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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS
MISSÕES – CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
MESTRADO EM LETRAS
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA COMPARADA
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O INCENTIVO À
LEITURA
Mestranda: Jaqueline Pinson Sichelero
Orientadora: Profa. Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian
Frederico Westphalen, janeiro 2017
0
Jaqueline Pinson Sichelero
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O
INCENTIVO À LEITURA
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado em Letras, área de concentração em Literatura Comparada, sob a orientação da Profa. Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Letras.
Frederico Westphalen, janeiro 2017.
1
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente a Deus, por ter me dado a capacidade de
aprender a superar barreiras e obstáculos na minha jornada.
A minha família que sempre me apoiou.
A todo corpo docente do Curso de Mestrado em Letras, que
compartilharam seus saberes, conhecimentos e vivências na área da
educação para que esta seja cada vez mais valorizada pelo conhecimento.
O meu agradecimento especial às colegas Simone, Vanderleia,
Alcione e Aliete, que me apoiaram em momentos difíceis.
A minha orientadora, Dra. Ilse M. Vivian, que me orientou para que
este trabalho tivesse uma contribuição social na área da educação.
2
(...) somente iremos formar crianças que gostem de ler e tenham uma relação prazerosa com a literatura se propiciarmos a elas, desde muito cedo, um contato frequente e agradável com o objeto livro e com o ato de ouvir e contar histórias (...) isso equivale a dizer que tornar um livro parte integrante do dia a dia de nossas crianças é o primeiro passo para iniciarmos o processo de formação de leitores. (KAERCHER, 2001)
3
RESUMO
Este trabalho busca discutir a importância da leitura infantil na formação, tanto do pequeno leitor, quanto do aluno de nível médio, que será professor no ensino básico, propondo sugestões de práticas de leituras, especificamente por meio da contação de histórias, que possam ser utilizadas em escolas de Educação Infantil, séries iniciais e pelos alunos do Curso Normal em Nível Médio. Tem-se a pretensão de, ao repensar a prática de leitura na escola, demonstrar a necessidade da leitura como processo lúdico e prazeroso, cujas ações refletem diretamente na formação pessoal e coletiva dos sujeitos. Além disso, busca-se aprofundar os saberes e reconstruir outros a partir das reflexões realizadas pela pesquisa. Este trabalho apresenta reflexões acerca de três obras de Literatura Infantil, demonstrando práticas realizadas com os livros: O Aniversário do Seu Alfabeto, de Amir Piedade, versão de 2015; Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado, de 1986; e O Sanduíche da Maricota, de Almerindo Guedes, de 2000. O percurso metodológico do texto é um estudo bibliográfico e a apresenta propostas de contação de histórias. Assim, o trabalho ora apresentado é de natureza qualitativa e propositiva, não tendo a intenção de mostrar como se deve fazer, mas, sim, contribuir com ideias para que a leitura seja um processo de constituição de sentidos. A necessidade de se repensar a prática de leitura na escola, enfatizando a necessidade da leitura como processo lúdico e prazeroso, é urgente e necessária. Assim, este trabalho buscou, através da pesquisa, e por já constatar a problemática encontrada na formação de leitores neste nível de ensino, apresentar alternativas possíveis para aplicação e resolução das deficiências encontradas. Uma das alternativas aqui oferecidas foi a Contação de Histórias.
Palavras-chaves: Leitura; Contação de História; Práticas de leitura.
4
RESUMEN
En este trabajo se analiza la importancia de la lectura de los niños en la formación tanto del lector pequeño, como del alumno de nivel promedio, ya que el estudiante va a ser un maestro en la enseñanza primaria, proponiendo sugerencias de prácticas lectoras, específicamente a través de la narración, que puede ser utilizado en escuelas de Educación Infantil, primeros grados y los estudiantes del curso normal en el Nivel Medio. Ha sido la intención, a se repensar la práctica de la lectura en la escuela, demostrar la necesidad de la lectura como proceso divertido y agradable, cuyas acciones reflejan directamente en la formación personal y sujetos colectivos. Por otra parte, profunda conocimiento y reconstruye otros a partir de la reflexión propuesta por la investigación. Este trabajo presenta reflexiones sobre tres obras de la literatura infantil, lo que demuestra las prácticas llevadas a cabo con los libros, los cuales son: O Aniversário do Seu Alfabeto, Amir Piedade, versión de 2015;; Menina bonita do laço de fita, Ana Maria Machado, 1986; y O sanduiche de Maricota, de Almerindo Guedes, 2000. El texto es de orientación metodológica, es un estudio bibliográfico y la construcción de propuestas de narración. Por lo tanto, el trabajo que aquí se presenta es la naturaleza cualitativa y propositiva, no habiendo la intención de mostrar cómo hacerlo, pero, en lugar, ser aporte de ideas para que la lectura sea un proceso de constitución del significado. Es obvia la necesidad de replantear la práctica de la lectura en la escuela, haciendo hincapié en la necesidad de la lectura como proceso divertido y agradable. Este trabajo buscó a través de la investigación, y ya ver los problemas encontrados en la formación de lectores en este nivel de educación, permite buscar posibles alternativas para la aplicación y resolución de las deficiencias detectadas. Una de las alternativas que se presentan aquí fue la narración.
Palabras-clave: Lectura; Narración; Prácticas de lectura.
5
LISTA DE IMAGENS
Imagem 1:Capa do livro O aniversário do Seu Alfabeto, Amir Piedade (2015). 46
Imagem 2: Prática 1: O Aniversário do Sr. Alfabeto – Parte I 48
Imagem 3: Prática 1: O Aniversário do Sr. Alfabeto – Parte II 49
Imagem 4:Capa do livro Menina Bonita do laço de Fita, Ana Maria Machado
(1986) 50
Imagem 5: Prática 2 – Menina Bonita do laço de fita – Parte I 55
Imagem 6: Prática 2 – Menina Bonita do laço de fita – Parte II 56
Imagem 7: Capa do Livro O sanduíche da Maricota (2000), Avelino Guedes 57
Imagem 8: Prática 3 – O sanduíche da Maricota – Parte I 61
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7
1 LEITURA, O QUE É? ................................................................................... 11
1.1 Leitura na escola ...................................................................................... 16
1.2 A leitura na infância ................................................................................. 21
A HISTÓRIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS ........................................... 25
2.1. A importância de contar histórias ......................................................... 26
2.2 A história da literatura infantil e a contação de histórias na escola .... 28
2.3 Por que formarmos contadores de histórias? ....................................... 36
3 PROPOSTAS DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: PRÁTICASDE LEITURA 41
3.1 Estratégias para a contação de histórias ............................................... 41
3.2 Análise da obra O Aniversário do Seu Alfabeto .................................... 44
3.2.1 Proposta de dinâmica com a obra O Aniversário do Seu Alfabeto .......... 47
3.3 Análise da obra Menina bonita do laço de fita ....................................... 50
3.3.1 Proposta de dinâmica com a obra Menina Bonita do Laço de Fita ......... 54
3.4 Análise da obra O sanduíche da Maricota ............................................. 56
3.4.1 Proposta de dinâmica com a obra O Sanduíche da Maricota ................. 59
CONCLUSÃO .................................................................................................. 61
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 64
7
INTRODUÇÃO
Este trabalho focaliza a importância da leitura infantil na formação
tanto do pequeno leitor quanto do aluno de nível médio que será professor
no ensino básico, propondo sugestões de práticas de leituras,
especificamente por meio da contação de histórias, que possam ser
utilizadas em escolas de Educação Infantil, séries iniciais e pelos alunos do
Curso Normal em Nível Médio. O objetivo deste estudo é, ao repensar a
prática leitura na escola, enfatizar a necessidade da leitura como processo
lúdico e prazeroso, cujas ações refletem diretamente na formação pessoal
e coletiva dos sujeitos, contribuindo para que sejam pessoas capazes de
conhecer a si próprios, interpretar o mundo com criticidade viver com mais
qualidade. Além disso, objetiva-se aprofundar os saberes e reconstruir
outros a partir das reflexões realizadas pela pesquisa. O desenvolvimento
da leitura leva os indivíduos à compreensão da linguagem, o que permite
compreender o do mundo, expressar-se com mais clareza, tornando-se
uma possibilidade de melhoria de qualidade de vida pessoal e social.
Percebendo a necessidade de aprimorar constantemente os estudos
relacionados à formação do docente do ensino fundamental voltado às
Séries iniciais, este trabalho busca através da pesquisa, e por já constatar
a problemática encontrada na formação de leitores neste nível de ensino,
possibilitar buscas de alternativas possíveis para aplicação e resolução das
deficiências encontradas. Uma das alternativas aqui apresentadas é a
Contação de Histórias. É relevante salientar que a apropriação do que se
lê é um direito de toda a criança, e disso dependem as suas capacidades
para exercer sua plena cidadania. A escola é a instituição social
organizada que tem como uma de suas principais responsabilidades
incentivar a leitura e sua prática.
Para José Carlos Libâneo (2013), “a escola é o local onde se realiza
a produção de saberes, sistematizados ou não, vivenciados ou não, por
professores e alunos. Essa evolução precisa acompanhar a evolução dos
tempos”. A sociedade atual, que se caracteriza pela rapidez na produção
8
de informação, necessita de uma escola atualizada, que esteja engajada
com os novos processos de linguagens e de construção de conhecimento,
que permita a seus educandos selecionar e reelaborar de forma reflexiva e
crítica a informação.
Quando pensamos nas qualidades e potencialidades que os
professores da atualidade devem ter, encontramos uma série de entraves:
a falta de profissionais competentes, a falta de prestígio profissional e
também os poucos exemplos na formação de um professor comprometido
com a sua escola, atualizado, capacitado para poder diagnosticar,
administrar e solucionar problemas de aprendizagem do cotidiano escolar.
Além disso, é compromisso da escola debater as diferenças culturais,
políticas e sociais. Nesse sentido, entendemos como importante, ou mais,
essencial, que a escola trabalhe as questões étnico-raciais e de
identidades, desenvolvendo a tolerância e o respeito. Durante anos da
História do Brasil, grupos sociais como negros e mulheres protestaram e
lutaram contra a discriminação de raça e gênero, sem que se tratasse
desses assuntos nas escolas, sem que houvesse materiais didáticos com
referências diversificadas sobre o passado ou sobre a cultura do negro, por
exemplo. Contudo, aos poucos, essa realidade está mudando.
É relevante que os professores se mantenham atualizados e bem
informados para se sentirem agentes confiantes perante os seus
educandos, pois a sua prática bem elaborada é motivo de inspiração para
futuros profissionais. Para que isto se concretize, o professor deve estar
comprometido com a leitura, não só de livros didáticos, como muito
acontece no Ensino Básico e Médio, mas de múltiplas literaturas e variados
gêneros textuais.
Partindo disso, é muito importante que o professor busque
alternativas metodológicas para despertar no aluno, desde muito cedo, o
prazer pela leitura e a prática com os textos, despertando interesse e
aproveitando as novas tecnologias para deixar suas aulas mais
interessantes.
A leitura e sua prática está presente em nosso cotidiano desde o
momento que abrimos os olhos, que começamos a entender o mundo que
9
nos rodeia, percebendo as diversidades, captando e decifrando a realidade
que nos cerca. Pela interpretação dos fatos ou até quando sonhamos,
colocamo-nos na perspectiva de relacionar a realidade com o mundo
ficcional. A leitura é um instrumento de libertação prazerosa.
Torna-se imprescindível que os professores de séries iniciais saibam
compreender e apropriar-se do poder da leitura. É necessário que realizem
políticas e ações afirmativas que se referem às relações étnicas e raciais
no cotidiano escolar. Tratar desses assuntos, no período de alfabetização,
possibilitará que os estudantes, ainda tão pequenos, tornem-se agentes
das mudanças que a sociedade tanto anseia e precisa, com respeito e
dignidade humana. Para que isso ocorra, no processo de alfabetização,
deve-se valorizar outra estética, não só aquela da pele clara e olhos azuis
ou verdes, mas a beleza presente na pele negra e dos cabelos
encaracolados, pois, acreditamos que assim promover-se-á uma mudança
de paradigma em relação à questão racial.
Tendo em vista o já exposto, este trabalho identifica e reconhece a
importância da leitura, sugerindo práticas de leituras para os alunos do
Curso Normal em nível Médio, especificamente a Contação de Histórias.
Quer-se fazer sugestões de práticas de leitura para que os futuros
professores realizem nas escolas momentos prazerosos de trocas de
conhecimento a partir das obras lidas, proporcionando o saber com prazer
para o enriquecimento intelectual dos alunos. Além disso, apontamos
sugestões de obras infantis que levem a despertar o gosto e interesse pela
leitura.
Contribuir com o desenvolvimento das habilidades de leitura na
escola é algo muito relevante nos dias de hoje, pois os professores devem
estar em sintonia com os desafios do mundo contemporâneo.
Considerando a complexidade da realidade que nos cerca, a leitura se
torna um instrumento de construção de identidades e de construção social,
que pode promover mais igualdade e mais dignidade humana.
Mais um motivo que justifica o presente trabalho é o resultado das
pesquisas sobre leitura no Brasil, que mostram como os brasileiros leem
pouco, distanciando-se tanto dos processos de leitura e de escrita,
10
fundamentais para a formação. Nesse sentido, percebe-se a necessidade
de se propor práticas que fortaleçam a apreciação da leitura pelo público
infantil, e, além disso, incentive futuros professores do Curso Normal em
Nível Médio, na perspectiva de ampliar possibilidades de percepção das
crianças, contribuindo para um melhor desenvolvimento emocional,
cognitivo e social.
A leitura é essencial na formação de uma criança. Pode-se
considerar que o contato direto com os livros e os mais variados meios
para ler sejam o início da formação do sujeito. Assim, a contação de
histórias possibilita a aprendizagem prazerosa para a criança em um
espaço que permite fantasiar e divertir-se com o mundo mágico da leitura,
ademais contribui para o processo de construção do conhecimento e da
criticidade do pequeno leitor.
Para tratar das questões acima apresentadas, esta dissertação
divide-se da seguinte forma: no capítulo 1: Leitura, o que é?, apresentamos
o que entendemos por leitura, e esse é subdividido em Leitura na escola e
Leitura na infância. No capítulo dois, A história da contação de histórias,
resgatamos o histórico da contação de histórias e sua contribuição para o
incentivo à leitura, cuja parte é subdividida em: A prática de leitura e
contação de histórias, Objetivos da contação de histórias na escola e
Importância da literatura infantil na formação da criança leitora. No capítulo
três, então, apresentamos as Práticas de leitura: propostas de contação de
histórias, subdividindo-o em: Importância das práticas de leitura e
Propostas de Contação de histórias.
O percurso metodológico prevê um estudo bibliográfico e a
construção de propostas de contação de histórias. Assim, o trabalho ora
apresentado é de natureza qualitativa e propositiva, não tendo a intenção
de mostrar como se deve fazer, mas, sim, contribuir com ideias para que a
leitura seja um processo de constituição de sentidos.
11
1 LEITURA, O QUE É?
Bakthin (1992) alerta para o fato de que a linguagem é constitutiva,
isto é, “o sujeito constrói o seu pensamento, a partir do pensamento do
outro, portanto, uma linguagem dialógica”. No momento que se estabelece
uma relação entre um indivíduo autor e um indivíduo leitor através do
texto, a leitura passa a ser uma atividade comunicativa, ou seja, como
afirmam Poersch e Amaral, a comunicação torna-se “uma atividade
cognitiva em sua essência e uma atividade social em sua práxis”:
a leitura é uma atividade de interação verbal entre os indivíduos,
ou seja, uma relação interpessoal dotada de ação intencional
onde de certa forma o homem procura influenciar o
comportamento do outro. Através do ponto de vista cognitivo, a
leitura pode ser definida como um processo ativo de
comunicação que leva o leitor a construir, intencionalmente, em
sua própria mente, a partir da percepção de signos gráficos e da
ajuda de dados não-visuais, uma substância de conteúdo
equivalente àqueles que o autor quis expressar, através de uma
mensagem verbal escrita (POERSCH E AMARAL, 1989, p. 78).
Para Farr e Carey (1986, p.8), “ler é mais do que identificar palavras[...] é
compreender ideias e conceitos”. Portanto, a compreensão é um processo
construtivo que depende de um conhecimento prévio, ou seja, as informações de
um texto precisam ser inter-relacionadas com aquilo que o leitor tem de
conhecimento anterior sobre o assunto. O leitor acaba relacionando as ideias do
escritor com as suas próprias ideias, ou seja, um texto só ganha sentido no
momento que, ao ser lido, é compreendido e internalizado pelo leitor, o qual
projeta diferentes realidades.
Para Wolfgang Iser (1996, p.71), “a relação entre o texto e o leitor se
caracteriza pelo fato de estarmos diretamente envolvidos e, ao mesmo tempo,
de sermos transcendidos por aquilo que nos envolvemos”, ou seja a relação
entre texto e leitor é uma relação visivelmente diferente, mas que precisa de
cuidados, pois o saber é um elo que liga professor e aluno em sala de aula, com
questões diferentes, histórias de vida e particularidades que se confrontarão nas
diferenças de modo de pensar, ler e escrever. Queirós comenta sobre suas
impressões sobre a leitura:
12
O mundo é um livro sem texto, criado a partir da palavra.
Dizendo-se faça-se luz, a água, a terra, o caos se curou. Livro
sem texto onde me vejo elaborando orações, apaziguando as
imensas emoções percebidas nesse mar de linhas e horizonte
de eternas leituras. Desde o início em que me lembro, leio
ininterruptamente suas páginas, recorrendo a todos os meus
sentidos, acrescentando ainda a fantasia, na tentativa de me
acalentar frente a tão imenso mistério. E sobre esse remoto livro
sem texto – invenção original primeira – busco atribuir
significado a tudo que ultrapassa meu pouco poder.
Frequentemente, incapaz de decifrar os enigmas, recorro ao
imaginário, resgatando elementos para me proteger diante de
tamanha intensidade. E só a palavra me inscreve (QUEIRÓS,
1999, p. 23).
A noção de leitura, muitas vezes, está associada à leitura de livros,
jornais, revistas, gibis dentre outros. No entanto, o ato da leitura vai muito
além, ou seja, tudo o que nos dá sentido, ou que nos causa determinadas
intenções são situações de leitura, desde a relação com as pessoas que
convivem conosco, os ambientes cotidianos e qualquer imagem que nos
rodeie, que desperte em nós algo através dos sentidos, tudo isso também
é leitura. De acordo com Paulo Freire, “a leitura do mundo precede a leitura
da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”
(FREIRE apud MARTINS, 2007, p.08). Diante disto, as propostas de
desenvolvimento da leitura precisam ser diversificadas e intensas,
desenvolvidas com muita ludicidade para que as crianças se sintam
motivadas a interagir com o educador na descoberta mágica de leitura do
mundo.
A leitura realiza-se a todo instante, quando se cria a capacidade de
interpretar e compreender as representações do mundo, indo além da
forma escrita, para o som, as cores e os cheiros. Quer dizer, por meio da
leitura e da visão de mundo, domina-se a palavra e, a partir de então,
ocorrem trocas de ideias e conhecimentos, sendo possível interpretar o
mundo que nos cerca. Ler significa inteirar-se do mundo, uma maneira de
conquistar autonomia.
O aprendizado da leitura depende de um conjunto de mecanismos
interdisciplinares e de processos cognitivos associados aos sistemas de
inter-relações individualizados, com características próprias, entre as
várias formas de conhecimento que devem ser levadas em consideração.
13
Isso nos leva a crer que ninguém ensina ninguém, as crianças apreendem
através da convivência com o outro, interagindo com as próprias
experiências e a dos seus semelhantes.
Ainda, Paulo Freire afirma que “ninguém educa ninguém, como tampouco
ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão,
mediatizados pelo mundo”. (MARTINS, p.12, 2007)
Cada indivíduo tem o seu próprio jeito de ler e aprimorar este ato, já
que é um ser pensante, com muitas capacidades. O ato da leitura
pressupõe interesse, desejo por aprender, empenho, é preciso que o aluno
queira e tenha vontade de ler. Portanto, todo leitor possui determinadas
técnicas que visam o seu desempenho, tornando difícil, muitas vezes, fazer
a avaliação dos alunos na questão da leitura.
No passado, a leitura não passava de uma sequência de atos
repetitivos, quando a criança que era alfabetizada era considerada um ser
em formação, que deveria receber informações e memorizar,
desconsiderando-se, com isso, todo o conhecimento prévio do aprendiz:
O conceito de leitura do passado (e sabemos que não é tão
passado assim!) tinha como princípio a organização da
subjetividade do leitor em formação. Essa ideia comungava com
uma visão reducionista de um ensino que acreditava no
processo de aprendizagem como uma sequência de repetições.
O estudante era visto como um ser em formação, e sua
bagagem não era muito considerada na construção de seu
conhecimento. Ele não era escutado. Estava ali para apenas
para receber informações e memorizá-las, sem a possibilidade
de um exercício da crítica” (LOIS,2010,p.17).
A leitura na infância pode ser apresentada de forma mágica como
um processo de descobertas de um maravilhoso mundo desconhecido,
porém cheio de surpresas, imaginação, mistérios e aventuras nas quais as
crianças possam mergulhar e descobrir o que aquelas imagens podem
desvendar a cada novo acontecimento.
Para Geraldo (2008, p 107), a leitura é entendida como um processo
de interlocução entre leitor/texto/autor, quer dizer, para que haja
compreensão é necessário que exista conhecimento prévio e, sem isso, é
impossível compreender o texto. Para Marcuschi (2008) a relação
14
leitor/autor/texto dá-se através da intertextualidade, já que todos os textos
têm sentido em outros textos. E a construção de sentidos pressupõe a
vivência com múltiplas formas de linguagem verbal e não verbal, como o
cinema, a música, a pintura e o teatro.
Para corroborar a ideia de que a leitura relaciona leitor/texto/autor,
precisamos ter claro que a leitura não é um fenômeno linear, mas contínuo,
que se dá por meio das mais diversas práticas.
A leitura, portanto, é o primeiro degrau no campo do conhecimento
humano, ou seja, é uma maneira de ganhar autonomia, adquirindo
capacidades de decifrar símbolos e deter o poder de autonomia na relação
entre texto e leitor, pois existe uma grande diferença entre saber ler e não
ter o domínio da mesma.
Com o decorrer de nossas experiências de vida, vamos organizando
os nossos conhecimentos adquiridos através do intercâmbio que
realizamos com as pessoas que convivemos diariamente e com todo o
universo cultural e social das nossas relações. A partir disso, estamos
habilitados à comunicação de tudo o que nos for fornecido, pois, já
estamos aptos a resolver problemas e estabelecer relações, podendo
compreender, conviver e até modificar conforme a maneira pela qual
incorporamos as leituras. Entretanto, ser um bom leitor exige a habilidade
de lidar com os diversificados textos com os quais nos deparamos.
Conforme Geraldo, ler significa ir muito além de entender, mas exige
compreender os implícitos, relacioná-los a outros significados e posicionar-
se:
Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de
um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe
significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos
significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura
que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se
a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não
prevista (GERALDO,2008. p.91).
O ato de saber ler e escrever vai além da simples decodificação, por
tratar-se de uma situação composta de signos que são criados pelo próprio
homem, com o objetivo de registrar o máximo possível todas as relações
15
humanas e os processos de comunicação, podendo ser usado como forma
de poder e de libertação no convívio social.
O ato de ler pode ser visto como uma relação privilegiada com o
mundo, englobando o convívio com a linguagem, que se torna mediadora
entre os homens os tempos presente e passado. “Paulo Freire não cansa
de dizer, toda prática educacional é sempre uma teoria do saber em ação.
Não há como fugir, ao falarmos da escola, da necessidade da reflexão
sobre como concebemos o objeto do processo do saber e o processo do
saber” (GOODMAN,1995, p.35).
O hábito de leitura é uma prática a ser desenvolvida para ampliar o
raciocínio, o senso crítico e a capacidade de interpretação do indivíduo.
Portanto, o prazer pela leitura deve ser despertado na infância, pois ler faz
parte da formação cultural dos indivíduos, portanto, ao ser estimulada
amplia a imaginação, proporcionando a descoberta de diferentes hábitos e
culturas, ampliando o vocabulário e aprofundando os conhecimentos.
Podemos afirmar que ler qualifica o indivíduo para compreender a si
mesmo e o mundo. O leitor manifesta-se em todos os sentidos quando
apresenta domínio da elaboração de um código e exerce-o no seu
cotidiano. Conforme Zilberman, a leitura é a “interação entre o ser humano
e a realidade, e sua existência [do leitor] não pode ser compreendida sem
o ato da leitura, uma vez que ele está no bojo de um tal intercâmbio.”
(ZILBERMAN, 2008, p.31). Nesse sentido, o ato de ler se configura uma
relação com o real, pois engloba o convívio com a linguagem, bem como
exercita a interpretação dos significados ocultos que os textos querem
expressar necessitando a intervenção de um leitor para dar sentido ao que
o escritor tenta propor através da sua imaginação.
Ler com maior rapidez, absorvendo o máximo de conteúdos, pode
ser uma prática adquirida com a leitura dinâmica. São diversas as
maneiras, as funções e intenções que norteiam a leitura. Com as
invenções tecnológicas como, por exemplo, a internet, surgiram novas
formas de promover a comunicação entre os indivíduos, incentivando
novas formas de leitura. O mundo moderno exige novos perfis de leitores,
conforme afirma Filho:
16
Um leitor plural não é somente aquele que consegue ser
eficiente na leitura da linguagem verbal em norma culta, mas
aquele que consegue ler e traduzir as diferentes linguagens
presentes nos diferentes textos vinculados na sociedade: da
norma culta às gírias, das pinturas acadêmicas dos grandes
artistas aos trabalhos de grafite contemporâneos. (FILHO, 2009,
p.56).
Para se conceber o que é leitura, é preciso ampliar a visão de
mundo e a noção do que é cultura. Hoje, não se pode mais ficar preso à
ideia de cultura ligada à produção escrita, pois inúmeras manifestações
humanas, inúmeras partes de onde surgem e, portanto, inúmeras
linguagens são inventadas e reinventadas dependendo de cada época e
sociedade, todas com sua força significativa. A partir disso, acredita-se que
um leitor deve ser plural, um poliglota na própria língua com
competência na leitura e outras manifestações de linguagens.
Ler, para mim, sempre significou abrir todas as comportas pra
entender o mundo através dos olhos dos autores e da vivência
dos personagens... Ler foi sempre maravilha, gostosura,
necessidade primeira e básica, prazer insubstituível. E continua,
lindamente, sendo exatamente isso! (ABRAMOVICH, 1999, p.
14).
A leitura, de acordo com Martins (2007, p. 32), vai além do texto e
começa antes dele. Sendo assim, o leitor deixa de ser um receptor passivo
e passa a ter um papel ativo, porque dar sentido ao texto significa levar em
conta a situação do texto e a situação do leitor, ou seja, compreender o
texto significa dialogar, sentir, agir com ele. A leitura entrelaça o
conhecimento sistematizado e o mundo real, sendo, por conseguinte, o
texto, um instrumento de combate à ignorância e à alienação, tendo em
vista que é por meio dos textos que os homens expõem os problemas
sociais, quer dizer, leitura e poder têm uma relação muito próxima, pois ela
transforma o leitor, e ele o mundo a sua volta.
1.1 Leitura na escola
Com o passar dos tempos, podemos considerar que houve um novo
olhar quanto à aquisição da leitura, pois o aluno começa ser visto como um
17
sujeito em formação, mas com conhecimento prévio de mundo carregado
de hipóteses e cheios de expectativas. Graças aos avanços das pesquisas,
percebeu-se que se dar oportunidades de aprendizagens às crianças e não
forçá-las a atos repetitivos, cansativos e monótonos que deixam as
crianças de certa maneira robotizadas, ao invés de deixá-las livres para
organizarem os seus conhecimentos e aprimorarem as trocas de
conhecimentos com os colegas de classe, era mais produtivo.
Pode-se perceber que a leitura, na maioria das vezes, está limitada
à escola, onde predominam os livros didáticos; que, em muitos casos, é a
única oportunidade de contato com os livros. Daí, da escola, a concepção
que liga a ideia de leitura com livros, em detrimento de tantas outras
opções.
Pesquisas do INEP (2013) mostram que quando se deixa de ser
aluno, se esquece também dos livros. Para Antônio Candido, a leitura é
uma ferramenta civilizatória de inclusão social ou mesmo de humanização,
direito essencial do cidadão. Assim, podemos dizer que um indivíduo
letrado é aquele que está vivo na cultura e não se satisfaz somente com
leitura de livros, ou seja, é ir além do escrito, é saber definir o seu próprio
território, assumindo suas próprias palavras de forma que essas não sejam
somente a reprodução do pensamento do outro. Nessa perspectiva, ler é
ampliar as bagagens de conhecimento, podendo aprofundar a própria
subjetividade, aumentando a sua autonomia e com isso contribuindo nas
atividades da sociedade que faz parte:
Ser letrado é estar vivo ao que a cultura tem a nos oferecer. É
não se contentar só com a leitura dos livros. É poder ver além
do escrito. É demarcar seu território. Assumir a própria palavra é
não deixar que ela seja a reprodução da palavra do outro. Ler o
mundo é o primeiro passo para se querer saber do mundo. Se
respeitarmos que existe um sujeito que aprende e não é passivo
diante dos conteúdos escolares, que já lê antes da
apresentação formal da escrita, estaremos afirmando sua
singularidade e sua responsabilidade diante de seu processo de
conhecimento, conforme nos ensina a teoria construtivista
(LOIS,2010, p.19).
Já que a escola é considerada o centro de formação de leitores, o
professor está no palco desse processo e torna-se responsável por ele, o
18
qual utiliza estratégias, métodos e estímulos. As atividades de leitura
propostas pelo professor podem dialogar com a realidade de seus alunos,
ao se fazer tal afirmação, quer-se dizer que a literatura deve ser
introduzida na vida do aluno sempre tendo em mente que a compreensão
e a interpretação do texto implicam na percepção que cada discente fará
de acordo com as relações que conseguir fazer entre o texto e seu
contexto. Explicando em outras palavras, a leitura é um processo e de
compreensão do mundo, partindo do real para o imaginário. É, sobretudo,
as relações que se estabelecem entre as linguagens. Dessa forma, a
criança desenvolverá a habilidade do olhar para perceber as múltiplas
linguagens nas quais a nossa sociedade está imersa.
A multiplicidade de leituras que um mesmo texto pode ter não
nos parece resultado do próprio texto em si, produzido em
condições específicas, mas sim resultado dos múltiplos sentidos
que se produzem nas diferentes condições de produção de
leituras. Em cada leitura, mudadas as condições de sua
produção, temos novas leituras e novos sentidos por ela
produzidos. Assim, ainda que o interlocutor-leitor seja o mesmo,
mudados os objetivos de sua leitura, estarão alteradas as
condições de produção e, portanto, o processo (GERALDI,
2013, p.108).
Mesmo antes do nosso nascimento já estamos expostos à leitura,
seja através das sensações, seja pelos sons que ouvimos. A partir disso, já
se constata a familiaridade com o ato de ler. Desde muito cedo, lemos
gestos e passamos a interpretar o que está ao redor. Essas ações não se
resumem apenas à decodificação de signos. Lemos imagens, desenhos e
transformamos em linguagem. Vamos dando voz a esses elementos, ou
seja, gradativamente realiza-se uma “alfabetização visual”.
Portanto, leituras são realizadas sempre, pois precisamos dar
sentidos às coisas, às pessoas, ao tempo, ao espaço. Para criar sentidos,
o ser humano lê, interpreta, pois
Ler o mundo é o primeiro passo para se querer saber do mundo.
Se respeitarmos que existe um sujeito que aprende e não é
passivo diante dos conteúdos escolares, que já lê antes da
apresentação formal da escrita, estaremos afirmando sua
singularidade e sua responsabilidade diante de seu processo de
19
conhecimento, conforme nos ensina a teoria construtivista
(LOIS, 2010, p.19).
O cidadão que possui a autonomia da leitura detém, com isso, o
poder de fazer suas escolhas, ampliando sua bagagem cultural, expressa
sua subjetividade, pois ser um indivíduo letrado é sentir-se vivo e imerso
na cultura a qual pertence, uma vez que ler o mundo é primordial para
saber e entender a sua magnitude sociocultural.
Assim, a leitura contribui na formação cultural dos indivíduos,
desenvolve a imaginação, enriquece o vocabulário, possibilita novos
olhares e grandes descobertas. Torna-se cada vez mais importante que
sejam propostos a prática e o hábito da leitura não apenas dos textos
literários e didáticos, mas também de textos e obras que desenvolvam a
imaginação, enriqueçam a linguagem e possibilitem a obtenção de
conhecimentos, assim como desenvolvimento de uma leitura efetiva e
crítica.
De acordo com Cagnetti (1986, p. 23), a leitura é um processo de
contínuo aprendizado, assim, desde cedo, forma-se um leitor que tenha
total envolvimento com o que lê, de modo que quanto mais ler mais
adquire profundidade e intimidade com o texto. Dessa maneira, o leitor
pode fazer perguntas e dar respostas, estabelecendo um diálogo com o
texto, seja ele um conto, uma fábula ou outro de um gênero qualquer.
Nesse viés, a leitura produz contínuo aprendizado, desenvolve a reflexão e
o pensamento crítico.
O ato de leitura deve ser estimulado para deixar de ser algo
mecânico, descontextualizado, que deve ter um resultado específico e
prático. A leitura deve ser estimulada e apresentada de maneira atraente,
tentando fazer nascer, na criança, a vontade de ler, só assim poderá
contribuir na formação do aluno, tornando-o um cidadão crítico, capaz de
interpretar a sua realidade e poder assim interagir ativamente. Enfim, a
criança, para desenvolver-se, precisa experimentar livremente o ato da
leitura, pois no momento em que ela lê e alguém a estimula a pensar sobre
o que leu começa a construir significados. Conforme Souza,
20
O papel do professor é que ele desperte no seu aluno o prazer
pela leitura, pois o aluno que aprende a gostar de ler pelo
exemplo vivenciado ao seu redor pela família, pela escola,
acaba descobrindo que a leitura de um texto possibilita várias
formas de interpretação de seu imaginário. Além disso, deve
proporcionar várias atividades inovadoras, procurando conhecer
os gostos de seus alunos e a partir daí escolher um livro ou uma
história que vá ao encontro das necessidades da criança,
adaptando o seu vocabulário, despertando esse educando para
o gosto, deixando-o se expressar (SOUZA, 2004, p.223).
No momento que a criança adquire o hábito da leitura, ela mesma
acaba fazendo suas próprias escolhas, começa a ganhar a independência
individual e passa fazer as leituras de acordo com suas curiosidades e
interesses. A escola propõe diversos modos e tipos de leitura, seja ela
técnica ou não. A leitura e seus variados modelos se enquadram em
modelo pré-estabelecido. O autor Matos (2002) classifica a leitura em:
a) Noticiários, jornais, revistas de divulgação - Informação.
b) Revista em quadrinhos, romances – Passatempo.
c) Literária – Gosto estético e sabor do belo.
d) Bíblica – Comunicação íntima entre o texto e o leitor.
e) Acadêmica – Linguagem científica que se caracteriza pela clareza,
precisão e objetividade. Informativa e técnica.
f) Científica – Pré-leitura, leitura rápida, leitura analítica, leitura crítica
e profunda.
Ao deixar disponível ao aluno inúmeras possibilidades de leituras, a
escola dá ao aluno autonomia para se formar leitor, para formar seus
gostos e interesses:
Tornar-se leitor significa ter acesso aos escritos sociais sabendo
encontrá-los onde eles estão. O leitor não é aquele que lê o livro
que lhe é proposto, mas aquele que cria seus próprios meios de
escolher os livros que irá ler, [...] é aquele que conhece os meios
para encontrar e diversificar os textos ligados ao seu interesse.
(FOUCAMBERT, 1994, p.135).
Entretanto, apenas disponibilizar não parece ter sido suficiente.
Considerando que a leitura é um ato complexo que envolve a interação,
aos pequenos leitores, é necessário o estímulo à construção de sentidos.
Programas de reciclagem de professor e de incentivo à leitura têm se
21
mostrado eficazes, porém temos que admitir que é necessário muito mais
comprometimento dos professores e gestores escolares, para que essa
prática atinja os objetivos propostos.
Um dos aspectos a ser observado é a alfabetização visual, cuja
atividade significa aprender a ler imagens, observar seus traços
constitutivos e aspectos. Para Santaella (2012, p 13), ler as imagens
significa adquirir os conhecimentos e a sensibilidade necessária para saber
como a imagem se apresenta, como indica o que quer indicar, qual é o seu
contexto de referência. Logo, a criança atinge outro grau de instrução,
quando aprende a decodificar as letras, só então podemos dizer que está
alfabetizada, pois já apresenta uma determinação e uma consciência em
suas opções linguísticas com desenvolvimento completo na área da
linguagem e consegue ao mesmo tempo realizar o trânsito a outras áreas
do conhecimento.
Ao se pensar a leitura como compromisso social, Foucambert (1994,
p.121) afirma que: “A defasagem entre leitores e não-leitores reproduz a
divisão social entre o poder e a exclusão, entre as classes dominantes e os
que são apenas executores.” Daí a necessidade cada vez mais gritante de
que o ato de ler seja bem trabalhado na escola, para que essa divisão tão
grande comece a diminuir. Todavia, de acordo com Silva e Zilberman
(1998, p.79):
[...] embora se tenha conseguido nos últimos anos um aumento
substancial na taxa de escolarização, a escolarização por si só
não está dando uma contribuição decisiva à solução do
problema. [...] a escola não está vencendo o desafio de
alfabetizar.
O professor deve sempre ter em mente que o bom leitor é aquele
que relaciona o sentido do texto com a sua realidade, fazendo críticas,
opinando, elaborando hipóteses e questionando seu meio social.
Ainda, conforme Silva (1995, p. 47) “[...] a leitura enriquece ou
empobrece, dinamiza ou paralisa, dirige ou desvia, conscientiza ou serve
para alienar as ações relacionadas com a formação de leitores”. É
importantíssimo que o professor ofereça aos alunos amplas perspectivas,
22
estratégias e caminhos, para que os alunos possam formar-se leitores. A
contação de histórias é um dos instrumentos que permite que com o tempo
os alunos planejem a própria leitura, desenvolvam interesse e o hábito pela
leitura, ligando um assunto a outro. Para Bamberger (2002, p. 20):
[...] precisamos ir além das necessidades e interesses das várias
fases de desenvolvimento e motivar a criança a ir ajustando o
conteúdo de suas leituras à medida que suas necessidades
intelectuais e condições ambientais forem mudando. É preciso
fazer da leitura um hábito determinado por motivos
permanentes, e não por inclinações mutáveis.
A importância da leitura não se limita apenas a um ato de prazer, de
momento de imaginação e magia, significa muito mais, já que sua
presença está em todos os lugares.
1.2 A leitura na infância
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só (e) ao mesmo tempo acompanhado.
MÁRIO QUINTANA
O primeiro contato de uma criança com uma história é realizada de
forma oral geralmente pela mãe, pelo pai, pelo irmão mais velho, avós ou
outro adulto que a cuida. Os primeiros textos lidos comumente são de
conto de fadas, histórias bíblicas, ou histórias inventadas aleatoriamente
pelos próprios pais ou adultos mais próximos da criança. É muito
importante salientar que para a formação de qualquer criança é muito
importante ouvir histórias, pois neste momento se dá o início da
aprendizagem de sistematização de sentimentos, de fatos, de espaços, do
tempo, enfim, do mundo.
Ouvir histórias proporciona à criança momentos agradáveis de risos,
gargalhadas, brincadeiras, dúvidas, questionamentos, ou seja,
entretenimento, momentos em que as crianças percebem as vivências dos
personagens e acabam sendo cúmplices dos enredos. É através dos
contos infantis que podemos suscitar o imaginário infantil, despertamos
curiosidades e provocamos dúvidas infantis, que acabam sendo
23
respondidas pela busca de alternativas, caminhos percorridos pelas
próprias crianças.
Ouvindo histórias a criança pode descobrir emoções de alegria e de
tristeza, possibilidade de descobrir o mundo de conflitos que vive e
perceber por meio dos personagens das histórias que podemos encontrar
soluções e resolver problemas encontrados no cotidiano. Proporcionando
momentos de leitura, podemos levá-las a descobrir outros lugares e outras
épocas, outras culturas.
A diferença essencial entre um livro e um amigo não é sua maior
ou menor sabedoria, mas a maneira pela qual a gente se
comunica com eles; a leitura, ao contrário da conversação,
consistindo para cada um de nós em receber a comunicação de
um outro pensamento, mas permanecendo sozinho, isto é,
continuando a desfrutar do poder intelectual que se tem na
solidão e que a conversação dissipa imediatamente,
continuando a poder ser inspirado, a permanecer em pleno
trabalho fecundo do espírito sobre si mesmo. (PROUST, 1997,
p. 81)
A leitura não é tarefa apenas da escola. Os pais também precisam
praticar a leitura como forma de incentivo, seja por meio da leitura de
jornais, revistas em casa que trazem assuntos do dia a dia, que servem de
estímulos para seus filhos. Quanto a isso, Foucabert afirma que “é por isso
também que a formação dos professores deve incluir contato com os pais,
com bibliotecas de bairro e de empresa, com associações, de maneira a
estabelecer intercâmbio entre as ações de informação e formação”.
(FOUCABERT, 1994, p.11).
Coelho (2000, p. 27) diz que é preciso oferecer às crianças
oportunidades de leitura, mas oportunidades convidativas e prazerosas.
Nesse sentido, a Literatura Infantil desempenha papel fundamental, pois
além de auxiliar no aprendizado das crianças, contribui para a escrita e,
principalmente, constitui-se em momentos de prazer, tendo em vista a
importância de a criança sentir gosto pelo que lê.
a literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte:
fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem a
vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o
24
imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível
realização...” (COELHO, 2000, p.27).
O ato de contar histórias é um momento mágico, por ser um
momento divertido, de alegria, de diversão, de firmar os laços afetivos
entre pais e filhos ou entre professores e alunos, pois para Barreiros
(2006), “além possibilitar um envolvimento pessoal, proporciona momentos
de novas descobertas e emoções afetivas entre adultos e crianças”. Por
exemplo, o autor diz que quando Monteiro Lobato criou o Sítio do Pica-pau
Amarelo, aproximou o real ao mundo infantil, tendo em vista que neste
mundo as crianças possuem voz, são os heróis das próprias histórias,
vivendo num de faz de contas, repleto de magia. “Neste mundo mágico os
elementos de punição como fiscalização e repressão não existem, pois as
histórias possuem relação afetiva com a vó Benta e a Tia Anastácia e
alguns outros personagens que não possuem o papel de fiscalização”
(BARREIROS, 2006).
De acordo com Freire (1989), a leitura do mundo precede sempre a
leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura
daquele. A leitura é associada à forma de ver o mundo. É possível dizer
que a leitura é um meio de conhecer o mundo que nos cerca, sendo ele
imaginário ou real.
O interessante de contar histórias na escola ou fora dela é o de
promover encontros com pessoas, crianças, pais, professores, avós,
buscando e estabelecendo novas formas de relações sociais, estimulando
as crianças para prática da leitura, com contato direto com livros,
bibliotecas ou outros espaços que favoreçam o manuseio de livros,
trilhando um caminho interativo com os adultos de forma que esta
aprendizagem se torne um elo infinito entre livros e leitores. “Ah, como é
importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas
histórias...Escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor
é ter um caminho absolutamente infinito de descobertas e de compreensão
do mundo” (ABRAMOVICH,1993, p.16).
Conforme dados da UNESCO (2005) apenas 14% da população
possui o hábito da leitura, já que a sociedade brasileira não possui esta
25
capacidade, esta tarefa acaba sendo passada para a escola, mas a escola
precisa estar atenta para que a leitura se torne um ato prazeroso e não
uma obrigação.
Nas escolas de formação de professores em nível médio, percebe-
se uma carência muito grande de leitura, pois muitos alunos, quando
crianças, não tinham livros e não tinham acesso a variados tipos de leitura.
Muitos desses futuros professores tiveram contato com a Literatura Infantil
apenas ao ingressar na escola. Devido a essa falha, faz-se necessário
resgatar o gosto pela leitura infantil e o seu significado para formação
humana.
Sabendo-se que o gosto pela leitura deve ser incentivado, no Curso
Normal (Magistério), em Nível Médio, de uma escola do município de
Irai/RS, se procura resgatar as histórias infantis através da visitação das
bibliotecas da escola e a pública, onde a maioria dos alunos nunca
estiveram, e lá se faz a retirada de obras infantis para que façam a leitura e
logo após possam fazer uma releitura através de outras formas, como
pintura, confecção de cenário e apresentação das histórias por meio de
peças teatrais para as crianças, afim de perceberem e vivenciarem a boa
prática da leitura e a importância da contação para a imaginação das
crianças. É notável o crescimento dos alunos futuros professores depois
dessas atividades, pois estes começam a perceber como é importante este
trabalho em sala de aula e a aceitação dessas propostas pelas crianças,
que se sentem envolvidas com as histórias e requisitam mais dessas
atividades.
26
2 A HISTÓRIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
Contar histórias é uma das ações mais antigas da humanidade. Os
antigos, como não tinham livros, deixavam e passavam ensinamentos
através das histórias. Há muito tempo o homem conta histórias, colocando
em palavras os acontecimentos cotidianos e as memórias transmitidas por
seus ancestrais (CAPRINO; PERAZZO, 2011). As civilizações antigas
reuniam-se em torno de uma fogueira para escutar os mais velhos
narrarem suas aventuras, lembranças e ensinamentos (SILVA, 2011) e
essas histórias, contadas pelos mais velhos, eram a base da educação das
crianças e jovens.
Sempre é bom lembrar que a fala e, consequentemente, a
possibilidade de expressar os sentimentos é algo inerente e único do ser
humano, diferenciando-lhe dos outros animais. E é por meio desta ação
verbal (a fala), desta possibilidade de expressar que se constroem e
repassam as culturas e tradições, ultrapassando a relação tempo/espaço,
já que as histórias são contadas, aprendidas e repassadas.
De acordo com Manferrari (2011), não existe povo ou civilização que
não tenha manifestado a prática de comunicar-se, que não tenha contado
suas lendas, tradições, experiências e costumes por intermédio da
oralidade, das narrativas. Coelho (2006), ao tratar sobre a importância do
desenvolvimento da linguagem, enfatiza a necessidade de mantermos a
tradição de contar histórias:
Pois é, já cheguei aos netos e a experiência prossegue,
fornecendo-me elementos para concluir que a arte de contar
histórias é importante alimento da imaginação. Permite a auto
identificação, favorecendo a aceitação de situações
desagradáveis, acenando com a esperança. Agrada a todos, de
modo geral, sem distinção de idade, de classe social, de
circunstância de vida. (COELHO, 2006, p. 12).
27
A ação de contar ou ouvir histórias, além de ter sua importante
função histórica, é sempre carregada de emoções, posicionamentos, de
contextualizações, de sentimentos e lembranças afetivas boas ou más.
Essa tradição fortalece os laços de uma comunidade, bem como ensina a
construir futuros.
2.1. A importância de contar histórias
Com todas as transformações sociais ocorridas por séculos,
chegando ao nosso tempo, temos as contações de histórias muito mais
relacionadas com a escola do que com a passagem de ensinamento pela
família à criança. Assim, lá na escola, as atividades de contação de
histórias, momento em que o professor media a leitura, são constituídas
por vários instrumentos além da ação do professor, tais como a ilustração,
fantoches, máscaras, dentre outros recursos, os quais contribuem para que
a criança seja atraída pela história, levando o pequeno leitor a interagir
com o mundo proposto. Por serem diversos os recursos usados, incluindo
imagens, cores e sons, há mais probabilidade de despertar o interesse da
criança e aguçar a capacidade cognitiva, para que o leitor possa construir,
a partir do seu olhar, as experiências de releituras do mundo.
Contar histórias infantis é uma arte que deve ser muito bem
planejada, pois é através dela que o leitor entra em contato com sons,
letras, palavras, frases, nomes, ritmo, etc., e, assim, constroem-se
imagens. Portanto, para contar uma história, o contador não pode fazer de
qualquer maneira, é preciso escolher textos que mantenham relações de
linguagem com o contexto infantil, que despertem a curiosidade infantil. O
professor deverá demonstrar confiança no que está lendo para seus alunos
e expressar o prazer da leitura:
O item mais importante é o narrador transmitir confiança, motivar
os alunos despertando a atenção e a admiração no momento
em que estão participando de um momento de leitura. (...)
entendemos que o ensino de leitura deve ir além do ato
monótono que é aplicado em muitas escolas, de forma
mecânica e muitas vezes descontextualizado, mas um processo
que deve contribuir para a formação de pessoas críticas e
conscientes, capazes de interpretar a realidade, bem como
28
participar ativamente da sociedade. (OLIVEIRA, QUEIROZ,
2009, p. 2)
O principal objetivo é o professor despertar no aluno o gosto pela
leitura, pois o aluno que aprende a gostar de ler pela experiência que
constrói com a família, com a escola, acaba descobrindo que a leitura de
um texto possibilita o conhecimento e a experimentação de universos.
Para Souza, o professor deve proporcionar várias atividades inovadoras,
mas, antes de tudo, deve conhecer-se como leitor e conhecer os gostos de
seus alunos. A partir disso, escolher um livro ou uma história “que vá ao
encontro das necessidades da criança, adaptando o seu vocabulário,
despertando esse educando para o gosto, deixando-o se expressar”
(SOUZA, 2004, p. 223).
As crianças necessitam de incentivo para desenvolver a habilidade
da leitura e cabe ao professor saber conduzir esse processo de forma
lúdica, prazerosa e objetiva para que o percurso escolhido atinja o
almejado. No processo de desenvolvimento do hábito da leitura, a criança,
ao ser exposta à leitura, acaba fazendo suas próprias escolhas, começa a
ganhar a independência individual e passa fazer as leituras de acordo com
suas curiosidades e interesses.
No momento que a criança atinge este grau de liberdade, podemos
dizer que já apresenta determinação para expressar suas tendências
linguísticas, cabendo ao professor fazer com que adquira consciência
sobre tais opções, levando-a ao desenvolvimento completo na área da
linguagem. Nesse sentido, o contador de histórias, ou o professor, tem um
compromisso:
Nunca é demais lembrar que a prática da leitura é um princípio
de cidadania, ou seja, leitor cidadão, pelas diferentes práticas de
leitura, pode ficar sabendo quais são as suas obrigações e
também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às
conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade
justa, democrática e feliz (SILVA, 2003, p. 24).
O ser humano, desde os primórdios dos tempos, apresentou
necessidade de interação, ou pelos desenhos, ou pelos gestos ou pela
29
fala. Essa interação pode ser observada e/ou reforçada/validada na arte de
contar ou ouvir histórias. Ao contar histórias, o professor inicia com a
criança um trajeto de construção de novos modos de pensar, colaborando
com a vida do outro, direta ou indiretamente, uma vez que a ludicidade da
contação de histórias transforma a criança, tendo em vista que as histórias
sempre envolvem empatia, valores morais e éticos e uma redescoberta de
si mesmo.
Mesmo antes do livro existir, a Literatura Infantil já fazia parte da
vida das pessoas, mas começou a ser valorizada com as obras escritas de
Monteiro Lobato, foi um pioneiro da Literatura Infantil no Brasil,
preocupado com as causas sociais, fazendo da sua personagem Emília, a
boneca de pano do Sítio do Pica-Pau Amarelo, um exemplo de
democracia, perseverança, respeito e igualdade, pois acreditava que para
haver mudança social seria necessário dedicar-se à formação da criança.
Lobato apresentava em suas obras um discurso humano com explorações
folclóricas, vocabulário pertinente às faixas etárias infantis, possibilitando a
inclusão de outros escritores na década de 1970.
Lobato teve seus livros queimados em um pátio de colégio, pois a
classe dominante se mantinha resistente, pois:
a Literatura Infantil desenvolve não só a imaginação das
crianças, como também permite que elas se coloquem como
personagens das histórias, das fábulas e dos contos de fada,
além de facilitar a expressão de ideias. Sendo assim, o objetivo
da Literatura Infantil é o de formar leitores, pois por uma série de
características e fatores ela desempenha esse papel melhor do
que a Literatura adulta, uma vez que é mais convidativa. O que
se procura hoje é assegurar no maior número de pessoas
possíveis o direito de ler. “A literatura infantil contribui para que
não se deixe esta tarefa por acaso... (CAGNETI,1986, p. 21)
Para José Nicolau Gregorin Filho (2009, p. 22), a literatura infantil é,
antes de tudo Literatura; é arte: “fenômeno de criatividade que representa
o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida
prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/ impossível
realização”.
30
O mundo de hoje está sob forte transformação social, política e
econômica e isso consequentemente acaba afetando todos nós, o que
também demanda da Educação novos princípios, novas propostas, pois a
verdadeira evolução acontece ao nível de consciência de mundo.
2.2 A história da literatura infantil e a contação de histórias na escola
A origem da Literatura Infantil é um tanto contraditória. Para alguns
historiadores ela surgiu na oralidade, em forma de contação de histórias,
portanto, é tão antiga quanto a imaginação humana. Já, para outros
estudiosos, esse tipo de gênero surgiu na metade do século XVII com a
ascensão da burguesia, haja vista que até este século as crianças
convivam com os adultos de maneira igual, não havia uma visão
diferente/especial da infância.
[...] a concepção de uma faixa etária diferenciada, com interesses próprios e necessitando de uma formação específica, só acontece em meio à Idade Moderna. Esta mudança se deveu a outro acontecimento da época: a emergência de uma nova noção de família, centrada não mais em amplas relações de parentesco, mas num núcleo unicelular, preocupado em manter sua privacidade (impedindo a intervenção dos parentes em seus negócios internos) e estimular o afeto entre seus membros. (ZILBERMAN, 1985, p.13)
Ao verem as crianças como seres que precisavam de atenção
diferenciada e proteção, aos poucos, em meados do século XVIII, surge a
literatura infantil, com a função de educar moralmente as crianças.
Os primeiros livros infantis que temos conhecimento no Ocidente
surgiram no século XVIII, com os autores La Fontaine e Charles Perrault,
com obras em forma de contos de fada. Com o passar dos séculos, foram
surgindo outros como Hans Christian Andersen, os Irmãos Grimm e, no
caso do Brasil, Monteiro Lobato, que foram imortalizados por suas obras.
Através do desenvolvimento social e cultural, com a modernização e a
industrialização, essa literatura valeu-se da grande expansão da produção
de livros. Partindo deste princípio, a sociedade, cada vez mais comercial,
viu como positivo que as crianças dominassem a língua escrita, e a escola
seria a responsável para esta tarefa.
31
No começo da formação do modelo familiar burguês não havia uma
preocupação especial com a infância, “esta faixa etária não era percebida
como um tempo diferente nem o mundo da criança como um espaço
separado” (ZILBERMAN, 1985, p. 13).
No início, época anterior à invenção da imprensa, a Literatura Infantil
estabelecia para o sistema educativo leituras com intenções moralizantes.
Usava-se como referência manuais de devoção a vidas de santos,
ignorando o mundo imaginário da criança. Cabe destacar que, na
sociedade antiga, não havia um reconhecimento cultural da infância, as
crianças não recebiam cuidados especiais, nem atenção.
O primeiro livro ilustrado impresso para crianças foi de Jean Amos
Comenius. Foi publicado em latim com o título de Orbis Sensualium Pictur
(1654), traduzido por O mundo dos sentidos em pinturas. Comenius foi um
destacado pedagogo tcheco, que trouxe várias inovações, idealizando
processos gráficos e visuais para ensinar as crianças o latim e assuntos de
ciências naturais e do mundo.
Em 1744, Mery Cooper publicou uma obra, dedicada ao público
infantil, intitulada Para todos pequenos e senhoritas. Essa foi escrita por
ingleses e protestantes. Em 1760, outra obra destaca-se: Melodia da
mamãe gansa, por John Newbery. No século XVII, Charles Perrault e, no
século XIX, os Irmãos Grimm colecionaram e publicaram histórias da
oralidade. Esses contos foram adaptados e republicados. Além dessa
Literatura clássica universal, surgiram em outros países nomes como:
Andersen, Amicis, Mark Twain e outros.
A preocupação com a falta de material para o público infantil no
Brasil motivou a produção de livros, pois o que circulava no país eram
apenas obras adaptadas e traduções estrangeiras. Figueiredo Pimentel faz
circular as histórias de Charles Perrault, Irmãos Grimm e Andersen, com a
coleção “Opatinho feio”; Carlos Jasen com os contos de Mil e uma Noites,
Robison Crusoé com as Viagens de Gulliver.
A partir de 1886, surge no mercado nacional textos de autores como
Manuel Bonfim, Julia Lopes de Almeida, Olavo Bilac e Coelho Neto. Em
1893, surge no Brasil a poesia infantil de Zelina Rolin, em parceria com
32
João Kupke, com o livro Coração. Vale destacar que toda a produção
desse período apresentava lições de civismo, amor ao trabalho, à família e
ao perfeccionismo na linguagem.
Em 1921, Monteiro Lobato promove uma alteração na narrativa
infantil com a obra A menina do narizinho arrebitado. Lobato revelou-se um
autor preocupado em escrever com características brasileiras, valorizando
a nossa cultura, mas conciliando a influência estrangeira. Sua obra
apresenta uma linguagem simbólica que interessa mais à criança.
Para Lajolo & Zibermann, “a escola passa a habilitar as crianças
para o consumo das obras impressas, servindo como intermediária entre a
criança e a sociedade de consumo” (2002, p. 22). Como o aspecto
didático-pedagógico seguia uma linha moralista, paternalista, com intuito
de representar o poder, tinha como objetivo estimular a obediência,
portanto era uma literatura com intencionalidade, premiando o bom e
castigando o mau. Já nas duas primeiras décadas do século XX, as obras
começaram a apresentar um caráter mais ético didático, ou seja, tinha
como objetivo educar de acordo com as expectativas dos adultos. Havia
poucas histórias lúdicas e a leitura não era vista como fonte de prazer.
A literatura infantil ganhou amplitude e importância apenas a partir
da metade do século XIX, mas apenas de algumas décadas para cá
passou a proporcionar às crianças um desenvolvimento emocional, social e
cognitivo, possibilitando-lhe o desenvolvimento de interlocução, permitindo
confrontar e contrariar ideias.
A tarefa principal da Literatura Infantil numa sociedade em
transformação é de servir como um veículo de formação, seja no convívio
espontâneo do leitor/livro, ou no diálogo leitor/texto que é estimulado pela
escola. Do século XX até hoje, a Literatura Infantil tem sido agente social
para a formação de novas mentalidades, pois o mundo moderno está
exigindo isso de forma urgente. Cabe também à literatura transmitir nossas
heranças com valores tradicionais e com valores que se renovam
constantemente. Portanto o impulso de ler é um convite a observar,
compreender e analisar o espaço em que convivemos no conjunto com as
coisas que nos cercam, pois isto é condição básica de sobrevivência do
33
ser humano. O ser humano é um aprendiz de cultura, enquanto dura o seu
ciclo de vida.
No que diz respeito às atividades com a Literatura e a expressão
verbal, o espaço-escola deve se diversificar em dois ambientes
básicos: o de estudos programados (sala de leitura, bibliotecas
para pesquisa et.) e de atividades livres (sala de leitura, recanto
de invenções, oficinas da palavra, laboratório de criatividade,
espaço de experimentação, etc.). (COELHO, 2000, p.17)
A escola deve ser o lugar privilegiado, onde os alicerces do
processo de auto realização vital Infantil/cultural do homem inicia na
infância e vai se prolongando à velhice. Nesse contexto, a Literatura Infantil
é agente formador e o professor precisa estar sintonizado com este
período de transformação e reorganizar os conhecimentos de mundo
apostando na leitura:
A Literatura Infantil é uma comunicação histórica (localizada no
tempo e no espaço) entre um locutor ou um escritor-adulto
(emissor) e um destinatário-criança(receptor) que, por definição,
ao longo do período considerado, não dispõe senão de modo
parcial da experiência do real e das estruturas linguísticas,
intelectuais, afetivas e outras que caracterizam a idade adulta.”
(COELHO, 2000, p.31).
Para melhor convivência do leitor com a Literatura se faz necessário
importantes adequações dos textos às diversas fases do desenvolvimento
humano, pois a inclusão do leitor em determinadas categorias não apenas
das faixas etárias, mas também da adequação da idade cronológica em
relação ao grau de nível de conhecimento e domínio da leitura.
É na primeira infância (15/17meses a 3 anos), que a criança começa
a reconhecer a sua realidade através dos contatos afetivos e pelo tato,
esta fase é chamada de “invenção da mão”, pois é próprio da criança a
necessidade de pegar tudo o que alcança e é o momento em que a criança
conquista a própria linguagem passando a nomear as realidades que estão
a sua volta. A presença dos adultos, nesta fase criando situações de
relação afetiva com as crianças, relacionando o mundo natural com o
mundo real e utilizando para isto brinquedos, desenhos, gravuras, que
permita a percepção do espaço em que vive e de muita importância.
34
Na segunda infância (2/3 anos), predominam os valores
vitais(saúde) e sensoriais (prazer ou carências físicas ou afetivas),
passagem da indiferenciação psíquica para a percepção do próprio ser, ou
seja o egocentrismo. Nesta fase, a presença do adulto, tanto no âmbito
familiar com nas escolas, é fundamental, pois a criança começa a
descobrir o mundo real concreto e o mundo da linguagem lúdica, trazendo
muitos significados a ela. Nesta fase, aumenta o interesse pela
comunicação verbal e há um impulso de adaptação ao meio físico.
(CARVALHO; MENDONÇA, 2006)
A fase do leitor iniciante (6/7 anos) é muito importante para todas as
crianças, pois se trata da aprendizagem formal da leitura da escrita gráfica.
A criança já começa a reconhecer os signos do alfabeto, formação de
sílabas simples e complexas, início do processo de socialização e
racionalização da realidade. Nesta fase, o adulto continua sendo o grande
estimulador que passa a incentivar os avanços que a criança vai
adquirindo aos poucos. A criança é atraída por histórias bem-humoradas.
(CARVALHO; MENDONÇA, 2006)
A fase do leitor em processo (8/9anos) é que a criança já possui o
domínio da leitura e escrita gráfica, é curiosa e procura pelo conhecimento,
tem o pensamento lógico já organizado para o concreto, e sente-se atraída
pelos desafios e questionamentos. O adulto continua sendo um alicerce
importante quanto à motivação, como provocador logo após as leituras
realizadas. (CARVALHO; MENDONÇA, 2006)
Na fase do leitor fluente (a partir dos 10/11anos) há a consolidação
do domínio da leitura com compreensão do mundo através dos livros. O
leitor realiza reflexão alargando e aprofundando o conhecimento adquirido
através da leitura realizada. Nesta fase, o ser é atraído pelo confronto de
ideias e ideais, o adulto já não é mais requisitado. É a fase da chamada
pré-adolescência. (CARVALHO; MENDONÇA, 2006)
A fase do leitor crítico (12/13anos) é a de aquisição do domínio total
da leitura, da linguagem escrita, com o aprofundamento da reflexão, ou
seja, o leitor já é capaz de realizar uma leitura de mundo, despertando
consciência crítica em relação a sua realidade, sua escrita torna-se
35
criativa. Seus estímulos são contraditórios, pois existe a crise de valores,
porém novos valores são elencados, é uma nova fase de descobertas de
grandes transformações. (CARVALHO; MENDONÇA, 2006)
Ao entendermos as fases de e para a aquisição e domínio da leitura,
torna-se mais fácil, na escola, planejar como estimular o gosto pela leitura.
Acreditamos que a contação de histórias é uma das principais, senão a
principal ação que a escola pode/deve/precisa desenvolver para garantir
que seus alunos se formem leitores, e leitores em sentido mais amplo e
consistente, com capacidade verdadeira de entendimento e compreensão
do dito e das entrelinhas. Leitores que perpassem pela ideia de gosto da
leitura para a leitura crítica e engajada.
De acordo com Crady e Kaecher, o gosto pela literatura, ou seja, por
formas mais complexas de linguagem, são despertados pela exposição
gradual ao ato de ouvir e contar histórias:
[...] somente iremos formar crianças que gostem de ler e
tenham uma relação prazerosa com a Literatura se propiciarmos
a elas, desde muito cedo, um contato frequente e agradável com
o objeto livro e com o ato de ouvir e contar histórias, em primeiro
lugar e após, com os conteúdos desse objeto, a história
propriamente dita com seus textos e ilustrações (CRADY e
KAECHER, 2001, p. 82).
Sobre o processo de contação, a ensaísta cubana Alga Marina
Elizagaray (1975) diz algo claro e importante: “O narrador tem que
transmitir confiança, motivar a atenção e despertar admiração. Tem que
conduzir a situação como se fosse um virtuoso que sabe seu texto, que
tem memorizado, que pode permitir-se o luxo de fazer variações sobre o
tema”. Nesse sentido, também a teoria de Vygotsky (1984) salienta que é
incalculável a importância da interação entre os sujeitos no sentido de um
objetivo único. Na aquisição da leitura, estabelece-se um jogo entre duas
ou mais crianças ou adultos, construindo-se um objetivo comum:
compreender o que é expresso a partir da vivência do texto.
A contação de histórias desenvolve a imaginação infantil. As
histórias infantis são um importante alimento para a imaginação da criança,
36
o que refletirá diretamente na sua capacidade de reinventar-se a cada fase
da vida. Segundo
Betty Coelho (1988), o contato com histórias “permite a autoidentificação,
favorecendo a aceitação de situações desagradáveis, ajudando a resolver
conflitos”.
A narração estimula a criatividade infantil, acalma e prende a
atenção, informa, socializa, educa, estimula a imaginação, ajuda a
desenvolver a inteligência. A contação de histórias ajuda a resolver
conflitos, tornar as emoções claras e cria uma relação afetiva entre a
pessoa adulta que conta a história e a criança que está ouvindo. As
crianças, na fase da Educação Infantil, mesmo não dominando a língua
escrita, realizam uma leitura mais ampla, ou seja, uma leitura sensorial
(visão, tato, audição, olfato e paladar), revelando um prazer muito diferente
da do adulto, pois o pequeno leitor se entrega à leitura com paixão, de
forma plena, com muita curiosidade, explorando cada episódio com muita
emoção e fantasia.
O objeto livro também tem seu papel na contação de histórias. No
momento em que uma criança abre um livro, é despertada à magia, pois o
livro é um objeto que ela pode pegar, cheirar, possui cor, textura, formas
variadas, proporcionando um encantamento que muitas vezes está fora de
seu alcance. Ao mesmo tempo que vai manuseando vai estabelecendo
relações que muitas vezes estão fora da sua realidade e das suas
experiências sociais. Conforme expressam Valdez e Costa (2007), para
que qualquer história tenha sentido, é essencial que a criança possa viver
a fantasia, magia, encantamento, desfrutando de todos os direitos, entre
eles ode escutar e viver histórias próprias para sua idade. Ao ouvir
histórias infantis, a criança aprende a lidar com seus conflitos e busca
novos caminhos para si.
Assim sendo, entendemos ser imprescindível que o Curso Normal
em Nível Médio (Magistério) prepare seus alunos para que sejam exímios
contadores de histórias. E, isso acontece, inicialmente estimulando-os a
serem leitores, posteriormente, os preparando com teorias e didáticas,
auxiliando na formação de práticas de contação de histórias, a fim de que
37
estejam preparados para entrar no mundo da literatura infantil e, através de
suas histórias encantar e estimular as crianças, apresentando-lhes o
mundo mágico da leitura.
Ao se contar uma história, mesmo que, muitas vezes, não se
perceba, trabalham-se inúmeros valores e estímulos. O estudante do
Curso Normal em Nível Médio deve ter bem claro que a contação de
histórias para crianças precisa, ao final de cada história contada, conseguir
fazer com que o aluno reflita sobre os valores existentes em determinado
texto. Precisa estimular o diálogo e a análise crítica, fazer com que seja
desenvolvida a capacidade da criança de ouvir o outro. Esse é o momento,
também, para refletir sobre situações vividas pelos personagens, relacionar
as vivências familiares com as apresentadas, debater sobre as atitudes
dos personagens, comparar as próprias vivências do dia adia, trabalhar as
consequências das mentiras, da falsidade, enfim, da ética, entre outras
possibilidades.
De acordo com Gancho (2001), a narrativa oral é o
(re)conhecimento de depoimento individual como referência a processos
históricos, sociais e culturais. A narrativa oral constitui a própria origem
humana, realçando o identitário cultural de uma pessoa ou de uma
sociedade. Consoante com isso, Cogo e Nassar (2011) afirmam que, além
de transferir a memória coletiva de uma sociedade, a narração de histórias
interfere no indivíduo, uma vez que estimula a subjetividade de cada
pessoa. Sendo assim, contar histórias passa ser uma importante
ferramenta para auxiliar/potencializar o desenvolvimento da pessoa, da
oralidade, da autonomia, da subjetividade.
Para Dohme (2000), com as crianças, o ato de contar histórias é
muito mais importante e preciso, pois ouvir uma narrativa atua no
desenvolvimento cognitivo, trabalha na formação de caráter, na
capacidade de raciocínio, imaginação, criatividade, quer dizer, é essencial
no desenvolvimento da criança.
Em se pensando na escola de Curso Normal em Nível Médio, o
professor que está sendo formado e que trabalha com contação de
histórias possibilita ao aluno ter contato com o individual, o social, o
38
espiritual e o cultural, já que a leitura forma, desde a infância, quando as
crianças se motivam a compartilhar momentos de sua vida, formando
consciência ética, abrindo-se para a diversidade, de acordo com Faria e
Garcia (2002).
O professor, ao contar histórias, traz à tona suas tradições que, por
sua vez, resgatam o sujeito humano, ser social, cultural e, ao trazer de
volta essa prática, preserva, também, valores de uma comunidade. Ao
trabalhar com histórias, o docente deve estar ciente de que toda história
transmite algo que se soma ao desenvolvimento da criança, formando-a
criativa e reflexiva.
Enfim, Literatura Infantil é uma arte, fenômeno de criatividade na
representação do mundo, dos homens, da vida através do uso das
palavras, levando a conhecer cada momento da caminhada da
humanidade em constante evolução. Desde a sua origem, a literatura
possuía função de atuar sobre a consciência, sobre a imaginação,
incidindo sobre desejos, vontades, ações e paixões. Por meio da literatura,
o homem tem a oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer suas
experiências de vida, conhecer a si próprio e a realidade do outro.
2.3 Por que formarmos contadores de histórias?
De acordo com dados obtidos na pesquisa Retratos da Leitura no
Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro, temos no Brasil 88,2 milhões de
leitores, 50% da população, 7,4% menos que 2007, quando 55% dos
brasileiros se diziam leitores. Segundo a pesquisa, o preço da obra não
influencia, fica em 13º lugar, significando apenas 2% dos entrevistados. A
falta de interesse está em 1º lugar no ranking da pesquisa, com 78%; e a
falta de tempo em 2º lugar, com 50%, como duas das justificativas para
não se ler.
A inexistência do hábito de leitura também está associada a outros
fatores concorrentes: 85% dos entrevistados preferem assistir TV; 52%
ouvir música ou rádio e a leitura como opção está em 7º lugar. A pesquisa
realizada pelo Instituto Pró-Livro aponta que 50% dos brasileiros não são
39
leitores e que não leram nenhum livro nos últimos 3 meses. Entre esses
leitores, 30% não são leitores porque a escola não os capacitou para a
leitura. Assim, apenas 20% dos brasileiros possuem a capacidade de ler,
mas também não gostam de ler.
Num levantamento realizado em 2010, publicado pela revista CP
Geografia em 30/08/10, sob o título O mapa da Leitura no Brasil, 77
milhões de brasileiros se declaram não leitores e 95 milhões, isto é 55%
dos brasileiros, relataram ter lido um livro apenas nos últimos três meses.
Conforme esta pesquisa solicitada pelo Instituto Pró-Livro, 45% destes
leitores estão na região Sudeste, ou seja, seis em cada dez habitantes se
declaram leitores. Nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste a situação é
mais crítica, pois são apenas 8%,25% e 7% que se declaram leitores. Já
na região Sul, são 14% dos brasileiros leitores. Conforme esta pesquisa,
os brasileiros acima de cinco anos de idade leem, em média, 4,7 livros por
ano, um contraste com a pesquisa realizada em 2001, em que os
brasileiros acima de 15 anos de idade e com três anos de escolaridade
leem 1,8 livro por ano. (Instituto Pró-Livro, 2016).
O público leitor também se diferencia conforme as regiões
brasileiras. O Sudeste e o Sul se destacam à frente, já o Norte e o
Nordeste ficam atrás, e segundo pesquisa encomendada pelo Ministério da
Cultura e realizada pelo IBGE e estudos da Fundação Getúlio Vargas, os
piores déficits de bibliotecas públicas.
As desigualdades sociais encontradas na renda per capita, nível de
salário e qualidade de vida também se refletem na leitura, destaca o diretor
do Observatório do Livro e da Leitura Galeano Amorim, que coordenou a
pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. (Instituto Pró-Livro, 2016).
Segundo o escritor gaúcho Jéferson Assumção enfatiza, os atuais
retratos da leitura do Brasil são resultados da nossa história da colonização
do País, e recorda que os autores Sérgio Paulo Rouanet e Renato Ortiz já
alertavam sobre os problemas na educação e o valor simbólico na sua
prática entre o público brasileiro. Assumção ainda descreve em um
capítulo no livro Retratos da Leitura do Brasil, que a relação dos brasileiros
com o livro é muito recente e é herdeira de uma história muito
40
problemática, pois, enquanto na França em 1890 cerca de 90% dos
habitantes eram alfabetizados, em 1900 na Inglaterra era de 97%, e
Portugal era de 20% a 30% de habitantes alfabetizados, no mesmo
período em pouco menos de cem anos. No Brasil na última década do
século 19, o analfabetismo no Brasil era de 84%. Salienta-se, entretanto,
que fazem apenas pouco mais de 200 anos que deixou de ser proibida a
impressão de livros no Brasil, pois a nossa imprensa chegou com a família
real portuguesa em 1808 e destinava-se restritamente apenas a fabricação
de documentos e livros oficiais (Instituto Pró-Livro, 2016).
Outro fator determinante que interferiu na formação de leitores foi a
ditadura militar, segundo David Plank, autor da obra Política educacional
no Brasil: caminhos para a salvação da pátria, pois a reforma educacional
realizada na época eliminava dos currículos escolares o francês, latim,
Filosofia e Sociologia. Neste período, a educação visava à formação de
mão de obra para o crescimento capitalista brasileiro. Com este perfil de
educação, a formação de leitores tornou-se uma preocupação de alguns,
dependendo de esforços individuais, o que não conta com potencial para
produzir um volume de leitores críticos, do que tanto o Brasil necessita.
(PLANK, 2001).
A prática da leitura é uma questão de cidadania, pois com o
conhecimento e a autonomia intelectual são indispensáveis para que haja
capacidade transformadora. O acesso aos livros deve ser um direito que o
Estado tem que garantir, salienta Galeano (1971). Para tanto, foi criada
uma lei para que todos os estabelecimentos de ensino do Brasil, públicos e
privados, tenham uma biblioteca. Com a aplicação da nova lei, o mapa
brasileiro da leitura deveria ter mudado, no entanto, 77% dos brasileiros
admitem que não são leitores, enquanto 95% ou 55% dos brasileiros
afirmam ter lido apenas um livro nos últimos três meses.
Existem justificativas para isso, 15% não conhecem as letras, 7%
são analfabetos funcionais admitem que não leem porque não conseguem
compreender o que está escrito, 18% dos entrevistados declaram a falta de
dinheiro para aquisição de livros e 15% justificam a falta de bibliotecas.
41
Portanto a dificuldade de acesso aos livros está entre os principais
entraves para os que não leem, mas não é o único motivo.
Não se pode ignorar que, no mundo das muitas invenções
tecnológicas, com o envolvimento dos sujeitos cada vez mais com
aparelhos eletrônicos, é urgente que os professores detectem e usem
novos recursos e procedimentos para estimular a leitura. Usar essas
ferramentas e aproveitar o tanto que os alunos produzem na forma escrita
é um dos desafios da escola, que busca transitar entre os métodos
tradicionais de leitura e a diversificação de instrumentos. O ambiente
escolar deve criar e ampliar espaços para que os alunos tenham a
oportunidade de aprender a escrever levando em conta as novas
tecnologias e os assuntos das novas mídias, promovendo, assim, o
despertar para a seleção de informações, a consciência de escolha para o
uso dos espaços virtuais.
Galeano defende que todo o cidadão deve ter o direito de acesso
aos livros e, para tanto, o Estado deveria garantir isso. Essa garantia
acabou por ser implementada apenas através da implantação das
bibliotecas, como fruto do empenho do PNLL, que ampliou os recursos
destinados ao Ministério da Cultura. Entretanto, Galeano alerta que para
mudar o mapa da leitura no Brasil não será necessário somente muito
investimento na área da educação, mas também muitas ações práticas.
(GALEANO, 1971).
Há mais de um século já existia um discurso para que as escolas
permitissem livre acesso às bibliotecas de livros aos seus alunos, levando-
se em conta a idade desses. Anne Marie Chartier, em 1982, afirma que
programas oficiais franceses aconselhavam os seus professores a
emprestarem livros infantis aos alunos do ensino primário, os quais
deveriam ler em sala de aula em voz alta trechos de obras clássicas pelo
menos duas vezes por semana. Neste período, o papel das instituições era
comprometido com uma tradição literária infantil.
Em diversos países, a incorporação profissional das mulheres às
bibliotecas e à docência primária foi um fator importante para a leitura
infantil. Mesmo assim a formação de professores permaneceu deficiente
42
no que tange à literatura e às prioridades escolares, não ocasionando
grandes avanços aos métodos didáticos.
Na década de 1970, o modelo escolar começou a sofrer
transformações no mundo, promovendo alterações significativas nos livros
utilizados. Passou-se a ensinar e interpretar pela análise das obras e seus
elementos, com comentários dos textos.
Hoje em dia presenciamos várias formas de intervenção e reflexão
sobre as possíveis causas da falta de leitura e, nesse caso, a escola
procura intervir junto à sociedade para que ambas se proponham de forma
conjunta a criar projetos que fortaleçam as ações estratégicas e que estas
sejam eficazes para solucionar a falta de interesse pela leitura,
principalmente com o público jovem. Nessa perspectiva, novas concepções
sobre o que é leitor começam a aparecer:
(...) o leitor é um pescador. O leitor lê como um pescador pesca.
É solitário, imóvel silencioso, atento ou meditativo, mais ou
menos hábil ou inspirado. Considera-se evidente que o leitor é
leitor quando lê como o pescador é pescador quando pesca,
nem mais, nem menos. Aprender a pescar como aprender a ler
consiste então em dominar certas técnicas básicas e
experimentá-las, progressivamente, em correntes de água ou
frotas de textos cada vez mais abundantes. (...) Em resumo,
pesca e leitura – longe de serem atos de pura técnica e /ou de
pura inatividade individualista – estão cheias de sociabilidade
(COLOMER, 2007, p. 51).
De acordo com Colomer, a Sociologia da Leitura aponta que todo o
leitor formado pode tornar-se um leitor “débil”, dependendo do número de
livros que lê e da qualidade do que lê. A pesquisa feita por Colomer indica
uma grande problemática: afirma que os professores não gostam de ler. E,
sendo a escola um dos centros de formação de leitores, essa situação
complica-se, já que se o professor não é um leitor, dificilmente irá
despertar a emoção do aluno, muito raramente poderá transmitir o prazer
da leitura e conquistar as crianças.
Algumas das maneiras mais eficazes para incentivar o gosto pela
leitura são: contar histórias, incentivando a prática da leitura pelo exemplo,
ler livros, jornais, revistas, conversar com os professores sobre questões
de leituras, ler os livros que as crianças sugerem, tornando este momento
43
importante para elas; proporcionar visitas a feiras de livros, conhecer
autores, participar de eventos que envolvam a arte, teatro, como
apresentação peças infantis. Enfim, o professor deve expressar a sua
vivência com a leitura.
O professor, para incentivar os leitores, tem que demonstrar
acima de tudo prazer no momento do conto. A criança, quando
pequena percebe tudo pelo olhar, e o olhar de quem é
apaixonado por aquilo que faz pode incentivá-la a conhecer o
mundo da literatura, ou seja, da fantasia (Revista Escola, 2002,
p. 8).
44
3 PROPOSTAS DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: PRÁTICAS DE LEITURA
Tendo em vista o disposto nos capítulos anteriores, passa-se a
demonstrar algumas práticas de contação de histórias, amparadas nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 41), que dizem que: “A
criança que ainda não sabe ler convencionalmente pode fazê-lo por meio
da escuta da leitura do professor, ainda que não possa decifrar todas e
cada uma das palavras. Ouvir um texto é uma forma de leitura.”
Considerando sempre que a leitura de histórias infantis auxilia na
formação dos conceitos e gostos culturais e na personalidade das
crianças, o aluno do Curso Normal, ao trabalhar com histórias, deve ter em
mente que é através dos personagens e de suas histórias que as crianças
experienciam suas próprias derrotas e perdas. Ademais, conforme Britto
(2002, p. 18) "ao ouvir a história, o leitor é transportado para um mundo
onde tudo é possível: tapetes voam e galinhas põem ovos de ouro. Essa é
a magia da fantasia", quer dizer, se o momento da contação de histórias
for bem preparado, o professor amplia as possibilidades, dos pequenos, de
interação com o seu mundo imaginário. Por isso, a linguagem literária de
contos estabelece-se como uma prática pedagógica indispensável.
Prática pedagógica que passa a ser apresentada a partir de então,
com viés de sugestões possíveis de serem aplicadas.
3.1 Estratégias para a contação de histórias
Aos pensarmos em contação, refletimos, inicialmente em como
contar histórias. Se existem estratégias ou técnicas que colaborem para
que a contação de histórias forme leitores; e se existem, quais são.
A partir disso, após pesquisas sobre autores que desenvolvam
técnica, optamos por trabalhar com Vania Dohme, mais especificamente
com seu livro Técnicas de contar histórias, de 2000 e com Gládis Maria
Ferrão Barcellos e Iara Conceição Bitencourt Neves, mais especificamente
com o livro A hora do conto: da fantasia ao prazer, de 1995.
45
No livro da autora Vania Dohme, apresenta que uma boa contação
de histórias essencialmente deve valer-se da voz, usar impecavelmente a
dicção, o volume, a velocidade, a tonalidade e o vocabulário, fatores com
os quais a pesquisadora sempre trabalhou e considerou importantes,
assim, agora, tem o embasamento teórico necessário para o
desenvolvimento de seu trabalho.
Dentre os aspectos tratados por Dohme (2000), a pesquisadora
apoderou-se dos seguintes: uso da voz, como a dicção. Deve-se tomar
cuidado para pronunciar de forma clara cada sílaba, destacando cada som
da palavra, e dando um espaçamento entre as palavras. Necessário,
também, observar que cada ambiente exige um tom de voz, assim, é
preciso, primeiramente, avaliar o espaço onde as histórias serão contadas,
falar muito baixo ou alto demais, ou não manter o mesmo tom de voz por
toda a história, haja visto que pode prejudicar a compreensão do que está
sendo narrado.
Na sequência, de acordo com a autora, a velocidade em que se
contará a história também é importante, naturalmente cada um tem uma
velocidade ao falar, mas essa velocidade não pode prejudicar a
compreensão do texto, mas, sim, auxiliar na interpretação do texto, falando
mais rápido, para passar emoção, urgência, ansiedade; e mais devagar
para passar paz, tranquilidade, harmonia, calma.
Então, faz-se preciso trabalhar com diversas variações de
velocidade e volume, todavia, modulando a voz (volume e velocidade) para
que as crianças possam entender e para dar colorido/dinamicidade à
narrativa. Ainda, a tonalidade foi destacada por Dohme (2000), mostrando
que alguns estereótipos ajudam na compreensão do texto. Ou seja,
meninas com fala mais aguda, quer dizer, pode-se falar mais “fininho”; já
quando a história trata de ursos, por exemplo, fala grossa ou grave. Se se
trata de fadas, um falar adocicado; e se for bruxas, voz aguda e estridente,
etc., mas todas essas diferentes tonalidades que a história exige carecem
de atenção do contador de histórias para manter a característica de cada
personagem.
46
O vocabulário também merece atenção, pois, quando se trata de
crianças, muitas vezes não conhecem algumas palavras, e se isso ocorrer,
a comunicação não acontecerá efetivamente, já que se não entender uma
palavra, não conseguirá compreender a frase, o que acarretará, talvez, em
perda de fatos importantes e do “rumo” da história, acabando por levar ao
desinteresse pela história que está ouvindo/vivenciando. Dessa forma, o
que facilita o entendimento é explicar de outra forma, com outras palavras,
o que já foi dito.
Além da voz, a próxima contribuição relacionada à contação de
histórias, destacada pela autora, é a seleção do repertório. Ao preparar a
seleção de narrativas, devem-se conhecer os interesses e o estágio
emocional em que as crianças se encontram, de acordo com a sua idade.
O professor precisa adequar a temática ao nível de amadurecimento da
criança.
Para se fazer essa seleção, é imprescindível considerar as fases da
criança, já citadas no item 2.1.2. Vania Dohme (2000) divide as fases em
prémágica e mágica. Na fase pré-mágica indica narrativas com enredos
simples e atraentes, com muito ritmo e repetição. Afirma que as crianças
preferem histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza
(humanizados), histórias de crianças. Enquanto na fase mágica as crianças
preferem histórias de repetição e acumulativas, histórias de fadas. Nessa
fase gostam do ouvir várias vezes a mesma história, e como já sabem o
que vai acontecer, apegam-se em detalhes.
A pesquisadora embasa-se, também, em Barcello (1995), pois sua
contribuição em muito auxilia a entender como devem ser preparadas as
contações de histórias: “necessário se atentar para que a narrativa não
fique tão curta que deixe, nos ouvintes, uma sensação de falta, nem tão
longa que as crianças percam o interesse no seu decorrer” (BARCELLO,
1995, p. 49). Acrescenta, ainda, que a história em si não deve ultrapassar
quinze a vinte minutos. Somando-se as técnicas já apontadas, aparece a
preparação do ambiente, que para melhor resultado da atividade deve
acontecer com os alunos sentados em semicírculo, para que vejam o
narrador e o material usado na contação. Quando o momento de contação
47
ocorre na escola, o livro escolhido com cuidado e carinho pelo contador
para que o resultado seja o melhor possível.
Além disso, Barcello (1995), afirma que, ao contar as histórias, o
professor pode valer-se da técnica tradicional: voz e expressão corporal do
narrador, e as crianças gostam muito, uma vez que desenvolvem a
imaginação; assim como se podem usar recursos visuais criativos, como
imagens, gravuras, dobraduras, etc. Aponta, ainda, o teatro como uma
ótima forma de contar histórias (teatro de sombras, fantoches ou bonecos
de dedo, vara, bonecos de luva, sacos de papel, bonecos confeccionados
com materiais recicláveis, etc.).
A partir desse momento, passaremos a apresentar algumas
sugestões de trabalhos com três histórias infantis, para se trabalhar
primeiramente com os alunos do Curso Normal do Ensino Médio para que
aprendam e desenvolvam técnicas voltadas a contação.
3.2 Análise da obra O Aniversário do Seu Alfabeto
Como já mencionado, ouvir histórias é muito mais que passa tempo,
é momento de sentir emoções importantes, como a tristeza, a raiva, o
medo, a alegria, etc., além da escuta de histórias e a leitura ser essencial
para a formação cultural e social.
O Livro O Aniversário do Seu Alfabeto, de Amir Piedade, possibilita
às crianças, de forma lúdica, o contato e aprofundamento com o
letramento.
A leitura é uma maneira de se aprender o que é escrever e qual a forma correta das palavras. Para conseguir esse objetivo da leitura é preciso planejar as atividades de tal modo que se possa realizar o que se pretende. A leitura não pode ser uma atividade secundária na sala de aula ou na vida, uma atividade para a qual o professor e a escola não dedicam mais que alguns míseros minutos, na ânsia de retornar aos problemas da escrita, julgando mais importantes. (CAGLIARI, 1994, p. 173)
Ao professor, cabe mediar situações de aprendizagem realmente
relevantes, que envolvam a leitura, compreensão oral e escrita, produção
textual e oralidade através da história, sempre relacionando os fatos da
48
história com vivências do cotidiano. Também se deve permitir ao aluno dar
sua opinião sobre os fatos e atitudes dos personagens.
Como a história trata de todas as letras do alfabeto pode ser
utilizada para que o aluno assimile e sistematize o uso das letras do
alfabeto, desenvolvendo o processo da escrita. Ainda, é possível trabalhar
com o aluno esta história para que ele conheça palavras novas,
enriquecendo o vocabulário, perceba que palavras diferentes variam
quanto ao número e ordem das letras. Importante também, posto que a
partir dela pode-se conhecer e aplicar corretamente a separação de
sílabas dos RR e SS, assim como o P e B. Outra atividade que pode ser
desenvolvida é relacionar cada letra ao presente dado ao seu alfabeto.
O livro de Amir Piedade apresenta as letras do alfabeto uma a uma
em um texto envolvente que permite e estimula a construir e a reconstruir o
nosso saber fazer. A história trata de como foram feitos muitos
preparativos, todas as deliciosas comidas para a festa, para receber os
elegantes convidados. Nesta História, cada letra levava um presente ao
aniversariante, o Seu Alfabeto.
E tudo ocorria bem, até que chegaram os gêmeos SS e RR e aprontaram
uma grande confusão.
Os irmãos SS e os irmãos RR chegaram quando a festa estava
no auge. Os gêmeos SS levaram um par de sapatos de couro
(artificial, bem entendido) e os irmãos RR, um relógio de ouro. Na hora de entregar o presente, nem os SS nem os RR queriam
dizer que era dos dois. Cada um dizia que o presente era
somente seu. Começaram a discutir. Partiram para o tapa. Foi uma briga danada na frente do Seu Alfabeto. Qualquer briga
é triste; de irmãos, pior ainda. Brigaram de não se largar. Era
puxão de cabelo para cá, soco para lá. A esposa do Seu Alfabeto, irada, mandou chamar Dona
Delegada Separação de Sílabas, que os levou presos,
colocando-os em sílabas celas separadas. Tanto os gêmeos SS quanto os RR não podem ficar na mesma
sílaba cela, senão acabam brigando. (PIEDADE, 2015).
Partindo do texto, o professor pode trabalhar todo o alfabeto e
também, a separação de sílabas. Ademais, conforme solicitam os PCNs,
sempre deve-se trabalhar de maneira interdisciplinar com as matérias, por
49
isso, esse livro pode iniciar esse processo, uma vez que o professor
poderá diferenciar, num primeiro momento, letras e números.
Posteriormente, trabalhar valores, tendo em vista que entre
presentes, materiais palpáveis, que alguns convidados levaram, outros, por
sua vez, levaram presentes muito especiais, que não são possíveis, na
realidade, de se entregar em uma caixa de presentes, como um pacote
cheio de alegria, além disso, outro valor a ser discutido, envolve a briga
entre SS e RR. Somando-se a tudo isso, também não se pode deixar de
explicar a simbologia do dar presente quando alguém está de aniversário.
Trabalhar os valores vai muito além de “uma lição de moral”, tendo em
vista que a leitura é um processo de compreensão do mundo e, através dessa
compreensão/interpretação a criança interage com os outros, pois a leitura,
nesse primeiro momento introduzida pela contação de histórias, mune o aluno
de recursos para representar o mundo e para se expressar.
Imagem 1:Capa do livro O aniversário do Seu Alfabeto, Amir Piedade,
2015.
50
O Aniversário do Seu Alfabeto, de Amir Piedade (2015) trata-se de
uma obra repleta de ilustrações muito coloridas e divertidas. Nela o
ALFABETO é apresentado através de uma narração que conta a história
de cada letra do alfabeto através de um texto muito interessante, pois cada
convidado da festa, ou seja, as letras, passam a ser as personagens.
A história O aniversário do Seu Alfabeto, conta que todas as letras
receberam um convite muito importante: O senhor Alfabeto fará aniversário e
todas estão convidadas. As letras ficaram em polvorosa, cada um tratou de
providenciar um presente especial que lembrasse a sua letra. No grande dia, no
grande salão de bailes do Clube da Alfabetolândia, as letras iam chegando,
umas iam sozinhas, outras em grupo. Todas vestidas com muita elegância e
levando seu presente. Os presentes oferecidos ao aniversariante estão
relacionados às iniciais das letras.
Fonte: https://linguagemeafins.blogspot.com.br/2013/03/o - aniversario - do - seu - alfabeto - estimulos.html , 2016.
51
É possível fazer relação da história com a vida real, posto que na festa
também ocorre um pequeno desentendimento na entrega dos presentes onde
são apresentadas as regras gramaticais SS, RR, desencadeando uma confusão,
resolvida de forma lúdica.
A obra estimula a reflexão e cria situações de aprendizagens prazerosas,
podendo ser trabalhados vários outros assuntos, como ética, pluralidade cultural,
e alguns temas locais que envolvem os próprios alunos.
Em se tratando de Curso Normal, os professores devem ter como meta
que a Literatura Infantil é uma grande aliada no processo de ensino
aprendizagem. O professor deve complementar as suas aulas com a elaboração
de projetos, cirandas culturais, teatros e outras para que suas aulas se tornem
atrativas, instigantes valorizando a criatividade do texto literário com a
associação prática de seus alunos.
Ainda em se tratando de iniciação ao letramento, mais especificamente, à
escrita, o livro permite apresentar, um motivo que talvez, de início, lhes seja mais
convincente e de fácil memorização, do porquê sempre antes de P e B coloca-se
M. Vejamos:
Depois desse lamentável episódio, cantaram parabéns, deram
abraços e beijos, e foi cortado o bolo com velinhas. O M, muito
apressado, correu para cumprimentar Seu Alfabeto, mas
escorregou caindo como rosto em cima do bolo. Foi uma risada geral. Somente o P e o B não riram e correram
para limpar-lhe o rosto. O M, envergonhado, rompeu laços com as outras letras e disse que, a partir daquela festa, só andaria na frente do P e do B para protegê-los, porque eles eram amigos verdadeiros. (PIEDADE, 2015).
3.2.1 Proposta de dinâmica com a obra O Aniversário do Seu Alfabeto
Uma sugestão prática para se trabalhar o Livro O Aniversário do
Seu Alfabeto é que o professor combine com seus alunos para que cada
um traga algo relacionando a cada letra do alfabeto. O professor levará um
bolo e poderá confeccionar um Boneco colando neles letras do Alfabeto.
Este será o personagem para realização de uma festa surpresa com seus
alunos.
52
Para dar início à festa, o professor organizará sua sala de aula como
se fosse para uma festinha de aniversário. Os alunos serão convidados a
participar da brincadeira, o Boneco Aniversariante, poderá ser utilizado
como um fantoche e irá contando a história e os alunos de acordo com as
letras do alfabeto entrarão na festa, para a grande confraternização. Em
seguida o professor cortará o bolo e distribuirá aos alunos para juntos
confraternizarem. O final da aula poderá ser utilizado como um seminário
onde os alunos relatarão o que acharam da atividade.
Como lembrança do aniversário a professora poderá distribuir um
livro, onde cada página possui uma letra onde os alunos deverão colar
figuras relacionadas à mesma e escrever palavras avulsas utilizando a
mesma letra.
Imagem 2: Prática 1: O Aniversário do Sr. Alfabeto – Parte I
53
Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2016.
Imagem 3: Prática 1: O Aniversário do Sr. Alfabeto – Parte II
Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2016.
54
3.3 Análise da obra Menina bonita do laço de fita
Imagem 4:Capa do livro Menina Bonita do laço de Fita, Ana Maria
Machado, 1986.
Fonte: www.livrariacultura.com.br/p/menina-bonita-do-laco-de-
fita15016154, 2016.
Outra obra interessante trabalhada é a Menina bonita do laço de fita,
de Ana Maria Machado, publicada em 1986. Essa história constrói os
discursos relacionados à consciência negra, ao conceito de beleza e ao
respeito às diferenças.
55
O livro fala sobre uma menina negra. A sua mãe fazia trancinhas em
seus cabelos, amarrando-as com fitas coloridas. Na história, ela não é
apresentada como discriminada, como muitas pessoas negras na vida real.
A menina tinha um coelho amigo que a admirava muito, e perguntava
sempre como ela fazia para ser preta. E a menina inventava: cair na tinta
preta, tomar muito café, comer muita jabuticaba... e a menina já não sabia
mais o que inventar. O coelho tentava ficar da cor da menina e não
conseguia.
A mãe ouvindo, explicou que era arte de uma avó preta. A menina
entendeu e aconselhou o coelhinho a ter filhos com uma coelha preta que
ele amasse, pois assim teria filhos de raças diferentes, tantos brancos
como pretos. Mas só teve uma coelhinha pretinha, pois os outros eram
malhados, preto listrado com branco, branco listrado com preto.
Cada vez que a coelhinha saia de laço colorido no pescoço, todo
mundo perguntava: coelha bonita do laço de fita qual é o teu segredo para
ser tão pretinha? E ela respondia: São os conselhos de minha madrinha.
O livro é muito interessante de ser trabalhado, posto que cabe aos
educadores/professores transformar conceitos e mentalidades enraizados.
E acreditamos que através da literatura infantil podemos construir um jogo
mágico de fantasias e de realidade com o objetivo de contribuir no
processo da formação humana, na construção da identidade, da diferença
e do pensamento da criança na sociedade a qual está inserida. A
identidade é produzida em momentos particulares, no nosso dia a dia e
uma identidade é sempre produzida em relação as outras.
No livro Menina bonita do laço de fita há uma forte relação familiar
da menina com a sua mãe e com sua avó, demonstrando uma identidade
forte e marcante para elas, tornando-as mulheres com uma autoestima
elevada, em que a diferença de cor não é manifestada nem pela mãe nem
pela menina e ambas demonstram felicidade e muita alegria em fazer parte
desta família, no momento em que a mãe, com gestos de ternura e afeto,
resolve lhe contar a sua história familiar.
A menina não sabia e já ia inventando Outra coisa, uma história de feijoada,
56
Quando a mãe dela, que era uma Mulata linda e risonha, resolveu se Meter e disse: - Artes de uma avó preta que ela
tinha... Aí o coelho – que era
bobinho, mas Nem tanto – viu que a mãe da menina
Devia estar dizendo a verdade, Porque a gente se parece sempre é Com os pais, os tios, os avós e até com
Os parentes tortos. (MACHADO, 1986, p.
14-15).
Na obra Menina bonita do laço de fita, Ana Maria Machado aborda
de uma maneira sutil a diversidade étnico-cultural brasileira, contribuindo
para as crianças adquirirem valores de respeito próprio e para com o
próximo, elevando a autoestima das crianças negras, propondo uma
desconstrução e uma descentralização do sujeito branco. Objetiva-se
também questionar o padrão vigente, cujo modelo privilegia apenas o
branco, como alguém que tem o poder e deve ser copiado.
Ao se fazer uma análise do livro infantil Menina bonita do laço de
fita, percebe-se que trata do rompimento de padrões de beleza contidas
nas histórias infantis clássicas, como a história da Branca de Neve, onde a
personagem é valorizada pela beleza da sua pele branca. Desde o
descobrimento do Brasil, o nosso país vive uma triste realidade cheia de
preconceitos e discriminação, entendendo essas atitudes como criações
sociais e culturais. As nossas escolas tentam buscar a igualdade e o
respeito às mais diversas pluralidades étnicas, abordando temáticas como
o tema cultura afro-brasileira, valorizando a sua diversidade, como tema
transversal, tema obrigatório no ensino de história afrobrasileira através da
história, literatura e artes, conforme a Lei 10.639/2003 e a Lei 11.645/2008.
O costume de transmitir histórias, acontecimentos, mitos, contos,
poesias, versos e biografias usando a sua língua como forma de
expressão, que existente até hoje em muitos grupos formados por
descendentes destes povos, muitos conhecimentos são transmitidos de
geração em geração fazendo com isso que seus usos e costumes, enfim,
sua cultura, não seja esquecida pelas crianças e jovens.
57
No Livro Menina bonita do laço de fita se faz evidência este
momento, a mãe pega a menina no colo e resolve contar-lhe a história de
sua família.
Este gesto da mãe deixa de maneira clara que as palavras da
mesma são para a menina uma história verdadeira de pura sinceridade,
deixando de lado qualquer mal-entendido que por ventura a menina tivesse
em seus pensamentos infantis e inocentes. Estas palavras da mãe também
enfatizam o papel marcante da mulher na constituição familiar na cultura
africana.
A literatura infantil contribui muito para o processo de formação
cognitiva da criança, fantasiando de forma lúdica a sua realidade,
buscando conhecimento para si própria, dos demais e do mundo que a
cerca através de questionamentos referentes às histórias ouvidas e
contadas. Nessas trocas de ideias as crianças vão adquirindo consciência
do mundo em que vivem, descobrindo novos fatos e acompanhando a
evolução da história do seu povo.
Ana Maria Machado, neste livro, também valoriza a relação de
amizade entre os personagens da história a menina e o coelhinho, a
autoestima e inocência da menina negra que dá várias sugestões para o
coelho tentar ficar pretinho como ela, contribuindo com isso para a
igualdade de beleza de uma forma carinhosa e amorosa entre os seus
diálogos, sem nenhum tipo de constrangimento ou pensamentos negativos
entre ambos os personagens.
Por meio do diálogo que o coelhinho teve com a mãe da menina, ele
notou que a diferença de cor, de raças é que somos parecidos com os
nossos antepassados, nossos familiares, “viu que a mãe da menina devia
estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre com os
pais, os tios, os avós [...]”. (MACHADO, 2000, p. 16)
E quando a coelhinha saía, de laço Colorido no pescoço, sempre Encontrava alguém que perguntava: - Coelha bonita do laço de fita, qual é Teu segredo pra ser tão pretinha?
58
E ela respondia: -Conselhos da mãe da minha
Madrinha... (MACHADO,2000,
p.23).
Diz Hall (2000, p. 112) que, “a identidade da pessoa é formada na
interação entre o eu e a sociedade. As identidades são construídas por
meio da diferença e não fora dela, considerando, pois, as identidades
como pontos de apego temporário às posições-de-sujeito que as práticas
discursivas constroem para nós”.
Na obra Menina bonita do laço de fita mostra que o coelhinho
ficava admirando e mantinha uma amizade com a menina e contemplava a
sua beleza que era muito diferente da sua.
O coelho achava a menina a pessoa mais linda que ele tinha
Visto em toda a sua vida. E pensava: - Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda
Que nem ela... (Machado, 2000, pg. 07)
A partir do estudo realizado na obra Menina bonita do laço de fita, foi
possível destacar a identidade e a diferença existente no texto, onde o
mesmo apresenta uma riqueza de detalhes como a diversidade étnico-
cultural brasileira, valores de respeito próprio e para com os outros,
amizade, simplicidade, atitudes bondade e outros. Nessa história é
possível se trabalhar vários assuntos, pois, a mesma possibilita uma vasta
abrangência de detalhes que poderão ser pontuados de acordo com o
trabalho desejado e as circunstâncias do mesmo.
3.3.1 Proposta de dinâmica com a obra Menina Bonita do Laço de Fita
Menina bonita do laço de fita é uma história prazerosa para tratar de
questões étnicas com crianças, pois trata da beleza negra com muita
delicadeza e simplicidade, com linguagem suave, que, com certeza, vai
encantar as crianças e possibilitar reflexões sobre as questões raciais,
afetivas, familiares e as diferenças de cor.
59
Alguns recursos materiais que deverão ser utilizados são: o livro
Menina Bonita do laço de fita, uma boneca grande da menina, papel metro,
cola, pincel, jornais, revistas, encartes, tesoura.
A professora organiza uma roda de conversa para iniciar a ler o
livro; fala sobre a autora da história. Durante a leitura pode ocultar as
gravuras e instigar a curiosidade nas crianças. Quem vai contando a
história é a Menina “boneca”, confeccionada previamente, em tamanho
grande, quase do tamanho das crianças. Depois mostrar a capa do livro
para as crianças, fazendo questionamento sobre a ilustração. A cor da pele
da menina, o cabelo...
Falar sobre as características que herdamos de nossos pais, das
particularidades de cada um, cor, estatura, cabelos, lábios... Saber,
portanto, das diferenças que muitas vezes são herdadas dos nossos
familiares. Esclarecer para as crianças que todos têm em sua origem, uma
história.
A “boneca” da menina bonita deverá ficar durante toda a aula com
eles, e deverá estimulá-los a notar as diferenças cada um possui em
relação ao outro, sendo cada diferença um marco de beleza individual.
Como encerramento da contação de histórias, pode-se construir um
painel com fotos que apareçam pessoas de várias cores, com o título:
VIVA AS DIFERENÇAS!
Imagem 5: Prática 2 – Menina Bonita do laço de fita– Parte I.
60
Fonte: acervo pessoal da autora, 2016.
Imagem 6: Prática 2 – Menina Bonita do laço de fita – Parte II.
62
Imagem 7: Capa do Livro O sanduíche da Maricota (2000), Avelino
Guedes.
Fonte: Imagem da internet, 2016.
Outro livro que citamos como importante de ser trabalhado com as
crianças é O Sanduíche da Maricota, publicado em 2000, por Avelino
Guedes.
A galinha Maricota preparou um sanduíche: pão, milho, quirera e
ovo. Mas quando ia comer, a campainha tocou. Muitos animais, aos
63
poucos começaram a aparecer e palpitar nos ingredientes que Maricota
deveria colocar em seu sanduíche.
Maricota ficou brava, mandou todo embora, jogou fora o sanduíche
e começou novamente; pão, milho, quirera e ovo. Como era pra ter sido.
A brincadeira acabou quando a raposa Celinha olhou bem para a Maricota e falou: “Falta galinha”. Maricota ficou brava: “Fora daqui, minha gente!”. – Jogou fora o
sanduíche e começou novamente: pão, milho, quirera e ovo.
Como era para ter sido. Quem quiser que faça o seu com o
recheio preferido. (GUEDES, 2000).
Com o livro “O sanduíche da Maricota”, o faz de conta surge
naturalmente, por isso, ao ser trabalhado com crianças, elas poderão
mergulhar num maravilhoso mundo da imaginação, descobrindo
personagens e situações que fazem parte ou se parecem com as suas
vivências. Ao contar essa história também é preciso ter claro que a leitura
é praticada para desenvolver inúmeras possibilidades: passar uma
mensagem, um valor, outrossim, para criar o prazer de ouvir, além de
trabalhar a fantasia, também a concentração e ampliar o vocabulário, e
tudo isso estimulará o gosto pela leitura.
Sobre este livro, Debora Frigotto Henrique desenvolveu sua
monografia de conclusão final de curso, intitulado Jogo de Narrar “O
Sanduíche da Maricota”: prática de oralidade na Educação Infantil. A
autora trata das produções linguísticas orais de crianças, partindo da
interação com livros de literatura infantil, nesse caso, especificamente, O
sanduíche da Maricota, buscando identificar quais são elas e compreender
como se constituem como práticas de letramento na relação com
professora e colegas. O Trabalho de Conclusão de Curso utilizou alguns
conceitos acerca da aquisição da linguagem para
Realizar uma análise contextual e cultural das produções
linguísticas, desligando-se, assim, da classificação das crianças
em etapas ou níveis de desenvolvimento da linguagem oral e
utilizando os estudos do letramento para buscar compreender
como essas produções ocorrem a partir de momentos
proporcionados por contações de história (HENRIQUE, 2010, p.
14).
64
No trabalho, Henrique (2010), descreve como aconteceu a interação
e de que maneira o livro pode contribuir para a ampliação do conhecimento
e, consequentemente, no letramento das crianças.
Este livro permite ao professor, além de estimular a escuta, a leitura,
compreensão do texto, interpretação, trabalhar com alimentação, focando
alimentação saudável, caso a escola contar com nutricionista, o resultado
do trabalho será muito bom, e com a matemática.
Sabedores que somos da importância de colocar à disposição dos
alunos textos variados que possibilitem o acesso a diferentes linguagens,
Sawulsk (2002) diz:
Faz-se necessário que o professor introduza a literatura infantil
na sua prática pedagógica de cunho formativo, que contribui
para o crescimento e a identificação pessoal da criança,
propiciando ao aluno a percepção de diferentes resoluções de
problemas, despertando a criatividade, a autonomia e a
criticidade, que são elementos necessários na formação da
criança em nossa sociedade atual.
O livro ora explorado possibilita trabalhar com a alimentação,
fazendo com os discentes diferentes sanduíches, apresentando-lhes
componentes saudáveis. Nesse momento, a matemática também pode ser
trabalhada, apresentando-lhes os números ordinais, já que para se compor
um sanduíche há uma ordem em que os componentes devem ser
colocados.
3.4.1 Proposta de dinâmica com a obra O Sanduíche da Maricota
Como sugestão de atividade para a contação dessa história: Levar
as crianças para um espaço apropriado e realizar um momento de
contação de histórias, pois a mesma é uma excelente aliada para poder
trabalhar a questão da alfabetização com a exploração de letras e sílabas
iniciais, além de sugerir os mais variados tipos de possibilidades de se
montar um sanduíche.
65
Nesta questão podemos trabalhar a alimentação saudável e
aquisição de hábitos saudáveis, para podermos ter uma saúde de
qualidade, possibilidade de compartilhar com as crianças o que elas
apreciam em seus sanduíches e com isso realizar trocas de receitas
escritas entre as crianças para que as mesmas possam vivenciar as mais
diversas formas de montagem de um sanduíche, variando desde os tipos
de pães até os ingredientes que compõem os mesmos.
A(o) professor(a) pode confeccionar um cartaz com os ingredientes
da história, e realizar um lanche diferente com seus alunos levando-os ao
refeitório e junto com as crianças montar um sanduíche especial,
lembrando os ingredientes do sanduíche da Maricota, e ponderando que
eles poderiam fazer parte do lanche ora montado. A(o)docente deve
incentivar novas ideias de montagem de sanduíches e juntos discutir os
alimentos que mais gostam, suas propriedades nutritivas.
Depois dessas atividades o professor pode realizar várias atividades
escritas em sala de aula utilizando a escrita da história para ampliação da
escrita com exploração das palavras utilizadas no texto.
Podemos também levar revistas e livros velhos para recorte onde as
crianças poderão utilizar gravuras para montar seus sanduíches. Outra
sugestão é a utilização de massa de modelar para que as crianças montem
em pratos descartáveis seus sanduíches. Com alunos já alfabetizados
podemos construir um pequeno livrinho de receitas de Sanduíches para
presentear suas mães.
Imagem 8: Prática 3 – O sanduíche da Maricota – Parte I.
67
CONCLUSÃO
O trabalho que vai se findando teve como foco a importância da
leitura infantil na formação, tanto do pequeno leitor, quanto do aluno de
nível médio que será professor no ensino básico, propondo sugestões de
práticas de leituras através da contação de histórias, deixando ideias de
propostas que possam ser utilizadas em escolas de Educação Infantil,
séries iniciais e pelos alunos do Curso Normal em Nível Médio.
É mister a necessidade de se repensar a prática de leitura na
escola, enfatizando a necessidade da leitura como processo lúdico e
prazeroso. Assim, este trabalho buscou através da pesquisa, e por já
constatar a problemática encontrada na formação de leitores neste nível de
ensino, possibilitar buscas de alternativas possíveis para aplicação e
resolução das deficiências encontradas. Uma das alternativas aqui
apresentadas foi a Contação de Histórias.
Buscou-se este recurso de aprendizado para mostrar a importância
de o professor procurar alternativas metodológicas para despertar no
aluno, desde muito cedo, o prazer pela leitura e a prática com os textos.
Partindo desta ideia, fez-se sugestões de práticas de leitura para que os
futuros professores realizem nas escolas momentos prazerosos de trocas
de conhecimento a partir das obras lidas, proporcionando o saber com
prazer para o enriquecimento intelectual dos alunos. Além disso,
apontamos sugestões de obras infantis que levem a despertar o gosto e
interesse pela leitura.
Ao se montar ideias para práticas de contação de histórias,
percebeu-se que, para realizar a leitura da história, é preciso que vários
fatores sejam considerados e ensaiados, a contação precisa ser
preparada/pensada, desde a história escolhida, a maneira como se quer
contar, o tom de voz e os materiais que serão utilizados para,
posteriormente, analisar e preparar o espaço em que acontecerá.
Ao trabalhar contação de história, estimula-se aos alunos do Curso
Normal (magistério), a entenderem que ao pensarem na história que
68
contarão aos seus alunos, estarão influenciando o desenvolvimento
cultural e a personalidade da criança, além de estarem promovendo o
gosto pela leitura, já que a Contação proporciona à criança a “viajar na
imaginação” tornando-a mais sensível e criativa, o raciocínio lógico,
colaborando para a construção da ética e da cidadania nas crianças.
Por meio da contação de histórias, os alunos se identificam com os
personagens, constroem valores morais e éticos, de autoconhecimento e
reflexão, fator essencial há ser desenvolvido por todo professor de séries
iniciais, tendo em vista que na sociedade atual há pouco incentivo ao uso
da criatividade, quer dizer, pouco se cria, tudo já está pronto. A tecnologia
faz com que informações, dados, etc. circulem em grande velocidade,
videogames, tabletes, computadores, celulares, fazem parte do cotidiano
das crianças deixando tudo ao alcance de um toque, sem esforço ou
necessidade de pesquisa e criatividade. E é esse o grande desafio da
escola hoje, suprir a falta de estimulo à criatividade.
Nesse contexto, torna-se, a contação de história, de extrema
relevância para o processo de ensino e aprendizagem, uma vez que, ao
ouvir a história, a criança a interpreta e assimila com seu cotidiano. Ainda,
a contação de histórias permite a contextualização do conteúdo escolar de
uma forma prazerosa e dinâmica.
Ouvir/contar histórias é dispor ao aluno o acesso à leitura que talvez
ele não tenha em outro lugar que não a escola, talvez não por falta de
condições financeiras. Aluno que lê desenvolve um vocabulário mais rico, é
mais curioso e criativo, ademais, articula melhor suas ideias.
Partindo desses pressupostos, percebe-se o quão necessário se faz
o ato de escutar histórias, já que contribui para que a criança seja um bom
leitor e ouvinte, proporcionando um caminho repleto de descobertas e de
compreensão do mundo.
Portanto, a prática de contação de histórias é uma estratégia de
ensino interdisciplinar que proporciona a interação do aluno com diversas
culturas, tempos e espaços.
[...] é através de uma história que se podem descobrir outros
lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra
69
ética, outra ótica. É ficar sabendo de História, Geografia,
Filosofia, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e
muito menos achar que tem cara de aula. (ABRAMOVICH,
1995, p.17)
O contato com a literatura auxilia a formação integral da pessoa, já
que sensibiliza para a formação de caráter, raciocínio, criatividade, senso
crítico, e respeito. Auxilia aos educadores, em alguns casos, em mudanças
comportamentais, pois ajuda as crianças a compreenderem as mensagens
das fábulas, contos e algumas histórias.
Uma das funções da escola é desenvolver na criança o hábito da
leitura. Estimular o gostar de ler se faz através de dois fatores: a
curiosidade e o exemplo. Na idade da pré-escola é de grande importância
trabalhar com a criança a formação de sua identidade, hábitos, atitudes e
valores, como também ajudá-la a encontrar respostas em relação a ela
mesma, ao mundo e à realidade.
As crianças têm uma maneira própria de ver o mundo, misturando
fantasia e realidade, por isso na Educação Infantil, as narrativas têm
fundamental relevância pelo seu caráter lúdico e sua capacidade de
provocar momentos de interesse e concentração nos pequenos ouvintes.
Sobre a magia da leitura, Eugenio Cunha (2013, p.41) diz:
“Enquanto o leitor explora o mundo da linguagem pela descoberta das
palavras, o não leitor o explora pela descoberta das imagens”. Ao ouvirem
histórias, os alunos interagem ativamente, querem perguntar, criticar,
elogiar, ampliando sua capacidade de comunicação e se posicionando
diante das situações. Além disso, como lembra Coelho, “a história aquieta,
serena, prende a atenção, informa e socializa” (2010, p. 29).
[...] utilizar-se da literatura como veículo de informação e lazer
promove a formação de um indivíduo mais capaz de
argumentar, de interagir com o mundo que o rodeia e torna-se
agente de modificações na sociedade em que vive (GREGÒRIN,
2009, p. 51).
O presente trabalho não tem a pretensão de tratar de verdade
absolutas, mas, sim, de ser mais um a instigar buscas que ampliem o
70
conhecimento sobre o mundo da contação de histórias e da sua importância
para o desenvolvimento da criança.
71
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