lorenz (1998):
Os documentos dessa coleção correspondem, assim, às reformas
curriculares efetuadas entre 1841 e 1951. O primeiro dos programas
apresentados é considerado também o primeiro documento curricular
impresso para o Colégio Pedro II. Trata-se de um programa de exames
publicado em 1850; porém, reflete os conteúdos estudados segundo o
currículo de 1841. A maioria dos documentos é reprodução de fontes
primárias, pouco divulgadas até agora (VECHIA e LORENZ, 1998, p.
8;9).
Ao dispor deste importante corpus documental compilador por Vechia e Lorenz (1998)
e com base em referenciais bibliográficos provenientes do campo da História da
3Decreto nº 981, de 8 de Novembro de 1890 - Approva o Regulamento da Instrucção Primaria e
Secundaria do Districto Federal. O Generalissimo Manoel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo
Provisorio da Republica dos Estados Unidos do Brazil, constituido pelo Exercito e Armada, em nome da
Nação, resolve approvar para a Instrucção Primaria e Secundaria do Districto Federal o regulamento que
a este acompanha assignado pelo General de brigada Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Ministro
e Secretario de Estado dos Negocios da Instrucção Publica, Correios e Telegraphos, que assim o faça
executar. Palacio do Governo Provisorio, 8 de novembro de 1890, 2º da Republica. Manoel Deodoro da
Fonseca. Benjamin Constant Botelho de Magalhães.
Educação e da História das Ciências. Torna-se exequível apontar as características
conteudistas do Ensino de Química dentro de nosso recorte cronológico. Elucidar
aspectos referentes aos livros utilizados para o ensino destes conteúdos. Pode-se
previamente afirmar que se tratam dos primeiros livros didáticos utilizados para o
ensino dos conteúdos da disciplina de Química em território brasileiro.
As concepções e noções presentes em instrumentos que constituem uma
disciplina escolar apresentam componentes históricos. A constituição desta disciplina
apresenta então uma base na qual ocorre uma relação é direta com o meio que a
legitimou como disciplina escolar, seja ele, social, político, econômico.
Segundo Bloch (2001, p. 125) ao realizarmos uma análise histórica não
devemos apenas julgar o fato histórico que analisamos, e, sim, tentar compreendê-lo de
uma forma que sejamos imparciais. Para Bloch (2001) existem duas formas de
imparcialidade
a do cientista e a do juiz. Elas têm uma raiz comum, que é a honesta
submissão à verdade. O cientista registra, ou melhor, provoca o
experimento que, talvez, inverterá suas mais caras teorias. Qualquer
que seja o voto secreto de seu coração, o bom juiz interroga as
testemunhas sem outra preocupação senão conhecer os fatos, tais
como se deram. Trata-se, dos dois lados, de uma obrigação de
consciência que não se discute. Chega um momento, porém, em que
os caminhos se separam. Quando o cientista observou e explicou, sua
tarefa está terminada. Ao juiz resta ainda declarar sua sentença
(BLOCH, 2001, p. 125).
A partir dessa fala, observa-se a necessidade do historiador focar em ações
que estabeleçam uma compreensão histórica a partir dos fatos analisados. Com isso,
buscar conhecer e analisar a conjuntura histórica do fato que se pesquisa.
Sobre os autores que dialogam com a constituição das disciplinas escolares,
destacamos André Chervel (1998) e seu texto: História das Disciplinas Escolares:
reflexões de um campo de pesquisa. Também podemos citar Dominique Julia (2001)
com seu texto: A Cultura Escolar como Objeto Histórico. Julia (2001, p. 33), com base
em escritos de Chervel (1988), nos apresenta as disciplinas escolares como
indissociáveis dos objetivos educativos apresentados e desenvolvidos na escola e
apresenta como sustento uma amálgama que extrapola os ensinos programados e
explícitos.
Julia completa tal característica quando apresenta a necessidade de se
examinar atentamente a evolução das disciplinares escolares, levando
em conta diversos elementos que, em ordem de importância variada,
compõem esta estranha alquimia: os conteúdos ensinados, os
exercícios, as práticas de motivação e de estimulação dos alunos, que
fazem parte destas “inovações” que não são vistas, as provas de
natureza quantitativa que asseguram o controle das aquisições.
(JULIA, 2001, p. 34).
Chervel (1988) nos apresenta conceitos que se conectam intimamente ao
estudo histórico de uma disciplina escolar. Relata que atualmente vem ocorrendo um
movimento dos pesquisadores educacionais, no que diz respeito ao desenvolver
histórico de sua disciplina. A partir desse continuum histórico de constituição de uma
disciplina escolar, observa-se uma abertura na compreensão e resolução dos problemas
que envolvem a definição da disciplina até sua inserção no ambiente escolar
(CHERVEL, 1988, p. 177).
Aliado ao desenvolvimento de uma disciplina escolar surge um importante
personagem, o manual escolar ou livro didático, que se insere no contexto e nas
características da constituição de uma disciplina escolar.
Destaca-se então, a figura de Alain Choppin (2002) em seu texto: O
Historiador e o Livro Escolar. O autor nos faz adentrar em campo de pesquisa que
evoluiu significativamente nos últimos vinte anos. Expõem riquezas e dificuldades que
acompanham pesquisas que utilizam os manuais – livros didáticos ou livros texto – na
sua constituição como fonte histórica e nos apresenta o livro como um instrumento
auxiliar nas pesquisas históricas educacionais. Contudo, o livro apresenta uma alta
complexidade, onde a análise dos seus conteúdos é inseparável de seus usos.
(CHOPPIN, 2002, p. 5).
O autor também nos apresenta outras problemáticas em relação ao estudo
histórico do livro escolar, como por exemplo, o desenvolvimento do setor público de
ensino, a obrigatoriedade escolar, o ensino das massas, e a geração de uma indústria
voltada especificamente para a elaboração, editoração e distribuição dos livros escolares
(CHOPPIN, 2002, p. 6;7).
Para finalizar, Choppin (2004, p.560), nos apresenta os desafios de se
trabalhar com o livro didático como fonte histórica, sem contudo ser utilizado como
fonte única de pesquisa. Deve-se haver um estudo que sistematize e o organize o
sistema em questão dentro de um contexto legal. Meio, o qual, não sirva apenas como
validador do livro didático, mas também, como são produzidos e quais as leis que o
regulamenta.
A partir disso, cabe relacionar o livro didático ou manual a outro
instrumento educacional que possa constituir historicamente uma disciplina escolar. E
assim, surgem os programas de ensino ou conteúdos programáticos. Esses são
constituídos a partir dos objetivos educacionais da escola e expressam concepções a
respeito da prática docente de ensino, muitas vezes apresentam reflexos provenientes
dos livros didáticos.
Os Programas de Conteúdo
Como já elucidado na introdução do trabalho, o livro organizado por Ariclê
Vechia e Karl Lorenz (1998), Programa de Ensino da Escola Secundária Brasileira 1850
– 1951 nos apresenta os programas ou planos de ensino das disciplinas elaborados para
oferta no Colégio de Pedro II. Este por sua vez serviu como modelo e referência para as
demais instituições, uma vez que aquela instituição devia ser tomada como padrão de
funcionamento para as escolas do Brasil.
Por ocasião da inauguração do Imperial Colégio de Pedro II, em 25 de
março de 1838, o então Ministro da Justiça e Interino do Império,
Bernardo Pereira Vasconcellos, em seu discurso, explicitou que o
novo Colégio serviria de padrão aos demais do gênero.
Consequentemente era o foco de atenção das autoridades educacionais
do poder central. Em pouco mais de cem anos de existência o
currículo desse estabelecimento escolar foi alterado pelo menos vinte
e uma vezes. A cada reforma curricular, um novo programa de ensino
era organizado de acordo com as diretrizes traçadas (VECHIA e
LORENZ, 1998, p. 7).
Com isso, busca-se agora apresentar e analisar a organização dos programas
de ensino do Colégio de Pedro II. Esses programas de ensino apresentam informações
referentes aos conteúdos das disciplinas, sua seriação e também faz referência aos livros
texto utilizados.
Ao analisar o Programa de Exames de 1850 no Imperial Collegio de Pedro,
compilado por Vechia e Lorenz (1998). Vemos ali a Química sendo tratada juntamente
com a Física, são expostos 40 elementos de conteúdo, direcionados ao Sétimo Ano.
Podemos citar: “1 – elementos. Saes de Potassa. 2- Sciencias Físicas. Acidos. Prata. 3 –
Propriedades geraes da materia. Phosphoro. Fermentação. 4 – Porosidade. Saes de Cal.
5 – Impenetrabilidade. Nitrato de Potassa. Palladio” (VECHIA e LORENZ, 1998, p. 7).
Observa-se uma mescla de conteúdos referentes ao estudo da Química e da Física, como
por exemplo, no item “31 – Machinas simples. Saes de Allumina” (Ibid, p. 7). Contudo,
não está evidenciada a carga horária de cada conteúdo e também não há qualquer
menção sobre o livro que viria a ser utilizado para o ensino conjunto dessas duas
disciplinas.
Em 1856, uma nova portaria, separa a Física da Química, a primeira passa a
ser ensinada no segundo ano e a Química passa a ser ensinada no terceiro ano
(SAMPAIO e SANTOS, 2007, p. 7;8).
O programa do ano letivo de 1856 foi Organizado pelo Conselho Diretor
com propostas do Conselheiro de Estado. Agora que temos a Química separada da
Física, contamos com 23 itens de conteúdo, para serem ensinados no Terceiro Ano. São
alguns deles: 1 - Definição e fins da Química. Crystalização. 2 – Cohesão e affinidade:
corpos simples e compostos. 3 – Noçôes elementares da nomenclatura Química: ácidos,
bases, corpos neutro, e saes. 4 – Oxygeno: Combustão. Há também um importante
detalhe neste programa de ensino, a inserção de um livro texto para o desenvolvimento
de tais conteúdos. O livro é o Elements de Chimie com autoria de Guerrin-Varri
(VECHIA e LORENZ, 1998, p. 32; 33).
Figura 1: Frontispício livro Nouveaux Elements de Chimie
Segundo Sampaio e Santos (2007) este livro, de origem francesa, apresenta
um prefácio composto por 12 páginas, um texto denso, 456 páginas. Ao longo do texto
não há nenhuma figura referente aos instrumentos e aparelhos químicos e físicos, estes
desenhos estavam localizados ao final do livro, numa espécie de apêndice, talvez devido
a problemas para impressão (SAMPAIO e SANTOS, 2007, p. 7;8).
O livro de Guerrin-Varri4, no qual o autor se apresenta no título da obra
como “doutor em ciências, mestre de conferências na Escola Normal”, elaborou o livro
com a intenção de explorar primeiramente a Química, fato este que chama atenção já
que este mesmo livro era utilizado também para a disciplina de Física. O autor ressalta
no decorrer do texto que a Química abrange uma ação molecular dos corpos e sua
interação com outros, divide em dois capítulos: “corpos ponderáveis – sólido, líquido e
gás” e “agentes imponderáveis – do calórico, do calor”. A ausência de fórmulas é
observada, contudo, há um interesse maior para a descrição dos detalhes dos aparelhos e
equipamentos, o que valoriza a observação e experimentação, características marcantes
do ensino das ciências do século XIX (SAMPAIO e SANTOS, 2007, p. 8).
4 Guerin-Varry, Roch-Théogene. Nouveaux éléments de chimie théorique et pratique à l´usage des
colléges, des pensions, des séminaires et des aspirants au Baccalauréat des sciences par MRTG-V,
docteur des sciences, maitre des conférences à l´école normale. Paris, Librarie Hachette, 1840.
Na análise do programa de ensino de 1858, observa-se a inserção da
Química no Sexto Ano, Sétimo Ano e também no Quinto Ano do Curso Especial. Este
programa organizado pelo Conselho Diretor da Instrução Primária e Secundaria do
Município da Corte, apresenta 19 itens de conteúdo para o ensino desta disciplina. Onde
os cinco primeiros seriam: “1 – Noções Geraes. 2 – Noções Elementares de
nomenclatura Química. 3 – Oxygeno: combustão. 4 – Azoto: ar atmospherico:
acidoazotico. 5 – Hydrogeneo: água”. Para o ensino destes 19 conteúdos, seriam
utilizados materiais organizados pelo professor, as chamadas Postillas do Professor
(VECHIA e LORENZ, 1998, p. 53;55).
O programa seguinte, 1862, traz a disciplina de Química no Quinto Ano e
nos apresenta 21 tópicos de conteúdos. Com estudo voltado ao conhecimento de, por
exemplo: “1 – Noções Preliminares. 2 – Noções Elementares de Nomenclatura e
Notações Químicas. 3 – Oxigeneo. 4 – Azoto. 5 – Acido azotico”. E como no programa
de 1858, não há livro texto, são também utilizadas Postillas do Professor (VECHIA e
LORENZ, 1998, p. 62).
Nos Programas de Ensino de 1877 a Química aparece inserida no Sexto
Ano, já em 1878 ela passa a ser ensinada no Quinto Ano. O que chama atenção nesses
dois programas é um início do ensino da Química voltado às noções preliminares. No
programa de 1877 temos: “1 – Noções Preliminares. 2 – Corpos Simples, metalloides,
metaes. Nomenclatura Química. Equivalentes”. Já em 1878, temos: “Nomenclatura e
notações Químicas; equivalentes; caracteres e preparação dos corpos simples e
compostos mais importantes para os usos da vida: analyses e experiências” (VECHIA e
LORENZ, 1998, p. 77;87). Segundo Jornada (2013, p.66), no ano de 1877 a Química
era ensinada com uma carga horária de 6 horas semanais, de segunda a sábado, no
período matutino, das nove às dez horas.
Para iniciar o estudo dos conteúdos de Química observa-se a manutenção de
uma abordagem que busca apresentar uma linguagem Química, necessária para a
introdução do estudo da Química. Que posteriormente seria utilizada no estudo de
conteúdos mais complexos. Porém, o que chama atenção nestes dois programas é a
utilização do mesmo compêndio: Nouveaux Manuel des aspirants au baccalauréat ès
sciences, d’ aprés Le programme officiel de 1852, escrito por J. Langlebert5.
Nesse livro texto o autor J. Langlebert é apresentado como antigo professor
de ciências Físicas, Químicas e naturais em Paris e também apresentava o título de
doutor em medicina. O livro continha uma visão pedagógica direcionada aos ofícios
cotidianos, era composto por dois tomos e no segundo tomo, mais precisamente na sexta
parte, das páginas 1 a 352, estão dispostos os programas de Química. Alguns dos
conteúdos apresentavam um caráter de contextualização e buscavam relacionar itens do
cotidiano que tivessem relação com o conteúdo abordado. Como por exemplo,
iluminação, pólvora, a fabricação de louça e vidro (JORNADA, 2013, p.66).
O último programa que preenche nosso arco cronológico é o Programa de
Ensino de 1882.O qual segundo Vechia e Lorenz (1998, p. 94) foi organizado de acordo
com o parágrafo 1º do artigo 2º do Decreto n. 8.227 de 24 de agosto de 18816, com
aprovação do Ministério do Império em 23 de março de 1882.
Apresentava a Química para ser ensinada no Quinto Ano, com 28 itens de
conteúdo. Destaca-se o primeiro item de conteúdo:
1 – Química: differença entre a Física e a Química- Definição da
Química – Corpos simples e compostos – Combinação e mistura –
Composição – Affinidade e Cohesão – Metaes e Metalloides – Leis
das combinações Químicas – Equivalentes. 2 – Theoria atômica –
Nomenclatura e notações Químicas – Peso atômico e molecular –
Estabelecimento de fórmulas (VECHIA e LORENZ, 1998, p. 102).
Nota-se a grande evolução quanto aos conteúdos de Química, além da
importante diferenciação entre os estudos da Química e da Física, aparece ali inserido o
conteúdo que envolve Teoria Atômica, item que é encontrado nos livros escolhidos pelo
atual Programa Nacional do Livro Didático, como por exemplo, Reis (2013), Mortimer
e Machado (2013) e Santos e Mól (2013).
5 Nouveaux Manuel des aspirants au baccalauréat ès sciences, d’ aprés Le programme officiel de 1852 par
M. J. Langlebert et E. Catalan, Quatrième édition - 1856 6 DECRETO Nº 8.227, DE 24 DE AGOSTO DE 1881 - Estabelece os casos em que os Professores e
Substitutos do Imperial Collegio de Pedro II se devem reunir em Congregação, e providencia sobre a
organização das commissões julgadoras dos exames dos alumnos do mesmo Collegio. O Barão Homem
de Mello, do Meu Conselho, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Imperio, assim o tenha
entendido e faça executar. Palacio do Rio de Janeiro em 24 de Agosto de 1881, 60º da Independencia e do
Imperio. - Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador. - Barão Homem de Mello.
Em relação aos livros utilizados para o Programa de Ensino de 1882, Vechia
e Lorenz (1998, p.102), nos apresentam três exemplares: “Ganot (última edição).
Química: N. de Química Geral pelo Dr. Martins Teixeira e Noções de Química
elementar por Vurtz.”
“Pela primeira vez a obra de um autor brasileiro é adotada no Colégio de
Pedro II. Até então a contribuição nacional limitava-se às postillas elaboradas pelo
professor de Química do Colégio” (JORNADA, 2013, p. 68). Além desse fato, segundo
Mori e Curvelo (2014 p.922), as obras de Química de Teixeira eram referência nos
séculos XIX e início do XX, sendo então as mais utilizadas.
Na análise de Rheinboldt (1994) a obra Noções de Química geral
apresenta, sob uma forma elementar, os fundamentos da Química
numa linguagem tão simples, numa exposição dos assuntos tão clara e
com uma habilidade pedagógica tão pronunciada, que é ainda hoje
[1953] um grande prazer ler este livreto, que o autor, como novidade
na literatura didática do país, conclui com um apanhado resumido (40
p.) do desenvolvimento histórico das teorias químicas, terminando-o
com breves indicações sobre: ‘A química entre nós (10 p.). não é pois
estranho, que esta obra de um “sectário entusiasta das ideias
modernas (...) desejando contribuir para divulgar estas ideias entre os
nossos jovens patrícios”, organizada “com o fim especial de dirigir os
primeiros passos dos principiantes no estudo da química” e “de
despertar maiores talentos, que dormem na esterilidade por falta de
animação”, teve tão boa aceitação e grande divulgação durante mais
que três decênios (RHEINBOLDT, 1994, p. 40;41).
Considerações Finais
Buscou-se apresentar uma relação entre os Programas de Ensino da
disciplina de Química e os livros texto que eram utilizados para o desenvolvimento das
aulas no Colégio de Pedro II. Como foi dito, o Colégio de Pedro II era referência para as
outras instituições de ensino brasileira, por isso, torna-se importante pesquisas que
busquem aprofundar as mais diversas questões históricas educacionais brasileiras.
Desenvolvendo-se tal pesquisa histórica, podemos obter dados relevantes a
respeito dos conteúdos de Química que eram ensinados e com o conhecimento dos
livros usados, somos capazes de fazer projeções de como eram desenvolvidas as aulas
de Química.
Por fim, entendemos que trazer elementos sobre a disciplina de Química
como: estruturação, organização, ensino e suas ferramentas pedagógicas naquele
momento da História da Educação nos condiciona a avançar em pesquisas desse gênero.
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BRASIL. Decreto nº 8.227, de 24 de agosto de 1881 - Estabelece os casos em que os
Professores e Substitutos do Imperial Collegio de Pedro II se devem reunir em
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