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Constituição Federal Interpretada

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  • 7/25/2019 Constituio Federal Interpretada

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    1Constituio Federal Interpretada Para Concursos - Malu Arago

    NDICE:

    Constitucionalismo 02

    Constituio: conceito, objetivo, estrutura e Classificao. Breve histrico. 03Interpretao Constitucional. Princpios e Regras Constitucionais. Aplicabilidade dasNormas Constitucionais.

    07

    Poder Constituinte 12Princpios Fundamentais 15Direitos e Garantias Fundamentais 18Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos 20Dos Direitos Sociais 63Da Nacionalidade 71Dos Direitos Polticos 74Dos Partidos Polticos 78Da Organizao do Estado 79Da Organizao dos PoderesPoder Legislativo

    97

    Processo Legislativo 110Poder Executivo 122Poder Judicirio 129Funes Essenciais Justia 154Defesa das Instituies 159Foras Armadas 161Segurana Pblica 163Da ordem Social 174Controle de Constitucionalidade 190

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    CONSTITUCIONALISMO:CONCEITO E EVOLUO HISTRICA. NEOCONSTITUCIONALISMO.

    1.0. Conceito de Constitucionalismo.

    J. J. Gomes Canotilho conceitua o constitucionalismo como uma ... teoria (ou ideologia) que ergueo princpio do governo limitado indispensvel garantia dos direitos em dimenso estruturante daorganizao poltico-social de uma comunidade. Neste sentido, o constitucionalismo modernorepresentar uma tcnica especfica de limitao do poder com fins garantsticos. O conceito deconstitucionalismo transporta, assim, um claro juzo de valor. no fundo, uma teoria normativa da poltica,tal como a teoria da democracia, ou a teoria do liberalismo.

    Para Uadi Lammgo Bulos, o termo constitucionalismo possui dois sentidos: sentido amplo, que o fenmeno relacionado ao fato de todo Estado possuir uma constituio em qualquer poca dahumanidade, independentemente do regime poltico adotado ou do perfil jurdico que se lhe pretenda irrogar e o sentido estrito, que a tcnica jurdica de tutela das liberdades, surgida nos fins do sculo XVII,que possibilitou aos cidados exercerem, com base em constituies escritas, os seus direitos e garantiasfundamentais, sem que o Estado lhes pudesse oprimir pelo uso da fora e do arbtrio.

    Partindo de conceitos doutrinrios, chega-se a concluso de que o constitucionalismo ummovimento de organizao poltico-administrativa de um Estado, limitada por direitos e garantias de umasociedade.

    2.0. Evoluo his trica do cons titucionalismo.

    2.1. Constitucionalismo durante a antiguidade.

    A doutrina identifica na antiguidade clssica, entre os hebreus, o surgimento tmido doconstitucionalismo, quando foi assegurada aos profetas a legitimidade para fiscalizar os atosgovernamentais que extrapolassem os limites bblicos, estabelecido no Estado teocrtico e mais tarde, jno sculo V a. C., a experincia das Cidades-Estados gregas, como exemplo de democracia diretaconstitucional.

    2.2. Constitucionalismo durante a Idade Mdia.

    A Magna Carta Libertatum, de 15 de junho de 1215, outorgada na Inglaterra, pelo Rei Joo SemTerra, representa o grande marco do constitucionalismo medieval, pois foi o instrumento de antecedeu as

    declaraes dos direitos fundamentais.

    2.3. Constitucionalismo durante a Idade Moderna.

    O constitucionalismo s adquiriu consistncia jurdica, poltico e cultural no fim do sculo XVIII, porconsequncia de outros documentos de garantia dos direitos fundamentais, tais como: Estatuto ou NovaConstituio de Merton, 1236, Petition of Right, 1628, Habeas Corpus Act, de 1679, Bill of Rights, de 1689e Act of Settlement, 1701, alm dos pactos, os forais e contratos de colonizao.

    2.4. Constitucionalismo durante a Idade Contempornea.

    Para Jonh Locke, o constitucionalismo moderno inaugura-se a partir do advento das Constituiesescritas e rgidas dos Estados Unidos da Amrica, 1787 e da Frana, 1791.

    Pode-se destacar aqui a influncia sofrida pelas constituies brasileiras de 1824 e 1891, dos

    valores da concepo do constitucionalismo liberal, marcado pelo liberalismo clssico, de valorizao doindivduo e afastamento do Estado, gerando concentrao de renda e excluso social. Surgiram, ento,os direitos de segunda dimenso, na Constituio Brasileira de 1934, como influncia da ConstituioMexicana, de 1917 e Constituio Alem de Weimar, de 1919, instaurando o Estado Social de Direito.

    J o constitucionalismo contemporneo, marcado pela existncia de documentos constitucionaisamplos, analticos, consagrando uma espcie de totalitarismo constitucional, muito prximo idia deconstituio programtica, disseminando a tese de constituio dirigente, reflete a aquiescncia dosdireitos fundamentais de terceira dimenso, os direitos de uma sociedade justa e solidria, conformepreleciona Uadi Lammgo Bulos.

    No Brasil, a Constituio de 1988, exemplo dessa perspectiva, uma vez que o constituinte previunormas programticas de ndole financeira, educacional, cultural, desportiva e outras, alm dasdisposies de direitos sociais e econmicos, embora j houvesse esboo de tais direitos nos textos dasconstituies de 1946 e 1967 (e EC n. 1/69).

    3.0. Neoconstitucionalismo(constitucionalismo ps-moderno ou ps-positivismo).

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    Identifica a Constituio como centro do sistema, buscando a valorizao axiolgica da normaimperativa e superior, na concretizao dos valores constitucionais perante a eficcia irradiante destes emrelao aos poderes pblicos e aos particulares, com garantia de condies mnimas.

    Segundo Kildare Gonalves Carvalho, a perspectiva de que ao constitucionalismo social sejaincorporado o constitucionalismo fraternal e de solidariedade.

    CONSTITUIO:CONCEITO, OBJETIVO, ESTRUTURA E CLASSIFICAO.BREVE HISTRICO DAS CONSTITUIES DO BRASIL.

    1.0.Constituio.

    Direito Constitucional o ramo do direito pblico que estuda os princpios e normas estruturadorasdo Estado e garantidoras dos direitos e liberdades constitucionais. (Paulino Jacques).

    Ressalte-se que a doutrina tece grandes comentrios sobre a distino entre Direito Pblico eDireito Privado, mas atualmente cresce o entendimento de que o Direito Uno.

    Desta espcie de direito, surge o documento necessrio a sua concretizao, a Constituio.

    2.0. Conceito

    A Constituio em sentido amplo representa o ato de constituir, de estabelecer, de firmar. Dentreoutros conceitos, a lei maior do Estado, conjunto de normas que determinam de maneira fundamental oordenamento estrutural do Estado, lei fundamental, norma bsica de um Estado.

    Entretanto alguns conceitos indicados pelos doutrinadores das diversas cincias de base social sodestaque entre vrias concepes.

    A viso sociolgica(1862)reza que a Constituio concebida como fato social, j que o textonormativo fruto da realidade social do Pas, em determinado momento histrico. Assim dita o socilogoFerdinand Lassalle A Constituio a soma dos fatores reais de podere se assim no for, no passarde uma folha de papel. Tese defendida tambm por Karl Marx.

    J a conceituao de Constituio poltica (1929), indicada por Carl Schimitt, diz: A Constituio a unidade poltica de um povo, uma vez que a Constituio surge de um ato constituinte, concebida deuma vontade poltica fundamental. Para o mencionado doutrinador h distino entre Constituio e leisconstitucionais. A primeira abrange as matrias essenciais, de grande relevncia jurdica. As segundas

    seriam as demais normas integrantes do texto constitucional.Segundo a concepo jurdica (final da 2 Guerra Mundial), baseada em uma viso estritamente

    formal, a Constituio um sistema de normas jurdicas. Tal viso tem como defensor o austraco HansKelsen, que demonstrou sua tese atravs da Teoria Pura do Direito . Para Kelsen, a Constituio normapura, sem qualquer influncia sociolgica, poltica ou filosfica, embora reconhea a relevncia dosfatores sociais. Alocou a Constituio no mundo do dever ser.

    Hans Kelsen indicou dois sentidos para a palavra Constituio. O lgico-jurdico, onde aconstituio a norma fundamental hipottica, que dar validade a constituio em sentido jurdico-positivo. Neste a Constituio a norma fundamental positiva, que serve de parmetro de validade paraas demais normas do Estado, surgindo assim a pirmide de Kelsen, um verdadeiro escalonamento denormas.

    Na concepo Jurdica de Konrad Hesse (1959), a Constituio Federal, apesar de sucumbirmuitas vezes realidade, possui uma fora normativa capaz de conformar esta mesma realidade,bastando para isso que exista vontade de constituio, e no apenas vontade de poder. Surge assim aFora Normativa da Constituio Federal que se contrape a tese sociolgica.

    Importante destacar o conceito Ideal de Constituio, desenvolvido a partir do sculo XIX. Comopreleciona J. J. Gomes Canotilho, este conceito ideal identifica-se fundamentalmente com os postuladospoltico-liberais, considerando-os como elementos materiais caracterizadores e distintivos os seguintes: a)a constituio deve consagrar um sistema de garantias da liberdade (esta essencialmente concebida nosentido do reconhecimento de direitos individuais e da participao dos cidados nos atos do poderlegislativo atravs do parlamento); b) a constituio contm o princpio da diviso dos poderes, no sentidode garantia orgnica contra os abusos dos poderes estatais; c) a constituio deve ser escrita.

    O conceito desenvolvido pelo Professor Paulo Bonavides, divide-se em conceito material, que oconjunto de normas pertinentes organizao do poder, distribuio da competncia, ao exerccio daautoridade, forma de governo, aos direitos da pessoa humana, tanto individuais como sociais. ocontedo bsico referente composio e ao funcionamento da ordem poltica. No h Estado semConstituio. Em seu aspecto material a Constituio expressa o contedo das determinaes maisimportantes; aquelas que, em uma determinada sociedade, efetivamente meream ser designadas dematria constitucional. E conceito formal, que diz respeito s normas constitucionais que, emborarevestidas da mesma rigidez das materialmente constitucionais, no so materialmente constitucionais,

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    pois no se referem aos pontos cardeais da existncia poltica, j mencionados (v. objeto daConstituio). So matrias que apenas tem a aparncia de constitucionalidade (em sentido material),apesar de gozarem da mesma garantia e superioridade. Ex.: Art. 242, 2, sobre o Colgio Pedro II. Doponto de vista material, a matria no traz elementos essenciais, mas do ponto de vista formal, a normaser to constitucional quanto o princpio da igualdade, por exemplo.

    Conforme J. H. Meirelles Teixeira, no sentido culturalista, trata-se de ... uma formao objetivade cultura que encerra ao mesmo tempo, elementos histricos, sociais e racionais, a intervindo, portanto,

    no apenas fatores reais (natureza humana, necessidades individuais e sociais concretas, raa,geografia, uso, costumes, tradies, economia, tcnicas), mas tambm espirituais (sentimentos, idiasmorais, polticas e religiosas, valores), ou ainda elementos puramente racionais (tcnicas jurdicas, formaspolticas, instituies, formas e conceitos jurdicos a priori), e finalmente elementos voluntaristas, pois no possvel negar-se o papel de vontade humana, da livre adeso, da vontade poltica das comunidadessociais na adoo desta ou daquela forma de convivncia poltica e social, e de organizao do Direito edo Estado.

    Doutrinadores publicistas, vm disseminando a idia de Constituio Aberta, tendo comopercussores Peter Hberle e Carlos Alberto Siqueira Castro, que leva em considerao que aConstituio tem objeto dinmico e aberto, para que se adapte s novas expectativas e necessidades dosociedade. Por est repleta de princpios e conceitos jurdicos, admite mutaes constitucionais, alm dasemendas constitucionais formais. Dita concepo recusa a idia de que a interpretao deve sermonopolizada exclusivamente pelos juristas. Para que a Constituio se concretize necessrio quetodos os cidados se envolvam num processo de interpretao e aplicao da constituio, uma vez que

    o titular o poder constituinte o povo, devendo participar do processo hermenutico de materializao daconstituio.

    Outra novidade da doutrina contempornea, idealizada por Marcelo Neves, aConstitucionalizao Simblica, onde a norma no passa de um mero smbolo para dar satisfao aosanseios sociais, pois o legislador no a teria criado para ser concretizada na vida prtica.

    3.0. Objeto.

    O Prof. Jos Afonso da Silva diz que o objetivo da Constituio Federal estabelecer a estruturado Estado, a organizao de seus rgos, o modo de aquisio do poder e a forma de seu exerccio,limites de sua atuao, assegurar os direitos e garantias dos indivduos, fixar o regime poltico edisciplinar os fins socioeconmicos do Estado, bem como os fundamentos dos direitos econmicos,sociais e culturais. E depois acrescenta que a Constituio algo que tem como forma: um complexode normas (escritas ou costumeiras); contedo: conduta humana motivada pelas relaes sociais(econmicas, polticas, religiosas etc.); fim: realizao de valores que apontam para o existir dacomunidade; causa criadora e recriadora: o poder que emana do povo.

    4.0.Estrutura.

    Estruturalmente a constituio atual contm um prembulo, nove ttulos (corpo) e o Ato dasDisposies Constitucionais Transitrias (ADCT), que tendo natureza de norma constitucional, podetrazer excees s regras gerais previstas no corpo da constituio.

    Prembulo apesar de no fazer parte do texto constitucional, uma vez que no possui valornormativo, seu contedo traa diretrizes polticas, filosficas e ideolgicas da Constituio, sendo assimum vetor de interpretao.

    Parte dogmtica texto normativo constitucional que compreende do artigo 1. ao art. 250.

    Ato das Disposies Cons ti tucionais Transi trias (ADCT) estabelece as regras de transioentre a Constituio anterior e a nova Constituio. Possui natureza de norma constitucional, podendoinclusive ser objeto de emendas constitucionais. Alguns dispositivos so regras de exceo da partedogmtica da Constituio Federal.

    5.0.Elementos.

    Conforme o que preleciona Jos Afonso da Silva, a Constituio formada pelos seguinteselementos:

    a) Elementos orgnicos dispem sobre a estruturao e organizao do Estado. Ex.: asnormas do Ttulo III Da Organizao do Estado e do Ttulo IV Da Organizao dosPoderes da CF/88.

    b) Elementos limitativos contm limites da atuao do poder do Estado. Ex.: as normas doTtulo II Direitos e Garantias Fundamentais da CF/88, com exceo dos direitos sociais, queso elementos scio ideolgicos.

    c) Elementos scio ideolgicos estabelecem as finalidades a serem alcanadas na ordemeconmica e social. Ex.: as normas do Ttulo VII Da Ordem Econmica e Financeira e do

    Ttulo VIII Da Ordem Social, da CF/88.d) Elementos de estabilizao constitucional ditam os meios de proteo das normas

    constitucionais. Ex.: as aes de inconstitucionalidade (art. 102, I, a, 103, pargrafo 3 e 102,

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    pargrafo 1, a interveno federal e estadual (arts. 34 a 36), estado de defesa (art. 136),estado de stio (arts. 137 a 139) e processo de emenda constitucional (art. 60).

    e) Elementos formais de aplicabilidade voltados aplicao das prprias normasconstitucionais. Ex.: as normas do ADCT e art. 5, I, da CF/88.

    6.0. Classi ficao.

    6.1.Quanto FORMA, pode ser:

    Constituio escrita(instrumental) - que se consubstancia em um nico documento solene e seorigina de um Poder Constituinte. Subdivide-se em: codificada, sistematizada em um nico documentoou legal(escrita no formal), contida em mais de um documento legal.

    Constituio no-escrita (histrica ou consuetudinria) formada por textos esparsos,convenes constitucionais, na jurisprudncia e nos costumes.

    6.2.Quanto ORIGEM, pode ser:

    Constituio promulgada(democrtica, popular ou votada) nasce da vontade popular.

    Constituio outorgada imposta de maneira unilateral pelo agente revolucionrio que norecebeu do povo legitimidade para em nome dele atuar.

    A doutrina cita ainda a constituio cesarista(bonapartista ou plebiscitria), formada por plebiscitopopular sobre um projeto elaborado pelo Imperador ou um Ditador e a pactuada (mista ou dualista),sendo aquela que exprime um compromisso instvel de duas foras polticas rivais: a realeza de um ladoe a burguesia e a nobreza do outro.

    OBS: Doutrinadores defendem a tese de que a Constituio a lei fundamental promulgada e Carta a leioutorgada.

    6.3.Quanto MUTABILIDADE(estabilidade ou alterabilidade ou plasticidade), pode ser:

    Constituio imutvel (permanente ou intocveis) - constituio inaltervel, verdadeira relquiahistrica. Cdigo de Hamurabi.

    Constituio fixa (silenciosa) constituio altervel somente pelo mesmo poder que lhe deuorigem, ou seja, por obra do prprio poder constituinte originrio, haja vista que no estabeleceexpressamente o processo de reforma de suas normas. Constituio da Frana na poca de Napoleo.

    Constituio rgida aquela que exige um procedimento legislativo especial para mudar o textoconstitucional.

    Constituio flexvel a que permite a modificao do texto constitucional por um processolegislativo comum, simples.

    Constituio semi rgida ou semi flexvel que exige um procedimento legislativo especial paraparte do texto constitucional, sendo a outra parte modificada por um processo legislativo comum.Constituio Brasileira de 1824.

    Constituio t ransitoriamente flexvel constituio suscetvel de reforma, com base no mesmorito das leis comuns, mas apenas por determinado perodo, que ultrapassado, passa a ser rgido.

    Constituio super rgida constituio que alm de possuir um procedimento de reforma

    diferenciado, traz em seu bojo matrias que no podem ser abolidas (clusulas ptreas). Classificaodefendida por Alexandre de Morais.

    6.4.Quanto aoMODO DE ELABORAO, pode ser:

    Constituio dogmtica a que consubstancia os dogmas estruturais e fundamentais do Estado,sempre escritas.

    Constituio histrica constitui-se atravs de um lento e contnuo processo de formao,reunindo a histria e as tradies de um povo.

    6.5.- Quanto aoCONTEDO, pode ser:

    Constituio material aquela cujo texto essencialmente norma constitucional.

    Constituio formal aquela que elege como critrio o processo de sua formao e no ocontedo de suas normas.

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    6.6.Quanto aEXPANSO, pode ser:

    Constituio analtica ampla, prolixa, complexa, que aborda assuntos que os representantes dopovo entendem como fundamentais.

    Constituio sinttica seria aquela sumria, concisa, veiculadora apenas dos princpiosfundamentais e estruturais do Estado.

    6.7.Quanto FINALIDADE (funo ou estru tura), pode ser:

    Constituio Garantia:visa a garantir a liberdade, limitando o poder.

    Constituio Balano:descreve e registra determinado momento poltico, uma constituio real.

    Constituio Dirigente: a que traz um projeto de Estado, caracterizando-se pela presena denormas programticas, uma constituio ideal.

    6.8.Quanto DOGMTICA(critrio ideolgico), pode ser:

    Constituio ortodoxa formada por uma s ideologia.

    Constituio ecltica(compromissria) - formada por vrias ideologias.

    6.9.Quanto CORRESPONDNCIA COM A REALIDADE(critrio ontolgico) - pode ser:

    Constituio normativa a pretendida limitao ao poder se implementa na prtica.

    Constituio nominalista (libi) busca a pretendida limitao ao poder, porm sem sucesso.

    Constituio semntica no pretende limitar o poder, busca somente legitimar formalmente osdetentores do poder, em seu prprio benefcio.

    6.10.Quanto ao OBJETO- pode ser:

    Constituio liberal (negativas) limita-se a consubstanciar os direitos civis e polticos, deprimeira dimenso.

    Constituio social (dirigentes) consubstancia os direitos sociais, culturais e econmicos, de

    segunda dimenso.

    6.11. Outras classificaes doutr inrias:

    Quanto ao critrio s istemtico, pode ser: Reduzida nico cdigo, sistematizada e Variadatextos esparsos.

    Quanto ao sistema, pode ser: Principiolgica constituio onde predominam os princpios ePreceitual constituio onde predominam as regras.

    Constituio Plstica permite o preenchimento das regras constitucionais pelo legisladorinfraconstitucional, segundo Raul Machado Horta. Para Pinto Ferreira, seria a constituio Flexvel.

    Importante!!! A Constituio atual escrita, legal,promulgada, rgida, dogmtica, formal, analtica,garantia, dirigente, ecltica, normativa (embora muitos doutrinadores entendam ser nominalista), social,reduzida e principiolgica.

    7.0. Breve histrico das Constituies Brasileiras

    Constituio de 1824 Constituio Monrquica, outorgada, caracterizou-se pela sua semirigidez, pela instituio de um Poder Moderador, que pertencia ao Imperador e que era hierarquicamentesuperior aos outros poderes constitudos. Forma de Estado Unitrio. A religio oficial era o catolicismo.Instituio do parlamentarismo monrquico durante o Segundo Reinado. Continha importante rol dosdireitos civis e polticos, por forte influncia das Revolues Americana, de 1776 e Francesa, de 1824.

    Constituio de 1891 Fruto da proclamao da Repblica em 15 de novembro de 1889, por issorepublicana. Federalista. Consagrou o sistema de governo presidencialista. Rgida, tendo sofrido umanica reviso em 1926. Promulgada, apesar de alguma controvrsia histrica. No definiu nenhumareligio como oficial. O rgo mximo do poder judicirio passou a ser chamado de Supremo TribunalFederal.

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    Constituio de 1934 Rgida e promulgada. Manteve a diviso de poderes no federalismo,promoveu uma centralizao legislativa em favor da Unio e uma ampliao do intervencionismo estatal,elevou o pas a condio de Estado Social de Direito, estruturou a Justia Eleitoral e a Justia Militar ecriou a instituio do Mandado de Segurana e da ao popular. Constitucionalizou-se o voto feminino.

    Constituio de 1937 (constituio do Estado Novo ou Polaca) Outorgada pelo PresidenteGetlio Vargas, tendo como caractersticas principais a supresso do Congresso Nacional e dos partidospolticos, a convergncia de todo o poder para o Executivo, restries ao Poder Judicirio, limitao

    autonomia dos Estados-membros e restaurao da pena de morte. A greve e o lock outforam proibidos.O mandado de segurana e a ao popular deixaram de constar no documento constitucional.

    Constituio de 1946 Promulgada, simbolizou o retorno ao regime democrtico, obicameralismo foi restabelecido, expanso dos poderes da Unio em detrimento dos poderes dos Estadose foram previstas a Justia do Trabalho e o Tribunal Federal de Recursos. O mandado de segurana e aao popular foram restabelecidos no texto constitucional. Vedou-se a pena de morte, a de banimento e ade carter perptuo. Foi reconhecido o direito de greve. Instituio do parlamentarismo, de 1961 a 1963.

    Constituio de 1967 Carta Poltica outorgada que ampliou a competncia da Justia Militarpara processar e julgar civis pela prtica de crimes contra as instituies militares e a segurana nacional,com recurso ordinrio para o Supremo Tribunal Federal.

    Constituio de 1969 Grande parte da doutrina no a considera como mera Emenda, mas simcomo uma nova Constituio, rgida e outorgada. Modificou o nome jurdico do Estado Brasileiro paraRepblica Federativa do Brasil e consolidou o regime militar imposto. Surgimento das eleies diretas

    para Presidente e Vice Presidente.Constituio de 1988 Coroou o processo de redemocratizao do pas, elevou o Brasil categoria de Estado Democrtico de Direito, inaugurando o regime poltico da democracia participativa ousemidireta, expandiu o rol dos direitos fundamentais, prevendo o mandado de segurana coletivo,mandado de injuno e habeas data, reduziu a competncia do Poder Executivo, aumentandoproporcionalmente as do Poder Legislativo e Judicirio, promoveu uma valorizao sem precedentes naautonomia dos Estados e Municpios da Federao, reorganizou o Sistema Tributrio Nacional, disciplinouos princpios basilares da administrao pblica e unificou o regime de vinculao dos servidores. Opluripartidarismo foi ampliado. Criou-se o Superior Tribunal de Justia. Advocacia Pblica e DefensoriaPblica assumiram o status de funes essenciais Justia.

    Interpretao Constitucional.Princpios e Regras Constitucionais.

    Aplicabil idade das Normas Const itucionais.1.0. Interpretao Constitucional.

    Interpretar as leis desvendar o real significado da norma, buscar o que o legislador desejouefetivamente dizer e a hermenutica jurdica a cincia que fornece a tcnica e os princpios com osquais o intrprete poder interpretar o sentido social e jurdico da norma jurdica em questo.

    A interpretao da Constituio Federal dever levar em conta todo o sistema, pois no caso dehaver um conflito aparente de normas, buscar-se- uma interpretao sistemtica, orientada pelosprincpios constitucionais e as regras de interpretao.

    2.0. Princpios Constituc ionais

    So vrios os princpios apontados pelos estudiosos do Direito, entre os quais se destacam os

    seguintes:Princpio da supremacia constitucional - por esse princpio a constituio est no pice doordenamento jurdico nacional e nenhuma norma jurdica pode contrari-la material ou formalmente sobpena de advir uma inconstitucionalidade. A dogmtica constitucional atual entende que no h hierarquiaentre as normas constitucionais originrias.

    A supremacia material existe em toda constituio, mas a supremacia formal somente nasconstituies rgidas.

    Princpio da imperatividade da norma constitucional- a norma constitucional imperativa, deordem pblica e emana da vontade popular. Na interpretao de um dispositivo constitucional essencialque o intrprete sempre lhe confira a mais ampla extenso possvel.

    Princpio da unidade da constituio - na tarefa de interpretar o texto constitucional, deve-seconsiderar que a constituio forma um todo monoltico, uma totalidade, procurando harmonizar todos osseus dispositivos. O intrprete deve partir do princpio de que h um conjunto harmnico de ideias. Ainterpretao constitucional deve ser realizada de maneira a evitar contradies entre suas normas.

    Princpio do efeito integrador- na resoluo dos problemas jurdico-constitucionais, dever serdada maior primazia aos critrios favorecedores da integrao poltica e social, bem como ao reforo da

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    unidade poltica, ou seja, que na resoluo das questes sobre a constituio preciso optar peloscaminhos de interpretao que favoream a integrao e unidade poltica e social.

    Princpio da mxima efetividade ou da eficincia - a uma norma constitucional deve seratribudo o sentido que maior eficcia lhe conceda. Este princpio pretende interpretar a constituio nosentido de atribuir norma constitucional a maior efetividade possvel.

    Princpio da conformidade funcional ou da justeza - de acordo com esse princpio inadmissvel qualquer interpretao que atente contra a diviso de funes e atribuies feitas pela

    constituio, ou seja, se a constituio acolhe uma forma de funcionamento de nosso sistema, no pode ointrprete aceitar outro caminho.

    Princpio da concordncia prtica ou da harmonizao (ponderao de valores ou axiomas)- exige-se a coordenao e combinao dos bens jurdicos em conflito de forma a evitar o sacrifcio totalde uns em relao aos outros, ou seja, procura criar limites entre os diversos direitos a fim de que sejapossvel harmoniz-los.

    Princpio da simetria constitucional - o princpio federativo que exige uma relao simtricaentre os institutos jurdicos da constituio federal e as constituies dos estados-membros (art. 125, 2., CF/88).

    Princpio da presuno da constitucionalidade das normas infraconstitucionais - h umapresuno relativa (juris tantum) de que toda lei constitucional at prova em contrrio, ou seja, at que opoder judicirio, por exemplo, exercendo o controle tpico de constitucionalidade, a declareexpressamente inconstitucional.

    Princpio da Fora Normativa das Normas Constitucionais deve-se analisar a vontade da

    Constituio, sem desprezar os valores sociais, culturais e polticos. No dizer de Gilmar Mendes, semdesprezar o significado dos fatores histricos, polticos e sociais para a fora normativa da Constituio,confere Hesse peculiar realce chamada vontade da Constituio (Willw zur Verfassung). A Constituio,ensina Hesse, transforma-se em fora ativa se existir a disposio de orientar a prpria conduta segundoa ordem nela estabelecida, se fizerem presentes, na conscincia geral particularmente, na conscinciados princpios responsveis pela ordem constitucional -, no s a vontade de poder (Wille zur Macht), mastambm a vontade de Cosntituio (Wille zur Verfassung).

    3.0. Regras constitucionais.Os princpios so perfeitamente completados por algumas regras propostas por Jorge Miranda,

    quais sejam: a contradio dos princpios deve ser superada, ou por meio da reduo proporcional do mbito de

    alcance de cada um deles, ou, em alguns casos, mediante a preferncia ou a prioridade de certosprincpios;

    deve ser fixada a premissa de que todas as normas constitucionais desempenham uma funo til noordenamento, sendo vedada a interpretao que lhe suprima ou diminua a finalidade;

    os preceitos constitucionais devero ser interpretados tanto explicitamente quanto implicitamente, afim de colher-se seu verdadeiro significado.

    Tendo em vista a supremacia das normas constitucionais no ordenamento jurdico e a presunode constitucionalidade das leis e atos normativos editados pelo Poder Pblico competente, destaca-se aidia de interpretao conforme a Constituio.

    ATENO!!!Essa tcnica de interpretao conforme a Constituio somente ser possvel quando a norma

    interpretada apresentar vrios significados, um ou uns compatveis com as normas constitucionais e outroou outros no, conforme inclusive entendimento do Supremo Tribunal Federal, que se pronunciou nosseguintes termos: a tcnica da denominada interpretao conforme s utilizvel quando a normaimpugnada admite, dentre as vrias interpretaes possveis, uma que a compatibilize com a Carta

    Magna, e no quando o sentido da norma unvoco.

    A regra da interpretao conforme a Constituio pode ser realizada das seguintes maneiras: interpretao conforme com reduo do texto: ocorrer quando for possvel, em virtude da

    redao do texto impugnado, declarar a inconstitucionalidade de determinada expresso,possibilitando, a partir dessa excluso de texto, uma interpretao compatvel com a constituiofederal;

    interpretao conforme sem reduo do texto, conferindo norma impugnada umadeterminada interpretao que lhe preserve a consti tucionalidade; e

    interpretao conforme sem reduo do texto, excluindo da norma impugnada umainterpretao que lhe acarretaria a inconstituc ionalidade.

    Observa-se que o Supremo Tribunal Federal utiliza-se da declarao de inconstitucionalidade semreduo do texto como princpio da Interpretao Conforme Constituio, instrumento decisrio para

    atingir-se uma interpretao conforme a Constituio, de maneira a salvar a constitucionalidade da lei oudo ato normativo, sem contudo alterar seu texto. J a declarao de inconstitucionalidade com reduo detexto total ou parcial corresponde a uma declarao de nulidade.

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    9Constituio Federal Interpretada Para Concursos - Malu Arago

    3.1. Mtodos de interpretao da norma:

    Quanto ao sujeito:

    Interpretao autntica quando o sentido da norma dado pelo prprio rgo que a produziu;Interpretao doutri nria feita pelos estudiosos do Direito;Interpretao judicial decorre dos rgos judiciais, ou seja, qualquer deciso judicial, inclusive

    as de primeira instncia.

    Quanto aos meios:

    Interpretao gramatical utilizado o sentido das palavras;Interpretao lgica surge quando se verifica a vontade da lei, a razo da lei ( ratio legis).

    Quanto ao resultado:

    Interpretao declarativa a norma jurdica no ampliada nem restringida;Interpretao extensiva quando a letra da lei diz menos do que deveria, amplia-se sua

    aplicao;Interpretao restritiva quando a letra da lei diz mais do que deveria, diminui-se sua aplicao.

    Alm dos mtodos descritos acima, a interpretao est afeita a outros elementos, quais sejam:Interpretao histrica aquela que identifica o momento social e poltico onde foi produzida a

    norma.Interpretao teleolgica aquela que identifica qual a finalidade do legislador.Interpretao axiolgica aquela que identifica os valores, dogmas e teorias que inspiraram a

    norma.Interpretao sistemtica aquela que harmoniza todo o sistema jurdico;Direito comparado anlise comparativa da legislao de outros pases.Existem ainda os Mtodos Tradicionaisde interpretao: concatenao de mtodos.

    Lgico-sistemtico : aplica-se o mtodo lgico dentro da noo que as fontes do direito fazemparte de um sistema, no so isoladas. Interconexo de normas.

    Histrico-teleolgico: interpreta-se a poca e as condies de confeco da fonte e suafinalidade. a chamada interpretao evolutiva ou progressiva: adaptar o contedo s exigncias prticas

    surgidas depois da norma.Voluntarista da Teoria Pura do Direito:a interpretao surge da vontade arbtrio de quem est

    interpretando (Escola de Kelsen). Ex: A lei penal determina que em caso de delito X a cominao ser demulta ou priso. O Juiz decide.

    E por fim, os Mtodos Modernosde interpretao constitucional:

    Integrativo ou cientfico-espiritual:entende que tudo na Constituio faz parte de um todo, deum conjunto. Caracteriza-se pelo modo crtico de interpretao ao contedo. O intrprete deve integrar osentido da norma a partir da captao espiritual. Tem natureza sociolgica. A Constituio tornar-semais poltica que jurdica.

    Hermenutico - conc retizador: exige que o intrprete encontre o sentido do texto normativo ecompare o resultado com a realidade a que ele deve ser aplicado. um movimento de ir e vir. H umapr-compreenso do texto para extrair do mesmo um determinado contedo, que deve ser comparado

    com a realidade existente. A interpretao parte da norma para o problema.Tpico-problemtico:embora seja considerado moderno, desde Aristteles o pensamento tpicoj era pensado no sentido da evidncia da verdade, ou seja, o que a todos, ou a grande maioria ou aosdoutos se lhes afigurava verdadeiro. O cerne da tpica: pensar o problema, ou seja, a soluo adequadasairia a cada caso, diferente do sistmico que via como um todo. A interpretao parte do problema paraa norma. Tenta-se adequar a norma ao problema. A Constituio um sistema aberto de regras eprincpios.

    Friedrich Muller: um mtodo concretista de inspirao tpico(normativo-estruturante):buscao que h de adequado em um e outro sistema e une. A interpretao se qualifica como concretizao evice-versa. F. Muller compreende que a norma jurdica algo mais que o texto de uma regra normativa,da o entendimento de que a interpretao ou concretizao de uma norma transcende a interpretao deum texto, possuindo um raio de abrangncia maior, em que se leva em conta a jurisprudncia, o casoconcreto e o contexto histrico, realizando assim o direito. O texto normativo positivado apenas a pontado iceberg.

    e) Interpretao comparativa por meio da comparao das vrias constituies existentes ointrprete alcana critrios para melhor solucionar os problemas concretos.

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    ATENO!!A reforma constitucional difere da integrao e da mutao constitucional. A integrao da normajurdica a atividade do intrprete de preencher as lacunas deixadas pelo legislador mediante a utilizaoda analogia, os princpios gerais do direito e os costumes (Artigo 4. da lei de Introduo ao Cdigo Civil)e a mutao constitucional uma alterao no sentido interpretativo do texto constitucional, que no amesma coisa de reforma constitucional, uma vez que esta seria a modificao do texto com osmecanismos definidos pelo poder constituinte originrio.

    4.0. Aplicabilidade das normas constit ucionais

    Seguindo o ilustre Jos Afonso da Silva, quanto aplicabilidade as normas constitucionais, estasclassificam se em:

    Normas constitucionais de eficcia plena: so aquelas que, desde a entrada em vigor daConstituio, produzem, ou tem possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, legais e sociais.No dependem de atuao do Poder Constituinte Derivado para sua regulamentao, entretanto a leiposterior pode restringir seus efeitos. So normas de aplicabilidade direta, imediata e integral. Ex: asgarantias constitucionais previstas no artigo 5, incisos LXVIII ao LXXIII da CF/88.

    Normas constitucionais de eficcia contida: aquelas que o legislador constituinte regulousuficientemente os interesses relativos determinada matria, mas deixou margem atuao restritiva

    por parte da competncia discricionria do poder pblico, nos termos que a lei estabelecer ou nos termosde conceitos gerais nelas enunciados, como bem conceituou a doutrina ptria. So normas deaplicabilidade direta, imediata, mas no integral. Ex: artigo 5, VIII, XIII e XXIII (que limita o direito depropriedade expresso no inciso XXII) da CF/88.

    Normas constitucionais de eficcia limitada: aquelas que apresentam aplicabilidade indireta,mediata e reduzida, porque somente incidem totalmente sobre esses interesses, aps umaregulamentao posterior. Ex: artigos 7, XX e XXVII, 33, 88, 113 da CF/88.

    O professor Jos Afonso da Silva ainda destaca que as normas de eficcia limitada se classificamem normas de eficcia limitada definidora de princpio institutivo ou organizativo, as quais traamesquemas gerias de estruturao e atribuies. Ex: artigos 33, 88 e 113, e as normas de eficcia limitadadefinidora de princpio programtico, que instituem programas destinados ao cumprimento dasfinalidades sociais do Estado. Ex: artigos 7, XX, XXVII, 173, pargrafo 4. e 216, pargrafo 3.

    J Maria Helena Diniz prope uma nova espcie de classificao nas normas constitucionais,tendo por critrio a intangibilidade e a produo dos efeitos concretos, seno vejamos:

    Normas constitucionais de eficcia absoluta: aquelas que possuem efeito imediato e nopodem ser emendadas (as chamadas clusulas ptreas: art. 60, 4). So intangveis, contra elas no hnem mesmo o poder de emendar.

    Normas constitucionais de eficcia plena: aquelas que possuem efeito imediato,podem serimediatamente aplicadas e, em tese, podem vir a ser emendadas.

    Normas constituc ionais de eficcia relativa restringvel:aquelas que correspondem s normasde eficcia contida, ou seja, que possuem efeito imediato, mas cujo alcance pode vir a ser limitado ou

    reduzido pela legislao regulamentadora.

    Normas constitucionais de eficcia relativa complementvel ou dependentes decomplementao:aquelas que para terem eficcia dependem de atividade legislativa.

    Celso Ribeiro Bastos e Carlos Ayres Britto classificam as normas constitucionais em normas deaplicao irregulamentveis e regulamentveis e normas de integrao. As primeiras j esto aptas aproduzir todos os efeitos, dispensando regulamentao ou permitindo-a, mas sem qualquer restrio docontedo constitucional. As segundas so integradas pela legislao infraconstitucional, oracomplementveis, ou restringveis.

    Existe ainda a norma constitucional de eficcia exaurida e aplicabilidade esgotada, sugeridapor Uadi Lammgo Bulos. So normas que j cumpriram seu papel, encargo ou tarefa para o qual foramcriadas. Ex: artigos 1, 2, 3, 14, 20, 25, 48 e vrios outros do ADCT.

    Ressalte-se a existncia das chamadas normas programticas,que de acordo com a lio deJorge Miranda, so de aplicao diferida, e no de aplicao ou execuo imediata; mais do que

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    11Constituio Federal Interpretada Para Concursos - Malu Arago

    comandos-regras, explicitam comandos-valores, conferem elasticidade ao ordenamento constitucional;tem como destinatrio primacial embora no nico o legislador, a cuja opo fica a ponderao dotempo e dos meios em que vem a ser revestidas de plena eficcia (e nisso consiste a discricionariedade);no consentem que os cidados ou quaisquer cidados as invoquem j (ou imediatamente aps aentrada em vigor da Constituio), pedindo aos Tribunais o seu cumprimento s por si, pelo que podehaver quem afirme que os direitos que delas constam, mxime os direitos sociais, tem mais natureza de

    expectativas de que de verdadeiros direitos subjetivos; muitas vezes, acompanhadas de conceitosindeterminados ou parcialmente indeterminados.

    importante frisar que as normas programticas esto presentes em constituies dirigentes e queso dotadas de eficcia negativa, j que paralisam os dispositivos contrrios e incompatveis e impedemque sejam elaboradas normas posteriores que contrariem os programas por elas descritos.

    A doutrina apresenta como exemplos de normas programticas, entre outras, as regras dos artigos4, pargrafo nico, 23,170, 205, 211, 215 e 218, todos da Constituio Federal de 1988.

    5.0. Aplicao das normas constit ucionais no tempo (direito intertemporal lato sensu).

    No momento em que surge uma nova Constituio, a situao das espcies normativas jexistentes no ordenamento jurdico regulada de acordo com teorias que estabeleceram regras, senovejamos:

    Teoria da Revogao: quando surge uma nova constituio originria, as normas originrias ederivadas da antiga constituio so revogadas totalmente, assim como as normas infraconstitucionaisque forem incompatveis materialmente com a nova carta constitucional, por ausncia de recepo.

    Frise-se que no novo ordenamento jurdico uma lei s pode ser revogada por outra lei da mesmaespcie ou por outra de hierarquia superior, como uma emenda constitucional.

    Teoria da Recepo:por um princpio de economia legislativa, a nova ordem constitucional recebeas leis e atos normativos preexistentes a ela desde que materialmente compatveis com ela. Com oadvento da nova Constituio, a ordem normativa anterior, comum, perde seu antigo fundamento devalidade para, em face da recepo, ganhar novo suporte. Essa teoria amplamente adotada pelo DireitoBrasileiro, embora haja controvrsia doutrinria. um fenmeno tcito.

    Ao realizar a anlise da recepo material, o intrprete judicirio dever verificar tambm se anorma vigente no antigo ordenamento jurdico era com ele compatvel material e formalmente. Caso noseja formalmente compatvel, sendo, portanto, maculada por possuir vcio congnito, no poder sersanvel pelo fenmeno da recepo.

    importante salientar que o posicionamento do STF e da doutrina majoritria de no admitir a

    teoria da inconstitucionalidade superveniente de ato normativo produzido antes da nova Constituio, noqual vigora o princpio da contemporaneidade, onde se diz revogada a norma no compatvel com a novaordem e recepcionada a norma compatvel, esbarra-se com o entendimento minoritrio da doutrina quedefende a tese da inconstitucionalidade superveniente, ou seja, as normas anteriores conflitantes com anova ordem constitucional no seriam revogadas, mas sim inconstitucionais.

    Jurisp rudncia relacionada ao tema:ADI QO 7/DF, rel. Min. Celso de Mello, DJ 04.09.1992. AO DIRETA DE

    INCONSTITUCIONALIDADE - IMPUGNAO DE ATO ESTATAL EDITADO ANTERIORMENTE AVIGENCIA DA CF/88 - INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE - INOCORRENCIA - HIPTESEDE REVOGAO DO ATO HIERARQUICAMENTE INFERIOR POR AUSNCIA DE RECEPO -IMPOSSIBILIDADE DE INSTAURAO DO CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO - AO DIRETANO CONHECIDA. - A ao direta de inconstitucionalidade no se revela instrumento juridicamente

    idneo ao exame da legitimidade constitucional de atos normativos do poder pblico que tenham sidoeditados em momento anterior ao da vigncia da constituio sob cuja gide foi instaurado o controlenormativo abstrato. A fiscalizao concentrada de constitucionalidade supe a necessria existncia deuma relao de contemporaneidade entre o ato estatal impugnado e a carta politica sob cujo domnionormativo veio ele a ser editado. O entendimento de que leis pr-constitucionais no se predispem,vigente uma nova constituio, a tutela jurisdicional de constitucionalidade in abstracto - orientaojurisprudencial j consagrada no regime anterior (RTJ 95/980 - 95/993 - 99/544) - foi reafirmado por estacorte, em recentes pronunciamentos, na perspectiva da carta federal de 1988. - a incompatibilidadevertical superveniente de atos do poder pblico, em face de um novo ordenamento constitucional, traduzhiptese de pura e simples revogao dessas espcies jurdicas, posto que lhe so hierarquicamenteinferiores. O exame da revogao de leis ou atos normativos do poder pblico constitui matriaabsolutamente estranha a funo jurdico-processual da ao direta de inconstitucionalidade.

    Teoria da Repristinao: a restaurao da eficcia, da vigncia e da validade de normas que jestavam revogadas por Constituies anteriores. No direito ptrio essa teoria s admitida se houver

    previso expressa de lei nova, conforme regulado na Lei de Introduo ao Cdigo Civil no seu artigo 2., 3.

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    Constituio Federal Interpretada Para Concursos - Malu Arago2

    Jurisp rudncia relacionada ao tema:AI 235800 AgR. Rel. Min. Moreira Alves, DJ 25.06.1999. EMENTA: Agravo regimental.- No tem

    razo o agravante. A recepo de lei ordinria como lei complementar pela Constituio posterior a ela socorre com relao aos seus dispositivos em vigor quando da promulgao desta, no havendo quepretender-se a ocorrncia de efeito repristinatrio, porque o nosso sistema jurdico, salvo disposio emcontrrio, no admite a repristinao (artigo 2, 3, da Lei de Introduo ao Cdigo Civil). Agravo a que

    se nega provimento.Teoria da Desconstitucionalizao:a possibilidade de recepo, pela nova ordem constitucional,

    como leis ordinrias, de dispositivos da Constituio anterior. Seria rebaixar uma norma constitucionalpara lei ordinria. Tal teoria no encontra respaldo na jurisprudncia do nosso pas, entretanto nadaimpede que o Poder Constituinte Originrio preveja expressamente dita situao.

    OBS:O Professor Jorge Miranda aponta outra possibilidade alm da teoria da desconstitucionalizao, arecepo material das normas constitucionais, apontando a persistncia de normas constitucionaisanteriores que guardam, ainda que a ttulo secundrio, a antiga qualidade de normas constitucionais,dando como exemplo o artigo 34, caput, e seu 1, do ADCT da CF/88. Note-se que tais normas sorecebidas por prazo certo e s sero admitidas se houver previso expressa na nova constituio.

    5.1. Graus de Retroatividade da norma constit ucional: mximo, mdio e mnimo.

    importante frisar que o STF chancela a teoria da Retroatividade Mnima (temperada ou mitigada),onde as novas normas constitucionais se aplicam de imediato, alcanando, sem limitaes, os efeitosfuturos de fatos passados, salvo disposio expressa em contrrio (retroatividade mdia ou mxima),valendo salientar que a retroatividade mnima no se aplica as Constituies Estaduais nem as normasinfraconstitucionais, pois estas se submetem regra da irretroatividade, fundamentada no art. 5, XXXVIda CF/88.

    A retroatividade mxima ou restituitria da norma aplica-se aos fatos consumados e aretroatividade mdia aplica-se as prestaes vencidas, mas ainda no adimplidas.

    Jurisp rudncia relacionada ao tema:RE 168.618/PR, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 09.06.1995. EMENTA: - Foro especial. Prefeito que

    no o tinha na poca do fato que lhe e imputado como crime, estando em curso a ao penal quando dapromulgao da atual Constituio que outorgou aos Prefeitos foro especial (art. 29, VIII, da ConstituioFederal). - A Constituio tem eficcia imediata, alcanando os efeitos futuros de fatos passados

    (retroatividade mnima). Para alcanar, porem, hiptese em que, no passado, no havia foro especial ques foi outorgado quando o ru no mais era Prefeito - hiptese que configura retroatividade media, porestar tramitando o processo penal -, seria mister que a Constituio o determinasse expressamente, oque no ocorre no caso. - Por outro lado, no e de aplicar-se sequer o princpio que inspirou a Smula394. Recurso extraordinrio no conhecido.

    RE 140.499/GO, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 09.09.1994. EMENTA: Penses especiais vinculadasa salrio mnimo. Aplicao imediata a elas da vedao da parte final do inciso IV do artigo 7. daConstituio de 1988. - J se firmou a jurisprudncia desta Corte no sentido de que os dispositivosconstitucionais tm vigncia imediata, alcanando os efeitos futuros de fatos passados (retroatividademnima). Salvo disposio expressa em contrario - e a Constituio pode faz-lo -, eles no alcanam osfatos consumados no passado nem as prestaes anteriormente vencidas e no pagas (retroatividadesmxima e mdia). Recurso extraordinrio conhecido e provido.

    PODER CONSTITUINTE

    1.0. Conceito de poder constitu inte.

    o poder de elaborar ou atualizar uma Constituio, manifestao soberana da vontade polticade um povo, social e juridicamente organizado, por isso a titularidade do poder constituinte pertence aopovo, embora seja exercido ou por uma assemblia nacional constituinte (conveno) ou outorgada porum movimento revolucionrio.

    No se pode esquecer que o percussor do Poder Constituinte, o abade Emmanuel Joseph Sieys,apontava como titular do poder constituinte a nao.

    2.0. Espcies de poder constituinte.

    2.1. Originrio (inicial, inaugural, ou de 1 grau).

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    13Constituio Federal Interpretada Para Concursos - Malu Arago

    Instaura um novo Estado, organizando-o, rompendo por completo com a antiga ordem jurdica.Tanto haver poder constituinte no surgimento de uma primeira constituio, quanto na elaborao dequalquer constituio posterior.

    Pode ser subdividido em histrico (o primeiro) ou revolucionrio (todos os posteriores ao histrico)e caracteriza-se por ser inicial, j que a sua obra, a constituio, a base da ordem jurdica, por serilimitado juridicamente e autnomoporque no est de modo algum limitado pelo direito anterior, notendo que respeitar os limites postos pelo direito positivo antecessor, por ser incondicionado , pois no

    est sujeito a qualquer forma prefixada para manifestar sua vontade e por ser permanenteporque nodesaparece com a realizao de sua obra, continua latente, manifestando-se novamente mediante umanova assemblia nacional constituinte ou um ato revolucionrio.

    Embora o Brasil tenha adotado a corrente positivista, onde nem mesmo o direito natural limitaria opoder constituinte originrio contrapondo-se a corrente jus naturalista, destaca-se entre a doutrinamoderna a viso de Canotilho, o qual observa que o poder constituinte originrio ... obedece a padres emodelos de conduta espirituais, culturais, ticos e sociais, radicados na conscincia jurdica geral dacomunidade e, nesta medida, considerados como vontade do povo.

    Jurisp rudncia relacionada ao tema:RE 242.740/GO, Rel. Min. Moreira Alves, 1. Turma, DJ 18.05.2001. EMENTA (...).J se firmou a

    jurisprudncia desta Corte no sentido de que os dispositivos constitucionais tm vigncia imediata,alcanando os efeitos futuros de fatos passados (retroatividade mnima). Salvo disposio expressa emcontrrio - e a Constituio pode faz-lo -, eles no alcanam os fatos consumados no passado nem asprestaes anteriormente vencidas e no pagas (retroatividades mxima e mdia). (...).

    2.2. Derivado (institudo, constitudo, secundrio, ou de 2 grau).Est inserido na prpria constituio, pois decorre de uma regra jurdica de autenticidade

    constitucional (poder constituinte originrio), portanto conhece limitaes constitucionais expressas eimplcitas e passvel de controle de constitucionalidade. Caracteriza-se por ser derivado, uma vez queretira sua fora do poder constituinte originrio, por ser subordinado , pois se encontra limitado pelasnormas explcitas e implcitas do texto constitucional e por ser condicionado , porque seu exerccio deveseguir regras previamente estabelecidas no texto da constituio federal.

    Subdivide-se em: Poder constituinte derivado revisor (competncia de reviso), Poderconstituinte derivado reformador (competncia reformadora) e Poder constituinte derivadodecorrente.2.2.1. Poder Constituinte Derivado Revisor.

    Verificou-se nos termos do artigo 3. do ADCT, que reza: A reviso constitucional serrealizada aps cinco anos, contados da promulgao da Constituio, pelo voto da maioria

    absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sesso unicameral. Tendo dado ensejo a seisemendas de reviso, com eficcia exaurida e aplicabilidade esgotada.

    2.2.2. Poder Constituinte Derivado Reformador.Consiste na possibilidade de se alterar o texto constitucional, respeitando-se a regulamentao

    especial prevista na prpria constituio federal e ser exercitado por determinados rgos com carterrepresentativo.

    A Carta de Outubro prev em seu artigo 60, a nica maneira de se modificar as normasconstitucionais originrias.

    Ar t. 60. A Const ituio poder ser emendada mediante proposta:I - de um tero, no mnimo, dos membros da Cmara dos Deputados ou do Senado Federal;II - do Presidente da Repbl ica;III - de mais da metade das Assemblias Legislativas das unidades da Federao,

    manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

    (...) 2 A proposta ser discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em doisturnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, trs quintos dos votos dos respectivosmembros.

    2.2.3. Poder Const itu inte Derivado Decorrente.Diz respeito a possibilidade que os estados-membros tm, em virtude de sua autonomia poltico-

    administrativa, de se auto organizarem por meio de suas respectivas constituies estaduais, semprerespeitando as regras limitativas estabelecidas pela constituio federal, nos termos do artigo 25, caput,sua misso estruturar a Constituio dos Estados Membros.

    Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Consti tuies e leis que adotarem,observados os princpios desta Constitui o .

    No que diz respeito ao observados os princpios desta Constituio constante no caput do artigo25 da Constituio Federal, deve ser entendido por princpios constitucionais sensveis (apontados ouenumerados), que se encontram positivados na constituio, mais precisamente no artigo 34, VII,princpios constitucionais estabelecidos (organizatrios), que segundo Bulos so aqueles que limitam,

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    Constituio Federal Interpretada Para Concursos - Malu Arago4

    vedam, ou probem a ao indiscriminada do Poder Constituinte Decorrente, ex: arts 1., caput, 18, 4.,19, 29, 35 e etc., e os princpios constitucionais extensveis, que ainda segundo Bulos so aqueles queintegram a estrutura da federao brasileira, relacionando-se, por exemplo, com a forma de investiduraem cargos eletivos (art. 77), o processo legislativo (arts. 59 e ss), os oramentos (arts. 165 e ss), ospreceitos lidados Administrao Pblica (arts. 37 e ss) etc..

    Sabe-se que h divergncia doutrinria quanto a possibilidade de existir poder constituintederivado decorrente dos Municpios, considerando o art. 11 do ADCT, entretanto vale ressaltar o

    entendimento do Supremo Tribunal Federal, que reconhece dito poder somente aos Estados-membros eao Distrito Federal.

    Art. 11. Cada Assemblia Legis lat iva, com poderes consti tu in tes, elaborar a Const ituiodo Estado, no prazo de um ano, contado da p romulgao da Constituio Federal, obedecidos osprincpios desta.

    Pargrafo nico. Promulgada a Constituio do Estado, caber Cmara Municipal, noprazo de seis meses, votar a Lei Orgnica respectiva, em dois turnos de discusso e votao,respeitado o disposto na Constituio Federal e na Constitui o Estadual.

    Jurisp rudncia relacionada ao tema:Rcl 3436, 01.08.05. A Lei Orgnica do Distrito Federal constitui instrumento normativo primrio

    destinado a regular, de modo subordinante e com inegvel primazia sobre o ordenamento positivodistrital a vida jurdico-administrativa e poltico-institucional dessa entidade integrante da Federaobrasileira. Esse ato representa, dentro do sistema de direito positivo, o momento inaugural e fundante daordem jurdica vigente no mbito do Distrito Federal. Em uma palavra: a Lei Orgnica equivale, em fora,autoridade e eficcia jurdicas, a um verdadeiro estatuto constitucional, essencialmente equiparvel sConstituies promulgadas pelos Estados-membros.

    ADI 3.756/DF, Rel. Min. Carlos Britto, DJ 19.10.2007. EMENTA: (...) 3. Conquanto submetido aregime constitucional diferenciado, o Distrito Federal est bem mais prximo da estruturao dos Estados-membros do que da arquitetura constitucional dos Municpios.

    2.2.4. Poder Constituinte Difuso.Uadi Lammgo Bulos cita o poder constituinte difuso, chamado assim porque no vem formalizado

    nas constituies, embora esteja presente nos ordenamentos jurdicos. caracterizado como um poderde fato e se manifesta por meio das mutaes constitucionais, uma vez que se manifesta de maneirainformal e espontnea, em decorrncia de fatores sociais, polticos e econmicos, sempre observando osprincpios estruturantes da Constituio.

    2.2.5. Poder Constituinte Supranacional.Segundo Kildare Gonalves Carvalho, o poder constituinte supranacional tem sua fonte de

    validade na cidadania universal, no pluralismo de ordenamentos jurdicos, na vontade de integrao e emum conceito remodelado de soberania. Cria uma ordem jurdica de cunho constitucional, haja vista quepassa a aderir ao direito comunitrio dos Estados Nacionais.

    OBS: Vocatio Constitutionis o intervalo existente entre a publicao da norma constitucional e a datada sua vigncia. A Constituio Federal de 1988 no previu a vocatio constitutionis, entretanto no artigo34 do ADCT consta uma regra exemplificativa sobre a vigncia superveniente do dispositivo, inclusiveparte do novo sistema tributrio nacional somente entrou em vigor a partir do primeiro dia do quinto msseguinte ao da promulgao da Constituio.

    Ar t. 34. O s is tema t ributr io nac ional entrar em vigor a part ir do pr imeiro dia do qu in to msseguinte ao da promulgao da Constituio, mantido, at ento, o da Constituio de 1967, com aredao dada pela Emenda n 1, de 1969, e pelas posterio res.

    CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

    PREMBULO

    Ns, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assemblia Nacional Constituinte parainstituir um Estado Democrtico, destinado a assegurar o exerccio dos direitos sociais eindividuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiacomo valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada naharmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a soluo pacfica dascontrovrsias, promulgamos, sob a proteo de Deus, a seguinte CONSTITUIO DA REPBLICA

    FEDERATIVA DO BRASIL.Jurisp rudncia relacionada ao tema:

    https://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/viwTodos/509f2321d97cd2d203256b280052245a?OpenDocument&Highlight=1,constitui%C3%A7%C3%A3o&AutoFramedhttps://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/viwTodos/509f2321d97cd2d203256b280052245a?OpenDocument&Highlight=1,constitui%C3%A7%C3%A3o&AutoFramed
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    (ADI 2.076/AC. Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 08.08.2003). EMENTA: CONSTITUCIONAL.CONSTITUIO: PREMBULO. NORMAS CENTRAIS. Constituio do Acre. I. - Normas centrais daConstituio Federal: essas normas so de reproduo obrigatria na Constituio do Estado-membro,mesmo porque, reproduzidas, ou no, incidiro sobre a ordem local. Reclamaes 370-MT e 383-SP (RTJ147/404). II. - Prembulo da Constituio: no constitui norma central. Invocao da proteo de Deus:no se trata de norma de reproduo obrigatria na Constituio estadual, no tendo fora normativa. III. -Ao direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.

    TTULO IDOS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS

    O termo princpio traduz-se na idia de incio, origem, comeo, ponto de partida, e ainda, numaoutra acepo, em mandamento, norma nuclear de um sistema. Nesse contexto, os princpiosfundamentais nada mais so que as diretrizes bsicas que produzem decises polticas imprescindveis configurao do Estado. So alicerce, a base, as linhas mestras sociais e polticas que norteiam einspiram os contedos positivados pelo legislador constituinte originrio.

    Art. 1 A Repbl ica Federativa do Brasi l, formada pela un io indissolvel dos Estados eMunicpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como

    fundamentos:I a soberania;II a cidadania;III a dignidade da pessoa humana;IV os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;V o pluralismo po ltico.Pargrafo nico: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos oudiretamente, nos termos desta Constit uio.

    Interessante fazer um comparativo entre o presente dispositivo e o artigo 18, que reza: Aorganizao poltico-administrativa da Repblica Federativa do Brasil compreende a Unio, os Estados, oDistrito Federal e os Municpios, todos autnomos, nos termos desta Constituio.

    Repblica e Unio, portanto, no so sinnimos. A Unio pessoa jurdica de Direito Pblicointerno com capacidade poltica. No mbito interno, a Unio apenas autnoma, como deixa claro o textodaquele artigo. A Repblica Federativa do Brasil que soberana,pessoa jurdica de direito pblico

    internacional ou externo.Para Celso Bastos, soberania atributo que se confere ao poder do Estado em virtude de serjuridicamente ilimitado. J autonomia margem de discrio de que uma pessoa goza para decidir sobreseus negcios.

    Importante perceber que a Constituio define a Repblica sob dois ngulos. Sob o aspectoterritorial, ou fsico, a Repblica composta dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios (art. 1, daCF/88). J sob o aspecto poltico-administrativo, ou institucional, ou jurdico, tem ela quatro partescomponentes: a Unio, os Estados-membros (Estados Federados), o Distrito Federal e os Municpios, queformam o Estado Federal, encontrando-se no mesmo patamar hierrquico. So entes federativos comcapacidade de auto legislao, de autogoverno e auto administrao (tri-capacidade).

    A Constituio adotou como Forma de Estado o Federalismo por desagregao, que no conceitode Dalmo Dallari uma aliana ou unio de Estados, baseada em uma constituio e onde os Estadosque ingressam na federao perdem sua soberania no momento mesmo do ingresso, preservando,contudo, uma autonomia poltica-administrativa, valendo destacar que o legislador constituintedeterminou a impossibilidade de qualquer deliberao sobre proposta de emenda constitucional tendentea abolir a Federao (Art. 60, 4, I da CF).

    A Repblica foi a forma de governo assumida pelo pas, tendo como caractersticas: a eletividade,temporariedade e responsabilidade do governante perante os governados.

    H de se observar que Repblica Federativa do Brasil o nome do Estado Brasileiro, que adota ofederalismo, por isso a designao Estado Federal. Este, por sua vez, compe-se de coletividadesregionais autnomas denominadas Estados-Membros ou federados. E no que tange a diferena com aUnio, registre-se a lio de Jos Afonso da Silva: Estado federal o todo, dotado de personalidadejurdica de Direito Pblico Internacional. A Unio a entidade federal formada pela reunio das partescomponentes, constituindo pessoa jurdica de Direito Pblico Interno, autnoma em relao aos Estados ea que cabe exercer as prerrogativas da soberania do Estado Brasileiro.

    O Princpio da indissolubilidade do vnculo federativo , em nosso Estado Federal, foiconsagrado em nossas constituies republicanas desde 1891 e tem duas finalidades bsicas: a unidadenacional e a necessidade descentralizadora. Inadmissvel, portanto, qualquer pretenso de separao deum Estado-membro, do Distrito-Federal ou de qualquer Municpio da Federao, inexistindo em nosso

    ordenamento jurdico o denominado direito de secesso, pois a mera tentativa de secesso permitira adecretao de interveno federal (Art. 34, I da CF).

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    IMPORTANTE!!!A Unio no faz parte do artigo 1 por conta da sua inexistncia material, o que noocorre com a regra do artigo 18, que compreende os entes que compem a federao do ponto de vistapoltico administrativa. J os Territrios no esto presentes em nenhum dos artigos, uma vez que notm autonomia poltica, no so considerados entes federativos, mas autarquias territoriais da Unio.

    Estado Democrtico de Direito: mais amplo que Estado de Direito, o princpio democrticoqualifica o prprio Estado, o que causa uma irradiao dos valores da democracia sobre todos oselementos constitutivos deste. A expresso Estado de Direito na sua origem significa governo a partir deleis, porm quaisquer leis. Com a introduo da caracterstica de ser democrtico, impe-se a todas asnormas a observncia a tal princpio; no sendo suficientes apenas as leis, mas principalmente quenestas esteja inserido o contedo democrtico, uma vez que o regime poltico adotado a democracia.

    A soberaniasignifica poder ilimitado na ordem interna e independente na ordem internacional.A c idadaniaest relacionado com a titularidade de direitos polticos, implicando, assim, na parcela

    detentora de capacidade eleitoral ativa.

    Jurisp rudncia relacionada ao tema:HC 73.454/RJ.(...) Ningum obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se submeter, ainda que

    emanada de autoridade judicial. Mais: dever de cidadania opor-se ordem ilegal; caso contrrio, nega-se o Estado de Direito.

    A d ignidade da pessoa humanacompreende o direito de continuar vivo e de ter uma vida digna.Deve ser interpretado com o mximo de amplitude possvel na hora de conceitu-lo, aplicando o princpio

    da mxima efetividade ou eficincia.Jurisp rudncia relacionada ao tema:

    RE 398.041, 19.08.2008. A Constituio de 1988 traz um robusto conjunto normativo que visa proteo e efetivao dos direitos fundamentais do ser humano. A existncia de trabalhadores a laborarsob escolta, alguns acorrentados, em situao de total violao da liberdade e da autodeterminao decada um, configura crime contra a organizao do trabalho.

    HC 82969/PR, 17/10/2003. A mera instaurao de inqurito, quando evidente a atipicidade daconduta, constitui meio hbil a impor violao aos direitos fundamentais, em especial ao princpio dadignidade humana.

    Smula vinculante 11 S lcito o uso de algemas em casos de resistncia e de fundadoreceio de fuga ou de perigo integridade fsica prpria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal doagente ou da autoridade e de nulidade da priso ou do ato processual a que se refere, sem prejuzo daresponsabilidade civil do Estado.

    Os valores sociais o trabalho e da livre iniciativa so caractersticas do sistema capitalista:valorizao do trabalho, nico responsvel pela subsistncia e desenvolvimento dos indivduos e do pase a prevalncia da livre iniciativa, a qual afasta os ideais socialistas de planificao da economia.

    Jurisp rudncia relacionada ao tema:RE 349.686, 14.06.2005.(...) O princpio da livre iniciativa no pode ser invocado para afastar

    regras de regulamentao do mercado e de defesa do consumidor.O pluralismo polticono significa apenas pluripartidarismo, sendo este uma espcie do gnero

    daquele. Caracteriza-se pela aceitao de diversidade de opinies, participao plural na sociedade domais diversos modos, abrangendo associaes, sindicatos, partidos polticos, igrejas, universidades,escolas etc.

    O pargrafo nico diz respeito ao regime poltico adotado no Brasil, o democrtico, ou seja,governo do povo, para o povo, pelo povo. O poder advm do povo, que o exerce por meio derepresentantes eleitos (democracia indireta ou representativa), ou diretamente (democracia semi direta ou

    participativa), nos termos do pargrafo nico do artigo 1.

    Art. 2 So Poderes da Unio, independentes e harmnicos ent re si , o Legis lat ivo, o Execut ivo eo Judicirio.

    A diviso de Funes, e no Poderes, pois o Poder uno, alm de ser indivisvel e indelegvel. Aseparao foi firmada por Aristteles e aperfeioada por Locke e Monstesquieu. Os poderes participam,por vezes, das atribuies uns dos outros, a fim de que se garanta a harmonia entre eles, a inocorrnciade abusos e a consequente realizao do bem da coletividade, atravs do sistema de freios econtrapesos checks and balances.

    Assim as funes administrativas, legislativas e a judiciria no so exercidas com exclusividade,mas apenas preponderantemente por cada Poder. Da a denominao em funes tpicas e atpicas(secundrias ou subsidirias).

    Os Poderes so harmnicos e independentes, ou seja, entre os rgos h cortesia no tratorecproco e na atuao do exerccio de suas atribuies no h ingerncia dos demais, com liberdade

    para organizar servios e tomar decises, apesar da doutrina indicar na prpria constituio excees aseparao dos poderes, como por exemplo, o artigo 50, pargrafo 1.

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    Jurisp rudncia relacionada ao tema:Smula 649 - inconstitucional a criao, por Constituio estadual, de rgo de controle

    administrativo do Poder Judicirio do qual participem representantes de outros Poderes ou entidades.

    Art. 3 Consti tuem objetivos fundamentais da Repblica Federat iva do Brasi l:I construir uma sociedade livre, justa e solidria;

    II garantir o desenvolvimento nacional;III erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades soc iais e regionais ;IV promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisqueroutras formas de discri minao.

    Aqui esto previstos os objetivos, as metas a serem atingidas, os fins do Estado brasileiro. No setrata de um rol taxativo, mas exemplificativo.

    Como medida concreta a EC n. 31, de 14.12.2000, criou o Fundo de Combate e Erradicao daPobreza, acrescentando ao ADCT os artigos 79 a 83.Art. 4 A Repbl ica Federativa do Brasi l rege-se nas suas relaes in ternac ionais pelosseguintes princpios:I independncia nacional;II prevalncia dos direitos humanos;III autodeterminao dos povos;IV no interveno

    V igualdade entre os Estados;VI defesa da paz;VIl soluo pacfica dos confli tos;VIII repdio ao terrorismo e ao racismo;IX cooperao entre os povos para o progresso da humanidade;X concesso de asilo poltico.Pargrafo nico. A Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, sociale cultural dos povos da Amrica Latina, visando fo rmao de uma comunidade latino-americanade naes.

    Estabelece os princpios que iro reger a atuao da Repblica Federativa do Brasil quando serelacionar com outros Estados soberanos.

    A independncia nacional difere da autodeterminao , como bem leciona Paulo NapoleoNogueira da Silva, ... pelo fato de ser perfeitamente possvel reconhecer quela, mas exercer pressesde qualquer natureza para que determinado pas adote providncias que no estaro necessariamente

    em conformidade aos seus interesses nacionais e, ao contrrio, beneficiaro ao que pratica taispresses. Ainda no campo da soberania, o princpio da no-interveno consiste na proibio de umEstado interferir sobre outro em assuntos de natureza interna, exceto no caso de resoluo pela ONU.

    O princpio daigualdadeprev que todos os Estados so iguais perante a lei brasileira.Segundo o mestre Rezec, asilo poltico ... o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro

    perseguido alhures geralmente, mas no necessariamente, em seu prprio pas patrial -, por causa dedissidncia poltica, de delitos de opinio, ou por crimes que, relacionados com a segurana do Estado,no configuram quebra do direito penal comum.

    A regra contida no pargrafo unido do artigo, nada mais do que o objetivo expresso daRepblica Federativa do Brasil no que tange as relaes internacionais.

    Jurisp rudncia relacionada ao tema:CR 10.849, 21/5/04.(...) O mero procedimento citatrio no produz qualquer efeito atentatrio

    soberania nacional ou ordem pblica, apenas possibilita o conhecimento da ao que tramita perante a

    justia aliengena e faculta a apresentao de defesa.HC 82.424,19.03.04. No estado de direito democrtico devem ser intransigentemente respeitadosos princpios que garantem a prevalncia dos direitos humanos. Jamais podem se apagar da memriados povos que se pretendam justos os atos repulsivos do passado que permitiram e incentivaram o dioentre iguais por motivos raciais de torpeza inominvel.

    Ext 855, 01/07/05. (...) O repdio ao terrorismo: um compromisso tico-jurdico assumido peloBrasil, quer em face de sua prpria Constituio, quer perante a comunidade internacional. Os atosdelituosos de natureza terrorista, considerados os parmetros consagrados pela vigente Constituio daRepblica, no se subsumem noo de criminalidade poltica, pois a Lei Fundamental proclamou orepdio ao terrorismo como um dos princpios essenciais que devem reger o Estado brasileiro em suasrelaes internacionais (CF, art. 4, VIII), alm de haver qualificado o terrorismo, para efeito de repressointerna, como crime equiparvel aos delitos hediondos, o que o expe, sob tal perspectiva, a tratamentojurdico impregnado de mximo rigor, tornando-o inafianvel e insuscetvel da clemncia soberana doEstado e reduzindo-o, ainda, dimenso ordinria dos crimes meramente comuns (CF, art. 5, XLIII). AConstituio da Repblica, presentes tais vetores interpretativos (CF, art. 4, VIII, e art. 5, XLIII), noautoriza que se outorgue, s prticas delituosas de carter terrorista, o mesmo tratamento benignodispensado ao autor de crimes polticos ou de opinio, impedindo, desse modo, que se venha a

    http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?PROCESSO=82424&CLASSE=HC&cod_classe=349&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=Mhttp://www.stf.gov.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?PROCESSO=855&CLASSE=Ext&cod_classe=523&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M&EMENTA=2198http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?PROCESSO=855&CLASSE=Ext&cod_classe=523&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M&EMENTA=2198http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?PROCESSO=82424&CLASSE=HC&cod_classe=349&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M
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    estabelecer, em torno do terrorista, um inadmissvel crculo de proteo que o faa imune ao poderextradicional do Estado brasileiro, notadamente se tiver em considerao a relevantssima circunstnciade que a Assemblia Nacional Constituinte formulou um claro e inequvoco juzo de desvalor em relao aquaisquer atos delituosos revestidos de ndole terrorista, a estes no reconhecendo a dignidade de quemuitas vezes se acha impregnada a prtica da criminalidade poltica.

    TTULO IIDOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

    1.0 Breve evoluo dos d ireitos fundamentais.A histria dos direitos fundamentais est diretamente ligada ao aparecimento do

    constitucionalismo, no final do sculo XVIII, que, entretanto, herdou da idade mdia as idias deconteno do poder do Estado em favor do cidado, tendo como ponto pice a clebre Magna Carta,escrita na Inglaterra, em 1215, pela qual o Rei Joo Sem Terra reconhecia alguns direitos dos nobres,limitando o poder do monarca.

    Com a Revoluo Francesa, em 1789, se acentuaram os movimentos e documentos escritos quebuscavam garantir aos cidados os seus direitos elementares em face da atuao do poder pblico.

    Destaque-se a denominada Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado , de 1789, produtodaquela revoluo ocorrida em territrio francs.

    Pouco antes disso, porm, outro documento entrava para a histria, como resultado da revoluoAmericana, a Declarao de Virgnia, elaborada em 1776, estabelecendo os direitos fundamentais dopovo norte-americano, tais como a liberdade, a igualdade, eleio de representantes, dentre outros.

    Em 1948, logo aps a 2a Guerra Mundial, a Organizao das Naes Unidas fazia editar aDeclarao Universal dos Direitos do Homem,estendendo para praticamente todo o mundo o respeitoe a proteo aos direitos fundamentais do ser humano.

    Paulo Bonavides, comentando sobre a importncia das declaraes dos direitos do homem,enaltecendo aquela nascida na Frana, em mais uma lio magistral, ensina que: Constatou-se entocom irrecusvel veracidade que as declaraes antecedentes de ingleses e americanos podiam talvezganhar em concretude, mas perdiam em espao de abrangncia, porquanto se dirigiam a uma camadasocial privilegiada (os bares feudais), quando muito a um povo ou a uma sociedade que se libertavapoliticamente, conforme era o caso das antigas colnias americanas, ao passo que a Declarao francesa

    de 1789 tinha por destinatrio o gnero humano. Por isso mesmo, e pelas condies da poca, foi a maisabstrata de todas as formulaes solenes j feitas acerca da liberdade.

    1.0. Distino entre di reito e garantia.Muitos doutrinadores diferem direitos de garantias fundamentais. Essa distino, no direito

    brasileiro, foi feita por Rui Barbosa, ao separar as disposies declaratrias, e as garantias, disposiesassecuratrias. Em outras palavras, o direito o bem protegido pela norma e a garantia omecanismo criado pela norma para defender o direito.Em contrapartida, Sampaio Dria, defende atese de que as garantias tambm so direitos.

    Os direitos e garantias fundamentais, consagrados na constituio federal, no so ilimitados,absolutos, uma vez que encontram seus limites nos demais direitos igualmente consagrados pela CartaMagna (Princpio da relatividade ou convivncia das liberdades pblicas).

    Na lio de Canotilho, os direitos fundamentais exercem a funo de defesa do cidado sob duplaperspectiva: a) no plano jurdico-poltico, funcionam como normas de competncia negativa para osPoderes Pblicos, proibindo-os de atentarem contra a esfera individual da pessoa; b) no plano jurdico-subjetivo, implicam o poder de exercer positivamente os direitos fundamentais (liberdade positiva), e deexigir omisses dos poderes pblicos.

    A doutrina, baseada na ordem histrica cronolgica em que passam a ser institucionalmentereconhecidos, classifica os direitos fundamentais em:

    Direitos de primeira gerao (dimenso): so os direitos civis e polticos, e compreendem asliberdades clssicas (liberdade, propriedade, vida, segurana). So direitos do indivduo perante o Estado,so limites impostos atuao do Estado, resguardando direitos considerados indispensveis a cadapessoa humana. Significa uma prestao negativa, um no fazer do Estado, em prol do cidado.

    Direitos de segunda gerao (dimenso):correspondem aos direitos sociais, que so direitos decontedo econmico e cultural que visam melhorar as condies de vida e de trabalho da populao.Significa uma prestao positiva, um fazer do Estado em prol dos menos favorecidos pela ordem social eeconmica. Esses direitos nasceram em razo de lutas de uma nova classe social, os trabalhadores.

    Direitos de terceira gerao (dimenso): corresponde aos direitos difusos e coletivos, so osdireitos de solidariedade e fraternidade, considerados transindividuais, os direitos de pessoas

    coletivamente consideradas. So direitos coletivos, como a proteo ao meio ambiente, qualidade devida saudvel, ao progresso, paz, autodeterminao dos povos e a defesa do consumidor, da infnciae da juventude.

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    Manoel Gonalves Ferreira Filho faz um comparativo desses direitos ao lema da RevoluoFrancesa: liberdade, igualdade e fraternidade.

    Alguns autores citam ainda os di reitos de quarta gerao (dimenso). Paulo Bonavides diz: Sodireitos da quarta gerao o direito democracia, o direito informao e o direito ao pluralismo. Delesdepende a concretizao da sociedade aberta ao futuro, em sua dimenso de mxima universalidade,para a qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relaes de convivncia.

    Poucos autores ainda citam os direitos de quinta gerao (ou dimenso) com o intuito de explicar

    os avanos tecnolgicos.Jurisp rudncia relacionada ao tema:

    MS 22.164, 17/11/95.Enquanto os direitos de primeira gerao (direitos civis e polticos) quecompreendem as liberdades clssicas, negativas ou formais realam o princpio da liberdade e osdireitos de segunda gerao (direitos econmicos, sociais e culturais) que se identifica com asliberdades positivas, reais ou concretas acentuam o princpio da igualdade, os direitos de terceiragerao, que materializam poderes de titularidade coletiva atribudos genericamente a todas asformaes sociais, consagram o princpio da solidariedade e constituem um momento importante noprocesso de desenvolvimento, expanso e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados,enquanto valores fundamentais indisponveis, nota de uma essencial inexauribilidade..

    2.0. Caractersticas dos d ireitos fundamentais.Quanto s caractersticas, os direitos fundamentais so: histricos, imprescritveis, irrenunciveis,

    inviolveis, universais, efetivos, independentes, complementares, inalienveis, limitativos.Entretanto vale considerar que em se tratando de renncia, o que pode ocorrer o no exercciodo direito, mas nunca a sua renunciabilidade.

    3.0. Teoria dos quatro status de Jellinek.Quanto ao papel desempenhado pelos direitos fundamentais, destaca-se a teoria dos quatro status

    de Jellinek, elaborada no final do sculo XIX:Status passivo ou subjectionis o indivduo subordinado ao Estado, sendo aquele detentor de

    deveres.Status negativo o indivduo goza de certa liberdade perante o Poder Pblico.Status positivo ou status civitatis o indivduo passa a ter direito de exigir do Estado prestaes

    positivas a seu favor.Status ativo o indivduo influencia a formao da vontade Estatal, pelo exerccio da democracia,

    dos direitos polticos.

    5.0. Eficcia vertical e horizontal dos direitos fundamentais (eficcia privada ou externa).Quando se fala da relao entre particulares, v-se que existe eficcia horizontal dos direitos

    fundamentais, mas quando se est diante da relao entre particular e Estado, passa a existir eficciavertical dos direitos fundamentais.

    5.1. Teoria da eficcia indireta (mediata) ou direta (imediata).Quanto da aplicao dos direitos fundamentais s relaes privadas admite-se a teoria da eficcia

    indireta e a teoria da eficcia direta.A eficcia indireta dos direitos fundamentais materializa-se de forma proibitiva, quando impede o

    legislador de editar leis que violem os direitos fundamentais, e positiva, quando exige que o legisladorimplemente tais direitos, ponderando quais devam ser aplicados s relaes privadas. Tem aplicaoreflexa.

    J para a teoria direta dos direitos fundamentais, os direitos so aplicados s relaes privadassem que haja qualquer intermediao legislativa.

    Jurisp rudncia relacionada ao tema:RE 201.819, 27/10/06. (...)Eficcia dos direitos fundamentais nas relaes privadas. As violaes

    a direitos fundamentais no ocorrem somente no mbito das relaes entre o cidado e o Estado, masigualmente nas relaes travadas entre pessoas fsicas e jurdicas de direito privado. Assim, os direitosfundamentais assegurados pela Constituio vinculam diretamente no apenas os poderes pblicos,estando direcionados tambm proteo dos particulares em face dos poderes privados. Os princpiosconstitucionais como limites autonomia privada das associaes. A ordem jurdico-constitucionalbrasileira no conferiu a qualquer associao civil a possibilidade de agir revelia dos princpios inscritosnas leis e, em especial, dos postulados que tm por fundamento direto o prprio texto da Constituio daRepblica, notadamente em tema de proteo s liberdades e garantias fundamentais.

    5.2. Eficcia irradiante dos direitos fundamentais.

    A dimenso objetiva dos direitos fundamentais tem como conseqncia a eficcia irradiante dosdireitos para o legislativo na funo de legislar, para o executivo na funo de administrar e para oJudicirio na funo jurisdicional.

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    CAPITULO IDOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

    Art . 5 Todos so iguais perante a lei, sem dis tino de qualquer natureza, garant indo-se aosbrasileiros e aos estrangeiros residentes no pas a inviolabil idade do direito vida, liberdade,

    igualdade, segurana e prop riedade, nos termos seguintes:O princpio da Igualdade ou princpio da isonomia est implcito no caput desse artigo,

    prescrevendo que toda pessoa tem o direito de tratamento idntico pela lei, em concordncia com oscritrios albergados pelo ordenamento jurdico. Entretanto, deve-se buscar no somente a igualdadeformal, direcionada ao legislador, mas a igualdade real ou material ou substancial, direcionada aooperador do direito, ao intrprete, considerando que a lei deve tratar igualmente os iguais edesigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades.

    O referido princpio no veda o tratamento diferenciado estabelecido pela lei, probe as diferenasarbitrrias, as discriminaes absurdas, j que o tratamento desigual aos desiguais uma questo dejustia, sendo justificvel pelo objetivo que se pretende atingir pela lei, conforme a smula 683 do STFque reza: O limite de idade para a inscrio em concurso s se legitima em face do art. 7, XXX, daConstituio, quando possa ser justificado pela natureza do cargo a ser preenchido. Entretantosomente sero possveis tais distines se estiverem previstas em lei.

    Vale destacar as discriminaes positivas (affirmative actions), proveniente do direito norte

    americano, que cuida em estabelecer medidas de compensao para reduzir as desigualdades sociais,tendo no Brasil exemplos como as nomeaes para o Supremo Tribunal Federal da primeira ministramulher (2000) e de um ministro negro (2003).

    neste esclio que traz a lio do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim B. BarbosaGomes, que ensina: As aes afirmativas 'consistem em polticas pblicas (e tambm privadas) voltadas concretizao do princpio constitucional da igualdade material e neutralizao dos efeitos dadiscriminao racial, de gnero, de idade, de origem nacional e de compleio fsica. Impostas ousugeridas pelo Estado, por seus entes vinculados e at mesmo por entidades puramente privadas, elasvisam a combater no somente as manifestaes flagrantes de discriminao de fundo cultural, estrutural,enraizada na sociedade'.

    A discriminao reversa deve-se revestir de uma ndole compensatria e no meramente garantiruma repartio de bens, sem levar em conta o uso da liberdade das pessoas e o esforo e mrito de cadaum. Avaliadas sob o teste do princpio da proporcionalidade, as medidas de discriminao reversa devemser adequadas para superar os obstculos que o preconceito gerou para o grupo. Para isso devem-se

    dirigir a propiciar condies de acesso a bens e servios que a discriminao vedou. Devem ter em mira orestabelecimento de uma igualdade de oportunidades to efetiva quanto possvel.

    Os destinatrios dos direitos e deveres ora mencionados so os brasileiros e estrangeirosresidentes no pas, devendo a expresso residentes no pas ser interpretada no sentido de que taisdireitos s sero assegurados dentro do territrio brasileiro, no excluindo o estrangeiro em trnsito peloterritrio nacional, segundo entendimento doutrinrio defendido por Alexandre de Morais e agasalhadopela jurisprudncia ptria.

    Igualmente, as pessoas jurdicas so sujeitos dos direitos e garantias individuais, bem como oprprio Estado.

    No que se refere ao direito vida, a norma constitucional protege no s a vida extrauterina, mas avida intrauterina.

    Jurisp rudncia relacionada ao tema:RE 161.243/DF. Rel. Min. Carlos Velloso. DJ 19.12.1997. Ementa: CONSTITUCIONAL.

    TRABALHO. PRINCPIO DA IGUALDADE. TRABALHADOR BRASILEIRO EMPREGADO DE EMPRESAESTRANGEIRA: ESTATUTOS DO PESSOAL DESTA: APLICABILIDADE AO TRABALHADORESTRANGEIRO E AO TRABALHADOR BRASILEIRO. C.F., 1967, art. 153, 1; C.F., 1988, art. 5, caput.I. - Ao recorrente, por no ser francs, no obstante trabalhar para a empresa francesa, no Brasil, no foiaplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens aos empregados, cuja aplicabilidadeseria restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao princpio da igualdade: C.F., 1967, art.153, 1; C.F., 1988, art. 5, caput). II. - A discriminao que se baseia em atributo, qualidade, notaintrnseca ou extrnseca do indivduo, como o sexo, a raa, a naci