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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
APRESENTAO
A presente presquisa um esboo da obra MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL acadmicas, displinas e, embora esteja nas da em fase de das h elaborao, aulas e tpicos das em serve de texto suplementar aos alunos para as atividades auxiliando de I Teoria a III. anotaes que Constituio Direito
Constitucional verso ainda.
Ressalte-se
construo, por tal fato no esto disponibilizados nesta
A linguagem aplicada busca no ser to complexa a ponto de ser empecilho compreenso, mas tambm no elementar a ponto de furtar o aluno a expandir seu vocabulrio.
Os tpicos foram construdos de forma a trazer inicialmente os elementos bsicos, fundamentais do direito. Em seguida, acompanha Federal. a linha temtica do contedo da Constituio
Desejamos uma boa leitura e, desejando, apresente ao autor as crticas que desejar, o pois sempre sero bem-vindas. para tal Pode-se utilizar e-mail [email protected]
finalidade. Bons estudos.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
SUMRIOSUMRIO...................................................1 I PROPEDUTICA JURDICA...................................6 1.1 Estrutura das normas jurdicas......................6 1.2 Modais denticos....................................7 1.3 Efeito cogente das normas jurdicas.................9 1.4 Sistema normativo..................................11 1.4.1 DENIFINO.....................................11 1.4.1.1 Unidade do Sistema.........................11 1.4.1.2 Unicidade do Sistema.......................11 1.4.1.3 Autopoiesis normativa......................12 1.4.1.4 Harmonia normativa jurdica................13 1.4.2 HIERARQUIA DAS NORMAS NO ORDENAMENTO JURDICO..14 1.4.2.1 Hierarquia normativa diante da alterao e revogao das normas...............................16 II INTRODUO AO DIREITO CONSTITUCIONAL..................18 2.1 Direito Constitucional.............................19 2.1.2 Conceito de Constituio.......................20 2.1.3 Constituies histricas.......................21 2.1.3.1 Constituio Francesa......................21 2.1.3.2 Constituio Americana.....................21 2.1.3.3 Constituio Mexicana......................21 2.1.3.4 Constituio Alem.........................21 2.1.3.5 Constituies brasileiras..................21 2.1.4 ENFOQUE POLTICO CONSTITUCIONAL................21 2.2 Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo.........22 2.2.1 CONSTITUCIONALISMO E SENTIDO AMPLO.............22 2.2.2 CONSTITUCIONALISMO EM SENTIDO ESTRITO..........22 2.2.3 NEOCONSTITUCIONALISMO..........................23 2.3 Normas infraconstitucionais anteriores nova Constituio: o fenmeno da receptividade das normas infraconstitucionais...................................24 2.4 Classificao das Constituies....................26 2.4.1 QUANTO FLEXIBILIDADE.........................26 2.4.1.1 Constituies Fixas........................26 2.4.1.2 Constituies Imutveis....................26 2.4.1.3 Constituies Rgidas......................27 2.4.1.4 Constituies transitoriamente flexveis...28 2.4.1.5 Constituies flexveis....................28 2.4.1.6 Clusulas Ptreas..........................28 2.4.2 QUANTO LEGITIMIDADE DO PODER CONSTITUINTE: OUTORGADAS OU PROMULGADAS............................29 2.4.3 QUANTO ESSNCIA: NORMATIVA, SEMNTICA, NOMINAL .....................................................30 2.4.4 QUANTO SISTEMATIZAO: UNITRIA OU VARIADA...31 2.4.5 QUANTO IDEOLOGIA: ORTODOXA OU ECLTICA.......31 2.4.6 QUANTO EXTENSO: SINTTICA OU ANALTICA......32 2.4.7 QUANTO AO CONTEDO: FORMAL OU MATERIAL.........32 2.4.8 QUANTO FORMA: ESCRITA OU NO ESCRITA.........34 2.5 REFORMAS CONSTITUCIONAIS...........................34C:\Academico\Pesquisas\Artigos\Publicacados\Curso de direito constitucional v02.odt - Pgina 2 de 196
CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL2.5.1 REFORMAS FORMAIS...............................35 2.5.1.1 Reviso Constitucional.....................35 2.5.1.2 Emendas Constituio.....................36 2.5.2 REFORMAS INFORMAIS.............................36 2.5.2.1 Mutaes...................................36 2.6 PODER CONSTITUINTE.................................37 2.6.1 Poder Constituinte originrio..................37 2.6.2 Poder Constituinte Derivado....................37 2.6.3 Poder Constituinte Decorrente..................38 2.7 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE....................38 2.7.1 SISTEMA CONCENTRADO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE..................................40 2.7.2 SISTEMA DIFUSO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE .....................................................41 2.8 HERMENUTICA CONSTITUCIONAL........................42 2.8.1 MTODOS DE INTERPRETAO.......................43 2.8.1.1 Mtodo gramatical..........................43 2.8.1.2 Mtodo lgico..............................44 2.8.1.3 Mtodo histrico...........................44 2.8.1.4 Mtodo histrico-evolutivo.................44 2.8.1.5 Mtodo sistemtico.........................44 2.8.1.6 Mtodo teleolgico.........................44 2.8.1.7 Mtodo tpico-problemtico.................44 2.8.1.8 Mtodo concretizador.......................44 2.8.2 PRINCPIOS DE INTERPRETAO (POSTULADOS).......44 2.8.2.1 Ponderao de valores......................45 2.8.2.2 Otimizao de princpios...................45 2.8.2.3 Legislador racional........................45 2.8.2.4 Vedao do Retrocesso......................45 2.8.2.5 Interpretao conforme Constituio......45 2.9 valor, efeito e eficcia das normas constitucionais45 2.9.1 o valor normativo e o valor simblico das normas constitucionais......................................45 2.9.2 Eficcia absoluta..............................46 2.9.3 Eficcia plena.................................47 2.9.4 Eficcia contida...............................47 2.9.5 Eficcia limitada..............................48 III PRINCPIOS FUNDAMENTAIS..............................49 3.1 NORMAS JURDICAS: PRINCPIOS, REGRAS E POSTULADOS..50 3.1.1 NORMA JURDICA.................................50 3.1.2 OS PRINCPIOS JURDICOS........................50 3.1.2.1 O Princpio da Clareza e Determinao das Normas Restritivas...................................60 3.1.2.2 O Princpio da Proporcionalidade.............68 3.1.2.3 O Princpio da Razoabilidade.................70 3.1.2.4 O Princpio da Beneficncia..................71 3.1.2.5 O Princpio da Dignidade da Pessoa Humana..73 3.1.3 AS REGRAS JURDICAS............................88 3.1.4 os postulados JURDICoS........................89 3.1.4.1 Postulado da Ponderao....................92 3.1.4.2 Postulado da Concordncia Prtica..........93
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL3.1.4.3 Postulado da Proibio de Excesso..........93 3.1.4.4 Postulado da Igualdade.....................96 3.1.4.5 Postulado da Razoabilidade.................99 3.1.4.6 Postulado da Proporcionalidade............100 3.2 Origem do Poder...................................101 3.2.1 CONCEITO DE PODER. ...........................104 3.2.2 CARACTERSTICAS DO PODER......................106 3.2.2.1 Imperatividade e natureza integrativa.....106 3.2.2.2 Capacidade de auto-organizao............107 3.2.2.3 Unidade e indivisibilidade................107 3.2.2.4 Legalidade e legitimidade.................107 3.3 Dos Fundamentos da Repblica......................108 3.3.1 FEDERAO: ELEMENTOS TERICOS.................112 3.3.2 FEDERAO NA CONSTITUIO BRASILEIRA VIGENTE..114 3.3.3 DA SOBERANIA..................................118 3.3.3.1 Conceito de soberania.....................118 3.3.3.2 Breve escoro histrico da soberania......118 3.3.3.3 Afirmao, relativizao, negao do princpio da soberania............................119 3.3.3.4 Traos caractersticos da soberania.......120 3.3.3.5 Formas e titularidade da soberania........120 3.3.4 DA CIDADANIA..................................128 3.3.5 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.................128 3.4 Poderes da Unio..................................137 3.5 Objetivos Fundamentais............................137 IV DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS................139 4.1 Dos Direitos Fundamentais.........................139 4.1.1 Eficcia e Efetividade........................151 4.2 Garantias Fundamentais............................152 4.2.1 Habeas corpus.................................152 4.2.2 Habeas data...................................154 4.2.3 Mandado de segurana individual...............155 4.2.4 Mandado de segurana coletivo.................155 4.2.5 Mandado de injuno...........................157 4.2.6 Ao Popular..................................160 4.2.7 Ao Civil Pblica............................161 4.2.8 Ao DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSO.....163 4.2.9 arguio de descumprimento de preceito fundamental.........................................164 4.3 Dos Direitos Sociais..............................166 4.4 Da Nacionalidade..................................167 4.4.1 CONCEITOS TANGENCIAIS DE NACIONALIDADE........167 4.4.2 CONCEITO E AQUISIO DA NACIONALIDADE.........168 4.4.3 DA PERDA DA NACIONALIDADE.....................169 4.4.4 DA EXTRADIO.................................169 4.5 Dos Direitos Polticos............................170 4.5.1 DIREITOS POLTICOS POSITIVOS..................171 4.5.2 DIREITOS POLTICOS NEGATIVOS..................171 4.5.3 DIREITOS DE SUFRGIO..........................171 4.5.4 CONDIES DE ELEGIBILIDADE....................172 4.5.5 FORMAS DE EXERCCIO DO VOTO DIRETO............172
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL4.5.5.1 Plebiscito................................172 4.5.5.2 Referendo.................................172 4.5.5.3 Iniciativa Popular........................173 4.5.6 PARTIDOS POLTICOS............................173 V DA ORGANIZAO DO ESTADO..............................175 5.1 Da Organizao Poltico-administrativa............175 5.2 Da Unio..........................................177 5.3 Dos Estados Federados.............................177 5.4 Dos Municpios....................................177 5.5 Do Distrito Federal e dos Territrios.............177 5.6 Interveno nas entidades da Federao ...........177 5.7 Competncias......................................178 5.7.1 DEFINIO.....................................178 5.4.2 COMPETNCIA NO LEGISLATIVA...................179 5.7.3 COMPETNCIA LEGISLATIVA.......................180 5.7.3.1 Competncia Expressa......................180 5.7.3.2 Competncia Privativa.....................180 5.7.3.3 Competncia Exclusiva.....................180 5.7.3.4 Competncia Residual......................181 5.7.3.5 Competncia Delegada......................181 5.7.3.6 Competncia Concorrente...................181 5.7.3.7 Competncia Suplementar...................182 5.7.4 COMPETNCIA EXECUTIVA.........................182 5.7.5 COMPETNCIA JUDICIRIA........................183 5.8 Da Administrao Pblica..........................183 5.8.1 ASPECTOS GERAIS...............................184 5.8.1.1 Administrao Pblica direta e indireta...184 5.8.1.2 Cargo, Emprego, Funo Pblica............188 5.8.1.3 Das licitaes............................188 5.8.2 DOS PRINCPIOS DA Administrao Pblica.......191 5.8.2.1 Princpio da Legalidade...................191 5.8.2.2 Princpio da Impessoalidade...............192 5.8.2.3 Princpio da Moralidade...................193 5.8.2.4 Princpio da Publicidade..................194 5.8.2.5 Princpio da Eficincia...................196 5.8.3 DOS SERVIDORES PBLICOS.......................196 5.8.3.1 Do ingresso e exerccio de cargo ou funo pblica...........................................196 5.8.3.2 Das funes de confiana, dos cargos em comisso e da contratao temporria..............201 5.8.3.2 Da remunerao e do subsdio..............202 5.8.3.3 Do regime previdencirio..................205 5.8.4 DAS EMPRESAS PBLICAS E AUTARQUIAS............206 5.8.5 DOS MILITARES.................................207 5.8.6 DAS REGIES...................................207 V DA ORGANIZAO DOS PODERES............................208 5.1 Poder Legislativo.................................208 5.1.1 INICIATIVA....................................208 5.1.1.1 Iniciativa geral..........................208 5.1.1.2 Iniciativa concorrente....................208 5.1.1.3 Iniciativa privativa......................209
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL5.1.1.4 Iniciativa popular........................209 5.1.1.5 Iniciativa conjunta.......................209 5.1.2 espcies legislativas.........................210 5.1.2.1 Atributos das espcies normativas.........210 5.1.2.2 Repristinao e efeito repristinatrio....210 5.2 Poder Executivo...................................211 5.3 Poder Judicirio..................................211 5.4 Das funes essenciais Justia..................212 5.4.1 MINISTRIO PBLICO FEDERAL E ESTADUAL.........212 5.4.2 ADVOCACIA PRIVADA.............................214 5.4.3 DEFENSORIA PBLICA............................215 VI DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIES DEMOCRTICAS..216 VII DA TRIBUTAO E DO ORAMENTO........................217 7.1 O Sistema Tributrio..............................217 7.1.1 INTRODUO....................................217 7.1.2 princpios do sistema tributrio brasileiro...218 7.1.2.1 Princpio da personalizao...............219 7.1.2.2 Princpio da impessoalidade...............219 7.1.2.3 Princpio da capacidade contributiva......219 7.1.3 LIMITAES AO PODER DE TRIBUTAR...............220 7.1.4 ESPCIES TRIBUTRIAS..........................221 7.1.4.1 Impostos..................................222 7.1.4.2 Taxas.....................................222 7.1.4.3 Contribuies.............................222 7.2 Das Financas Pblicas.............................224 VIII DA ORDEM ECONMICA E FINANCEIRA....................226 8.1 Noes basilares e introdutrias..................226 8.1.1 O SOCIALISMO COMO REGIME ECONMICO............226 8.1.2 o regime capitalista de economia..............227 8.1.3 o estado liberal..............................228 8.1.4 O liberalismo.................................228 IX DA ORDEM SOCIAL......................................229 9.1 Introduo........................................229 X DAS DISPOSIES CONSTITUCIONAIS GERAIS................231 XI DISPOSIES CONSTITUCIONAIS TRANSITRIAS.............232 REFERNCIAS E BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA..................233
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
I PROPEDUTICA JURDICAPara o estudo do Direito Constitucional imprescindvel que haja o domnio de elementos que reputamos basilares. Assim, para assegurar que a presente obra consiga xito pleno reservamos uma sesso especfica para tratar de temas que serviro no apenas para este ramo do Direito Pblico, mas para todas jurdico as demais reas e, do direito; como melhor, conduzir ao entendimento do direito como cincia, como um sistema jurdico. normativo ainda, patrimnio
1.1 Estrutura das normas jurdicasNormas jurdicas so enunciados prescritivos, ou seja, tem fora cogente. todas No as admissvel, possuem sano em um ltima anlise, visam o encontrarmos normas que no tem efeito cogente. Em outras palavras: normas haja comando, para determinar conduta. Assim, para que a conduta seja seguida, necessrio que uma afastar descumprimento e, uma vez afrontado, deve resultar punio ao que infringiu a norma. Voltaremos neste assunto, no tpico seguinte. Para fins de anlise da norma, contudo, devemos encontrar sempre duas partes desta: a) o comando; b) a sano. num Obviamente, que ambos no estaro, necessariamente,
mesmo artigo ou inciso.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL 1.2 Modais denticosA deontologia estuda o dever-ser, isto , os fundamentos do dever e das normas ticas. Na cincia do direito, o dever-ser traduz-se em normas jurdicas. Quando falamos em modais denticos, ento, nos referimos ao modo como uma norma se apresenta. Assim, a norma pode: a) proibir, b) obrigar e, ainda, c) permitir. No podemos nos esquecer que uma norma jurdica possui, sempre, um valor cogente, ou seja, visa impor conduta a algum. Adiante estudaremos, porm, como podemos encontrar, em uma norma que traz uma prerrogativa (permitir) o sujeito vinculado, ou seja, a quem se impe conduta. Analisando normas jurdicas no temos qualquer dificuldade em encontrar o normas que obrigam. Em nossa As tributrias, de impostos que (Lei determinam 5172/1966), pagamento por (recolhimento)
exemplo.
Constituio
Federal
vigente, as que obrigam comparecer s urnas para votar (art. 14, pargrafo 1., inciso I). No encontramos, igualmente, dificuldades para identificar as normas que visam proibir uma conduta humana. Podemos citar, a como exemplo, o o art. e 110 o do Cdigo de Tributrio institutos, Nacional, enunciando que a lei tributria no pode alterar definio, contedo alcance conceitos e formas de direito privado [...]. Enxergamos, com facilidade, a proibio. Na prpria Constituio Federal encontramos inmeros
dispositivos normativos que probem conduta. Vejamos alguns exemplos, arrolados no art. 5: a) inciso III ningum
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante; b) o inciso XX ningum poder ser compelido a associar-se ou a permanecer associado. Pode parecer, contudo, desafiador encontrar o elemento
cogente ou o sujeito vinculado em uma norma que traz uma permisso a algum. Obviamente que o sujeito beneficiado por uma prerrogativa no est a ela vinculado, pois no se trata de uma obrigao nem de uma proibio. Ento, quem est obrigado ou proibido pela norma que permite conduta? Antes de prosseguir, possuem, no importante mnimo, lembrar que as o normas sujeito
jurdicas
dois
sujeitos,
passivo e o sujeito ativo. O passivo a quem se impe a conduta, o ativo quem pode exigir uma conduta. Feito este lembrete, podemos prosseguir na busca da pessoa vinculada na norma que estabelece a prerrogativa. Vamos utilizar, novamente, o art. 14, o pargrafo 1. mas desta vez, o inciso II alnea c, estabelecendo que o voto facultativo para os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. Imaginemos alistar-se que Maria o tem 17 anos e apresenta-se de sua para
perante
Cartrio
Eleitoral
cidade.
Indagamos: poderia ela ser impedida de praticar tal ato? Obviamente que no. O serventurio est obrigado a realizar sua inscrio como eleitora, se estiver temos de de um do posse lado, dos a documentos Estado, necessrios. Ento, pelo
permisso dada Maria; de outro lado, temos a proibio ao representado serventurio Cartrio Eleitoral.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALNeste mesmo artigo normativo podemos encontrar outra
proibio: o Estado est proibido de exigir que Maria se aliste no Cartrio Eleitoral. Ainda mais, o Estado est obrigado a aceitar o alistamento da Maria.
1.3 Efeito cogente das normas jurdicasTodas as normas jurdicas visam determinar conduta humana, possuindo fora cogente. Importante resgatar que as normas jurdicas possuem, segundo a doutrina, duas partes: a primeira, contendo o comando; a segunda, contendo a sano por descumprimento. O efeito cogente se mostra eficaz pela punio que ser aplicada quele que no cumpriu voluntariamente o comando. Assim, quando analisamos determina norma jurdica, podemos nos indagar: a quem est ela determinando conduta? Em outras palavras: quem est obrigado a fazer ou no fazer? Vimos, no tpido dos Modais Denticos, como uma norma, mesmo quando enuncia uma prerrogativa, de traz um efeito podemos cogente. comando. O professor J. J. Gomes Canotilho defende a presena de normas atuao jurdicas constitucionais denominando Ensina que visam que nortear as a de legiferante, este fenmeno Agora trataremos demonstrar como
identificar as partes que esto vinculadas a um determinado
Constituio
Dirigente.
normas
constitucionais voltam-se precipuamente para delinear os trabalhos do Poder Legislativo, dirigindo-o; adequando a ideia a presente conotao, afirmamos que o Poder
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALLegislativo se encontra vinculado s normas
constitucionais. Mas no apenas o Poder Legislativo est vinculado. H
normas que se voltam para o Poder Executivo, como aquelas que tratam da sua organizao (Art. 76ss). Tomemos como exemplo o art. 84. Vemos claramente que o Presidente da Repblica est vinculado diretamente a esta norma, devendo limitar-se, em sua atuao, s suas competncias. O art. 128, para citar outro exemplo, vincula o Ministrio Pblico, determinando sua formatao. Nesta esteira, o art. 103-B volta-se diretamente ao CNJ, em sua organizao. Imprescindvel beneficirio presente fazermos de dois destaques, neste com nem ponto o de
nossos estudos: o primeiro, que no podemos confundir o determinada o segundo prerrogativa aspecto, que ente as vinculado (obrigado a agir), sendo este ltimo o objeto da anlise; todas normas trazem de forma explcita, o ente vinculado. Por Exemplo: quem est vinculado ao art. 5, caput? cidados, em relao ao outro; todo o Estado, Poderes, em relao aos cidados. Vamos a outro exemplo: o art. 226 determina que a famlia, base da sociedade, tem especial proteo do Estado. Quem est vinculado? Diretamente, que o Estado, deixe com de seu Poder tal Legislativo, impedindo norma prestar Todos os em seus
tutela; tambm o Poder Executivo ao implementar polticas de proteo s famlias; em terceiro, o Poder Judicirio, para que, em suas decises, efetive a tutela constitucionalmente estabelecida s famlias.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL 1.4 Sistema normativo
1.4.1 DENIFINO
Um sistema normativo compreende um conjunto de normas em harmonia, normas que se mostram sincronizadas, tendo em seu pice a Constituio. Encontramos tambm normas que, em face da necessidade de atualizao do sistema realidade social, poltica, econmica, jurdica e cultural possam acompanhar a dinmica da vida em sociedade sob Estado de Direito, principalmente os Democrticos. Ressaltamos que o termo sistema tem especial significado, pelas seguintes razes: primeiro, a unidade do sistema; segundo pela unicidade; a em terceiro, de a autopoiesis entre as normativa; quarto, existncia harmonia
normas; quinto, mtodos de soluo de colises normativas; sexto, mtodo de soluo de conflitos normativos.
1.4.1.1 Unidade do Sistema
Foi Hans Kelsen que, de forma incisiva, trabalho o conceito de Norma Hipottica Fundamental (NHF). Para ele, o sistema positivo, como um todo, aponta para a Norma Hipottica Fundamental, obtendo, assim, sua unidade e homogeneidade.
1.4.1.2 Unicidade do Sistema
Retomando a teoria do sistema normativo de Hans Kelsen, podemos explicar que a unicidade do sistema normativo
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALconsiste em afirmarmos que ele possui uma nica fonte
referencial, a NHF Norma Hipottica Fundamental. Assim, localizamos no inteiro conjunto de normas que
apontam para a NHF, sua qualidadede de unidade; sendo a NHF o referencial nico do sistema do direito positivo, nesta encontramos a qualidade da unicidade.
1.4.1.3 Autopoiesis normativa
Encontramos disposies Nos
em
nossa
Constituio que preveem a
Federal criao de
vigente outras a
normativas ao
normas jurdicas visando manter o sistema atual e completo. referimos Processo Legislativo, estabelecido partir do artigo 59. Elenca as espcies normativas que o Poder Legislativo utilizar para manter ntegro o sistema normativo. A existncia de um processo legislativo para criar normas dentro do prprio sistema que se denomina autopoiesis, isto , a capacidade do sistema, por mecanismos intrnsecos, produzir suas normas jurdicas. Para entender melhor este termo, necessrio que retornemos origem etimolgica: a expresso foi tomada por emprstimo da biologia para em si referir-se mesmos, aos de seres se que possuem a no capacidade, reproduzirem,
necessitando de outro para tal evento. Assim, jurdico considerando prev a que o de prprio normas, sistema ento, normativo pertinente
criao
denominarmos este fenmeno de autopoiesis normativa.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
1.4.1.4 Harmonia normativa jurdica
As normas jurdicas, em decorrncia da unidade e unicidade, devem ser interpretadas considerando que se complementam. Desta forma, uma Lei dever ter por fundamento a Constituio Federal; um Decreto Executivo ter que estar em harmonia com a Lei que, por sua vez, est em harmonia com a Constituio Federal, podendo ter, entre esta e aquela, uma Lei Complementar. Tambm resulta em harmonia que duas ou mais leis se
completem. Por Exemplo: o Cdigo Civil completa-se com o Cdigo de Processo Civil, j que, para efetivar direitos no cumpridos voluntariamente e previstos naquele, pode-se buscar a tutela do Estado utilizando as normas processuais pertinentes constantes neste. Visualiza-se melhor tal fenmeno a partir de um exemplo: Joo Alves efetua uma compra de Pedro Jos para pagamento em trinta dias (art. 481 do Cdigo Civil). Ocorre que, decorrido o prazo combinado o pagamento no efetuado voluntariamente (art. 646 do Cdigo de Processo Civil). Assim, para conseguir satisfazer sua pretenso resistida pelo devedor, Joo Alves, o credor, Pedro Jos poder mover uma ao de cobrana ou de execuo do contrato. Esta ao dever obedecer os critrios do Cdigo de Processo Civil. Em resumo: para satisfazer um direito material (a cobrana do crdito, decorrente da venda) utilizamo-nos do direito processual (o Cdigo de Processo Civil, por exemplo) que regula todo o procedimento jurisdicional.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALOcorre que podem ocorrer circunstncias em que duas ou mais normas podem incidir, em concreto ou em abstrato, sobre um mesmo fato jurdico. Nestes casos necessrio identificar quais so estas e qual aplicar. Quando falamos em colises estamos nos referindo a atrito entre princpios. Para solucionar a coliso utilizamo-nos de normas especficas denominadas postulados. Quando o atrito refere-se a regras, utilizamo-nos conflitos. de normas maior prprias para dirimir estes a Para aprofundamento, recomendamos
leitura do Captulo III, tpico 3.1 que trata de Normas: princpios, regras e postulados.
1.4.2 HIERARQUIA DAS NORMAS NO ORDENAMENTO JURDICO
Na Constituio Federal brasileira, vigente, encontramos mecanismos que visam a alterao da constituio, mediante Emendas Constituio (Art. 59, inciso I) e as normas infraconstitucionais (Art. 59, demais incisos). Destaque-se que a Constituio ocupar sempre o pice de um sistema normativo num Estado de Direito. Assim, dizemos que as normas constitucionais so hierarquicamente superiores s demais normas. Neste mbito, no h qualquer controvrsia. Contudo, quanto s normas infraconstitucionais que vemos instaurado amplo debate, em duas correntes de pensamento diametralmente opostas: uma que defende a hierarquia das normas infraconstitucionais e outra que refuta a existncia de tal hierarquia. Vamos recapitular, brevemente, as normas
infraconstitucionais, partindo do enunciado no art. 59 de
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALnossa vigente Constituio Federal, lembrando que a Emenda Constituio, medidas enunciada no inciso decretos I, norma Constitucional: leis complementares, leis ordinrias, leis delegadas, provisrias, legislativos, resolues. Todas estas normas emanam do Poder Legislativo, j que esto sob a epgrafe Do Processo Legislativo. Ento, temos tambm as normas jurdicas emanadas pelo Poder Executivo. Quando falamos em hierarquia das normas jurdicas
infraconstitucionais atribumos uma escala de importncia ou de comando estas. Exemplo: quando se diz que a lei complementar hierarquicamente superior lei ordinria, estamos atribuindo primeira um poder de comando superior segunda. Este preceito auxilia na soluo de conflitos e colises, isto , em situaes de antinomia jurdica. Graas ao sistema quando hierrquico normas sabemos como tratar sobre a uma
antinomia
duas
parecem
indicir
determinada situao, j que este um dos critrios para sanar as antinomias. Por exemplo: o art. 165, inciso I, da Constituio Federal determina que lei complementar dever tratar de finanas pblicas. Assim, aos 04 de maio de 2000, foi sancionada a Lei Complementar n. 105 que trata do sigilo das operaes de instituies financeiras. No art. 1. lemos que "no constitui violao do dever de sigilo: 3. a troca de informaes entre instituies financeiras, para fins cadastrais []". Diante deste dispositivo, imaginemos que uma Portaria do Banco Central do Brasil vede qualquer troca de informaes cadastrais entre instituies financeiras e que tal ato viola o dever de sigilo. Bem, estamos diante de uma fato antinomia: duas normas incidindo sobre determinado
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALjurdico. resposta Indaga-se: qual do delas deve ser que seguida? estabelece Em a
socorremo-nos
postulado
prevalncia da norma hierarquicamente superior quando ambas tratarem de mesmo assunto, mas dispondo de forma diversa. Por corolrio, aplicaremos o disposto na Lei Complementar e no o que determina a Portaria do Banco Central, em nosso fictcio exemplo.
1.4.2.1
Hierarquia
normativa
diante
da
alterao
e
revogao das normas
Uma
das
questes superior ou
que do
suscita que a
dvidas
quando Exemplo: de
uma a
determinada norma ingressa no sistema jurdico na forma normativa servios determinada. para fins Constituio Federal prev que a lei dever definir os atividades essencias, greve, conforme verificamos na leitura do art. 9. Ocorre que por escolha do Poder Legislativo, para atender esta disposio constitucional, introduziram uma Lei Complementar. Pergunta-se, diante deste quadro: pode esta LC ser revogada ou modificada por lei ordinria? A maioria dos doutrinadores brasileiros defende que, mesmo sendo a matria tratada por espcie normativa superior, a competncia permanece na esfera da norma delineada pela Constituio Federal. Do contrrio permitir-se-ia a franca usurpao de competncia. Entende a doutrina dominante que pode ser uma Lei Complementar alterada ou revogada por uma Lei Ordinria, j que devem prevalecer as atribuies de competncias trazidas pela Constituio Federal.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALOutra situao, e diferente, da 24, ocorre Unio, 1., quando temos as a
competncias municpios Constituio
concorrentes Distrito Federal, art.
Estados-membros, estabelece Unio a dever
Federal.
Conforme
restringir-se a estabelecer as normas gerais; todavia, se estas no existirem, os Estados federativos podero suprir tal lacuna enquanto no forem criadas aquelas, o que, estando autorizado pela Constituio Federal, no resulta em usurpao de competncia.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
II INTRODUO AO DIREITO CONSTITUCIONALVeremos que o direito a constitucional ser pode ser uma seus expresso diversos sob
polissmica, enfoques.
necessitando
explicitado
Tambm
Constituio
estudada
diversos enfoques. Para tal, utilizamo-nos de conceitos que esto sob responsabilidade da Teoria da Constituio. A teoria da Constituio , sob os ensinamentos de Uadi Lammgo Bulos, que e do "o dos conjunto mtodos1
de o de Tem
categorias estudo como dos conhecimento
dogmticoaparelhos da lei trazer
cientficas conceituais fundamental
possibilitam Estado."
objetivo
conceitos para o estudo sistemtico das constituies e esclarecer questes suscitadas no desenvolvimento poltico dos Estados. Visa explicar o papel das constituies, qual instrumento normativo de formao dos Estados, qual sua importncia, qual deve ser seu contedo, justificao para sua reforma, para citar os mais fundamentais elementos de ocupao da Teoria da Constituio. A filosofia da constitucionalismo foi o prisma para anlise da Teoria da Constituio, tendo como cones os estudos de John Locke, Rousseuau, Montesquieu e Tocqueville. No incio do sculo XX, a contudo, o saber: novos Hermann filsofos da Heller, e juristas da Schmidt, contriburam Constituio, para desenvolvimento Teoria
Carl
Richard Smend, Hans Kelsen e Heinrich Triepel. Contriburam significativamente para erigir um novo contedo ou novo enfoque da Teoria da Constituio, visando resgatar o prprio valor normativo das constituies.
BULLOS, Uadi Lammgo. Direito constitucional ao alcance de todos. So Paulo: Saraiva, 2009. p.15.1
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALMais recentemente tivemos, na pessoa de Jos Jorge Gomes Canotilho, enormes contribuies para o amadurecimento da Teoria da Constituio, da viso em dentre que, trazendo e do novos das a conceitos e um remodelamento Defendeu, dirigente" valor Constituies. "constituio estabelece aos
outros termos
aspectos, sucintos,
dispositivos constitucionais um instrumento norteador para o Estado em estabelecer suas polticas, inclusive ao Poder Legislativo em sua atividade legiferante.
2.1 Direito ConstitucionalO direito Constitucional pode ser visto sob dois aspectos principais aspectos, enquanto objeto de estudos: a) Ramo do Direito; b) Cincia Jurdica. Estes so dois conceitos que enfocam dois aspectos distintos. Um ramo do um direito estudo o uma diviso de estabelecida para do o
facilitar
aprofundado
determinada o direito
rea penal,
direito. Temos, neste sentido, o direito civil, o direito empresarial, direito direito o ambiental, direito processual civil, o direito processual penal, o militar, dirento previdencirio, para citar apenas alguns exemplos. A Constituio como ramo do direito , portanto, uma
disciplina estabelecida para estudar a Constituio e suas conexes com os demais ramos do direito, ocupando papel central, j que todas as demais reas do direito tem como fundamento os dispositivos constitucionais. Cincia uma atividade humana que sob visa ater-se a um
determinado
objeto
estudando-o
criteriosos
mtodos
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALpreviamente constitudos. Outra caracterstica a soma de conhecimentos, j que a cincia toma como ponto de partida os elementos dogmticos. O Direito Constitucional como cincia ter como objeto a Constituio. Podemos estudar as constituies de um determinado Estado observando como sua sociedade evoluiu ou regrediu; podemos, ainda, estudar as normas constitucionais de Estados distintos, em um determinado tempo para obter os traos comuns e dspares entre si. Podemos estudar tambm os diversos aspectos de uma nica Constituio e os reflexos em sua respectiva sociedade ou em seu sistema jurdico.
2.1.2 Conceito de Constituio
Um Estado de direito tem na Constituio sua norma suprema, estabelecendo os direitos e garantias fundamentas bem como a definio do Estado, sua organizao, a estrutura de suas instituies e respectivas competncias. Tambm servir para nortear a produo das normas infraconstitucionais, verificar dentre as normas produzidas anteriormente a ela foram recebidas e, por derradeiro, servir de parmetro para a interpretao e aplicao das demais normas jurdicas. Importante frisar que quando nos dirigimos Constituio, fazem parte os dispositivos Encontramos e tambm que, neste os embora status e no o inseridos Ato das diretamente na Carga Magna, revestem-se do status de normas constitucionais. Constitucionais Disposies Constitucionais Transitrias ADCT, as Emendas Tratados Convenes Internacionais sobre direitos humanos que foram aprovados conforme disposto no art. 5, 3 da Constituio Federal.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Em sntese, so dispositivos constitucionais: a) os que constam na prpria Constituio; b) aqueles que constam do ADCT c) as Emendas Constituio d) os Tratados Internacionais sobre direitos humanos e) as Convenes Internacionais sobre direitos humanos
2.1.3 Constituies histricas
2.1.3.1 Constituio Francesa
2.1.3.2 Constituio Americana
2.1.3.3 Constituio Mexicana
2.1.3.4 Constituio Alem
2.1.3.5 Constituies brasileiras
2.1.4 ENFOQUE POLTICO CONSTITUCIONAL
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
2.2 Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo2.2.1 CONSTITUCIONALISMO E SENTIDO AMPLO Analisando o desenvolvimento dos Estados, percebe-se que todos tiveram, sempre, uma norma considerada suprema, mesmo que no escrita, em para teoria estabelec-lo que defende e a regular o poder no internamente. Assim, o constitucionalismo em sentido amplo constitui-se existncia, obstante as diversas formas de governo e de Estado, de uma constituio, em qualquer momento da histria.
2.2.2 CONSTITUCIONALISMO EM SENTIDO ESTRITO As constituies o tiveram por finalidade seu precpua sua
estabelecer
Estado,
dando-lhe
formato,
organizao. Tambm prev a criao de instituies, tal como o Ministrio Pblico, para cumprir suas atribuies. Todavia, verificamos no final do sculo XX um movimento para inserir no escopo do texto normativo supremo as constituies os direitos e garantias fundamentais. Os primeiros, decorrentes de longas batalhas para positivar os direitos humanos; j as garantias fundamentais proveem os instrumentos processuais para efetivar jurisdicionalmente o no cumprimento ou a violao dos direitos fundamentais. O constitucionalismo que devem em ser sentido a tese para estrito de sua que foi, os ento, o
movimento
defendeu processuais
direitos ou
fundamentais instrumentos
positivados,
adicionando-lhes implementao
cumprimento, quando violados ou no atendidos, denominandose estes de garantias fundamentais. No conceito trazido por
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALBULOS (2008, p. 10), consiste o constitucionalismo, em seu sentido estrito, numatcnica surgida jurdica nos de tutela do das liberdades, XVIII, que
fins
sculo
possibilitou aos cidados exercerem, com base em constituies escritas, os seus direitos e garantias fundamentais, sem que o Estado lhes pudesse arbtrio. oprimir pelo uso da fora e do
Assim,
concluindo,
este
mbito
do
constitucionalismo
resultou na insero dos direitos e garantias fundamentais no texto normativo supremo do Estado, a Constituio.
2.2.3 NEOCONSTITUCIONALISMO
O
neoconstitucionalismo
reflete
a
necessidade
do
reequacionamento da viso positivista, admitindo a insero de valores para aferir a validade da norma, o que, num passado no remoto, seria inadmissvel. Contudo, uma viso axiolgica das normas do direito hodiernamente torna possvel este novo ambiente jurdico. como se expressa Andr Rufino do Vale (2007, p. 72): possvel entender que o neoconstitucionalismo pode ser compreendido tanto pelas posturas pspositivistas de Dworkin, Alexy e Zagrebelsky, como pelo soft positivism de Hart, ou pelas novas reformulaes jurdico, de e aqui atualizaes agrupadas sob inclusivo, do a em positivismo denominao
positivismo
referncia incluso de critrios materiais (moral) de validade das normas jurdicas.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALO neoconstitucionalismo um movimento complexo e que
levar um longo perodo para se consolidar, mas j produz resultados nos sistemas jurdicos atuais. Exemplo disto a insero de princpios que impregnam elementos axiolgicos em nossa constituio, como o caso do art. 1. inciso III atribuindo ao Estado o dever de vigiar a dignidade da pessoa humana; tambm, ao estabelecer como objetivos da Repblica Federativa do Brasil uma sociedade livre, justa e solidria, conforme vemos em seu art. 3. inciso I.
2.3 Normas infraconstitucionais anteriores nova Constituio: o fenmeno da receptividade das normas infraconstitucionaisA promulgao de uma constituio provoca, deveras
alteraes no ordenamento jurdico, j que todo o sistema jurdico passa a ter um novo elemento justificador, uma nova norma fundamentadora, um novo referencial jurdico. Desta forma, as normas infraconstitucionais existentes
quando do advento da nova norma fundamental, para ingressar neste novo mundo jurdico, devem estar harmonizadas ela. Isto equivale a dizer que determinada norma que no esteja alinhada nova constituio, no entra neste novo sistema jurdico. Este fenmeno denomina-se no recepo. Em contrapartida, nova s normas que mostram o completa da
pertinncia
constituio,
ocorre
fenmeno
recepo ou receptividade das normas infraconstitucionais no novo ordenamento jurdico. Questes que se apresentma, por oportuno so: a) Quem
analisa se uma norma foi ou no recepcionada? b) quando
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALocorre esta aferio de recepcionalidade? c) ao analisar uma norma infraconstitucional restabelecer a anterior situao constituio normalidade, vigente, mas sendo ela aplicada, mesmo assim, que remdio jurdico poder afastando sua aplicao? disto que trataremos agora, e na mesma ordem que apresentamos as arguies. A anlise de recepo efetuada por todos aqueles que pretendem aplicar tal norma jurdica e os que por esta so afetados. Isto equivale responder tambm que este o momento em que ocorre a aferio de recepo. Como exemplo podemos citar a circustncia em que um juiz, ao prolatar em uma lei sentena, vigente necessitando antes da fundamentar sua deciso atual constituio
verificar se seus dispositivos esto em consonncia com a atual constituio. Idndica anlise devero fazer tambm as partes desta mesma ao ao analisarem a respectiva deciso. Podemos fazer uma anlise de um assunto que se difunde em diversas normas jurdicas: o art. 5, inciso I, que estabelece de maneira incisiva e expressa que homens e mulheres so iguais em direitos e obrigaes, nos termos desta Constituio. Ora, em outubro de 1988, quando esta Constituio Federal foi promulgada, encontrava-se vigente o Cdigo Civil de 1916, que tinha diversas normas distinguindo os direitos e deveres das mulheres. Obviamente que estas no foram recepcionadas pela atual Constituio Federal, ajuste que o novo Cdigo Civil, em 2002, tratou de acertar. Outro exemplo analisado ao tratarmos da ADPF, adiante. Recomendamos a leitura deste tpico.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL 2.4 Classificao das Constituies2.4.1 QUANTO FLEXIBILIDADE
As
constituies
podem
ser
classificadas
sob
diversos
ngulos de anlise distintos. Um deles, deveras importante, o que analisa a possibilidade de ser alterada aps sua promulgao ou outorga. O grau de dificuldade que o poder constituinte originrio esta se enquadrar. As constituies, ento, podem ser classificadas em: fixas; imutveis; super-rgida; rgida; pouco rgida, que se subdividem em: transitoriamente flexvel e flexvel. exigiu para a implementao das alteraes da constituio que determinar em qual grupo
2.4.1.1 Constituies Fixas
As constituies que no admitem qualquer possibilidade ou mecanismo de encontram-se alterao denominam-se absolutamente fixas. Desta por mais forma, que a estticas,
sociedade mostre desconformidade por situaes decorrentes de alteraes sociais, econmicas ou polticas. Atualmente no se admite tal amplitude de inalterabilidade.
2.4.1.2 Constituies Imutveis
So imutveis as constituies que no admitem alterao por um poder constituinte derivado. As alteraes somente podero ocorrer por outro poder constituinte originrio, isto , por um parlamento especialmente constitudo e imbudo de poderes para elaborar, votar e promulgar uma Emenda Constitucional.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
2.4.1.3 Constituies Rgidas Rgidas admitam so as constituies em seu limitar dos texto, temas Estados impe bem que, um embora de um
alteraes podendo
grau exigir
dificuldade,
como
processo legislativo mais rgido. A vigente Constituio Federal brasileira recebe este selo, vejamos a razo: estabelece, o art. 60, em seu 2, ao determinar Congresso que a respectiva em dois proposta turnos, de emenda constitucional ser discutida e Nacional, votada em cada Casa do considerando-se
aprovada se obtiver, em ambos, trs quintos dos votos dos respectivos membros. Aproveitamos esta exigncia para ressaltar a diferena
entre maioria simples e maioria qualificada. A primeira exige metade mais um dos presentes sesso, aplicvel s leis ordinrias, por exemplo; a segunda exige trs quintos dos membros, no apenas dos presentes na sesso de votao, aplicvel aprovao das Emendas Constitucionais. Ademais, no basta que a proposta seja aprovada por maioria simples, uma vez, em cada casa do Congresso Nacional. , adicionalmente, aprovao. modificaes parlamentares. Finalizando o tema, podemos, facilmente, ver que o processo para obter a aprovao de proposta de Emenda Constituio exigido que o processo o de votao seja efetuado em dois turnos, o que dificulta ainda mais, sua Podemos sejam dizer que Poder Constituinte pelos Originrio desejou proteger seu texto, fazendo com que as largamente confirmadas
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL sensivelmente mais rgida do que a necessria para uma lei ordinria.
2.4.1.4 Constituies transitoriamente flexveis
Pode o Constituinte Originrio admitir perodo determinado para alterao em processo mais facilitado, flexvel, de alterao, texto visando ajustar o texto nele s uma circunstncias alterao por atuais. Por exemplo, aps 10 anos de promulgao de um normativo supremo, prever das leis processo semelhante ordinrias; exaurido,
retorna condio anterior: rgida ou imutvel.
2.4.1.5 Constituies flexveis
A
vigente em
constituio cada casa do
brasileira Congresso
considerada
pela h
doutrina como rgida, por exigir quorum especial, por duas vezes Nacional. Ademais, clusulas que no permitem reduo de direitos, isto , direitos que no podem ser abolidos, denominados clusulas ptreas; no significa, contudo, que sejam inalterveis tais dispositivos. (art. 60, 4.). Todavia sobre estas, trataremos a seguir.
2.4.1.6 Clusulas Ptreas
Sobre as clusulas ptreas vale registrar que estas visam prevenir alteraes que o que poder acabem constituinte modificando derivado seu promova projeto
constitucional. Um exemplo desta petrificao de direitos podemos citar o dos analfabetos e aqueles que possuem entre
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL16 e 18 anos participarem nos sufrgios, eis que devem ser universais, devendo-se dar o maior alcance possvel ao direito estabelecido pelo constituinte. A clusula ptrea sua que protege questo a separao dos j poderes que visa
tambm deve ser interpretada de modo cauteloso, levando em considerao real teleolgica, trazer segurana ao poder do estado. Desta forma, embora argia-se que a Emenda Constitucional n. 45/2004, ao criar o Conselho o Nacional art. 60, de Justia, 4, inciso conforme III. art. 103-B, afrontou Tal assertiva,
contudo equivocada, pois ao criar um rgo independente, para controlar os atos administrativos do Poder Judicirio, no se buscou que obliterar so a independncia por das decises tambm judiciais, regidas princpios
constitucionais. Prosseguindo na anlise das clusulas ptreas, podemos
ainda, ressaltar que considera-se implcita a vedao de alterar o prprio dispositivo que elenca-as. Assim, no plausvel que, mediante Emenda Constitucional, novas clusulas ptreas sejam includas. Embora a forma federativa de estado conste no rol das
clusulas ptreas, o regime de governo republicano no est abrangido por tal vedao.
2.4.2 QUANTO LEGITIMIDADE DO PODER CONSTITUINTE: OUTORGADAS OU PROMULGADAS
A
Constituio em
Federal sua
vigente ocasio da
teve
participao utilizao
da da
sociedade
formao,
mediante
representatividade, por
eleio de
Congresso
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALConstituinte, com o papel especfico de elaborar o novo texto supremo normativo em seu do Brasil. Desta forma, 559 pelo congressistas, tambm do papel parlamentar, revestiram-se
Poder Constituinte
Originrio, concedido
povo, mediante eleies diretas. Por tal razo, isto , de que houve participao popular no processo de elaborao da constituio, afirmamos que esta Constituio Federal foi promulgada. Por outro lado, uma constituio outorgada aquela que exclui a particiapao do povo no processo, o que implica afirmar que a Constituio tem como caracterstica um texto construdo revelia da vontade popular.
2.4.3 QUANTO ESSNCIA: NORMATIVA, SEMNTICA, NOMINAL Quando analisamos a essncia de uma constituio buscamos fazer uma classificao que considera a proximidade ou o afastamento do texto normativo com a sociedade; em outros termos, a distncia entre a norma e a realidade social. Quando uma constituio consegue ser efetivada, coincidindo o texto com a realidade, integrando a comunidade, dizemos que ela normativa. So exemplos as Constituies dos Estados Unidos da Amrica, Gr Bretanha, Itlia e Alemanha e, para parte da doutrina, a constituio brasileira. As constituies semnticas buscam legitimar uma situao do poder construda politico. Em para termos simples, o Estado, como todos se fosse os seus "vestir" com
defeitos, ao passo que o correto construir um Estado a partir da Constituio.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALPor fim, dizemos que uma Constituio nominal quando no ocorre convergncia entre o texto normativo supremo e a realidade. H um hiato entre as normas constitucionais e a vida do povo.
2.4.4 QUANTO SISTEMATIZAO: UNITRIA OU VARIADA As constituies hodiernas, em sua maioria, estruturam-se em um texto codificado, A o este isto estas caso , da esto sob um nico instrumento unitria, normativo. sendo denominamos constituio Federal
Constituio
brasileira. J as que dispersam-se em mltiplas normas, denominam-se variadas.
2.4.5 QUANTO IDEOLOGIA: ORTODOXA OU ECLTICA imprescindvel que a constituio aponte uma ideologia que determinar a estrutura do Estado e suas polticas sociais. Quando apenas uma iedologia escolhida no texto normativo ordodoxa, constitucional como ocorreu dizemos com a que da a constituio Unio das extinta
Repblicas Socialistas Soviticas - URSS. Quando aceita ou incentiva mais que uma, dizemos que ecltica. A Constituio que Federal foi brasileira da admite diversas Nacional
ideologias, o que pode ser visto desde o seu prembulo, asseverando Constituinte, 1, inciso V, intuito um Assemblia cuja instituir estabelece Estado sociedade da
"fraterna, pluralista e sem preconceitos". Tambm no art. como fundamento Repblica Federativa do Brasil "o pluralismo poltico".
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL2.4.6 QUANTO EXTENSO: SINTTICA OU ANALTICA Uma Constituio extensa no significa, necessariamente que esteja mais completa que outra, mas sim, que descer a mais detalhes, ser mais minuciosa nos comandos, como o caso de nossa vigente Constituio Federal. Desta forma, quando olhamos uma Constituio extensa, vasta de a detalhes, essncia da arrolando estrutura mincias, do Estado dizemos e dos que ela e analtica. Mas, por outro lado, quando resume-se em apontar direitos garantias, denominamo-la de sinttica, como o caso da Norte-americana.
2.4.7 QUANTO AO CONTEDO: FORMAL OU MATERIAL Uma pergunta fundamental cabe quando analisamos o contedo normativo de uma constituio: o que deve uma constituio regular? avaliamos A a resposta matria definir Em inserida o na que um contedo quando estamos constitucional material. outras palavras,
constituio
efetuando uma avaliao material. O art. 2. de nossa atual Constituio estabelece que "so poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio". Ora, o que se espera de uma Constituio exatamente isto: que diga como o Estado se Organiza. Idntido exemplo o artigo 1. que em seu caput inicia assverando que instituiu-se "a Repblica Federativa do Brasil". Em outras palavras, estabeleceu a forma de Estado e de Governo. No artigo 5. por sua vez, foram arrolados os direitos e deveres individuais e coletivos, conforme se
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALdepara no enunciado de sua epgrafe. Ento, temos como matria prpria da constituio as normas que instituem e organizam um Estado, com as respectivas competncias de suas instituies, alm de prever os direitos fundamentais e estabelecer as respectivas garantias fundamentais. Ento, dizemos que uma norma constitucionalmente material quando trata destes assuntos. Todas as matrias que no esto relacionadas a estes tpicos, mas previstas na Constituio, no so materialmente constitucionais. Todavia, h uma outra anlise que podemos fazer sobre a Constituio, que seu formato normativo. J foi exposto que a constituio o instrumento normativo supremo, isto , no h norma jurdica superior que esta no ordenamento jurdico de um Estado. Mas quando analisamos o sistema normativo deparamo-nos com outros tipos normativos, ou seja, a forma como a norma jurdica surge no seu sistema: leis complementares, leis ordinrias, medidas provisrias, decreto legislativo, decreto executivo, portarias, instrues normativas. Podemos utilizar de uma metfora: cada tipo normativo
equivale a um estilo de se vestir. Assim, a constituio federal equivaleria a um smoking. J a Lei Complemetar ao terno. Por sua vez, as Portarias, roupa social, e assim por diante. Ento, quando falamos em anlise formal, estamos realizando uma anlise do formato da norma. As normas que constam em uma determinada Constituio, so, por decorrncia, formalmente constitucionais. Em sntese, podemos dizer que todas as disposies de nossa constituio so formalmente constitucionais pela simples razo de nela estarem insculpidas.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL2.4.8 QUANTO FORMA: ESCRITA OU NO ESCRITA
As normas supremas de um Estado podem no estar escritas em um instrumento normativo denominado CONSTITUIO, estando dispersas pelo ordenamento jurdico. Neste caso dizemos que estamos diante de uma constituio no escrita, como o caso da Constituio Inglesa. No podemos assumir como constituio no escrita aquela que no est grafada, pois, em nossa sociedade, atualmente, todas as normas jurdicas j esto, por uma questo de registro, devidamente escritas. Por outro lado, as constituies escritas so aquelas que vieram ao mundo jurdico com a nomenclatura normativa suprema, isto , denominando-se CONSTITUIO.
2.5 REFORMAS CONSTITUCIONAISO texto normativo supremo de um ordenamento jurdico pode sofrer, como j vimos, alteraes que denominamos REFORMAS CONSTITUCIONAIS. Estas podem ser de duas grandezas: reforma formal e reforma informal. As reformas formais subdividem-se, por sua vez, em REVISO e EMENDAS. s reformas informais concede-se a nomenclatura de mutao, que podem ocorrer com as seguintes com e, caractersticas: primeira, quando decorre de prticas que violam a constituio; segundo, de efetivar a quando confronta-se disposio normativa; impossibilidade
terceiro, quando aplica-se uma interpretao sobre a norma, alcanando novo mbito de sua aplicao. Vamos analisar cada uma das classes e subclasses acima apontadas.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL2.5.1 REFORMAS FORMAIS
Denominam-se formais aquelas reformas que esto previstas no ordenamento jurdico, e obedecem os requisitos do as prprio sistema normativo. Dentre estes, encontramos
revises constitucionais e as emendas constituio.
2.5.1.1 Reviso Constitucional A caracterstica determinante da Reviso Constitucional que admite, em evento concentrado ou nico, a alterao de diversos dispositivos constitucionais. Seu objetivo adaptar o inteiro texto s exigncias polticas, sociais ou econmicas, diferentes da poca em que a Magna Carta foi promulgada ou outorgada.
Nossa atual Constituio previu uma nica REVISO, conforme disposto no art. 3. do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias ADCT, dispondo que a reviso constitucional ser realizada aps cinco anos, contados da promulgao da Constituio, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sesso unicameral.
A previso de que somente uma reviso possvel decorre do artigo definido a, que inicia o dispositivo. Diversamente, se estivesse ali disposto que as revises constitucionais sero realizadas a cada cinco anos ento, obviamente, poderamos ter uma reviso a cada cinco anos. A reviso constitucional seis prevista no art. 3. 01 da a ADCT a
ocorreu atendeu
por os
instrumentos: dos
EC-Reviso poca,
06,
primeira em maro e a ltima em outubro de 1994 e no clamores juristas considerada
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALpfia, no condizente este com o no que h o instituto permitia. de
Todavia,
aps
ato,
mais
possibilidade
revises no texto constitucional brasileiro.
2.5.1.2 Emendas Constituio As Emendas Consticionais encontram-se previstas no art. 59 e 60 de nossa vigente Constituio Federal e no possui qualquer limite em termos de nmero de alteraes, desde que: a) atenda aos requisitos do processo legislativo, b) no afronte outras disposies constitucionais, e ainda, c) no trate de clusulas ptreas (tratado no item 2.4.1.6).
2.5.2 REFORMAS INFORMAIS Dizemos que as reformas so informais quando no decorrem de previso normativa jurdica e so denominadas MUTAES. No implicam, necessariamente, inconstitucionalidades; temos uma situao ftica, ou seja, um ser e no um dever ser. Passemos a anlis-las.
2.5.2.1 Mutaes
As mutaes quando segundo, efetivar
ocorrem em de
quatro circunstncias: que violam com e, a
primeira, de
decorre quando a
prticas
constituio; quando
confronta-se
impossibilidade terceiro,
disposio
normativa;
aplica-se uma interpretao sobre a norma, alcanando novo mbito de sua aplicao. Importante frisar que as mutaes tem como caracterstica o fato de no resultarem de qualquer modificao no texto normativo constitucional.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
2.6 PODER CONSTITUINTE2.6.1 PODER CONSTITUINTE ORIGINRIO
O pice do poder, em um Estado de direito, sob o aspecto da representatividade, constituio. polticos, seu povo. O poder constituinte originrio , por corolrio, aquele que concede ao elaborador do texto constitucional, autonomina para escrever, sem limitao jurdica, uma nova constituio. Dissemos "sem limitao jurdica" j que ele no de est estado vinculado e de a qualquer os instrumento normativo e jurdico, tendo completa liberdade ao estabelecer a forma governo, direitos fundamentais respectivas garantias. Contudo, o Poder Constituinte Originrio ter, num estado democrtico de direito, a vinculao aos ideais que exps enquanto candidato designao, o que podemos denominar de vinculao desvio. poltica. A questo que se apresenta, neste aspecto que no h uma forma jurdica de cobrar qualquer Assim aquele em que pois, se a escreve sua afirmamos, Constituio e, aps o
formatar o prprio Estado, estabelecendo seus contornos administrativos, organizacionais constitucionalismo, os direitos e garantias fundamentais de
2.6.2 PODER CONSTITUINTE DERIVADO
Consiste na delegao que o poder constituinte originrio concede s cmaras legislativas para promover as alteraes
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALno texto constitucional. jurdico. Em nossa A Em decorrncia atribui tal as a Emendas este
Constituio promovem a atualizao da carta suprema do sistema nvel. s doutrina poder constituinte a denominao de poder constituinte em segundo constituio, Constituio previso o encontra-se de insculpida no art. 59, inciso I. Todavia, cabe frisar que Emendas cabe controle constitucionalidade, a exemplo do que ocorreu com a Emenda Constituio n 19, de 04 de junho de 1998, alterando a redao do caput do art. 39; tal alterao foi objeto de Ao Direta de Inconstitucionalidade n. 2.135-4 que, em liminar, culminou na suspenso da eficcia da EC-19, retornando a redao original do texto constitucional.
2.6.3 PODER CONSTITUINTE DECORRENTE
O
Poder
Constituinte de a
Decorrente nos
aquele
que
recebe
a as as
incumbncia concluda
propiciar,
Estados-membros, para realizar
respectivas constituies estaduais (art. 25, CRFB/1988); atribuio, permanecem atividades legislativas ordinrias. O mesmo ocorre com as leis orgnicas dos municpios e do Distrito Federal (Art. 33, CRFB/1988).
2.7 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
O
controle que
de a
constitucionalidade Constitucio
constitui-se Analisa-se
em a se
imprescindvel instrumento de proteo ao texto normativo supremo, Federal. matria e a forma em que uma norma infraconstitucional insere-se no ordenamento jurdico ptrio verificando
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALeste no agride os preceitos e os dispositivos
constitucionais. Temos dois mbitos de controle de constitucionalidade: o prvio ou preventivo e o posterior ou repressivo. Por controle de constitucionalidade prvio entendemos aquele que se faz antes da norma jurdica existir, isto , ocorre durante o perodo de votao desta, na casa legislativa pertinente. No Brasil, este controle efetuado pelo Poder Legislativo, pelas Cmaras de Constituio e Justia CCJ (Senado, e Cmara de Deputados). Pode ser efetuado tambm pelo Poder Executivo, preventivo mediante poder veto de seu chefe. Poder O controle Judicirio ser efetuado pelo
somente em mbito subjetivo, como direito do parlamentar em participar de um processo legislativo, quando agredir uma clusula ptrea (art. 60, pargrafo 4. da CRFB/1988). Indaga-se: Constituio possvel sobre os Embora aplicar na controle da isto de seja
constitucionalidade
dispositivos Alemanha
prpria
Federal?
possvel, no Brasil no . E por uma razo muito simples: o Poder Constituinte Originrio atribuiu ao STF a guarda da Constituio, segundo dispe seu art. 102. No encontramos no texto constitucional pessoa, rgo a concesso de legitimidade para a qualquer ou instituio, sequer
questionar a Constitucionalidade do texto original. Todavia, as Emendas Constituio podem sofrer controle de constitucionalidade, j que implica alterao de seu texto original. No nos esqueamos que o texto original produto da deliberao do Poder Constituinte Originrio, resultado da mais elevada ocasio de representatividade que uma
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALsociedade sob estado de direito pode realizar. Assim, o texto original de diferencia-se emendas do texto constitucional do Poder resultante constituio, produto
Constituinte Derivado. Encontramos diversos casos pelo de STF controle a de
constitucionalidade
exercido
dispositivos
trazidos por Emendas Constituio, como ocaso do 12 do art. 37, que foi acrescentado pela EC 47, de 05 de julho de 2005. Por meio da Ao Direta de Inconstitucionalidade n. 3.854-1, afastou dos membros da magistratura estadual a aplicao deste dispositivo. Outro exemplo alterao da redao do art. 39 promovida pela EC 19, de 04 de junho de 1998. Por meio da ADI 2.135-4, o STF suspendeu liminarmente a eficcia da nova redao determinada, restabelecendo a vigncia do dispositivo em sua redao original.
2.7.1
SISTEMA
CONCENTRADO
DE
CONTROLE
DE
CONSTITUCIONALIDADE Temos o controle previsto no STF, concentrado no art. 103 os mediante de da constitucionalidade, CRFB/1988, efetuado instrumentos
conforme
diretamente
seguintes
jurisdicionais: ADI - Ao Direta de Inconstitucionalidade, a ADC - Ao Declaratria de Constitucionalidade e a ADO Ao Direta de Inconstitucionalidade por Omisso e, com ressalvas, a ADPF Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental. Podem propor aes para arguir a inconstitucionalidade
todos os legitimados arrolados no art. 103 da CRFB/1988, ajuizando-a diretamente no STF, quando se tratar de norma ou ato inconstitucional Federal, que afronta diretamente disposio normativa da Constituio Federal.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
O
objeto
da de
ao ou
obter
a ou
declarao Assim, confirmao
de a da
constitucionalidade declarao deciso.
inconstitucionalidade.
inconstitucionalidade
constitucionalidade ser efetuado na parte dispositiva da
Seu efeito erga-omnes, isto , alcanar todos aqueles que estavam sob a norma questionada. Este controle tambm se denomina controle in abstracto pois no exige qualquer caso concreto; em outros termos, o objeto da ao a norma em si e no uma situao ftica.
2.7.2 SISTEMA DIFUSO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
O de
controle aes
difuso
de
constitucionalidade segundo estabelece
no a
possui
um
instrumento especfico, assim, poder ser arguido por meio especficas, legislao processual. Os legitimados ativos so todos que estiverem sendo ou estiverem na iminncia de serem prejudicados por uma norma federal federal. Verificamos, at aqui, que o controle difuso exercido mediante constatao de ato ou norma inconstitucional. Esta caracterstica determina sua denominao como controle in concreto de constitucionalidade pois efetuado mediante a anlise da norma, em sua aplicao concreta, que afronta o texto constitucional. ou ato praticado pela Administrao Pblica
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Os legitimados passivos so aqueles que praticaram o ato administrativo inconstitucional ou aqueles que tem a incumbncia de determinar seu cumprimento. A deciso promove efeitos aqueles apenas que da no inter-partes, parte e no isto ,
afetar exposta
somentes na
fizeram deciso
processo na parte de
jurisdicional. A deciso sobre a inconstitucionalidade ser fundamentao como no dispositiva, ocorreria controle concentrado
constitucionalidade. A deciso de inconstitucionalidade, no sendo o objeto da ao, tem seu reconhecimento de forma incidental, sendo, portanto, declarada no fundamento da sentena. O decisum, isto , a parte dispositiva da sentena conter a ordem para afastar os efeitos da norma inconstitucional.
2.8 HERMENUTICA CONSTITUCIONAL
rdua a tarefa de interpretar e aplicar normas jurdicas, e, ainda mais, quando tratamos de disposies constitucionais que tem elevado cunho principiolgico. Mas, afinal, o que interpretar? O que est envolvido neste ato? o que estudaremos neste tpico, ressalvando, desde logo, que a interpretao apenas um dos degraus para a aplicao de normas e que a hermenutica, por corolrio, um imprescindvel instrumento para sua interpretao. A hermenutica constitucional , nas palavras de Uadi
Lammgo Bulos, a "cincia que tem por objetivo desenvolver
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALmtodos, princpios e tcnicas cientficas de exegese das constituies".2 A interpretao, utiliza os ou exegese, das normas constitucionais desenvolvidas
mtodos, princpios
e tcnicas
pela hermenutica, para interpretar e aplicar estas normas. Indagar-se-: a quem compete interpretar as normas? A todo aquele que desejar sua aplicao a um caso concreto ou ainda, que desejar compreender seu sentido, segundo defende o jurista alemo, Peter Hberle.3
2.8.1 MTODOS DE INTERPRETAO
2.8.1.1 Mtodo gramatical
2.8.1.2 Mtodo lgico
2.8.1.3 Mtodo histrico
BULOS, Uadi Lammgo. Direito Constitucional ao alcance de todos. So Pualo: Saraiva, 2009. p.75. 3 HBERLE, Peter. Hermenutica Constitucional. A Sociedade Aberta dos Intrpretes da Constituio: Contribuio para a Interpretao Pluralista e Procedimental da Constituio. Traduo de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: 2002. p9. Die Offene Gesellschaft der Verfassungsinterpreten. Ein Beitrag zur Pluralistischen und Prozessualen Verfassungsinterpretation.2
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
2.8.1.4 Mtodo histrico-evolutivo
2.8.1.5 Mtodo sistemtico
2.8.1.6 Mtodo teleolgico
2.8.1.7 Mtodo tpico-problemtico
2.8.1.8 Mtodo concretizador
2.8.2 PRINCPIOS DE INTERPRETAO (POSTULADOS)
2.8.2.1 Ponderao de valores
2.8.2.2 Otimizao de princpios
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL2.8.2.3 Legislador racional
2.8.2.4 Vedao do Retrocesso
2.8.2.5 Interpretao conforme Constituio
2.9 VALOR, EFEITO E EFICCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
2.9.1 o valor normativo e o valor simblico das normas constitucionais
notrio que atualmente as normas constitucionais possuem um valor normativo, podendo ser invocadas judicialmente. Exemplo: o direito sade, quando no efetivado, poder ser invocado numa Ao Civil Pblica, para determinar que seja cumprido. Outro exemplo: o artigo 208, inciso IV, determina que o Estado possui o dever em prover "educao infantil, em creche e pr-escola, s crianas at 5(cinco) anos de idade"; os municpios que no fazem tal proviso, podero ser demandados a satisfazer tal direito dos cidados, como j ocorreu recentemente no Estado do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, em 2009, para citar apenas alguns exemplos nestes casos nem a invocao da reserva do possvel afastou a efetivao do direito. Demonstramos, assim, que
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALas normas constitucionais possuem um valor normativo, ou seja, possuem efeito cogente. Todavia, nem sempre eram foi assim. Por dcadas como as normas
constitucionais
consideradas
enunciados
norteadores de polticas, ou uma carta de intenes do Estado. At mesmo, por arrolar princpios, no eram vistas com poder cogente, ou seja, poder normativo. Tal conceito sobre os dispositivos constitucionais, isto , destitudos de valor normativo, resultou em denomin-las denormas de valor simblico.
2.9.2 Eficcia absoluta Possuem, estas normas constitucionais, ptreas. Em aplicabilidade nossa vigente
imediata, mas no passveis de reduo de sua amplitude, denominadas 4. clusulas constituio federal encontram-se arroladas no art. 60,
2.9.3 Eficcia plena So aquelas normas jurdicas constitucionais que possuem, igualmente s de eficcia absoluta, aplicabilidade imediata mas, que podem sofrer alterao, inclusive reduo, portanto, de mediante Emendas o art. 14, Constituio; 2, que isto afasta, trata do
alteraes por atuao do Legislador Ordinrio. exemplo, pargrafo direito estrangeiros para alistarem-se como eleitores.
2.9.4 Eficcia contida As normas constitucionais de eficcia contida so aquelas que, mesmo tendo aplicabilidade imediata, podem ser delimitadas por atuao do legislador infraconstitucional.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALEm outros termos, o texto normativo magno estabelece os direitos, todavia, ao legislador ordinrio atribuda a prerrogativa de delimitar o mbito destes. Exemplo: Art. 9, 1. que concede a prerrogativa de estabelecer quais so os servios e atividades essenciais, admitindo, portanto uma modulao no seu exerccio, regulada por norma infraconstitucional. Tambm exemplo o art. 5, inciso XXIX.
2.9.5 Eficcia limitada As Normas constitucionais de eficcia limitada no podem produzir norma efeitos imediatos, necessitando, para tal, art. de 5. jurdica infraconstitucional. Exemplo:
inciso XXVIII em suas alneas a e b sobre direitos autorais; art.37, inciso VII que trata do direito de greve dos servidores pblicos; art. 37, 3. ao dispor sobre as formas departicipao do usurio na Administrao Pblica
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
III PRINCPIOS FUNDAMENTAISA Constituio Federal Brasileira elenca, propositadamente, no incio de seu analtico texto os princpios fundamentais. Assim, imprescindvel, antes de prosseguir nos estudos normativos constitucionais, saber o que so princpios, dintinguindo-os de normas, regras e postulados.
3.1 NORMAS JURDICAS: PRINCPIOS, REGRAS E POSTULADOS3.1.1 NORMA JURDICA Constitui norma jurdica o gnero normativo jurdico que enuncia um comando, podendo este ser aberto (princpios) ou fechado (regras). Assim, como norma, entendemos qualquer dispositivo semitico, prescritiva. jurdico; so os em outros termos, sob em o olhar enunciados jurdicos linguagem
3.1.2 OS PRINCPIOS JURDICOS
Considerando
que
a
Constituio
Federal
brasileira,
vigente, de cunho elementarmente prencipiolgico, nada mais oportuno do que analisar princpios a partir de seu contedo.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALO Ttulo I de nossa Constituio Assim, Federal esta elenca uma os
"Princpios
Fundamentais".
fonte
normativa dos princpios no atual sistema jurdico ptrio. O termo princpio vem do latim principium e tem como definio: o momento em que se faz alguma coisa pela primeira vez; causa primria, preceito, regra, lei.4 Como estaremos tratando de princpios seu sentido com no acepes conceito
jurdicas, sendo
podemos
apreender
exarado por Uadi Lammgo Bulos que define princpio como
o
enunciado e
lgico coerente
extrado de
da
ordenao disposies do que a
sistemtica geral, cuja
diversas maior
normativas, postando-se como uma norma de validez abrangncia generalidade de uma norma particularmente tomada.5
Como j alertamos na parte introdutria deste tpico (1.4) os princpios A ocupam uma por posio ser de da Uadi do diferente famlia Lammgo gnero do no nosso direito deixa como ordenamento romanstico. acima das jurdico
definio
Bulos normas
transparecer bem
esta distino retirando-os
colocando os
princpios
normas,
fazem as estruturas de direito da famlia
da common law.
Podemos capturar, ainda, das ponderaes de J. J. Gomes
4
5
AULETE, Caldas. Dicionrio Contemporneo da Lngua Portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Delta, 1974. p.2943 v.5. Bullos, Uadi Lammgo. Constituio Federal Anotada. 3.ed. So Paulo: Saraiva, 2001. p. 37.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALCanotilho, que princpios sonormas que exigem a realizao de algo, da melhor forma possvel, e ou de acordo Os algo em com as possibilidades no de probem, 'tudo ou do fticas permitem bem jurdicas. exigem princpios em termos a
nada'; impe a optimizao de um direito ou de um jurdico, tendo conta6
'reserva
possvel', fctica ou jurdica.
Assim, vemos que os princpios estabelecem uma plataforma para as demais normas, mediante um conjunto de metas ou objetivos que devem ser atingidos da melhor forma possvel, em um dado cenrio jurdico e ftico.7 Os princpios no tem um carter de cogncia tal como se encontra na regra, todavia, tem maior abrangncia, sendo elesmandados de optimizacin que pueden la ser medida cumplidos ordenada porque que se caracterizan por em de diversos su grados y no cumplimiento
slo depende de las posibilidades fcticas, sino tambin de las posibilidades jurdicas. El campo de las posibilidades jurdicas est determinado a travs de princpios y reglas que juegan en sentido contrario.8
oportuno ressaltar que os princpios visam estabelecer um norte para os poderes constitudos, ou seja, um plano de ao para os Poderes: Executivo, Legislativo e Judicirio,
6
7
8
CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituio. 7.ed. Coimbra : Coimbra, Portugal 1999. p 1255. ALEXY, Robert. Derecho y Razn Prtica. Distribuidora Fontamara: Coyoacn, Mxico. p. 13. ALEXY, Robert. Derecho y Razn Prtica. Distribuidora Fontamara: Coyoacn, Mxico. p. 13-14.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALpossuindo uma abrangncia mais ampla do que as regras. Um princpio pode estar incidindo tanto na elaborao da Constituio e da lei infraconstitucional como tambm na sua interpretao, bem como, contribuir exerccio da jurisdio. Uadi Lammgo Bullos, invocando a dogmtica constitucional moderna, afirma queao reconhecer a a riqueza da Lex Mater e suas do em
para fundamentar o
diversas funes, vem apontando a necessidade de se clarificar estrutura normativa fundamental com nfase Estado. Busca-se, dessa forma, construir um Direito Constitucional principialista, concepes sistmicas, estruturantes, funcionais e institucionais.9 (Grifos acrescidos)
Conclui-se ento que a Constituio Federal do Brasil foi estruturada permeando sobre os princpios seus (direito principialista) Esta concluso todos dispositivos.
corroborada pelo prprio Uadi Lammgo Bulos, poisDiz-se Suprema, princpio, os nos lindes da que nossa Carta e
vetores
normativos
embasam
constituem a razo essencial das normas jurdicas, logrando posio destacada dentro do sistema, e, por isso, desempenham uma funo retricaargumentativa. Numa palavra, os princpios na Lex Mater so de cunho hermenutico, compatveis com os diversos graus de concretizao, luz dos condicionamentos fticos, jurdicos e axiolgicos.10 (grifos acrescidos)
9
10
BULLOS, Uadi Lammgo. Constituio Federal Anotada. 3.ed. So Paulo: Saraiva, 2001. p. 37. Bullos, Uadi Lammgo. Constituio Federal Anotada. 3.ed. So Paulo: Saraiva, 2001. p. 38.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
D azo, o enunciado acima, para a aceitao dos princpios como norteadores das disposies constitucionais, como sendo o motivo (a razo) no da existncia mas sim, a justificao do contedo do sistema, dos limites e das concesses oferecidas. Sendo de cunho hermenutico, funcionam como vetores para solues interpretativas das normas constitucionais11. O princpio constitucional tambm serve para tornar coesos os diversos mandamentos, as diversas ensina normas tanto Assim, constitucionais como infraconstitucionais, funcionando como elemento integrador, conforme Bullos12. podemos coletar todas as normas constitucionais sobre uma rea da vida civil e compar-la com outros comandos da Lex Mater encontrando, em regra, um norte. Tomemos como exemplo o Princpio dos valores sociais do trabalho, enunciado no art. 1 inciso IV da Constituio Federal13 (j transcrito). Seus reflexos so notados no art. 5 inciso XIII14 da Lex Matter que concede liberdade para o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso; no art. 7 que estabelece os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais; alm de se fazerem notar na Consolidao das Leis do Trabalho CLT que em seu art. 3 15 define o empregado como sendo aquele que recebe salrios, que, por sua vez, so impenhorveis pois visam o sustento seu e de
11
12
13
14
15
Bullos, Uadi Lammgo. Constituio Federal Anotada. 3.ed. So Paulo: Saraiva, 2001. p. 39. Bullos, Uadi Lammgo. Constituio Federal Anotada. 3.ed. So Paulo: Saraiva, 2001. p. 38. BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia, DF: Senado, 1988. BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia, DF: Senado, 1988. BRASIL. Decreto n 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a Consolidao das Leis do Trabalho. In: Jris Sntese. Jris Sntese. Porto Alegre: Sntese, 2004 n 49. 1 CD-ROM.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALsua famlia e na (art.649 Lei inciso de IV 11 do de Cdigo outubro de de Processo 1993 que
Civil16)
8.716
dispe sobre a garantia ao salrio mnimo e d outras providncias17. Cabe indagar qual a gravidade da violao a um princpio: seria menos grave do que violar uma norma constitucional? Deixemos com que o constitucionalista Bullos nos responda:A violao to grave de um princpio compromete uma a
manifestao constituinte originria. Viol-lo quanto transgredir norma qualquer. No h gradao quanto ao nvel de desrespeito a um bem jurdico. [...] Muita vez, uma ofensa a um especfico mandamento obrigatrio causa leso a todo o sistema de comandos.18
Se houver desrespeito ao princpio que norteou determinado preceito constitucional em ltima anlise, desrespeitou-se o prprio dispositivo da Lex Mater. Todavia, neste caso, quem estaria transgredindo O legislador um se, princpio ao constitucional uma lei diretamente? elaborar
regulamentadora de norma que o constituinte atribuiu-lhe faz-lo, prope-na desrespeitando o princpio norteador; o magistrado que, ao julgar, no encontrando no ordenamento jurdico a fundamentao para conceder a tutela, deixa de observar pblicos,16
princpio em
contido pois
na tem
Lei
Magna;
os
poderes com
geral,
tais
atribuies
BRASIL. Lei, n 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Aprova o Cdigo Civil Brasileiro. In: Jris Sntese. Jris Sntese. Porto Alegre: Sntese, 2004 n 49. 1 CD-ROM. 17 BRASIL. Decreto-lei, n 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidao das Leis do Trabalho. In: Constituio Federal. So Paulo: Manole, 2004. 1950p. [Coleo Manole de Consolidao das Leis do Trabalho, Legislao Previdenciria, Cdigo de Processo Civil (excertos), Profisses Regulamentadas, Legislao Complementar e Smulas]. 18 Bullos, Uadi Lammgo. Constituio Federal Anotada. 3.ed. So Paulo: Saraiva, 2001. p. 39.
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONALprerrogativas de interpretao19. Estaremos elementos fechando de a considerao com os sobre o conceito e
princpios
estudos
realizados
por
Humberto vila20, que devem receber especial ateno, tanto pelo fato de serem os princpios elemento chave de nosso trabalho como tambm pela forma inovadora como esclareceu este tema, sob o prisma de nosso ordenamento jurdico. Humberto os vila demonstrou utilizados, com um caso que os princpios facie perdem no podem quando natureza a ser
simplesmente ser distinguidos das regras, sejam quais forem critrios prima concreto, uma pois, sua confrontados vice-versa21.
inicial e transformam-se, quando regra, para princpio ou Props, ento, classificao analisada nos casos concretos. Motivando sua proposio, exemplificou com a norma do art. 37, inciso II que exige concurso pblico para a investidura em cargo tambm de natureza pblica. Um municpio contratou um gari por tempo determinado. A norma incide sobre o caso concreto, Deve-se devendo aplicar a ser aplicada, No h no se encontrando a elementos de finalidade a atingir no mximo grau possvel. regra. proporcionalidade aplicar. Todavia, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o municpio no estava sendo lesado pela contratao de um nico funcionrio, por tempo determinado. Este exemplo serviu para demonstrar que uma regra tambm pode sofrer a incidncia de valorao22.Bullos, Uadi Lammgo. Constituio Federal Anotada. 3.ed. Paulo: Saraiva, 2001. p. 40. 20 VILA, Humberto. Teoria dos Princpios: da definio aplicao princpios jurdicos. 4.ed. So Paulo: Malheiros, 2004. p.1-138. 21 VILA, Humberto. Teoria dos Princpios: da definio aplicao princpios jurdicos. 4.ed. So Paulo: Malheiros, 2004. p.36. 22 VILA, Humberto. Teoria dos Princpios: da definio aplicao princpios jurdicos. 4.ed. So Paulo: Malheiros, 2004. p.37.19
So dos dos dos
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CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Asseverou, em concluso, Humberto vila que a conseqncia estabelecida prima facie pela norma pode deixar de ser aplicada em face de razes substanciais consideradas pelo aplicador [...}23. Ficou demonstrado que as regras no possuem uma forma rgida de aplicao, no sendo este um critrio eficaz de distino com os princpios. Prosseguindo em podem e devem sua proposio, ser da aplicados, e Humberto vila como por ponderou o da A
que, na verificao dos casos concretos, diversos elementos exemplo, um justificativa regra, apresentou exemplo:
proibio da entrada de ces em restaurantes. Se o elemento justificador da regra for o mal estar que os ces provocam nos clientes, ento, outros animais ou bebs que choram intensamente tambm poderiam ser impedidos de entrarem. Por outro lado, se a justificao for de implicarem os ces riscos aos clientes, ento um filhote de co poderia ser permitido. Desejou demonstrar assim, que a regra traz consigo os elementos justificadores e que auxiliam para sua efetividade24.
3.1.2.1 O Princpio da Clareza e Determinao das Normas RestritivasMuito oportuna foi a considerao, por Gilmar dentro dos direitos ao
fundamentais,
realizada
Ferreira
Mendes
abordar o Princpio da Clareza e Determinao das Normas
VILA, Humberto. Teoria dos Princpios: da definio princpios jurdicos. 4.ed. So Paulo: Malheiros, 2004. 24 VILA, Humberto. Teoria dos Princpios: da definio princpios jurdicos. 4.ed. So Paulo: Malheiros, 2004.23
aplicao dos p.38. aplicao dos p.49.
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