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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ALINE CECILIA PIZZOLATO CONSTRUÇÃO DO REGISTRO DE ENFERMAGEM NO ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA EM CURITIBA - PR CURITIBA 2015

CONSTRUÇÃO DO REGISTRO DE ENFERMAGEM NO … · International Classification for Nursing Practice (ICNP®) in the context of Prehospital Care Mobile (APHM). It is a descriptive methodology

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN

    ALINE CECILIA PIZZOLATO

    CONSTRUO DO REGISTRO DE ENFERMAGEM NO ATENDIMENTO MVEL

    DE URGNCIA EM CURITIBA - PR

    CURITIBA 2015

  • ALINE CECILIA PIZZOLATO

    CONSTRUO DE INSTRUMENTO DO REGISTRO DE ENFERMAGEM NO

    ATENDIMENTO MVEL DE URGNCIA EM CURITIBA - PR

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Enfermagem - Mestrado

    Profissional, Setor de Cincias da Sade, da

    Universidade Federal do Paran. Linha de

    Pesquisa: Processo de Cuidar em Sade e em

    Enfermagem.

    Orientadora: Profa. Dra. Leila Maria Mansano Sarquis

    CURITIBA 2015

  • P695 Pizzolato, Aline Cecilia. Construo de instrumento do registro de enfermagem no atendimento mvel de urgncia em Curitiba - PR/ Aline Cecilia Pizzolato. Curitiba, 2015. 137 f. : il.; tab., quad., fig.

    Orientadora: Leila Maria Mansano Sarquis. Dissertao (Mestrado Profissional) Universidade Federal do Paran, Setor de Cincias da Sade, Programa de Ps-Graduao em Enfermagem.

    1. Registros de enfermagem. 2. Diagnstico de enfermagem. 3. Cuidados de enfermagem. 4. Processos de enfermagem. 5. Atendimento pr-hospitalar mvel. I. Sarquis, Leila Maria Mansano. II. Universidade Federal do Paran. CDD 610.73

  • AGRADECIMENTOS

    Este trabalho fruto de uma comunho de esforos, incentivos, atenes,

    carinhos, desapegos, renncias, entendimentos, generosidades, por parte daqueles

    que sempre se fazem presentes e, por isso, devo muitos agradecimentos:

    A Deus, pelas oportunidades de caminhos para meu crescimento moral e

    intelectual. Por mais esta beno em minha vida de cursar o Mestrado, certamente

    Sua presena foi constante nesta pesquisa. Por toda proteo e luz. E pelas pessoas

    especiais que colocou nesta jornada.

    minha querida orientadora, Profa. Dra. Leila Maria Mansano Sarquis, pelo

    reconhecimento e apoio constante. Por acreditar em mim e incentivar o meu potencial. E

    por muito mais, uma orientadora mais do que especial, que se importa com o outro,

    numa dimenso alm da cientfica, a dimenso humana.

    Profa. Dra. Maria Jlia Paes da Silva, por quem tenho uma profunda

    admirao e gratido pela carinhosa acolhida no GPCom. E pela valiosa contribuio

    na minha trajetria acadmica. Por me fazer acreditar em uma Enfermagem

    humanizada, e incentivar a comunicao como o caminho.

    minha me, por gerar a minha vida. Pelo imenso empenho em

    proporcionar a minha formao educacional Marista e a minha formao para vida,

    com base na boa conduta e nos bons princpios e valores. Pelo amor incondicional.

    Por vibrar e celebrar intensamente o meu crescimento. E pela dedicao extremada

    na leitura desta pesquisa.

    Ao meu pai, pela ateno e presena constante. Por me acompanhar nas

    tarefas dirias e estar sempre disponvel.

    minha av, pelos brilhantes ensinamentos do que amor e generosidade.

    Um exemplo de vivacidade, luz e f.

    Ao meu marido Leandro, meu estimado companheiro, pela compreenso e

    pelo suporte tecnolgico. Por compartilhar as minhas conquistas e a vida comigo.

  • colaborao das enfermeiras, Ana Maria, Lda e Denilsen, pelo suporte

    tcnico-cientfico.

    Aos amigos Andrei e Mara, pela amizade desde a graduao, assim como

    pela importante colaborao nesta pesquisa.

    Aos amigos Adilson e Licia, pelo incentivo e pelo auxlio na manuteno do

    equilbrio interior.

    minha amiga Michelle, pela presteza em revisar o abstract.

    A todos os enfermeiros participantes da pesquisa, pela aceitao cordial.

    Ao GPCom, pelas valiosas contribuies e motivao.

    Ao GEMSA, pela anlise criteriosa do projeto de pesquisa.

    banca de qualificao, pela disponibilidade e pelos pertinentes

    apontamentos.

    SMS, pela parceria com o Mestrado Profissional da UFPR, por

    disponibilizar vagas para os servidores e possibilitar a capacitao profissional.

    Coordenao de Enfermagem do SAMU, pela autorizao da pesquisa e

    pela compreenso.

    Coordenao do PPGENF/MP da UFPR, por ofertar vagas para servidores

    da SMS. Pela luta em manter o Mestrado Profissional em Enfermagem. E pelo

    atendimento carinhoso.

    A todos aqueles que aqui no foram citados, mas que direta ou indiretamente

    contriburam para a realizao e concretizao deste trabalho.

    MUITO OBRIGADA!

  • A leitura traz ao homem plenitude, o discurso segurana e a escrita preciso.

    Francis Bacon

    A tinta mais plida mais forte do que a memria mais slida.

    Provrbio Chins

    Amai-vos e instru-vos...

  • RESUMO

    A construo do instrumento para registro da assistncia de Enfermagem nas Unidades de Suporte Avanado (USA) do Servio de Atendimento Mvel de Urgncia (SAMU) foi desenvolvida a partir dos objetivos especficos de identificar os indicadores empricos das Necessidades Humanas Bsicas (NHB) fundamentado no Modelo Conceitual preconizado por Wanda de Aguiar Horta; selecionar coletivamente os indicadores empricos das NHB; e relacionar os indicadores empricos selecionados, com os Diagnsticos de Enfermagem (DE) e selecionar as Intervenes de Enfermagem (IE) com base na Classificao Internacional para a Prtica de Enfermagem (CIPE), no contexto do Atendimento Pr-Hospitalar Mvel (APHM). Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo metodolgica, com abordagem quantitativa que foi realizada nas USA do SAMU, do Departamento de Urgncia e Emergncia da Secretaria Municipal de Curitiba - Paran. Foi desenvolvida em quatro etapas. Na primeira etapa foi realizada consulta na literatura cientfica relacionada ao APHM e a consulta aos protocolos internacionais Advanced Cardiac Life Support (ACLS) e Prehospital Trauma Life Support (PHTLS), como resultado foram obtidos 138 indicadores empricos. Na segunda etapa foi elaborado um questionrio semiestruturado de resposta do tipo dicotmica relevante e no relevante aplicado aos enfermeiros participantes da pesquisa. Como resultado foram obtidos 96 indicadores empricos relevantes, os quais foram reagrupados e reorganizados pela pesquisadora, totalizando 69 indicadores. Na terceira etapa foram relacionados os indicadores empricos com os DE e IE da CIPE, verso 2013. Como resultado foram selecionados 42 DE e 32 IE e elaborados 24 DE e 58 IE. Na quarta etapa foi realizada uma consulta na literatura cientfica sobre modelos preexistentes de instrumentos para registro da assistncia de Enfermagem, e como resultado obteve-se o produto final desta pesquisa, o instrumento para Registro da Assistncia de Enfermagem nas USA do SAMU, construdo com base no Modelo Conceitual das NHB de Horta (1979), nos protocolos internacionais - PHTLS e ACLS; alicerado nas leis, no cdigo de tica e nas resolues vigentes relativas legislao profissional. Foram utilizados os indicadores empricos selecionados coletivamente pelos enfermeiros participantes da pesquisa, e tambm os 66 DE e as 90 IE selecionadas e elaboradas com base na CIPE. A estruturao do layout foi ancorada em modelos de registros preexistentes direcionados ao APHM, como a RAM/RAE e em outros modelos contidos na literatura cientfica. Concluiu-se que o objetivo proposto foi alcanado com a construo do instrumento para registro da assistncia de Enfermagem para ser aplicado no APHM. O instrumento possibilita o cumprimento ao disposto na legislao vigente que ampara a prtica da Enfermagem e imprime uma conduta respaldada na legalidade, pois o registro um documento tcnico, cientfico, tico e legal e que orienta o cuidado sistematizado. Contribui para o cumprimento das aes da Enfermagem assistencial com base nos protocolos internacionais, seguindo prioridades. Proporciona a visibilidade e fortalece a valorizao profissional por meio da prtica de Enfermagem reflexiva exercida com o emprego do raciocnio clnico e do pensamento crtico do enfermeiro o que favorece a aproximao da teoria prtica com carter de cientificidade e ainda facilita o processo de comunicao.

    Palavras-chave: Registros de Enfermagem; Diagnstico de Enfermagem; Cuidados de Enfermagem; Processos de Enfermagem; Enfermagem; Assistncia Pr-Hospitalar.

  • ABSTRACT

    The construction of the instrument to record nursing care in Advanced Life Support Units (USA) of the Mobile Medical Emergency Services (SAMU) was developed from the specific objectives to identify the empirical indicators of Basic Human Needs (NHB) based on the Conceptual Model recommended by Wanda de Aguiar Horta; collectively select the empirical indicators of NHB; and relate the selected empirical indicators with the Nursing Diagnosis (DE) and select the Nursing Intervention (IE) based on the International Classification for Nursing Practice (ICNP) in the context of Prehospital Care Mobile (APHM). It is a descriptive methodology type research with a quantitative approach which was held in the USA of SAMU, of the Urgent and Emergency Department of the Municipal Secretary of Curitiba Paran. The research was developed in four stages. In the first stage consultation in the scientific literature related to APHM was held as well as consultation to international protocols Advanced Cardiac Life Support (ACLS) and Prehospital Trauma Life Support (PHTLS). As a result 138 empirical indicators were obtained. In the second stage a semistructured questionnaire was elaborated, with dichotomous type response, "relevant" and "irrelevant", and applied to research participants nurses. As a result were obtained 96 relevant empirical indicators, which have been regrouped and rearranged by the researcher, totaling 69 indicators. In the third stage the empirical indicators were related with the DE and ICNP IE, 2013 version. As a result we selected 42 DE and 32 IE and elaborated 24 DE and 58 IE. In the fourth stage consultation in the scientific literature on pre-existing models of instruments for nursing care registration was held, and as a result we obtained the final product of this research, the instrument for Nursing Care Registration in the USA of SAMU. Built based on the Basic Human Needs Conceptual Model of Horta (1979), in international protocols - PHTLS and ACLS; bases on laws, in the code of ethics and in existing resolutions related to professional legislation. Empirical indicators collectively selected by the nurses participating in the survey were used; and also in 66 DE and in the 90 IE selected and prepared based on ICNP. The layout structure was anchored in models of existing records directed to APHM such as RAM/RAE and in other models contained in the scientific literature. It is concluded that the proposed objective was achieved with the construction of the instrument to record nursing care to be applied in APHM. It enables compliance with the provisions in the current legislation that supports the practice of nursing and prints a backed conduct in legality, because the registry is a technical, scientific, ethical and legal document which guides the systematized care. Contributes to the fulfillment of the actions of nursing care based on international protocols, following priorities. It provides the autonomy and visibility and enhances the professional development through reflective nursing practice exercised with the use of clinical reasoning and critical thinking of nurses which favors the approach of theory to practice with scientific character and also facilitates the communication process.

    Key-words: Nursing Records; Nursing Diagnosis; Nursing Care; Nursing Process; Nursing; Prehospital Care.

  • LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1 - EIXOS DA CIPE VERSO 1.0 ............................................................................... 40

    QUADRO 2 - DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA SEGUNDO AS ETAPAS, A COLETA DE

    DADOS, OS PARTICIPANTES, A ANLISE DOS DADOS, O CRONOGRAMA E

    OS RESULTADOS ESPERADOS ................................................................... 54

    QUADRO 3 - ORDEM DE SEQUNCIA DE AVALIAO PRIMRIA, CONFORME O

    PREHOSPITAL TRAUMA LIFE SUPPORT ...................................................... 65

    QUADRO 4 - RELAO ENTRE A SEQUNCIA DE AVALIAO PRIMRIA E AS NHB

    PSICOBIOLGICAS AFETADAS EM PACIENTES NO CONTEXTO DO APHM ... 66

    QUADRO 5 - SINAIS ASSOCIADOS AOS TIPOS DE CHOQUE ............................................ 72

    QUADRO 6 - IDENTIFICAO DOS INDICADORES EMPRICOS DAS NHB NO CONTEXTO

    DO APHM, EXTRADOS DA LITERATURA CIENTFICA ................................... 85

    QUADRO 7 - INDICADORES EMPRICOS REAGRUPADOS E REORGANIZADOS ....................... 96

    QUADRO 8 - RELAO DAS AFIRMATIVAS DE DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM

    POR NHB .................................................................................................... 99

    QUADRO 9 - RELAAO DAS AFIRMATIVAS DE INTERVENES DE ENFERMAGEM

    POR NHB .................................................................................................... 101

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 - PRINCIPAIS CAUSAS DE MORBIMORTALIDADE NO BRASIL (POR FAIXA

    ETRIA) ........................................................................................................ 46

    TABELA 2 - POPULAO E AMOSTRA DA PESQUISA - CURITIBA, PR - 2014 .................... 87

    TABELA 3 - PERFIL DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA - CURITIBA, PR - 2014 .............. 88

    TABELA 4 - INDICADORES EMPRICOS COM RELEVNCIA ACIMA DE 80%, SEGUNDO

    OS ENFERMEIROS PARTICIPANTES DA PESQUISA ...................................... 89

  • LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 - CABEALHO E CAMPO DE IDENTIFICAO DA OCORRNCIA E DO

    PACIENTE.................................................................................................................... 104

    FIGURA 2 - CAMPO REFERENTE AO HISTRICO DO PACIENTE .............................................. 105

    FIGURA 3 - CAMPO REFERENTE AOS DIAGNSTICOS E INTERVENES DE

    ENFERMAGEM ........................................................................................................... 106

    FIGURA 4 - CAMPO PARA EVOLUO DE ENFERMAGEM, IDENTIFICAO DE LESES,

    GLASGOW E SINAIS VITAIS ....................................................................................... 107

    FIGURA 5 - CAMPO PARA IDENTIFICAO DA EQUIPE DA USA E DO DESTINO FINAL

    (ENCAMINHAMENTO) ................................................................................................ 108

  • SIGLAS

    ACLS - Advanced Cardiac Life Support

    ACS - American College of Surgeons

    AESP - Atividade Eltrica Sem Pulso

    AHA - American Heart Association

    APH - Atendimento Pr-Hospitalar

    APHM - Atendimento Pr-Hospitalar Mvel

    ATCN - Advanced Trauma Care for Nurses

    ATLS - Advanced Trauma Life Support

    AVC - Acidente Vascular Cerebral

    BIREME - Biblioteca Regional de Medicina

    BVS - Biblioteca Virtual de Sade

    CAPES - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CEP - Comit de tica e Pesquisa

    CIE - Conselho Internacional de Enfermagem

    CIPE - Classificao Internacional para a Prtica de Enfermagem

    CIPESC - Classificao Internacional das Prticas de Enfermagem em Sade Coletiva

    CNS - Conselho Nacional de Sade

    COFEN - Conselho Federal de Enfermagem

    COT - Committee on Trauma

    DE - Diagnstico de Enfermagem

    DAC - Doenas do Aparelho Circulatrio

    DAR - Doenas do Aparelho Respiratrio

    DCV - Doenas Cardiovasculares

    DeCS - Descritores em Cincias da Sade

    DIP - Doenas Infecciosas e Parasitrias

    DUE - Departamento de Urgncia e Emergncia

    ECG - Escala de Coma de Glasgow

    FCI - Famlia de Classificaes Internacionais

    Fiocruz - Fundao Oswaldo Cruz

    FV - Fibrilao Ventricular

    IAM - Infarto Agudo do Miocrdio

    ICN - International Council of Nurses

    IE - Interveno de Enfermagem

    ILCOR - International Liaision Committee on Resuscitation

    ISO - International Organization for Standardization

    LILACS - Literatura Latino-Americana em Cincias da Sade

    MEDLINE - Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

    MS - Ministrio da Sade

  • NAEMT - National Association of Emergency Medical Technicians

    NANDA - North American Nursing Diagnosis Association

    NHB - Necessidades Humanas Bsicas

    OMS - Organizao Mundial da Sade

    PALS - Pediatric Advanced Life Suport

    PE - Processo de Enfermagem

    PHTLS - Prehospital Trauma Life Support

    PMC - Prefeitura Municipal de Curitiba

    RAM/RAE - Registro de Atendimento Mdico e de Enfermagem

    RAPH - Relatrio de Atendimento Pr-hospitalar

    RCP - Reanimao Cardiopulmonar

    RO - Rdio Operadores

    RAUE - Rede de Ateno s Urgncias e Emergncias

    SAE - Sistematizao da Assistncia de Enfermagem

    SAMU - Servio de Atendimento Mvel de Urgncia

    SAV - Suporte Avanado de Vida

    SBV - Suporte Bsico de Vida

    SCA - Sndromes Coronarianas Agudas

    SMS - Secretaria Municipal de Sade

    SNC - Sistema Nervoso Central

    STN - Society of Trauma Nurses

    SUS - Sistema nico de Sade

    SVS - Secretaria de Vigilncia em Sade

    TARM - Telefonistas Auxiliares de Regulao Mdica

    TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    TV - Taquicardia Ventricular

    UBS - Unidades Bsicas de Sade

    UFPR - Universidade Federal do Paran

    UPA - Unidade de Pronto Atendimento

    USA - Unidade de Suporte Avanado

    USB - Unidade de Suporte Bsico

    UTI - Unidade de Terapia Intensiva

    VAS - Vias Areas Superiores

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................................. 15

    1.1 OBJETIVOS ................................................................................................... 21

    1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................ 21

    1.1.2 Objetivos Especficos ................................................................................. 21

    2 REVISO DE LITERATURA ............................................................................ 22

    2.1 MODELO CONCEITUAL DAS NECESSIDADES HUMANAS BSICAS ..... 23

    2.2 PROCESSO DE ENFERMAGEM ................................................................. 26

    2.3 REGISTRO DE ENFERMAGEM ................................................................... 30

    2.4 CLASSIFICAO INTERNACIONAL PARA A PRTICA DE ENFERMAGEM ...... 37

    2.4.1 Diagnsticos de Enfermagem .................................................................... 41

    2.4.2 Intervenes de Enfermagem .................................................................... 42

    2.5 EVOLUO DE ENFERMAGEM .................................................................. 43

    2.6 URGNCIA E EMERGNCIA ....................................................................... 44

    2.6.1 Perfil Epidemiolgico em Sade no Atendimento Pr-Hospitalar Mvel ......... 45

    2.6.2 SAMU ......................................................................................................... 46

    2.6.3 Protocolos Internacionais ........................................................................... 49

    3 MTODO .......................................................................................................... 52

    3.1 TIPO DE PESQUISA ..................................................................................... 52

    3.2 LOCAL E CONTEXTO DA PESQUISA ........................................................ 53

    3.3 ETAPAS DA PESQUISA ............................................................................... 54

    3.3.1 Primeira Etapa: Identificao dos Indicadores Empricos........................... 55

    3.3.2 Segunda Etapa: Seleo Coletiva dos Indicadores Empricos das

    Necessidades Humanas Bsicas ............................................................... 56

    3.3.3 Terceira Etapa: Relao dos Indicadores Empricos com os

    Diagnsticos e Seleo das Intervenes de Enfermagem ...................... 58

    3.3.4 Quarta Etapa: Estruturao do Layout e do Contedo do Instrumento ....... 59

    3.4 PARTICIPANTES DA PESQUISA ................................................................. 60

    3.5 ANLISE, ORGANIZAO E INTERPRETAO DOS DADOS .................. 60

    3.6 CONSIDERAES TICAS ......................................................................... 62

  • 4 RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................................ 63

    4.1 PRIMEIRA ETAPA: IDENTIFICAO DOS INDICADORES EMPRICOS ... 63

    4.1.1 NECESSIDADES HUMANAS BSICAS EM PACIENTES NO ATENDIMENTO

    PR-HOSPITALAR MVEL ........................................................................... 63

    4.1.1.1 Necessidades Psicobiolgicas ................................................................. 67

    4.1.1.1.1 Necessidade de oxigenao ................................................................ 68

    4.1.1.1.2 Necessidade de hidratao .................................................................. 69

    4.1.1.1.3 Necessidade de regulao vascular ..................................................... 70

    4.1.1.1.4 Necessidade de eliminao .................................................................. 73

    4.1.1.1.5 Necessidade de regulao neurolgica ................................................ 75

    4.1.1.1.6 Necessidade de percepo dos rgos dos sentidos .......................... 76

    4.1.1.1.7 Necessidade de atividade fsica ........................................................... 77

    4.1.1.1.8 Necessidade de integridade fsica ........................................................ 79

    4.1.1.1.9 Necessidade de regulao trmica ...................................................... 80

    4.1.1.1.10 Necessidade de segurana fsica e meio ambiente ........................... 81

    4.1.1.2 Necessidades Psicossociais ................................................................... 82

    4.1.1.2.1 Comunicao ....................................................................................... 82

    4.1.1.2.2 Segurana emocional ........................................................................... 83

    4.1.2 INDICADORES EMPRICOS NO CONTEXTO DO ATENDIMENTO

    PR-HOSPITALAR MVEL ................................................................................. 84

    4.2 SEGUNDA ETAPA: SELEO COLETIVA DOS INDICADORES

    EMPRICOS DAS NECESSIDADES HUMANAS BSICAS ......................... 86

    4.3 TERCEIRA ETAPA: RELAO DOS INDICADORES EMPRICOS COM OS

    DIAGNSTICOS E SELEO DAS INTERVENES DE ENFERMAGEM .... 97

    4.4 QUARTA ETAPA: INSTRUMENTO PARA REGISTRO DA ASSISTNCIA DE

    ENFERMAGEM NAS UNIDADES DE SUPORTE AVANADO DO SAMU ....... 103

    5 CONCLUSO ................................................................................................... 109

    6 SUGESTES E RECOMENDAES .............................................................. 112

    REFERNCIAS .................................................................................................... 113

    ANEXOS .......................................................................................................... 123

    APNDICES ........................................................................................................ 129

  • 15

    1 INTRODUO

    Alguns protocolos internacionais de aplicao universal so destinados ao

    atendimento nos servios de urgncia e emergncia, como o Advanced Cardiac Life

    Support (ACLS), da American Heart Association (AEHLERT, 2007), o Advanced

    Trauma Life Support (ATLS), do American College of Surgeons (ACS, 2013) e do

    Committee on Trauma (COT) e o Prehospital Trauma Life Support (PHTLS), da

    National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT, 2011). Estes

    protocolos tm como objetivo padronizar o atendimento aos pacientes1 por meio de

    uma sequncia de prioridades, voltados para a equipe de profissionais em

    atendimento de emergncias.

    De acordo com o protocolo PHTLS torna-se necessrio um adequado

    julgamento clnico para decidir qual ao dever ser tomada na cena, para agir com

    eficincia, bem como definir os procedimentos a serem realizados nos pacientes

    durante o percurso at o local do destino final (NAEMT, 2007). O enfermeiro precisa

    conhecer mtodos sistematizados de avaliao para subsidiar o adequado

    planejamento cientfico da assistncia de Enfermagem aos pacientes. Esta prtica

    evidencia a competncia do enfermeiro no Atendimento Pr-Hospitalar Mvel (APHM)

    (NAEMT, 2007).

    Como forma de ancorar o julgamento clnico do enfermeiro, existe a

    necessidade da aplicao de uma terminologia de Enfermagem sustentada em um

    Modelo Conceitual de Enfermagem, para que o enfermeiro possa executar de maneira

    sistematizada as etapas do Processo de Enfermagem (PE), orientar e direcionar as

    intervenes prioritrias, com base cientfica, estar capacitado a prestar cuidados com

    1 Para esta pesquisa, no sentido de unificar as diferentes denominaes, optou-se pelo uso do termo paciente, referindo a: vtima, doente, usurio e cliente. Esta opo est em conformidade com o termo utilizado no protocolo Prehospital Trauma Life Support (PHTLS), da National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT). Com exceo s situaes de trauma, na qual ser adotado o termo vtima.

  • 16

    preciso e coerncia, bem como, possa registrar a sua prtica profissional em um

    instrumento prprio do cuidado como afirmam Vargas e Frana (2007).

    No Brasil, nos ltimos anos tem ocorrido um crescimento de iniciativas

    voltadas construo de instrumentos que possam tornar mais gil o registro das

    atividades relativas ao PE. Entretanto, a implementao de instrumentos de registro

    na prtica profissional ainda recente no pas, e as experincias bem-sucedidas so

    pouco descritas na literatura cientfica, e repercutem em incipiente visibilidade dos

    resultados do cuidado (FULY; MARINS, 2012).

    Segundo Santos, Paula e Lima (2003) muitos registros so inconsistentes,

    ilegveis e subjetivos, de forma que no apresentam um percurso metodolgico

    estruturado. Pois, para os mesmos autores, o PE articulado a um Modelo Conceitual

    de Enfermagem constitui importante ferramenta tecnolgica no cuidado profissional,

    e, na Sistematizao da Assistncia de Enfermagem (SAE).

    Neste sentido, as determinaes que regulamentam a obrigatoriedade da

    SAE esto respaldadas na Resoluo do COFEN no 358/2009 e legalizada no Art. 2

    da Resoluo do COFEN no 375/2011. Bem como, no que estabelece o Art. 11 da Lei

    no 7.498/86 do COFEN (BRASIL, 1986), que dispe que a consulta de Enfermagem e

    a prescrio da assistncia de Enfermagem so prticas privativas do enfermeiro.

    Reforada ainda pelo Cdigo de tica dos Profissionais de Enfermagem (Resoluo

    do COFEN no 311/2007) e pela Resoluo do COFEN no 429/2012. Entretanto, estas

    determinaes no so aplicadas nas Unidades de Suporte Avanado (USA) do

    Servio de Atendimento Mvel de Urgncia (SAMU) do municpio de Curitiba, Paran,

    local deste estudo.

    Em mbito nacional existem alguns estudos que tratam do PE no APHM,

    como o de Coutinho (2007) sob o ttulo Construo e Validao de um Instrumento

    para SAE no SAMU, realizado em Joo Pessoa, na Paraba, mas segundo a autora,

    o instrumento no foi implantado. O estudo de Cyrillo (2009) referente aos

  • 17

    Diagnsticos de Enfermagem em Vtimas de Trauma Atendidas em um Servio Pr-

    hospitalar Avanado Mvel, realizado em Ribeiro Preto, So Paulo. O estudo de

    Carit, Nini e Melo (2010), sob o ttulo Sistema de Auxlio aos Diagnsticos de

    Enfermagem para Vtimas de Trauma no Atendimento Avanado Pr-hospitalar Mvel

    Utilizando as Taxonomias NANDA e NIC, desenvolvido em Ribeiro Preto, So Paulo.

    E o mais recente artigo de peridico de Lins, T. H. et al. (2013), Diagnsticos e

    Intervenes de Enfermagem em Vtimas de Trauma Durante Atendimento Pr-

    hospitalar Utilizando a CIPE, realizado em Macei, Alagoas.

    Na esfera nacional, portanto, torna-se necessria a implantao do PE no

    APHM, associado aos protocolos universais de atendimento nos servios de urgncia

    e emergncia, com o propsito de direcionar a conduta, de modo a assegurar a

    eficincia no atendimento e a melhoria na atuao do enfermeiro. Esta prtica garante

    o respaldo legal para o profissional e favorece o processo de comunicao, pelo registro

    dos dados e informaes clnicas sobre o estado do paciente na primeira abordagem

    at o destino final. Assim sendo, pode facilitar a continuidade do atendimento ao

    considerar os dados e as informaes registradas pelo enfermeiro no APHM.

    A experincia e a observao propiciada pela atuao da pesquisadora na

    prtica assistencial, em servios de urgncia e emergncia do Sistema nico de

    Sade (SUS), h nove anos, e a atuao no SAMU permitem considerar a

    necessidade da implantao do PE nas USA deste servio, para fortalecer o papel do

    enfermeiro.

    Nas USA do SAMU de Curitiba (PR), existe um registro tcnico denominado

    Registro de Atendimento Mdico e de Enfermagem (RAM/RAE). Porm, este

    preenchido exclusivamente pelo mdico e no contempla o PE. As etapas do PE no

    so realizadas e nem registradas pelo enfermeiro o que demonstra uma falta de

    identidade profissional; e isto reflete na ausncia das anotaes do cuidado prestado

    durante o atendimento, mas vale ressaltar que a assistncia de Enfermagem realizada.

  • 18

    Evidencia-se a necessidade de direcionar as aes de Enfermagem por prioridades de

    atendimento aos pacientes em situaes crticas de vida para favorecer a tomada de

    decises rpidas e facilitar a comunicao.

    Diante disso, torna-se necessria a construo de um instrumento de

    registro tcnico, cientfico e tico legal que documente a prtica de Enfermagem nas

    USA, do SAMU, que possa ser preenchido pelo enfermeiro no APHM para dar

    cumprimento s determinaes contidas nas Resolues de Enfermagem, como

    forma de respaldar legalmente suas aes, colaborar para uma assistncia

    sistematizada aos pacientes, organizando, planejando e registrando aes de

    Enfermagem, com pensamento crtico e com o intuito de promover um atendimento

    de qualidade, bem como facilitar a comunicao na prtica profissional, construindo

    um registro que contemple as etapas do PE, como: histrico, diagnstico, interveno

    e evoluo de Enfermagem.

    Realizar diagnsticos de Enfermagem (DE) que implicam na observao

    clnica sobre respostas de um paciente que se encontre sob a assistncia do

    enfermeiro do SAMU e uma rpida interveno de Enfermagem (IE), representam um

    grande desafio. A realidade no atendimento requer prioridade e o tempo para realizar

    as intervenes necessrias se traduz em salvar vidas. Em virtude disso, o enfermeiro

    necessita saber diagnosticar os problemas relevantes que precisam de soluo em

    curto tempo, por meio de aes imediatas, focadas e prioritrias, frente ao estado de

    sade em risco. Portanto, diante deste desafio, justifica-se a necessidade de

    disponibilizar um instrumento para registro da assistncia, compatvel com este

    servio.

    O enfermeiro que atua no SAMU faz o atendimento com base no modelo

    assistencial biomdico, centrado na tcnica. Este atendimento limita sua participao

    e reflexo nos cuidados realizados e restringe seu poder de transformao sobre o

    contexto em que se encontra.

  • 19

    Ressalta-se ainda que devido dinmica do servio de urgncia e

    emergncia, existem grandes desafios para a aplicao do PE em razo da

    complexidade nas etapas e, principalmente, no que diz respeito ao tempo e ao grau

    de gravidade do paciente.

    Deve-se levar em considerao que pacientes em estado crtico, que so

    atendidas pelo SAMU, necessitam de diagnsticos e intervenes de Enfermagem por

    meio de uma sistematizao focada nos principais sinais e sintomas detectados na

    abordagem primria.

    Portanto, evidenciou-se a necessidade de construir um instrumento de

    coleta de dados com informaes da situao problema dos pacientes para o

    direcionamento das etapas subsequentes do PE de modo a colaborar com os

    conhecimentos relacionados SAE, no APHM, enfocando quatro das etapas do PE

    sendo a coleta de dados, os diagnsticos, as intervenes e a evoluo de

    Enfermagem, conforme o que consta no Art. 2 da Resoluo do COFEN no 429/2012,

    que dispe sobre a necessidade de conter no registro de Enfermagem, o resumo dos

    dados coletados, diagnsticos, intervenes e resultados de Enfermagem.

    Esta pesquisa teve o intuito de elaborar um instrumento fundamentado no

    Modelo Conceitual das Necessidades Humanas Bsicas (NHB) preconizado pela

    enfermeira Wanda de Aguiar Horta, em 1979, a qual estabeleceu uma cincia de

    Enfermagem no Brasil. A elaborao do instrumento seguiu tambm a Classificao

    Internacional para a Prtica de Enfermagem (CIPE), considerada uma ferramenta

    cientfica que direciona as aes a serem realizadas pelo enfermeiro e pela equipe de

    Enfermagem.

    Entende-se pertinente e relevante o tema, tendo em vista que a utilizao de

    um instrumento cientfico para registro da assistncia de Enfermagem, o qual contemple

    os diagnsticos e as intervenes de Enfermagem focadas no contexto do APHM,

    favorece o atendimento ao paciente de forma individualizada com uma viso holstica,

    humanizada e com cientificidade. Assim como, promovem um PE simplificado para que

    possa ser aplicado no cotidiano dos profissionais do SAMU.

  • 20

    Cabe esclarecer que para esta pesquisa foi feita a escolha pelo Modelo

    Conceitual das NHB por ser um modelo terico nacional e consequentemente,

    segundo Benedt e Bub (2001) o mais utilizado no Brasil e, por compreender que, para

    uma assistncia de Enfermagem adequada e individualizada, necessria a adoo

    do PE, alicerado em um modelo especfico, que seja do conhecimento dos

    profissionais que realizam o cuidado (FURTADO; NBREGA, 2013). Wanda de

    Aguiar Horta influenciou o ensino e a assistncia de Enfermagem no Brasil, abrindo

    caminhos para uma prtica profissional mais reflexiva (LUCENA; BARREIRA, 2011).

    E justificou-se a escolha da CIPE, uma vez que, as Unidades Bsicas de

    Sade (UBS), do Municpio de Curitiba - PR, disponibilizam o sistema de Classificao

    Internacional das Prticas de Enfermagem Coletiva (CIPESC), que um instrumento

    de trabalho do Enfermeiro em Sade Coletiva (NICHIATA, 2012). O qual foi

    incorporado em 2005, como ferramenta para a consulta de Enfermagem no pronturio

    eletrnico da Secretaria Municipal de Sade (SMS) de Curitiba-PR (SILVA et al., 2010).

    Considerou-se tambm justificvel a escolha desta classificao por ser uma

    linguagem comum, que representa a prtica de Enfermagem mundialmente; e permite

    a comparao dos dados entre diversos contextos, pases e idiomas. E ainda, em

    razo de que a CIPE a nica classificao de Enfermagem aceita pela OMS como

    relacionada Famlia de Classificaes Internacionais (FCI) e traz para essa famlia

    de classificaes o domnio da Enfermagem (NBREGA, 2011).

    Por meio da sistematizao de aes e procedimentos tcnicos, o

    enfermeiro detecta as prioridades de cada paciente, bem como as necessidades e as

    direciona para as possveis intervenes imediatas. A utilizao do PE proporciona ao

    enfermeiro a capacidade de raciocinar com conhecimento tcnico e cientfico

    agregado experincia prtica e no ao tecnicismo do simples saber fazer. A

    aplicao do PE no SAMU visa evidenciar a possibilidade da continuidade dos

    cuidados de Enfermagem nas unidades de atendimento do destino final.

  • 21

    Estas reflexes respaldam a necessidade da construo de um instrumento

    de Enfermagem sinttico e focado nas NHB prioritrias dos pacientes atendidos no

    APHM. Tendo em vista a similaridade das propostas dos dois modelos: o protocolo

    PHTLS (NAEMT, 2011); e o Modelo Conceitual de Horta (2011), nos quais existe a

    determinao de uma sequncia similar na avaliao dos pacientes, entende-se

    apropriada a utilizao destes modelos para a construo de um instrumento para

    registro da assistncia de Enfermagem no APHM.

    1.1 OBJETIVOS

    1.1.1 Objetivo Geral

    Construir um instrumento para registro da assistncia de Enfermagem nas

    Unidades de Suporte Avanado (USA) do Servio de Atendimento Mvel de Urgncia

    (SAMU).

    1.1.2 Objetivos Especficos

    a) identificar os indicadores empricos das Necessidades Humanas

    Bsicas, fundamentado no Modelo Conceitual preconizado por Wanda

    de Aguiar Horta, no contexto do APHM;

    b) selecionar coletivamente os indicadores empricos das Necessidades

    Humanas Bsicas, no contexto do APHM;

    c) relacionar os indicadores empricos selecionados, com os diagnsticos

    de Enfermagem e selecionar as intervenes de Enfermagem, com base

    na Classificao Internacional para a Prtica de Enfermagem (CIPE),

    no contexto do APHM.

  • 22

    2 REVISO DE LITERATURA

    Foram utilizadas bases de dados nacionais e internacionais, como a BVS, a

    LILACS da BIREME, a MEDLINE e o Portal da CAPES, entre outras, para localizar

    artigos de peridicos cientficos, nacionais e internacionais, que tratam do Modelo

    Conceitual das NHB em pacientes no APHM, do PE, das resolues, da CIPE, da

    comunicao escrita, do registro de Enfermagem e instrumentos para coleta de dados,

    dos diagnsticos, intervenes e evoluo de Enfermagem, da Urgncia e

    Emergncia, do perfil epidemiolgico em sade no APHM, do SAMU e dos protocolos

    nacionais e internacionais. Foram tambm utilizados livros, dissertaes, teses e

    publicaes governamentais sobre o tema proposto.

    Para a consulta na literatura cientfica foram utilizados os seguintes

    descritores, em portugus, contidos nos Descritores em Cincias da Sade (DeCS):

    Coleta de Dados; Diagnstico de Enfermagem; Cuidados de Enfermagem; Processos

    de Enfermagem; e, Assistncia Pr-Hospitalar.

    No que diz respeito delimitao do tempo, para esta reviso estabeleceu-

    se o perodo compreendido entre 2002 e 2015, que abrange a publicao das

    Resolues do COFEN no 272/2002 e no 358/2009, as quais normatizam a

    implantao e registro do Processo de Enfermagem nas instituies de sade

    brasileira. Entretanto, as publicaes referentes s NHB, tiveram como perodo de

    referncia para o incio da pesquisa, o comeo da dcada de 70, com as publicaes

    de Wanda de Aguiar Horta (2011).

  • 23

    2.1 MODELO CONCEITUAL DAS NECESSIDADES HUMANAS BSICAS

    Os modelos e as Teorias de Enfermagem tornaram-se um assunto

    importante no sculo passado, e atualmente continuam estimulando o crescimento

    profissional, a expanso da produo cientfica e a valorizao da educao em

    Enfermagem. As teorias surgiram com o propsito de desenvolver o conhecimento de

    Enfermagem com base na prtica profissional, aprimorando a qualidade do cuidado,

    e conquistando o reconhecimento da Enfermagem como profisso com cientificidade.

    Portanto, a Teoria de Enfermagem uma parte integrante do conhecimento em

    educao, administrao e prtica da profisso (ALLIGOOD, 2013).

    As Teorias de Enfermagem surgiram, com o objetivo de estabelecer uma

    cincia de Enfermagem, com base em teorias e conhecimentos sistematizados

    (HORTA, 2011). Na busca por uma autonomia profissional, com a especificidade do

    saber de Enfermagem, por meio de conhecimentos prprios (LUCENA; BARREIRA,

    2011).

    A partir das teorias, so estabelecidos processos de cuidar em Enfermagem

    que norteiam os caminhos a serem seguidos para a efetivao dos pressupostos

    tericos na prtica do cuidar do enfermeiro (FAVERO; WALL; LACERDA, 2013, p.

    535). Quando o processo de cuidar alicerado em uma teoria e estruturado em uma

    metodologia, pode ser classificado como Modelo Conceitual (ROCHA, 2008). De

    maneira geral, modelo conceitual e teorias apresentam apenas diferena semntica

    (FAVERO; WALL; LACERDA, 2013).

    Um Modelo Conceitual representa diferentes formas de ver a Enfermagem

    e diz respeito a bases tericas que fundamentam um campo de atuao (NBREGA;

    BARROS, 2001). Para Favero, Wall e Lacerda (2013) um Modelo Conceitual necessita

    de uma estrutura de ideias e conceitos que podem variar nas suas concepes e no

    modo como descrevem os conceitos centrais da Enfermagem. Um modelo no uma

  • 24

    teoria, predizendo resultados de cuidado, mas uma estrutura de ideias que guia a

    prtica assistencial e deve refletir essa prtica (NBREGA; BARROS, 2001).

    Desta forma, os modelos de enfermagem devem ser vistos como estruturas para guiar ou uma filosofia que sustenta o cuidado de enfermagem, ou seja, devem oferecer princpios que ajudem a enfermeira a conduzir a assistncia em todas as suas fases, de acordo com a complexidade do cuidado. (NBREGA; BARROS, 2001, p. 79).

    Segundo Alligood (2013), foi durante a Nurse Educator Conference,

    realizada na cidade Nova York, em 1978, que os tericos foram reconhecidos como

    os tericos de Enfermagem e suas obras como Enfermagem conceitual valorizando o

    pensamento e a ao da prtica profissional. historicamente relevante compreender

    os modelos e as Teorias de Enfermagem, bem como as idias e conceituaes de

    Enfermagem, que foram, ao longo dos anos, dando sustentabilidade ao saber agir

    cientificamente dos enfermeiros.

    No Brasil, somente na dcada de 70, tais teorias tornaram-se mais

    conhecidas, principalmente por influncia da enfermeira Wanda de Aguiar Horta, que

    comeou a divulgar seus trabalhos sobre as bases tericas e metodolgicas da

    assistncia de Enfermagem (LUCENA; BARREIRA, 2011). Em 1979, lanou a

    clssica obra denominada Processo de Enfermagem, a qual foi reeditada em 2011. A

    referida obra segue a mesma organizao apresentada anteriormente, preserva a

    essncia no que diz respeito ao tema, porm, traz modificaes com relao ao design

    grfico mais moderno e traz acrscimo de notas nas margens, razo pela qual foi

    referenciada nesta pesquisa.

    A utilizao de diferentes modelos e teorias com vises e focos diferentes

    continuam at os dias de hoje, enfatizando o desenlvolvimento e o uso da Teoria de

    Enfermagem, produzindo evidncias para a prtica profissional e contribuindo para o

    cuidado de qualidade em todas as reas da prtica no sculo XXI (ALLIGOOD, 2013).

    Considerando o potencial que as pesquisas tericas podem ter para o

    avano da cincia, ressalta-se a importncia da escolha de modelos adequados para

  • 25

    a anlise e o desenvolvimento de conceitos. Atualmente, entende-se que os conceitos

    so dinmicos, variveis e dependentes da estrutura terica da qual fazem parte

    (BOUSSO; POLES; CRUZ, 2014).

    Bousso, Poles e Cruz (2014, p.148) reforam que:

    Toda teoria consiste em um conjunto de conceitos e serve para descrever, explicar, diagnosticar e/ou prescrever medidas para a prtica assistencial, oferecendo respaldo cientfico para as aes de enfermagem.

    Horta (2011, p. 4) afirma que: A teoria importante como guia de ao, guia

    para coleta de fatos, guia na busca de novos conhecimentos e explica a natureza da

    cincia, portanto, deve ter como caracterstica uma terminologia prpria.

    O Modelo Conceitual2, denominado de Teoria das NHB foi derivado das

    concepes tericas de Abraham Maslow e de Joo Mohana, pesquisadores que se

    dedicaram ao estudo da classificao e hierarquizao das Necessidades Humanas

    Bsicas (LUCENA; BARREIRA, 2011; HORTA, 2011). Apesar de Horta citar a teoria da

    Motivao Humana de Maslow (1970), ela preferiu adotar a denominao proposta por

    Joo Mohana (1964), classificando as necessidades em psicobiolgicas, psicossociais

    e psicoespirituais inter-relacionadas em uma viso holstica (BENEDT; BUB, 2001).

    Entende-se que o modelo das NHB pretende elucidar a natureza da

    Enfermagem e definir seu campo de atuao e sua metodologia cientfica. Para Horta

    (2011, p. 30), o ser humano tem necessidades bsicas que precisam ser atendidas

    para seu completo bem-estar e a Enfermagem assiste o ser humano em suas

    necessidades bsicas, ancorada em conhecimentos e princpios cientficos das

    cincias fsico-qumicas, biolgicas e psicossociais.

    Segundo Horta (2011), as NHB so condies ou situaes que o indivduo,

    a famlia e a comunidade apresentam decorrentes do desequilbrio de suas

    necessidades bsicas que exijam uma resoluo, para seu completo bem-estar. Tais

    2 Para esta pesquisa, foi adotado o termo Modelo Conceitual.

  • 26

    necessidades que, quando no atendidas ou atendidas inadequadamente, podem

    trazer para o indivduo desconforto ou, caso persista, gerar doena, fazendo emergir

    os problemas de Enfermagem.

    Montezeli et al. (2009) relatam sobre uma pesquisa realizada a qual salienta

    que a Enfermagem alicerada no Modelo Conceitual de Horta favorece a visibilidade

    de atuao do enfermeiro e aprimora a qualidade da assistncia de Enfermagem, por

    meio de uma prtica com base na cientificidade, rompendo com o paradigma

    mecanicista de cuidar.

    2.2 PROCESSO DE ENFERMAGEM

    A Resoluo do COFEN no 358/2009 dispe sobre a SAE e a implementao

    do PE, em todos os ambientes pblicos ou privados em que ocorre o cuidado de

    Enfermagem, o que caracteriza a sua obrigatoriedade, visando uma assistncia digna,

    sensvel, competente e resolutiva (COFEN, 2009; GARCIA; CUBAS, 2012). A consulta

    de Enfermagem e a prescrio da assistncia de Enfermagem so prticas privativas

    do Enfermeiro em conformidade com o Art. 11 da Lei no 7.498/86 do COFEN (BRASIL,

    1986). Refora este entendimento o que consta no Art. 2 da Resoluo no 300/20053,

    que dispe sobre a atuao do profissional de Enfermagem no atendimento pr-

    hospitalar e inter-hospitalar, referindo que:

    O Enfermeiro dever desenvolver a Sistematizao da Assistncia de Enfermagem como forma de registro e anotaes pertinentes profisso e aos respectivos profissionais de Enfermagem (COFEN, 2005).

    A Resoluo do COFEN no 358/2009 considera que a SAE organiza o

    trabalho profissional quanto ao mtodo, pessoal e instrumento, tornando possvel a

    organizao do Processo de Enfermagem; enquanto o PE um instrumento

    3 A Resoluo do COFEN no 300/2005 foi revogada pela Resoluo do COFEN no 375/2011.

  • 27

    metodolgico que orienta o cuidado profissional de Enfermagem e a documentao

    da prtica profissional.

    Cabral, na apresentao da obra - Diagnsticos, Intervenes e Resultados

    de Enfermagem: Subsdios para a Sistematizao da Prtica Profissional, de Garcia

    e Cubas (2012) preconiza que os cidados tm o direito de receber cuidados de

    Enfermagem bem planejados, estruturados e qualificados. Refora que a SAE

    possibilita a organizao do cuidado profissional, ao mesmo tempo em que viabiliza a

    aplicao do PE, desta maneira contribui com a oferta de cuidados qualificados de

    Enfermagem. E ainda, oferece uma maneira organizada e sistemtica de pensar sobre

    o cuidado de Enfermagem (ALFARO-LEFEVRE, 2010).

    Neste sentido, para que a Enfermagem atue de maneira eficiente, torna-se

    necessrio desenvolver uma metodologia de trabalho fundamentada no mtodo

    cientfico (HORTA, 2011). Este mtodo de atuao da Enfermagem denominado PE

    que segundo Garcia e Cubas (2012), apresentado como um conhecimento terico,

    que requer experincia prtica e habilidade intelectual. Benedt e Bub (2001) afirmam

    que fundamental que esteja alicerada em um vasto suporte terico.

    Este processo est definido como uma forma ordenada e dinmica de

    prestar cuidados de Enfermagem, por meio da aplicao de etapas cclicas e no

    lineares, nas quais pretendem organizar e priorizar assistncia ao paciente; manter o

    foco no que importante; e formar hbitos de raciocnio que colaborem para obter

    confiana e habilidades necessrias para pensar criticamente nas situaes clnicas

    e tericas (ALFARO-LEFEVRE, 2010). O que demonstra a importncia da aplicao

    do PE no APHM, por meio do qual so preconizadas intervenes imediatas

    direcionadas por prioridade de gravidade das situaes problema dos pacientes, para

    atingir de maneira eficiente, o melhor resultado do cuidado.

    Segundo Alfaro-Lefevre (2010), de acordo com as atuais normas

    americanas e canadenses, a prtica de Enfermagem exige a aplicao eficiente do

  • 28

    PE e a participao dos profissionais em atividades que contribuam para o

    desenvolvimento permanente de conhecimentos sobre esta metodologia.

    O PE sustenta praticamente todos os modelos de cuidados e proporciona

    um meio para o pensamento crtico e para a tomada de deciso. Neste sentido, torna-

    se pertinente descrever que existe uma diferena entre o PE e o pensamento crtico,

    em que o primeiro uma ferramenta e o segundo como essa ferramenta usada

    (ALFARO-LEFEVRE, 2010).

    Os mtodos sistematicamente desenvolvidos estimulam este pensamento

    crtico na prtica profissional de Enfermagem; consequentemente, a teoria conduz

    autonomia profissional, orientando a prtica, o ensino e a formao da Enfermagem

    (ALLIGOOD, 2013). Porm, para Cerullo e Cruz (2010), o aprimoramento constante do

    raciocnio clnico torna-se um desafio para todos os profissionais da rea de sade.

    Uma das ferramentas utilizadas pelo enfermeiro para a aplicao da SAE

    o PE que um instrumento metodolgico, no qual executado um conjunto de aes

    sistematizadas, voltadas para as necessidades da pessoa, famlia ou coletividade

    humana, em determinado momento do processo sade e doena (HORTA, 2011;

    GARCIA, CUBAS, 2012). O PE a concretude da dinmica das aes sistematizadas

    e inter-relacionadas, que visam a assistncia ao ser humano e caracteriza-se pelo

    inter-relacionamento e pelo dinamismo de suas etapas (HORTA, 2011). Esta

    sistematizao colabora para o desenvolvimento e organizao do trabalho da equipe

    de Enfermagem (MARIA; QUADROS; GRASSI, 2012).

    O PE orienta a documentao da prtica profissional do enfermeiro,

    portanto, o registro deve ser realizado formalmente em um instrumento que apresente

    o resumo dos dados coletados durante o histrico de Enfermagem, os diagnsticos

    de Enfermagem identificados, as aes de Enfermagem realizadas e os resultados

    alcanados (COFEN, 2009).

  • 29

    Para Santana et al. (2011), a identificao das necessidades afetadas, bem

    como a elaborao de um plano de assistncia coerente com a realidade, so

    indispensveis para o alcance de metas de cuidado, sendo o PE ferramenta

    facilitadora do trabalho do Enfermeiro.

    O PE desenvolvido em cinco etapas sequenciais e inter-relacionadas,

    sendo: histrico, diagnstico, planejamento/prescrio, implementao e avaliao ou

    evoluo de Enfermagem (COFEN, 2009; HORTA, 2011), para prestar um conjunto

    de cuidados e medidas que visam atender as necessidades bsicas do ser humano.

    Para implantao do PE, existem algumas barreiras iniciais a serem

    transpostas: uma relacionada escolha, interpretao e aplicao do Modelo

    Conceitual; e a outra no que diz respeito a sua operacionalizao no contexto da

    prtica (BITTAR; PEREIRA; LEMOS, 2006).

    Segundo Benedt e Bub (2001) o foco do atendimento de Enfermagem deve

    ser a pessoa como um todo, ou o alcance do seu bem-estar e da sua auto-realizao.

    Portanto, desde o levantamento de dados at a avaliao dos resultados torna-se

    importante compreender a situao real, os riscos bem como as necessidades dos

    pacientes durante o processo de cuidar.

    O objetivo principal do PE direcionar as aes de Enfermagem com o

    propsito de auxiliar o paciente nas suas necessidades individuais. importante olhar

    o indivduo como um todo, este enfoque holstico assegura que as intervenes sejam

    elaboradas para o indivduo e no apenas para a doena. Para tanto, focaliza a

    ateno em problemas clnicos, como tambm no impacto desses problemas e do

    planejamento do cuidado sobre a vida dos pacientes, ou seja, as respostas humanas

    que elas apresentam. Desta maneira, torna-se necessrio buscar informaes sobre

    as necessidades e demais respostas dos pacientes aos processos vitais (BENEDT;

    BUB, 2001; ALFARO-LEFEVRE, 2010).

  • 30

    Bittencourt e Crossetti (2013) enfatizam que a tomada de deciso do

    enfermeiro deve ser pautada na avaliao criteriosa de sinais e sintomas

    apresentados pelo paciente, na compreenso da sua relao entre si e da sua

    relevncia para o cuidado, com base em um raciocnio lgico.

    Santos (2014, p. 154) aponta alguns obstculos para implantao do PE como:

    falta de reconhecimento por parte da equipe de enfermagem, o nmero de enfermeiros nos servios, o envolvimento com o processo, a valorizao por parte da administrao da instituio, bem como os indicadores de resultado da assistncia. Alm disso, realizar este processo requer do profissional base cientfica, conhecimento, habilidades e atitudes pautadas no compromisso tico,

    na responsabilidade e no assumir o cuidar do outro.

    O PE pode ser relacionado, no contexto do APHM, com as etapas da

    avaliao primria ao paciente, a qual segundo o protocolo PHTLS (NAEMT, 2011),

    tambm segue uma sequncia ordenada (ABCDE).

    Diante do mencionado, Carit, Nini e Melo (2010) garantem a utilizao do

    PE no APHM, por conduzir o enfermeiro para o raciocnio gil na tomada de deciso

    clnica para atingir os objetivos do cuidado em emergncias. Reforado pelo

    entendimento de Thais Lins et al. (2013) que afirmam que o PE e a CIPE podem ser

    aplicados em um servio de atendimento mvel de urgncia. No referido estudo foram

    elaborados 33 DE e 14 IE para vtimas de trauma.

    Para fins desta pesquisa foram abordadas as etapas do PE como: histrico;

    diagnstico; intervenes e evoluo de Enfermagem.

    2.3 REGISTRO DE ENFERMAGEM

    Os registros de Enfermagem so considerados como uma comunicao

    verbal escrita, que est relacionado ao paciente e aos cuidados. Conforme afirma

    MATSUDA et al. (2006) os registros de Enfermagem permitem a comunicao

    permanente. Vale ressaltar que a comunicao constitui um aspecto essencial para a

    prtica da Enfermagem representa uma troca de informao e compreenso entre as

  • 31

    pessoas, com o objetivo de transmitir fatos, pensamentos e valores; pode ser verbal

    e no-verbal, de forma que a verbal contempla a linguagem falada e a escrita

    (STEFANELLI, 1993).

    Para Silva (2011, p. 40):

    A escrita geralmente representa um pensamento mais elaborado, no qual pode-se filtrar a emoo e a espontaneidade. Os registros devem ser objetivos, completos, desprovidos de impresses pessoais generalizadas, compreensveis para todos os que se destinam e sem rasuras.

    E ainda, no entendimento de Silva (2011, p. 40), a comunicao escrita o

    registro de pensamentos, informaes, dvidas e sentimentos.

    Chiavenato (2009, p. 456) conceitua comunicao como o processo de

    transmitir dados4 ou informao5 a outra pessoa ou entidade. No fundo, a comunicao

    compartilha significados.

    O registro de Enfermagem contribui para que o enfermeiro obtenha uma

    viso holstica sobre sua prtica profissional, relacionada com as atividades

    administrativas, de gesto, as assistenciais e as questes jurdicas, de pesquisas, de

    educao (COELHO; EMERICK; SANTOS, 2007; MATSUDA; CARVALHO; VORA,

    2007; LEO, 2010).

    Segundo Leo (2010), a comunicao escrita no PE apresenta-se em dois

    eixos principais, sendo um voltado para os aspectos ticos e legais e o outro

    relacionado qualidade da assistncia. Neste sentido, o registro das informaes

    representa o principal veculo de comunicao formal entre os membros da equipe de

    4 Dados: so os elementos que servem de base para a formao de juzos ou para a resoluo de

    problemas. Um dado apenas um ndice, um registro, uma manifestao objetiva, passvel de anlise subjetiva, isto , exige interpretao da pessoa para sua manipulao. Em si, os dados tm pouco valor. Todavia, quando classificados, armazenados e relacionados entre si, os dados permitem a obteno de informao. Assim, os dados isolados no so significativos e no constituem informao. Os dados exigem processamento (classificao, armazenamento e relacionamento), para que possam ganhar significado e conseqentemente informar (CHIAVENATO, 2009, cap. 16, p. 456).

    5 Informao: apresenta significado e intencionalidade, aspectos que a diferenciam do conceito de

    dado (CHIAVENATO, 2009, cap. 16, p. 456).

  • 32

    sade e assegura a continuidade do cuidado (LEO, 2010; MARIN; PERES; Dal

    SASSO, 2013).

    Garcia e Cubas (2012, p. xiii) esclarecem que:

    Os registros de Enfermagem, em conformidade com a dimenso epistemiolgica que ancora a sistematizao e o PE, servem para proteger a integridade fsica, moral e legal das pessoas sob cuidados da Enfermagem.

    Mas, vale destacar, que para aplicao do PE necessrio considerar no

    somente a comunicao verbal como tambm, a no verbal que favorece a interao

    com o paciente, e muitas vezes, transmite a mensagem de forma mais eficiente e mais

    rpida do que a comunicao verbal. Os componentes no verbais mais comuns

    compreendem a expresso facial, a posio do corpo, o toque, a voz, o silncio e o

    ouvir (BENEDT; BUB, 2001; ALFARO-LEFEVRE, 2010). Elementos importantes para

    formar parcerias com os pacientes, familiares e colegas, para favorecer a troca de

    informao.

    Com relao aos aspectos legais do registro de Enfermagem, pode-se

    afirmar que a legislao na rea da Enfermagem proporciona ampla cobertura a este

    tema. Enfatiza-se o Cdigo de tica dos Profissionais de Enfermagem por meio da

    Resoluo COFEN no 311/2007 em seu Art. 25 prescreve como responsabilidade a

    competncia e obrigatoriedade de registrar no pronturio do paciente as informaes

    inerentes e indispensveis ao processo de cuidar; bem como, a Resoluo do

    COFEN no 429/2012, em seu Art. 1 sobre a responsabilidade e dever dos

    profissionais da Enfermagem legisla: registrar, as informaes inerentes ao processo

    de cuidar e ao gerenciamento dos processos de trabalho, necessrias para assegurar

    a continuidade e a qualidade da assistncia.

    Garcia e Cubas (2012) referem que os registros e documentos oriundos do

    atendimento aos pacientes permitem a anlise do custo-benefcio das aes e

    intervenes realizadas. O registro permite tambm obter dados necessrios para

    avaliar o cuidado e colaborar com pesquisas para aperfeioar as prticas de

  • 33

    Enfermagem (ALFAVARO-LEFEVRE, 2010). E ainda, possibilita o desenvolvimento

    de uma linguagem prpria, para beneficiar a formulao de conceitos da profisso

    (NBREGA, 2011).

    Garcia e Cubas (2012, p. xiii) consideram tambm que a prtica profissional

    do enfermeiro aps o registro reflete a sua atuao, uma vez que passvel de ser

    avaliada, o que favorece a responsabilizao social pelo resultado efetivo de suas

    intervenes.

    Vale ressaltar que a coleta de dados um processo permanente, que se

    inicia com o primeiro encontro entre o enfermeiro e o paciente e continua at que

    receba alta (ALFARO-LEFREVE, 2010). E que aps prestar um cuidado de

    Enfermagem, a prioridade seguinte deve ser o registro das investigaes,

    intervenes e respostas do paciente ao cuidado. Conforme afirma Alfavaro-Lefevre

    (2010, p. 224), a documentao tem como finalidades:

    comunicar o cuidado a outros profissionais da sade; colaborar na identificao das respostas e mudanas clnicas dos pacientes; assegurar um cuidado baseado em evidncias; proporcionar uma base para avaliao, a pesquisa e a melhoria do cuidado; criar um documento legal, que a melhor forma de provar que realmente o enfermeiro observou algo ou realizou algum procedimento o fato de ter anotado o que realizou; e fornecer comprovao.

    A estrutura do instrumento de coleta de dados e informaes deve retratar o

    referencial terico adotado, a dinmica do servio, o padro de organizao da

    assistncia e a especificidade da populao assistida (BITTAR; PEREIRA; LEMOS,

    2006). Deve identificar tambm, a metodologia assistencial, ou seja, o PE, o qual se

    inicia pelo histrico de Enfermagem e conduz identificao dos DE e o planejamento

    da assistncia.

    O instrumento de registro da Assistncia de Enfermagem o primeiro passo do PE, o histrico de Enfermagem que utiliza a metodologia cientfica, permite interao enfermeiro-cliente; permite um cuidado profissional; leva a pesquisa; conduz ao diagnstico de Enfermagem; determina prioridades, orientaes e observaes posteriores (HORTA, 2011, p. 43).

    O propsito do histrico de Enfermagem, de acordo com Potter e Perry

    (2013), estabelecer uma base de dados sobre as necessidades detectadas nos

  • 34

    pacientes, os problemas de sade que apresentam no momento de seu registro e as

    respostas para estes problemas. Na medida em que o enfermeiro realiza o histrico

    de Enfermagem, ele comea a pensar criticamente sobre o que avaliar em cada

    paciente individualmente.

    O histrico deve ser claro, preciso; com informaes que permitam realizar

    um cuidado imediato; individualizado; constar informaes novas referentes a

    Enfermagem e deve ser preenchido exclusivamente pelo profissional enfermeiro

    (HORTA, 2011).

    Como tcnica para preenchimento, Horta (2011) recomenda que se

    contemplem os dados e informaes por meio da: entrevista informal, promovendo

    uma interao enfermeiro/paciente; observao e realizao do exame fsico por meio

    da inspeo, percusso, palpao e ausculta. O histrico deve ser aplicado no

    primeiro contato com o paciente, o qual estando consciente deve ser informado que

    sero coletadas algumas informaes. Porm, caso contrrio, muitos dados e

    informaes podem ser obtidos por intermdio do acompanhante dependendo da

    situao do paciente.

    A literatura cientfica preconiza a necessidade de documentar a assistncia

    de Enfermagem, por meio do registro em um instrumento prprio. Cabe destacar que

    no APHM existe a necessidade de realizar um registro de Enfermagem resumido

    (sinttico) focado nas prioridades dos pacientes, com o intuito de dispensar o mnimo

    de tempo possvel para o preenchimento, devido as caractersticas prprias do servio

    de urgncia e emergncia.

    Neste sentido, Potter e Perry (2013) afirmam que as prioridades de tempo e

    da situao do paciente determinam como o enfermeiro deve desenvolver o histrico

    de Enfermagem em termos de quantidades de informaes e dados coletados.

    Ressalta-se que para um bom registro, no necessrio quantidade nas anotaes e

    sim qualidade das informaes para a tomada de deciso imediata.

  • 35

    NBREGA (2011, p. 59) aponta que os registros em Enfermagem so

    considerados um instrumento indispensvel na prtica dos enfermeiros,

    independentemente da rea onde desenvolvam suas atividades.

    Atualmente, os enfermeiros reconhecem que uma documentao efetiva e

    dinmica pode realmente documentar mais dados em menos tempo e espao.

    Portanto, o registro de Enfermagem deve ser objetivo e compreensvel, refletindo

    exatamente o estado de sade do paciente (CARPENITO-MOYET, 2006).

    O registro de Enfermagem deve ser direcionado para uma coleta de dados

    referente a agravos agudos, por meio de um exame fsico realizado pelo enfermeiro,

    durante a avaliao primria no paciente, na qual segue-se o protocolo universal

    (ABCDE). E posteriormente, deve captar dados com um exame fsico aplicado durante

    a avaliao secundria ao paciente para complementar o histrico de Enfermagem.

    Desta maneira, permite uma coleta de dados significativa para apoiar uma tomada de

    deciso rpida para identificao dos DE prioritrios e para execuo das IE.

    Segundo a NAEMT (2011), o Relatrio de Atendimento Pr-Hospitalar

    (RAPH), apresentado por escrito essencial e valioso por fornecer equipe do servio

    que receber o paciente, uma compreenso geral dos fatos que ocorreram e das

    condies do paciente. Tambm, colabora no controle de qualidade de todo o sistema

    pr-hospitalar e, desta forma, permite reviso de casos atendidos.

    Benedt e Bub (2001, p. 36) reforam este entendimento ao referir que a

    preocupao inicial coletar as informaes necessrias para a tomada de deciso,

    respeitando as prioridades. Afirmam tambm, que o processo de coleta de dados e

    informaes pode ser interrompido quando precise implementar aes de cuidado de

    Enfermagem.

    Depois da avaliao observacional, importante focalizar a ateno para os

    sinais e os padres de informaes que sugerem as reas problemticas. Como

  • 36

    tambm, decidir quais questes so relevantes para uma situao e para realizar uma

    interpretao precisa dos dados e informaes (POTTER; PERRY, 2013).

    Ainda neste aspecto, possvel realizar uma investigao prioritria rpida ao

    paciente, que so investigaes curtas, focalizadas e prioritrias realizadas para obter as

    informaes de maior relevncia, e ainda auxiliam na qualidade, na eficincia e na

    segurana do cuidado de Enfermagem (ALFAVARO-LEFEVRE, 2010). Estas

    investigaes sinalizam os problemas e os riscos existentes (POTTER; PERRY, 2013).

    Horta (2011) afirma que possvel elaborar um histrico de Enfermagem

    que contemple somente as NHB mnimas indispensveis para um primeiro

    atendimento e que o exame fsico tambm pode ser incompleto.

    Destaca-se a importncia de identificar problemas de Enfermagem que

    segundo Horta (2011, p. 43) esto definidos como: toda a situao e/ou condio

    apresentada pelo indivduo que exija assistncia profissional. Desta maneira,

    acredita-se que o cuidado de Enfermagem deixe de ser emprico para se tornar

    cientfico, com base no levantamento dos dados e informaes referentes aos

    problemas apresentados pelos pacientes (HORTA, 2011).

    Para realizar uma coleta de dados e informaes de maneira eficiente so

    necessrios, de acordo com Benedt e Bub (2001, p. 35): conhecimento cientfico,

    referencial terico filosfico e habilidades tcnicas, interpessoais e de comunicao.

    Existem dados subjetivos que so descries verbais fornecidas pelos pacientes ou

    acompanhantes com relao aos problemas de sade e dados objetivos que so a

    observao e avaliao da condio de sade dos pacientes (POTTER; PERRY, 2013).

    A etapa de coleta de dados e informaes possibilita a realizao da etapa

    seguinte do PE, os DE e fornece subsdios para continuidade da assistncia de

    Enfermagem no servio do destino final do paciente.

  • 37

    2.4 CLASSIFICAO INTERNACIONAL PARA A PRTICA DE ENFERMAGEM

    Em 1989, durante um Congresso na Coria do Sul, o Conselho de

    Representantes do International Council of Nurses (ICN), aprovou uma resoluo que

    previa o desenvolvimento da CIPE, um sistema de classificao de termos da

    linguagem profissional, para representao da prtica da Enfermagem nos sistemas

    de informao da sade e para um entendimento do trabalho da Enfermagem que fosse

    partilhado no mbito mundial (NBREGA; GARCIA; COLER, 2009 e ICN, 2009).

    A CIPE foi criada para integrar globalmente informaes, com uma conexo

    da prtica e das polticas de cuidados em sade com o propsito de facilitar a

    comunicao dos enfermeiros e aprimorar a assistncia de Enfermagem

    mundialmente (ICN, 2009). uma classificao de fenmenos, aes e resultados

    que pretende ser uma matriz unificadora em que as taxonomias e as classificaes

    de Enfermagem existentes se entrecruzam. Estabelece uma linguagem comum para

    descrever a prtica de Enfermagem e fornece os dados que podem influenciar a

    formao, incentiva a investigao e a melhoria das prticas (CIE, 2003).

    A partir de ento, o ICN empregou esforos para a concepo desta

    classificao, a qual no decorrer dos anos foi sendo aperfeioada. Em 2008, a CIPE

    foi reconhecida como parte da Famlia de Classificaes Internacionais da

    Organizao Mundial da Sade (FCI-OMS) (NBREGA, 2011; LINS, S. et al., 2013).

    A CIPE considerada como o marco unificador dos diferentes sistemas de

    classificao dos elementos da prtica de Enfermagem, por permitir a acomodao

    de vocabulrios existentes, por meio do mapeamento cruzado (GARCIA; BARTZ;

    COENEN, 2015). Foi apresentada, inicialmente, na verso Alfa (1996) e, em 1999, na

    verso Beta e, atualmente encontra-se na sua oitava verso (CIPE, verso 2013), a

    qual corresponde atual verso da Classificao (ALVES et al., 2013).

  • 38

    A partir do desenvolvimento da verso 1.0, lanada em 20056, o processo

    de reviso e padronizao da classificao teve influncia do modelo proposto pelo

    Comit Tcnico (CT- 215) da International Organization for Standardization (ISO), na

    norma ISO 18.104:20037 - Integrao de um Modelo de Terminologia de Referncia

    para Enfermagem. Este modelo estabelece critrios de avaliao para as

    classificaes (CUBAS et al., 2010).

    Esta ISO foi desenvolvida para estruturar os registros para a documentao

    de Enfermagem e auxiliar na formao de expresses diagnsticas e de aes de

    Enfermagem, representa tambm, um instrumento para facilitar o mapeamento entre

    diversas terminologias existentes (MARIN; PERES; Dal SASSO, 2013). Esta norma

    revisada periodicamente e em 2009 foi lanada a ISO/DIS 18.104 - Health Informatics:

    Categorial Structures for Representation for Nursing Diagnoses and Nursing Actions

    in Terminological System, FDIS 18104, que trata da documentao de Enfermagem,

    a qual restringe-se a duas das principais etapas do PE: diagnsticos e aes de

    Enfermagem (MARIN; PERES; Dal SASSO, 2013).

    A CIPE uma terminologia padronizada que representa o domnio da

    prtica e unifica a Enfermagem (NBREGA, 2011). Portanto, para a aplicao do PE,

    pode ser utilizada, dentre outras classificaes existentes, a CIPE que um

    instrumento de informao utilizado na prtica do Enfermeiro para executar:

    diagnsticos, intervenes e resultados de Enfermagem, empregando uma linguagem

    comum e unificada (CIE, 2003; MARIN, 2009; ICN, 2009).

    6 O lanamento da CIPE verso 1.0, em 2005, culminou com 15 anos de trabalho efetuado por centenas de enfermeiros e outros peritos em todo o mundo. O desenvolvimento e teste das trs verses anteriores, Alfa, Beta e Beta 2, foram passos essenciais no sentido do desenvolvimento da CIPE, verso 1.0 (ICN, 2009, p. 21).

    7 INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. Health informatics: integration of a reference terminology model for nursing (ISO/FDIS 18104:2003). Geneva: ISO, 2003.

  • 39

    Ressalta-se que a abordagem formal, ontolgica, para lidar com os

    conceitos do domnio da Enfermagem, diferencia a CIPE de outros sistemas de

    classificao de Enfermagem (COENEN; KIM, 2010).

    Rutherford (2008), refora esse entendimento esclarecendo que esta

    Classificao, considerada como uma linguagem, deve facilitar a comunicao, ser

    completa e concisa, facilitar as comparaes entre diferentes cenrios e locais, apoiar

    a visibilidade do enfermeiro e avaliar a eficcia dos cuidados, por meio da avaliao

    dos resultados de Enfermagem.

    A terminologia de referncia disponibiliza um modelo para construo de

    diagnsticos e aes de Enfermagem o que contribui para uma prtica de

    Enfermagem reflexiva e representa um instrumento para facilitar o mapeamento entre

    as diversas terminologias existentes (MARIN, 2009; CUBAS et al., 2010).

    O uso de uma linguagem padronizada de Enfermagem para documentao

    dos cuidados prestados fundamental para a prtica profissional. Os dados e

    informaes obtidos podem ser utilizados para o planejamento e gesto dos cuidados

    de Enfermagem, previses financeiras, anlise dos resultados e desenvolvimento de

    polticas (ICN, 2009).

    Foi a partir da verso 1.0, lanada em 2005, que a CIPE adotou uma nova

    estrutura de classificao dos termos nela contidos, que corresponde a uma

    terminologia multiaxial combinatria, o Modelo de Sete Eixos: Foco, Julgamento,

    Cliente, Ao, Meios, Localizao e Tempo os quais colaboram para a tomada de

    deciso clnica, para a elaborao de afirmativas de diagnsticos, intervenes e

    resultados de Enfermagem (LINS, S. et al., 2013; ALVES et al., 2013).

    Segundo (ICN, 2005), o Modelo de Sete Eixos, da verso 1.0 da CIPE,

    composto por termos representados nos seguintes eixos definidos conforme Quadro 1.

  • 40

    QUADRO 1 - EIXOS DA CIPE VERSO 1.0

    EIXO DEFINIO

    Foco rea de ateno relevante para a Enfermagem

    Julgamento Opinio clnica ou determinao relacionada ao foco da

    prtica de Enfermagem

    Meios Maneira ou mtodo de executar uma interveno

    Ao Processo intencional aplicado a, ou desempenhado por

    um cliente

    Tempo O momento, perodo, instante, intervalo ou durao de

    uma ocorrncia

    Localizao Orientao anatmica ou espacial de um diagnstico

    ou interveno

    Cliente Sujeito a quem o diagnstico se refere e que o

    beneficirio de uma interveno de Enfermagem

    FONTE: Adaptado (ICN, 2005).

    O modelo foi proposto para auxiliar a estruturao de afirmativas,

    organizadas em grupos significativos, de modo que se tenha acesso rpido a

    conjuntos de enunciados preestabelecidos de diagnsticos, intervenes e resultados

    de Enfermagem (GARCIA; NBREGA, 2009). A verso 1.0 da CIPE permite que os

    enfermeiros documentem sistematicamente e de forma integrada sua prtica, em

    diversos contextos populacionais (BARRA; Dal SASSO, 2012).

    Portanto, a CIPE torna-se importante para assegurar o uso e articulao da

    terminologia de Enfermagem com outros profissionais de sade no avano dos

    registros eletrnicos na sade (ICN, 2009). Facilita o mapeamento dos termos de

    Enfermagem com outras terminologias de sade, promovendo a integrao dos

    sistemas de informao em sade e registros de Enfermagem (MARIN; PERES; Dal

    SASSO, 2013). Oferece estrutura formal para apoiar o raciocnio clnico, organizar o

    conhecimento e a experincia de Enfermagem (CARVALHO; CRUZ DALM, 2013).

    Vale destacar que a CIPE est em constante evoluo e muito j foi

    alcanado em seus quase 25 anos de desenvolvimento. E esta Classificao em

    conjunto com o ICN, tem assumido um papel essencial, ao promover a representao

    do domnio da prtica de Enfermagem em todo o mundo e em todos os nveis de apoio

    informao (GARCIA; NOBREGA, 2015).

  • 41

    Com relao ao panorama de contribuies cientficas referente CIPE,

    conforme resultado da pesquisa de Mazoni et. al. (2010), dentre as produes

    identificadas, 45,5% eram de estudos brasileiros. E referente produo

    internacional, o Chile apresentou 0,9% das citaes indexadas da Amrica do Sul. As

    demais foram oriundas da Europa (30,9%), Amrica do Norte (12,7%), sia (7,3%),

    frica (1,8%) e Oceania (0,9%).

    Considera-se que o desenvolvimento permanente uma caracterstica

    intrnseca da CIPE, conforme apontam Chianca e Salgado (2015), as quais

    observaram uma tendncia para o crescimento no nmero de referncias, com pico

    em 2012, o que demonstra uma crescente familiaridade, disseminao e utilizao da

    CIPE pela Enfermagem brasileira.

    E quanto a aplicabilidade da CIPE em cenrios brasileiros, estudos

    apontam acentuado interesse no Paran. Cinco estudos relataram a utilizao deste

    sistema de classificao em um municpio do Estado do Paran, um em Santa

    Catarina, um no Rio Grande do Sul e um na Paraba (MAZONI et. al, 2010). Os

    autores, em seu estudo relatam que a incorporao desta Classificao, pelos

    servios ainda restrita, possivelmente, pela maior ateno direcionada a outros

    sistemas de classificao e por no ser ensinada na graduao de Enfermagem

    (MAZONI et. al., 2010).

    2.4.1 Diagnsticos de Enfermagem

    Segundo o ICN (2009) um Diagnstico de Enfermagem (DE) um rtulo

    atribudo por um enfermeiro que toma uma deciso de interveno por meio de uma

    avaliao da situao clnica do paciente. E representa o estado do paciente,

    problemas, necessidades e potencialidades, expressas como risco ou chance, o que

    denota uma preveno (ICN, 2005). E para compor um DE so obrigatrios um termo

  • 42

    do eixo foco e um do eixo julgamento, sendo opcional o uso dos demais modelos (ICN,

    2005).

    O processo de elaborao dos diagnsticos e resultados foi apoiado no

    Modelo de Sete Eixos da CIPE e na ISO 18.104/2003, os quais estabelecem que o

    Diagnstico pode ser um achado clnico ou a combinao entre um termo do eixo Foco

    e um termo do eixo Julgamento, sendo os demais eixos opcionais (SABA et al., 2003;

    MARIN; PERES; Dal SASSO, 2013). Outra regra inclui a associao de Foco e

    Julgamento potencialidade, expressa por risco ou chance, sendo que risco indica um

    diagnstico negativo e chance um diagnstico positivo (MARIN; PERES; Dal SASSO,

    2013).

    Portanto, segundo Marin (2009), um DE considerado como um julgamento

    em um determinado foco do cuidado ou em uma dimenso particular de um foco. E

    ainda, como por achado clnico representando estado alterado, funo alterada ou

    mesmo modificao no comportamento (MARIN; PERES; Dal SASSO, 2013). E

    conforme Benedt e Bub (2001, p. 40) o DE aparece em trs contextos: como um

    processo de raciocnio diagnstico, como sistemas de classificao e como uma das

    etapas do PE.

    2.4.2 Intervenes de Enfermagem

    As intervenes de Enfermagem (IE) representam as aes de Enfermagem

    realizadas em resposta a um DE de modo a originar um resultado de Enfermagem

    (ICN, 2005). entendida como um processo pelo qual um servio intencional

    aplicado a um recebedor de cuidados, com expresses elaboradas com verbos no

    infinitivo (MARIN; PERES; Dal SASSO, 2013).

    Na Estrutura Categorial para Aes de Enfermagem, conforme descrito na

    norma ISO 18.104/2003, as IE so consideradas como atos intencionais aplicados a

  • 43

    um ou mais alvos. Para a elaborao de uma IE, obrigatrio o uso de um termo do

    eixo Ao e pelo menos um termo do eixo Alvo. Um termo do eixo Alvo pode ser um

    termo de qualquer outro eixo, exceto do eixo Julgamento. E ainda pode incluir termos

    adicionais do eixo Ao ou de outros eixos, se necessrio (ICN, 2005; MARIN;

    PERES; Dal SASSO, 2013; GARCIA; NBREGA, 2015).

    2.5 EVOLUO DE ENFERMAGEM

    A avaliao do plano de cuidados fornece os dados necessrios para a

    quinta etapa do PE, a evoluo de Enfermagem. Por meio da evoluo, possvel

    avaliar a resposta do ser humano assistncia de Enfermagem implementada, ou

    seja, uma avaliao global do plano de cuidados (HORTA, 2011).

    A Evoluo de Enfermagem um importante instrumento para o enfermeiro

    registrar e fundamentar as intervenes aplicadas no cuidado ao paciente. Entende-

    se que a evoluo no deve ser interpretada apenas como um registro, mas como

    uma forma de analisar e avaliar as intervenes propostas e remodel-las conforme

    necessidade do paciente (SCHULZ; SILVA, 2011).

    Com a Resoluo COFEN n 358/2009, o termo Evoluo de Enfermagem

    foi substitudo por Avaliao de Enfermagem, que o

    processo deliberado, sistemtico e contnuo de verificao de mudanas nas respostas da pessoa, famlia ou coletividade humana em um dado momento do processo sade doena, para determinar se as aes ou intervenes de enfermagem alcanaram o resultado esperado; e de verificao da necessidade de mudanas ou adaptaes nas etapas do Processo de Enfermagem.

    A redao deve ser clara, sucinta, evitar a mera repetio das observaes

    j anotadas na avaliao dos cuidados especificados no plano de cuidados

    (prescrio de Enfermagem). constituda de: dados analisados; elaborada apenas

    pelo enfermeiro; referente ao perodo de 24h; dados processados e contextualizados;

    e registra a reflexo e anlise de dados (HORTA, 2011).

  • 44

    2.6 URGNCIA E EMERGNCIA

    De acordo com a Poltica Nacional de Ateno s Urgncias, Portaria

    1.863/GM, de 29 de setembro de 2003 e a Portaria n 2.048/GM, de 5 de novembro

    de 2002 a rea de urgncia e emergncia constitui-se em um importante componente

    da assistncia sade. O Sistema Urgncia e Emergncia deve ser implementado

    dentro de uma estratgia de enfrentamento das causas das urgncias. Deve valorizar

    a preveno dos agravos e a proteo da vida.

    Para compreender a lgica de funcionamento dos servios de urgncia,

    importante definir os conceitos de situaes de urgncia e emergncia, conforme

    segue.

    As urgncias, de acordo com a Portaria n 354, de 10 de maro de 2014

    (BRASIL, 2014), representam a ocorrncia imprevista de agravo a sade com ou sem

    risco potencial a vida, cujo portador necessita de assistncia mdica imediata.

    As emergncias so consideradas condies de agravo a sade que

    impliquem em sofrimento intenso ou risco iminente de morte, que exige tratamento

    mdico imediato (BRASIL, 2014). Esto relacionadas com a ideia de algo que aparece

    ou acontece subitamente, cujo tempo para resoluo extremamente curto,

    normalmente quantificado em minutos (NITSCHKE, 2008).

    Conforme a Portaria n 2.048/GM, de 5 de novembro de 2002, os servios

    de urgncia e emergncia apresentam-se sobrecarregados devido ao crescimento da

    demanda por servios nesta rea nos ltimos anos, ocasionado pelo aumento do

    nmero de acidentes e da violncia urbana e a insuficiente estruturao da rede

    assistencial. O que tm sido um crescente e importante problema na sade pblica e

    implicam diretamente assistncia prestada pelos pontos de ateno da Rede de

    Ateno s Urgncias e Emergncias (RAUE) (BRASIL, 2013).

  • 45

    Um importante avano so as linhas de cuidados no mbito do SUS, criadas

    pelo Ministrio da Sade (MS) como a do Infarto Agudo do Miocrdio (IAM) e o

    protocolo de Sndromes Coronarianas Agudas (SCA), com estratgias de ampliao,

    agilidade e qualificao do atendimento, a linha de cuidado do Acidente Vascular

    Cerebral (AVC) e a linha de cuidado do trauma (BRASIL, 2013).

    2.6.1 Perfil Epidemiolgico em Sade no Atendimento Pr-Hospitalar Mvel

    O perfil epidemiolgico e demogrfico brasileiro deve ser considerado, para

    a compreenso do servio de urgncia e emergncia. Segundo dados da Secretaria

    de Vigilncia em Sade do Ministrio da Sade (SVS/MS), existe uma rpida

    progresso de mortes e internaes relacionadas s violncias e aos traumas

    provocados por acidentes de trnsito (entre jovens at os 40 anos) e, acima desta

    faixa, uma alta morbimortalidade relacionada s Doenas do Aparelho Circulatrio

    (DAC), como o IAM e o AVC. Soma-se a isso o aumento significativo da expectativa

    de vida nas ltimas dcadas, pelo acentuado e acelerado envelhecimento da

    populao (BRASIL, 2013).

    Portanto, os dados epidemiolgicos (Tabela 1) indicam que as causas

    externas, em determinadas faixas etrias, com nfase nas violncias e nos traumas,

    superam as Doenas Cardiovasculares (DCV) e as neoplasias (BRASIL, 2008;

    BRASIL, 2013), o que acarreta consumos previdencirios e econmicos, alm de

    complicaes na sade dos pacientes. Este quadro pode ser minimizado se forem

    realizados procedimentos adequados na fase aguda com um atendimento imediato,

    resolutivo e eficaz no servio de urgncia e emergncia (BRASIL, 2001).

    Em 2010 ocorreram 143.256 (DATASUS/SIM) mortes por causas externas,

    sendo preponderantes os homicdios (36,5%) e os acidentes de trnsito (30%)

    (BRASIL, 2013, p. 21). Na tabela 1 esto apresentadas as principais causas de

    morbimortalidade no Brasil por faixa etria.

  • 46

    TABELA 1 - PRINCIPAIS CAUSAS DE MORBIMORTALIDADE NO BRASIL (POR FAIXA ETRIA)

    FONTE: BRASIL. MS/SIM/SVS (20108, apud BRASIL, 2013). LEGENDA: DAC: Doenas do Aparelho Circulatrio. DAR: Doenas do Aparelho Respiratrio. DIP: Doenas Infecciosas e Parasitrias.

    Com os avanos no tratamento das SCA, a mortalidade por IAM caiu nos

    registros mais recentes em pases desenvolvidos e at mesmo na rede privada no Brasil.

    Um dos tratamentos do IAM depende do rpido acesso aos servios de sade (BRASIL,

    2013, p. 10).

    Tendo-se em vista esta tripla causa de doenas (causas externas, doenas

    crnicas no transmissveis, com destaque para as DCV e, ainda, uma carga de

    doenas infecciosas), importante a implementao da RAUE. Para articular e

    integrar todos os estabelecimentos de sade, com o objetivo de ampliar e qualificar o

    acesso humanizado e integral aos pacientes em situao de urgncia e emergncia,

    em todo o territrio nacional, respeitando-se os critrios epidemiolgicos e de

    densidade populacional (BRASIL, 2013, p. 12).

    2.6.2 SAMU

    No Brasil, a implantao dos servios de Atendimento Pr-Hospitalar Mvel

    (APHM) ocorreu no incio da dcada de 90, o qual passou a ser denominado Servio

    8 BRASIL. MS/SIM/SVS (2010, apud BRASIL. Ministrio da Sade. Secretaria de Ateno Sade. Departamento de Ateno Especializada. Manual instrutivo da Rede de Ateno s Urgncias e Emergncias no Sistema nico de Sade (SUS). Braslia, 2013. Disponvel em: . Acesso em: 27 abr. 2014.

  • 47

    de Atendimento Mvel de Urgncia (SAMU) a partir do Plano Nacional de Atendimento

    Urgncia e Emergncia em 2003 (BRASIL, 2003). O SAMU foi institudo pela Portaria

    n 1.864/GM, em 29 de setembro de 2003 e regulamentado pela Portaria n 2.048/GM,

    de 5 de novembro de 2002. Caracteriza-se pelo APHM que, segundo o MS,

    o atendimento que procura chegar precocemente vtima, aps ter ocorri