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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE - UFCSPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA Flavia Feijó Nunes CONSUMO ALIMENTAR DE PACIENTES CIRRÓTICOS, COMPARAÇÃO COM O ESTADO NUTRICIONAL E COM O ESTADIAMENTO DA DOENÇA. Porto Alegre Dezembro, 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO

ALEGRE - UFCSPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA

Flavia Feijó Nunes

CONSUMO ALIMENTAR DE PACIENTES CIRRÓTICOS,

COMPARAÇÃO COM O ESTADO NUTRICIONAL E COM O

ESTADIAMENTO DA DOENÇA.

Porto Alegre

Dezembro, 2012

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I

Flavia Feijó Nunes

CONSUMO ALIMENTAR DE PACIENTES CIRRÓTICOS,

COMPARAÇÃO COM O ESTADO NUTRICIONAL E COM O

ESTADIAMENTO DA DOENÇA.

Orientador: Dr. Cláudio Augusto Marroni

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Medicina: Hepatologia da Universidade

Federal de Ciências da Saúde de Porto

Alegre como requisito para a obtenção do

grau de Mestre.

Porto Alegre

Dezembro, 2012

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II

FICHA CATALOGRÁFICA

Catalogação na Publicação

Bibliotecária Ruth Borges Fortes de Oliveira- CRB 10/501

N972c Nunes, Flavia Feijó

Consumo alimentar de pacientes cirróticos, comparação

com o estado nutricional e com o estadiamento da doença /

Flavia Feijó Nunes. – 2012.

62f. ; Il.; tab.; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia, 2012. “Orientador: Prof. Dr. Cláudio Augusto Marroni”.

1. Avaliação nutricional. 2. Consumo alimentar. 3. Cirrose

hepática. I. Título.

CDD 612.35

CDU 6l2.395-6

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III

AGRADECIMENTOS

A conclusão deste trabalho não seria possível sem a colaboração de algumas

pessoas.

Agradeço a Deus, por tudo.

Ao professor Dr. Cláudio Augusto Marroni, meu orientador, gostaria de

agradecer pelo grande apoio, incentivo e compreensão, não me deixando desistir no

momento mais difícil. Obrigada pela dedicação, empenho e disponibilidade em meio

a tantas outras tarefas. Obrigada pelos ensinamentos da ciência e pelos

ensinamentos pessoais.

Aos meus pais, pela educação que me deram, por tudo que fizeram e fazem

por mim. Se sou o que sou e cheguei onde estou hoje, foi pelo eterno incentivo e

apoio, pelas inúmeras oportunidades que me proporcionaram ao longo da minha

vida. Obrigada por tudo!

Um agradecimento especial à minha irmã, que esteve e está sempre ao meu

lado, nas horas boas e ruins. Agradeço pela paciência e compreensão nos meus

momentos mais difíceis, pelos conselhos e por me escutar inúmeras vezes.

Obrigada por tudo, Mana!

Ao meu namorado, pela compreensão e paciência, pelo carinho, pelas

palavras de incentivo, por não me deixar desistir em nenhum momento, por estar

sempre ao meu lado. Obrigada pela força e pelo companheirismo.

À família Rodrigues, pelo grande incentivo, apoio, carinho e todos os

ensinamentos a mim transmitidos.

Aos meus avós, tios, tias, primos e primas, pela compreensão das minhas

ausências em muitos momentos importantes para nossa família.

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IV

Às amigas e colegas do grupo de pesquisa, Sabrina Fernandes, Lilian

Bassani, Maria Eugênia Deutrich, Mariane Bertotto, Danielle Harter e Bianca Pivatto

pela ajuda e companhia durante esses anos.

Aos professores da Pós-graduação em Hepatologia pelos ensinamentos

transmitidos.

A todos os médicos e residentes que atendem ou atenderam no ambulatório

de Gastroenterologia do Complexo Hospitalar Santa Casa.

À estatística Ceres Oliveira pelo empenho e paciência com as inúmeras

análises estatísticas.

A todas as professoras do curso de Nutrição da UFCSPA pela oportunidade

de me tornar REUNI; por todo o aprendizado e conhecimento da docência que

adquiri durante esse período.

Às secretárias da pós-graduação, Luciane e Maristela, por serem tão

dedicadas e pacientes com as questões burocráticas deste trabalho.

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V

RESUMO

Introdução: A desnutrição protéico-calórica (DPC) é altamente prevalente em hepatopatas.

A avaliação da ingestão alimentar é essencial na investigação da relação do processo

“saúde-doença”, sendo o registro alimentar um método de avaliação da ingestão do

paciente. Objetivos: Avaliar o consumo alimentar de cirróticos através de registro alimentar

de três dias com uso de balança, correlacionando-o com o estado nutricional e o

estadiamento da doença. Métodos: Foram avaliados pacientes cirróticos em

acompanhamento ambulatorial no Complexo Hospitalar da Irmandade Santa Casa de

Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil. Os métodos empregados para a

avaliação nutricional foram antropometria; força do aperto de mão não-dominante (FAM),

pela dinamometria; espessura do músculo adutor do polegar (MAP); ângulo de fase pela

bioimpedância elétrica (BIA); e Avaliação Subjetiva Global (ASG). Para análise do consumo

alimentar, foi realizado o registro alimentar de três dias, utilizando balança para pesagem de

todos os alimentos e o consumo comparado às recomendações da literatura. Resultados e

discussão: Foram avaliados 25 pacientes cirróticos com predominância de cirrose pelo

vírus da hepatite C (68%). A circunferência do braço (CB), a força de aperto de mão não-

dominante (FAM) e o ângulo de fase pela BIA, utilizando pontos de corte da população

brasileira, diagnosticaram 56% de desnutridos. O ângulo de fase pela BIA e a CB tiveram

associação com o escore Child-Pugh (p<0,05). A média de calorias consumidas foi de

26,4±8,3 Kcal/Kg, a de carboidratos de 56,4%±7,1 do valor energético total (VET), proteínas

1,05±0,35 g/Kg e lipídeos 29,3% do VET, todos eles dentro do recomendado. O consumo de

sódio ficou acima do recomendado, 106±57,2 mEq. Os pacientes Child-Pugh C tiveram um

consumo menor de calorias, proteínas e micronutrientes, porém sem significância

estatística. O consumo de sódio associou-se com o escore Child-Pugh (rs=_0,410;

p=0,042). Os pacientes desnutridos tiveram uma tendência a consumir menos calorias que

os bem nutridos, assim como proteínas. O consumo de sódio ficou acima do recomendado,

tanto em desnutridos quanto em bem nutridos. Não houve variação de consumo conforme

os diferentes dias da semana avaliados. Conclusão: O consumo alimentar não teve

diferença significativa entre os escores Child-Pugh e de acordo com o estado nutricional. Os

pacientes mantém um padrão de consumo alimentar durante os dias da semana.

Palavras-chave: Cirrose hepática, consumo alimentar, avaliação nutricional, desnutrição.

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VI

ABSTRACT

Background: The protein caloric malnutrition (PCN) is highly prevalent in liver disease. The

assessment of dietary intake is essential in the investigation of the relationship process

"health and disease", the record being a method of food intake assessment of the patient.

Aim: To assess dietary intake of cirrhotic patients through diet record of three days using

scale and correlated with the nutritional status and disease stage. Methods: We evaluated

cirrhotic patients in outpatient care at the Complexo Hospitalar da Santa Casa de

Misericórdia de Porto Alegre, RS, Brazil. The methods used for nutritional assessment were

anthropometry, hand-grip strength, the adductor pollicis muscle thickness, phase angle by

bioelectrical impedance analysis (BIA) and Subjective Global Assessment. For analysis of

food intake was performed dietary record of three days using scales for weighing of all foods,

and consumption compared to the recommendations of the literature. Results and

discussion: We evaluated 25 patients with cirrhosis prevalence of hepatitis C virus (68%).

The arm circumference (AC), the hand-grip strength and the phase angle by BIA using

cutoffs of the Brazilian population diagnosed 56% of malnourished. The phase angle by BIA

and AC were associated with Child-Pugh score (p <0.05). The average calorie intake was

26.4±8.3 kcal/kg, carbohydrate 56.4±7.1% of total energy intake (TEI), 1.05±0.35g protein/kg

and lipids 29.3% of TEI, all within recommended. Sodium intake was above the

recommended 106±57.2 mEq. The Child-Pugh C patients had a lower intake of calories,

proteins and micronutrients, but without statistical significance. The sodium intake was

associated with Child-Pugh score (rs=-0,410, p=0.042). The malnourished patients had a

tendency to consume fewer calories than the well-nourished, as well as proteins. Sodium

intake was above the recommended both malnourished and in well-nourished. There was no

change in consumption as the different weekdays evaluated. Conclusion: Dietary intake was

not significantly different between the Child-Pugh scores and according to nutritional status.

Patients maintained a pattern of food consumption during the weekdays.

Key - words: Liver cirrhosis, food intake, nutritional assessment, malnutrition.

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VII

LISTA DE ABREVIATURAS

AC – Arm circunference

AF – Ângulo de fase

ANOVA - Análise de variância

ASG – Avaliação subjetiva global

ASG – Avaliação subjetiva global

BIA - Bioimpedância elétrica

Ca – Cálcio

CB – Circunferência do braço

CHO – Carboidratos

cm – Centímetros

CMB – Circunferência muscular do braço

DHGNA – Doença hepática gordurosa não alcoólica

DPC - Desnutrição protéico-calórica

ESPEN - European Support Parenteral and Enteral Nutrition

FAM - Força do aperto de mão não dominante

Fe – Ferro

g – Gramas

HIV – Vírus da imunodeficiência humana

IMC – Índice de massa corporal

K – Potássio

Kcal – Calorias

Kg – Quilogramas

Kg/f – Quilograma-força

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VIII

LIP – Lipídeos

MAP – Músculo adutor do polegar

MELD - Model for End Stage Liver Disease

mEq – Miliequivalente

mg – Miligramas

mm – Milímetros

Na – Sódio

PBE – Peritonite bacteriana espontânea

PCM – Protein caloric malnutrition

PCT - Prega cutânea tricipital

PTN – Proteínas

R - Resistência

R24h – Recordatório de 24 horas

RNI – Relação Normalizada Internacional

SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

TCM – Triglicerídeo de cadeia média

TEI – Total energy intake

UFCSPA – Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre

VET – Valor energético total

VHB – Vírus da hepatite B

VHC – Vírus da hepatite C

Xc – Reatância

Zn - Zinco

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IX

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 (pág. 52) - Recomendações diárias de calorias, macronutrientes e

micronutrientes para pacientes cirróticos.

Tabela 2 (pág. 53) – Caracterização dos pacientes.

Tabela 3 (pág. 54) – Avaliação nutricional dos pacientes pelos diferentes métodos.

Tabela 4 (pág. 55) – Associação do estado nutricional com o escore Child-Pugh.

Tabela 5 (pág. 56) – Consumo alimentar calórico e de macronutrientes conforme

escore Child-Pugh.

Tabela 6 (pág. 57) – Consumo alimentar dos micronutrientes conforme escore Child-

Pugh.

Tabela 7 (pág. 58) – Associações entre consumo alimentar calórico,

macronutrientes e micronutrientes com o escore Child-Pugh através do coeficiente

de correlação de Spearman (rs).

Tabela 8 (pág. 60) – Consumo alimentar calórico e de macronutrientes conforme

estado nutricional de acordo com o ângulo de fase pela BIA utilizando pontos de

corte baseados na população brasileira.

Tabela 9 (pág. 61) - Consumo alimentar calórico e de macronutrientes conforme

estado nutricional de acordo com o ângulo de fase pela BIA utilizando pontos de

corte baseados na população americana.

Tabela 10 (pág. 62) - Consumo alimentar de micronutrientes conforme estado

nutricional de acordo com o ângulo de fase pela BIA utilizando pontos de corte

baseados na população brasileira.

Tabela 11 (pág. 63) - Consumo alimentar de micronutrientes conforme estado

nutricional de acordo com o ângulo de fase pela BIA utilizando pontos de corte

baseados na população americana.

Tabela 12 (pág. 64) – Comparação do consumo alimentar calórico, macronutrientes

e micronutrientes entre os três diferentes dias da semana.

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X

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 (pág. 59): Associação entre escore Child-Pugh e o consumo de sódio.

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XI

SUMÁRIO

1 Introdução.................................................................................................

1.1 Cirrose....................................................................................................

1.2 Desnutrição protéico-calórica.................................................................

1.3 Avaliação nutricional..............................................................................

1.4 Registro alimentar..................................................................................

1.5 Considerações de recomendações alimentares....................................

2 Justificativa................................................................................................

3 Objetivos...................................................................................................

3.1 Objetivo Geral........................................................................................

3.2 Objetivos Específicos.............................................................................

4 Referências (Introdução)...........................................................................

5 Artigo a ser publicado................................................................................

6 Conclusão.................................................................................................

7 Anexo1......................................................................................................

12

12

14

15

19

22

24

25

25

25

26

32

65

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12

1. INTRODUÇÃO

1.1 Cirrose

A cirrose é a via final de uma série de processos patológicos hepáticos

decorrentes de ação continuada e mantida de uma agressão ao órgão. É uma

doença crônica, caracterizada por um processo de desorganização na arquitetura

lobular e vascular do fígado, que envolve fibrose e regeneração nodular1.

A fibrose caracteriza-se pelo acúmulo relativo ou absoluto dos componentes

da matriz extracelular, o que determina alterações na função celular e na

microcirculação do fígado. A principal célula responsável pela fibrinogênese é a

célula estrelada ou armazenadora de gordura, a qual é a principal sintetizadora de

matriz extracelular na fibrose hepática. É uma célula armazenadora de gordura e

vitamina A, que sofre ação das citocinas e transformam-se em fibroblastos e

miofibroblastos, capazes de sintetizar ativamente elementos da matriz1.

A doença hepática crônica tem distribuição global e, o consumo de álcool,

vírus da hepatite C (VHC) e o vírus da hepatite B (VHB), são as principais causas da

doença, sendo a última mais prevalente em países asiáticos e africanos. Mais

recentemente, o aumento da prevalência da obesidade e da síndrome metabólica

tem resultado no aumento da incidência de cirrose secundária à doença hepática

gordurosa não alcoólica (DHGNA), especialmente nos países desenvolvidos2-5.

A cirrose tem grande impacto na saúde pública mundial, e é importante causa

de morbidade e mortalidade. Em 2001, a cirrose foi designada a 14º principal causa

de morte em todo mundo, estimando-se que 771 mil pessoas/ano morreram por

cirrose6,7. Existe a previsão de que em 2020, a doença passará para a 12º posição

entre as causas de óbito, pelo aumento da prevalência da fase final da doença

hepática e do carcinoma hepatocelular, secundários à DHGNA e ao VHC5,6,7.

No Brasil, em 2007, 1,75% dos registros de óbitos foram decorrentes de

doença hepática, sendo 0,85% por doença alcoólica e 0,90% por cirrose8. No Rio

Grande do Sul, em 2011, os óbitos por cirrose ficaram em 0,8%9.

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Os pacientes com cirrose podem ser classificados em compensados ou

descompensados, de acordo com a avaliação clínica. A cirrose descompensada

caracteriza-se pela presença de ascite, encefalopatia hepática, sangramento

digestivo, devido à ruptura de varizes e/ou icterícia. A taxa de mortalidade aumenta

consideravelmente quando os pacientes cirróticos descompensam, passando de

uma sobrevida de 12 anos para 2 anos10.

O prognóstico da doença depende da etiologia da cirrose, da gravidade e da

presença de doenças e complicações associadas. Para avaliação prognóstica, são

mais tradicionalmente utilizados os escores Child-Turcotte, modificado por Pugh

(Child-Pugh)11 e o MELD (The Model for End Stage Liver Disease). O escore Child-

Pugh mostra-se bastante preciso, além de ser de fácil utilização e poder ser

calculado à beira do leito10. Esse inclui os valores de bilirrubina total, tempo de

protrombina, albumina (variáveis contínuas) e a presença ou não de ascite e

encefalopatia hepática (variáveis quantitativas). Uma pontuação de 1, 2 ou 3 é

atribuída às variáveis, dividindo os pacientes em três grupos distintos (A, B, ou C)

em ordem crescente de gravidade, de acordo com a soma dos pontos. Os pacientes

com escore entre 5 e 6 pertencem ao grupo A, entre 7 e 9 ao grupo B e entre 10 e

15 ao grupo C12. O escore MELD é baseado em um valor numérico obtido a partir de

uma fórmula logarítmica em que se utilizam os níveis séricos de creatinina,

bilirrubina e o valor de RNI (Relação Normalizada Internacional), além da etiologia

da doença hepática12. A principal utilização do MELD é ordenar pacientes em lista

de espera para transplante hepático, além de predizer mortalidade em pacientes

cirróticos, particularmente nos três primeiros meses12,13,14.

As principais complicações clínicas da cirrose são insuficiência hepática,

hipertensão portal e desenvolvimento de carcionoma hepatocelular. A hipertensão

portal gera alterações hepáticas e vasculares que levam a alterações circulatórias

(vasoconstrição extra-esplâncnica, vasodilatação esplâncnica, hipoperfusão dos rins,

retenção de água e sal, aumento do débito cardíaco)15.

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1.2 DESNUTRIÇÃO PROTÉICO-CALÓRICA

A desnutrição protéico-calórica (DPC) é altamente prevalente em pacientes

com doença hepática crônica e leva a graves repercussões sobre o estado geral,

tendo impacto direto no prognóstico do paciente cirrótico, deteriorando a função

hepática, afetando adversamente a evolução clínica16,17,18, refletindo na

morbimortalidade desses enfermos19. A prevalência de desnutrição na cirrose

descompensada varia de 60-100%, enquanto que 20-30% dos pacientes com

cirrose compensada também são desnutridos20-23. Em pacientes ambulatoriais, a

DPC varia em torno de 75%, sendo que o maior déficit nutricional abrange os

pacientes Child B e C24. A desnutrição é um fator de risco independente para óbito

entre os pacientes com doença hepática crônica, contribui no desenvolvimento de

ascite e encefalopatia hepática, além de reduzir os mecanismos de defesa

imunológica, o que leva ao aumento da incidência de infecções urinárias,

pulmonares e de peritonite bacteriana espontânea (PBE)24,25,26.

A etiologia da desnutrição nos pacientes hepatopatas crônicos é multifatorial e

muitos dos fatores são comuns na doença. Entre esses fatores destacam-se:

1. Baixa ingestão alimentar:

- Principal contribuinte da desnutrição e causada por sintomas da doença

como anorexia, náusea, vômito, disgeusia, saciedade precoce e pelas drogas

utilizadas no tratamento da doença27, 28.

- Restrições dietéticas impostas aos cirróticos utilizadas no controle dos

sintomas e complicações, como na encefalopatia, ascite e edema, além das dietas

hospitalares pouco saborosas, pouco atrativas ao paladar do paciente e

hipossódicas24,29,30,31.

- Ingestão elevada de álcool, o que caracteriza o consumo de calorias vazias.

2. Alterações metabólicas, má-digestão e má-absorção de nutrientes

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- Alterações na síntese, metabolismo e armazenamento de nutrientes, ou

ainda, secundária ao hipermetabolismo consequente à hepatopatia32,33,34.

- A disfunção hepática gera alterações no metabolismo dos nutrientes, pois o

fígado é o principal órgão no metabolismo corporal que envolve múltiplos processos,

como a regulação proteica e energética35. Através da circulação porta o fígado

recebe nutrientes que, após a absorção, são armazenados e distribuídos para a

circulação sistêmica, ou seja, o fígado tem papel central na metabolização dos

nutrientes. O transporte pelas proteínas sintetizadas pelo fígado fica diminuído, pois

a sua produção está diminuída. Há perdas renais de proteínas associadas a

hepatopatias. Perdas proteicas significativas também ocorrem devido a paracentese

de grande volume29,30.

- A esteatorréia e o consequente déficit de absorção lipídeos e de vitaminas

lipossolúveis é comum em pacientes cirróticos com colestase, o que contribui para a

desnutrição36.

1.3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL

A avaliação nutricional é fundamental na investigação de alterações

associadas as hepatopatias, uma vez que é através dela que se irá basear a

conduta da correção ou manutenção do estado nutricional do paciente37,38. A

avaliação nutricional de cirróticos não é fácil e constitui um desafio, pois não existe,

até o momento, um método considerado “padrão-áureo” capaz de diagnosticar com

precisão alterações no estado nutricional. As dificuldades decorrem das alterações

do metabolismo, da função imunológica e da composição corporal, principalmente

significativa retenção hídrica ou ascite, o que pode alterar muitos parâmetros

utilizados para avaliação nutricional19,30,37,

Atualmente, os métodos de avaliação nutricional empregados em pacientes

cirróticos são as medidas antropométricas, que abrangem peso, estatura, cálculo do

índice de massa corporal (IMC), pregas cutâneas (dobras cutânea triciptal (PCT)) e

circunferência dos membros (circunferência braquial (CB), circunferência muscular

do braço (CMB)); força muscular - medida através da dinamometria; espessura do

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músculo adutor do polegar (MAP); bioimpedância elétrica, utilizando-se o ângulo de

fase; avaliação nutricional clínica, sendo realizada através da Avaliação Subjetiva

Global (ASG); e métodos bioquímicos (como pré-albumina, albumina, transferrina,

contagem de linfócitos e hemograma total).

A antropometria clássica mede de maneira estática os diversos

compartimentos corporais. Entre as vantagens dessas medidas estão: o uso de

equipamentos de fácil aquisição e baixo custo (balança e estadiômetro), facilidade

de obtenção dos resultados e confiabilidade do método – desde que executado e

interpretado por pessoas experientes, utilização de técnicas não invasivas e

obtenção rápida de resultados. Existem erros inerentes ao método e aqueles

relacionados com o profissional, com o instrumento, com as variações individuais da

composição do tecido e com os procedimentos realizados de maneira inadequada.

O treinamento adequado dos profissionais que realizam as medidas e a calibração

correta dos aparelhos reduz a margem de erro39,40.

As medidas antropométricas, frequentemente utilizadas, podem sofrer

alterações nos pacientes cirróticos. Na presença de ascite e edema, o peso corporal

e o índice de massa corporal estarão sendo influenciados pela retenção hídrica,

subestimando a prevalência de desnutrição quando o IMC for utilizado, uma vez que

o peso corporal não será real. Tal fato foi demonstrado por Gootschall et al.41 num

estudo com 34 indivíduos cirróticos pelo vírus da hepatite C, no qual não se

encontrou nenhum desnutrido pelo parâmetro IMC e, sim, uma prevalência de 62 %

de sobrepeso. As pregas cutâneas e as circunferências e área muscular do braço

não são influenciadas quando não existe edema generalizado37.

A força do aperto de mão não-dominante, medida pelo dinamômetro

mecânico, é utilizada para mensurar a força muscular, a qual está diretamente

relacionada com o estado nutricional do indivíduo42. Tem sido utilizada em estudos

populacionais como metodologia de avaliação nutricional e proporciona vantagens

que dizem respeito à simplicidade, praticidade, rapidez, baixo custo e eficácia. No

entanto, não pode ser realizada em indivíduos com alterações nos membros

superiores, necessita da colaboração do avaliado, sofre influência do sexo (maior

em homens do que em mulheres), da idade (menor em idosos) e com a função

manual prévia do individuo42,43,44. Álvares-da-Silva45, em seu estudo com 108

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indivíduos normais, sugeriu parâmetros de normalidade para a dinamometria, abaixo

dos quais o indivíduo deve ser classificado como paciente com risco nutricional.

A espessura do músculo adutor do polegar é outra medida para avaliação

nutricional do paciente e detecção de desnutrição. A perda visível do músculo adutor

do polegar durante a desnutrição não está relacionada com a doença per se, mas

ocorre progressivamente à medida que as atividades diárias são substancialmente

reduzidas pela apatia gerada pela desnutrição46. Lameu et al.47, em seu estudo com

421 adultos saudáveis, padronizou a medida da espessura do músculo adutor do

polegar para posterior estudo em pacientes clínicos e cirúrgicos. Budziareck et al.48,

num estudo com 300 pacientes saudáveis, mostrou forte correlação do MAP com a

FAM, e conclui que a combinação do MAP com a FAM pode ser útil como método

para avaliação nutricional. Andrade et al.49 realizou um estudo com 150 pacientes

portadores de doenças clínicas, entre eles 25% eram pacientes hepatopatas, e

mostrou que a espessura do MAP da mão dominante é um importante indicador de

prognóstico em pacientes clínicos, associando-a à evolução para complicações

sépticas e não sépticas, e ao tempo de internação hospitalar.

A Avaliação Subjetiva Global, validada por Detsky e colaboradores50, é um

método essencialmente clínico para obter o diagnóstico nutricional. É composta por

anamnese dirigida e exame físico simplificado para aspectos nutricionais. A

anamnese abrange o registro dos sinais e sintomas do paciente como, perda de

peso, alteração do apetite, saciedade precoce, alteração do paladar, sintomas

gastrintestinais (diarréia, náusea e vômito), hábitos dietéticos, adequação da

ingestão de nutrientes e grau de atividade física. O exame físico objetiva verificar as

mudanças na composição subcutânea: perda de gordura, massa muscular e

presença de líquido extravascular (ascite e edema). A ASG é um método prático

para se obter o diagnóstico do paciente e sua aplicabilidade em cirróticos seria

válida, uma vez que eles apresentam alterações da maioria dos dados empregados.

Barbosa-Silva e Barros51 descreveram a ASG como um bom método para a

avaliação nutricional nas hepatopatias. Porém, a estimativa de perda de peso é

difícil de ser determinada quando há ascite e edema41.

A análise da bioimpedância elétrica (BIA) é um método de avaliação

nutricional que estima os compartimentos corporais, sendo considerado um método

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rápido e não invasivo52. O corpo humano tem seu volume distribuído em fluidos intra

e extracelulares, os quais representam condutores elétricos. A BIA baseia-se no

princípio de que os componentes corporais oferecem uma resistência (R)

diferenciada à passagem da corrente elétrica, que é inversamente proporcional à

quantidade de água. Assim, os tecidos magros são altamente condutores de

corrente elétrica pela grande quantidade de água (73 a 75%) e eletrólitos (potássio,

sódio, cálcio), ou seja, apresentam baixa resistência à passagem da corrente

elétrica. Em contrapartida, a gordura constitui um meio de baixa condutividade,

apresentando elevada resistência (biorresistência) por apresentar um baixo nível de

hidratação (≤10%)53.

Uma corrente elétrica imperceptível é introduzida por eletrodos distais e

captada por eletrodos proximais, gerando vetores de resistência (R) - medida de

oposição ao fluxo de corrente elétrica através do corpo -, e reactância (Xc) -

oposição ao fluxo de corrente causada pela capacitância produzida pela membrana

celular. Após identificar os níveis de resistência e reactância do organismo à

corrente elétrica, o aparelho avalia a água corporal total e, assumindo uma

hidratação constante, prediz a quantidade de massa magra54,55.

Nos modelos básicos da bioimpedância, leva-se em conta que o formato do

corpo seja cilíndrico, ou seja, com uma relação entre o tronco e membros, nível de

hidratação e percentual de gordura mais ou menos constante. Porém, sabe-se que

estas características podem variar conforme grupo étnico, faixa etária, forma

corporal ou condições clínicas. Desta forma, não é possível dispor de equações

"universais", utilizadas em todas as situações56,57.

A bioimpedância elétrica é um método de avaliação da composição corporal

altamente aceito pela comunidade científica. Seu uso tem demonstrado eficiência na

aferição dos compartimentos corporais em situações clínicas como: desnutrição, pré

e pós-operatório, traumas, doenças hepáticas, insuficiência renal, gestação, crianças

e atletas. No entanto, seus resultados podem ser afetados por fatores como a

alimentação, exercício físico, ingestão de líquidos em períodos que antecedem a

avaliação, estados de desidratação ou retenção hídrica, utilização de diuréticos e

ciclo menstrual54,55. Além disso, as alterações no formato do corpo como distrofia,

amputações ou obesidade, também podem influenciar os resultados do exame.

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Em estudos longitudinais, a maior limitação da precisão do método, mesmo

com a utilização de equações adequadas, é o fato de a bioimpedância elétrica não

conseguir determinar variações de massa magra ou gordura corporal inferiores a 1,5

Kg. Sendo assim, exames seriados podem não evidenciar alterações inferiores a

estes valores se realizados em curtos intervalos de tempo56,57.

Os valores de resistência e reatância são quantificados geometricamente

como valores de ângulo de fase (AF). O conhecimento dos valores do ângulo de

fase em populações saudáveis permite sua melhor utilização na prática clínica.

Estudos detectaram reduzidos índices de massa celular e ângulo de fase em

pacientes com sobrepeso e obesidade. Outros têm evidenciado boa correlação do

ângulo de fase com os parâmetros nutricionais e com os índices de morbidade de

pacientes submetidos à hemodiálise crônica, propondo que os indivíduos

submetidos a essa terapia podem estar em risco de desnutrição mesmo

apresentando valores de índice de massa corporal acima do limite de

normalidade54,55. Um estudo recente realizado com pacientes cirróticos demonstrou

que o ângulo de fase foi o método de avaliação nutricional que apresentou relação

significativa com Child-Pugh, faixa etária e gênero58. Em pacientes internados para

cirurgia eletiva, o ângulo de fase e os parâmetros derivados da bioimpedância

elétrica (índice de massa magra, massa gorda e porcentagem de massa celular

corporal) mostraram-se como ótimos métodos para identificação de estado

nutricional comprometido59. Estudos recentes demonstraram que o ângulo de fase é

útil para identificar os pacientes que estão em risco nutricional no momento da

admissão hospitalar60,61. Em pacientes com câncer, infectados pelo vírus da

imunodeficiência humana (HIV), nefropatas e pacientes cirúrgicos, o uso do ângulo

de fase tem confirmado seu papel como importante marcador de mortalidade e

morbidade54-57.

1.4 REGISTRO ALIMENTAR

A análise dos hábitos alimentares tem o objetivo de avaliar qualitativamente e

quantitativamente a dieta do indivíduo, tendo como finalidade observar a ingestão

dos nutrientes e a sua relação com as morbidades. O consumo alimentar, no que se

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refere à epidemiologia nutricional, investiga a associação da dieta com o estado

nutricional, estima a adequação da ingestão dietética populacional, além de intervir

por meio de programas de educação e suplementação nutricional62.

A avaliação da ingestão alimentar é essencial na investigação da relação do

processo “saúde-doença”, na formulação de métodos de prevenção de certas

doenças, na provisão adequada de alimentos, no monitoramento do consumo de

alimentos e na execução de diretrizes alimentares63.

O inquérito alimentar aparece como um método importante para avaliar a

ingestão alimentar e direcionar o diagnóstico nutricional. Diferentemente das

medidas antropométricas, as quais fazem parte dos métodos diretos de avaliação

nutricional, por refletirem manifestações biológicas, o inquérito alimentar não vai

fornecer a condição nutricional do indivíduo, mas é capaz de fornecer dados que são

considerados fatores de risco para uma deficiência de nutrientes que, futuramente,

podem favorecer o aparecimento da desnutrição. Evidencia-se a importância do uso

de métodos indiretos como o inquérito alimentar por ser um indicador de risco e de

tendências, além de explicativos, condicionantes e preditivos66. Os métodos

dietéticos são os mais adequados para detectar a deficiência nutricional em seu

estágio inicial, sendo, por isso, utilizados em estudos epidemiológicos de associação

entre exposição ao fator e desfecho67. A avaliação da ingestão de nutrientes é parte

da avaliação nutricional, sendo utilizada para a tomada de decisão quanto à

adequação do consumo alimentar do indivíduo e auxiliar no estabelecimento da

conduta dietoterápica, em conjunto com os outros parâmetros nutricionais.

A avaliação quantitativa do consumo de nutrientes necessita de informações

sobre a ingestão e, posteriormente, a comparação dos valores obtidos com as

necessidades individuais. Em relação à ingestão, os dados devem refletir a dieta

habitual, tendo em vista que os efeitos da ingestão inadequada surgem somente

após uma exposição prolongada a uma situação de risco alimentar64. Quanto às

necessidades, raramente estão disponíveis informações individuais, sendo assim,

utilizamos estimativas de estudos populacionais para definição de consumo

adequado ou inadequado.

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Quando desejamos quantificar e avaliar a ingestão de nutrientes, os

instrumentos mais apropriados são os capazes de coletar a informação detalhada

sobre o consumo alimentar, no que se refere aos alimentos e às quantidades

ingeridas. Para tal, os métodos mais utilizados são o recordatório de 24 horas

(R24h) e o registro alimentar65.

O R24h consiste em definir e quantificar todos os alimentos e bebidas

ingeridas no período anterior à entrevista, ou seja, as 24h precedentes. Baseia-se

em uma entrevista conduzida pelo nutricionista durante a consulta. A qualidade da

informação coletada sofre influência da memória e da cooperação do paciente,

assim como da capacidade do profissional em obter as informações por meio de

diálogo sem influenciar o indivíduo em suas respostas65. Uma das vantagens do

R24h é a rápida aplicação e o imediato período de recordação, condições que

predispõem a uma maior participação. A maior limitação do R24h é que um único dia

de avaliação provavelmente não represente a ingestão habitual de um indivíduo65.

O registro alimentar é um método de avaliação do consumo alimentar que

recolhe informações sobre a ingestão atual de um indivíduo ou grupo populacional.

Pode avaliar o consumo quantitativamente, como também qualitativamente. Esse

método pode ser aplicado de duas maneiras: na primeira, o indivíduo ou responsável

deve registrar o tamanho da porção em medidas caseiras, na segunda, todos os

alimentos consumidos devem ser pesados e registrados e, se tiverem sobras, as

mesmas também devem ser pesadas e registradas. Essa última maneira de

aplicação é utilizada, em geral, em estudos nos quais é necessário estimar com

precisão os nutrientes ou compostos bioativos, nem sempre disponíveis em tabelas

de composição de alimentos, e tem emprego restrito na prática clínica. Os registros

devem ser anotados em formulários específicos. Normalmente, o método pode ser

aplicado durante três, cinco ou sete dias – períodos maiores que sete dias podem

comprometer a aderência e a fidedignidade dos dados62. O registro de três dias

apresenta a vantagem de ser mais rápido e menos cansativo para o indivíduo. É de

grande importância o indivíduo registrar de forma detalhada a quantidade, a marca

comercial e a preparação de cada alimento e bebida consumidos, além de detalhes

como adição de açúcar, sal, óleo e molhos.

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O registro alimentar, como método de avaliação de consumo, apresenta

vantagens como: facilidade de realização do registro em casa – não necessita da

memória do paciente e a omissão de refeições costuma ser mínima neste inquérito,

porém o paciente deve estar bem instruído sobre a forma de registrar o alimento e,

de preferência, logo após a sua ingestão. O registro alimentar, que inclui o uso de

balança, pode ser considerado um método bastante preciso, uma vez que os

alimentos são medidos, pesados e calculados os nutrientes. É um método que

requer esforço e vontade de colaboração62.

1.5 CONSIDERAÇÕES DE RECOMENDAÇÕES ALIMENTARES

Os pacientes com doença hepática toleram uma dieta normal e, a maioria

deles, não necessita de restrições dietéticas severas, uma vez que essas podem ser

até prejudiciais ao paciente. A orientação para restrição proteica ainda é prática

regular no tratamento clínico de pacientes cirróticos, mesmo que as recomendações

atuais sejam contrárias68. Tal restrição tem sido recomendada somente no

tratamento da encefalopatia e deve ser mantida por um período de 24 horas. Além

disso, a restrição de sódio e líquidos também é comum, o que pode colaborar para a

diminuição da ingestão de alimentos69. Nesse contexto, devemos considerar que a

restrição rigorosa de sódio altera a palatabilidade dos alimentos, propiciando

redução significativa da ingestão alimentar e, consequente, piora do estado

nutricional desses pacientes. A restrição de sódio é necessária somente em casos

de ascite e edema. A ingestão inadequada de calorias, especialmente proteica, tem

importantes efeitos deletérios, tanto sobre o estado nutricional como na evolução

clínica70,71. A baixa ingestão alimentar tem sido considerada como um dos fatores

primordiais causadores de desnutrição69.

A quantidade lipídica da dieta depende da presença de esteatorréia, quando o

aporte pode ser reduzido e recomendado o uso de triglicerídeos de cadeia média

(TCM)72.

As deficiências de micronutrientes são frequentes nos pacientes hepatopatas.

As vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) podem estar deficientes em pacientes com

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má absorção de gorduras e esteatorréia, e as vitaminas hidrossolúveis em pacientes

com ingestão alcoólica crônica73.

Quanto aos minerais, o nível de zinco reduzido é bastante comum em

pacientes cirróticos, principalmente nos de origem alcoólica74. A deficiência de zinco

leva a hiperamonemia, uma vez que reduz a atividade da enzima envolvida no

metabolismo da amônia (ornitina transcarbamilase)74. Sendo assim, os níveis de

zinco estão diminuídos principalmente em pacientes com encefalopatia graus I e II.

Outra consequência da deficiência de zinco é a anorexia e alteração do paladar, o

que contribui para a ingesta diminuída. Como causas dessa redução, temos a

ingestão dietética deficiente de zinco, redução da absorção intestinal, redução da

extração hepatointestinal, desvio porto-sistêmico, metabolismo alterado de proteínas

e aminoácidos, além da perda urinária de zinco. A suplementação oral de zinco

produz uma pequena melhora na função hepática, melhora a síntese hepática de

proteínas e a anorexia, além da diminuição dos níveis de amônia74.

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2 JUSTIFICATIVA

A desnutrição protéico-calórica em pacientes cirróticos varia amplamente,

sendo que a prevalência na cirrose descompensada varia de 60-100%, enquanto

que 20-30% dos pacientes com cirrose compensada também são desnutridos. A

DPC pode ser um importante fator preditivo de complicações graves. Uma das

causas da desnutrição nesses pacientes é o consumo alimentar diminuído, causado

por sintomas da doença como, anorexia, náuseas e saciedade precoce, além das

restrições alimentares prescritas, muitas vezes sem necessidade. Sendo assim, é de

grande importância a análise do consumo alimentar desses pacientes através de

inquéritos dietéticos.

O inquérito dietético, neste estudo, utilizando o registro alimentar de três dias,

consiste em um método de avaliação do consumo alimentar que recolhe

informações sobre a ingestão atual de um indivíduo ou grupo populacional, além de

ser uma forma indireta de avaliação do estado nutricional do indivíduo. Os dados

obtidos no registro alimentar permitem avaliar quantitativamente e objetivamente a

ingestão desses cirróticos, o que auxilia na avaliação do consumo alimentar e,

consequentemente, no tratamento nutricional, além de contribuir no desenvolvimento

e condução de pesquisas científicas, contribuindo para a produção de novos estudos

sobre o consumo alimentar.

Além disso, a avaliação do estado nutricional dos cirróticos possibilita o

diagnóstico de deficiências nutricionais e a aplicação de medidas capazes de corrigi-

las, proporcionando um melhor prognóstico ao paciente.

Sendo assim, avaliando o consumo alimentar de cirróticos e relacionando

com seu estado nutricional e estadiamento da doença, poderemos delimitar uma

terapêutica nutricional adequada, impactando em uma melhor qualidade de vida,

especialmente naqueles pacientes em lista de espera para transplante hepático.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Avaliar o consumo calórico, de macronutrientes (carboidratos, proteínas e

lipídeos) e micronutrientes (zinco, ferro, sódio, potássio e cálcio) da dieta de

pacientes cirróticos através de registro alimentar de três dias pesado.

3.2 Objetivos Específicos

Avaliar o estado nutricional dos pacientes cirróticos por diferentes métodos e

correlacionar com o estadiamento da doença pelo escore Child-Pugh.

Comparar o consumo calórico de macronutrientes e micronutrientes com as

recomendações da literatura para pacientes cirróticos.

Correlacionar o consumo alimentar de calorias, macronutrientes e

micronutrientes com o estadiamento da doença pelo escore Child-Pugh.

Correlacionar o consumo alimentar de calorias, macronutrientes e

micronutrientes com o estado nutricional, conforme o ângulo de fase pela

bioimpedância elétrica.

Comparar o consumo alimentar de calorias, macronutrientes e micronutrientes

nos três diferentes dias da semana.

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5 ARTIGO A SER PUBLICADO (Nutrición Hospitalaria)

CONSUMO ALIMENTAR DE PACIENTES CIRRÓTICOS, COMPARAÇÃO COM O

ESTADO NUTRICIONAL E COM O ESTADIAMENTO DA DOENÇA.

Flavia Feijó Nunes1, Lílian Bassani1, Sabrina Alves Fernandes1, Maria Eugênia

Deutrich1, Daniele Harter2, Mariane Leite Bertotto3, Bianca Pivato4, Cláudio Augusto

Marroni1

1 Programa de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia, UFCSPA, Porto Alegre.

2Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, UFCSPA, Porto Alegre.

3Programa de Residência Multiprofissional, UFCSPA, Porto Alegre.

4Curso de Nutrição, UFCSPA, Porto Alegre.

RESUMO

Introdução: Os pacientes com doença hepática frequentemente apresentam

desnutrição protéico-calórica (DPC). A avaliação da ingestão alimentar é de grande

importância na investigação da relação do processo “saúde-doença”. Objetivos:

Avaliar o consumo alimentar de cirróticos através de registro alimentar de três dias,

correlacionando-o com o estado nutricional do paciente e com o estadiamento da

doença. Métodos: Foram avaliados pacientes cirróticos em acompanhamento

ambulatorial na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, RS, Brasil. A avaliação

nutricional foi realizada pela antropometria; força do aperto de mão não-dominante

(FAM), pela dinamometria; espessura do músculo adutor do polegar (MAP); ângulo

de fase pela bioimpedância elétrica (BIA); e Avaliação Subjetiva Global (ASG). Para

análise do consumo alimentar foi realizado o registro alimentar de três dias utilizando

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balança para pesagem de todos os alimentos, e o consumo comparado às

recomendações da literatura. A análise estatística dos dados foi realizada no

programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 17.0, sendo o

nível de significância de 5%. Resultados e discussão: Avaliou-se 25 pacientes,

com predominância de cirrose pelo vírus da hepatite C (68%). A circunferência do

braço (CB), a força de aperto de mão não-dominante e o ângulo de fase pela BIA

utilizando pontos de corte da população brasileira diagnosticaram 56% de

desnutridos. O ângulo de fase pela BIA e a CB tiveram associação com o escore

Child-Pugh (p<0,05). A média de calorias consumidas foi de 26,4±8,3 Kcal/Kg, a de

carboidratos de 56,4%±7,1 do valor energético total (VET), proteínas 1,05±0,35 g/Kg

e de lipídeos 29,3% do VET, todos eles dentro do recomendado. O consumo de

sódio ficou acima do recomendado, 106±57,2 mEq. O consumo alimentar não variou

conforme o estadiamento da doença, nem de acordo com a avaliação nutricional

pelo ângulo de fase pela BIA. O consumo de sódio associou-se inversamente com o

escore Child-Pugh (rs=-0,410; p=0,042). Não houve variação de consumo conforme

os diferentes dias da semana avaliados. Conclusão: O consumo alimentar não teve

diferença significativa entre os escores Child-Pugh e de acordo com o estado

nutricional. Os pacientes mantém um padrão de consumo alimentar durante os dias

da semana.

Palavras-chave: Cirrose hepática, consumo alimentar, avaliação nutricional.

ABSTRACT

Background: Patients with liver disease often have protein caloric malnutrition

(PCM). The assessment of dietary intake is of great importance in the investigation

of the relationship of the “health and disease”. Aim: To assess dietary intake of

cirrhotic through three-day food record, correlating with the patient's nutritional status

and the disease stage. Methods: We evaluated cirrhotic patients in outpatient care

at the Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, RS,

Brazil. The methods used for nutritional assessment were anthropometry, hand-grip

strength, the adductor pollicis muscle thickness, phase angle by bioelectrical

impedance analysis (BIA) and Subjective Global Assessment. For analysis of food

intake was performed dietary record of 3 days using scales for weighing of all foods

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and consumption compared to the recommendations of the literature. The statistical

analysis was performed using SPSS (Statistical Package for the Social Sciences)

version 17.0, and the significance level of 5%. Results and discussion: We

evaluated 25 patients with cirrhosis prevalence of hepatitis C (68%). The arm

circumference (AC), the hand-grip strength and the phase angle by BIA using cutoffs

of the Brazilian population diagnosed 56% of malnourished. The phase angle by BIA

and AC were associated with Child-Pugh score (p<0.05). The average calorie intake

was 26.4±8.3 kcal/kg, carbohydrate 56.4±7.1% of total energy intake (TEI),

1.05±0.35g protein/kg and lipid 29.3% of TEI, all within recommended. Sodium

intake was above the recommended 106±57.2 mEq. Food intake didn’t varied

according to the disease stage, or according to nutritional assessment by the phase

angle by BIA. Sodium intake was inversely associated with Child-Pugh score (rs=-

0.410, p=0.042). There was no change in intake as the different weekdays

evaluated. Conclusion: Dietary intake was not significantly different between the

Child-Pugh scores and according to nutritional status. Patients maintained a pattern

of food intake during the weekdays.

Key- words: Liver cirrhosis, food intake, nutritional assessment.

INTRODUÇÃO

A desnutrição protéico-calórica (DPC) é altamente prevalente em hepatopatas

e leva a graves repercussões sobre o estado geral, tendo impacto direto no

prognóstico do paciente cirrótico, deteriorando a função hepática, afetando

adversamente a evolução clínica1,2 e refletindo na morbimortalidade desses

enfermos3. A prevalência de desnutrição na cirrose descompensada varia de 60-

100%, enquanto que 20-30% dos pacientes com cirrose compensada também são

desnutridos4-7. Em pacientes cirróticos ambulatoriais, a DPC fica em 75%, sendo que

o maior déficit nutricional abrange os pacientes Child B e C8.

A avaliação nutricional é fundamental na investigação de alterações

associadas a hepatopatias, uma vez que é através dela que se irá basear a conduta

da correção ou manutenção do estado nutricional do paciente9,10. No entanto, não

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existe, até o momento, um método considerado “padrão-áureo”, capaz de

diagnosticar com precisão alterações no estado nutricional nesses pacientes.

Atualmente, os métodos de avaliação nutricional empregados são as medidas

antropométricas, que abrangem peso, estatura, cálculo do índice de massa corporal

(IMC), dobras cutâneas (dobras cutânea triciptal (DCT)) e circunferência dos

membros (circunferência braquial (CB), circunferência muscular do braço (CMB));

força muscular - medida através da dinamometria; espessura do músculo adutor do

polegar (MAP); bioimpedância elétrica; avaliação nutricional clínica, sendo realizada

através da Avaliação Subjetiva Global (ASG); e métodos bioquímicos (como pré-

albumina, albumina, transferrina, contagem de linfócitos e hemograma total).

A avaliação da ingestão alimentar é essencial na investigação da relação do

processo “saúde-doença”, na formulação de métodos de prevenção de certas

doenças, na provisão adequada de alimentos e no monitoramento do consumo de

alimentos9. Quando desejamos quantificar e avaliar a ingestão de nutrientes, os

instrumentos mais apropriados são os capazes de coletar a informação detalhada

sobre o consumo alimentar, no que se refere aos alimentos e às quantidades

ingeridas. Para tal, os métodos mais utilizados são o recordatório de 24 horas

(R24h) e o registro alimentar11.

O registro alimentar é um método de avaliação do consumo alimentar, que

recolhe informações sobre a ingestão atual de um indivíduo ou grupo populacional.

Esse método pode ser aplicado de duas maneiras: na primeira, o indivíduo ou

responsável deve registrar o tamanho da porção em medidas caseiras, na segunda,

todos os alimentos consumidos devem ser pesados e registrados e, se tiverem

sobras, as mesmas também devem ser pesadas e registradas. Essa última maneira

de aplicação é utilizada, em geral, em estudos nos quais é necessário estimar com

precisão os nutrientes. Normalmente, o método pode ser aplicado durante três, cinco

ou sete dias – períodos maiores que sete dias podem comprometer a aderência e a

fidedignidade dos dados9. O registro de três dias apresenta a vantagem de ser mais

rápido e menos cansativo para o indivíduo.

O registro alimentar, como método de avaliação de consumo, apresenta

vantagens como: facilidade de realização do registro em casa – não necessita da

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memória do paciente, a omissão de refeições costuma ser mínima neste inquérito,

porém o paciente deve estar bem instruído sobre a forma de registrar o alimento e,

de preferência, logo após a sua ingestão. O registro alimentar que inclui o uso de

balança pode ser considerado um método bastante preciso, mas requer esforço e

vontade de colaboração9.

O objetivo deste estudo é avaliar o consumo alimentar de cirróticos através de

registro alimentar de três dias, correlacionando-o com o estado nutricional do

paciente e com o estadiamento da doença.

METODOLOGIA

O presente trabalho caracteriza-se como um estudo prospectivo. Participaram

do estudo pacientes adultos com diagnóstico de cirrose por diferentes etiologias em

tratamento clínico no Ambulatório de Gastroenterologia do Hospital Santa Clara da

Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. A

gravidade da doença hepática foi avaliada pela classificação de Child-Pugh. Todos

os participantes concordaram em participar do estudo mediante assinatura do termo

de consentimento livre e esclarecido após orientação quanto à natureza e objetivo

do trabalho. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa

da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA),

protocolo nº 708-08. A coleta de dados ocorreu de março de 2010 à março de 2012.

Foram excluídos do estudo os pacientes em uso de nutrição enteral, os

portadores de doenças neurológicas ou outras condições clínicas que impedissem o

entendimento para o registro alimentar e fornecimento de respostas ou para

avaliação antropométrica. Também foram excluídos os pacientes com alterações

neuromusculares nos membros superiores; pacientes portadores de insuficiência

renal crônica, pancreatite crônica, diarreia crônica, doenças inflamatórias intestinais,

HIV+ sintomático e pacientes oncológicos com estadiamento avançado, uma vez

que estas doenças alteram o metabolismo e absorção de nutrientes.

Os pacientes foram entrevistados no mesmo dia do atendimento clínico

ambulatorial. Aos selecionados para o estudo, de maneira consecutiva, foi fornecida

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uma balança comercial doméstica com escala de 1-125g (Plenna®) para a pesagem

dos alimentos, e foram orientados a pesar e a anotar todos os alimentos consumidos

em dois dias da semana e um dia do final de semana. A avaliação nutricional pelos

diferentes métodos foi realizada no momento em que o paciente retornava ao

ambulatório com os registros.

O inquérito alimentar detalhado foi baseado na informação recordatória de três

dias da semana do paciente, dos quais foram registrados os alimentos e as

quantidades ingeridas. Na primeira consulta, houve o preenchimento do protocolo e

instrução para o manuseio da balança doméstica, necessária para pesar e medir os

alimentos consumidos durante o dia. Os pacientes foram instruídos a não modificarem

o local e hábito alimentar. Em casa, o paciente registrava (em uma folha impressa

fornecida – Anexo 1) o peso e medida caseira dos alimentos ingeridos durante três

dias, sendo dois dias da semana e um dia do final de semana (sábado ou domingo).

Era fornecido ao paciente um prato e copo descartáveis para medida dos alimentos,

ou caso não aceitasse utilizar o prato e copo fornecido, era orientado a descontar o

peso do utensílio utilizado para pesar os alimentos. Posteriormente, após o paciente

retornar com os registros, aproximadamente 1 mês, a pesquisadora realizava a

análise dos alimentos consumidos nos três dias, obtendo-se o registro médio das

calorias, macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídeos) e micronutrientes (zinco,

ferro, sódio, potássio, cálcio) ingeridos habitualmente.

O consumo alimentar de macronutrientes e micronutrientes foi calculado pelo

software Nutwin, versão 1.5 do Departamento de Informática em Saúde da

Universidade Federal de São Paulo12. Os nutrientes foram classificados quanto à

adequação de consumo em abaixo do recomendado, recomendado e acima do

recomendado, conforme recomendações para calorias e proteínas13; carboidratos,

lipídeos e sódio14; zinco, ferro, potássio e cálcio15, conforme Tabela 1.

A avaliação do estado nutricional foi realizada através da aplicação de

procedimentos diagnósticos em sequência (antropometria, FAM, MAP, bioimpedância

elétrica e ASG). A antropometria clássica foi realizada através do peso, altura, prega

cutânea tricipital, circunferência braquial, circunferência muscular do braço e índice de

massa corporal, sendo os dois últimos obtidos através de fórmulas matemáticas. Para

a antropometria, foi utilizado estadiômetro fixo na parede, balança com escala de

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100g (Filizola), plicômetro científico (Cescorf®) e fita inelástica. O cálculo do IMC

(peso dividido pela altura elevada ao quadrado) possibilitou a classificação do estado

nutricional, de acordo com recomendação da Organização Mundial de Saúde16. Os

resultados obtidos para os demais indicadores foram relacionados aos valores-padrão

demonstrados em tabelas de percentis de Frisancho17 e classificados conforme

Blackburn & Thornton18.

A aferição da força do aperto de mão não-dominante foi realizada através da

dinamometria9, para a qual utilizou-se um dinamômetro mecânico da marca

Baseline®, modelo Smedley Spring. Os resultados obtidos foram classificados

conforme Álvares-da-Silva & Silveira19. Para a medida da espessura do músculo

adutor do polegar, foi utilizado um plicômetro científico da marca Cescorf®. Os

resultados obtidos foram classificados conforme Lameu et al.20.

O ângulo de fase (AF) para classificação do estado nutricional foi obtido

através da bioimpedância elétrica, aparelho Biodynamic modelo 450, Seattle, WA,

EUA. O paciente mantinha-se em decúbito dorsal, com as mãos e pés paralelos ao

corpo. Um par de eletrodos foi colocado no lado dorsal da mão, ao nível do dedo

médio e outro na altura da articulação do pulso, ambos do lado direito do corpo.

Outro par de eletrodos foi colocado sobre a parte dorsal do pé, ao nível do dedo

médio e no tornozelo, sempre no lado direito. A corrente eléctrica utilizada na

medição foi de 800 A e 50 kHz, o que permitiu a aferição da resistência e reactância,

assim obtendo-se o valor do ângulo de fase. O AF deriva de dois segmentos da

composição corporal, calculado a partir da fórmula: AF = arco tangente (Xc / R) x

180 / 3,1416, proposta por Barbosa-Silva et al.21. O resultado permite classificar o

paciente de acordo seu estado nutricional. Os pacientes foram classificados a partir

dos pontos de corte estabelecidos conforme faixa etária e sexo a partir de estudo

realizado com população brasileira22 e outro com população americana23.

Após as medidas antropométricas, foi realizada a Avaliação Subjetiva Global

validada por Detsky et al.24. Os pacientes foram questionados quanto a mudanças

do peso habitual nos últimos seis meses; alterações de hábitos alimentares;

presença de sinais e sintomas gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarreia,

obstipação intestinal) e distúrbios da capacidade funcional. Foi realizado, ainda, um

exame físico, objetivando identificar mudanças na composição subcutânea: perda de

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gordura, massa muscular e presença de líquido extravascular, utilizando-se a

mesma graduação.

As análises estatísticas dos dados foram realizadas no programa SPSS

(Statistical Package for the Social Sciences) versão 17.0, sendo que o nível de

significância utilizado foi de 5% (p≤0,05). As variáveis quantitativas foram descritas

por média e desvio padrão e as variáveis qualitativas por frequências absolutas e

relativas. Para comparar médias em dois grupos, o teste t-student foi utilizado. Para

mais de dois grupos, a análise de variância (ANOVA) one-way com post-hoc de

Tukey foi aplicado. Na associação entre as variáveis categóricas, o teste qui-

quadrado de Pearson foi aplicado. Para comparar os métodos de avaliação

nutricional, o teste de McNemar foi utilizado. Na comparação do consumo alimentar,

conforme o dia da semana, a análise de variância (ANOVA) para medidas repetidas

foi utilizada. A associação entre a gravidade da doença com o consumo de

macronutrientes e micronutrientes foi avaliada pelo coeficiente de correlação de

Spearman.

RESULTADOS

A casuísta foi composta por 25 pacientes cirróticos adultos com média de

idade de 55,8 ± 10,8 anos, sendo 14 (56,0%) indivíduos do gênero masculino. As

etiologias mais prevalentes da cirrose foram: o vírus da hepatite C (68%) e o álcool

(24%). Quanto à gravidade da doença, a maioria dos pacientes, 12 (48%), eram

Child Pugh A e 9 (36,0%) Child Pugh B, sendo apenas 4 (16%) Child Pugh C. Em

relação à caracterização da amostra, os dados estão descritos na Tabela 2.

De acordo com os métodos de avaliação nutricional utilizados, o IMC, o MAP

e a ASG não diagnosticaram nenhum paciente como desnutrido, sendo que o MAP e

ASG diagnosticaram todos pacientes como bem nutridos. A circunferência do braço,

a FAM e a BIA, através do ângulo de fase, foram os métodos que mais

diagnosticaram desnutridos, sendo que todos eles diagnosticaram 14 (56,0%)

pacientes como desnutridos. Com relação ao ângulo de fase, quando utilizamos os

pontos de corte com valores estabelecidos a partir de indivíduos brasileiros, estes

diagnosticaram mais pacientes desnutridos em comparação com os valores

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baseados na população americana, 14 desnutridos (56,0%) e 8 desnutridos (32,%),

respectivamente. Houve diferença significativa entre os métodos de avaliação

nutricional. As características antropométricas estão descritas na Tabela 3.

Quando associamos os diferentes métodos de avaliação nutricional com o

escore Child-Pugh, o ângulo de fase através da bioimpedância elétrica, tanto com os

pontos de corte brasileiros quanto americanos, e a circunferência do braço (CB),

foram os métodos que tiveram associação estatisticamente significativa com o

estadiamento da doença (p< 0,05) (Tabela 4).

A partir do registro alimentar de três dias, analisou-se o consumo alimentar de

calorias, macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídeos) e micronutrientes

(zinco, ferro, sódio, potássio e cálcio). A média de calorias consumidas foi de

26,4±8,3 Kcal/Kg, sendo que grande parte dos pacientes estudados, 12 (48%), teve

um consumo abaixo do recomendado. O mesmo aconteceu com as proteínas, das

quais 15 (60%) dos pacientes tiveram consumo abaixo do recomendado. O consumo

de carboidratos estava de acordo com as recomendações para a maioria dos

pacientes, 13 (52%), e todos tiveram um consumo de lipídeos dentro do

recomendado. Quanto ao consumo de micronutrientes, a ingestão de zinco ficou

dentro das recomendações de ingestão em 16 (64,2%) pacientes. O consumo de

ferro estava dentro do recomendado em 100% dos indivíduos e, em contrapartida, o

de potássio foi abaixo do recomendado em 100% deles. Sódio foi consumido acima

das quantidades recomendadas em 18 (72%) pacientes e, quanto ao cálcio,

praticamente todos os indivíduos, 26 (96%), apresentaram consumo abaixo do

recomendado (Tabelas 5 e 6).

O consumo de nenhum dos macronutrientes e micronutrientes diferiu

significativamente conforme a classificação Child-Pugh A, B, ou C, ou seja, não

variou significativamente conforme a gravidade da doença hepática. Porém,

podemos observar que os pacientes Child-Pugh C tem um consumo menor de

calorias totais, proteínas e de todos os micronutrientes analisados. Esses resultados

podem ser observados nas tabelas 5 e 6.

Associando-se o consumo médio de calorias totais, macronutrientes e

micronutrientes dos três dias de registro alimentar com o escore Child-Pugh através

do coeficiente de Spearman, observamos que apenas o sódio teve associação com

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o Child (rs=-0,410; p=0,042) (Tabela 7), sendo esta inversa, ou seja, quanto maior o

escore de gravidade da doença, menor foi o consumo de sódio (Figura 1).

Quando comparamos o consumo alimentar com o estado nutricional através

do ângulo de fase pela bioimpedância, tanto com os pontos de corte da população

brasileira quanto com o da americana, observamos que os pacientes desnutridos

consomem menos calorias que os bem nutridos, porém, sem diferença

estatisticamente significativa. Em ambos os estados nutricionais, pelos dois pontos

de corte, o consumo calórico estava abaixo do recomendado em grande parte dos

pacientes (Tabelas 8 e 9). Na análise do consumo de carboidratos, lipídeos e

proteínas, com o estado nutricional através do ângulo de fase pela bioimpedância

elétrica com o ponto de corte brasileiro, os pacientes desnutridos tiveram um

consumo um pouco maior que os bem nutridos. O consumo de carboidratos estava

dentro do recomendado para a maioria dos desnutridos (57,1%) e bem nutridos

(45,5%); o de proteínas estava abaixo do recomendado em 57,1% dos desnutridos e

em 63,6% dos bem nutridos; o de lipídeos estava dentro do recomendado em todos

os pacientes, seja desnutrido ou bem nutrido (Tabela 8).

Comparando-se o consumo de macronutrientes com o estado nutricional,

através do ângulo de fase pela bioimpedância elétrica com ponto de corte

americano, os desnutridos tiveram um consumo calórico menor que os bem nutridos

e menor ingestão de proteínas e lipídeos. O consumo de carboidratos estava dentro

do recomendado em 37,5% dos pacientes desnutridos, sendo que esse também foi

o percentual de pacientes que consumiam acima do recomendado. O consumo de

proteínas ficou abaixo do recomendado em 50% dos pacientes desnutridos; e o

consumo de lipídeos, nessa classificação de estado nutricional, estava dentro do

recomendado para todos os pacientes (Tabela 9).

O consumo de micronutrientes, de acordo com o estado nutricional, através

do ângulo de fase pela bioimpedância elétrica com o ponto de corte brasileiro, os

desnutridos consumiram menos ferro, sódio e cálcio que os bem nutridos. O

consumo de zinco estava dentro do recomendado na maioria dos pacientes

desnutridos (57,1%) e bem nutridos (72,7%). O ferro foi consumido acima do

recomendado em todos os pacientes desnutridos e bem nutridos. A maioria dos

pacientes desnutridos (71,4%) e bem nutridos (72,7%) tiveram um consumo de

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sódio acima do recomendado, e 1 (7,1%) paciente desnutrido e 3 (27,3%) bem

nutridos consumiram abaixo do recomendado de sódio. Potássio ficou abaixo do

recomendado em 100% dos desnutridos e bem nutridos, e o cálcio abaixo do

recomendado em 100% dos desnutridos e em 90,9% dos bem nutridos, sendo que

apenas 1 (9,1%) paciente bem nutrido teve uma ingesta de cálcio dentro do

recomendado (Tabela 10).

De acordo com o estado nutricional, através do ângulo de fase pela

bioimpedância elétrica com ponto de corte americano, o consumo de zinco estava

abaixo do recomendado e dentro do recomendado em 50% dos pacientes

desnutridos. Já nos bem nutridos, a maioria (70,6%) estava com o consumo dentro

do recomendado. O ferro foi consumido dentro do recomendado em 100% dos

pacientes, independente do estado nutricional. O sódio teve um consumo acima do

recomendado em desnutridos (87,5%) e bem nutridos (64,7%). Todos os pacientes

desnutridos e bem nutridos tiveram um consumo de potássio abaixo das

recomendações, e o cálcio apenas 1 (5,9%) bem nutrido teve consumo adequado e,

os demais pacientes, todos consumiram menos cálcio que o ideal (Tabela 11).

O consumo de calorias, macronutrientes e micronutrientes, quando

comparado com estado nutricional, não teve diferença estatisticamente significativa

para nenhum deles.

Comparando-se o consumo de calorias, macronutrientes e micronutrientes

durante os três diferentes dias da semana, dois dias da semana e 1 do final de

semana, observamos que o consumo é semelhante em todos eles (Tabela 12).

DISCUSSÃO

Primeiramente, devemos comentar as limitações desse estudo. A amostra

constituiu-se de cirróticos ambulatoriais, pacientes do Sistema único de Saúde

(SUS), de baixo nível socioeconômico, o que muitas vezes dificultou o

entendimento deles para realização do registro alimentar de três dias, além de

serem pacientes que, mesmo ambulatoriais, poderiam apresentar certo grau de

encefalopatia e diminuição cognitiva. Outro fator é o baixo número de pacientes

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Child-Pugh C, uma vez que são pacientes ambulatoriais, o que acaba por deixar a

amostra não homogênea e pode prejudicar os resultados das associações com o

estadiamento da doença. O método empregado para análise do consumo

alimentar, registro alimentar de três dias com uso de balança que, apesar de ser

considerado um bom instrumento, baseia-se nas informações de cada alimento

pesado e registrado pelo paciente ou cuidador, ou seja, requer esforço e vontade

de colaboração do mesmo25. Sendo assim, esse estudo caracteriza-se como um

estudo piloto que servirá de base para estudos futuros. Deve-se destacar também

a falta de estudos relacionados a esse tema, principalmente, com a utilização de

registro alimentar de três dias com uso de balança, o que nos fornece dados

objetivos de consumo que não dependem da memória do paciente, como o registro

24h, mais comumente utilizado.

Em relação ao grupo estudado, observou-se que a etiologia da cirrose mais

prevalente foi o vírus da hepatite C, resultado esse que vai ao encontro dos dados

da literatura, que mostra que a principal causa da cirrose no mundo ocidental é a

infecção pelo vírus da hepatite C associada ou não ao uso abusivo de álcool26-28.

A desnutrição protéico-calórica é altamente prevalente em pacientes com

doença hepática crônica, leva a importantes consequências sobre o estado geral

do indivíduo, tem impacto no prognóstico do paciente cirrótico, afeta a função

hepática e prejudica sua evolução clínica1,2,29, refletindo na morbimortalidade

desses enfermos3. Sendo assim, a avaliação nutricional desses pacientes é de

grande importância, uma vez que será possível obter o estado nutricional do

paciente e, consequentemente, basear a conduta de correção ou manutenção

desse estado9,10.

No presente estudo, avaliou-se o estado nutricional do cirrótico por diferentes

métodos e observou-se que o IMC diagnosticou 64,0% dos pacientes como

excesso de peso, o que vai ao encontro do estudo de Fernandes et al.30, no qual o

IMC identificou a prevalência de sobrepeso na população estudada, assim como

Gottschall et al.31, que encontrou uma prevalência de excesso de peso em 62%

dos indivíduos cirróticos pelo vírus da hepatite C. A CB, a FAM e o AF, através da

BIA, foram os métodos que mais diagnosticaram desnutridos, sendo que tais dados

concordam com estudos presentes na literatura30-32. Para classificação do ângulo

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de fase pela BIA, utilizamos dois valores de pontos de corte de acordo com faixa

etária e sexo, um baseado na população brasileira e outro na população

americana. Quanto ao diagnóstico de desnutrição, o ponto de corte brasileiro

diagnosticou mais desnutridos que o americano, isso porque os pontos de corte da

população brasileira são um pouco maiores.

Para comparação do estado nutricional com o consumo, escolheu-se apenas

um método de avaliação nutricional. Como não existe, até o momento, um método

de avaliação que seja o “padrão áureo”, fez-se a associação de todos os métodos

utilizados com o escore de Child-Pugh para estadiamento da doença, tendo em

vista que quanto maior o Child-Pugh, mais grave a doença e, consequentemente,

pior o estado nutricional. Assim, obtivemos uma diferença estatisticamente

significativa (p<0,05) para o ângulo de fase pela BIA, tanto com o ponto de corte

brasileiro quanto com o americano e também para a circunferência do braço (CB).

Optou-se por escolher o AF pela BIA, pois estudo publicado recentemente30

mostrou que este foi o único método de avaliação que se associou com o escore

Child-Pugh. Ademais, a Sociedade Europeia de Nutrição Enteral e Parenteral

(ESPEN) em seu Guideline recomenda a utilização da BIA em pacientes com

cirrose com um nível de evidência B6. A CB não foi utilizada, apesar de também ter

uma associação estatisticamente significativa, pois não deve ser utilizada como um

parâmetro isolado de classificação e, sim, ser utilizada como base de obtenção da

circunferência muscular do braço juntamente com a prega cutânea tricipital33.

A média do consumo calórico, na amostra geral, foi de 26,4±8,4 Kcal/Kg, o

que apresentou uma média dentro do recomendado pela ESPEN, no entanto, vale

destacar que 12 (48%) pacientes tiveram um consumo abaixo do recomendado e

36% acima, isso porque ocorreram grandes variações de consumo calórico, ou

seja, alguns pacientes tiveram um consumo calórico muito elevado e outros muito

baixo. Tal fato caracteriza o que a literatura comprova, que os pacientes

hepatopatas crônicos tem uma ingesta alimentar diminuída devido aos sintomas da

doença e restrições dietéticas, que muitas vezes são impostas8,34-37. A baixa

ingestão alimentar tem sido considerada como um dos fatores primordiais

causadores de desnutrição38. O mesmo ocorre com as proteínas, nas quais o

consumo geral estava dentro do recomendado, porém 60% dos pacientes tiveram

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um consumo abaixo do preconizado. A restrição proteica ainda é muito utilizada na

prática clínica, mesmo as recomendações atuais sendo contrárias39. Tal restrição

tem sido recomendada somente no tratamento das encefalopatias, sendo que deve

ser mantida por um período menor que 24 horas. Além disso, os hábitos culturais

também contribuem para uma ingestão diminuída de proteínas. A ingestão

inadequada de calorias, especialmente proteica, tem importantes efeitos deletérios,

tanto sobre o estado nutricional como na evolução clínica40,41. Além disso, a

restrição de sódio e líquidos também é comum, o que pode colaborar para a

diminuição da ingestão de alimentos38. Nesse contexto, devemos considerar que a

restrição rigorosa de sódio altera a palatabilidade dos alimentos, propiciando

redução significativa da ingestão alimentar e, consequente, piora do estado

nutricional desses pacientes. Porém, nesse estudo, o consumo de sódio foi acima

do recomendado na grande maioria dos pacientes, sendo que apenas 4 deles

consumiam abaixo do recomendado.

Quanto aos minerais, os níveis de zinco reduzidos são bastante comuns em

pacientes cirróticos, principalmente nos de origem alcoólica. A deficiência de zinco

leva a hiperamonemia, uma vez que reduz a atividade da enzima envolvida no

metabolismo da amônia (ornitina transcarbamilase). Sendo assim, os níveis de

zinco estão diminuídos principalmente em pacientes com encefalopatia graus I e II.

Outra consequência da deficiência de zinco é a anorexia e alteração do paladar, o

que contribui para a ingesta diminuída, e consequente desnutrição. Como causas

dessa redução, temos a ingestão dietética deficiente de zinco, redução da

absorção intestinal, redução da extração hepatointestinal, desvio porto-sistêmico,

metabolismo alterado de proteínas e aminoácidos, além da perda urinária de

zinco42. Nos paciente cirróticos aqui estudados, houve uma ingestão dietética

diminuída em 9 pacientes (36%), sendo que a maioria dos pacientes (64%) tiveram

um consumo dentro do recomendado. O contrário aconteceu no estudo de

Gottschall et al.31, onde o consumo de zinco foi inadequado para grande parte dos

pacientes cirróticos pelo vírus da hepatite C que estudou. A suplementação oral de

zinco produz uma pequena melhora na função hepática, melhora a síntese

hepática de proteínas e melhora a anorexia, além da diminuição dos níveis de

amônia42.

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O consumo de macronutrientes e micronutrientes não variou de acordo com a

gravidade da doença hepática, conforme o escore Child-Pugh. O consumo calórico

total e de proteínas dos pacientes Child-Pugh C foi um pouco menor que nos

demais, porém sem diferença estatisticamente significativa. O consumo de

micronutrientes nos pacientes Child-Pugh C tiveram a mesma tendência, de ser

menor, porém sem significância. Podemos atribuir tal resultado ao fato do reduzido

número de pacientes Child-Pugh C do estudo. Apenas o sódio teve seu consumo

associado ao escore de prognóstico da doença Child-Pugh, ou seja, quanto maior o

escore de gravidade, menor foi o consumo de sódio, fato esse já esperado, uma

vez que os pacientes Child-Pugh C são os mais graves e com mais complicações

como ascite e edema, situações nas quais a restrição de sódio é recomendada40,41.

Quando se comparou o consumo alimentar com o estado nutricional, pelo

ângulo de fase pela BIA, observou-se que, utilizando o ponto de corte baseado na

população brasileira para classificar desnutrição, o consumo de calorias, proteínas

e lipídeos foi maior do que quando utilizou-se o ponto de corte baseado na

população americana. Quando se utiliza o ponto de corte baseado na população

americana, os desnutridos consomem menos proteínas e lipídeos. Quanto aos

micronutrientes, o consumo apenas do sódio variou entre uma classificação e

outra, sendo que os pacientes classificados como desnutridos, pelo ponto de corte

americano, apresentaram um consumo maior de sódio. Podemos atribuir tais

resultados ao fato da classificação do ângulo de fase, pelo ponto de corte baseado

na população brasileira, diagnosticar mais desnutridos que o da população

americana, fazendo com que o consumo alimentar dos indivíduos desnutridos seja

um pouco maior quando utilizamos o ponto de corte com a população brasileira. De

maneira geral e independente do ponto de corte utilizado para classificação do

estado nutricional pelo ângulo de fase através da BIA, os pacientes desnutridos

apresentaram um menor consumo calórico que os bem nutridos. Levando-se em

consideração a existência desses dois pontos de corte para o AF, e de acordo com

os resultados desse estudo, acreditamos que os pontos de corte baseados na

população brasileira devem ser utilizados, pois baseia-se na nossa população e foi

o que mais diagnosticou desnutrição.

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O registro alimentar é um método de avaliação do consumo alimentar que

recolhe informações sobre a ingestão atual de um indivíduo ou grupo populacional.

Normalmente, o método é aplicado durante três, cinco ou sete dias. No presente

estudo, utilizou-se o registro alimentar de três dias com uso de balança para

pesagem dos alimentos, que apresenta a vantagem de ser mais rápido e menos

cansativo para o indivíduo, além de ser um método bastante preciso de avaliação

de consumo25.

Analisando-se o consumo alimentar, de acordo com diferentes dias da

semana, observamos que, diferentemente do que imaginávamos, o consumo

alimentar apresentou certo padrão nos três diferentes dias da semana, não

variando nem mesmo no final de semana. Podemos atribuir esse resultado ao fato

dos pacientes estudados serem de baixo nível socioeconômico, o que dificulta uma

variação na alimentação diária.

CONCLUSÃO

A média de consumo alimentar dos pacientes cirróticos mostrou-se adequada

para carboidratos, proteínas e lipídeos, zinco e ferro. O consumo de potássio e

cálcio ficou abaixo das recomendações diárias e o de sódio ficou acima.

O consumo alimentar não variou conforme o estadiamento da doença, nem

de acordo com a avaliação nutricional pelo ângulo de fase pela BIA, apenas o sódio

teve seu consumo associado inversamente ao escore de prognóstico da doença.

Os pacientes apresentaram um padrão de consumo alimentar que não varia

entre os dias da semana.

O ângulo de fase pela BIA e a CB foram os instrumentos de avaliação

nutricional que tiveram associação com o escore Child-Pugh. A maioria dos

pacientes foi diagnosticada como desnutridos pela BIA, utilizando-se o ponto de

corte baseado na população brasileira.

Sugere-se a realização de novos estudos para comprovação dos presentes

resultados.

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Tabela 1 – Recomendações diárias de calorias, macronutrientes e micronutrientes para pacientes cirróticos.

Nutriente Recomendação

Calorias 25-30 Kcal/Kg

Proteínas 1,0-1,2 g/Kg

Carboidratos 50-60% do VET

Lipídeos 20-40% do VET

Zinco Homens 19-70 anos – 9,4 mg

Mulheres 19-10 anos – 6,8 mg

Ferro Homens 19-70 anos – 6 mg

Mulheres 19-50 anos – 8,1 mg 51-70 anos – 5 mg

Sódio 40-60 mEq

Potássio Homens 19-70 anos – 4700 mg

Mulheres 19-70 anos – 4700 mg

Cálcio Homens 19-50 anos – 1000 mg 51-70 anos – 1200 mg

Mulheres 19-50 anos – 1000mg 51-70 anos – 1200 mg

Elaborada a partir de Bianchi et al., 2008; Parolin et al., 2002; Padovani et al., 2006. VET: valor energético total.

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Tabela 2 – Caracterização dos pacientes. Características n=25

Idade – Média ± DP 55,8 ± 10,8 Sexo Masculino – n(%) 14 (56,0) Etiologia – n(%)

Álcool 6 (24,0) Vírus B 1 (4,0) Vírus C 17 (68,0) Autoimune 1 (4,0)

Child-Pugh – n(%) A 12 (48,0) B 9 (36,0) C 4 (16,0)

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Tabela 3 – Avaliação nutricional dos pacientes pelos diferentes métodos.

Métodos Média ± DP

Classificação do estado nutricional

Desnutrido n (%)

Bem nutrido n (%)

Excesso peso n (%)

IMC (kg/m2) 29,2 ± 7,1 0 (0,0)

a 9 (36,0) 16 (64,0)

CB (cm) 30,2 ± 5,1 14 (56,0)b 8 (32,0) 3 (12,0)

PCT (mm) 18,3 ± 9,8 10 (40,0)b 5 (20,0) 10 (40,0)

CMB (cm) 24,3 ± 3,8 11 (44,0)b 14 (56,0) -

FAM (kg/f) 28,4 ± 19,7 14 (56,0)b 11 (44,0) -

MAP (mm) 15,9 ± 4,2 0 (0,0)a 25 (100) -

BIA (º) (Pontos de corte população brasileira)

6,3 ± 2,1 14 (56,0)b 11 (44,0) -

BIA (º) (Pontos de corte população americana)

6,3 ± 2,1 8 (32,0)b 17 (68,0) -

ASG - 0 (0,0)a 25 (100) -

a,b Letras iguais não diferem pelo teste de McNemar. IMC: índice de massa corporal; CB: circunferência do braço; PCT:

prega cutânea tricipital; CMB: circunferência muscular do braço; FAM: força do aperto de mão não-dominante; MAP: músculo adutor do polegar; BIA: bioimpedância elétrica pelo ângulo de fase; ASG: avaliação subjetiva global.

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Tabela 4 – Associação do estado nutricional com o escore Child-Pugh.

Métodos Child A Child B Child C p*

IMC (kg/m2) -

Desnutrido 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) Bem nutrido 12 (100) 9 (36,0) 4 (16,0)

CB (cm) 0,008 Desnutrido 3 (25,0) 7 (77,8) 4 (100) Bem nutrido 9 (75,0) 2 (22,2) 0 (0,0)

PCT (mm) 0,198 Desnutrido 3 (25,0) 4 (44,4) 3 (75,0) Bem nutrido 9 (75,0) 5 (55,6) 1 (25,0)

CMB (cm) 0,347 Desnutrido 4 (33,3) 4 (44,4) 3 (75,0) Bem nutrido 8 (66,7) 5 (55,6) 1 (25,0)

FAM (kg/f) 0,577 Desnutrido 8 (66,7) 4 (44,4) 2 (50,0) Bem nutrido 4 (33,3) 5 (55,6) 2 (50,0)

MAP (mm) - Desnutrido 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) Bem nutrido 12 (100) 9 (36,0) 4 (16,0)

BIA (º) (pontos de corte população brasileira)

0,001

Desnutrido 2 (16,7) 8 (88,9) 4 (100) Bem nutrido 10 (83,3) 1 (11,1) 0 (0,0)

BIA (º) (pontos de corte população americana)

0,017

Desnutrido 1 (8,3) 6 (66,7) 1 (25,0) Bem nutrido 11 (91,7) 3 (33,3) 3 (75,0)

ASG - Desnutrido 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) Bem nutrido 12 (100) 9 (36,0) 4 (16,0)

* Teste qui-quadrado de Pearson. IMC: índice de massa corporal; CB: circunferência do braço; PCT: prega cutânea tricipital; CMB: circunferência muscular do braço; FAM: força do aperto de mão não-dominante; MAP: músculo adutor do polegar; BIA: bioimpedância elétrica pelo ângulo de fase; ASG: avaliação subjetiva global.

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Tabela 5 – Consumo alimentar calórico e de macronutrientes conforme escore Child-Pugh.

Consumo alimentar Amostra total

Child-Pugh

A

B

C p

VET (kcal) 2012 ± 720 1997 ± 892 2169 ± 480 1702 ± 641 0,576* VET (kcal/kg) 26,4 ± 8,3 25,1 ± 7,9 28,6 ± 9,6 25,3 ± 7,4 0,635*

Abaixo do recomendado 12 (48,0) 7 (58,3) 3 (33,3) 2 (50,0) Recomendado 4 (16,0) 1 (8,3) 2 (22,2) 1 (25,0) Acima do recomendado 9 (36,0) 4 (33,3) 4 (44,4) 1 (25,0)

CHO (g) 286 ± 113 272 ± 139 322 ± 67,5 243 ± 111,5 0,455* CHO (%) 56,4 ± 7,1 53,5 ± 7,0 60,1 ± 5,1 56,6 ± 7,1 0,085*

Abaixo do recomendado 4 (16,0) 3 (25,0) 1 (11,1) 0 (0,0) Recomendado 13 (52,0) 6 (50,0) 4 (44,4) 3 (75,0) Acima do recomendado 8 (32,0) 3 (25,0) 4 (44,4) 1 (25,0)

PTN (g) 79,6 ± 26,7 80,9 ± 27,8 84,4 ± 26,1 65,0 ± 26,4 0,485* PTN (g/kg) 1,05 ± 0,35 1,03 ± 0,31 1,10 ± 0,40 0,98 ± 0,40 0,822*

Abaixo do recomendado 15 (60,0) 8 (66,7) 4 (44,4) 3 (75,0) Recomendado 2 (8,0) 0 (0,0) 2 (22,2) 0 (0,0) Acima do recomendado 8 (32,0) 4 (33,3) 3 (33,3) 1 (25,0)

LIP (g) 65,0 ± 25,3 66,6 ± 30,9 67,1 ± 20,4 55,6 ± 19,6 0,735* LIP (%) 29,3 ± 4,4 30,1 ± 4,8 27,7 ± 4,4 30,0 ± 2,9 0,444*

Abaixo do recomendado 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) Recomendado 25 (100) 12 (100) 9 (100) 4 (100) Acima do recomendado 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0)

* Análise de Variância (ANOVA) one-way; ** Teste qui-quadrado de Pearson. VET: valor energético total; CHO: carboidratos; PTN: proteínas; LIP: lipídeos.

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Tabela 6 – Consumo alimentar dos micronutrientes conforme escore Child-Pugh.

Consumo alimentar

Child-Pugh

Amostra total A

B

C p

Zinco (mg) 9,1 ± 3,1 9,0 ± 2,9 9,9 ± 3,9 7,6 ± 1,9 0,499* Abaixo do recomendado 9 (36,0) 3 (25,0) 3 (33,3) 3 (75,0) Recomendado 16 (64,0) 9 (75,0) 6 (66,7) 1 (25,0)

Ferro (mg) 14,6 ± 6,5 14,5 ± 9,0 15,8 ± 2,7 12,1 ± 3,2 0,665* Abaixo do recomendado 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) Recomendado 25 (100) 12 (100) 9 (100) 4 (100)

Sódio (mEq) 106 ± 57,2 121 ± 55,3 109 ± 60,3 51,6 ± 18,1 0,098* Abaixo do recomendado 4 (16,0) 2 (16,7) 1 (11,1) 1 (25,0) Recomendado 3 (12,0) 0 (0,0) 1 (11,1) 2 (50,0) Acima do recomendado 18 (72,0) 10 (83,3) 7 (77,8) 1 (25,0)

Potássio (mg) 1935 ± 785 1908 ± 856 2142 ± 775 1552 ± 565 0,471* Abaixo do recomendado 25 (100) 12 (100) 9 (100) 4 (100) Recomendado 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0)

Cálcio (mg) 607 ± 263 651 ± 325 629 ± 151 425 ± 226 0,331* Abaixo do recomendado 24 (96,0) 11 (91,7) 9 (100) 4 (100) Recomendado 1 (4,0) 1 (8,3) 0 (0,0) 0 (0,0)

* Análise de Variância (ANOVA) one-way; ** Teste qui-quadrado de Pearson

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Tabela 7 – Associações entre consumo alimentar calórico, macronutrientes e micronutrientes com o escore Child-Pugh através do coeficiente de correlação de Spearman (rs).

Consumo alimentar Child-Pugh

rs p

VET (kcal) -0,016 0,940 VET (kcal/kg) 0,142 0,498 CHO (g) 0,040 0,848 CHO (%) 0,264 0,203 PTN (g) -0,091 0,667 PTN (g/kg) 0,000 0,998 LIP (g) -0,049 0,816 LIP (%) -0,083 0,693 Zn (mg) -0,050 0,813 Fe (mg) 0,136 0,517 Na (mEq) -0,410 0,042 K (mg) 0,018 0,930 Ca (mg) -0,232 0,263

VET: valor energético total; CHO: carboidratos; PTN: proteínas; LIP: lipídeos; Zn: zinco; Fe: ferro; Na: sódio; K: potássio; Ca: cálcio.

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Figura 1 – Associação entre escore Child-Pugh e o consumo de sódio.

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Tabela 8 – Consumo alimentar calórico e de macronutrientes conforme estado nutricional de acordo com o ângulo de fase pela BIA utilizando pontos de corte baseados na população brasileira.

Consumo alimentar

Estado nutricional – BIA

p Desnutrido (n=14)

Bem nutrido (n=11)

VET (kcal) 2009 ± 572 2014 ± 905 0,986* VET (kcal/kg) 27,6 ± 7,8 24,8 ± 9,1 0,414*

Abaixo do recomendado 6 (42,9) 6 (54,5) Recomendado 3 (21,4) 1 (9,1) Acima do recomendado 5 (35,7) 4 (36,4)

CHO (g) 289 ± 97,5 281 ± 136 0,860* CHO (%) 57,0 ± 7,7 55,5 ± 5,9 0,591*

Abaixo do recomendado 2 (14,3) 2 (18,2) Recomendado 8 (57,1) 5 (45,5) Acima do recomendado 4 (28,6) 4 (36,4)

PTN (g) 80,2 ± 24,0 78,8 ± 31,0 0,896* PTN (g/kg) 1,10 ± 0,31 0,98 ± 0,40 0,430*

Abaixo do recomendado 8 (57,1) 7 (63,6) Recomendado 2 (14,3) 0 (0,0) Acima do recomendado 4 (28,6) 4 (36,4)

LIP (g) 64,4 ± 19,2 65,8 ± 32,5 0,894* LIP (%) 29,3 ± 4,5 29,2 ± 4,4 0,923*

Abaixo do recomendado 0 (0,0) 0 (0,0) Recomendado 14 (100) 11 (100) Acima do recomendado 0 (0,0) 0 (0,0)

* Teste t-student; ** teste qui-quadrado de Pearson. VET: valor energético total; CHO: carboidratos; PTN: proteínas; LIP: lipídeos.

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Tabela 9 – Consumo alimentar calórico e de macronutrientes conforme estado nutricional de acordo com o ângulo de fase pela BIA utilizando pontos de corte baseados na população americana.

Consumo alimentar

Estado nutricional – BIA

p Desnutrido (n=8)

Bem nutrido (n=17)

VET (kcal) 1821 ± 788 2094 ± 843 0,450* VET (kcal/kg) 26,0 ± 10,8 26,3 ± 9,6 0,936*

Abaixo do recomendado 4 (50,0) 8 (47,1) Recomendado 0 (0,0) 4 (23,5) Acima do recomendado 4 (50,0) 5 (29,4)

CHO (g) 268 ± 120 297 ± 132 0,597* CHO (%) 58,4 ± 9,0 56,3 ± 5,4 0,553*

Abaixo do recomendado 2 (25,0) 2 (11,8) Recomendado 3 (37,5) 10 (58,8) Acima do recomendado 3 (37,5) 5 (29,4)

PTN (g) 68,0 ± 25,4 83,7 ± 36,8 0,290* PTN (g/kg) 0,97 ± 0,37 1,07 ± 0,43 0,548*

Abaixo do recomendado 4 (50,0) 11 (64,7) Recomendado 1 (12,5) 1 (5,9) Acima do recomendado 3 (37,5) 5 (29,4)

LIP (g) 56,2 ± 37,2 65,6 ± 27,5 0,483* LIP (%) 27,0 ± 9,0 28,3 ± 5,1 0,648*

Abaixo do recomendado 0 (0,0) 0 (0,0) Recomendado 8 (100) 17 (100) Acima do recomendado 0 (0,0) 0 (0,0)

* Teste t-student; ** teste qui-quadrado de Pearson. VET: valor energético total; CHO: carboidratos; PTN: proteínas; LIP: lipídeos.

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Tabela 10 – Consumo alimentar de micronutrientes conforme estado nutricional de acordo com o ângulo de fase pela BIA utilizando pontos de corte baseados na população brasileira.

Consumo alimentar

Estado nutricional

p Desnutrido (n=14)

Bem nutrido (n=11)

Zinco (mg) 9,4 ± 3,1 8,7 ± 3,2 0,560* Abaixo do recomendado 6 (42,9) 3 (27,3) Recomendado 8 (57,1) 8 (72,7)

Ferro (mg) 14,3 ± 3,8 14,9 ± 9,0 0,828* Abaixo do recomendado 0 (0,0) 0 (0,0) Recomendado 14 (100) 11 (100)

Sódio (mEq) 99,5 ± 52,9 114 ± 63,9 0,530* Abaixo do recomendado 1 (7,1) 3 (27,3) Recomendado 3 (21,4) 0 (0,0) Acima do recomendado 10 (71,4) 8 (72,7)

Potássio (mg) 1966 ± 648 1896 ± 965 0,830* Abaixo do recomendado 14 (100) 11 (100) Recomendado 0 (0,0) 0 (0,0)

Cálcio (mg) 557 ± 189 671 ± 334 0,330* Abaixo do recomendado 14 (100) 10 (90,9) Recomendado 0 (0,0) 1 (9,1)

* Teste t-student; ** teste qui-quadrado de Pearson.

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Tabela 11 – Consumo alimentar de micronutrientes conforme estado nutricional de acordo com o ângulo de fase pela BIA utilizando pontos de corte baseados na população americana.

Consumo alimentar

Estado nutricional

p Desnutrido (n=8)

Bem nutrido (n=17)

Zinco (mg) 9,4 ± 3,7 9,0 ± 3,0 0,791* Abaixo do recomendado 4 (50,0) 5 (29,4) Recomendado 4 (50,0) 12 (70,6)

Ferro (mg) 14,3 ± 4,4 14,7 ± 7,4 0,890* Abaixo do recomendado 0 (0,0) 0 (0,0) Recomendado 8 (100) 17 (100)

Sódio (mEq) 123 ± 58,0 98,0 ± 56,8 0,314* Abaixo do recomendado 1 (12,5) 3 (17,6) Recomendado 0 (0,0) 3 (17,6) Acima do recomendado 7 (87,5) 11 (64,7)

Potássio (mg) 1986 ± 788 1911 ± 807 0,830* Abaixo do recomendado 8 (100) 17 (100) Recomendado 0 (0,0) 0 (0,0)

Cálcio (mg) 538 ± 204 640 ± 286 0,377* Abaixo do recomendado 8 (100) 16 (94,1) Recomendado 0 (0,0) 1 (5,9)

* Teste t-student; ** teste qui-quadrado de Pearson.

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Tabela 12 – Comparação do consumo alimentar calórico, macronutrientes e micronutrientes entre os três diferentes dias da semana.

Consumo alimentar Dia 1 Dia 2 Dia 3

**

p* Média DP Média DP Média DP

VET (kcal) 2007 820 2033 752 1995 698 0,834

VET (kcal/kg) 26,2 9,8 26,7 8,5 26,3 8,3 0,830

CHO (g) 288 126 288 124 281 121 0,898

CHO (%) 57,0 6,6 56,4 12,5 55,7 11,2 0,846

PTN (g/kg) 1,04 0,41 1,09 0,44 1,01 0,52 0,705

LIP (%) 27,9 6,4 30,1 6,9 29,8 7,6 0,302

Zn (mg) 8,83 3,55 8,21 3,99 10,3 6,1 0,294

Fe(mg) 14,6 5,93 13,4 3,53 15,8 12,8 0,378

Na (mEq) 110 74,78 102,82 61,04 105,26 78,73 0,823

K (mg) 1981 1125 1825 780 2000 1037 0,623

Ca (mg) 582 333 692 327 548 308 0,145

* Análise de Variância (ANOVA) one-way. VET: valor energético total; CHO: carboidratos; PTN: proteínas; LIP: lipídeos; Zn: zinco; Fe: ferro; Na: sódio; K: potássio; Ca: cálcio.

**Dia do final de

semana.

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6 CONCLUSÕES

Objetivo Geral

Avaliar o consumo calórico de macronutrientes (carboidratos, proteínas

e lipídeos) e micronutrientes (zinco, ferro, sódio, potássio e cálcio) na

dieta de pacientes cirróticos através de registro alimentar de três dias.

O consumo médio de calorias dos pacientes cirróticos foi de 26,4±8,3

Kcal/dia. O consumo de carboidratos foi de 56,4±7,1% do VET; proteínas

1,05g/Kg; e 29,3±4,4% do VET de lipídeos. O consumo médio de

micronutrientes foi de 9,1±3,1 mg de zinco; 14,6±6,5mg de ferro; 106±57,2

mEq de sódio; 1935±785 mg de potássio; e 607±263mg de cálcio.

Objetivos Específicos

Avaliar o estado nutricional dos pacientes cirróticos por diferentes

métodos e correlacionar com o estadiamento da doença pelo escore

Child-Pugh.

O ângulo de fase pela BIA e a CB foram os instrumentos de avaliação

nutricional que tiveram associação com o escore Child-Pugh. A maioria (56%)

dos pacientes foi diagnosticada como desnutridos pela BIA, utilizando-se o

ponto de corte baseado na população brasileira.

Comparar o consumo calórico, de macronutrientes e micronutrientes

com as recomendações da literatura.

A média de consumo alimentar dos pacientes cirróticos, quando comparada

com as recomendações da literatura, mostrou-se adequada para

carboidratos, proteínas, lipídeos, zinco e ferro. O consumo de potássio e

cálcio ficou abaixo das recomendações diárias e o de sódio ficou acima.

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Correlacionar o consumo alimentar de calorias, macronutrientes e

micronutrientes com o estadiamento da doença pelo escore Child-Pugh.

O consumo alimentar não variou conforme o estadiamento da doença pelo

escore Child-Pugh. O consumo calórico, de proteínas e micronutrientes dos

pacientes Child C foi um pouco menor do que pacientes Child A e B. O

consumo de sódio teve associação inversa com o escore Child-Pugh.

Correlacionar o consumo alimentar de calorias, macronutrientes e

micronutrientes com o estado nutricional conforme o ângulo de fase

pela bioimpedância elétrica.

O consumo não variou conforme o estado nutricional pelo ângulo de fase

através da BIA. Os pacientes desnutridos apresentaram um consumo calórico

(em calorias) menor e maior consumo de sódio.

Comparar o consumo alimentar de calorias, macronutrientes e

micronutrientes nos três diferentes dias da semana.

Os pacientes apresentaram um padrão de consumo alimentar que não varia

entre os dias da semana.

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7 ANEXO 1