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Universidade Federal de Campina Grande Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 1 ANAIS ELETRÔNICOS ISSN 235709765 CONTATO DIALETAL: DISCUSSÕES INICIAIS DO FALAR PARAIBANO EM SÃO PAULO 1 Mikaylson Rocha da Silva (UFPB/PROLING) Almir Anacleto de Araújo Gomes (UFCG/PROLING) Ramísio Vieira de Souza (UFPB/PROLING) RESUMO Este trabalho se propõe investigar o processo de acomodação linguística entre variedades do português brasileiro de falantes paraibanos em São Paulo. Buscamos compreender como os falantes, em contato com outra variedade linguística, assimilam novos traços fonético-fonológicos, lexicais e discursivos, bem como levando em consideração ao estudo da acomodação linguística, se há fatores exógenos que corroborem ao processo de convergência linguística também presentes em atitudes linguísticas positivas em relação à nova variedade. Durante a pesquisa, alguns fenômenos fonológicos nos permitirão verificar os efeitos da acomodação: a (não) palatalização da coronal /s/ anterior às oclusivas dentais surdas e sonoras /t/ e /d/. Serão também analisadas as variáveis estilísticas, sociais e atitudinais dos falantes para compreender a incidência do fenômeno estudado. Acreditamos que a variável atitudinal pode corroborar ao fenômeno estudado, pois, consoante às perspectivas de Fernández (1998), as atitudes negativas podem retardar o processo de acomodação entre dialetos. A metodologia que norteia este estudo é do tipo qualitativa-quantativo e para dar conta do controle quantitativo das variáveis, foi utilizado o programa estatístico GoldVarbX (SANKOFF; TRAGLIAMONTE e SMITH, 2006). Finalmente, para dar forma à discussão proposta que compõe o corpus, a pesquisa está baseada em pilares teóricos que se complementam: a Teoria da Variação Linguística LABOV, (1966; 1972; 1983); LABOV et al, 2006 [1968]; LABOV, 2008 [1972]), Teoria da Acomodação (GILES et al, 1973; GILES, 1977; GILES et al, 2010 [1991]) e considerações sobre as atitudes linguísticas (LAMBERT, 1967; GILES et al, 2010 [1991]) e COUPLAND (2007). Palavras-chave: Contato dialetal. Acomodação linguística. Atitudes do falar paraibano. 1 Esse trabalho é uma discussão em andamento do gênero Dissertação de Mestrado, orientado pelo Professor Dr. Rubens Marques de Lucena, pelo Programa de Pós-graduação em Linguística (PROLING UFPB).

CONTATO DIALETAL: DISCUSSÕES INICIAIS DO FALAR …2015.selimel.com.br/wp-content/uploads/2016/03/Mikaylson-Rocha-gt... · falante quanto às variedades de uma língua. Falantes mais

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CONTATO DIALETAL: DISCUSSÕES INICIAIS DO FALAR PARAIBANO EM SÃO PAULO1

Mikaylson Rocha da Silva (UFPB/PROLING) Almir Anacleto de Araújo Gomes (UFCG/PROLING)

Ramísio Vieira de Souza (UFPB/PROLING)

RESUMO

Este trabalho se propõe investigar o processo de acomodação linguística entre variedades do português brasileiro de falantes paraibanos em São Paulo. Buscamos compreender como os falantes, em contato com outra variedade linguística, assimilam novos traços fonético-fonológicos, lexicais e discursivos, bem como levando em consideração ao estudo da acomodação linguística, se há fatores exógenos que corroborem ao processo de convergência linguística também presentes em atitudes linguísticas positivas em relação à nova variedade. Durante a pesquisa, alguns fenômenos fonológicos nos permitirão verificar os efeitos da acomodação: a (não) palatalização da coronal /s/ anterior às oclusivas dentais surdas e sonoras /t/ e /d/. Serão também analisadas as variáveis estilísticas, sociais e atitudinais dos falantes para compreender a incidência do fenômeno estudado. Acreditamos que a variável atitudinal pode corroborar ao fenômeno estudado, pois, consoante às perspectivas de Fernández (1998), as atitudes negativas podem retardar o processo de acomodação entre dialetos. A metodologia que norteia este estudo é do tipo qualitativa-quantativo e para dar conta do controle quantitativo das variáveis, foi utilizado o programa estatístico GoldVarbX (SANKOFF; TRAGLIAMONTE e SMITH, 2006). Finalmente, para dar forma à discussão proposta que compõe o corpus, a pesquisa está baseada em pilares teóricos que se complementam: a Teoria da Variação Linguística LABOV, (1966; 1972; 1983); LABOV et al, 2006 [1968]; LABOV, 2008 [1972]), Teoria da Acomodação (GILES et al, 1973; GILES, 1977; GILES et al, 2010 [1991]) e considerações sobre as atitudes linguísticas (LAMBERT, 1967; GILES et al, 2010 [1991]) e COUPLAND (2007).

Palavras-chave: Contato dialetal. Acomodação linguística. Atitudes do falar paraibano.

1 Esse trabalho é uma discussão em andamento do gênero Dissertação de Mestrado, orientado pelo

Professor Dr. Rubens Marques de Lucena, pelo Programa de Pós-graduação em Linguística (PROLING – UFPB).

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1. INTRODUÇÃO

Embora haja um número significativo de estudos relacionados à atitude

linguística no âmbito acadêmico internacional (LAMBERT, 1967; GILES et al, 2010

[1991]; FERNÁNDEZ, 1998; COUPLAND, 2007), ainda há certa escassez de trabalhos no

que concerne a esse fenômeno nas variedades do português brasileiro. Nos últimos

anos, contudo, pesquisas como as de Lopes (2012), Chacon (2012), Lima & Lucena

(2013), Martins (2008) e dentre outros pesquisadores, propuseram a analisar o

processo de acomodação linguística em falantes do português brasileiro e avaliações

atitudinais de ouvintes nativos quanto às variações linguísticas de outras comunidades

de fala em que esses sujeitos estavam sendo expostos.

Este trabalho se propõe investigar o processo de acomodação linguística entre

variedades do português brasileiro de falantes paraibanos em São Paulo. Buscamos

compreender como os falantes, em contato com outra variedade linguística, assimilam

novos traços fonético-fonológicos, lexicais e discursivos, bem como levando em

consideração ao estudo da acomodação linguística, se há fatores extralinguísticos e

linguísticos que corroborem ao processo de convergência linguística também

presentes em atitudes linguísticas positivas em relação à nova variedade. Durante a

pesquisa, alguns fenômenos fonológicos nos permitirão verificar os efeitos da

acomodação: a (não) palatalização da coronal /s/ anterior às oclusivas dentais surdas e

sonoras /t/ e /d/. Serão também analisadas as variáveis estilísticas, sociais e atitudinais

dos falantes para compreender a incidência do fenômeno estudado.

O presente trabalho se encaixa na linha de pesquisa da sociolinguística

variacionista em contato dialetal e objetiva compreender a acomodação linguística de

falantes paraibanos residentes em São Paulo há pelo menos 2 (dois) anos. Observamos

à luz da Teoria da Acomodação da Comunicação [CAT] (GILES et al., 1987) e nos

aportes teórico-metodológicos da Teoria da Variação Linguística LABOV, (1966; 1972;

1983); LABOV et al, 2006 [1968]; LABOV, 2008 [1972]), Teoria da Acomodação (GILES

et al, 1973; GILES, 1977; GILES et al, 2010 [1991]) e considerações sobre as atitudes

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linguísticas (LAMBERT, 1967; GILES et al, 2010 [1991]) e COUPLAND (2007) alguns

efeitos da acomodação no que tange à realização da fricativa coronal /S/ em posição

de coda silábica medial. A escola do objeto se deve ao fato da variável ser marca

categoricamente pela (não) palatalização nos dialetos de contato. Acreditamos

também que o prestígio encoberto da variável paulistana pode gerar um reforço

favorável à acomodação.

Para a realização desse estudo lançamos hipóteses de que as atitudes

linguísticas (positivas ou negativas) quanto ao dialeto de contato (falar paulista)

podem justificar a acomodação dialetal do seguimento /s/ em posição de coda medial

anterior as oclusivas surdas e sonoras /t/ e /d/. Esperamos ainda que informantes com

maior tempo de exposição ao dialeto alvo possam apresentar maior expectativa à

acomodação da variável em estudo, assim como informantes com baixo nível de

escolarização possam apresentar uma menor acomodação. No que concerne às

variáveis linguísticas independentes acreditamos que o tamanho da palavra,

tonicidade e o contexto fonológico podem militar decisoriamente no fenômeno de

acomodação linguística.

Temos, portanto, uma clara distinção dialetal:

I) Li[s]ta, ca[s]ta, linguí[s]tica (dialeto paulista)

II) Li[ʃ]ta, ca[ʃ]ta, lingui[ʃ]tica (dialeto pessoense)

Por fim, apesar de nossas hipóteses se verticalizarem mais ao inventário

fonético-fonológico através dos dados obtidos, verificamos o lugar ocupado pela

cultura; a condição sócio-histórica e econômica dos nossos informantes e o

movimento simbólico de menor ao de maior prestígio entre as variedades do

português brasileiro. A relevância dessa pesquisa se dá, sobretudo, em tentar

compreender e desmistificar o juízo de valor atribuído às variedades linguísticas. Será

útil também entender que a acomodação precede um juízo e expectativa do sujeito

quanto ao interlocutor, sendo esse juízo mediado pelas forças exercidas na

comunidade de fala alvo.

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2. Estudos em Atitudes Linguísticas

Os estudos em atitudes linguísticas se tornaram cada vez mais relevantes, pois

como bem afirmam os autores Lambert (1967), Fernández (1998), Coupland (2007) e

Giles (et al., 2010 [1992]), as atitudes são aspectos psicossociais expressados pelo

indivíduo de maneira positiva ou negativa, e que corroboram para a convergência ou

divergência no processo de acomodação dialetal.

Considerando as atitudes dialetais como expressão da substância social em

resposta às variações de uma língua, Oliva e Serrano (apud LOPES, 2012, p.26)

argumentam que a variação não pode ser vista “como uma mera série de escolhas,

mais ou menos automáticas realizadas pelo falante”, mas como possibilidades em

detrimento ao impacto que essas escolhas acabam gerando no interlocutor. De modo

geral, a variação está basicamente ligada à escolha linguística de um significado

particular (LOPES, 2012).

Essas pesquisas no âmbito acadêmico brasileiro servem como espelhos e

reforços às contribuições de atitudes na sociolinguística, e como fator extremamente

importante à (não) realização da acomodação dialetal. De todo modo, a Teoria da

Acomodação afirma que a convergência e divergência ao dialeto estão condicionadas a

vários fatores sociais, e dentre eles podemos destacar a concepção de prestígio, bem

como às atitudes do falante diante desta concepção.

Diante disso, Giles et al (2010, [1991] apud CHACON, 2012, p.37) argumenta

sobre o valor simbólico que variáveis linguísticas carregam: “tanto a convergência

quanto a divergência podem ser positivas ou negativas [...]” por estarem ligadas a

questões emocionais. “A convergência se refere a uma mudança em direção a uma

variedade de prestígio, enquanto a divergência, a formas mais estigmatizadas ou

menos valorizadas socialmente”.

Giles et al. (2010) e Gerret (2010) argumentam que as atitudes não podem ser

tomadas como “comportamentos”, mas como possíveis promoções a determinados

comportamentos. São, portanto, segundo o autor, aspectos psicossociais de

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expectativa do sujeito quanto à forma que ele acha mais conveniente em se dirigir a

outrem. Os autores ainda argumentam que as atitudes podem ser “pessoais” e

“públicas”. Nesse sentido, a fronteira entre o público e o privado não são bem

definidas até mesmo pelo jogo das forças sociais. Acreditamos que as atitudes pessoais

ainda perpassam um fio intersubjetivo coletivo do que se espera do sujeito em

determinados espaços sociodiscursivos.

Giles (2010) e Coupland (2007) levantam uma problemática: se as atitudes são

aspectos não necessariamente comportamentais, como elas, de fato, podem militar na

acomodação, que a priori, é um comportamento linguístico? Os autores explicam que

as atitudes têm níveis, podendo ser mais ou bem monitoradas a partir da percepção do

falante quanto às variedades de uma língua. Falantes mais escolarizados e podem

adotar determinadas atitudes, mas elas não são, necessariamente, o resultado da

acomodação, mas da escolha que ele sujeito faz de maneira quase que sempre

insconsciente.

Em estudos sobre contato linguístico, o pesquisador Marques (2006, p.8) já

afirmava que grupos acomodam traços linguísticos por questões migratórias e de ação

comunicativa, e que o menos problemático é saber quem acomoda a quem, visto que

algumas outras forças interiores e exteriores à língua também militam no processo.

A acomodação pode ocorrer também entre sotaques que diferem de regional mais do que socialmente e pode ocorrer tanto em nível de longa duração (long-term) como em nível de curta duração (short-term). Nos contatos de longa duração, quem se acomoda a quem é menos problemático, visto que, na maioria dos casos onde esse fenômeno está ocorrendo, lida-se com contato entre falantes de diferentes variedades regionais e com indivíduos regionalmente móveis ou grupos de minorias que se acomodam, no long-term, há uma maioria não móvel. O problema então é determinar como os falantes se acomodam, a extensão e por que algumas situações e alguns indivíduos produzem mais, ou tipos diferentes de acomodação do que outros. Sendo assim, a acomodação de longa duração é de considerável interesse para o linguista.

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Questões atitudinais na língua também podem ser observadas a partir do

“mercado linguístico”, como já argumentava o sociólogo Pierre Bourdieu (1985) ao

dizer que existe um mercado linguístico em que a competência funciona como capital,

que possibilita um sistema de trocas simbólicas dentro do universo social, e essas

trocas são mediadas por valores arbitrários do uso da língua e da localização de grupos

socialmente providos de estratos “dominantes” daqueles “dirigidos”. Assim sendo, o

poder e o controle fazem as pessoas julgar o lugar do outro (aspecto atitudinal),

condicionando o falante a buscar pistas para acomodar o sotaque à região alvo.

Em nossa pesquisa, observamos à luz do discurso de alguns falantes que houve

uma acentuada desconsideração da falar paraibano, e que o discurso do outro no lugar

da cultura dele acabou reforçando uma predileção atitudinal em relação ao sotaque

paulista para nossos informantes (BHABHA, 1990). Diante disso, ainda consoante às

contribuições sociológicos de Bourdieu (1985), observamos indícios de violência

simbólica, aqui entendidas como um mecanismo que faz com que os indivíduos vejam

como “natural” as representações ou as ideias sociais dominantes. A violência

simbólica é desenvolvida pelas instituições e pelos agentes que as animam e sobre a

qual se apoia o exercício da autoridade.

A força intersubjetiva e opressora que obriga (in)conscientemente alguém a

adotar novas posições, podem ser entendidas como violência simbólica. O acúmulo de

bens simbólicos é transcrito e externalizado em habitus (que nada mais é que uma

reprodução do que os indivíduos incorporam dos capitais sociais, culturais, simbólicos

e econômicos). Acreditamos em nossa pesquisa, que o falante paraibano está num

entrelugar sociodiscursivo, representado por questões identitárias linguísticas que

carregaram durante anos e por questões expositivas, de troca e de (algumas vezes)

violência simbólica numa nova comunidade de fala.

Para Fernández (1998, p.179), a atitude linguística é “uma manifestação

da atitude social dos indivíduos, distinguida por estar centrada e referir-se

especificamente tanto à língua como ao uso que dela se faz na sociedade [...]”.

Atitudes por serem norteadas por um comportamento psicossocial, acaba também

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forjando comportamentos positivos ou negativos, e, às vezes, também indiferentes

quanto à variação. Giles (1982), Coupland (2007) e também Fernández (1998),

acreditam que uma única variável linguística pode ser objeto de atitudes positivas e/ou

negativas, dependendo do grupo e do lugar em que a interação ocorreu. Também foi

observado na pesquisa de Lopes (2012) que a mesma variável gera expectativas ao

interlocutor, portanto, o estilo de comunicação é preponderante na construção

atitudinal.

Chacon (2012) em sua dissertação de mestrado argumentou o papel

verticalizado do poder e fala, como mecanismos de coerção e (re)direcionamento às

atitudes. Chianca (1999, apud CHACON, 2012, p.41) complementa, afirmando que “o

sotaque desempenha uma função identificadora, permitindo reconhecer sociológica e

culturalmente um sujeito falante”. Na voz das autoras, o sotaque é a materialização da

identidade de um povo/indivíduo, e que devido também às trocas interculturais,

intersubjetivas, favorecem o fenômeno aqui em estudo.

Hall (2006) em seu emblemático estudo sobre Identidade Cultural na

Pós-modernidade, já afirmava o valor linguístico nas práticas sociais:

A identidade torna-se uma "celebração móvel": formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. É definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um "eu" coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora "narrativa do eu (HALL, 2006, GRIFOS NOSSOS).

Como exposto, a língua também obedece às questões de localização, tempo e

espaço, e que para Hall (2006, p.78), as identidades estão embrincadas em circuitos de

cultura, onde os sujeitos produzem e consomem a língua. O resultado desse

compartilhamento é a perda das representações, que para o autor, na pós-

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modernidade, as identidades (aqui entendidas como linguísticas) nunca são fixas, mas

são sempre instáveis e em constante modificação.

3. Metodologia

A amostragem utilizada neste trabalho será constituída de 8 informantes

paraibanos que residem há no mínimo dois anos em São Paulo (SP). Após a seleção dos

falantes, elaboraremos um roteiro para a coleta de dados, iniciando com questões

relativas à vida em sua cidade natal, perguntas relativas à infância, à vida escolar e ao

trabalho. Em um segundo momento, realizamos algumas perguntas mais específicas

relacionadas à percepção das diferenças linguísticas entre as duas variantes, para

aferir as atitudes do entrevistado em relação a essa diferença.

Tendo em vista o fato de que o estudo enfoca a acomodação linguística,

trabalhamos com uma variável dependente binária: acomodação x não acomodação.

Serão controladas as seguintes variáveis independentes:

3.1 Variável Dependente:

A escolha da produção do /s/ nessas duas comunidades de fala foi devido à

própria categorização do seguimento, que apesar de diferente, desempenham ainda

funções imbuídas de prestígio social.

a)[S, ʃ]

3.2 Variáveis Dependentes

a) Contexto fonológico precedente: pretendemos com esta variável identificar

os contextos fonológicos precedentes e seguintes que mais influenciarão a

acomodação, controlando-a da seguinte forma: labial, dorsal, coronal, pausa (no caso

do contexto fonológico seguinte) e vogal.

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Foram controlados os seguintes contextos anteriores:

Vogal labial: [ô, ó, u]

Vogal coronal [ê, é, i]

Vogal dorsal [a]

Vogal nasal [on]

b) Tamanho da palavra

Monossílabo

Dissílabo

Trissílabo

Polissílabo

c) Tonicidade: para os autores Trudgill (1972), Labov (1962) e Camara Jr (1969),

a intensidade e acento podem dar pistas ao falante quanto à estrutura da língua.

Tônico

Átono

3.3 Variáveis Extralinguísticas (Sociais)

a) Tempo de residência em São Paulo: de acordo com Marques (2006), o

tempo de residência é uma variável significativa para a acomodação linguística. Para

esta variável, distribuiremos os informantes em dois grupos: de 2 a 3 anos e mais de 10

anos de permanência no Rio de Janeiro/São Paulo.

b) Contato diuturno com falantes paulistas: partimos da hipótese de que o

contato diário mais intenso com paulistas influenciaria efetivamente a acomodação à

nova variedade. Assim, controlamos como variável independente o fato de o

informante residir ou não com paulistas.

c) Contato com falantes paraibanos: com esta variável, nosso objetivo foi

investigar se o contato com falantes paraibanos influenciaria a progressão da

acomodação. Para isso, separaremos os informantes em dois grupos: falantes com

contato com paraibanos e falantes sem esse contato.

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d) Idade: a literatura da área já apontou, desde Labov (1966), a importância da

variável idade para os estudos sociolinguísticos. Nesse sentido, lançamos a hipótese de

que será na população mais jovem que encontraremos menor resistência à

convergência da acomodação linguística. Esta variável foi controlada da seguinte

forma: a) 18-30 anos de idade (dentro do conceito de “adulto emergente”, proposto

por Arnett (2007); b) acima de 30 anos de idade.

e) Sexo: Como se percebe no trabalho de Trudgill (1972, apud WARDHAUGH,

2010, p. 207), devido a diferentes circunstâncias sociais, o lugar ocupado pelo sujeito

pode dizer muito sobre a forma como eles falam. Embora no trabalho do autor houve

uma certa relação do determinismo biológico “ser mulher”, sendo associada à

situações mais “formais” e que as mulheres estavam “acostumadas” a ter a imagem

associada ao “correto”. Em nossa pesquisa, não adotaremos visões maniqueístas,

buscaremos entender, apesar do binarismo “sexo”, quais papeis são exercidos por

esses sujeitos no mundo social, e quais são suas atitudes frente à nova realidade

dialetal.

Todos os fatores selecionados foram controlados anterior à pesquisa para que

não houvesse discrepância em peso relativo ao utilizar o programa estatístico Goldvarb

X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005), utilizado em pesquisas variacionistas.

Contudo, a coleta será realizada em situações de menor monitoração possíveis, ou

seja, em situações reais/ideias de fala.

4. Discussão e Resultados

Para sabermos se os paraibanos estavam acomodando ao falar paulista, no que

se refere ao fenômeno da não palatalização do /S/ em coda silábica medial antes das

oclusivas alveolares [t] e [d], selecionamos todos os fones produzidos nessa posição

silábica em uma situação que favorecia menor monitoração da fala (no caso as

entrevistas), mesmo em vezes o nome entrevista carregasse certo receio ao

informante.

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Gráficos 1: acomodação geral do fenômeno da não palatalização da fricativa /s/

anterior às oclusivas vozeadas e desvozeadas /t/ e /d/.

Os dados apontam um favorecimento ao fenômeno da acomodação dialetal de

paraibanos residindo em São Paulo. Incialmente, observamos que, embora os falantes

selecionados nessa pesquisa apresentassem certa quantidade de anos de exposição, o

que conforme a literatura é uma variável extremamente importante no processo de

acomodação dialetal. No entanto, verificamos também, que além do tempo de

exposição, o fator anos de escolarização poderia atenuar o processo de acomodação.

Os anos de escolarização dão ao indivíduo mais acesso às oportunidades e, por

conseguinte, acabam ascendendo a cargos de maior prestígio, por isso alguns

informantes com baixo anos de exposição apresentaram uma taxa quase que igual aos

de maior exposição. A variável anos de escolarização, segundo Labov (1972) pode

sinalizar certo aumento da capacidade do indivíduo em pensar sobre questões

linguísticas, tornando-o capaz de notar distinções dialetais.

A informante 1, que é Bacharelada em Arquitetura e Urbanismo e trabalha na

Cinépolis Brasil, relatou que nos primeiros empregos se sentiu quase que obrigada a

buscar meios de mudar a fala para que pudesse ser aceita nos diversos contextos de

interação humana: universidade e trabalho. Na fala abaixo podemos observar as

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atitudes linguísticas da informante e o que o discurso dela revela sobre essa estadia de

6 anos em São Paulo:

Entrevistador (E): O que você acha da sua forma de falar?

Informante 1 (I1): Eu acho que não mudou muito, eu tento não

mudar, apesar de que já tentei disfarçar, por que no trabalho

os meninos pegavam muito no meu pé, meu gerente, até

mesmo as meninas que são mais próximas de mim. É chato,

todo dia eu ia e já pensava “aquele povo vai zoar da minha

fala”. [...] As vezes eu ficava muito chateada, já cheguei a

chorar num seminário na faculdade onde eu terminei

Arquitetura, por que uma vez dois rapazes ficavam “tirando

onda” comigo por conta do meu sotaque, por que sou

paraibana.

(E): Mas você percebe mudança do sotaque da Paraíba para o

de SP?

(I1): Sim, percebo, lá a gente usa muito “tu” “visse” “oxe”

“oxente”, né? Aqui até meu esposo que é pauli[s]ta fala, por

que nossa família é de lá, daí ele também pega um pouco do

falar de lá, e eu o daqui, mas acho que meu sotaque não

mudou tanto.

(E): Você acabou de citar diferenças quanto ao vocabulário,

mas você percebe diferenças na fala propriamente dita? No

som? Algo que você possa comentar?

(I1): Ah, sim, aqui em SP a gente fala mais devagar, também

há palavras que mudam muito o som, tipo – t[ʃ]io, t[ʃ]ia,

t[ʃ]inha, dá um chiado na palavra como se tivesse.... x... ch, sei

lá. Em João Pessoa a gente não fala assim.

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(E): O que você acha dessa forma de falar aqui em SP que você

mesma citou? Já julgaram sua fala por ser diferente? O que

disseram?

(I1): Eu gosto da fala daqui, acho legal, não é feia não, mas não

é mais bonita do que a de João Pessoa. É apenas uma outra

forma de falar, uma outra cultura, sei la.... um outro estilo. [...]

Já, como te falei, eu engravidei do meu filho, vim para SP por

que meu esposo arrumou um bom emprego aqui. Vim forçada,

com muita raiva. Mas não descontava em ninguém. Terminei

meu curso aqui, estava na metade, e era um estresse em dose

dupla, por que na faculdade tiravam onda de mim, e no estágio

lá no aeroporto também. Até meu filho que tem cinco anos me

policia ... por que aqui as vogais são diferentes de lá, se fala [ê]

em vez de [é], e [ô] em vez de [ó], e eu ainda falo da maneira

como aprendi. O que dizer ao meu filho que está na

alfabetização? Aqui tudo é mais rígido, não há flexibilidade.

Para não confundir a cabecinha dele, eu digo que ambas as

formas são corretas, só que aqui fala diferente, e ele fala como

as pessoas daqui.

É bem notória a necessidade em que a informante 1 passou para tentar ao

menos suavizar o sotaque. Se a educação é, ou deveria ser, um entrelugar do eu com o

outro, considerando as micro e macro culturas, torna-se, então, um lugar de

inflexibilidade quanto às variações linguísticas. Aprende-se na escola, como o filho da

informante, as vogais canônicas; aprende-se também por restrição de uso e não por

possibilidades de usos da língua, conforme foi exposto. Fizemos um breve recorte da

entrevista com a informante 1, que durou certo de 1h e 20 minutos. No entanto, para

efeitos didáticos, desprezamos os primeiros e últimos 10 minutos da entrevista. Das

variáveis levantadas em nossas hipóteses ventiladas, a informante categorizou bem a

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palatalização da oclusiva dental /t/ em virtude da vogal alta /i/ no falar paulista.

Acreditamos que isso se deve ao fato desse traço fonético-fonológico ser bem

categórico no falar paulista. O /s/ em posição de coda medial antes de /t/ e /d/ os

informantes [1, 7 e 4] identificaram com ou sem presença de chiado. Observamos

algumas atitudes linguísticas na fala da informante 7:

(E): Você já mudou o seu falar para adaptar-se ao entorno? E

em algum momento já perceberam que você não é daqui?

(I7): “[...] Hoje eu nem ligo mais, podem falar, criticar, zoar,

mangar (como a gente fala lá), que eu não me importo. Eu acho

que mudei um pouco, pois fiz um curso de telemarking assim

que cheguei aqui em São Paulo. Fui telemarking numa empresa

por 2 anos, e como você deve imaginar, a gente precisa mudar

um pouquinho o sotaque, ficar mais padrão. No começo eu

mudava um pouco, pois, dava umas chiadas como em tʃiago

(lembrei agora o nome do meu antigo gerente), eu chegava lá e

dizia: cadê ô t[ʃ[iago? Era estranho, forçava um pouco, por que

eles percebem e já perguntam de onde você é, e quando não,

ficam rindo, e para não te deixar por fora, dizem que acham

LINDO, mas não acham não.”

(E): Os paulistas percebem imediatamente que você não é

daqui? Você acha que as pessoas são julgadas simplesmente

pela forma como elas falam?

(I7): “Percebem que não sou daqui, mas não dizem que sou

paraibana, ao menos no emprego atual, por que como sei que

mudei um pouco, eu “tô” no meio-termo. Alguns perguntam se

sou do Maranhão ou da Bahia, por causa do sotaque mais

suave. Mas da Paraíba não. Daí eu digo – sou da Paraíba! [...] as

pessoas te julgam o tempo todo aqui, principalmente pela

forma de falar, se você fala devagar, se chia mais ou menos, se

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tem um “erre” mais puxado, por que até os paulistanos sofrem

preconceito, imagine eu.”

(E): O que você acha do sotaque paraibano? É feia, bonita,

você já parou para pensar? Você já sofreu algum preconceito

pela sua forma de falar, que possa comentar, se quiser, claro.

(I7): “Eu acho bonita. Eu não vejo problema com o sotaque de

lá e o daqui. Quando cheguei aqui eu pensava que eles falavam

o português correto, e eu o errado. Que eu era do ‘mato’ e eles

os ‘civilizados’. A gente pensa isso quando vem, por que a

forma como eles te corrigem parece que você não sabe falar.

Não sei se era preconceito do tipo de dar prisão, mas me senti

excluída geral da turma. No começo eu falava como os

paraibanos, e em todo lugar eu tinha que ouvir correções, ou

piadas, senão perguntas inconvenientes. Nordestinos para

muitos daqui não são ninguém, vêm à SP pegar emprego. [...]

Como estava falando, já me chamaram de Mulher macho sim

sinhô (com um sotaque fingido de lá), e numa discussão já me

chamaram até de barriga verde”....

(E): [...] Hã? O que é barriga verde? Você tem contatos com

paraibanos? Pensa em voltar à PB?

(I7): “barriga verde é tipo, você veio do mato, saiu dele, mas o

mato não sai de dentro de você. Eu não conhecia essa

expressão, parece ser Bahiana, construída aqui para

desmoralizar os nordestinos. Eu não tinha como comprovar, ir

na delegacia dar queixa. Nos primeiros anos a minha vontade

era de voltar. Hoje sou formada, casada com um paulistano,

tenho minha família, meus irmãos e minha mãe vieram

também. Meu emprego aqui é melhor, paga bem, ganho acima

do que muitos paulistas ganham com a mesma função em

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outras empresas. Eu não penso em voltar por que lá em João

Pessoa a área de administração é muito restrita e paga pouco, e

hoje não sofro mais tanto como sofria.

(E): Você acha que conforme os anos se passam você estará

mais vulnerável a mudar a sua forma de falar? Ainda acha que

mudaria mais do que já mudou?

(I7): não acho que eu possa mudar mais não, já são 15 anos

morando aqui, eu já me formei, já casei, tô empregada, não

sofro aquelas piadas de antigamente. Acho que posso adicionar

mais palavras daqui, apesar de eu evitar gírias. Mas não sei,

acho que não, não.

Os dados revelam consoante à literatura que, o tempo de exposição favorece

por completo o fenômeno, pois possibilita uma intensa troca em maior tempo. No

caso da informante 7, que está num grupo de tempo de exposição acima dos 15 anos,

também tem mais de 8 anos de escolarização, tem nível superior e especialização. Das

105 ocorrências em sua entrevista, apenas 4 ocorrências marcaram a palatalização do

/s/ em posição de coda silábica, supervalorizando o fenômeno em estudo. Observa-se

aqui também, a violência simbólica sofrida pela falante paraibana durante os primeiros

anos em São Paulo. Acreditamos que, por ter ido muito jovem à SP, aos 15 anos de

idade, fase em que a identidade ainda está em processo de recrudescimento, a falante

deve ter tido necessidade de se integrar em grupos: escola, amigos, cursinhos, etc. O

fator idade nos estudos da variação linguística tem apresentado forte relevância na

sinalização da mudança. Labov (1972) em seus estudos iniciais já mencionava esse

fator social como possível condicionador linguístico. Já Tarallo (1990, 2005) afirma que

a faixa etária pode indicar estabilidade das variantes ou indicar mudança no dialeto de

origem. Martins (2004, p. 62-63), corrobora que a idade é um fator de integração em

grupos, que, jovens são mais vulneráveis à mudança de sotaque, por estar numa fase

de reafirmação identitária.

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É interessante também o viés de “padrão” das variáveis canônicas. Tudo o que

não estiver dentro dos valores pétreos normativos, simbólicos e normais, são

desviantes, portanto, alvo de rechaço. Bourdieu (2002) já afirmava em seu estudo do

modelo educacional francês que a escola e os demais aparelhos ideológicos do estado

funcionam como instrumento de coerção, para disciplinar e padronizar. Dessa

maneira, falares que não são modelos, são sinalizados por violência dos usuários dele e

dos dialetos distintos a ele.

Corroborando a análise feita na metodologia, os falantes do sexo feminino

obtiveram um percentual de quase 10% acima dos falantes de sexo masculino. A partir

da análise, conclui-se que a variável sexo vem confirmar a hipótese de que os falantes

femininos têm maior consciência do status social das formas linguísticas consideradas

de prestígio (SCHERRE, 1996; LABOV, 1966).

Quanto à escolarização, verificamos que os falantes abaixo dos 2 anos de

escolarização e que não foram à São Paulo tão jovens, e também que não tivera/tem

contato diuturno com paulistas e pouco trânsito com falantes de lá, tiveram um

percentual de 31% das ocorrências, quando inclusas as palatalizações das oclusivas /t/

e /d/. Falantes que tiveram mais anos de escolarização, apresentaram maior militância

quanto à acomodação ao sotaque paulista, num percentual de quase 79% somados os

falantes desse grupo. Com relação à variável escolaridade, pode-se reconhecer que ela

está funcionando como o gatilho de controle, visto que todos os informantes

escolarizados são os que mais produzem o segmento considerado padrão.

A idade pareceu em nossa pesquisa ser uma variável muito conveniente a ser

controlada, pois informantes até 30 nos apresentaram menos ocorrência da

palatalização da fricativa /S/ em posição de coda silábica, enquanto informantes com

mais de 30 anos de idade, palatalizavam mais. Apesar da relação faixa etária e uso

linguístico ser uma preocupação bastante antiga e recorrente nos estudos da língua.

De acordo com Pop (1950, apud CARDOSO, op. cit., p. 50), “o conhecimento da idade

dos falantes observados é indispensável para que se possam comparar as divergências

existentes entre o falar dos jovens e aquele dos idosos, e determinar o seu ponto e

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origem.” Entende-se que esse conhecimento possibilita reconhecer o fenômeno da

não palatalização por questões de progresso atitudinal, tempo de exposição, nível de

escolarização e idade.

Alguns trabalhos como os de LUCENA (2004) e SILVA (2004) têm atestado que a

variável faixa etária exerce influência no uso da língua. Nesse sentido, pode-se

reconhecer que as formas variantes ganham significado social por serem

representantes de um determinado segmento social (WARDHAUGH, 2010, p. 07).

Dessa maneira, identificamos uma relação quase que vital dos falantes paraibanos com

a comunidade de fala paulista. Também investigamos os estruturantes sociais e

fonéticos como pistas que viessem facilitar à acomodação ao sotaque paulista.

5. Considerações Finais

Este trabalho definiu-se como uma reflexão qualitativa em atitudes linguísticas

quanto ao processo de acomodação dialetal por paraibanos morando em São Paulo.

Observamos que a mudança linguística está intimamente relacionada às pressões

linguísticas e sociais vivenciadas em distintas esferas sociodiscursivas por esses

falantes.

Estudos como estes aqui (re)visitados já apontavam para que quando a

sociedade é capaz de perceber mudanças linguísticas, começa a atribuir valores

(positivos ou negativos) com relação às formas de variação, sendo essa auto-avaliação

um indicador do contraste de “onde vim” e “onde estou”.

Quanto à formação de preconceito/estereótipos, acreditamos que as atitudes

(aspectos psicossociais) delineiam e acentuam o fenômeno de acomodação. São,

portanto, respostas às diferenças perceptuais de variantes presentes em dialetos

distintos. Questões históricas, culturais, de reafirmação, integração e interação em

grupos, geram também um reforço à acomodação, visto que a língua tem bases

cooperativas, portanto, quanto menos diferenças existirem no ato dialógico, mais

próximos os usuários dessa língua se serão uns dos outros.

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