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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM LETRAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA COMPARADA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O INCENTIVO À LEITURA Mestranda: Jaqueline Pinson Sichelero Orientadora: Profa. Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian Frederico Westphalen, janeiro 2017

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: SUA CONTRIBUIÇÃO PARA … · En este trabajo se analiza la importancia de la lectura de los niños en la formación tanto del lector pequeño, ... Para

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS

MISSÕES – CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

MESTRADO EM LETRAS

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA COMPARADA

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O INCENTIVO À

LEITURA

Mestranda: Jaqueline Pinson Sichelero

Orientadora: Profa. Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian

Frederico Westphalen, janeiro 2017

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Jaqueline Pinson Sichelero

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O

INCENTIVO À LEITURA

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado em Letras, área de concentração em Literatura Comparada, sob a orientação da Profa. Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Letras.

Frederico Westphalen, janeiro 2017.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente a Deus, por ter me dado a capacidade de

aprender a superar barreiras e obstáculos na minha jornada.

A minha família que sempre me apoiou.

A todo corpo docente do Curso de Mestrado em Letras, que

compartilharam seus saberes, conhecimentos e vivências na área da

educação para que esta seja cada vez mais valorizada pelo conhecimento.

O meu agradecimento especial às colegas Simone, Vanderleia,

Alcione e Aliete, que me apoiaram em momentos difíceis.

A minha orientadora, Dra. Ilse M. Vivian, que me orientou para que

este trabalho tivesse uma contribuição social na área da educação.

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(...) somente iremos formar crianças que gostem de ler e tenham uma relação prazerosa com a literatura se propiciarmos a elas, desde muito cedo, um contato frequente e agradável com o objeto livro e com o ato de ouvir e contar histórias (...) isso equivale a dizer que tornar um livro parte integrante do dia a dia de nossas crianças é o primeiro passo para iniciarmos o processo de formação de leitores. (KAERCHER, 2001)

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RESUMO

Este trabalho busca discutir a importância da leitura infantil na formação, tanto do pequeno leitor, quanto do aluno de nível médio, que será professor no ensino básico, propondo sugestões de práticas de leituras, especificamente por meio da contação de histórias, que possam ser utilizadas em escolas de Educação Infantil, séries iniciais e pelos alunos do Curso Normal em Nível Médio. Tem-se a pretensão de, ao repensar a prática de leitura na escola, demonstrar a necessidade da leitura como processo lúdico e prazeroso, cujas ações refletem diretamente na formação pessoal e coletiva dos sujeitos. Além disso, busca-se aprofundar os saberes e reconstruir outros a partir das reflexões realizadas pela pesquisa. Este trabalho apresenta reflexões acerca de três obras de Literatura Infantil, demonstrando práticas realizadas com os livros: O Aniversário do Seu Alfabeto, de Amir Piedade, versão de 2015; Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado, de 1986; e O Sanduíche da Maricota, de Almerindo Guedes, de 2000. O percurso metodológico do texto é um estudo bibliográfico e a apresenta propostas de contação de histórias. Assim, o trabalho ora apresentado é de natureza qualitativa e propositiva, não tendo a intenção de mostrar como se deve fazer, mas, sim, contribuir com ideias para que a leitura seja um processo de constituição de sentidos. A necessidade de se repensar a prática de leitura na escola, enfatizando a necessidade da leitura como processo lúdico e prazeroso, é urgente e necessária. Assim, este trabalho buscou, através da pesquisa, e por já constatar a problemática encontrada na formação de leitores neste nível de ensino, apresentar alternativas possíveis para aplicação e resolução das deficiências encontradas. Uma das alternativas aqui oferecidas foi a Contação de Histórias.

Palavras-chaves: Leitura; Contação de História; Práticas de leitura.

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RESUMEN

En este trabajo se analiza la importancia de la lectura de los niños en la formación tanto del lector pequeño, como del alumno de nivel promedio, ya que el estudiante va a ser un maestro en la enseñanza primaria, proponiendo sugerencias de prácticas lectoras, específicamente a través de la narración, que puede ser utilizado en escuelas de Educación Infantil, primeros grados y los estudiantes del curso normal en el Nivel Medio. Ha sido la intención, a se repensar la práctica de la lectura en la escuela, demostrar la necesidad de la lectura como proceso divertido y agradable, cuyas acciones reflejan directamente en la formación personal y sujetos colectivos. Por otra parte, profunda conocimiento y reconstruye otros a partir de la reflexión propuesta por la investigación. Este trabajo presenta reflexiones sobre tres obras de la literatura infantil, lo que demuestra las prácticas llevadas a cabo con los libros, los cuales son: O Aniversário do Seu Alfabeto, Amir Piedade, versión de 2015;; Menina bonita do laço de fita, Ana Maria Machado, 1986; y O sanduiche de Maricota, de Almerindo Guedes, 2000. El texto es de orientación metodológica, es un estudio bibliográfico y la construcción de propuestas de narración. Por lo tanto, el trabajo que aquí se presenta es la naturaleza cualitativa y propositiva, no habiendo la intención de mostrar cómo hacerlo, pero, en lugar, ser aporte de ideas para que la lectura sea un proceso de constitución del significado. Es obvia la necesidad de replantear la práctica de la lectura en la escuela, haciendo hincapié en la necesidad de la lectura como proceso divertido y agradable. Este trabajo buscó a través de la investigación, y ya ver los problemas encontrados en la formación de lectores en este nivel de educación, permite buscar posibles alternativas para la aplicación y resolución de las deficiencias detectadas. Una de las alternativas que se presentan aquí fue la narración.

Palabras-clave: Lectura; Narración; Prácticas de lectura.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1:Capa do livro O aniversário do Seu Alfabeto, Amir Piedade (2015). 46

Imagem 2: Prática 1: O Aniversário do Sr. Alfabeto – Parte I 48

Imagem 3: Prática 1: O Aniversário do Sr. Alfabeto – Parte II 49

Imagem 4:Capa do livro Menina Bonita do laço de Fita, Ana Maria Machado

(1986) 50

Imagem 5: Prática 2 – Menina Bonita do laço de fita – Parte I 55

Imagem 6: Prática 2 – Menina Bonita do laço de fita – Parte II 56

Imagem 7: Capa do Livro O sanduíche da Maricota (2000), Avelino Guedes 57

Imagem 8: Prática 3 – O sanduíche da Maricota – Parte I 61

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7

1 LEITURA, O QUE É? ................................................................................... 11

1.1 Leitura na escola ...................................................................................... 16

1.2 A leitura na infância ................................................................................. 21

A HISTÓRIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS ........................................... 25

2.1. A importância de contar histórias ......................................................... 26

2.2 A história da literatura infantil e a contação de histórias na escola .... 28

2.3 Por que formarmos contadores de histórias? ....................................... 36

3 PROPOSTAS DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: PRÁTICASDE LEITURA 41

3.1 Estratégias para a contação de histórias ............................................... 41

3.2 Análise da obra O Aniversário do Seu Alfabeto .................................... 44

3.2.1 Proposta de dinâmica com a obra O Aniversário do Seu Alfabeto .......... 47

3.3 Análise da obra Menina bonita do laço de fita ....................................... 50

3.3.1 Proposta de dinâmica com a obra Menina Bonita do Laço de Fita ......... 54

3.4 Análise da obra O sanduíche da Maricota ............................................. 56

3.4.1 Proposta de dinâmica com a obra O Sanduíche da Maricota ................. 59

CONCLUSÃO .................................................................................................. 61

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 64

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INTRODUÇÃO

Este trabalho focaliza a importância da leitura infantil na formação

tanto do pequeno leitor quanto do aluno de nível médio que será professor

no ensino básico, propondo sugestões de práticas de leituras,

especificamente por meio da contação de histórias, que possam ser

utilizadas em escolas de Educação Infantil, séries iniciais e pelos alunos do

Curso Normal em Nível Médio. O objetivo deste estudo é, ao repensar a

prática leitura na escola, enfatizar a necessidade da leitura como processo

lúdico e prazeroso, cujas ações refletem diretamente na formação pessoal

e coletiva dos sujeitos, contribuindo para que sejam pessoas capazes de

conhecer a si próprios, interpretar o mundo com criticidade viver com mais

qualidade. Além disso, objetiva-se aprofundar os saberes e reconstruir

outros a partir das reflexões realizadas pela pesquisa. O desenvolvimento

da leitura leva os indivíduos à compreensão da linguagem, o que permite

compreender o do mundo, expressar-se com mais clareza, tornando-se

uma possibilidade de melhoria de qualidade de vida pessoal e social.

Percebendo a necessidade de aprimorar constantemente os estudos

relacionados à formação do docente do ensino fundamental voltado às

Séries iniciais, este trabalho busca através da pesquisa, e por já constatar

a problemática encontrada na formação de leitores neste nível de ensino,

possibilitar buscas de alternativas possíveis para aplicação e resolução das

deficiências encontradas. Uma das alternativas aqui apresentadas é a

Contação de Histórias. É relevante salientar que a apropriação do que se

lê é um direito de toda a criança, e disso dependem as suas capacidades

para exercer sua plena cidadania. A escola é a instituição social

organizada que tem como uma de suas principais responsabilidades

incentivar a leitura e sua prática.

Para José Carlos Libâneo (2013), “a escola é o local onde se realiza

a produção de saberes, sistematizados ou não, vivenciados ou não, por

professores e alunos. Essa evolução precisa acompanhar a evolução dos

tempos”. A sociedade atual, que se caracteriza pela rapidez na produção

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de informação, necessita de uma escola atualizada, que esteja engajada

com os novos processos de linguagens e de construção de conhecimento,

que permita a seus educandos selecionar e reelaborar de forma reflexiva e

crítica a informação.

Quando pensamos nas qualidades e potencialidades que os

professores da atualidade devem ter, encontramos uma série de entraves:

a falta de profissionais competentes, a falta de prestígio profissional e

também os poucos exemplos na formação de um professor comprometido

com a sua escola, atualizado, capacitado para poder diagnosticar,

administrar e solucionar problemas de aprendizagem do cotidiano escolar.

Além disso, é compromisso da escola debater as diferenças culturais,

políticas e sociais. Nesse sentido, entendemos como importante, ou mais,

essencial, que a escola trabalhe as questões étnico-raciais e de

identidades, desenvolvendo a tolerância e o respeito. Durante anos da

História do Brasil, grupos sociais como negros e mulheres protestaram e

lutaram contra a discriminação de raça e gênero, sem que se tratasse

desses assuntos nas escolas, sem que houvesse materiais didáticos com

referências diversificadas sobre o passado ou sobre a cultura do negro, por

exemplo. Contudo, aos poucos, essa realidade está mudando.

É relevante que os professores se mantenham atualizados e bem

informados para se sentirem agentes confiantes perante os seus

educandos, pois a sua prática bem elaborada é motivo de inspiração para

futuros profissionais. Para que isto se concretize, o professor deve estar

comprometido com a leitura, não só de livros didáticos, como muito

acontece no Ensino Básico e Médio, mas de múltiplas literaturas e variados

gêneros textuais.

Partindo disso, é muito importante que o professor busque

alternativas metodológicas para despertar no aluno, desde muito cedo, o

prazer pela leitura e a prática com os textos, despertando interesse e

aproveitando as novas tecnologias para deixar suas aulas mais

interessantes.

A leitura e sua prática está presente em nosso cotidiano desde o

momento que abrimos os olhos, que começamos a entender o mundo que

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nos rodeia, percebendo as diversidades, captando e decifrando a realidade

que nos cerca. Pela interpretação dos fatos ou até quando sonhamos,

colocamo-nos na perspectiva de relacionar a realidade com o mundo

ficcional. A leitura é um instrumento de libertação prazerosa.

Torna-se imprescindível que os professores de séries iniciais saibam

compreender e apropriar-se do poder da leitura. É necessário que realizem

políticas e ações afirmativas que se referem às relações étnicas e raciais

no cotidiano escolar. Tratar desses assuntos, no período de alfabetização,

possibilitará que os estudantes, ainda tão pequenos, tornem-se agentes

das mudanças que a sociedade tanto anseia e precisa, com respeito e

dignidade humana. Para que isso ocorra, no processo de alfabetização,

deve-se valorizar outra estética, não só aquela da pele clara e olhos azuis

ou verdes, mas a beleza presente na pele negra e dos cabelos

encaracolados, pois, acreditamos que assim promover-se-á uma mudança

de paradigma em relação à questão racial.

Tendo em vista o já exposto, este trabalho identifica e reconhece a

importância da leitura, sugerindo práticas de leituras para os alunos do

Curso Normal em nível Médio, especificamente a Contação de Histórias.

Quer-se fazer sugestões de práticas de leitura para que os futuros

professores realizem nas escolas momentos prazerosos de trocas de

conhecimento a partir das obras lidas, proporcionando o saber com prazer

para o enriquecimento intelectual dos alunos. Além disso, apontamos

sugestões de obras infantis que levem a despertar o gosto e interesse pela

leitura.

Contribuir com o desenvolvimento das habilidades de leitura na

escola é algo muito relevante nos dias de hoje, pois os professores devem

estar em sintonia com os desafios do mundo contemporâneo.

Considerando a complexidade da realidade que nos cerca, a leitura se

torna um instrumento de construção de identidades e de construção social,

que pode promover mais igualdade e mais dignidade humana.

Mais um motivo que justifica o presente trabalho é o resultado das

pesquisas sobre leitura no Brasil, que mostram como os brasileiros leem

pouco, distanciando-se tanto dos processos de leitura e de escrita,

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fundamentais para a formação. Nesse sentido, percebe-se a necessidade

de se propor práticas que fortaleçam a apreciação da leitura pelo público

infantil, e, além disso, incentive futuros professores do Curso Normal em

Nível Médio, na perspectiva de ampliar possibilidades de percepção das

crianças, contribuindo para um melhor desenvolvimento emocional,

cognitivo e social.

A leitura é essencial na formação de uma criança. Pode-se

considerar que o contato direto com os livros e os mais variados meios

para ler sejam o início da formação do sujeito. Assim, a contação de

histórias possibilita a aprendizagem prazerosa para a criança em um

espaço que permite fantasiar e divertir-se com o mundo mágico da leitura,

ademais contribui para o processo de construção do conhecimento e da

criticidade do pequeno leitor.

Para tratar das questões acima apresentadas, esta dissertação

divide-se da seguinte forma: no capítulo 1: Leitura, o que é?, apresentamos

o que entendemos por leitura, e esse é subdividido em Leitura na escola e

Leitura na infância. No capítulo dois, A história da contação de histórias,

resgatamos o histórico da contação de histórias e sua contribuição para o

incentivo à leitura, cuja parte é subdividida em: A prática de leitura e

contação de histórias, Objetivos da contação de histórias na escola e

Importância da literatura infantil na formação da criança leitora. No capítulo

três, então, apresentamos as Práticas de leitura: propostas de contação de

histórias, subdividindo-o em: Importância das práticas de leitura e

Propostas de Contação de histórias.

O percurso metodológico prevê um estudo bibliográfico e a

construção de propostas de contação de histórias. Assim, o trabalho ora

apresentado é de natureza qualitativa e propositiva, não tendo a intenção

de mostrar como se deve fazer, mas, sim, contribuir com ideias para que a

leitura seja um processo de constituição de sentidos.

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1 LEITURA, O QUE É?

Bakthin (1992) alerta para o fato de que a linguagem é constitutiva,

isto é, “o sujeito constrói o seu pensamento, a partir do pensamento do

outro, portanto, uma linguagem dialógica”. No momento que se estabelece

uma relação entre um indivíduo autor e um indivíduo leitor através do

texto, a leitura passa a ser uma atividade comunicativa, ou seja, como

afirmam Poersch e Amaral, a comunicação torna-se “uma atividade

cognitiva em sua essência e uma atividade social em sua práxis”:

a leitura é uma atividade de interação verbal entre os indivíduos,

ou seja, uma relação interpessoal dotada de ação intencional

onde de certa forma o homem procura influenciar o

comportamento do outro. Através do ponto de vista cognitivo, a

leitura pode ser definida como um processo ativo de

comunicação que leva o leitor a construir, intencionalmente, em

sua própria mente, a partir da percepção de signos gráficos e da

ajuda de dados não-visuais, uma substância de conteúdo

equivalente àqueles que o autor quis expressar, através de uma

mensagem verbal escrita (POERSCH E AMARAL, 1989, p. 78).

Para Farr e Carey (1986, p.8), “ler é mais do que identificar palavras[...] é

compreender ideias e conceitos”. Portanto, a compreensão é um processo

construtivo que depende de um conhecimento prévio, ou seja, as informações de

um texto precisam ser inter-relacionadas com aquilo que o leitor tem de

conhecimento anterior sobre o assunto. O leitor acaba relacionando as ideias do

escritor com as suas próprias ideias, ou seja, um texto só ganha sentido no

momento que, ao ser lido, é compreendido e internalizado pelo leitor, o qual

projeta diferentes realidades.

Para Wolfgang Iser (1996, p.71), “a relação entre o texto e o leitor se

caracteriza pelo fato de estarmos diretamente envolvidos e, ao mesmo tempo,

de sermos transcendidos por aquilo que nos envolvemos”, ou seja a relação

entre texto e leitor é uma relação visivelmente diferente, mas que precisa de

cuidados, pois o saber é um elo que liga professor e aluno em sala de aula, com

questões diferentes, histórias de vida e particularidades que se confrontarão nas

diferenças de modo de pensar, ler e escrever. Queirós comenta sobre suas

impressões sobre a leitura:

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O mundo é um livro sem texto, criado a partir da palavra.

Dizendo-se faça-se luz, a água, a terra, o caos se curou. Livro

sem texto onde me vejo elaborando orações, apaziguando as

imensas emoções percebidas nesse mar de linhas e horizonte

de eternas leituras. Desde o início em que me lembro, leio

ininterruptamente suas páginas, recorrendo a todos os meus

sentidos, acrescentando ainda a fantasia, na tentativa de me

acalentar frente a tão imenso mistério. E sobre esse remoto livro

sem texto – invenção original primeira – busco atribuir

significado a tudo que ultrapassa meu pouco poder.

Frequentemente, incapaz de decifrar os enigmas, recorro ao

imaginário, resgatando elementos para me proteger diante de

tamanha intensidade. E só a palavra me inscreve (QUEIRÓS,

1999, p. 23).

A noção de leitura, muitas vezes, está associada à leitura de livros,

jornais, revistas, gibis dentre outros. No entanto, o ato da leitura vai muito

além, ou seja, tudo o que nos dá sentido, ou que nos causa determinadas

intenções são situações de leitura, desde a relação com as pessoas que

convivem conosco, os ambientes cotidianos e qualquer imagem que nos

rodeie, que desperte em nós algo através dos sentidos, tudo isso também

é leitura. De acordo com Paulo Freire, “a leitura do mundo precede a leitura

da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”

(FREIRE apud MARTINS, 2007, p.08). Diante disto, as propostas de

desenvolvimento da leitura precisam ser diversificadas e intensas,

desenvolvidas com muita ludicidade para que as crianças se sintam

motivadas a interagir com o educador na descoberta mágica de leitura do

mundo.

A leitura realiza-se a todo instante, quando se cria a capacidade de

interpretar e compreender as representações do mundo, indo além da

forma escrita, para o som, as cores e os cheiros. Quer dizer, por meio da

leitura e da visão de mundo, domina-se a palavra e, a partir de então,

ocorrem trocas de ideias e conhecimentos, sendo possível interpretar o

mundo que nos cerca. Ler significa inteirar-se do mundo, uma maneira de

conquistar autonomia.

O aprendizado da leitura depende de um conjunto de mecanismos

interdisciplinares e de processos cognitivos associados aos sistemas de

inter-relações individualizados, com características próprias, entre as

várias formas de conhecimento que devem ser levadas em consideração.

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Isso nos leva a crer que ninguém ensina ninguém, as crianças apreendem

através da convivência com o outro, interagindo com as próprias

experiências e a dos seus semelhantes.

Ainda, Paulo Freire afirma que “ninguém educa ninguém, como tampouco

ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão,

mediatizados pelo mundo”. (MARTINS, p.12, 2007)

Cada indivíduo tem o seu próprio jeito de ler e aprimorar este ato, já

que é um ser pensante, com muitas capacidades. O ato da leitura

pressupõe interesse, desejo por aprender, empenho, é preciso que o aluno

queira e tenha vontade de ler. Portanto, todo leitor possui determinadas

técnicas que visam o seu desempenho, tornando difícil, muitas vezes, fazer

a avaliação dos alunos na questão da leitura.

No passado, a leitura não passava de uma sequência de atos

repetitivos, quando a criança que era alfabetizada era considerada um ser

em formação, que deveria receber informações e memorizar,

desconsiderando-se, com isso, todo o conhecimento prévio do aprendiz:

O conceito de leitura do passado (e sabemos que não é tão

passado assim!) tinha como princípio a organização da

subjetividade do leitor em formação. Essa ideia comungava com

uma visão reducionista de um ensino que acreditava no

processo de aprendizagem como uma sequência de repetições.

O estudante era visto como um ser em formação, e sua

bagagem não era muito considerada na construção de seu

conhecimento. Ele não era escutado. Estava ali para apenas

para receber informações e memorizá-las, sem a possibilidade

de um exercício da crítica” (LOIS,2010,p.17).

A leitura na infância pode ser apresentada de forma mágica como

um processo de descobertas de um maravilhoso mundo desconhecido,

porém cheio de surpresas, imaginação, mistérios e aventuras nas quais as

crianças possam mergulhar e descobrir o que aquelas imagens podem

desvendar a cada novo acontecimento.

Para Geraldo (2008, p 107), a leitura é entendida como um processo

de interlocução entre leitor/texto/autor, quer dizer, para que haja

compreensão é necessário que exista conhecimento prévio e, sem isso, é

impossível compreender o texto. Para Marcuschi (2008) a relação

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leitor/autor/texto dá-se através da intertextualidade, já que todos os textos

têm sentido em outros textos. E a construção de sentidos pressupõe a

vivência com múltiplas formas de linguagem verbal e não verbal, como o

cinema, a música, a pintura e o teatro.

Para corroborar a ideia de que a leitura relaciona leitor/texto/autor,

precisamos ter claro que a leitura não é um fenômeno linear, mas contínuo,

que se dá por meio das mais diversas práticas.

A leitura, portanto, é o primeiro degrau no campo do conhecimento

humano, ou seja, é uma maneira de ganhar autonomia, adquirindo

capacidades de decifrar símbolos e deter o poder de autonomia na relação

entre texto e leitor, pois existe uma grande diferença entre saber ler e não

ter o domínio da mesma.

Com o decorrer de nossas experiências de vida, vamos organizando

os nossos conhecimentos adquiridos através do intercâmbio que

realizamos com as pessoas que convivemos diariamente e com todo o

universo cultural e social das nossas relações. A partir disso, estamos

habilitados à comunicação de tudo o que nos for fornecido, pois, já

estamos aptos a resolver problemas e estabelecer relações, podendo

compreender, conviver e até modificar conforme a maneira pela qual

incorporamos as leituras. Entretanto, ser um bom leitor exige a habilidade

de lidar com os diversificados textos com os quais nos deparamos.

Conforme Geraldo, ler significa ir muito além de entender, mas exige

compreender os implícitos, relacioná-los a outros significados e posicionar-

se:

Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de

um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe

significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos

significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura

que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se

a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não

prevista (GERALDO,2008. p.91).

O ato de saber ler e escrever vai além da simples decodificação, por

tratar-se de uma situação composta de signos que são criados pelo próprio

homem, com o objetivo de registrar o máximo possível todas as relações

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humanas e os processos de comunicação, podendo ser usado como forma

de poder e de libertação no convívio social.

O ato de ler pode ser visto como uma relação privilegiada com o

mundo, englobando o convívio com a linguagem, que se torna mediadora

entre os homens os tempos presente e passado. “Paulo Freire não cansa

de dizer, toda prática educacional é sempre uma teoria do saber em ação.

Não há como fugir, ao falarmos da escola, da necessidade da reflexão

sobre como concebemos o objeto do processo do saber e o processo do

saber” (GOODMAN,1995, p.35).

O hábito de leitura é uma prática a ser desenvolvida para ampliar o

raciocínio, o senso crítico e a capacidade de interpretação do indivíduo.

Portanto, o prazer pela leitura deve ser despertado na infância, pois ler faz

parte da formação cultural dos indivíduos, portanto, ao ser estimulada

amplia a imaginação, proporcionando a descoberta de diferentes hábitos e

culturas, ampliando o vocabulário e aprofundando os conhecimentos.

Podemos afirmar que ler qualifica o indivíduo para compreender a si

mesmo e o mundo. O leitor manifesta-se em todos os sentidos quando

apresenta domínio da elaboração de um código e exerce-o no seu

cotidiano. Conforme Zilberman, a leitura é a “interação entre o ser humano

e a realidade, e sua existência [do leitor] não pode ser compreendida sem

o ato da leitura, uma vez que ele está no bojo de um tal intercâmbio.”

(ZILBERMAN, 2008, p.31). Nesse sentido, o ato de ler se configura uma

relação com o real, pois engloba o convívio com a linguagem, bem como

exercita a interpretação dos significados ocultos que os textos querem

expressar necessitando a intervenção de um leitor para dar sentido ao que

o escritor tenta propor através da sua imaginação.

Ler com maior rapidez, absorvendo o máximo de conteúdos, pode

ser uma prática adquirida com a leitura dinâmica. São diversas as

maneiras, as funções e intenções que norteiam a leitura. Com as

invenções tecnológicas como, por exemplo, a internet, surgiram novas

formas de promover a comunicação entre os indivíduos, incentivando

novas formas de leitura. O mundo moderno exige novos perfis de leitores,

conforme afirma Filho:

16

Um leitor plural não é somente aquele que consegue ser

eficiente na leitura da linguagem verbal em norma culta, mas

aquele que consegue ler e traduzir as diferentes linguagens

presentes nos diferentes textos vinculados na sociedade: da

norma culta às gírias, das pinturas acadêmicas dos grandes

artistas aos trabalhos de grafite contemporâneos. (FILHO, 2009,

p.56).

Para se conceber o que é leitura, é preciso ampliar a visão de

mundo e a noção do que é cultura. Hoje, não se pode mais ficar preso à

ideia de cultura ligada à produção escrita, pois inúmeras manifestações

humanas, inúmeras partes de onde surgem e, portanto, inúmeras

linguagens são inventadas e reinventadas dependendo de cada época e

sociedade, todas com sua força significativa. A partir disso, acredita-se que

um leitor deve ser plural, um poliglota na própria língua com

competência na leitura e outras manifestações de linguagens.

Ler, para mim, sempre significou abrir todas as comportas pra

entender o mundo através dos olhos dos autores e da vivência

dos personagens... Ler foi sempre maravilha, gostosura,

necessidade primeira e básica, prazer insubstituível. E continua,

lindamente, sendo exatamente isso! (ABRAMOVICH, 1999, p.

14).

A leitura, de acordo com Martins (2007, p. 32), vai além do texto e

começa antes dele. Sendo assim, o leitor deixa de ser um receptor passivo

e passa a ter um papel ativo, porque dar sentido ao texto significa levar em

conta a situação do texto e a situação do leitor, ou seja, compreender o

texto significa dialogar, sentir, agir com ele. A leitura entrelaça o

conhecimento sistematizado e o mundo real, sendo, por conseguinte, o

texto, um instrumento de combate à ignorância e à alienação, tendo em

vista que é por meio dos textos que os homens expõem os problemas

sociais, quer dizer, leitura e poder têm uma relação muito próxima, pois ela

transforma o leitor, e ele o mundo a sua volta.

1.1 Leitura na escola

Com o passar dos tempos, podemos considerar que houve um novo

olhar quanto à aquisição da leitura, pois o aluno começa ser visto como um

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sujeito em formação, mas com conhecimento prévio de mundo carregado

de hipóteses e cheios de expectativas. Graças aos avanços das pesquisas,

percebeu-se que se dar oportunidades de aprendizagens às crianças e não

forçá-las a atos repetitivos, cansativos e monótonos que deixam as

crianças de certa maneira robotizadas, ao invés de deixá-las livres para

organizarem os seus conhecimentos e aprimorarem as trocas de

conhecimentos com os colegas de classe, era mais produtivo.

Pode-se perceber que a leitura, na maioria das vezes, está limitada

à escola, onde predominam os livros didáticos; que, em muitos casos, é a

única oportunidade de contato com os livros. Daí, da escola, a concepção

que liga a ideia de leitura com livros, em detrimento de tantas outras

opções.

Pesquisas do INEP (2013) mostram que quando se deixa de ser

aluno, se esquece também dos livros. Para Antônio Candido, a leitura é

uma ferramenta civilizatória de inclusão social ou mesmo de humanização,

direito essencial do cidadão. Assim, podemos dizer que um indivíduo

letrado é aquele que está vivo na cultura e não se satisfaz somente com

leitura de livros, ou seja, é ir além do escrito, é saber definir o seu próprio

território, assumindo suas próprias palavras de forma que essas não sejam

somente a reprodução do pensamento do outro. Nessa perspectiva, ler é

ampliar as bagagens de conhecimento, podendo aprofundar a própria

subjetividade, aumentando a sua autonomia e com isso contribuindo nas

atividades da sociedade que faz parte:

Ser letrado é estar vivo ao que a cultura tem a nos oferecer. É

não se contentar só com a leitura dos livros. É poder ver além

do escrito. É demarcar seu território. Assumir a própria palavra é

não deixar que ela seja a reprodução da palavra do outro. Ler o

mundo é o primeiro passo para se querer saber do mundo. Se

respeitarmos que existe um sujeito que aprende e não é passivo

diante dos conteúdos escolares, que já lê antes da

apresentação formal da escrita, estaremos afirmando sua

singularidade e sua responsabilidade diante de seu processo de

conhecimento, conforme nos ensina a teoria construtivista

(LOIS,2010, p.19).

Já que a escola é considerada o centro de formação de leitores, o

professor está no palco desse processo e torna-se responsável por ele, o

18

qual utiliza estratégias, métodos e estímulos. As atividades de leitura

propostas pelo professor podem dialogar com a realidade de seus alunos,

ao se fazer tal afirmação, quer-se dizer que a literatura deve ser

introduzida na vida do aluno sempre tendo em mente que a compreensão

e a interpretação do texto implicam na percepção que cada discente fará

de acordo com as relações que conseguir fazer entre o texto e seu

contexto. Explicando em outras palavras, a leitura é um processo e de

compreensão do mundo, partindo do real para o imaginário. É, sobretudo,

as relações que se estabelecem entre as linguagens. Dessa forma, a

criança desenvolverá a habilidade do olhar para perceber as múltiplas

linguagens nas quais a nossa sociedade está imersa.

A multiplicidade de leituras que um mesmo texto pode ter não

nos parece resultado do próprio texto em si, produzido em

condições específicas, mas sim resultado dos múltiplos sentidos

que se produzem nas diferentes condições de produção de

leituras. Em cada leitura, mudadas as condições de sua

produção, temos novas leituras e novos sentidos por ela

produzidos. Assim, ainda que o interlocutor-leitor seja o mesmo,

mudados os objetivos de sua leitura, estarão alteradas as

condições de produção e, portanto, o processo (GERALDI,

2013, p.108).

Mesmo antes do nosso nascimento já estamos expostos à leitura,

seja através das sensações, seja pelos sons que ouvimos. A partir disso, já

se constata a familiaridade com o ato de ler. Desde muito cedo, lemos

gestos e passamos a interpretar o que está ao redor. Essas ações não se

resumem apenas à decodificação de signos. Lemos imagens, desenhos e

transformamos em linguagem. Vamos dando voz a esses elementos, ou

seja, gradativamente realiza-se uma “alfabetização visual”.

Portanto, leituras são realizadas sempre, pois precisamos dar

sentidos às coisas, às pessoas, ao tempo, ao espaço. Para criar sentidos,

o ser humano lê, interpreta, pois

Ler o mundo é o primeiro passo para se querer saber do mundo.

Se respeitarmos que existe um sujeito que aprende e não é

passivo diante dos conteúdos escolares, que já lê antes da

apresentação formal da escrita, estaremos afirmando sua

singularidade e sua responsabilidade diante de seu processo de

19

conhecimento, conforme nos ensina a teoria construtivista

(LOIS, 2010, p.19).

O cidadão que possui a autonomia da leitura detém, com isso, o

poder de fazer suas escolhas, ampliando sua bagagem cultural, expressa

sua subjetividade, pois ser um indivíduo letrado é sentir-se vivo e imerso

na cultura a qual pertence, uma vez que ler o mundo é primordial para

saber e entender a sua magnitude sociocultural.

Assim, a leitura contribui na formação cultural dos indivíduos,

desenvolve a imaginação, enriquece o vocabulário, possibilita novos

olhares e grandes descobertas. Torna-se cada vez mais importante que

sejam propostos a prática e o hábito da leitura não apenas dos textos

literários e didáticos, mas também de textos e obras que desenvolvam a

imaginação, enriqueçam a linguagem e possibilitem a obtenção de

conhecimentos, assim como desenvolvimento de uma leitura efetiva e

crítica.

De acordo com Cagnetti (1986, p. 23), a leitura é um processo de

contínuo aprendizado, assim, desde cedo, forma-se um leitor que tenha

total envolvimento com o que lê, de modo que quanto mais ler mais

adquire profundidade e intimidade com o texto. Dessa maneira, o leitor

pode fazer perguntas e dar respostas, estabelecendo um diálogo com o

texto, seja ele um conto, uma fábula ou outro de um gênero qualquer.

Nesse viés, a leitura produz contínuo aprendizado, desenvolve a reflexão e

o pensamento crítico.

O ato de leitura deve ser estimulado para deixar de ser algo

mecânico, descontextualizado, que deve ter um resultado específico e

prático. A leitura deve ser estimulada e apresentada de maneira atraente,

tentando fazer nascer, na criança, a vontade de ler, só assim poderá

contribuir na formação do aluno, tornando-o um cidadão crítico, capaz de

interpretar a sua realidade e poder assim interagir ativamente. Enfim, a

criança, para desenvolver-se, precisa experimentar livremente o ato da

leitura, pois no momento em que ela lê e alguém a estimula a pensar sobre

o que leu começa a construir significados. Conforme Souza,

20

O papel do professor é que ele desperte no seu aluno o prazer

pela leitura, pois o aluno que aprende a gostar de ler pelo

exemplo vivenciado ao seu redor pela família, pela escola,

acaba descobrindo que a leitura de um texto possibilita várias

formas de interpretação de seu imaginário. Além disso, deve

proporcionar várias atividades inovadoras, procurando conhecer

os gostos de seus alunos e a partir daí escolher um livro ou uma

história que vá ao encontro das necessidades da criança,

adaptando o seu vocabulário, despertando esse educando para

o gosto, deixando-o se expressar (SOUZA, 2004, p.223).

No momento que a criança adquire o hábito da leitura, ela mesma

acaba fazendo suas próprias escolhas, começa a ganhar a independência

individual e passa fazer as leituras de acordo com suas curiosidades e

interesses. A escola propõe diversos modos e tipos de leitura, seja ela

técnica ou não. A leitura e seus variados modelos se enquadram em

modelo pré-estabelecido. O autor Matos (2002) classifica a leitura em:

a) Noticiários, jornais, revistas de divulgação - Informação.

b) Revista em quadrinhos, romances – Passatempo.

c) Literária – Gosto estético e sabor do belo.

d) Bíblica – Comunicação íntima entre o texto e o leitor.

e) Acadêmica – Linguagem científica que se caracteriza pela clareza,

precisão e objetividade. Informativa e técnica.

f) Científica – Pré-leitura, leitura rápida, leitura analítica, leitura crítica

e profunda.

Ao deixar disponível ao aluno inúmeras possibilidades de leituras, a

escola dá ao aluno autonomia para se formar leitor, para formar seus

gostos e interesses:

Tornar-se leitor significa ter acesso aos escritos sociais sabendo

encontrá-los onde eles estão. O leitor não é aquele que lê o livro

que lhe é proposto, mas aquele que cria seus próprios meios de

escolher os livros que irá ler, [...] é aquele que conhece os meios

para encontrar e diversificar os textos ligados ao seu interesse.

(FOUCAMBERT, 1994, p.135).

Entretanto, apenas disponibilizar não parece ter sido suficiente.

Considerando que a leitura é um ato complexo que envolve a interação,

aos pequenos leitores, é necessário o estímulo à construção de sentidos.

Programas de reciclagem de professor e de incentivo à leitura têm se

21

mostrado eficazes, porém temos que admitir que é necessário muito mais

comprometimento dos professores e gestores escolares, para que essa

prática atinja os objetivos propostos.

Um dos aspectos a ser observado é a alfabetização visual, cuja

atividade significa aprender a ler imagens, observar seus traços

constitutivos e aspectos. Para Santaella (2012, p 13), ler as imagens

significa adquirir os conhecimentos e a sensibilidade necessária para saber

como a imagem se apresenta, como indica o que quer indicar, qual é o seu

contexto de referência. Logo, a criança atinge outro grau de instrução,

quando aprende a decodificar as letras, só então podemos dizer que está

alfabetizada, pois já apresenta uma determinação e uma consciência em

suas opções linguísticas com desenvolvimento completo na área da

linguagem e consegue ao mesmo tempo realizar o trânsito a outras áreas

do conhecimento.

Ao se pensar a leitura como compromisso social, Foucambert (1994,

p.121) afirma que: “A defasagem entre leitores e não-leitores reproduz a

divisão social entre o poder e a exclusão, entre as classes dominantes e os

que são apenas executores.” Daí a necessidade cada vez mais gritante de

que o ato de ler seja bem trabalhado na escola, para que essa divisão tão

grande comece a diminuir. Todavia, de acordo com Silva e Zilberman

(1998, p.79):

[...] embora se tenha conseguido nos últimos anos um aumento

substancial na taxa de escolarização, a escolarização por si só

não está dando uma contribuição decisiva à solução do

problema. [...] a escola não está vencendo o desafio de

alfabetizar.

O professor deve sempre ter em mente que o bom leitor é aquele

que relaciona o sentido do texto com a sua realidade, fazendo críticas,

opinando, elaborando hipóteses e questionando seu meio social.

Ainda, conforme Silva (1995, p. 47) “[...] a leitura enriquece ou

empobrece, dinamiza ou paralisa, dirige ou desvia, conscientiza ou serve

para alienar as ações relacionadas com a formação de leitores”. É

importantíssimo que o professor ofereça aos alunos amplas perspectivas,

22

estratégias e caminhos, para que os alunos possam formar-se leitores. A

contação de histórias é um dos instrumentos que permite que com o tempo

os alunos planejem a própria leitura, desenvolvam interesse e o hábito pela

leitura, ligando um assunto a outro. Para Bamberger (2002, p. 20):

[...] precisamos ir além das necessidades e interesses das várias

fases de desenvolvimento e motivar a criança a ir ajustando o

conteúdo de suas leituras à medida que suas necessidades

intelectuais e condições ambientais forem mudando. É preciso

fazer da leitura um hábito determinado por motivos

permanentes, e não por inclinações mutáveis.

A importância da leitura não se limita apenas a um ato de prazer, de

momento de imaginação e magia, significa muito mais, já que sua

presença está em todos os lugares.

1.2 A leitura na infância

O livro traz a vantagem de a gente poder estar só (e) ao mesmo tempo acompanhado.

MÁRIO QUINTANA

O primeiro contato de uma criança com uma história é realizada de

forma oral geralmente pela mãe, pelo pai, pelo irmão mais velho, avós ou

outro adulto que a cuida. Os primeiros textos lidos comumente são de

conto de fadas, histórias bíblicas, ou histórias inventadas aleatoriamente

pelos próprios pais ou adultos mais próximos da criança. É muito

importante salientar que para a formação de qualquer criança é muito

importante ouvir histórias, pois neste momento se dá o início da

aprendizagem de sistematização de sentimentos, de fatos, de espaços, do

tempo, enfim, do mundo.

Ouvir histórias proporciona à criança momentos agradáveis de risos,

gargalhadas, brincadeiras, dúvidas, questionamentos, ou seja,

entretenimento, momentos em que as crianças percebem as vivências dos

personagens e acabam sendo cúmplices dos enredos. É através dos

contos infantis que podemos suscitar o imaginário infantil, despertamos

curiosidades e provocamos dúvidas infantis, que acabam sendo

23

respondidas pela busca de alternativas, caminhos percorridos pelas

próprias crianças.

Ouvindo histórias a criança pode descobrir emoções de alegria e de

tristeza, possibilidade de descobrir o mundo de conflitos que vive e

perceber por meio dos personagens das histórias que podemos encontrar

soluções e resolver problemas encontrados no cotidiano. Proporcionando

momentos de leitura, podemos levá-las a descobrir outros lugares e outras

épocas, outras culturas.

A diferença essencial entre um livro e um amigo não é sua maior

ou menor sabedoria, mas a maneira pela qual a gente se

comunica com eles; a leitura, ao contrário da conversação,

consistindo para cada um de nós em receber a comunicação de

um outro pensamento, mas permanecendo sozinho, isto é,

continuando a desfrutar do poder intelectual que se tem na

solidão e que a conversação dissipa imediatamente,

continuando a poder ser inspirado, a permanecer em pleno

trabalho fecundo do espírito sobre si mesmo. (PROUST, 1997,

p. 81)

A leitura não é tarefa apenas da escola. Os pais também precisam

praticar a leitura como forma de incentivo, seja por meio da leitura de

jornais, revistas em casa que trazem assuntos do dia a dia, que servem de

estímulos para seus filhos. Quanto a isso, Foucabert afirma que “é por isso

também que a formação dos professores deve incluir contato com os pais,

com bibliotecas de bairro e de empresa, com associações, de maneira a

estabelecer intercâmbio entre as ações de informação e formação”.

(FOUCABERT, 1994, p.11).

Coelho (2000, p. 27) diz que é preciso oferecer às crianças

oportunidades de leitura, mas oportunidades convidativas e prazerosas.

Nesse sentido, a Literatura Infantil desempenha papel fundamental, pois

além de auxiliar no aprendizado das crianças, contribui para a escrita e,

principalmente, constitui-se em momentos de prazer, tendo em vista a

importância de a criança sentir gosto pelo que lê.

a literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte:

fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem a

vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o

24

imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível

realização...” (COELHO, 2000, p.27).

O ato de contar histórias é um momento mágico, por ser um

momento divertido, de alegria, de diversão, de firmar os laços afetivos

entre pais e filhos ou entre professores e alunos, pois para Barreiros

(2006), “além possibilitar um envolvimento pessoal, proporciona momentos

de novas descobertas e emoções afetivas entre adultos e crianças”. Por

exemplo, o autor diz que quando Monteiro Lobato criou o Sítio do Pica-pau

Amarelo, aproximou o real ao mundo infantil, tendo em vista que neste

mundo as crianças possuem voz, são os heróis das próprias histórias,

vivendo num de faz de contas, repleto de magia. “Neste mundo mágico os

elementos de punição como fiscalização e repressão não existem, pois as

histórias possuem relação afetiva com a vó Benta e a Tia Anastácia e

alguns outros personagens que não possuem o papel de fiscalização”

(BARREIROS, 2006).

De acordo com Freire (1989), a leitura do mundo precede sempre a

leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura

daquele. A leitura é associada à forma de ver o mundo. É possível dizer

que a leitura é um meio de conhecer o mundo que nos cerca, sendo ele

imaginário ou real.

O interessante de contar histórias na escola ou fora dela é o de

promover encontros com pessoas, crianças, pais, professores, avós,

buscando e estabelecendo novas formas de relações sociais, estimulando

as crianças para prática da leitura, com contato direto com livros,

bibliotecas ou outros espaços que favoreçam o manuseio de livros,

trilhando um caminho interativo com os adultos de forma que esta

aprendizagem se torne um elo infinito entre livros e leitores. “Ah, como é

importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas

histórias...Escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor

é ter um caminho absolutamente infinito de descobertas e de compreensão

do mundo” (ABRAMOVICH,1993, p.16).

Conforme dados da UNESCO (2005) apenas 14% da população

possui o hábito da leitura, já que a sociedade brasileira não possui esta

25

capacidade, esta tarefa acaba sendo passada para a escola, mas a escola

precisa estar atenta para que a leitura se torne um ato prazeroso e não

uma obrigação.

Nas escolas de formação de professores em nível médio, percebe-

se uma carência muito grande de leitura, pois muitos alunos, quando

crianças, não tinham livros e não tinham acesso a variados tipos de leitura.

Muitos desses futuros professores tiveram contato com a Literatura Infantil

apenas ao ingressar na escola. Devido a essa falha, faz-se necessário

resgatar o gosto pela leitura infantil e o seu significado para formação

humana.

Sabendo-se que o gosto pela leitura deve ser incentivado, no Curso

Normal (Magistério), em Nível Médio, de uma escola do município de

Irai/RS, se procura resgatar as histórias infantis através da visitação das

bibliotecas da escola e a pública, onde a maioria dos alunos nunca

estiveram, e lá se faz a retirada de obras infantis para que façam a leitura e

logo após possam fazer uma releitura através de outras formas, como

pintura, confecção de cenário e apresentação das histórias por meio de

peças teatrais para as crianças, afim de perceberem e vivenciarem a boa

prática da leitura e a importância da contação para a imaginação das

crianças. É notável o crescimento dos alunos futuros professores depois

dessas atividades, pois estes começam a perceber como é importante este

trabalho em sala de aula e a aceitação dessas propostas pelas crianças,

que se sentem envolvidas com as histórias e requisitam mais dessas

atividades.

26

2 A HISTÓRIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

Contar histórias é uma das ações mais antigas da humanidade. Os

antigos, como não tinham livros, deixavam e passavam ensinamentos

através das histórias. Há muito tempo o homem conta histórias, colocando

em palavras os acontecimentos cotidianos e as memórias transmitidas por

seus ancestrais (CAPRINO; PERAZZO, 2011). As civilizações antigas

reuniam-se em torno de uma fogueira para escutar os mais velhos

narrarem suas aventuras, lembranças e ensinamentos (SILVA, 2011) e

essas histórias, contadas pelos mais velhos, eram a base da educação das

crianças e jovens.

Sempre é bom lembrar que a fala e, consequentemente, a

possibilidade de expressar os sentimentos é algo inerente e único do ser

humano, diferenciando-lhe dos outros animais. E é por meio desta ação

verbal (a fala), desta possibilidade de expressar que se constroem e

repassam as culturas e tradições, ultrapassando a relação tempo/espaço,

já que as histórias são contadas, aprendidas e repassadas.

De acordo com Manferrari (2011), não existe povo ou civilização que

não tenha manifestado a prática de comunicar-se, que não tenha contado

suas lendas, tradições, experiências e costumes por intermédio da

oralidade, das narrativas. Coelho (2006), ao tratar sobre a importância do

desenvolvimento da linguagem, enfatiza a necessidade de mantermos a

tradição de contar histórias:

Pois é, já cheguei aos netos e a experiência prossegue,

fornecendo-me elementos para concluir que a arte de contar

histórias é importante alimento da imaginação. Permite a auto

identificação, favorecendo a aceitação de situações

desagradáveis, acenando com a esperança. Agrada a todos, de

modo geral, sem distinção de idade, de classe social, de

circunstância de vida. (COELHO, 2006, p. 12).

27

A ação de contar ou ouvir histórias, além de ter sua importante

função histórica, é sempre carregada de emoções, posicionamentos, de

contextualizações, de sentimentos e lembranças afetivas boas ou más.

Essa tradição fortalece os laços de uma comunidade, bem como ensina a

construir futuros.

2.1. A importância de contar histórias

Com todas as transformações sociais ocorridas por séculos,

chegando ao nosso tempo, temos as contações de histórias muito mais

relacionadas com a escola do que com a passagem de ensinamento pela

família à criança. Assim, lá na escola, as atividades de contação de

histórias, momento em que o professor media a leitura, são constituídas

por vários instrumentos além da ação do professor, tais como a ilustração,

fantoches, máscaras, dentre outros recursos, os quais contribuem para que

a criança seja atraída pela história, levando o pequeno leitor a interagir

com o mundo proposto. Por serem diversos os recursos usados, incluindo

imagens, cores e sons, há mais probabilidade de despertar o interesse da

criança e aguçar a capacidade cognitiva, para que o leitor possa construir,

a partir do seu olhar, as experiências de releituras do mundo.

Contar histórias infantis é uma arte que deve ser muito bem

planejada, pois é através dela que o leitor entra em contato com sons,

letras, palavras, frases, nomes, ritmo, etc., e, assim, constroem-se

imagens. Portanto, para contar uma história, o contador não pode fazer de

qualquer maneira, é preciso escolher textos que mantenham relações de

linguagem com o contexto infantil, que despertem a curiosidade infantil. O

professor deverá demonstrar confiança no que está lendo para seus alunos

e expressar o prazer da leitura:

O item mais importante é o narrador transmitir confiança, motivar

os alunos despertando a atenção e a admiração no momento

em que estão participando de um momento de leitura. (...)

entendemos que o ensino de leitura deve ir além do ato

monótono que é aplicado em muitas escolas, de forma

mecânica e muitas vezes descontextualizado, mas um processo

que deve contribuir para a formação de pessoas críticas e

conscientes, capazes de interpretar a realidade, bem como

28

participar ativamente da sociedade. (OLIVEIRA, QUEIROZ,

2009, p. 2)

O principal objetivo é o professor despertar no aluno o gosto pela

leitura, pois o aluno que aprende a gostar de ler pela experiência que

constrói com a família, com a escola, acaba descobrindo que a leitura de

um texto possibilita o conhecimento e a experimentação de universos.

Para Souza, o professor deve proporcionar várias atividades inovadoras,

mas, antes de tudo, deve conhecer-se como leitor e conhecer os gostos de

seus alunos. A partir disso, escolher um livro ou uma história “que vá ao

encontro das necessidades da criança, adaptando o seu vocabulário,

despertando esse educando para o gosto, deixando-o se expressar”

(SOUZA, 2004, p. 223).

As crianças necessitam de incentivo para desenvolver a habilidade

da leitura e cabe ao professor saber conduzir esse processo de forma

lúdica, prazerosa e objetiva para que o percurso escolhido atinja o

almejado. No processo de desenvolvimento do hábito da leitura, a criança,

ao ser exposta à leitura, acaba fazendo suas próprias escolhas, começa a

ganhar a independência individual e passa fazer as leituras de acordo com

suas curiosidades e interesses.

No momento que a criança atinge este grau de liberdade, podemos

dizer que já apresenta determinação para expressar suas tendências

linguísticas, cabendo ao professor fazer com que adquira consciência

sobre tais opções, levando-a ao desenvolvimento completo na área da

linguagem. Nesse sentido, o contador de histórias, ou o professor, tem um

compromisso:

Nunca é demais lembrar que a prática da leitura é um princípio

de cidadania, ou seja, leitor cidadão, pelas diferentes práticas de

leitura, pode ficar sabendo quais são as suas obrigações e

também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às

conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade

justa, democrática e feliz (SILVA, 2003, p. 24).

O ser humano, desde os primórdios dos tempos, apresentou

necessidade de interação, ou pelos desenhos, ou pelos gestos ou pela

29

fala. Essa interação pode ser observada e/ou reforçada/validada na arte de

contar ou ouvir histórias. Ao contar histórias, o professor inicia com a

criança um trajeto de construção de novos modos de pensar, colaborando

com a vida do outro, direta ou indiretamente, uma vez que a ludicidade da

contação de histórias transforma a criança, tendo em vista que as histórias

sempre envolvem empatia, valores morais e éticos e uma redescoberta de

si mesmo.

Mesmo antes do livro existir, a Literatura Infantil já fazia parte da

vida das pessoas, mas começou a ser valorizada com as obras escritas de

Monteiro Lobato, foi um pioneiro da Literatura Infantil no Brasil,

preocupado com as causas sociais, fazendo da sua personagem Emília, a

boneca de pano do Sítio do Pica-Pau Amarelo, um exemplo de

democracia, perseverança, respeito e igualdade, pois acreditava que para

haver mudança social seria necessário dedicar-se à formação da criança.

Lobato apresentava em suas obras um discurso humano com explorações

folclóricas, vocabulário pertinente às faixas etárias infantis, possibilitando a

inclusão de outros escritores na década de 1970.

Lobato teve seus livros queimados em um pátio de colégio, pois a

classe dominante se mantinha resistente, pois:

a Literatura Infantil desenvolve não só a imaginação das

crianças, como também permite que elas se coloquem como

personagens das histórias, das fábulas e dos contos de fada,

além de facilitar a expressão de ideias. Sendo assim, o objetivo

da Literatura Infantil é o de formar leitores, pois por uma série de

características e fatores ela desempenha esse papel melhor do

que a Literatura adulta, uma vez que é mais convidativa. O que

se procura hoje é assegurar no maior número de pessoas

possíveis o direito de ler. “A literatura infantil contribui para que

não se deixe esta tarefa por acaso... (CAGNETI,1986, p. 21)

Para José Nicolau Gregorin Filho (2009, p. 22), a literatura infantil é,

antes de tudo Literatura; é arte: “fenômeno de criatividade que representa

o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida

prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/ impossível

realização”.

30

O mundo de hoje está sob forte transformação social, política e

econômica e isso consequentemente acaba afetando todos nós, o que

também demanda da Educação novos princípios, novas propostas, pois a

verdadeira evolução acontece ao nível de consciência de mundo.

2.2 A história da literatura infantil e a contação de histórias na escola

A origem da Literatura Infantil é um tanto contraditória. Para alguns

historiadores ela surgiu na oralidade, em forma de contação de histórias,

portanto, é tão antiga quanto a imaginação humana. Já, para outros

estudiosos, esse tipo de gênero surgiu na metade do século XVII com a

ascensão da burguesia, haja vista que até este século as crianças

convivam com os adultos de maneira igual, não havia uma visão

diferente/especial da infância.

[...] a concepção de uma faixa etária diferenciada, com interesses próprios e necessitando de uma formação específica, só acontece em meio à Idade Moderna. Esta mudança se deveu a outro acontecimento da época: a emergência de uma nova noção de família, centrada não mais em amplas relações de parentesco, mas num núcleo unicelular, preocupado em manter sua privacidade (impedindo a intervenção dos parentes em seus negócios internos) e estimular o afeto entre seus membros. (ZILBERMAN, 1985, p.13)

Ao verem as crianças como seres que precisavam de atenção

diferenciada e proteção, aos poucos, em meados do século XVIII, surge a

literatura infantil, com a função de educar moralmente as crianças.

Os primeiros livros infantis que temos conhecimento no Ocidente

surgiram no século XVIII, com os autores La Fontaine e Charles Perrault,

com obras em forma de contos de fada. Com o passar dos séculos, foram

surgindo outros como Hans Christian Andersen, os Irmãos Grimm e, no

caso do Brasil, Monteiro Lobato, que foram imortalizados por suas obras.

Através do desenvolvimento social e cultural, com a modernização e a

industrialização, essa literatura valeu-se da grande expansão da produção

de livros. Partindo deste princípio, a sociedade, cada vez mais comercial,

viu como positivo que as crianças dominassem a língua escrita, e a escola

seria a responsável para esta tarefa.

31

No começo da formação do modelo familiar burguês não havia uma

preocupação especial com a infância, “esta faixa etária não era percebida

como um tempo diferente nem o mundo da criança como um espaço

separado” (ZILBERMAN, 1985, p. 13).

No início, época anterior à invenção da imprensa, a Literatura Infantil

estabelecia para o sistema educativo leituras com intenções moralizantes.

Usava-se como referência manuais de devoção a vidas de santos,

ignorando o mundo imaginário da criança. Cabe destacar que, na

sociedade antiga, não havia um reconhecimento cultural da infância, as

crianças não recebiam cuidados especiais, nem atenção.

O primeiro livro ilustrado impresso para crianças foi de Jean Amos

Comenius. Foi publicado em latim com o título de Orbis Sensualium Pictur

(1654), traduzido por O mundo dos sentidos em pinturas. Comenius foi um

destacado pedagogo tcheco, que trouxe várias inovações, idealizando

processos gráficos e visuais para ensinar as crianças o latim e assuntos de

ciências naturais e do mundo.

Em 1744, Mery Cooper publicou uma obra, dedicada ao público

infantil, intitulada Para todos pequenos e senhoritas. Essa foi escrita por

ingleses e protestantes. Em 1760, outra obra destaca-se: Melodia da

mamãe gansa, por John Newbery. No século XVII, Charles Perrault e, no

século XIX, os Irmãos Grimm colecionaram e publicaram histórias da

oralidade. Esses contos foram adaptados e republicados. Além dessa

Literatura clássica universal, surgiram em outros países nomes como:

Andersen, Amicis, Mark Twain e outros.

A preocupação com a falta de material para o público infantil no

Brasil motivou a produção de livros, pois o que circulava no país eram

apenas obras adaptadas e traduções estrangeiras. Figueiredo Pimentel faz

circular as histórias de Charles Perrault, Irmãos Grimm e Andersen, com a

coleção “Opatinho feio”; Carlos Jasen com os contos de Mil e uma Noites,

Robison Crusoé com as Viagens de Gulliver.

A partir de 1886, surge no mercado nacional textos de autores como

Manuel Bonfim, Julia Lopes de Almeida, Olavo Bilac e Coelho Neto. Em

1893, surge no Brasil a poesia infantil de Zelina Rolin, em parceria com

32

João Kupke, com o livro Coração. Vale destacar que toda a produção

desse período apresentava lições de civismo, amor ao trabalho, à família e

ao perfeccionismo na linguagem.

Em 1921, Monteiro Lobato promove uma alteração na narrativa

infantil com a obra A menina do narizinho arrebitado. Lobato revelou-se um

autor preocupado em escrever com características brasileiras, valorizando

a nossa cultura, mas conciliando a influência estrangeira. Sua obra

apresenta uma linguagem simbólica que interessa mais à criança.

Para Lajolo & Zibermann, “a escola passa a habilitar as crianças

para o consumo das obras impressas, servindo como intermediária entre a

criança e a sociedade de consumo” (2002, p. 22). Como o aspecto

didático-pedagógico seguia uma linha moralista, paternalista, com intuito

de representar o poder, tinha como objetivo estimular a obediência,

portanto era uma literatura com intencionalidade, premiando o bom e

castigando o mau. Já nas duas primeiras décadas do século XX, as obras

começaram a apresentar um caráter mais ético didático, ou seja, tinha

como objetivo educar de acordo com as expectativas dos adultos. Havia

poucas histórias lúdicas e a leitura não era vista como fonte de prazer.

A literatura infantil ganhou amplitude e importância apenas a partir

da metade do século XIX, mas apenas de algumas décadas para cá

passou a proporcionar às crianças um desenvolvimento emocional, social e

cognitivo, possibilitando-lhe o desenvolvimento de interlocução, permitindo

confrontar e contrariar ideias.

A tarefa principal da Literatura Infantil numa sociedade em

transformação é de servir como um veículo de formação, seja no convívio

espontâneo do leitor/livro, ou no diálogo leitor/texto que é estimulado pela

escola. Do século XX até hoje, a Literatura Infantil tem sido agente social

para a formação de novas mentalidades, pois o mundo moderno está

exigindo isso de forma urgente. Cabe também à literatura transmitir nossas

heranças com valores tradicionais e com valores que se renovam

constantemente. Portanto o impulso de ler é um convite a observar,

compreender e analisar o espaço em que convivemos no conjunto com as

coisas que nos cercam, pois isto é condição básica de sobrevivência do

33

ser humano. O ser humano é um aprendiz de cultura, enquanto dura o seu

ciclo de vida.

No que diz respeito às atividades com a Literatura e a expressão

verbal, o espaço-escola deve se diversificar em dois ambientes

básicos: o de estudos programados (sala de leitura, bibliotecas

para pesquisa et.) e de atividades livres (sala de leitura, recanto

de invenções, oficinas da palavra, laboratório de criatividade,

espaço de experimentação, etc.). (COELHO, 2000, p.17)

A escola deve ser o lugar privilegiado, onde os alicerces do

processo de auto realização vital Infantil/cultural do homem inicia na

infância e vai se prolongando à velhice. Nesse contexto, a Literatura Infantil

é agente formador e o professor precisa estar sintonizado com este

período de transformação e reorganizar os conhecimentos de mundo

apostando na leitura:

A Literatura Infantil é uma comunicação histórica (localizada no

tempo e no espaço) entre um locutor ou um escritor-adulto

(emissor) e um destinatário-criança(receptor) que, por definição,

ao longo do período considerado, não dispõe senão de modo

parcial da experiência do real e das estruturas linguísticas,

intelectuais, afetivas e outras que caracterizam a idade adulta.”

(COELHO, 2000, p.31).

Para melhor convivência do leitor com a Literatura se faz necessário

importantes adequações dos textos às diversas fases do desenvolvimento

humano, pois a inclusão do leitor em determinadas categorias não apenas

das faixas etárias, mas também da adequação da idade cronológica em

relação ao grau de nível de conhecimento e domínio da leitura.

É na primeira infância (15/17meses a 3 anos), que a criança começa

a reconhecer a sua realidade através dos contatos afetivos e pelo tato,

esta fase é chamada de “invenção da mão”, pois é próprio da criança a

necessidade de pegar tudo o que alcança e é o momento em que a criança

conquista a própria linguagem passando a nomear as realidades que estão

a sua volta. A presença dos adultos, nesta fase criando situações de

relação afetiva com as crianças, relacionando o mundo natural com o

mundo real e utilizando para isto brinquedos, desenhos, gravuras, que

permita a percepção do espaço em que vive e de muita importância.

34

Na segunda infância (2/3 anos), predominam os valores

vitais(saúde) e sensoriais (prazer ou carências físicas ou afetivas),

passagem da indiferenciação psíquica para a percepção do próprio ser, ou

seja o egocentrismo. Nesta fase, a presença do adulto, tanto no âmbito

familiar com nas escolas, é fundamental, pois a criança começa a

descobrir o mundo real concreto e o mundo da linguagem lúdica, trazendo

muitos significados a ela. Nesta fase, aumenta o interesse pela

comunicação verbal e há um impulso de adaptação ao meio físico.

(CARVALHO; MENDONÇA, 2006)

A fase do leitor iniciante (6/7 anos) é muito importante para todas as

crianças, pois se trata da aprendizagem formal da leitura da escrita gráfica.

A criança já começa a reconhecer os signos do alfabeto, formação de

sílabas simples e complexas, início do processo de socialização e

racionalização da realidade. Nesta fase, o adulto continua sendo o grande

estimulador que passa a incentivar os avanços que a criança vai

adquirindo aos poucos. A criança é atraída por histórias bem-humoradas.

(CARVALHO; MENDONÇA, 2006)

A fase do leitor em processo (8/9anos) é que a criança já possui o

domínio da leitura e escrita gráfica, é curiosa e procura pelo conhecimento,

tem o pensamento lógico já organizado para o concreto, e sente-se atraída

pelos desafios e questionamentos. O adulto continua sendo um alicerce

importante quanto à motivação, como provocador logo após as leituras

realizadas. (CARVALHO; MENDONÇA, 2006)

Na fase do leitor fluente (a partir dos 10/11anos) há a consolidação

do domínio da leitura com compreensão do mundo através dos livros. O

leitor realiza reflexão alargando e aprofundando o conhecimento adquirido

através da leitura realizada. Nesta fase, o ser é atraído pelo confronto de

ideias e ideais, o adulto já não é mais requisitado. É a fase da chamada

pré-adolescência. (CARVALHO; MENDONÇA, 2006)

A fase do leitor crítico (12/13anos) é a de aquisição do domínio total

da leitura, da linguagem escrita, com o aprofundamento da reflexão, ou

seja, o leitor já é capaz de realizar uma leitura de mundo, despertando

consciência crítica em relação a sua realidade, sua escrita torna-se

35

criativa. Seus estímulos são contraditórios, pois existe a crise de valores,

porém novos valores são elencados, é uma nova fase de descobertas de

grandes transformações. (CARVALHO; MENDONÇA, 2006)

Ao entendermos as fases de e para a aquisição e domínio da leitura,

torna-se mais fácil, na escola, planejar como estimular o gosto pela leitura.

Acreditamos que a contação de histórias é uma das principais, senão a

principal ação que a escola pode/deve/precisa desenvolver para garantir

que seus alunos se formem leitores, e leitores em sentido mais amplo e

consistente, com capacidade verdadeira de entendimento e compreensão

do dito e das entrelinhas. Leitores que perpassem pela ideia de gosto da

leitura para a leitura crítica e engajada.

De acordo com Crady e Kaecher, o gosto pela literatura, ou seja, por

formas mais complexas de linguagem, são despertados pela exposição

gradual ao ato de ouvir e contar histórias:

[...] somente iremos formar crianças que gostem de ler e

tenham uma relação prazerosa com a Literatura se propiciarmos

a elas, desde muito cedo, um contato frequente e agradável com

o objeto livro e com o ato de ouvir e contar histórias, em primeiro

lugar e após, com os conteúdos desse objeto, a história

propriamente dita com seus textos e ilustrações (CRADY e

KAECHER, 2001, p. 82).

Sobre o processo de contação, a ensaísta cubana Alga Marina

Elizagaray (1975) diz algo claro e importante: “O narrador tem que

transmitir confiança, motivar a atenção e despertar admiração. Tem que

conduzir a situação como se fosse um virtuoso que sabe seu texto, que

tem memorizado, que pode permitir-se o luxo de fazer variações sobre o

tema”. Nesse sentido, também a teoria de Vygotsky (1984) salienta que é

incalculável a importância da interação entre os sujeitos no sentido de um

objetivo único. Na aquisição da leitura, estabelece-se um jogo entre duas

ou mais crianças ou adultos, construindo-se um objetivo comum:

compreender o que é expresso a partir da vivência do texto.

A contação de histórias desenvolve a imaginação infantil. As

histórias infantis são um importante alimento para a imaginação da criança,

36

o que refletirá diretamente na sua capacidade de reinventar-se a cada fase

da vida. Segundo

Betty Coelho (1988), o contato com histórias “permite a autoidentificação,

favorecendo a aceitação de situações desagradáveis, ajudando a resolver

conflitos”.

A narração estimula a criatividade infantil, acalma e prende a

atenção, informa, socializa, educa, estimula a imaginação, ajuda a

desenvolver a inteligência. A contação de histórias ajuda a resolver

conflitos, tornar as emoções claras e cria uma relação afetiva entre a

pessoa adulta que conta a história e a criança que está ouvindo. As

crianças, na fase da Educação Infantil, mesmo não dominando a língua

escrita, realizam uma leitura mais ampla, ou seja, uma leitura sensorial

(visão, tato, audição, olfato e paladar), revelando um prazer muito diferente

da do adulto, pois o pequeno leitor se entrega à leitura com paixão, de

forma plena, com muita curiosidade, explorando cada episódio com muita

emoção e fantasia.

O objeto livro também tem seu papel na contação de histórias. No

momento em que uma criança abre um livro, é despertada à magia, pois o

livro é um objeto que ela pode pegar, cheirar, possui cor, textura, formas

variadas, proporcionando um encantamento que muitas vezes está fora de

seu alcance. Ao mesmo tempo que vai manuseando vai estabelecendo

relações que muitas vezes estão fora da sua realidade e das suas

experiências sociais. Conforme expressam Valdez e Costa (2007), para

que qualquer história tenha sentido, é essencial que a criança possa viver

a fantasia, magia, encantamento, desfrutando de todos os direitos, entre

eles ode escutar e viver histórias próprias para sua idade. Ao ouvir

histórias infantis, a criança aprende a lidar com seus conflitos e busca

novos caminhos para si.

Assim sendo, entendemos ser imprescindível que o Curso Normal

em Nível Médio (Magistério) prepare seus alunos para que sejam exímios

contadores de histórias. E, isso acontece, inicialmente estimulando-os a

serem leitores, posteriormente, os preparando com teorias e didáticas,

auxiliando na formação de práticas de contação de histórias, a fim de que

37

estejam preparados para entrar no mundo da literatura infantil e, através de

suas histórias encantar e estimular as crianças, apresentando-lhes o

mundo mágico da leitura.

Ao se contar uma história, mesmo que, muitas vezes, não se

perceba, trabalham-se inúmeros valores e estímulos. O estudante do

Curso Normal em Nível Médio deve ter bem claro que a contação de

histórias para crianças precisa, ao final de cada história contada, conseguir

fazer com que o aluno reflita sobre os valores existentes em determinado

texto. Precisa estimular o diálogo e a análise crítica, fazer com que seja

desenvolvida a capacidade da criança de ouvir o outro. Esse é o momento,

também, para refletir sobre situações vividas pelos personagens, relacionar

as vivências familiares com as apresentadas, debater sobre as atitudes

dos personagens, comparar as próprias vivências do dia adia, trabalhar as

consequências das mentiras, da falsidade, enfim, da ética, entre outras

possibilidades.

De acordo com Gancho (2001), a narrativa oral é o

(re)conhecimento de depoimento individual como referência a processos

históricos, sociais e culturais. A narrativa oral constitui a própria origem

humana, realçando o identitário cultural de uma pessoa ou de uma

sociedade. Consoante com isso, Cogo e Nassar (2011) afirmam que, além

de transferir a memória coletiva de uma sociedade, a narração de histórias

interfere no indivíduo, uma vez que estimula a subjetividade de cada

pessoa. Sendo assim, contar histórias passa ser uma importante

ferramenta para auxiliar/potencializar o desenvolvimento da pessoa, da

oralidade, da autonomia, da subjetividade.

Para Dohme (2000), com as crianças, o ato de contar histórias é

muito mais importante e preciso, pois ouvir uma narrativa atua no

desenvolvimento cognitivo, trabalha na formação de caráter, na

capacidade de raciocínio, imaginação, criatividade, quer dizer, é essencial

no desenvolvimento da criança.

Em se pensando na escola de Curso Normal em Nível Médio, o

professor que está sendo formado e que trabalha com contação de

histórias possibilita ao aluno ter contato com o individual, o social, o

38

espiritual e o cultural, já que a leitura forma, desde a infância, quando as

crianças se motivam a compartilhar momentos de sua vida, formando

consciência ética, abrindo-se para a diversidade, de acordo com Faria e

Garcia (2002).

O professor, ao contar histórias, traz à tona suas tradições que, por

sua vez, resgatam o sujeito humano, ser social, cultural e, ao trazer de

volta essa prática, preserva, também, valores de uma comunidade. Ao

trabalhar com histórias, o docente deve estar ciente de que toda história

transmite algo que se soma ao desenvolvimento da criança, formando-a

criativa e reflexiva.

Enfim, Literatura Infantil é uma arte, fenômeno de criatividade na

representação do mundo, dos homens, da vida através do uso das

palavras, levando a conhecer cada momento da caminhada da

humanidade em constante evolução. Desde a sua origem, a literatura

possuía função de atuar sobre a consciência, sobre a imaginação,

incidindo sobre desejos, vontades, ações e paixões. Por meio da literatura,

o homem tem a oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer suas

experiências de vida, conhecer a si próprio e a realidade do outro.

2.3 Por que formarmos contadores de histórias?

De acordo com dados obtidos na pesquisa Retratos da Leitura no

Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro, temos no Brasil 88,2 milhões de

leitores, 50% da população, 7,4% menos que 2007, quando 55% dos

brasileiros se diziam leitores. Segundo a pesquisa, o preço da obra não

influencia, fica em 13º lugar, significando apenas 2% dos entrevistados. A

falta de interesse está em 1º lugar no ranking da pesquisa, com 78%; e a

falta de tempo em 2º lugar, com 50%, como duas das justificativas para

não se ler.

A inexistência do hábito de leitura também está associada a outros

fatores concorrentes: 85% dos entrevistados preferem assistir TV; 52%

ouvir música ou rádio e a leitura como opção está em 7º lugar. A pesquisa

realizada pelo Instituto Pró-Livro aponta que 50% dos brasileiros não são

39

leitores e que não leram nenhum livro nos últimos 3 meses. Entre esses

leitores, 30% não são leitores porque a escola não os capacitou para a

leitura. Assim, apenas 20% dos brasileiros possuem a capacidade de ler,

mas também não gostam de ler.

Num levantamento realizado em 2010, publicado pela revista CP

Geografia em 30/08/10, sob o título O mapa da Leitura no Brasil, 77

milhões de brasileiros se declaram não leitores e 95 milhões, isto é 55%

dos brasileiros, relataram ter lido um livro apenas nos últimos três meses.

Conforme esta pesquisa solicitada pelo Instituto Pró-Livro, 45% destes

leitores estão na região Sudeste, ou seja, seis em cada dez habitantes se

declaram leitores. Nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste a situação é

mais crítica, pois são apenas 8%,25% e 7% que se declaram leitores. Já

na região Sul, são 14% dos brasileiros leitores. Conforme esta pesquisa,

os brasileiros acima de cinco anos de idade leem, em média, 4,7 livros por

ano, um contraste com a pesquisa realizada em 2001, em que os

brasileiros acima de 15 anos de idade e com três anos de escolaridade

leem 1,8 livro por ano. (Instituto Pró-Livro, 2016).

O público leitor também se diferencia conforme as regiões

brasileiras. O Sudeste e o Sul se destacam à frente, já o Norte e o

Nordeste ficam atrás, e segundo pesquisa encomendada pelo Ministério da

Cultura e realizada pelo IBGE e estudos da Fundação Getúlio Vargas, os

piores déficits de bibliotecas públicas.

As desigualdades sociais encontradas na renda per capita, nível de

salário e qualidade de vida também se refletem na leitura, destaca o diretor

do Observatório do Livro e da Leitura Galeano Amorim, que coordenou a

pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. (Instituto Pró-Livro, 2016).

Segundo o escritor gaúcho Jéferson Assumção enfatiza, os atuais

retratos da leitura do Brasil são resultados da nossa história da colonização

do País, e recorda que os autores Sérgio Paulo Rouanet e Renato Ortiz já

alertavam sobre os problemas na educação e o valor simbólico na sua

prática entre o público brasileiro. Assumção ainda descreve em um

capítulo no livro Retratos da Leitura do Brasil, que a relação dos brasileiros

com o livro é muito recente e é herdeira de uma história muito

40

problemática, pois, enquanto na França em 1890 cerca de 90% dos

habitantes eram alfabetizados, em 1900 na Inglaterra era de 97%, e

Portugal era de 20% a 30% de habitantes alfabetizados, no mesmo

período em pouco menos de cem anos. No Brasil na última década do

século 19, o analfabetismo no Brasil era de 84%. Salienta-se, entretanto,

que fazem apenas pouco mais de 200 anos que deixou de ser proibida a

impressão de livros no Brasil, pois a nossa imprensa chegou com a família

real portuguesa em 1808 e destinava-se restritamente apenas a fabricação

de documentos e livros oficiais (Instituto Pró-Livro, 2016).

Outro fator determinante que interferiu na formação de leitores foi a

ditadura militar, segundo David Plank, autor da obra Política educacional

no Brasil: caminhos para a salvação da pátria, pois a reforma educacional

realizada na época eliminava dos currículos escolares o francês, latim,

Filosofia e Sociologia. Neste período, a educação visava à formação de

mão de obra para o crescimento capitalista brasileiro. Com este perfil de

educação, a formação de leitores tornou-se uma preocupação de alguns,

dependendo de esforços individuais, o que não conta com potencial para

produzir um volume de leitores críticos, do que tanto o Brasil necessita.

(PLANK, 2001).

A prática da leitura é uma questão de cidadania, pois com o

conhecimento e a autonomia intelectual são indispensáveis para que haja

capacidade transformadora. O acesso aos livros deve ser um direito que o

Estado tem que garantir, salienta Galeano (1971). Para tanto, foi criada

uma lei para que todos os estabelecimentos de ensino do Brasil, públicos e

privados, tenham uma biblioteca. Com a aplicação da nova lei, o mapa

brasileiro da leitura deveria ter mudado, no entanto, 77% dos brasileiros

admitem que não são leitores, enquanto 95% ou 55% dos brasileiros

afirmam ter lido apenas um livro nos últimos três meses.

Existem justificativas para isso, 15% não conhecem as letras, 7%

são analfabetos funcionais admitem que não leem porque não conseguem

compreender o que está escrito, 18% dos entrevistados declaram a falta de

dinheiro para aquisição de livros e 15% justificam a falta de bibliotecas.

41

Portanto a dificuldade de acesso aos livros está entre os principais

entraves para os que não leem, mas não é o único motivo.

Não se pode ignorar que, no mundo das muitas invenções

tecnológicas, com o envolvimento dos sujeitos cada vez mais com

aparelhos eletrônicos, é urgente que os professores detectem e usem

novos recursos e procedimentos para estimular a leitura. Usar essas

ferramentas e aproveitar o tanto que os alunos produzem na forma escrita

é um dos desafios da escola, que busca transitar entre os métodos

tradicionais de leitura e a diversificação de instrumentos. O ambiente

escolar deve criar e ampliar espaços para que os alunos tenham a

oportunidade de aprender a escrever levando em conta as novas

tecnologias e os assuntos das novas mídias, promovendo, assim, o

despertar para a seleção de informações, a consciência de escolha para o

uso dos espaços virtuais.

Galeano defende que todo o cidadão deve ter o direito de acesso

aos livros e, para tanto, o Estado deveria garantir isso. Essa garantia

acabou por ser implementada apenas através da implantação das

bibliotecas, como fruto do empenho do PNLL, que ampliou os recursos

destinados ao Ministério da Cultura. Entretanto, Galeano alerta que para

mudar o mapa da leitura no Brasil não será necessário somente muito

investimento na área da educação, mas também muitas ações práticas.

(GALEANO, 1971).

Há mais de um século já existia um discurso para que as escolas

permitissem livre acesso às bibliotecas de livros aos seus alunos, levando-

se em conta a idade desses. Anne Marie Chartier, em 1982, afirma que

programas oficiais franceses aconselhavam os seus professores a

emprestarem livros infantis aos alunos do ensino primário, os quais

deveriam ler em sala de aula em voz alta trechos de obras clássicas pelo

menos duas vezes por semana. Neste período, o papel das instituições era

comprometido com uma tradição literária infantil.

Em diversos países, a incorporação profissional das mulheres às

bibliotecas e à docência primária foi um fator importante para a leitura

infantil. Mesmo assim a formação de professores permaneceu deficiente

42

no que tange à literatura e às prioridades escolares, não ocasionando

grandes avanços aos métodos didáticos.

Na década de 1970, o modelo escolar começou a sofrer

transformações no mundo, promovendo alterações significativas nos livros

utilizados. Passou-se a ensinar e interpretar pela análise das obras e seus

elementos, com comentários dos textos.

Hoje em dia presenciamos várias formas de intervenção e reflexão

sobre as possíveis causas da falta de leitura e, nesse caso, a escola

procura intervir junto à sociedade para que ambas se proponham de forma

conjunta a criar projetos que fortaleçam as ações estratégicas e que estas

sejam eficazes para solucionar a falta de interesse pela leitura,

principalmente com o público jovem. Nessa perspectiva, novas concepções

sobre o que é leitor começam a aparecer:

(...) o leitor é um pescador. O leitor lê como um pescador pesca.

É solitário, imóvel silencioso, atento ou meditativo, mais ou

menos hábil ou inspirado. Considera-se evidente que o leitor é

leitor quando lê como o pescador é pescador quando pesca,

nem mais, nem menos. Aprender a pescar como aprender a ler

consiste então em dominar certas técnicas básicas e

experimentá-las, progressivamente, em correntes de água ou

frotas de textos cada vez mais abundantes. (...) Em resumo,

pesca e leitura – longe de serem atos de pura técnica e /ou de

pura inatividade individualista – estão cheias de sociabilidade

(COLOMER, 2007, p. 51).

De acordo com Colomer, a Sociologia da Leitura aponta que todo o

leitor formado pode tornar-se um leitor “débil”, dependendo do número de

livros que lê e da qualidade do que lê. A pesquisa feita por Colomer indica

uma grande problemática: afirma que os professores não gostam de ler. E,

sendo a escola um dos centros de formação de leitores, essa situação

complica-se, já que se o professor não é um leitor, dificilmente irá

despertar a emoção do aluno, muito raramente poderá transmitir o prazer

da leitura e conquistar as crianças.

Algumas das maneiras mais eficazes para incentivar o gosto pela

leitura são: contar histórias, incentivando a prática da leitura pelo exemplo,

ler livros, jornais, revistas, conversar com os professores sobre questões

de leituras, ler os livros que as crianças sugerem, tornando este momento

43

importante para elas; proporcionar visitas a feiras de livros, conhecer

autores, participar de eventos que envolvam a arte, teatro, como

apresentação peças infantis. Enfim, o professor deve expressar a sua

vivência com a leitura.

O professor, para incentivar os leitores, tem que demonstrar

acima de tudo prazer no momento do conto. A criança, quando

pequena percebe tudo pelo olhar, e o olhar de quem é

apaixonado por aquilo que faz pode incentivá-la a conhecer o

mundo da literatura, ou seja, da fantasia (Revista Escola, 2002,

p. 8).

44

3 PROPOSTAS DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: PRÁTICAS DE LEITURA

Tendo em vista o disposto nos capítulos anteriores, passa-se a

demonstrar algumas práticas de contação de histórias, amparadas nos

Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 41), que dizem que: “A

criança que ainda não sabe ler convencionalmente pode fazê-lo por meio

da escuta da leitura do professor, ainda que não possa decifrar todas e

cada uma das palavras. Ouvir um texto é uma forma de leitura.”

Considerando sempre que a leitura de histórias infantis auxilia na

formação dos conceitos e gostos culturais e na personalidade das

crianças, o aluno do Curso Normal, ao trabalhar com histórias, deve ter em

mente que é através dos personagens e de suas histórias que as crianças

experienciam suas próprias derrotas e perdas. Ademais, conforme Britto

(2002, p. 18) "ao ouvir a história, o leitor é transportado para um mundo

onde tudo é possível: tapetes voam e galinhas põem ovos de ouro. Essa é

a magia da fantasia", quer dizer, se o momento da contação de histórias

for bem preparado, o professor amplia as possibilidades, dos pequenos, de

interação com o seu mundo imaginário. Por isso, a linguagem literária de

contos estabelece-se como uma prática pedagógica indispensável.

Prática pedagógica que passa a ser apresentada a partir de então,

com viés de sugestões possíveis de serem aplicadas.

3.1 Estratégias para a contação de histórias

Aos pensarmos em contação, refletimos, inicialmente em como

contar histórias. Se existem estratégias ou técnicas que colaborem para

que a contação de histórias forme leitores; e se existem, quais são.

A partir disso, após pesquisas sobre autores que desenvolvam

técnica, optamos por trabalhar com Vania Dohme, mais especificamente

com seu livro Técnicas de contar histórias, de 2000 e com Gládis Maria

Ferrão Barcellos e Iara Conceição Bitencourt Neves, mais especificamente

com o livro A hora do conto: da fantasia ao prazer, de 1995.

45

No livro da autora Vania Dohme, apresenta que uma boa contação

de histórias essencialmente deve valer-se da voz, usar impecavelmente a

dicção, o volume, a velocidade, a tonalidade e o vocabulário, fatores com

os quais a pesquisadora sempre trabalhou e considerou importantes,

assim, agora, tem o embasamento teórico necessário para o

desenvolvimento de seu trabalho.

Dentre os aspectos tratados por Dohme (2000), a pesquisadora

apoderou-se dos seguintes: uso da voz, como a dicção. Deve-se tomar

cuidado para pronunciar de forma clara cada sílaba, destacando cada som

da palavra, e dando um espaçamento entre as palavras. Necessário,

também, observar que cada ambiente exige um tom de voz, assim, é

preciso, primeiramente, avaliar o espaço onde as histórias serão contadas,

falar muito baixo ou alto demais, ou não manter o mesmo tom de voz por

toda a história, haja visto que pode prejudicar a compreensão do que está

sendo narrado.

Na sequência, de acordo com a autora, a velocidade em que se

contará a história também é importante, naturalmente cada um tem uma

velocidade ao falar, mas essa velocidade não pode prejudicar a

compreensão do texto, mas, sim, auxiliar na interpretação do texto, falando

mais rápido, para passar emoção, urgência, ansiedade; e mais devagar

para passar paz, tranquilidade, harmonia, calma.

Então, faz-se preciso trabalhar com diversas variações de

velocidade e volume, todavia, modulando a voz (volume e velocidade) para

que as crianças possam entender e para dar colorido/dinamicidade à

narrativa. Ainda, a tonalidade foi destacada por Dohme (2000), mostrando

que alguns estereótipos ajudam na compreensão do texto. Ou seja,

meninas com fala mais aguda, quer dizer, pode-se falar mais “fininho”; já

quando a história trata de ursos, por exemplo, fala grossa ou grave. Se se

trata de fadas, um falar adocicado; e se for bruxas, voz aguda e estridente,

etc., mas todas essas diferentes tonalidades que a história exige carecem

de atenção do contador de histórias para manter a característica de cada

personagem.

46

O vocabulário também merece atenção, pois, quando se trata de

crianças, muitas vezes não conhecem algumas palavras, e se isso ocorrer,

a comunicação não acontecerá efetivamente, já que se não entender uma

palavra, não conseguirá compreender a frase, o que acarretará, talvez, em

perda de fatos importantes e do “rumo” da história, acabando por levar ao

desinteresse pela história que está ouvindo/vivenciando. Dessa forma, o

que facilita o entendimento é explicar de outra forma, com outras palavras,

o que já foi dito.

Além da voz, a próxima contribuição relacionada à contação de

histórias, destacada pela autora, é a seleção do repertório. Ao preparar a

seleção de narrativas, devem-se conhecer os interesses e o estágio

emocional em que as crianças se encontram, de acordo com a sua idade.

O professor precisa adequar a temática ao nível de amadurecimento da

criança.

Para se fazer essa seleção, é imprescindível considerar as fases da

criança, já citadas no item 2.1.2. Vania Dohme (2000) divide as fases em

prémágica e mágica. Na fase pré-mágica indica narrativas com enredos

simples e atraentes, com muito ritmo e repetição. Afirma que as crianças

preferem histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza

(humanizados), histórias de crianças. Enquanto na fase mágica as crianças

preferem histórias de repetição e acumulativas, histórias de fadas. Nessa

fase gostam do ouvir várias vezes a mesma história, e como já sabem o

que vai acontecer, apegam-se em detalhes.

A pesquisadora embasa-se, também, em Barcello (1995), pois sua

contribuição em muito auxilia a entender como devem ser preparadas as

contações de histórias: “necessário se atentar para que a narrativa não

fique tão curta que deixe, nos ouvintes, uma sensação de falta, nem tão

longa que as crianças percam o interesse no seu decorrer” (BARCELLO,

1995, p. 49). Acrescenta, ainda, que a história em si não deve ultrapassar

quinze a vinte minutos. Somando-se as técnicas já apontadas, aparece a

preparação do ambiente, que para melhor resultado da atividade deve

acontecer com os alunos sentados em semicírculo, para que vejam o

narrador e o material usado na contação. Quando o momento de contação

47

ocorre na escola, o livro escolhido com cuidado e carinho pelo contador

para que o resultado seja o melhor possível.

Além disso, Barcello (1995), afirma que, ao contar as histórias, o

professor pode valer-se da técnica tradicional: voz e expressão corporal do

narrador, e as crianças gostam muito, uma vez que desenvolvem a

imaginação; assim como se podem usar recursos visuais criativos, como

imagens, gravuras, dobraduras, etc. Aponta, ainda, o teatro como uma

ótima forma de contar histórias (teatro de sombras, fantoches ou bonecos

de dedo, vara, bonecos de luva, sacos de papel, bonecos confeccionados

com materiais recicláveis, etc.).

A partir desse momento, passaremos a apresentar algumas

sugestões de trabalhos com três histórias infantis, para se trabalhar

primeiramente com os alunos do Curso Normal do Ensino Médio para que

aprendam e desenvolvam técnicas voltadas a contação.

3.2 Análise da obra O Aniversário do Seu Alfabeto

Como já mencionado, ouvir histórias é muito mais que passa tempo,

é momento de sentir emoções importantes, como a tristeza, a raiva, o

medo, a alegria, etc., além da escuta de histórias e a leitura ser essencial

para a formação cultural e social.

O Livro O Aniversário do Seu Alfabeto, de Amir Piedade, possibilita

às crianças, de forma lúdica, o contato e aprofundamento com o

letramento.

A leitura é uma maneira de se aprender o que é escrever e qual a forma correta das palavras. Para conseguir esse objetivo da leitura é preciso planejar as atividades de tal modo que se possa realizar o que se pretende. A leitura não pode ser uma atividade secundária na sala de aula ou na vida, uma atividade para a qual o professor e a escola não dedicam mais que alguns míseros minutos, na ânsia de retornar aos problemas da escrita, julgando mais importantes. (CAGLIARI, 1994, p. 173)

Ao professor, cabe mediar situações de aprendizagem realmente

relevantes, que envolvam a leitura, compreensão oral e escrita, produção

textual e oralidade através da história, sempre relacionando os fatos da

48

história com vivências do cotidiano. Também se deve permitir ao aluno dar

sua opinião sobre os fatos e atitudes dos personagens.

Como a história trata de todas as letras do alfabeto pode ser

utilizada para que o aluno assimile e sistematize o uso das letras do

alfabeto, desenvolvendo o processo da escrita. Ainda, é possível trabalhar

com o aluno esta história para que ele conheça palavras novas,

enriquecendo o vocabulário, perceba que palavras diferentes variam

quanto ao número e ordem das letras. Importante também, posto que a

partir dela pode-se conhecer e aplicar corretamente a separação de

sílabas dos RR e SS, assim como o P e B. Outra atividade que pode ser

desenvolvida é relacionar cada letra ao presente dado ao seu alfabeto.

O livro de Amir Piedade apresenta as letras do alfabeto uma a uma

em um texto envolvente que permite e estimula a construir e a reconstruir o

nosso saber fazer. A história trata de como foram feitos muitos

preparativos, todas as deliciosas comidas para a festa, para receber os

elegantes convidados. Nesta História, cada letra levava um presente ao

aniversariante, o Seu Alfabeto.

E tudo ocorria bem, até que chegaram os gêmeos SS e RR e aprontaram

uma grande confusão.

Os irmãos SS e os irmãos RR chegaram quando a festa estava

no auge. Os gêmeos SS levaram um par de sapatos de couro

(artificial, bem entendido) e os irmãos RR, um relógio de ouro. Na hora de entregar o presente, nem os SS nem os RR queriam

dizer que era dos dois. Cada um dizia que o presente era

somente seu. Começaram a discutir. Partiram para o tapa. Foi uma briga danada na frente do Seu Alfabeto. Qualquer briga

é triste; de irmãos, pior ainda. Brigaram de não se largar. Era

puxão de cabelo para cá, soco para lá. A esposa do Seu Alfabeto, irada, mandou chamar Dona

Delegada Separação de Sílabas, que os levou presos,

colocando-os em sílabas celas separadas. Tanto os gêmeos SS quanto os RR não podem ficar na mesma

sílaba cela, senão acabam brigando. (PIEDADE, 2015).

Partindo do texto, o professor pode trabalhar todo o alfabeto e

também, a separação de sílabas. Ademais, conforme solicitam os PCNs,

sempre deve-se trabalhar de maneira interdisciplinar com as matérias, por

49

isso, esse livro pode iniciar esse processo, uma vez que o professor

poderá diferenciar, num primeiro momento, letras e números.

Posteriormente, trabalhar valores, tendo em vista que entre

presentes, materiais palpáveis, que alguns convidados levaram, outros, por

sua vez, levaram presentes muito especiais, que não são possíveis, na

realidade, de se entregar em uma caixa de presentes, como um pacote

cheio de alegria, além disso, outro valor a ser discutido, envolve a briga

entre SS e RR. Somando-se a tudo isso, também não se pode deixar de

explicar a simbologia do dar presente quando alguém está de aniversário.

Trabalhar os valores vai muito além de “uma lição de moral”, tendo em

vista que a leitura é um processo de compreensão do mundo e, através dessa

compreensão/interpretação a criança interage com os outros, pois a leitura,

nesse primeiro momento introduzida pela contação de histórias, mune o aluno

de recursos para representar o mundo e para se expressar.

Imagem 1:Capa do livro O aniversário do Seu Alfabeto, Amir Piedade,

2015.

50

O Aniversário do Seu Alfabeto, de Amir Piedade (2015) trata-se de

uma obra repleta de ilustrações muito coloridas e divertidas. Nela o

ALFABETO é apresentado através de uma narração que conta a história

de cada letra do alfabeto através de um texto muito interessante, pois cada

convidado da festa, ou seja, as letras, passam a ser as personagens.

A história O aniversário do Seu Alfabeto, conta que todas as letras

receberam um convite muito importante: O senhor Alfabeto fará aniversário e

todas estão convidadas. As letras ficaram em polvorosa, cada um tratou de

providenciar um presente especial que lembrasse a sua letra. No grande dia, no

grande salão de bailes do Clube da Alfabetolândia, as letras iam chegando,

umas iam sozinhas, outras em grupo. Todas vestidas com muita elegância e

levando seu presente. Os presentes oferecidos ao aniversariante estão

relacionados às iniciais das letras.

Fonte: https://linguagemeafins.blogspot.com.br/2013/03/o - aniversario - do - seu - alfabeto - estimulos.html , 2016.

51

É possível fazer relação da história com a vida real, posto que na festa

também ocorre um pequeno desentendimento na entrega dos presentes onde

são apresentadas as regras gramaticais SS, RR, desencadeando uma confusão,

resolvida de forma lúdica.

A obra estimula a reflexão e cria situações de aprendizagens prazerosas,

podendo ser trabalhados vários outros assuntos, como ética, pluralidade cultural,

e alguns temas locais que envolvem os próprios alunos.

Em se tratando de Curso Normal, os professores devem ter como meta

que a Literatura Infantil é uma grande aliada no processo de ensino

aprendizagem. O professor deve complementar as suas aulas com a elaboração

de projetos, cirandas culturais, teatros e outras para que suas aulas se tornem

atrativas, instigantes valorizando a criatividade do texto literário com a

associação prática de seus alunos.

Ainda em se tratando de iniciação ao letramento, mais especificamente, à

escrita, o livro permite apresentar, um motivo que talvez, de início, lhes seja mais

convincente e de fácil memorização, do porquê sempre antes de P e B coloca-se

M. Vejamos:

Depois desse lamentável episódio, cantaram parabéns, deram

abraços e beijos, e foi cortado o bolo com velinhas. O M, muito

apressado, correu para cumprimentar Seu Alfabeto, mas

escorregou caindo como rosto em cima do bolo. Foi uma risada geral. Somente o P e o B não riram e correram

para limpar-lhe o rosto. O M, envergonhado, rompeu laços com as outras letras e disse que, a partir daquela festa, só andaria na frente do P e do B para protegê-los, porque eles eram amigos verdadeiros. (PIEDADE, 2015).

3.2.1 Proposta de dinâmica com a obra O Aniversário do Seu Alfabeto

Uma sugestão prática para se trabalhar o Livro O Aniversário do

Seu Alfabeto é que o professor combine com seus alunos para que cada

um traga algo relacionando a cada letra do alfabeto. O professor levará um

bolo e poderá confeccionar um Boneco colando neles letras do Alfabeto.

Este será o personagem para realização de uma festa surpresa com seus

alunos.

52

Para dar início à festa, o professor organizará sua sala de aula como

se fosse para uma festinha de aniversário. Os alunos serão convidados a

participar da brincadeira, o Boneco Aniversariante, poderá ser utilizado

como um fantoche e irá contando a história e os alunos de acordo com as

letras do alfabeto entrarão na festa, para a grande confraternização. Em

seguida o professor cortará o bolo e distribuirá aos alunos para juntos

confraternizarem. O final da aula poderá ser utilizado como um seminário

onde os alunos relatarão o que acharam da atividade.

Como lembrança do aniversário a professora poderá distribuir um

livro, onde cada página possui uma letra onde os alunos deverão colar

figuras relacionadas à mesma e escrever palavras avulsas utilizando a

mesma letra.

Imagem 2: Prática 1: O Aniversário do Sr. Alfabeto – Parte I

53

Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2016.

Imagem 3: Prática 1: O Aniversário do Sr. Alfabeto – Parte II

Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2016.

54

3.3 Análise da obra Menina bonita do laço de fita

Imagem 4:Capa do livro Menina Bonita do laço de Fita, Ana Maria

Machado, 1986.

Fonte: www.livrariacultura.com.br/p/menina-bonita-do-laco-de-

fita15016154, 2016.

Outra obra interessante trabalhada é a Menina bonita do laço de fita,

de Ana Maria Machado, publicada em 1986. Essa história constrói os

discursos relacionados à consciência negra, ao conceito de beleza e ao

respeito às diferenças.

55

O livro fala sobre uma menina negra. A sua mãe fazia trancinhas em

seus cabelos, amarrando-as com fitas coloridas. Na história, ela não é

apresentada como discriminada, como muitas pessoas negras na vida real.

A menina tinha um coelho amigo que a admirava muito, e perguntava

sempre como ela fazia para ser preta. E a menina inventava: cair na tinta

preta, tomar muito café, comer muita jabuticaba... e a menina já não sabia

mais o que inventar. O coelho tentava ficar da cor da menina e não

conseguia.

A mãe ouvindo, explicou que era arte de uma avó preta. A menina

entendeu e aconselhou o coelhinho a ter filhos com uma coelha preta que

ele amasse, pois assim teria filhos de raças diferentes, tantos brancos

como pretos. Mas só teve uma coelhinha pretinha, pois os outros eram

malhados, preto listrado com branco, branco listrado com preto.

Cada vez que a coelhinha saia de laço colorido no pescoço, todo

mundo perguntava: coelha bonita do laço de fita qual é o teu segredo para

ser tão pretinha? E ela respondia: São os conselhos de minha madrinha.

O livro é muito interessante de ser trabalhado, posto que cabe aos

educadores/professores transformar conceitos e mentalidades enraizados.

E acreditamos que através da literatura infantil podemos construir um jogo

mágico de fantasias e de realidade com o objetivo de contribuir no

processo da formação humana, na construção da identidade, da diferença

e do pensamento da criança na sociedade a qual está inserida. A

identidade é produzida em momentos particulares, no nosso dia a dia e

uma identidade é sempre produzida em relação as outras.

No livro Menina bonita do laço de fita há uma forte relação familiar

da menina com a sua mãe e com sua avó, demonstrando uma identidade

forte e marcante para elas, tornando-as mulheres com uma autoestima

elevada, em que a diferença de cor não é manifestada nem pela mãe nem

pela menina e ambas demonstram felicidade e muita alegria em fazer parte

desta família, no momento em que a mãe, com gestos de ternura e afeto,

resolve lhe contar a sua história familiar.

A menina não sabia e já ia inventando Outra coisa, uma história de feijoada,

56

Quando a mãe dela, que era uma Mulata linda e risonha, resolveu se Meter e disse: - Artes de uma avó preta que ela

tinha... Aí o coelho – que era

bobinho, mas Nem tanto – viu que a mãe da menina

Devia estar dizendo a verdade, Porque a gente se parece sempre é Com os pais, os tios, os avós e até com

Os parentes tortos. (MACHADO, 1986, p.

14-15).

Na obra Menina bonita do laço de fita, Ana Maria Machado aborda

de uma maneira sutil a diversidade étnico-cultural brasileira, contribuindo

para as crianças adquirirem valores de respeito próprio e para com o

próximo, elevando a autoestima das crianças negras, propondo uma

desconstrução e uma descentralização do sujeito branco. Objetiva-se

também questionar o padrão vigente, cujo modelo privilegia apenas o

branco, como alguém que tem o poder e deve ser copiado.

Ao se fazer uma análise do livro infantil Menina bonita do laço de

fita, percebe-se que trata do rompimento de padrões de beleza contidas

nas histórias infantis clássicas, como a história da Branca de Neve, onde a

personagem é valorizada pela beleza da sua pele branca. Desde o

descobrimento do Brasil, o nosso país vive uma triste realidade cheia de

preconceitos e discriminação, entendendo essas atitudes como criações

sociais e culturais. As nossas escolas tentam buscar a igualdade e o

respeito às mais diversas pluralidades étnicas, abordando temáticas como

o tema cultura afro-brasileira, valorizando a sua diversidade, como tema

transversal, tema obrigatório no ensino de história afrobrasileira através da

história, literatura e artes, conforme a Lei 10.639/2003 e a Lei 11.645/2008.

O costume de transmitir histórias, acontecimentos, mitos, contos,

poesias, versos e biografias usando a sua língua como forma de

expressão, que existente até hoje em muitos grupos formados por

descendentes destes povos, muitos conhecimentos são transmitidos de

geração em geração fazendo com isso que seus usos e costumes, enfim,

sua cultura, não seja esquecida pelas crianças e jovens.

57

No Livro Menina bonita do laço de fita se faz evidência este

momento, a mãe pega a menina no colo e resolve contar-lhe a história de

sua família.

Este gesto da mãe deixa de maneira clara que as palavras da

mesma são para a menina uma história verdadeira de pura sinceridade,

deixando de lado qualquer mal-entendido que por ventura a menina tivesse

em seus pensamentos infantis e inocentes. Estas palavras da mãe também

enfatizam o papel marcante da mulher na constituição familiar na cultura

africana.

A literatura infantil contribui muito para o processo de formação

cognitiva da criança, fantasiando de forma lúdica a sua realidade,

buscando conhecimento para si própria, dos demais e do mundo que a

cerca através de questionamentos referentes às histórias ouvidas e

contadas. Nessas trocas de ideias as crianças vão adquirindo consciência

do mundo em que vivem, descobrindo novos fatos e acompanhando a

evolução da história do seu povo.

Ana Maria Machado, neste livro, também valoriza a relação de

amizade entre os personagens da história a menina e o coelhinho, a

autoestima e inocência da menina negra que dá várias sugestões para o

coelho tentar ficar pretinho como ela, contribuindo com isso para a

igualdade de beleza de uma forma carinhosa e amorosa entre os seus

diálogos, sem nenhum tipo de constrangimento ou pensamentos negativos

entre ambos os personagens.

Por meio do diálogo que o coelhinho teve com a mãe da menina, ele

notou que a diferença de cor, de raças é que somos parecidos com os

nossos antepassados, nossos familiares, “viu que a mãe da menina devia

estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre com os

pais, os tios, os avós [...]”. (MACHADO, 2000, p. 16)

E quando a coelhinha saía, de laço Colorido no pescoço, sempre Encontrava alguém que perguntava: - Coelha bonita do laço de fita, qual é Teu segredo pra ser tão pretinha?

58

E ela respondia: -Conselhos da mãe da minha

Madrinha... (MACHADO,2000,

p.23).

Diz Hall (2000, p. 112) que, “a identidade da pessoa é formada na

interação entre o eu e a sociedade. As identidades são construídas por

meio da diferença e não fora dela, considerando, pois, as identidades

como pontos de apego temporário às posições-de-sujeito que as práticas

discursivas constroem para nós”.

Na obra Menina bonita do laço de fita mostra que o coelhinho

ficava admirando e mantinha uma amizade com a menina e contemplava a

sua beleza que era muito diferente da sua.

O coelho achava a menina a pessoa mais linda que ele tinha

Visto em toda a sua vida. E pensava: - Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda

Que nem ela... (Machado, 2000, pg. 07)

A partir do estudo realizado na obra Menina bonita do laço de fita, foi

possível destacar a identidade e a diferença existente no texto, onde o

mesmo apresenta uma riqueza de detalhes como a diversidade étnico-

cultural brasileira, valores de respeito próprio e para com os outros,

amizade, simplicidade, atitudes bondade e outros. Nessa história é

possível se trabalhar vários assuntos, pois, a mesma possibilita uma vasta

abrangência de detalhes que poderão ser pontuados de acordo com o

trabalho desejado e as circunstâncias do mesmo.

3.3.1 Proposta de dinâmica com a obra Menina Bonita do Laço de Fita

Menina bonita do laço de fita é uma história prazerosa para tratar de

questões étnicas com crianças, pois trata da beleza negra com muita

delicadeza e simplicidade, com linguagem suave, que, com certeza, vai

encantar as crianças e possibilitar reflexões sobre as questões raciais,

afetivas, familiares e as diferenças de cor.

59

Alguns recursos materiais que deverão ser utilizados são: o livro

Menina Bonita do laço de fita, uma boneca grande da menina, papel metro,

cola, pincel, jornais, revistas, encartes, tesoura.

A professora organiza uma roda de conversa para iniciar a ler o

livro; fala sobre a autora da história. Durante a leitura pode ocultar as

gravuras e instigar a curiosidade nas crianças. Quem vai contando a

história é a Menina “boneca”, confeccionada previamente, em tamanho

grande, quase do tamanho das crianças. Depois mostrar a capa do livro

para as crianças, fazendo questionamento sobre a ilustração. A cor da pele

da menina, o cabelo...

Falar sobre as características que herdamos de nossos pais, das

particularidades de cada um, cor, estatura, cabelos, lábios... Saber,

portanto, das diferenças que muitas vezes são herdadas dos nossos

familiares. Esclarecer para as crianças que todos têm em sua origem, uma

história.

A “boneca” da menina bonita deverá ficar durante toda a aula com

eles, e deverá estimulá-los a notar as diferenças cada um possui em

relação ao outro, sendo cada diferença um marco de beleza individual.

Como encerramento da contação de histórias, pode-se construir um

painel com fotos que apareçam pessoas de várias cores, com o título:

VIVA AS DIFERENÇAS!

Imagem 5: Prática 2 – Menina Bonita do laço de fita– Parte I.

60

Fonte: acervo pessoal da autora, 2016.

Imagem 6: Prática 2 – Menina Bonita do laço de fita – Parte II.

61

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2016.

3.4 Análise da obra O sanduíche da Maricota

62

Imagem 7: Capa do Livro O sanduíche da Maricota (2000), Avelino

Guedes.

Fonte: Imagem da internet, 2016.

Outro livro que citamos como importante de ser trabalhado com as

crianças é O Sanduíche da Maricota, publicado em 2000, por Avelino

Guedes.

A galinha Maricota preparou um sanduíche: pão, milho, quirera e

ovo. Mas quando ia comer, a campainha tocou. Muitos animais, aos

63

poucos começaram a aparecer e palpitar nos ingredientes que Maricota

deveria colocar em seu sanduíche.

Maricota ficou brava, mandou todo embora, jogou fora o sanduíche

e começou novamente; pão, milho, quirera e ovo. Como era pra ter sido.

A brincadeira acabou quando a raposa Celinha olhou bem para a Maricota e falou: “Falta galinha”. Maricota ficou brava: “Fora daqui, minha gente!”. – Jogou fora o

sanduíche e começou novamente: pão, milho, quirera e ovo.

Como era para ter sido. Quem quiser que faça o seu com o

recheio preferido. (GUEDES, 2000).

Com o livro “O sanduíche da Maricota”, o faz de conta surge

naturalmente, por isso, ao ser trabalhado com crianças, elas poderão

mergulhar num maravilhoso mundo da imaginação, descobrindo

personagens e situações que fazem parte ou se parecem com as suas

vivências. Ao contar essa história também é preciso ter claro que a leitura

é praticada para desenvolver inúmeras possibilidades: passar uma

mensagem, um valor, outrossim, para criar o prazer de ouvir, além de

trabalhar a fantasia, também a concentração e ampliar o vocabulário, e

tudo isso estimulará o gosto pela leitura.

Sobre este livro, Debora Frigotto Henrique desenvolveu sua

monografia de conclusão final de curso, intitulado Jogo de Narrar “O

Sanduíche da Maricota”: prática de oralidade na Educação Infantil. A

autora trata das produções linguísticas orais de crianças, partindo da

interação com livros de literatura infantil, nesse caso, especificamente, O

sanduíche da Maricota, buscando identificar quais são elas e compreender

como se constituem como práticas de letramento na relação com

professora e colegas. O Trabalho de Conclusão de Curso utilizou alguns

conceitos acerca da aquisição da linguagem para

Realizar uma análise contextual e cultural das produções

linguísticas, desligando-se, assim, da classificação das crianças

em etapas ou níveis de desenvolvimento da linguagem oral e

utilizando os estudos do letramento para buscar compreender

como essas produções ocorrem a partir de momentos

proporcionados por contações de história (HENRIQUE, 2010, p.

14).

64

No trabalho, Henrique (2010), descreve como aconteceu a interação

e de que maneira o livro pode contribuir para a ampliação do conhecimento

e, consequentemente, no letramento das crianças.

Este livro permite ao professor, além de estimular a escuta, a leitura,

compreensão do texto, interpretação, trabalhar com alimentação, focando

alimentação saudável, caso a escola contar com nutricionista, o resultado

do trabalho será muito bom, e com a matemática.

Sabedores que somos da importância de colocar à disposição dos

alunos textos variados que possibilitem o acesso a diferentes linguagens,

Sawulsk (2002) diz:

Faz-se necessário que o professor introduza a literatura infantil

na sua prática pedagógica de cunho formativo, que contribui

para o crescimento e a identificação pessoal da criança,

propiciando ao aluno a percepção de diferentes resoluções de

problemas, despertando a criatividade, a autonomia e a

criticidade, que são elementos necessários na formação da

criança em nossa sociedade atual.

O livro ora explorado possibilita trabalhar com a alimentação,

fazendo com os discentes diferentes sanduíches, apresentando-lhes

componentes saudáveis. Nesse momento, a matemática também pode ser

trabalhada, apresentando-lhes os números ordinais, já que para se compor

um sanduíche há uma ordem em que os componentes devem ser

colocados.

3.4.1 Proposta de dinâmica com a obra O Sanduíche da Maricota

Como sugestão de atividade para a contação dessa história: Levar

as crianças para um espaço apropriado e realizar um momento de

contação de histórias, pois a mesma é uma excelente aliada para poder

trabalhar a questão da alfabetização com a exploração de letras e sílabas

iniciais, além de sugerir os mais variados tipos de possibilidades de se

montar um sanduíche.

65

Nesta questão podemos trabalhar a alimentação saudável e

aquisição de hábitos saudáveis, para podermos ter uma saúde de

qualidade, possibilidade de compartilhar com as crianças o que elas

apreciam em seus sanduíches e com isso realizar trocas de receitas

escritas entre as crianças para que as mesmas possam vivenciar as mais

diversas formas de montagem de um sanduíche, variando desde os tipos

de pães até os ingredientes que compõem os mesmos.

A(o) professor(a) pode confeccionar um cartaz com os ingredientes

da história, e realizar um lanche diferente com seus alunos levando-os ao

refeitório e junto com as crianças montar um sanduíche especial,

lembrando os ingredientes do sanduíche da Maricota, e ponderando que

eles poderiam fazer parte do lanche ora montado. A(o)docente deve

incentivar novas ideias de montagem de sanduíches e juntos discutir os

alimentos que mais gostam, suas propriedades nutritivas.

Depois dessas atividades o professor pode realizar várias atividades

escritas em sala de aula utilizando a escrita da história para ampliação da

escrita com exploração das palavras utilizadas no texto.

Podemos também levar revistas e livros velhos para recorte onde as

crianças poderão utilizar gravuras para montar seus sanduíches. Outra

sugestão é a utilização de massa de modelar para que as crianças montem

em pratos descartáveis seus sanduíches. Com alunos já alfabetizados

podemos construir um pequeno livrinho de receitas de Sanduíches para

presentear suas mães.

Imagem 8: Prática 3 – O sanduíche da Maricota – Parte I.

66

Fonte: acervo da autora, 2016.

67

CONCLUSÃO

O trabalho que vai se findando teve como foco a importância da

leitura infantil na formação, tanto do pequeno leitor, quanto do aluno de

nível médio que será professor no ensino básico, propondo sugestões de

práticas de leituras através da contação de histórias, deixando ideias de

propostas que possam ser utilizadas em escolas de Educação Infantil,

séries iniciais e pelos alunos do Curso Normal em Nível Médio.

É mister a necessidade de se repensar a prática de leitura na

escola, enfatizando a necessidade da leitura como processo lúdico e

prazeroso. Assim, este trabalho buscou através da pesquisa, e por já

constatar a problemática encontrada na formação de leitores neste nível de

ensino, possibilitar buscas de alternativas possíveis para aplicação e

resolução das deficiências encontradas. Uma das alternativas aqui

apresentadas foi a Contação de Histórias.

Buscou-se este recurso de aprendizado para mostrar a importância

de o professor procurar alternativas metodológicas para despertar no

aluno, desde muito cedo, o prazer pela leitura e a prática com os textos.

Partindo desta ideia, fez-se sugestões de práticas de leitura para que os

futuros professores realizem nas escolas momentos prazerosos de trocas

de conhecimento a partir das obras lidas, proporcionando o saber com

prazer para o enriquecimento intelectual dos alunos. Além disso,

apontamos sugestões de obras infantis que levem a despertar o gosto e

interesse pela leitura.

Ao se montar ideias para práticas de contação de histórias,

percebeu-se que, para realizar a leitura da história, é preciso que vários

fatores sejam considerados e ensaiados, a contação precisa ser

preparada/pensada, desde a história escolhida, a maneira como se quer

contar, o tom de voz e os materiais que serão utilizados para,

posteriormente, analisar e preparar o espaço em que acontecerá.

Ao trabalhar contação de história, estimula-se aos alunos do Curso

Normal (magistério), a entenderem que ao pensarem na história que

68

contarão aos seus alunos, estarão influenciando o desenvolvimento

cultural e a personalidade da criança, além de estarem promovendo o

gosto pela leitura, já que a Contação proporciona à criança a “viajar na

imaginação” tornando-a mais sensível e criativa, o raciocínio lógico,

colaborando para a construção da ética e da cidadania nas crianças.

Por meio da contação de histórias, os alunos se identificam com os

personagens, constroem valores morais e éticos, de autoconhecimento e

reflexão, fator essencial há ser desenvolvido por todo professor de séries

iniciais, tendo em vista que na sociedade atual há pouco incentivo ao uso

da criatividade, quer dizer, pouco se cria, tudo já está pronto. A tecnologia

faz com que informações, dados, etc. circulem em grande velocidade,

videogames, tabletes, computadores, celulares, fazem parte do cotidiano

das crianças deixando tudo ao alcance de um toque, sem esforço ou

necessidade de pesquisa e criatividade. E é esse o grande desafio da

escola hoje, suprir a falta de estimulo à criatividade.

Nesse contexto, torna-se, a contação de história, de extrema

relevância para o processo de ensino e aprendizagem, uma vez que, ao

ouvir a história, a criança a interpreta e assimila com seu cotidiano. Ainda,

a contação de histórias permite a contextualização do conteúdo escolar de

uma forma prazerosa e dinâmica.

Ouvir/contar histórias é dispor ao aluno o acesso à leitura que talvez

ele não tenha em outro lugar que não a escola, talvez não por falta de

condições financeiras. Aluno que lê desenvolve um vocabulário mais rico, é

mais curioso e criativo, ademais, articula melhor suas ideias.

Partindo desses pressupostos, percebe-se o quão necessário se faz

o ato de escutar histórias, já que contribui para que a criança seja um bom

leitor e ouvinte, proporcionando um caminho repleto de descobertas e de

compreensão do mundo.

Portanto, a prática de contação de histórias é uma estratégia de

ensino interdisciplinar que proporciona a interação do aluno com diversas

culturas, tempos e espaços.

[...] é através de uma história que se podem descobrir outros

lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra

69

ética, outra ótica. É ficar sabendo de História, Geografia,

Filosofia, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e

muito menos achar que tem cara de aula. (ABRAMOVICH,

1995, p.17)

O contato com a literatura auxilia a formação integral da pessoa, já

que sensibiliza para a formação de caráter, raciocínio, criatividade, senso

crítico, e respeito. Auxilia aos educadores, em alguns casos, em mudanças

comportamentais, pois ajuda as crianças a compreenderem as mensagens

das fábulas, contos e algumas histórias.

Uma das funções da escola é desenvolver na criança o hábito da

leitura. Estimular o gostar de ler se faz através de dois fatores: a

curiosidade e o exemplo. Na idade da pré-escola é de grande importância

trabalhar com a criança a formação de sua identidade, hábitos, atitudes e

valores, como também ajudá-la a encontrar respostas em relação a ela

mesma, ao mundo e à realidade.

As crianças têm uma maneira própria de ver o mundo, misturando

fantasia e realidade, por isso na Educação Infantil, as narrativas têm

fundamental relevância pelo seu caráter lúdico e sua capacidade de

provocar momentos de interesse e concentração nos pequenos ouvintes.

Sobre a magia da leitura, Eugenio Cunha (2013, p.41) diz:

“Enquanto o leitor explora o mundo da linguagem pela descoberta das

palavras, o não leitor o explora pela descoberta das imagens”. Ao ouvirem

histórias, os alunos interagem ativamente, querem perguntar, criticar,

elogiar, ampliando sua capacidade de comunicação e se posicionando

diante das situações. Além disso, como lembra Coelho, “a história aquieta,

serena, prende a atenção, informa e socializa” (2010, p. 29).

[...] utilizar-se da literatura como veículo de informação e lazer

promove a formação de um indivíduo mais capaz de

argumentar, de interagir com o mundo que o rodeia e torna-se

agente de modificações na sociedade em que vive (GREGÒRIN,

2009, p. 51).

O presente trabalho não tem a pretensão de tratar de verdade

absolutas, mas, sim, de ser mais um a instigar buscas que ampliem o

70

conhecimento sobre o mundo da contação de histórias e da sua importância

para o desenvolvimento da criança.

71

REFERÊNCIAS

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