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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA
CONSÓRCIO DE CÁRTAMO E FEIJÃO CAUPI: ALTERNATIVA
PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL NA AGRICULTURA FAMILIAR
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA
FAMILIAR SUSTENTÁVEL
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA
FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A
COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA
ÉMILE ROCHA DE LIMA
2014
Natal – RN
Brasil
ÉMILE ROCHA DE LIMA
CONSÓRCIO DE CÁRTAMO E FEIJÃO CAUPI: ALTERNATIVA PARA A
PRODUÇÃO DE BIODIESEL NA AGRICULTURA FAMILIAR
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A
COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNA
TIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL
COMO ALTER PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA
Dissertação apresentada ao Programa Regional
de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de
Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Juliana Espada Lichston
2014
Natal – RN
Brasil
ÉMILE ROCHA DE LIMA
Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como
requisito à obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Aprovada em: 20/02/2015.
BANCA EXAMINADORA:
Dedico
À minha mãe, por ser meu maior exemplo
de força, coragem e perseverança.
AGRADECIMENTOS
A CAPES, pela concessão da bolsa durante todo mestrado.
Ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que viabilizou a realização deste trabalho.
A Profa. Juliana Espada Lichston, por lutar por este trabalho junto comigo apesar de todas as
dificuldades. Agradeço pela paciência, por toda confiança, amizade, dedicação e acima de
tudo pelos ensinamentos de Botânica, da Biologia e da vida.
Ao agrônomo Anderson Patrício da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ – UFRN), por conceder
o espaço para realização dos experimentos em campo e auxiliar com o arranjo dos plantios.
Agradeço aos demais técnicos e servidores da EAJ que ajudaram com os cultivos.
Ao Prof. João Paulo Matos Santos Lima pela participação no início deste trabalho cedendo
material bibliográfico, e por sempre disponibilizar seu laboratório, seus materiais, e seu tempo
para ajudar.
Ao Prof. Ronaldo Angelini e em especial ao seu aluno Danyhelton Dantas pela ajuda com a
estatística.
A Livânia Frizon, representante da Agrovila Canudos, e aos agricultores de Canudos e suas
famílias, pela receptividade e pela contribuição com as entrevistas.
Aos colegas de turma (Prodema 2013), pela convivência, pelos diversos momentos de
descontração e pela ajuda uns aos outros, que nos possibilitou vencer tantas etapas juntos.
Aos que já não estão mais no LIMVE, mas que sempre permanecerão comigo pela amizade
construída, pelo apoio nessa jornada acadêmica e pessoal, por tantos trabalhos realizados
juntos, por momentos alegres, tantas palavras de conforto. Obrigada Victor Hugo e Marília.
A todos os amigos do LIMVE, Carlos, Fernanda, Romão, Izadora, Júlio, Túlio e Henrique,
pelo convívio divertido em laboratório e pelo incentivo e acolhimento. Aos amigos Emanuel e
Gabrielle, com os quais aprendi muito e que sempre incentivaram meu crescimento. Agradeço
a Emanuel, também amigo de turma, pela ajuda com o desenvolvimento deste trabalho e pelos
desafios enfrentados nestes dois anos.
Às amigas, Adlany, Allyne e Thais, pela amizade e companhia a mim dedicadas. Lany,
obrigada pela ajuda em campo com minhas plantas, pelas nossas aventuras e por sua amizade
tão sincera. Allyne e Thais, muito obrigada por todo esforço em me acompanharem durante as
entrevistas e pelo apoio, amizade e incentivo de sempre. Obrigada meninas.
Agradeço à família de Jean, pelo afeto, carinho, compreensão e pela torcida constante durante
a realização deste trabalho.
À toda a minha família, que sempre contribuíram para a minha formação, por compreenderem
minhas ausências, e por sempre me estimularem a prosseguir.
Agradeço em especial,
Aos meus pais, Margareth e Davi, obrigada por acreditarem em mim, por sempre investirem e
apoiarem o meu futuro, por me guiarem, e por todo o amor, paciência e compreensão.
À minha irmã, Érica Rocha, pelo incentivo, pela confiança, pelas brigas, pelas risadas, e por
estar sempre presente em quaisquer situações.
Ao meu namorado, Jean Jar, por todo carinho, amor, compreensão e paciência. Obrigada por
sempre incentivar e acreditar nos meus sonhos, por ser meu melhor amigo e por dedicar e
abdicar do seu tempo para me acompanhar.
A Deus, por permitir que tudo isso se concretize, e por tudo mais que tem realizado em minha
vida.
A todos que contribuíram para a realização deste trabalho.
RESUMO
CONSÓRCIO DE CÁRTAMO E FEIJÃO CAUPI: ALTERNATIVA PARA A PRODUÇÃO
DE BIODIESEL NA AGRICULTURA FAMILIAR
As novas estratégias de desenvolvimento devem atuar principalmente nas áreas de eficiência
energética e agricultura sustentável. Desta forma, a substituição de combustíveis fósseis por
biocombustíveis, como o biodiesel, está cada vez mais em pauta. O cultivo de plantas
oleaginosas para a produção de biodiesel deve acontecer em sistemas integrados que
permitam melhores benefícios ambientais e sejam mais significativos socioeconomicamente.
Assim, os objetivos do presente estudo foram: avaliar as características morfoanatômicas e
fisiológicas de plantas de cártamo (Carthamus tinctorius L., oleaginosa promissora para a
produção de biodiesel) cultivadas em monocultivo e em consórcio com o feijão caupi (Vigna
unguiculata L. Walp.); além de caracterizar socioeconomicamente agricultores familiares e
verificar a aceitação deles acerca do cártamo como cultura energética. A metodologia
utilizada para as análises de crescimento do cártamo em monocultivo e consorciado com o
feijão, foram análises morfoanatômicas e histoquímicas, feitas com amostras de plantas
cultivadas em campo, nos dois sistemas de cultivo. Não houve alterações no crescimento e
anatomia das plantas, mesmo em consórcio, o que é satisfatório para indicar o sistema
consorciado para essas culturas e pode ser uma boa alternativa para o produtor familiar, que
pode ter o cártamo como fonte de renda, sem precisar abdicar de plantar sua fonte de
subsistência. Para a verificação da aceitação do cártamo por agricultores, foram feitas
entrevistas a agricultores familiares da agrovila Canudos, em Ceará-Mirim/RN. Percebeu-se
que boa parte deles aceitam a introdução do cártamo como cultura oleaginosa, apesar de
desconhecerem a espécie, além de que, por ser mais resistente à seca, o cártamo auxiliaria na
estabilidade das famílias, que dependem das condições do clima para o sucesso de seus
cultivos atuais. De maneira geral, conclui-se que o cártamo possui características que o
permite ser cultivado em consórcio para a produção de biodiesel aliada à produção de
alimentos, como o feijão caupi, e pode ser utilizado possibilitando melhor desenvolvimento
para a agricultura familiar.
PALAVRAS-CHAVE: Carthamus tinctorius, Policultivos, Cultivo consorciado, Oleaginosa,
Agricultura familiar, Vigna unguiculata.
ABSTRACT
CONSORTIUM SAFFLOWER AND COWPEA BEAN: ALTERNATIVE FOR BIODIESEL
PRODUCTION IN FAMILY FARM
The new development strategies should operate mainly in the areas of energy efficiency and
sustainable agriculture. Thus, the substitution of fossil fuels with biofuels, such as biodiesel,
is increasingly on the agenda. The cultivation of oilseed plants for biodiesel production must
take place in integrated systems that enable best environmental benefits and are more
economically significant. The objectives of this study were to assess the morphological,
anatomic, and physiological characteristics of safflower (Carthamus tinctorius L., promising
oilseed for biodiesel production) grown in monoculture and intercropping with cowpea bean
(Vigna unguiculata L. Walp.); and identify socioeconomic family farmers and verify their
acceptance about safflower as an energy crop. The methodology used for the analysis of
safflower growth in monoculture and intercropped with beans, were morphoanatomical and
histochemical analyzes, made with samples of plants grown in the field in two cropping
systems throughout the range of the life cycle of these plants. There were no changes in
growth and anatomy of plants, even in the consortium, which is satisfactory to indicate the
intercropping system for those crops and can be a good alternative for the family farmer, who
may have safflower as a source of income without giving up planting their livelihood. To
check the acceptance of safflower by farmers, interviews were made to family farmers by
Canudos agrovila in Ceará-Mirim/RN. It was noticed that many of them accept the
introduction of safflower as oil crop, although unaware of the species, and that, being more
resistant to drought, safflower help in the stability of families who depend on the weather
conditions for success their current crops. In general, it is concluded that safflower has
features that allows it to be grown in consortium for biodiesel production combined with the
production of food, such as cowpea, and can be used enabling better development for family
farmers.
KEYWORDS: Carthamus tinctorius, Policultives, Intercropping, Oilseed, Family farm,
Vigna unguiculata.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Consumo mundial de energia primária.....................................................................14
Figura 2: Reservas mundiais de carvão, gás e petróleo............................................................15
Figura 3: Carthamus tinctorius L..............................................................................................25
Figura 4: A – Planta adulta de Vigna unguiculata (L.) Walp.; B – Grãos de feijão caupi.......27
Figura 5: Localização das áreas de estudo................................................................................29
Figura 6: Arranjo espacial das plantas de cártamo e feijão caupi em campo...........................31
Capítulo 1
Figura 1: Disposição dos cultivos em campo............................................................................54
Figura 2: Taxa de emergência entre os tratamentos das culturas para teste t (P<0,05)............55
Figura 3: Altura da planta (A); Diâmetro caulinar (B)............................................................56
Figura 4: Secções transversais do caule e folha de C. tinctorius L...........................................57
Capítulo 2
Figura 1: (A) Perfil dos agricultores da agrovila Canudos quanto à faixa etária; (B) Perfil dos
agricultores da agrovila Canudos quanto ao estado civil..........................................................61
Figura 2: Principais culturas produzidas pelos agricultores familiares da agrovila Canudos...61
Figura 3: Respostas dos agricultores quanto à rentabilidade das culturas produzidas
atualmente na agrovila..............................................................................................................62
Figura 4: Aceitação do cártamo como cultura para a região da agrovila..................................62
SUMÁRIO
Introdução Geral e Fundamentação Teórica.......................................................................12
Aspectos Atuais do Desenvolvimento Sustentável...................................................................12
Inconstância da Problemática Energética.................................................................................13
Biodiesel como Estratégia para a Produção de Energia............................................................16
Agroecologia e Cultivo consorciado.........................................................................................18
Agricultura Familiar como Componente na Indústria de Biodiesel.........................................20
Carthamus tinctorius L. – Matéria-prima Promissora para o Biodiesel...................................24
Feijão Caupi: Aprimorando o Rendimento do Produtor no Cultivo Consorciado....................26
Caracterização Geral da Área de Estudo.............................................................................29
Metodologia Geral...................................................................................................................30
1. Cultivo.................................................................................................................................30
2. Análises de Germinação, Crescimento e Morfoanatomia...................................................31
2.1. Taxa de emergência.......................................................................................................31
2.2. Análises de Crescimento...............................................................................................31
2.3. Microscopia Óptica.......................................................................................................32
2.3.1. Anatomia Vegetal..........................................................................................................32
2.3.2. Testes Histoquímicos....................................................................................................32
3. Aceitação do Cártamo e do Cultivo Consorciado...............................................................33
Referências...............................................................................................................................34
Capítulo 1: Carthamus tinctorius L. (Asteraceae) e Vigna unguiculata (L.) Walp.
(Leguminosae) em sistema de cultivo consorciado: efeitos na germinação, crescimento e
anatomia...................................................................................................................................41
Resumo......................................................................................................................................41
Abstract.....................................................................................................................................42
Introdução.................................................................................................................................43
Material e Métodos...................................................................................................................45
Resultados.................................................................................................................................46
Discussão..................................................................................................................................48
Conclusão..................................................................................................................................49
Agradecimentos........................................................................................................................49
Referências................................................................................................................................49
Capítulo 2: Caracterização dos agricultores familiares da Agrovila Canudos, Ceará-
Mirim/RN, e sua receptividade a uma oleaginosa pouco convencional - Carthamus
tinctorius L...............................................................................................................................58
Resumo......................................................................................................................................58
Abstract.....................................................................................................................................58
Introdução.................................................................................................................................59
Metodologia..............................................................................................................................60
Resultados e Discussão.............................................................................................................60
Conclusão..................................................................................................................................64
Referências................................................................................................................................64
Conclusões Gerais...................................................................................................................67
Apêndice: Roteiro de entrevista...............................................................................................68
12
INTRODUÇÃO GERAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
ASPECTOS ATUAIS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
É necessária uma redefinição do padrão de produção e de consumo que caracteriza o
mundo atual (BERMANN, 2008). Dentre as transformações mundiais das últimas décadas,
aquelas vinculadas à degradação ambiental e à crescente desigualdade entre regiões assumem
um lugar de destaque no reforço à adoção de mudanças (JACOBI, 2003).
Sobre isto, Beck (2009) argumenta que o mundo já não pode controlar os perigos
produzidos pela modernidade. A crença de que a sociedade moderna pode controlar os
perigos que ela mesma produz está em colapso – e não por causa da sua omissão e derrotas,
mas por causa de seus triunfos. As mudanças climáticas e poluição ambiental, por exemplo,
são produtos da industrialização bem-sucedida que ignora sistematicamente as suas
consequências para a natureza e a humanidade.
A sociedade moderna, com seus elevados níveis de consumo, tem enfrentado questões
que se expressam em escala global. Estas questões, apesar de terem origem antrópica,
representam riscos sistêmicos à própria manutenção e sobrevivência do ser humano. Ademais,
as consequências negativas afetam principalmente a população mais empobrecida, o que
remete a um problema social em torno da questão, e faz relembrar o conceito de
desenvolvimento sustentável (BECK, 1992, 2009; SACHS, 2005).
O desenvolvimento pode ser visto como um processo de expansão das liberdades reais
que as pessoas desfrutam (SEN, 1999), ele é formado por uma infinidade de fatores
determinantes, mas cujo andamento depende, justamente, da presença de um horizonte
estratégico entre seus protagonistas decisivos. O que está em aberto nesse processo é o
conteúdo da própria cooperação humana e a maneira como, no âmbito dessa cooperação, as
sociedades optam por usar os ecossistemas de que dependem (ABRAMOVAY, 2010).
O informe Nosso Futuro Comum, da Comissão Brundtland, propôs a definição mais
conhecida de desenvolvimento sustentável: “é aquele que atende as necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias
necessidades” (CMMAD, 1987).
É necessária uma estratégia de desenvolvimento que seja capaz de proporcionar às
gerações atuais e futuras uma probabilidade razoável de obterem o máximo de suas vidas,
oferecendo-lhes condições materiais decentes e permitindo ao mesmo tempo o exercício e
desfrute das liberdades básicas (SACHS, 2012).
13
Frente a isto, documento da UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente) de 2011 cita que a manutenção das tendências atuais (de crescimento populacional,
expansão econômica e inovação tecnológica) conduziria à extração anual de 140 bilhões de
toneladas de recursos em 2050, o que é absolutamente incompatível com os limites
ecossistêmicos (UNEP, 2011). O ritmo de crescimento da riqueza mundial ultrapassa
claramente a velocidade no aumento do uso dos recursos materiais, energéticos e bióticos em
que ela se apoia. O desafio da governança contemporânea consiste em gerir o excesso e,
sobretudo, os excessos decorrentes das gigantescas desigualdades (ABRAMOVAY, 2012).
É importante, ainda segundo Abramovay (2012), a implantação de uma governança
global que transforme a ciência, o conhecimento e a informação em bens comuns da espécie
humana voltados à resolução do mais grave desafio por ela já enfrentado que é a
compatibilização entre o tamanho do sistema econômico e os limites dos ecossistemas.
Sobre isto Georgescu-Roegen (1973), afirma que a pesquisa científica sobre fontes de
energia menos nocivas ao ambiente, ou à escala de gastos para a contenção ou reparação de
danos provocados por mudanças climáticas é um desses exemplos que precisa estar ancorado
nos ideais de união entre sociedade, natureza e economia, que são a base para o entendimento
do desenvolvimento sustentável.
Segundo o documento da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio
e Desenvolvimento), publicado em 2010, há a necessidade de mudanças urgentes no
direcionamento de recursos, para que o crescimento econômico seja mais sustentável. As
mudanças devem vir das seguintes áreas: eficiência energética, agricultura sustentável e
energias renováveis (UNCTAD, 2010).
INCOSTÂNCIA DA PROBLEMÁTICA ENERGÉTICA
A política energética precisa interagir sistematicamente com a política econômica e
ambiental, através da gestão estratégica da matriz energética e da construção de uma
sustentabilidade efetiva. Porém, a construção dessa matriz energética sustentável tem como
pano de fundo os impactos do uso desmensurado dos combustíveis fósseis (RODRIGUES;
COSTA, 2012).
A nossa matriz energética transformou de maneira radical os estilos de vida e de
consumo, imprimindo à nossa civilização feições perversas caracterizadas por um desperdício
monumental de energia (SACHS, 2007).
A produção de energia no século 20 foi dominada por combustíveis fósseis (carvão,
petróleo e gás) que representavam ainda no início do século 21, cerca de 80% de toda a
14
energia produzida no mundo (GOLDEMBERG, 2009). De acordo com a estimativa da
Agência Internacional de Energia em 2013, a demanda global de energia deve aumentar em
53% até 2030 (Figura 1). Atualmente, a maior parte desta demanda (88,6%) ainda é cumprida
pelos combustíveis fósseis, em que o petróleo bruto corresponde a 33,7%, o carvão por
30,5%, e o gás natural por 24,4% (Figura 2) (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY,
2013).
Figura 1: Consumo mundial de energia primária. Fonte: British Petroleum (2013) apud
Ashraful et al. (2014) – adaptado.
Figura 2: Projeção das reservas mundiais de carvão, gás e petróleo. Fonte: Ashraful et al.
(2014) – adaptado.
15
Para Sachs (2005, 2007), as novas reservas de petróleo, aparentemente não
compensam a extração, o que causa a tendência para a alta nos preços e, independentemente
dos custos econômicos, a comunidade internacional deve atentar para a redução do consumo
de energias fósseis para evitar mudanças climáticas deletérias. Além do fato de que essas
incertezas decorrentes da geopolítica do petróleo ameaçam crescentemente a paz mundial.
Esses fatores marcam o início de mais uma revolução energética.
Os picos de preço do petróleo ao longo do tempo foram determinados menos pelo
confronto entre oferta e demanda, e mais pela instabilidade nas regiões produtoras e pela
estrutura oligopolizada do setor, sendo impossível argumentar com segurança sobre o
comportamento de tais preços (FAVARETO et al., 2012).
Essa instabilidade estre oferta e demanda do petróleo pode ser exemplificada com a
atual queda no preço do produto devido a uma grande quantidade de excedente resultante do
aumento da produção em países como Iraque e Líbia, que querem desestabilizar os
investimentos dos EUA no setor (HERSZENHORN, 2014). Essa queda no preço do
combustível está refletindo globalmente e, no Brasil, há prejuízos quanto aos planos de
investimento da estatal Petrobrás no pré-sal, já que os custos para se extrair petróleo dessas
reservas são mais altos do que os de reservas tradicionais, o que não compensa a extração
(BOWLER, 2014).
O setor de energia encontra dificuldades porque o aumento nos níveis de produção e
consumo implicam níveis mais elevados de poluição e, eventualmente, em mudanças
16
climáticas com consequências desastrosas. Além disso, é importante garantir a energia a um
custo aceitável de modo a evitar impactos sobre o crescimento econômico (OMER, 2006).
Partindo-se deste princípio, há a necessidade da implementação de uma matriz
energética mais limpa e renovável. É fundamental fazer progredir essas novas fontes de
energia e dobrar sua participação na matriz energética mundial (ABRAMOVAY, 2012).
De acordo com Omer (2006), energia renovável é o termo usado para descrever uma
ampla gama de fontes de energia cuja reposição é de ocorrência natural. O uso de fontes
renováveis de energia e o uso racional dessa energia são os insumos fundamentais para
qualquer política energética responsável.
Hoje, a energia renovável contribui para 13% do total consumo de energia global, em
que a bioenergia é responsável por aproximadamente 10% (HO et al., 2014). Bioenergia
refere-se ao conteúdo de energia em produtos sólidos, líquidos e gasosos derivados de
matérias-primas biológicas (biomassa). Isso inclui os biocombustíveis para transportes (por
exemplo, bioetanol e biodiesel), produtos para a produção de eletricidade e calor (por
exemplo, madeira e pastilhas), bem como o biogás (por exemplo, de biometano e hidrogênio)
produzido de processamento de materiais biológicos de resíduos urbanos e industriais (HO et
al., 2014; INTERNATIONAL ENERGY AGENCY, 2010).
A busca do perfil energético remete também, segundo Sachs (2007), a questões como
estilos de vida, padrões de consumo, organização do espaço e do aparelho produtivo,
reestruturação dos espaços urbanos, seletividade nas relações comerciais, durabilidade dos
produtos e melhor manutenção do patrimônio das infraestruturas, edificações, dos
equipamentos e veículos.
BIODIESEL COMO ESTRATÉGIA PARA A PRODUÇÃO DE ENERGIA
Frente à necessidade de novas fontes de energia, o uso em larga escala da energia
proveniente da biomassa é apontado como uma opção que poderia contribuir para o
desenvolvimento mais sustentável. O biodiesel é um exemplo, já em aplicação, do emprego
da biomassa para produção de energia (FERREIRA; CRUZ, 2009).
O biodiesel tem sido identificado como uma das opções notáveis para complementar
os combustíveis convencionais. Sua produção deriva de fontes biológicas renováveis, tais
como gorduras e óleos vegetais. Suas vantagens sobre o diesel de petróleo não podem ser
subestimadas, pois, é seguro, não tóxico, biodegradável, não contém enxofre, e é um melhor
lubrificante (ARANSIOLA et al., 2014). Além disso, seu uso pode gerar inúmeros benefícios
sociais: revitalização rural, criação de novos empregos e redução do aquecimento global.
17
Neste contexto de busca por fontes renováveis de energia, os agrocombustíveis, mais
particularmente o etanol e o biodiesel, se destacam, pois, só eles guardam características
altamente positivas de densidade energética, flexibilidade de uso, facilidade de
armazenamento e transportabilidade, garantindo aceitação no mercado (SOUSA, 2010).
A obtenção do biodiesel se dá por diferentes processos, segundo Silva e Freitas
(2008), como o craqueamento, esterificação ou transesterificação. Pode ser utilizado puro ou
em misturas com óleo diesel derivado do petróleo, em diferentes proporções. Quando o
combustível provém da mistura dos dois óleos, recebe o nome da porcentagem de
participação do biodiesel, sendo B2 quando possui 2% de biodiesel, B20 quando possui 20%,
até chegar ao B100, que é o biodiesel puro.
O custo de produção do biodiesel continua sendo um grande obstáculo para sua
implementação. A produção do biodiesel custa aproximadamente US$0,51, enquanto o óleo
diesel derivado do petróleo apresenta um custo de US$0,361 (ZHANG, 2003). Além do alto
custo algumas outras desvantagens incluem armazenamento e estabilidade à oxidação
inferiores, alto custo de matéria-prima, baixo valor de aquecimento e emissões de NOx
superior ao do combustível diesel (ASHRAFUL et al., 2014). O custo de produção ainda é
muito variável, pois depende da matéria-prima e do processo utilizado, além do local onde o
biodiesel é produzido, de acordo com (SILVA; FREITAS, 2008).
Sachs (2007) ressalta que embora a substituição dos derivados do petróleo por
biocombustíveis contribua em princípio para a redução das emissões dos gases de efeito
estufa, é necessário atentar para as condições de sua produção. O impacto ambiental vai
depender dos cultivos escolhidos, da maneira como são cultivados e processados.
A expansão do cultivo de plantas para a produção de biocombustíveis deve se dar em
áreas disponíveis degradadas ou já desflorestadas (BERMANN, 2007). Essa pressão sobre os
ecossistemas pode ser equacionada com formas de zoneamento que prevejam critérios e
condições para a expansão de culturas destinadas ao suprimento de matérias-primas aos
biocombustíveis (FAVARETO et al., 2006).
Não se dá suficiente atenção à produção de óleos combustíveis nas áreas degradadas.
Assim, por exemplo, o pinhão-manso pode ser cultivado em terras degradadas e
semidesérticas com uma produtividade estimada na Índia em duas toneladas de biodiesel por
hectare/ano (SACHS, 2007). As terras degradadas de várias espécies são estimadas nesse país
em 50 a 130 milhões de hectares. Um dos grandes problemas da oferta de biocombustíveis
são quase inteiramente superados quando se passam a utilizar não as terras mais férteis, e sim
áreas degradadas (TILMAN et al., 2006).
18
A produção de biocombustíveis tem aumentado na última década, e atualmente
abastece 3,4% das necessidades globais de combustível do transporte rodoviário, com uma
participação considerável no Brasil (21%), e uma parte nos Estados Unidos (4%) e na União
Européia (3%), de acordo com a Agência Internacional de Energia (2013).
Em relação aos biocombustíveis, Gazzoni (2009), cita que o Brasil se encontra em
posição confortável, principalmente por ser o líder mundial na produção de bioetanol. Por isso
foi editado, em 13 de janeiro de 2005, o projeto de lei 11097/05 que instituiu o Programa
Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), com o intuito de inserir na matriz
energética brasileira um novo produto que venha promover a sua independência energética.
Anterior a isto, o governo brasileiro já havia desenvolvido o Programa Nacional do
Álcool Combustível – Proálcool, utilizando a cana-de-açúcar como matéria-prima para a
produção de álcool combustível, com o objetivo de reduzir a dependência externa por petróleo
e desenvolver o setor sucroalcooleiro do país (SALLET; ALVIM, 2011).
Ao contrário do Proálcool, o PNPB, desde a sua formulação inicial tem a preocupação
central de aliar a renovação da matriz energética à inclusão social e à redução das
disparidades regionais (SALLET; ALVIM, 2011).
AGROECOLOGIA E CULTIVO CONSORCIADO
No padrão produtivo atual, mais de dois terços da bioenergia é baseada em matérias-
primas agrícolas, levando a preocupações sobre a competição por terra e água para a produção
de alimentos e fibras, além de outras questões ambientais relacionadas com o uso da terra
(HO et al., 2014). Em escala mundial, os cálculos estão por ser feitos para saber até onde se
poderá avançar na substituição de energias fósseis por produtos da agroenergia, e em que
ritmo, sem pôr em perigo o objetivo de segurança alimentar e sem provocar o desmatamento
maciço das florestas naturais (SACHS, 2010).
Acerca disso, a expansão dos biocombustíveis pode aumentar ainda mais o preço dos
produtos agrícolas de 8 – 34% (cereais), 9 – 27% (outras culturas) e 1 – 6% (gado) em 2020
(FISCHER, 2006).
Está também crescendo o interesse no desenvolvimento de sistemas integrados que
permitiriam a coprodução de matéria-prima energética com outro produto agrícola, como
meio de atingir economias significativas no custo e benefícios ambientais (GOLDEMBERG,
2009). Essa integração na produção de alimentos e energia deve ser adaptada aos diferentes
biomas, e deverão buscar soluções intensivas em conhecimentos e em trabalho, poupadoras de
19
recursos naturais (solos e água) e do capital, propondo sistemas integrados acessíveis aos
pequenos agricultores, como é o caso do cultivo consorciado (SACHS, 2007).
A concorrência no uso de fatores de produção pode ser contornada com o uso de
sistemas de produção consorciada de alimentos e energia (FAVARETO, 2012). Para Portes e
Silva (1996) apud Maciel et al. (2004), entende-se por consórcio de culturas o sistema de
cultivo em que a semeadura de duas ou mais espécies é realizada em uma mesma área, de
modo que uma das culturas conviva com a outra, em todo ou em pelo menos parte do seu
ciclo. O consórcio funciona como uma maneira de oferecer ao agricultor produtos destinados
à alimentação e à indústria, cujos excedentes do primeiro e a totalidade do segundo são
destinados à venda (NETO et al., 1991).
O uso do consórcio utiliza pleno uso dos recursos naturais, previne as doenças, pragas
e insetos, diminui a necessidade de fertilizantes químicos e pesticidas, reduz a poluição
ambiental, diminui os custos de produção e melhora o rendimento do produtor, bem como
seus lucros, de acordo com Zhang et al. (2012). Por meio da associação ou consórcio de
plantas companheiras é possível obter efeitos positivos, com aumento da produtividade e
manutenção da qualidade do solo (KAMIYAMA, 2011).
Altieri (2004) explica que através do plantio intercalado ou consorciado, os
agricultores beneficiam-se da capacidade dos sistemas de cultivo de reutilizar seus próprios
estoques de nutriente. A tendência de algumas culturas de exaurir o solo é contrabalanceada
através do cultivo intercalado de outras espécies que enriquecem o solo com matéria orgânica.
O nitrogênio do solo, por exemplo, pode ser incrementado com a incorporação de
leguminosas à mistura de cultivos. No consórcio, um cultivo pode ser utilizado para proteger
de riscos outros cultivos mais suscetíveis ou mais valorizados economicamente.
Um maior número de espécies pode melhorar a produtividade dos ecossistemas. A
coocorrência de espécies ou grupos funcionais com estratégias ecológicas diferentes e
específicas, levará a um aumento da exploração de recursos e, portanto, para uma relação
positiva entre a biodiversidade e o funcionamento dos ecossistemas (TILMAN et al., 2008). A
complementaridade ocorre por causa da facilitação e da diferenciação de nicho entre as
espécies envolvidas. O trabalho de Tilman et al. (2006) mostrou em seus cultivos
experimentais em consórcio que todas as formas de conversão das plantas cultivadas neste
sistema batizado como “low-input high deversity” (LIHD) mostraram-se significativamente
mais eficientes que as das monoculturas atualmente dominantes. Um dos indicadores mais
positivos foi o fato de que a diversidade de plantas amplia a capacidade de estocagem de
carbono, quando comparada com plantios homogêneos.
20
Nos sistemas familiares de produção, de acordo com Silva et al. (2011), os agricultores
empregam princípios de utilização sustentável dos recursos naturais a partir dos consórcios. O
uso de leguminosas, por exemplo, busca viabilizar sistemas produtivos de baixo nível de
insumos, como cobertura do solo e adubação verde, em unidade de produção familiar, visto
que confere ao agricultor certa autonomia em relação à disponibilidade de matéria orgânica e
nitrogênio da fixação simbiótica, além de outros benefícios dessa ampliação da biodiversidade
funcional.
Na prática do consórcio, busca-se reduzir a competição entre as culturas fornecendo
água, nutrientes e quantidade de plantas adequada, evitando o adensamento (SOUZA et al,
2013).
O arranjo de duas ou mais espécies é possível devido às diferentes exigências das
culturas consorciadas (TÁVORA et al., 2007). A competição depende das espécies
envolvidas, dos seus sistemas radiculares e da disponibilidade de água e nutrientes.
Desta forma, é necessária uma nova forma de agricultura que concilie processos
biológicos (base do crescimento de plantas e animais) e processos geoquímicos e físicos (base
do funcionamento de solos que sustentam a produção agrícola) com os processos produtivos,
os quais envolvem componentes sociais, políticos, econômicos e culturais (ALTIERI, 2004).
AGRICULTURA FAMILIAR COMO COMPONENTE NA INDÚSTRIA DE
BIODIESEL
A produção de biocombustíveis no Brasil vem sendo colocada em pauta não somente
pela necessidade de matrizes energéticas alternativas, mas também pelo seu potencial como
vetor de possíveis ganhos econômicos e sociais. Uma destas dimensões, o aspecto social,
busca avaliar a possibilidade de que a produção de biodiesel seja capaz de oferecer
oportunidades inovadoras para a agricultura familiar, segundo Diniz e Favareto (2012).
A agricultura familiar é aquela em que a família rural ao mesmo tempo detém a posse
dos meios de produção e realiza o trabalho na unidade produtiva, podendo produzir tanto para
sua subsistência quanto para o mercado (VEIGA, 1996).
A agricultura não familiar, ou patronal, engendra forte concentração de renda e
exclusão social (VEIGA, 1996), enquanto a agricultura familiar, ao contrário, apresenta um
perfil essencialmente distributivo, além de ser incomparavelmente melhor em termos
socioculturais. Sob o prisma da sustentabilidade (estabilidade, resiliência, equidade), são
muitas as vantagens apresentadas pela organização familiar na produção agropecuária, devido
à sua ênfase na diversificação e na maleabilidade do seu processo decisório. A versatilidade
21
da agricultura familiar se opõe à especialização cada vez mais fragmentada da agricultura
patronal.
O cultivo de matérias-primas e a produção industrial de biodiesel tem grande potencial
de geração de emprego, que é uma forma de inclusão social, especialmente quando se
considera o amplo potencial produtivo da agricultura familiar (POMPELLI, 2011).
Silva, J. (2013) afirma que, diferentemente dos programas internacionais de estímulo à
produção do biodiesel, no Brasil, o Programa Nacional de Uso e Produção do Biodiesel
(PNPB), se destaca pelo seu aspecto social: inserção da agricultura familiar na produção das
oleaginosas, gerando emprego e renda aos agricultores. O PNPB é coordenado pelo
Ministério de Minas e Energia (MME) e integrado a órgãos como o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
e Biocombustíveis (ANP), Petrobras e Embrapa, além do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA).
Ainda para Silva, J. (2013), O PNPB tem como objetivos:
1. Reduzir as importações de diesel e, portanto, gerar divisas para o país;
2. Implantar um programa sustentável, com inclusão social por meio da geração
de emprego e renda para agricultura familiar;
3. Aumentar a competitividade e qualidade do suprimento;
4. Diversificar as matérias-primas, explorando as potencialidades regionais, para
produção do biodiesel.
Nas diretrizes do PNPB estão estabelecidos, como princípios, o enfoque regional, que
deve pautar a organização da produção agrícola, o desenvolvimento de áreas rurais, e o
objetivo de complementação de renda, no âmbito da agricultura familiar (ABRAMOVAY;
MAGALHÃES, 2007).
O PNPB, considerando o potencial da agricultura brasileira tanto em dimensão quanto
em diversidade, almejou incluir diretamente o setor agrícola no processo de produção do
biodiesel. O objetivo era que este procedimento levasse ao desenvolvimento regional e a
ampliação da oferta de empregos, ou seja, a minimização das desigualdades regionais do país
a uma maior equidade social, segundo Brasil (2003) apud Freitas e Lucon (2011).
O PNPB não é restritivo e permite a utilização de várias plantas oleaginosas ou
matéria-prima animal. Essa flexibilidade possibilita a participação do agronegócio e da
agricultura familiar e o melhor aproveitamento do solo disponível para a agricultura.
Independentemente da matéria-prima e da rota tecnológica, o biodiesel é introduzido no
mercado nacional de combustíveis com especificação única (WILKINSON; HERRERA,
2008).
22
Para promover a inclusão social, o governo brasileiro instituiu ainda o Selo de
Combustível Social, concedido a empresas que garantam a compra de matéria-prima a
pequenos agricultores em percentual mínimo de 50% para a região Nordeste ou em geral para
climas semiáridos, 10% para a região Norte ou Centro Oeste, e ainda 30% para as regiões
Sudeste e Sul. Com isso, a empresa garante alíquotas de PIS/Pasep e Cofins com coeficientes
de redução diferenciados, e acesso às melhores condições de financiamento junto ao BNDES.
O produtor de biodiesel também poderá usar o selo para fins de promoção comercial de sua
empresa. Os pequenos produtores, por outro lado, também terão acesso a linhas de crédito que
facilitem a produção de oleaginosas (POMPELLI et al., 2011).
Além de haver redução da carga de impostos para as empresas que compram matéria-
prima da agricultura familiar, os custos de produção desses agricultores são menores
(ABRAMOVAY; MAGALHÃES, 2007). Segundo Silva, J. (2013) o pequeno uso de
mecanização e de insumos químicos e, principalmente, os subsídios no crédito fazem com que
o sistema de produção familiar seja mais competitivo do que os de produção em grande
escala. Enquanto as grandes empresas compradoras de soja, na região Centro-Oeste, pré-
financiam seus fornecedores com juros de mercado, os agricultores familiares produzem
matéria-prima para biodiesel com juros subsidiados.
As empresas com Selo Combustível Social entram no mercado com uma marca social
que poderá lhes proporcionar maiores oportunidades de acesso e menores riscos de
contestação, para Abramovay e Magalhães (2007), pois ele é o único sistema de certificação
de biocombustível no mercado internacional.
Segundo o Selo Combustível Social o produtor de biodiesel terá que adquirir da
agricultura familiar pelo menos 50% das matérias-primas necessárias à sua produção de
biodiesel provenientes do Nordeste e semiárido. Nas regiões sudeste e sul, este percentual
mínimo é de 30%, nas regiões norte e centro-oeste, é de 10% (WILKINSON; HERRERA,
2008).
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (FETRAF) desenvolve um
programa de produção e uso de energias renováveis na agricultura familiar. Para a federação,
a participação da agricultura familiar neste processo deve levar em conta a garantia da
diversidade e da produção de alimentos em consórcio com a produção da oleaginosa, a
produção de óleo vegetal pela agricultura familiar como estratégia de autonomia no uso de
combustíveis, a produção agroecológica, a participação de jovens, mulheres e da terceira
idade nos processos de produção e organização social, a valorização das culturas locais, e a
preservação e recuperação de recursos naturais, afirma Wilkinson e Herrera (2008).
23
A inserção da agricultura familiar no mercado de biodiesel liga-se a uma inovação
relevante na esfera dos sistemas de governança local. No âmbito dos arranjos produtivos
formados em torno das indústrias de biodiesel, é prevista a articulação entre os agricultores,
empresários e sindicatos na negociação e execução de contratos socialmente monitorados, que
estimulam comportamentos de cooperação entre atores que tiveram entre si um longo
histórico de conflitos e oposição (FAVARETO et al., 2012).
Apesar do exposto, Favareto (2012) assegura que desde o início da execução do
PNPB, os resultados de inclusão social no Nordeste foram particularmente frustrantes, sendo
as principais causas apontadas: a pouca organização dos produtores; o baixo acesso a
tecnologias, conhecimento e aos insumos de produção; e a dependência de uma única
empresa. Ainda assim, vale ressaltar que, em função da nova oportunidade de comercialização
criada pelo mercado de biodiesel, houve uma forte elevação de preços pagos ao agricultor.
Devem ser estudadas formas alternativas de modo que os agricultores familiares
tenham uma participação mais intensa e eficiente no processo tecnológico, não se limitando
apenas à produção de matérias-primas. Uma sugestão, nesse sentido, é o fomento de
cooperativas que atuem em todos os itens da cadeia produtiva de biodiesel (BERMANN,
2007).
O desempenho da agricultura familiar reflete um conjunto amplo de condicionantes,
desde a disponibilidade de recursos, a inserção socioeconômica, a localização geográfica, as
oportunidades e a conjuntura econômica, as instituições e valores culturais da família, do
grupo social e até mesmo do país. Apesar da importância desses fatores, pode-se considerar,
com certo grau de simplificação, que os quatro principais condicionantes do desenvolvimento
rural são os incentivos que os produtores tem para investir e produzir, a disponibilidade de
recursos, particularmente terras, água, mão-de-obra, capital e tecnologia, que determinam o
potencial de produção, o acesso aos mercados, insumos, informações e serviços que influem
de forma decisiva na capacidade efetiva de produção e, finalmente, as instituições que
influenciam as decisões dos agentes e inclusive sua capacidade, possibilidade e disposição
para produzir (BUANAIN; ROMEIRO; GUANZIROLI, 2003).
A eficiência agrícola na produção de oleaginosas precisa melhorar rapidamente no
Brasil, afirma Dália (2006). Isso passa pelos estudos de aptidão climática, pela
disponibilização de sementes e mudas de qualidade na quantidade necessária, por novas
pesquisas tecnológicas de matérias-primas potenciais, além de uma assistência e capacitação
técnica aos agricultores.
A agricultura familiar, como sujeito do desenvolvimento, é ainda um processo em
consolidação. O seu fortalecimento e valorização dependem de um conjunto de fatores
24
econômicos, sociais, políticos e culturais que necessitam ser implementados de uma forma
articulada por uma diversidade de atores e instrumentos. Sem dúvida, o Estado e as políticas
públicas cumprem um papel fundamental. Quanto mais essas políticas conseguirem se
transformar em respostas à estratégia geral de desenvolvimento com sustentabilidade e, ao
mesmo tempo, às demandas concretas e imediatas da realidade, mais adequadamente
cumprirão o seu papel, de acordo com Dália (2006).
Carthamus tinctorius L. – MATÉRIA-PRIMA PROMISSORA PARA O
BIODIESEL
A oferta de matéria-prima parece ser uma das principais dificuldades restritivas para a
implementação de um programa de produção extensiva de biodiesel (BELTRÃO;
OLIVEIRA, 2007). Diante deste cenário, uma espécie vegetal oleaginosa cujo óleo está
ganhando cada vez mais importância para o uso industrial como alternativa ao combustível
diesel é o cártamo (YAU; RYAN, 2010). Atualmente o cártamo tem sido alvo de estudos
devido ao seu potencial para produção de biocombustíveis. A cultura já é cultivada com esta
finalidade em muitos países, no entanto, pesquisas estão sendo realizadas, com o propósito de
aumentar a produção e consequentemente o rendimento de seu óleo (BONAMINGO et al.,
2013).
O cártamo – Carthamus tinctorius L. (Figura 3), é uma cultura multiuso pertencente à
família Asteraceae, originária da Ásia e África (DAJUE; MUNDEL, 1996). É uma cultura
que apresenta elevado valor econômico levando-se em conta que esta apresenta versatilidade
de propriedades (ABUD et al., 2010). Historicamente foi usada como corante de tecelagem e
o óleo na indústria de tintas. Atualmente ela é usada principalmente para extrair óleo
comestível, que é rico em ácidos oleico e linoleico. Outros usos comuns de cártamo incluem
uso medicinal e farmacêutico, bem como na indústria de cosméticos, especiarias, forragem,
flor de corte e alpiste. Após a extração do óleo, a torta de cártamo pode ser utilizada para
alimentação de ruminantes (FARRAN et al., 2009).
É uma planta herbácea, anual, com caule forte, glabro, ramificado, que cresce a uma
altura de 30 – 90 cm. As folhas são alternas, sésseis, ovado-lanceoladas com ou sem espinhos
nas margens. As flores são amarelas ou laranjas, dispostas em capítulos de 8 – 10 mm de
diâmetro (SHARMA; PUREY, 2008).
25
Figura 3: Carthamus tinctorius L. Fotos: Émile Rocha de Lima
O cártamo é tolerante ao frio, seca e salinidade, sendo cultivado nas regiões áridas e
semiáridas do mundo (WEISS, 2000), pois sua raiz pode penetrar no solo até uma
profundidade de três metros. Possui uma estrutura de raiz densa que pode melhorar a lavoura
e porosidade do solo. É recomendado o cultivo desta planta em áreas onde a precipitação
média anual esteja abaixo de 430 mm. Altas temperaturas não prejudicam a cultura, mesmo
em condições de seca prolongada, afirmam Sharma e Purey (2008).
A utilização da torta residual após a extração do óleo das sementes do cártamo, por ser
fonte de proteína bruta, pode ser ainda utilizada como coproduto para alimentação animal de
ruminantes e ovinos, por exemplo (BRÁS et al., 2014), o que favorece mais o seu valor
agregado para o pequeno agricultor.
O conteúdo de óleo das sementes de C. tinctorius varia entre 20 – 45% (DAJUE;
MUNDEL, 1996), e o conteúdo de proteína entre 15 – 20% (EKIN, 2005), dependendo da
variedade e do ambiente de crescimento. O óleo contém os ácidos graxos saturados palmítico
(C16: 0) e esteárico (C18: 0) e os ácidos graxos insaturados oleico (C18: 1), linoleico (C18: 2)
e linolênico (C18: 3). Apresenta cerca de 6 – 8% de ácido palmítico, 2 – 3% de ácido
esteárico, 16 – 20% de ácido oleico e 71 – 75% de ácido linoleico (EKIN, 2005). A
quantidade de ácido linoleico das sementes de cártamo é mais elevada do que a do milho,
soja, algodão, amendoim e azeite de oliva (OELKE et al., 1992).
Em relação à qualidade do biodiesel, as variedades recém-criadas produzem óleo com
80% de ácido oleico monoinsaturado (SINGH, 2006; ANONYMOUS, 2007) que é estável a
26
temperaturas elevadas, o que torna este óleo superior ao de outras oleaginosas para a produção
de biodiesel (MIHAELA et al., 2013).
Apesar de ser uma das culturas mais antigas da humanidade, o cártamo tem sido
cultivado em pequenas propriedades para uso pessoal do produtor, registrando apenas 0,1%
do total da produção agrícola mundial. A produção mundial estimada é de cerca de 0,6
milhões de toneladas de grãos por ano, de cerca de 0,85 milhões de hectares, de acordo com
FAOSTAT (2001) apud Mihaela et al. (2013). A produção por hectare é atualmente baixa,
cerca de 1.000 – 1.200 Kg/ha, em condições tecnológicas adequadas (OLTEANU, 2009).
Atualmente esta cultura é cultivada em mais de 30 países, com a Índia, México e EUA
contribuindo com cerca de 70% da produção mundial de óleo de cártamo (HARRATHI et al.,
2012).
No presente, os principais esforços de produção para ao cártamo são de aumentar o
rendimento da cultura no campo e otimizar seu perfil de ácidos graxos, para que ele seja cada
vez mais competitivo e utilizado com sucesso na indústria de biocombustíveis.
FEIJÃO CAUPI: APRIMORANDO O RENDIMENTO DO PRODUTOR NO
CULTIVO CONSORCIADO
Dentre as várias culturas utilizadas em sistemas de consórcio no Brasil, o feijão caupi
tem sido utilizado, pois além de incrementar a produtividade de alimentos e o rendimento do
produtor, é uma cultura de ciclo curto e apresenta baixa habilidade competitiva (CARDOSO
et al., 1992).
O feijão caupi, Vigna unguiculata (L.) Walp. (Figura 4), é uma dicotiledônea da
família Fabaceae de origem africana (FREIRE FILHO, 2011). É muito consumido pelos seres
humanos desde os primeiros registros de práticas agrícolas, e isso tem sido atribuído ao seu
papel medicinal, cultural e nutricional. As leguminosas em geral, são importantes
componentes das dietas dos países em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina
(PHILIPS; MCWATTERS, 1991).
Figura 4: A – Planta adulta de Vigna unguiculata (L.) Walp.; B – Grãos de feijão caupi.
Fotos: Émile Rocha de Lima
27
As sementes de feijão caupi representam uma importante fonte de proteína. Além
disso, suas vagens verdes e as folhas são utilizadas como legumes verdes, e as partes da planta
seca como ração animal (ANTOVA et al., 2014).
Por causa da sua tolerância à seca, o feijão caupi muitas vezes torna-se uma cultura
alternativa para o feijão comum. Seu rendimento é mais estável sob condições de estresses
abióticos (altas temperaturas e pouca chuva) e exige menos intervenção no período vegetativo
(LOBATO et al., 2009; STOILOVA et al., 2003).
No Brasil, a produção, anualmente, situa-se em torno de 482 mil toneladas, sendo
Piauí, Ceará e Bahia os maiores produtores dessa leguminosa (SILVA, K., 2009).
No Brasil, o feijão caupi tem importância tanto como alimento quanto como gerador
de emprego e renda. É rico em proteína, minerais e fibras e constitui um componente
alimentar básico das populações rurais e urbanas das regiões Norte e Nordeste (FROTA et al.,
2008; SINGH, 2007). Possui vários nomes populares, dentre os mais usados incluem: feijão-
macassar e feijão-de-corda na região Nordeste; Feijão-de-praia, feijão-da-colônia e feijão-de-
estrada na região Norte e feijão-miúdo na região Sul (FREIRE FILHO, 2011).
Na região Nordeste, a produção tradicionalmente concentra-se nas áreas semiáridas,
onde outras culturas leguminosas anuais, em razão da irregularidade das chuvas e das altas
temperaturas, não se desenvolvem satisfatoriamente. A produção de feijão caupi nas regiões
Nordeste e Norte é feita por empresários e agricultores familiares que ainda utilizam práticas
tradicionais. Na região Centro-Oeste, onde ele passou a ser cultivado em larga escala a partir
de 2006, a produção provém principalmente de médios e grandes empresários que praticam
uma lavoura altamente tecnificada, de acordo com Freire Filho (2011).
As leguminosas, como o feijão caupi, estão entre as espécies preferidas para o uso em
cultivos consorciados, pois, oferecem diversas vantagens às outras espécies associadas. As
leguminosas têm altas taxas de decomposição de serapilheira, baixa eficiência de utilização de
28
nutrientes e, por causa de suas relações simbióticas, tem grandes efeitos na disponibilidade e
fornecimento de nitrogênio em muitos sistemas naturais e agrícolas. Em campos temperados,
o nitrogênio é um dos recursos que mais limitam a produção (KAHMEN et al., 2006).
Diante das considerações e de toda a problemática abordada nesta fundamentação
teórica, a hipótese testada nesta dissertação é: o cultivo consorciado não afeta o
desenvolvimento das plantas de cártamo e de feijão caupi. Outras situações possíveis são a
ocorrência de influência, de forma positiva (melhor desempenho no crescimento das culturas
em consórcio do que no monocultivo), ou negativa (desempenho inferior ao monocultivo). A
ausência de influência (crescimento igual das culturas nos dois sistemas de cultivo), bem
como a influência positiva, são indicativos para recomendar o cultivo consorciado para essas
culturas. Testa-se também a hipótese: o cártamo é aceito por pequenos agricultores da
agrovila Canudos em Ceará-Mirim, como uma alternativa para o desenvolvimento da região.
Desta forma, o objetivo deste trabalho é avaliar as características morfoanatômicas e
fisiológicas de plantas de cártamo cultivadas em monocultivo e em consórcio com o feijão
caupi. Esta pesquisa ainda objetiva investigar socioeconomicamente agricultores familiares e
verificar a aceitação deles acerca do cártamo como cultura energética.
Esta dissertação encontra-se composta por esta Introdução geral, uma Caracterização
geral da área de estudo, Metodologia geral empregada para o conjunto da obra, e por dois
capítulos que correspondem a artigos científicos submetidos à publicação. O capítulo 1,
intitulado ”Carthamus tinctorius L. (Asteraceae) e Vigna unguiculata (L.) Walp.
(Leguminosae) em sistema de cultivo consorciado: efeitos na germinação, crescimento e
anatomia”, já foi submetido à Revista Árvore e, portanto, está formatado conforme este
pediódico. Da mesma forma, o capítulo 2, intitulado “Caracterização dos agricultores
familiares da Agrovila Canudos, Ceará-Mirim/RN, e sua receptividade a uma oleaginosa
pouco convencional - Carthamus tinctorius L.”, foi submetido à Revista Rede do Prodema e,
portanto, está formatado conforme este periódico.
29
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO
A área experimental do trabalho ocorreu na Escola Agrícola de Jundiaí, pertencente ao
Distrito de Jundiaí, Macaíba – RN (Figura 5). O município de Macaíba situa-se na
mesorregião Leste Potiguar e na microrregião Macaíba. A sede do município tem uma altitude
média de 11 m e apresenta coordenadas 05° 51’ 30” de latitude sul e 35° 21’ 14” de longitude
oeste. Macaíba tem clima tropical chuvoso com verão seco e estação chuvosa adiantando-se
para o outono. Tem uma média de precipitação anual de 1.442,8 mm e cerca de 27,1ºC de
temperatura média, e umidade relativa do ar de 76% (IDEMA, 2013; CPRM ,2005).
Figura 5: Localização das áreas de estudo. Linha 1 – Município de Ceará-Mirim; Linha 2 –
Município de Macaíba. Fonte: CPRM (2005) - adaptado.
O estudo com os agricultores familiares foi conduzido no Assentamento Rosário,
localizado no município de Ceará-Mirim (Figura 5), que dista 28 km em relação à capital do
Rio Grande do Norte. Ceará-Mirim (5º 38’ 04’’ S, 36º 25’ 32’’ O), tem uma área total de 724,
4 km², clima tropical chuvoso com verão seco, temperatura média de 25, 3ºC e uma
população total de 68.141 habitantes, sendo 32.647 deles pertencentes à zona rural (IDEMA,
2013).
O Assentamento Rosário está subdividido em duas agrovilas: Rosário e Canudos
(REBOUÇAS; LIMA, 2013), este estudo foi realizado na agrovila Canudos.
A agrovila Canudos foi criada por um grupo de agricultores representados pelo
Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) um ano após a constituição do Assentamento
Rosário, que tem uma área total de 1.622 hectares (ha). Os assentados da agrovila Canudos
são constituídos por 40 famílias e estão cooperados na Cooperativa dos Produtores de
30
Canudos (COPEC), que permite a aquisição de recursos para a compra de equipamentos,
insumos e máquinas, de acordo com Rebouças e Lima (2013).
METODOLOGIA GERAL
1. Cultivo
O cultivo de Carthamus tinctorius L. e Vigna unguiculata (L.) Walp. foi realizado na
Escola Agrícola de Jundiaí - Macaíba/RN.
Os valores da análise química do solo, oriundos de amostras obtidas na área
experimental, encontram-se a seguir: cálcio= 1,32 cmolc dm³, magnésio= 0,59 cmolc,
alumínio= 0,0 cmolc, hidrogênio + alumínio= 1,26 cmolc, fósforo= 7 cmolc, potássio = 56
cmolc, sódio= 11 cmolc, e pH= 6,18.
A adubação de fundação foi procedida conforme as recomendações de fertilidade de
solo, tendo como base a cultura principal que foi a do cártamo. Os fertilizantes empregados
foram superfosfato, FTE BR 12, ureia e cloreto de potássio. Para o cártamo, na adubação de
cobertura, utilizou-se ureia e cloreto de potássio.
Plantas de cártamo e de feijão caupi foram avaliadas em consórcio e em monocultivo,
através dos tratamentos: T1 – 100% cártamo; T2 – 50% cártamo + 50% feijão; e T3 – 100%
feijão, cada um com três repetições. A área experimental foi dividida em nove parcelas de
6,25 m² cada, sendo três parcelas por tratamento. O arranjo foi feito de modo que as parcelas
de um mesmo tratamento não se repetissem na mesma linha ou coluna (Figura 6).
O cultivo consorciado foi realizado de modo a intercalar fileiras de cártamo com
fileiras de feijão (Figura 6). A distância utilizada entre as plantas de cártamo (0,2 m) e de
feijão (0,4 m) foi a mesma tanto no monocultivo quanto no cultivo consorciado. Considerou-
se como borda as duas linhas laterais dentro de cada parcela, sendo estas desconsideradas no
momento das coletas. Foram realizadas irrigações por mini aspersão a cada três dias, durante
toda a condução do experimento. O controle de plantas daninhas foi feito através de capinas
manuais sempre que necessário.
O cártamo e o feijão foram semeados simultaneamente, assim como também foi feita a
adubação de fundação, no dia 23 de janeiro de 2014, foram semeados em covas, sendo 5 – 7
sementes por cova. Foi feito plantio de milho nas bordas das parcelas úteis para servir como
barreira física.
31
Figura 6: A – Arranjo das plantas dentro das parcelas. Cártamo (círculos), feijão caupi
(quadrados). B – Disposição dos cultivos em campo. Foto: Émile Rocha de Lima.
2. Análises de Germinação, Crescimento e Morfoanatomia
2.1. Taxa de emergência
Sete dias após a instalação do experimento, foi realizada a contabilização de plântulas
de cártamo que emergiram, sendo consideradas emergidas as plântulas que apresentassem os
dois primeiros folíolos acima da superfície do solo totalmente livres do substrato
(NASCIMENTO et al., 2014). Os resultados foram expressos em porcentagem e os dados
submetidos ao teste t não pareado a 5% de probabilidade de erro.
2.2. Análises de crescimento
A avaliação das características de crescimento para o cártamo e feijão caupi iniciou-se
trinta dias após a emergência das plântulas, e as demais com um intervalo de 15 dias. A última
coleta, 75 dias após a emergência, foi feita no início do período de prefloração. Foram feitas
medições de altura das plantas (cm) e diâmetro dos caules (mm). Essas medidas foram
determinadas a partir de duas plantas de cada parcela útil do monocultivo e quatro plantas de
cada parcela útil do consórcio (duas plantas de cártamo e duas plantas de feijão), todas
escolhidas ao acaso, etiquetadas e depois descartadas das próximas coletas. Os dados foram
submetidos ao teste t não pareado, a 5% de probabilidade de erro, com a utilização do
software GraphPadPrism V5.
32
2.3. Microscopia óptica
2.3.1. Anatomia Vegetal
Para a investigação da morfologia interna dos órgãos vegetativos e o acompanhamento
de possíveis alterações anatômicas do cártamo devido aos tratamentos, foram feitas coletas
quinzenais de material vegetal, que foi fixado em etanol 70%. Foram coletadas folhas entre o
quinto e sexto nós, e as amostras de caule foram retiradas dos ramos laterais.
As análises de morfoanatomia foram feitas no Laboratório de Investigação de Matrizes
Vegetais Energéticas (LIMVE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Para isso, foram feitas secções transversais, longitudinais e paradérmicas da região mediana
dos órgãos à mão livre, utilizando lâminas de aço inoxidável. Os cortes foram colocados em
hipoclorito de sódio 1%, para a clarificação e depois corados com Azul de Alcian 1% e
Safranina 1%. Após isto, passaram por uma série rápida de etanol 70% acidificado e etanol
100% para retirar o excesso de corante e para a fixação destes. As secções foram lavadas em
água destilada e, então, montadas em solução de glicerina 50%, seguindo a metodologia
proposta por Kraus e Arduin (1997).
2.3.2. Testes Histoquímicos
Para a descrição histoquímica, amostras vegetais de caules, folhas e aquênios de C.
tinctorius foram fixadas em etanol 70%. As secções foram então colocadas para reagir em
soluções de acordo com os testes específicos.
Para a detecção de lipídios, os cortes foram lavados em etanol 50% e então colocados
para reagir em solução de Sudan Black 0,07% por 5 – 10 min, lavados em etanol 50% e
depois montados entre lâmina e lamínula. Também foi utilizado o corante Sudan III. Nele,
após os cortes serem lavados em etanol 70%, foram colocados com o corante e lavados
novamente.
A coloração para amido foi feita utilizando algumas gotas de Lugol 5% misturadas
com solução de glicerina 50% e uma lâmina.
Para o teste de substâncias fenólicas, as secções foram transferidas para lâmina
contendo glicerina 50% e gotas de Cloreto Férrico (KRAUS; ARDUIN, 1997).
33
3. Aceitação do Cártamo e do Cultivo Consorciado.
O estudo exploratório da agrovila Canudos e de seu entorno imediato foi realizado
através de visitas ao local, para identificação das comunidades a serem entrevistadas.
Foram feitos questionários e conduzidas entrevistas semiestruturadas (em anexo)
aplicadas aos agricultores familiares da agrovila Canudos, sendo a amostra constituída por um
total de 22 pessoas, sendo uma de cada família, o que corresponde a um percentual de 55% do
total de famílias da agrovila. A amostragem utilizada foi a não probabilista por acessibilidade,
entrevistando uma pessoa de cada casa que estivesse aberta no momento da visita. Os dados
foram coletados no mês de dezembro de 2014.
As entrevistas foram realizadas através de diálogos. As pessoas foram abordadas uma
de cada vez e os questionários respondidos individualmente.
Os resultados das entrevistas foram submetidos a análises simples (porcentagens), e o
conteúdo das entrevistas foi utilizado como suporte para a análise dos dados, do mesmo modo
que também foi considerada a percepção dos pesquisadores.
34
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41
CAPÍTULO 1 1
2
ESTE ARTIGO FOI SUBMETIDO À REVISTA ÁRVORE E, PORTANTO, ESTÁ 3
FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA 4
(VIDE http://revistas.cpd.ufv.br/arvoreweb/index.php) 5
6
Émile Rocha de Lima 7
Raimunda Adlany Dias da Silva 8
Juliana Espada Lichston 9
10
Carthamus tinctorius L. (ASTERACEAE) E Vigna unguiculata (L.) WALP. 11
(LEGUMINOSAE) EM SISTEMA DE CULTIVO CONSORCIADO: EFEITOS NA 12
GERMINAÇÃO, CRESCIMENTO E ANATOMIA 13
14
RESUMO – O cultivo consorciado de plantas oferece benefícios ambientais e sociais, porém 15
os mecanismos morfoanatômicos e fisiológicos das plantas em consórcio têm sido pouco 16
investigados. Objetivando analisar a germinação, o crescimento e morfoanatomia de 17
Carthamus tinctorius (cártamo) consorciado com Vigna unguiculata (feijão caupi), um 18
experimento foi conduzido em campo, sendo utilizadas parcelas subdivididas em três 19
tratamentos e três repetições. Os tratamentos consistiram em sistema de cultivo consorciado 20
cártamo e feijão caupi e cultivos isolados de ambas as espécies. Foi calculada a taxa de 21
germinação das plantas, posteriormente foram feitas medições e coletas de amostras vegetais 22
aos 30, 45, 60 e 75 dias após a emergência. Os resultados mostraram que não houve influência 23
dos sistemas de cultivo na germinação e no crescimento das plantas. O cultivo consorciado 24
também não causou modificações anatômicas e histoquímicas nos espécimes de cártamo. De 25
maneira geral, o plantio consorciado apresentou desempenho semelhante ao monocultivo para 26
ambas as espécies, sendo uma boa opção aos agricultores cultivando uma cultura de 27
subsistência (feijão) com uma extrativista (cártamo). 28
29
Palavras-chave: Consórcio; Crescimento vegetativo; Cártamo; Feijão caupi. 30
31
32
33
42
Carthamus tinctorius L. (ASTERACEAE) AND Vigna unguiculata (L.) Walp. 34
(LEGUMINOSAE) IN INTERCROPPING SYSTEM: EFFECTS ON GERMINATION, 35
GROWTH AND ANATOMY 36
37
ABSTRACT – The intercropping provides environmental and social benefits, but the 38
morphological, anatomical and physiological mechanisms of the consortium in plants have 39
been little investigated. Aiming to analyze the germination, growth and morphoanatomy of 40
Carthamus tinctorius (safflower) intercropped with Vigna unguiculata (cowpea bean), an 41
experiment was conducted in the field, split plot being used in three treatments and three 42
replications. The treatments consisted of intercropping system safflower and cowpea and both 43
species of single crops. Was calculated to plant germination rate, they were later made 44
measurements and collection of plant samples at 30, 45, 60 and 75 days after emergence. The 45
results showed no influence of cultivation systems on germination and plant growth. The 46
intercropping also caused no anatomical and histochemical changes in safflower specimens. 47
Overall, the consortium planting a performance similar to monoculture for both species, being 48
a good option for farmers cultivating a subsistence crop (beans) with an extractive 49
(safflower). 50
51
Keywords: Intercrop; Plant growth; Safflower; Cowpea bean. 52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
43
1. INTRODUÇÃO 69
O consórcio de culturas é a prática de cultivo em que duas ou mais espécies crescem 70
simultaneamente em uma mesma área, de forma que elas interajam entre si (VANDERMEER, 71
1989). Em comparação com a monocultura, o consórcio entre plantas se destaca, pois, utiliza 72
pleno uso dos recursos naturais, previne as doenças, pragas e insetos, diminui a necessidade 73
de fertilizantes químicos e pesticidas, reduz a poluição ambiental, diminui os custos de 74
produção e melhora o rendimento do produtor em agrossistemas, bem como seus lucros 75
(ZHANG et al., 2012). Através do plantio intercalado ou consorciado, as plantas beneficiam-76
se da capacidade dos sistemas de reutilizar seus próprios estoques de nutriente (ALTIERI, 77
2004). 78
A coocorrência de espécies ou grupos funcionais com estratégias ecológicas diferentes 79
e específicas, leva a um aumento da exploração de recursos e, portanto, para uma relação 80
positiva entre biodiversidade e o funcionamento dos ecossistemas. A complementaridade 81
ocorre por causa da facilitação e da diferenciação de nicho entre as espécies envolvidas 82
(TILMAN et al.,2008). 83
A análise de crescimento permite conhecer a eficiência e habilidade de adaptação das 84
plantas às condições ambientais em que crescem. É uma ferramenta que permite avaliar o 85
desenvolvimento vegetal e a contribuição de diferentes processos fisiológicos sobre o seu 86
desempenho nas diferentes condições ecológicas a que são submetidos (CARVALHO et al., 87
2009). O consórcio pode resultar em variações morfológicas, tais como altura de plantas, 88
arranjo de folhas, número de ramos laterais ou variações fisiológicas, tais como modo de 89
crescimento, comprimento da fase de crescimento e assim por diante (DARABAD et al., 90
2011). A complementaridade ocorre por causa da facilitação e da diferenciação de nicho entre 91
as espécies envolvidas (TILMAN et al., 2006). O arranjo de duas ou mais espécies é possível 92
devido às diferentes exigências das culturas consorciadas (TÁVORA et al., 2007). 93
Neste estudo escolhemos Carthamus tinctorius L., uma oleaginosa pertencente à 94
família Asteraceae originária da Ásia e África (DAJUE; MUNDEL, 1999), que, assim como 95
outras oleaginosas, já vem sendo estudada em cultivos consorciados devido à sua crescente 96
importância econômica, bem como pelo seu papel no aumento da diversidade agrícola, 97
prevista na agricultura biológica (SCHRÖDER; KÖPKE, 2012). É uma espécie tolerante ao 98
frio, seca e salinidade, sendo cultivada nas regiões áridas e semiáridas do mundo (WEISS, 99
2000). É uma planta herbácea, anual, com caule forte, glabro, ramificado, que cresce a uma 100
altura de 30 – 90 cm. As folhas são alternas, sésseis, ovado-lanceoladas com ou sem espinhos 101
nas margens. As flores são amarelas ou laranjas, dispostas em capítulos de 8 – 10 mm de 102
diâmetro (SHARMA; PUREY, 2008). 103
44
O cártamo tem considerável valor econômico, pois apresenta versatilidade de 104
propriedades (ABUD et al., 2010). A espécie citada está ganhando cada vez mais importância 105
para o uso industrial, pois, seu óleo é proposto como uma das alternativas ao combustível 106
diesel (YAU; RYAN, 2010). O teor de óleo nas sementes do cártamo varia entre 20 – 45% 107
(HAN et al., 2009), alguns autores relatam teores entre 50 a 60% (OPLINGER et al., 1990), 108
sendo 70-75% de ácido linoleico e 20% de ácido oleico (VIVAS, 2002; HOEKMAN et al., 109
2012), perfil graxo adequado para produção de biodiesel (KUMAR; SHARMA, 2008). 110
Historicamente a espécie foi usada como corante de tecelagem e o óleo na indústria de tintas. 111
Atualmente ela é usada principalmente para extrair óleo comestível, que é rico em ácidos 112
oleico e linoleico. Outros usos comuns de cártamo incluem uso medicinal e farmacêutico, 113
bem como na indústria de cosméticos, especiarias, forragem, flor de corte e alpiste (FARRAN 114
et al. 2009). 115
Dentre as várias culturas utilizadas em sistemas de consórcio no Brasil, o feijão caupi, 116
Vigna unguiculata (L.) Walp., tem sido utilizado pois, além de incrementar a produtividade de 117
alimentos e o rendimento do produtor, é uma cultura de ciclo curto e apresenta baixa 118
habilidade competitiva (CARDOSO et al., 1992). Leguminosas, como o fejião caupi, estão 119
entre as espécies preferidas para o uso em cultivos consorciados, já que oferecem vantagens 120
às outras espécies associadas (FREIRE FILHO, 2011), pois têm altas taxas de decomposição 121
de serapilheira, baixa eficiência de utilização de nutrientes e, por causa de suas relações 122
simbióticas, têm grandes efeitos na disponibilidade e fornecimento de nitrogênio do solo em 123
muitos sistemas naturais e agrícolas (KAHMEN et al., 2006). 124
Um dos principais esforços de produção para o cártamo refere-se a melhorar o 125
desenvolvimento desta planta em campo, uma das técnicas de manejo de culturas mais 126
importantes para esta cultura é a adubação nitrogenada, pois, não se tem informações 127
suficientes sobre o efeito da aplicação de diferentes doses de nitrogênio sobre o crescimento 128
dessa espécie (DORDAS; SIOULAS, 2009). 129
Diante disto, o objetivo do experimento consorciado entre cártamo e feijão caupi, foi 130
investigar o desenvolvimento das espécies em campo, através da análise de germinação e 131
crescimento das plantas de cártamo e feijão, e caracterizar anatômica e histoquimicamente 132
caules e folhas da cultura principal, C. tinctorius, submetido ao cultivo isolado e consorciado 133
com V. unguiculata. 134
135
136
137
138
45
2. MATERIAL E MÉTODOS 139
2.1. Área de estudo 140
O experimento em campo, incluindo o cultivo isolado e consorciado de cártamo e 141
feijão caupi foi realizado na Escola Agrícola de Jundiaí – Macaíba/RN (5º 51’ 30” S e 35º 21’ 142
14” W), a 11 m de altitude, e temperatura média de 27,1ºC, em janeiro de 2014. A análise 143
química do solo da área experimental apontou a seguinte composição: cálcio= 1,32 cmolc 144
dm³, magnésio= 0,59 cmolc, alumínio= 0,0 cmolc, hidrogênio + alumínio= 1,26 cmolc, 145
fósforo= 7 cmolc, potássio = 56 cmolc, sódio= 11 cmolc, e pH= 6,18. A adubação foi 146
procedida conforme as recomendações de fertilidade de solo, tendo como base a cultura 147
principal que foi a do cártamo. Os fertilizantes empregados foram superfosfato, FTE BR 12, 148
ureia e cloreto de potássio e para o cártamo, na adubação de cobertura, utilizou-se ureia e 149
cloreto de potássio. 150
Plantas de cártamo e de feijão caupi foram avaliadas em consórcio e em monocultivo, 151
através dos tratamentos: T1 – 100% cártamo; T2 – 50% cártamo + 50% feijão; e T3 – 100% 152
feijão, cada um com três repetições. A área experimental foi dividida em nove parcelas de 153
6,25 m² cada, sendo três parcelas por tratamento. O arranjo foi feito de modo que as parcelas 154
de um mesmo tratamento não se repetissem na mesma linha ou coluna (Figura 1). 155
O cultivo consorciado foi realizado de modo a intercalar fileiras de cártamo com 156
fileiras de feijão (Figura 1). A distância utilizada entre as plantas de cártamo (0,2 m) e de 157
feijão (0,4 m) foi a mesma tanto no monocultivo quanto no cultivo consorciado. Considerou-158
se como borda as duas linhas laterais dentro de cada parcela, sendo estas desconsideradas no 159
momento das coletas. Foram realizadas irrigações por mini aspersão a cada três dias, durante 160
toda a condução do experimento. O controle de plantas daninhas foi feito através de capinas 161
manuais sempre que necessário. 162
163
2.2. Taxa de emergência 164
Foi realizada a contabilização de plântulas de cártamo que emergiram, sendo 165
consideradas emergidas as plântulas que apresentassem os dois primeiros folíolos acima da 166
superfície do solo totalmente livres do substrato (NASCIMENTO et al., 2014). Os resultados 167
foram expressos em porcentagem e os dados submetidos ao teste t não pareado a 5% de 168
probabilidade de erro. 169
170
2.3. Análise de crescimento 171
A avaliação das características de crescimento para o cártamo e feijão caupi iniciou-se 172
trinta dias após a emergência das plântulas, e as demais com um intervalo de 15 dias. A última 173
46
coleta, 75 dias após a emergência, foi feita no início do período de prefloração. Foram feitas 174
medições de altura das plantas (cm) e diâmetro dos caules (mm). Essas medidas foram 175
determinadas a partir de duas plantas de cada parcela útil do monocultivo e quatro plantas de 176
cada parcela útil do consórcio (duas plantas de cártamo e duas plantas de feijão), todas 177
escolhidas ao acaso, etiquetadas e depois descartadas das próximas coletas. Os dados foram 178
submetidos ao teste t não pareado, a 5% de probabilidade de erro, com a utilização do 179
software GraphPadPrism V5. 180
181
2.4. Anatomia e histoquímica 182
Para análise morfoanatômica do cártamo, também foram feitas coletas quinzenais um 183
mês após a emergência das plântulas. Amostras de caule (do primeiro ao quinto nós) e de 184
folhas adultas (do quinto e sexto nós, na porção mediana da folha), foram fixadas e 185
conservadas em etanol 70%. Foram confeccionadas lâminas semipermanentes segundo 186
técnicas convencionais de corte à mão livre. Os cortes foram colocados em hipoclorito de 187
sódio 1% para a clarificação, e a coloração foi realizada com Azul de Alcian 1% e 188
Safranina1%. As lâminas foram, em seguida, montadas em glicerina 50% e vedadas com 189
esmalte incolor (KRAUS; ARDUIN, 1997). 190
Os testes histoquímicos em cártamo foram realizados em caules (do primeiro ao quinto 191
nós) e na porção mediana de folhas (do quinto e sexto nós). Utilizaram-se materiais frescos ou 192
fixados e secções à mão livre. Para detecção de lipídios, utilizou-se Sudan Black 0,07%; para 193
amido, Lugol 5%; para substâncias fenólicas, Cloreto férrico (KRAUS; ARDUIN, 1997). 194
As análises microscópicas e registros fotográficos foram feitos em microscópio óptico, 195
com câmera acoplada. 196
197
3. RESULTADOS 198
3.1. Taxa de germinação 199
A comparação entre taxa de emergência das plantas de cártamo isolado (93%) e do 200
cártamo consorciado (70,4%), bem como para o feijão isolado (71,3%) e feijão consorciado 201
(50%), apesar da tendência, não diferiram significativamente entre os tratamentos (Figura 2). 202
203
3.2. Análise de Crescimento 204
A altura e diâmetro do caule das plantas de cártamo cultivadas em consórcio com o 205
feijão não apresentaram diferenças estaticamente significativas (P <0,05) quando comparadas 206
com o controle (cártamo cultivado isoladamente). O mesmo ocorreu com as análises das 207
47
plantas do feijão caupi (Figura 3), não sendo diferentes em mesmo nível de probabilidade para 208
nenhum dos tratamentos (monocultivo e consórcio com C. tinctorius). 209
Os maiores valores de diâmetro do caule encontrados foram aos 45 dias após a 210
emergência, observando-se um leve decaimento após esse tempo, tanto para o feijão caupi 211
quanto para o cártamo (Figura 3). 212
213
3.3. Morfoanatomia e histoquímica de C. tinctorius 214
Não foram observadas alterações morfoanatômicas nas folhas e caules submetidos aos 215
dois tipos de tratamento (monocultivo e consórcio), em nenhum dos tempos de crescimento. 216
Na análise anatômica de cártamo, constatou-se no caule, uma epiderme unisseriada 217
recoberta por espessa camada de cutícula com estriações e cera epicuticular (Figura 4A). 218
Próximo à epiderme foram observadas três a quatro camadas de células de colênquima, que se 219
intercalavam com o parênquima, formando o córtex. Notou-se a presença de esclerênquima 220
associado aos feixes vasculares. Cada feixe vascular possuia um ducto próximo, com lume 221
isodiamétricoa, delimitado por uma camada de células epiteliais cujas paredes são finas 222
(Figura 4A, B). 223
As folhas do cártamo eram pequenas e compactas, e a epiderme unisseriada, formada 224
por células que variavam de tabulares a irregulares, e com uma espessa camada cuticular 225
cobrindo toda a superfície foliar. Verificou-se a presença de tricomas multicelulares, 226
glandulares e tectores (Figura 4F, G, H), nas superfícies abaxial e adaxial. Abaixo da 227
epiderme na nervura central, encontraram-se algumas camadas de colênquima, seguidas pelas 228
células do parênquima, onde estavam imersos ductos secretores próximos aos feixes 229
vasculares (Figura 4C). O mesofilo apresentou-se isobilateral, com diversas camadas de 230
parênquima paliçádico (Figura 4D). 231
Os ductos na folha eram delimitados por várias camadas de células e possuíam lume 232
mais extenso do que o observado no caule (Figura 4E). Os ductos e os feixes vasculares 233
encontravam-se separados apenas por uma camada de células da endoderme, dispersos por 234
toda a lâmina foliar, apresentando-se em igual proporção e densidade em espécimes de 235
cártamo dos dois sistemas de cultivo. 236
Na caracterização histoquímica dos órgãos (caule e folha) e ductos de cártamo, 237
verificou-se que a substância presente nas estruturas secretoras (ductos) possuia natureza 238
mista, com maior influência de compostos lipofílicos, pois demonstrou reação negativa para 239
compostos nitrogenados e terpenóides, e reagiu positivamente para substâncias lipofílicas 240
(teste com Sudan Black). 241
242
48
4. DISCUSSÃO 243
De acordo com os dados germinação, o consórcio não reduziu as taxas de emergência 244
das plantas em relação aos cultivos isolados, isto sugere que o consórcio não afetou a 245
germinação do cártamo nem do feijão caupi. As taxas de emergência observadas foram 246
semelhantes às de Kaya et al. (2003) estudando a germinação e crescimento de plântulas de 247
cártamo sob estresse salino que, em seu tratamento controle, encontraram taxas de 248
germinação que variaram entre 82,2% a 91,1% em casa de vegetação. Já Smiderle e 249
Schwengber (2008), encontraram taxas de germinação em campo próximas a 90% para o 250
feijão caupi, um pouco acima do que foi observado neste experimento. A ausência de dados 251
na literatura acerca de taxas de germinação em campo para cártamo indica a necessidade de 252
outros estudos com a planta nestas condições. 253
As informações de ausência de diferenciação na altura das plantas, mesmo em 254
consórcio, coincidiram com as de Rodrigues et al. (2014), que também não obtiveram 255
resposta significativa para a altura de plantas de girassol, espécie da mesma família do 256
cártamo (Asteraceae), quando cultivado em sistema de consorciação com o feijão caupi. 257
Segundo esses autores, a competição de girassol com feijão, em todas as proporções de 258
populações de plantas, não afetou as variáveis de crescimento. 259
A redução na taxa de crescimento caulinar no intervalo final de crescimento das 260
culturas (entre 60 – 90 dias) pode estar relacionada com a formação de frutos e, portanto, alta 261
demanda de energia e aumento de fitomassa, que será carreada para as novas estruturas e para 262
manutenção das já existentes, o que reduz a quantidade de assimilados para o crescimento 263
vegetal (ARAÚJO et al., 2014; FERRARI et al., 2008). 264
A ausência de diferença entre os tratamentos indica possível efeito de equivalência 265
entre a competição intra e interespecífica do cultivo isolado e consórcio. Essa ausência de 266
discrepância entre os fatores de crescimento para o cultivo consorciado em relação ao 267
monocultivo é resultado da interação interespecífica de espécies que possuem requisitos 268
nutricionais diferentes, sistemas radiculares, sistemas de fotossíntese, comprimento e altura 269
também diferentes, o que causa ausência de competição durante as fases de crescimento 270
(DARABAD et al., 2011). 271
O fato do cultivo da leguminosa não interferir no crescimento vegetativo de cártamo 272
também foi relatado por Yau e Ryan (2010) estudando a resposta de cártamo à adubação 273
nitrogenada. Eles relataram que a explicação mais plausível para a ausência de resposta à 274
aplicação de nitrogênio é que esta planta tem raízes profundas, que podem até captar 275
nutrientes que foram lixiviados e acumulados nas camadas mais profundas do solo, onde 276
outras culturas de raízes rasas não têm acesso. 277
49
Com relação às características morfoanatômicas nos caules e folhas de cártamo, a 278
ausência de modificações em consórcio difere de alguns autores, que afirmam que o 279
consorciamento de cártamo pode resultar em variações fisiológicas e morfológicas na cultura 280
(DARABAD et al., 2011), principalmente durante os primeiros estágios de crescimento, pois 281
nessa fase o cártamo é um péssimo competidor, competindo pela luz, nutrientes e 282
componentes do solo (DAJUE; MUNDEL, 1996). Gadallah e Ramadan (1997) relataram que 283
plantas de cártamo mostram diferentes graus de distúrbios anatômicos em raízes, caules e 284
folhas, quando crescem na presença de algum agente estressor, como a presença de zinco no 285
solo. Eles observaram maiores diâmetros e maior desorganização nos tecidos vasculares, 286
menor densidade nos tecidos e aumento na formação de células do parênquima. 287
Em Asteraceae, ocorrem dois sistemas secretores, tricomas glandulares na superfície 288
dos órgãos e ductos secretores dentro dos órgãos (BARTOLI et al., 2011), sendo considerados 289
de valor taxonômico (FONSECA et al., 2006). Plantas da família Asteraceae, em geral, são 290
ricas em compostos fenólicos predominantemente lipofílicos (APEZZATO-DA-GLÓRIA; 291
CARMELLO-GUERREIRO 2006; FONSECA et al., 2006). A secreção dos ductos e tricomas 292
em asteráceas é composta por óleos essenciais, lipídios, resinas, lactonas sesquiterpênicas, 293
alcaloides, substâncias pécticas, taninos e flavonoides (BARTOLI et al., 2011). 294
Mesmo que o cultivo consorciado não tenha causado modificações estruturais, deve-se 295
atentar para o semeio de plantas em uma quantidade adequada, pois a alta densidade de 296
plantas de outras culturas em consórcio com o cártamo causa competição intensa, o que 297
diminui as características de crescimento e os componentes de produção. (DARABAD et al., 298
2011). 299
300
5. CONCLUSÃO 301
O cultivo consorciado de cártamo com feijão caupi mostra-se como uma alternativa 302
para culturas extrativistas consorciadas com culturas de subsistência, uma vez que não causou 303
alterações significativas na germinação e crescimento das duas espécies, bem como não 304
modificou a anatomia e histoquímica do cártamo, indicando competição no consórcio de 305
mesma magnitude dos monocultivos. 306
A anatomia e histoquímica do cártamo confirmam a presença de ductos próximos aos 307
feixes vasculares, e o caráter lipofílico de sua secreção. 308
309
6. AGRADECIMENTOS 310
50
À CAPES, pela concessão de bolsa de mestrado; à Escola Agrícola de Jundiaí – EAJ, 311
pela viabilização do trabalho em campo; ao professor Dr. Ronaldo Angelini e em especial ao 312
Danyhelton Dantas pelo auxílio com as análises dos dados. 313
314
7. REFERÊNCIAS 315
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426
427
428
429
430
431
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443
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445
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447
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54
449
450
Figura 1: Disposição dos cultivos em campo. A – Arranjo das plantas dentro das parcelas. 451
Cártamo (círculos), feijão caupi (quadrados). B – Arranjo espacial das parcelas dos 452
tratamentos de cártamo (C), feijão caupi (F) e do consórcio (C+F). 453
454
455
456
457
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465
55
466
Figura 2: Taxa de emergência entre os tratamentos das culturas para teste t (P<0,05). C – 467
cártamo isolado; C+F – cártamo consorciado; F – feijão isolado; F+C – feijão consorciado. 468
469
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490
491
56
492
Figura 3: Altura das plantas (A); Diâmetro caulinar (B). - cártamo consorciado; -cártamo 493
isolado; - feijão consorciado; - feijão isolado. 494
495
496
497
498
499
500
501
57
502
Figura 4: Secções transversais do caule (A-B) e folha (C-H) de C. tinctorius L.: A – Detalhe 503
dos feixes vasculares evidenciando os ductos (setas) e as células epidérmicas realçando a 504
cutícula; B – Organização dos feixes vasculares do caule; C – Disposição das células na 505
nervura mediana da folha evidenciando ductos (setas) D – Lâmina foliar com presença de 506
ducto próximo ao feixe vascular; E – Detalhe de ductos associados no mesofilo (asterisco); F 507
e G – Tricomas glandulares; H – Tricoma tector. (cut = cutícula; du = ducto;col = 508
colênquima; xi = xilema; flo = floema; esc = esclerênquima; pp = parênquima paliçádico; pl = 509
parênquima lacunoso; fv = feixe vascular). 510
511
512
58
CAPÍTULO 2
ESTE ARTIGO FOI SUBMETIDO À REVISTA REDE DO PRODEMA E, PORTANTO,
ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTE PERIÓDICO
(VIDE http://www.revistarede.ufc.br/revista/index.php/rede/about)
PERFIL DOS AGRICULTORES FAMILIARES DA AGROVILA CANUDOS,
CEARÁ-MIRIM/RN, E ACEITAÇÃO DO Carthamus tinctorius L. – OLEAGINOSA
PROMISSORA PARA BIODIESEL
PROFILE OF FAMILY FARMERS OF AGROVILA CANUDOS, CEARÁ-
MIRIM/RN, AND YOUR ACCEPTANCE ABOUT Carthamus tinctorius L. - OILSEED
PROMISING FOR BIODIESEL
Émile Rocha de Lima¹; Juliana Espada Lichston² ¹Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, PRODEMA-UFRN, Brasil/ e-mail: [email protected];
²Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Brasil/ Professora do Departamento de Botânica e
Zoologia/ Doutora em Biologia Comparada.
RESUMO: A cadeia produtiva de biocombustíveis no Brasil tem gerado discussões no âmbito
social, acerca de seus impactos para a agricultura familiar no Nordeste. Uma melhor
eficiência agrícola para esta região poderia se dar a partir de matérias-primas mais adaptadas
às condições locais. O cártamo é uma espécie oleaginosa resistente à seca e pouco exigente
em nutrientes, com alto valor agregado, e que poderia se tornar uma alternativa para o
desenvolvimento agrícola da região. Desta maneira, este trabalho objetivou caracterizar
socioeconomicamente uma parcela dos agricultores familiares de um assentamento do
município de Ceará-Mirim/RN e constatar o conhecimento deles acerca dos usos do cártamo e
sua aceitação como cultura viável para a atividade agrícola visando a produção de biodiesel.
A metodologia utilizada constou da aplicação de entrevistas a agricultores da agrovila
Canudos. Percebeu-se que os agricultores aceitariam o desafio da introdução do cártamo
como cultura oleaginosa para a produção de biodiesel, apesar de desconhecerem a cultura.
PALAVRAS-CHAVE: Agrocombustíveis, agricultura familiar, cártamo.
ABSTRACT: The production chain of biofuels in Brazil has generated discussions in the
social sphere, about its impacts for family farms in the Northeast. Improved agricultural
efficiency in this region could be achieved from better adapted to local conditions raw
materials. Safflower is an oilseed resistant to drought and undemanding in nutrients, with high
added value, and that could become an alternative to the agricultural development of the
region. Thus, this study aimed to characterize socioeconomically a portion of the family
farmers of a settlement in the city of Ceará-Mirim/RN and realize their knowledge about the
uses of safflower and its acceptance as a viable crop for agriculture aimed at producing
biodiesel. The methodology consisted of applying interviews with farmers by agrovila
Canudos. It was noticed that farmers would accept the challenge of the introduction of
safflower as oil crop for biodiesel production, although unaware of the culture.
KEYWORDS: Agrifuels, family farm, safflower.
59
INTRODUÇÃO
A produção de agrocombustíveis no Brasil vem sendo colocada em pauta não somente
pela necessidade de matrizes energéticas alternativas, mas também pelo seu potencial como
vetor de possíveis ganhos econômicos e sociais. Uma destas dimensões, o aspecto social,
busca avaliar a possibilidade de que a produção de biodiesel seja capaz de oferecer
oportunidades inovadoras para a agricultura familiar (DINIZ; FAVARETO, 2012).
A agricultura familiar é aquela em que a família rural ao mesmo tempo detém a posse
dos meios de produção e realiza o trabalho na unidade produtiva, podendo produzir tanto para
sua subsistência quanto para o mercado, além de ter um perfil essencialmente distributivo e
ser melhor em termos socioculturais (VEIGA, 1996). A chamada agricultura familiar
constituída por pequenos e médios produtores representa a imensa maioria de produtores
rurais no Brasil (PORTUGAL, 2002), são mais de 4 milhões de estabelecimentos, sendo cerca
de metade deles no Nordeste do país (IBGE, 2006).
Diferentemente dos programas internacionais de estímulo à produção do biodiesel, no
Brasil, os programas de incentivo à produção de agrocombustíveis através da agricultura
familiar, como o Programa Nacional de Uso e Produção do Biodiesel (PNPB) e o Selo
Combustível Social, se destacam pelo seu aspecto de inserção da agricultura familiar na
produção das oleaginosas, gerando emprego e renda aos pequenos agricultores (SILVA,
2013). Desde a implementação do PNPB, o mercado de biodiesel no Brasil (produção e
consumo) ampliou significativamente, deixando de ser quase inexistente para estar entre os
maiores do mundo (RENEWABLE ENERGY POLICY NETWORK, 2013).
Apesar do exposto, Favareto (2012) assegura que desde o início da execução do
PNPB, os resultados de inclusão social no Nordeste foram particularmente frustrantes, sendo
as principais causas apontadas: a pouca organização dos produtores; o baixo acesso a
tecnologias, conhecimento e aos insumos de produção; e a dependência de uma única
empresa. Além da adversidade climática, os solos do Nordeste são, em sua maioria, pobres
em nutrientes e com estrutura física pouco apropriada para o suporte de atividades agrícolas
(IPEA, 2012), no entanto, as condições geoambientais diferenciadas, associadas a uma
infraestrutura de transporte razoável, tornam a região atrativa para a produção de vários tipos
de oleaginosas destinadas à produção de biodiesel (SILVA et al., 2014).
A eficiência agrícola na produção de oleaginosas precisa melhorar, isso passa pelos
estudos de aptidão climática, pela disponibilização de sementes e mudas de qualidade na
quantidade necessária, por assistência e capacitação técnica aos agricultores, além de
pesquisas tecnológicas de matérias-primas potenciais (DÁLIA, 2006).
Dentre as matérias-primas oleaginosas, o cártamo, Carthamus tinctorius L., é uma
espécie com alto valor agregado, tem ciclo curto e é resistente à seca e a condições de solos
pobres, característicos do Nordeste brasileiro. É uma cultura utilizada com fins medicinais, na
indústria farmacêutica, bem como na indústria de cosméticos, especiarias, forragem, flor de
corte e alpiste. Após a extração do óleo, a torta de cártamo pode ser utilizada para alimentação
de ruminantes (FARRAN et al.,2009), além de que seu conteúdo de óleo pode servir como
alternativa para a produção de biocombustível (YAU; RYAN, 2010).
É necessária a colaboração dos agricultores para a inserção de uma cultura na cadeia
produtiva, pois a experiência prática desses atores sociais é que permite a aceitação, já que
eles são agentes efetivos neste processo.
No estado do Rio Grande do Norte, o município de Ceará-Mirim é o terceiro maior em
dimensão territorial e aparece com um forte potencial para o desenvolvimento da agricultura,
que é o meio de ocupação e renda de quase metade de sua população (REBOUÇAS; LIMA,
2013; MELO; CÂNDIDO, 2013). No entanto, as incertezas de mercado e a dependência das
chuvas ameaçam constantemente o potencial produtivo da fruticultura, que é uma das
60
principais atividades vivenciadas pelos agricultores locais. Além do fato de que a realidade
socioeconômica desses agricultores tem sido pouco pesquisada, segundo Rebouças e Lima
(2013).
Diante disto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar socioeconomicamente uma
parcela dos agricultores familiares de um assentamento de Ceará-Mirim/RN, e constatar o
conhecimento deles acerca dos usos do cártamo para produção de biodiesel e demais
coprodutos, além de sua aceitação como cultura viável para a atividade agrícola local.
METODOLOGIA
A agrovila Canudos está situada no município de Ceará-Mirim – RN (5º 38’ 04’’ S,
36º 25’ 32’’ O), com uma área total de 724, 4 km², clima tropical chuvoso com verão seco,
temperatura média de 25, 3ºC e uma população total de 68.141 habitantes, sendo 32.647
pertencentes à zona rural (IDEMA, 2013). O Assentamento Rosário está subdividido em duas
agrovilas: Rosário e Canudos (REBOUÇAS; LIMA, 2013), este estudo foi realizado na
agrovila Canudos, que é constituída por 40 famílias cujos agricultores estão cooperados na
Cooperativa dos Produtores de Canudos (COPEC).
O estudo exploratório da agrovila Canudos e de seu entorno imediato foi realizado
através de visitas ao local, para identificação das comunidades a serem entrevistadas.
Foram feitos questionários e conduzidas entrevistas semiestruturadas aplicadas aos
agricultores familiares da agrovila, sendo a amostra constituída por um total de 22 pessoas,
sendo uma de cada família, o que corresponde a um percentual de 55% do total de famílias da
agrovila. A amostragem utilizada foi a não probabilista por acessibilidade, entrevistando uma
pessoa de cada casa que estivesse aberta no momento da visita. Os dados foram coletados no
mês de dezembro de 2014.
As entrevistas foram realizadas através de diálogos, as pessoas foram abordadas uma
de cada vez e os questionários respondidos individualmente.
Os resultados das entrevistas foram submetidos à análises simples (porcentagens), e o
conteúdo das entrevistas foi utilizado como suporte para a análise dos dados, do mesmo modo
que também foi considerada a percepção dos pesquisadores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quanto à caracterização do perfil dos agricultores da agrovila Canudos, 100% dos
entrevistados são residentes da zona rural do município de Ceará-Mirim, sendo 68,1%
mulheres e 31,81%, homens. Dos 22 representantes de cada família que foram entrevistados, a
maioria da amostra (63,6%) é composta por pessoas de faixa etária entre 22 a 59 anos,
conforme a figura 1A, com maior expressividade (54,5%) de agricultores casados (Figura
1B).
61
Figura 1: (A) Perfil dos agricultores da agrovila Canudos quanto à faixa etária. (B)
Perfil dos agricultores da agrovila Canudos quanto ao estado civil.
Dentre as espécies produzidas pelos agricultores da região, a banana foi citada como
cultura principal segundo 77% dos entrevistados, e em segundo lugar macaxeira e feijão,
ambas com 63,6% (Figura 2).
Figura 2: Principais culturas produzidas pelos agricultores familiares da agrovila
Canudos.
A atividade produtiva das famílias assentadas é baseada no cultivo de culturas
diversificadas e a demanda é para atender as feiras regionais ou para distribuidores. Segundo
Rebouças e Lima (2013), avaliando o mesmo assentantamento, constataram que para a
maioria dos produtos produzidos, os rendimentos são baixos, isso aliado ao fato de que as
culturas são irrigadas e as despesas para a produção são altas. As receitas não compensam os
investimentos para o mercado. No entanto, tais produtos são utilizados para o suprimento das
famílias (autoconsumo) e, quando há demanda, são comercializados. Segundo estes autores,
esse fato é alterado apenas para a cultura do mamão, que possui boa saída de mercado o ano
62
todo. Porém, segundo o observado na figura 2, a cultura do mamão não foi das mais citadas
pelos agricultores como uma das principais produzidas na região.
Acerca do retorno financeiro a partir da produção destas culturas para o sustento da
família, 64% concordam conseguir estes benfícios a partir da produção das culturas, porém,
apesar de concordarem, 32% citaram que esta rentabilidade depende das condições de
mercado e das condições do clima (Figura 3).
Figura 3: Respostas dos agricultores quanto à rentabilidade das culturas produzidas
atualmente na agrovila.
Quando questionados sobre a experiência em cultivar espécies oleaginosas com a
finalidade de produzir biodiesel, 77% dos entrevistados disseram já ter plantado o girassol
para esta finalidade. No entanto, destacaram que o retorno financeiro com o cultivo desta
espécie era muito pequeno, comparado ao grande investimento para a produção,
principalmente devido à necessidade constante de irrigação que a cultura necessita.
Quando questionados quanto ao conhecimento do cártamo e suas utilidades, 86%
afirmaram não conhecer a planta mencionada. No entanto, o restante deles já ouviu falar
através dos meios de comunicação, principalmente devido às propriedades medicinais do óleo
da semente, que são cada vez mais divulgadas, como a atuação no controle dos níveis de
colesterol, na redução de peso e no tratamento de inflamações diversas.
Como a maioria dos agricultores mostrou desconhecimento do cártamo, estes foram
então informados sobre suas utilidades, como o valor na indústria medicinal e farmacêutica,
alimentação animal, e principalmente a utilização do óleo da semente para produção de
biodiesel (FARRAN et al., 2009). Além disso, os produtores foram informados da resistência
do cártamo à seca (SHARMA; PUREY, 2008), fator importante e muito considerado pelos
entrevistados na escolha de culturas para a região, como relatado por eles e visualizado na
figura 3.
Diante disto, os agricultores foram questionados se, a partir do conhecimento do
cártamo e de seus tratos de cultivo, a produção desta espécie poderia trazer melhorias para a
geração de renda na região. Observou-se que 45,5% acredita que a introdução desta espécie
poderia trazer tais benefícios, porém a maioria deles ficou receosa e não soube responder
devido ao desconhecimento da planta em campo (Figura 4).
63
Algumas condições edafoclimáticas limitam o desenvolvimento da agricultura, tais
como altas temperaturas, solos com deficiência nutricional, precipitações reduzidas e
consequente baixa disponibilidade de água no solo (PIMENTEL; HÉBERT, 1999; SNYDER;
TARTOWSKI, 2016). O cártamo, sendo uma espécie vegetal bem adaptada a todas as
condições expostas acima, demonstra ser uma espécie adequada para ser inserida na cadeia
produtiva de biocombustíveis no Nordeste do país, o que seria uma oportunidade inovadora
para melhorar a eficiênca agrícola dos pequenos produtores da região.
Figura 4: Aceitação do cártamo como cultura para a região da agrovila.
O ciclo de vida do cártamo é curto, com aproximadamente 140 dias, porém, este ciclo
pode ser ainda mais reduzido, chegando a 75 dias, quando a espécie é cultivada em
temperaturas e luminosidade mais elevadas (ROCHA, 2005). Uma boa produção para o
cártamo é observada com precipitações entre 300 a 600 mm anuais (VIVAS, 2002; ROCHA,
2005). Considerando que a precipitação pluviométrica média anual em Ceará-Mirim é de
1.535,2 mm (CPRM, 2005), a espécie mostra-se adequada ao plantio na região, sem a
necessidade de despendiar tantos esforços e gastos para a irrigação, quando comparada às
outras plantas cultivadas na agrovila.
Acerca da experiência no cultivo consorciado de culturas, 90% dos agricultores
entrevistados informaram cultivar em consórcio, sendo as espécies mais cultivadas desta
forma o feijão, milho, banana e macaxeira.
O cultivo consorciado permite que os agricultores beneficiem-se da capacidade dos
sistemas de cultivo de reutilizar seus próprios estoques de nutrientes, além da possibilidade de
maior prevenção de pragas, doenças e insetos e diminuição da necessidade de fertilizantes e
pesticidas, podendo ainda aumentar a produtividade e auxiliar na manutenção da qualidade do
solo (ALTIERI, 2004; KAMIYAMA, 2011; ZHANG, 2012). Os agricultores de Canudos
citaram que o cultivo em consórcio poupa espaço e diminui as prováveis perdas totais, algo de
extrema importância para uma população carente de recursos financeiros.
O cártamo é uma boa alternativa para o cultivo consorciado com culturas de
subsistência para o pequeno produtor rural, pois, como mencionado por Abramovay e
Magalhães (2007) permite ao agricultor não desistir de plantar seu alimento, não ficando
inteiramente dependente da produção da cultura principal.
64
CONCLUSÃO
As espécies cultivadas atualmente no assentamento de Canudos, principalmente com a
fruticultura, garantem a sobrevivência e asseguram uma qualidade de vida mínima para a
população da agrovila, porém percebe-se que os agricultores dependem das condições de
clima e do mercado para que um retorno financeiro seja garantido.
Foi possível comprovar que a maioria dos agricultores da agrovila em Ceará-Mirim
apresentou uma certa prudência em relação à introdução de uma nova cultura oleaginosa para
a região. Porém, os entrevistados mostraram-se adeptos a conhecer e a testar o cultivo de
Carthamus tinctorius, principalmente para a produção de óleo para biodiesel.
O cártamo, por seu valor agregado, e sua resistência à seca e à condições de solos
pobres, pode contribuir com o desenvolvimento da agricultura familiar do Nordeste brasileiro,
sendo, portanto, uma boa alternativa para o incremento da renda aos agricultores e aumento
na eficiência da cadeia produtiva de biocombustíveis na região.
REFERÊNCIAS
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dos de biodiesel: parcerias entre grandes empresas e movimentos sociais, 2007.
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65
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67
CONCLUSÕES GERAIS
Na busca de fontes energéticas renováveis, a energia produzida a partir da biomassa,
como o biodiesel, se destaca, principalmente no Brasil onde são diversas as políticas de
incentivo. Porém, essa produção não deve prejudicar a segurança alimentar das populações
humanas, nem degradar ainda mais os solos já tão saturados pelas atividades agrícolas, além
do que não se deve desmatar ainda mais as áreas até então intocadas, repetindo os mesmos
erros já cometidos com esta finalidade energética no país.
O uso do cultivo consorciado, com menos agressões ao solo, menos necessidade do
uso de fertilizantes às culturas, e o cultivo em áreas já degradadas pelas atividades agrícolas,
funcionariam como soluções mais eficientes e menos agressivas ao meio ambiente. No
entanto, nada disso faria sentido se ainda insistirmos no uso das matérias-primas
convencionais, que possuem baixo rendimento de óleo e não são adequadas às condições
locais, o que só aumentaria os desmatamentos e as necessidades de insumos. Dentre as
matérias-primas vegetais, o cártamo é uma espécie propensa à produção de biodiesel, pois,
apresenta teores elevados de óleo em suas sementes, possui baixa necessidade de irrigação e
de nutrientes, curto ciclo de vida, além de ter alto valor agregado.
De acordo com os experimentos realizados neste trabalho, foi observado que o
cártamo pode ser cultivado consorciado com o feijão caupi sem que isso prejudique o
desenvolvimento das plantas no campo. Ambas as espécies apresentaram bom desempenho, o
que, além dos benefícios anteriormente citados, torna este tipo de cultivo uma boa alternativa
para o pequeno produtor rural, que pode ter uma cultura como fonte de renda sem deixar de
plantar sua fonte de subsistência.
A partir da investigação realizada com os agricultores familiares da agrovila Canudos
em Ceará-Mirim/RN, observou-se que as espécies cultivadas com a atividade da fruticultura
já desenvolvida na região são suficientes para garantir a qualidade de vida dos agricultores e
de suas famílias, e que esse sustento e rentabilidade não são satisfatórios o ano todo, pois
variam com o mercado e com o clima local. A utilização do cártamo poderia ser uma melhor
fonte de geração de renda, segundo uma parcela dos agricultores. Carthamus tinctorius
poderia então ser inserido pelos agricultores familiares na cadeia produtiva do biodiesel e,
ainda, se plantado em consórcio, diminui a necessidade de insumos, poupa espaço e permite
ao pequeno agricultor também plantar sua fonte de subsistência. Por ser bem resistente à seca,
e ter ciclo curto, forneceria retorno rápido ao agricultor e é mais resistente ao clima local, o
que é impraticável pelas outras culturas.
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APÊNDICE
ENTREVISTA
Gênero: ( ) Feminino ( ) Masculino
Faixa Etária: ( ) 18 a 21 anos ( ) 22 a 59 anos ( ) 60 anos em diante
Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) União Consensual
Local de Residência: ( ) Zona rural ( ) Zona urbana
1. Quais as principais plantas produzidas pelos agricultores da região?
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2. Você acha que as espécies cultivadas são de fácil tratamento e oferecem boa rentabilidade?
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3. Você conhece o cártamo e suas utilidades?
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4. Dentre outras utilidades, o cártamo pode ser usado para a alimentação animal, tem valor
medicinal e produção de óleo para biodiesel. Você acha que o cultivo desta espécie poderia
trazer melhorias para a geração de renda na região?
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5. Você tem experiência em cultivar plantas que produzem óleo para biodiesel?
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6. O que você acha necessário para que uma nova cultura se estabeleça bem na região?
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7. Você tem experiência no cultivo consorciado de culturas? Se sim, quais?
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8. Se alguém ensinasse os tratos de cultivo de uma nova planta, você aceitaria introduzi-la como
cultura?
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