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CAPÍTULO 12 • ESTÁGIO SUPERVISIONADO VII UNITINS • PEDAGOGIA • 8º PERÍODO 377 Introdução Quem seremos nós enquanto profissionais? Quais bandeiras defende- remos? Como compreendemos nossa área de atuação, nossos saberes e nossa formação? Essas são algumas das questões que abordaremos neste capí- tulo. Partimos do ponto central que essas relações são complexas e cheia de perspectivas em torno da identidade do pedagogo. Para que sua compreensão do conteúdo do último capítulo seja satisfatória, é importante a leitura do texto de Tarso Bonilha Mazzotti intitulado Estatuto de cientificidade da Pedagogia, disponível no sítio <http://web.me.com/ tmazzotti/tarso/Cap%C3%ADtulos/Entradas/1996/12/21_Estatuto_de_ cientificidade_da_Pedagogia_files/MazzottiEstatuto.pdf>. Nesse texto, Mazotti menciona as dificuldades inerentes ao debate sobre a natureza da pedagogia como ciência. Esperamos que, ao final deste capítulo, você seja capaz de conhecer o Manifesto a favor dos pedagogos, produzido por Houssaye e outros (2004) e rever elementos de um roteiro para a confecção de um resumo expandido ou científico. 12.1 Manifesto pela pedagogia: constituição de uma identidade Centraremos a nossa reflexão sobre a identidade e ação do pedagogo com o Manifesto a favor dos pedagogos: Consideramos que: a pedagogia é legítima; a pedagogia é um saber legítimo; a pedagogia produz saberes legítimos e historicamente legitimados; a pedagogia produz saberes específicos; a formação pedagógica é legítima; a formação pedagógica é específica; a formação pedagógica deve ser construída em torno desses saberes legítimos e específicos; a formação pedagógica deve ser construída pelos pedagogos; Construindo o seu olhar: pela constituição de um sujeito emancipador na pedagogia 12

Construindo o seu olhar: pela CAPÍTULO 12 • ESTÁGIO ... · Responda às questões depois de ler o texto Saberes docentes e formação de professores: um breve panorama da pesquisa

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CAPÍTULO 12 • ESTÁGIO SUPERVISIONADO VII

UNITINS • PEDAGOGIA • 8º PERÍODO 377

Introdução

Quem seremos nós enquanto profissionais? Quais bandeiras defende-remos? Como compreendemos nossa área de atuação, nossos saberes e nossa formação? Essas são algumas das questões que abordaremos neste capí-tulo. Partimos do ponto central que essas relações são complexas e cheia de perspectivas em torno da identidade do pedagogo.

Para que sua compreensão do conteúdo do último capítulo seja satisfatória, é importante a leitura do texto de Tarso Bonilha Mazzotti intitulado Estatuto de cientificidade da Pedagogia, disponível no sítio <http://web.me.com/tmazzotti/tarso/Cap%C3%ADtulos/Entradas/1996/12/21_Estatuto_de_cientificidade_da_Pedagogia_files/MazzottiEstatuto.pdf>. Nesse texto, Mazotti menciona as dificuldades inerentes ao debate sobre a natureza da pedagogia como ciência.

Esperamos que, ao final deste capítulo, você seja capaz de conhecer o Manifesto a favor dos pedagogos, produzido por Houssaye e outros (2004) e rever elementos de um roteiro para a confecção de um resumo expandido ou científico.

12.1 Manifesto pela pedagogia: constituição de uma identidade

Centraremos a nossa reflexão sobre a identidade e ação do pedagogo com o Manifesto a favor dos pedagogos:

Consideramos que:

a pedagogia é legítima;

a pedagogia é um saber legítimo;

a pedagogia produz saberes legítimos e historicamente legitimados;

a pedagogia produz saberes específicos;

a formação pedagógica é legítima;

a formação pedagógica é específica;

a formação pedagógica deve ser construída em torno desses saberes legítimos e específicos;

a formação pedagógica deve ser construída pelos pedagogos;

Construindo o seu olhar: pela constituição de um sujeito emancipador na pedagogia 12

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os saberes pedagógicos se produzem pela articulação de ações realizadas, de concepções científicas e didáticas, de convicções normativas e de intenções filosóficas;

os saberes pedagógicos são produzidos pelos pedagogos;

os saberes pedagógicos se inscrevem em uma tradição de peda-gogos (Sócrates, Comenius, Pestalozzi, Dewey, Oury etc.);

os saberes pedagógicos de tal tradição são tão legítimos quanto os saberes sobre a educação produzidos pelos filósofos e pelos cientistas da educação (Platão, Rousseau, Durkheim, Piaget etc.);

os saberes pedagógicos não podem ser confundidos com os saberes disciplinares;

os saberes pedagógicos não podem ser confundidos com os saberes sobre a educação, o ensino e a pedagogia;

os saberes pedagógicos não poderiam ser reduzidos aos saberes didáticos, devendo, ao contrário, articular sobre eles;

a pedagogia não exclui os outros saberes, ela os articula na formação;

ninguém pode dizer se pedagogo se não aceitar teorizar suas práticas e submetê-las à discussão;

os saberes pedagógicos, por sua vez, também são capazes de gerar saberes sobre a pedagogia, a educação e a huma-nidade. A pedagogia é portadora de uma abordagem especí-fica do homem e de seu devir;

na formação pedagógica, somente os pedagogos estão aptos a articular os saberes pedagógicos com os saberes disciplinares e com os saberes sobre a educação, o ensino e a pedagogia;

na formação pedagógica, somente os pedagogos podem assumir a articulação desses saberes, pois é o que comprovam em sua prática profissional;

a formação pedagógica deve ser assumida pelos pedagogos, assim como sua legitimidade de formadores é mantida por sua legitimidade de pedagogos;

a formação pedagógica supõe a instauração, o respeito e o reconhecimento de um espaço institucional autônomo e espe-cífico que não seja submetido aos saberes disciplinares ou didáticos nem aos saberes sobre a educação, o ensino e a pedagogia (HOUSSAYE e outros, 2004, p. 7-8).

Como você pode observar na leitura, a identidade do pedagogo está bem clara. Você consegue perceber quais são os elementos centrais, de acordo com os autores? Bem, o primeiro elemento importante é a concepção de que a peda-gogia é legítima como área de conhecimento. Por que isso é importante? Essa concepção reforça que a nossa atuação tem uma base de cientificidade e não apenas uma simples prática sistematizada. Desse aspecto, emana o segundo elemento importante: a pedagogia é um saber legítimo. O que isso significa? Que aquilo que fazemos e construímos em educação tem suas bases calçadas

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em práticas, regras, padrões e princípios estabelecidos pelas demandas sociais, visando ao seu benefício. Daí porque a produção de saberes da pedagogia é legítima e historicamente legitimada pela própria construção social, mesmo que essa se modifique ao longo do tempo.

Saiba mais

Laélia Portela Moreira, em seu texto A pedagogia como disciplina científica, discute a respeito de três pontos principais: primeiro os critérios de cientificidade; depois a constituição de uma “Ciência da Educação”; e por último as implicações metodológicas referentes ao que alguns autores brasileiros denominam como “ciência da prática”. O texto está disponível no sítio <http://www.mazzotti.pro.br/tarso/Edicoes_digitais/Entradas/2007/12/8_Pedagogia_e_educacao_a_ construcao_de_um_campo_cientifico_files/LaliaPortelaMoreira.pdf>.

E que dizer da formação? Novamente os autores partem do princípio da legitimidade. E aí é importante reforçarmos esta ideia: em educação é legítimo aquilo que atende às demandas sociais, em termos de aprendizado, fruto de suas necessidades.

Paulo Freire (2004) defendia que o legítimo, em termos de educação, encon-trava respaldo no educando e em suas demandas, necessidades e possibilidades.

Nessa linha de pensamento, Houssaye e outros (2004) defendem que a formação pedagógica é legítima, construída dessa forma, a partir de bases sociais que conferem à educação, força decisória e formativa. Assim, ela se torna específica, apontando para aspectos específicos do fazer pedagógico, da práxis pedagógica. O pedagogo está apto a desenvolver as atividades forma-tivas, já que o foi formado para isso. Mas quem é o pedagogo afinal? Houssaye (2004, p. 10) afirma que

Se a pedagogia é a reunião mútua e dialética da teoria e da prática educativas pela mesma pessoa, em uma mesma pessoa, o pedagogo é, antes de mais, nada um prático teórico da ação educativa. O pedagogo é aquele que procura conjugar a teoria e a prática a partir de sua própria ação. É nessa produção espe-cífica da relação teoria prática em educação, que se origina, se cria, se inventa e se renova a pedagogia. Por definição, o pedagogo não pode ser um puro e simples prático nem um puro

essa fenda que permite a produção pedagógica.

Gostou dessa definição? De fato, poucos autores arriscam definir a peda-gogia e o pedagogo, justamente pela extrema dificuldade que temos de nos assumirmos como intelectuais de nossa área sem, com isso, perdermos o nosso

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lado prático. É tanto que, no vocabulário pedagógico, você encontrará palavras únicas, como a utilizada por Houssaye (2004), “prático teórico”.

Outro eixo do Manifesto a favor dos pedagogos está centrado nos saberes. Houssaye e outros (2004) defendem no conjunto da “articulação de ações reali-zadas, de concepções científicas e didáticas, de convicções normativas e de intenções filosóficas”, isto é, na totalidade das ações pedagógicas, calçadas na construção dos conhecimentos historicamente elaborados.

Os autores reconhecem, obviamente, o papel importante de diversos autores que produziram saberes pedagógicos e filosóficos, mas fazem uma ressalva importante: os saberes pedagógicos não podem ser confundidos com os saberes disciplinares. Não podemos centralizar toda a nossa perspectiva pedagógica, simplesmente, na metodologia, na didática ou no ensino. A pedagogia e a ação do pedagogo é mais que isso.

Reflita

Que papel tem os saberes pedagógicos na construção da identidade do pedagogo? E na sua formação? Responda às questões depois de ler o texto Saberes docentes e formação de professores: um breve panorama da pesquisa brasileira, de Célia Maria Fernandes Nunes. Esse texto apresenta uma análise de como e quando a questão dos saberes docentes aparece nas pesquisas sobre formação de professores. O texto está disponível no sítio <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101 73302001000100003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>.

Houssaye (2004) relembra que temos “teóricos” da educação, que nunca adentraram efetivamente em sala de aula ou vivenciaram mais do que alguns meses esse fazer. E temos, também, dezenas de “práticos”, que vivenciam plena-mente a construção do fazer pedagógico, mas permanecem anônimos, por não teorizarem sua prática. Daí por que, para os autores, “ninguém pode dizer-se pedagogo se não aceitar teorizar suas práticas e submetê-las à discussão”.

E você, se sente nesse momento em qual dos grupos? Mais teórico ou mais prático? Não entre em pânico, acreditando que você deverá se classificar, pois isso não é tão importante ainda. Ainda! Mas deve começar a perceber que, mais cedo ou mais tarde, em sua vida profissional, você deverá articular essas duas ideias e analisar suas ações pedagógicas. É como Marques (1990, p. 80) defende: “na realidade, a Pedagogia nunca chegou a constituir se como uma ciência que desse conta dos problemas da educação em cada época”. Por que isso ocorreu? Porque é muito complexo assumirmos, claramente, que não

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podemos somente ficar na prática sem a teoria e nem somente na teoria sem

produção pedagógica”, como nos lembra Houssaye (2004, p. 10), é complexo, gera ansiedade e exige rupturas com algumas “certezas” cristalizadas em nossas práticas, que muitas vezes “passam batidas” nas universidades.

Saiba mais

Liliane Madruga Prestes, Maria Luiza Rodrigues Flores e Mariângela Franzen Kaiser Cardoso apresentam, em seu texto Reflexões acerca do campo de atuação da Pedagogia em espaços não escolares a partir da pesquisa acer-ca das experiências realizadas em Balneário Pinhal – RS, a investigação que incluiu ações educacionais de cunho não escolar, tendo em vista esse espaço de atuação aberto para os pedagogos. Esse espaço foi reconheci-do pela Resolução 01/2006. O texto relata um recorte da pesquisa, enfo-cando o desenvolvimento de projetos municipais de educação não escolar no município Balneário Pinhal beneficiando crianças, jovens e adultos. O texto está disponível no sítio <http://www.uniritter.edu.br/w2/comuni/4/downloads/Artigo%206%20%20Reflex%C3%B5es%20acerca%20do%20campo%20de%20atua%C3%A7%C3%A3o%20da%20Pedagogia%20 %20UERGS.pdf>.

Freire (2004, p. 159-160) afirmou que

O problema da universidade brasileira é que ela tem sido, em todos esses anos, elitista, autoritária e distanciada da realidade.

leitura da palavra seja precedida da leitura de mundo e, este não é um problema apenas da alfabetização, como possa parecer a alguns. Na universidade, às vezes, os professores esquecem totalmente esta questão. Veja, quando o aluno trabalha com um texto ele, às vezes, sequer compreende o texto. É necessário que ele situe o autor no tempo, que compreenda o momento em que o autor escreveu e relacione com o momento atual do leitor.

A partir da afirmação de Freire (2004), percebemos que a crítica, ainda, é necessária, pois a formação inicial não dá conta de todo o universo forma-tivo essencial e a formação continuada dos professores é encarada “como uma perda de tempo, já que se reforça o que se sabe” (fala de um professor feita durante uma formação continuada).

Essa desconexão entre reflexão teórica e prática é real. Você a sentirá após terminar seu curso, mas não se preocupe, pois isso também faz parte de seu aprendizado. Você perceberá que, durante toda a sua formação inicial, na

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universidade, você partiu da premissa “teorização + aplicação em situação problema” e que, ao chegar à escola, você encontrará apenas “situações-pro-blema” a serem resolvidas. Nada de teoria pronta, trazida por alguém. Na verdade, esse alguém (que na universidade é o seu professor), será você mesmo na prática, em sua sala ou no máximo, com outros colegas, se você for humilde o suficiente para não “achar que sabe mais”. Reflita seriamente sobre isso.

O Manifesto a favor dos pedagogos apresenta uma série de elementos que reforçam a área profissional da pedagogia, mas ele não autoriza a ninguém – e isso inclui você – a achar que somente nossos conhecimentos explicam a reali-dade. De fato, os nossos conhecimentos somados aos dos outros profissionais, podem auxiliar a encontrar a “ponta do iceberg” pedagógico com o qual nos deparamos na realidade educacional.

12.2 Escrevendo sobre sua experiência

Depois de refletirmos tanto nesta disciplina, que tal agora desenvolver suas observações em um resumo científico, que também poderá ser chamado de resumo expandido? Esse resumo deverá ter o foco na pesquisa que você vai realizar nos espaços não escolares.

Você se lembra de como o fazemos? Você já aprendeu isso na disciplina de Metodologia Científica, que tinha o objetivo de explicar a você como apresentar suas percepções de forma científica.

É importante, nesse momento, não se estressar com a quantidade de caracteres, já que serão indicados pelos professores nas aulas e no AVA.

Que partes são essenciais na produção de seu resumo científico? Vejamos cada uma das partes, utilizando logo em seguida, uma exemplificação. Todos os exemplos citados são dos Anais da XVI Jornada Científica da UNITINS, dispo-nível no sítio <http://jornada.unitins.br/?page_id=4>.

a) Título: o título de seu resumo científico e/ou expandido deve ser informa-tivo e específico, para com isso ganhar a atenção do leitor. Costumamos dizer que um bom título é expresso pela fórmula:

Bom título = mais amplo possível + mais específico possível.

Mas como se faz isso? Perceba no exemplo a seguir.

Título 1: Mapeamento de periódicos eletrônicos open access e a relevância para as áreas de comunicação e educação

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Título 2: O processo de Bolonha da Europa torna se global: modelo, mercado, mobilidade, força intelectual ou estratégia para cons-trução do Estado? (Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413 24782009000300002&lng=pt&nrm=iso%22&tlng=pt>. Acesso em: 25 abr. 2010).

O que você percebe no segundo exemplo? Temos a presença da fórmula citada anteriormente. A primeira parte do título, “O processo de Bolonha da Europa torna se global” é o mais amplo possível, dando ao leitor uma percepção da importância desse assunto.

Por outro lado, depois dos dois pontos (:), percebemos a presença da ideia da especificidade: “modelo, mercado, mobilidade, força intelec-tual ou estratégia para construção do Estado?” Perceba que o autor delimitou sua análise em aspectos como modelo, mercado, mobili-dade, força intelectual. Isso torna o tema mais atraente e específico.

b) Autores: devemos indicar os participantes da pesquisa. Encontramos trabalhos individuais ou coletivos (com um número variando de 2 a 5 participantes). Um problema básico tem sido definir o autor que vem primeiro, ou seja, a autoria principal. Esse é um problema, em princípio, já que todos os envolvidos devem ter participado de forma diferenciada. Visando a diminuir os conflitos, muitos têm optado por assumir a ordem alfabética.

Exemplo:

Autores 1: Dandara Dias do Amaral

Francisco Gilson Rebouças Pôrto Junior

c) Resumo: o resumo pode assumir duas possibilidades:

Resumo informativo: é o resumo que informa ao leitor sobre carac-terísticas do seu texto. Nele, você indica se o texto é o relatório de uma pesquisa bibliográfica ou de pesquisa empírica. O resumo informativo não informa apenas do que trata a pesquisa em foco. Ele informa, ainda, as finalidades da pesquisa, a metodologia utilizada e os resultados atingidos. Ele é próprio para artigos de revistas.

Resumo indicativo: é o resumo que indica os pontos principais de um texto, sem detalhar aspectos como exemplos, dados qualitativos ou quantitativos etc. Ele é próprio para resumos expandidos, como é o nosso caso.

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Exemplo:

A presente pesquisa tem como objetivo catalogar periódicos eletrônicos com temática sociais relevantes para a educação e a comunicação, que possam ser utilizados em programas de formação continuada para professores e alunos do sistema prisional. Para isso, foi feito um mapeamento dos periódicos eletrônicos científicos disponíveis na web que disponibilizem acesso livre.

d) Palavras-chave (3 a 5): normalmente são palavras que representam a essência de seu trabalho. Há uma tendência atual que entende que elas deveriam ser diferentes das presentes no título, para ampliar o leque de possibilidades de seu artigo ser encontrado por outros, em caso de uma pesquisa por palavras. Entenda que a quantidade é definida pelos organizadores do evento ou do periódico.

Exemplos:

Palavras-chave: revistas eletrônicas, internet, acesso livre.

e) Introdução: o que escrever em uma introdução? Bem, espera-se que você faça uma contextualização do tema, indicando o que será tratado no resumo expandido ou científico. Espera-se que, na introdução, o autor faça uma explanação de como o tema está sendo tratado na literatura e/ou nos espaços profissionais, relacionando, se possível, com outras pesquisas disponíveis. De qualquer forma, espera-se que você apresente a importância de seu artigo para a área (no caso, para a sua formação) e indique qual a relevância de seu estudar esse assunto.

O verbo deve estar no tempo presente.

Exemplo:

A principal forma encontrada para a divulgação do conheci-mento científico foram as revistas científicas. Como coloca André

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UNITINS • PEDAGOGIA • 8º PERÍODO 385

citado por Kuramoto (2006, p. 91) “no século XVII, nascem as revistas científicas, consideradas a base do sistema moderno de comunicação científica”. Para se adquirir essas revistas, eram mantidas assinaturas das mesmas, porém as taxas de assinatura eram muito altas.

Com o advento da internet, viu-se a possibilidade de superar o problema do acesso aos periódicos. As revistas se tornaram também eletrônicas, sendo denominadas “periódicos eletrô-nicos”. Esses periódicos, disponibilizados via rede, podiam ser acessados on-line. Porém o problema do acesso ainda persistiu, pois o acesso aos documentos não era aberto a todos, sendo necessário um custo para isso.

Somente a partir dos anos 90, com o movimento Open Archives Iniciative (OAI), o problema começou a encontrar supe-ração. O Open Archives foi lançado em julho de 1999, na Convenção de Santa Fé e, segundo o autor Kuramoto (2006, p. 96), “o movimento se baseia no princípio de que todos os resul-tados de pesquisas financiadas com recursos públicos devem ser de livre acesso”. Porém levanta-se outra questão, a da qualidade da informação contida nos mesmos. Muitos editores veem esses periódicos com certa desconfiança, ainda mais quando se trata de periódicos no modelo Open Access. Na internet, determinadas ações podem ser efetuadas sem muito esforço e as informações podem ser alteradas facilmente, como coloca Pôrto (2008, p. 7):

-lização da informação é confundida com

podemos atribuir à internet a culpabili-dade pela falsificação “forjar resultados” tem sido mais fácil e rápido.

A principal forma de avaliação da informação científica do periódico é por meio do peer review, ou seja, o sistema de avaliação por pares. Nesse sistema, o pesquisador envia seu trabalho para que seja avaliado por especialistas e, somente após essa análise, poderá ser publicado. A questão principal da comu-nidade científica é se os periódicos eletrônicos passam ou não por esse sistema. Porém isso pode ser apenas uma resistência ao novo por parte dos pesquisadores, pois, segundo Kuramoto (2006), essas publicações em meios eletrônicos de livre acesso seguem os mesmos padrões das publicações impressas e possuem espe-cialistas que as avaliam e um comitê editorial. O autor coloca, também, que alguns provedores de dados separam os repositó-rios que contêm trabalhos avaliados pelo peer review do reposi-tório de trabalhos que ainda não foram avaliados.

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f) Procedimentos metodológicos: aqui você descreverá quais foram os métodos ou estratégias de pesquisa utilizados por você. Lembre-se de que cada estratégia ou método é diferentemente utilizado, conforme os objetivos. Atente que esses procedimentos foram utilizados para recolher informações, havendo necessidade de descrevê-los. É impor-tante que você identifique os sujeitos da pesquisa, descrevendo os. Também faz se necessário indicar qual(is) instrumento(s) foi(ram) utilizado(s) na pesquisa.

O verbo deverá estar no tempo pretérito.

Exemplo:

A metodologia baseia-se no mapeamento de periódicos eletrô-nicos científicos presentes na web, nas áreas de humanas e sociais aplicadas e na classificação de padrões de divulgação em perió-dicos eletrônicos. E, também, na construção de um modelo para classificar os periódicos de acesso livre, considerando se a sua cientificidade. Para a análise, buscou-se o método que melhor que se encaixasse nessa proposta, sendo escolhida a Metodologia de Análise e Avaliação de Recursos Digitais On-line de Lluís Codina.

Essa metodologia foi desenvolvida por Lluís Codina e procura analisar e avaliar a organização, a representação e o acesso à informação, à ergonomia e à adequação ao meio digital dos recursos digitais on-line.

A análise e a avaliação são feitas por meio de uma tabela que contém parâmetros e indicadores sobre o recurso digital. Os parâmetros são as dimensões dos recursos que serão analisadas e os indicadores são os elementos que possibilitam determinar a qualidade dos parâmetros. Por isso cada parâmetro possui vários indicadores. Os parâmetros respondem à questão “o que queremos avaliar?” e os indicadores, a questão “como avaliar esse parâmetro?” (CODINA, 2003).

A pontuação pode ser feita de acordo com o binário 0 1 (bom/mal) e ainda em frações como 0 3 em que (0) erro grave; (1) erro; (2) correto, mas pode melhorar; (3) excelente. Os parâ-metros são agrupados pelas seguintes seções: conteúdo, para uma análise do conteúdo do recurso; navegação ou micronavegação, para uma análise da navegação dentro do próprio recurso, ou seja, a organização e a estrutura da publicação; visibilidade ou macronavegação, que analisa o encaixe do recurso dentro do

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contexto global na web; e a usabilidade, que analisa a facilidade de acesso as atividades ou transações que a publicação digi- tal oferece.

Essa análise é dividida em duas fases, a primeira denomina se identificação e a segunda, exploração sistemática. Na primeira, são utilizadas as seções de autoria e identificam se o tema e os objetivos do recurso. Na segunda, foi feita a análise seguindo a ordem da tabela de parâmetros e indicadores.

g) Resultados e discussões: os resultados devem ser redigidos de forma descritiva, podendo haver a presença de tabelas, gráficos ou quadros, para exemplificar os argumentos. Quando ocorrem, cada um deles deve ter uma explicação/aplicação, bem como estar nomeados e nume-rados. É importante esclarecer que, embora você tenha muitas coisas a apresentar, somente os dados mais relevantes devem constar nesta seção. Você deverá apresentar todos os resultados (mais relevantes) que você encontrou.

O verbo deverá estar no tempo presente.

Exemplo:

O trabalho iniciou-se com a busca por repositórios digitais, ou seja, sítios web que disponibilizam periódicos eletrônicos dando preferência aos periódicos no modelo Open Access. Foram desta-cados aqueles relacionados às áreas de comunicação e educação.

Entre os sítios pesquisados, pode-se citar o IBICT (Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia), que foi criado com a missão de contribuir para o desenvolvimento científico do país por meio da disseminação da produção científica brasileira. O instituto apoia e estimula o modelo open access, por isso lançou o mani-festo brasileiro de apoio ao acesso livre à informação científica e oferece em seu sítio inúmeras bases de dados, além de biblioteca de teses e dissertações, comutação bibliográfica, entre outros. Como periódico open access oferecido pelo sítio, podemos citar a revista Ciência da Informação que possui publicação quadri-mestral e oferece conteúdo para setores como educação, cultura e pesquisa, informática, tecnologia da informação. Nas políticas

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editoriais, conta com especialistas que promovem a avaliação por pares, possui normas para publicação e política de acesso livre.

Podemos citar também o portal Scielo (Biblioteca Científica Eletrônica em Linha), que é um modelo para a publicação de peri-ódicos científicos on-line. O portal busca suprir as necessidades de comunicação científica entre os países em desenvolvimento, em especial a América Latina e Caribe. O seu objetivo é contribuir para o desenvolvimento da pesquisa científica latino-americana, assim o Scielo apoia o modelo open access. Tem, também, crité-rios para a publicação dos periódicos e para a permanência dos mesmos no portal, entre esses critérios está o do peer review ou avaliação por pares.

Para essa análise, foram selecionados 19 periódicos eletrô-nicos no modelo open access, especificamente das áreas de Comunicação e Educação dos sites Scielo, IBICT e de Universidades Federais. Utilizando a Metodologia de Análise e Avaliação de Recursos Digitais On-Line de Lluís Codina, cada periódico foi avaliado de acordo com a tabela de análise desenvolvida pelo autor. A pontuação foi alternada entre binária 0 1 (mal/bom) e a pontuação em frações 0 3 (0) erro grave; (1) erro; (2) correto, mas pode melhorar; (3) excelente. A seguir, podemos ver a análise de um dos principais indicadores da tabela denominado autoria do parâmetro autoria/fonte.

Vê-se claramente que a maioria dos periódicos apresenta responsabilidade intelectual e organismo, ou equipe responsável pela publicação, além de informações sobre a instituição respon-sável. Cada periódico possui uma seção especial para esse fim, e alguns apresentaram na página principal do recurso. Porém um deles apresentou uma falha na localização dessas informações. Apesar de apresentar a autoria, o contexto de localização dessa informação não estava facilmente acessível.

0%0%

5%

95%

Erro grave Correto, mas pode melhorar

ExcelenteErro

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Com a utilização da tabela do professor Lluís Codina, cada detalhe do recurso pôde ser analisado e a maioria apresentou resultados excelentes.

h) Conclusões: neste tópico, você apresentará os comentários que são significativos, em face de seus objetivos de pesquisa. Impressões pessoais são admitidas, além de indicações de novas pesquisas etc. É importante que as conclusões não sejam muito longas, evitando se especulações.

O verbo deverá estar no tempo presente.

Exemplo:

As revistas seguem um padrão, um modelo de sistema, princi-palmente nas revistas do portal IBICT e do portal Scielo. Os artigos apresentaram rigor nas informações, pois possuem citações, refe-rências, dados numéricos e factuais. O rigor nas informações é importante para comprovar a cientificidade dos artigos. Conclui -se, portanto, que os periódicos eletrônicos seguem um padrão tão rigoroso quanto os impressos, apresentando peer review e elementos de cientificidade.

i) Referências: nesta seção, você deverá indicar as obras que foram citadas em seu trabalho. Lembre-se, só indique as obras que foram usadas no resumo. Como devo ordená-las? Na Unitins, por exemplo, seguimos a orientação proveniente do Manual para Elaboração de Material Impresso:

Todas as obras citadas, direta ou indiretamente, devem estar presentes nas referências.

O título das obras deve ser negritado.

Subtítulo (a partir dos dois pontos até o ponto final): sem negrito.

Ponto final depois do título da obra: sem negrito.

Espaçamento entre linhas: simples (1,0), sem espaço entre uma referência e outra.

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Obras com mais de três autores: após a indicação do nome completo do primeiro autor, deve seguir a expressão “et al.”.

Entre o ponto após o número da edição e a abreviatura “ed.”: deixar um espaço.

Sítios da internet devem constar apenas nas referências e não no corpo do texto. No texto, assinalar apenas autor, ano e página.

Os endereços dos sítios, nas referências, devem vir entre < >. Exemplo: Disponível em: <www.inep.gov.br>. Acesso em: 13 out. 2008.

A abreviatura de volume é v. (letra minúscula).

A abreviatura de número é n. e não n.º.

Em caso de dúvida para listar as referências, consulte a Norma da ABNT NBR 6023.

Exemplo:

CODINA, L. Metodología de análisis y evaluación de recursos digitales en línea. Barcelona: COBDC, 2003. Documento repro-grafado. v. 6.

KURAMOTO, H. Informação científica: proposta de um novo modelo para o Brasil. Revista Ciência da Informação, Brasília, v. 35, n. 2, p. 91, 102, maio/ago., 2006.

PÔRTO JR., F. G. R. Abrindo a caixa de Pandora: problemati-zando os periódicos eletrônicos. In: FRANÇA, G.; LABANCA, M. R. C. P. (Org.). Práticas em EaD: temas emergentes. Palmas: UNITINS, 2008. p. 1 14. , v. 1.

Saiba mais

Maria Bernardete Martins Alves e Susana Margareth Arruda, em seu texto Como fazer referências: bibliográficas, eletrônicas e demais formas de documentos, apresentam elementos necessários para o aprimoramento de seu resumo. O texto está disponível no sítio <http://inforum.insite.com.br/arquivos/864/Como_fazer_referencias_bobliograficas.doc>.

O que vimos nesta segunda parte do capítulo 12 é uma sugestão de como proceder. Com o auxílio das professoras e das aulas, você verá outras sugestões de trabalho e autores pertinentes.

CAPÍTULO 12 • ESTÁGIO SUPERVISIONADO VII

UNITINS • PEDAGOGIA • 8º PERÍODO 391

Neste capítulo, vimos que a atuação do pedagogo deve ter uma base cien-tífica e que a produção dos saberes pedagógicos é legítima e historicamente legitimada pela própria construção social, mesmo que essa se modifique ao longo do tempo.

Referências

FREIRE, P. Pedagogia da tolerância. São Paulo: Unesp, 2004.

HOUSSAYE, J. Pedagogia: justiça para uma causa perdida? In: HOUSSAYE, J. Manifesto a favor dos pedagogos. Porto Alegre: Artmed, 2004.

______ et. al. Manifesto a favor dos pedagogos. Porto Alegre: Artmed, 2004.

MARQUES, M. O. Pedagogia: a ciência do educador. Ijuí: Unijuí, 1990.

Anotações