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ANTROPOS – Revista de Antropologia – Volume 1, Ano 1, Novembro de 2007 – ISSN 1982-1050
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BURNS, Barbara Helen (org.). Contextualização: a fiel comunicação do Evangelho. Anápolis: Transcultural, 2007. 208 p.
Não se pode negar a grande importância que envolve a reflexão sobre o
tema da contextualização missionária, e a preocupação com os pressupostos,
modelos e critérios utilizados num trabalho sério nesse campo de ação. O que
se ouve hoje é que os missionários precisam não somente de uma
compreensão sólida das Escrituras, mas também de um profundo
conhecimento das pessoas a quem servem, a fim de comunicar a mensagem de
forma contextualizada, preservando o conteúdo da verdade bíblica, ao mesmo
tempo em que a faz culturalmente relevante. Para tanto, então, quais
parâmetros o comunicador deve considerar para manter-se fiel na
comunicação dessa verdade ao mesmo tempo em que a contextualiza de forma
relevante?
A bibliografia sobre o assunto ganha destaque com a publicação da obra
organizada por Barbara Helen Burns intitulada Contextualização: a fiel
comunicação do Evangelho. Missionária no Brasil desde 1969, trabalha no
ensino de missiologia, concentrando-se na área de contextualização
missionária, que motivou a produção deste livro. Doutora em Missiologia,
coordena a Escola de Missões Transculturais da Missão JUVEP em João
Pessoa, na Paraíba, desde 1999.
Contextualização é composto por textos de diversos autores, numa
proposta de tentar esclarecer algumas definições e questões que giram em
torno da teoria e prática da contextualização missionária, bem como prover
aos interessados um instrumento de reflexão e pesquisa. O assunto é
CONTEXTUALIZAÇÃO: A FIEL COMUNICAÇÃO DO EVANGELHO
Cláudia de Carvalho Resenha
Revista Antropos – Volume 1, Ano 1, Novembro de 2007 ISSN 1982-1050
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apresentado em quatro perspectivas, quais sejam: bíblica-teológica, histórica,
debates contemporâneos e estudos de caso, as quais determinam a estrutura
da obra. Para tanto, além de escrever três dos onze capítulos, a organizadora
conta com a colaboração de nomes como Ronaldo Lidório, Bertil Ekström,
Kevin Bradford, Paul Hibert, Bernadete da Silva, Joed Venturini, Michael
Dawson e Silas de Lima.
A primeira parte da obra, com três capítulos, aborda o tema sob uma
perspectiva bíblica-teológica. No primeiro capítulo, Ronaldo Lidório trata de
seus objetivos e limitações, sua relevância e perigos, defende a conciliação
entre a Teologia e a Missiologia, a relevância da Antropologia Missionária e
apresenta alguns critérios bíblicos para a contextualização. Ele mostra que a
fundamentação bíblica na contextualização é primordial e necessária para que
haja fidelidade na transmissão dos conceitos bíblicos. Conclui afirmando ser
necessário saber conciliar a sensibilidade e interesse cultural com uma
teologia bíblica que fundamente o ministério:
Colhemos hoje frutos amargos do nominalismo cristão e do sincretismo religioso, que
germinaram a partir de um enfraquecimento da centralidade da Palavra durante o
trabalho de comunicação do Evangelho... Paralelamente também colhemos frutos
amargos pela ausência de compreensão cultural na apresentação de Cristo (p.15).
Bertil Ekström faz uma analise, no segundo capítulo, das situações que
envolveram o apóstolo Paulo em seu ministério transcultural, e a utiliza como
referência para uma contextualização adequada na comunicação das verdades
bíblicas em diferentes contextos religiosos, culturais e lingüísticos. Ele
compara os capítulos 14 e 17 do livro de Atos, para mostrar os elementos
comuns e divergentes que influenciaram a escolha das estratégias de
comunicação do evangelho pelos apóstolos. E conclui citando alguns
princípios básicos e aplicáveis na contextualização missionária.
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No último capítulo da primeira parte, Kevin Bradford analisa o texto de 1
Coríntios 1.18-25, de onde extrai implicações para a contextualização,
considerando especialmente o aspecto da transmissão verbal da mensagem da
cruz. E chama a atenção do leitor para que essa mensagem não deixe de ser
proclamada em detrimento de uma contextualização relevante (p.31).
A segunda parte da obra, composta por um capítulo escrito por Barbara
Burns, se propõe a considerar as raízes da contextualização na história. Para
tal, a autora apresenta alguns exemplos práticos de contextualização na
história da Igreja,como essa palavra surgiu e se desenvolveu no movimento
missionário da igreja evangélica mundial, e como está sendo utilizado hoje.
Faz uma análise da história, incluindo o período bíblico, além do pensamento
daqueles que criaram e têm interagido com o conceito. Começando com Jesus
e o apóstolo Paulo, ela segue e se detêm em nomes como o de Roberto Nobili,
Guilherme Carey, Hudson Taylor, J.O. Frazer, John Nevius, Roland Allen,
Byang Kato, Eugene Nida, Charles Kraft, Bruce Nicholls, David Bosch, Harvie
Conn, Paul Hiebert, David Hesselgrave, René Padilla, Samuel Escobar e
William J. Larkin Jr. A relevância do texto se dá pela constatação de um
problema existente em torno da contextualização: a ameaça à unidade do
movimento brasileiro de missões:
Há discussões e divisões acontecendo por causa da falta de contextualização, ou do
excesso dela... É importante entendermos como surgiram os argumentos e as teorias
que orientam os que estão se posicionando de um ou do outro lado, na esperança de
traçarmos caminhos equilibrados e biblicamente orientados (p.34).
Os debates contemporâneos sobre a contextualização missionária é o
tema que compõe a terceira parte da obra. E nela, Barbara Burns, autora do
quinto capítulo, apresenta um resumo completo do livro esgotado em
português ‘Contextualização: uma Teologia do Evangelho e Cultura’, de Bruce
Nicholls. A partir dessa obra, portanto, ela faz uma leitura da história
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comparando-a com os dias atuais e apresenta indicativos “de que a Igreja
Evangélica está repetindo alguns erros do século passado”. Pois, se no passado
a igreja substituiu Deus e a Sua Palavra pelo humanismo, hoje ela dá uma
“ênfase exagerada no homem e sua cultura” (p.63). Assunto que Nicholls trata
em seu livro, denunciando os perigos do relativismo, do pluralismo cultural e
teológico, da criação de uma teologia baseada na cultura e de uma falta de
contextualização, “quando o missionário impõe sua própria cultura sem
sensibilidade cultural a outros povos, nem critérios bíblicos (p.64).
No capítulo seis, Maria Bernadete da Silva apresenta o texto de Paul
Hiebert, no qual ele discorre sobre as fases ou modelos da contextualização: 1)
Não-contextualização ou contextualização mínima; 2) Contextualização
acrítica; 3) Contextualização crítica; 4) O evangelho compartilhado em
contextos humanos e 5) A revelação divina compartilhada em contextos
humanos. As questões levantadas são o relacionamento entre o Evangelho e os
contextos humanos, e como comunicar o Evangelho para as pessoas em seus
contextos. As respostas a essas questões vêm em forma de três princípios
norteadores: 1) O evangelho não deve ser nivelado com qualquer contexto
particular humano; 2) O evangelho deve ser colocado em contextos sócio-
culturais específicos para que as pessoas possam entendê-lo; e 3) O evangelho
é transformador.
Barbara Burns, no capítulo seguinte, examina a história e bases
teológicas de teorias recentes em relação às estratégias missionárias e aos
níveis de contextualização praticados nos dias de hoje.
A quarta e última parte da obra é composta por quatro capítulos onde o
tema da contextualização é visto através de estudos de caso entre os
Konkombas, por Ronaldo Lidório; entre os Fulas, por Joed Venturini de
Souza; entre os Yanomamis, por Michael Dawson; e entre os Waiãpi, por Silas
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de Lima. Estes encerram a obra trazendo ao leitor exemplos práticos do que
tem sido realizado em dias atuais. Vale a pena dizer que são relatos
inspirativos e enriquecedores para os que se encontram nessa caminhada.
Em Contextualização: a fiel comunicação do Evangelho o leitor poderá
encontrar um excelente livro que serve perfeitamente como parâmetro para
aqueles que buscam estudar a contextualização missionária sob uma ótica
bíblica e que estão dispostos a aprender com os erros cometidos no passado e
em nossos dias, procurando evitá-los.
A obra em apreço é uma análise bastante contundente da
contextualização missionária. Sua leitura é indispensável tanto para os que
vivem a realidade de um campo missionário transcultural como para os que
ensinam a matéria ou buscam entender um pouco mais sobre o tema.
Reconhecemos que o seu potencial despertador pode servir de alerta à igreja,
quanto à importância de investimentos num melhor preparo de seus
missionários tanto teológico, como também missiológico e antropológico.
Recomendamos a leitura deste livro e acreditamos que o leitor será
envolvido pela forma prática e clara com que os textos são expostos, ao mesmo
tempo em que será desafiado a comunicar o Evangelho com fidelidade à sua
mensagem e relevância aos seus ouvintes.