14
CONTOS AFRICANOS A LUA FEITICEIRA E A FILHA QUE NÃO SABIA PILAR A lua tinha uma filha branca e em idade de casar. Um dia apareceu-lhe em casa um monhé pedindo a filha em casamento. A lua perguntou-lhe: — Como pode ser isso, se tu és monhé? Os monhés não comem ratos nem carne de porco e também não apreciam cerveja... Além disso, ela não sabe pilar... O monhé respondeu: __ Não vejo impedimento porque, embora eu seja monhé, a menina pode continuar a comer ratos e carne de porco e a beber cerveja... Quanto a não saber pilar, isso também não tem importância pois as minhas irmãs podem fazê-lo. A lua, então, respondeu: __ Se é como dizes, podes levar a minha filha que, quanto ao mais, é boa rapariga. O monhé levou consigo a menina. Ao chegar a casa foi ter com a sua mãe e fez-lhe saber que a menina com quem tinha casado comia ratos, carne de porco e bebia cerveja, mas que era necessário deixá-la à-vontade naqueles hábitos. Acrescentou também que ela não sabia pilar mas que as suas irmãs teriam a paciência de suprir essa falta. Dias depois, o monhé saiu para o mato à caça. Na sua ausência, as irmãs chamaram a rapariga (sua cunhada) para ir pilar com elas para as pedras do rio e esta desatou a chorar. As irmãs censuraram-na: __ Então tu pões-te a chorar por te convidarmos a pilar?... Isso não está bem! Tens de aprender porque é trabalho próprio das mulheres. E, sem mais conversas, pegaram-lhe na mão e conduziram-na ao lugar onde costumavam pilar. Quando chegaram ao rio puseram-lhe o pilão na frente, entregaram-lhe um maço e ordenaram que pilasse. A rapariga começou a pilar mas com uma mágoa tão grande que as lágrimas não paravam de lhe escorrer pela cara. Enquanto pilava ia-se lamentando: __ Quando estava em casa da minha mãe não costumava pilar... Ao dizer estas palavras, a rapariga, sempre a pilar e juntamente com o pilão, começou a sumir-se pelo chão abaixo, por entre as pedras que, misteriosamente, se afastavam. E foi mergulhando, mergulhando... até desaparecer. História africanas. Janelas! 20 contar. http://caracol.imaginario.com/estorias/index.html A MENINA QUE NÃO FALAVA Certo dia, um rapaz viu uma rapariga muito bonita e apaixonou-se por ela. Como se queria casar com ela, no outro dia, foi ter com os pais da rapariga para tratar do assunto. __ Essa nossa filha não fala. Caso consigas fazê-la falar, podes casar com ela, responderam os pais da rapariga. O rapaz aproximou-se da menina e começou a fazer-lhe várias perguntas, a contar coisas engraçadas, bem como a insultá-la, mas a miúda não chegou a rir e não pronunciou uma só palavra. O rapaz desistiu e foi-se embora. Após este rapaz, seguiram-se outros pretendentes, alguns com muita fortuna mas, ninguém conseguiu fazê-la falar. O último pretendente era um rapaz sujo, pobre e insignificante. Apareceu junto dos pais da rapariga dizendo que queria casar com ela, ao que os pais responderam: __ Se já várias pessoas apresentáveis e com muito dinheiro não conseguiram fazê-la falar, tu é que vais conseguir? Nem penses nisso! O rapaz insistiu e pediu que o deixassem tentar a sorte. Por fim, os pais acederam. O rapaz pediu à rapariga para irem à sua machamba, para esta o ajudar a sachar. A machamba estava carregada de muito milho e amendoim e o rapaz começou a sachá-los. Depois de muito trabalho, a

Contos Africanos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Seleção de contos tradicionais africanos.

Citation preview

  • CONTOS AFRICANOS

    A LUA FEITICEIRA E A FILHA QUE NO SABIA PILAR

    A lua tinha uma filha branca e em idade de casar. Um dia apareceu-lhe em casa um monh pedindoa filha em casamento. A lua perguntou-lhe: Como pode ser isso, se tu s monh? Os monhs nocomem ratos nem carne de porco e tambm no apreciam cerveja... Alm disso, ela no sabe pilar...O monh respondeu: __ No vejo impedimento porque, embora eu seja monh, a menina pode continuar a comer ratos ecarne de porco e a beber cerveja... Quanto a no saber pilar, isso tambm no tem importncia poisas minhas irms podem faz-lo. A lua, ento, respondeu:__ Se como dizes, podes levar a minha filha que, quanto ao mais, boa rapariga. O monh levouconsigo a menina. Ao chegar a casa foi ter com a sua me e fez-lhe saber que a menina com quemtinha casado comia ratos, carne de porco e bebia cerveja, mas que era necessrio deix-la -vontadenaqueles hbitos. Acrescentou tambm que ela no sabia pilar mas que as suas irms teriam apacincia de suprir essa falta. Dias depois, o monh saiu para o mato caa. Na sua ausncia, asirms chamaram a rapariga (sua cunhada) para ir pilar com elas para as pedras do rio e esta desatoua chorar. As irms censuraram-na:__ Ento tu pes-te a chorar por te convidarmos a pilar?... Isso no est bem! Tens de aprenderporque trabalho prprio das mulheres. E, sem mais conversas, pegaram-lhe na mo e conduziram-na ao lugar onde costumavam pilar.Quando chegaram ao rio puseram-lhe o pilo na frente, entregaram-lhe um mao e ordenaram quepilasse. A rapariga comeou a pilar mas com uma mgoa to grande que as lgrimas no paravam de lheescorrer pela cara. Enquanto pilava ia-se lamentando:__ Quando estava em casa da minha me no costumava pilar... Ao dizer estas palavras, a rapariga,sempre a pilar e juntamente com o pilo, comeou a sumir-se pelo cho abaixo, por entre as pedrasque, misteriosamente, se afastavam. E foi mergulhando, mergulhando... at desaparecer.

    Histria africanas. Janelas! 20 contar. http://caracol.imaginario.com/estorias/index.html

    A MENINA QUE NO FALAVA

    Certo dia, um rapaz viu uma rapariga muito bonita e apaixonou-se por ela. Como se queria casarcom ela, no outro dia, foi ter com os pais da rapariga para tratar do assunto. __ Essa nossa filha no fala. Caso consigas faz-la falar, podes casar com ela, responderam os paisda rapariga. O rapaz aproximou-se da menina e comeou a fazer-lhe vrias perguntas, a contar coisasengraadas, bem como a insult-la, mas a mida no chegou a rir e no pronunciou uma s palavra.O rapaz desistiu e foi-se embora. Aps este rapaz, seguiram-se outros pretendentes, alguns com muita fortuna mas, ningumconseguiu faz-la falar. O ltimo pretendente era um rapaz sujo, pobre e insignificante. Apareceu junto dos pais da raparigadizendo que queria casar com ela, ao que os pais responderam: __ Se j vrias pessoas apresentveis e com muito dinheiro no conseguiram faz-la falar, tu quevais conseguir? Nem penses nisso! O rapaz insistiu e pediu que o deixassem tentar a sorte. Por fim, os pais acederam. O rapaz pediu rapariga para irem sua machamba, para esta o ajudar a sachar. A machamba estavacarregada de muito milho e amendoim e o rapaz comeou a sach-los. Depois de muito trabalho, a

  • menina ao ver que o rapaz estava a acabar com os seus produtos, perguntou-lhe:__ O que ests a fazer? O rapaz comeou a rir e, por fim, disse para regressarem a casa para junto dos pais dela e acabaremde uma vez com a questo. Quando a chegaram, o rapaz contou o que se tinha passado na machamba. A questo foi discutidapelos ancios da aldeia e organizou-se um grande casamento.

    Histria africanas. Janelas! 20 contar. http://caracol.imaginario.com/estorias/index.html

    A GAZELA E O CARACOL

    Uma gazela encontrou um caracol e disse-lhe:__ Tu, caracol, s incapaz de correr, s te arrastas pelo cho. O caracol respondeu:__ Vem c no Domingo e vers! O caracol arranjou cem papis e em cada folha escreveu: Quando vier a gazela e disser "caracol",tu respondes com estas palavras: "Eu sou o caracol". Dividiu os papis pelos seus amigos caracisdizendo-lhes: __ Leiam estes papis para que saibam o que fazer quando a gazela vier. No Domingo a gazela chegou povoao e encontrou o caracol. Entretanto, este pedira aos seusamigos que se escondessem em todos os caminhos por onde ela passasse, e eles assim fizeram.Quando a gazela chegou, disse: __ Vamos correr, tu e eu, e tu vais ficar para trs! O caracol meteu-se num arbusto, deixando a gazela correr. Enquanto esta corria ia chamando: __ Caracol! E havia sempre um caracol que respondia: __ Eu sou o caracol. Mas nunca era o mesmo por causa das folhas de papel que foram distribudas. A gazela, por fim, acabou por se deitar, esgotada, morrendo com falta de ar. O caracol venceu,devido esperteza de ter escrito cem papis. Comentrio do narrador : Como tu sabes escrever e ns no, ns cansamo-nos mas tu no. Nsnada sabemos!. Eduardo Medeiros (org.). Contos populares moambicanos, 1997.http://www.terravista.pt/Bilene/4619/Conto1.html

    O HOMEM CHAMADO NAMARASOTHA

    Havia um homem que se chamava Namarasotha. Era pobre e andava sempre vestido com farrapos.Um dia foi caa. Ao chegar ao mato, encontrou uma impala morta. Quando se preparava paraassar a carne do animal apareceu um passarinho que lhe disse: __ Namarasotha, no se deve comer essa carne. Continua at mais adiante que o que bom estarl. O homem deixou a carne e continuou a caminhar. Um pouco mais adiante encontrou uma gazelamorta. Tentava, novamente, assar a carne quando surgiu um outro passarinho que lhe disse: __ Namarasotha, no se deve comer essa carne. Vai sempre andando que encontrars coisa melhordo que isso. Ele obedeceu e continuou a andar at que viu uma casa junto ao caminho. Parou e uma mulher queestava junto da casa chamou-o, mas ele teve medo de se aproximar pois estava muito esfarrapado. __ Chega aqui!, insistiu a mulher. Namarasotha aproximou-se ento. __ Entra, disse ela.

  • Ele no queria entrar porque era pobre. Mas a mulher insistiu e Namarasotha entrou, finalmente. __ Vai te lavar e veste estas roupas, disse a mulher. E ele lavou-se e vestiu as calas novas. Emseguida, a mulher declarou: __ A partir deste momento esta casa tua. Tu s o meu marido e passas a ser tu a mandar. E Namarasotha ficou, deixando de ser pobre. Um certo dia havia uma festa a que tinham de ir. Antes de partirem para a festa, a mulher disse aNamarasotha: __ Na festa a que vamos quando danares no devers virar-te para trs. Namarasotha concordou e l foram os dois. Na festa bebeu muita cerveja de farinha de mandioca eembriagou-se. Comeou a danar ao ritmo do batuque. A certa altura a msica tornou-se toanimada que ele acabou por se virar. E no momento em que se virou, ficou como estava antes de chegar casa da mulher: pobre eesfarrapado.

    NOTA: Todo o homem adulto deve casar-se com uma mulher de outra linhagem. S assim respeitado como homem e tido como bem vestido. O adulto sem mulher esfarrapado e pobre.A verdadeira riqueza para um homem a esposa, os filhos e o lar. Os animais que Namarasothaencontrou mortos simbolizam mulheres casadas e se comes se dessa carne estaria a cometeradultrio. Os passarinhos representam os mais velhos, que o aconselham a casar com uma mulherlivre. Nas sociedades matrilineares do Norte de Moambique (donde provm este conto), so oshomens que se integram nos espaos f amiliares das esposas. Nestas sociedades, o chefe de cada umdestes espaos o tio materno da esposa. O homem casado tem de sujeitar-se s normas e regrasque este traa. Se se revolta e impe as suas, perde o seu estatuto de marido e expulso, ficandocada cnjuge com o que levou para o lar. Cumprindo sempre o que os passarinhos lhe iam dizendodurante a sua viagem em busca de riqueza, Namarasotha acabou por encontr-la: casou com umamulher livre e obteve um lar. Mas por no ter seguido o conselho da mulher, perdeu o estatutodignificante de homem adulto e casado.

    Eduardo Medeiros (org.). Contos Populares Moambicanos ,1997.http://www.terravista.pt/Bilene/4619/Conto8.html.

    O RATO E O CAADOR

    Antigamente havia um caador que usava armadilhas, abrindo covas no cho. Ele tinha uma mulherque era cega e fizera com ela trs filhos. Um dia, quando visitava as suas armadilhas, encontrou-se com um leo: __ Bom dia, senhor! Que fazes por aqui no meu territrio? (perguntou o leo) __ Ando a ver se as minhas armadilhas apanharam alguma coisa, respondeu o homem. __ Tu tens de pagar um tributo, pois esta regio pertence-me. O primeiro animal que apanhares teu e o segundo meu e assim sucessivamente. O homem concordou e convidou o leo a visitar as armadilhas, uma das quais tinha uma presa __uma gazela. Conforme o combinado, o animal ficou para o dono das armadilhas. Passado algumtempo, o caador foi visitar os seus familiares e no voltou no mesmo dia. A mulher, necessitandode carne, resolveu ir ver se alguma das armadilhas tinha presa. Ao tentar encontrar as armadilhas,caiu numa delas com a criana que trazia ao colo. O leo que estava espreita entre os arbustos, viu que a presa era uma pessoa e ficou espera que ocaador viesse para este lhe entregar o animal, conforme o contrato. No dia seguinte, o homemchegou a sua casa e no encontrou nem a mulher nem o filho mais novo. Resolveu, ento, seguir aspegadas que a sua mulher tinha deixado, que o guiaram at zona das armadilhas. Quando achegou, viu que a presa do dia era a sua mulher e o filho. O leo, l de longe, exclamou ao ver ohomem a aproximar-se: __ Bom dia amigo! Hoje a minha vez! A armadilha apanhou dois animais ao mesmo tempo. J

  • tenho os dentes afiados para os comer! __ Amigo leo, conversemos sentados. A presa a minha mulher e o meu filho. __ No quero saber de nada. Hoje a caada minha, como rei da selva e conforme o combinado,protestou o leo. De sbito, apareceu o rato. __ Bom dia titios! O que se passa?, Disse o pequeno animal. __ Este homem est a recusar-se a pagar o seu tributo em carne, segundo o combinado. __ Titio, se concordaram assim, porque no cumpres? Pode ser a tua mulher ou o teu filho, masdeves entreg-los. Deixa isso e vai-te embora, disse o rato ao homem. Muito contrariado, o caadorretirou-se do local da conversa, ficando o rato, a mulher, o filho e o leo. __ Ouve, tio leo, ns j convencemos o homem a dar-te as presas. Agora deves-me explicar como que a mulher foi apanhada. Temos que experimentar como que esta mulher caiu na armadilha (elevou o leo para perto de outra armadilha). Ao fazer a experincia, o leo caiu na armadilha. Ento, o rato salvou a mulher e o filho,mandando-os para casa. A mulher, vendo-se salva de perigo, convidou o rato a ir viver para a suacasa, comendo tudo o que ela e a sua famlia comiam. Foi a partir daqui que o rato passou a viver em casa do homem, roendo tudo quanto existe...

    http://www.terravista.pt/Bilene/4619/Conto9.html

    OS SEGREDOS DA NOSSA CASA

    Certo dia, uma mulher estava na cozinha e, ao atiar a fogueira, deixou cair cinza em cima do seuco. O co queixou-se: __ A senhora, por favor, no me queime! Ela ficou muito espantada: um co a falar! At parecia mentira... Assustada, resolveu bater-lhe como pau com que mexia a comida. Mas o pau tambm falou: __ O co no me fez mal. No quero bater-lhe! A senhora j no sabia o que fazer e resolveu contar s vizinhas o que se tinha passado com o co eo pau. Mas, quando ia sair de casa a porta, com um ar zangado, avisou-a: __ No saias daqui e pensa no que aconteceu. Os segredos da nossa casa no devem ser espalhadospelos vizinhos. A senhora percebeu o conselho da porta. Pensou que tudo comeara porque tratara mal o seu co.Ento, pediu-lhe desculpa e repartiu o almoo com ele. Comentrio : fundamental sabermos conviver uns com os outros, assegurar o respeito mtuo,embora s vezes seja difcil...

    "Eu conto, tu contas, ele conta... Estrias africanas", org. de Aldnio Gomes, 1999http://www.terravista.pt/Bilene/4619/Conto7.html

    TODOS DEPENDEM DA BOCA...

    Certo dia, a boca, com ar vaidoso, perguntou: __ Embora o corpo seja um s, qual o rgo mais importante? Os olhos responderam: __ O rgo mais importante somos ns: observamos o que se passa e vemos as coisas. __ Somos ns, porque ouvimos __ disseram os ouvidos. __ Esto enganados. Ns que somos mais importantes porque agarramos as coisas, disseram as mos.

  • Mas o corao tambm tomou a palavra: __ Ento e eu? Eu que sou importante: fao funcionar todo o corpo! __ E eu trago em mim os alimentos! __ interveio a barriga. __ Olha! Importante aguentar todo o corpo como ns, as pernas, fazemos. Estavam nisto quando a mulher trouxe a massa, chamando-os para comer. Ento os olhos viram a massa, o corao emocionou-se, a barriga esperou ficar farta, os ouvidos escutavam, as mos podiam tirar bocados, as pernas andaram... mas a boca recusou comer. E continuou a recusar. Por isso, todos os outros rgos comearam a ficar sem foras... Ento a boca voltou a perguntar: __ Afinal qual o rgo mais importante no corpo? __ s tu boca, responderam todos em coro. Tu s o nosso rei!

    Nota: todos ns somos importantes e, para viver, temos de aprender a colaborar uns com os outros...

    "Eu conto, tu contas, ele conta... Estrias africanas", org. de Aldnio Gomes, 1999http://www.terravista.pt/Bilene/4619/Conto5.html

    UMA IDIA TONTA

    Um dia a hiena recebeu convite para dois banquetes que se realizavam mesma hora em duas povoaes muito distantes uma da outra. Em qualquer dos festins era abatido um boi, carne que a hiena especialmente gulosa. __ No h dvida de que tenho de assistir aos dois banquetes, pois no quero desconsiderar os anfitries. Tambm as oportunidades de comer carne de boi no so muitas... mas como hei-de fazer, se as festas so em lugares to distantes um do outro? A hiena pensou, pensou... e, de repente, bateu com a mo na testa. __ Descobri! Afinal simples... __ disse ela, muito contente com a sua esperteza. Saiu pressa de casa. Assim que chegou ao local donde partiam os dois caminhos que levavam aos locais das festas,comeou a andar pelo caminho que ficava do lado direito com a perna direita e pelo caminho que ficava do lado esquerdo, com a perna esquerda. Pensava chegar deste modo a ambas as festas ao mesmo tempo. Mas comeou a ficar admirada de lhe custar tanto caminhar dessa maneira. E fez tanto esforo, que se sentiu dividir em duas de alto a baixo. Coitada, l a levaram ao mdico __ que a proibiu, desde logo, de comer carne de boi durante um ms. muito tonta a hiena!

    "Eu conto, tu contas, ele conta... Estrias africanas", org. de Aldnio Gomes, 1999http://www.terravista.pt/Bilene/4619/Conto6.html .

    A HIENA E O GALA-GALA

    A Hiena estabeleceu relaes de amizade com o Gala-Gala. Um dia, a Hiena preparou cerveja e foi chamar o seu amigo lagarto: __ Vamos beber cerveja. Foram. O Gala-Gala embriagou-se. Perguntou sua amiga Hiena: __ Amiga, tu que gostas tanto de carne, se me encontrares morto no caminho, s capaz de me comer? __ No, isso nunca. Eu quero ser tua amiga. O lagarto embriagou-se muito e despediu-se: __ Amiga, vou para minha casa. __ Est bem. O Gala-Gala partiu. A meio do caminho, deitou-se a dormir. A Hiena pensou: "O meu amigo bebeu

  • muito. melhor ir ver se ele chega bem a casa". Encontrou-o no caminho, deitado. Levantou-o: __ sono, amigo? embriaguez? Segurou-o, virando-o. O lagarto calou-se, sem respirar. A Hiena agarrou nele e atirou- o para o mato. Depois saiu do caminho, foi ver onde que o Gala-Gala tinha cado e encontrou-o. __ O meu amigo morreu. Cortou lenha, fez fogo, e agarrou no lagarto para o assar na fogueira. O Gala-Gala, sentindo o calor do fogo, bateu com a cauda nos olhos da Hiena e subiu, depressa, para uma rvore. A amizade entre eles acabou ali. O Gala-Gala passou a viver nas rvores e a Hiena continuou a andar no cho, para nunca mais se encontrarem.

    Histria africanas. Janelas! 20 contar. http://caracol.imaginario.com/estorias/index.html

    CORAO-SOZINHO

    O Leo e a Leoa tiveram trs filhos; um deu a si prprio o nome de Corao-Sozinho, o outro escolheu o de Corao-com-a-Me e o terceiro o de Corao-com-o-Pai. Corao-Sozinho encontrou um porco e apanhou-o, mas no havia quem o ajudasse porque o seu nome era Corao-Sozinho. Corao-com-a-Me encontrou um porco, apanhou-o e sua me veio logo para o ajudar a matar o animal. Comeram-no ambos. Corao-com-o-Pai apanhou tambm um porco. O pai veio logo para o ajudar. Mataram o porco e comeram-no os dois. Corao-Sozinho encontrou outro porco, apanhou-o mas no o conseguia matar. Ningum foi em seu auxlio. Corao-Sozinho continuou nas suas caadas, sem ajuda de ningum. Comeou a emagrecer, a emagrecer, at que um dia morreu. Os outros continuaram cheios de sade por no terem um corao sozinho.

    Contos Moambicanos: INLD, 1979 http://www.terravista.pt/Bilene/1494/leao.html

    O FIM DA AMIZADE ENTRE O CORVO E O COELHO

    O Corvo era muito amigo do Coelho. Combinaram, um dia, que cada um deles transportasse o companheiro s costas, indo de povoao em povoao, para dar a conhecer s pessoas a amizade que os unia. O Corvo comeou a carregar o Coelho. Andou com ele s costas pelas aldeias e a gente, quando o via, perguntava-lhe: __ Corvo, que trazes tu a? __ Trago um amigo meu que acaba de chegar de Namandicha. Passou assim com ele por muitas terras. Chegou depois a vez de ser o Coelho a carregar com o Corvo. Ao passar por uma aldeia, os moradores perguntaram-lhe: __ Coelho, que trazes tu s costas? __ Ora, ora, trago penas, penugem e um grande bico __ respondeu, a troar, o Coelho. O Corvo no gostou que o companheiro o gozasse daquela maneira, saltou logo para o cho e deixaram de ser amigos.

    Contos Moambicanos: INLD, 1979 http://www.terravista.pt/Bilene/1494/corvo.html

    O CGADO E O LAGARTO

    Num ano em que havia pouca comida, o Cgado pegou no dinheiro que tinha economizado e foi a Nanhagaia onde comprou um saco de milho.

  • Quando voltava para casa, viu, a certa altura, um tronco de rvore atravessado no caminho. Como no conseguia passar por cima dele, atirou o saco de milho para o outro lado e depois foi dar a volta. Quando estava a dar a volta, ouviu uma voz a gritar: __ Viva, viva, tenho um saco de milho que caiu l de cima. Era o Lagarto, que segurava o saco que o Cgado tinha atirado. O Cgado protestou: __ No. O saco meu. Comprei-o agora e vou lev-lo para casa. O Lagarto no quis ouvir nada e levou o saco para casa dele, dizendo: __ Eu no o roubei a ningum. Achei-o. Vou comer o milho porque encontrei o saco. O Cgado ficou muito zangado mas no podia fazer nada. Cheio de fome, no dia seguinte foi com os filhos ver se encontrava alguma coisa para comer. A certa altura, viram o rabo do Lagarto que saa de dentro de um buraco, s com o rabo de fora. O Cgado agarrou no rabo e numa faca e preparou-se para o cortar. Depois de cortado, levou-o para casa e comeu-o com os filhos. O Lagarto que, entretanto tinha conseguido sair do buraco, foi queixar-se ao responsvel da aldeia:__ O Cgado cortou-me o rabo. Mande-o chamar para ele dizer porque que me cortou o rabo. O responsvel convocou o Cgado e perguntou-lhe: __ verdade que tu cortaste o rabo ao Lagarto? O Cgado, que era muito esperto, disse: __ verdade que eu encontrei um rabo perto de um buraco e o levei para casa para comer, mas no era de ningum. Eu no vi mais nada seno o rabo. __ Mas o rabo era meu __ gritou o Lagarto __ tens de o pagar. O Cgado respondeu: __ No, no pago. Eu fiz o mesmo que tu fizeste ontem. Tu ontem encontraste o meu saco de milho e comeste-o. Eu hoje encontrei o teu rabo e comi-o. Agora estamos pagos. O responsvel achou que ele tinha razo e mandou-os embora.

    Contos Moambicanos: INLD, 1979 http://www.terravista.pt/Bilene/1494/cagado.html

    O CARACOL E A IMPALA

    Uma Impala, muito vaidosa da sua agilidade e da rapidez com que corria, encontrou um Caracol ecomeou a fazer pouco dele: __ Caracol, tu no s capaz de correr. Que vergonha, s s capaz de te arrastar pelo cho. O Caracol, que era esperto, resolveu enganar a Impala. Por isso desafio-a: __ Vem c no prximo domingo e vamos fazer uma corrida por esta estrada, desde aqui at ao rio.__ Uma corrida comigo? __ perguntou, espantada, a Impala. Est bem, c estarei. E afastou-se a rir, pensando que o Caracol era maluco por querer correr com ela. O Caracol, entretanto, como tinha ido escola e sabia ler e escrever, escreveu uma carta a todos oscaracis amigos dele que moravam ao longo da estrada at ao rio. Nessa carta ele dizia aos amigospara, no domingo, estarem junto estrada e, quando passasse a Impala, se ela chamasse peloCaracol, eles responderem: "C estou eu, o Caracol." No domingo, a Impala encontrou-se com o Caracol e, a rir muito, disse-lhe: __ Vamos l ento correr os dois e ver quem chega primeiro ao rio. O Caracol deixou-a partir a correr e escondeu-se num arbusto. A Impala corria e, de vez em quando,gritava: __ Caracol, Caracol, onde que tu ests? E havia sempre um dos amigos do Caracol que estava ali perto e respondia: __ C estou eu, o Caracol. A Impala, que julgava ser sempre o mesmo Caracol que ia a correr com ela, corria cada vez mais,mas havia em todos os momentos um Caracol para responder quando ela chamava.

  • De tanto correr, a Impala acabou por se deitar muito cansada e morrer com falta de ar. O Caracolganhou a aposta porque foi mais esperto que a Impala e tinha ido escola junto com os outroscaracis e todos sabiam ler e escrever. S assim se puderam organizar para vencer a Impala. Contos moambicanos: INLD, 1979 http://www.terravista.pt/Bilene/1494/caracol.html

    O ELEFANTE, ESCRAVO DO COELHO

    Uma vez, o Coelho andava a passear e encontrou um grande ajuntamento de animais sentados sombra de uma rvore. Cheio de curiosidade, quis logo saber do motivo daquela reunio eperguntou: __ Ento o que que se passa? Que novidades h por aqui? Um dos animais explicou: __ Trata-se de um milando e estamos espera do Elefante, o nosso chefe, para o resolver. __ O qu?... O qu?... O Elefante vosso chefe? __ perguntou o Coelho, franzindo a testa. E continuou: __ O Elefante no chefe nenhum! O Elefante meu escravo e leva-me sempre s costas aqualquer parte que eu queira! Alguns do grupo admiraram-se: __ Como pode o Elefante ser teu escravo se tu s to pequeno? __ O ser pequeno nada tem a ver com o meu valor __ replicou o Coelho. E, em tom autoritrio, acrescentou: __ J vos disse e torno a dizer que o Elefante no chefe, meu escravo, e por isso, vocs podem irembora daqui, que nesta coisa de resolver milandos ele no tem nada que se meter.Dito isto, o Coelho dirigiu os passos para sua casa e muitos dos animais foram-se tambm emboradali por terem acreditado nas suas palavras.Algum tempo depois, chegou o Elefante e perguntou: __ Ento onde esto os outros que aqui faltam? Atrasaram-se na viagem? __ No! __ explicaram-lhe os poucos animais que l tinham ficado. Os que aqui faltam foram-seembora h pouco tempo, porque passou neste lugar o Coelho e disse- nos que tu, Elefante, no schefe, mas sim, um escravo dele. O Elefante tremeu todo de indignao e, muito furioso, resmungou: __ Ah, Coelho malandro! Coelho vigarista!... Deixa l que, hoje mesmo, me dars conta de palavrasto injuriosas e to vis!... Entretanto, o Coelho chegou a casa e fingiu-se doente. A mulher, cheia de pena, foi estender umaesteira e o Coelho deitou-se nela. Da a momentos chegou a Impala, que era cunhada do Coelho, avisando-o de que o Elefante j seaproximava para lhe fazer mal. E, transmitido o recado, retirou-se. O Coelho, manhoso, entrou ento em grandes convulses, soltando, ao mesmo tempo, gemidos tolastimosos que era mesmo de partir o corao. Chegou o Elefante que se ps a roncar, muito mal disposto: __ Coelho, malandro, salta depressa c para fora, que tens de me acompanhar. O Coelho murmurou, a gemer e entrecortando as palavras: __ Oh! Por... fa... vor! Des... cul... pe-me... porque eu... no... es...tou... bom!... di-me mui...to... ocor... po to...do! Isto foi... um mal que me deu de re... pen... te... __ No quero saber! Seja como for, tens de vir comigo ao lugar onde esto reunidos os outrosanimais, porque ouvi dizer que tiveste o descaramento de enxovalhar o meu ttulo de chefe e dedizer que eu sou teu escravo __ replicou o Elefante. __ Tens to... da a ra... zo... mas o cer... to que eu... no aguen... to ca... mi... nhar... para te po...der... acom... pa... nhar! __ J te disse, tens de vir comigo, custe o que custar, mesmo que eu tenha de te levar s costas __ordenou o Elefante.

  • __ Ento s se for desse mo... do, mas fi... ca... sa... ben... do que mes... mo assim a via... gem mevai ser muito... pe... no... sa. E, logo a seguir, chamou a mulher e disse, chorosamente: __ D c a minha ca... mi... sa nova. Hi... Hi... Hi... Hi... vai tam... bm bus... car as minhas cal...as no... vas. E, depois: __ J a... go... ra, traz tam... bm os meus sa... pa... tos no... vos! que po... de a... con... te... cerque eu morra e, ao me... nos, que... ro morrer com os meus tra... jes mais ricos. Uma vez o Coelho vestido e calado, o Elefante abaixou-se e o Coelho saltou-lhe para as costas,onde se instalou muito bem instalado. Estava um calor de rachar pedras. Antes de partir, o Coelho gritou para a mulher: __ mulher, d-me c a sombrinha porque est muito calor... e posso agravar os meus males comalguma insolao. O Elefante, em grandes e rpidas passadas, ps-se a caminho da reunio. Quando se aproximavam do lugar, o Coelho, deixando de fingir que estava doente, ensaiou umaatitude de pessoa importante e esboou um sorriso feliz. Os outros animais ao verem o Coelho assim todo solene e bem apresentado, s costas do Elefante,comearam todos com grandes exclamaes: __ Olha! Olha!... Sempre verdade o que o Coelho dizia. O Elefante escravo dele... pois que otraz s costas. Quando o Elefante parou, o Coelho deu um salto, muito gil e elegante, para o cho e, tomando apalavra, dirigiu-se assim aos outros animais: __ Esto a ver?... Esto a ver?... Eu no vos dizia que o Elefante o meu escravo? Todos os animais presentes romperam em grande gritaria, clamando: __ verdade, sim senhor, verdade. Tu, Elefante, no s chefe nenhum!... s escravo do Coelhopois o carregas s costas. O Elefante s ento deu pelo acto de estupidez que cometera e, cheio de vergonha, desandou dalipara fora.

    Contos Moambicanos: INLD, 1979 http://www.terravista.pt/Bilene/1494/elefante.html

    O GATO E O RATO

    O Gato e o Rato tornaram-se amigos. Um dia combinaram fazer uma viagem a uma terra distante.Pelo caminho tinham de atravessar um rio. __ Por onde passaremos? __ perguntou o Gato. __ O rio leva muita gua. O Rato respondeu: __ No faz mal. Fazemos um barco. O Gato concordou e logo ali os dois colheram uma grande raiz de mandioca e fizeram um barcocom ela. Meteram o barco na gua, entraram para ele e comearam a atravessar o rio. Pelo caminho comearam a ter fome e repararam que no tinham levado comida. O Gato perguntou ento: __ O que que ns havemos de comer? __ No te preocupes, amigo Gato, porque podemos comer o nosso prprio barco. E os dois comearam a comer o barco. O Gato pouco comeu porque a mandioca no lhe sabia bem,mas o Rato comeu, comeu, comeu at que acabou por furar o barco, que foi ao fundo. O Gato e o Rato tiveram que nadar at margem, mas, enquanto o Rato nadava bem e depressa, oGato que mal sabia nadar, s com muita dificuldade e muito envergonhado que conseguiu chegara terra. O Gato olhou ento para o Rato e viu que ele estava com a barriga bem cheia por causa damandioca, enquanto ele continuava cheio de fome. Por isso lembrou-se de comer o Rato. __ Sintomuita fome, Rato.

  • Vou ter de te comer. __ Est bem __ disse o Rato espertalho __ mas olha que eu estou muito sujo. melhor ir primeirolavar-me. Espera a. O Rato afastou-se e desapareceu. O Gato ainda hoje est espera.

    Contos Moambicanos: INLD, 1979 http://www.terravista.pt/Bilene/1494/gato1.html

    PORQUE QUE OS CES SE CHEIRAM UNS AOS OUTROS

    H muito tempo, quando os ces ainda no tinham sido domesticados pelo homem, viviamorganizados em dois pases. Cada pas tinha um chefe e cada chefe gabava-se de ser mais poderosoque o outro. Um desses chefes quis um dia casar com a irm do outro. Mas, como eles estavamsempre zangados, o outro respondeu: __ No. No quero que sejas o marido da minha irm. O chefe que queria casar ficou furioso, porque gostava muito da irm do outro chefe. Por issomandou um dos seus servidores terra do outro para lhe dizer: __ Se me recusas a tua irm eu vou a com o meu exrcito e destruo tudo. Quando o servidor se preparava para partir, os conselheiros do chefe viram que ele estava todo sujo.No tinha lavado a cara e tinha a cauda muito suja. Ora era costume naqueles pases uma pessoa ir limpa e bem apresentada quando ia terra dos paisda noiva pedir-lhes a filha em casamento. Por isso perguntaram-lhe: __ Como se compreende que no te tenhas lavado? Ele ficou muito envergonhado e os conselheiros encarregaram outros servidores de o lavarem muitobem e de lhe deitarem perfume na cauda para que ele cheirasse bem. Quando o mensageiro ia pelo caminho, sentia-se muito vaidoso por ir to limpo e com a caudaperfumada. Por isso esqueceu-se do que ia fazer. Comeou a procurar uma esposa para ele prprio edesapareceu sem cumprir a sua tarefa at hoje. por isso que, desde essa altura, os ces andam todos sempre muito ocupados a cheirar a cauda unsdos outros para ver se encontram o mensageiro que desapareceu. Contos Moambicanos: INLD, 1979 http://www.terravista.pt/Bilene/1494/caes.html

    PITA PONJE

    Quando um beb nascia, tinha que ficar pelo menos trs a quatro semanas dentro de casa e a medesse beb no podia falar com pessoas de fora. Tambm a prpria me tinha que ficar escondida,assim, dentro da cubata. At esta altura, o beb estava sem nome. S quando a ponta do umbigo do beb tivesse secado etivesse cado que se podia atribuir o nome ao beb. E esta atribuio do nome ao beb eraespecial, porque geralmente tinha que se fazer uma festa, a "Pita pondje". No dia de "pita pondje", o pai do beb tinha que ter pelo menos um cabrito, e a famlia maternado beb tinha que preparar bebidas fermentveis, para servir como alimentao no momento dofestejo. Quando a famlia do marido e da mulher tivessem chegado, o pai do beb ia para dentro da cubata,saa com o beb, punha-o por cima da cubata e dizia o nome completo do beb - MekondjoMwetjihanga Mbutu. Entretanto, este nome era divulgado em voz alta para que toda gente o ouvisse. Finalmente ,depois do anncio do nome, era servida s pessoas a festa que se tinha preparado. Mbutu Tjipena Estudante da Universidade da Nambia http://www.instituto-camoes.pt/CVC/projtelecolab/tintalusa/primeironumero/tl7.html

  • ERA UMA VEZ...

    Era uma vez.... Numa aldeia havia uma senhora com duas filhas, uma chamada Kissanga e outraBinga. Ela era uma senhora que fazia o papel de pai e me. Nesta mesma regio havia certos "Maqucis". Maqucis uma palavra que em Kimbundo significahomens canibais ou seres gigantescos. As pessoas da aldeia, por vezes, eram presas por estesmesmos "Maqucis". A me, no tendo nenhum meio de sobrevivncia a no ser lavrar, arriscava-se a ir lavrar e colher aalimentao para as suas filhas, que eram pequenas. Certo dia, quando ela caminhava para a lavra, deu de encontro com estes seres que a raptaram e alevaram para o local onde eles viviam, com o objectivo de a comer. As filhas, vendo que a me no aparecia, decidiram seguir pelo mesmo caminho para ir ao encontroda me. Durante a caminhada, elas deram de encontro com vrias pessoas da aldeia, que no foram capazesde dizer se haviam visto a me delas. As meninas, desesperadas por no encontrarem a me, perguntavam por ela at mesmo aos animais.At que uma pomba lhes disse onde estava a me delas. Sendo assim, pediram pomba para salvara me e a pomba assim fez. A me e as filhas voltaram a ser muito felizes.

    Augusto Jacinto Kihunga Estudante da Universidade da Nambia http://www.instituto-camoes.pt/CVC/projtelecolab/tintalusa/primeironumero/tl7.html

    O PORCO E O MILHAFRE

    O Porco e o Milhafre eram dois inseparveis amigos. O porco invejava as asas do Milhafre e insistiacontnuamente com o amigo para que lhe arranjasse umas iguais para voar tambm. O Milhafre disps-se a fzer-lhe a vontade. Conseguiu arranjar penas de outra ave e, com cera,colou-as nos ombros e nas pernas do seu amigo Porco. Este ficou radiante e comeou a voar ao ladodo seu amigo Milhafre. Quis acompanh-lo at s grandes alturas, mas a cera comeou a derreter-se com o calor e as penasforam caindo uma a uma. medida que as penas se despegavam, a o porco descendo, contrariado.Quando as penas acabaram de se soltar, o porco caiu e bateu no cho com o focinho. E com tantafora bateu, que este, ficou achatado.Zangou-se o Porco com o Milhafre dizendo que tinha querido mat-lo, porque grudara mal as asas.Desde essa ocasio deixou de ser amigo do Milhafre e, quando o v pairar no alto, d um grunhidoe olha para ele desconfiado. E aqui est a razo porque o Porco tem o focinho achatado e nuncamais quis voar. Contos tradicionais africanos. http://www.uarte.mct.pt.

    O LEO E O COELHO

    O Leo gostava de uma rapariga muito bonita. Decidido a casar, foi falar com os pais dela paraobter o consentimento. Os pais concordaram com o namoro, mas puseram uma condio ao Rei da Selva: que lhestrouxesse dois coelhinhos. O Leo aceitou. No tardou o Leo a encontrar o que pretendia - dois daqueles animaizinhos que estavam ss.Meteu-os dentro de um saco e dirigiu-se imediatamente para casa dos futuros sogros. No caminho encontrou o Coelho, e pediu-lhe o acompanhasse para o ajudar a fazer a entrega dodote. O das grandes orelhas acedeu ao convite. Durante a viagem, o Coelho, animal esperto e muitocurioso, resolveu averiguar o que o Rei dos animais levava no saco. Serviu-se ento de um truque,

  • fazendo um pedido: - Senhor Leo, deixe-me ir fazer necessidades. - Vai l! O Coelho aproveitou-se da ocasio e levou o saco consigo. Ficou muito espantado, quando viu osseus dois filhos l dentro. Decidiu vingar-se. Tirou os dois coelhinhos e encheu o saco com um enxame de abelhas. Chegadosa casa dos futuros sogros do Leo, este disse ao Coelho: -Amigo Coelho, podias sair por umbocado, pois queria tratar de uns assuntos particulares com estes senhores. - Com certeza, senhor Leo, eu saio, mas no ser melhor fechar bem a porta e at amarr-la paraque eu no oua as vossas importantes conversas? A sugesto foi bem aceite e o Coelho amarrou, por fora, a porta, com cordas muito fortes. O Rei daSelva, abriu o saco, para que os futuros sogros vissem os dois coelhinhos. As abelhas comearam ferroada a todos os que se encontravam dentro da casa. O Coelho regressou ao seu buraco, contente por ter salvo os filhos. Contos tradicionais africanos. http://www.uarte.mct.pt .

    O SEGREDO DE NOSSA CASA

    Certo dia, uma mulher estava na cozinha e, ao atiar a fogueira, deixou cair cinza em cima do seuco. O co queixou-se: A senhora, por favor, no me queime! Ela ficou muito espantada: um co a falar! At parecia mentira... Assustada, resolveu bater-lhe como pau com que mexia a comida. Mas o pau tambm falou: - O co no me fez mal. No quero bater-lhe! A senhora j no sabia o que fazer e resolveu contar s vizinhas o que se tinha passado com o co eo pau. Mas, quando ia sair de casa a porta, com um ar zangado, avisou-a: - No saias daqui e pensas no que aconteceu. Os segredos da nossa casa no devem ser espalhadospelos vizinhos. A senhora percebeu o conselho da porta. Pensou que tudo comeara porque tratara mal o seu co.Ento, pediu-lhe desculpa e repartiu o almoo com ele.

    Nota : fundamental sabermos conviver uns com os outros e assegurar o respeito mtuo, embora svezes seja difcil...

    Histria africanas. Janelas! 20 contar. http://caracol.imaginario.com/estorias/index.html

    A CABAA UNIVERSAL

    A cabaa um fruto do gnero do melo ou da abbora, cuja casca grossa o torna til para oshomens, depois que se lhe retirar a polpa macia. Serve como jarro de gua ou, se for cheio comsementes secas, d para chocalho musical. Em alguns templos colocam uma cabaa redonda cortadaao meio horizontalmente, para receber pequenas oferendas ou objetos simblicos. O fruto muitasvezes decorado com gravuras, em ambas as metades, com enorme variedade de desenhos bem comofiguras de seres humanos, animais e rpteis. Em Abomei, O Universo considerado como uma esfera semelhante cabaa redonda, e ohorizonte fica nos bordos da unio das metades do fruto. a que cu e mar se juntam, num localhipottico inacessvel ao homem. A terra considerada plana, flutuando dentro da grande esfera, talcomo uma cabaa pequena pode flutuar dentro da maior. Dentro da esfera esto as guas, no s nohorizonte como por debaixo da Terra.

  • Este aspecto particualr explicado pelo fato de que se algum fura o solo sempre descobre gua, demodo que esta tem de rodear toda a terra. O Sol, a Lua e as estrelas movem-se na metade superiorda cabaa. Quando Deus criou todas as coisas, a sua primeira preocupao foi formar a Terra, fixando oslimites das guas e unindo bem os bordos da cabaa. Uma cobra divina enrolou-se volta da Terra,para agregar e manter firme, e levou Deus a vrios lugares, estabelecendo a ordem e sustentandotodas as coisas com os seus movimentos essenciais.

    Mito africano de origem Abomei antiga capital da Repblica Popular de Benin, registrado porParrinder em frica. http://www.emack.com.br/sao/webquest/sp/2004/africa/processo.htm

    O CELEIRO DO MUNDO

    Quando Deus criou a Terra, serviu-se de um punhado de argila que amassou muito bem antes de alanar para o espao, onde se espalhou de norte a sul e de leste a oeste. Deus utilizou a mesmatcnica para criar as estrelas, servindo-se desta vez, de bolinhas mais pequenas, que comearam acintilar quando as projetou em todas as direes. Depois, aperfeioou a sua arte para formar o Sol ea Lua, enormes bolas de argila envolvidas numa espiral de cobre vermelho ou brancoincandescente. Terra era deserta e rida: Deus enviou-lhe a chuva para a tornar frtil. Em seguida,uniu- se ao novo planeta para gerar os seres vivos que o povoariam. O primeiro filho foi um chacalferoz e os seguintes foram gmeos meio homem, meio serpentes. Decepcionado, Deus retomou a tcnica da olaria e moldou quatro homens e quatro mulheres deargila, os quais foram enviados para a Terra. A misso dos oito primeiros seres humanos era simples: criar uma descendncia numerosa e ensinartcnicas aos homens. A vida terrestre destes antepassados devia ter sido eterna, mas, passado algumtempo, Deus chamou-os para junto dele. Regressaram, pois, ao Cu, onde Deus os proibiu de seencontrarem, pois receava v-los a discutir. A fim de poder matar a fome, deu a cada um delessementes de oito plantas comestveis, como o milho, o arroz e o feijo; a ltima planta, a digitria,era to pequena e to pouco prtica de preparar que o primeiro dos oito antepassados jurou nuncacomer. Ora, acontece que todas as sementes se esgotaram, exceto uma: a minscula digitria. Oprimeiro antepassado decidiu-se, ento, a consumir esta ltima semente. Tendo rompido ojuramento, tornou-se indigno de permanecer no Cu. Preparou, pois, o regresso Terra. O primeiro antepassado recordou-se ento do estado miservel em que viviam os homens queabandonara superfcie da Terra: como formigas, habitavam galerias escavadas no cho; nopossuam nenhum utenslio, s conheciam o fogo e, alm disso, teriam tido muita dificuldade emtrabalhar, pois seus membros, como os dos antepassados, eram desprovidos de articulaes e molescomo serpentes. Antes de abandonar o Cu, reuniu, portanto, tudo o que considerou til para oshomens. Em primeiro lugar, um macho e uma fmea de espcies desconhecidas na Terra: galinhas,galos, carneiros, cabras, gatos, ces e at mesmo ratos e ratazanas; entre os animais selvagens,escolheu os antlopes, as hienas, os gatos bravos, os macacos, os elefantes; pensou tambm nasaves, nos insetos e nos peixes. Ocupou-se igualmente do mundo vegetal, comeando pelo baob, e,naturalmente, no se esqueceu das oito sementes comestveis que to bem conhecia. Por fim,pretendia levar aos homens um fole, um martelo de madeira e uma bigorna, para os ensinar afabricar instrumentos. Tudo isso era pesado e volumoso, mas ele teve uma idia. Com "terra de cu", construiu uma pirmide truncada, cuja base era circular e o topo quadrado. Nointerior, ordenou oito compartimentos, nos quais guardou as sementes comestveis. Nas paredes doedifcio, escavou quatro escadas, nas quais disps os animais e as plantas. Em seguida, espetou nocimo da pirmide uma flecha, volta da qual enrolou um fio. Prendeu a outra extremidade do fia auma segunda flecha, que enviou para a abboda celeste. Faltava-lhe fazer o mais perigoso: subtrairaos ferreiros do cu um pedao de sol, a fim de levar o fogo aos homens. Introduziu-se na oficinados ferreiros e, utilizando uma haste encurvada, apoderou-se de algumas brasas e de um fragmentode ferro incandescente, que ocultou no fole. Por fim, lanou seu curioso edifcio para o vazio, ao

  • longo de um arco-ris: enquanto o fio se desenrolava como uma serpentina, o antepassadomantinha-se de p, pronto para se defender dos perigos do espao. O ataque veio do cu. Furiosos, os dois ferreiros atiraram archotes acesos sobre o ladro de fogo,obrigando-o a proteger-se com a pele de carneiro que envolvia o fole. Contudo, o edifcio desciacada vez mais depressa, deixando no seu rastro um feixe de estrelas... A aterragem foi violenta: oantepassado perdeu o equilbrio, a bigorna e o martelo quebraram-lhe os membros frgeis, criandoas articulaes de que tanto carecia. Observou-se imediatamente a mesma transformao no corpode todos os homens. O antepassado delimitou ento, o primeiro campo, construiu a primeira aldeia ea primeira forja. Em seguida, ensinou os homens a cavar com uma enxada. Os outros seteantepassados juntaram-se-lhe, possuindo cada um deles o segredo de vrias tcnicas, como ofabrico de sapatos ou de instrumentos musicais. Mito africano de origem Dogon citado por Ragache em A Criao do Mundo - Mitos e lendas.http://www.emack.com.br/sao/webquest/sp/2004/africa/processo.htm

    A CRIAO DO MUNDO

    No princpio, o Deus nico criou o Sol e a Lua, que tinha a forma de cntaros, a sua primeirainveno. O Sol branco e quente, rodeado por oito anis de cobre vermelho, e a Lua, de formaidntica tem anis de cobre branco. As estrelas nasceram de pedras que Deus atirou para o espao.Para criar a Terra, Deus espremeu um pedao de barro e, tal como fizera com as estrelas,arremessou-o para o espao, onde ele se achatou, com o Norte no topo e o restante espalhado emdiferentes regies, semelhana do corpo humano quando est deitado de cara para cima.

    Mito africano de origem Dogon reveladas por um velho cego, Ogotemmli, escolhido pela tribopara contar aos seus amigos europeus os segredos da mitologia dos Dogons, relatado porParrinder em frica. http://www.emack.com.br/sao/webquest/sp/2004/africa/processo.htm