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CONSTRUÇÕES MODERNAS Nos templos de Mao Tsé-Tung, a simples palavra “arquiteto” era considerada burguesa na China.Os arquitetos eram técnicos, jamais artistas. Apenas 30 anos se passaram e, hoje, os arquitetos na China não são apenas artistas. São mágicos. A um mês das Olimpíadas, polindo freneticamente os últimos detalhes, plantando os últimos milhares de flores, Pequim e Xangai se vestem como debutantes. O bolo tem uma decoração futurista. A silhueta de arranha-céus de Xangai oferece duas torres fabulosas, a Pérola do Oriente e a Jin Mao. É em Pequim que a metamorfose das construções cumpre seu papel político e estratégico: mostrar a China como uma nação inventiva, sofisticada e aberta para o mundo, apesar dos quase 60 anos de ditadura do Partido Comunista. Não são mais os templos imperiais do século XV nem os conjuntos soviéticos e austeros da revolução maoísta que representam a China contemporânea. Nos últimos anos, 3 milhões de chineses foram expulsos para os subúrbios de Pequim, ganhando indenizações irrisórias. Para dar lugar a largas avenidas, viadutos, condomínios. Há histórias terríveis de incêndios criminosos para obrigar moradores relutantes a abandonar suas casas. A discussão se tornou tão ácida que, hoje, os críticos pronunciam o nome de seu país em inglês “Chai-na”, que significa em mandarim “demolir onde?”. À força, Pequim foi reinventada e tornou-se

CONSTRUÇÕES MODERNAS

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CONSTRUÇÕES MODERNAS

Nos templos de Mao Tsé-Tung, a simples palavra “arquiteto” era considerada

burguesa na China.Os arquitetos eram técnicos, jamais artistas. Apenas 30 anos

se passaram e, hoje, os arquitetos na China não são apenas artistas. São

mágicos. A um mês das Olimpíadas, polindo freneticamente os últimos detalhes,

plantando os últimos milhares de flores, Pequim e Xangai se vestem como

debutantes. O bolo tem uma decoração futurista. A silhueta de arranha-céus de

Xangai oferece duas torres fabulosas, a Pérola do Oriente e a Jin Mao. É em

Pequim que a metamorfose das construções cumpre seu papel político e

estratégico: mostrar a China como uma nação inventiva, sofisticada e aberta para

o mundo, apesar dos quase 60 anos de ditadura do Partido Comunista.

Não são mais os templos imperiais do século XV nem os conjuntos soviéticos e

austeros da revolução maoísta que representam a China contemporânea.

 Nos últimos anos, 3 milhões de chineses foram expulsos para os subúrbios de

Pequim, ganhando indenizações irrisórias. Para dar lugar a largas avenidas,

viadutos, condomínios. Há histórias terríveis de incêndios criminosos para obrigar

moradores relutantes a abandonar suas casas. A discussão se tornou tão ácida

que, hoje, os críticos pronunciam o nome de seu país em inglês “Chai-na”, que

significa em mandarim “demolir onde?”. À força, Pequim foi reinventada e tornou-

se a capital moderna e reluzente da segunda maior potência do mundo.

Xangai seguiu o mesmo modelo de boom imobiliário de Pequim. No bairro antigo,

Nanshi, as casas são conhecidas comoshikumen (“porta de pedra”). Até meados

do século passado, 80% dos habitantes de Xangai viviam em shikumens. Havia

650 mil dessas casas em 2002. Acredita-se que, no fim desta década, restem 50

mil.

A nova arquitetura monumental da capital chinesa é feita de curvas suaves,

ângulos improváveis, materiais high-tech. Para que a China não seja vista como

uma potência militar agressora. Em Pequim, o Complexo Olímpico, o Aeroporto

Internacional, a sede da rede de televisão CCTV e o Teatro Nacional são obras

grandiosas, de insustentável leveza. O vocabulário mudou. De concreto e tijolo,

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passou-se a falar em “ninhos de pássaros”, “ovos”, “calças”, “cubos” e “bolhas”,

apelidos dos prédios mais espetaculares. Alguns projetos associam elegância e

tecnologia a toques kitsch. São assinados por arquitetos chineses, europeus e

americanos. Está claro que, para erguer em tempo recorde prédios tão

complexos, um país tem de atender a três requisitos: energia, dinheiro e

batalhões de operários nacionalistas. A China tem tudo isso.

A chegada à China no terminal 3 do aeroporto de Pequim, projeto do inglês

Norman Foster, dá uma idéia de como o país pretende afirmar-se como potência

turística, além de econômica. Duas imensas asas simétricas dão a impressão de

que o prédio inteiro está prestes a alçar vôo. O projeto custou US$ 2,7 bilhões.

Foi construído por 40 mil operários. O aeroporto foi construído sobre a ilha

artificial de Chek Lap Kok, que tem 6 km de comprimento por 3,5 km de largura.

Apenas 25% dessa área existia antes da construção. Todo o restante foi

conquistado com aterros sobre o mar - o que exigiu 197 milhões de m3 de

material, movimentando à razão de 10 toneladas por segundo. O terminal ocupa

uma área total de 516 mil m2 distribuídos em oito pavimentos (três abaixo do solo

e cinco acima), além de 30 mil m2 destinados a espaços comerciais. O perímetro

externo, no qual predominam as paredes de vidro, tem 5 km de extensão. Apesar

de sua escala monumental, o edifício é acolhedor e fácil de usar, criando uma

atmosfera relaxada e agradável, que contrasta com as em geral estressantes

viagens aéreas. Simples e arejados, seus espaços são distribuídos com lógica

sob um tetos metálico leve e ondulado que permite a todo o interior ser banhado

com bem dosada iluminação natural.

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O Ninho, com 91 mil lugares, é uma criação do escritório suíço Jacques Herzog e

Pierre de Meuron (autores do projeto da galeria de arte Tate Modern, em

Londres), associado a arquitetos chineses e ao artista Ai Weiwei, consultor. “Não

criamos o Ninho para ser chinês, mas como um objeto para o mundo”, diz Weiwei.

O Ninho parece uma grande escultura, mas as vigas de aço entrelaçadas não são

meramente decorativas. São estruturais. No auge da construção, 9 mil operários

trabalharam simultaneamente. O teto é translúcido. O Ninho é uma maravilha da

imaginação e da engenharia e, com a iluminação noturna, a cor vermelha se

impõe, como uma lembrança de que estamos na China.

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O grupo CSCEC + PTW CCDI e ARUP venceu o Concurso Internacional de

Design para o centro aquático de Pequim 2008 Games – apelidado o Cubo

d’água. O esquema cumprido as normas internacionais para a competição,

maximizando os benefícios sociais e econômicos. Além de ser um local de

competição aquática para os Jogos, o centro fornece público de lazer multi-função

e instalações de fitness, antes e depois dos jogos. O conceito combina o

simbolismo do quadrado na cultura chinesa e a estrutura natural de bolhas de

sabão traduzidos em forma arquitetônica.

Um quadrado não é um alienígena na cultura chinesa. Para se posicionar no

universo, os chineses escolhem o quadrado como forma primária para as cidades,

palácios e casas. (Como a casa que serviu seis dinastias em seiscentos anos, a

cidade de Pequim é um ótimo exemplo).

O quadrado é a ordem, inteligência e o conhecimento do homem, o “ideal chinês

de harmonia regulada”.

O projeto utiliza a tecnologia state-of-the-art e materiais para criar um edifício que

é visualmente impressionante, energeticamente eficiente e ecologicamente

amigável.

A estrutura Watercube marcante é eficiente, maximizando a luz natural e captar a

energia solar para aquecer os espaços interiores, bem como as piscinas de

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energia. Eficiência da água é obtida por recolha de águas pluviais, reciclagem,

filtragem eficiente e sistemas de retrolavagem.

Um cubo é jogado dentro da água; a água espirra na terra como gotas

espalhadas em ondulações; esse é o partido da paisagem do Centro Nacional de

Natação. As “gotas d´água” transformam-se em tanques d´água com vegetação,

esculturas, fontes e outros dispositivos aquáticos. Como a cidade chinesa antiga,

como a Cidade Perdida, era protegida por um rio, o edifício do Centro Nacional de

Natação é separado da terra por um fosso linear no seu perímetro. Pontes são o

único modo de acessar o edifício. Uma parede de água corre ao lado do fosso

com água para elevar o sistema espacial acima do chão. Na área de entrada, a

parede de água toma toda a altura com um pano de vidro para permitir que a luz

do dia seja filtrada pela água no lobby. As pessoas experienciam uma caminhada

através de um plano de água a cada vez que entram no edifício. O fosso também

coleta a água da chuva que corre então pela fachada. Conectadas sob o solo, os

fossos e tanques d´água servem como coleta de água, filtro e sistema de

reciclagem para economizar água e alcançar o objetivo das “Olimpíadas Verdes”.

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O Cubo d’Água, projeto da agência australiana PTW, “estará ali por pelo menos

mais cem anos”, diz o consultor chinês Zheng Fang. Isso significa que o Cubo não

é eterno. Ele custou US$ 143 milhões. John Pauline, chefe da filial de Pequim da

PTW, diz que o primeiro esboço do projeto previa “ondas e vapor”. Para dar a

sensação de estar dentro d’água, optou-se pelo material da moda, um plástico

cujo peso equivale a 1% do vidro chamado ETFE. Ele deixa passar mais luz, mas

retém o calor, resultando numa economia de 30% em energia.

Os novos projetistas tiraram proveito da experiência do arquiteto francês Paul

Andreu, que projetou e construiu o Grande Teatro Nacional (a Ópera de Pequim).

Foram cinco anos de obras. Foi preciso transportar da Alemanha para a China

uma grua gigantesca. O teatro foi apelidado de “O Ovo”. Um ovo com uma cúpula

de titânio e vidro, que custou US$ 350 milhões. O interior é de mogno vermelho

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brasileiro, com três palcos e lotação de 5 mil pessoas. É um dos passeios

dominicais favoritos das famílias chinesas e dos turistas, pela localização, perto

do Congresso Nacional do Povo e da Praça da Paz Celestial. Ele parece flutuar

sobre uma lâmina d’água.

Sem o equilíbrio e a harmonia da Ópera, um arranha-céu imponente e de formas

agressivas abriga a nova sede da poderosa rede estatal de televisão CCTV. Duas

torres de 230 metros de altura se erguem inclinadas. Por isso, são chamadas de

“As Calças”. As torres se tocam no topo e na base, num ângulo retorcido, dando a

impressão de que combatem uma à outra. A obra custou mais de US$ 800

milhões. O projeto é de uma dupla de arquitetos europeus: o holandês Rem

Kookhass e o alemão Ole Scheeren.

REFERÊNCIAS

Disponível em: (http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI7354-

15227,00.html) acesso: 10/11/2013

Disponível em: (http://www.arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/norman-

foster-aeroporto-internacional-20-06-2001) acesso: 10/11/2013

Disponível em: (http://www.ptw.com.au/ptw_project/watercube-national-swimming-

centre/) acesso: 10/11/2013

Disponível em: (http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/03.036/2254)

acesso: 10/11/2013