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CLARIANA SOUSA GELINSKI CONTENÇÃO FÍSICA E QUÍMICA EM CERVÍDEOS DE CATIVEIRO. Monografia apresentada ao instituto Qualittas de pós-graduação, como requisito parcial à obtenção do título de Pós-graduante em Medicina Veterinária, Orientador: Profº. MV.MSc,PhD Luis Fernando Fiori Castilho. Brasília Abril de 2008

Contencao fisica e quimica em cervideos

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CLARIANA SOUSA GELINSKI

CONTENÇÃO FÍSICA E QUÍMICA EM CERVÍDEOS DE

CATIVEIRO.

Monografia apresentada ao instituto

Qualittas de pós-graduação, como

requisito parcial à obtenção do título

de Pós-graduante em Medicina

Veterinária, Orientador: Profº.

MV.MSc,PhD Luis Fernando Fiori

Castilho.

Brasília

Abril de 2008

Page 2: Contencao fisica e quimica em cervideos

DEDICATÓRIA

A Deus, pela oportunidade da vida e do saber e a todas as pessoas

que de alguma forma me ajudaram.

Page 3: Contencao fisica e quimica em cervideos

AGRADECIMENTOS

A Deus, pois sem ele nada faria sentido, e sem ele nada existiria.

Ao instituto Quallitas de Pós-graduação, pela oportunidade de realizar este curso.

À minha família pela atenção e prestigiar todos os momentos da minha formação profissional.

Ao meu cão Lully, pelo amor, afeto, lealdade e pelos ensinamentos que inspiram toda essa trajetória, e me ensinaram a amar e respeitar os animais, e enxergá-los com os olhos do coração.

Ao Professor Castilho, por ter me aceito como aluna e por todos os conhecimentos que me foi passado durante a realização deste trabalho, e em outras jornadas de trabalho.

Àos meus queridos amigos Tiago Carpi, Mariza Papa, Camila Guimarães e Eleonora Erbesdobler pelo carinho, companheirismo, por nossas conquistas juntas e pelo apoio e compreensão nos momentos mais difíceis na realização deste trabalho.

À Fundação Jardim Zoológico de Brasília - Jardim Zoológico de Brasília pela oportunidade de realizar um trabalho muito gratificante e representativo na busca da conservação e pesquisa de animais silvestres e ameaçados de extinção.

Aos tratadores do Zoológico pela troca de experiência, carinho, amizade e pelo ótimo trabalho de equipe que realizamos juntos.

Ao Sr. Raul Gonzalez Acosta pelo apoio e palavras amigas que jamais esquecerei.

Aos animais por serem o sentido que moveu toda minha fé e determinação para trabalhar em prol da conservação e buscar uma vida melhor para eles e consequentemente para nós.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................1

RESUMO.............................................................................................................2

1.INTRODUÇÃO..................................................................................................3

2.REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................4

2.1.Características de cervídeos.........................................................................4

2.2. Importância do estudo de contenção física e química em cervídeos de cativeiro...............................................................................................................5

2.3. Estresse........................................................................................................6

2.4.Miopatia por captura(MC)..............................................................................7

2.5. Planificação com antecedência..................................................................10

2.6.Recintos.......................................................................................................12

2.6.1.Cercas.......................................................................................................13

2.6.2.Vegetação.................................................................................................14

2.6.3.Áreas de contenção..................................................................................14

2.6.4.Cambiamento............................................................................................16

2.6.5.Corredores de Manejo..............................................................................17

2.6.6.Bretes de contenção.................................................................................17

2.6.7. Solarium...................................................................................................17

3.Captura...........................................................................................................18

3.1.Alguns métodos de captura em cervídeos...................................................18

3.1.1.Redes de direcionamento (Drive Net).......................................................18

3.1.2.Rede de armação rápida..........................................................................20

3.1.3. Rede de armação rápida por veículo.......................................................21

3.1.4.Redes levantadas (“Jump Nets”)..............................................................22

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3.1.5.Redes de arremesso.................................................................................23

4. Armadilhas.....................................................................................................23

4.1. Cevas..........................................................................................................23

4.2. Currais........................................................................................................24

5. Contenção......................................................................................................24

5.1. Contenção física.........................................................................................24

5.1.1. Uso de redes............................................................................................24

5.1.2.Uso de cordas...........................................................................................25

6.Contenção química.........................................................................................28

6.1. Derivados Diazepínicos..............................................................................29

6.1.1. Diazepam.................................................................................................29

6.1.2.Midazolam.................................................................................................30

6.2. Neurolépticos..............................................................................................31

6.2.1.De curta duração......................................................................................32

6.2.1.1.Acepromazina........................................................................................32

6.2.1.2. Azaperone.............................................................................................33

6.2.2. De média duração....................................................................................34

6.2.2.1.Haloperidol.............................................................................................34

6.2.2.2. Enandato de ferfenazina.......................................................................35

6.2.3. De longa duração (NLD)..........................................................................35

6.2.3.1. Haloperidol decanoato..........................................................................37

6.3.Drogas sedativas e imobilizantes................................................................37

6.3.1. Cloridrato de Etorfina...............................................................................37

6.3.2. Citrato de Carfentanil...............................................................................38

6.3.3. Cloridrato de Xilazina...............................................................................38

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6.3.4. Detomidina...............................................................................................40

6.3.5. Cloridrato de Quetamina..........................................................................40

7. Associação de drogas....................................................................................41

7.1.Cloridrato de Tiletamina + Zolazepan..........................................................41

7.2. Quetamina + Xilazina +Atropina.................................................................42

7.3. Quetamina + Detomidina + Atropina...........................................................43

8. Antagonistas..................................................................................................44

8.1. Cloridrato de Ioimbina.................................................................................44

8.2. Atipamezole, Idazoxan, Tolazolina.............................................................44

8.3. Flumazenil...................................................................................................45

8.4. Sulfato de atropina......................................................................................45

9. Zarabatanas...................................................................................................46

10. Dardos.........................................................................................................47

11. Injeção com bastão aplicador......................................................................48

12. Projetores remotos.......................................................................................49

13. Discussão....................................................................................................50

14. Conclusões..................................................................................................52

15. Bibliografia...................................................................................................53

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Lista de figuras

Página

Figura 01. Veado campeiro se jogando na rede armação rápida 20

Figura 02. Veado contido manualmente após o choque com a rede 21

Figura 03. Rede de contenção 22

Figura 04. Animal sendo capturado 22

Figura 05. Animal contido 22

Figura 06. Nó de laço simples (bowline) 26

Figura 07. Nó boca-de-lobo 26

Figura 08. Nó volta-do-fiel 26

Figura 09. (A) Nó direito; (B) Nó de correr; (C) Nó direito alceado 26

Figura 010. Nó-não-corrediço 28

Figura 011. Contenção química 29

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RESUMO

A contenção física e química de cervídeos em cativeiro é de extrema importância para a manutenção segura desses animais e da equipe técnica que está envolvido nesse procedimento. A criação de animais em cativeiro se torna fundamental no esforço conservacionista, uma vez que, além de proporcionar uma oportunidade única para o desenvolvimento de programas de educação ambiental, constitui uma importante reserva genética que em um futuro próximo poderá ser manejada em conjunto com as populações silvestres e também oferece condições para o desenvolvimento de pesquisas, muitas vezes impossíveis de serem conduzidas em animais de vida livre. O objetivo desse estudo foi verificar as técnicas mais adequadas e seguras para realizar essas contenções preservando a integridade física dos animais e consequentemente obter uma planificação de procedimentos mais eficaz. Coletou-se dados demonstrando que para se obter uma contenção de cervídeos de forma rápida, eficiente e com sucesso é necessário ter desde uma boa estrutura física das instalações nas instituições até uma equipe técnica bem treinada. A grande maioria dos animais selvagens mantidos em cativeiro, em algum momento da sua vida, precisa ser contida e anestesiada. Porém muitas vezes torna-se um episódio perigoso e difícil se comparado ao manejo das espécies domésticas. Os cervídeos são animais reconhecidamente sensíveis aos efeitos do estresse, sendo comum advirem acidentes traumáticos, sérios problemas cardio-respiratórios e notadamente distúrbios metabólicos graves, como a acidose e a miopatia de captura.

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1.INTRODUÇÃO

Atualmente muitas espécies de mamíferos do Brasil e do mundo estão

ameaçadas de extinção. Os cervídeos, que fazem parte deste grupo de

animais ameaçados, estão reduzindo em função da destruição e redução do

seu habitat, provocado pela atividade agropecuária e urbanização, assim como

a ocorrência do tráfico de animais silvestres. Deste modo, tem-se como

fundamental importância para a conservação, a manutenção destes animais

em cativeiro, principalmente em Zoológicos e Criadouros Conservacionistas.

A grande maioria dos animais selvagens mantidos em cativeiro, em

algum momento de sua vida, precisa ser contida e anestesiada, por uma

variedade de razões, tais como: transporte, exames, tratamentos, recaptura de

animais ferozes, animais fugitivos dos recintos e etc. Porém muitas vezes

torna-se um episódio perigoso e difícil se comparado ao manejo das espécies

domésticas.

Atualmente, a captura de animais vivos está voltada principalmente para

a necessidade do manejo em zoológicos e fazendas de criação, e a

conservação de populações ou indivíduos em vida livre que necessitem de

operações como translocação e pesquisa científica (Clark & Jessup, 1992; Day,

1987).

Os cervídeos são animais reconhecidamente sensíveis aos efeitos do

estresse, sendo comum advirem acidentes traumáticos, sérios problemas

cardio-respiratórios e notadamente distúrbios metabólicos graves, como a

acidose e a miopatia de captura (Fowler, 1986).

Durante os últimos 20 anos, as técnicas de captura física de animais na

natureza tem sido aperfeiçoadas consideravelmente para pequenos, médios e

grandes cervídeos, utilizando desde cevas e iscas para atração para

armadilhas fixas, até currais ou redes de espera para onde os animais são

direcionados, sendo aí capturados física ou quimicamente (Jones, 1983).

O presente trabalho foi conduzido com o objetivo de relatar os principais

métodos de captura, contenção física e química em cervídeos de cativeiro,

métodos esses que são muito utilizados no manejo destas espécies visando

sempre a segurança tanto do animal como da equipe envolvida, o bem-estar

animal e um manejo bem sucedido.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Características de cervídeos.

Os cervídeos (família Cervidae) pertencem à ordem Artiodactyla, que se

caracteriza pela presença de cascos que recobrem totalmente os quatro dedos,

sendo que somente dois deles se apóiam no solo. São ruminantes (subordem

Ruminantia), possuindo quatro compartimentos estomacais (rumem, retículo,

omaso e abomaso), regurgitando e remastigando várias vezes o seu alimento.

Como todos os ruminantes, apresentam ausência de incisivos superiores, com

molares constituídos por quatro cúspides em forma de meia-lua (selenodontes)

(Dias, J.L. Catão et al., 2006).

Os machos possuem chifres, estruturas ósseas maciças que se

desenvolvem a partir de processos permanentes do osso frontal, recobertos

por pele, que se denominam pedúnculos. A parte basal dessas estruturas é

denominada de roseta, a partir da qual se desenvolvem os chifres. Quase

todos os cervídeos apresentam chifres, à exceção dos animais do gênero

Moshus e da espécie Hydropotes inermis, nos quais existem, nos machos, um

desenvolvimento dos caninos superiores (Tomas, W.M.; BeccaceciI, M.D.;

Pinder ,L.; 1997).

Na maioria dos cervídeos, os chifres são renovados todos os anos e, em

sua fase de crescimento, são recobertos por uma pele (velame), que tem a

função de depositar cálcio na matriz óssea do chifre. Após o chifre atingir o

tamanho ideal, a irrigação do velame é interrompida, fazendo com que essa se

desprenda do chifre, auxiliada pela abrasão que o animal realiza contra

arbustos e árvores (Dias, J.L. Catão et al., 2006).

A maioria das espécies brasileiras dá origem a somente um filhote por

parto, sendo raros os casos de gêmeos, com exceção da espécie veado-de-

cauda-branca (Odocoileus virginianus), em que partos gemelares são mais

freqüentes que simples. Ao nascer, eles possuem pintas brancas distribuídas

pelo corpo, com exceção do cervo- do- pantanal (Blastocerus dichotomus), que

nasce com pelagem uniforme, semelhante à do adulto. As pintas são perdidas

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na primeira muda de pêlos, entre 2 e 4 meses (Tomas, W.M.; BeccaceciI, M.D.;

Pinder ,L.; 1997).

Os cervídeos têm uma grande variedade de glândulas odoríferas, que

funcionam como um sistema de comunicação entre os indivíduos de uma

mesma espécie. As principais são as metatarsais, tarsais, pré-orbitais, nasais e

as interdigitais. Todos os cervídeos têm o olfato, a audição e a visão muito

desenvolvidos (Dias, J.L. Catão et al., 2006).

No mundo existem 17 gêneros e 45 espécies de cervídeos (Walker,

1991), distribuídos na América, Europa, Ásia e norte da África. Eles tiveram

uma rápida radiação adaptativa durante o Pleistoceno (aproximadamente

2.500.000 m.a) na América do Sul, chegando a ocupar nichos ecológicos, que

em outros continentes como África, estão ocupados pelos bovídeos (Redford &

Eisemberg, 1984).

No Brasil existem hoje oito espécies reconhecidas: Blastocerus

dichotomus, Odocoileus virginianus, Ozotocerus bezoarticus, Mazama

americana, M.bororo, M.gouazoubira, M.nana e M.nemorivaga.

2.2. Importância do estudo de contenção física e química em cervídeos de

cativeiro.

A vida silvestre no mundo está declinando rapidamente. A destruição e

fragmentação de áreas naturais é um dos principais fatores responsáveis por

essa diminuição e tem como conseqüência a dificuldade na manutenção de

populações viáveis de espécies animais (Hutchins et al.,1991).

Neste contexto, a criação de animais em cativeiro se torna fundamental

no esforço conservacionista, uma vez que, além de proporcionar uma

oportunidade única para o desenvolvimento de programas de educação

ambiental, constitui uma importante reserva genética que em um futuro próximo

poderá ser manejada em conjunto com as populações silvestres e também

oferece condições para o desenvolvimento de pesquisas, muitas vezes

impossíveis de serem conduzidas em animais de vida livre (Conway, 1980).

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Programas de manutenção, reprodução e pesquisa de espécies

ameaçadas vêm se disseminando e demonstrando sua importância na efetiva

conservação da biodiversidade. Esses programas têm como objetivos gerais a

organização dos grupos de animais em cativeiro, através de cruzamentos

orientados, padronização do manejo e estímulo à pesquisa (Gasparini et

al.,1997).

A manutenção em cativeiro de cervídeos é uma atividade complexa por

causa do estresse dos animais e da grande mortalidade decorrente dos

acidentes e erros de manejo. A reprodução dos cervídeos em cativeiro não é

difícil, mas sempre é superada pela mortalidade, quando um sistema adequado

de manejo não é instituído (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Torna-se frequentemente necessário capturar um animal para

tratamento médico ou para exames, antes que seja enviado a uma outra

instituição, para biometria, microchipagem ou outras técnicas de identificação,

sendo essencial, portanto, que todos os envolvidos com o manejo e que lidam

com esses animais sejam treinados em técnicas adequadas (Wemmer et al.,

2006).

Os animais selvagens são mais suscetíveis ao estresse e lesões que as

espécies domésticas, particularmente durante a captura, manejo, contenção

química e transporte. Procedimentos que aparentemente parecem simples,

como coleta de sangue ou exames físicos, podem causar angústia, agravando

o estresse (Dias, J.L.C. et al., 2006).

2.3. Estresse

O estresse é definido como um conjunto de reações do organismo frente

a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa dentre outros, capaz de

perturbar a homeostase (SELYE apud DINIZ, 1997). Também é conceituado

como síndrome geral de adaptação, ou seja, um conjunto de reações

sistêmicas não específicas que surge quando ocorre exposição do organismo a

agentes agressores, estando relacionado com a resposta imune do indivíduo. É

considerada situação estressante em cativeiro condições estranhas ao animal

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como odores, sons de outras espécies, ruídos, presença do homem, clima,

diversidade e apresentação dos alimentos, separação mãe-filho, condição

social dominado-dominante, presença de predadores em recintos próximos,

contenção, injeção, medicamentos e, a frustração de não poder escapar do

cativeiro (FOWLER, 1986).

2.4 Miopatia por captura.

A miopatia por captura (MC) é uma síndrome gerada pelo intenso

esforço físico por um longo tempo, que geralmente leva a dor, rigidez

locomotora, incoordenação, oligúria e depressão seguida de morte. Essa

síndrome foi descrita inicialmente em bovídeos da África oriental.

É uma condição fisiopatológica descrita originalmente por Jarret &

Murray (1967), acometendo herbívoros selvagens na África oriental e

caracterizada por dor, rigidez locomotora, incoordenação, oligúria e depressão

seguida de morte.

Essas descrições provocaram o surgimento de sinônimos que buscavam

esclarecer características clínico-patológicas do processo. Termos como

miopatia do “stress”, doença do “stress”, polimiopatia, miopatia do transporte,

necrose muscular, doença do músculo branco, paresia espástica, necrose

muscular idiopática, rabdomiólise do exercício e miopatia transitória foram

utilizados (Bartsch et al., 1997). Porém, em 1978, diversos pesquisadores

reunidos em Washington, D.C., decidiram denominar este processo como

miopatia de captura (Spraker, 1980).

Além dos herbívoros silvestres, à MC já foi descrita em diversas

espécies de mamíferos e aves, incluindo primatas, pinepídeos, marsupiais,

bovinos, eqüídeos, canídeos, ovinos e flamingos (Chalmers & Barret, 1982;

Wallace et al., 1987).

Diversos fatores são tidos como predisponentes no surgimento da MC.

Aparentemente, altas temperaturas ambientais, associadas a elevada umidade

relativa do ar, parecem favorecer o surgimento de MC durante procedimentos

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de captura (Harthoorn & Young, 1974; Lewis et al., 1977; Kocan et al., 1980;

Wallace et al., 1987).

A deficiência em vitamina E/selênio é tida por vários pesquisadores

como particularmente importante (Brady et al., 1978; Sprake, 1980 e 1993;

Chalmers &Barret, 1982).

Acredita-se que a sensação de medo desencadeie, por meio de ativação

do sistema nervoso e da liberação de catecolaminas, a “resposta simpática ao

estresse”, fenômeno caracterizado por diversas reações orgânicas, incluindo

hiperglicemia e aumentos do metabolismo celular, da glicogenólise muscular e

do tônus vascular, com conseqüente desvio sanguíneo para a musculatura

estriada esquelética (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Quando um animal é capturado, ocorre subitamente a interrupção da

atividade muscular esquelética e, dessa forma, o bloqueio de um processo

fisiológico conhecido como “bomba muscular”. Esse fenômeno é caracterizado

pela ação mecânica da contratura muscular sobre o plexo vascular, com

conseqüente expulsão do sangue dos leitos venocapilares. Dessa forma, tanto

o calor gerado pela atividade muscular é dissipado, como os subprodutos da

glicogenólise, em especial o ácido lático, são retirados do microambiente

muscular. A brusca interrupção da “bomba muscular” provoca, por um lado, o

acúmulo de ácido lático na musculatura e, por outro, a hipóxia decorrente da

estase de sangue venoso. Esses componentes, associados com a ausência de

mecanismos eficientes para a dissipação do calor, poderão acarretar em última

análise a morte celular (Dias, J.L.C. et al., 2006).

A morte dos miócitos causará extravasamento para o interstício, dentre

outras substâncias, de mioglobina e potássio, que serão captados pela

circulação sanguínea e distribuídos por todo o corpo. Porém, ambos os

componentes possuem, quando em elevadas concentrações plasmáticas,

ações deletérias sobre os locais específicos do organismo. Como

conseqüência, a mioglobina age como potente substância nefrotóxica,

induzindo, juntamente coma hipóxia decorrente da vasoconstrição mediana por

catecolaminas e pelo sistema nervoso simpático, a necrose aguda dos túbulos

Page 15: Contencao fisica e quimica em cervideos

contorcidos proximais e, dessa forma, pode acarretar ou colaborar com um

quadro de insuficiência renal aguda (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Por outro lado, o potássio tema capacidade de reduzir o potencial

elétrico das membranas das fibras cardíacas e, por essa via, impedir a

repolarização, contribuindo dessa forma para processos de fibrilação

ventricular e insuficiência cardíaca aguda (Dias, J.L.C. et al., 2006).

A MC pode ser subdividida em quatro categorias, levando-se em

consideração seus aspectos clínicos e patológicos: síndrome do choque de

captura; síndrome mioglobinúrica atáxica; síndrome do músculo rompido;

síndrome hieragudo-retardada (Dias, J.L.C. et al., 2006).

O diagnóstico da MC depende da correta interpretação das múltiplas

informações disponíveis, incluindo aquelas obtidas por meio de anamnese, dos

exames clínico-laboratoriais e da análise anatomopatológica dos animais

mortos. Também é importante ressaltar que, além da MC, outras formas de

miopatias acometem herbívoros selvagens, destacando-se dentre essas as

deficiências de vitamina E/selênio e as intoxicações por plantas como a Cássia

occidentalis e C. obtusifolia (Dias, J.L.C. et al., 2006).

O prognóstico dos animais acometidos por qualquer uma das formas de

MC é, geralmente, considerado de reservado a ruim. Apesar das diversas

abordagens terapêuticas, todos os animais acometidos de MC no National

Zoological Park (Washington, DC, EUA) entre 1975 e 1985, vieram a óbito

(Dias, J.L.C. et al., 2006).

O tratamento clássico preconizado é aquele dirigido para o controle da

hipoperfusão tecidual, incluindo fluidoterapia associada à administração de

diversas substâncias, tais como glicose, vitaminas C, E e do complexo B e

anticoagulantes. Corticóides devem ser utilizados com extrema moderação, em

decorrência da ação deletérica dessas drogas sobre os mecanismos de defesa

do hospedeiro (Dias, J.L.C. et al., 2006).

A profilaxia da MC compreende a adoção de medidas que contribuam

para a redução das condições estressantes, às quais os animais estão

Page 16: Contencao fisica e quimica em cervideos

expostos durante procedimentos de captura/imobilização. Dentre essas, a

composição de equipes bem treinadas e de métodos de captura adequados, a

adoção de horários que privilegiem os períodos mais frescos do dia e o

controle permanente da temperatura corpórea e do estado de hidratação do

animal podem ser importantes. A administração profilática no momento da

captura de vitamina E/ selênio e antibióticos é vista com certa restrição. Por um

lado, pelo fato da utilização do selênio pelos mecanismos celulares

antioxidantes não ser imediata, por outro, pelo risco crescente de seleção de

microorganismos resistentes (Dias, J.L.C. et al., 2006).

2.5. Planificação com antecedência.

Para se evitar estresse, angústias e situações de risco, o pessoal

envolvido no manejo deverá realizar planejamento minucioso antes de tocar no

animal, minimizando riscos durante o manejo (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Deve-se assegurar que todas as providências para minimizar os riscos

de traumas tanto para os tratadores como para os animais tenham sido

tomadas. Todas as pessoas envolvidas na captura de um animal devem saber

o que esperar dele, ao encontrar-se sob as circunstâncias incomuns de captura

e contenção (Duarte, J.M.B., 1997). O segredo do sucesso está na

compreensão da psicologia do animal (Wemmer et al., 2006).

Existe uma série de aspectos a serem observados:

• Determinar o grau de exposição prévia do animal a pessoas.

• Saber o sexo e a idade do animal a ser manejado. Em algumas espécies

as fêmeas são mais agressivas que os machos.

• Avaliar as condições físicas e psicológicas do animal.

• Conhecer a distância de luta da espécie.

• Saber se espécie a ser manejada é “territorialista”.

• Avaliar o terreno onde será realizado o manejo.

• Treinar as técnicas de contenção física e de tiro (rifle, pistola,

zarabatana).

Page 17: Contencao fisica e quimica em cervideos

• Conhecer a espécie que será manejada, incluindo comportamento,

reações ao estresse, habilidade de defesa e procedimentos físicos e

químicos adequados para a contenção.

• Considerar o motivo pelo qual o animal deve ser manejado, e se a

conduta é viável naquele momento.

• Verificar todo o material necessário e deixa-lo pronto para uso em local

de fácil acesso antes da captura.

• Restringir os procedimentos a serem adotados (é necessária apenas a

contenção física ou deverá ocorrer à contenção química simultânea? ).

• Escolher o melhor horário para realizar os procedimentos.

• Preparar com antecedência o recinto para a recuperação ou soltura do

espécime.

• Monitorar o animal durante a recuperação anestésica, introdução em

grupos ou ainda em recintos desconhecidos.

• Trabalhar com certa margem de segurança ao calcular doses,

minimizando efeitos cardiorrespiratórios indesejáveis.

• Ter sempre à mão fármacos e equipamentos para serem utilizados em

caso de acidentes ou emergências com animais ou membros da equipe.

• Trabalhar com uma equipe entrosada e com divisão de atribuições para

que o trabalho seja organizado e permita o máximo de informações

sobre o animal.

Mesmo tomando esses cuidados, ainda podem ocorrer mortes de

animais acidentes com o pessoal envolvido no manejo, cujo risco depende da

experiência e conhecimento das técnicas empregadas.

Em maior ou menor escala, todo animal oferece risco.

Portanto, todo animal, independentemente de tamanho, hábitos ou

situação, deve ser respeitado e tratado com todo cuidado. Mudanças de

comportamento com sinais de agressividade podem ser sinalizadas pelos

animais das seguintes formas:

Page 18: Contencao fisica e quimica em cervideos

• Posições elevadas da cauda, orelhas e olhos.

• Pêlos arrepiados.

• Urros, guinchos ou piados diferentes.

• Excitabilidade.

• Salivação excessiva (medo).

• Mostrar os dentes.

• Movimentação de escavar o chão (ruminantes) (Dias, J.L.C. et al.,

2006).

2.6. Recintos

Um bom recinto para cervídeos em cativeiro, deve oferecer três

princípios básicos:

1. Conforto, higiene e bem-estar animal;

2. Possibilidades de observação e contenção para fins de manejo;

3. Bem estar ao público observador, com um efeito educacional sobre os

mesmo.

A semelhança com o ambiente natural de ocorrência da espécie

proporciona uma melhor adaptação dos animais em cativeiro e ainda favorece

a educação ao público observador, que associa aquele indivíduo que o

sensibilizou aos demais que estão na natureza e que precisam ser

efetivamente protegidos. Existem diversos artifícios que podem ser utilizados

no desenvolvimento paisagísticos do recinto, que atendem diretamente a essas

necessidades, como o plantio de árvores e de um substrato verde (gramíneas)

(Hutchins et al., 1984).

Recintos para grupos nos quais é necessário um manejo intensivo não

devem ser muito grandes. Esse tamanho vai variar conforme o tamanho da

espécie e o número da formação de grupos. Um proporção razoável para 2 ou

3 indivíduos de um porte mediano varia de 900 a 1.500 m2. Vale a pena

ressaltar que animais muito ariscos ou vindos da natureza passarão por uma

prévia ambientação nos chamados “Bomas”, que são áreas pequenas, sendo a

cerca coberta com algum anteparo opaco, que não permite ao animal visualizar

Page 19: Contencao fisica e quimica em cervideos

o meio externo. Após a completa ambientação o animal poderá ser solto no

piquete propriamente dito (Hutchins et al., 1981).

Segundo (Duarte, J.M.B., 1997), o mais importante é ter acesso a

estruturas de contenção para as quais os animais possam ser conduzidos

calmamente e ainda formas de isolamento no caos de animais doentes, brigas,

partos dentre outros.

2.6.1. Cercas

Os cervídeos em geral não reconhecem a cerca como um obstáculo;

indivíduos com bastante tempo em cativeiro, costumam jogar-se

insistentemente contra a tela em situações de estresse, principalmente nos

cantos do recinto. Nesses episódios podem ferir-se gravemente, inclusive com

risco de fraturas cervicais e cranianas. Portanto, devemos minimizar os fatores

que ofereçam risco. Desta maneira:

• Os mourões de cerca, sejam eles de madeira ou concreto, devem

sempre se posicionar do lado externo do recinto, a fim de evitar choques

diretos;

• Os recintos devem ser construídos com os cantos arredondados, pois

isso evita que o animal insista em debater-se nesse local;

• Colocação de obstáculos visuais na cerca, com o intuito de oferecer uma

imagem visualmente mais fechada. Mesmo em zoológicos, isso pode ser

feito deixando um dos lados do recinto descoberto para que o público

possa observar os animais. Podem ser utilizados, tela sombrite com

75% de sombra, nas colorações preta ou prata, bambus, vegetação

seca (sapé) ou até mesmo cercas vivas. Estes podem ser utilizados

arbustos, algumas espécies de capim como elefante (Penissetum sp.) e

o colonião (Panicum maximum) (Duarte, J.M.B., 1997).

A cerca deve ter entre 1,80 e 2,20 metros de altura, mesmo para as

espécies de menor tamanho, para que os animais tentem pular. O material

ideal a ser utilizado é a tela de alambrado, que oferece bastante resistência

sem possibilidade de ferir o animal (Fradrich, H., 1987).

Page 20: Contencao fisica e quimica em cervideos

2.6.2. Vegetação

O recinto deve ter um substrato confortável para os animais, visualmente

agradável para o público e que possa ser controlado.

A utilização de gramíneas, como o coast-cross (Cynodon dactylon) e a

batatais (Paspalum mattatum), oferecem boas características para esse fim,

proporcionando um visual bonito ao recinto, são confortáveis para o

deslocamento e o descanso dos animais, seu crescimento é fácil de ser

controlado com podas periódicas e ainda oferecem uma alternativa alimentar

para os gêneros Blastocerus e Ozotocerus (Duarte, J.M.B., 1997).

Podem ser plantadas esparsamente no recinto moitas de leguminosas

para as espécies de hábito alimentar “browser”, ou seja, aquelas mais seletivas

que se alimentam basicamente de leguminosas.

Isso, além de complementar a alimentação dos animais, é uma maneira

de tentar normalizar o comportamento, distraindo-os e com isso diminuindo o

“stress” em cativeiro (Hutchins et al., 1984).

Devem ser oferecidos aos animais cativos muitas áreas sombreadas. Os

cervídeos tem se mostrado sensíveis a problemas de hipertermia e por isso

devem ser evitadas as exposições a temperaturas altas, principalmente em

momentos de “stress”. A existência de árvores no local é a alternativa mais

viável e mais natural para os animais, resolvendo plenamente o problema do

sombreamento do recinto (Foose, T.J., 1987).

2.6.3. Áreas de contenção

Os cervídeos são animais extremamente difíceis de serem manejados,

estressando-se com muita facilidade. Por esse motivo, devemos criar artifícios

que adaptem os animais a locais nos quais estes possam ser contidos com

facilidade. Para isso, a construção de baias, além se oferecer um abrigo, pode

auxiliar na contenção (Coetze, 1985).

Page 21: Contencao fisica e quimica em cervideos

As baias devem ser pequenas. Devem ser completamente fechadas e

cobertas, uma vez que em ambiente escuro os cervídeos permanecem mais

calmos. Os cantos devem ser arredondados para evitar ferimentos e o

acabamento das paredes liso, para evitar escoriações.

Para que os animais se adaptem às e as encarem como um local normal

dentro do recinto é aconselhável que a alimentação seja oferecida somente em

seu interior e também, se possível, que os animais sejam recolhidos à noite

dentro das baias (Duarte, J.M.B., 1997).

Os cervídeos, sendo animais herbívoros, necessitam de suplementação

com volumosos de boa qualidade. Tais alimentos devem ser oferecidos em

manjedouras onde o alimento possa se fixar, permitindo que os animais

utilizem os incisivos para apreender e cortar o alimento. Animais que não

utilizem os incisivos tem uma tendência ao amolecimento dos mesmos. A

manjedoura é sempre uma fonte de perigo, onde o animal pode e enroscar,

gerando frequentemente fraturas de membros e deslocamentos de vértebras

cervicais. Pra que isso não ocorra, é necessário que a manjedoura seja

confeccionada de forma que o animal não consiga introduzir a cabeça e

membros na mesma (Foose, T.J., 1987).

Sempre que for necessária a contenção de um animal na baia, a

manjedoura deve ser retirada.

A baia poderá ser utilizada, além do abrigo normal aos animais, para:

• Contenção química de um indivíduo. A baia poderá ter pequenas janelas

(20 X 10 cm), com acesso externo, de onde observadores possam atirar

dardos anestésicos através de armas ou zarabatanas. Uma vez

anestesiado o animal poderá ser manejado no próprio local, caso seja

um procedimento simples, ou então, transportado para o setor

veterinário.

• Quarentena: devido ao isolamento e à facilidade para higienização, se

não houver outra alternativa mais distante, a baia pode ser utilizada

para quarentena.

Page 22: Contencao fisica e quimica em cervideos

• Isolamento: caso não haja possibilidade de transferência de um

indivíduo doente para um setor veterinário isolado, a baia pode ser

utilizada para seu tratamento.

• Maternidade: a baia pode ser utilizada para o isolamento de fêmeas

gestantes próximo ao período de gestação.

2.6.4.Cambiamento

Na área de cambiamento deverão ser construídas baias individuais, para

que seja possível a separação de todos os animais. Isso possibilita um maior

controle do plantel. Os animais deverão permanecer o dia no recinto e de noite

serem levados ao cambiamento para alimentação e observação. Os cervídeos

neotropicais, em sua maioria, são crepusculares ou noturnos e terão maior

atividade durante a noite. Portanto, seria mais correto que os animais

permanecessem na área aberta durante a noite e no cambiamento durante o

dia, mas isso prejudicaria a visitação, no caso de zoológicos (Duarte, J.M.B.,

1997).

O cambiamento deve ser constituído por baias de alvenaria

semelhantes as que são utilizadas para eqüinos, com variação de tamanho

conforme a espécie que a ocupará. Para animais grandes como cervo-do-

pantanal recomenda-se 4m X 4m, enquanto para pequenos como Mazama ou

Pudu são recomendados 3m X 2m. A altura mínima das paredes das baias

deve ser de 2m, pois há a tendência de os animais pularem. As paredes devem

ser as mais lisas possíveis, o que evitará escoriações, no caso de os animais

se assustarem e se debaterem. O piso das baias deve ser de terra ou areia, ou

seja, não deve ser de cimento, pois além de isso imprimir um desgaste

excessivo aos cascos e pode propiciar acidentes, pois os animais escorregam

ao serem manejados (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Para que seja possível o recolhimento dos animais para as baias, é

necessário um sistema de corredores que conduza-os do piquete às baias.

Esses corredores também devem ser de alvenaria, mas se forem de tela,

devem possuir um sistema de proteção visual das telas, evitando que os

animais se atirem contra a mesma durante o manejo.

Page 23: Contencao fisica e quimica em cervideos

2.6.5. Corredores de Manejo

Os corredores de manejo são estruturas simples que facilitam muito o

manejo dos animais e possibilitam o uso de uma mesma estrutura de manejo e

brete de contenção por todos os recintos.

Através desse mecanismo bastante simples, podem ser feitas

transferências para diferentes recintos, troca de indivíduos, condução para área

clínica, local para anestesia, para brete de contenção e para transporte, sem a

necessidade de anestesiar animais, evitando-se assim, riscos desnecessários

(Dias, J.L.C. et al., 2006).

2.6.6. Bretes de contenção

Atualmente vem sendo desenvolvidos e utilizados, na África e nos

Estados Unidos, bretes de contenção para o manejo de cervídeos em cativeiro.

São utilizados bretes que restringem o espaço do animal, impedindo que ele se

debata (Duarte, J.M.B., 1997).

Ao contrário do que se imagina, os cervídeos respondem bem a esse

tipo de “stress”, principalmente porque, apesar de intenso, é bastante rápido

devolvendo em poucos minutos o animal à sua calma, proporcionando plena

recuperação (Hutchins et al., 1984).

Desta maneira, esse tipo de contenção deve ser utilizado apenas para

procedimentos rápidos, como vacinações, teste de tuberculina, coleta de

sangue, vermifugação e tratamento de ectoparasitos (Duarte, J.M.B., 1997).

2.6.7. Solarium

Conjugados às baias, é aconselhável a construção de pequenos

solariuns que são como mini recintos e que são extremamente úteis caso um

animal precise ficar mais tempo isolado, como no caso de partos, brigas entre

indivíduos exigindo separação e animais com doenças não contagiosas (Dias,

J.L.C. et al., 2006).

3. Captura

Page 24: Contencao fisica e quimica em cervideos

Os cervídeos são animais reconhecidamente sensíveis aos efeitos do

estresse, sendo comum advirem acidentes traumáticos, sérios problemas

cardío-respiratórios e notadamente distúrbios metabólicos graves, como a

acidose e a miopatia de captura ( Fowler, 1986).

Segundo Fowler (1978), quatro fatores devem ser considerados ao

selecionarmos uma técnica de captura:

1. Ela será segura para quem vai manejar o animal? (animais silvestres

podem infringir graves, às vezes fatais, injúrias);

2. Ela proverá o máximo de segurança para o animal?

3. O método de captura será totalmente viável de ser implantado?

4. Constante observação e atenção podem ser dadas ao animal até ele

estar plenamente recuperado dos efeitos da captura física ou química?

Uma vez que esses fatores tenham sido previamente analisados, então

uma técnica adequada pode ser selecionada (Duarte, J.M.B., 1997).

No Brasil, poucos trabalhos sobre captura de cervídeos foram

desenvolvidos. As espécies de várzea (cervo-do-pantanal) e de campo (veado-

campeiro) têm sido as mais estudadas, pela facilidade de captura e

visualização. A maioria dos métodos de captura se baseia no uso de redes

para contenção dos animais (Duarte, J.M.B., 1997).

3.1. Alguns métodos de captura em Cervídeos.

3.1.1 Redes de Direcionamento (Drive Net)

São redes posicionadas em locais pré-definidos onde se espera que o

animal passe após algum estímulo ou que seja conduzido até a mesma.

As redes de nylon ou polietileno são as mais universalmente

empregadas para capturar cervos fisicamente. Existem diversas maneiras d

como elas podem ser dispostas, dependendo das características do animal, da

topografia e da vegetação: como um “I” , linearmente, ou em forma de “J”, ou

“L”ou ainda em “V” (Duarte, J.M.B., 1997).

Page 25: Contencao fisica e quimica em cervideos

Suas dimensões variam, mas elas geralmente devem ser longas, com

altura de 2,5 a 3 metros, mesmo com espécies menores, para que um eventual

excesso de rede fique junto ao chão devidamente preso e forme um “saco” no

momento em que o animal entrar nela, evitando também que ele passe por

baixo (Charity et al., 1989).

O comprimento total pode ser de 30 até 300 metros ou mais, mas redes

contínuas com mais de 80 metros devem ser evitadas, simplesmente pelo peso

e volume excessivo que elas representam, difíceis de transportar.

O buraco da malha vai depender do animal a ser capturado, indo desde

5 cm até 30 cm (Charity et al., 1991).

Segundo a literatura, idealmente a malha deve permitir que a cabeça e

os membros possam passar, mas não o corpo (Kock et al., 1987; Pienaar,

1973).

O animal pode ser conduzido até a rede por pessoas a pé, no caso dos

animais em cativeiro (Charity et al., 1989).

Em qualquer condição é importante que se possa avaliar o grau de

excitação do cervo, e um tempo limite de condução deve ser estabelecido para

não deixa-lo exausto.

A outra parte da equipe, pelo menos duas pessoas para cada veado,

deve se posicionar atrás da rede, para conter o animal imediatamente após sua

queda, para evitar que ele se machuque tentando escapar. Animais tem um

apurado sentido de olfato que parece ser exacerbado durante a captura. O

cervídeo deve ser vendado tão logo se tenha acesso a ele, além de atado com

peias e cintas de couro enquanto se fazem os procedimentos necessários, que

podem ser pesagem, marcação, medições e coletas de material (Clark &

Jessup, 1992). Cervídeos de maneira geral suportam bem curtos períodos de

contenção física; se um manuseio ou transporte mais prolongado precisa ser

feito, anestesia completa deve ser feita (Duarte, J.M.B., 1997).

Page 26: Contencao fisica e quimica em cervideos

3.1.2 Rede de Armação Rápida

Esse método foi utilizado para captura de veado-campeiro e veado-

catingueiro em áreas de campo, cerrado aberto e Pantanal. Para esse

procedimento são utilizadas redes de polipropileno preto com malha de 20cm,

com 100m de comprimento por 2,5m de altura (Duarte, J.M.B., 1997).

Nesses manejos utilizando redes, é importante que se possa trabalhar

com redes negras que são menos visualizadas pelos animais.

O trabalho com redes brancas possibilita que os animais as visualizem à

grande distância, dando tempo a eles de fugirem entre os condutores (Charity

et al., 1991).

O índice de perda de veados-campeiros por fraturas está em torno de

15%. Geralmente, os problemas de fraturas são gerados por erros na armação

da rede, que não se desprende dos ferros de suporte, provocando um grave

impacto do animal (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Fig. 01 – Veado campeiro se jogando na rede de armação rápida

Page 27: Contencao fisica e quimica em cervideos

Fig. 02 – Veado contido manualmente após o choque com a rede

3.1.3 Rede de Armação Rápida por Veículo

Este método foi idealizado para a captura do veado-campeiro (Duarte,

1992), que habita áreas abertas e portanto de fácil acesso para um veículo. O

método utiliza uma rede de polipropileno preta com malha de 20 cm, com 100

m de comprimento por 1,80m de altura.

Após a visualização do animal, o veículo circunda o mesmo em raios

cada vez menores até que atinja seu de ponto de fuga, que é percebido pelo

comportamento de inquietação à presença do veículo. Após a determinação da

distância de trabalho, o veículo pára e a equipe desce pelo lado oposto ao

animal, e nessa posição as pessoas iniciam a montagem da rede, que é

armada sobre ferros de 1/8’’, com uma dobra em sua extremidade. A armação

da rede é feita sob a proteção do veículo para que o animal não a perceba

(Duarte, J.M.B., 1997).

Após a montagem da rede em forma de semicírculo ao redor do animal,

o veículo continua seu trajeto, deixando os membros da equipe, o menos

evidente possível, no sentido oposto à rede. Com isso, faz-se um círculo,

formado de um lado pela rede armada e de outros pelas pessoas,

permanecendo o animal no centro. A partir daí as pessoas se levantam e

pressionam ao animal para a rede, contra a qual ele se choca, ficando

imobilizado sendo contido manualmente pela equipe. Em seguida, é procedida

Page 28: Contencao fisica e quimica em cervideos

a aplicação intravenosa de sedativos e analgésicos, culminando com a perda

da consciência do animal (Hutchins et al., 1984).

Esta técnica tem se mostrado eficiente, tanto no Pantanal como no

cerrado aberto. Em situações de fuga de animais em cativeiro, onde a área de

evasão for muito ampla, esta estratégia também torna-se útil e pode ser

utilizada como um plano de emergência. No Pantanal, obteve-se uma eficiência

de aproximadamente 50%, ou seja, de cada 10 armações de rede, 5 animais

eram capturados. Este nível decresce em áreas de cerrado para uma faixa de

25%, dependendo da facilidade de visualização do animal e do seu nível de

amansamento (Dias, J.L.C. et al., 2006).

3.1.4. Redes Levantadas (“Jump Nets”)

Um sistema usado com sucesso na Nova Zelândia, baseia-se na

colocação de redes estendidas no chão, que são levantadas rapidamente

por cordas, molas ou manualmente. Se plástico opaco é usado junto com à

rede, o animal sente-se como em um sólido curral (Duarte, J.M.B., 1997).

Fig. 03 – Rede de contenção Fig. 04 – Animal sendo capturado.

Fig. 05 – Animal contido

Page 29: Contencao fisica e quimica em cervideos

3.1.5 Redes de Arremesso

Esse sistema utiliza lançadores de rede, posicionados no chão ou na

carroceria de veículos. Baseia-se em uma caixa adaptada com sistema de

detonação (pólvora ou Co2) que aloja uma rede e contrapesos arremessados

contra um ou mais animais. Permite a captura de animais que vivem em grupos

(mamíferos herbívoros e aves), ao quais devem ser atraídos para uma área

aberta, oferecendo-se alimentos (ceva). Uma vez agrupados na área de

abrangência da rede (deve ser testada previamente), efetua-se o disparo. Uma

vez capturados, os animais são retirados da rede (Duarte, J.M.B., 1997).

As redes podem também ser usadas para cobrir o animal durante a

contenção físico-química. A vantagem desse sistema de proteção; e evitar o

uso de cordas para amarrar os membros do espécime contido, porém

dependendo do tamanho da rede (deve ser o suficiente para cobrir todo o

animal), o peso do equipamento dificulta seu uso (Dias, J.L.C. et al., 2006).

4. Armadilhas.

4.1. Cevas

A ceva pode ser tentada em situações onde não existe premência de

tempo para realizar a captura, pois depende muito de fatores que não são

fáceis de controlar. Baseia-se no princípio de atrair o animal, por sua própria

necessidade de alimento, convívio social ou reprodução, a um local onde ele

terá seu espaço restringido por um curral, uma caixa ou uma rede (Duarte,

J.M.B., 1997).

É necessário um bom conhecimento dos hábitos e demais itens da

biologia da espécie, para que se saiba empregar as “iscas” mais atrativas.

Vários itens tem sido usados para atração, como água, frutas (maçãs, pêras),

sal grosso, feno, plantas nativas, e leguminosas tenras (Howard & Engelking,

1974, Papez & Tsukamoto, 1970).

Essências provenientes dos próprios animais podem ser utilizados,

como a urina de fêmeas no cio ou produtos de glândulas de cheiro. Pedersen

Page 30: Contencao fisica e quimica em cervideos

(1977) atraiu cervos durante o verão mediante o uso de essências de anis e sal

comum (Duarte, J.M.B., 1997).

4.2.Currais

Existem várias formas de currais com possibilidades de uso para

cervídeos, feitos com redes de nylon, troncos de madeira roliços, telas de

arame, plástico opaco, tábuas ou chapas de madeira (Pienaar, 1973; Clark

& Jessup, 1992; Jones, 1983). Geralmente seu formato é o de um funil que

leva a espaços mais estreitos, separados entre si (para facilitar o manejo),

até uma área onde o animal pode ser conduzido até uma caixa e

transportado, ou então capturado mover manualmente ou quimicamente. A

altura da cerca não deve ser menor do que 2m, mas pode medir até 3m

para animais menores e ágeis, como os do Gênero Mazama e Ozotoceros

(Duarte, J.M.B., 1997).

5. Contenção

A grande maioria dos zoológicos sul-americanos não possui locais

adequados ao manejo de ungulados silvestres, e este fato é realmente o maior

problema (Hutchins et al., 1984).

Chegamos então à conclusão de que é mais importante podermos

contar com um local adequado de manejo do que nosso laçador mais

habilidoso, ou a droga mais eficiente que possamos ter à mão (Dias, J.L.C. et

al., 2006).

Seja ela física ou química, é preciso que se tenha consciência de que o

momento da contenção é o mais perigoso para o animal e para a equipe.

Assim toda a cautela e o cuidado na preparação nunca são excessivos.

5.1. Contenção física

5.1.1. Uso de redes

Estas podem ser do tipo “de espera”, jogadas com a mão, ou ainda sob

a forma de grandes puçás. Tais redes devem ser resistentes (polipropileno, fio

Page 31: Contencao fisica e quimica em cervideos

3/16”a 1/4"), largas e compridas o suficiente para cobrir (ensacar) o animal.

Normalmente são usadas logo após uma saída por onde o animal passa

sempre, ou ao longo da cerca do recinto (Karsten, 1974). Em cervídeo

pequenos, como o veado-catingueiro, é frequente e eficiente o uso dos puçás

grandes:operados por um tratador ágil, procura-se dar ao animal a impressão

que o caminho está livre, mas assim que o cervo tenta escapar coloca-se a

rede na sua frente com um movimento rápido. Esse método envolve riscos

para todos, pois implica em contenção manual (Duarte, J.M.B., 1997).

5.1.2. Uso de cordas

Apesar de frequentemente usado não é um sistema recomendável,

pelos riscos que oferece ao animal e à equipe. Consiste de uma ou mais

pessoas hábeis no manejo de laços de corda postadas em locais próximos a

passagem do animal, por onde são conduzidos por outras pessoas até a

captura (Karsten, 1974). O risco de enforcamento sempre existe, além de

lesões mais graves, como fraturas de pescoço (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Se não recomendadas para a captura inicial, entretanto, as cordas são

largamente usadas em muitos processos de manipulação de animais, tais

como a contenção física de membros de cervídeos, ou durante a colocação

destes em caixas de transporte ( Fowler, 1978).

As técnicas de contenção física com cordas são semelhantes às utilizadas

em animais domésticos. Pode-se afirmar que as cordas não funcionam sem os

nós, e algumas características devem ser observadas:

• Os nós que são feitos, reduzem em torno de 50% a resistência das

cordas.

• Não existe um nó que sirva para todo tipo de trabalho.

• Uma vez feito o nó, ele deve apresentar uma certa “estética”. Forma

definida e sem cordas retorcidas ou sobrepostas.

• Um bom nó de mão deve ser fácil de desfazer, e seguro para realizar o

trabalho.

Page 32: Contencao fisica e quimica em cervideos

Segundo Fowler, variações do nó quadrado de cirurgia são usadas em

muitos aspectos do trabalho em corda. A amarra de cadarços de sapato é uma

variação do nó quadrado, sendo usada com freqüência em restrição de

movimentos, pois pode ser rapidamente desatada (Dias, J.L.C. et al., 2006).

O nó de laço (bowline) é o nó universal de contenção animal, sendo a base

para muitos nós especializados. Sua vantagem é a segurança, contudo permite

ser desatado facilmente apesar da pressão exercida sobre ele (Dias, J.L.C. et

al., 2006). Sugere-se outros tipos de nós de mão que podem ser utilizados

durante a contenção física:

• Boca-de-lobo: utilizado para ancoragens rápidas.

• Volta-do-fiel: também utilizado em ancoragens, tem a desvantagem de

deslizar sob trações extremas (acima de 400kg) e, por ser estrangulante,

é desaconselhável utilizá-lo para amarrar membros, principalmente o

pescoço.

• Nó direto: utilizado para emendar duas cordas de mesmo diâmetro.

• Nó de correr: feito com uma laça para apertar sempre que for puxado.

• Nó direito alceado: permite ser desfeito rapidamente ao se puxar uma

das alças, que desfaz o nó.

• Nó não-corrediço, nó-de-porco ou peia: muito utilizado em contenções físicas de grandes animais domésticos, quando um animal deve ser estirado, restringindo seus movimentos. Pode ser facilmente desatado. Primeiro, o nó volta-do-fiel é colocado em uma das patas. A seguir, é dada uma laçada com a outra ponta da corda ao redor dos dois membros e é posicionado entre os pés, acima do nó volta-do-fiel. O segmento da corda que foi enrolado nos membros é ancorado em forma de anel (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Fig. 06 – Nó de laço simples (bowline). Fig. 07 – Nó boca - de - lobo.

Page 33: Contencao fisica e quimica em cervideos

Fig. 08 – Nó volta – do – fiel.

Fig. 09 – (A) Nó direito; (B) Nó de correr; (C) Nó direito alceado.

Fig. 010 – Nó- não- corrediço.

A

B

C

Page 34: Contencao fisica e quimica em cervideos

6.Contenção Química

As contenções usadas para acalmar (tranqüilizantes) e capturar

(imobilizantes) animais são similares àquelas usadas na prática humana. Essas

drogas e suas combinações atuam em diversos pontos do cérebro produzindo

calma, depressão (sedação), perda da sensação dolorosa (analgesia) e a

completa perda da consciência (anestesia) (Clark & Jessup, 1992).

Essas drogas, quando usadas durante a captura, transporte e soltura de

cervídeos facilitam o trabalho e permitem um manuseio mais seguro.

Harthoorn (1976) sugere uma série de atributos ideais aos quais uma

droga ou uma associação de drogas deveriam preencher o mais amplamente

possível. Baseado nisso, o profissional da área pode melhor escolher o agente

ou a mistura que mais se adapta à sua rotina de trabalho. Os atributos são:

1. Ter larga margem se segurança;

2. Ser adequado para a maioria das espécies;

3. Apresentar rápida indução;

4. Manter as funções fisiológicas inalteradas;

5. Ter alta concentração e não ser irritante;

6. Ser facilmente solúvel em água e, portanto, miscível com outros

componentes, e ser estável por longo período;

7. Sua ação ser facilmente revertida;

8. Ser facilmente encontrada no comércio com um preço razoável.

Com base no exposto acima, e uma vez escolhido o melhor agente para

uma determinada situação, devemos calcular com extremo cuidado as

quantidades a serem injetadas, seja por qual via for (Duarte, J.M.B., 1997).

O volume a ser aplicado pode ser calculado através de uma fórmula simples:

Peso do animal (kg) X dose (mg/kg)

-------------------------------------------------------------- = dose em ml

Concentração (mg/ml)

Page 35: Contencao fisica e quimica em cervideos

Todos os dados relativos à sedação ou anestesia deverão ser anotados

em fichas próprias, para que estes dados possam ser utilizados em contenções

futuras (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Fig. 011 – Contenção química

6.1. Derivados Diazepínicos

6.1.1.DIAZEPAM (Diempax, Usafarma. Valium, Roche. Diazepam, diversos).

Apresentação: comprimidos com 2,5 e 10 mg. Ampolas com 10mg/2 ml.

Indicações: usado como pré-anestésico e para acalmar animais antes do

transporte, para reduzir “stress” e exaustão de captura, ou para facilitar a

adaptação a novos ambientes, pode ser administrado via oral, via intramuscular

(IM) e intravenoso (IV).

Farmacocinética: Os benzodiazepínicos são prontamente absorvidos pelo

trato gastrointestinal. A injeção intramuscular (IM) provoca absorção irregular e

o risco de formação de precipitados. O uso intravenoso é bastante difundido,

em particular, na pré-anestesia e no controle de convulsões (Spinosa et

al.,1999).

A distribuição é ampla por todo o organismo, atravessam a barreira

hematoencefálica e alcançam concentrações fetais semelhantes às maternais.

Ligam-se intensamente às proteínas plasmáticas (Spinosa et al., 1999).

Ação Farmacológica: o produto atua no sistema límbico e produz efeitos

ansiolíticos, bem como sedação e uma condição de hiporreflexia, dependendo

da dose e sensibilidade individual. Tem uma grande atuação reduzindo a

agressividade, não interferindo muito com a atividade motora; é usado também

Page 36: Contencao fisica e quimica em cervideos

como anticonvulsivante e encontra especial aplicação com dissociativos que

podem induzir esses efeitos colaterais, particularmente a quetamina. Após a

injeção, o efeito começa a se manifestar em 15 minutos e pode se prolongar

até por 10 horas. Por via oral os efeitos começam geralmente aos 45 minutos,

prolongando-se até 24 horas. O produto tem grande margem de segurança e

grandes sobredoses não costumam causar a morte (Duarte, J.M.B., 1997).

Doses: Via Intramuscular/ Venosa:...0,5 a 1,5 mg/ Kg

Via Oral- 1,0 a 10 mg/ Kg

Antagonista: Flumazenil ( Lanexart, Roche)

6.1.2.MIDAZOLAM (Dormonid, Roche)

Apresentação: ampolas de 3 ml com 5 mg/ml e de 5 ml com 1 mg/ml. O

midazolam produz efeitos comuns às outras benzodiazepinas, como por

exemplo efeitos sedativos, hipnóticos, anticonvulsivantes, amnésicos e

miorrelaxantes (Pieri et al, 1981), diferindo do diazepam pela sua

hidrossolubilidade , rápido início de ação, período hábil curto e rápida

eliminação (Vinik, et al, 1983). É duas vezes mais potente do que o diazepam,

e um terço menos tóxico. Como as outras benzodiazepinas, produz seus

efeitos clínicos por ação depressora do sistema límbico, sem depressão cortical

(Dundee & Haslet, 1970), inibindo a captação do GABA em sinapses centrais.

Pode produzir apnéia transitória logo após a administração. Uma grande

vantagem consiste em poder ser misturada a drogas hidrossolúveis, e assim

ser mais facilmente usada em dardos, aumentando sua utilização na

imobilização em cervídeos (Duarte, J.M.B., 1997).

Farmacocinética: Os benzodiazepínicos são prontamente absorvidos pelo

trato gastrointestinal. A injeção intramuscular (IM) provoca absorção irregular e

o risco de formação de precipitados. O uso intravenoso é bastante difundido,

em particular, na pré-anestesia e no controle de convulsões (Spinosa et

al.,1999).

Page 37: Contencao fisica e quimica em cervideos

A distribuição é ampla por todo o organismo, atravessam a barreira

hematoencefálica e alcançam concentrações fetais semelhantes às maternais.

Ligam-se intensamente às proteínas plasmáticas (Spinosa et al., 1999).

Antagonista: Flumazenil (Lanexat, Roche)

6.2.Neurolépticos

Drogas que exercem um efeito calmante, reduzindo a ansiedade sem

provocar acentuado relaxamento e perda do sensório.

As drogas neurolépticas são psicotrópicos, usadas em psiquiatria humana,

e recentemente vem sendo incorporadas ao manejo da fauna silvestre,

principalmente na África. Segundo Blumer (1991), estas drogas são capazes

de diminuir a ansiedade, a atividade motora e moderar a excitação. Elas tem

sido usadas sobretudo para ungulados silvestres, proporcionando:

• Alteração de comportamento

• Indiferença do animal às condições ambientais.

• Aumento da tolerância à presença humana.

• Redução de atitudes agressivas e dominantes.

• Redução de auto-injúrias.

Para obtenção de melhores resultados, quando se deseja uma

tranquilização prolongada, os neurolépticos podem e devem ser administrados

de maneira combinada, utilizando-se simultaneamente os de curta, média e

longa duração, tornado-se complementares (Duarte, J.M.B., 1997).

O uso de neurolépticos jamais deve servir para diminuir a qualidade do

manejo ou encorajar descuidos com relação à ocorrência de “stress” nos

animais. Os neurolépticos devem sempre ser usados com precaução, e a

subdosagem deve ser preferida ao risco de superdosagem, devido aos efeitos

sedativos ou às reações extrapiramidais. Estes efeitos podem se manifestar

por hiperatividade, ansiedade, fraqueza muscular, dor articular, torcicolo,

Page 38: Contencao fisica e quimica em cervideos

opistótono, movimentos espasmódicos, tremores, movimentos repetitivos e

incontroláveis da língua, lábios e boca (Duarte, J.M.B., 1997).

6.2.1.De curta Duração (derivados Fenotiazinicos e Butirofenonas)

Neurolépticos de duração relativamente curta tem sido usados com

sucesso no manejo de ungulados, por muitos anos. Entretanto, essas drogas

tem seu valor limitado, devido ao curto efeito residual, que dura apenas alguma

horas. Os agentes mais comuns são descritos:

6.2.1.1.ACEPROMAZINA (Acepran, Univet)

Apresentação: frasco ampola de 10 ml a 10 mg/ml.

Farmacocinética: Os benzodiazepínicos são prontamente absorvidos pelo

trato gastrointestinal. A injeção intramuscular (IM) provoca absorção irregular e

o risco de formação de precipitados. O uso intravenoso é bastante difundido,

em particular, na pré-anestesia e no controle de convulsões (Spinosa et

al.,1999).

A distribuição é ampla por todo o organismo, atravessam a barreira

hematoencefálica e alcançam concentrações fetais semelhantes às maternais.

Ligam-se intensamente às proteínas plasmáticas (Spinosa et al., 1999).

Ação farmacológica: é um potente derivado fenotiazínico, que atua como

tranqüilizante ao deprimir a atividade cortical cerebral. Altas doses em

cervídeos podem causar sonolência e relaxamento muscular, especialmente

naqueles muito mansos. Possuem atividade antiemética, hipotensiva e

hipertérmica. Doses clínicas produzem efeitos por cerca de 4-6 h, mas doses

mais elevadas produzem efeitos mais prolongados.

Indicação: geralmente são usados na pré-anestesia, em associações com

outras drogas para otimizar a imobilização, particularmente se o relaxamento

muscular é desejável (Duarte, J.M.B., 1997).

Page 39: Contencao fisica e quimica em cervideos

Precauções: reações tóxicas podem ocorrer se animais estão com

hipertermia, devido à interrupção de mecanismos de dissipação de calor. Não

aplicar via IV em animais excitados, podendo provocar morte súbita.

Doses: Via Intramuscular/Venosa:...0,1 a 0,5 mg/Kg

Antagonistas: Não existe nenhum específico (Fowler, 1978; Hall & Clarke,

1987).

6.2.1.2.AZAPERONE (Strenil, Johnson & Johnson).

Esta amina terciária pertencente à série das butirofenonas tem tido uso

mais freqüente em suínos domésticos como um sedativo ou pré-anestésico.

Quando aplicado sozinho, tem efeitos evidentes após 15 min, com um pico

aos 30 min, durando em cerca de 2 a 6 horas, às vezes podendo ter efeito

residual de até 36 horas. Em cervídeos, o azaperone sozinho não tem potência

suficiente para exercer um marcado efeito sedativo, mas, quando associado,

tem mostrado eficiência em reduzir os efeitos adversos no sistema cárdio-

circulatório causados pelos opiáceos, junto com os quais foi empregado com

sucesso na imbilização de mamíferos selvagens africanos. Esta droga tem

demonstrado suprimir a resposta ejaculatória usual à estimulação elétrica,

portanto deve ser evitada em procedimentos para o estudo de parâmetros

reprodutivos. (Young, 1973; Jones, 1983).

Farmacocinética: Os benzodiazepínicos são prontamente absorvidos pelo

trato gastrointestinal. A injeção intramuscular (IM) provoca absorção irregular e

o risco de formação de precipitados. O uso intravenoso é bastante difundido,

em particular, na pré-anestesia e no controle de convulsões (Spinosa et

al.,1999).

A distribuição é ampla por todo o organismo, atravessam a barreira

hematoencefálica e alcançam concentrações fetais semelhantes às maternais.

Ligam-se intensamente às proteínas plasmáticas (Spinosa et al., 1999).

Page 40: Contencao fisica e quimica em cervideos

Dose para leve sedação: Via IM/IV..........0,5 a 2,5mg/kg.

Antagonista: Não existe nenhum específico.

6.2.2.De Média duração

Os agentes desse grupo tem efeitos farmacológicos durante 12 a 24

horas.

6.2.2.1.HALOPERIDOL (Haldol, Janssen)

Apresentação: comprimidos de 1 e 5 mg, gotas com 2 mg/ml, ampolas de 1 ml

injetável, a 5 mg/ml). O lactato de haloperidol é um neuroléptico muito utilizado

em medicina humana como antipsicótico, sendo a droga de escolha no

tratamento emergencial de agitação e agressão psicomotora de qualquer

origem, principalmente por seu efeito rápido, espedificidade e pequena

alteração na termorregulação e ritmo cardíaco (Duarte, J.M.B., 1997).

Hoffmeyer ( 1981) conduziu um estudo relatando excelente resultado em

gazela Antidorcas marsupialis, que, com uma dose de 0,25 mg/kg, se tornou

excepcionalmente calma e tratável, durante cerca de 12 horas, não ficando

assustada significativamente durante exame físico e coleta de sangue. Ainda

que não reportado em ruminantes, existem evidências de que o haloperidol

seria efetivo por via oral, na dose de 1,0 mg/kg. Em cervídeos, o haloperidol é

eficiente na redução da ansiedade. Agressão e no estresse de captura e

transporte (Duarte, J.M.B., 1997).

Farmacocinética: Os benzodiazepínicos são prontamente absorvidos pelo

trato gastrointestinal. A injeção intramuscular (IM) provoca absorção irregular e

o risco de formação de precipitados. O uso intravenoso é bastante difundido,

em particular, na pré-anestesia e no controle de convulsões (Spinosa et

al.,1999).

A distribuição é ampla por todo o organismo, atravessam a barreira

hematoencefálica e alcançam concentrações fetais semelhantes às maternais.

Ligam-se intensamente às proteínas plasmáticas (Spinosa et al., 1999).

Page 41: Contencao fisica e quimica em cervideos

Doses: IM-0,1 a 0,3 mg/kg

Efeitos colaterais de natureza extrapiramidal, tais como torcicolo,

opistótono, hiperreflexia, mastigação, disfagia e parkinsonismo tem sido

observados após administração de altas doses, que usualmente se dissipam

com a interrupção do tratamento (Duarte, J.M.B., 1997).

Não existe antídoto específico, mas efeitos colaterais podem ser

controlados com doses únicas ou repetidas de 10-20 mg de Akineton, Knoll

(Edebes & Burroughs, 1989).

6.2.2.2.ENANTATO DE FERFENAZINA (Trilafon)

O enantato de ferfenazina, do grupo das fenotiazinas, tem sido usado

extensivamente como protocolo para a translocação de várias espécies,

produzindo aparente indiferença a locais não-familiares, redução da atividade

psicomotora, indiferença a pequenos estímulos dolorosos e diminuída resposta

a situações ameaçadoras, tudo isso sem sedar o animal moderando seu

comportamento. Os efeitos se iniciam em 15 a 30 minutos, durante 12 horas

(Duarte, J.M.B., 1997).

Farmacocinética: Os fenotiazepínicos são prontamente absorvidos pelo trato

gastrointestinal. A injeção intramuscular (IM) provoca absorção irregular e o

risco de formação de precipitados. O uso intravenoso é bastante difundido, em

particular, na pré-anestesia e no controle de convulsões (Spinosa et al.,1999).

Doses: Via IM-0,1 a 0,5 mg/Kg

Os efeitos colaterais incluem hiperexcitação e prolongado prolapso de

pênis. Não existe antídoto específico.

6.2.3.De longa duração (NLD)

São produtos desenvolvidos e usados primariamente na medicina

humana, em pacientes psicóticos e esquizofrênicos, reduzindo a hostilidade,

deprimindo a atividade motora e moderando a excitação (Ayd, 1975 e 1978). O

uso dessas drogas como uma ajuda para amansamento, adaptação e

Page 42: Contencao fisica e quimica em cervideos

treinamento de animais silvestres é um conceito relativamente novo (Clark &

Jessup, 1992).

Basicamente, as maiores aplicações para os NDL são:

• Facilitar, tanto aos animais da vida livre como aos de cativeiro, a

adaptação a novos recintos, por reduzir ansiedade e agressão;

• Acalmar animais antes e durante o transporte e recolocação;

• Controlar animais agressivos e dominantes, especialmente machos;

• Acalmar animais durante hospitalização e tratamento.

As formulações dos neurolépticos de longa duração consistem em ésteres

de ácidos graxos dos compostos básicos (fenotiazínicos), que são dissolvidos

em óleos vegetais e medicinais, resultando em uma lenta liberação da droga

deverá ser preferencialmente intramuscular profunda, com agulha de calibre

adequado à excessiva viscosidade (Duarte, J.M.B., 1997).

A grande vantagem dos NDL baseia-se na sua facilidade de posologia, pois,

dependendo do produto, os efeitos após uma única injeção podem demorar de

1 a 3 dias para ter início, podendo se manter por 14 a 30 dias.

De acordo com Edebes (manuscrito), o pioneiro que introduziu o uso de

neurolépticos de longa duração em mamíferos africanos silvestres, essa classe

de drogas tem apresentado efeitos significativos durante transporte terrestre ou

aéreo, para a adaptação de animais a novos habitats, diminuindo

consideravelmente a mortalidade durante esses processos, que antes do

advento dessas drogas era muito alta (Edebes, 1991).

Novas formulações de NDL estão sendo desenvolvidas e estudadas,

visando conceber rápido e prolongado efeito, com menor sedação e/ou efeitos

extrapiramidais.

Page 43: Contencao fisica e quimica em cervideos

6.2.3.1.HALODERIDOL DECANOATO (Haldol Depot, Jansen, 50 mg/ml)

Os efeitos farmacológico se iniciam em 24-48 horas, podendo durar

aproximadamente 30 dias (Duarte, J.M.B., 1997).

Doses: 1,0 a 4,5 mg/kg.

6.3.DROGAS SEDATIVAS E IMOBILIZANTES

6.3.1.CLORIDRATO DE ETORFINA (M99, Immobilon)

Provoca depressão dos centros respiratórios e da tosse, diminuindo a

motilidade gastrintestinal, e induz alterações no comportamento (Clark &

Jessup, 1992).

A droga possui a propriedade altamente indesejável de produzir a

estimulação do SNC antes de sua depressão, resultando em um estado

excitatório, marcado por deambulação, tremores e convulsões, razão porque

sempre está associado a um tranqüilizante ou sedativo, como a acepromazina,

azaperone ou a xilazina (Hall, 1987; Harthoorn, 1973).

Em razão de sua extrema eficácia em baixos volumes, tem sido

extensivamente usada para a imobilizacão de grandes ungulados africanos,

como elefantes, rinocerontes, girafas, zebras e hipopotámos.

O produto não está disponível na América do Sul, mas pode ser

importado da Europa e África do Sul, aonde ainda é comercializado.

Além de ser um narcótico, estando sujeito a uma extensa lista de

exigências legais para sua guarda e uso, seu manuseio requer cuidados muito

especiais, pois o produto pode ser absorvido pela pele e causar a morte caso

não seja aplicado o antídoto imediatamente (Duarte, J.M.B., 1997).

Por essa e outras razões, a etorfina está sendosubstituída por outras

drogas mais seguras e modernas.

Page 44: Contencao fisica e quimica em cervideos

Doses (médias) IM-0,5 mg/500kg

Antagonistas: Cloridrato de diprenorfina (Revivon), e o Cloridrato de naloxone

(Narcan).

6.3.2.CITRATO DE CARFENTANIL

O carfentanil tem um espectro similar ao da morfina, mas é de 15 a 20.000

vexes mais potente. O produto é tido como bastante satisfatório como um

agente imobilizante para uma grande variedade de animais silvestres,

especialmente cervídeos.

A analgesia dura pro um prolongado período de tempo, e extremos de

temperatura devem ser evitados, bem como prolongada perseguição ou

qualquer outra atividade que aumente a temperatura corporal. A aplicação de

agentes sedativos como a xilazina pode ajudar a reduzir a incidência da

excitação e proporcionar uma recuperação suave. Os efeitos colaterais são

raros, mas podem acontecer taquicardia, taquipnéia, excitação durante

indução, regurgitação, espasmos musculares, opistótonos, sialorréia, e

retardada renarcotização (Duarte, J.M.B., 1997).

Igualmente a etorfina, o produto é muito controlado, por normas bastante

rígidas, mas poderia ser importado.

Doses para cervídeos (IM): 0,005 a 0,02 mg/kg.

A imobilização ocorre de 2 a 10 minutos. Animais excitados requerem

doses maiores (Duarte, J.M.B., 1997).

Antagonistas: Cloridrato de diprenorfina (Revivon), e o cloridrato de naloxone

(Narcan).

6.3.3.CLORIDRATO DE XILAZINA (Rompum, Bayer. Copazine, ICI Usafarma.

Kensol, Konig).

Apresentação: Frasco ampola de 10 ml com 20 mg/ml.

Page 45: Contencao fisica e quimica em cervideos

Indicações: Como agente sedativo, analgésico e relaxante muscular.

Ação Farmacológica: a droga possui forte efeito sedativo e analgésico por

atuação no S.N.C. (estimulando a liberação da noradrenalina no receptor Alfa 2

adrenérgico), produzindo relaxamento muscular por inibição de transmissão do

impulso nervoso; ocorre bradicardia, taquipnéia e hipotensão. Há ocorrência de

moderada sialorréia, abaixamento da cabeça, ptose palpebral e labial e

relaxamento do pênis (Duarte, J.M.B., 1997).

Farmacocinética: Após a administração pelas vias parenterais, a xilazina é

rapidamente distribuída pelos vários tecidos, em particular o SNC, e

biotransformada. Os ruminantes são mais sensíveis aos efeitos da xilazina e

especula-se que isto seja conseqüência da atividade de um ou mais

metabólitos ativos formados por estas espécies animais. A principal via de

eliminação é a retal (Spinosa et al., 1999).

A droga tem sido usada sozinha ou preferencialmente com narcóticos ou

agentes dissociativos, o que marcadamente aumente seus efeitos, podendo

melhorar a reversibilidade da combinação (Kock et al., 1989).

Durante a fase de indução, deve-se evitar ao máximo qualquer tipo de

estímulo, caso contrário a droga pode não agir totalmente.

Os efeitos começam entre 1 e 15 min., atingindo o máximo em 15 a 30

min., durando cerca de 2 horas (Duarte, J.M.B., 1997).

Precauções: Sobredoses podem causar profunda depressão cardio-

respiratória e morte. Há riscos de timpanismo se ruminantes são deixados em

decúbito lateral.

Doses: Intramuscular/ Venosa: 0,5 a 3 mg/Kg.

Antagonistas: O cloridrato de ioimbina provoca rápida e freqüentemente

completa recuperação da sedação pela xilazina.

Page 46: Contencao fisica e quimica em cervideos

6.3.4.DETOMIDINA (Domosedan, Ciba-Geigy)

Apresentação: frasco ampola de 5 ml, com 10 mg/ml.

Indicações: usado comumente em eqüídeos domésticos para pré-anestesia e

pequenas cirurgias, tem sido usada também para sedação e para facilitar

transporte, em alguns ungulados silvestres (Duarte, J.M.B., 1997).

Farmacocinética: Após a administração pelas vias parenterais, a xilazina é

rapidamente distribuída pelos vários tecidos, em particular o SNC, e

biotransformada. Os ruminantes são mais sensíveis aos efeitos da xilazina e

especula-se que isto seja conseqüência da atividade de um ou mais

metabólitos ativos formados por estas espécies animais. A principal via de

eliminação é a retal (Spinosa et al., 1999).

Ação farmacológica: provoca sedação, analgesia e relaxamento muscular.

Apesar de atuar nos mesmos receptores da xilazina e ser 10 vezes mais

potente, a detomidina aparentemente interfere menos nos parâmetros

fisiológicos. O efeito se inicia em 1 a 5 minutos e dura em média 1 hora. Tem

sido mais utilizada em associações farmacológicas sinérgicas, com a

quetamina (Duarte, J.M.B., 1997).

Precauções: ocorrência de hipertemia tem sido associadaà detomidina em

ungulados silvestres.

Doses: IM/IV-100-250 µgr/Kg.

Antagonistas: Cloridrato de ioimbina, idazoxan, tolazolina.

6.3.5.CLORIDRATO DE QUETAMINA ( Ketalar, Park-Davis)

Apresentação: frasco-ampola de 10 ml, a 50 mg/ml.

Indicações: usado para anestesia e imobilização, com curto período de

indução e efeitos. Possui grande margem de segurança.

Page 47: Contencao fisica e quimica em cervideos

Efeitos: o produto induz à chamada “anestesia dissociativa”, na qual os

reflexos estão presentes com um aparente estado de consciência, porém com

perda das reações normais e agressivas. Pode ocorrer salivação, controlada

com atropina; não ocorrem grandes alterações na freqüência respiratória nem

cardíaca. O animal usualmente retem o reflexo palpebral e laríngeo, o que evita

a aspiração de ingesta para a traquéia. A quetamina produz rigidez muscular, e

o nistagmo pode ser verificado. Pode ser usada sozinha, mas é mais comum

sua associação com seu parceiro clássico, a xilazina, ou ainda com

tranqüilizantes, para controle de seus efeitos indesejáveis. Em ungulados, o

retorno costuma ser bastante agitado, o que pode provocar hipertermia. Após a

injeção intramuscular, os efeitos começam a aparecer em 3 a 4 minutos,

através de incoordenação e decúbito, que dura de ½ a 1 hora (Duarte, J.M.B.,

1997).

Precauções: podem ocorrer convulsões, controladas pelo Diazepan. Não

expor animais a extremos de temperatura, pois a quetamina inerfere com o

sistema de termo-regulação.

Doses para cervídeos: Intamuscular/Venosa: 5 a 20 mg/Kg.

Antagonistas: Não existe nenhum específico. Em situações de emergência

pode-se tentar o cloridrato de ioimbina (Fowler, 1986).

7.Associações de drogas

Para cervídeos podemos usar algumas associações de modo a tornar a

imobilização mais eficiente, mais segura e menos volumosa, potencializando as

qualidades isoladas das drogas.

7.1.Cloridrato de Tiletamina + Zolazepan ( Zoletil, Virbac)

Apresentação: Liofilizado em frasco-ampola com diluente de 5 ml, ficando

com uma concentração de 50 mg/ml.

Indicações: Usado para anestesia cirúrgica e imobilização.

Page 48: Contencao fisica e quimica em cervideos

Efeitos: A tiletamina causa uma anestesia dissociativa, enquanto o zolazepan

é um ansiolítico, miorrelaxante, anticonvulsivante e ansiolítico. Pode ser

utilizado por via IM ou IV, sendo que por esta última a indução é rápida

(inferior a 30 segundos).

Se for necessário manter o plano anestésico por mais tempo, meias

doses podem ser reaplicadas, mas isso geralmente aumenta o tempo de

retorno, pelo acréscimo de fração tranqüilizante do composto. Por essa razão,

algumas pessoas costumam complementar com quetamina. O tempo de

retorno é dose-dependente, e costuma ser tranqüilo (Duarte, J.M.B., 1997).

Precauções: excessiva salivação pode ser controlada por sulfato de atropina.

Raras reações incluem rigidez muscular, tremores, vocalização, recuperação

prolongada, vômitos, apnéia, cianose e taquicardia.

Doses para Mazama sp IV: 4 a 15mg/Kg (Pachaly, 1992)

Duração do efeito varia de 20 a 90 minutos. Podem ser necessárias doses

subseqüentes via IV, porém usando a metade da dose inicial.

Antagonistas: Não existe nenhum específico.

7.2.QUETAMINA + XILAZINA +ATROPINA

Associação usada a mais de 30 anos com bons resultados, ainda continua

eficiente, barata e segura. Ao serem associadas e aplicadas por via IM ou IV,

essas drogas apresentam um evidente sinergismo, isto é, a soma de seus

efeitos combinados é bem maior do que seus efeitos isolados. O animal

apresenta uma rápida indução a analgesia, pela ação da quetamina, e uma boa

sedação e relaxamento muscular, efeitos da xilazina (Duarte, J.M.B., 1997).

A quetamina é absorvida em cerca de 3 a 5 min., eliminada aos 30 a 45

min., enquanto que a xilazina é absorvida em 15 a 30 min., e eliminada em 120

min.

Essa diferença entre a absorção e a eliminação entre essas drogas é

bastante boa, pois permite um retorno tranqüilo. Como todos são cloridratos,

Page 49: Contencao fisica e quimica em cervideos

podem ser concentradas em estufa e misturadas entre si, podendo ser

estocadas sem perda de efeito.

A imobilização pode ser mantida por muito tempo, através de injeções

adicionais de metade da dose inicial de quetamina.

Doses Via Intramuscular: Quetamina- 5 a 10 mg/Kg, Xilazina- 0,5 a

1,5mg/Kg, Atropina- 0,05 mg/ Kg.

Clark & Jessup (1992) tem usado uma proporção de quetamina:xilazina de

5:1 com muito sucesso na captura de cervídeos norte –americanos,

eventualmente chegando a usar também a relação de 10:1.

Para cervídeos sul-americanos, de porte menor e metabolismo mais

acelerado, existe a necessidade de uma relação de pelo menos 8 a 10:1 para

uma boa imobilização.

Antagonista: Nessa associação, o cloridrato de ioimbina também pode ser

usado, mas também pode ser usado, mas atua antagonizando somente a

xilazina, permitindo que a quetamina predomine, provocando um retorno

agitado. Por essa razão, recomenda-se esperar cerca de 30 a 45 minutos, para

que a maior parte de quetamina se metabolize, antes de aplicar a ioimbina

(Duarte, J.M.B., 1997).

7.3.QUETAMINA + DETOMIDINA +ATROPINA

Esta combinação tem sido usada em cervídeos com bons resultados

(Nunes, 1989; Charity et al., 1991), através de dardos ou seringas manuais.

Sua vantagem consiste no menor volume e diminuição dos efeitos colaterais.

Doses intramuscular: Quetamina- 5 a 8 mg/Kg; Detomidina 100 µgr/Kg e

Atropina 0,05 mg/Kg.

Antagonistas: é válido o mesmo procedimento descrito para a associação

quetamina + xilazina + atropina.

Page 50: Contencao fisica e quimica em cervideos

10.ANTAGONISTAS

10.1.Cloridrato de Ioimbina

Apresentação: A droga é disponível no mercado e preparada por farmácias

de manipulação. Assim, sua apresentação pode variar, mas a mais

comumente usada é de ampolas de 2 ml, com 3 mg/ml. Existe uma

apresentação comercializada no EUA, de nome “Antagonil” (Wildlife

Pharmaceuticus, Inc), que eventualmente pode ser importada.

Ação farmacológica: é um bloqueador não sintético dos receptores centrais e

periféricos alfa 2 adrenérgicos. A ioimbina é responsável pela excitação do

sistema nervoso central, provocando elevação da pressão sanguínea e dos

batimentos cardíacos. Pode ser aplicada via intravenosa ou intramuscular. Em

um animal de decúbito lateral completo, após a injeção endovenosa nota-se

uma imediata elevação da freqüência e profundidade respiratória, uma

progressiva tomada de consciência, notada pelo tremor das orelhas e piscar

dos olhos, seguida pelo decúbito esternal e estação. Tudo isso pode ser tão

rápido como 30 segundos, como também pode demorar alguns minutos

(Nunes, 1991). Em média, o anestesista deve estar preparado para retorno

entre 2 a 5 minutos.

Os alces, e alguns indivíduos de outras espécies de cervídeos, podem

não responder satisfatoriamente à ioimbina.

Doses: podem variar desde 0, 125 mg/Kg até 0,9 mg/Kg. Como média temos

usado com bom resultado, a dose de 0,3 a 0,5 mg/Kg.

8.2. Atipamezole ( Antisedan, Farmos), Idazoxan, Tolazolina.

São todos potentes e altamente seletivos antagonistas competitivos aos

adreno-receptores centrais e periféricos α2, sendo usados para reverter efeitos

da xilazina, detomidina e medetomidina, com um mínimo de efeitos

cardiovasculares colaterais (Spinosa et al., 1999).

Page 51: Contencao fisica e quimica em cervideos

O atipamezol é um potente antagonista competitivos de α2-

adrenoceptores de rápida absorção, atingindo concentração máxima após 10

minutos. É altamente efetivo para reverter os efeitos dos agentes agonistas de

α2-adrenoceptores, como a medetomidina e a xilazina, bem como quando estes

estão associados à quetamina ou à tiletamina (Spinosa et al., 1999).

8.3. Flumazenil ( Lanexat, Roche)

Apresentação: ampolas de 3 ml.

Ação farmacológicas: a droga foi sintetizada da sedação, apnéia e

relaxamento muscular induzido pelos benzodiazepínicos. É virtualmente isenta

de efeitos farmacológicos se administrada sozinha, o que não acontece com

outros antagonistas (Duarte, J.M.B., 1997).

Doses: 0,6 a 3,0 mg/Kg.

8.4. Sulfato de atropina

Droga parassimpaticolítica, que atua basicamente na musculatura lisa

dilatando as vias respiratórias, estabilizando o batimento cardíaco, diminuindo

a salivação, o suor, as secreções gástricas e pulmonares, e a motilidade

gástrica. Seu efeito bloqueador do nervo vago induz a taquicardia. Sua maior

eficiência está relacionada com sua capacidade em diminuir a excessiva

secreção das glândulas salivares pela ação da quetamina e tiletamina. É

comumente usada como medicação pré-anestésica na prevenção do estímulo

reflexo vagal (braquicardia colinérgica) no coração durante a indução. Apesar

de indicações em contrário (Clark & Jessup, 1992), tem-se usad0 a atropina em

conjunto com agonistas alfa 2, como a xilazina e a detomidina, com o objetivo

de controlar os conhecidos efeitos bradicardizantes destes.

Doses: IM, IV, VO- 0,04 mg/Kg.

A resposta à atropina acontece de 1 a 15 minutos, dependendo da via de

aplicação. A atropina é considerada parte da medicação pré-anestésica

clássica, devendo assim ser aplicada cerca de 15 minutos antes das demais

Page 52: Contencao fisica e quimica em cervideos

drogas. Entretanto, a necessidade de se aplicar drogas através de dardos nos

tem obrigado a adicionar a atropina junto com agentes indutores e

tranqüilizantes, ao mesmo tempo. Na prática, porém, essa atitude não tem

provocado nenhum acidente ou efeito indesejável de espécie alguma em

dezenas de contenções químicas de cervídeos sul-americanos (Duarte, J.M.B.,

1997).

Animais que costumam dissipar calor através do suor podem ter problemas

com a hipertemia. Proteger a pupila dilatada da luz solar direta, para evitar

danos à retina. Em ruminantes, a atropina pode causar engrossamento da

saliva, que pode obstruir as vias aéreas superiores.

9.Zarabatanas

As zarabatanas são usadas há milênios por comunidades indígenas da

América do Sul, África e Ásia como instrumento propulsor de dardos

embebidos em soluções tóxicas. Os povos nativos fabricavam essa arma com

madeiras especiais, cortadas com até 3 m de comprimento, que permitem aos

caçadores mais experientes acertar o alvo a 40 m de distância. A propulsão do

dardo é feita com um forte assopro no bocal. As toxinas que os indígenas

utilizavam nesses dardos para a caça são extratos vegetais ou secreções

cutâneas de animais (por exemplo, alguns anfíbios da família Dendrobatidae),

com a capacidade de imobilizar a vítima por bloqueio neuromuscular, e até

levá-la ao óbito (Dias, J.L.C. et al., 2006).

O mecanismo de funcionamento da zarabatana utilizada por veterinários de

animais selvagens não mudou, e sua indicação é principalmente para espécies

que não permitem o contato físico, ou para injetar fármacos administrados via

intramuscular, sem o efeito indesejável do estresse da contenção física (Dias,

J.L.C. et al., 2006).

Em instituições como zoológicos, criadouros, circos, e outros centros que

mantenham animais perigosos tanto ao corpo técnico quanto à população, é

imprescindível possuir, no mínimo, uma zarabatana e que haja pessoal

treinado para utilizá-la (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Page 53: Contencao fisica e quimica em cervideos

As zarabatanas são feitas de alumínio ou policarbonato, podendo ter peças

alongadas que aumentam o equipamento em 1 a 2m de comprimento,

melhorando a estabilidade e a distância de alcance do dardo (Dias, J.L.C. et

al., 2006).

O calibre das zarabatanas atuais variam de 11 a 16mm, sendo o maior

diâmetro desenvolvido na Suíça pela empresa Dist-Inject que após anos de

pesquisa, concluir que esse diâmetro permite maior distância permite maior

distância com menor esforço de propulsão(Dias, J.L.C. et al., 2006).

As zarabatanas, independentemente da sua construção (de série ou

artesanal), apresentam muitas vantagens: fácil utilização, baixo custo, silêncio

durante o disparo, pequena velocidade do projétil, menor impacto do dardo no

animal, baixo risco de lesão, fácil manutenção, possibilidade de fabricação

caseira, alcance médio de 5 a 10m, aplicável a várias espécies de animais

(Dias, J.L.C. et al., 2006).

Porém, há também desvantagens: menor alcance do projétil (dardo) em

comparação a pistolas e espingardas, perda de precisão quando se utilizam

dardos de maior capacidade volumétrica, o projétil sofre interferências na

trajetória quando arremessado sob correntes de vento, necessidade de

operador com preparo físico mínimo para disparas os equipamentos (Dias,

J.L.C. et al., 2006).

10. Dardos

Podem ser fabricados com dois materiais básicos: polietileno ou náilon

(dardos de “metal”), sendo estes os primeiros a serem utilizados pelos

profissionais da década de 1950. Os dispositivos de propulsão do conteúdo

líquido dos dardos podem ser de ar comprimido, gás butano, reações químicas

instantâneas e pólvora (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Os dardos comuns são feitos basicamente dos seguintes componentes:

• Câmara anterior: local que armazena o líquido que será utilizado no

alvo.

Page 54: Contencao fisica e quimica em cervideos

• Câmara posterior: Local onde se coloca o agente propelente para injetar

o líquido no alvo, sendo separado da câmara anterior por um êmbolo de

borracha móvel; possui sistema de válvula que permita armazenar certa

quantidade de propelente.

• Agulha: pode ser de calibre variado, mas que suporte o impacto. Pode

ter proeminências (colares) que ajudam na fixação no alvo, permitindo

que o conteúdo líquido seja injetado sem que o dardo caia. A abertura

frontal da agulha é obstruída e substituída por uma abertura por uma

abertura lateral.

• Êmbolo para agulha: peça de borracha ou silicone colocada pouco

abaixo do terço final da agulha. No momento do impacto, o êmbolo

desliza na agulha e a abertura é desobstruída para a injeção.

• Estabilizador de vôo ou “penacho”: parte do dardo feita de fios de lã,

plástico ou pena, que torna o projétil aerodinâmico e permite um Vôo

retilíneo.

Propelente: agente na forma de gás butano ou ar comprimido que

propulsiona o êmbolo de borracha, o qual separa as duas câmaras e permite a

injeção do líquido armazenado no dardo (Dias, J.L.C. et al., 2006).

11.Injeção com bastão aplicador.

É uma extensão do êmbolo de seringa hipodérmica, permite a aplicação

de fármacos a uma distância maior do animal (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Nielsen recomenda o uso do bastão aplicador nas situações em que os

animais estejam restritos: armadilhas, gaiolas de prensa, recintos adaptados

para contenção física (por exemplo, bretes), caixa de transporte ou outros

locais fechados.

Independentemente do modelo de aplicador ou forma de restrição que o

animal se encontre, o uso do bastão deve ser rápido para evitar acidentes. As

principais desvantagens são: necessidade de alvo parado; uso dificultado em

jaulas (em razão das grades e telas); pode ser facilmente alcançado pelo

Page 55: Contencao fisica e quimica em cervideos

animal (primatas e carnívoros); e possibilidade da agulha dobrar ou quebrar

facilmente (Dias, J.L.C. et al., 2006).

12.Projetores remotos

O sistema remoto de injeção com arma de fogo foi desenvolvido em

1958, nos EUA, pela Palmer Cap-Chur, visando principalmente à captura de

animais da fauna africana. Com o aperfeiçoamento dos equipamentos,

surgiram projetores de dardos que utilizam ar comprimido ou gás carbônico,

menos traumatismos (Dias, J.L.C. et al., 2006).

Page 56: Contencao fisica e quimica em cervideos

13. Discussão

13.1.Instalações utilizadas para manter cervídeos em cativeiro.

A grande maioria dos animais selvagens mantidos em cativeiro, em

algum momento de sua vida, precisa ser contida e anestesiada, por uma

variedade de razões, tais como: transporte, exames, tratamentos, recaptura de

animais ferozes, animais fugitivos dos recintos e etc. Porém muitas vezes

torna-se um episódio perigoso e difícil se comparado ao manejo das espécies

domésticas. Visto essa dificuldade de manejo e contenção desses animais em

cativeiro, vale salientar a necessidade de ter as instalações necessárias para

facilitar o manejo e para se realizar os procedimentos com segurança. Deste

modo, é de extrema importância que os zoológicos e criadouros

conservacionistas tenham os recintos adequados para que os cervídeos que

estão em cativeiro e a equipe envolvida no procedimento corram menos riscos

e seja um manejo bem sucedido. Atualmente os recintos de cervídeos

existentes em Zoológicos e Criadouros Conservacionistas, geralmente não

oferecem as instalações adequadas aumentando assim os riscos de acidentes,

traumas e ocorrência de miopatia de captura (MC).

13.2. Técnicas de captura

Os cervídeos são animais reconhecidamente sensíveis aos efeitos do

estresse, sendo comum advirem acidentes traumáticos, sérios problemas

cardio-respiratórios e notadamente distúrbios metabólicos graves, como a

acidose e a miopatia de captura (Fowler, 1986).

Durante os últimos 20 anos, as técnicas de captura física de animais na

natureza tem sido aperfeiçoadas consideravelmente para pequenos, médios e

grandes cervídeos, utilizando desde cevas e iscas para atração para

armadilhas fixas, até currais ou redes de espera para onde os animais são

direcionados, sendo aí capturados física ou quimicamente (Jones, 1983).

Durante alguns manejos realizados com cervídeos verifica-se a

necessidade de conter os animais mais rapidamente possível visando diminuir

o nível de estresse dos mesmos, pois o simples fato da demora de capturar

esses animais podem levá-los a miopatia de captura (MC), além de outros

Page 57: Contencao fisica e quimica em cervideos

distúrbios metabólicos graves que podem levar o animal à óbito de forma

fulminante.

Page 58: Contencao fisica e quimica em cervideos

14.Conclusões

A captura de animais selvagens pode ser necessária por uma variedade

de razões, tais como: transporte, exames, tratamentos, recaptura de

animais ferozes, animais fugitivos dos recintos e etc. A contenção causa

muita tensão e pode ser perigosa tanto para quem está manejando. É

necessário conhecer a conduta normal da espécie, e para a aproximação

do animal exige-se conhecimento sobre o seu comportamento e

conhecimento prático das ferramentas a serem utilizadas.

Quanto à imobilização química, deve-se saber que a escolha do produto

e da posologia são feitos não somente em função da imobilização as

também em razão das condições em que se efetua a captura.

O uso de bloqueadores neuromusculares não consiste atualmente uma

boa opção para contenção rotineira de animais, já que existem muitas

outras drogas seguras. O uso, porém, pode significar o ganho de alguns

minutos no tempo de imobilização do animal, diminuindo na maioria das

vezes a ocorrência de miopatia por captura (MC), lesões nos animais

durante o manejo e diminuindo o risco de acidentes graves tanto com os

animais quanto a equipe que está trabalhando.

A imobilização química dos ruminantes é mais complicada do que a dos

monogástricos, em razão da necessidade de preservar o funcionamento

digestivo.

O sucesso da imobilização de um animal selvagem depende, assim, não

somente do produto e do material empregados mas principalmente, da

experiência dos profissionais.

Page 59: Contencao fisica e quimica em cervideos

15.BIBLIOGRAFIA

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