Construir o PSOL socialista democrático e de massas

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  • 7/29/2019 Construir o PSOL socialista democrtico e de massas

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    Construir o PSOL socialista, democrtico e de massas

    Nota do Coletivo Rosa Zumbi s/aos militantes do PSOL

    1. O Coletivo Rosa Zumbi considera que o PSOL tem cumprido um importante papel nareorganizao da esquerda no Brasil. O PSOL, no entanto, tem potencial para avanar mais. Para

    tanto, preciso que continuemos afirmando o seu carter socialista, que ele funcione de forma

    democrtica e que se prepare para se tornar um partido de massas, formador e educador dos

    lutadores e lutadoras sociais, referncia e apoio para os movimentos sociais, sem abrir mo da

    disputa institucional.

    2. Todavia, desde sua fundao, o PSOL sofre tenses que o afastam da realizao de suaspotencialidades e criam uma instabilidade permanente, ameaando a sua viabilidade como um

    partido democrtico, socialista e de massas. O PSOL sofre, por um lado, presses para um

    pragmatismo eleitoral que concentra os objetivos do partido na ocupao de espaos

    institucionais. Por outro lado, h presses sectrias e vanguardistas que afastam o partido dos

    lutadores sociais e do povo trabalhador. A superao dessas tenses acontecer se o PSOL tiver

    uma ao que articule e equilibre a ao institucional e a atuao nos movimentos sociais numa

    disputa contra a ordem por dentro e por fora dela. Para tanto, necessrio um programa radical

    que dialogue com o nvel de conscincia popular, capaz de incidir realmente na luta de classes e

    de acumular foras para a revoluo socialista brasileira.

    3. Passados oito anos de sua legalizao, o PSOL permanece com um frgil funcionamento interno.Suas instncias decisrias carecem de funcionamento regular, democrtico e transparente e avida partidria, com poucas excees, ainda escassa. A superao dessas debilidades

    indispensvel para que sigamos avanando. Um dos principais obstculos consolidao do

    PSOL a luta sectria que se desenvolve no interior do partido, cuja dinmica extrapola em

    muito as fronteiras do que pode ser considerada uma disputa fraterna entre posies diferentes

    no bojo de um projeto comum. A lgica de autoconstruo das correntes que hoje prevalece no

    PSOL esvazia o partido, desestabiliza a sua estrutura e enviesa os debates e balanos.

    4. Para contornar a luta interna nociva e dar vitalidade ao partido, consideramos fundamental ofortalecimento das estruturas de base e de direo e o investimento nos setoriais. Os ncleos

    devem ser incentivados. As instncias de direo devem ter funcionamento regular. A

    experincia do funcionamento dos setoriais no PSOL, a exemplo de Negros e Negras, Mulheres,

    LGBTT, Sade e outros, extremamente positiva, e poderia ser ainda mais se houvesse maior

    empenho em sua construo e legitimao por parte do prprio partido. Os setoriais devem

    funcionar como espao de formao de nossos militantes, de formulao programtica e de

    convvio com posies internas diferentes, mas que se predispem a uma unidade na

    diversidade visando uma atuao unificada nos movimentos sociais. A lgica da

    autoconstruo das correntes e da disputa por eventuais maiorias no pode presidir a dinmica

    partidria. preciso avanar para um funcionamento em que as posies estejam de fato emdebate para que snteses partidrias sejam produzidas.

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    5. O projeto partidrio do Coletivo Rosa Zumbi no est contemplado em nenhum dos dois blocosde correntes que se apresentaram nas ltimas reunies das instncias nacionais do PSOL.

    Ambos os blocos articulam-se em funo da lgica da luta interna e no correspondem, nem de

    um lado nem de outro, a uma unidade de concepo de partido. Assim, o Coletivo Rosa Zumbi

    defender sua poltica de forma autnoma nas instncias partidrias de que participa, semenquadramentos automticos e estando ao lado de posies prximas ou iguais as nossas.

    6. O saldo das eleies de 2012 reflete tanto as potencialidades como as fragilidades do PSOL. Deum lado, as eleies foram um momento de inegvel avano para o partido. O PSOL ampliou a

    sua votao, alargou sua bancada de vereadores, elegeu seus primeiros prefeitos, aproximou

    novos militantes e se fortaleceu enquanto referncia de esquerda para a populao.

    7. Ainda que com diferentes intensidades, o PSOL obteve um bom desempenho em municpioscom caractersticas bastante diversas: houve bons resultados em todas as regies do pas, em

    cidades grandes e pequenas, em capitais e em cidades do interior. Esse saldo positivo nacionaldo processo eleitoral no pode ser creditado exclusivamente a nenhuma corrente ou um setor

    especfico: trata-se de uma vitria coletiva, que demonstra a existncia de espao para a poltica

    do PSOL na atual conjuntura brasileira. Por outro lado, tanto o prprio desempenho eleitoral,

    quanto o aproveitamento deste para uma acumulao de foras militantes no partido, foram

    limitados e prejudicados pelas nossas debilidades.

    8. Problemas como candidaturas sem compromisso com a construo partidria, campanhas paravereador que se concentravam em disputar entre si, atropelos na distribuio do tempo de TV,

    disputa interna travada por meio de rgos de imprensa e ausncia de espaos partidrios para

    insero dos contatos que se aproximaram durante a eleio, se repetiram mesmo em

    municpios onde o balano eleitoral foi o mais positivo. Isso nos permite afirmar que nossas

    conquistas poderiam ser ainda maiores com a correo desses erros.

    9. Alm disso, preciso reconhecer que o partido cometeu equvocos polticos no processoeleitoral que reduziram os aspectos positivos de nossas campanhas. Entre as capitais, o caso

    mais grave ocorreu no municpio de Macap, onde a candidatura do PSOL recebeu no segundo

    turno apoio de setores da direita tradicional, sem que ficassem claros os termos dessa adeso.

    Equvocos semelhantes, na campanha de 2010, j haviam motivado uma advertncia ao

    diretrio estadual desse estado. A direo nacional do PSOL deveria ter promovido algumasano para marcar a sua discordncia com a linha poltica desenvolvida em Macap. As razes

    da luta interna, no entanto, falaram mais alto e no houve sano alguma.

    10.O segundo turno em Belm tambm teve contradies, no entanto, elas foram de natureza eintensidade diferentes das de Macap. A forma como o apoio do PT e do governo federal

    apareceu na campanha afetou a linha programtica do PSOL e deu chancela a polticas do

    governo das quais discordamos e combatemos no parlamento e no movimento social. Outra

    ordem de erros se refere ao financiamento de campanha. As candidaturas de Belm, do Rio de

    Janeiro e, novamente, de Porto Alegre, receberam doaes de empresas, o que fragiliza a nossa

    posio de denncia do financiamento privado como forma de manuteno da hegemonia

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    eleitoral burguesa e porta de entrada para a corrupo, alm de representar uma violao das

    resolues partidrias.

    11.Problemas semelhantes ou at mais graves ocorreram tambm em municpios menores. Anosso ver, a direo nacional, ao analisar esses equvocos, no os abordou de forma rigorosa o

    suficiente. O partido deve voltar a debater essas questes com a profundidade e a serenidadenecessrias para que esses erros no mais se repitam.

    12.Em nossa viso, a candidatura presidencial do PSOL em 2014 deve reunir a capacidade deunificar a militncia partidria e de se apresentar como a alternativa de esquerda no Brasil. Para

    tanto, preciso expressar um duro combate direita tradicional. A candidatura do PSOL deve

    consolidar a linha de oposio programtica de esquerda ao governo federal num discurso

    radicalmente distinto da oposio de direita e que seja capaz de dialogar e de disputar os

    setores de esquerda e os lutadores sociais que ainda se referenciam no projeto petista. H

    muitos companheiros capazes de cumprir essa tarefa, mas no h elementos ainda paradefinirmos o nome de nosso candidato. O candidato do PSOL deve ser escolhido

    democraticamente pela militncia do partido, processo que deve ser precedido por amplo

    debate em torno do perfil e do programa que a candidatura deve representar. Portanto,

    consideramos precipitada neste momento a apresentao de pr-candidaturas em veculos de

    mdia e espaos externos ao partido, como j vem ocorrendo. Ademais, importante que o

    nome escolhido seja mais que o representante de uma eventual maioria, mas que tenha a

    capacidade de ser a expresso de todo o partido.

    13.O partido poltico que est sendo construdo por Marina Silva essencialmente conservador, emque pese a retrica nebulosa que emprega para tentar atrair setores progressistas. O PSOL no

    pode repetir os equvocos de 2010, quando tardou em definir-se por uma candidatura prpria e

    tolerou que figuras pblicas do partido continuassem a apoiar Marina durante toda a campanha.

    preciso reforar a resoluo de lanar candidatura prpria em 2014 com um posicionamento

    pblico e oficial do partido, que deixe claro que o PSOL no apoiar Marina. Da mesma forma, o

    partido no deve aceitar que sua estrutura partidria e mandatos parlamentares conquistados

    coletivamente sejam utilizados para a construo de outro partido, cujo projeto de sociedade

    difere radicalmente do nosso.

    01 de maro de 2013