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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO
CONSUMO ALIMENTAR DE FERRO E ANEMIA FERROPRIVA
EM PRÉ-ESCOLARES DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DE SANTO
ANTÃO, PE
FLÁVIA NUNES SALVIANO
RECIFE
2009
2
FLÁVIA NUNES SALVIANO
CONSUMO ALIMENTAR DE FERRO E ANEMIA FERROPRIVA
EM PRÉ-ESCOLARES DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DE SANTO
ANTÃO, PE
ORIENTADORA: Profª Drª. Florisbela A.C.S. Campos
CO-ORIENTADORA: Profª Drª. Raquel de Araújo Santana
RECIFE
2009
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Nutrição da Universidade
Federal de Pernambuco, UFPE como parte dos
requisitos para obtenção do Título de Mestre. Área
de concentração: Bases Experimentais.
3
Salviano, Flávia Nunes
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares do município de Vitória de Santo Antão, PE / Flávia Nunes Salviano. – Recife: O Autor, 2009.
96 folhas: il., fig., tab., gráf., quadro. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de
Pernambuco. CCS. Nutrição, 2009.
Inclui bibliografia e anexos. 1. Anemia ferropriva . I. Título.
616.155 CDU (2.ed.) UFPE 616.152 CDD (22.ed.) CCS2009-080
4
5
ORIENTADORA:
Florisbela A.C.S. Campos
Professora Associada II do Departamento de Nutrição do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco
Doutora em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco
CO-ORIENTADORA:
Raquel de Araújo Santana
Professora Adjunto II do Departamento de Nutrição do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco
Doutora em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco
6
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Marcos e Alba, pelas lutas que empreenderam, nunca medindo esforços, tornar
possível todos os meus sonhos;
Ao meu irmão, Felipe, pela especial atenção e preocupação para comigo;
Ao meu esposo, Iran Luiz, pela compreensão, incentivo e paciência nas diferentes etapas deste
trabalho;
Ao meu sobrinho e afilhado, Igor Luiz, que me ensina constantemente que o mais importante
na vida é ser feliz.
7
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, a Deus, que me deu saúde, perseverança, coragem para lutar pelos meus objetivos; e pela benção diária em minha vida; Aos meus amados pais: Marcos Antônio Salviano e Alba Nunes Salviano, que são o meu alicerce, pelo apoio, carinho e amor, que abdicaram de seus sonhos para que os meus se tornassem realidade, por sempre acreditarem em mim; Ao meu irmão Felipe Nunes Salviano por sempre estar presente na minha vida; Ao meu esposo, Iran Luiz Leão Brasil, por toda compreensão e apoio em todos os momentos de angustia e desespero, por sempre estar junto quando preciso e vibrar com minhas vitórias como se fossem suas. Ao Profº Dr. Hernando Flores o meu sincero obrigado pelos preciosos conhecimentos adquiridos desde a época de graduação, um exemplo a ser seguido; Ao Profª Drª. Florisbela A.C.S. Campos pela orientação, confiança, estímulo e extrema competência com que sempre me ensinou; À Profª Drª. Raquel Araújo Santana e Luiz Miguel Picelli pela dedicada participação inclusive de campo, possibilitando a realização deste trabalho o tempo todo; À Profª Ana Patrícia Siqueira Tavares Falcão pelo incentivo, apoio e disponibilidade na realização dessa dissertação; À Necy Nascimento e Isinete que tanto fizeram por mim e se mostraram sempre tão prestativas na resolução das burocracias necessárias para finalização do mestrado; Às amigas nutricionistas e mestres: Eternas residentes do HC, e em especial Eduila Couto, Sílvia Alves, Wanessa Albuquerque que me apoiaram para que este sonho se tornasse realidade; Às minhas amigas de mestrado: Denise Sandrelly, Patrícia Brazil, Magdala Azevedo, Janaína Almeida e Simone Fraga por tantos momentos bons e sofridos vividos durante o mestrado e sonhos compartilhados nesses dois anos; À toda a equipe do Centro Acadêmico de Vitória, CAV - UFPE, Secretaria de Saúde e de Educação da Prefeitura de Vitória de Santo Antão, diretoras, professoras, e demais funcionários das escolas pesquisadas, que permitiram e colaboraram sempre na discussão e coleta de dados necessários para a realização da pesquisa; As estagiárias do PIBIC e alunos do CAV, muito obrigada pelo auxílio na realização da pesquisa; À Pós-graduação em Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco, pela qualidade do ensino oferecido; A todos os professores que compõem o quadro curricular da pós-graduação em Nutrição, pelos ensinamentos necessários para elaboração dessa dissertação; Por fim, agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração deste trabalho.
8
APRESENTAÇÃO
A dissertação foi constituída por um capítulo de revisão da literatura e dois artigos originais. A
revisão da literatura aborda o metabolismo do ferro e sua importância no organismo, ressaltando
suas principais fontes alimentares e os fatores que interferem na sua biodisponibilidade, bem
como as conseqüências do consumo inadequado do mineral. Na seqüência, estão apresentados
dois artigos originais; o primeiro artigo intilulado: “Concentração de hemoglobina, estado
nutricional e anemia em crianças do município de Vitória de Santo Antão, PE, Brasil:
Associação entre consumo de ferro e sua biodisponibilidade”, descreve o estado nutricional, o
consumo quantitativo e qualitativo de ferro na população de crianças de 2 a 6 anos das escolas
municipais de Vitória, bem como de seus facilitadores e inibidores, demonstrando déficit na
ingestão de ferro nessa população. O segundo artigo: “Concentração de hemoglobina e fatores
associados à ocorrência de anemia em crianças do município de Vitória de Santo Antão, PE,
Brasil”, identifica determinantes sociais e biológicos que se associam a concentrações menores
ou maiores de hemoglobina na população de crianças de 2 a 6 anos de escolas municipais de
Vitória; a importância de se considerar tais determinantes, tanto no programa de combate as
carências nutricionais, quanto no planejamento da intervenção no consumo de ferro
biodisponível, com vistas à prevenção da anemia ferropriva na população em geral.
9
RESUMO
Introdução: A anemia ferropriva resulta da interação de múltiplos fatores etiológicos que levam
a um desequilíbrio entre as necessidades do organismo e a quantidade absorvida de ferro. A
adequação dietética dos micronutrientes deve ser uma preocupação constante durante a infância.
Objetivo: Este estudo teve como objetivo avaliar a associação entre a concentração de
hemoglobina e consumo de ferro biodisponível com variáveis sócio-econômicas e fatores de
risco para anemia. Métodos: Estudo transversal descritivo realizado no período de abril a
julho/2008 em escolas municipais de Vitória de Santo Antão, PE. A amostra constou de 292
crianças, ambos os sexos, entre 2 a 6 anos, nas quais foram realizados avaliação antropométrica,
hemograma completo, inquérito dietético com adequação estimada de acordo com as Dietary
Reference Intakes – DRI’s. Os marcadores de risco foram: características sócio-econômicas,
peso ao nascer, aleitamento materno exclusivo, introdução de alimentação complementar e
presença de morbidades. Resultados: A prevalência de anemia foi de 16,5%. Não foi observada
associação estatisticamente significativa entre a anemia, sexo e estado nutricional. O percentual
de inadequação do consumo de ferro (84,4%) foi elevado em todas as faixas etárias, e o
consumo de vitamina C apresentou 90,6% acima da necessidade média estimada (EAR).
Quanto à freqüência de consumo alimentar e anemia, foram significantes para os alimentos: ovo
(p = 0,023) e acerola (p= 0,019).Verificou-se associação entre o consumo de vitamina C e
níveis de hemoglobina (p = 0,026) e de ferro total e hemoglobina corpuscular média – HCM (p
= 0,037). Verificou-se associação estatisticamente significante (p = 0,000) entre a presença de
anemia e as características sócio-econômicas, peso ao nascer, aleitamento materno exclusivo,
idade do desmame e presença de morbidades prévias. Conclusão: Os resultados reforçam a
importância de se conhecer o consumo alimentar das crianças e fatores determinantes da anemia
no país para estabelecer melhor a sua associação com a ocorrência da anemia e, dessa maneira,
subsidiar as políticas de saúde e nutrição que visam solucionar o problema.
Palavras Chaves: Anemia ferropriva; adequação dietética, estado nutricional, fatores sócio-
econômicos.
10
ABSTRACT
Introduction: Iron-deficiency anemia results in the interaction of multiple etiological factors which lead
to an unbalance between the necessity of the organism and the quantity of iron absorbed. The adjustment
of dietary in micronutrients should be a constant concern during childhood. Objective: The objective of
this trial is to evaluate the association between hemoglobin concentration and bioavailability intake iron
in social economic environment and risk factor to anemia. Method: A transversal descriptive trial
analyzed anthropometric evaluation, blood count , dietary. It was carried out in 292 children, male and
female, age from 2 to 6 years old among public school in Vitoria de Santo Antao from April to July/2008
according to Dietary Reference Intakes – DRI’s. The risk markers were: social economic characteristics,
born weight, nursing, nursing pattern, supplementary nourishment, nutritional condition e morbidity.
Results: The predominance of anemia was 16,5%. It wasn’t observed a statistically significant between
anemia, sex or nutritional condition. The percentage of inadequate consumption of iron (84,4%) was
high in all age group, and vitamin C consumption showed 90,6% above the estimated average rate
(EAR). As for nutritious frequency of consumption and anemia, were significant to some food: egg
(p=0,023 and acerola (p= 0,019). It was analyzed the association between intake of Vitamin C e levels
of hemoglobin (p=0,026) and iron total and mean corpuscular hemoglobin - MCH (p= 0,037). The intake
of proteins showed correlation with the intake of iron total (Sperman=0,55) and folate (Sperman=0,3). It
was verified a statistically significant association between anemia and social economic characteristics,
born weight, nursing, weaning and morbidity. Although, the linear regression of the social economic
variable explain 1%risk to show anemia and, children variable showed a contribution of 2%.
Conclusion: All the results showed in this trial reinforce the importance of knowing the nutritious
quality of the children in the country and to better make its comparison with anemia and, that way,it
will help the health and nutrition politics which aim at solving the problem.
Key words: iron-deficiency anemia, dietary, social economic factors.
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO _______________________________________________________________ 11
O ferro e sua função corporal_________________________________________________ 12
Necessidades e recomendações _______________________________________________ 12
Fontes Alimentares ________________________________________________________ 14
Absorção, transporte, armazemamento _________________________________________ 14
Excreção ________________________________________________________ _______16
Etiologia da anemia ferropriva_______________________________________________16
Sinais Clínicos e aspectos dagnósticos_______________________________ _________18
Prevenção e tratamento_________________________________________________ ___19
JUSTIFICATIVA ______________________________________________________________ 24
OBJETIVOS _________________________________________________________________ 25
Geral____________________________________________________________________ 25
Específicos_______________________________________________________________ 25
METODOLOGIA ______________________________________________________________ 26
REFERÊNCIAS _______________________________________________________________ 34
ARTIGO I___________________________________________________________________ 43
Resumo __________________________________________________________________ 45
Abstract__________________________________________________________________ 46
Introdução ________________________________________________________________ 47
Métodos _________________________________________________________________ 48
Resultados________________________________________________________________ 50
Discussão ________________________________________________________________ 55
Referências _______________________________________________________________ 61
ARTIGO II __________________________________________________________________ 69
Resumo __________________________________________________________________ 71
Abstract _________________________________________________________________ 72
Introdução _______________________________________________________________ 73
Métodos _________________________________________________________________ 74
Resultados _______________________________________________________________ 76
Discussão ________________________________________________________________ 80
Referências_______________________________________________________________ 85
CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________________________ 91
ANEXOS ___________________________________________________________________ 92
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
12
INTRODUÇÃO
A deficiência de ferro é considerada uma das doenças nutricionais de maior prevalência,
acometendo mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo, afetando principalmente
crianças e mulheres no ciclo reprodutivo (WHO, 2001; Bresani, 2007). Um grande número de
estudos tem demonstrado que em crianças, particularmente aquelas com idade inferior a cinco
anos, a Anemia por Deficiência de Ferro (ADF) está relacionada, entre outras alterações, a
baixos escores em testes de desenvolvimento mental e de atividade motora, um fator que pode
levar a seqüelas irreversíveis, mesmo na presença de tratamento adequado (De Angelis, 1993;
Lozoff, 1996; Bottoni, 1997; Bresani, 2007).
A deficiência de ferro é causada por um balanço negativo de ferro no organismo. Apesar
da aparente simplicidade do modelo, poucos avanços foram obtidos no que se refere à redução
da prevalência de ADF, provavelmente devido ao fato de que esse balanço negativo é o
resultado final de uma série de eventos biológicos, sociais, econômicos e culturais que agem
sobre a criança (Almeida, 2002).
Além disso, há evidências de uma visível correlação entre deficiência de ferro e anemia
e uma série de determinantes, tais como excesso de co-habitantes (Neuman, 2000), baixa
escolaridade da mãe, alta incidência de parto por cesárea (O.Donnell, 1997), aumento de
mortalidade materna e perinatal, prematuridade, baixo peso ao nascer e morbidade do infante
(Allen, 2000; Rasmussen, 2001; Stotzfus, 2003), baixa escolaridade do pai (Nestel, 1999), baixa
renda familiar (Romani, 1991, Neuman, 2000) e baixas condições socioeconômicas (Marx,
1997). Assim, é fundamental que se entenda os fatores de riscos de cada população para que se
possa oferecer medidas eficazes de prevenção e controle.
A anemia por deficiência de ferro resulta da combinação de múltiplos fatores
etiológicos. Entre as causas imediatas dessa carência destacam-se a baixa ingestão de alimentos
fontes de ferro, a baixa absorção do ferro ingerido e as perdas desse micronutriente devido a
infecções parasitárias. No Brasil, a grande maioria dos estudos sobre anemia se refere menores
de 2 anos e gestantes. Há uma grande lacuna particularmente no que se refere à prevalência da
anemia em pré-escolares e aos fatores de risco associados a essa deficiência nutricional nesse
grupo etário.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
13
O FERRO E SUAS FUNÇÕES METABÓLICAS
O ferro foi reconhecido pela primeira vez como um nutriente essencial para animais há
mais de um século. Apesar de mais informações estarem disponíveis a respeito do ferro do que
sobre qualquer outro oligomineral, muitas questões e problemas não resolvidos permanecem
(Garcia, 1998; Pereira, 2004).
Suas funções resultam de sua habilidade de participar das reações de oxidação e
redução. Quimicamente o ferro é um elemento altamente reativo que pode reagir com o
oxigênio para formar intermediários com potencial de danificar membranas celulares e degradar
o DNA, por isso o ferro precisa estar firmemente ligado a proteínas para impedir esses efeitos
deletérios (Anderson, 2002).
O ferro pode ser encontrado sob 2 formas: ferrosa (Fe++) e férrica (Fe+++) e seu
conteúdo corpóreo é de 3 a 5g. A maior parte desempenha funções metabólicas e oxidativas
(70% a 80%) e outra encontra-se sob a forma de armazenamento como ferritina e hemossiderina
no fígado, baço e medula óssea (20% a 30%). Mais de 65% do ferro corporal encontra-se na
hemoglobina, cuja principal função é o transporte de oxigênio e gás carbônico. Na
hemoglobina, um átomo de ferro divalente encontra-se no centro do núcleo tetrapirrólico
(protoporfirina IX), formando-se o núcleo heme. O ferro, portanto, é indispensável na formação
da hemoglobina (Bottoni, 1997; Queiroz, 2000).
Além disso, o ferro participa na composição da molécula de mioglobina do tecido
muscular e atua como cofator de reações enzimáticas no ciclo de Krebs (responsável pelo
metabolismo aeróbico dos tecidos) e na síntese das purinas, carnitina, colágeno e
neurotransmissores cerebrais. O ferro faz parte da composição das flavoproteínas e das heme
proteínas catalase e peroxidase (presentes nos eritrócitos e hepatócitos). Essas enzimas podem
ser apontadas como responsáveis pela redução do peróxido de H+ produzido no organismo
(Dallman, 1985; Bottoni, 1997; Dewayne, 2001).
Atualmente, crescem as evidências de que o ferro estaria envolvido nas reações de
conversão do beta-caroteno para a forma ativa da vitamina A, fato esse que explica, em parte, a
importante interação entre estes nutrientes (Queiroz, 2000).
NECESSIDADES E RECOMENDAÇÕES
Dada a grande importância do ferro, o organismo apresenta um mecanismo bastante
eficaz, no sentido de serem evitadas perdas deste micronutriente (Queiroz, 2000; Vieira, 2003).
Quando a oferta de ferro na dieta é inadequada, este é mobilizado dos componentes de
armazenamento para manter a produção de hemoglobina e outros compostos de ferro que
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
14
desempenham funções metabólicas. É provável que não haja alterações funcionais no
organismo enquanto essa produção não for prejudicada (De Angelis, 1992; Bottoni, 1997).
Dessa forma, seu teor é mantido dentro de determinados limites, com o objetivo de
adequar a sua utilização. Até mesmo o ferro proveniente das hemácias retiradas da circulação,
cuja meia vida é de 120 dias, é reaproveitado. As perdas diárias do ferro situam-se em torno de
1 mg em decorrência, principalmente, da descamação celular. Além disso, pequenas
quantidades são também perdidas pela urina, suor e fezes. Outras situações como menstruação,
lactação e parasitoses, podem determinar perdas adicionais de ferro (Queiroz, 2000).
O trato intestinal tem um papel muito importante no mecanismo de reciclagem do ferro
corporal, pois a absorção pode ser modificada conforme as necessidades do organismo, ou seja,
quando as reservas são baixas, ocorre aumento significativo da absorção e, contrariamente,
quando altas, sua inibição. Dessa maneira, em contraste com a maioria dos outros minerais, o
mecanismo primário para manter constante o ferro corporal é a regulação da quantidade de ferro
absorvida (Anderson, 2002).
Como as necessidades de ferro corporal estão relacionadas às diversas etapas da vida, o
grau de absorção intestinal de ferro também está vinculado à faixa etária (Dallman, 1985).
Levando-se em consideração esses aspectos, a Sociedade Brasileira de Alimentação e
Nutrição - SBAN (1995) estimou o potencial de absorção de ferro da dieta brasileira em 7%,
considerando a distribuição do mineral nas dietas habitualmente consumidas pela referida
população. As recomendações de ingestão de micronutrientes, denominadas Ingestão Dietética
de Referência (DRI – Dietary Reference Intakes), propostas pelo Institut Of Medicine (IOM),
inclui a recomendação dietética suficiente para cobrir 97 a 98% de indivíduos saudáveis, uma
ingestão diária de ferro que varia com a faixa etária e estágio fisiológico (IOM, 2002), como
mostra no quadro 1.
Quadro 1 – Recomendações diárias de ferro de acordo com a faixa etária
Estágio da vida RDA (mg/dia) 0 a 6 meses 0,27 7 a 12 meses 11
1 a 3 anos 7
Crianças 4 a 8 anos 10
9 a 13 anos 8 Masculino 14 a 18 ano 11
9 a 13 anos 8
Adolescentes
Feminino 14 a 18 anos 15 Masculino 10 Feminino 15 Gestantes 27
Adultos Nutrizes 15
Fonte: Institute of Medicina (IOM) - Dietary reference intakes (IOM, 2002)
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
15
FONTES ALIMENTARES
O ferro é encontrado em vários alimentos, porém a melhor fonte de ferro são os
alimentos de origem animal, como fígado, seguido por ostras, frutos do mar, rim coração, carne
magra, aves e peixe. Os feijões secos e hortaliças são as melhores fontes vegetais. Alguns outros
alimentos que fornecem ferro são as gemas de ovos, frutas secas, melaço escuro, pães de grão
integral e enriquecidos, vinhos e cereais. O milho é uma fonte notoriamente pobre em ferro. O
leite e seus derivados são quase desprovidos de ferro (Anderson, 2002; Vieira, 2003; Arruda,
2004).
Entretanto, o que precisa ser evidenciado é a capacidade do organismo em aproveitar
este ferro oferecido para exercer as suas mais diversas funções, o que determina a sua
biodisponibilidade (Souza, 1995).
ABSORÇÃO, TRANSPORTE E ARMAZENAMENTO.
A absorção do ferro no duodeno superior é dependente da natureza do complexo de
ferro presente no lúmen intestinal, assim como da presença de fatores facilitadores ou inibidores
na dieta, e de suas reservas orgânicas (Arruda, 2004; Pereira, 2004). Indivíduos com depleção
de ferro orgânico absorvem até 5 vezes mais ferro alimentar que indivíduos sem carência desse
mineral (Almeida, 2002).
Sabe-se que são duas as vias de absorção do ferro: uma heme e outra não heme. O ferro
ligado ao heme é proveniente de fontes de alimentos de origem animal (hemoglobina,
mioglobina e outras heme proteínas). Além de ser bem absorvido, devido a sua alta
biodisponibilidade, melhora a absorção do pool de ferro não heme (Queiroz, 2000).
O ferro não heme está presente em alimentos de origem vegetal, encontrando-se sob a
forma de complexo férrico, que durante a digestão é parcialmente reduzido para a forma
ferrosa, de mais fácil absorção, sob a ação do ácido clorídrico, bile e suco pancreático (Pereira,
2004).
Após o processo de digestão, a maior parte do ferro forma um depósito intraluminal,
sendo, portanto, sua absorção determinada por fatores facilitadores (ácido ascórbico, carnes em
geral, aminoácidos como lisina, cisteína e histidina, ácidos cítrico e succínico, açúcares, como a
frutose) ou inibidores (fitatos, presentes nos cereais; compostos fenólicos como flavanóides,
ácidos fenólicos, polifenóis e taninos, encontrados nos chás preto e mate, café e certos
refrigerantes; sais de cálcio e fósforo, encontrados em fontes protéicas lácteas; as fibras e a
proteína do ovo (Almeida, 2002; Arruda, 2004; Pereira, 2004).
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
16
Dessa forma, sempre deve ser levado em consideração que existem alimentos de alto
teor em ferro como o feijão que, pela presença de fitatos e fibras, apresenta baixa
biodisponibilidade. Em contrapartida, as carnes apresentam teores bem menores de ferro, porém
de alta biodisponibilidade. O leite também é outro interessante exemplo de biodisponibilidade,
pois o materno e o de vaca apresentam-se com praticamente o mesmo teor de ferro, porém o
materno mostra-se com alta absorção e o de vaca, em função dos teores de sais de cálcio e
fósforo, apresenta baixa biodisponibilidade (Devincenzi, 1999; Levy-Costa, 2004; Pereira,
2004).
O ferro heme e os íons de ferro livres são diretamente absorvidos pela formação de
vesículas nas membranas da borda em escova das células da mucosa intestinal e podem ser
armazenado no citoplasma do enterócito sob várias formas: conjugados a ligantes protéicos
(mobilferrina) ou ligantes não protéicos (AMP, ADP, aminoácidos), ou a ferritina que serve
como estoque intracelular de ferro e também é responsável pelo transporte do ferro no interior
do enterócito até a membrana basolateral da célula de absorção. Parte do ferro, assim
armazenado, pode retornar ao lúmen intestinal pelo processo de descamação natural das células
epiteliais (Pereira, 2004).
Por outro lado, o ferro não heme de fontes vegetais pode chegar ao duodeno de forma
solúvel (e ionizada) e sofrer o mesmo processo de absorção do ferro heme ou não, no qual a
ação do ácido clorídrico intensificaria a solubilidade e a mudança do ferro para o estado iônico,
na configuração de ferro férrico ou ferroso. O ferro no estado reduzido, ou seja, ferroso é
preferido para absorção. Conforme o quimo se move para a porção distal do duodeno, a adição
de secreções pancreáticas e duodenais aumenta o pH para 7,0, ponto no qual a maioria do ferro
férrico é precipitado, a menos que seja quelado. A etapa final da absorção ocorre na membrana
basolateral da célula de absorção, sendo o mesmo processo tanto para o ferro heme, como para
o não heme, onde, mediante um mecanismo de transporte ativo, os íons de ferro conjugados a
ferritina são levados ao sangue (Beard, 1997).
Na circulação, o ferro é transportado pela transferrina, glicoproteína de origem hepática,
onde cada molécula de transferrina liga-se a dois íons Fe+3.Dessa forma, a medida da saturação
da transferrina sérica (% da relação do ferro sérico e a capacidade total de ligação do ferro) é
considerada importante indicador do status de ferro no organismo. Para que ocorra o
aproveitamento do ferro pelo organismo, há necessidade de receptores específicos existentes em
grandes quantidades em tecidos que mais necessitam do ferro, como a medula, o fígado e a
placenta (Anderson, 2002). Normalmente, cerca de 70% a 90% do ferro é captado pela medula
óssea, para ser utilizado na produção da hemoglobina (Neuman, 2000). No fígado, baço e
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
17
medula, o ferro pode ser depositado, ligado a ferritina e à hemossiderina, até vinte vezes acima
de sua quantidade normal (Dallman, 1985).
Para o recém-nascido, as reservas de ferro formadas durante a gestação são
particularmente importantes, pois constituirão importante fonte de ferro endógeno que,
juntamente com a fonte exógena proveniente do leite materno, garantirão as necessidades de
ferro até os 4-6 meses de vida (Devincenzi, 1999; Queiroz, 2000).
Dessa forma, a dosagem de ferritina sérica é importante indicador dos estoques de ferro
do organismo, pois é diretamente proporcional à quantidade dos níveis de ferro corporal.
EXCREÇÃO
As perdas basais de ferro em humanos giram em torno de 1 mg/dia, que se dá
principalmente pelas fezes (cerca de 0,6 mg/dia), composta primariamente pelo ferro alimentar
não absorvido e ainda, em menor proporção, pelo ferro constituinte da bile e das células
esfoliadas do epitélio gastrointestinal; além disso, pequenas quantidades também são perdidas
através da pele, cabelo, urina e suor (cerca de 0,1 a 0,3 mg/dia). (De Angelis, 1992; Anderson,
2002).
Estima-se que a perda basal nos lactentes seja de, aproximadamente, 0,2 mg/dia e em
crianças de 2 a 6 anos de idade esses valores ficariam em torno de 0,3 mg/dia. Na faixa de 6 a
12 anos, as perdas se situam entre 0,3 e 0,5 mg de ferro por dia (FAO/WHO, 1988).
A perda sanguínea média por ciclo menstrual, na maioria das mulheres em período fértil,
é de 33 ml/mês, o que equivale a uma perda diária de 1,0 a 1,5 mg de ferro. No entanto,
algumas mulheres podem chegar a perder 2,1 mg/dia de ferro. A essas perdas devem se somar
às perdas fisiológicas basais do adulto. O método contraceptivo também é de grande
importância nesse processo, uma vez que o anticoncepcional oral pode reduzir em 50% as
perdas, enquanto o dispositivo intra-uterino tende a aumentar essas perdas, principalmente no
primeiro ano de uso (Hilman, 1991; Beard, 1997).
ETIOLOGIA DA ANEMIA FERROPRIVA
De modo geral, a anemia instala-se em conseqüência de perdas sangüíneas e/ou por
deficiência prolongada da ingestão de ferro alimentar, principalmente em períodos de maior
demanda, como crianças e adolescentes que apresentam acentuada velocidade de crescimento.
Além disso, a gestação e lactação também são períodos de maior demanda de ferro (Osório,
2002).
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
18
As causas de anemia ferropriva e deficiência de ferro podem ter início ainda no período
intra-uterino. As reservas fisiológicas de ferro (0,5g/kg no recém-nascido a termo) são formadas
no último trimestre de gestação e, juntamente com o ferro proveniente do leite materno,
sustentam a demanda do lactente até o sexto mês de vida. Podemos, portanto, concluir que a
prematuridade e o baixo peso ao nascer estão associados ao desmame precoce, causas mais
comuns que contribuem para a espoliação de ferro no lactente jovem. Na primeira infância, o
problema agrava-se em decorrência de erros alimentares, principalmente no período de
desmame, quando freqüentemente o leite materno é substituído por alimentos pobres em ferro.
Além desses aspectos, como agentes agravantes e, muitas vezes, determinantes da formação
insuficiente de depósitos de ferro, devem ser considerados o baixo nível socioeconômico e
cultural, as condições de saneamento básico e de acesso aos serviços de saúde e o fraco vínculo
na relação mãe/filho (Dallman 1991; Nóbrega, 1996; Brunken, 2002).
As perdas sangüíneas agudas ou crônicas espoliam as reservas de ferro no organismo e
podem ser conseqüentes a patologias como o refluxo gastro-esofágico, intolerância à proteína
do leite de vaca e parasitoses intestinais (Dallman 1991).
A deficiência de ferro, em termos de magnitude, constitui na atualidade o principal
problema carencial em escala de saúde pública do mundo (UNICEF, 1998; Lima, 2004). De
acordo com Viteri e Torun (1993) estima-se que quase dois bilhões de pessoas estejam afetadas
pela carência de ferro, em diferentes graus de intensidade, correspondendo a aproximadamente
36% da população mundial.
Os resultados de estudos recentes realizados no Brasil mostram tendência de aumento
significativo na prevalência da anemia entre menores de 5 anos situando-se entre 50% e 83,5%
(Monteiro, 2000; Oliveira, 2002; Santos, 2002). Além disso, tem-se observado nas últimas
décadas um aumento da gravidade dos casos de anemia ferropriva nos grupos de risco, em todas
as regiões do país, independente de seu nível socioeconômico (Torres, 1994; Batista Filho,
2002; Lima, 2004). Essas evidências se revestem de importância epidemiológica na medida em
que a anemia exerce efeito negativo no desenvolvimento psicomotor e na aprendizagem da
criança (ACC/SCN, 2000) e diminui a capacidade de resposta do sistema imunológico (Assis,
2006).
Segundo a UNICEF (1992), a prevalência de anemia no Estado do Piauí, em 1992,
numa amostra de 742 crianças entre 2 a 6 anos foi de 33,8%. Em outro estudo em Segipe
1999, que envolveu 722 crianças menores de 5 anos, das quais 31,6% apresentaram anemia
(Martins, 1999). Finalmente numa amostra representativa da população do Estado de
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
19
Pernambuco em 1998, dentre as 780 crianças menores de 5 anos estudadas, 46,7%
apresentaram anemia (INAN/MS, 1998).
Com base em resultados de estudos locais realizados na última década, a maioria
referente à clientela de serviços de saúde, observa-se que as prevalências variam de 36,4% na
Paraíba (Oliveira, 2002) a 73,5% em quatro municípios da Zona da Mata Meridional de
Pernambuco (Lima, 2004).
Em Pernambuco, Osório (2001) também verificou uma alta prevalência de anemia em
crianças de 6 a 59 meses de idade e um consumo alimentar de ferro inferior às recomendações
diárias. Conseqüentemente, o ferro biodisponível encontrava-se baixo, sendo sua quantidade
diretamente proporcional à idade da criança. Os principais fatores explicativos para a variação
da concentração de hemoglobina foram: idade da criança, ingestão de ferro biodisponível,
retinol sérico, diarréia, tratamento da água, saneamento e baixo peso ao nascer.
Os fatores envolvidos na etiologia da anemia ocorrem dentro de um contexto político,
econômico e social que, quando adverso, levam a uma precariedade da qualidade de vida e
saúde da população e colaboram para o agravamento do quadro de carências nutricionais
(Teixeira-Palombo, 2006).
SINAIS CLÍNICOS E ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DEFICIÊNCIA DE FERRO Os sinais clínicos de anemia são de difícil reconhecimento, muitas vezes passando
despercebidos como palidez, anorexia, apatia, irritabilidade, redução da capacidade de atenção e
déficits psicomotores (Rivera, 1997).
As doenças carenciais ocorrem quando a oferta, a biodisponibilidade e/ou a utilização
biológica dos nutrientes são insuficientes para promover o crescimento e desenvolver funções
normais no organismo (Veras, 2000).
Na instalação da deficiência de ferro e, da conseqüente anemia, foram identificados três
estágios fisiopatológicos: O primeiro estágio - a depleção de ferro - ocorre quando o aporte de
ferro é incapaz de suprir as necessidades. Produz, inicialmente, uma redução dos depósitos, que
se caracteriza por ferritina sérica abaixo de 12 µg/l, sem alterações funcionais. Se o balanço
negativo continua, instala-se a segunda fase - a eritropoiese ferro deficiente - caracterizada por
diminuição do ferro sérico, saturação da transferrina abaixo de 16% e elevação da protoporfirina
eritrocitária livre. Nessa fase, pode ocorrer a diminuição da capacidade de trabalho.
No terceiro estágio - a anemia por deficiência de ferro - a hemoglobina situa-se abaixo
dos padrões para a idade e o sexo. Caracteriza-se pelo aparecimento de microcitose e de
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
20
hipocromia com alterações funcionais tanto mais graves quanto maior for essa redução (Vieira,
2003).
Atualmente, muitos pesquisadores brasileiros, de norte ao sul do país, têm-se debruçado
sobre o problema da anemia em crianças menores de 5 anos no Brasil, encontrando prevalências
elevadas da doença, variando de 25 a 68% (Schmitz, 1999; Campanaro 2000; Neuman, 2000;
Brunken, 2002, Assis, 2004). A definição operacional de anemia, em termos dos níveis de
hemoglobina, foi estabelecida pela OMS, adotando o nível de 11,0 g/dl para crianças menores
de seis anos e gestantes. Para crianças de 6 a 14 anos e mulheres adultas não grávidas, 12 g/dl e
homens adultos, 13 g/dl (WHO, 2001). No entanto, deve-se utilizar esses dados com cautela
visto que existem algumas limitações nesse método, tais como: dificuldades na adoção do ponto
de corte entre anêmicos e normais, uma vez que devem ser considerados também variações
fisiológicas, sexo, idade, atividade física e altitude, entre outros (Beaton, 2000); baixa
sensibilidade e especificidade, visto que seus valores podem estar alterarados em condições de
infecção e inflamação, hemorragia, hemoglobinopatias, desnutrição protéico-calórica (Beard,
1997). Ainda assim, a concentração de hemoglobina é bastante utilizada para diagnóstico de
anemia, sobretudo em pesquisas populacionais, por ser de boa aplicabilidade e baixo custo
(Silva, 2005).
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
A prevenção da anemia ferropriva deve ser estabelecida com base em quatro tipos de
abordagens: educação nutricional e melhoria da qualidade da dieta oferecida, incluindo o
incentivo do aleitamento materno; suplementação medicamentosa; fortificação dos alimentos e
controle de infecções.
Nas recomendações dietéticas infantis, alguns cuidados podem ser tomados, visando um
melhor aporte de ferro ao organismo, tais como manutenção do aleitamento materno exclusivo
até o 4º– 6º mês de vida e introdução de alimentos complementares ricos em ferro e dotados de
agentes facilitadores de sua absorção (carnes em geral, frutas cítricas). Por outro lado, devem
ser evitados, durante as refeições, os agentes inibidores como chás preto e mate, café e
refrigerantes. O ideal é que as carnes sejam cozidas e não fritas, aproveitando o caldo da
cocção.
Dessa forma, a escolha correta dos alimentos complementares é de fundamental
importância, pois há necessidade de a alimentação da criança ser diversificada, balanceada e
rica em ferro de alta biodisponibilidade (Romani, 1991).
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
21
A suplementação medicamentosa é bastante eficaz na prevenção e controle da anemia.
Entretanto, alguns estudos já evidenciaram que esse tipo de intervenção apresenta um entrave
que reduz significativamente o impacto sobre as condições hematológicas das crianças
acompanhadas. A falta de vínculo mãe/filho, independentemente da condição nutricional, por
não interagir de maneira satisfatória com seu filho, não percebe a gravidade dessa doença e,
conseqüentemente, acaba por não administrar o medicamento à criança (Torres, 1994).
Portanto, somente a preconização da suplementação medicamentosa com sulfato ferroso não
deve dar ao profissional de saúde a segurança de que a criança está realmente recebendo o
suplemento.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 1995) preconiza, quanto à suplementação
profilática de ferro:
1) Recém-nascidos de termo, de peso adequado para a idade gestacional: em
aleitamento materno, a partir do 6º mês, ou a partir do início do desmame (considera-se
desmame a introdução de qualquer outro alimento em adição ao aleitamento materno). Até o
24º mês de vida, receberão 1 mg de ferro elementar/ kg de peso/dia, ou dose semanal de 45mg,
exceto nas crianças com fórmulas infantis fortificadas com ferro.
2) Prematuros e recém-nascidos de baixo peso: a partir do 30º dia de vida, 2 mg/kg de
peso/dia, durante 2 meses. Após esse prazo, mesmo esquema dos recém-nascidos de termo com
peso adequado para a idade gestacional.
No âmbito de saúde pública, em locais como creches e escolas, a proposta semanal tem
se mostrado com melhores resultados que a diária, pois se torna muito mais fácil a sua
administração.
A utilização de alimentos fortificados é uma alternativa utilizada pelos países
desenvolvidos há mais de 50 anos, com excelentes resultados.
A fortificação tem a grande vantagem de não necessitar a adesão das mães à proposta,
de maneira que ao se ingerir o alimento, há a certeza da ingestão do ferro. Na escolha dos
alimentos a serem fortificados deve ser lembrado que os alimentos devem ser de fácil acesso, de
baixo custo e que pertençam à dieta habitual da região, sem ter seu paladar ou aspecto alterados,
utilizando-se de compostos com boa biodisponibilidade.
No Brasil, em 13 de dezembro de 2002, através da resolução – RDC n. 344 (DOU de
18/12/2002), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou o regulamento
técnico para Fortificação de Farinhas de Milho e Trigo com ferro e ácido fólico, tornando
obrigatória a fortificação em todos os estados brasileiros. Desde de junho de 2004, cada 100g
dessas farinhas devem conter 0,15mg de ácido fólico e 4,2 mg de ferro (RDC, 2002).
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
22
Os programas de fortificação oferecem solução a médio e longo prazo, e uma excelente
maneira de aumentar a ingestão de ferro na dieta, principalmente nos grupos mais vulneráveis e
mostra a sintonia do governo brasileiro com as recomendações internacionais e sua vontade
política em erradicar a anemia e minimizar a deficiência de ferro dentre os problemas de saúde
pública (Sato et al, 2008). No entanto, o conhecimento da população no que diz respeito à
importância dos produtos enriquecidos e principais fontes também é necessário, ou seja, a
fortificação de alimentos também deve fazer parte da educação nutricional (Liberato, 2006).
O Grupo de Consultoria Internacional sobre Anemias de Origem Nutricional (INACG,
2004) sugere as seguintes recomendações para o controle e prevenção das anemias nutricionais:
a) educação alimentar com incentivo ao consumo de alimentos ricos em ferro,
respeitando os hábitos alimentares da população associados ao grande incentivo dos programas
de aleitamento materno;
b) melhoria dos sistemas de saneamento básico e assistência médica a todos, com
controle de parasitoses intestinais;
c) criação de programas de suplementação de ferro em doses profiláticas aos grupos de
risco, sob supervisão e acompanhamento;
d) criação e incentivo a programas de fortificação de alimentos, considerada atualmente
a melhor medida preventiva a longo prazo, com menores custos.
A utilização de fórmulas lácteas e leites fortificados com sulfato ferroso, ferro quelato,
ferro elementar em crianças menores de 2 anos apresenta resultados gratificantes (Dutra de
Oliveira, 1993; Torres, 1996; Layrisse 1996).
Em Ribeirão Preto, interior do Estado de São Paulo, foram estudadas 21 famílias
carentes, num total de 88 crianças entre 1 e 6 anos de idade, que receberam água fortificada com
sulfato ferroso, na concentração de 10mg de ferro elementar por litro de solução, encontrando
boa aceitação da água oferecida e melhora dos níveis de hemoglobina (Torres, 1996).
Em experiência de combate à anemia ferropriva com leite em pó fortificado com sulfato
ferroso e vitamina C foram avaliadas 107 crianças provenientes de 13 creches municipais da
grande São Paulo e 228 provenientes do atendimento de Unidade Básica de Saúde (USB). O
leite em pó continha 9mg de ferro e 65mg de vitamina C por 100g de pó, sendo oferecido às
crianças por um período de 6 meses. Nessa pesquisa, onde os níveis de anemia, no início do
trabalho, foram de 66% e 73%, respectivamente, nas creches e UBS, tiveram as prevalências
reduzidas para 21% e 18%, respectivamente, após a introdução do leite fortificado, além de
melhora das condições nutricionais (Torres, 1995; Torres, 2000).
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
23
Estudo inédito utilizando ferro aminoácido quelato, num município do interior do
Estado de São Paulo, introduziram- se 9mg de ferro e 2000 UI de vitamina A por litro de leite
oferecido às crianças que faziam parte do programa de combate à anemia. Com prevalência
inicial de 76%, o município apresenta, hoje, níveis compatíveis aos dos países desenvolvidos,
ou seja, prevalência de 4% nas crianças assistidas (Torres, 2000). Esses resultados confirmam
que a reversão do quadro de anemia pode ser facilmente obtida, desde que a equipe de saúde
esteja adequadamente conscientizada e envolvida e que haja, concomitantemente, decisão
política.
O tratamento da anemia ferropriva não só corrige o valor da hemoglobina circulante
como também restaura os depósitos de ferro nos tecidos onde ele é armazenado.
Recomenda-se a utilização de sais ferrosos, preferencialmente por via oral. Os sais
ferrosos (sulfato, fumarato, gluconato, succinato, citrato, etc.) são mais baratos e absorvidos
mais rapidamente, porém produzem mais efeitos colaterais - náuseas, vômitos, dor epigástrica,
diarréia ou obstipação intestinal, fezes escuras e, em longo prazo, o aparecimento de manchas
escuras nos dentes. Sua absorção é maior quando administrado uma hora antes das refeições. O
conteúdo de ferro varia nos diferentes sais. A posologia sugerida é de 3 a 5 mg de ferro
elementar por quilo de peso por dia, dividida em 2 a 3 doses (Braga, 1996).
O medicamento deve ser ingerido, se possível, acompanhado de suco de fruta rica em
vitamina C, importante elemento facilitador da absorção do ferro. Outra recomendação é que o
medicamento não seja administrado juntamente com suplementos polivitamínicos e minerais.
Existem interações do ferro com cálcio, fosfato, zinco e outros elementos, diminuindo sua
biodisponibilidade.
Outros fatores inibidores da absorção do ferro como chá mate ou preto, café e antiácidos
devem ser evitados durante ou logo após a ingestão do medicamento (Queiroz, 2000).
Para que a eritropoiese se restabeleça, é fundamental que a dieta oferecida durante o
tratamento seja balanceada, assegurando nutrientes suficientes, principalmente proteínas, para
garantir o fornecimento dos aminoácidos essenciais à formação da hemoglobina, calorias, para
evitar que estes aminoácidos sejam utilizados como fonte calórica e de alimentos ricos em
vitamina C, para aumentar a biodisponibilidade do ferro da dieta.
A resposta ao tratamento é rápida, e o tempo de duração depende da intensidade da
anemia. A absorção do íon ferro é muito maior nas primeiras semanas de tratamento. Estima-se
uma absorção de 14% do ferro ingerido durante a primeira semana de tratamento, 7% após 3
semanas e 2% após 4 meses. O primeiro mês de terapia é fundamental para o sucesso do
tratamento. Uma resposta positiva pode ser medida com um incremento diário de 0,1 g/dl na
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
24
concentração da hemoglobina, a partir do quarto dia de tratamento. Observa-se aumento
máximo da reticulocitose entre o 5° e 10° dias de tratamento, e elevação substancial da
hemoglobina em torno da terceira semana.
A oferta do medicamento deve ser continuada por volta de 6 semanas após a
normalização da hemoglobina, para possibilitar a reposição das reservas orgânicas de ferro.
A transfusão sangüínea somente está indicada em crianças com hemoglobina inferior a
5g/dl ou com sinais de descompensação cardíaca. Nessas situações é aconselhável a utilização
de 10 ml/kg de concentrado de hemácias e monitoramento dos sinais vitais (Queiroz, 2000).
Portanto, para o tratamento da anemia carencial ferropriva é necessária uma abordagem
global do problema, visando à adoção de medidas que transcendem em muito a visão isolada do
tratamento da deficiência de ferro.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
25
JUSTIFICATIVA
A anemia por deficiência de ferro em crianças é uma preocupação crescente no Brasil, sendo
considerada o principal problema nutricional em menores de cinco anos e que ainda está longe
de ser resolvido, apesar de todo conhecimento acumulado sobre o assunto e, conseqüentemente,
de serem bastante divulgadas as medidas de intervenção do grupo de consultoria internacional,
International Vitamin A Consultative Group (IVACG), sobre anemias (suplementação de ferro,
educação alimentar, saneamento básico, assistência à saúde e fortificação de alimentos). No
entanto, cabe registrar que a maioria dos estudos sobre anemia ferropriva tem se limitado ao
diagnóstico e distribuição espacial dessa carência, com amostras não representativas, viciadas
e/ou de tamanho inadequado que se originam de dados de serviços de saúde. Também são
escassos os estudos realizados sobre os fatores de risco e, quando eles existem, consideram o
problema com relação às variáveis biológicas que estão associadas a sua presença,
desconsiderando as variáveis sociais e culturais também definidoras do processo saúde/doença,
as quais poderiam proporcionar subsídios para formulação de políticas de saúde e nutrição,
visando solucionar o problema e, conseqüentemente, melhorar a qualidade de vida das crianças.
Logo, estudos que avaliem a associação da anemia com o consumo de ferro biodisponível para
o mapeamento da situação nutricional de ferro no município de Vitória de Santo Antão, são
oportunos para ampliar as possibilidades de diagnóstico da deficiência de ferro e da
conseqüente anemia, considerando o baixo custo e viabilidade da técnica do inquérito dietético
e elaborar propostas de intervenção em conjunto com as Secretarias Municipal e Estadual de
Saúde do município.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
26
OBJETIVOS
GERAL
Determinar o consumo alimentar de ferro em pré-escolares no município de Vitória de
Santo Antão, PE.
ESPECÍFICO
� Avaliar o estado nutricional utilizando parâmetros dietéticos, antropométricos e
bioquímicos;
� Determinar a prevalência de anemia;
� Analisar do ponto de vista qualitativo e quantitativo a dieta das crianças em relação ao ferro
biodisponível;
� Correlacionar o consumo de ferro com os parâmetros bioquímicos;
� Caracterizar a população de estudo segundo as variáveis demográficas e sócio-econômicas;
� Relacionar as variáveis sócio-econômicas com os níveis de hemoglobina.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
27
METODOLOGIA
Desenho do Estudo
O estudo foi do tipo observacional de corte transversal, no qual os dados são úteis na
avaliação das necessidades em saúde das populações, por retratarem a prevalência da doença.
Este tipo de estudo exige um menor esforço operacional quando comparado ao de caso-
controle e de coorte; é relativamente simples e de baixo custo, possibilitando maior rapidez na
obtenção dos resultados, sendo, portanto, o mais amplamente difundido em epidemiologia. No
entanto, seus resultados não são indicativos de seqüência temporal, pois não fornece dados de
incidência; possui baixo poder analítico, em que as únicas conclusões derivadas da análise desse
tipo de estudo, restringem-se às relações de associações e não de causalidade (Rouquayrol &
Almeida Filho, 1999).
Casuística
A população do estudo foi constituída por crianças em idade pré-escolar (2-6 anos) de
ambos os sexos, regularmente matriculadas em instituições públicas de ensino no município de
Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil, durante o período de abril a julho de 2008. As
crianças, cujo os pais ou responsáveis não enviaram o consentimento dos por escrito, não
participaram da pesquisa (ANEXO 1).
Critérios de Elegibilidade
Critérios de inclusão:
• Ter idade mínima de 2 anos e máxima de 6 anos e 11 meses;
• Estar regularmente matriculado em escolas municipais.
Critério de Exclusão:
• Crianças que refiram a ingestão de sulfato ferroso 90 dias antes da coleta de
dados.
• Crianças portadoras de anemia de outra etiologia sabidamente não ferropriva
(hemoglobinopatias, anemias hemolíticas e anemia megaloblástica),
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
28
• Portadoras de doenças crônicas (diarréias, doenças renais, imunodeficiências e
cardiopatias congênitas cianóticas) e que haviam recebido hemotransfusão nos 3
meses anteriores à pesquisa.
Amostragem
A amostra foi do tipo aleatória simples, com aproximadamente 290 crianças incluindo
nos turnos da manhã e tarde. Para cálculo do tamanho amostral, a partir da prevalência de
anemia, 40% (Santana, 2004) foi determinado utilizando-se a equação para cálculo de amostra
com população infinita, descrita na fórmula 1 (LWANGA e TYE, 1987). Adotaram-se precisão
de 5,5%.
Fórmula 1: n = z2 x pq/d2
Onde :z = limite de confiança
p = prevalência estimada
q = 1-p
d = margem de erro aceitável
Uma vez que se trata de uma população finita, o “n” amostral foi ajustado de acordo
com equação para cálculo de amostra com população finita, descrita na fórmula 2 (LWANGA e
TYE, 1987) .
Fórmula 2: n = nº/1+( nº/N)
onde: nº = “n” amostral
N = “n” populacional
Seleção da Amostra
Por se tratar de um processo do tipo aleatório utilizando-se a técnica de amostragem
sistemática, tomou-se como base, para definição do intervalo amostral, a equação descrita na
fórmula 3 (BERQUIÓ e SOUZA, 1981):
Fórmula 3: K= N/n
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
29
onde: K = intervalo amostral
N = população do estudos
n = tamanho da amostra
Após o cálculo do intervalo amostral (K), fez-se um sorteio entre os números 1,2...K, onde o
número sorteado foi chamado de início amostral (i). Logo, nestas condições, com apenas este
sorteio, toda a amostra ficou selecionada, sendo composta de unidades amostrais que tinham
recebido os seguintes números (ou ocupem a posição correspondente), considerando-se a
freqüência acumulada das crianças, segundo as escolas pesquisadas no município de Vitória de
Santo Antão, PE:
i + K
i + 2K
i + (n-1)K
Protocolo do estudo
O protocolo do estudo incluiu caracterização da amostra, avaliação antropométrica, bioquímica
e consumo alimentar dos pré-escolares referente ao período do estudo.
Caracterização da amostra
As informações de interesse para a pesquisa foram obtidas pela técnica de entrevista
com os seus pais/responsáveis e registradas em protocolo específico, previamente testado e
validado em 10% da amostra (ANEXO 2). A caracterização da amostra incluiu dados de
identificação como condições sócio-econômicas e fatores determinantes de anemia. As
informações complementares foram transcritas dos cadastros da escola.
O preenchimento do questionário foi realizado pelo pesquisador principal, por alunos do
curso do Curso de Graduação em Nutrição e Enfermagem e por auxiliares de pesquisa
selecionados e devidamente treinados nas técnicas para pesquisa de campo e coleta de dados,
aferição das medidas antropométricas e abordagem ao escolar. Todas as informações obtidas
foram revisadas e validadas pelo pesquisador principal e entrevistadores ao final de cada dia de
coleta.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
30
• Dados de Identificação da criança:
- Data de nascimento e sexo
Fundamentais para a avaliação do estado nutricional da criança.
• Condições sócio-econômicas:
- Número de integrantes no domicílio
Considerou-se o número de pessoas que residia na mesma casa, independente de laços de
parentesco.
- Renda familiar
Calculada a partir da soma das rendas mensais de todos residentes no domicílio. Foi
categorizada de acordo com o Quadro 2.
Quadro 2 – Classificação da renda familiar, segundo a POF, 2002-2003.
Renda Familiar Classificação
Nível 1 0 – 1 salário mínimo
Nível 2 1 – 2 salários mínimos
Nível 3 > 2 salários mínimos
Fonte: MS, MP (POF: 2002-2003).
- Escolaridade dos pais/responsáveis
Classificados segundo os níveis de escolaridade dos pais/responsáveis em 4 graus, como
demonstrado no Quadro 3:
Quadro 3 – Classificação da escolaridade dos pais/responsáveis
Escolaridade Classificação
Nível 1 Analfabeto
Nível 2 Ensino Fundamental
Nível 3 Ensino Médio
Nível 4 Ensino Superior
Fonte: Secretaria de Educação/PE, 2006.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
31
- Ocupação dos pais/responsáveis
Foi definida como profissão ou ocupação a atividade que origina a fonte de renda mensal
dos pais/responsáveis.
• Características da criança:
- Peso ao nascer
Expresso em gramas. O baixo peso ao nascer está fortemente associado como fator
determinante da anemia e morbidade do infante (Allen, 2000; Rasmussen, 2001; Stotzfus,
2003).
- Aleitamento materno exclusivo
Considerado os meses que a criança mamou em aleitamento materno exclusivo.
- Idade da introdução de novos alimentos
Expressa em meses. A idade de introdução de novos alimentos é um dos fatores
determinantes da anemia devido ao aumento das necessidades de ferro de acordo com a faixa
etária.
Também foram registrados quais os alimentos oferecidos no desmame, pois a escolha
correta dos alimentos complementares é fundamental, principalmente daqueles ricos em ferro
de alta biodisponibilidade (Romani, 1991).
- Tratamento com vermicidas
Tempo expresso em meses a contar da última vez que a criança recebeu tratamento com
vermicidas.
- Associação com morbidades nos últimos 6 (seis) meses
Avaliada a presença de outras morbidades do infante.
- Presença de anemia e tratamento com sulfato ferroso
Foi avaliado se a criança já teve anemia e se foi tratada com sulfato ferroso pelo menos
nos últimos 6 meses.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
32
Antropometria
As medidas de peso e altura foram tomadas e anotadas em formulário próprio
(ANEXO 2).
Peso
Para a tomada de peso, foi utilizada uma balança digital eletrônica, da marca Filizola,
modelo Personal Line E-150 com capacidade de até 150Kg e precisão de 100g. Os pré-
escolares foram pesados descalços, com o mínimo de roupa.
Altura
A altura dos escolares foi determinada com fita métrica Stanley-milimetrada, com
precisão de 1mm e exatidão de 0,5 cm. A fita foi afixada na parede e os escolares colocados em
posição ereta, descalços, com os membros superiores pendentes ao longo do corpo, os
calcanhares, o dorso e a cabeça tocando a parede, e olhando para frente (JELLIFE, 1968).
Para avaliar o estado nutricional do grupo em estudo foi utilizado o Índice de Massa
Corporal (IMC) definido pela fórmula IMC= Peso (Kg)/Altura (m)² com interpretação em
escore-Z, excelente para grupos populacionais, descrito no quadro 4:
Quadro 4. Pontos de corte de IMC por idade segundo escore-Z em pré-escolares
VALORES CRÍTICOS DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL
< P3 < Escore-z -2 Baixo IMC para idade
≥ P3 - P85 > Escore-z -2 e <
Escore-z +1
IMC adequado ou Eutrófico
≥ P85 - P97 > Escore-z + 1 e <
Escore-z +2
Sobrepeso
≥ P97 ≥ Escore-z +2 Obesidade
Fonte: WHO, 1995
A utilização do IMC para determinação da condição nutricional em crianças é um
método largamente empregado por sua simplicidade de aplicação, se correlaciona com outras
medidas corporais, e tem sido reconhecido como o indicador que permite a continuidade da
análise na fase da adolescência e adulta, a partir das novas curvas de IMC por percentil de 2 a
20 anos de idade disponibilizadas pela OMS, 2007 (Vitolo, 2003, Mercedes et al, 2007).
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
33
Bioquímica
As amostras de sangue obtidas mediante punção venosa, foram enviadas para o
Laboratório Orion, conveniado à Secretaria Municipal de Saúde da Vitória de Santo Antão,
para realização do hemograma completo, por meio de sistema automatizado (automação:
Counter MDII). Os pontos de corte para diagnóstico de anemia e deficiência de ferro foram:
hemoglobina < 11g/dl, hematócrito < 38% e volume corpuscular médio < 73 µm3 para
crianças entre 2 a 5 anos e < 75 µm3 em pré-escolares entre 5 a 6 anos e concentração de
hemoglobina corpuscular média < 24 pg, de acordo com o critério adotado pela Organização
Mundial da Saúde (WHO, 2001). A coleta foi realizada na própria escola, sempre no horário
matinal (8-10 horas) e vespertino (14-16 horas), não necessitando de jejum.
Os pré-escolares diagnosticados como anêmicos foram encaminhados a Unidade de
Saúde mais próxima onde receberam tratamento com 3mg de ferro elementar (sulfato ferroso)
por quilo de peso, semanalmente, durante três meses.
Consumo alimentar
A história dietética foi obtida por entrevista com a mãe ou responsável pelo pré-escolar,
utilizando-se uma combinação de dois métodos de inquérito alimentar: o recordatório alimentar
de 24 horas e a freqüência de consumo de alimentos (Fisberg et al, 2005). Foram registradas,
em formulário específico, as informações sobre todos os alimentos ingeridos pela criança no dia
anterior, permitindo uma avaliação qualitativa da dieta (Arruda, 2004).
Para calcular a inadequação alimentar da ingestão do nutriente, foram necessárias as
seguintes informações: estimativas da ingestão e da variabilidade da ingestão do nutriente, as
estimativas da necessidade (EAR) e da variação da necessidade (CV) do nutriente (Fisberg et al,
2004).
O recordatório de 24 horas foi realizado mediante aplicação do inquérito semanal
(ANEXO 2) e repetido com 20% da amostra para o cálculo da variância intrapessoal, com o
propósito de coletar informações sobre o consumo da criança na sua residência e na escola com
objetivo de avaliar o consumo de energia, proteínas, ferro, cálcio, zinco, vitamina C, vitamina
A, ácido fólico e fibras alimentares. Os dados de consumo foram coletados em medidas caseiras
e convertidos em gramas utilizando-se a tabela de medidas caseiras (Pinheiro et al, 1998).
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
34
O questionário de freqüência do consumo por alimentos ricos em ferro (fígado, carnes,
feijão, ovo, hortaliças folhosas e frutas ricas em vitamina C) e os resultados da análise da dieta
foram categorizados para avaliação da associação entre a freqüência de consumo e a anemia,
como freqüência adequada (duas vezes ao dia até quatro vezes por semana) e freqüência
inadequada (inferior a quatro vezes por semana). Esta determinação foi baseada nas
recomendações usuais sobre alimentação infantil a fim de atender às DRI’s (Lacerda & Cunha,
2001).
Para análise quantitativa dos alimentos consumidos, utilizou-se o software Nutwin -
Programa de Apoio à Nutrição, versão 1.5 (Anção et al, 2002), desenvolvido pelo
Departamento de Informática em Saúde da Universidade Federal de São Paulo.
Estatística
Para as análises estatísticas, foi utilizado o software SPSS, versão 13.0 (SPSS Inc,
Chicago, IL, USA). Testes de normalidade foram realizados para cada variável permitindo,
dessa forma, a escolha do procedimento estatístico mais adequado para a realização da análise
de dados. Tendo a normalidade sido rejeitada por vários testes (ao nível de significância de 5%),
procedimentos não-paramétricos foram empregados.
O teste de Wilcoxon analisou a variação intrapessoal do recordatório de 24 horas, com
nível de significância de 5% (p<0,05). Também foi aplicado o teste do Mann-Witney para
avaliar associação entre consumo alimentar e anemia ferropriva, e a correlação de Sperman (p)
entre o consumo de nutrientes facilitadores e inibidores da absorção de ferro, consideradas
significantes ao nível de p < 0,05 e p<0,01.
Na avaliação dos fatores determinantes da anemia, foram aplicados os testes de Mann-
Whitney e Kruskal-Wallis, com nível de significância estabelecido em 1 e 5%. A análise de
regressão linear simples e múltipla foi utilizada para determinar a influência dos fatores
determinantes da anemia sobre a deficiência de ferro. A análise univariada (significante ao nível
de p < 0,05) foi utilizada para avaliar o efeito independente de cada variável sobre anemia.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
35
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CONCENTRAÇÃO DE HEMOGLOBINA, ESTADO NUTRICIONAL E ANEMIA EM CRIANÇAS DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO, PE, BRASIL: ASSOCIAÇÃO ENTRE CONSUMO ALIMENTAR E BIODISPONIBILIDADE DE FERRO
Artigo original que será submetido à publicação pela
Archivos Latinoamericanos de Nutrición
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
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Artigo I
Título: Concentração de Hemoglobina, estado nutricional e anemia em crianças do município de Vitória de Santo Antão, PE, Brasil: Associação entre consumo alimentar e biodisponibilidade de ferro
Title: Hemoglobin concentration, nutritional condition and anemia among children in Vitoria
de Santo Antao municipal community in PE, Brazil: Association between food intake and iron
bioavailability.
Autores: Flávia Nunes Salviano;
Florisbela de Arruda Camara e Siqueira Campos;
Raquel Araújo Santana;
Maria Helena de Castro Chagas;
Luiz Miguel Picelli Sanches;
Ana Patrícia Siqueira Tavares Falcão
Endereço para correspondência: Rua João Braga, 247 - aptº 202 – Imbiribeira – CEP: 51.170-580 – Recife, PE. Tel/Fax: (81) 3339-5315
e-mail: [email protected]
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
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RESUMO
A anemia ferropriva resulta da interação de múltiplos fatores etiológicos que levam a um
desequilíbrio entre as necessidades do organismo e a quantidade absorvida de ferro. Entre os
fatores associados à dieta, encontram-se baixa ingestão de ferro e de alimentos facilitadores e
a presença de inibidores da sua absorção. Por esse motivo, adequação dietética dos
micronutrientes, principalmente em relação ao ferro, deve ser uma preocupação constante
durante a infância. MÉTODO: Estudo transversal descritivo realizado no período de abril a
julho de 2008 em escolas municipais do município de Vitória de Santo Antão, PE. A amostra
constou de 292 crianças, ambos os sexos, entre 2 a 6 anos, nas quais foram realizados
avaliação antropométrica, hemograma completo, inquérito dietético e a adequação estimada
de acordo com as Dietary Reference Intakes – DRI’s. RESULTADOS: A prevalência de
anemia foi de 16,5%. Não foi observada associação estatisticamente significativa entre a
anemia e as variáveis: sexo e estado nutricional. O percentual de inadequação do consumo de
ferro (84,4%) foi elevado em todas as faixas etárias, e de vitamina C apresentou 90,6% com
consumo acima da necessidade média estimada (EAR) referida pelas DRI´s. Quanto à
freqüência alimentar entre anêmicos e não anêmicos as diferenças foram significativa apenas
para os alimentos ovo (p = 0,023) e acerola (p= 0,019).Verificou-se associação
estatisticamente significante entre o consumo de vitamina C e níveis de hemoglobina
(p = 0,026) e de ferro total e hemoglobina corpuscular média – HCM (p = 0,037). A ingestão
de proteínas mostrou correlação (p< 0,01) com o consumo de ferro total (Sperman=0,55) e
folato (Sperman=0,3). CONCLUSÃO: Os resultados do presente estudo reforçam a
importância de se conhecer o consumo alimentar das crianças no país para melhor associação
com a ocorrência da anemia e, dessa maneira, subsidiar as políticas de saúde e nutrição que
visam solucionar o problema.
Palavras Chaves: Anemia ferropriva; adequação dietética, biodisponibilidade.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
47
ABSTRACT
Iron-deficiency anemia results in the interaction of multiple etiological factors which lead to
an unbalance between the necessity of the organism and the quantity of iron absorbed. The
adjustment of dietary in micronutrients should be a constant concern during childhood.
Method: A transversal descriptive trial analyzed anthropometric evaluation, blood count ,
dietary. It was carried out in 292 children, male and female, age from 2 to 6 years old among
public school in Vitoria de Santo Antao from April to July/2008 according to Dietary
Reference Intakes – DRI’s. Results: The predominance of anemia was 16,5%. It wasn’t
observed a statistically significant between anemia, sex or nutritional condition. The
percentage of inadequate consumption of iron (84,4%) was high in all age group, and vitamin
C showed 90,6% above the estimated average rate (EAR). As for nutritious frequency and
anemia , were significant to some food: egg (p=0,023 and acerola (p= 0,019). It was analyzed
the association between intake of Vitamin C e levels of hemoglobin (p=0,026) and iron total
and mean corpuscular hemoglobin - MCH (p= 0,037). The intake of proteins showed
correlation with the intake of iron total (Sperman=0,55) and folate (Sperman=0,3).
Conclusion: All the results showed in this trial reinforce the importance of knowing the
nutritious quality of the children in the country and make its comparison with anemia and,
that way,it will help the health and nutrition politics which aim at solving the problem.
Key words: iron-deficiency anemia, dietary, bioavailability
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
48
INTRODUÇÃO
A deficiência de ferro é, isoladamente, a mais comum das deficiências nutricionais no
mundo, sendo a anemia a sua forma mais severa
1. A anemia ferropriva tem como causa
imediata o consumo insuficiente de alimentos fontes de ferro ou a baixa biodisponibilidade do
ferro ingerido. Na infância, constitui um grave problema de saúde pública devido à elevada
prevalência e as repercussões no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento da
imunidade celular e diminuição da capacidade intelectual
2, 3, 4, 5.
A Organização Mundial de Saúde (OMS)6 estima que cerca de metade da população
de crianças com menos de cinco anos de idade dos países em desenvolvimento, excluindo a
China, sofre de anemia. Na América Latina, estima-se que a anemia afete 30% das crianças
em idade pré-escolar
7.
No Brasil, estudos revelam aumento da prevalência de anemia na infância ao longo
dos anos
7,8. Dados recentes mostram prevalências no país que variam de 26,7% a 60,4%
2, 9, 10,
11, 12, 13.
Segundo Monteiro 200014, vários fatores podem levar à anemia, como falhas
genéticas, infecções, infestações intestinais e deficiência de diversos nutriente. No entanto,
admite-se que sua ocorrência endêmica na infância seja decorrente, principalmente, da
combinação de necessidades excepcionalmente elevadas de ferro, impostas pelo crescimento,
com dietas pobres no mineral, sobretudo de ferro hemínico, assim como a biodisponibilidade
desse ferro ingerido 6, 15, 16, 17. Por esse motivo é que a adequação dietética dos
micronutrientes, principalmente em relação ao ferro, deve ser uma preocupação constante
durante a infância18, 19.
Vários estudos destacam a importância da composição da dieta da criança para a
manutenção de um adequado estado nutricional de ferro. Dentre os fatores que contribuem
para a absorção de ferro encontram-se o ácido ascórbico, ácidos orgânicos, carnes, vitamina A
e beta-caroteno7, 20, 21, 22. Em contrapartida, os polifenóis, fitatos e outros elementos
inorgânicos são identificados como fatores inibidores da absorção do ferro
23, 24, 25, 26, 27.
Sendo assim, os estudos recentes reforçam a necessidade cada vez maior de analisar as
práticas alimentares das crianças, identificando possíveis indicadores ou componentes da dieta
associados à anemia
28, 29, 30. No município de São Paulo, Monteiro et al.13 verificaram que a
densidade de ferro na dieta era um fator decisivo para determinar o risco de anemia em
crianças de 0 a 59 meses. No mesmo município, Levy-Costa & Monteiro7 encontraram
associação entre proporção de calorias da dieta provenientes do leite de vaca e anemia em
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
49
crianças de 6 a 59 meses, ou seja, o aumento da participação desse alimento na dieta associou-
se à diminuição da concentração de hemoglobina e ao aumento do risco de anemia.
Em Pernambuco, Osório et al.28 verificaram uma alta prevalência de anemia em
crianças de 6 a 59 meses de idade e um consumo alimentar de ferro inferior às recomendações
diárias.
Vale salientar que outras variáveis relacionadas ao consumo alimentar, principalmente
no que diz respeito à presença de fatores inibidores (fitatos e polifenóis) e facilitadores
(vitamina C) da absorção de ferro na dieta, poderiam ajudar de forma substancial na análise
do problema31.
Visando contribuir para a prevenção da anemia ferropriva e considerando a
importância dos estudos sobre o consumo de nutrientes na identificação de problemas de
saúde pública e principalmente subsidiando o planejamento de intervenções voltadas à
melhoria das condições de saúde, procurou-se determinar os fatores alimentares associados à
anemia ferropriva em pré-escolares no município de Vitória de Santo Antão, PE. Estudou-se o
teor de energia, proteína, cálcio, ferro total, ferro biodisponível, zinco, vitamina C, vitamina
A, folato e fibras totais nas refeições; os tipos e combinações de alimentos; a freqüência de
consumo de alimentos ricos em ferro; e a associação desses fatores com a presença de anemia
ferropriva.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo transversal, realizado no município de Vitória de
Santo Antão, PE, NE, Brasil. Para o cálculo amostral foi considerado o erro de 5,5%, entre
crianças de 2 a 6 anos de idade que se encontravam devidamente matriculadas em instituições
municipais (mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por seus
responsáveis). Não participaram do estudo crianças portadoras de anemia de outra etiologia
sabidamente não ferropriva (hemoglobinopatias, anemias hemolíticas e anemia
megaloblástica), as portadoras de doenças crônicas (diarréias, doenças renais,
imunodeficiências e cardiopatias congênitas cianóticas) e que haviam recebido
hemotransfusão nos 3 meses anteriores à pesquisa.
As informações sobre a dieta da criança foram obtidas por colaboradores treinados,
através de questionário com os pais ou responsáveis pela criança. O consumo alimentar foi
avaliado pelo recordatório de 24 horas e por intermédio do registro de freqüência de alimentos
facilitadores e inibidores da absorção de ferro. Para auxiliar a determinação do tamanho das
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
50
porções foram utilizados utensílios domésticos (colheres, conchas, mamadeiras) e desenhos
demonstrativos de porções de carnes (bifes, cubos, pedaços). Além disso, a entrevista também
questionou a idade da criança em que a mãe introduziu determinados alimentos na dieta
infantil, buscando especificamente o início da oferta de água, frutas e alimentos fonte de ferro.
O recordatório de 24 horas registrou o consumo alimentar da criança no dia anterior ao
da entrevista, com objetivo de avaliar o consumo de energia, proteínas, ferro total, ferro
biodisponível, cálcio, zinco e vitamina C, vitamina A, folato e fibras totais. A prevalência de
inadequação para energia, proteínas, ferro, zinco, vitamina C, vitamina A e folato foi
calculada de acordo com a Necessidade Média Estimada (Estimated Average Requirement,
EAR) do National Research Council
31-35. A ingestão de cálcio e fibras totais foi analisada
com base nos valores da Ingestão Adequada (Adequate Intake, AI), já que não existe EAR
para esses nutrientes
36. A avaliação da ingestão de energia foi feita utilizando a Necessidade
Energética Estimada (Estimated Energy Requirement, EER), ou seja, o consumo de energia
necessário para atender o balanço energético compatível com um bom estado de saúde
33.
Além disso, foi calculada a variância intrapessoal, pela repetição do recordatório de 24 horas,
com intervalo semanal, em 20% da amostra.
O questionário de freqüência do consumo de alimentos ricos em ferro (fígado, carnes,
feijão, ovo, gema de ovo e hortaliças folhosas) e os resultados foram categorizados para
avaliação da associação entre a freqüência de consumo e a anemia, como freqüência adequada
(duas vezes ao dia até quatro vezes por semana) e freqüência inadequada (inferior a quatro
vezes por semana). Esta determinação foi baseada nas recomendações usuais sobre
alimentação infantil a fim de atender as Referências de Ingestão Dietética ou DRI’s – Dietary
Reference Intakes
1. Os cálculos das dietas e suas análises foram feitos com auxílio do
software Nutri Win
37.
Foram colhidas amostras de 2mL de sangue venoso, sob supervisão direta da
pesquisadora principal. As amostras foram então transferidas para tubos de ensaio com EDTA
e prontamente encaminhadas ao Laboratório conveniado com a Secretaria Municipal de Saúde
do município para proceder ao exame de hemograma completo, por meio de sistema
automatizado (Counter MDII). Para caracterização de anemia, foram utilizados os limites de
11,0g de hemoglobina/dl, hematócrito < 38% e volume corpuscular médio (VCM) < 73 µm3
para crianças entre 2 a 5 anos e < 75 µm3 em pré-escolares entre 5 a 6 anos e concentração de
hemoglobina corpuscular média (HCM) < 24 pg, de acordo com o critério adotado pela
Organização Mundial da Saúde
17.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
51
Após a avaliação bioquímica, todos os pais receberam o resultado do exame, e as
crianças anêmicas foram encaminhadas à unidade de saúde mais próxima para tratamento.
Foram verificadas as medidas antropométricas de peso e altura de acordo com as
técnicas propostas por Jelliffe38. Para medida de peso, utilizou-se balança portátil, digital,
eletrônica, com capacidade de 150kg e sensibilidade de 50g, sendo a aferição da altura feita
por meio de estadiômetro (Seca®) fixado à parede com extensão de dois metros, dividido em
centímetros e subdividido em milímetros. O estado nutricional das crianças foi avaliado de
acordo com escore Z, utilizando-se os indicadores conforme o índice de massa corporal
(IMC) em percentis com os pontos de corte propostos pela OMS, 2007
39.
Para as análises estatísticas, foi utilizado o software SPSS, versão 13.0 (SPSS Inc,
Chicago, IL, USA). Inicialmente, as variáveis contínuas foram testadas segundo a
normalidade da distribuição pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. As variáveis que
apresentaram distribuição não normal sofreram tentativas de transformação dos dados
(exponencial, raiz quadrada, logarítmica e Box Cox), permanecendo na condição de não
normalidade. As variáveis com distribuição não-gaussiana foram apresentadas sob a forma de
mediana e intervalo interquatílico. O teste de Wilcoxon analisou a variação intrapessoal do
recordatório de 24 horas, com nível de significância de 5% (p<0,05). Também foi aplicado o
teste do Mann-Witney para avaliar associação entre consumo alimentar e anemia ferropriva, e
a correlação de Sperman (p) entre o consumo de nutrientes facilitadores e inibidores da
absorção de ferro, consideradas significantes ao nível de p < 0,05 e p<0,01.
O protocolo de pesquisa foi aprovado previamente pelo Comitê de Ética em Pesquisa,
do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (protocolo nº.
006/2008-CEP/CCS), atendendo às diretrizes e normas da Resolução nº. 196/1996, para
pesquisas envolvendo seres humanos.
RESULTADOS
A amostra foi constituída de 186 crianças com distribuição homogênea entre o sexo
masculino (51% IC95% 45,8 – 56,2) e feminino (49% IC95% 43,8 – 54,2). Com relação à
distribuição etária, houve um número significativamente menor de crianças na faixa etária de
24 a 36 meses de idade (p= 0,000).
As perdas foram decorrentes de inconsistência de resultados, bem como do não
comparecimento da mãe ou responsável pela criança à escola, nos dias da coleta de dados. Em
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
52
relação aos parâmetros bioquímicos, as perdas ocorreram por inadequação do material
biológico coletado, recusa da criança e/ou responsável na coleta de sangue.
Na Figura 1, podem ser observadas as características da população em relação aos
parâmetros bioquímicos do ferro, onde 16,5% das crianças apresentaram anemia (Hb< 11,0
g/dL) e 9,9% (hematócrito < 38%), porém apenas 4,1% tenham apresentado microcitose
(VCM< 73 µm3), e 5,8% hipocromia (HCM < 24 pg), embora, 62,3% da amostra
apresentaram contagem total de leucócitos dentro da normalidade.
0
20
40
60
80
100
HB HT VCM HCM Leucócitos
Baixo
Normal
Alto
Figura 1 – Prevalência de anemia em pré-escolares, no município de Vitória de Santo
Antão, PE, 2008.
De acordo com a adoção dos critérios da OMS, 2007
34, para o IMC, 11,3%
apresentaram-se como desnutridos (Figura 2). No que se refere ao sexo e estado nutricional, o
percentual de indivíduos desnutridos segundo o IMC, foi maior no feminino (12,8%), sem, no
entanto, apresentar diferenças significantes em relação ao sexo masculino.
As correlações do estado nutricional e parâmetros bioquímicos, não tiveram diferenças
estatisticamente significativas, constatando-se que a anemia independe do estado nutricional
avaliado pelo IMC.
16,5
9,9 4,1 5,8
62,3
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
53
10,8%11,3%
70,1%
7,8%
< -2z
-2z a +1z
+1z a +2z
≥ +2z
Figura 2 – Estado nutricional em pré-escolares, segundo o IMC no município de Vitória
de Santo Antão, PE, 2008
A ingestão de ferro total e dos seus facilitadores e inibidores foi similar entre os sexos,
não apresentando diferenças significativas (Teste de Mann-Witney p<0,05).
A Tabela 1 mostra a ingestão de ferro e de nutrientes com papel relevante em sua
absorção, onde se verifica o percentual de crianças com consumo abaixo da EAR, definida
para suas respectivas faixas etárias.
Em relação ao consumo de ferro total, houve um elevado percentual de crianças com
inadequação de consumo, quando comparada a DRI para faixas etárias de 12 a 36 meses
(71,4%) e maiores de 36 meses (84,4 %). Embora os valores do consumo de fibra tenham se
apresentado baixos, e de cálcio dentro da ingestão adequada (AI), nada se pode afirmar sobre
a inadequação do consumo desses nutrientes, visto que não apresentam necessidade média
estimada (EAR).
A maioria das crianças não apresentou inadequação no consumo de proteínas e a
mediana do consumo de vitamina C mostrou valores acima da EAR.
A freqüência de consumo dos alimentos fontes de ferro, seus inibidores e facilitadores
é demonstrada na tabela 2. A diferença do consumo entre anêmicos e não anêmicos foi
significativa apenas para um alimento fonte de ferro, o ovo, e um alimento facilitador da
absorção do ferro, a acerola. Já o consumo de carne vermelha, fígado e vegetais verde-escuros
foram inadequados em ambos os grupos. A maioria das crianças apresentou consumo
inadequado de banana e leite integral, não havendo diferença na absorção do ferro.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
54
Tabela 1: Consumo mediano, Ingestão Dietética de Referência (DRI) e percentual de inadequação
do consumo de ferro, facilitadores e inibidores, em pré-escolares do município de Vitória de Santo
Antão, PE, 2008.
24 -| 36 meses (n = 7) > 36 meses (n= 179)
Nutriente Mediana
± IQ*
EAR(a) Inadaq. (%)
Mediana
± IQ*
EAR(a) Inadeq. (%)
Energia (Kcal/dia) 1245,8 ± 926,78 1300 0 1253,4 ± 654,82 1600 54,7
Proteínas totais (g/dia) 41,79 ± 30,4 13 0 40,74 ± 19,46 19 1,63
Ferro total (mg/dia) 4,8 ± 3,3 7 71,4 6,62 ± 3,7 10 84,4
Fibras totais (g/dia) 5,4 ± 4,1 19(b) 71,4 5,34 ± 2,37 25(b) 94,4
Cálcio (mg/dia) 501,24 ± 374,01 500(b) 28,6 497,6 ± 278,83 800(b) 50,8
Retinol (µg /dia) 415,7 ± 188,1 300 14,3 306,49 ± 450,31 400 40,4
Vitamina C (mg/dia) 63,88 ± 36,0 15 0 54,7 ± 44,67 25 9,4
Zinco (mg/dia) 7,1 ± 4,83 3 42,8 6,67 ± 3,88 5 22,4
Folato (µg/dia) 52,47 ± 28,58 150 57,1 42 ± 34,17 200 69,8
* Intervalo interquartílico (a) Necessidade Média Estimada (b) Ingestão adequada (AI)
Tabela 2: Distribuição da freqüência de consumo de alimentos fonte de ferro heme e não heme
e seus inibidores e facilitadores, em pré-escolares do município de Vitória de Santo Antão, PE,
2008.
Freqüência de consumo
Alimentos Anêmicos Não Anêmicos
Adequada n
Inadequada n
Adequada n
Inadequada n
p**
Facilitadores
Fígado /vísceras 5 15 42 69 0,272
Carne vermelha 6 14 37 74 0,771
Peixe 10 10 55 56 0,971
Frango 10 6 66 45 0,375
Ovo 3 17 46 64 0,023*
Feijão 10 10 50 60 0,709
Vegetais verde-escuros 5 35 41 179 0,449
Acerola 5 15 59 51 0,019*
Laranja 16 4 79 31 0,450
Inibidores Banana 6 14 53 57 0,135
Leite integral 6 14 45 65 0,360
* nível de significância 5% ** Teste Mann-Witney
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
55
É importante ressaltar que os dados dos dois inquéritos dietéticos não foram
apresentados juntos, uma vez que a freqüência alimentar é um método qualitativo de
avaliação de consumo e o recordatório 24 horas é um método quantitativo. Este último foi
repetido em 20% da amostra, para a aplicação do teste de Wilcoxon (p = 0,338), confirmando
os valores do inquérito realizado na primeira avaliação.
A tabela 3 mostra a correlação entre o consumo de ferro e seus inibidores e
facilitadores e os parâmetros bioquímicos de avaliação do ferro. Pode-se observar uma
correlação direta entre consumo de vitamina C e Hemoglobina circulante (p=0,026) e entre
ferro total e HCM (p=0,037).
A análise do consumo mostrou uma correlação direta entre a ingestão de proteínas e os
nutrientes folato e ferro (Figura 3).
Tabela 3: Correlação entre o consumo de ferro e nutrientes facilitadores ou inibidores de sua
absorção e parâmetros bioquímicos em pré-escolares do município de Vitória de Santo Antão, PE,
2008.
Parâmetros Bioquímicos
Hb HT VCM HCM Leucócitos
Consumo Sperman p Sperman p Sperman p Sperman p Sperman p
Energia (Kcal)
0,025 0,773 0,455 0,607 0,059 0,504 0,056 0,522 0,062 0,481
Proteínas totais (g)
-0,033 0,706 -0,005 0,954 0,119 0,179 0,141 0,117 0,65 0,461
Ferro total (mg)
0,035 0,693 0,010 0,909 0,152 0,084 0,183 0,037* 0,035 0,688
Fibras totais (g)
-0,128 0,114 -0,122 0,165 -0,29 0,746 -0,01 0,99 -0,018 0,835
Retinol (µg)
0,06 0,493 0,014 0,877 0,108 0,221 0,126 0,150 0,56 0,524
Vitamina C (mg)
0,194 0,026* 0,144 0,1 0,78 0,377 0,105 0,231 0,113 0,197
Zinco (mg) 0,007 0,937 - 0,24 0,787 0,22 0,8 0,07 0,428 0,26 0,772
Folato (µg) 0,101 0,252 0,125 0,155 -0,57 0,516 -0,073 0,422 0,71 0,422
Cálcio (mg)
0,082 0,352 0,036 0,679 0,02 0,821 0,091 0,303 -0,045 0,613
correlação de Sperman * p< 0,05
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
56
Figura 3A e 3B - Correlação entre consumo de proteínas totais, ferro e folato em pré-escolares
do município de Vitória de Santo Antão, PE, 2008.
DISCUSSÃO
Muitos estudos têm investigado a prevalência e formas de diagnóstico da anemia para
uma melhor caracterização da situação de saúde e implementação de medidas de controle. É
importante determinar que fatores influenciam a ocorrência e a manutenção desse problema.
Entre os fatores associados à dieta, encontra-se a baixa ingestão de ferro e de alimentos
facilitadores da sua absorção, a deficiência de outros nutrientes envolvidos no metabolismo do
ferro, e a presença de inibidores da sua absorção31, 40, 41.
Os dados desse estudo revelaram uma amostra com distribuição homogênea entre os
sexos onde o consumo de ferro total e os facilitadores e inibidores da sua absorção foram
similares entre eles, não ocorrendo diferenças significantes.
Na nossa casuística, a prevalência de anemia em pré-escolares foi de 16,5%, com
predomínio na faixa etária de maiores de 36 meses. Estudo similar foi realizado por Castro,
2005 3, que encontrou uma prevalência de 11,2% de anemia em pré-escolares em cinco
creches municipais, valores inferiores aos observados por outros pesquisadores
brasileiros8,10,11,12,13,29. Ao mesmo tempo, é possível que a anemia tenha se manifestado nessas
crianças já no primeiro ano de vida. Isto foi demonstrado por Silva e col. (2002) 42, em
trabalho realizado com crianças de 6 a 12 meses, no município de Viçosa, Minas Gerais e por
Shibukama e col. (2008)43 no município de Embu, São Paulo, que estudaram crianças entre 12
Proteína (g)
908070605040302010
Fo
lato
(m
cg
)
300
200
100
0
Proteína (g)
908070605040302010
Fe
rro
(m
g)
14
12
10
8
6
4
2
rho 0,30 n=186 p=0,000**
rho 0,55 n=186 p=0,000**
correlação de Sperman (rho) ** p<0,001
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
57
a 24 meses. Esses autores constataram uma prevalência de 60,8 e 41,5% de anemia,
respectivamente. Este fato pode ser explicado, em parte, pela aceleração do ritmo de
crescimento nessa faixa etária 44.Além disso, a anemia nesse período pode se manifestar em
decorrência do desmame precoce e/ou atraso na introdução de alimentos fontes de ferro 45, 46,
sendo por isso considerada a fase mais vulnerável do ciclo de vida 47.
No que diz respeito ao estado nutricional, avaliado pelo IMC, observou-se uma
prevalência de desnutrição de 11,3%, percentual ainda elevado em relação a outras regiões do
país. De acordo com a III Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição (PESN, 2006) 48, realizada
no estado de Pernambuco, esta prevalência foi de 1,9%, em menores de 5 anos, dentro dos
limites de referência definido pela OMS (2,3%).
Pesquisas indicam que, apesar da melhoria observada nas últimas décadas, o problema
da desnutrição energético-protéica (DEP) atinge considerável parcela das crianças brasileiras,
principalmente aquelas de nível socioeconômico baixo. Ao contrário da DEP, a anemia está
disseminada em todas as classes sociais, embora as famílias de baixo nível socioeconômico
sejam mais vulneráveis à sua ocorrência45.
Devido à alta prevalência de distúrbios nutricionais, como a desnutrição e, mais
recentemente, a obesidade, cuja incidência vem aumentando em nossa sociedade com grave
prognóstico, a vigilância nutricional constante faz-se ainda mais necessária nos países em
desenvolvimento49. Nossos dados revelaram um elevado percentual de obesos 7,8%, em
acordo com Corso et al50, que avaliaram crianças menores de seis anos na cidade de
Florianópolis, Santa Catarina, encontrando maior prevalência de sobrepeso/obesidade (6,8%)
comparada à de desnutrição aguda (2%).
No presente estudo não foi observada associação entre anemia ferropriva e estado
nutricional, similar à encontrada por outros autores, como Miranda e col. (2003)45,
demonstrando que estes distúrbios são entidades distintas, as quais têm etiologias próprias e
necessitam de medidas específicas de intervenção.
A alimentação complementar adequada deve compreender alimentos ricos em energia,
proteínas e micronutrientes (com destaque para ferro, zinco, cálcio, vitamina A, vitamina C e
ácido fólico), livres de contaminação (biológica, química ou física), de fácil consumo e
aceitação pela criança, com custo aceitável e preparados a partir dos alimentos da família 51.
Vários estudos demonstram que a deficiência energética é mais frequente do que a de
proteínas 52,53. Neste estudo encontramos déficit de energia de 54,7% (faixa etária >36 meses),
e o consumo de proteínas foi de 98,3% acima dos valores de EAR. Outros relatos da literatura
confirmam o alto consumo de proteínas em pré-escolares, como o estudo de Bollella et al.54,
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
58
estudando 439 crianças americanas de três a cinco anos. Medeiros et al.55 e Castro3 também
observaram um consumo médio de proteína de 54,8g/dia; ambos estudando alimentação de
crianças nessa mesma faixa etária, sem evidências de inadequação desse nutriente. Esse
achado é importante, uma vez que a proteína animal atua como um dos principais facilitadores
na absorção do ferro não heme da dieta 8.
O consumo mediano diário de ferro no nosso estudo foi de 6,62 mg (faixa etária > 36
meses), de acordo com o relatado por Sichieri, et al.56(6,2 mg) e por Silva57 (7,3 mg).
Resultados semelhantes foram observados em estudo realizado com crianças de zero a 59
meses, em São Paulo, onde se constatou que, em todas as idades, o aporte dietético de ferro
estava abaixo das quantidades recomendadas para o consumo52.
O consumo de ferro total está bem abaixo do recomendado para esta população, que é
de aproximadamente 7g/dia para faixa etária 12 a 36 meses e 10g/dia para > 36 meses.
Conseqüentemente, houve um elevado percentual de crianças com inadequação de consumo,
quando comparada a DRI com as respectivas faixas etárias (71,4 e 84,4 %).
O consumo de ferro observado no estudo, em termos de sua inadequação à DRI
(84,4%), difere de outros estudos, como Lacerda, et al.1 (2001) que encontrou 48% de
inadequação em crianças de 12-24 meses no Rio de Janeiro. Esse fato está fortemente
relacionado à qualidade do ferro ingerido, sendo normalmente baixa a incidência de alimentos
fontes de proteína animal nesse grupo1,3. Mc Clowry et al 53 e Coletta et al.58 avaliaram o
consumo médio de ferro em pré-escolares e encontraram 9,5 e 9 mg, respectivamente. O que
chama a atenção nos achados desses autores é que o consumo médio de ferro está de acordo
com as recomendações da DRIs, o que se deve, provavelmente, à prática da fortificação dos
alimentos nos Estados Unidos.
No Brasil, o Ministério da Saúde estabeleceu com o setor produtivo a inclusão de ferro
nas farinhas de milho e de trigo. O prazo para as indústrias se adequarem a essa determinação
chegou ao fim em junho de 2004, conforme Resolução – RDC n. 344, de 13 de dezembro de
2002. A partir dessa data, os produtos - fabricados no Brasil ou importados - devem estar
fortificados59. A fortificação da farinha com ferro e ácido fólico já é praticada nos Estados
Unidos, no Canadá, na Guatemala e no Chile. No caso do ferro, é vista como a melhor
alternativa para o combate à anemia ferropriva na população, pois apresenta baixo custo e
atinge grande número de pessoas. Essa ação do Ministério da Saúde é essencial para o
controle da anemia no Brasil, que acomete crianças de todas as classes sociais 60.
Embora intervenções dessa natureza surtam efeitos a longo prazo, a experiência
mostra que efeitos positivos são tão mais rápidos e maiores, quanto maior a necessidade
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
59
fisiológica 60. Em pré-escolares, a melhoria poderia ser constatada pela diminuição na
prevalência de anemia e/ou pelo aumento da concentração de hemoglobina em relação ao
período anterior à implantação do programa.
Embora os valores do consumo de fibra tenham se apresentado baixos, e de cálcio
dentro da ingestão adequada (AI), nada se pode afirmar sobre a inadequação do consumo
desses nutrientes, visto que não apresentam necessidade média estimada (EAR). O consumo
de fibras alimentares manteve-se abaixo do valor da AI nos dois grupos etários, o que foi
semelhante ao encontrado por Barbosa et al.61, quando avaliou o consumo de crianças de uma
creche, encontrando um consumo abaixo da porção recomendada para o grupo dos legumes e
frutas. Pode-se deduzir nesse estudo que o consumo de fibras não interferiu significativamente
na absorção do ferro.
Em relação ao cálcio, encontrou-se um percentual de crianças com consumo acima da
AI para as respectivas faixas etárias (71,4 e 49,2%), logo, esperar-se-ia uma baixa prevalência
de inadequação desse nutriente. Sabe-se que o cálcio propicia a quelação do ferro, o que
resulta em inibição considerável da absorção do ferro, sobretudo o Fe-heme. Pesquisas em
seres humanos mostraram que o cálcio chega a reduzir à absorção de ferro em até 60%, sendo
recomendada a redução no consumo de alimentos lácteos junto às refeições contendo ferro
heme (de origem animal) 6. Em teoria, a influência negativa do consumo de leite sobre a
biodisponibilidade do ferro alimentar pode ser devida a dois mecanismos: o diluidor e o
inibidor. O mecanismo diluidor se deve à baixa concentração de ferro presente no leite de
vaca; estando o mecanismo inibidor relacionado à presença de cálcio, caseína e proteínas do
soro no leite, elementos comprovadamente inibidores da absorção de ferro pelo organismo
humano6.
Um fator positivo, em termos de biodisponibilidade do ferro, foi o percentual de
consumo de retinol dentro da EAR, em crianças maiores de 2 anos, uma vez que a vitamina A
atuaria inibindo a quelação do ferro com o ácido fítico, embora esta relação não esteja ainda
totalmente esclarecida 62, e na sua atuação direta e de forma positiva no metabolismo do ferro
orgânico8.
Mesmo que a inadequação do consumo de vitamina C tenha sido baixa, não se pode
garantir sua ação favorável na absorção do ferro alimentar, pois, geralmente, os alimentos
ricos nesse nutriente, usualmente as frutas e hortaliças, são oferecidos em pequenas
quantidades e/ou cozidas na forma de sopas ou caldos, diminuindo a biodisponibilidade deste
nutriente, assim como, nem sempre são oferecidos na mesma refeição na qual o ferro está em
maior proporção63. São expressivos os números de estudos que apontam para uma correlação
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
60
entre o efeito da suplementação da vitamina C no estado hematológico em seres humanos21,
mostrando a sua importância na prevenção da deficiência de ferro como facilitador eficaz da
absorção do mineral.
Baseado na importância da alimentação, para assegurar o atendimento das
necessidades nutricionais de ferro, avaliou-se o consumo de alimentos de alta
biodisponibilidade, estimuladores e possíveis inibidores da sua absorção. O consumo desses
alimentos entre os pré-escolares desse estudo, não apresentou diferenças estatísticas entre
anêmicos e não-anêmicos, exceto para ovo e acerola. Estes dados não excluem a importância
dos outros alimentos na prevenção da anemia ferropriva42.
A maioria das crianças tinha baixa freqüência no consumo de carnes o que pode,
provavelmente, explicar a inadequação de ferro na dieta. Outro fator que, possivelmente,
contribuiu para a alta inadequação do ferro dietético foi o baixo consumo per capita de carne,
observado nas refeições. A principal fonte de ferro entre as crianças investigadas foi o feijão,
similar ao encontrado por Brito et al., 2003 64. Porém, a absorção do ferro disponível nesse
alimento depende da presença de outros componentes alimentares na dieta. A importância das
carnes enquanto favorecedoras da absorção de ferro ganham relevância na medida em que a
maior parte do ferro dietético disponível nas dietas dos pré-escolares é do tipo não-heme,
proveniente dos alimentos de origem vegetal, como cereais, leguminosas, raízes, verduras e
frutas 3.
O efeito favorecedor das carnes de boi, carneiro, galinha, peixe ou porco, além de
fígado, na absorção do ferro, parece estar relacionado ao alto nível de cisteína contido nesses
tecidos 65. Além disso, observou-se que um contingente significante de crianças consumiu
alimentos fontes de vitamina C, outro potente favorecedor da absorção do ferro não-heme.
Porém, destaca-se que esse efeito protetor só é registrado quando a vitamina C é consumida
conjuntamente com as fontes de ferro65.
Além disso, no nosso estudo foi possível observar, uma correlação direta entre os
níveis de vitamina C e hemoglobina. Este achado reforça a importância dessa vitamina na
biodisponibilidade do ferro dietético não-hemínico, uma vez que elas agem aumentando sua
absorção 21, 66. Observou-se também uma correlação direta com o ferro alimentar e valores
séricos de HCM. Esta afirmativa corrobora com o preconizado pela OMS, no diagnóstico
preciso da anemia por deficiência de ferro, que testes de triagem compreendendo a contagem
sangüínea, VCM e HCM deveriam acompanhar os testes confirmatórios de deficiência de
ferro no sangue e/ou nas reservas de ferro67.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
61
A correlação direta entre o consumo de proteínas, ferro e folato é um achado
interessante, uma vez que o aumento no consumo de proteínas na alimentação tende a elevar o
teor de ferro e folato da dieta.
Os resultados do presente estudo reforçam a importância de se conhecer o consumo
alimentar e a biodisponiblidade de ferro, além de correlacionar com o estado nutricional das
crianças pré-escolares, para estabelecer melhor a sua associação com a ocorrência da anemia
e, dessa maneira, subsidiar as políticas de saúde e nutrição que visam solucionar o problema.
Como medida preventiva, conjuntamente com outras estratégias, é necessário
implementar ações de educação nutricional, no sentido de promover o aleitamento materno
exclusivo até os 6 meses de idade e sua continuidade até os 2 anos, orientar a alimentação
complementar adequada, reduzindo o consumo de leite de vaca e esclarecendo sobre a correta
introdução de alimentos e ingestão adequada de alimentos com maior densidade de ferro.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
62
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CONCENTRAÇÃO DE HEMOGLOBINA E FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA
DE ANEMIA EM CRIANÇAS DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO, PE,
BRASIL
Artigo original que foi submetido à publicação pela
Cadernos de Saúde Pública
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
71
ARTIGO II
Título: Concentração de hemoglobina e fatores associados à ocorrência de anemia em crianças
do município de Vitória de Santo Antão, PE, Brasil
Title: Hemoglobin concentration and factors associated to anemia in children, in Vitória de
Santo Antao, PE, Brazil
Autores: Flávia Nunes Salviano;
Florisbela de Arruda Camara e Siqueira Campos;
Raquel Araújo Santana;
Maria Helena de Castro Chagas;
Luiz Miguel Picelli Sanches;
Ana Patrícia Siqueira Tavares Falcão
Endereço para correspondência: Rua João Braga, 247 - aptº 202 – Imbiribeira – CEP: 51.170-580 – Recife, PE. Tel/Fax: (81) 3339-5315
e-mail: [email protected]
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
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RESUMO
Objetivo: Este estudo teve como objetivo avaliar a associação entre a concentração de
hemoglobina e prevalência de anemia com variáveis sócio-econômicas e fatores de risco para
anemia. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo de corte transversal. Foram incluídas 292
crianças nas escolas do município de Vitória de Santo Antão, de abril a julho de 2008. A anemia
foi diagnosticada através da dosagem do hemograma completo. Os marcadores de risco
estudados foram: características sócio-econômicas, peso ao nascer, aleitamento materno
exclusivo, padrão de amamentação, introdução de alimentação complementar, estado
nutricional e presença de morbidades. Resultados: A prevalência de anemia foi de 16,5%. Não
foi observada associação estatisticamente significativa entre a anemia e as variáveis: sexo e
estado nutricional. Verificou-se associação estatisticamente significante (p = 0,000) entre a
presença de anemia e as características sócio-econômicas, peso ao nascer, aleitamento materno
exclusivo, idade do desmame e presença de morbidades prévias. Porém, no teste estatístico,
regressão logística univariada, as variáveis sócio-econômicas explicam em 2,3% o risco de
apresentar anemia, e das variáveis da criança, peso ao nascer, revelou uma contribuição de 4,4%
(p = 0,030). Conclusão: O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou contribuir para
identificar determinantes sociais e biológicos que se associam a concentração menores ou
maiores de hemoglobina. Esse resultado indica a importância de se considerar tais
determinantes, tanto no programa de combate as carências nutricionais, quanto no planejamento
da intervenção no consumo de ferro biodisponível, com vistas à prevenção da anemia ferropriva
na população em geral.
Descritores: anemia ferropriva, estado nutricional, fatores sócio-econômicos.
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73
ABSTRACT
Objective: The objective of this trial is to evaluate the association between hemoglobin
concentration and predominance of anemia in social economic environment and risk factor to
anemia. Method: A transversal descriptive trial was carried out in 292 children, from public
schools in Vitoria de Santo Antao from April to July/2008. Anemia was diagnosed through
blood count. The risk markers were: social economic characteristics, born weight, nursing,
nursing pattern, supplementary nourishment, nutritional condition e morbidity. Results: The
predominance of anemia was 16,5%. It wasn’t observed a statistically significant association
(p=0,000) between anemia, sex and nutritional condition. It was verified a statistically
significant association between anemia and social economic characteristics, born weight,
nursing, weaning and morbidity. Although, the linear regression of the social economic variable
explain 2,3% risk to show anemia and, children variable, born weight, showed a contribution of
4,4% (p=0,030). Conclusion: The development of this research contributed to identify decisive
social and biological which are associated to less or more hemoglobin. This result indicates the
importance to considerer such agent, to fight against poor nutrition as well as to plan a way to
prevent iron-deficiency anemia in the population in general.
Key Words: iron-deficiency anemia, nutritional condition, social economic factors.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
74
INTRODUÇÃO
É amplamente conhecida a influência que os distúrbios nutricionais exercem na
determinação ou agravamento de doenças e, portanto, na sobrevivência das populações.
Exemplo disso é o reconhecimento da associação entre desnutrição e carências nutricionais
específicas, tais como a anemia ferropriva, particularmente na população infantil. 1,2
A anemia por deficiência de ferro constitui-se em carência nutricional relevante por suas
repercussões para o desenvolvimento infantil 3 e magnitude de sua prevalência na atualidade4,
originando políticas públicas para sua prevenção e controle no Brasil5. Estima-se que 12% dos
menores que cinco anos em países desenvolvidos sejam anêmicos, embora, alguns países como
os Estados Unidos tenham conseguido reduzir para menos de 1% a prevalência desse agravo6.
Em contraste, 51% das crianças de países em desenvolvimento têm anemia5.
No Brasil, os dados para prevalência de anemia variam de 22,7% a 77,0%7, e nas
diferentes regiões estas discrepâncias estão fortemente relacionadas aos fatores
socioeconômicos8. Estudo nacional realizado com crianças menores de doze meses, que
freqüentavam unidades da rede básica de saúde, em 12 centros urbanos brasileiros localizados
nas cinco regiões geográficas do país, aponta prevalência de anemia de 65,4%9. Monteiro et al.
10, em 2000, observaram anemia em 46,9% em crianças entre 0 e 59 meses. Oliveira et al.11,
2002, no estado da Paraíba, observaram uma prevalência global de anemia nutricional de
36,4%.
A deficiência de ferro e a anemia são causadas por um balanço negativo de ferro no
organismo. Apesar da aparente simplicidade do modelo, poucos avanços foram obtidos no que
se refere à redução da prevalência de anemia ferropriva, provavelmente devido ao fato de que
esse balanço negativo é o resultado final de uma série de fatores biológicos, sociais, econômicos
e culturais que agem sobre a criança12.
As principais conseqüências da anemia por falta de ferro em crianças são o déficit no
desenvolvimento psicomotor e na função cognitiva, maior suscetibilidade às infecções e
redução da força muscular13. Vários fatores têm sido investigados na associação com a anemia,
entre estes, a prematuridade14, o baixo peso ao nascer15, o desmame precoce e os erros
alimentares16. Os fatores envolvidos na etiologia da anemia ocorrem dentro de um contexto
político, econômico e social que, quando adverso, levam a uma precariedade da qualidade de
vida e saúde da população e colaboram para o agravamento do quadro de carências nutricionais
em crianças17.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
75
Assim, é fundamental que se entenda os fatores de riscos de cada população para que se
possa oferecer medidas eficazes de prevenção e controle. Nesse contexto, o objetivo deste
estudo foi avaliar a associação da concentração de hemoglobina e da prevalência de anemia
com as variáveis sócio-econômicas e estado nutricional das crianças. Além disso, o
conhecimento dos fatores de risco de anemia e da deficiência de ferro visa oferecer um estudo
mais detalhado do problema e produzir um direcionamento para um programa de controle que
não seja somente destinado à população estudada, mas a populações com características
epidemiológicas similares.
METODOLOGIA
A população pesquisada foi constituída por alunos devidamente matriculados na rede
pública de ensino do município de Vitória de Santo Antão, PE. Para avaliação da hemoglobina
foi selecionada uma amostra de pré-escolares, entre 2 a 6 anos, distribuídos proporcionalmente,
tendo como referência a relação existente entre o número de alunos matriculados na unidade de
ensino e o número total de pré-escolares matriculados no município em cada uma das séries
citadas, totalizando uma amostra de 292 alunos. O nível de confiança adotado foi de 95%, com
o erro amostral de 5%.
Os riscos nutricionais foram verificados por meio da antropometria, condições
socioeconômicas e prevalência de anemia ferropriva. Para realização desta pesquisa foi
solicitado aos pais à assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido onde
constavam todas as etapas do estudo. O projeto foi submetido à aprovação pelo Comitê de Ética
em Pesquisa, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco
(protocolo nº. 006/2008-CEP/CCS), atendendo às diretrizes e normas da Resolução nº.
196/1996, para pesquisas envolvendo seres humanos.
Os dados socioeconômicos foram obtidos a partir de um questionário realizado com os
familiares dos pré-escolares. A renda familiar foi calculada a partir da soma das rendas mensais
de todos residentes no domicílio, considerando-se o número de pessoas que residiam na mesma
casa, independente de parentesco; foi adotado o ponto de corte em três níveis: 0-1, 1-2, >2
salários mínimos, considerando mais de 2 salários mínimos como necessário para uma família
de quatro membros, segundo a Pesquisa Nacional de Orçamento Familiar, (POF 2002/2003)18.
Quanto ao grau de instrução, foram classificados os níveis de escolaridade dos pais ou
responsáveis em analfabeto, 1º, 2º e 3º grau completo.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
76
Nos fatores de risco para anemia em crianças, foi registrado o peso ao nascer, tempo do
aleitamento materno exclusivo, idade da introdução de novos alimentos, devido ao aumento das
necessidades de ferro no infante. Outros fatores como associação com morbidades nos últimos 6
meses e a presença de anemia prévia também foram avaliados.
As medidas de peso e estatura foram coletadas utilizando-se uma balança da marca
Filizola com capacidade máxima de 150 kg e estadiômetro (Seca®) fixado à parede com escala
em milímetros (mm), sendo realizadas duas medidas e considerada a média dos valores obtidos,
respectivamente. A técnica da aferição das medidas antropométricas foi de acordo com as
técnicas propostas por Jelliffe19 e por Lohman 20. O estado nutricional das crianças foi avaliado
de acordo com escore Z, utilizando-se os indicadores conforme o índice de massa corporal em
percentis com os pontos de corte propostos pela OMS, 200721.
A amostra de sangue foi colhida e prontamente encaminhada para o laboratório
conveniado com a Secretaria de Saúde do município e, no mesmo dia procedido ao exame de
hemograma completo, por meio de sistema automatizado (automação: Counter MDII). Os
pontos de corte para diagnóstico de anemia e deficiência de ferro foram: hemoglobina <11g/dl,
hematócrito <38% e volume corpuscular médio <73 µm3 para crianças entre 2 a 5 anos e <75
µm3 em pré-escolares entre 5 a 6 anos e concentração de hemoglobina corpuscular média <24
pg, de acordo com o critério adotado pela Organização Mundial da Saúde4.
Para as análises estatísticas, foi utilizado o software SPSS, versão 13.0 (SPSS Inc,
Chicago, IL, USA). Testes de normalidade foram realizados para cada variável permitindo,
dessa forma, a escolha do procedimento estatístico mais adequado para a realização da análise
de dados. Tendo a normalidade sido rejeitada por vários testes (ao nível de significância de 5%),
procedimentos não-paramétricos foram empregados22. Os testes de Mann-Whitney e Kruskal-
Wallis foram utilizados para avaliar os fatores de risco para anemia, com nível de significância
estabelecido em 1 e 5%.
Previamente à regressão logística univariada, foi determinado o nível de correlação entre
as variáveis independentes através da correlação de Sperman, como forma de excluir variáveis
colineares (rho >0,80) 23. As variáveis renda per capita e a escolaridade materna foram
transformadas em variáveis indicadoras (dummy), sendo as demais dicotômicas com exceção do
peso ao nascer, que foi analisada como variável contínua.
Todas as variáveis com p <0,20 na análise bivariada foram inicialmente incluídas na
análise, com exceção da renda per capita, que pela sua plausibilidade em relação à variável
dependente é freqüentemente referida como possível fator de risco dos níveis de hemoglobina.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
77
RESULTADOS
A amostra foi constituída de 292 crianças, porém apenas 248 mães compareceram para
a entrevista, porque muitas vezes eram outras pessoas que buscavam ou levavam a criança
(vizinho, irmão, outros) na escola. Além disso, as perdas referentes aos parâmetros
bioquímicos, ocorreram por inadequação do material biológico coletado, recusa da criança
e/ou responsável na coleta de sangue.
Segundo as características demográficas, a amostra apresentou uma distribuição
homogênea entre o sexo masculino (51% IC95% 45,8 – 56,2) e feminino (49% IC95% 43,8 –
54,2). Já com relação à distribuição etária, houve um número significativamente menor de
crianças (p= 0,000) na faixa etária de 12 a 36 meses de idade.
Na Tabela 1, podem ser observadas as características da população em relação aos
parâmetros bioquímicos do ferro, onde, segundo a concentração de Hemoglobina, 16,5% das
crianças estavam anêmicas embora, de acordo com os valores de hematócrito, apenas 9,9%
delas receberam esse diagnóstico. Quanto aos valores de Volume Corpuscular Médio apenas
4,1% apresentaram microcitose e 5,8%, hipocromia. Os valores adotados como pontos de corte
foram: Hb <11 g/dL, Ht <38%, VCM <73 µm3 (para crianças entre 2 a 5 anos) e <75 µm3 (para
pré-escolares entre 5 a 6 anos) e HCM <24 pg.
Tabela 1: Valores hematimétricos e percentual de deficiência de ferro em pré-escolares do
município de Vitória de Santo Antão, PE, 2008.
Parâmetros Mediana ± IQ*
(n 292) Valor Mínimo
Valor Máximo
Deficiencia %
Hemoglobina (g/dL) 12,5 ± 1,27 8,9 15,1 16,5
Hematócrito (%) 37,6 ± 3,6 28,4 45,3 9,9
Volume Corpuscular Médio (µm3) 27,6 ± 2,2 16 32,5 4,1
Hemoglobina Corpuscular Média (pg) 82,5 ± 5,8 54,8 92,4 5,8
* Intervalo interquartílico
De acordo com a adoção dos critérios da OMS, 200720, para o IMC, 11,3%
apresentaram-se com desnutrição e 7,8% com obesidade. No que se refere ao sexo e estado
nutricional, o percentual de indivíduos desnutridos segundo o IMC, foi maior no feminino
(12,7%), sem, no entanto, apresentar diferenças significantes (Teste Mann-Witney, p = 0,275)
em relação ao sexo masculino (Figura 1).
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
78
0
10
20
30
40
50
60
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Desnutrição Eutrofia Sobrepeso Obesidade
Masculino
Feminino
Figura 1 – Estado nutricional em pré-escolares, segundo o sexo no município de Vitória de
Santo Antão, PE, 2008
As correlações do estado nutricional e parâmetros bioquímicos, não tiveram diferenças
estatisticamente significativas, constatando-se que a anemia independe do estado nutricional
avaliado pelo IMC.
Com relação às características sócio-econômicas relacionadas na tabela 2, a maior
parte da amostra, 92,3%, tinha baixa renda familiar, (p = 0,000), residindo em torno de 2 a 4
pessoas no domicílio (p = 0,000). Quanto ao nível de escolaridade materna, foi observado que
70,5% não tinham concluído o 1º grau. Em relação à ocupação materna, quase 60% da
amostra eram donas de casa, 19% eram empregadas domésticas, ambas estatisticamente
significantes p = 0,000 e p = 0,006, respectivamente.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
79
Tabela 2 – Distribuição da concentração de Hemoglobina segundo as características sócio-
econômicas em pré-escolares do município de Vitória de Santo Antão, PE, 2008.
Variáveis Total Hemoglobina Sócio-econômicas n
248
%
Mediana
IQ(b) Valor Mínimo
Valor Máximo
Análise Estatística(c)
Renda familiar per capita (a) < 2 SM 229 92,3 10,5 1,2 10 14,7 p = 0,000** > 2 SM 19 7,7 12,8 0,97 10,3 13,7 p = 0,026* H = 0,311 Nº de pessoas no domicílio
2 - 4 148 59,7 12,6 1,2 10,8 14,7 p = 0,000** 5 – 7 90 36,3 12,6 2,1 10,8 14,4 p = 0,000** 8 – 10 10 4,0 12,2 1,1 10 13,1 p = 0,134 H = 0,787 Escolaridade Materna
Analfabetismo 3 1,2 11 1,2 10 11 - 1º grau incompleto 175 70,5 12,4 1,1 10,1 13,6 p = 0,000** 1º grau completo 26 10,5 12,6 1,2 10 14,4 p = 0,006* 2º grau incompleto 25 10,1 12,7 0,92 10,2 14,4 p = 0,024* 2º grau completo 19 7,7 13 1,1 10,5 14,7 p = 0,108 H = 0,203
Ocupação Materna
Do lar 143 57,7 12,5 1,3 10,1 14,4 p = 0,000** Doméstica 47 19 12,5 1,4 10 14,7 p = 0,006* Ambulante 21 8,5 12,6 1,47 10 13,9 - Serviços gerais 17 6,8 13 1,12 12 13,7 - Agricultora 6 2,4 12,7 1,3 12,2 13,5 - Aposentada 6 2,4 12,7 1,3 12,2 13,5 - Desempregada 8 3,2 13 2,1 10,5 14 p = 0,157 H = 0,274
(a) Salário mínimo (SM) (b) Intervalo interquartílico (c) p=Teste de Mann-Witney, H =Teste de Kruskal-Wallis * p < 0,005 ** p < 0,001
A Tabela 3 apresenta as variáveis da criança ao nascer, aleitamento materno,
introdução da alimentação complementar, associação com morbidades prévias em relação à
concentração de hemoglobina. Observa-se que 71% da amostra nasceram com peso adequado
(p = 0,000), porém apenas 21,8% apresentaram aleitamento materno exclusivo (p = 0,000;
H=0,031). Quanto à idade da introdução da alimentação complementar, quase 60% da amostra
apresentaram tempo de desmame satisfatório, ambos também estatisticamente significantes (p =
0,000; p = 0,042). Em relação à presença de morbidades, 21,4 e 18,6% tiveram previamente
gripe e virose, respectivamente, e 64,5% não tinham anemia associada (p = 0,000).
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
80
Tabela 3 – Distribuição da concentração de Hemoglobina segundo características das crianças
do município de Vitória de Santo Antão, PE, 2008
Total Hemoglobina Variáveis da criança
n 248
%
Mediana
IQ (a) Valor
Mínimo Valor
Máximo Análise
Estatística (b)
Peso ao nascer (g) < 2499 30 12,1 12,5 0,6 10 14 p = 0,021* 2500 - 2999 42 16,9 12,6 0,77 10,3 14,3 p = 0,093* > 3000 176 71,0 12,9 0,95 10 14,7 p = 0,000** H = 0,343 Aleitamento materno (meses) < 4 103 41,5 12,4 1,47 10 14 p = 0,000** 4 – 6 91 36,7 12,9 1,2 10,3 14,7 p = 0,000** > 6 54 21,8 12,7 1,15 10 14,4 p = 0,000** H = 0,031* Idade do desmame (meses) < 4 101 40,7 12,5 1,1 10 14,4 p = 0,000** >4 147 59,3 12,8 1,52 10 14,7 p = 0,000** p = 0,042* Morbidades prévias Gripe 53 21,4 12,5 1,05 10,3 13,9 p = 0,000** Virose 46 18,6 12,6 1,6 10,2 14,3 p = 0,009* Asma 13 5,2 12,3 1,6 10,3 13,2 p = 0,040* Verminoses 17 6,8 10,9 2,9 10 12,9 p = 0,221 Alergia 11 4,4 13,0 2,4 10,7 14 p = 0,143 Pneumonia 9 3,6 12,5 0,3 12,5 12,5 - Infecção intestinal 5 2,0 11,3 2,3 10,2 12,5 p = 0,317 Não teve 94 38,0 12,6 1,55 10 14,4 p = 0,000** H = 0,365 Já teve anemia anteriormente Sim 88 35,5 12,6 2,1 10 14,3 p = 0,000** Não 160 64,5 12,6 1,2 10 14,7 p = 0,000** p = 0,000**
(a) Intervalo interquartílico (b) p=Teste de Mann-Witney, H =Teste de Kruskal-Wallis * p < 0,005 ** p < 0,001
Os resultados da regressão logística univariada com os níveis de hemoglobina como
variável dependente, constam da Tabela 4. Realizou-se a correlação de Sperman (rho) entre as
variáveis independentes que participaram do Modelo 1 (variáveis sócio-econômicas) e 2
(características da criança). Identificou-se que não houve correlação entre as demais variáveis,
exceto a idade de desmame e aleitamento materno que apresentaram um rho = 0,44, mesmo
assim mantiveram no Modelo 2 pois o valor foi inferior a rho 0,8.
Entre as variáveis socioeconômicas componentes do Modelo 1, não se mostraram
significantes com os níveis de hemoglobina, porém contribuíram com sua variação em 2,3%.
No Modelo 2, das variáveis da criança durante o primeiro ano de vida, o peso ao
nascer se mostrou significativo, contribuindo coma variação de hemoglobina de 4,4%.
Consideradas no seu conjunto, as variáveis explicaram 7,4% à variação do nível de
hemoglobina.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
81
Tabela 4 – Efeitos das variáveis independentes sobre a anemia por deficiência de ferro
determinada pela análise de regressão logística univariada
Modelo
Varáveis P R2 (a)
1 Renda per capita 0,379 0,007 Número de pessoas no domicílio 0,222 0,013 Escolaridade da mãe 0,580 0,003 Ocupação da mãe 0,825 0,00
2 Peso ao nascer 0,030* 0,044 Aleitamento materno 0,357 0,007 Tempo de desmame 0,957 0,00
Total 0,074
(a) R2 = Coeficiente de determinação; * p< 0,05
DISCUSSÃO
A anemia ferropriva tem sido considerada um relevante problema de saúde pública,
especialmente em países em desenvolvimento, onde as crianças menores de cinco anos são mais
susceptíveis a fatores de risco biológicos, socioeconômicos, demográficos e ambientais.
O propósito deste estudo foi examinar os possíveis fatores de risco para anemia em
crianças menores de 6 anos no município de Vitória de Santo Antão, PE, NE, Brasil, cuja
avaliação identificou uma prevalência de anemia 16,5%, que se equivale aos resultados obtidos
por Castro et al.24, que encontraram uma prevalência de 11,2% de anemia em pré-escolares de
Viçosa em Minas Gerais, e Oliveira et al.11, que encontraram 36,4% de pré-escolares residentes
em zonas urbanas do estado da Paraíba com esse mesmo diagnóstico. Esses valores são
inferiores às prevalências descritas por Santos et al.25, estudando 316 menores de seis anos do
município de Pelotas, Rio Grande do Sul, encontraram uma prevalência de 53%. No município
de Embu, São Paulo, foram identificados 74,1% de crianças anêmicas no grupo composto pelos
menores de um ano26. Já no estado de Pernambuco, Osório et al.14 e Silva et al.,27 detectaram
prevalência de 40,9% e 46,7 %, respectivamente em crianças com idade entre 6 e 24 meses.
Considerando que a prevalência desta doença é crescente em crianças menores de 24
meses, devido à rápida mobilização das reservas que ocorre para acompanhar a elevada
velocidade de crescimento, os mecanismos de regulação do balanço de ferro podem ser
insuficientes28. Aliada a isso, a maior suscetibilidade à anemia em crianças nesta faixa etária
tem sido atribuída a fatores como desmame precoce com uso de leite de vaca integral, e atraso
na introdução de alimentos ricos em ferro de boa biodisponibilidade29.
A concentração de Hemoglobina (Hb) para o diagnóstico de anemia ferropriva, mesmo
na ausência de outros exames bioquímicos do estado nutricional do ferro, é considerada
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
82
adequada em populações onde a deficiência de ferro apresenta alta prevalência. Além disso, a
análise de índices hematimétricos é importante no diagnóstico diferencial da anemia, como o
baixo Volume Corpuscular Médio (VCM), obtido por contagem eletrônica é preciso e altamente
reproduzível. A Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) também está modificada nas
deficiências de ferro30. Na nossa casuísta, a prevalência de anemia avaliada pelo VCM e HCM
foram 4,1% e 5,8%, respectivamente. A tabela 1 mostra que, efetivamente, a classificação da
anemia encontrada neste trabalho é a do tipo hipocrômica e microcítica, corroborando a idéia de
anemia carencial.
Os valores de hematócrito (Ht) foram significantemente menores no grupo anêmico,
sendo que a mediana encontrada (37,6%) está dentro do ponto de corte estabelecido pela OMS
(>38%). Algumas crianças apresentavam Ht abaixo do valor de corte e Hb dentro da faixa de
normalidade. Esses indivíduos também são considerados anêmicos. Enfatiza-se, então, a
necessidade da avaliação, também, do hematócrito para o estabelecimento de anemia31.
Os dados deste estudo revelaram um comportamento homogêneo na distribuição das
concentrações de hemoglobina por sexo. Esse achado difere do encontrado por Oliveira et al.,
200211, em que crianças do sexo masculino apresentaram níveis de hemoglobina mais baixos
comparados ao sexo feminino. No entanto, essa maior vulnerabilidade carece ainda de
explicações convincentes no que diz respeito a seus elos causais como determinantes dessa
distribuição peculiar. Entretanto, embora não validada do ponto de vista estatístico, há indícios
de que a prevalência das formas grave e moderada de anemia tende a ser maior, também, no
sexo masculino, pari passu à distribuição das concentrações de Hb inferiores a 11,0 g/dl,
aparecem majoritariamente em crianças do sexo masculino.
Em relação ao estado nutricional, observou-se uma prevalência de desnutrição de
11,3%, avaliado pelo IMC, o que difere da III Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição PESN,
200632, realizado no estado de Pernambuco, esta prevalência foi de 1,9%, em menores de 5
anos. Porém, estimativas recentes evidenciam que cerca de 30% das crianças brasileiras são
desnutridas e que, além disso, a desnutrição se instala precocemente, apresentando sua maior
prevalência em menores de 2 anos de idade33. Por este motivo, torna-se muito importante
realizar a monitorização do crescimento, que continua sendo um sensível instrumento de
utilização na aferição das condições de saúde de uma população, à medida que contribui de
maneira decisiva no diagnóstico de possíveis deficiências nutricionais. Sabe-se que os fatores de
risco presentes no ambiente domiciliar e escolar facilitam os agravos à saúde e interferem na
qualidade de vida dos escolares34.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
83
Os dados apresentados no nosso estudo revelam ainda outro extremo da má nutrição, o
excesso de peso para a altura, cujo prognóstico parece também apontar para obesidade na
infância. A freqüência com que este dado foi encontrado neste estudo (7,8%) é compatível com
outros registros nacionais 35, 36, realizados em faixa etária mais abrangente. Segundo a literatura
internacional, a obesidade é considerada a doença mais séria e prevalente nos Estados Unidos,
afetando entre 5 e 25% das crianças e adolescentes e é mais difícil de tratar do que a obesidade
adquirida em fase adulta35.
Neste estudo, não foi observada associação entre anemia ferropriva e estado nutricional,
similar aos resultados obtidos por Almeida et al.12 e Miranda et al.37, que não observaram
qualquer influência das medidas antropométricas (escore Z) sobre os valores de hemoglobina.
Por outro lado, O' Donnell et al.38, em 1997, estudando pré-escolares em Buenos Aires, relatam
associação entre anemia e baixo escore Z da estatura para a idade. A anemia ferropriva é uma
carência nutricional que pode ocorrer independente da desnutrição, não deixando de ressaltar
que a sua associação nem sempre é descartada39, 40, porém necessitam de medidas de
intervenção específicas.
O combate da anemia ferropriva por meio de estratégias como o incentivo ao
aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, a suplementação medicamentosa com
sais de ferro, a fortificação de alimentos com ferro e a educação nutricional, além da prevenção
das doenças respiratórias e diarréicas, poderá levar à redução da sua prevalência40.
Em consonância com tais estratégias, o Brasil tornou obrigatória a fortificação das
farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico a partir de 2004 e implantou a suplementação
preventiva com sulfato ferroso para grupos vulneráveis a partir de 2005 29.
Embora adotados em vários países, há consenso de que os programas para prevenção e
controle da anemia ferropriva não têm sido efetivos41. Novos desenhos de programas centrados
na suplementação com ferro passam a considerar não apenas a eficácia, mas também a
efetividade - capacidade de produzir os efeitos desejados sob condições esperadas de uso ou
quando parte de programas operacionais42. Nessa nova concepção, o foco das ações, antes
voltado para o tratamento, desloca-se para a prevenção da anemia ferropriva, sendo a adesão um
ponto chave para o sucesso da intervenção 41,43.
Em relação às condições sócio-econômicas, estudos anteriores têm referido que a renda
per capita é um importante fator determinante da anemia 10, 44, 45. No estudo de Silva et al.,46
constataram que as crianças de famílias com renda per capita de até um salário mínimo tiveram
um risco adicional de 57% de apresentar anemia. Na nossa casuística a renda familiar per capita
foi significante para determinar as concentrações de hemoglobina (p = 0,000).
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
84
Outros autores relatam que mesmo com o aumento da renda não se garante o aumento
dos níveis de hemoglobina, uma vez que esta carência também é freqüente e apresenta-se com
risco elevado em populações de melhores níveis socioeconômicos47. Portanto, a característica
peculiar da anemia com sua disseminação por todos os estratos socioeconômicos da população,
reforçam a importância dessa deficiência em nosso meio48.
Quanto à densidade familiar, mais da metade dos domicílios (59,7%) tinha de duas a
quatro pessoas, o que indica uma diminuição no tamanho das famílias caracterizadas como
numerosas. O número de filhos reduzido foi constatado pela III PESN 200632, em que os
resultados mostraram uma média geral de 1,9 filhos nascido vivo para todas as mulheres.
A escolaridade materna, que esteve associada significativamente com os níveis de
hemoglobina neste estudo, exceto as mães que tinham o 2º grau completo, confirma o achado de
Osório44 em crianças entre 6-59 meses de vida no estado de Pernambuco. Um estudo realizado
em São Paulo por Monteiro et al. 10, com crianças menores de cinco anos também revelou que
mesmo com o aumento da escolaridade do chefe da família, ainda é muito alto o risco de
anemia. Por outro lado, há trabalhos na literatura que não constataram tal associação 9,45,47. A
ocupação materna mostra que 57,7% (p = 0,000), não tinham vínculo empregatício.
Entre as variáveis da criança, o peso ao nascer foi um fator determinante dos níveis de
hemoglobina. Na literatura, o baixo peso ao nascer é um dos fatores predisponentes mais
importantes para os baixos níveis, sendo mais acentuado no primeiro ano de vida, por terem as
crianças logo após o nascimento, baixas reservas de ferro e por serem desmamadas
precocemente, acentuando sua depleção 44, 48, 49, 50.
Por outro lado, Silva et al. 46, não observaram associação significativa entre o baixo peso
ao nascer e a anemia das crianças de 12 a 18 meses de idade, tendo os mesmos atribuídos a
ausência de associação ao pequeno tamanho da amostra.
O aleitamento materno nos primeiros 6 meses de vida é tido como um fator de proteção
para anemia, principalmente se for exclusivo. Torres et al. 50, encontraram menor prevalência de
anemia em crianças amamentadas ao seio por um período igual ou superior a 6 meses. No
presente estudo, também houve associação entre tempo de aleitamento materno e anemia (p =
0,000; H = 0,031). Esse dado vem corroborar com a idéia de que o leite materno propicia às
crianças ferro de alta biodisponibilidade e proteção contra infecções, condições essas que as
protegem da anemia10.
Quanto à idade do desmame em que foram introduzidos outros alimentos, o segundo
semestre de vida pode ser considerado o período mais crítico, pois nessa idade as necessidades
nutricionais da criança aumentam, principalmente, as demandas de energia e nutrientes
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
85
específicos (ferro, por exemplo), e o leite materno sozinho não tem mais condições de suprir as
necessidades nutricionais3. Nessa fase os alimentos complementares são incluídos na dieta e a
criança irá se adaptar ao padrão alimentar da família e da comunidade onde vive50. Os dados do
nosso estudo revelam uma associação entre desmame precoce e baixos níveis de hemoglobina
(p = 0,000; p = 0,042), o que corrobora com os achados de outros autores 10, 16.
Em relação às morbidades prévias associadas à concentração de hemoglobina nos pré-
escolares do nosso estudo, foi observada uma associação entre gripe, virose e asma entre
anêmicos e não-anêmicos. Segundo Jansson et al.,52 é grande a predisposição do surgimento da
anemia após um episódio de infecção aguda, variando de acordo com a duração e severidade da
doença. Outros estudos mostram que infecções leves ocorrem em cerca de 60% das crianças
entre os 9-12 meses de vida e que essas estão claramente associadas com os baixos níveis de
hemoglobina 53.
A anemia ferropriva tem múltiplos fatores que contribuem para o seu surgimento, não
estando sua origem apenas atrelada aos fatores biológicos e sim, dentro de um contexto mais
amplo, onde se destacam os fatores socioeconômicos, e a morbidade, presentes na população
infantil. O presente estudo sugere que por meio da identificação e análise desses fatores em pré-
escolares, possibilitem a importância de se considerar os fatores de risco para a ocorrência da
anemia ferropriva, tanto no programa de combate as carências nutricionais, quanto implementar
ações de educação nutricional, atuando positivamente nos indicadores de saúde desse grupo e
colocando a questão nutricional como componente fundamental de promoção de saúde no
âmbito familiar e escolar.
Consumo alimentar de ferro e anemia ferropriva em pré-escolares Salviano, FN
86
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conhecer exatamente a ingestão alimentar de indivíduos ou de grupos é sempre uma
tarefa complexa pelas práticas alimentares estarem imersas nas dimensões simbólicas da vida
social, envolvida nos mais diversos significados, desde o âmbito cultural até as experiências
pessoais. Além disso, os fatores que contribuem para o estabelecimento da anemia e outros não
pesquisados certamente não atuam de forma isolada, mas interagem uns com os outros com
diferentes intensidades em cada indivíduo, tornando-se, muitas vezes, difíceis de serem
mensurados. A limitação desta investigação provém de seu desenho transversal, o que afeta a
interpretação dos resultados, na medida em que não é possível identificar se os fatores de risco
foram antecedentes à anemia.
É importante salientar que a anemia pode exercer um papel importante na redução do
apetite; assim, os estudos transversais não podem estabelecer se o consumo inadequado levou
ao quadro anêmico ou se a anemia levou a um consumo inadequado. Dessa forma, o papel dos
fatores de risco seria melhor investigado por meio de estudos prospectivos, que permitiriam
comparar os coeficientes de incidência da anemia e os graus de exposição aos fatores de risco,
estabelecendo diferenciais de risco.
O deficiente consumo alimentar de ferro e a prevalência de anemia, em uma dieta que
não favorece sua absorção reforçam a importância da inserção de programas de educação
nutricional eficazes, que tornem a população, de uma maneira geral, motivada e capacitada em
aderir a uma alimentação mais saudável, de acordo com seu poder aquisitivo e hábitos culturais.
Espera-se ainda que os resultados desse estudo possibilitem a importância de se considerar os
fatores de risco para a ocorrência da anemia ferropriva, tanto nos programas de suplementação
de ferro, quanto no incentivo ao consumo de ferro biodisponível, com vistas à prevenção da
anemia ferropriva na população em geral. Tais medidas devem ser tomadas em conjunto e
monitoradas permanentemente. Nos locais onde grande parte da população em idade escolar
freqüenta a escola, o tratamento da anemia pode ser implantado com certa facilidade, já que as
escolas podem desenvolver programas de promoção de uma alimentação saudável.
Torna-se ainda fundamental a realização de novos estudos na mesma linha de pesquisa deste
trabalho, que impulsione o monitoramento nutricional das crianças e para que possa avaliar a
evolução temporal no estado nutricional de ferro analisando-se outros indicadores do ferro
corporal, especialmente a ferritina no soro, que indica a situação dos depósitos corporais de
ferro.
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ANEXO 3