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Contos e Crônicas - 4º Volume

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Crônica de Rubem Braga

Prefácio

Apresentação

1º Ano do Ensino Médio

2º Ano do Ensino Médio

3º Ano do Ensino Médio

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Sumário

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Ficha Técnica

Título: Contos e Crônicas

Capa: Fabiano KutachOrganização: Cleyde Rejane Treml Skiba Andréia Panchiniak Ferens Fabiano Kutach

Revisão de Texto: Cleyde Rejane Treml Skiba Andréia Panchiniak Ferens

Projeto Gráfico: Fabiano KutachFormato: 21 x 30 cmNúmero de Páginas:

Projeto realizado pelo Colégio Global.

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O mato

Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manhã caindo e ainda voltou algumas vezes du-rante o dia, a cidade entardeceu em brumas. Então o homem esqueceu o trabalho e as promissórias, esqueceu a condução e o telefone e o asfalto, e saiu andando lentamente por aquele morro coberto de um mato viçoso, perto de sua casa. O capim cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem vaga-lumes nem grilos. Pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água como se fosse uma benção. Ali perto mesmo a cidade murmurava, estava com seus ruídos vespertinos, ranger de bondes, buzinar impacientes de carros, vozes in-distintas; mas ele via apenas algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura. Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico. Alguém, com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém. Por um instante, o homem voltou seu pensamento para a cidade e sua vida. Aquele telefone tocando em vão era um dos milhões de atos falhados da vida urbana. Pensou no desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros, nas incertezas, no jogo de ambições e vaidades, na procura de amor e de importância, na caça ao dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de todas as cidades do mundo o Rio é a única a permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele estava ali num desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda pensava em seus problemas urbanos – mas um camaleão correu de súbito, um passarinho piou triste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde vida animal e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura, com uma pele de

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musgo e seu misterioso coração mineral. E pouco a pouco ele foi sentindo uma paz naquele começo de es-curidão, sentiu vontade de deitar e dormir entre a erva úmida, de se tornar um confuso ser vegetal, num grande sossego, farto de terra e de água; ficaria verde, emitiria raízes e folhas, seu tronco seria um tronco escuro, grosso, seus ramos formariam copa densa, e ele seria, sem angustia nem amor, sem desejo nem tristeza, forte, quieto, imóvel, feliz.

Crônica de Rubem Braga

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Angústia

Crepúsculo vespertino. Uma neve úmida, em grandes flocos, remoinha preguiçosa junto aos lampiões recém-acesos, cobrindo com

uma camada fina e macia os telhados das casas, os dorsos dos cavalos, os ombros das pessoas, os chapéus. O cocheiro Iona Potapov está com-

pletamente branco, como um fantasma. Encolhido o mais que pode se encolher um corpo vivo, está sentado na boléia, sem se mover.

Anton Tchekhov – médico e escritor russo

Os alunos do Ensino Médio do Colégio Global tem o prazer de trazer ao público o 4º volume do Contos e Crônicas. Contos e crônicas são modalidades da literatura, e a literatura, por sua vez, é a arte que fala da vida em alguns de seus aspectos tais como amor, morte e transitoriedade das coisas da vida, entre outros. Enfim, a literatura fala da grande epopeia do homem na sua travessia de um can-to a outro da terra. Seguindo essa premissa é que Camões escreveu Os Lusíadas, narrando as aventuras de Vasco da Gama na sua ida de Portugal ao Oriente; e Homero escreveu Odisseia, narrando as peripécias de Uliss-es na volta da Guerra de Troia. Pode-se ainda dizer que a literatura é a recriação da vida, pois que, no dizer do escritor Ferreira Gullar, “A vida só tem graça reinven-tada”. É exatamente por isso que se vive reinventando a vida, para con-ferir-lhe sentido. Essa é a razão pela qual alguém convida outrem para, juntos, assistirem pela tevê a uma parte de futebol. E se isso tudo não bas-tasse, durante o jogo, inventam outras coisas como fazer pipoca, comer guloseimas ou até mesmo assar churrasco. Então, são exatamente esses atos inventados pelo homem que conferem sentido à vida. Não raro, o homem gosta de relatar e registrar essas ações hu-manas. Ele faz isso não só porque sente prazer em fazê-lo, mas porque sabe que outros gostarão de ler os relatos dessas ações. Os orientais, por exemplo, são exímios contadores de história, re-latando ações humanas. Isso está provado, por exemplo, por obras como Mahabarata, a grande epopeia da Índia com 74 mil versos ou em histórias

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como As mil e uma noites. Pois bem. O Colégio Global, no escopo de oportunizar aos alunos possibilidades de crescimento em todas áreas do conhecimento humano e até mesmo nas artes, incentiva-os a produzir textos em todas as modal-idades: contos, crônicas e dissertações. Os melhores contos e crônicas produzidos por eles anualmente são publicados. Assim, o ato de publicar a obra, além de incentivar o aluno a pro-duzir cada vez mais, ainda tem o mérito de contribuir para melhorar sua autoestima e permitir que ele divida o conteúdo do seu trabalho com o público leitor. Fica, assim, então, esse evento funcionando como uma vitrine, mais ainda: como uma janela pela qual o aluno Global expõe suas possi-blidades, experiências e emoções com o mundo do qual faz parte, poden-do, dessa forma, crescer intelectualmente e vivenciar valores humanos. Afinal, escrever é uma arte, e arte é o meio pelo qual a sociedade retrata a própria sociedade. Quem sabe assim, de geração em geração, a sociedade vai melhorando.

Nicácio Tiago MachadoProfessor de Gramática, Literatura e Redação

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Apresentação

Escrever é poder brincar com as palavras e dar um sentido à seus sentimentos, é uma experiência extraordinária, que todos deveriam ex-perimentar. Pensando assim, o Colégio Global proporciona oportunidades que auxiliam o desenvolvimento dos alunos, para que, no futuro, estes se tornem exemplos de pessoas que possam ser admiradas, conscientes da responsabilidade que têm em relação ao meio em que vivem e que não se omitem perante as mudanças que deverão acontecer no sentido da viabi-lização de um mundo melhor para todos. E isto se consegue, também, por meio da escrita. A obra Contos e Crônicas 2013, de autoria dos alunos do Ensino Médio, reúne diversos contos e crônicas com temas envolventes, capazes de despertar o interesse e o prazer pela leitura não apenas em jovens lei-tores, mas em pessoas de todas as idades. Num estilo divertido, os autores temperam suas narrativas com toques de criatividade, drama e humor, o que torna a leitura de seus con-tos e crônicas bastante aprazível. Cada narrativa está repleta de casos que vão do trágico ao cômico, num piscar de olhos. Os contos, em sua diversidade de temas, formam um mosaico da vida, estão repletos de múltiplos olhares, textos e intertextos. Mergulhar nesta obra, sem dúvida, irá proporcionar-lhe momentos de descontração e deleite!

Boa Leitura!

Cleyde Rejane Treml SkibaDiretora

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1º Ano do Ensino Médio

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FUTEBOL DE RUA

Essa vila, sem aquela pelada virou uma chatice completa agora. É uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um carrinho de bebê e um par de velhos que trocam conversas num banco sem encosto.

Ontem, isto aqui ainda fervia de meninos, de sol, de bola, de so-nho. Eu jogo na linha! Eu sou atacante! Eu não jogo, estou machucado. Vou jogar aqui atrás, entrou aqui, já sabe! Uma gritaria, todo mundo feliz, todo mundo querendo dar o primeiro chute na bola, bendito fruto de uma suada vaquinha.

Cinco de cada lado, e para não confundir, um time fica como está, e o outro joga sem camisa.

O time perdedor terá que pagar um mico, ou também pode optar. Pode pagar uma Coca-Cola que havia num mercado em frente, que era do seu Carlos, um senhor com mais de 80 anos, que nas horas vagas assistia á pelada dos meninos.

Já reparei uma coisa: bola de futebol, nova ou velha, é um ser que dança conforme a música.

Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca. A bola corre para cá, corre para lá, quica no meio fio, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa rolando doida, pela calçada . Parece um bichinho

Aqui nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal trata-se de uma bola profissional, cheia de gomos ilustres. “Copa Rio Oficial”, “FIFA - Especial” . Uma bola assim, seja branca, preta, colorida, jamais seria barrada em recepção do Itamaraty.

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Aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratando até, pois, de quando em quando, acerta-lhe um bico, ela sai vendo estrelas, coitada.

Racha é assim mesmo: tem bico, mas também tem craque como aquele do Lionel que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.

Nova saída.

Entra na praça batendo palmas como quem cria galinhas no quin-tal, é um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de chinelos.

O espantalho-gente pegou a bola, vivo, ainda, tirou do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe a bola começa a soprar.

Em cada gomo o coração de uma criança.

Aleksander Miecznikowski

1º Ano – Ensino Médio

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A ESPERA

Era um dia de chuva; um longo dia de chuva, porém lindo, um lindo dia de chuva. Estava ela no sofá com uma xícara quentíssima de chá assistindo ao noticiário:

- Mãe, por que acontecem tantas desgraças no mundo em vez de coisas alegres ou notícias boas?

- Não sei, minha filha, talvez porque as coisas estão se perdendo no tem-po, perdendo os valores. Sabemos o preço mas não sabemos o valor das pessoas, das coisas, da vida. – Respondeu-lhe a mãe, polindo os pratos.

Então Sophie se pôs a pensar sobre o valor das coisas à nossa volta, sobre o mundo, sobre o valor das pessoas; coisas das quais nunca havia pensado antes e gostou de pensar sobre aquilo. Ela realmente gos-tou de pensar sobre aquilo, sobre tudo aquilo.

Sophie era uma jovenzinha de 11 anos de idade, estava à beira da pré-adolescência e, como todos os pré-adolescentes lhe surgia muitas dúvidas acerca de tudo à sua volta. Ela nunca havia conhecido o pai e, apesar de nem saber nada sobre ele, amava-o muito.

Amava-o, pois sabia que não era escolha dele não estar ali, ele havia ido servir à guerra pois eram tempos difíceis e todos precisavam de uma ocupação para dar o que comer para a família.

A mãe de Sophie, Sarah, trabalhava de empregada em uma casa chique na mesma rua onde moravam todos aqueles da alta sociedade da-quele tempo. Elas, porém, tinham uma casa simples em um lugarzinho afastado dali. Sarah levava Sophie junto a ela, porque tinha medo de

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perder a filha deixando-a sozinha em casa com tanta gente má solta por aquele lugar. Afinal, agora restava apenas Sophie a Sarah, uma vez que seu marido foi e nunca voltou.

Elas preferiam acreditar que ele ainda estava vivo, mas, nós sa-bemos que a possibilidade disso ocorrer era mínima, não sabemos? Mas também sabemos que a esperança mora no coração de todos, mas são poucos que tiram proveito dela.

Sophie era uma jovem alegre, esperançosa e que, apesar de tudo, sempre acreditava no melhor, mesmo que as coisas estivessem caindo aos pedaços, ou seja, decaindo tão rapidamente quanto em um piscar de olhos; ela acreditava sempre e sempre.

- Prefiro achar que tudo ainda vai melhorar, mãe – Concluiu ela depois de uma longa pausa – Pois, afinal, estamos vivas aqui e agora, o que mais importa? O milagre da vida é único e devemos lutar por ele! Vou esperar e ainda ver o mundo brilhar daqui a alguns anos...

E do mundo de hoje, o que pensaria Sophie? Será que para ela, valeria a pena esperar?

Ana Carolina Gauzicki Silveira

1º Ano – Ensino Médio

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CORAÇÃO PARTIDO

Era inverno quando o trem partiu. Eu estava sentada no chão olhando por uma pequena janela do vagão e ele estava ali. Estávamos nos olhando há mais de meia hora. Em pouco tempo ele já não estaria mais aqui. Não conseguia fazer nada a mais de pegar meus lencinhos e enchê-los de lágrimas que caíam torrencialmente de meus olhos.

Fui caminhando para casa, pensando em todos os momentos que tínhamos passado juntos, as sete rosas vermelhas que ele me entregou no 7º dia dos namorados que passávamos juntos. Acabou tudo em um passe de mágica, em poucos segundos.

E nessa solidão, todos os anos, naquele mesmo dia em que ele fora embora, eu ficava torcendo para poder vê-lo novamente, talvez atra-vés de um milagre, sei lá, ou coisa que o equivalha.

Um dia passei mal. Meu coração batia muito forte. Tive que ir ao hospital. Ali falaram que meu coração iria parar de bater. Ele já não estava funcionando bem. Em um mês apenas, falaram-me que iria ter um doador. Senti-me má de aceitar, porém sabia que, quando estivesse com meu coração ‘‘novo’’, iria atrás de meu grande amor.

A cirurgia tinha passado, sentia-me muito bem. Fui então per-guntar quem era o tão misterioso doador. Para minha grande surpresa e infelicidade, era ele, fora ele, que havia me dado o seu coração.

Tinha então o meu ‘‘novo’’ coração, mas só ele não era o suficien-te para que me sentisse bem novamente. Depois da cirurgia, nunca mais me apaixonei. O que sobrou de mim? Simples uma mulher trabalhadora, contando os segundos para que seu coração parasse de bater novamente.

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Ana Maria dos Santos

1º Ano – Ensino Médio

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A SORTE DO AZAR

Plena Segunda Guerra, uma época conturbada, um pelotão de sol-dados brasileiros seguiam seu caminho, perdidos em uma Itália nazista. Não sabiam o que fazer e nem quando fazer. Sabiam apenas que a qual-quer hora poderia acontecer algo.

Eram Poucos, mas todos tinham o mesmo sonho, voltar para casa, rever suas famílias, seus animais, vizinhos, até mesmo o gari que varria a calçada da frente. Pessoas que viam todos os dias, durante muitos anos e que, de uma hora pra outra, deixaram de ser vistas.

O pelotão dirigia-se rumo ao norte, até que um dia aparentemente normal como os outros, foram atacados. Teriam revidado, mas estavam em grande desvantagem. Os italianos tinham tanques, granadas, minas, comida e muita munição, e eles, o que tinham?! Nada mais do que pou-cos soldados e pouca munição. Havia, então, apenas uma opção: fugir!

Sem pensar duas vezes, fugiram rumo às montanhas, atrás de abrigo, comida, algum lugar. Correram, correram por horas e mais horas. Até que, em um local escuro, coberto pelas árvores que cercavam o local, algo chamou a atenção de todos os presentes. É um abrigo, nas palavras do capitão. Uma pequena casa, no alto da montanha, coração da selva, esquecida, parcialmente destruída, mais nada que os impedissem de fica-rem lá.

Ali permaneceram dias e dias. O tempo passou, o alimento aca-bou e agora quem iria buscar comida? Ninguém queria, mas alguém ha-via de ir.

Decidiram “tirar a sorte”. Na falta de moeda ou palitos, usaram

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gravetos, daquele jeito que talvez você conheça, gravetos compridos e apenas um pequeno. Quem tirasse o pequeno seria o escolhido. Todos tremiam com medo de tirar o graveto menor. De um em um foram pas-sando os gravetos. De repente, tinham o escolhido! Um jovem soldado que havia acabado de entrar na guerra. Corajoso, sem mais nem menos, pediu a munição de seus colegas, bateu continência e se foi.

Descendo a montanha rumo ao rio, ficou horas procurando. En-controu uma árvore cheia de frutos vermelhos brilhantes, aparentemente deliciosos. Colheu todos que conseguiu e voltou. Subiu a montanha, en-trou na selva, procurou a humilde casa, mas não encontrou o lugar onde eles estavam. Foi aproximando-se e viu que a não estava mais por ali. Tinha sido totalmente destruída por um ataque surpresa, não deixando sobreviventes. Ele estava sozinho, mas não sabia “se virar”. Procurou um pelotão no meio de uma selva, no meio de uma grande guerra.

E foi nesse dia que o azar, foi sorte.

Daniel Schutz Wohl

1º Ano – Ensino Médio

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FUTEBOL

O futebol de antigamente, que eu chamo de “Era Pelé” foi o me-lhor futebol desenvolvido pelo Brasil até hoje, sem dúvidas. Pelé, o rei do nosso futebol, foi o mais novo jogador campeão de uma Copa do Mundo, marcando muitos gols monumentais, outros nem tanto, mas o que conta é poder ouvir o grito de ‘Gooooool’ da nossa torcida. Passaram-se alguns anos.

Aí veio a era Ronaldo e Ronaldinho, vencedor da bola de ouro. Ele foi eleito o melhor jogador de futebol do mundo no ano de 2002. Ganhou este prêmio apenas duas vezes na sua carreira. Ronaldo, o maior artilheiro da Copa do Mundo até hoje, venceu três vezes. Ele era dono do recorde por obter mais bolas de ouro, mas isso foi só até o ano de 2012. O recorde foi batido por Lionel Messi, da Argentina, que hoje obtém quatro bolas de ouro.

A melhor seleção de futebol de hoje é a Espanha, atual campeã da última Copa do Mundo, que ocorreu em 2010, na África do Sul.

Os times de hoje estão evoluindo muito porque as categorias de base estão cada dia mais fortes. O melhor time de futebol de hoje é o Bar-celona, esquadra onde joga o melhor jogador do mundo, Lionel Messi.

Eu sou brasileiro, mas sou torcedor do Barcelona desde 2009, quando o timão espanhol sagrou-se campeão da Champions League, maior e melhor campeonato de clubes do mundo.

No fim do ano de 2012 a FIFA, Federação Internacional de Fu-tebol, organizou o time dos sonhos, formado por: Cassillas, goleiro es-panhol, jogador do Real Madrid; zagueiros Piqué, espanhol, jogador do

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Barcelona e Sérgio Ramos, também espanhol, jogador do Real Madrid; lateral esquerda, o brasileiro Daniel Alves, jogador do Barcelona, late-ral direito o também brasileiro Marcelo, jogador do Real Madrid; meio campo os espanhóis Xavi e Iniesta, jogadores do Barcelona e o também espanhol Xabi Alonso, jogador do Real Madrid; atacantes Lionel Mes-si, argentino, jogador do Barcelona, Falcão Garcia, peruano, jogador do Atlético de Madrid e, por fim, Cristiano Ronaldo, português, jogador do Real Madrid.

O nosso grande futebol de hoje encanta qualquer um, homens, mulheres, crianças e adultos. A sensação de hoje é o Neymar, jogador do Santos, recentemente transferido para o Barcelona. Joga muito bem, mas também é conhecido pela sua má-educação dentro e fora de campo.

No ano de 2014 nós teremos a “Nossa Copa do Mundo”, que será realizada no Brasil. Esperamos que nossa seleção nos entregue mais uma taça de campeão, mas essa com um gostinho mais brasileiro.

Djony dos Santos

1º Ano – Ensino Médio

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APENAS MAIS UMA MANHÃ DE INVERNO

Era uma chuvosa manhã de agosto quando embarquei no trem. Não chovia somente lá fora, mas dentro de mim também. Em minha mente passava-se um filme, em que na maioria das cenas, o rosto dele sempre se projetava em primeiro plano. Afinal, eu sabia que dentro de apenas algumas horas, contemplaria sua face novamente. Veria aqueles olhos azuis esverdeados que transbordavam alegria toda vez que encon-travam os meus. Depois de quatro anos sem qualquer ligação, e-mail, mensagem, sinal de fumaça, qualquer aviso, vamos nos reencontrar.

Sei bem o que me espera. Nunca me esqueci daquele cheiro de sol e de brisa de mar que o descreve tão bem. De mais a mais, ele sempre foi como a estrela mais importante do meu céu e, mesmo quando os dias es-tavam nublados, ele achava uma brecha em meio a toda aquela escuridão e me trazia um pouco de luz. Quando fui embora, só Deus sentiu minha dor. Não vou dizer que parti por culpa dele, mas ele tem uma parcela de culpa. Não suportava vê-lo com outro alguém que não tinha metade do amor que eu nutria por ele. Ela não o abraçava do mesmo jeito que eu, não mexia em seus cabelos dourados do sol com a mesma ternura que eu. Quando tudo teve um fim, eu quase não acreditei.

Foram tantas promessas, tantas juras de amor que era difícil ima-ginar a minha vida sem aquele conto de fadas. Mas um dia você acorda e percebe que a vida não é como a história da Branca de Neve, em que apa-rece um príncipe qualquer que vai lhe beijar e lhe fazer feliz para sem-pre. Você acorda e percebe que precisa enfrentar a realidade, por mais assustadora. Ele seguiu sua vida. Eu? Bom, eu joguei tudo para o alto

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e fui tentar ser feliz. Longe dele, claro, porque perto não seria possível. E agora depois de quatro anos, eu volto. Volto insegura, temerosa, com medo de desmaiar na primeira troca de olhares.

Desço do trem com as pernas bambas e corro para abraçar minha mãe que me espera na estação. Pergunto sobre ele, e ela não responde. Chego a casa, deixo as malas e saio para dar uma volta, com a esperança de vê-lo de novo. Então, de longe enxergo aqueles olhos ternos de que eu nunca me esqueci. Ando mais rápido, porém, quando chego perto, paro bruscamente. Em sua mão esquerda, algo reluz. Na mão da moça ao lado também. Meu mundo de repente desaba. Só tenho tempo de ver aque-les olhos me encarando, como quem encara uma criança indefesa. Ouço alguém gritar meu nome, mas estava longe demais para voltar. Chego a casa transtornada, pego o carro e saio espairecer. Depois disso não me lembro de mais nada.

Gabriela Ribeiro de Castro

1º Ano – Ensino Médio

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TERRA NOVA

No ano de 2210 o mundo não era mais o mesmo. A corrupção, ódio e a ganância corromperam de vez a civilização humana. Não existia mais oxigênio, só havia gás carbono na atmosfera. Uma nuvem vermelha cobria o mundo, árvores e pessoas não existiam mais. Muitas pessoas morriam no meio da rua por falta de ar puro e água potável.

Em 2211 cientistas norte-americanos descobriam, depois de mui-to esforço, um planeta não habitado, com água, oxigênio e tudo mais que era necessário para o homem viver.

Em 2213 conseguiram levar as primeiras 50 pessoas para o novo planeta. Entre elas, soldados, cientistas, médicos, pesquisadores e um chefe linha dura que não deixava ninguém tentar estragar esse recomeço da civilização humana.

No ano de 2215, pessoas eram sorteadas para ir para a Terra Nova. Ninguém podia comprar a passagem para Terra Nova. A cada dois meses eram sorteadas 50 passagens. Essa era a cota. Lá já havia uns 500 mora-dores.

Terra Nova era um lugar da melhor qualidade para morar. O oxi-gênio era puro, a água pura,sem corrupção, sem ódio e ganância. Tudo isso porque nunca havia sido habitado por humanos (ou devo dizer desu-manos?). Havia, porém, na Terra Nova muitos dinossauros.

O capitão Teilor tinha inimigos lá, chamados de sexto, sua capi-tão era Xenan. Tinham esse nome, pois vieram na sexta peregrinação e tinham se revoltado contra Teilor e Terra Nova, pois as regras dele eram muito cabrera.

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Em Terra Nova havia, entretanto, ataques de dinossauros, ataques dos sextos e de Xenan.

Depois de um longo tempo Terra Nova desenvolveu-se econo-micamente e estruturalmente e os moradores também acharam um jeito de se proteger contra os ataques de dinossauros e se acertaram com os sextos.

Esse foi o inicio de uma nova civilização. Mais gente da Terra continuou indo para lá. De modo que, dentro de pouco tempo, Terra Nova ficou igual à Terra.

Gabriel Linzmeyer

1º Ano – Ensino Médio

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A ÚLTIMA CARTA

Era uma manhã chuvosa de outubro, quando pela milésima vez eu o vi partir. Lembro-me muito bem de como seus olhos caramelados fita-vam meu rosto com insegurança na hora do “Adeus”. Você simplesmente se cansou de mim? É isso? Esse vai ser o nosso destino? Eu que sempre costumava escrever textos suplicando a ti para não me deixar, hoje esbo-ço em uma folha de papel o que eu mais temia. Eu realmente nunca fui boa com despedidas. É como aquele seu primeiro cachorro, você sabe que um dia irá partir, mas simplesmente não aceita.

Uma torre de cartas, um papel molhado ou um castelo de areia. Essa era eu diante de você. Frágil. Totalmente a mercê de ti. As pessoas costumam perguntar “Que é amor para você?” Sempre permaneço em silêncio e fico horas me perguntando por que seu nome não saía da minha cabeça. Você sempre fazia com que eu me encontrasse com você, tudo era você. E agora me encontro apenas com livros e papéis nesta sala va-zia. Sabe, ela me lembra você. Pura parede, puro tijolo, pura construção que me desconstrói. Isso é culpa sua, já disse? Agora sou obrigada a ficar digladiando com paredes, livros empoeirados e papéis bagunçados. Com esse caos. Ouvi dizer que arrumação na casa promove arrumação na vida, não é isso, Mãe? “Arrume esses livros!” ouvi-a dizendo. O “arrume esses livros” da minha Mãe é o equivalente doméstico para “ajeite sua vida”. Ajeitar a vida... Tão organizado, tão simples, tão difícil para mim. Afinal, sou aquela que nem ao menos soube que não deveria ter deixado aberta aquela velha e surrada porta. Puro desleixo. Agora você foi embora por ela, sem nem ao menos olhar para trás ou se importar com o modo como eu iria me sentir. Aquele tal “para sempre” realmente só existe para quem sabe amar. E agora eu sei, nós definitivamente não estamos incluídos

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nessa categoria.

Não pense, no entanto, que eu estou depressiva, meu bem. Quero dizer, Júlio. Você conhece aquele ditado “O mundo dá voltas”. E espero que nesse momento eu esteja madura o suficiente para desenlaçar nossas mãos e me desfazer dessas lembranças. Quem sabe assim, quando você precisar de alguém, talvez valorize mais as pessoas e lembre-se mais daquela menina perdida, que um dia já foi perdida no teu olhar e no teu sorriso. Para finalizar, tenho duas coisas para te dizer. Primeira: Eu quero que saiba que, mesmo me esforçando para tanto, eu jamais irei me esque-cer de como éramos perfeitos juntos. E segunda: Esta é a última vez que eu estou escrevendo sobre você e para você. Ah, e a terceira: vou fazer tudo para matar você dentro de mim.

Gabriela Richter

1º Ano – Ensino Médio

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A MORTE MAQUIADA

Nas noites da cidade que nunca dorme, entre as esquinas mal iluminadas, podemos ver vários tipos de vidas, das mais sofridas às de dinheiro fácil. A solidão impera por todos os lados por onde quer que se ande.

Lábios brancos, o rosto pálido respirando o ar gelado, flocos de neve caem sobre o seu casaco, pulmões queimando com o cigarro e um uísque para disfarçar o gosto azedo da amargura. A luz se foi, o dia aca-bou e agora ela luta para pagar o aluguel nas noites longas com homens estranhos.

E todos dizem que ela é errada e está presa em seu devaneio desde os 18 anos, mas ultimamente seu rosto parece estar lentamente afundan-do, cansado e ela grita que as piores coisas na vida vêm de graça para nós. Quem iria imaginar que tal beleza estaria toda noite vendendo amor para outro homem.

A chuva incessante encharca as luvas rasgadas e uma capa de chuva toda furada. Com alguns trocados no bolso e um aviso de despejo na porta do quarto da pequena pensão, ela senta e pensa em quem a levou até ali? Que solução haveria de ter para sua vida?

Os olhos cansados e a garganta seca não resistem. Ela precisa beber. Decide, então, ir a qualquer bar, mas antes vai ao banheiro. Reto-ca a maquiagem como se fosse a maior estrela de cinema e toma alguns comprimidos. No meio da rua, passos lentos que mal consegue traçar seu destino. Entrega-se de vez. Está cansada de nadar e continuar a afundar. Deita na calçada e deixa a neve cobri-la de branco. Fecha os olhos e está

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em seu escuro paraíso, do jeito que desejava e esperando por uma vida melhor. No outro dia foi notícia de jornal. Estava resolvido o problema.

Geanne Gschwendtner

1º Ano – Ensino Médio

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O TEMPO

Era o ano de 1974. Eu era jovem, tinha apenas 12 anos. Morava em São Paulo na Zona Leste. Na época, a região era muito pouco habita-da. Aos domingos, eu saía para jogar bola na rua, bem cedo ainda na parte da manhã e voltava tarde da noite. A criminalidade não era tão alta como hoje. Bons tempos que nunca voltarão?

Com o tempo, São Paulo cresceu e pessoas se foram, mas também vieram outras pessoas novas. Com o crescimento da cidade, as drogas e o crime chegaram, imprimindo fortes marcas na população. Os grandes países europeus mandaram suas empresas para cá, gerando novos empre-gos. Com isso a cidade se agigantou mais ainda.

Nos dias de hoje, tenho 51 anos, ainda moro em São Paulo, onde o trânsito é caótico e a cidade nunca para. Confesso que desejo muito voltar para o passado, para 1974, especificamente. Infelizmente isso não é possível. Planejo, no futuro, mudar-me para um lugar tranquilo e acon-chegante.

O tempo deixa muitas feridas, a maioria cicatriza, mas há aquelas que nem o tempo cura, como a perda de entes queridos e pessoas amadas. Lembro muito bem do dia em que meu pai se foi. Ele me dissera que não era um adeus, e sim um até logo. A princípio, não compreendi suas pala-vras, mas com o tempo elas passaram a me fazer sentido. Meu pai foi um grande homem. Sempre honrou sua família e seu trabalho. Ele morreu consumido pelo cansaço e pelo trabalho.

Hoje o tempo passa cada vez mais rápido e como ele mais pes-soas se vão. Por isso digo e repito, aproveite a vida agora, antes que seja

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muito tarde e você se arrependa de não ter a usufruído, pois a vida é curta demais para ser esbanjada.

George Matheus Simm Costa

1º Ano – Ensino Médio

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O BRADADOR

Era uma noite fria. Estávamos eu e minha família acampando. Alguns amigos também nos faziam companhia. Estávamos todos embai-xo de uma pequena varanda de um pequeno rancho muito velho, onde se guardava algumas ferramentas de trabalho manual. Era no “meio do mato”. Qualquer lugar que você olhava só se via árvores e mais árvores. A conversa estava boa, animada, estávamos todos felizes dando risada, até que alguém, não me lembro quem, inventou em contar histórias ma-cabras.

Teve aquelas clássicas, como por exemplo, a do Lobisomem, mas nenhuma me assustou, até que o pai do meu amigo contou a história de tal de “bradador” que era assim: existia um homem que adorava caçar. Sempre que ele voltava para casa gritava para avisar sua esposa que ele havia chegado. Um dia, voltando de sua caçada, gritou, mas ninguém respondeu. Então, gritou novamente, mas tudo ficou em silêncio. Quando chegou a casa, já preocupado viu sua mulher morta com facadas por todo corpo. Inconformado saiu correndo para a mata e nunca mais foi visto.

Diz a lenda que em algumas noites o seu espírito grita do meio da mata para sua mulher e, se alguém gritar novamente, ele grita mais um vez, agora mais de perto, e assim por diante. A pessoa que me contou a história jurou que ela gritou, mas só teve coragem de gritar uma vez só, e ele realmente gritou mais uma vez.

Na história, o que me assustou realmente foi que mais três pes-soas que estavam acampando dizerem que também ouviram o grito vindo da mata em madrugadas.

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Fomos todos dormir e aí fiquei com a história na cabeça, e com medo não consegui pegar no sono. Mas mal sabia eu que o pior medo ainda estava por vir. Quando eu achava que todos já estavam dormindo, eu escutei um grito igual ao que falava o pai do meu amigo. Algumas pessoas assustaram-se. Consegui escutar barracas abrindo, mas também escutei risadas. Era apenas o pai do meu amigo, o que contou a história, que queria assustar todo mundo. E conseguiu, pois muito de nós acorda-mos assustados.

Se o “bradador” realmente existe, eu não sei, duvido muito. O diabo, como diz Riobaldo, Grande Serão, vige dentro de nós.

Guilherme Schlogl

1º Ano – Ensino Médio

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VICIADOS EM TRABALHO

Sou casado há 12 anos. Moro em um apartamento no centro de Curitiba com a minha esposa e meus dois filhos. Nós temos uma vida boa e nos damos muito bem. Quando minha mulher não está trabalhando, vamos fazer um piquenique no Jardim Botânico, passear no shopping e assistir a um filme no cinema, com nossos filhos. Aí que está o problema, pois minha esposa dificilmente dispõe de tempo livre.

Só trabalha e, quando está em casa, não larga aquele computador, seu celular não para de tocar. Há sempre reunião nos finais de semana ou fica trabalhando até tarde.

Ela não ajuda em nada na casa, passa o tempo todo com aquele celular pendurado na orelha. Confesso que o dinheiro que ela ganha é muito importante para pagar nossas contas e manter a empregada para limpar nosso apartamento, mas eu sinto falta de quando ela dispunha todo o seu tempo para mim.

Acho que nossos filhos precisam de uma mãe mais presente na vida deles. Eu dou banho nas crianças, faço a janta, ponho-as para dormir e, quando ela chega a casa, não quer nem namorar um pouquinho, porque diz que está muito cansada do trabalho ou porque amanhã tem que acor-dar cedo.

Ela só pensava em trabalho, a gente praticamente nem conversa-va, nossos filhos tinham jogo de futebol na escola, ela não ia porque tinha que trabalhar, a gente combinava de ir comer uma pizza à noite, ela não podia porque tinha reunião.

Até o dia que fiquei de saco cheio e pedi para dar um tempo na

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nossa relação. Arrumei minhas malas e fui para a casa de um amigo meu.

Não deu três dias e ela estava batendo na porta da casa do Fer-nando pedindo para eu voltar. Ela tinha pedido demissão do emprego dela e estava disposta a mudar de vida por mim. Voltei para casa e ficou tudo muito bem. Tivemos que cortar alguns gastos até ela encontrar um emprego novo. No último verão passamos dois meses em nossa casa de praia. Recomeçamos nossas vidas. Agora, se eu saio um pouquinho, para ir a um bar ver os amigos ela já está me ligando. Agora, ela já está fazen-do comigo o que eu fazia com ela.

Gustavo Gabriel Fragoso

1º Ano – Ensino Médio

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LENDAS DE SÃO BENTO

Em 1960 uma linda loira de olhos azuis, óbvio, da cidade de La-ges conheceu um executivo na cidade de São Bento Do Sul, em suas férias de trabalho. Conheceram-se melhor e logo ficaram noivos.

A moça, porém, traia o noivo que descobriu toda a verdade. Mes-mo assim o rapaz continuou com o casamento marcado. Eis, porém, que o tão esperado dia chegou.

A cerimônia religiosa foi realizada em uma igreja de São Bento do Sul; e a festa, em um clube da cidade.

Em meio aos festejos, surpreendentemente, o noivo parou tudo e, com uma faca em uma das mãos, gritou:

- Este casamento é uma farsa!

- Minha noiva me trai desde o início do nosso namoro!

Para aumentar o escândalo, tirou do bolso fotos de sua mulher com outro homem e jogou-as no meio do salão, para que todos observa-rem as provas da traição. Feito isso, o noivo saiu correndo para esfaquear a noiva que também correu para não ser morta. Ela tentou esconder-se no banheiro, mas o noivo mesmo assim conseguiu executar seu plano diabólico.

Foi um horror! Os convidados saíram correndo para suas casas. Acionaram a polícia, mas qual nada. O noivo já havia sumido e nunca mais foi encontrado.

Diz a lenda que um homem muito estranho que se apossou das

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antigas instalações do clube e a transformou em uma casa de moradia, mas que o banheiro foi conservado. Em noites de lua cheia um estranho vulto de uma mulher, em trajes de noiva sujos de sangue saía do banhei-ro, andava pela casa e pela redondeza, pondo muito macho para correr.

Dizem que a tal casa se encontra no centro de São Bento do Sul, próximo ao Shopping da cidade e ninguém mais ousa entrar no local. Daí é conferir para ver.

Gustavo Lisboa

1º Ano – Ensino Médio

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O CONFLITO EM MINHA VIDA

Era outubro de 1939. Eu deveria ter nove anos por aquela época. Vivia na Califórnia, oeste dos Estados Unidos da América. Sempre havia morado lá, junto a meus pais e de meus outros dois irmãos. Meu pai, sempre trabalhou com negócios jurídicos. Nisso era considerado um dos melhores da cidade. Minha mãe ficava em casa cuidando dos três filhos. Sempre tive uma vida estável e tranquila, sem graves problemas.

Nesse mesmo ano, porém, havia começado a Segunda Guerra Mundial. Eram sete países entrando em um grande conflito. Ninguém neste mundo poderia imaginar o desfecho daquela conflagração. Até que então, às nove horas da manha de um belo domingo ensolarado, meu pai recebeu a convocação do exército americano para que ele fosse à guerra defender sua nação. Nossa família ficou em estado de choque. Não es-perávamos por isso. Era obrigatório e irreversível. Não havia maneira de não ir.

Uma se passara. Chegou a hora de meu pai partir.

Daí para frente minha vida mudou completamente! Minha mãe começou a trabalhar, já que era apenas meu pai que sustentava a família. Meu irmão mais velho também começou a trabalhar para ajudar na renda da minha família.

O pior de tudo, porém, era aquela agonia que eu sentia. Não tinha como saber se meu pai estava bem ou não, se estava vivo ou morto, ou talvez aprisionado pelos alemães, e se iria voltar para casa. Notícias dele? Nenhuma! Raramente as rádios passavam um pequeno boletim informa-tivo sobre essa grande guerra que fez o mundo parar.

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Toda essa agonia e suspense da Segunda Guerra duraram quase seis anos. Para mim e para minha família, o pesadelo acabou quando o suave som da campainha tocou. Sim, era ele, meu pai, levemente modifi-cado e pouco machucado por causa da guerra, mas, graças a Deus, vivo! Era isso que importava!

A partir desse momento, minha vida voltara ao que era antes. Con-tinuei meus estudos e viver minhas alegrias. Nos finais de tarde eu e meus irmãos levávamos nosso cachorro para passear pelas ruas da redondeza. Mamãe? Ah, mamãe continuava feliz conversando entusiasmada com as vizinhas de nosso condomínio e, para alegria de todos nós, fazendo cada vez melhor aquelas suas gostosas tortas de maçã. Meu pai adorava!

Henri Wesley Knüppel

1º Ano – Ensino Médio

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EM BUSCA DE UM SONHO

Chovia muito naquela manhã. Uma manhã de sábado escura, para dizer a verdade. De minha janela podia ver uma vaga sombra de meu pai à janela antes da partida do trem.

Aquela era a última vez que o vi, mas ainda me lembro de uma sabia frase por ele proferida. “Filho, nunca se é velho demais para so-nhar”. Ele falou-me essas palavras poucos dias antes de partir ao me ver brincando com minha velha amiga de infância.

Já na minha adolescência, passei a lembrar-me constantemente de suas sábias palavras e hoje me pergunto: será que ele desistiu de tudo, para correr atrás de um sonho que teve na sua infância? Mas não é demais jogar fora uma vida inteiramente construída? Não sei, pois ainda sou jo-vem demais para responder a esses questionamentos.

Algum tempo depois eu encontrei o amor de minha vida, a mesma menininha com que passei horas e horas brincando no jardim da casa de meus pais.

Lá estava eu pronto para dizer a ela o quanto a amava quando recebia terrível notícia que me abalaria até os dias de hoje. Ela iria se mudar.

Passaram-se mais alguns anos e agora me encontro casado, com um filho, casa e um bom emprego. Uma vida relativamente boa sem nada de especial, mas ainda continuo com um sentimento vago, um desconfor-to difícil de se medir. Ainda me lembrei do rosto de minha antiga vizinha.

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Agora entendo o que meu pai queria me dizer.

No dia seguinte, disse para meu filho: filho, nunca se é velho de-mais para sonhar. Espero que ele tenha entendido. Saí e fui até à estação. Embarquei no trem e fui correr atrás de meu sonho, quero dizer do sonho de minha família.

Ives Akira Yoshida

1º Ano – Ensino Médio

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AMOR

O amor seria somente mais uma palavra. Uma palavra como ou-tra qualquer: cadeiras, livros, horizonte ou paralelepípedo. Uma palavra perdida em um dicionário. Uma palavra imprecisa em uma canção. Uma palavra escrita numa placa no deserto. O amor poderia ser o deserto ou a canção, porque, às vezes, nos dá uma espécie de sede, em outras, um carinho ao pé do ouvido.

Quem sabe o amor passasse despercebido, em silêncio, tão em calmaria que nem distraísse minha atenção das outras coisas bobas do mundo. Quem sabe o amor chegaria como chegam as correspondências de promoções que a gente amassa e joga fora. Quem sabe o amor viesse como uma rosa entre as outras em um buquê, que, olhando de cima, é tudo tão igual. Quem sabe fosse uma rua desconhecida, um creme para as mãos, um jeito de sorrir ou olhar, uma mania, um prato árabe, uma pizza, um peixe que vive só no Mar Egeu, uma marca de xampu ou de relógio, um sabor de suco, uma fruta. Embora para tudo, faça todo o sentido.

Poderia sim ser quase nada, se não tivesse tudo. Poderia não ter significância ou significado, não fosse você. Se não fosse seu riso me chamando para dançar no meio do mundo, se não fosse seu nome se espalhar por todos os cantos dos meus pensamentos e por todos os poros da minha pele, se não fosse o seu olhar na primeira vez que te vi, se não fosse seu ar de segurança, se não fosse sua simplicidade em falar. Se por um momento só, você não tivesse sido tão profundo. Se por um momento só, não tivesse sido você, teria sido tudo tão inútil, teria sido tudo em vão.

O amor vem depois de você, e as palavras vêm depois do amor. Tão boba, quando a gente quer dizer que esta apaixonada e se sente tão

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amada, a ponto de esquecer o resto do mundo. Tão tola nossa forma mais planejada para não ser amarrada pela paixão. Não vale nada toda razão quando o coração desperta.

O amor seria como qualquer palavra... Se não fosse sua chegada. Então, por favor, fique!

Jackeline Mackolyn Kautnick

1º Ano – Ensino Médio

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TDR

Todos os dias são normais para você? Com sua vida parada e chata, sem atividade física, fazendo a diferença, e provavelmente passa-do o dia todo em um quarto com pouca luz, uma televisão e também um computador, perdendo o tempo da sua vida parado em seu “mundinho”

Estou aqui escrevendo em uma sala relativamente quente, com mais ou menos outros 20 alunos, que estão nesta sala pelo mesmo moti-vo que o meu: escrever um conto ou uma crônica para o livro da escola lançado anualmente.

Infelizmente contos perdem-se nesses livros com o passar dos anos. Enfatizei, pois TDR não é só uma história que irá se perder em um livro e, sim, um grupo de amigos que irá passar de geração em geração, como vem ocorrendo há vários anos.

“TRD” tbe of radicals, ou melhor, tribo dos radicais. Como eu faço parte dela? Através do meu irmão, que tem 22 anos. Eu principal-mente o admiro pela suas amizades. Ele também estudou aqui no Colégio Global quando tinha mais ou menos a minha idade. Desde, então, foram sempre as mesmas amizades. Eu o vejo e suas amizades como uma famí-lia, a família dos radicais. TRD está com você no momento que o mesmo se encontra mal por algum motivo, até o momento em que você está construindo uma rampa em um sábado à tarde para andar de BMX, que-ro dizer, nos ótimos momentos como sair de casa cedo com meu irmão encontrar a galera e partir para andar de long (skate). Aí é deixar rolar, pois é muito agradável estar entre amigos praticando o esporte de que se gosta.

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Fecho meu conto agradecendo a todos os amigos e meu irmão por me fazerem parte disso, desta união, desta família. Estando com eles, vou longe em minha vida e para sempre feliz. Acho que ficou bom o conto. Depois quero vê-lo no livro. Assim, o João Vitor vai se eternizando.

João Vitor Sturmer Hohl

1º Ano – Ensino Médio

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A CORUJA BRANCA

Chovia torrencialmente. Fiquei olhando a composição distanciar-se até não a enxergá-la mais. Permaneci estático ainda por um tempo, ob-servando o céu. Nenhuma estrela, nenhum sinal da lua, estava nublado e uma brisa gelada batia-me no rosto, o que me causava certo desconforto. Era uma sexta-feira, 04 de abril. Arthur começara mudar-se para a casa de sua avó, Júlia, por aquela época, temporariamente adoentada.

Olho para a floresta escura à frente e vejo algo incrivelmente branco voando. Um animal pousa na grade de segurança que ficava logo após o trilho de trem. Uma coruja, uma bela coruja branca. Ao vê-la, fui tomada por uma forte sensação de conforto e segurança, achei, porém, aquilo estranho. Rumei para casa.

Cheguei com as roupas encharcadas e o corpo gelado. Salvou-me um banho quente e demorado de banheira e sais.

A semana seguinte foi extremamente entediante e triste. Não era a mesma coisa sem ele por perto. Há dois anos com ele sempre ao meu lado e agora, de repente, quando olho para o lado, vejo o seu lugar do sofá, seu espaço no guarda-roupa, o lugar que ocupava em meu coração, todos vazios. É como se a chuva lá fora fosse o estado de espírito do meu corpo. Só queria tê-lo ao meu lado novamente, mas não sabia quando voltaria, e eu não o culpava por essa mudança repentina. Sua avó era a única pessoa da família viva, além dele.

Algumas semanas se passaram e a avó de Arthur faleceu. Então, comprei a passagem de trem para Paris para aquela mesma noite. Ele, por certo, estaria me esperando na estação, na manhã do dia seguinte.

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A noite chegou e lá estou eu na estação. Entro no trem. A pre-visão para aquela viagem era que acontecesse uma nevasca. Eu estava preocupada. Na metade no começo da viagem já começou a nevar. Olho para a janela e vejo aquela mesma coruja branca. Meu corpo é dominado por uma sensação assustadoramente calma. É aí que vejo o trem fazendo aquela curva, saindo do trilho. A última coisa que vejo é a coruja branca ao meu lado. Então, tudo ficou escuro.

Acordo assustada. Estou no meu quaro. Olho para o lado e Arthur estava lá ainda dormindo. No parapeito da janela lá estava ela, a miste-riosa coruja branca.

Laila Sauandaj Medina

1º Ano – Ensino Médio

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O GRANDE TIME

Numa cidade qualquer, de um país qualquer, havia um time de fu-tebol, conhecido como Uruguaiana, que não era um time grande, não era um time conhecido, mas era um time com uma torcida fanática, daquelas que nunca abandonam sua esquadra, perdendo ou ganhando.

Seus jogadores eram de nível médio, mas sempre havia um que se destacava. Era Carlos Eduardo Almeida, mais conhecido por Carlinhos, apelido adquirido em razão de sua altura de 1,6 m. Tamanho, no entanto, não importava, já que era atacante e corria como o vento, driblava fácil. Aliás, era difícil aparece um zagueiro para marcá-lo.

Seu técnico era muito elegante. Sempre de terno e com uma face séria. Entendia de táticas e, como todo torcedor, gostava de elogiar Car-linhos.

Era início de ano e, portanto, início do campeonato estadual. A torcida estava empolgada, mesmo sabendo do grande caminho que ti-nham pela frente. Com 16 ties naquele campeonato era difícil acreditar que o campeão sairia de uma cidade pequena. Mesmo assim acreditavam, o que era motivo de riso para o time da capital, porém, motivo de espe-rança, de reconhecimento para aquela torcida fanática do Uruguaiana.

Começara, então, o campeonato. Ainda era apenas fase de grupos, dividido em quatro grupos, e em cada grupo quatro times, mas mesmo com quatro grupos, o time Uruguaiana teve a “sorte” de já enfrentar o poderoso time da capital.

E o primeiro jogo já era contra aquele grande time, que emplacou 4 a 0 contra Uruguaiana. A torcida, todavia, não desanimou e, na próxima

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partida, lá estava empolgada. Carlinhos marcou três gols. Placar final de 5 a 0. O time, finalmente, tinha entrado no ritmo. No próximo jogo go-learia mais uma vez e conseguiria passar para as quartas de final, ficando em segundo lugar no grupo.

Quartas de final foi fácil para aquele time, e semifinal também. Então veio a final contra aquele mesmo time forte da capital. O jogo terminou empatado, mas deveria haver um vencedor. Então, foi para os pênaltis, quando Carlinhos fez o último gol que decretou Uruguaiana o grande campeão, conquista que aquele time e aquela torcida nunca es-queceram.

Leonardo Dalcanale

1º Ano – Ensino Médio

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TRIP DOS BROTHERS

Acordei na casa do Ramon. Havia passado a hora do almoço. Le-vantei-me da cama, abri a janela, meus olhos receberam o impacto do reflexo do sol forte daquela tarde de março. Ramon acordou e logo em seguida, ligou para Nayã, confirmando a viagem.

Estávamos felizes com os planos. O ônibus estava marcado para as três horas da tarde e agora ainda estávamos arrumando as coisas para partir. Eram tantas coisas: pranchas, malas que não sei como não nos esquecemos de nada.

Nayã passou em casa para nos pegar. Em seguida fomos para a rodoviária. Faltava pouco tempo para o ônibus partir, e o trânsito não ajudou, fazendo com que nós nos atrasássemos. Perdemos, infelizmente, o ônibus. Ainda tínhamos a esperança de apanhar o próximo, que estava marcado para as sete horas da tarde. Fomos, então, até a casa do Nayã para matar o tempo. Mais tarde retornamos para a rodoviária, e o ôni-bus já havia chegado. Compramos, enfim, as passagens e embarcamos. Embarcamos com um leve frio na barriga, esperando uma alucinante viagem. Na viagem descansamos, para que, à noite, pudéssemos jogar conversa fora até o dia clarear.

Chegamos, finalmente, a Florianópolis, porém, perdidos. Chega-mos ao lugar planejado, quando fomos muito bem recebidos. O lugar era um verdadeiro paraíso, localizado na praia do Campeche. Deixamos as malas e pranchas no quarto e fomos até a praia observar as estrelas e tocar violão.

No dia seguinte acordamos cedo e rumamos para a praia de Nau-

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fragados. Era uma praia deserta, com bastante vegetação e ondas de ar-repiar.

Pegamos o ônibus e partimos. A viagem foi cansativa, mas sabía-mos que iria ter recompensa. Alcançamos a praia por uma trilha coberta de vegetação e ar fresco. Dalí observávamos o mar. De um lado estava a baía, com ondas gigantes; do outro nem tanto. Entramos na água e co-meçamos a surfar, sozinhos, sem nenhuma alma naquele local. Foi um sonho realizado.

Terminamos a seção de surf e voltamos para a casa onde está-vamos hospedados. Tomamos o último banho de piscina, colocamos as malas dentro do carro e fomos para a rodoviária. Compramos as passa-gens e partimos para a casa com uma leve impressão de certeza, guardada dentro de nós, que iríamos voltar para aquele lugar o mais rápido possí-vel. Essa volta, entretanto, nunca mais vai acontecer, ou melhor, nunca mais vai ser igual à primeira vez, pois um triste acidente aconteceu uma semana depois da viagem. Perdemos um amigo, um pedaço de nós que completava todos os nossos momentos. Vai com deus caro amigo Nayã.

Leonardo Novak

1º Ano – Ensino Médio

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MINHA VIDA MUDOU

Desde criança e até hoje na fase adulta, eu era fascinado por essas grandes máquinas de ferro, movidas a carvão. Eu tinha dez anos e ficava sempre ali na estação, trabalhando engraxando os sapatos dos homens que me dessem algum trocado. Ficava a maior parte do tempo apreciando o grande esplendor daquelas máquinas.

Havia um senhor que estava sempre indo e vindo do trem, um ho-mem que sempre andava bem vestido e que era muito gentil, que sempre me pedia para engraxar seus sapatos e que quase sempre me dava alguns tocados a mais. Não sei se ele simplesmente gostou de mim, ou do meu trabalho.

Certa vez, esse mesmo senhor veio falar comigo e perguntou-me se eu tinha família, e se tinha, onde estavam. Eu disse que minha mãe se encontrava doente em casa, meu irmão ficava lá cuidando dela, e meu pai se fora há muito tempo. Assim passamos horas e horas conversando.

No dia seguinte ele voltou a falar comigo, perguntou-me como estava minha mãe. Eu respondi dizendo que ela ainda se encontra deitada na cama, doente. Aí ele me pediu que eu engraxasse o seu sapato e foi embora com muita pressa. Eu perguntei-lhe aonde ia com toda aquela pressa. Foi aí, então, que ele me disse que era o maquinista daquele trem que eu tanto admirava. Ele me perguntou se eu já havia andado de trem. Respondi com tristeza que não. Então, ele me pergunta se eu gostaria de algum dia dar uma volta na cabina junto a ele. Respondi que sim. Ele deu um sorriso e foi embora.

Depois de algumas semanas, esse mesmo homem veio falar co-

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migo e me chamou para dar uma volta em sua enorme máquina de ferro. Sem pensar duas vezes aceitei e fui correndo entusiasmado para o trem.

Durante a viagem, não consegui falar uma palavra, pois estava ocupado demais apreciando a paisagem e observando todos os detalhes dentro daquele trem.

Quando a viagem acabou, o maquinista havia me perguntado se eu havia gostado. Sem palavras para descrever, corri e abracei-o com toda a minha força e lhe agradeci o passeio.

Parece que dali para frente tudo melhorou. Não sei por que. Mi-nha mãe sarou da doença. Meu irmão foi trabalhar, eu também. E até minha mãe voltou para o seu novo emprego e arranjou para ela uma nova companhia.

Lucas Liebl Velho

1º Ano – Ensino Médio

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PERAMBULANDO PELAS RUAS DA CIDADE

Nevava intensamente. Um jovem anda pela calçada, sem rumo, sem razão. A cidade era sombria, as ruas eram sujas. Ninguém falava, não havia sol naquela cidade, somente a escuridão e o silêncio. Nascer naquela cidade não era motivo de alegria.

O jovem era pobre, usava uma luva rasgada, um sapatinho de couro corroído. Assim, não conseguia se proteger do frio. Vestia uma camisa e uma calça velha.

Pela calçada ele andou, andou até que olhou para uma janela e viu uma menina observando a paisagem. Ele encantou-se com ela. Cabisbai-xo e pensativo foi caminhando para a casa. No dia seguinte, acordou e tomou uma sopa de legumes, ou melhor dizendo, de água.

Depois da refeição tão frugal foi perambular pela cidade como de costume. Propositalmente passou em frente à casa da menina. Olhou para a janela a fim de vê-la, mas qual, ela não estava lá. Ao olhar para trás, todavia, viu-a chegando a sua casa.

A menina era de uma família rica. Estava de vestido azul, tinha a pele branca. Ela olhou para ele: - Oi menino! Gaguejando respondeu: - Oi! Sorrindo, ela atravessou a rua e entrou em sua casa. Ele sentia que era atraído por ela. Sem conseguir tirá-la da cabeça, foi desenhar, o que ele, aliás, fazia muito bem.

Depois foi até a casa da menina e pôs o desenho na varanda. Quando voltou para casa, ficou sabendo que iriam se mudar para a cidade

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vizinha.

Dez anos se passaram e ele voltou para a cidade. Sem pensar duas vezes, foi para a casa dela. Ao chegar ali, viu o desenho na mão dela. Ela o convidou para entrar e lá dentro fizeram o que a distância não os deixou fazer por dez anos.

Matheus Tomasia

1º Ano – Ensino Médio

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CAFÉ COM PÃO

Era mais uma manhã de sexta-feira, de um rigoroso inverno de julho com pouca neve. Marina precisava ir ao mercado, já que no dia anterior não pode ir, porque estava com uma forte gripe e, como morava sozinha naquela nova cidade, não haveria problema de ir fazer compra no outro dia.

Naquela manhã, porém, teve de ir porque faltavam muitos manti-mentos em casa, além de que precisava comprar um remédio contra a sua gripe. Iria até mesmo sem tomar café porque nem o pó para preparar ela tinha.

Na rua não havia tanto vento como nos outros dias e como o mer-cado e a farmácia eram perto de sua casa, ela caminharia a pé mesmo. Depois de ter comprado tudo, Marina foi tomar seu café quente em uma padaria perto dali.

Quando saiu do mercado conseguiu dar alguns passos, mas logo foi derrubada por um homem na rua. Com isso todas as suas compras caí-ram. Sorte dela que um jovem, de nome Jorge, muito educado, ajudou-a a ajuntar todas as suas coisas que haviam caído pelo chão. Não sei bem como, mas, em instante, estavam os dois tomando o tal do café juntos na padaria do seu Chico.

Na padaria a conversa rolou franca. Trocaram muitas ideias. Du-rante a semana voltaram a se encontrar. Muitos cafés aconteceram depois daquele. Ficaram amigos.

Ramon e Marina sempre saíam juntos. Um ia à casa do outro. Ela apesar de tudo temia esse dia mas havia chegado, o dia que ela teria que

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ir embora.

Marina fazia um intercâmbio de regiões. Ela era do Rio de Janei-ro e estava no Rio Grande do Sul. Nessa última noite dela na cidade, eles saíram e divertiram-se muito.

Depois que ela se foi, ele continuou indo a mesma padaria quase todos os dias tomar café, porém, só. E ela? Ela não suportando a dor da distância, anos depois, voltou. Agora foi para vale e para sempre. Houve até bolo e grinalda. Foi lindo.

Hoje eles não vão mais à padaria do seu Chico tomar café. Só vão comprar doces, pão e manteiga. Café tem em casa.

Milena Brüske

1º Ano – Ensino Médio

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ERA INVERNO

Já era inverno. Muito tempo se passou. Foi como se tudo tivesse acontecido ontem.

A neve branca, o vento frio e as arvores sem vida, decepciona-ram-me mais e mais. Não conseguia tirá-lo das minhas lembranças.

Fazia cerca de cinco anos que nós havíamos nos separados. Ele havia me magoado muito.

As manhãs já não eram como antes. A vida já não era como antes. Minha única companhia eram os passarinhos, que cantarolavam lá fora com o frio intenso.

Perdida e atordoada não sinto medo de admitir para mim mesma, é claro, que sinto falta dele. Mais foi o que tinha que ser feito.

Sou jovem demais para saber, mas sinto que esses sentimentos não vão apagar-se da minha memória. Afinal, quando se ama uma pessoa, ela fica no coração da gente para sempre.

Felizmente, eu sei que vão surgir muitos meninos ainda, junto de muitos sentimentos, mais não, nunca será igual ao relacionamento que tive com o Jorge.

Passeio pelos bosques nesse inverno, sem rumo. Meus planos eram você, nossos planos eram trazer nossos filhos aqui...

Rezo toda noite, mais não penso para não sentir mais dor.

Era inverno quando nos separamos. Agora é inverno de novo.

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As lembranças vão se aprofundar. Cada vez que a sopa quente vier para mesa, vou lembrar-me dele novamente. Isso vai ocorrer na hora do chá em todas as outras em que passamos juntos nesses rituais.

No futuro pretendo contar aos meus filhos minhas desilusões, para que não repitam os meus erros. Para que não sofram, como sofro.

Enfim, para ninguém sofrer como eu sofro.

Natália Arnold

1º Ano – Ensino Médio

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O MEDO

Um menino de dez anos, chamado Pedro, adorava andar de bici-cleta em um terreno enorme próximo da sua casa. Sempre que chegava a casa, depois da aula, ajudava sua mãe nos afazeres domésticos e ia andar de bicicleta no terreno enorme perto de onde morava. Lá passava a tarde inteira, sempre fazendo o mesmo trajeto em sua pequena pista.

Quando Pedro ficava cansado ou com sede, ia até uma casa do lado do terreno em que andava com sua magrela e comia laranja. Havia, todavia, um problema: o dono do pé de laranja era um senhor de idade muito, mais muito louco e rabugento. Certa feita, esse senhor rabugento surpreende o garoto catando suas laranjas e bravejando exclamou:

- Seu ladrão, como é seu nome? Onde mora?

- É Pedro, e moro aqui perto.

- Seu pirralho! Se você aparecer aqui por perto vou te matar, suma daqui e nunca mais volte.

- Mas senhor, eu estava com muita fome e sede. Então, comi uma laranja, porque vi que muitas laranjas podres no chão. Então pensei que o senhor não iria ocupar.

- Não interessa, se pegar de novo, eu te mato!!!

- Está bem, diz o garoto e saiu correndo com muito medo.

No dia seguinte, o garoto chegou a casa, fez a tarefa da aula, estu-dou e ajudou sua mãe nos deveres de casa, como sempre fazia. Naquele dia, no entanto, ficou só assistindo a tevê, sem sair de casa e não foi andar de bicicleta como costumava.

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Noutro dia sua mãe chegou a casa de tardezinha e percebeu que a bicicleta estava parada por um bom tempo e pergunta ao Pedro:

- Pedro você não anda mais de bicicleta?

- Não mãe, agora não gosto mais.

- Más por quê? Você gostava tanto!

- Não, mãe, não tem mais graça andar de bicicleta agora. Pode dizer para o pai vende-la ou dá-la se quiser, porque nunca mais vou andar de bicicleta.

Nossa! Então, está bem, diz a mãe assustada.

Depois de uns dias a mãe comprou uma bola para dar de presente ao filho.

- Olha filho, comprei uma bola para você jogar lá no terreno onde andava de bicicleta, porque aqui em casa não pode.

- Mãe, eu não quero.

- Se um dia for embora daqui, jogo bola.

- Dois dias depois, passou o enterro do dono do laranjal. O meni-no pensou: será que ele está levando laranjas para chupá-las no cemitério, quando tiver sede?!

Pablo Higor Feschuck

1º Ano – Ensino Médio

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PEQUENA MATA SOLITÁRIA

Em um belo dia ensolarado, Ricardo estava junto de seus belos brinquedos preciosos. Brincava para lá e para cá. Deixava seu quarto vi-rado de ponta cabeças. Um pouco antes do almoço sua mãe chamava-o e pedia para que ele fosse colocar a roupa do colégio e os seus brinquedos nos seus devidos lugares e depois que terminasse, fosse até a cozinha para almoçar. Ele almoçava tão depressa que seu pai mal podia perguntar como foi a sua manhã. Quando terminava de almoçar, corria para o ba-nheiro escovar os seus dentes e voltava para o seu quarto, escolhia dois ou três brinquedos e ficava brincando e sonhando junto aos brinquedos até sua mãe chama-lo para levá-lo à escola e se reencontrar novamente, com seus amigos. Sua mãe o chamou e lá se foi ele.

Pegou sua pequena mochila de costas com seus leves materiais e correu para o carro. Ao chegar a escola, a sua mãe D. Cirlene, deu um forte abraço em Ricardo e voltou para casa fazer o seu trabalho.

D. Cirlene era doméstica. Limpava a casa, lavava a louça e roupa e ainda conseguia um tempinho para regar o jardim que ela tanto admi-rava. Após fazer tudo isso já estava quase na hora de buscar Ricardo. Ligeiro ia tomar banho, pois estava toda grudenta de trabalhar a tarde inteira. Melhor coisa a fazer seria tomar um belo banho.

Quando chegava a casa, Ricardo largava sua pequena mochila em qualquer lugar e ia correndo para o seu quarto bagunçá-lo novamente com seus belos e preciosos brinquedos.

Quando seu pai, Sr. Sílvio, chegava a casa, ia até o quarto de Ricardo e começava a brincar junto com ele. Contavam piadas nada a

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ver um para o outro. Ali Sílvio poderia perguntar a Ricardo como foi sua manhã e a tarde na escola. Enquanto isso D. Cirlene ficava preparando a janta. Após jantarem, Ricardo ia tomar banho para se limpar das poeiras daquele dia que estavam grudadas em sua pele e iria direto dormir. Na-quela noite seu pai começou a pensar por que Ricardo não brincava na pequena mata que ficava atrás de sua casa, em vez de ficar trancado no quarto junto aos brinquedos. Na mata ele pelo menos iria respirar um ar puro.

Renato Munch Junior

1º Ano – Ensino Médio

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VAI, VÔ! FIQUE COM DEUS!

Finalmente me dei conta de que alguém tão especial como você partiu. Hoje apenas relembro os dias bons que passamos juntos, das brin-cadeiras de quando era criança, dos sorrisos que tirava do seu rosto com facilidade. Jogávamos bola, brincávamos e éramos felizes... Felizes até de mais... Ah Luís querido, saudades é a palavra certa para usar e de-monstrar o que sinto. O meu amor por você nunca mudará.

Onde estás? Onde andas? Onde posso encontrá-lo?

Quando chego à sua casa é o vazio que toma conta de mim. Lem-bro-me de quando entrava lá e logo vinha você alegre, oferecendo-me carinho. Hoje nem seu sorriso posso mais ver.

Onde está você para me fazer feliz novamente? Ai, Deus!

Chego a pensar que um dia você voltará para me fazer feliz de novo, para poder ouvir sua voz calma ao meu ouvido, me chamando para comer ou para rezarmos para papai do Céu nos proteger. Hoje rezo para ele cuidar de você, já que esse não é mais meu papel.

Você me proporcionou vários dias felizes, mas digo que não foi só isso. Você me ajudou a ser como sou hoje. Fez-me ver o mundo com ou-tros olhos, enxergar não apenas o que está escrito no papel, mas sim ver o que há atrás dele, ver a vida com outros olhos e vivê-la intensamente, pois vida temos apenas uma.

Um dia a maioria e nós irá se separar. Sentiremos saudades dos sorrisos e das conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos de todos os risos e momentos que compartilhamos.

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Hoje tenho mais certeza disso. Perder alguém com vasta impor-tância não é apenas deixar saudades, mas sim um vazio no peito, um buraco que sei que vai demorar para ser preenchido. Com tempo tudo se resolverá. Agradeço a você ter-me ajudado e cuidado de mim quando mais precisei.

Obrigado, Vô! Fique com Deus!

Sarah Dutra Rodrigues

1º Ano – Ensino Médio

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QUERO MEU ACONCHEGO

Lembro-me muito bem de toda a minha infância. Foi uma etapa da minha vida cheia de alegrias e sonhos. Tudo que importava eram as brincadeiras de pega-pega, esconde-esconde, dos tijolos de montar, mi-ni-games, amarelinha, descida do morro com folha de coqueiro. Lembro dos acampamentos no quintal ou até mesmo dentro de casa, quando dor-mia no sofá e, misteriosamente, acordava na cama no dia seguinte.

Lembro-me também das vezes que comprava aquele Pokémon na farmácia ou pacotes de salgadinho só para ver o Taz que vinha den-tro. Minha queria me matar, porque “Você pensa que dinheiro é capim, guria?”Gostava muito também de tomar suco na forma de avião, carro, foguete. Sei lá, criança tem cada uma!

Aos domingos eu e meus primos corríamos para chegar a determi-nados destinos. Se é que tínhamos destinos. O primeiro ganhava a aposta. Mesmo não ganhando nada, só o fato de chegar antes que os outros já estava valendo. Quando pegávamos as arminhas de bolinha, nossa, aí era demais, muito show! Eu e meus primos escondíamo-nos atrás das janelas e atirávamos em quem passava na rua. Sem contar os tirinhos que dáva-mos uns nos outros. Doía viu? Aquelas bolinhas ardiam muito.

E a escola? Bem, aquela era a época da mochila com persona-gens, toda rosa, e de rodinha. Era também época das lancheiras. Minha mãe fazia Toddy e colocava um pacote de bolacha Ana Maria. Muito Bom! No recreio dividíamos o que levámos. E isso, então, não era mara-vilhoso?

Tenho saudade de tudo isso, sabe? Mesmo podendo acordar mais

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tarde, levantava cedinho, só para assistir a meus desenhos prediletos. Deitava no sofá enrolada no cobertor. Aí... ham! Não dava para assistir a todos de uma vez. Eram tantos: Baby Looney Tunes, Scoobydo, Castelo Ra-tim-bum, Cocoricó, Caverna do Dragão, Timão e Pumba (“hatuna matata”), Aladin,Tarzan.

Até eu assistir a todos a mãe já estava chamando: - Filha, está na hora de levantar, já é tarde. E eu sempre respondia a mesma coisa: - Só mais esse mãe. E acabava levantando mesmo só quando meu pai estava chegando do trabalho para almoçar.

Eu quero a minha infância de volta. Quero voltar para o meu aconchego. .

Sara Gabriela Greipel

1º Ano – Ensino Médio

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ÁGUA

Um meio tão importante mais que poucos dão valor. As pessoas não percebem o quanto a água é importante para a humanidade. As pes-soas estão “nem ai” desperdiçando água, deixando torneira aberta. Nosso corpo é formado por setenta por cento de água. Sem água nós morrería-mos desidratados. Então, somos obrigados a preservar a água potável do planeta.

Ela é usada em tudo: nos alimentos, para matar a sede dos seres vivos, para regar as plantas. É ela, aliás, que constitui os rios, lagoas, mares e oceanos, que são as principais fontes de irrigação da terra, irri-gação das plantações de legumes, frutas e vegetais, que estão no prato do consumidos todos os dias.

A maior parte do nosso planeta é constituído de água e, se não cuidarmos, ela irá acabar, e a vida vai ser completamente impossível.

A água não traz apenas benefícios aos seres humanos, mas tam-bém é prejudicial. Um exemplo são as enchentes. Aqui no Brasil, por exemplo, há várias regiões que, durante o verão, ficam totalmente ala-gadas. A água também provoca deslizamentos de terras, causando vários problemas.

Assim, muitas pessoas ficam sem lugar para se abrigar. Já, em outras regiões, as pessoas sofrem com a falta de chuva. As pessoas aí são obrigadas a andar quilômetros e quilômetros para buscar água para matar a sede da família.

Então temos obrigatoriamente de cuidar dos mananciais, para que não faça falta para nós e nem para as pessoas no futuro.

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Para tanto é importante não desperdiçar água, por isso deve-se fechar a torneira enquanto escovamos os dentes e não demorar muito no banho. Quando lavar o carro, não deixar a torneira aberta. São medidas que devemos tomar, para que a água não acabe.

Taline Peyerl

1º Ano – Ensino Médio

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INSEPARÁVEIS

Tinha dez anos, eu era uma menina ainda quando nós nos conhe-cemos lá na rua da minha casa. O caminhão de mudança estava encos-tado na casa da frente da minha. Você logo se apresentou e também já começou a contar de onde veio e um pouco de você, e eu fiz o mesmo.

Logo depois de alguns dias já éramos as melhores amigas. Éra-mos inseparáveis, como todo mundo lá no colégio dizia.

Foram anos e mais anos de amizade, até que um dia eu soube que iria me mudar não só de escola ou de bairro, mas de cidade também. Iria ficar a mais de 500 km longe de você, mas prometemos que nunca iríamos nós separar. Afinal, éramos melhores amigas e iríamos continuar sendo.

Os dias foram passando e fomos perdendo o contato. Momento houve em que mal e mal nós nos falávamos. Muitas pessoas foram in-ventando coisas sobre mim para você e de você para mim e fazendo a gente brigar pelos motivos mais banais, até que a gente passou a não se falar mais.

Um dia haveria uma festa na minha velha cidade, e fui para lá. Nutria ainda a esperança de que, quando nós nos encontrássemos, iria-mos nos acertar. Mas qual nada. Foi justamente o contrário. Uma nem olhou para a cara da outra. Naquele momento fiquei com tanta raiva de você que não queria te ver por nada. Tentei fazer de tudo para te provocar e mostrar que eu não precisava de você. Sentíamos um fel amargo na alma e um gosto de sal amargo na boca. Na verdade, porém, eu precisava muito de você, mas não queria dar o braço a torcer. Queria me mostrar

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forte, quando eu quase rastejava de tão frágil que me sentia.

Até que um dia o acaso nos colocou frente a frente. Estávamos com os espíritos desarmados. Os bons fluídos sopravam a nosso favor. Aí tudo se resolveu e acabamos com os velhos rancores. Descobrimos até os verdadeiros motivos de gente ter-se afastado, descobrimos as armadilhas que tramaram para nós.

Alguns meses depois de termos nos acertado eu soube que eu iria voltar para minha velha cidade e que voltaríamos a estudar juntas, a fazer tudo juntas. E agora, com a certeza de que nossa amizade era mais forte que nada mais poderia nós separar. Afinal nós somos inseparáveis.

Tayline Nayara Fendrich

1º Ano – Ensino Médio

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XEQUE-MATE

Chovia naquela noite. As lágrimas não paravam. Eram tantas que seus olhos ficaram vermelhos. E eu ali ao lado sem, ao menos, poder consolá-la.

Seus olhos eram castanhos. Seu sorriso era inconfundível no meio de toda aquela multidão. Parecia uma pérola de tão brilhante.

Mesmo se saber nada a seu respeito, muito menos seu nome, meu coração já te pertencia, mesmo que você não soubesse coisa alguma a meu respeito.

Mas e aquele dia que chorava, para quem ela chorava? Eu não sabia, e ficava me perguntando, o que me deixava intrigado, sem reação. Eu também não sabia se ela iria se apaixonar por mim. Por todos esses motivos nunca a convidei, por exemplo, para jantar ou passear comigo.

Nesse dia de sol, que reluzia sua beleza, ela recebeu a notícia de que essa pessoa cujo nome, não me recordo, porém aparentava ser seu filho, tinha morrido em um tiroteio. Nessa hora, por sorte, eu estava no seu lado.

Assim que recebeu a notícia, ela jogou-se para trás. Eu a segurei nos meus braços. Levei-a ao hospital para confirmar se havia algo de er-rado a mais com ela. Mas a única coisa, porém era boa, a moça de olhos castanhos esperava um filho.

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Thayna de Oliveira

1º Ano – Ensino Médio

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UMA PEQUENA HISTÓRIA DE EXÉRCITO...

Primeiro dia no exército: foi nos apresentado o primeiro teste. Te-ríamos que explorar e descobrir pistas. Todas juntas iriam nos dar o resul-tado. Cada esquadrão era formado por quatro pessoas. No meu batalhão estão: Gary, que é um homem forte, porém ignorante. Seria os músculos do time. Elisa, especialista em armas. Seria a arma do time. Kelly, biólo-ga, sabia tudo sobre as plantas e animais e ainda fazia uma ótima comida, Seria a nutricionista do time. Por último eu. Leon, estrategista e cérebro do time. Seria o líder da equipe.

Segundo dia no exército: Começa o nosso teste. Teríamos que procurar, em uma área aproximada de 300 quilômetros quadrados, seis pistas que juntas formariam uma única charada. Seriam cinco contra cin-co e todas as equipes iriam à procura das mesmas pistas.

O teste iria durar uma semana inteira e teríamos de nos virar. Os vencedores iriam ter uma oportunidade maior de virarem capitão. Ou seja, todos nós estaríamos dando o nosso melhor para que pudéssemos ganhar.

Recolhemos todos os itens de que precisamos e esperamos a con-tagem final. Cinco. Quatro. Três. Dois. Um. VÃO, VÃO, VÃO, gritou nosso comandante.

Saímos correndo em direção à floresta, onde esperaríamos poder encontrar dicas e mantimentos. Procuramos até a noite e nada encontra-mos. Criamos, então, um pequeno acampamento. Fomos dormir à espera de outro dia.

Oitavo dia no exército: Ainda não encontramos nenhuma dica.

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Encontramos, contudo, uma pequena cabana dentro de uma caverna onde nós, provavelmente, iríamos encontrar nossa primeira dica. Chegando lá encontramos mantimentos e não apenas uma dica, e sim duas dicas.

27ºDia no exército: Depois de duas semanas já tínhamos cinco dicas. Faltava apenas uma para conseguir montar a charada final. Nós, no entanto, já sabíamos onde estava a última dica. E iríamos pega-la a todo custo.

28º Dia no exército: Estamos no meio do território central. Uma vasta ilha flutuante, onde a única maneira de chegar lá seria fazendo uma série de pulos em pequenas plataformas. Não iríamos nos render, iríamos a todo custo conseguir a última chave na cabana central do território. Es-távamos a andar em direção da casa, porém impedi nosso grupo há ape-nas alguns metros de ficar à vista das outras equipes. ‘Olha”, exclamou Kelly. Aí percebemos o movimento da equipe inimiga. Nesse momento gritei: Eles estão indo para a cabana. Corram todos. Corremos e pulamos como nunca visto, mas, na metade do caminho, Kelly escorregou, bateu a cabeça e caiu no lago abaixo gritando “Terminem com esse teste”, e caiu nas águas brancas e gélidas do lago.

Com uma nova força para continuar, conseguimos chegar ao ou-tro lado antes de nossos inimigos, conseguindo assim a dica final. Ven-cemos, conseguimos todas as dicas e resolvemos o problema final. Sim-plesmente assim. Qual a pergunta final? Não sei isso já é historia para outro dia. Fim.

Leonardo Hoffmann Sebold

1º Ano – Ensino Médio

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PERFEIÇÃO

O dia estava perfeito: sol, brisa suave de primavera e alegria. A temperatura estava agradável. Até as ondas do mar pareciam estar em câmera lenta. As folhas das árvores arranhando-se uma nas outras, como se não houvesse nada mais a fazer. A praia era o paraíso.

Crisântemos púrpura descansando sobre o vaso de cristal. Talhe-res em ordem crescente ao lado dos pratos. Guardanapos perfeitamente dobrados. Toalhas de cetim indiano recém passadas e arrumadas, balan-çavam sob o vento. Cada detalhe em seu lugar.

O homem.? Seus cabelos morenos curtos, recém cortados. Suas sobrancelhas arcadas, como sempre fazia quando estava ansioso. Suas covinhas envergonhadas atrás de seu sorriso. Lábios hidratados, leve-mente curvados em suas esquinas. Sua mão inquieta remexia-se ao lado do terno. Terno confeccionado exclusivamente para uma pessoa de sorte. Terno aquele que me deixou feliz, feliz como se não houvesse nada no mundo que eu quisesse mais. Feliz, como se aquele momento nunca fos-se terminar.

Continuei andando. Olhei para o rosto de cada convidado. Vovô, vovó, mãe, pai, primos, colegas de trabalho, o prefeito da cidade e sua es-posa, enfim, todos. Nunca pensei que tantas pessoas pudessem se reunir em função de um só motivo. Eu e ele.

O modo como me olhavam de cima a baixo deixava-me acanha-da. Analisavam-me. Testavam-me. Queriam saber se estava pronta para isso. Eu sabia que estava, apenas não queria mostrar. Afinal, não preci-sava provar nada a ninguém. O sonho de minha vida estava prestes a se

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realizar. Nervosa, talvez. Feliz, como nunca antes. Disposta a fazer de tudo por este homem, sem nenhuma incerteza.

Alcancei-o depois do que se pareceram horas. A música não parou em nenhum instante. Cada violino, violoncelo, flauta, trombeta e piano estavam em sincronia. Cada nota tocada para nunca mais ser esquecida. Mas desviei meus pensamentos de tudo isso e de todos que me olhavam quando olhei para ele.

Escutei as palavras do padre, mas elas simplesmente escaparam para o esquecimento. Até o momento em que ele falou meu nome com-pleto. Eu estava no mundo da lua. Finalmente, fez a pergunta por que esperei a vida inteira para responder: Ana Cristina, você aceito Marcelo Augusto como seu legitimo esposo? Nossa, respondi sim imediatamen-te. E ainda completei: sem dúvida, padre. Marcelo fez o mesmo. Olhou nos meus olhos fixamente e disse, sem titubear: Claro que eu aceito, seu vigário. Nossa, foi uma alegria geral. Então, sejam felizes, disse o padre. E somos.

Rafaela Barbetta Adell-Péricas

1º Ano – Ensino Médio

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ÓDIO ETERNO

Certa vez, um casal vivia feliz, trabalhava como caçadores de recompensas em um serviço secreto. Até que, em uma missão em que eles tentavam capturar ou matar o líder de uma grande facção, a mulher é capturada, torturada e enforcada.

Desde então, o homem, que atendia pelo nome de Luke, algum dia dotado de sentimentos bons, acabou por se tornar um homem sem espírito, sem senso de misericórdia, apenas uma alma num corpo sem sentimento.

Desde aquele dia, ele só pensava em duas coisas, as duas bem semelhantes: Vingança e sua adorável esposa, agora aprisionada para sempre em um lugar a que vários já foram, mas de onde ninguém voltou, lugar desconhecido, lugar onde se vai após a vida na terra. A g o r a , dotado de uma raiva nunca vista antes, o tal Luke vai atrás de todo grupo criminoso, atrás do homem que matou sua amada. Todo seu desejo agora era fazer com os criminosos algo parecido com que eles fizeram com ela, mas com certeza de uma maneira muito pior e dolorosa. O ano era 1898. No dia 01 de agosto, o casal foi separado. No dia 03 seu plano de vingança começou a funcionar. Ele se dirigiu, agora com a arma de sua falecida esposa, à base secreta da facção, conhecida como Ripers. Basicamente seu plano era entrar na base pela lateral que continha um duto de ventilação que levava até a área em que a facção criava armas, armado de ódio, armas pesadas e bombas. Ele entrou no local. Enquanto entrava na base, ele ouviu berros, provavelmente o grito de pessoas que terão o mesmo destino que sua amada tivera.

Luke precisava impedir a crueldade dos criminosos, ao entrar no duto, ele posicionara uma bomba para reduzir a base a apenas cinzas e

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ruínas, enquanto ele rastejava através do tubo. Os berros haviam cessado. Ao chegar à área em que os armamentos eram produzidos, Luke

pulou do duto e se escondeu, sem que ninguém o visse. Armou uma bomba embaixo de uma mesa e mandou uma granada para o alto com a qual girou e matou a todos por perto, sem fazer barulho. Com barulho ou não, o lugar era completamente vigiado através de câmeras. Então, o alarme soou. Vários criminosos com armas pesadas estavam dirigindo-se a ele. Entre eles, estava o líder, que matara sua mulher. Rapidamente, Luke posicionou bombas ao redor da sala e colocou o acionador nas suas costas. Dirigiu-se ao canto mais longe da entrada, posicionou mesas e outros objetos para protegê-lo, mas ainda assim sabia o que iria acontecer. Lá do canto, Luke preparou-se para matar, com armas em suas mãos, o máximo de criminosos possíveis, e com um alvo principal: o líder.

Quando as tropas começaram a entrar, Luke começou a atirar. Um inimigo no chão, dois, cinco, e ainda mais por vir. Gastou granadas e vários pentes de munição, mas as tropas não paravam de vir, até que ele o viu, fez de tudo para matá-lo e matou, mas, ao realizar essa digna tarefa, foi baleado uma ou duas vezes e caiu de costas morto. Com a base reduzida a cinzas e ruínas, graças ao acionador nas suas costas, ele morreu feliz, feliz por ter tirado do mundo um criminoso perigoso, feliz por ter vingado sua amada e feliz por, finalmente, poder passar a eternidade com sua amada em um local aonde se vai quando a vida na terra não existe mais.

Guilhermo Adell-Péricas

1º Ano – Ensino Médio

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THIS ONE’S FOR YOU

Eu nunca disse que estaria voltando para você, eu nunca disse isso. Eu queria... eu queria que você pudesse ver, sentir algo ou acreditar. Mas você não está aqui você já está morto, o seu coração, ele não sangra. Você levou uma parte de mim, arrancou da minha alma. Agora eu sinto vontade de desistir quando você está perdendo o controle. E eu temo que eu tenha me casado com um fantasma, você apareceu para ter esse cora-ção de ouro, e eu temo que você tenha vendido minha alma.

Os demônios rastejam pelas minhas costas para pegar você. Dis-farçados, seus demônios o arrastam diretamente para o inferno. Mentin-do, traindo, você acha que eu não sei o que você fez?

Sem muito tempo pra respirar, os mortos estão ouvindo. Enterrei você com a minha fé, estas poucas ultimas palavras eu lamento dizer. Não possa fazer isso do meu jeito, eu não posso estar totalmente sozinha, eu tenho segurado minha língua por muito tempo. Esse silêncio está me matando. Eu nunca disse que estaria voltando para você...

Agora eu canto por tudo que eu perdi, e agora eu grito por tudo que eu amei... Tudo. E agora os seus demônios encontraram-lhe, e as sombras estão cercando-o, e agora seus demônios estão obrigando você, e eles estão arrancando-o de volta para o inferno.

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Bianca Sara Flores

1º Ano – Ensino Médio

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QUERIA VOCÊ DE VOLTA!

Com meu caderno de textos na mão escrevo em uma tarde cinzen-ta e fria. Estava sentada em minha cama, olhando pela janela os pingos de chuva que começavam a cair lá fora. Então lembrei- me de você, de como eu gostaria de ter você ali comigo, para me dar seu colo, um abraço, em beijo ou, até mesmo, me assustar contando suas histórias, como você sempre fazia só para me deixar brava.

Mas também me lembrei de que você me deixou, que não sou mais eu pra quem você corre para contar se aconteceu alguma coisa boa no seu dia, não sou mais eu quem você pede ajuda ou dá conselhos.

Só queria saber por quê. Por que você fez isso comigo? Eu te amava tanto, espera... A quem estou querendo enganar, ainda amo e mui-to por sinal, as lágrimas caem toda noite quando deito no travesseiro e me lembro das coisas que me fizeram acreditar em você, que você nunca ia me deixar, e estaria comigo para sempre.

Acho que você nem se lembra de que prometeu cuidar de mim, não é? Eu me lembro... De tudo!

Eu sei que você não sente a minha falta, que não sente falta de nada do que fomos, mas se você não sente, por que é que eu sinto tanto? Por que não passa? E por que eu não consigo te esquecer? Eu preciso de res-postas, mas parece que quanto mais eu penso mais perguntas eu tenho, e aqui dentro de mim, não dá para aguentar mais, meu coração então nem se fala, moído e destruído por completo, quase não tem mais forças nem para bater, e então eu não sei o que fazer com isso, com esse amor que tem aqui dentro, mas quem sabe um dia eu te esqueço, mas por enquanto

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eu só queria ter você de volta, ter seu colo de volta, teu abraço de volta e teu beijo e você me assustando de volta.

Você prometeu que era para sempre, mas o seu “para sempre” não era de verdade e, muito menos, para sempre.

Heloísa Fuckner de Oliveira

1º Ano – Ensino Médio

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MEUS MEDOS

Demorei uma eternidade para encontrar a minha família que não é bem minha. É triste ter de escrever isto, mas é a maior verdade da minha vida. A minha família acabou desde o dia que o meu pai morreu. Tinha oito anos. Em segredo o meu maior desejo era acabar com a dor da sua ausência. Fui procurando em vários relacionamentos, em pessoas que queria à força substituir. Nunca me sentia satisfeita, sentia um vazio até o dia que conheci o meu atual namorado.

Construí um relacionamento seguro, forte e com tudo o que pre-ciso para construir a minha família. O início de um começo que há muito desejava. Mas bem, nem tudo é perfeito e o meu maior receio continua cá. Não conseguir, acabar por perceber que a minha vida ficou lá atrás, quando tinha oito anos. Sinto falta do colo de um pai, de um porto seguro que só é possível com uma família completa. É bom sentir que faço parte de uma família, mas tenho medo que tudo se desfaça. Não posso imagi-nar o que seria ver outra pessoa partir na minha vida. Todos têm direito a seguir com os seus objetivos, e começo então a perceber que existem al-guns obstáculos que não sei enfrentar por causa da minha dificuldade em não ter uma família. A vida não gira à minha volta, nem à volta dos meus problemas ou medos. E se calhar, até consigo enfrentar tudo sozinha. O futuro vai dar-me respostas. Espero.

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Tammily Nathany Lopes Ferreira

1º Ano – Ensino Médio

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AMOR, FELICIDADE E MEUS COMPLEMENTOS

Vez em quando me entrego a pensamentos sobre a vida, penso em todas as possibilidades que existem de obter melhoramento, não apenas a mim, mas também aos outros!

Todos os dias encontro oportunidades de ser bom e auxiliar as pessoas a minha volta, como se meu objetivo fosse ser exemplar, não que busque felicidade, afinal felicidade, particularmente, é algo que só se encontra plenamente no amor. Como já dizia Tom Jobim, “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”. E talvez até hoje não há frase mais correta. Falar sobre amor é algo tão normal, e ninguém o tenta decifrar, afinal, não há necessidade, amor não é algo para ser entendido, e sim sentido, sentido na maior intensidade onde o corpo pode aguentar, chegando a ser eletrizante. O amor estará sempre certo, é amor, e por ser assim, infinitamente amor, jamais precisará ser explicado.

Mas obviamente, como toda situação da vida, encontramos obs-táculos, dificuldades. E amor, com certeza, não é diferente. Quantos são os casais que por não saber usufruir do bem que é uma união, terminal o relacionamento.

As pessoas costumam dizer que, quando os relacionamentos acabam, o motivo é porque faltou amor, porém amor nunca falta. Nós, pessoas, seres humanos cegados, ingênuos, procurando felicidade no desconhecido, e quem dera fosse tão difícil, assim talvez as pessoas valo-rizassem mais, não enxergamos que felicidade é algo que nos está estam-pado na cara todos os dias.

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Na conclusão de todas nossas ações, sonhos, conquistas, é irrele-vante a presença desse sentimento, não há nada que seja bem feito sem amor, nada que fique realmente bom, se não colocamos um pouco disso. É como um ingrediente, uma fórmula, um jeito de tornar tudo prazeroso.

Mirieli Cordeiro da Cruz

1º Ano – Ensino Médio

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PASSEIO EM FAMÍLIA

Era sábado, era o dia do “passeio em família”, ia ser como qual-quer outro, fomos para o cinema, comemos um lanche, tomamos sorvete e fomos embora.

Quando cheguei a casa, liguei meu celular e reparei que tinha uma mensagem, quando abri a mensagem, vi que não tinha o número, então, como qualquer outra pessoa faria, perguntei quem era. Minutos depois recebi uma nova mensagem com a resposta, e bom, posso dizer que me surpreendi com a pessoa, pois jamais esperava receber uma mensagem dela, aquilo alegrou meu dia, me tirou totalmente do tédio, ficamos con-versando por horas e horas, e dias foram se passando, e nós nunca deixa-mos de se falar. Desde então, comecei a ter necessidade de falar com essa pessoa todos os dias, e isso se tornou uma paixão o que era estranho pra mim, eu tinha medo e ao mesmo tempo me sentia a pessoa mais feliz do mundo quando chegava uma mensagem nova e era daquela pessoa.

Um dia cheguei da escola e claro, fui ver as redes sociais para ver se estava on line e assim que abri minha página do Facebook vi que tinha uma nova mensagem, meu coração acelerou, eu sabia que tinha sido aquela pessoa que tinha mandado, depois de 10 minutos eu abri, a mensagem dizia “Oi, preciso falar com você, assim que puder manda mensagem pelo celular, beijos”.

Meu Deus, eu estava com muito medo, pensei em mil coisas ruins, como também pensei em mil coisas boas, e obviamente mandei uma mensagem perguntando o que tinha acontecido. Uma hora se passou e nada, fiquei com um frio na barriga, fui comer assistir à tevê, fiz de tudo para me distrair, então decidi dar um cochilo bem rápido. Quando acordei

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a primeira coisa que eu fiz foi ver se tinha uma mensagem no celular e me decepcionei, pois não tinha. Senti-me um lixo, estava quase chorando, que droga, chorar por uma pessoa que você nem conhece direito.

No dia seguinte, logo que acordei peguei meu celular e tinha uma nova mensagem, meu coração tava disparado, aquela pessoa tinha per-guntando a que horas terminava minha aula, respondi na hora. Na saída da escola senti alguém me cutucar, olhei pra trás na mesma hora e caram-ba, que surpresa! Coloquei um sorriso enorme no rosto, passamos o dia inteiro juntos, fomos ao shopping, tomamos sorvete, ficamos conversan-do sobre a vida, eu não conseguia parar de olhar para o sorriso perfeito e para aqueles olhos lindos que ele tinha. No final da tarde, ele me acom-panhou até em casa e me deu um beijo na boca, mas não aqueles beijos demorados, foi um beijinho só, mas foi a melhor sensação do mundo.

Assim que cheguei fui tomar banho e, quando voltei, tinha uma mensagem daquela pessoa, eu estava tão feliz, e fiquei mais ainda quando li a seguinte mensagem “Adorei estar ao seu lado, vamos combinar de sair mais vezes”. Não conseguia parar de sorrir, definitivamente eu estava amando.

No dia seguindo na saída da aula, aquela pessoa estava lá, me esperando para sairmos novamente, na verdade todos os “dias seguintes” aquela pessoa estava lá, me esperando. Minha mãe estava preocupada do porquê de eu ficar tanto tempo fora de casa, e eu inventava desculpas todos os dias.

Certo dia, eu saí do colégio e não conseguia encontrar aquela pessoa, mandei mensagem, liguei para o celular e nada, então resolvi ir para casa. Quando cheguei a casa, ele estava lá esperando do outro lado da rua, então fui correndo abraçar ele, e no instante em que fui abraçá-lo

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ele simplesmente recuou. Perguntei se estava tudo bem e ele disse “Te-nho que falar sério com você” Fiquei sem reação, a primeira coisa que eu pensei foi que meus “dias seguintes” perfeitos tinham acabado, perguntei o que estava acontecendo, e aquela pessoa disse:

- Já faz um tempo que eu venho pensado em nós e agora eu sei realmente o que eu quero, e eu cheguei à conclusão de que quero você, do meu lado, se não for pedir demais quero você para sempre.

Não sabia o que fazer, mas sabia que era hora de falar tudo o que eu pensava.

- Eu te amo sabia? Amo-te muito, você despertou emoções em mim que eu imaginava que jamais sentiria. Você me faz sorrir como nin-guém nunca fez, eu te amo e isso nunca vai mudar - as lágrimas não pa-ravam de sair, estava realmente feliz – Nunca imaginei que nós íamos ser tão perfeitos um para o outro, e é claro que eu aceito você do meu lado e não vou me importar que seja para sempre meu amor.

Aquele com certeza foi o dia mais feliz da minha vida. Os meus “dias seguintes” foram os melhores dias, pelo menos por alguns meses. Com o amor a gente descobre coisas boas e coisas ruins também. Brigá-vamos sempre, na maioria das vezes por motivos pequenos. Isso já estava me cansando, já estava cansando ele, estava cansando nós. Já não tinha mais certeza do que queria, ou melhor, se era aquela pessoa que queria do meu lado para sempre e tenho certeza que ele pensava assim também. Estávamos há um mês sem nos ver, tinha dias que não mandávamos men-sagem um para o outro, até que um dia cheguei à conclusão de que nosso para sempre tinha que ter um fim e que não tinha mais “nós”, apenas “eu e ele”, então decidimos terminar, pois não havia mais motivos para continuar. Foi o pior dia da minha vida, porém a melhor decisão que já

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tomamos. É claro que continuei amado ele, afinal ele foi meu primeiro amor.

Marievelin Martins Sobreira

1º Ano – Ensino Médio

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UM MUNDO AFORA

Em uma primavera, um menino pequeno com dentes ainda de leite, mal sabia andar, estava a brincar com seus carrinhos, brincava só dentro de casa, pois sua mãe tinha medo de que saísse e se machucasse, brincava dia e noite sem saber que havia outra vida lá fora.

Certo dia, no verão, com um calor arrasador sua mãe saiu para tomar um ar sem ver a porta ficou aberta sem o menino perceber, com o vento entrando e batendo em sua cara, ele foi logo espiar com sua curiosidade, percebeu que havia outro mundo lá fora e foi logo explorar algo estranho no chão mais leve , mais verde, mais bonito. Pisou nele e logo viu que aquilo não fazia mal nenhum, olhou mais em volta e achou algo que o assustou com quatro rodas, duas na frente e duas atrás, ficou a explorar e percebeu que havia portas nele, outras quatro também abriu e viu que havia um volante, uma chave, bancos e outras coisas que nunca pensou ou sonhou em ver. Vendo isso, apertou a buzina sem querer, sua mãe logo ouviu e saiu correndo atrás do menino, ficando com uma ar de séria que nunca a viu. Todo apavorado sem saber o porquê, foi correndo para dentro de casa, vendo que sua mãe iria brigar com ele.

O tempo foi passando o menino já sabia andar, mas ler e escrever nem pensar. Ficou muito interessado no mundo lá fora. Desde aquele dia sua mãe tranca a porta todos os dias, pois ainda tinha medo de que seu pobre filho fosse para lá e se machuca-se, mesmo assim, o filho tentava escapar todos os dias em roupas sujas, em caixas de papelão ou até indo atrás de seu pai.

No inverno sempre frio com seus pais descansando na cama, o menino viu uma oportunidade de escapar e ver novamente o mundo lá fora. Abriu, então, a porta e se sentiu triste falou:

- Onde está aquele piso verde bonito? Onde está aquela coisa de

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quatro rodas e quatro portas com um volante e bancos?

Havia sumido tudo, mas quando ele encostou naquela coisa com aparência branca e viu que era mais linda do que o piso verde, pegou-a na mão e percebeu que debaixo daquilo estava o piso verde mais lindo de todos. Algo chamou sua atenção. Uma árvore ao longe em seu terreno mesmo. Foi olhar mais de perto aquela coisa linda e maravilhosa, ficou vendo por horas e horas, tantas horas que perdeu a noção do tempo. Já era noite. Foi quando escutou sua mãe se levantando e indo ver onde estava o menino. Assustado, saiu correndo atrás da árvore.

Ficou lá por algum tempo. Começou a ficar mais frio mais tene-broso mais estranho, viu animais que nunca tinha visto antes, morcegos e corujas, as corujas não o assustavam, mas os morcegos sim. Com medo correu para dentro de casa e quando viu sua mãe vermelha que nem pi-mentão, ficou de castigo até os 9 anos que era a época de escola. Assim, o menino teve a rotina normal de qualquer outra criança. Quando se for-mou aos 17, seus pais falaram.

-Pronto meu filho agora está livre.

Ele respondeu: - Mãe com esse tempo todo aqui vi como você só estava me protegendo, mas agora é a hora de eu proteger vocês.

Assim ele foi arranjando emprego já que seu pai era aposentado e sua mãe nunca trabalhou. Com isso conseguiu emprego, sustentou sua família, arranjou alguém especial na vida e teve duas lindas crianças

Otávio Doering de Oliveira

1º Ano – Ensino Médio

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PREOCUPAÇÕES

Já era de manhã quando comecei a me arrumar, meu primeiro dia de aula estava por vir, a ansiedade tomava conta, quem seriam meus amigos? Como é a escola? Será que a professora é legal? Dúvidas e mais dúvidas surgiam em minha cabeça. Quando cheguei à escola me deparei com milhares de crianças correndo por todo o pátio, como pássaros após conhecer o mundo e querer voar por todos os lugares. Finalmente o sinal bateu, chegou a hora de enfrentar o maior medo de todos, conhecer a sala de aula e finalmente a professora que daquele dia em diante me ensinaria coisas a mais sobre a vida, aprenderia finalmente a ler e escrever e não se-riam apenas mais rabiscos em meus papéis e sim palavras, frases e mais adiante textos, aprenderia com muito esforço a ler, gaguejaria no começo mas com muito esforço quem sabe saberia ler fluentemente após algum tempo. Os olhos dos meus pais se encheram de lagrimas após perceber que daquele dia em diante tudo mudaria a menina deles está crescendo e agora vai fazer amigos e conhecer uma parte a mais do mundo, a rotina não seria mais a mesma muitas coisas a fazer e aprender.

Primeiro, segundo, terceiro dia tudo foi fluindo conforme o plane-jado, cada dia aprendendo algo novo fazendo novas descobertas, e cada vez mais orgulhando meus pais. Víamos aqueles jovens grandes e felizes e um tanto preocupados com a escola, e imaginávamos como seria quan-do chegássemos a essa etapa das nossas vidas, se seriamos tão alegres como eles, se preocuparíamos tanto como eles com os estudos entre ou-tras coisas. Mal podíamos esperar para ficar mais velhos e ser realmente felizes como eles.

Depois de anos, vi que não era tudo aquilo, as preocupações com

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estudos e deveres a fazer se acumulavam, e que tudo que eu tinha quando era menor e não dava valor faz uma falta gigante hoje em dia. As preocu-pações eram mínimas e tudo que eu precisava fazer era ser feliz sem me preocupar com nada. Mas só de achar que aqueles jovens de antigamente eram felizes, tinha uma vontade enorme de ser como eles. E apenas agora quando paro para refletir lembro-me da oportunidade que tinha e como tudo era fácil. Mas o tempo passou e nada voltara a ser como era.

Chelsi Marise Ziemann

1º Ano – Ensino Médio

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A MISSÃO

Melina é especial. Só ela sabe do segredo da vida dela, ela é me-diadora, ela pode falar e ver os fantasmas mortos. Aos 15 anos Melina mudou-se para Califórnia com família. Foi morar numa casa antiga. Ela nunca gostou de casas antigas por causa dos fantasmas. No quarto de Melina sempre aparecia um fantasma de nome Jesse.

- Eu morri nesse lugar, nesse quarto – diz o Jesse

- Você ficou preso o tempo todo aqui? Quanto tempo? – Pergun-tou Melina assustada

- 14 Abril de 1997 – Diz o fantasma

Melina se assustou porque ela nasceu nesse dia. Os dois ficaram conversando na longa noite e viraram muito amigo, ela descobriu que tinha que fazer uma missão: descobrir o motivo da morte de Jesse. Isso ocorreu no mesmo dia em que Melina nasceu.

Melina foi para o seu primeiro dia de aula na cidade nova. A aula era de história, e o professor falou sobre médium. Melina não gostou.

- Mediador ou Mediadora vive uma longa vida fazendo missão, quem é mediador pode viver pelo resto da eternidade vendo e falando com fantasmas que já morreram. O fato é que as pessoas nascem com esse dom especial por tradição de família. Por exemplo, a vó é mediado-ra e passa para neta e assim por diante... – Diz o Professor Lucas dando explicação.

Melina quis levantar a mão para fazer pergunta se ele era media-

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dor, mas isso irá complicar o professor. Então se concentrou para ouvir a continuação do professor.

- Quando o mediador nasce tem que passar o resto da eternidade procurando fantasma que morreu do mesmo dia que a pessoa nasceu, se não o mediador e o fantasma não podem viver em paz, porque sempre tem outros fantasma querendo ajudar a pessoa resolver coisas. Lucas ex-plicando tanto a volta da sala, até que a Melina interrompeu...

- Se a pessoa conseguir salvar a vida do fantasma o que acontece? – Pergunta Melina envergonhada

- Acontece que a pessoa pode trazê-lo para o futuro, daí o media-dor pode viver em paz sem nenhum fantasma pedido ajuda...

A sala se assustou quando tocou o sinal para próxima aula. Melina foi atrás do Professor Lucas perguntar se ele era Mediador, mas ele con-vidou Melina para tomar café na sala do professor. No corredor havia um fantasma encostado ao armário.

Depois o professor pediu para contar a história toda de Melina de Mediadora porque ele viu-a observar o fantasma e Melina contou tudo.

- Bom... o jeito é que você tem que ir ao lugar onde o Jesse fale-ceu, deitar no chão e fechar os olhos imaginar o passado de Jesse, onde ele faleceu e vai cumprir sua missão – falou professor lentamente

Final de aula Melina foi direto para casa, pediu para mãe o telefo-ne da vó Anne para descobrir como foi o passado dela durante a missão

- Alô? - Anne atendeu ao telefone

- Oi Vó Anne, aqui é a Melina – começou a falar gaguejando

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- Oi minha querida, o que posso lhe ajudar?

- Preciso saber como foi seu passado durante a missão. – começou a tomar coragem para perguntar

- Que missão? - Diz a Anne com voz grossa

- Você não é mediadora?

- Você também é Melina? – Voz da Anne começou a ficar com felicidade

- Sim vó, sou mediadora, descobri que é por geração de família

- Então sente-se em algum lugar perto de onde você está, pois é longa história – diz a Anne com voz ficando séria

- Pode continuar – Falando curiosa

- Bom, muito tempo atrás quando eu tinha 14 anos no Havaí onde fui morar numa casa que parecia castelo, lá conheci o fantasma Daniel, ele foi morto do mesmo dia em que nasci. Descobri a missão e fui para o passado salvá-lo. Daniel ia morrer com tiro na cabeça no quintal da mi-nha casa onde eu morava. Ali salvei a vida de Daniel. Depois, no futuro a gente se encontrou, namoramos, casamos e tivemos uma filha... a sua mãe... – Falou Anne seria sem pausa para respirar

- Nossa vó, estou chocada, sério, é impressionante! Mas como ele fale-ceu? – Falando assustada e emocionada ao mesmo tempo.

- Ele faleceu um dia antes do seu nascimento, é por tradição quando fan-tasma vai para futuro com a salvação de uma mediadora sempre morre um dia antes do nascimento do neto – Voz de Anne parecia estar triste.

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- Qual motivo da morte? – Melina começou a lembrar de Jesse como estaria no futuro.

- Não teve motivo, ele só tinha tempo de vida e ele sabia isso.

- Querida, eu preciso ir agora, sempre sabia que você era mediadora esse tempo todo – e desligou antes de Melina despedir.

Melina correu para o quarto e chamou o Jesse para aparecer, con-tou tudo para Jesse para poder ajudar a missão. Melina deitou no chão, fechou os olhos, imaginou o passado e conseguiu voltar para o passado em 1997. Descobriu que ex-melhor amigo de Jesse o Juliano queria ma-ta-lo.

Melina já estava no quarto onde estava Jesse esperando o Juliano. Melina conversou com Jesse explicando tudo, mas ele estava confun-dido, mas depois Juliano entrou do quarto com pote cheio de álcool e fósforo, começaram a discutir.

Jesse ficou ao lado de Melina, acreditou nela, Jesse conseguiu derrotar Juliano, Melina abriu a janela, Jesse jogou álcool no chão e acen-deu o fósforo, foi até Melina na janela para pular voltar para futuro.

Melina acordou no chão de seu quarto, começou a procurar por Jesse e não encontrou, Melina estava preocupada, confusa queria ligar para Professor Lucas explicar tudo, mas não tinha número do telefone dele. No dia seguinte chegou da escola e encontrou o Professor, foi lá tentar explicar tudo, mas ele estava ocupado para ouvir Melina, Ela en-trou na sala de aula.

Na terceira aula era a vez do Professor Lucas. Melina estava olhando para seu caderno rabiscando.

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- Turma, apresento a vocês Jesse nosso aluno novo – Falou Pro-fessor se empolgando.

Ao ouvir falar nome Jesse, Melina levantou para olhar o aluno novo, era o fantasma Jesse que ela havia salvado no passado.

Jesse olhou para Melina e deu maior sorriso porque ele a reco-nheceu. Foi a melhor coisa que havia acontecido da vida da Melina, os dois namoraram e casaram até um dia antes do nascimento de seus netos.

Não importava se Jesse se foi, porque ela é mediadora e vai poder vê-lo como fantasma.

Melina viveu assim até o dia de sua morte do acidente de carro e se juntou com Jesse. Melina pediu ajuda para seu neto fazer exorcismo para Jesse ir descansar em paz, pois Melina teve que esperar alguém que nasceu no dia que Melina faleceu para voltar a vida cumprindo a missão.

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Amanda Caroline Larsen

1º Ano – Ensino Médio

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SONHO DE HUMBERTO

Um dia meu pai me contou uma história, uma história de um ve-lho amigo seu chamado Humberto. Humberto era um homem simples como qualquer um, e seu maior sonho era ser rico e que sua pequena loja de ferramentas virasse uma grande fábrica, sua loja era frequentada por poucos clientes, mas poucos que sempre voltavam, pois adoravam seu atendimento e seus produtos de qualidade. Ele não sabia muito bem um jeito de fazer sua loja crescer e virar uma grande fábrica, Humberto era um homem que pouco conhecia sobre publicidade, porém seu filho, que possuía apenas 13 anos e cujo o nome não é importante na ocasião, sabia muito bem mexer na internet e maneiras de publicar a fábrica. Humberto não era muito bom com tecnologia, e era muito insistente. Quando seu fi-lho se ofereceu para ajuda-lo, negou e disse que como tudo que ele havia feito, aquilo ele poderia fazer com suas próprias mãos.

Sua loja era pequena e simples, não atraia muitos clientes, a loja era mal pintada e o local não era muito bom, porém Humberto era simpático como nenhum outro homem na face da terra, além de ser muito bem educado.

Certo dia Humberto decidiu sair pela cidade para divulgar sua loja. Entregava folhetos feitos e impressos por seu filho e os colava por toda parte, porém sua loja era pequena e mal cuidada, e os clientes fu-giam dela, ele estava triste e cabisbaixo, não sabia mais o que tentar.

Humberto viu que era sua ultima opção a não ser fechar as portas, sendo assim aceitou, seu filho divulgou por toda parte, semanas após continuavam os mesmos clientes frequentando sua loja, ninguém novo, ninguém diferente, sempre os mesmos, que já eram seus amigos e prati-camente eram íntimos.

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Certo dia um homem muito rico e poderoso não deixou o dinheiro subir a cabeça, este homem estava precisando urgentemente de ferra-mentas para arrumar seu carro. Foi correndo à loja de Humberto que não chamava muita atenção. Humberto lhe forneceu, com muita boa vontade, tudo que ele precisava, e também lhe ofereceu um café, o homem recusou e disse que estava com pressa, pagou e saiu correndo, Humberto se sentiu satisfeito em atender um novo cliente.

No outro dia, o homem voltou à loja e foi se desculpar pela falta de educação e agradecer Humberto pelo bom atendimento e pelas ferra-mentas de qualidade, Humberto o convidou para tomar um café e eles ficaram por um tempo conversando sobre negócios e sobre a loja.

Humberto contou sobre seu sonho e o porque não tinha condições de realizá-lo, o homem, que por sinal era seu novo amigo, disse que poderia lhe ajudar, ele tinha um estabelecimento desocupado no centro da cidade e disse que poderia emprestar a Humberto e mobiliá-lo caso Humberto se associasse a ele.

Humberto aceitou, os dois sócios abriram a loja no centro da cidade e tiveram muito sucesso. Anos depois Humberto, com ajuda de seu amigo, abriu a fábrica de ferramentas e, alguns meses depois, sua fábrica já estava muito famosa.

Humberto agora era um homem rico e tinha condições de pagar a faculdade de publicidade de seu filho. Ao terminar de contar a história, meu pai, emocionado disse que ele era o sócio de Humberto, que havia morrido há alguns meses e que Humberto era seu maior exemplo de vida

André Sluminsky Weiss

1º Ano – Ensino Médio

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UMA ILUSÃO

Você não me amava, só gostava da minha presença quando todos te deixavam. Você não me amava, apenas gostava de ver que alguém realmente se importava com o seu bem-estar. Apenas gostava do jeito que eu te tratava, como ninguém no mundo nunca te tratou. Você não me amava, apenas me pedia para ficar, para não perder aquela pessoa que não se importava em se entristecer para te ver feliz. Você ao me amava, apenas se sentia importante quando via que, um dia sem você, era uma eternidade para mim.

E você acha que parar mim foi fácil assim, depois de tudo isso? Ver você partir e se distanciar de meus olhos desse jeito tão brutal como fez? Você acha que, depois de tudo, é só virar a cara e simplesmente sair da minha vida? Isso são apenas perguntas, mas e o sentimento, como fica?

A cada dia que passava, eu desejava mais e mais que pudéssemos por algum acaso cruzar novamente nosso olhares numa esquina qualquer da vida, mas não. A cada vez que esse desejo aumentava, aumentava também meu desejo de te esquecer. Mas quem disse que o desejo de te esquecer era maior que o de te reencontrar.

O meu remorso de você era grande sim, pois doeu e muito. Você ocupava minha mente por horas e horas de meus dias. Depois de um tem-po fui me acostumando com toda essa dor. Afinal, a vida não é perfeita e, muitas vezes, precisamos nos acostumar com certas situações.

Eu vou tentar ignorar você em alguns momentos, mas logo depois vou te procurar como se a distância fosse igual a uma agulha entrando

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em minha pele. Eu até posso julgar que isso é uma loucura, mas se for? Lasque-se! É um tipo de loucura que me faz bem, e sabe, eu vou é apro-veitar tudo que me faz bem, e o que não me faz eu vou é jogar fora. Mas ai vem a questão. Porque você é um pouco dos dois e o que fazer quando isso acontece?

Ensina-me um jeito bom de amar, um jeito de amor que lhe traga para mim, que faça você saber me amar; eu sei que não sou fácil, mas tenta, por favor, por mim, ou não sei talvez por você, vai que você des-cobre que eu também posso te fazer bem, o bem não faz mal a ninguém, não é assim?

Mas se você não quiser, é porque talvez essa obrigatoriedade de sempre estar buscando alguém é complicado. Eu só queria que você sou-besse (espero que saiba) o quão bonito você é, e não digo isso porque gosto de você, mas sim porque é a mais pura verdade que já falei na minha vida.

Eu sei que uma pessoa não precisa estar a vida inteira ao seu lado pra se tornar única e especial.

Mas e eu? Eu te amo, desde o momento que Deus criou o homem e a mulher. Por isso vou amá-lo mesmo que doa. Eu te amo, mesmo sen-tindo tudo sozinha. Eu te amo, mesmo que hoje você diga que nunca quis me iludir.

Luiza Kaesemodel

1º Ano – Ensino Médio

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2º Ano do Ensino Médio

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NA CABECEIRA DA MESA DA NOSSA CASA HÁ UM LUGAR PARA SEMPRE

VAZIO

Era dia 10 de dezembro de 1943. A Alemanha estava às voltas com a artilharia pesada das nações inimigas.

A batida forte da porta do quarto dos meus pais causou-me estra-nheza. Aquilo não era do hábito deles. Tranquei a respiração para melhor capitalizar o que conversavam. Falavam sobre uma carta. Em conversas entrecortadas pelo choro de minha mãe ouvia-se...viagem...guerra...nun-ca mais voltar... e eu te amarei para sempre.

Eu ainda era muito pequeno para entender, mas, se era só uma viagem, porque o choro?!

Dois dias depois, já alta madrugada, acordo com um beijo demo-rado na face sonolenta. Era meu pai. Perturbado, entre dormindo e acor-dado, abro os olhos e vejo-o ao lado da minha cama. Não houve conversa. Não havia o que dizer. Naquele momento ele não se pertencia, pertencia ao Estado Brasileiro que fez um acordo com América para matar jovem e pai de família na guerra. Ele não conseguiu esconder a dor que levava no peito. Mesmo na penumbra do quarto, vejo seus olhos mareados.

Aquele lance foi o derradeiro. Depois, vi-o pelas costas saindo para nunca mais voltar.

Já fazia meses que meu pai havia partido, mas minha mãe e eu não tínhamos recebido notícia alguma sobre ele. 1944 começou, passou e tudo ficou no mesmo. 1945 começara também do mesmo jeito, a guerra acabou, batalhões de soldados retornaram a sua pátria, menos o meu pai. Quando ele foi embora, eu tinha sete anos, agora já tenho dez.

No dia primeiro de janeiro, assim que havíamos “comemorado” o Ano Novo, minha mãe saíra para pegar as correspondências e logo vol-

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tou para casa e começou a ler as cartas uma por uma, tentando encontrar alguma que se referisse a meu pai, mas nada encontrou. Nesse ínterim, alguém bateu à porta. Corremos em sua direção, quando vimos assomar dois homens fardados. Eu ainda não tinha idade para saber do que se tratava, mas minha mãe entendeu tudo antes mesmo que eles dessem a notícia da fatalidade que havia ocorrido com meu pai. .

Os dois homens que ali estavam começaram a me explicar sobre a viagem de meu pai. Ao final da conversa fiquei paralisado, com uma dor em meu peito inexplicável. A última frase deles foi: Seu pai morreu defendendo a pátria.

Foi nesse momento que entendi o motivo da viagem e o choro agoniado da minha mãe anos atrás.

Hoje o que me sobram na memória são aquelas lembranças que me perturbam continuadamente como pesadelo. A boca tem gosto de fel amargo; a alma, um vazio impossível de preencher. É ferida que não vi-rou cicatriz. Deve sangrar para sempre. Ainda ouço o soluçar de minha mãe, andando desconsolada de um lado para outro da nossa casa que, à época, ficava à beira de um rio. Aquela partida abortou nossos planos de vida e roubou-nos para sempre a felicidade. Nunca mais a família toda reunida, nunca mais a festa de Natal e Páscoa, nunca mais os brinquedos infantis. O que ficou foi um grande vazio. Na cabeceira da mesa da nossa casa há um lugar para sempre vazio.

Por que os homens fazem guerra, para fazer a gente e a mãe da gente assim tão triste?!

Alan Chapiewski

2º Ano – Ensino Médio

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LUZ DOS OLHOS TEUS

Difícil é recordar o dia em que te conheci. Um amontoado de ideias confusas embaralham-se agora em minha mente. É realmente des-consolador, é como ser personagem da música e viver sem a outra metade da laranja.

Mesmo que se viva aos murros e aos berros, mas uma separação é sempre um ato dolorido. Dolorido, especialmente, para quem não tem uma rede de sustentação, para quem não tenha outra carta na manga, como, por exemplo, um abnegado e também solitário e solidário colega de classe que se disponha a nos fazer companhia, escutar nossas lamú-rias, relembrado e repisando uma a uma as coisas que fizemos com o homem a quem, até então, havíamos nos entregado por inteiro. Quando a separação é iniciativa apenas da outra parte, então, aí temos a sensação de que o chão saiu de baixo de nossos pés. Passamos a levitar na gravidade da lua. Nada mais a nossa volta passa a fazer sentido.

Hoje são 12 de junho, dia dos namorados. Este ano ficamos jun-tos quase todos os dias. Tudo estava muito bem entre nós, lembra?! De presente, você me deu uma água de cheiro e eu te dei um relógio suí-ço. Na pulseira mandei desenhar as iniciais do nosso nome entrelaçadas: MHHM, Maria Helena e Heráclito Medeiros. Parecia até o brasão da nossa futura família. Materialmente fiquei no prejuízo. Afinal, um relógio suíço vale mais do que uma lavanda nacional. Mas isso não tem impor-tância. Não importa. O que importa, ou melhor, o que importava mesmo era o nosso relacionamento que, ao menos até ali não estava a perigo. Depois, infelizmente, a encosta do morro desabou, e tudo o que havia em cima veio abaixo.

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Agora estou aqui na escuridão desta casa vazia. O relógio da sala move seu pêndulo sistematicamente, mas as horas demoram a passar. É como se, de repente, um dia fosse uma semana e uma semana, um mês. Daqui a pouco será meia-noite. Já tomei o nosso vinho todo e o sono não vem. Lá fora a chuva fina e intermitente forma bolhas cintilantes nas teias de aranha sobre os postes de luz. Um grilo solitário canta na laranjeira, aqui dentro as vidas também são secas e não há nenhum rumor na casa deserta. Entre uma página e outra de Graciliano Ramos, olho pela janela da sala e vejo seu vulto todo molhado, com um buquê de flores na mão, abrindo-se num sorriso, envolvendo-me nos braços e fazendo mil juras de amor. Aos poucos, porém, o vinho volatiliza. As miragens, as fantasias e as alucinações desaparecem.

Tudo é escuro, nada parece fazer sentido. Os pensamentos vem e vão e vem e não vão. Estou há horas aqui ruminando-os sem que possa livrar-me deles. Quisera eu poder sair correndo. Não sabia quem era, não devo falar com desconhecidos. Até que me viro e te vejo. A luz dos olhos teus, a luz da cor do mar fizeram-me flutuar e me levaram para o caminho sem volta da paixão. Não acreditava em amor à primeira vista até vê-lo e até você me contar que o livro que eu estava lendo era o seu favorito também. Que delícia de café foi aquele que tomamos na confeitaria da esquina. Ainda me lembro do tropeção que dei na escada. Não fosse você me segurar, talvez hoje eu andasse de muleta. Até então eu não sabia que havias outras formas de tropeçar.

Ficamos dez longos anos casados. Tivemos nossos dois filhos, que puxaram minha inteligência e sua beleza. “Por que você tinha que nos abandonar? Por quê? Justo agora?” são as malditas perguntas que tanto perturbam minha mente e você não está por aqui para responde-las. É sempre assim. Por que o amor, ou melhor, o fim dele é tão cruel?

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A que dia horrível! Nunca mais quero voltar a um quarto branco de hospital. Você adoeceu meu amor. Aliás nunca mais quero receber coroas floridas. Você, meu amor, fique sabendo que partiu para o lado mais belo da vida, pois Deus precisava de um anjo com o tamanho da sua grandeza e compaixão. Agora eu te mando um breve até logo, como fazíamos antigamente, pois sei que, em breve, nos veremos.

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Ana Carolina Bail Morais

2º Ano – Ensino Médio

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DESESPERANÇA

Lá está ela. Sentada na varanda de sua casa. As saudades são suas companhias. Recorda-se de tempos mais felizes. Tempos em que cons-truíra, em sonho, uma família hoje incompleta. É setembro. As primeiras folhas desabrocham. Sente-se a leveza da estação. Seus olhos não mais veem a vida com tanta ternura.

A vida de Helena, como mulher, começara cedo. Viu-se amarrada a um militar ainda com 18 anos. É o melhor para você, recomendava o pai. Ele vai alcançar altas patentes, terá um bom soldo, vai ganhar muito e trabalhar pouco. Aliás, vai fazer praticamente nada. Afinal, o Brasil não promete fazer guerra com ninguém e os militares, em vez de estarem guarnecendo as fronteiras naqueles ermos, longe das cidades, enfrentan-do dificuldades, estão aqui no litoral, no bem bom. Assim, poderá fazer-te companhia e dar-te boa vida, reforçava o velho. A verdade é que os dois nem se amavam pra valer, pensava Helena, desconsolada.

A princípio Helena não morria de amores pelo seu tenente, mas o tempo passou e as flores que Jorge enviava passaram a perfumar o rela-cionamento. O que antes era um fardo, agora transformara-se satisfação. E dá-lhes flores, perfumes, mimos e outros tantos caprichos ofertados por quem não tem mesmo muito o que fazer e pode dedicar-se plenamente a pessoa amada. O amor, como diz o poeta, vence os tigres por empresa e amolecem corações, é mais do que fé, remove montanhas.

Já tinham planos para uma família e sua própria casa. Helena era agora uma mulher prendada. Cuidava da casa e orgulhava seus pais, prin-cipalmente pela beleza e simpatia. Eis, porém que senão quando, Jorge trouxe a ela uma notícia bastante ambígua: fora convidado para integrar

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as forças da FEB. O eixo das coisas iria mudar. O rumo daquilo não agradou ao casal. Seus sonhos começariam a esvair-se. Quando as obras da casa fossem terminadas, moraria sozinha! Como pode isso?! Até que ponto suportaria essa solidão? A despedida foi uma lástima. Ficou pro-metido que se comunicariam por carta.

Passaram-se três semanas e Helena começou a sentir enjoos. Como já morava na casa idealizada por ela e Jorge, não alarmou seus pais. Lançou mão de sua bicicleta e partiu rumo ao médico que sempre tratara das suas mais variadas enfermidades. No caminho, sentiu o des-conforto abdominal aumentar. Ficou tonta, os olhos escureceram. Uma chuva fina caiu sobre a cidade. Por sorte, o consultório estava próximo. Jogou-se por sobre o sofá da recepção. A atendente do médico onde es-tava ficou. Olhou a furto e continuou mexer no seu computador. A des-maiada desmaiou de vez. Pessoas próximas que também aguardavam o médico gritaram, insistiram, mas qual nada. A atendente, insensível e in-sensata, saiu arrastando os pés e disse para chamar a ambulância, que ali não era hospital.

O resultado da grande quantidade de exames a que fora subme-tida demoraria a chegar. A angústia tomava conta de Helena. A dor au-mentava. Estava preocupada. Nada havia contado a Jorge.. Sua mãe foi a única com quem dividira sua preocupação. Não haverá de ser nada, meu anjo!, arriscava a mãe, com o intuito de acalmar a filha. Helena esperava ter sido agraciada por um filho. A tristeza, porém, só aumentaria.

Jorge, na Europa, estava apreensivo. Longe da mulher e perto da guerra. Agora só tinha tempo para escrever a Helena duas vezes ao mês. As saudades aumentavam. A preocupação também, a cada carta recebida. Algo estava definitivamente diferente.

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Após um mês de dores, enjoos e incômodos, Helena recebe uma correspondência de seu médico. Estava mesmo grávida! Precisava contar a Jorge. Vou pedir a ele que volte. Que bom será ver os primeiros balbu-cios de nosso filho, seus primeiros passos, idas as parque, consolou-se, por algum momento entusiasmada.

Quando abriu a carta da jovem, o militar não sabia o que o espe-rava. A notícia alegrou-o profundamente. Nunca sentira tamanha felici-dade. Tanto insistiu com seus superiores que foi autorizado a voltar ao Brasil. A ideia de que viajaria tanto tempo para encontrar Helena deixava-o mais ansioso a cada minuto. As horas não passavam. Seu pensamento vagava, imaginando os momentos que teria com seu já tão amado filho. Foi quando a tempestade começou. Jorge e seus companheiros de bordo não sabiam como reagir àquilo. Eram, nesse sentido, despreparados. Em duas horas, tiveram os primeiros sinais de que afundariam.

Helena já preparava o enxoval. Contratara uma empregada para realizar os serviços. A alegria irradiava seu rosto. Seus pais já haviam es-palhado a notícia a todos da vizinhança. Esperava Jorge incansavelmen-te, até receber a notícia. “Um pequeno navio vindo dos EUA ao Brasil afunda, já perto da costa brasileira”, era o que dizia o jornal. No decorrer da reportagem, vinham os nomes. Não citaram o nome de Jorge. Helena, porém, continuava triste e apreensiva. Eis que a tristeza de repente foi amenizada. Podia já ouvir os primeiros gritos da nova vida. Era madru-gada. Haviam-na levado às pressas. É menino disse o médico. O sorriso dele lembrava o de Jorge.

Semanas meses e nada. Eis que, depois de descartadas todas as esperanças, um carro para na frente da casa. Ela não pode acreditar quan-do vê Jorge entrando pela porta dos fundos. Sorriso, lágrimas, choro,

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abraço, tudo misturara-se em um só momento.

A vida voltou ao que era antes, com o acréscimo de que agora a felicidade maior. Agora era Jorge, Helena e Pedro.

Anos se passaram. Pedro, ao contrário do pai, não quis seguir a carreira militar. Estudou a arqueologia e vivia correndo o mundo atrás de sítios arqueológicos fazendo pesquisa. Jorge e Helena agora já com netos desfrutavam da vida que planejaram para si. Todas as tardes iam cami-nhar pela praia que ficava a cinco quilômetros de sua casa.

Luiza Muller Bublitz

2º Ano – Ensino Médio

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ACORDA, BRASIL!

Ele colocou o dinheiro no bolso. Ninguém iria perceber. A im-punidade era certa. Depois ele cresceu e, em vez de colocar no bolso, colocava em paraísos fiscais. E ele sentia-se culpado por isso? Não. É exatamente assim que funciona a corrupção.

Ela começa aos poucos. Uma verba desviada, um “favor” feito, um cargo arranjado. O esquema, porém, é bom e a ganância é grande. Então, a corrupção cresce. Cresce tanto que chega a desviar milhões em licitações para as obras da Copa.

É vergonhoso e revoltante ver o “mau-caratismo” dos políticos corruptos. Corrupção? Nunca antes neste país se ouviu falar disso!? Nem nós ouvimos... Mas é estranho, já que, quando precisamos de serviços públicos, eles são tão precários. Onde está o dinheiro? Ninguém viu. De-veríamos ter a mesma atitude com eles na eleição. Onde estão meus vo-tos? Ninguém viu. Pena que não é assim. Se a justiça é cega, a maioria dos eleitores também o são. Julgar é fácil, mudar a atitude é difícil. A maior parte das pessoas não pensa antes de votar. E vota naquele mesmo corrupto.

Temos, com certeza, nossa parcela de culpa. Confiar é essencial, mas, desconfiar dos candidatos é mais ainda, porque, embora a palavra candidato venha de cândido, a maioria deles de candura não tem nada.

A corrupção é histórica. Durante o Brasil Colônia, ela já existia e agora não é diferente. Que digam os antigos mercadores de madeira e o pau-brasil! A corrupção rouba a merenda do estudante, a cirurgia do doente e deixa aquela sensação de impunidade. Ela envergonha o Brasil.

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Atraso nas obras, licitações fraudulentas e a velha história de sempre: os gastos foram maiores que os previstos. E dá-lhe Copa e dá-lhe Olimpía-das. E ainda vem o Papa. Em cada visita, em cada evento, o país fica mais pobre.

Enquanto todos apenas dizem que a situação é ruim, ele continua a roubar. Algumas notas na cueca, outras por baixo da mesa, e lá se vai o centavo suado do brasileiro. Com o mensalão não foi diferente. Todo aquele escândalo inicial. Anos mais tarde, a condenação. Mas alguém está preso? Alguém cobra que eles estejam presos? Não. Pobre Joaquim Barbosa! Está falando sozinho! O Jeca Tatu, representante da lei do me-nor esforço, continua sendo apenas espectador e ainda consegue rir de tudo isso. Não podemos mudar nada. É o que ele diz. Tem gente que gosta de ser gado marcado.

E, assim, continuamos. Brasil, o país do futuro que sempre será do futuro e não do agora. O país da alegria onde até a corrupção gera ri-sada. O país que não muda e que deixa sua oportunidade passar. Acorda, Brasil!

Viktoria Weihermann

2º Ano – Ensino Médio

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LEVA! - PARAFRASEANDO RUBEM BRAGA

- Ele tinha 12 anos, morava em São Paulo, filho único de um grande amigo meu!

- Que raça?

- Pastor Alemão!

- Quantos meses?

- Sete meses!

- É policial ou belga?

- Policial!

- Quer vender?

- Sim, tenho mais três!

- Éh! E de que raça?

- Dálmata, labrador e um pincher.

- Eu queria mesmo era um labrador da cor chocolate, você de qual cor?

- Preto!

- Quer quanto?

- R$200 pratas fechamos negócio.

- Mesmo assim é muito caro pra mim!

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- E o Pastor Alemão?

- R$300!

- Nossa, mais caro ainda!!!

- O pincher é o mais barato!

- Quanto?

- O pincher é R$100!

- E o Dálmata?

- R$200 mango leva.

- Moço eu só tenho R$1,75 e uma bala de uva!! O senhor se in-teressa?

- Não, porque tenho muito cuidado com eles, todos são raça pura, R$ 1,75 é muito pouco e não gosto de bala de uva.

- Mas, moço eu sou puro de coração e sempre vou cuidar bem dele e jamais o maltratarei.

- É... imagino que sim. Isso já é muito importante.

- Moço, não você não quer dar um pra mim não?! Tenho certeza de que vou cuidar bem dele!

- LEVA!!!

Jonathan Pscheidt Araújo

2º Ano – Ensino Médio

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LEMBRANÇAS DE UM INSANO

Eram tempos difíceis, épocas de crise. Ali estava eu, deitado em uma cama de hospício, preso aos meus delírios sobre assuntos variados.

A luz amarela refletia em meus olhos e piscava incessantemente como se o quarto estivesse infestado de vaga-lumes.

Em meus raros momentos de lucidez, lembrava vagamente de mi-nha juventude. Fui um menino rebelde, ímpio, egoísta e muito mimado. Costumava caçar borboletas, prendê-las em caixas e observá-las até que morressem asfixiadas. Fazia isso por puro prazer; gostava de ver o sofri-mento alheio, o jeito como se contorciam de dor.

Fui um aluno desligado e preguiçoso, pois sofria de déficit de atenção. Na hora de ouvir o professor, tinha o péssimo costume de pensar nos recessos escolares. A ansiedade era tanta que, às vezes, pegava-me pensando no que faria nas férias e esquecia-me de aproveitar os agradá-veis momentos com meus colegas de classe. Pobre menino inexperiente, mal sabia que o tempo é um bem não renovável e que a vida não tem segunda edição.

Lamentavelmente, as estações mudam... Ao chegar no fim da vida, em meu leito de morte, penso em como deveria ter aproveitado mais as coisas simples, em como deveria ter deixado as pobres borboletas viverem, observado seus encantos. Em vez disso eu poderia ter ajudado aquela velhinha que morava numa antiga casa de madeira em cima da colina. Em vez disso eu poderia ter contemplado mais o amanhecer e pôr do sol, em vez disso e poderia ter colocado comida para os animais famintos, em vez disso...

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Lucas Henrique Emmendorfer

2º Ano – Ensino Médio

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O LAR

Eram oito horas de uma fria de uma preguiçosa manhã de inver-no. Eu estava atrasada para a faculdade. Então, fiz meu café e fui comen-do no caminho. Como já estava atrasada, resolvi ir a pé e entrar só na segunda aula. Logo que sai de casa, entretanto, passa um garoto correndo e, ao passar na minha frente, cai estendido na calçada.

Fui rapidamente ajudá-lo. Suas mãos estavam sangrando e seu joelho ralado. Ele me olhou assustado com aqueles grande olhos verdes que se encheram de lágrimas. Ajudei-o a levantar e fomos a uma farmá-cia que havia na esquina tomar os procedimentos necessários.

Com a farmacêutica fazendo os curativos, o menino foi se acal-mando. Dei um copo com água e perguntei da maneira mais sutil possível como ele estava se sentido agora. Após uma breve pausa e um longo sus-piro, o menino disse que bem, estava bem. Perguntei seu nome e, meio ressabiado, respondeu: “Carlos”. Então, perguntei se ele morava perto dali. Ele disse que sim. Perguntei por que ele estava correndo e ele ficou quieto. Perguntei se sua mãe sabia onde ele estava. Ele contorceu a face, paralisou por um breve instante e começou a se agitar. Fui buscar outro copo de água e, quando voltei, o garoto já estava na porta. Dei um grito, ele parou, olhou seriamente para mim e falou que tinha que ir porque sua mãe ia voltar. Então, ofereci-me para acompanhá-lo até sua casa e, para minha surpresa, ele assentiu.

Fomos o caminho todo conversando. Carlos, não sei se disse que Carlos era seu nome. Ele era um menino muito perspicaz e astuto para sua idade. Finalmente, chegamos à sua casa. Era uma casa de madeira antiga, levantada do chão, o que obrigava os moradores a superar bem os quatro ou cinco degraus da porta da entrada. Ela toda era circundada por gerânios azuis e brancos que dividiam o espaço com umas rosas e alguns jasmineiros. Alguns vidros quebrados davam-lhe um ar de aban-

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donada, o que logo era desmentido pela fumaça que saiu pela chaminé da cozinha. Olhei espantada para ele e perguntei se era ali que morava. Olhou-me com um leve sorriso no canto da boca e meneou a cabeça confirmando. Carlos, não sei com que intenção, afastou-se um pouco e sentou-se em um banco que havia debaixo de um abacateiro carregado de frutos.

Perguntei se sua mãe já estava chegando, e ele disse que não sa-bia. Por um impulso perguntei há quanto tempo ela tinha saído. Depois de um longo silêncio, respondeu: “um ano, cinco meses e três dias!”

Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, parou um carro preto, em cuja porta podia se ver um adesivo com as inscrições: Lar Ma-ria da Sagrada Conceição. Saltou dele uma mulher alta, ruiva, com a pele leitosa. Chamou o amigo que acabara de conhecer e, para minha desilu-são, levou-o embora. Tudo que Carlos me deu foi um aceno de mão.

Não conseguia parar de pensar nisso e resolvi, no outro dia, ir até o lar perguntar sobre Carlos. Era um reformatório de meninos bem conhecido. Não foi difícil encontra-lo. Insisti muito com a secretária até ela ceder e contar a história de Carlos. Falou-me que estava ali havia um ano. A mãe por certo o havia abandonado. O pai, ele não conhecera, mas que eu ficasse tranquila, que uma família tinha acabado de adotá-lo no dia anterior. Estava só terminando a papelada para se mudar em definiti-vo. Despedi-me de Carlos, sem que houvesse qualquer demonstração de afeto de sua parte. Abri a porta grande à minha frente, ganhei a rua, e a porta voltou a fechar-se atrás de mim num estrondo.

Ana Carolina Bail

2º Ano – Ensino Médio

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CARPE DIEM

Nos dias de hoje, vivemos para sustentar a visão do mundo de que tudo é certo, bonito e organizado. Balela! O meio em que vivemos está em constante confusão. A única coisa que fazemos em relação a isso é omitir. Possuímos políticos corruptos, com o proletariado logo ao lado, e não fazemos nada para que ocorra uma melhoria. Na verdade, olhamos para eles com cara de coitados, de desprezo. Só eles não veem isso. E eles nem aí para ti e nem para mim. Afinal, por que razão deveríamos dar atenção ao que eles falam?

“Carpe Diem”. Por acaso você sabe o que isso significa? É a ex-pressão em latim que quer dizer “colha o fruto de cada dia”. Está me com-preendendo? Deixe-me ser mais específica. Você por acaso tem medo de viver intensamente? Pois bem, coloque na sua cabeça que se não deve nada a ninguém, vá ser feliz.

E se amanhã você não acordar? Já parou para pensar sobre se tudo o que viveu até agora valeu a pena? E se algo lhe acontecesse hoje, você ficaria satisfeito com tudo que construiu? Imagino que não. O ser huma-no está sempre ambicionando mais. Nada nunca está bom o suficiente para nós. É um defeito de nossa espécie. Prefiro nomear como um defei-to um tanto quanto perfeito, pois se não desejássemos mais, viveríamos satisfeitos com pouco. E isso para a minha pessoa, não soa de maneira agradável.

Certa vez me disseram “aproveite a vida de maneira moderada”. Pensei comigo mesma: como se aproveita algo de forma moderada? Des-se jeito não existe proveito completo não é mesmo? E mal será sentido o gostinho da coisa. Quer saber o que eu acho? Aproveite a vida de verda-

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de, amigo! Faça aquilo que te der vontade de fazer. Se a sociedade vai te julgar? Sinto lhe informar, mas vai, e muito. Afinal ela está aí para isso. Para, porém, se importar? Faça por você, apenas por você. Brinque, ria, chore, pule de paraquedas, meta-se numa briga de um amigo, dance na balada de tal maneira que faça com que os outros sintam inveja da sua audácia.

Se não, logo você acordará em sua cama, com seus 70 e poucos anos, cabelos grisalhos e pele enrugada, olhará para o espelho e dar-se-á conta de que podia ter feito mais. Não queira viver de arrependimentos e de angústias. Viva a vida meu caro, ela é uma só. Carpe Diem!

Ana Paula Hiller

2º Ano – Ensino Médio

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NADA É IMPOSSÍVEL

Júlia e Paulo tinham uma vida normal, muito corrida, muito traba-lho, mas aproveitavam ao máximo o que podiam. Eram casados há dois anos e nove meses quando decidiram trazer outra vida para esse mundo. Paulo tinha 28 anos e sua esposa Júlia, 24. Eles julgavam estar financei-ramente bem estruturados e podiam sustentar um filho ou uma filha. Me-ses se passaram e a jovem não conseguiu engravidar. Então, resolveram procurar uma ajuda médica. Ela consultou o Doutor Fabiano. Disse que ela deveria passar por uma bateria de exames, pois ele não podia dizer o que a impedia de engravidar e isto e mais isso e aquilo.

Júlia não via a hora de fazer os exames e tratamento para conse-guir seu desejo. No final de uma bela terça-feira de outono, estava em casa, enquanto seu esposo trabalhava. O telefone tocou. Era do consultó-rio. A moça avisava que ela fosse rapidamente para lá.

Desesperada, ligou para o emprego de Paulo e disse que estava a caminho do Doutor Fabiano. Júlia fez os exames, fez o tratamento e conseguiu seu intento.

Hoje suas filhas fêmeas já estão crescidas. Brincam no jardim da frente. É dia de festa na casa dos Sousa Melo. A casa toda respira alegria. A mesa do café já está posta lindamente para receber as visitas. O avô e avó não casam de fazer carinho e beijar as netas. Os convidados agora fa-lam alto e dançam ao som da música que toca na vitrola que Seu Justino, o avô, trouxera de sua recente viagem à Europa.

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Andressa Leticia Lang

2º Ano – Ensino Médio

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SERTÃO

Seus pequenos pés levantavam leves nuvens de poeira que iam, aos poucos, voltando ao chão. Os olhos castanho-cinzas fixados em mim revelaram sua curiosidade. Era estranho ter esses traços em uma terra onde todas as pessoas eram lindamente morenas, com cabelos e olhos em diferentes tons de castanho e roupas modestas. Eles olhavam minha pele branca que, em incontáveis dias ficava com a cor branca das geleiras, meu cabelo loiro com mechas vermelhas, meus olhos verde-esmeralda e, para aumentar-lhes a curiosidade, eu trajava as mesmas roupas modernas que usei em São Paulo.

Apesar de falarmos a mesma língua, as nossas diferenças fizeram reinar o silêncio por algum tempo, até que um menino se aproximou com passos leves e perguntou:

- Quem é você?

Surpresa pela pergunta, respondi:

- Sou Catarina. E qual é o seu nome?

Ele não respondeu. Estendi minha mão para cumprimentá-lo, mas ele, sem saber o que fazer, esticou o dedo, apontou e questionou:

- O que aconteceu com sua pele?

Eu podia ver a mesma pergunta no rosto das outras crianças, ape-nas os mais velhos pareciam saber a verdade. Respondi então para as crianças:

- Eu já nasci assim.

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Então, outras crianças aproximaram-se e começaram a fazer per-guntas. Eles tinham o rosto brilhando. Até hoje não sei por que tanta curiosidade. Ficamos assim. Os mais velhos a nossa volta, só ouvindo, e as crianças curiosas fazendo perguntas. Quando não já não podia mais de cansada, pedi licença e eles e fui procurar um lugar onde dormir.

Uma vez na cabana, estirei-me por sobre uma rede e, nos primei-ros vaivéns dos balanços, mergulhei num sono profundo, com aquela criançada toda na cabeça.

Meus companheiros de viagem chegaram depois de eu tomar o café, na verdade estava mais para pão e margarina, mas eu gostei, teria mais tempo para conhecer o vilarejo. Os dias passaram rapidamente, um mês passou e embarquei no avião de volta para casa.

Em casa me sentia sozinha sem aquelas perguntas estranhas e as pessoas curiosas. Sabia que ia ser complicado fazer isso novamente. En-tão, guardei essa lembrança no coração e até hoje, aos 80 anos, lembro-me de cada detalhe e de cada segundo.

Caroline Hantschel

2º Ano – Ensino Médio

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TROPEÇOS DA VIDA

Sabe, às vezes, a vida te prega peças. Faz testes para ver até onde chegamos sem fraquejar, até quando aguentamos sem desistir. No decorrer da vida, passamos por campos, praias, montanhas e, pelo cami-nho, podemos encontrar cercas e pedras, que nos obrigam a tropeçar.

Nesse contexto baseio minha vida e nessas linhas escrevo minha história. O que se faz quando uma única frase abala o nosso mundo? O que se faz quando não há o que fazer? Quando os pés desprendem-se do chão?

Perguntas sem respostas tornam-nos inúteis, imóveis, incapa-zes. Meu mundo foi abalado seis meses atrás. Numa noite qualquer de domingo, em um dia de inverno.

A neve caía na rua e a lareira crepitava na sala. O anel de noiva-do brilhava como nunca dentro da caixinha de veludo azul, as lembranças das juras de amor vagavam minha cabeça, curvando o canto de meus lábios. E uma frase dita pelo telefone, faz-me cair de joelhos.

O que me prendia a realidade, havia sido tirado de mim. Um aci-dente de carro havia levado consigo meu amor, e minha sanidade, minha companhia, minha amiga, meu anjo.

Nunca se está preparado para coisas como esta. Afinal, a vida não nos prepara totalmente, nos deixa desamparados, nos deixa sem rea-ção, nos deixa sozinhos. É nessas horas que tropeçamos e pensamos em desistir e ficar no chão. Mas quando o motivo que lhe dava forças para levantar é tirado de você, perde-se a razão. A vida não nos prepara, os conselhos não bastam, os obstáculos nos fortalecem, e assim seguimos a

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vida, tropeçando.

Caroline Regina Hubl

2º Ano – Ensino Médio

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DESTINO

Peguei minha bolsa para fugir na noite mais chuvosa do ano. Pu-lei a janela e coloquei o capuz. Precisava sair daquele inferno.

As imagens do homem que mais conviveu comigo, batendo-me não saem da minha cabeça. Estou com um ódio mortal do meu pai.

Cheguei ao primeiro ponto de ônibus e decidi dormir lá. Só por uma noite, amanhã já encontrarei outro lugar para ficar!

Estava pensando em como me sustentar. De repente, no meio da escuridão, uma figura estranha apareceu e, aos poucos, foi tomando for-ma. Era uma mulher, de meia idade. Perguntou se eu estava perdida. De-sabafei. Precisava de alguém em quem confiar e foi o que fiz.

Enquanto isso, pensava no que havia acontecido. Estou contando minha vida para uma estranha. Ela me oferecera hospedagem. Aceitei. Não teria para onde ir se não tivesse recebido esse convite.

A mulher abriu o guarda-chuva e fomos para sua casa. Fui abrin-do o coração pouco a pouco, mas quando lá chegamos ela já sabia, praticamente, quase tudo de mim.

Chegando lá, deparei-me com muitas outras garotas. Imaginei que fosse uma hospedeira.

Ela sugeriu que eu fosse para o banho e me deu uma camisola de renda vermelha, fina para vestir.

Durante o banho, novamente as imagens não paravam de passar pela minha mente.

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Ao sair, fui para o quarto que correspondia à chave que a senhora havia me entregado.

Quando abri a porta, deparei-me com um homem de aparência velha, nu, fixando seus grandes olhos em meu corpo e avaliando.

Então percebi que aquela casa não abrigava meninas da rua, mas meninas de rua.

Catherine Emanuelle Lenczuk

2º Ano – Ensino Médio

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FILHOS COM AMOR

Dez degraus e uma porta. O Prédio é velho e cheio de janelinhas. Na entrada um belo jardim e nos fundos um parquinho. Já fiz isso duas vezes e nunca me arrependi. Ainda assim fico muito ansiosa. No Orfanato Final Feliz, mais ou menos cem crianças vivem à espera de uma família. O pequeno William é um príncipe. Quando o adotei tinha apenas quatro anos. Com quatorze, ávido por mais um irmãozinho. Elizabeth, toda deli-cada, chegou com três anos. Com cinco anos agora, tem seus momentos de travessura e uma personalidade muito forte. Nós três dividimos muito amor e carinho e estamos prontos para mais alguém.

Nós três, de mãos dadas, subimos dez degraus e abrimos uma porta.

- Mamãe?! - Será que ele vai gostar da gente? – Perguntou Eli-zabeth, mas não tenho certeza se ela tinha mesmo dúvidas.

- Claro que sim! Impossível ele não gostar de você e de Will! – Tranquilizo, embora tivesse meus próprios receios.

Já tínhamos vindo algumas vezes. Quando coloquei os olhos no pequeno Alexander não pestanejei. Acho que ele também gostou de mim. Há um ano e meio, fora deixado ainda recém nascido na porta do orfana-to. Não havia identificação ou sinal da mãe. Apenas uma carta pedindo que cuidasse bem do menino. Ele irradiava alegria com seus passinhos apressados e uma curiosidade sem igual.

Eu tinha condições de criá-los sozinha. Um emprego estável e uma bela casa. E ainda a babá Joana, que cuidava deles enquanto eu trabalhava. Mas e quem não podia? Muitas famílias vivem na miséria,

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às vezes não tem nem o que comer. Jovens, muito jovens, que no descui-do acabam engravidando, não tem maturidade suficiente para criar uma criança ainda. Abandonadas pelos parceiros encontram no orfanato a me-lhor solução. Entregam seus filhos para adoção, para que eles tenham oportunidade de ter um futuro melhor do que os seus. Não as julgo, elas só querem o bem para eles.

- Vamos buscá-lo então? – Interrompe meus pensamentos com emoção, a diretora do orfanato, após preenchermos a papelada. Seguimos aquela mulher corpulenta através dos corredores até a sala.

Meu coração quase parou. Alex estava no colo da moça de olhos arregalados. Fui em sua direção, peguei-o e ele sorriu. Não importava qual era seu passado, agora ele era meu filho.

- Mamãe! – Falei devagarzinho para ele absorver a palavra. – mamãe, Will e Li-za! E apontei para seus irmãos. Will sorria verdadeira-mente e Elizabeth dava pulinhos de alegria.

- Mamãe!? – Repetiu Alex com dúvida e convicção ao mesmo tempo. Minha felicidade era tamanha, que não consegui evitar as lágri-mas. Essa era minha família, meus filhos. Eu faria até o impossível por eles.

Nós quatro, de mãos dadas, fechamos uma porta e abrimos outra para o mundo. Fomos em busca da felicidade.

Eloísa Gabriela Linke

2º Ano – Ensino Médio

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GUERRA BOA OU RUIM?

Para muitos a guerra é uma coisa ruim, como realmente é. Tudo, porém, é uma questão de ponto de vista. De um lado, as vidas sacrificadas, os gastos, a devastação de cidades e nações inteiras; de outro, o lucro, os despojos a apropriação indébita dos bens alheiros, enfim, as batatas aos vencedores, como diria Machado em Quincas Borba. Ou como diria Bob Dylan, o domínio dos “Masters of War”.

A guerra, porém, vale lembrar tem uma longa história. A arma, ela existiu desde os primórdios do homem e é usada em conflitos hu-manos desde que o homem saiu da placenta do mundo. Aí teve de tudo: arremesso de ossos, arco e flecha, catapulta, entre outras, até chegar à pólvora Chinesa e à bala “Minié” francesa. A caça e as lutas contribuíram para que o homem aprimorasse sua técnica de fabricar armas e artefatos de luta.

Como se sabe, por aqueles tempos, a caça era quase a única for-ma de sustento de várias famílias. Fica fácil, então, entender que o ho-mem, não podendo jogar-se num corpo a corpo com os animais ferozes, via nas armas um jeito único de submetê-los.

Agora vou mexer com uma coisa que você provavelmente usa, e muito, a internet. Ela surgiu no final da guerra do Vietnã. O exército americano criou um sistema controlado por computador para servir aos propósitos militares. Após a guerra, dois estudantes usaram esse sistema, que foi abandonado pelo exército americano e criaram o que hoje é a internet, que é banal e até inocentemente usada. Um dia ela foi usada para matar vietcongs, lançar ataques, entre outras armas de destruição. Quando ela foi criada no exército, ninguém, exceto os grandes oficiais da

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inteligência, a conheciam, e hoje é o que mantém o “mundo girando”.

Mesmo não sendo, necessariamente, uma arma, mas também pode ser, vale lembrar a invenção do motor a jato. Ele foi inventado no término da Segunda Guerra. Isso ocorreu quando cientistas alemães e britânicos perceberam que, juntando um compressor com combustível, criava-se uma força descomunal. O grande invento permitiu definitiva-mente encurtar as distâncias. Hoje, além de ser utilizado na guerra, ele também é utilizado no transporte de cargas e mercadorias.

Agora, em se tratando de armas, vale ainda lembrar a invenção da bomba. Após a produção da bomba de Hiroshima, e de seu uso, os conhecimentos na pesquisa nuclear avançou espontaneamente gerando assim conhecimento suficiente para a construção de usinas nucleares que geraram ou ainda geram energia para todos. Sim, eu sei que quando uma usina falha, causa muitos danos, mas os danos causados pela “Fat Man” no Japão além de terem sido um fato que não pode ter sido evitado, aju-dou nas pesquisas sobre efeito da radiação que posteriormente ajudaram as vítimas do desastre de Chernobyl e entre outras.

Então, eu pergunto: dependendo da guerra, ela chega a ser tão ruim assim? Claro a do Vietnã foi um horror e movida por política, mas mesmo assim teve um lado bom. E ainda: sem a Segunda Guerra, o mun-do não seria um quarto do que é hoje. Então, leitor?

Daniel Gonzalez Peres Albernaz

2º Ano – Ensino Médio

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O ULTIMO SUSPIRO

Em uma bela manhã de sábado. Tudo parecia ser diferente para Sérgio, um homem que sofreu muito na vida, pois, com o pequeno salá-rio, que recebia no trabalho de segurança de uma fábrica, não conseguia sustentar sua mulher e seus filhos. Assim, para poder dar uma vida me-lhor para sua família, ele, há mais de vinte anos, trabalhava todas as noi-tes como taxista na pequena e calma cidade do interior. Em uma manhã de sábado recebeu a notícia de que, enfim, conseguira aposentar-se e que, na segunda feira, deveria comparecer à fábrica para assinar os papéis da aposentadoria. Seus filhos estavam bem encaminhados na vida. Com o salário da sua aposentadoria, conseguiria manter a casa e viver tranquilo com sua mulher. Resolveu, então, que essa noite de sábado seria a última que iria trabalhar como taxista.

Chegando a noite, como de costume, Sérgio começava a se ar-rumar para ir trabalhar. Essa noite, seria muito importante, pois seria a última. Arrumou-se antes e não esperou muito tempo. Com grande ansie-dade, deu tchau para sua esposa e pegou o rumo para o centro da cidade em que havia uma festa. Uma dupla muito famosa estava se apresentan-do. Ao sair de casa, andou alguns quilômetros e um dos seus melhores clientes fez sinal para parar. Embarcou no carro, em seguida pediu que tocasse para o centro da cidade.

Ao chegar ao destino, o passageiro desejou muita sorte e felici-dade para ele, pois essa era a última corrida que ele fez com seu taxista preferido. O passageiro pagou, desse. Decidiu, então, ir embora.

Antes passou em um posto para abastecer. Neste instante, chegou um homem aparentemente bem de vida, estava de terno e gravata. O ho-

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mem pediu para o taxista ir para o bairro Conceição, um dos bairros mais famosos daquela cidade. Como era caminho para sua casa, pois morava um bairro após, sem pensar o taxista levou-o, sabendo que esta seria a sua última corrida dele.

Chegando perto do destino, em uma curva quase sem iluminação, o passageiro tirou uma arma e falou para o taxista que era um assalto e que era para ele passar todo dinheiro. O taxista não tinha muito dinheiro, pois acabara de abastecer o tanque do carro.

O bandido ficou irritado, pegou o dinheiro que o taxista tinha, alvejou-lhe vários tiros e fugiu. Levaram o taxista para o hospital. Ao chegar lá foi encaminhado direto para a sala de cirurgia. O caso era muito grave. A bala rompeu uma artéria do coração. Vendo que não iria aguen-tar, pediu para a enfermeira dar um recado para a sua família. “Que ele os amava muito e que eles nunca iriam ficar sozinhos”.

O taxista veio a óbito.

Após esta cena trágica presenciada pela enfermeira, ela ligou para a casa do taxista. Sua mulher, que estava dormindo, acordou-se com o som do telefone e foi atendê-lo. Tirou-o do gancho e com aquela voz de quem havia acabado de acordar, atendeu ao telefonema que iria mudar a sua vida para sempre, o telefonema fatal.

Djohn Lenon Brandl

2º Ano – Ensino Médio

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PASSOS SOLITÁRIOS

Vivo em uma humilde fazenda no norte do Canadá. Casa de ma-deira rodeada por belas árvores floridas. Pássaros nativos cantando todas as manhãs. É sempre o belo silêncio longe das cidades movimentadas e máquinas causando transtornos.

Lembro-me da primeira vez que eu entrei nessa bela casa e sei que eu e meus irmãos vivíamos brincando na cachoeira próxima sem pensar nas consequências que a correnteza poderia trazer. Éramos três e vivíamos nos divertindo naquele local.

Meus pais nunca estavam presentes e, como não conhecíamos parentes próximos, vivíamos sozinhos. Por isso não os considero meus pais, mas lembro muito bem do dia em que eles nos deixaram na casa, fa-laram que eu era o responsável pelos irmãos na cachoeira. Na hora pensei em salvá-los, mas não tinha muita prática na água. Sei que poderia tê-los salvo, que meu fim poderia ter chegado antes do tempo.

Pensando nos gritos dos meus irmãos e uma simples lágrima cain-do do meu olho, começo a achar que é por esse motivo que não gosto de barulho. O silêncio me acalma como se eles estivessem sempre ao meu lado.

Não sou mais aquele jovem garoto. E mesmo morando sozinho, virei um adulto feliz, responsável e sonhador.

Às vezes penso que é ruim viver uma vida solitária, mas a vida não para.

Então, levanto a cabeça, penso no dia de amanhã e vivo mantendo

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as esperanças de que meus pais voltem um dia e fiquem orgulhosos do meu trabalho.

Felipe Eduardo Weiss

2º Ano – Ensino Médio

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MEMÓRIA PERDIDA

É o cheiro da relva fresca e o brilho do orvalho. O sol nutrindo a terra e envolvendo-a em seu manto quente, como a mãe que acolhe o filho em seu colo após uma noite revolta e chuvosa. A brisa que acaricia o campo florido e o aprisiona num vai e vem sem fim. O ar puro que se es-palha e traz nitidez ao que antes não passava de uma pintura em borrões. Nuvens que parecem atiçar a imaginação se entrelaçando e dançando no céu com a mesma tranquilidade do tempo que passa despreocupado.

É o emaranhado de árvores que trilha caminhos pela floresta, criando seu próprio labirinto que, supervisionado pelos pássaros, ganha a sonoridade de seus cantos todas as manhãs. O mesmo canto que o violão impera perante o titubear das cordas sob os dedos de um amante solitário, amante das estrelas. Amante dos movimentos ousados do fogo e da rebel-dia da maré, que varre lagos e mares, guiada pela lua. Lua que ofusca as estrelas na competição de iluminar noites onde não há rumo a seguir e o uivo do vento se mistura com o dos lobos.

Noites que antecedem domingos onde a chuva é bem vinda. Chu-va que arrasta pesadelos carrega frustrações e varre problemas. Chuva que inicia estações, onde monarcas abrem suas asas e marcham no céu em um borrão laranja fugindo do rigoroso inverno. Onde cobertas e be-bidas quentes são extremamente convidativas, assim como abraços e ri-sadas. Assim como o formigamento de pisar na grama molhada e dormir sob os cuidados de tardes quentes e preguiçosas, envoltas em cheiros e lembranças.

Assim como o arrepiar da leve brisa que bagunça cabelos e move os grãos de areia, moldando o deserto em curvas sinuosas. Deserto de

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pensamentos, moldado por memórias. Como o silêncio tedioso em ma-nhãs ensolaradas e frias, memórias perdidas.

Fernanda Sabadin Moreira

2º Ano – Ensino Médio

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BASQUETE

Basquete é um esporte muito praticado no Brasil. Há até uma liga denominada NBB -- Novo Basquete Brasil. O basquete, porém, teve ori-gem nos EUA, onde existe a liga mais disputada, a New Basketball Ame-ricam, em que atuava o Magic Jonhson e o Michael Jordan, os maiores e melhores jogadores do mundo que agora já são aposentados, mas ainda acompanham o esporte. Hoje, eles servem de inspiração para muitos jo-vens não só dos EUA, mas também do Brasil e de outros países.

Eu treino basquete desde os dez anos de idade na ASBB -- As-sociação São-bentense de Basquete. Gosto muito desse esporte e acom-panho as duas ligas, a NBB e a NBA. Essas ligas servem a cada dia mais de inspiração para mim e meus amigos que também jogam comigo e assistem a competições.

Em São Bento do Sul o basquete não é muito apoiado, tem poucos recursos e patrocinadores. No momento nós da ASBB estamos dispu-tando o campeonato estadual de basquete sub-17. Não estamos, porém, indo muito bem. Falta-nos alguns requisitos, entre eles, um plantel mais preparado.

O time que mais se destacou nos últimos anos, aqui na região, foi Joinville, que ganhou duas vezes consecutivas o campeonato estadual, inclusive, sendo invicto. O Joinville, por exemplo, logrou êxito porque, entre outras vantagens, conta com dois pivôs. Um tem 2,07m e o outro 2,10m. Eles, inclusive, já foram convocados para a seleção catarinense e brasileira. Um deles, aliás, está jogando e morando nos EUA, tal o seu destaque.

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Nesta última sexta feira, nós da ASBB jogamos contra Joinville no Annes Gualberto e perdemos de 40 pontos. O placar foi de 87x45. Levamos uma lavada! Mas nosso objetivo não é o estadual, mais sim a OLESC que é para a nossa idade sub-16. No ano passado ficamos em 3º lugar mais era sub-17. Então, as possibilidades de vitória esse ano são bem favoráveis.

Gabriel Braga da Silva Spitzner

2º Ano – Ensino Médio

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A VIDA É CHEIA DE SURPRESAS

A vida é feita de surpresas. Nossa missão é viver. Afinal, alguns momentos podem durar tão pouco e algumas pessoas podem fazer parte da sua vida durante muito pouco tempo.

Todas as pessoas devem ter o direito de ser feliz, mesmo que seja só por um momento, para ter a oportunidade de sentir o que realmente desejam e acreditar que sonhos não são bobagens. Às vezes você percebe que as aparências enganam e você pode sofrer muito com isso! O tempo é uma coisa que não permite voltar para trás, então só se arrependa do que você não fez, aproveite cada segundinho da vida, pra ficar guardado eternamente em sua memória.

Na vida uma verdadeira amizade desenvolve-se a partir do afeto humano, não do dinheiro ou do poder. É claro que, graças ao nosso poder ou fortuna, mais pessoas acercam-se com grandes sorrisos e presentes. Mas, no fundo esses não são verdadeiros amigos; são amigos da nossa fortuna ou do nosso poder. Enquanto perdurar a fortuna, essas pessoas continuarão a nos abordar com frequência. Porém, no momento em que nossa sorte diminuir, elas já não estarão mais por perto. Esses não serão, por certo, os amigos que nos socorrerão na hora em que preisarmos.

Com o tempo a gente aprende que errar é humano, que todos nós erramos e que às vezes, mesmo certos temos que abaixar a cabeça e pedir desculpas, outras vezes é preciso ouvir o que as pessoas têm a dizer.

Com o tempo aprendemos a jogar nessa vida, aprendemos que a cada tombo é preciso levantar de cabeça erguida. Aprendemos que nem todas as manhãs são de sol, e que nem sempre tudo na vida é como nós

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queremos. Com o tempo, conhecemos pessoas e descobrimos sentimen-tos; com o tempo, aprendemos a dar valor a cada segundo que temos, pois aprendemos que, em um segundo, tudo pode mudar, A vida passa e descobrimos quem são nossos amigos verdadeiros. Às vezes até des-conhecidas que estranhos nos valorizam mais, do que as que estão todos os dias conosco. Com o tempo, a gente erra, mas também acerta e, mais cedo ou mais tarde, a gente aprende que tem que aceitar cada um como é e que ninguém é melhor do que ninguém pelo menos nessa vida.

Portanto, quanto mais nos interessarmos pelo bem estar e pelos direitos dos outros, mais seremos um amigo autêntico. Quanto mais for-mos abertos e sinceros, mais benefícios acabaremos recebendo.

Gabriel Cordeiro da Cruz

2º Ano – Ensino Médio

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ALÍVIO IMEDIATO

Quantas vezes já não sofremos por algo desnecessário? Quantos sonhos jogados fora por não insistirmos neles?

Os pássaros voam sem lugar seguro, apenas voam em busca de um lugar para sobreviver, encontrar alimento, moradia...

Os peixes também se nadam pelos mesmos motivos dos pássaros; eles deixam a maré leva-los.

Parece-me que este é o único sentido da vida.

Viver neste plano significa apenas sobrevivência...

Mas será este o motivo de nossa breve passagem pela terra? Será todo este nosso esforço desnecessário, pois se cada dia que passa morre-se um pouco?

Refletindo sobre tudo, decido desabafar com meu pai, afinal quem melhor que ele para me compreender; ele já passou por isso inúmeras vezes e está aqui, na luta para me proporcionar dias melhores. Ele me acalma como fazia quando eu era criança.

- Pai, por que a vida é assim, por que nos preocupamos com coi-sas tão fúteis?

- Filho, tu sabes que a vida que cada um leva é diferente, assim como o modo de pensar de cada um, afinal o mundo é impar.Tudo que fazemos aqui não é algo desnecessário, tem sempre um porquê. Por isso, só se é feliz quando se faz o que se gosta, porém nem tudo na vida é ape-nas felicidade. A vida é um paradoxo, cada qual tem seu modo de viver e

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de agir, mas te digo, que, se tu tens alguma meta em sua vida, corre atrás. Garanto a ti que se for o que tu queres, essa corrida, com certeza, não será apenas tempo perdido...

Gabriel Pimentel

2º Ano – Ensino Médio

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CRONOFOBIA

Qual seria o tema mais apropriado para uma crônica? O que as pessoas querem e gostam de ler e ouvir? O que tocaria a mente que forma as pessoas de diferentes lugares e culturas? Será mesmo que há um tema universal, para que todos possam entender? Ou será apenas a crônica uma saída da realidade. Um escape do cotidiano onde desejo e sonhos são jogados numa simples folha de papel? Talvez as palavras escondam o próprio leitor, talvez escondam a metáfora por trás do real sentido de textos como esse.

Medo. Inimigo ou aliado. A cada dia trabalhamos em cima dele, mas por sua causa muitas vezes paramos no tempo. Não é um medo por um filme qualquer de terror. Muito relativo. Há pessoas que nem con-seguem defini-la. Apreensão, inquietação que surge com a ideia de um perigo real ou aparente. Mas como seria a vida sem o medo? Será mesmo que precisamos passar por cima dessa obra que habita nossa mente? Será nosso ponto máximo o medo? Limitação poderia ser seu dote.

Porque não jogamos tudo para o alto? Amizade, amor, diversão, tudo! Temos medo de que essas simples coisas não voltem mais, que elas sejam lançadas para um lugar onde não podemos alcançar. Para um lugar tão distante que teríamos medo de segui-lo.

O que será de nós amanhã, que é que predestina nosso futuro? Temos medo do que está por vir, ou seja, do nosso futuro. A nossa mente inicia um processo de construção de hipóteses, cenários e possibilidades negativas sempre que o futuro surge. Temos que ter isso ao nosso favor. Cumprir nossas metas, usando o medo apenas para nos deixar seguro do que estamos fazendo. Construir certezas, para não criar possibilidades de

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haver erros em nossa mente. E, depois, ser quem você é, pensar no que é de costume, sentir o porquê e como quiser. E se algo der errado, faça uma crônica.

Gabriel Thomaz Pilz

2º Ano – Ensino Médio

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A MÚSICA NÃO PODE PARAR

Um menino caminhava na rua com seus fones de ouvido, escutan-do música alta que embalava sua vida.

Ele saía da escola num ritmo alegre e caminhava com seus ami-gos para dar uma volta de skate à tarde, ao som de uma música eletrônica. No final da tarde, já cansado, gostava de ouvir um reggae também no ultimo volume. Após o banho, o menino costumava entrar em suas redes sociais. Então, para não perder o ritmo, ele pegou seu fone de ouvido, que deixava em cima da mesa, e conectou em seu computador. Nessa hora, ele costuma escutar algumas músicas de estilo rock clássico e algumas eletrônicas também.

Certo dia, atrasado, saiu correndo sem notar que seus fones de ou-vido tinham caído no chão. Ao pisar na rua, deu de cara com a realidade de buzinas, conversas, ruídos diferentes, que ele já tinha esquecido que existiam.

Que confusão foi seguir no ritmo do dia-a-dia sem ter seu mundo musical, que torna tudo mais fácil de fazer. Ele se viu perdido.

Era tão fácil fazer tudo no ritmo da música, que o fazia viajar para longe e esquecer seus problemas.

No final do dia, ao chegar a casa cansado, viu caído, no canto de seu quarto, seus fones. Sem pensar, colocou no ouvido e ligou sua mú-sica preferida, para colocar e curtir o som que fez falta o dia todo, pois a música não pode parar.

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Gregory Grossl

2º Ano – Ensino Médio

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O PÔNEI

João muito feliz chega a uma fazenda em que havia muitos cava-los para vender e pergunta:

- O senhor tem pônei

- Sim, muitos

- Quantos são?

- Muitos

- Que raça

- Crioulo

- Raça boa?

- Sim. É muito boa

- Quanto é?

- R$ 5.000,00

- Tudo isso?

- Sim

Negociando por muito tempo, o vendedor pergunta:

-- mas por que quer um pônei?

- Por um motivo muito especial

- Qual é?

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- Não gosto de relembrar

- Porque não?

- É um motivo especial.

Quase fechando negócio, ele resolve contar o segredo que sua filha teve uma doença com cinco anos de idade que durou muito tempo. Quando ela descobriu que tinha a doença falou:

- Pai, se eu me recuperar, quero um pônei.

- Sim, filha você vai se recuperar e vou te dar quantos pôneis você quiser

Mas o pai não ficou muito feliz, pois sabia que iria ser difícil ela se recuperar. Ficou cinco anos em coma e o pai chegou com o pônei, entrega-o para ela e diz:

- O que é isso?

- Um pônei que você tinha pedido, antes da doença, lembra?

- Não

- Mas então tá aí, minha filha!

Ela não lembrava mais. Havia ficado com muitas sequelas, depois de muito tempo em coma. Mesmo assim ficou feliz e agradecida.

Jorge Augusto Schierholt Linzmeyer

2º Ano – Ensino Médio

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A JANELA

Era manhã de primavera e como de costume acordei com os pás-saros a cantar. Para mim o dia já havia “começado com o pé direito” como dizem. Não tinha beleza maior que aquele quadrado de energia, e aquele sol! O que era aquele sol! Intenso de uma cor diferenciada de tudo a sua volta. Era isso que dava mais prazer ao levantar. L e v a n t e i , vesti meu chinelinho que estava logo ali ao lado da escrivaninha, aquele rosinha que, de tanto usar já nem estava mais parecendo rosa. Então fui até janela e, ao abrir, aquela luz que já estava me observando há tempos, entrou em meu quarto iluminando-o por inteiro. Até parece exagero, mas senti aquela energia passando sobre mim como se estivesse me absorven-do. Fui logo tirar aquele pijama caloroso para voltar e observar o mundo daquele lugar privilegiado.

Vesti uma roupa com que me senti mais à vontade e, como já es-tava a escutar os barulhos dentro da minha barriga, fui até à cozinha, pe-guei um pacotinho de biscoito, meu nescau já preparado por minha mãe e meu computador, e voltei para janela onde havia uma poltrona na qual me sentei .O sol já não estava tão forte, já poderia sentir aquele frescor do vento da manhã com tantos movimentos. Sem muito notar as pessoas que ali passavam, aconteceu algo como um relâmpago. Vi um menino vindo de longe. Nunca o tinha visto ali, mas ele soava uma beleza pura, e com clareza. Vinha em minha direção. Fiquei meio nervosa, ansiosa pelo que viria adiante.

O menino, ao se aproximar, perguntou onde ficava o colégio mais próximo. Indiquei a ele o meu e por ali ficamos a conversar. De longe ha-via tirado minhas conclusões. Sim, toda aquela beleza, pôs-se diante de

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mim. Não era apenas beleza, mas um carisma. Não sei dizer muito bem. Apenas sei dizer agora o que é o tão dito ‘’Amor à primeira vista ‘’.

O amor é tudo. O amor é como a fé, move montanhas, derrete corações, magnetiza as pessoas. Quando estamos perto deste verdadeiro amor. Sentimos a diferença da paixão. Ele nos faz notar que a as peque-nas belezas são as maiores de todas as raridades.

Tente conhecer o amor, tente notar, por mais que tenha início em um simples toque, em um simples momento, em um simples olhar.

Ketlyn Thainara Santarém Zgoda

2º Ano – Ensino Médio

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A ILHA MISTERIOSA

Roger era um garoto normal como todos os seus colegas da re-dondeza. Era, porém, órfão e nasceu em uma família muito humilde no interior do estado do Texas, nos Estados Unidos. Seus pais tinham acaba-do de falecer em um acidente de trator, quando estavam colhendo milho na sua plantação. O garoto tinha treze anos e era filho único, portanto, logo após a morte de seus pais, foi para um orfanato.

Dois anos se passam, até que uma família adota o pobre menino. Chegando à casa de seus novos pais, Roger vai conhecer seu quarto e percebe que do lado do guarda-roupa, há uma porta que dá acesso a uma sala repleta de objetos antigos. Ele logo se depara com um baú que esta-va logo atrás de uma cama velha repleta de cupins. Aquele baú fascinou muito o garoto Roger, que foi logo ver o que havia dentro.

Abrindo o baú, encontra um mapa com uma escritura antiga. Pa-recia um velho mapa de piratas. Sem saber o que fazer com aquilo, mos-tra ao seu novo pai. Ah, é um mapa que dá acesso a uma ilha misteriosa, no meio do Oceano Índico, repleta de surpresas e desafios perigosos e inesperados, disse o pai. Sem acreditar, o garoto começa a rir, pois aquilo parecia ser impossível. Seu novo pai, então, cujo nome era Rodnei, mar-cou uma viagem para as ilhas do Índico e alugou um barco para conse-guir ter acesso a ilha.

Depois de cinco dias de viagem, eles chegam à tão esperada ilha e, logo de cara, deparam-se com índios canibais montados em camelos voadores. Com medo, os dois saem correndo o mais depressa possível, até conseguirem abrigar-se em uma caverna escura e escapar. Usaram a lanterna do celular de Roger e foram explorar a caverna. Após vasculhar

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muito, um urso cor-de-rosa com cheiro de morangos, surge e tenta devo-rá-los. Vendo que, se ficassem parados, não havia nenhuma possibilidade de escaparem ao ataque, começaram a procurar objetos para agredir o urso e deixá-lo inconsciente. Viram logo a frente um pedregulho enorme e jogaram-no contra a fera.

Pai e filho decidem, então, deixar a ilha, pois era muito perigosa. Pegaram o barco e estavam a dois quilômetros da dali. E aí novo desafio: encontraram um polvo gigante, o Cracken, que os leva para o fundo do mar, junto com o mapa e com o segredo da ilha misteriosa.

Leo Malewschik Mafra

2º Ano – Ensino Médio

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ALUCINADO

Era um sábado de sol, quando chamei a galera lá em casa. E papo vai, papo vem, a gente combinou um dia para ir acampar. Era domingo à noite quando saímos de casa. Estava uma noite estranha, sei lá, estava com mal pressentimento, mas enfim, tudo bem, porque afinal a gente ia se divertir e tal, então botei na conta de que estava tudo bem.

Quando a gente chegou ao local combinado, fomos arrumar as barracas, tirar as malas do carro e ajeitar as coisas. Tudo isso em uma questão de dez minutos. A ansiedade era tanta que não nos controláva-mos. Depois que terminamos esse primeiro ritual do convescote e depois de termos comido quase todos os pães com mortadela que trouxemos, fomos dormir. O cansaço era tamanho que não dormimos, desmaiamos pesado no chão da barraca durante sete horas de chumbo como persona-gens de O Cortiço, do grande Aluízio.

Já era manhã, quando ouvi uns ruídos estranhos. Os ruídos agora estavam mais nítidos, o que me deixei deveras assustado. Saí da barraca para conferir. Não, não era, pensei por um instante. Mas qual, de repente, tudo recomeçou. Entrei na mata próxima para conferir melhor. Os ruídos, então, intensificavam-se e ficavam mais audíveis. Parecia até que alguém estava atrás de mim com um chocalho.

Voltei para a barraca e descobrimos que Pedro, um de nossos ami-gos, havia sumido. Na barraca havia marcas de sangue junto a uma faca.

Naquele clima de desespero, acionamos a polícia e comunicamos nossos pais, que chegaram muito rápido. A polícia demorou muito mais. Depois de uma primeira investigação, contei o que eu havia ouvido noite

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passada na mata. Percebi que eles olhavam entre si. Um dos policiais foi até o carro de onde trouxe uns papéis para nós.

Descobrimos que se tratava de um louco psicopata que havia fugido do hospício e já tinha feito várias vítimas.

Saímos correndo, pegamos o carro e fomos a procura de Pedro e do psicopata. No meio da estrada, um susto. Havia troncos de árvores bloqueando a passagem. Percebemos, então, que era coisa do psicopata. Saímos do carro, e assim que colocamos o pé para fora, vimos um clarão de uma faca que atingiu um dos policiais.

Corremos o mais rápido possível. Ficamos com aquele receio de ter deixado Pedro para trás, mas era a única saída.

Já era quase meio-dia quando voltamos para onde estava nosso acampamento, e lá uma surpresa. Ali estava o psicopata que na hora nos capturou. Fomos levados para um lugar escuro e sombrio, que parecia uma caverna. O maluco havia acorrentado todos nós e estava prestes a nos matar, quando, de repente, vi uma pedra caindo na minha cabeça e desmaiei.

Estava abrindo meus olhos quando ouvi minha mãe gritando que eu ia me atrasar para a escola e que hoje eu tinha prova.

Luis Eduardo de Moura Belo

2º Ano – Ensino Médio

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VIDA, DA ADOLESCÊNCIA À IDADE ADULTA

Todos os dias, ou melhor, quase todo dia, de segunda a sexta-feira -- sábado e domingo não -- levanto cedo, sem perder um minuto da hora, apresso-me para poder apanhar o transporte e não deixar o dia passar em vão.

Vou sempre ao mesmo lugar, coloco-me na mesma posição, en-contro as mesmas pessoas e juntos aprendemos novas lições, seja portu-guês, matemática, geografia ou inglês, sempre há algo novo.

De segunda a sexta-feira, sábado e domingo não!

É hora de descansar?! Mera ilusão!

É hora de rever o que aprendi, hora de fazer tarefas, buscar mais, cada vez mais, com satisfação, sem reclamar, ou como diz alguém que conheço, é hora de se destacar da “manada”.

Em minha vida, a regra que vale é: computador, pesquisa.

Televisão é perda de tempo, exceto o jornal, informação e atua-lidade.

Estudar, estudar e estudar, tem prova esta semana. Estudo, estudo, estudo, mas o que vejo nada mais é do que a ponta do iceberg. Quando mais estudo mais descubro o que não sei e quero saber. Daí que, cada vez mais, fica mais interessante. É que uma curiosidade leva a outra. Aí a coisa fica infinita. Dá redemoinho na cabeça.

Provas e mais provas. Com tantas provas são muitas notas. De

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tantas notas sai, apenas, uma média no fim do bimestre, e, ao fim do quarto, acabou-se o ano.

Vem ano, passa ano, passam também estações e amores e vou eu ficando mais velha, o que ainda trago é o pouco que aprendi com livros, artigos, pesquisas...

Chega, enfim, o motivo de tanta dedicação, o vestibular.

Depois de tanta preparação, a aprovação, a faculdade, e como consequência, mais estudo, um pedacinho a mais do iceberg a descobrir.

Formatura! Pós-graduação! E mais estudo!

Continuarei eu a levantar cedo, sem atraso, ao apitar do desper-tador.

Agora eu, adulta, cidadã, responsável, estudada, bem empregada, bem remunerada!

Maiara Aparecida Huttl

2º Ano – Ensino Médio

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VIRANDO O JOGO, VIRANDO A VIDA

Estava eu a andar pela rua.Um lindo dia de sol acompanhava meus passos.Estava eu particularmente feliz já que, naquele dia, eu e Angélica comemorávamos um mês de namoro.

Envolvido em meus pensamentos sobre o que comprar para ela, deparei-me com uma cena arrepiante: Um grupo de homens, fortemente armados, estavam trocando tiros com policiais. Bandidos, criminosos... Muitas opções corriam pela minha mente. Daí que me dei conta de que eu estava correndo perigo. Poderia ser atingido por uma bala perdida, ou mesmo, aniquilarem-me, já que eu era a única testemunha naquela rua deserta. Vendo seus rostos e cicatrizes, poderia facilmente reconhecê-los em qualquer lugar. Quando dei as costas àquela cena, uma voz rouca e grossa, que cortava o vento em direção a meus ouvidos, ordenou:

- Pare! Pare onde está! Se der mais um passo, você será a próxima vitima no jornal de amanhã.

Não sabia o que fazer. Pensei em correr, fugir dali, mas não ha-via sombra de dúvida de que o criminoso (ou bandido, não sei) estava falando sério. Virei-me e senti mãos de ferro segurando-me no nariz e fechando a minha boca, impendido a minha respiração. Comecei a ficar zonzo e então apaguei...

Acordei num beco. Ao olhar meu relógio, percebi que tinha fi-cado desmaiado por muitas horas. O final de tarde e a noite inteira para ser mais exato. Já vendo o sol desaparecer no horizonte, dirigi até minha casa, tentando recompor mentalmente todas aquelas cenas.

- Devem ter feito aquilo comigo para poderem escapar.

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Quando estava cruzando a esquina, vi um rosto familiar no chão. Não necessariamente a pessoa, mas sim a fotografia. Um crachá.

- O cara é repórter, exclamei.

Após passar meu estado de choque, fui até o prédio Mídia & Im-prensa, e perguntei pelo repórter.

- Eles acabaram de chegar. Estão na garagem, disse-me a recep-cionista. Quem é o senhor?

- Sou um parente distante, menti.

Chegando ao local, percebi a grande quantidade de carros na gara-gem. Ainda não tinha em mente o que fazer quando eu ficasse cara a cara com o bandido. Após a observação, deparei-me com uma perua daquela empresa. Meus olhos, porém, observaram uma pessoa. O assassino. Nem parecia ele com todo aquele equipamento e aquela roupa. Após o veículo ter estacionado, e os funcionários saírem para o prédio principal, ficou frente a frente com o suposto repórter. Ele disfarçou com uma expres-são de espanto e curiosidade e aguardou a saída do último funcionário. Enquanto ele pegava algo dentro da perua, um vulto preto, que parecia uma pistola, gritou:

- Não tente se esconder! Vai morrer aqui e agora.

- Amanhã vai ser manchete de jornal. Pena que você não vai po-der cobrir a matéria. Pergunto-me como é que alguém como você, que tem um bom emprego, poderia estar envolvido com uma gangue.

- Quando você entra em uma, não sai mais. Onde você está?

A voz dele ecoava pela garagem subterrânea.

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- Estou aqui. Após ter circulado a perua, dei-lhe um murro na late-ral da cabeça. Ele cambaleou e por fim desmoronou no chão, deixando a pistola fora do alcance de suas mãos. Peguei-a e apontei-a para o repórter.

- Escolheu o refém errado.

- Um refém que está tremendo de medo por segurar uma arma de verdade

- Acho que você se enganou.

Após ter falado, atirei. E o tiro ecoou pela garagem até o salão principal.

Ouvi as pessoas descendo a escada, os seguranças... Arrepiando-me, fugi.

Agora estou aqui. Sem namorada, vendo o jornal, no qual está a noticia. Tentei me vingar, tentei fazer justiça com as próprias mãos e não consegui. Tudo o que me resta agora é ser perseguido, com medo e angustiado.

De refém para criminoso. Quanta imbecilidade a minha.

O homem é lobo do próprio homem – Thomas Hobbes

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Marcelo Alvarenga de Carvalho Neto

2º Ano – Ensino Médio

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TAL PAI, TAL FILHO

Quando, eu era pequeno, via estampado em sua farda, a honra e a vitória por galões que o faziam um grande homem e vendo essa cena percebi o futuro que meu pai tinha.

Todos os dias ele chegava a casa, cansado e exausto. Comia e logo ia dormir.

Logo cedo ele me levava para fora em um parque. Nunca enjoei, pois lembro muito bem como era quando ele me balançava e ajudava no escorregador. Ao fim da tarde víamos o pôr do sol. Eram fascinantes os raios que cortavam o céu e nuvens que o detalhavam perfeitamente.

Envelheci devagar, pois deu para aproveitar muito a minha infân-cia.

Deixei meu mimo e meu aconchego. Abandonei a infantilidade para ser alguém maduro, responsável, um adolescente responsável.

Em minha juventude, eu e meu pai colecionávamos selos. Quan-do meu pai recebia cartas do exército, retirávamos e guardávamos as es-tampilhas. Uma loja abrira perto de casa e lá, disseram-me que eu deveria guardar um selo valioso que achei na rua.

Quando completei meus dezenove anos, meu pai ainda colecio-nava selos. Ele ainda mostrava suas variedades de selos. Eu já achava aquilo uma perda de tempo, e dizia a ele:

- Como você pode colecionar essas coisas? Para que servem?

Um grande problema surgia quando cheguei a casa naquele dia.

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Abri a geladeira e estava faltando comida. Virei meu corpo como se fosse estirar meu braço para um soco forte na mesa, berrei irritado, humilhando meu pai.

- Como você pode perder tempo com esse lixo, poderia pelo me-nos trazer comida para casa.

Quando tive meus vinte e seis anos, meu pai teve a doença do Alzheimer. Foi logo depois da briga que tivemos. Nunca mais saímos ou falamos sobre selos. Ele só ficou em casa, vivendo da aposentadoria. Era difícil. Ele esquecera-se de quase tudo. Fazia a mesma comida todos os dias.

Meu pai dali em diante não foi mais o que eu conhecia. Daria tudo para ele ficar bem. A doença ficava cada vez pior. Ele foi internado no hospital. Escrevi uma carta e levei ao hospital, e comecei a ler para meu pai. Ele faleceu. Não me esquecerei dele e nem muito menos de seus selos. A comida? Ah, deixa pra lá!

Marcelo Henrique Augusto

2º Ano – Ensino Médio

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TÍMIDO ARREPENDIDO

Era um dia calmo e ensolarado como qualquer outro. Eu não tinha motivos para esperar por algo bom. A rotina vinha naturalmente, como se fosse um dia qualquer. Bem, eu já estava no último dia da semana e havia uma festa de casamento para ir à noite. Passaram-se as horas e exatamen-te, às 8h da noite olhei para o relógio e fiquei confuso. Afinal, havia tido uma semana pesada e nem agora poderia descansar.

Cheguei ao local da festa, uma pessoa tímida despertou dentro de mim. Olhei para todas as direções possíveis, tentando disfarçar a ti-midez. Meu relógio havia-se transformado em uma mira. Com poucas pessoas em pé logo encontrei os recém-casados. O novo casal iluminava o ambiente com um sorriso contagiante. Então, desejei-lhes felicitações e votos de muitas realizações pela vida a fora. Lá estava eu, já um pouco mais à vontade. Falha agora minha memória, mas estava falando algo até que senti um vento perfumado passando as minhas costas. Olhei para trás, e aquele pensamento de que nada de bom me aconteceria caiu num abismo sem fim. Vi o amor vestido de azul, com cabelos loiros e beleza inigualável. Depois meus olhos a encontrava a cada música que a or-questra tocava. Numa dessas vezes vi que ela também me procura com os olhos. Fiquei meio perturbado. Daí para frente, cada gesto meu, cada ação minha eram pensados com muito cuidado para não dar pala.

Comecei, então, meu baile. Primeiro dancei com outras mulheres, mas nunca a perdendo de vista. Pensei em chamá-la para dançar. Deci-di-me com firmeza, fiz uma promessa a mim e a Deus que dançaria a música seguinte com ela. Fui-me aproximando de sua mesa, mas percebi que algo me impedia. Achei que era a timidez. Resolvi, então, esperar

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que uma parte dos convidados fosse para casa. Tentei mais algumas ve-zes, mas não consegui. Saí por um instante para ir ao banheiro. Voltei e não achei mais a linda menina a quem eu me apaixonara naquela noite. Procurei-a por toda parte, mas não a encontrei mais. Daí para frente nada mais teve graça. Afinal, a graça era ela. Eu nunca havia-me apaixonada daquela maneira.

Voltei para casa. O pensamento, porém, era nela. Toda a minha volta era irritante. Havia um vazio e um peso na minha alma. Pegar no sono o mais rápido possível? Encher a cara? Atirar-me da ponte? Que eu poderia fazer para mudar aquele estado de espírito tão desconfortável? Tempo? Ah, o tempo! O tempo é o senhor da verdade, mas quanto dói até que o tempo venha com sua mão poderosa e arranque da alma esses sofrimentos do amor. Reconhecer-se recusado, levar um fora, não ser correspondido! Pensa que é fácil? Por isso, há quem não suporte essa dor e vá aos extremos. Mas Deus me livre!

Matheus Rudnick Fragoso

2º Ano – Ensino Médio

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O ASSALTO

Em um dia normal de terça-feira, uma gangue que não tinha o que fazer estava muito quieta. Um dos bandidos de lá deu uma idéia..., digamos que meio diferente.

- E aí, João, vamos assaltar o banco lá do centro?

- Você é louco mano! Assaltar aquele banco não vai ser tarefa fácil, res-pondeu o chefe.

- Vai sim! Bolamos um esquema e pronto.

- Beleza então, mas se a gente se der mal, tu vai me pagar.

Depois de discutirem tudo que iria acontecer, eles foram comprar todos os equipamentos necessários.

Eram 3h30min, eles estavam prontos para agir, mas não sabiam o que esperavam...Assim que preparam tudo, desligaram os alarmes foram à guerra.

- E aí chefia tem certeza de que vai dar certo?, perguntou outro membro da gangue.

- Se não der, nós colocamos a culpa no Rodrigão. Afinal, foi ele quem deu a ideia, respondeu o chefe.

Quando eles entraram no banco, a polícia inteira estava lá, todos ficaram em pânico, menos o Rodrigão. Ele era o delegado da Tropa de Elite e tinha feito tudo para prendê-los. Deu tudo certo, quero dizer, para o Rodrigão. Todos foram presos, mas o ex-chefe deixou um aviso:

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- TU ME PAGA

Eles foram presos, ficaram anos na cadeia. Depois que saíram o ex chefe não tinha se esquecido do que Rodrigão fez. Ele juntou alguns amigos para encontra-lo e matá-lo, pois o que ele fez foi algo muito erra-do.

Em uma terça-feira qualquer, ele estava em um bar, bebendo com alguns amigos, quando de repente chega um homem estranho. Era mes-mo de anos atrás que estragara sua vida.

Matheus Vieira

2º Ano – Ensino Médio

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CICATRIZES DO CORAÇÃO

A vida passa como um sopro. Em um piscar de olhos tudo o que o conforta não está mais lá.

É cheirar um vaso de flores e sentir o pólen invadindo suas entranhas em busca do que você esconde no lado mais profundo do coração.

É andar por um campo sentindo a relva pinicando sua pele, o sol escaldante queimando e forçando passagem para penetrar em seus tecidos mais profundos, em seus segredos mais profundos.

É andar pela praia após uma noite de tempestades e ver os des-troços que a ressaca deixou. Sentir somente as aspereza da areia nos pés. Ouvir somente o barulho das ondas batendo contra as rochas. Ninguém. Vazio. O mesmo vazio que os solitários sentem por dentro. Não importa a dor nos pés, muito menos o barulho altíssimo do confronto entre a água e a encosta, porque na mente só há o silêncio perturbador, os pensamentos embaralhados e a dor que empurra cada vez mais para o fundo, para a escuridão as pessoas solitárias.

Nestas horas não se inspira até o ultimo instante antes de perder a consciência. A sensação é de que a cabeça fosse explodir. O sangue ferve, mas os pensamentos tão perturbadores haverão de se dissipar. Nessas ho-ras sabe-se que mais segurar, maior será o tempo para voltar à superfície, voltar à realidade.

Mas, e se enquanto você lutar, a dor só piorar? E se for agonia agora e inferno depois, não valeria a pena simplesmente abrir a boca e deixar se afogar?

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Era essa a situação em que me encontrava. Esperava que a água levasse, assim como os destroços, o vazio de dentro de mim, e o envol-vesse em seu manto calmo e quente, trazendo consigo apenas uma nova maré que cicatrizasse meu coração.

Luto contra as amarras que querem me prender a essa água turva e sinto os buracos do meu coração fechando-se. Consigo respirar calma-mente, o sofrimento se esvaindo, e meu coração, agora cicatrizado, tem forças para seguir em frente.

Milena dos Santos Oliveira

2º Ano – Ensino Médio

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A CHAVE DO REENCONTRO

O sol começa a nascer, esquentando, derretendo a forte geada que havia caído. Nesta manhã, quando acordei, tudo estava num tom de bran-co acinzentado, menos o céu que ostentava um azul decidido, e o sol começava a ganhar força.

Se bem que o sol poderia parar de bilhar assim como o calor do meu corpo poderia se esvair, depois que minha irmã foi morta por um sequestrador a facadas. Meus braços não têm força para nada. Mas como haveria de ter? Éramos como uma alma dividida em dois corpos.

Ela era assim como eu, cabelos fartos cor de fogo, pele clara como a neve, lábios vermelhos como sangue e olhos escuros como a noite.

“Felizmente” a vida continua. Assim que um ciclo acaba, outro começa. E minha vida continua cada vez mais escura e fria.

Agora, sem amparo de minha mãe e sem minha irmã, meu pai vai querer o quanto antes que os jogos comecem. Provas das mais variadas em todos os reinos, para que um príncipe ou cavalheiro vença e tenha minha mão como prêmio.

Passam-se alguns dias e tudo, como num passe de mágica, está pronto para que os jogos comecem.

Meu pai anda muito ocupado fazendo da terra o inferno. Não per-cebe que não é o que quero, que é cedo para isso, estamos de luto.

Os jogos começam. Só se fala nisso no palácio. Minhas criadas e damas de companhia bordam e fofocam sobre meu futuro, sobre como é

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belo tal príncipe, e como é forte o outro. Em minha mente planejo reen-contro.

Como há o cheiro de sangue, pessoas riem e se divertem, enquan-to outros perdem sangue e a vida por mim!

Preciso aguentar só um pouco mais. Sinto que estou enlouquecen-do. A comida não tem mais gosto, minha visão é turva, escuto sussurros; vivo pensando em minha irmã. Ah! Como queria ela aqui com minha mãe também! Sem falar do meu querido que se foi antes de mim com a mesma brutalidade.

Sinto raiva. Sinto-me só. Cansei. Desembainho minha adaga, cra-vejada de rubis vermelhos, esmeraldas e diamantes, delicada, mas, ao mesmo tempo, mortal. Giro-a como uma chave em meu coração. Pessoas gritam ao meu redor. É tarde de mais, a porta do reencontro já foi aberta.

Milene Susan Mallon

2º Ano – Ensino Médio

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O GOLPE

Um belo dia de sol, em uma grande lancha de luxo no litoral de Copacabana observando o Cristo Redentor, um empresário de nome João, de mais ou menos 45 anos, está pensando na vida, tomando seu espumante e comendo frutos do mar. Ele deixa seu irmão, Carlos, cuidan-do das finanças da empresa para que consiga ter alguns dias de sossego, desfrutando do que amealhou no passado.

Seu irmão mais novo, Carlos, que está cuidando das fortunas do empresário milionário começa a ter algumas nada ortodoxas como raspar a conta no banco, ficando rico e deixando João na pobreza.

Como Carlos é uma pessoa muito gananciosa e orgulhosa, resol-ve, mesmo assim, dar o golpe, pois está cansada de viver em apertos e de observar o irmão na boa vida.

Quando João volta de viagem nem imagina que seu irmão o dei-xou pobre e está refugiado para fora do país e, por estar tão longe, nem ficou sabendo que João iria dar uma quantia muito grande de dinheiro para Carlos por ele ter ficado cuidando de seus patrimônios.

Depois desse acontecido, os irmãos nunca mais se falaram. João reabriu o negócio, voltando a ser o que era antes. A experiência valeu-lhe a certeza de que não se pode confiar em todos o tempo todo.

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Newton Mendes Neto

2º Ano – Ensino Médio

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GRANDES HOMENS

É certo que em nossos dias existem homens soberbos. Homens cujo sangue dito nobre que corre em suas veias e correu na dos seus an-cestrais é relevante a ponto de massagear-lhe o ego. Homens cuja cobiça e seus corações são incandescente. A vontade de ter mais torna-se, a seu ver, a meta em sua vida. Homens cuja ambição é capaz de destruir famí-lias e até mesmo as correntes que unem a ética e a moral.

Desde o princípio da história humana sobre a terra, os corações de nossos homens vêm sido corrompidos pela sua própria ignorância. Registros de milênios antecedentes a nós dão conta que a ganância fez o homem chegar aos céus em forma piramidal. Falsas concepções de defe-sa fizeram o dragão chinês viajar mais de oito mil quilômetros, em dois milênios, dizendo ser visto até de nossa lua, mas a que preço?

Sonho com o dia em que homens que crescem em humildes con-dições adquiram o conhecimento, tomem o poder e se multipliquem pela face da Terra. Pois tais homens, tendo vindo da seca e escassa terra, tendo tido seus corações dilacerados pela fome, medo, pela falsa esperança, tendo sido assolados pelo desespero. Esses homens, hão de ser dignos do poder.

Distante, porém, é esse sonho, já que esses homens, tomados pela cobiça, interessados em alimentar seu próprio ego, acabam tirando as oportunidades e esperanças de outros homens que almejavam apenas pe-quenas coisas.

Mas tenho fé na humanidade, creio que virão homens cujas rou-pas não interferem em seu status, cujo bolso não mede o intelecto, e cuja

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humildade é sinônimo de poder. Afinal, o importante não é ser um ho-mem grande, mas sim um grande homem.

Pedro Kneubuehler

2º Ano – Ensino Médio

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UM PESADELO CRIANDO VIDA

Desde que era jovem Helena sempre teve medo de histórias de terror. O que ela não sabia, todavia, era que alguns anos mais tarde faria parte de uma.

Ela passou sua infância com medo de alguns mitos urbanos, como o do “bicho-papão”, ou “A loira do banheiro”, conhecida como “Maria Sangrenta”. Sempre que seus amigos falavam de algo ligado a isso, cor-tava o assunto.

Até então, as únicas histórias que ela conhecia possuíam mons-tros ou personagens bizarros. Na adolescência, pelos 13 ou 14 anos, ao se reunir com algumas amigas, fica sabendo o são os espíritos.

Na primeira semana após o ocorrido, a garota loira, de olhos azuis, não conseguia dormir. Pensar que existiam seres invisíveis, demoníacos, que podem fazer tantas coisas sem ao menos serem percebidos, deixava-a preocupada, constrangida e com muito medo.

Passou um tempo e, quando ela estava praticamente esquecendo, superando esse trauma, em uma noite, ela estava sozinha em sua casa porque seus pais tinham saído. A noite passou rapidamente, como as de-mais, até na hora de dormir. Quando, ao deitar e tentar pegar no sono, algo a incomodava. Demorou um pouco, mas dormiu. N outro dia ao levantar, recebeu a notícia de que seus pais vieram a falecer após grave acidente. Helena desesperou-se. Por volta de duas semanas ela nada fazia e não comia nada

Depois disso, mudou-se para a casa de uma tia. Ali ficava sempre em silêncio, triste, sozinha em seu canto, raras noites pegava os olhos.

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Seus parentes tentavam ajudar, mas ela não contava nada a respeito de sua vida. A única coisa era que todos os dias falavam ter recebido a visita de “alguém”.

Seus tios decidiram bancar um tratamento para a jovem, mas, an-tes disso começar, ela foi encontrada morta em seu quarto, sem pistas do incidente.

Será mesmo que esse “alguém” eram seus pais? Eles a incenti-varam a cometer suicídio? Ou foram eles que o fizeram? Não seria algo de sua cabeça? Estas e outras perguntas não possuem resposta, mas se tivessem sido solucionadas antes poderiam ter alterado o desfecho dessa história.

Rafael Kruger

2º Ano – Ensino Médio

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MINHA LHAMA CHAMADA ROGER

Era uma vez um serial killer de lhamas. Ele vivia no Zimbabue. Todas as noites ele saia para sequestrar, matar e prostituir lhamas. Ele vivia em uma casa de veraneio na frente de um pesque-pague Em uma de suas aventuras de caçar lhamas, foi até a fazenda de Jairmenson. Ali havia as mais bonitas lhamas. Encostou a camioneta na cerca e cortou-a. Em seguida encontrou as lhamas em um rancho, mas, acidentalmente, derrubou urânio-235 nelas, e na hora, elas sofreram mu-tação. Passaram a cuspir ácido, e uma delas acabou cuspindo ácido no olho dele do serial killer deixando-o parcialmente cego. Nada o impediu de levar as lhamas embora dali. No outro dia, quando estava preparando o carregamento de lha-mas para vender no mercado negro, ele olhou bem nos olhos da lhama que tinha cuspido ácido no olho dele e resolveu ficar com ela, apelidan-do-a de Roger. A partir de agora a qualquer lugar que ele fosse, iria com o Roger. Ele acabou descobrindo que sua lhama ganhava poderes se comesse pa-çoca. Ela ficava maior com o cuspe mais forte e dava pulos gigantes. Ele resolveu que, além de continuar roubando lhamas, iria roubar paço-cas e, quando sua lhama estivesse forte, iria começar a assaltar bancos. Enfim, esse dia chegou. Ele já havia preparado tudo: o dia, a hora e o local. Sua lhama extremamente bombada: 115cm em cada perna e um peitoral gigante. Ele escolheu a feira internacional de lhamas de sua cidade, que ia acontecer no pátio do maior banco do país. Existiam muitas lhamas lá, uma mais bonita que a outra, mas ne-nhuma igual a Roger.

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O desfile havia começado, e as primeiras lhamas estavam se apre-sentando. Ele encontrou um dos segurança do banco e disse que sua lhama estava passando mal e precisava leva-lá ao banheiro. Por sua sorte, o segurança deixou. O banheiro situava-se ao lado do cofre. Então ele mandou Roger cuspir, e ele cuspiu. Um grande buraco se abriu na parede. Entrou no cofre, pegou todo o dinheiro e saiu. Escondeu o dinheiro em um lugar seguro, voltou para competição e ainda ganhou! Voltou para casa cheio da grana e um lindo troféu de ouro que colocou em cima da geladeira e foi dormir, rico e feliz

Rodrigo César Skiba Filho

2º Ano – Ensino Médio

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O CHEIRO DO LIVRO

Hoje, todos sabem que a tecnologia está ocupando cada vez mais espaço no dia a dia das pessoas. Quando vejo crianças com seus tablets, Iphones, Ipads, pergunto-me se eles sabem o que é cheiro do livro.

Na minha época, quando tinha a idade dos mesmos meninos que vejo, aqueles projetos de futuros adultos, os professores nos mandavam levar de dois a quatro livros para serem lidos em casa, como treinamento para a leitura em frente à classe, as quais faziam todas as semanas. Lem-bro-me de pegar aqueles livros finos e ficar maravilhada em folheá-los, ter aquele frio na barriga em ler a última página. Agora, quando vejo tanto crianças ou adolescentes, utilizando esses produtos que ocupam o tempo deles com jogos, ou em troca de sms, pergunto novamente: será que eles já sentiram o cheiro do livro?

Você deve estar se perguntando, caro leitor, o que é sentir o cheiro do livro, do qual tanto falo. Você não precisa ter tanta idade para saber o que é como eu, uma menina de 15 anos sabe o que é sentir isso. Desde pequena, meus pais sempre me disseram o quanto a leitura era impor-tante. Conto-lhe que demorei um pouco para descobrir que era mesmo. Também fui da época daqueles que passavam à tarde na biblioteca lendo, ‘’ devorando’’ livros e mais livros. Nunca me esquecerei daquele primei-ro livro que emprestei. O frio na barriga que senti ao fazer a carteirinha de sócio, o prazer de passar por todos aqueles livros. Estariam ali, meus grandes companheiros na vida. Imaginem só, como foi ganhar meu pri-meiro livro. Abri-lo, senti-lo. O cheiro que as folhas exalavam foi uma das melhores lembranças da minha infância.

Pois, agora que já sabe o que é o cheiro do livro, pergunto-lhe:

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você já sentiu? Ou você é um daqueles que leem livros por aplicativos em seus aparelhos eletrônicos. Dou-lhe os meus parabéns se você lê por esse meio, mas te digo uma coisa: você nunca saberá o que é o cheiro do livro, mesmo eu tendo lhe dito através dessas palavras, senti-lo verdadei-ramente é muito diferente e prazeroso.

Sabrina Mariana Bialeski

2º Ano – Ensino Médio

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CORAÇÕES FERIDOS

Era tarde da noite. Meus olhos estavam inchados, meu travesseiro molhado e meu coração acelerado. Aquele som ecoava em minha mente a noite toda. Depois daquele dia, eu quase não conseguia mais dormir. Será que era minha culpa? Fui eu quem o matei? Ele me amava? Ou era só eu que amava sozinha? Eu estava certa ou errada ao fazer aquilo?

Meu nome é Sophie e eu estou em uma clínica de reabilitação para drogados. Matei-o do jeito mais cruel possível. Aquilo aconteceu quan-do eu tinha 16 anos, exatamente na data do aniversário dele. Eu estava envolvida com drogas para “esquecer” a dor. Não adiantou. Eu fumava e estava depressiva, com 17 anos fui internada. Passei dois longos anos neste lugar, agora estou com 19 e perdi parte de minha juventude aqui.

Hoje estou saindo. Meus pais, que sempre me apoiaram e me de-ram forças, vieram me buscar. Eles estão felizes e radiantes como o sol, pois a filha deles está “curada”. Mal sabem eles que pesadelos e pensa-mentos me assombram todo o dia e toda a noite. Eu sei, parece exagero perto do que aconteceu, mas ele não era qualquer um.

Passamos a infância juntos, brincávamos, riamos e até estudáva-mos quando era necessário. Tornamos-nos melhores amigos. Nós viajá-vamos, namorávamos outras pessoas. Porém um dia, em um lual, nós dois acabamos ficando. Era pra ser só aquela noite, mas não foi. O sentimento que a gente sentia foi crescendo e mudando. Começamos a namorar.

Tempos felizes, nossas famílias reuniam-se na fazenda que meus pais tinham no interior. Em uma dessas reuniões nós dois decidimos ir dar uma caminhada e fomos bem longe. No meio do caminho come-

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çamos a brigar. Eu falei coisas horríveis para ele e fui embora. Ali nós terminamos.

Na semana seguinte soube que ele estava doente e foi internado. Estava com câncer, tinha poucos dias de vida e chamava por mim. Não fui visitá-lo por orgulho, mas comecei a me sentir culpada. Nesse dia meus pais foram até o hospital e me convidaram para ir junto.

Quando lá cheguei, deparei-me com a mãe dele aos prantos e vi dele gélido na cama. Ele morreu e eu não fui nem dar um último adeus decente. Tantas perguntas, culpas, tristezas e saudades caíram sobre mim.

Foi aí que as drogas entraram em minha vida. Ou ia tinha que arranjar uma desculpa? Agora posso sair e ser livre.

Eu o matei. Eu o amo.

Thalya Helena Correa

2º Ano – Ensino Médio

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21 DE JANEIRO

Parecia o fim do mundo. Era água jorrando de todos os lados. Uma água barrenta. Parecia o caminho para a morte.

Era final de janeiro de 2011. O tempo estava abafado. Fomos aproveitar o final de semana na praia. Eu e minha mãe fomos de manhã, enquanto meu irmão, minha cunhada e meus tios, ao anoitecer.

As primeiras horas da viagem foram tranquilas. Com fluxo in-tenso de carro, mas tranquila. O silencio foi quebrado com o despertar das sirenas. Elas vinham em comboio da polícia federal. Mais à frente, policiais parados na rodovia, pareciam estar prontos a atacar. Passamos por eles com receio. Ninguém sabe quando se pode iniciar um tiroteio.

Chegamos, enfim, ao nosso destino. Almoçamos, arrumamos nossos pertences na casa. Com tudo pronto, dormimos um pouco. Nessa hora começava a chover.

Quatro horas de chuva incessante foram suficientes para alagar a rua, inundar casas, desmoronar barrancos e algumas encostas.

Ligamos para nossos parentes que estavam a caminho, para alertá-los. Tarde demais, já estavam chegando. Enquanto isso eu e minha mãe levamos o carro para um lugar mais alto. A força da água foi tanta que rompeu o asfalto. Com sorte passamos e retornamos a pé.

Mal chegamos a casa, meu irmão apareceu para nos resgatar, le-vando-nos em seu carro. De lá tentamos fugir. Paramos em um posto de gasolina. Encontramos lá nossos parentes. Eles foram impedidos de seguir o percurso, já que as ruas estavam fechadas, no entanto, fomos

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informados sobre um atalho.

Quando finalmente o encontramos, desejamos que não fosse aquele o nosso caminho. Buracos, enchentes, ponte quebrada. Parecia o fim do mundo. Era água barrenta jorrando de todos os lados, parecia o caminho da morte. Soterrada? Será esse o meu fim?

Do nada surge um carro de polícia que nos leva para fora do ata-lho. Finalmente voltaríamos para casa. O alívio era tomado por preo-cupação. Uma outra ponte havia quebrado, a rua em que estávamos era contornada por um rio. E a chuva que tinha cedido, já dava sinal de que logo, logo voltaria a cair. Ficamos nove horas agoniadas até finalmente conseguir passagem.

De Araquari a Joinville a paisagem era de desolação. Graças a Deus esse pesadelo acabou sem vítimas fatais. Graças a Deus, a sensação que fica, no entanto, é que o bicho-homem é nada perante a força da na-tureza.

Bianca Grosskopf

2º Ano – Ensino Médio

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A MAIOR PARTE DO TEMPO A GENTE PASSA RECLAMANDO

A gente acha que sabe tudo, no final não sabe nada. Não importa 13, 15, 26, 34, 40, 60... Sempre tem algo a mais para aprender. Para fa-zer...

E a vida, ela passa tão rápido... Uma hora você está cuidando das suas bonecas, ou dos seus carrinhos, e na outra, está deixando dos seus filhos. E quando vê já vem os netos...

Aproveitar é a palavra certa. Aproveitar tudo. A cada momento, a cada instante.

Porque aquele abraço que você recusou, aquela conversa que você dispensou, não voltam mais. A gente passa pela vida estudando, trabalhando e mais ainda: Reclamando!

E quando vê já passou.

Reclama dos filhos.

Reclama dos pais.

Não esqueça que a vida tem dessas, mas apesar de tudo, há momentos (muitos) que valem vivê-la.

Então “Bora” viver?

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Sabrina Gomes Kuss

2º Ano – Ensino Médio

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O TEMPO

Acabei descobrindo que tudo tem uma história e que essa história significa que essas coisas foram afetadas pelo tempo. Há boatos que ele cura tudo, mas também deixa marcas em todos nós.

Desde pequena acreditava nos castelos seguros, mas logo desco-bri que alguns são feitos de areia. Desde sempre via em meus pais os he-róis da minha vida, até vê-los chorar pela primeira vez. Cheguei a pensar que todos os muros aguentavam tudo, até descobrir pequenas rachaduras.

Nada resiste ao tempo, nada resiste à história e aos fatos que os dias fizeram passar. Todos temos medo, todos temos cicatrizes, todos te-mos rachaduras e todos temos histórias para contar e esconder.

Assim como eu... Não consegui fugir do tempo, não consegui fugir da história, não consegui fugir das dores e das mágoas. Mas como o castelo de areia que cai e pode ser reconstruído, como os heróis que choram, mas não deixam de ser heróis, e como o muro que racha, mas não sucumbe. Lá estou eu com as minhas histórias e cicatrizes no peito, seguindo por um caminho que não sei para onde irá me levar, se apenas que estou a caminhar. Não desisti de mim e nunca irei desistir.

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Geovana Aparecida Milcheski

2º Ano – Ensino Médio

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GOTAS DE INSPIRAÇÃO

Chovia muito quando o trem partiu. Todos continuavam dormin-do, menos eu que permaneço aqui senado nessa estação, enquanto a chu-va banha esses trabalhadores dos trilhos do trem.

Timidamente, escuto o barulho da locomotiva, bem longe, já partindo e me deixando para trás. Admito que não fiz esforço nenhum para chegar no horário, mas agora não posso fazer nada, o trem já partiu. Sentado, sozinho, um pouco abalado, com uma tristeza tímida em mim, nesses velhos e desgastados bancos da estação é difícil não se sentir ins-pirado por essas frescas gotas de chuva. Fico olhando para o céu, que assim como eu está em lágrimas. Mesmo sendo meio triste e melancóli-ca, a chuva pode nos trazer alegrias, como a felicidade daquele banho de chuva depois de uma notícia boa e de um abraço de reencontro banhado por suas gotas. Até o barulho da chuva é perfeito. É a melhor trilha sono-ra para dormir e é um delicioso barulho para os ouvidos ao amanhecer. Neste momento, entretanto, esse encantador barulho da chuva está acom-panhando-me em um momento não muito alegre.

Não sei o que fazer, não tenho para onde ir, minha última espe-rança era esse trem, que, em razão de alguma distração, consegui perder. A chuva é como muitas coisas em nossas vidas. Ela faz sorrir ou faz chorar, depende da situação. Ela alivia ou causa transtornos, dependendo da força.

Arrumo forças de algum lugar, levanto-me e saio da estação. A chuva já está mais forte, e eu espero que ela me banhe e leve com ela todos os meus males, que forme poças com minhas fraquezas, que leve para os bueiros tudo o que tenho errado em mim , depois, quando aquele

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belo sol sair, forme um arco-íris inspirador, que no seu término, tenha um pote de ouro, traga todas as riquezas necessárias para eu me tornar um ser melhor, é só isso que eu peço.

Tenho que parar de me lamentar e seguir em frente. A chuva mo-lha e segue comigo em todos os passos, e com ela, tenho que aprender a continuar, pois sempre tem alguém que não gosta da chuva, mas mesmo assim, ela aparece novamente sem pedir autorização para ninguém.

Ana Cristina Bertolini Paim

2º Ano – Ensino Médio

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NOSTALGIA

No rádio tocava a música velha que lembrava seus tempos de moça. Sentada à mesa da cozinha escolhendo feijão e olhando a vida lá fora da janela, a mulher começou a divagar como teria sido sua própria vida, se tivesse escolhido outro namorado para casar. Ela não era, mas em seu tempo de juventude a beleza lhe caía bem. Corpo definido, do jeito que os homens gostam, cabelos castanhos claros, com cachos bem cuida-dos que lhe caíam sobre o ombro, olhos cor de mel e uma tez clara, lhe davam um ar de classe. Vários rapazes tentaram namorá-la. Mas desde sempre ela só teve olhos para o rapaz que morava na frente da sua casa. Cinco anos mais velho que ela, parecia nem perceber.

Até que um dia ele disse “oi”, com sorriso encantador e tudo fluiu até esta casa e dois filhos. Uma vida simples, de dona de casa, sem emo-ções e novidades. Não falta dinheiro, mas também não dá para luxo de mulher, como cabeleireiro e roupas bonitas, que mantém a beleza por mais tempo.

Hoje com o cabelo curto, a pele maltratada e o corpo que mostra os sinais da gravidez, ela não tem atrativos e nem vaidade. O marido também não é mais o mesmo rapaz de ontem, hoje também não tem mais o mesmo charme.

Cinco anos mais velho, hoje já tem manias de homem velho. Os filhos, um menino de doze anos e outro de oito não dão folga a ninguém. Três homens exigentes e a vida lá fora parece a mesma de antes.

Ela acabou de escolher o feijão para cozinhar, deu um suspiro e pensou: a vida poderia ter sido pior: tinha uma família, uma casa, um ma-

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rido e não passava necessidades. Poderia ter sido pior, começou a canta-rolar e a música já acabara e terminou o almoçou com um ar de nostalgia. Pensou: hoje vou ao salão me arrumar!

Nicole Friedrich

2º Ano – Ensino Médio

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MUDANÇAS

Aquela segunda-feira finalmente chegou. Saí de casa, atravessei aquele corredor, certa das mudanças que se seguiriam. Todos eram des-conhecidos naquele local que me pareceu acolhedor, apesar de que, ao início, não houve para isso grandes motivos. Os primeiros momentos na-quela que seria a minha nova sala de aula não se apresentaram tão tensos como eu, de alguma forma esperava. Os olhares que se direcionaram a mim, apesar disso, desconfortaram-me durante as primeiras horas, pelo simples motivo de que eu nunca os havia sentido, sempre era eu que recepcionava os alunos novos, mais que isso: por muitas vezes analisa-va-os, procurando o que poderia chamar a minha atenção. Nunca havia, portanto, sido filtrado assim, curiosamente, por jovens e ferozes olhares.

Tentando ignorar esse fato, aproximei-me de quem mais senti afi-nidade e, depois de alguns dias, percebi que esse novo lugar era muito parecido ao que já frequentava no ano anterior, pessoas simples eram a maioria e, das que não pude captar humildade, afastei-me.

Identifiquei-me com os objetivos e realidade de pessoas que hoje considero amigas, também conheci problemas que me fizeram ver como me preocupava com coisas sem importância, assim como com situações que presenciei, comecei a valorizar o silêncio e ver que com ele encontra-se a forma mais eficaz de chegar-se à sabedoria.

Todos esses momentos e sensações são próprios de épocas gran-diosas da vida. São tantas descobertas e medos, certezas e inseguranças que nos fazem ser quem somos e que definem nosso caráter. Não são só essas, porém, as vantagens de arriscar-se no mundo adolescente, essas experiências adquiridas mostraram-me como reconhecer a realidade da-

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queles que estão a minha volta e a enxergar o lado positivo das situações, tirando uma lição de tudo o que acontece, levando assim, para a vida toda!

Paula Fendrich

2º Ano – Ensino Médio

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A CHEGADA

Palmas das mãos suadas. Coração batendo rápido e continuamen-te. As horas não passavam, dando a impressão de que eu já estava es-perando horas quando, na verdade, se passaram apenas alguns minutos. Eu já não conseguia mais manter o controle de mim. Esbaforida, sento no primeiro banco que avisto no aeroporto. É hoje que as perguntas que perduravam em minha mente durante tanto tempo seriam finalmente res-pondidas.

“Será que ele ainda pensa em mim como eu penso nele todas as noites antes de dormir?” “Será que o recíproco amor que tínhamos conti-nuará como antes?” Essas e outras perguntas têm se alastrado em minha mente desde que ele fora convocado para o exército. E hoje, depois de um ano, aqui estou eu, esperando-o no aeroporto, ansiando pela sua chegada.

Fagulhas de pensamentos ruins invadem a minha cabeça. A lem-brança da briga um dia antes da partida dele não ajudava os pensamentos negativos a irem embora. A vida insípida que eu levara desde então fi-nalmente havia ganhado um feixe de luz quando soube de sua volta. Não teve um dia destes 365 que eu não pensei nele.

O vôo já era para ter chego, mas não avisto ninguém chegando. Penso se estou no lugar certo, mas este é o único aeroporto da região, então tenho quase a total certeza de que o endereço não foi um equívoco. Um homem se senta ao meu lado. Fito-o mexer em sua mochila por um tempo, procurando alguma distração, até que ouço uma voz gritar meu nome. Levanto rapidamente e vou a sua direção.

Ah! O afago que eu sentia tanta falta! Caio diretamente em seus

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braços. Tenho vontade de falar para ele que eu estava errada, queria pedir desculpas, mas nada sai. Fico imóvel nos braços dele por um tempo. As palavras que pensei foram poupadas, pois ele disse exatamente o que eu pretendia falar. Apenas assenti com a cabeça, ainda apoiada sobre seus ombros. Não pude deixar de sorrir, pois agora nada nos impede de ficar-mos juntos e sermos felizes construindo nosso belo futuro que temos pela frente.

Kariana Wan Dall Gonçalves

2º Ano – Ensino Médio

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O SONHO DO PARAÍSO

Já era Setembro, quando estava em uma viajem no leste euro-peu. Fazia dois meses que eu já estava perambulando por lá, conhecendo pessoas, aprendendo sobre diversas coisas, conhecendo lugares incríveis. Chegando outubro, em um dia qualquer em que estava procurando um lu-gar para passar a noite, quando menos percebo, me acontece algo inespe-radamente incrível e bizarro. Encontro-me em um lugar estranho coberto por muitas arvores, no meio de ruínas e em uma escuridão que a única coisa que me dava a capacidade de ver à minha volta era a luz do luar.

Apavorado e sem saber o que fazer, decidi pelo menos entender aonde estava, o que aconteceu, e procurar um lugar seguro para pelo menos poder passar noite e voltar para a cidade que antes disso, estava visitando. Passou o tempo, não fazia ideia do que fazer, não tinha desco-berto nada até que achei uma caverna. Entrando lá, deparo-me com um corredor enorme, iluminado por alguma possível cratera que deixava a luz da lua passar, com algumas escritas estranhas e sem sentido.

Continuei por uns quarenta minutos até achar o fim do túnel. Avistei um lago coberto pela caverna com um buraco enorme em cima que deixava a luz passar e refletir do lago para o resto da caverna ate seu início. Por sorte tinha um bote já na beirada, hesitei em entrar porque já estava desconfiado demais com aquilo tudo, nada mais fazia sentido, então pensei, “pior que tá não fica” e fui fundo. Fui remando por volta para achar algo interessante e, pra minha decepção, não encontro nada. Como estava caindo de sono decidi dormir ali mesmo, naquele barquinho minúsculo.

Mal fecho os olhos e começa a dar várias ondas. Vejo-me cair

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na água, com toda aquela correnteza não consigo nem tentar subir e sou levado pra baixo não só pela correnteza, mas também por alguma força. Ouvia vozes. Recuperando meu fôlego e percebo que de novo já não estou no mesmo lugar, agora estou no alto de colinas, diante do por do sol, com uma cadeia de montanhas e uma floresta sem fim de paisagem.

Do nada ocorre um estrondo alto a ponto de me deixar tonto sem noção de mais nada que esta ao meu redor. Começo a correr ladeira a baixo, dando vários tropeços naquelas raízes e pedras. Não fazia a menor ideia do que acontecia, já parecia estar em outro mundo. De repente apa-recem meus amigos, todos junto de mim diante de mais uma nova aven-tura, desta vez junto deles. E quando tudo começou a ficar interessante, eu me pego jogado, no lugar onde tudo começou, sozinho, procurando um lugar para passar a noite.

Gustavo Pavelizky Jeller

2º Ano – Ensino Médio

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UM AMOR SEM FRONTEIRAS

Já era primavera, quando eu fui passar as férias na casa da mi-nha avó em uma cidadezinha no interior de Santa Catarina, é um tipo de cidade que tem uma casa a cada três quilômetros, só tem o que é neces-sário. É uma cidade típica da que os meus avós vão morar. Chegando na rodoviária meus avós estavam me esperando com um sorriso de orelha á orelha, quando eu saí do Ônibus foi aquele relatório de perguntas, aque-les elogios que só os familiares fazem... Saindo da rodoviária para uma pequena viagem para a casa deles, fui relembrando o cheiro, a grama bem verdinha (coisa que não tem nas cidades), as coisas que eu fazia aqui quando eu vinha para cá.

Chegando à casa deles estava igualzinho da última vez que estava aqui, aquele jardim colorido com as flores que a minha avó plantava, aquela casa com a varanda e as duas cadeiras de balanço. Fui entrando no quarto que eu ficava quando era pequena, arrumei as minhas coisas e já fui chamada para tomar café da tarde, aquela mesa estava recheada de pães, bolos, sonhos como sempre foi.

Depois de me empanturrar decidi dar uma volta na floresta que fica ao lado da casa. Andando já algum tempo no meio da floresta, escutei barulhos estranhos atrás de mim, olhei para trás não percebi nada, conti-nuei a andar e estava sendo seguida por um menino e sem ele perceber, virei para trás e peguei ele desprevenido atrás de um tronco da arvore. Fui falar com ele, mas ele fugiu, então comecei a segui-lo e fui parar em uma cabana no meio da floresta, bati na porta, mas ninguém me respondeu, eu sabia que ele estava lá. Então, decidi entrar e não havia ninguém, mas de repente fui surpreendida por trás com um braço másculo em volta do meu

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pescoço e na mão uma faca. Ele muito nervoso me perguntou o que eu queria e porque eu tinha seguido ele até lá. Eu não sabia o que responder, mas consegui acalmá-lo. Ele então me soltou.

Quando nós dois já estávamos calmos, começamos a conversar e eu como sou muito curiosa, perguntei por que ele morava no meio da floresta. Ele não quis me responder, e foi então que percebi que ele tinha um segredo que ele não gostava que tocassem no assunto.

Depois de muita conversa, quando já estava escurecendo, ele me levou para perto da casa dos meus avôs para que eu soubesse voltar. Che-gando à casa meus avos estavam com um rosto de preocupação. Eles es-tavam preocupados porque eu tinha demorado tanto, mas como o Lucas (o menino da cabana) tinha pedido para que eu não contasse a ninguém que eu tinha visto ele, não contei.

Jantei pensando nele e não consegui dormir direito também, só queria que amanhecesse para eu ir encontrar ele de novo. Quando ama-nheceu peguei uma caneta e papel para deixar um recado para meus avós que só voltaria para o almoço. Corri à geladeira, peguei uma coisa para tomar café e corri para a floresta. Chegando à cabana ele estava lá pi-cando lenha, e nesse dia nos começamos uma amizade, ele me ensinava várias coisas que eu nem imaginava. Todos os dias eu ia lá para me en-contrar com ele. Um dia ele decidiu contar o segredo que ele escondia. Contou que era maltratado pelos monitores do orfanato. Então, decidiu fugir para a floresta, mas antes disso ele de raiva durante a noite colocou fogo no orfanato, o que matou todos que estavam ali. Fiquei chocada no momento, mas depois deixei de lado, e propus entrar e nadar na cachoei-ra, e ele aceitou, e foi ali que a amizade foi além.

Depois de muito tempo que estávamos juntos, decidi mostra-lo

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para meus avós e contei a nossa história. Ele aceitaram e fui morar com Lucas na cabana. Depois de anos juntos nos casamos e tivemos a sua mãe, e nunca não mudamos da cabana.

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Maria Heloisa Beckert

2º Ano – Ensino Médio

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VIAJEM QUE PODE MUDAR TUDO

Carina irá fazer uma viajem com seu colégio, mas está triste, pois anda brigando de mais com seu namorado e não quer ir viajar com medo de que eles acabem brigando por causa disso, mas seus pais insistem que ela faça essa viajem.

Uma amiga a quem contou suas mágoas, não aguentando ver a tristeza dela, conta que soube que o namorado da melhor amiga a estava traindo. Ela fica sem chão, chora de mais por não conseguia acreditar que ele estava fazendo isso com ela.

Então ela resolve ligar para ele, ir a sua casa, diz que precisa con-versar com ele. Então o garoto chega à casa da namorada e ela começa a falar sobre o relacionamento deles e, entre outras coisas, e fala que estava sabendo que ele estava ficando com outra garota e fala que não está mais aguentando tudo isso que ele está fazendo a ela.

O moço chora e vai embora. Ela começa chorar muito, pois o amava de mais. Pensa em ligar para ele, mas acaba pensando melhor e sabe que isso não iria ser uma boa idéia, pois foi ela quem terminou, por mais que estava sofrendo teria que deixa-lo se sentido mal por ter perdido ela.

Mas ela ainda não estava bem e sempre ficava pensando que ele iria ligar para tentarem se acertar, mas o garoto não dá o braço a torcer e nota que já faz mais de um mês que ela não o via, a tristeza só aumentava, mas tinha algo que poderia deixar feliz sua viajem. Ela pensa que isso é a única forma de ficar feliz, de ter vontade de sorrir de novo sem ele por perto.

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Ela acaba reencontrando-o na loja de sua mãe e conversam mais nada muda. Por mais que ela ainda sentia falta dele não queria estar mais ao seu lado, porque havia sofrido demais por ele e não queria passar tudo isso de novo.

Os dias estão passando cada vez mais rápido e o grande dia da viajem chega. Ela estava toda feliz com isso, sentia que algo nessa viajem iria mudar sua vida e para melhor.

A viagem para ela começa quando se encontra com um grupo de amigos em uma praia e começam aproveitar de verdade.

Os dias vão passando e está cada vez melhor a viajem, está se divertindo cada dia mais, os sorrisos vão aparecendo, e as lágrimas e a tristeza vão embora como se nunca estivessem ali. Começa a se sentir bo-nita de novo. Então, percebe que não é preciso ter um namorado para se sentir feliz e alegre como antes, que os bons momentos podem mudar sua vida. Amigos são para isso, ajudam você a ver o mundo de outra forma, ver como as coisas são belas e lindas, e sabe do que mais, a felicidade está ai estampada em sua cara é só você saber como aproveitar os bons momentos. Não deixe que um dia triste estrague sua vida inteira, pois temos a vida inteira para encontrar novos amores, e novas amizades para nos ajudar a superar tudo. Isso é o que não falta!

Karolaine Aparecida Santarém de Lima

2º Ano – Ensino Médio

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VIDA TURBULENTA

“E aí, parceiro! Quanto tempo! Senta aí, fica à vontade. Vamos conversar!

Vida turbulenta essa nossa, não? Estou sem tempo pra nada, mas ainda bem que temos uma folguinha de vez em quando. É sempre bom pôr pra fora o que sentimos.

Está sabendo do que está acontecendo por aí? Que loucura! As guerras não param, protestos são criados e dissipados, a ciência está cada vez mais admirável. E a tecnologia? Inacreditável!

Mas, sabe amigo? Preferi fugir um pouco “dessa capa” em que vivemos. Resolvi ampliar a visão.

Para ir ao trabalho, passo por uma rua muito movimentada. Gente andando e correndo, buzinas dali e de lá. Tudo o mesmo de sempre. Mas, acredita que nunca olhei para os lados dela? Até que um dia notei. Havia uma criança sozinha em um beco qualquer. Cabelo moreno e encaraco-lado, pele branca. Seus olhos cor de mel estavam ofuscados pela sombra da solidão.

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Anna Carolina Lourenço Azedo

2º Ano – Ensino Médio

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UM NOVO COMEÇO

Sofia era uma menina qualquer, gostava de ficar com seus amigos, de sonhar acordada como toda garota faz, de ouvir música, tocar piano, passear com a família, ir à praia e ficar a observar o mar, enfim... uma menina feliz, alegre, sorridente, amiga de todos.

Certo dia comum de junho, recebe a notícia de que iria se mudar no próximo mês para uma cidadezinha do interior. A princípio a notícia não a chocou muito. Porém quando o dia da mudança chegou, tudo mu-dou.

A menina percebeu que na sua antiga cidade tinha tudo que sem-pre sonhou em ter... amigos, família, lazer, tudo que precisava para viver.

Agora era diferente, tudo novo, tudo de novo. Nova cidade, nova casa, novas amizades, novos costumes, nova escola, novos professores, tudo inédito. Uma vida toda nova e completamente diferente, da qual ela particularmente não gostava nem um pouco.

O começo foi difícil, Sofia constantemente se sentia sozinha, sen-tia saudades... sentia falta das suas amizades, sentia falta de sua família, de sua rotina, de sua escola, de seus professores, sentia falta de tudo e de todos. Chorava e implorava aos seus pais para voltar, sair daquele lugar desconhecido e estranho.

Abandonar uma vida e uma cidade de que tanto se ama não cos-tuma ser uma tarefa fácil para nenhuma pessoa não é?! E com ela não foi muito diferente...

A garota tentava, mas não conseguia ver o lado positivo daquela

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mudança tão terrível que influenciava tanto sua vida... sua feição mudou, suas notas estavam caindo, não sentia mais aquela felicidade que sentia antes.

Todavia em certa noite, Sofia tomou uma decisão. Decidiu dar uma chance para aquele novo lugar, para aquelas novas pessoas, mudou sua perspectiva. E, desde então, passou a ser quem ela era... sorridente, alegre, feliz.

Passou a entender que nem tudo na vida é como queremos, como desejamos que fosse, mas, de cada situação, seja ela boa, seja ela ruim, devemos tirar o seu melhor, focar nas coisas positivas mesmo que sejam escassas ou até mesmo quando se é difícil de encontrar ao menos um ponto positivo nos acontecimentos ruins que vem ao nosso encontro. De tudo podemos tirar um proveito, uma lição. Toda circunstancia que nos envolve molda nosso caráter e cada momento forma nossa historia. E, só depende de nós mesmos sermos felizes com o que a vida nos oferece ou não.

Hoje Sofia é uma pessoa realizada, pessoa que sabe viver com o muito e com o pouco, em um mundo aonde ser feliz só depende dela mesma.

Laura Jeller Kontopp

2º Ano – Ensino Médio

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3º Ano do Ensino Médio

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É NAMORO OU AMIZADE? O telefone toca como de costume, quebrando o silêncio tedioso daquela tarde chuvosa de Xangai. Isso já havia se transformado em lugar-comum. Era ele, de novo, do outro lado do Pacífico. Sempre. Todas as se-manas, nas mesmas horas, nas mesmas tardes chuvosas das monções, eu receberia uma ligação de Osaka, que poderia durar minutos assim como horas, mas sempre estava a “onomatopeiar” em meus ouvidos seguido de um contente “Yo”: - Ohaio; - Ni hâo, Tsukune. - Vamos misturar as línguas novamente? - If you wish... E então o riso, o riso suave e ao mesmo tempo aberto. A mesma sonoridade de anos atrás quando nos conhecemos em uma festa de estu-dantes na história Ouro Preto. Tudo nasceu de uma pequena brincadeira infantil em Runas, pia-da boba de criança. Brotou uma amizade inocente que, em questão de instantes, tornou-se muito forte, porém distante. Começou com uma mudança de cidade, logo em seguida de esta-dos, e, num repente, estávamos em distantes continentes. Por pouco ele não foi parar em Marte e eu, nos anéis de Saturno. As conversas, contudo, cada vez mais próximas. Assim que lhe informei minha mudança por tempo indetermina-do, vi aquele amigo irradiar-se em alegria. Contou-me em seguida que entraria no Koyo Conservatory, escola de música em Kobe e, assim, de Xangai a Kobe teríamos distâncias mais curtas. Mas a Ásia é um grande continente, a distância é imensurável e, ao mesmo, tempo inexistente. A simplicidade de uma conversa lembrava a nossa adolescência,

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nossas amizades, nossos diálogos e tardes sob o gélido vento sul embala-do a belíssimas melodias suecas, o que apagaria todos os nossos transtor-nos e, assim, amansava toda a rebeldia, aparentemente sem causa. Agora, adulta, “gente grande”, há o desejo de voltar, aquele que havia antes mesmo de crescer e eu apenas não o compreendia. Era uma boba, e ele um tolo; ambos acreditando num futuro próspero. Cinquenta anos se passaram. O futuro virou cinzas, as conversas, apesar de evoluí-rem, giram em torno dos mesmos conteúdos. Quem diria?! Os assuntos permanecem iguais, os amores confidentes, intactos, mesmo depois de perder a luta. O amor se foi, esvaiu-se, a amizade? Bem, a amizade ficou. Terminá-la será muito pior para nós dois.

Bárbara Luiza Galdino

3º Ano – Ensino Médio

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SELENE

O dia amanheceu gelado. Um frio que penetrava as grossas ca-madas de blusas de Pedro, já acostumado a temperaturas tão inclementes.

O nosso herói, pelos seus quinze anos, era um garoto muito cal-mo. E, apesar das loucuras da adolescência, já demonstrava bastante ma-turidade. Após os afazeres domésticos, ajudando a mãe em casa, gostava de longas caminhadas pela propriedade da família. Gostava de andar a cavalo, pescar, ouvir os pássaros e vê-los voando, apreciar o cheiro das flores e saborear os frutos das árvores. A natureza deixava-o em transe, alucinado, entusiasmado.

Com o passar do tempo, porém, Pedro começou a se sentir só. Queria, então, alguém para dividir seus deslumbres, compartilhar suas alegrias e tristezas, aflições e esperanças. Por muito tempo, contudo, car-regou um gosto de fel na boca e um vazio na alma, que lhe torturavam sobremaneira.

Certa vez, voltando de um passeio, algo lhe aconteceu, que mu-daria sua vida para sempre. Diz que, ao longo do caminho, vinha ele cabisbaixo, quando porém que senão quando, esbarra-se com uma pessoa estranha. Ficou tão pasmado não só pelo fato de ter alguém justo ali, mas pelo fato de quem era, uma garota! No mesmo instante um turbilhão de pensamentos o atingiu como um raio. Só conseguia gaguejar palavras indecifráveis, as pernas tremiam, A garoto, contudo, sorria calorosamen-te. Pedro, por minutos, ficou estatizado diante daquela beleza. Era Sele-ne. Pele cor de pêssego, cabelos encaracolados cor de fogo, flamejantes como labaredas de uma fogueira. Sua presença era como a chegada da primavera, já quase verão, quando as boninas explodem de todos os can-

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tos, cobrindo os campos de rara beleza.

Passados os contratempos dos primeiros minutos, ela dissera-me que era minha nova vizinha e que já me tinha olhado a furto. Morava na propriedade mais próxima, a dois quilômetros da minha casa. Conversa-mos durante duas curtíssimas horas. Ao nos despedir, fizemos um para o outro mil juras de novo encontro, o que, aliás, dali para frente passou a acontecer com certa frequência e até virou rotina. Não passou, todavia, de encontro de adolescentes. Depois o tempo passa, a lusitana roda gira, o mundo abre caminhos, sendas e veredas em nossa frente. Enveredamos por eles, e perdemos o contato com muitos amigos de jornadas. Disso, feliz e infelizmente é feito a vida: de encontro e desencontros, até que um dia nos encontremos na mesma matéria.

Guthierry Felipe Gomes

3º Ano – Ensino Médio

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ANGÚSTIA

Meus pés abrem caminhos pelas pedrinhas. A poeira que o em-balo da balança levanta mistura-se com o pólen das flores. Meus pen-samentos seguem o rumo de meus cabelos, ultrapassando a tênue linha entre presente o passado. Imagens em preto e branco surgem na minha frente. O balanço azul em que estou sentada volta a ser aquele rústico, de madeira crua, de anos atrás. Volto a minha infância, aquele tempo que hoje se resume a lembranças apenas.

Noah era o menino de olhos verdes vibrantes que assoprou o meu joelho ralado. Era o menino que segurou em minhas mãos quando me senti insegura, que enxugou minhas lágrimas, o amigo que me viu cres-cer, que cresceu junto comigo. Enfim, o menino que correu e deu risada, que caiu e pregou susto. Aquela pessoa especial que estava lá, do meu lado, em todos os aniversários que a vida nos permitiu.

As melhores recordações mostram-se como um filme. No meu aniversário de cinco anos foi ele quem me protegeu da amiga da minha mãe, louca por apertar minhas bochechas. No tão esperado baile de quin-ze anos, tive-o como meu príncipe. Aos dezesseis, foi com ele que decidi qual seria o curso dos meus sonhos. Foi com ele que dividi meus maiores anseios.

Vinte de fevereiro de 1996. Minhas malas já estavam prontas e empilhadas na porta de saída. Presa pelos braços de minha mãe, acabei atrasando-me mais do que o esperado e, mesmo assim, Noah estava lá, no nosso apartamento. Não, não nos casamos muito menos estávamos

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namorando. A pressão dos amigos e familiares, assumo, foi grande. Nin-guém, no entanto, foi capaz de entender a nossa amizade. Dividiríamos o apartamento por questões práticas: dávamo-nos bem e ambos fomos aprovados para a mesma universidade.

Não me recordo o motivo. Talvez a segurança de que nada mais seria capaz de separar-nos. Talvez apenas os dois anos de diferença na idade que resolveram aparecer. Talvez novas amizades feitas por lá. Não éramos mais os mesmos.

Hoje me culpo por estar ocupada demais com minhas novas con-quistas para perceber que seu lindo e sedoso cabelo cedeu espaço à ca-beça rapada. Às oito horas de sono bem dormidas e as corridas matuti-nas transformaram-se em dez horas na cama. O sorriso brincalhão que sempre me animava transformou-se em uma careta de dor. Nada disso eu percebi a tempo, ocupada demais que estava com minhas festas, cega demais pelas minhas novas conquistas.

Nunca me esquecerei do dia 20 de novembro de 2000. Depois de mais uma festa daquelas que varou a madrugada, entro no apartamento de fininho, temendo a expressão de desgosto com que Noah me recebe-ria. Nada. Apenas silêncio. Estranhei. Fez-me falta tê-lo esperando sen-tado ao sofá. Chamei e não recebi respostas. Procurei em todos os cantos e foi em seu quarto que encontrei. Não ele, mas uma carta. Lágrimas minhas refizeram o caminho daquelas que deveriam ser dele. Uma carta de despedida.

Uma voz ao fundo despertou-me. Não quero deixar minhas re-cordações de lado, chegou a hora, no entanto, de voltar à realidade. Abro

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meus olhos e, a alguns metros à minha frente, chamando meu nome, está Noah. Corro desequilibrada até seus braços e espanto-me ao ter meu abraço correspondido.

Sim, Noah sobreviveu ao câncer e eu ao menos percebi. Noah namorou e teve seu coração partido e não encontrou meus braços para ampará-lo. Noah formou-se e eu ao menos notei o convite preso à gela-deira. Noah voltou à nossa cidade natal. Eu fiquei. O medo da rejeição foi grande demais.

Hoje, no entanto, o parque em que nos conhecemos foi testemu-nha do abraço acolhedor junto ao “Está tudo bem, pequena, eu entendo” que me trouxeram novamente a casa. Busco, agora, reencontrar a mim mesma e tudo aquilo que perdi preocupada em demasia comigo para no-tar a falta que meus braços causaram àquele que sempre cedeu os seus para amparar-me.

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Karina Becker Lobermayer

3º Ano – Ensino Médio

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DE QUE VALE A VIDA SE EU NÃO ESTOU AQUI?

José era um aluno exemplar. Durante o ensino fundamental nunca havia exibido uma só nota baixa para seus pais. Os professores aposta-vam no seu potencial: Vai ser um grande médico, diziam, e disso nin-guém duvidava.

Aprender era o dom de José. Bastava ouvir a lição do professor que o assunto entrava e permanecia em sua mente de imediato e para sempre. Muitos de seus colegas de classe passavam tardes a fio, como o filho do professor Raimundo, de M. de Assis, estudando e ainda assim não conseguiam alcançar notas expressivas. José não. José ostentava no-tas brilhantes. Muitos o invejavam. Daí que não tinha amigos, não era convidado para as badaladas festas providas pelos colegas de sala, rega-das a muitas bebidas e enfeitadas de adolescentes saudáveis.

José segurou a onda o quanto pode. Sozinho, ensimesmado, cas-murro. Sempre aos cantos. Isolado literalmente. Até então, porém, não havia dado tanta atenção a esse estado de coisas. Chegou o ensino médio, época de namoricos e afins. Só que ele não tinha amigos e também não tinha amigas e, muito menos, namorada. Assim mesmo no singular. Esse viés da vida começou a pesar fundo em sua autoestima.

Isolado completamente, veio-lhe à mente bobagens, tristezas, alu-cinações. O interesse pelo estudo diminuiu, as notas baixaram, a autoes-tima desapareceu. Daí migrou para depressão leve, depressão profunda, loucuras, dilaceração, desejo de morte, enfim ... quase ao suicídio. Foi por pouco.

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Superou. Arranjou forças de onde pode. Lutou, formou-se. Con-seguiu emprego dos bons, daqueles de doutor mesmo. Enricou. Gostava de coisas, carros, mansões, depois mulheres, bebidas, mulheres de novo, bebida outra vez, mais outra, volante, bebida, mulheres, bebida, carro, velocidade, autoestrada, despenhadeiro, choro, flores, vela, cemitério.

Alfredo Neumann

3º Ano – Ensino Médio

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VIDAS DESPREZADAS

Meus olhos percorrem agora a imensidão da cidade grande. O barulho produzido pelo movimento intenso de veículos, pelo corre-corre de pedestres, pelo apito de sirenas de fábricas, do carro do bombeiro, das viaturas da polícia põe medo ao incauto forasteiro.

Meus olhos perdem-se confusos nessa imensidão de sons e cores. Asfalto, prédios, condomínios, mansões, lojas, fábricas, oficinas, ruas de chão batido, barracos amontoados, crianças de cara suja, mulheres de ventre crescido, sem dente na boca, com a janela no pescoço, espiando a vida alheia. Para essa gente o mundo é do tamanho de sua aldeia. Não há outras galáxias, não há passado e nem há futuro. A vida se chama agora.

Em meio a esse mar de pobres, encontro-me com Marcos. Ele mora, ou melhor, nem mora. Estira-se já tarde da noite, quando a cidade sossega, debaixo de um alpendre de loja a uns quinhentos metros da igre-ja da praça central.

Foi a menos de um mês que eu o conheci. Ele e mais três amigos passavam a noite no chão, no frio, pelas calçadas daquela cidade, em um lugar onde o céu é o teto e os carros são despertadores naturais. Marcos acorda inexoravelmente cedo. O cobertor velho que põe às costas é todo o seu inventário. Daí para frente é perambular de um lado para outro em busca de sobrevivência ou matar o tempo enquanto o tempo não o mata, até que uma nova noite chegue e o embale ao relento por mais algumas horas.

Existe ali perto um abrigo que serve café e pão seco para esses desabrigados. Marcos caminha rapidamente, quase que correndo, para

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conseguir um lugar na fila. São muitas pessoas naquela esquina, todas aguardando pela única oportunidade de uma refeição que, para eles, é considerada digna. Depois de se alimentar, a vida desse andarilho não tem rumo ou objetivo. Vai até um ponto de ônibus, observa um pouco, depois vai até a praça. Encontra alguns conhecidos e compartilha um pão que conseguiu a mais. Triste vida sem planos. As horas passam lentamen-te. Será que poderia ser pior?! Viver abandonado e desprezado é justo isso?!

Em meio a tantos acontecimentos oportunos na vida desse po-bre solitário descobri que ele já experimentou tantos tipos de drogas, de maconha à cocaína, do crack ao LSD. Marcos tornou-se um viciado em alucinógenos, além de alcoólatra inveterado. São maneiras de fugir um pouco da dura realidade, do tapa na cara que a vida dá ao virar qualquer esquina.

Andarilhos morrem cedo. Sabe como é que é né: drogas, fome, violência. Eles não se importam com suas vidas, apenas vivem um dia após o outro e tentam minimizar o seu e o sofrimento de seus companhei-ros. Eles são como os elefantes do Dalton Trevisan. Qualquer hora dessas Marcos cai n’água também.

Aline Peres Leal

3º Ano – Ensino Médio

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TÁ DOENDO EM MIM

Separações são difíceis. Não importam as circunstâncias. O filho deixando no ventre materno, amigos que vão morar em lugar distante, ida para a faculdade em outra cidade e mesmo um “fora” da pessoa amada. Pior de todas, porém, é a morte. Felizmente a morte ainda não se apresen-tou a nenhuma pessoa que eu estime e ame. O que é raro. Mas isso não significa que nunca passei por algo complexo, que eu não esteja viven-ciando uma complicada separação.

Casamentos, por exemplo, são, no mínimo, cansativos. Nem sem-pre amaremos a mesma pessoa que dorme a nosso lado na cama. Nem sempre sorriremos ao ver a pessoa pela qual fomos apaixonados.

Muitas relações são duradouras e, às vezes, até eternas. Já, para outros, são como peças de uma máquina, desgastam-se com o tempo. Na maioria dos casos, tem até data de validade. A minha com o Alberto, por exemplo, durou 17 anos, 136 dias e sete horas e alguns longos segundos. Longos sim, porque no fim aquilo era insuportável. E se há minutos que duram séculos, aqueles últimos, com certeza, duraram, porque foram en-tediantes.

É claro que houve bons momentos, em que até pensei que não houvesse no mundo pessoa mais feliz do que eu. Mas existia. Sempre existe.

Nem tudo, entretanto, é como desejamos e os defeitos, antes não percebidos, mostram-se como monstros horrorosos que as crianças ima-ginam existir embaixo de suas camas. As brigas e pequenos desenten-

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dimentos tornam-se constantes e o amor, querendo ou não, perde-se no caminho. Quando menos percebi, o nós virou eu e ele. A cama em que dormíamos passou a ser pequena demais para dois corpos que se hostili-zavam e não queriam se tocar.

Abri a porta. Na sala, as malas esperavam pelo seu dono. Per-guntei-me onde ele poderia estar. Fui até o quarto. A cama ainda estava desarrumada, a porta entreaberta, o cheiro inconfundível do perfume dele ainda inundava o ambiente. Sinto sua presença antes mesmo de vê-lo. Quando para na minha frente, olhando-me com aqueles olhos profunda-mente verdes, engasguei e não soube o que dizer. Tinha planejado tudo enquanto trabalhava, pensado, inclusive, nas palavras para dizer para ele. Eu sabia o texto de cor e salteado, mas na hora quem disse, não saiu nada. Afinal de contas, não há nada mais a ser dito. Acabou! Mas mesmo assim, ele:

-- Você tinha razão. Acabou. Bandeira branca, amor. Estou indo embora. Noto em sua voz uma ironia refinada, ironia que, em outros tem-pos, até me deixava encantada, mas que agora me causa asco. É como se o mel virasse fel. Fecho os olhos e os ouvidos. Muda estava, muda fiquei. Percebo, porém, que ele está apanhando suas malas. Chego até a sentir o ranger das alças de couro ao se juntarem uma com a outra. O silêncio agora chega a ser insuportável. Até a respiração faz barulho no ar. A por-ta se abriu e só se fechou depois de longo tempo. Ele devia ter ficado a me olhar pelas costas de cima abaixo, para registrar a última imagem, a imagem que talvez o acompanhasse pelo resto da vida. Não me dou por vencida e nem por derrotada. Sempre que chove, porém, fica mais difícil lidar com as imagens vagas que ainda estão na memória. Pessoas não são bens adquiridos. Esses pensamentos ajudam a me confortar. A

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alma humana continua sendo um mistério. Essas malas nunca mais irão voltar para cá. Nélsom Bittencourt que me perdoe, mas só me resta dizer que: “Naquela cama está faltando ele, e a saudade dele está doendo em mim.

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Ana Paula Niespodzinski

3º Ano – Ensino Médio

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O TEMPO QUE NÃO TEM MAIS

Já não sei mais nada sobre o que pensam de mim. Já passaram dez anos e eu continuo aqui à espera de alguém que possa me ajudar. Sinto que minha vida está ruindo como muralhas ao chão. Logo eu que sempre tive aquela vida pacata, agora estou trancada em um quarto com paredes brancas, apenas com o silêncio que me restou. O tic-tac do relógio velho está até mais vibrante nesta solidão. Ouço ruídos que vem do corredor, penso que possa ser das solas de sapatos bem usados de médicos, que correm a todo instante de cá pra lá.

Mas a questão é como vim parar aqui? Quem me trouxe? E por quê? Isso eu não faço ideia, mas deve ter sido por um motivo transparente de que ninguém tem certeza do que fez.

O tempo está passando devagar, não vejo o sol, nem sinto seu calor ardente soprando em minha direção. Às vezes sinto algum tipo de calafrio, mas que vem e passa. Ouço pingos de chuva lá fora, o que é muito aconchegante em um dia como esse.

Meus dias são como se alguém tivesse pressionado o botão “re-play”, pois sempre se repete, dia após dia. Tudo é sempre tão igual, tão branco. Sinto-me tão presa! Minha vida nunca muda, nem para melhor, nem para pior. O que apenas posso dizer é que vivo intensamente em um grande filme de terror sem fim...

Agora já não tenho mais o tempo, a liberdade, já não posso mais ter para sempre!

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Aniele Simões

3º Ano – Ensino Médio

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FRANGO NA PANELA

Numa tarde de verão, em um vilarejo perto da cidade, descansava dona Joaquina, mulher de 89 anos de idade, em uma cadeira de balanço. Não conseguia descansar por causa de todo aquele barulho que ocorria na cidade. Ela já estava acostumada com os ruídos e rumores, tinham, porém, chegado as férias de verão, e, portanto, o barulho era insuportá-vel. Balançava a cadeira num vai e vem sem parar, matando tempo para não sentir a demora até o neto chegar. Ela havia-lhe pedido para comprar dois quilos de carne para o churrasco de domingo. Neste exato momento o pai do menino, Anselmo, e filho de dona Joaquina, chegou e começou a berrar:

- Mamãe, mamãe! A senhora viu Marquinhos hoje? E a mulher respondeu:

- Só vi de manhã, meu filho, por quê?

- Porque nós não conseguimos encontrá-lo em lugar algum.

Dona Joaquina desesperou-se. Já estava preocupada por ter man-dado Marquinhos bem naquele açougue onde o açougueiro era muito suspeito e rude. Vários assassinatos já haviam ocorrido pelas redondezas. A despeito de nonagenária, D. Joaquina ergueu-se num pulo e foi com filho procurar o neto.

Foram direto para o açougue. Quando abriram a porta, ouviram um grito. Uma mulher esbarrou neles toda ensanguentada e saiu em dis-parada porta afora. Logo atrás vinha Pedro, o açougueiro, com uma faca na mão, correndo atrás dela. Anselmo já sabia o que houve com Marqui-nhos. Pegou um pedaço de pau do lado de fora do açougue e bateu com

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tanta força na cabeça de Pedro que ambos, o pedaço de pau e a cabeça de Pedro partiram.

A mulher ensanguentada voltou segurando um porco, mais en-sanguentado ainda. A mulher, quando viu a cena, gritou e explicou, aos soluços, que o porco havia fugido quando ela ia matá-lo. Então, saiu atrás dele para pegá-lo. O açougueiro foi parar no pronto socorro e acabou fi-cando boas semanas em recuperação. Anselmo voltou para o seu roçado. Marquinhos chegou horas depois. Tinha ido caçar passarinhos e esquece-ra a carne da avó. E Dona Joaquina? Bem... D. Joaquina voltou para casa balançar-se na cadeira. No domingo teve frango na panela.

Bruno Gretter

3º Ano – Ensino Médio

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FELICIDADE ETERNA

Madrugada difícil aquela. Desde as três horas da manhã com dores no fígado. Levantei-me e a dor só aumentava. Meu ma-rido não queria saber o que se passava e ainda resmungava por eu não deixá-lo dormir. Até que uma hora a dor era insuportá-vel e pedi-lhe que me levasse até o hospital. O caminho foi longo. O bebê estava nascendo. Como não percebi, se já havia sentido as dores do meu outro filho? O que importava, porém, é que eu queria aque-le bebê nos meus braços. As dores só aumentavam e eu ansiava mais por sua chegada a cada contração. Muita força eu fiz até que ouvi:

- Parabéns, é uma linda menina.

Ouvindo-a chorar, não consegui acreditar que já tinha acabado. Parto é, com certeza, a pior parte. Tive que ficar no hospital e, como não esperava que ela nascesse até fevereiro, eu não havia prepara-do enxoval algum. Então, pedi ao meu marido que buscasse roupas para mim e para o bebê. Ele voltou com a pior mala que eu já vi na vida. As minhas roupas eram velhas e as do bebê, todas apertadas. A enfermeira disse:

- Mãe, você precisa comprar roupas melhores para o bebê.

Não preciso nem dizer que morri de vergonha. Com 23 anos eu não trabalhava desde os 15. Quando meu primeiro filho nasceu, meu ma-rido não me dava nenhum dinheiro, mas no fim eu sempre conseguia al-gum vendendo roupas. Fiquei chateada com a mala, pois as roupas que eu imaginava comprar eram as de uma princesinha. Logo ganhei alta, meu marido não pegou nenhum dia de folga para me ajudar com os afazeres

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da casa. Suas palavras foram

- O que é que vou ficar fazendo em casa?

Por causa do corte, sentar era difícil, mas tive que ser forte e estar super feliz com a minha princesa, loira como eu, de olhos verdes como o pai.

Logo ela já estaria andando e falando! Seria a alegria dos meus dias e do meu marido ainda mais! Até os três anos ela ficava comigo em casa, mas era hora de criá-la para o mundo, o tempo de escola começou.

Logo, logo ela iria pensar por conta própria, ter suas próprias opi-niões e, conforme ia crescendo, só ficava mais difícil de educá-la. Eu não queria que meu bebê crescesse, mas sabia que isso era inevitável.

Já não dava conta de pegá-la no colo, não mais a escutava chorar, o tempo que eu passava com este ser precioso só diminuía, mas o amor jamais.

Decidi voltar a estudar para conseguir dar aos meus filhos o con-forto que eles mereciam e merecem. Ela já estava no ensino médio e mui-ta coisa aconteceu, mas o que importa é que sempre tivemos uma ótima relação, mãe-filha. Sinto-me mais que mãe, sinto-me amiga dela, com quem ela conta para tudo em qualquer hora. Naquela madrugada difícil nasceu a minha felicidade eterna.

Camila Mocelin

3º Ano – Ensino Médio

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MUITO MAIS DO QUE FOLHAS

Diversos risos, diversos choros, diversas discussões, diversas rea-lizações. Diversos sentimentos, ansiedade, curiosidade, amor, desespero, com demonstrações mais que evidentes. Como algo tão simples que pa-rece ser tão insignificante, tão frágil que se degrada tão facilmente, pode ter imensa importância? Era algo que eu definitivamente não conseguia compreender.

Minha real dúvida sobre isso surgiu quando eu tinha três anos de idade. Minha mãe, aquela que me colocou no mundo, aquela linda mulher, a qual eu admirava mais que tudo, estava ali, em frente a uma folha de papel, chorando compulsivamente. A cada lágrima que escorria por sua face, a cada soluço, a cada olhar que implorava desesperadamen-te por compaixão, minha dor aumentava. Eu sentia raiva daquela folha branca rabiscada, uma angústia tomava conta de mim, algo incompreen-sível e indescritível.

Outro dia, acordo com uma gargalhada. Normalmente sou o pri-meiro a levantar, mas nessa manhã, alguém havia sido mais rápido do que eu. Era uma gargalhada familiar, que estava sendo o centro das atenções naquele momento. Então, tratei logo de abrir o berreiro para anunciar que estava acordado. Surpreendo-me quando, pela porta do meu quarto, entra meu avô. Lá estava ele, com aquele sorriso contagiante e aquele bom humor matinal que só poderia vir de meu amado velhinho. Mas qual o motivo da gargalhada? Em suas mãos, um maço de folhas, essas agora, coloridas. Pelo visto, essas mesmas que haviam causado a tristeza do meu avô. Aquilo que antes eu não entendia, agora fazia menos sentido ainda.

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Lembro-me vagamente de quando meus pais se separaram. Mi-nha mãe implorava para que meu pai escrevesse algo naquele papel, no-vamente não entendia nada. Eles tiveram uma discussão horrível naquele dia, e, depois daquilo, ele nunca mais voltou. Eu tentava juntar os acon-tecimentos, procurava de todas as formas entender a lógica, mas simples-mente não havia lógica alguma.

Toda vez que eu recebia uma folha de papel eu virarava-a de todas as formas, amassava, rabiscava, mas não sentia nada. Não sentia vontade de rir, muito menos de chorar, aquilo não significava nada. Eu apenas sentia curiosidade, uma vontade de descobrir o mistério que estava por trás de tudo isso.

Passados alguns anos, comecei a ir para a escola e foi a partir de lá que tudo começou a se tornar mais claro. Descobri que mensagens podiam ser transmitidas através desses tesouros e foi através delas que germinou minha preciosa semente.

Os livros tornaram-me uma pessoa mais culta e mostraram-me como posso encontrar a felicidade a partir de outras formas. Eles tiraram de mim a ignorância, assim como o vento varre a poeira. Eles ampliaram minha visão de mundo e instruíram-me de forma surpreendente.

Caroline Gonçalves

3º Ano – Ensino Médio

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UMA VOLTA A MAIS

Era o melhor som de todos. Aquelas notas suaves, expressavam com precisão o que eu sentia. Quando ouvia o álbum, parecia que meus problemas acabavam por alguns instantes. O CD era do meu tio e só tinha a oportunidade de ouvir quando saíamos de carro.

Meus pais morreram ano passado em um grave acidente de carro. Sobrevivi, mas guardo as sequelas até hoje em meu corpo e na minha mente.

Passei a morar com meus tios. No início me tratavam muito bem, porém, com o passar do tempo, mostraram quem realmente eram e me colocaram para trabalhar em um lugar fechado, escuro, úmido onde eu precisava costurar uma quantia enorme de camisas por dia. Tudo para meus tios venderem na loja da família. Eu não ganhava nada em troca, apenas trabalhava e em condições precárias. Quando a noite chegava, tinha um momento para realizar atividades escolares.

Minha vida era chata, e meus tios pareciam não se importar co-migo. Ouvi muitas palavras duras. Nunca ganhei um conselho em mo-mentos difíceis. Tive uma experiência única nas férias de verão de 2001. Meus tios me levaram para a praia. Oh, que lugar maravilhoso! Igual nunca mais hei de ver. Passamos alguns dias lá. Quando voltamos, meu tio notou uma queda acentuada na produção de camisas. Com fúria co-locou a culpa toda em minhas costas, jurando nunca mais me levar junto para viajar.

Os vizinhos sabiam das barbaridades que cometiam comigo. Mas, quando passavam por eles, me cumprimentavam como se nada soubes-

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sem, ouvissem ou testemunhassem, tamanho era o medo de meu tio.

Meu momento de diversão estava nas saídas de carro quando ía-mos comprar tecido para as camisas e eu podia ouvir o CD da minha ban-da favorita. Era mágico! Como as músicas conseguiam expressar tudo o que eu sentia! Nesses momentos eu só pensava, mas não falava.

Esses curtos momentos, dentro do antigo Chevette do meu tio, podiam ser eternizados. Nada mais em minha vida foi tão brilhante. Que-ria sempre dar uma volta a mais de carro. Quando o carro parava na ga-ragem, e o rádio silenciava, sabia que a tristeza e a mesmice voltavam.

Daniela Pauli

3º Ano – Ensino Médio

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DO INFERNO AO PARAÍSO

Era uma tarde fria, final de Julho. As pequenas gotas que restaram da chuva escorriam pela minha janela, enquanto eu presenciava a noite escura tomar o lugar do dia chuvoso e triste. O meu dia não tinha sido dos melhores. Tudo havia acontecido de um modo estranho e inesperado.

O meu dia começou parecido com todos os outros, chatos e en-tediantes. Mas assim que peguei a carta que o correio tinha acabado de deixar em minha casa, olhei para o nome do remetente e percebi que meu dia seria bem pior que os outros. Comecei a ler a carta e, já nas primeiras linhas, percebi que seria difícil conseguir ler até o final. A notícia que a carta trazia era de que a mãe do Gustavo, amor da minha vida de adoles-cência, que amo até hoje, havia falecido e que ele iria se mudar.

Não tive coragem de ler toda a carta de uma só vez. Não sabia as surpresas que ela poderia trazer e não aguentaria receber tantas notícias ruins e sofrer por recordar de todos os momentos felizes ao lado dele e de tudo o que havíamos passando e enfrentado juntos. Deixei a carta em cima da mesa e voltei para o meu quarto, na esperança de dormir nova-mente e acordar e perceber que tudo aquilo era apenas um pesadelo, mais isso não aconteceu. Aquilo tudo era mais real do que eu poderia imaginar.

Passei o dia todo em minha cama tentando dormir. Virava de um lado para o outro, mas tudo o que vinha na minha mente, eram os mo-mentos com meu amor, o quanto ele deveria estar mal com a morte de sua mãe. Mas o que mais me agoniava era o fato de não saber para onde e com quem meu amor iria se mudar.

À noite, ainda mais desconsolada, escutei o soar da campainha.

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Fui em direção à porta, sem vontade de conversar e conferir quem mais poderia estar ali a me estragar o dia. Minha visão estava embaralhada. Eu olhava timidamente para o chão. Fui, porém, suspendendo o olhar, aos poucos, até esbarrar na face de um homem forte, bonito, loiro. Era quem eu menos podia imaginar: Gustavo. Ele próprio, inteirinho na mi-nha frente com cor, cheiro e calor a me envolver toda em seus braços. Fui do inferno ao paraíso em segundos e de lá não saí mais até hoje.

Débora Becker

3º Ano – Ensino Médio

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DESTINOS NÃO SE CONSTROEM, APENAS SE TECEM

Havia um menino com poucos amigos, porém, feliz do jeito que era. Não se envolvia muito com garotas, talvez porque tinha vergonha, ou medo.

Tinha poucos amigos, porém, verdadeiros.

Certa feita, trocou de escola e tudo mudou. Apaixonou-se pela primeira vez. Era algo impossível de se tornar realidade, felizmente não. Normalmente meninos se apaixonam pelas meninas mais populares. Normal! Foi um ano cheio de decepções.

Seu segundo ano no colégio novo foi um tanto quanto melhor. Tudo estava do mesmo jeito, mas desta vez, ele conheceu uma pessoa especial. Ela era linda, mais linda que as demais, era a flor da escola, quiçá, da cidade inteira.. Ela tinha algo que as outras não tinham. Ela era especial. Tudo começou com um riscando o caderno do outro. Logo depois começaram a trocar mensagens, e aí veio o primeiro “eu te amo”. A partir dali, eles perceberam que tinham uma história para escrever.

O tempo passou e tudo foi ficando melhor, todos os dias os dois brigavam e faziam cenas de ciúme. Davam as melhores risadas e troca-vam segredos. Ali crescia o amor verdadeiro.

Completando mais ou menos dez meses de amizade, algo diferen-te começou a acontecer. Como assim? Melhores amigos uma vez, melho-res amigos para sempre. É a lei da vida. Ou será que não? Nada parecido já havia se passado pelas suas cabeças. Tudo foi ficando confuso e ao

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mesmo tempo bom.

Enfim, chegou o dia do primeiro beijo. Um filme passando na ca-beça. Todas as lembranças passando em um segundo pelos olhos. Todas as coisas que ouviram se tornando realidade.

Esse foi, então, o marco inicial para um amor eterno. As junções de duas almas que, depois de muito tempo, perdidas, entrelaçam seus destinos e partem para uma jornada sem fim. Isso é apenas o início de uma vida, que está escrita em um pedaço de papel. A minha história.

Luis Felipe Coelho

3º Ano – Ensino Médio

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O ABRAÇO ESQUECIDO

O sol brilhava muito naquele dia, quente, forte e aconchegante como um abraço de mãe. Ela estava radiante como sempre. Dentro de um vestidinho de babados, um sorriso enorme emoldurado por covinhas. Brincava no balanço e seus cachos castanhos iguaizinhos aos meus, ba-lançavam-se junto ao vento.

Vê-la ali feliz e sem preocupação alguma, lembra-me de quando conheci seu pai. Éramos jovens apaixonados e tínhamos certeza de que o mundo nos pertencia.

As primaveras passavam e junto às flores de nosso quintal, cres-cia dentro de nós o sentimento. Sabíamos que esse era o caminho certo a seguir. Um ao lado do outro, um confiando no outro. Acima de tudo, respeitando-nos mutuamente e amando intensamente.

Brigávamos de vez em quando também. Ele era tão teimoso! E eu sempre muito apressada, queria tudo pronto e resolvido na hora. Mas sempre nos entendíamos, e ele, sentado em nosso sofá já rasgado, sorriso bobo, emoldurado por covinhas, dizia: “Calma, temos todo o tempo do mundo!”.

Meses depois, descobri que estava grávida e contei-lhe a novida-de quando chegou do trabalho. O sol brilhava muito naquele tarde. Foi um dos dias mais felizes de nossas vidas! Costumavam dizer que éramos sortudos.

Porém, de repente, toda a sorte acabou.

Acidente de carro.

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Ele foi embora e levou consigo todo o tempo do mundo que tínha-mos, todos os planos, toda a sorte e boa parte do meu coração. O destino havia brincado comigo e me destruiu por inteiro.

Agora, anos depois, estou sentada em um banco, com lágrimas nos olhos e desejando dar um abraço quente, forte e aconchegante como o sol nessa menininha. Minha filha. Que está chamando outra mulher de mãe.

Eloisa Marschall

3º Ano – Ensino Médio

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SONHO MILITAR

Rogério tinha um sonho desde que criança: entrar para o exército, servir seu país com muita honra e disciplina, ser um arquétipo para a so-ciedade!

Começa, então, seu ano letivo. Estava no terceiro ano do ensino médio, revendo seus amigos depois das férias, botando todo aquele papo em dia e tudo mais.

Foi aí que ele conheceu uma garota pela qual sentiu o que nunca havia sentido antes. Era a Estela, aluna nova, a mais linda da sala.

Rogério passou a conversar com ela com frequência. Trocavam mensagens o dia todo. Conforme o tempo passava, ela também foi fican-do apaixonada por ele.

Depois de uma semana já estavam namorando. Rogério não que-ria nada muito sério, pois, se fosse seguir sua carreira militar, não iria ser fácil ficar junto dela a distância.

Faltavam dois meses para o alistamento e Rogério estava confu-so. Não sabia o que fazer. Então, chegou à conclusão de que deveriam continuar ficando juntos mesmo estando distantes um do outro. Ela con-cordou.

Rogério alista-se e é chamado para servir. Ele aceitou na hora, depois de ter conversado muito tempo com sua namorada.

Após algum tempo vai para o batalhão e começa sua brilhante carreira militar. Sempre que podia ia ver sua esposa e seu filho. Viveram

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felizes para sempre mesmo estando longe um do outro boa parte do tem-po.

Felipe Preisler

3º Ano – Ensino Médio

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NOITES CHUVOSAS

Eu estou aqui no meu escritório em Ribeirão Feliz para contar uma história envolvendo Junqueira e sua esposa Cláudia Maciel, como gostava de ser chamada quando se referia a ela. Junqueira queria muito se casar, mas em Ribeirão Feliz não conseguiu.

Resolve então viajar para Campo Alegre onde ele conheceria Cláudia. Cláudia Maciel era uma ex-famosa atriz em atividade. Estava literalmente mendigando participações em peças de péssima qualidade. Bem diferente do início de carreira, agora ela encena uma peça intitulada Corrida bate o ponto.

No Teatro do Moe, um teatro de baixa categoria, para não dizer horrível, bem diferente dos que ela estivera acostumada a atuar no Rio de Janeiro, na Bélgica e Madri. Na plateia agora há apenas dez pessoas para aplaudir. Nove delas saem falando que aquilo era teatro de terça, elenco de quarta, e peça de quinta, categoria.

Só a defendia mesmo o Junqueira que estava encantado pela moça. Ele rasgou elogios somente a Cláudia. Os dois conversam, e Cláu-dia numa tentativa de mudar de vida, janta-se com ele e decidem se casar. O casamento dos dois parou Ribeirão, pois ele era o homem mais rico.

Junqueira supostamente era a pessoa mais bem sucedida da ci-dade, agora ainda mais com seu casamento com Cláudia. Para ele, isso era motivo de muito orgulho. Junqueira era respeitado entre os outros grandoes de negócio da região, entre os quais ele me incluía. Junqueira, porém, além da forte paixão, não beijara ainda e nada fizera com sua mulher. Quando ela queria ficar com ele, ele sempre dava desculpas, in-ventava viagens de trabalho e trabalho extra assim fugia dela.

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O tempo é o senhor da verdade e qual não foi a decepção. Cláu-dia, a Cláudia Maciel descobre que Junqueira era gay. Inquirido, ele nega peremptoriamente. Depois, cria coragem, dá uma de macho e resolve jogar a toalha. Era homossexual sim, e daí! Casei com você por questão de status. Cláudia que não queria viver na pobreza, bateu de ombros e conformou-se consigo mesma. Melhor assim do que viver por aí pelas ruelas da vida, lutando pelo pão na mesa! Era uma forma, ao menos, de livrar a cara do tapa! Outros fizeram isso também, por que que ela não!.

Junqueira, tirando os serviços de cama, era um cavalheiro para sua diva. Dava-lhe de tudo. Constrói, inclusive, uma casa na praia para morarem definitivamente. Mas que inferno. Lá ela conheceu o Mangua-ça, pedreiro por quem se apaixonara.

Depois de muitos encontros furtivos, Manguaça e Cláudia tra-mam um plano para se livrarem de Junqueira e ficar com sua fortuna..

Em uma noite chuvosa, Cláudia convence o maridão a ir apreciar a noite na varanda de sua casa em final de construção. Neste ínterim, Manguaça, à sorrelfa, dispara contra o Junqueira uma saraivada de tiros.

Atormentados, os assassinos não conseguem viver em paz juntos. Numa madrugada qualquer, Manguaça sumiu na sua moto CG 125, jor-rando fumaça pelo escape. Cláudia, foi ao seu encalce, deu-lhe três tiros e, conforme dizem, juntou-se a uma caravana de ciganos espanhóis para escapar da polícia. Hoje lê a sorte na Praça da República.

Gabriel Liscovski Jarecki

3º Ano – Ensino Médio

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ALÉM DO REFLEXO

Já era noite. Chovia muito e a água escorria na janela do quarto de Ana, assim como as lágrimas escorriam de seus olhos. Ana encontrava-se em pé defronte ao espelho, analisando-se, assim como fazia todas as noites desde que completara dezessete anos. Ela tinha o rosto quadrado, grandes olhos verdes, sardas sobre o nariz e lábios carnudos. Seus cabe-los compridos em movimento desciam até os seus seios. Sua pele clara se destacava entre os seus negros cachos. Ana era assim uma menina incri-velmente bonita, porém, desde seu último aniversário algo a preocupava.

Segundo a tradição de sua família, todas as moças ao completa-rem dezessete anos deveriam se casar. Ana já tinha quase dezoito, resta-va-lhe apenas cinco meses e nenhum pretendente havia se aproximado. Isso havia tirado a alegria da moça que antes não via “tempo ruim”.

Ana acreditava que não estava dentro dos padrões de beleza acei-tos pela sociedade. Acreditava que era gorda e por isso ninguém lhe havia pedido a mão. Desde então, ela seguiu várias táticas para emagrecer, mas nada que ela fazia parecia dar o resultado esperado. Na verdade a única coisa que ela realmente conseguiu foi dois meses internada em um quarto de hospital. O que ela não via, aos olhos dos outros era bem visível. Ana tinha um metro e setenta centímetros e pesava apenas trinta e cinco qui-los. Ela estava com anorexia, uma doença causada pela perda excessiva de peso, estado em que a doente desesperadamente busca dietas e pratica muitos exercícios físicos para emagrecer mesmo sem necessidade. Ana, apesar dos seus ossos nítidos através de sua pálida pele, ao se olhar no espelho, não via nada a mais que suas falsas gordurinhas.

A doença tornou-a mais triste e deprimente. Ana estava fraca e

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mal conseguia andar. Foi privada de fazer coisas que anteriormente ama-va fazer. Passava horas no seu quarto, sozinha, não queria que ninguém a visse, pois acreditava que os outros iriam rir ao vê-la “fora de forma”. Ana ao mesmo tempo em que queria sua liberdade novamente, não con-seguia largar o vício... O vício pela busca incessante da beleza ideal. Seus pais queriam muito que ela se tratasse, mas Ana nem ao menos os escutava.

Numa noite de tempestade, Ana com as mãos sobre o rosto, ten-tando aliviar a sua dor, ouviu:

-- Minha cara amiga, qual é o motivo para tanto choro, pergun-tou algo ou alguém que ela, com os olhos inchados, não conseguiu ver. Assustada, pois sabia que havia trancado a porta como de costume, Ana, entre soluços, perguntou:

- Quem está aí?

- Aqui, sou eu! Disse o espelho. Ana então viu que o imenso es-pelho, no qual ela se olhava todas as noites estava de fato falando com ela. Ela não conseguiu pronunciar nenhuma palavra, mas o espelho a questionou novamente:

-- Por que choras tanto, minha cara? Ana a princípio se conteve, mas logo respondeu:

-- Meu aniversário de dezoito anos se aproxima, e eu ainda não me casei, pois sou gorda. Já fiz várias tentativas para emagrecer, mas sempre que me olho me sinto feia. Preciso chegar ao padrão aceito na sociedade, pois caso contrário nunca irei me casar. E o espelho:

-- Ana, a cada passo que você dá em direção aquilo que você acre-

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dita ser o ideal, você se afasta mais do seu verdadeiro eu.

-- Não entendo. Respondeu a menina, secando as lágrimas com a manga do seu moletom. Então o espelho prosseguiu:

- Desde que você vem buscando ser perfeita, esqueceu-se do que realmente você precisa e do que a faz feliz. Há tantas pessoas que a amam. Por que você precisa ser aceita pela sociedade? O amor de seus pais, amigos e familiares já não bastam? ...Você afastou todos eles de você. E quando foi a última vez que você andou a cavalo? Que você saiu com suas amigas? Você é linda Ana e vem há tempos se destruindo por acreditar em algo que você criou em sua cabeça e que na verdade não tem nenhum fundamento. Você não é gorda e nem precisa ser aceita pela sociedade. O que você precisa é ser você mesma. Sua beleza vai além do que você vê em seu reflexo.

Ana franziu a testa e começou a pensar. Passaram-se dez minutos no mais profundo silêncio. Então, ela olhou para o espelho e sorriu como se dissesse “muito obrigada”, mas logo percebeu que não havia mais es-pelho falante, apenas ela em pé no meio do seu quarto.

Ana nunca soube se naquele dia havia sonhado ou havia de fato falado com o seu espelho, só sabia que agradeceria sempre por aquele dia, pois logo que terminara de “falar” com o seu espelho, foi a passos lentos, pois estava muito fraca para correr, até a sala onde seus pais se encontravam. Pediu-lhes que a levassem a um clínica para começar o tratamento.

Sua doença lhe mostrou o verdadeiro valor da vida e lhe ensinou que o importante não é ser aceita pela sociedade, mas sim ser aceita por si mesma. Ana conseguiu seguir a tradição de sua família, pois casara três

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dias antes do seu décimo nono aniversário e agora vive uma tranquila vida ao lado das pessoas que a amam e a fazem feliz.

Geisiane Camile Rosá

3º Ano – Ensino Médio

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DE MÃE A MULHER

O bebê nunca parava de chorar, a vida de Ana Luísa resumia-se ao trabalho e à filha. Não era mulher, era mãe. Pedro Antônio, o marido era um adúltero; a decepção, sua companheira.

Decidiu mudar. A filha cresceu, o marido, ela trocou. Cos-turou uma saia, rodopiava na frente do espelho sentindo-se mulher nova-mente. A felicidade total não foi, porém, duradoura. Logo, logo tudo vol-taria quase ao estado anterior: trabalho exaustivo, novo adultério, nova gravidez.

“Você já tem um casamento horrível, agora isso?”, foi o que ouviu do pai. “Você vai tirar essa coisa?”, ouviu do melhor amigo.

Chorou por três dias e três noites. O trauma da primeira gestação tirou todo o encanto da maternidade. Não, não! Não podia concordar com nenhum atentado contra a vida! Iria dar à luz a mais uma criança sim. Afinal, por que não haveria de fazê-lo?! Isto posto, tomou um banho, pôs uma roupa confortável, abriu a janela, contemplou a natureza e voltou a sorrir.

O tempo se encarregou das mudanças, a filha cresceu, o marido, ela trocou de novo, a felicidade agora morava em sua casa mais uma vez. Costurou um novo vestido, rodopiou novamente na frente do espelho, mandou o mundo às favas. Sentia-se mulher, sentia-se mãe ao lado de Angélica e Cristina. Angélica é formada em artes plásticas. Casou com um tibetano, chegado a meditações profundas. Vivem correndo o mun-do com exposições. Cristina é nutricionista, proprietária de uma rede de confeitarias no eixo Rio-São Paulo.

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Ana Luísa, apesar de aposentada, trabalha como assistente social em uma ONG ligada a uma igreja, que dá assistência a mulheres vítimas de adultério.

Giovanna Fendrich Baggio Guerra

3º Ano – Ensino Médio

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SLENDER MAN

Slender, um homem alto, de face... Ele não tem face alguma, ape-nas algo que parece ser um pano branco em sua cara. Mesmo assim, por trás daquele pano, se aquilo realmente for um pano, não existia nariz, boca, olhos, muito menos orelhas ou cabelo. Usava um elegante terno preto com uma gravata vermelha, suas mãos quase se arrastando no chão. Por si só, ele assemelhava-se a uma mistura de um homem com uma árvore, por ter mãos e pés com formato semelhante ao de raízes.

Dizem que ele vive em uma floresta de sequóias no norte da Lui-siana – EUA. Outros falam que o Slender Man é apenas uma lenda urba-na, com escopo de assustar crianças que gostam de se aventurar na noite. Ainda hoje pessoas juram tê-lo visto ou até mesmo ter tido contato com o Slender. Um dos casos mais conhecidos é o do guarda-florestal John, que trabalhava no parque nacional de sequóias gigantes, o suposto lugar onde vive o Slender.

Em um dia normal de trabalho, John, estava em sua guarita, uma torre de observação, quando inesperadamente ele vê sua mulher e sua filha aproximando-se do seu local de trabalho. Foi uma ótima surpresa para John. Afinal, sua mulher necessitara deixar Jéssica, sua filha, com ele até o final do seu turno, que acabaria em quatro horas. A esposa de John deixa o local depois de 15 minutos. Jéssica, por sua vez, fica brin-cando em um lugar reservado para crianças. Decorrido um período de hora e pouco, John recebe uma ligação informando que havia caçadores no parque. John fica confuso porque tem que fazer a ronda para expulsar os intrusos, mas não tem com quem deixar Jéssica. Teve uma ideia: pe-diu para a filha ficar dentro da guarita e corre ver o que esta acontecen-

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do. Jéssica não vê problema em brincar mais um pouco, mesmo seu pai pedindo para não sair da guarita.

Após 45 minutos John volta. Já era noite. John procura Jéssica, mas não a encontra. Neste instante, ele avista um homem de terno com uma face totalmente branca. Era o Slender com sua filha debaixo dos enormes braços. John desesperado chama seu amigo Scot, que era o guarda do próximo turno, que logo chamou a polícia que apareceu com um comando de operação especial e desmascaram o monstro que tanto medo tinha metido no povo da redondeza.

O monstro nada mais era do que um velho combatente de guerra, psicótico, que habitava a torre de uma templo abandonado, às margens do Mississipi.

Nas noites de lua cheia, Slender saía para cumprir a sua sina, numa espécie de versão americana do lobisomem, que foi, durante muito tempo, história preferida das rodas ao pé do fogão, nas noites frias de inverno, nesse imenso sertão brasileiro.

Henrique Nicolau Grein

3º Ano – Ensino Médio

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REALIZAR UM SONHO NEM SEMPRE É GRATIFICANTE

“Um dia vocês vão ver”, dizia Julieta para as colegas de classe que riam de sua resposta, quando foi perguntada pelo professor o que desejava ser no futuro. Ela exclamava sem titubear.

Julieta estava no seu terceiro ano do ensino médio, era alta, tinha longos cabelos loiros, olhos claros, a pele, extremamente lisa, bri-lhava feito maçã polida. Apesar da bela aparência, Julieta não tinha mui-tos amigos. Era fechada para relações, boa parte disso se devia à sua personalidade forte e ao modo ríspido com que tratava as pessoas que duvidavam de seu futuro.

No ano seguinte ingressou na universidade. Lá conheceu Juni-nho, um garoto acanhado, nenhum modelo, mas com uma simpatia con-tagiante com poder de abrir as celas em que o coração de Julieta estava trancado. Foram-se aproximando, viraram amigos e, sem se darem conta, já estavam aos beijos pelos cantos.

Passado algum tempo, Julieta decidiu pôr a mãe a par de seu rela-cionamento com Juninho. “Está maluca, menina? Acha que vai conseguir realizar seu sonho com um namorado tomando seu tempo, justo na época em que ele é mais escasso? Quero que se afaste dele!”

Julieta viu que sua mãe não estava aberta a uma discussão sobre o assunto. Decidiu ouvir, mas sabia o que tinha que fazer naquele exato momento. Pegou seu celular e ligou para Juninho que, ao atender, foi es-magado por um caminhão de palavras de Julieta, que contava o que deci-dira. Juninho assentiu, pensou e respondeu: “nenhum sonho é realmente

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um sonho, quando não se tem com quem compartilhá-lo”.

Os anos se passaram e Julieta, enfim, havia-se formado. Estava em seus primeiros trabalhos como atriz. Quando se deu conta, já estava muito requisitada e famosa.

Em uma visita à casa de sua mãe, Julieta, andando sozinha pela cidade, encontrou um grupo de ex-colegas de classe e, ao vê-las, não pôde deixar de dizer: “O dia em que eu me referiria no tempo da escola chegou.

Elas olhavam-se intrigadas e falaram: “Você não parece feliz”. Julieta hesitou e decidiu não responder, pois sabia que aquilo era ver-dade. Apenas mergulhou em seus pensamentos “Falta alguém para eu compartilhar a felicidade desse sonho realizado”.

Ian Patrick Soranzo da Silva

3º Ano – Ensino Médio

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CADEIRA DE BALANÇO

Era uma vez uma família que como qualquer outra possuía suas histórias. O pai, um homem de negócios, viajava muito, deixando sua família sozinha por longo período de tempo. Foi em uma dessas via-gens em que tudo ocorreu. Passando pouco tempo depois de sua última viagem, Olavo recebeu um telegrama, avisando-lhe que deveria realizar mais uma viagem à corte.

Poucos dias após sua saída, Olavo estava de volta, mas algo es-tranho estava acontecendo. Amélia parecia ignorar praticamente tudo o que o marido dizia, mas não seus filhos, que ainda pareciam conversar com ele, mas somente quando não havia ninguém por perto

Em uma noite, Amélia acordou para beber água e observou os pertences do marido jogados ao chão. A cadeira de balanço oscilava em um ritmo alucinante e o telegrama, que ele havia recebido, estava aberto sobre a mesa. A mulher, assustada, ouviu uma mistura de uivos de raiva e choro e, de repente, tudo cessou. Ela, ainda assustada com tal situação, voltou para o seu quarto e logo adormeceu

Amélia acordou em um lindo campo rodeado com flores de be-leza estonteante e ao longe avistou seu amado. Correram em direção aos braços um do outro e, quando se encontraram a emoção tomou conta. Foi quando Olavo perguntou à amada se era verdade que ele havia falecido. Amélia meneou a cabeça confirmando. Ela acordou no outro dia e teve que dar a notícia a seus filhos que riam em ver a cadeira balançando. Eles não queriam acreditar, mas, com passar do tempo, foram acreditando, pois seu pai falava que sempre iria estar por perto para protegê-los. Eles sabiam que o pai estava ali por perto, porque a cadeira de balanço estava

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lá... Balançando.

Juliano Jorge Vieira Diener Filho

3º Ano – Ensino Médio

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UM SONHO ALÉM DA JANELA

Levantei cedo e corri para a janela, assim como fazia todos os dias. Hoje o dia amanheceu mais belo, e a casa acordou mais sorridente. Quando digo casa, estou referindo-me ao orfanato de dona Júlia, que até então é a minha casa, onde há sempre um banho quente nos dias frios e uma janta saborosa após um longo dia de aula.

Não que minha vida não seja boa, pelo contrário, sou muito feliz aqui, mas como quase toda criança, sinto falta de um pai e uma mãe.

Os dias passam, e nesses meus nove anos de vida, permanece for-te a minha esperança de algum dia ser adotada. Minha vontade de ter um lar de verdade, com pais carinhosos cuidando de mim é tão grande que minha fé não acaba.

O fato de eu sempre correr para a janela é simples. Com a bela vista que se tem do parque, fico imaginando como seria a sensação de estar sentada em uma balança, brincando com uma família.

Penso em momentos felizes. Tenho uma imaginação tão fértil que, às vezes, penso em coisas bobas que podemos fazer juntos. Brinca-deiras. Momentos que realmente possamos transmitir felicidade. Penso em poder sentir medo, pois sei que vou receber proteção. Imagino um quarto cor-de-rosa só para mim ou um que eu possa dividi-lo com uma irmã. Na verdade minha vontade mesmo é viver em uma família unida, repleta de amor e carinho.

Mas o futuro é tão incerto, que não é como a gente deseja. O meu sonho de ter uma família talvez algum dia chegue. Enquanto isso não acontecer, porém, vou continuar sonhando, vou ficar olhando pela janela.

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Letícia da Cruz

3º Ano – Ensino Médio

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POR TRÁS DA PORTA

Eram dias frios. Num deles deparo-me comigo mesmo sentado ao pé da escada. Era uma criança ainda, uma criança que cobiçava conhe-cer o mundo. Vejo minha pobre família. Nada tinha, a não ser um velho rancho onde meu pai concertava velharias e uma humilde casa. Todos os dias eu ia até a casa de Seu Manuel, um vaqueiro rico. Ajudava-o nos afa-zeres da fazenda. Em troca ele dava-me a comida do mês e uns trocados para que eu comprasse doces para mim e meus irmãos.

Toda aquela monotonia, porém, deixava-me angustiado. Precisa-va sair e conhecer o que havia para além das fazendas do Seu Manuel.

Seu Manuel morava em um casarão suntuoso, desses de coronel de fazenda, como no velho Goiás, Minas ou Pernambuco. Nunca pude pôr meus pés por lá, mas era meu sonho. O casarão do seu Manuel en-chia minha imaginação e dava-me a ideia de riqueza, pois era tão grande e belo e escondia tantos segredos, segundo me contaram alguns velhos vaqueiros.

Houve, porém um dia em que entrei na casa a mando da gover-nanta, que me apressava para levar algumas toalhas lá para dentro. Ah, o casarão do Seu Manuel era muito mais do que eu podia imaginar. Estava paralisado diante de tanta beleza. Deixei as toalhas em cima de um ban-co. Uma porta extremamente grande, toda trabalhada, desproporcional ao resto da casa, chamou-me a atenção. Entrei devagar, fazendo o mínimo de barulho possível. Os minutos que se seguiram foram tão marcantes e chocantes que é melhor guardar essa lembrança para outra ocasião. Fique sabendo que a partir desse dia nuca mais fui o mesmo.

Cheguei a casa e corri contar à mamãe. Eu precisava daquele

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monte de papéis encadernados que Seu Manuel tinha detrás daquela por-ta. Minha mãe era muito ignorante, não sabia nem ler, sempre que eu falava da grande porta, ela mandava-me lavar a louça e resmungava o mesmo discurso de que “isso não era coisa de que meninos como eu pre-cisam”.

O frio é intenso, as flores da primavera ainda não desabrocharam, o sol forte se foi, o que vejo são árvores despidas de suas folhas, que se encontram no chão, formando um manto marrom. Daí para frente, eu ia ver a grande porta todos os dias. Sabedor dos meus interesses, o velho me ensinou a entender os livros. Começara, então, minha viagem pelo mundo. Passei a ler, ou melhor, devorar muitos livros da grande sala. Era como se meus olhos tivessem finalmente conseguido enxergar o mundo, e não apenas vê-lo. Certo dia, eu estava ao pé da escada novamente, quando minha mãe recebe a notícia de que Seu Manuel falecera. Nessa hora as portas do mundo se fecharam para mim. Ficava triste todos os dias. A viagem acabou. Eu não mais enxergava, mas sonhava. A casa do Seu Manuel não tinha herdeiro. Foi quando um homem todo engra-vatado bateu à porta da nossa casa, dizendo que havia um testamento, e meu nome estava nele. Hoje, passados anos, deparo-me surpreendo-me, sentado agora naquela biblioteca, a mesma onde aprendi a ver o mundo. Não sou mais uma criança, sou um velho, mas que nunca deixou de ser aquele menino ambicioso no meio da ignorância buscando sempre uma nova história. Agora só restaram os livros e a grande porta. Eu, o menino velho, estou escrevendo outra história, em outra biblioteca.

Letícia Proença dos Santos

3º Ano – Ensino Médio

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NO JARDIM DOS SONHOS

No jardim florido da primavera, porém ainda com aquele restinho de frio de inverno, estou eu sentada na balança de madeira desgastada pelo uso. Ali brincaram tantas crianças! Observo meus velhos e novos amigos partirem, indo para uma vida nova, para um lugar que elas espe-ram ser felizes. Elas estão voando para os braços de uma família.

Vivo no orfanato New Life desde meus três anos. Hoje, com de-zessete anos ainda, não entendo a razão de minha mãe ter me deixado aqui. As irmãs do orfanato disseram que era porque ela não teria como me criar. As irmãs sempre me ensinaram a ter uma boa cabeça, uma boa conduta, com bons princípios e sempre tratar as pessoas com muito amor. A irmã Lucimar é como se fosse uma mãe para mim, foi ela que cuidou de mim quando mais precisava, quando era apenas uma criança assusta-da. Tenho vagas lembranças da minha mãe, sei que ela era muito amorosa e que foi doloroso me deixar aqui. O que me conforta é a foto que tenho dela, com seu olhar brilhante, sorriso que encanta qualquer um. Seu rosto meigo que me conhece toda vez que olho sua linda foto. Meu pai, sei que era um homem bom, e que estava sempre apoiando e amando minha mãe. Até agora, porém não sei se tenho irmãos. Tenho no orfanato irmãos de coração.

Daqui dez dias faço dezoito anos e serei liberada do orfanato.

Ao sair do meu antigo abrigo, o vento sopra meus cabelos, minha boca seca, um corpo magricelo já não consegue aguentar tanta coisa. Tenho que saber de onde vim. Preciso reencontrar minha origem nova-mente. Como sei que não conseguiria suportar tudo isso sozinha, minha segunda mãe, irmã Lucimar me ajuda.

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Arrumo um emprego, vago pela cidade de um lado para outro, alimentando a esperança de encontrar um futuro melhor. Sinto que meu lugar é aqui, perto da minha família e não irei desistir. À semelhança dos meus antigos amigos, vou à procura do que me faz feliz. Não sei exata-mente onde mora a felicidade e nem muito menos, minha família. Tenho apenas os dados que Lucimar conseguiu, mas faço o que for preciso. No fim das contas, espero, hei de estar naquele friozinho do inverno sentada na balança de madeira, abraçada e sendo amada pelos meus pais.

Luana Vidal

3º Ano – Ensino Médio

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QUARTO VIZINHO

Já é fim de noite, dormir não consigo. Vou até o saguão que ficava cerca de seis andares abaixo, degraus acarpetados e corrimão em madeira foi tudo que consegui enxergar naquele tom a meia luz.

Enfim acabo de cruzar o último degrau empoeirado, o olhar sem expressão do porteiro já estava fixo em meu rosto.

- O senhor deseja algo?

- Sim, você teria um uísque?

- Claro, guardo um bom escocês para clientes como o senhor!

- Como eu? Indaguei curioso ao receber minha dose.

- Sim, para pessoas que como o senhor, que sofrem de amor.

- Como pode afirmar isso, se não sabe de onde venho e, muito menos, para onde vou?

- São poucas as pessoas elitizadas que frequentam este velho ho-tel “beira de estrada”. E com esta cara triste de choro, creio que seja amor... Acertei?

- Os pensamentos confusos perturbam-me. Onde ela deve estar agora?!

- Mesmo? Aonde?!

- Como o senhor sabe disso?

- Segui seus passos e flagrei-a com seu amante.

- Tome, por conta da casa! Completou meu copo e se aproximou de mim para saber mais.

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- Há muito tempo desconfiei de seu comportamento estranho!

- Conte-me mais...

- Ela andava com um olhar sem carinho por mim, seus beijos eram cada vez menos intensos, já não fazíamos amor...

- Entendo! Posso fazer algo por você?

- Olha, posso te pedir que faça algo por mim e por outros como eu...

- Fale, verei o que posso fazer pelo senhor.

- Não mais alugue este quarto vizinho a quem pretende fazer fal-sa lua de mel, pois neste quarto, o 612, está quem eu amo morrendo de amor.

- Sinto muito por você, e farei o que me pediu.

Disse ao completar meu copo outra vez. Embora saiba que já não sou mais o dono dos beijos ardentes que foram meus, para mim esse amor não morreu.

Guardarei na lembrança seu lindo rosto, o ranger da cama, chego até a sentir o calor de seu corpo em meus braços. Vai noite de angús-tia, levando essa mágoa sem fim, pois não há coração que aguente, uma noite sofrendo assim. Despedi-me do porteiro, que já era garçom e ami-go. Fugi daquele mundo, daquele lugar, pois, viajando pelos caminhos da vida, tenho a certeza de que nunca mais encontrarei um “quarto vizinho” enquanto vagar solitário.

Lucas Vitaczik

3º Ano – Ensino Médio

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SINAIS DO AMOR

Saudade, por que insistes em permanecer dentro do peito?

Já se passaram quase dois anos e ainda busco a mesma resposta, ainda me encontro presa a você, e duvidarás quando disser que ainda me lembro do seu beijo, cheiro e do seu irresistível sorriso.

A vida segue em ritmo perfeito para todos, menos para mim, que sinto um vazio enorme, um sentimento inexplicável de perda, mesmo com você estando a poucos metros.

Já é inverno e, em uma daquelas tardes frias em que costumáva-mos ficar em casa assistindo a filmes, resolvo ir ao parque para espairecer um pouco.

Não consigo caminhar por muito tempo. O ar está gelado, dificul-tando-me a respiração. Entã, resolvo ir ao nosso café preferido, lembra?

Como de costume é Susan que me atende, uma linda moça de cabelos ruivos, corpo escultural, a mesma que sempre anotava nossos pe-didos e que você sempre insistiu em dar aquelas olhadinhas maliciosas, mesmo sabendo que eu estava ali, bem a sua frente!

Enquanto tomo meu café lembrando esses acontecimentos que teimavam em se repetir, apenas dou risada. São lembranças que não me entristecem mais, apesar de me fazerem refletir sobre você, a pessoa com quem passei um longo tempo de minha vida.

Saio do café em direção à casa de Camila, uma grande amiga que deve lembrar muito bem, pois você flertou várias vezes com ela e, apesar desses incômodos, nossa amizade nunca desandou, pois ao contrário de você, ela sempre foi muito fiel a mim.

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O caminho pela frente ainda é longo, sei que até a chegada muitas lembranças ainda virão a minha cabeça, e, como num piscar de olhos, deparo-me com o mais lindo sorriso, com o mais perfeito cheiro. Seria muita coincidência se fosse quem eu estaria pensando. Fecho meus olhos implorando para estar errada. Quando os abro novamente, você surge a minha frente, e todas as lembranças ruins sobre infidelidade, decepção e motivos pelos quais me fizeram chorar, dão lugar somente aos momentos bons que passei ao seu lado. Aliás, que, contra minha vontade, só me fazem rir e sentir uma sensação de euforia.

O encontro é rápido, você deve estar apressado para chegar a casa e encontrar sua nova namorada. Estou certa? Desisto de ir até à casa de Camila. Com lágrimas nos olhos provocadas por sua indiferença ao me ver, faço sinal a um táxi. Chego a casa desesperada e bato a porta atrás de mim. O que eu mais queria era sumir de sua frente e do mundo.

Cá estou, embaixo de três cobertas, em um silêncio quase profun-do se não fossem por meus soluços e novamente me perguntando por que a saudade insiste dentro de meu peito.

Afinal todos nós sabemos a resposta, só não queremos acreditar. É duro crer que, mesmo após inúmeras decepções, as lembranças boas sempre prevalecerão, e a saudade continuará batendo, pois o sentimento quando é verdadeiro, sentir saudades, mesmo com tantas feridas, é ape-nas um sinal de que realmente a gente amou.

Marina Wantowski de Oliveira

3º Ano – Ensino Médio

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ANJO DA GUARDA

Renata tinha 16 anos. Teve seu primeiro namorado em uma época em que as mães não davam informações o suficiente às filhas sobre tantas coisas relacionadas a namoro, casamento, gravidez, essas coisas.

Após três meses de namoro, Renata engravidou. O pai era João Pedro. Ficou naquela dúvida, ter o filho, ou abortar e seguir em frente.

Dezoito anos se passaram.

Mãe, esse ano foi um ano de conquistas. Completei meus 18 anos, fui presenteado com a festa dos meus sonhos, ganhei um carro lindo e, o melhor, que ainda não te contei: fui aprovado no vestibular. Sim, valeu o esforço de gastar várias tardes estudando.

Mãe, sua filha vai ser médica. Se tudo der certo, serei uma médica de sucesso e respeito. Não tenho nenhum relacionamento sério no mo-mento justo para me dedicar ao máximo ao meu futuro.

Já estamos em 2015. Terminei minha faculdade faz um tempo e agora sou uma grande cirurgiã.

Este ano vou-me casar. Meu marido é o Paulo, médico obstetra. Já estou imaginando todos os detalhes da cerimônia. Quero que a senhora seja a mãe mais linda desse casamento.

Dona Renata, meu casamento está indo muito bem e vou te con-tar um segredo: se naquela época em que você tinha dezesseis anos, não tivesse me abortado, você teria vivido essa história linda ao meu lado, e hoje seria uma avó coruja.

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Meu nome é Milena. Hoje acompanho tudo aqui de cima e rezo todos os dias para que você não faça mais escolhas erradas, prejudicando, assim, o seu futuro. Você não imagina que estou aqui, mas saiba que te amo muito, apesar de tudo.

Patricia Milnitz

3º Ano – Ensino Médio

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MARIA DA FIGUEIRA

Era uma belíssima manhã de domingo ensolarado. Ao levantar de minha cama, deparo-me com uma mesa de café da manhã muito convi-dativa. Após o café, observando o canto dos pássaros e a beleza da paisa-gem, decidi ir até uma pracinha próxima a minha casa. Chegando lá, vejo uma bela jovem sentada solitária e tristonha debaixo da sombra de uma figueira. Era muito bela e eu não pude deixar de perceber que ela esta-va muito deprimida. Então, decidi ir conversar com aquela princesa. Ao me aproximar com muito respeito e educação, apresentei-me e perguntei qual era o seu nome. Ela, com um ar muito deprimente, respondeu-me:

- Meu nome é Maria.

Eu, não me aguentando de ansiedade e já pedindo desculpas pela minha intromissão, perguntei-lhe qual era o motivo de tanta tristeza. Ela, quase em pranto, falou-me que estava deprimida porque seu namorado acabara de lhe dispensar e ela não entendia o motivo daquela separação. Então, a fim de consolá-la, decidi convidá-la para dar uma volta. Ela mesma sem jeito, não recusou minha proposta.

Aquela manhã estava diferente de qualquer outra já existente. Eu não sei a razão, mas tudo parecia muito mais reluzente Os pássaros se en-contravam em uma sinfonia organizada, as borboletas esvoaçavam sobre nossas cabeças e as árvores pareciam ganhar vida. Algum tempo sem se pronunciar ao longo da conversa, Maria foi se soltando e deixando aque-le ar de depressão para trás. Em certos momentos eu percebia que ela já nem se importava com o namorado que, há pouco, a havia deixado.

Após muito tempo de conversa eu me via cada vez mais apai-xonado por tanta beleza e simplicidade daquela ingênua adolescente. A cada palavra proferida por ela meu coração parecia se encantar ainda mais por tanta beleza. Uma vez de volta àquela árvore, a mesma qual a

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havia encontrado, ela despediu-se de mim e foi embora com aquele cabe-lo dourado que reluzia com os reflexos do sol. Então, eu, em desespero, perguntei-me: será que nunca mais irei tornar a vê-la? Tentei esquecer esse pensamento e voltar para minha casa.

Após algumas semanas sem conseguir tirar aquela jovem de mi-nha cabeça, decido voltar a àquela árvore com a esperança de encontrá-la novamente. Chegando lá não avistei ninguém. Então, veio-me à cabeça uma dúvida. Será que ela estava bem? Será que ela já havia se esquecido de mim? Ao me virar, porém, vejo novamente aquela deusa reluzente aproximando-se. Ela, esbanjando sorriso, exclamou:

- Olá! Eu, desde aquele dia, venho todas as manhãs para ver se o encontro novamente, a fim de agradecê-lo pela gentileza que o senhor fez por mim.

- O que é isso, não foi nada demais!

- Eu não sei como lhe dizer, mas o meu namorado voltou a me procurar e nós estamos noivos.

Aquela frase surgiu como um choque em minha mente e coração, mas discretamente lhe dei os parabéns e me despedi. Após aquele dia, eu jamais senti algo assim por outra mulher. Todos os dias me perguntava por que as mulheres são tão ingênuas, deixam-se levar por uma conversa qualquer. Eu jamais encontrei outra mulher que me deixasse assim espa-ventado de tanto amor e raiva ao mesmo tempo. A única capaz disso foi a Maria da figueira.

Rafael Cristiano Brandl

3º Ano – Ensino Médio

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ÓTIMO ANIVERSÁRIO!

Em plena segunda-feira chuvosa Marcelo estava desanimado, pois seu final de semana foi muito pouco aproveitado. Marcelo é um jovem menor de idade que gosta de ir a boates e se divertir. Mas no final de semana passado, ficou em casa, pois a chuva azedou seus planos. Então, naquele dia teve a ideia de fazer algo para seus amigos em sua casa, já que sexta-feira era seu aniversário.

Sua mãe, Maria, não gostava muito de festas, ainda mais em sua casa. Então, estipulou regras: só virão, no máximo, dez amigos. Marcelo não gostou muito, mas não tinha opção se não aceitasse. No outro dia, na escola, Marcelo chamou seus amigos mais próximos, e, para não deixar nenhum amigo de fora, acaba convidando doze amigos. Marcelo nunca havia feito uma festa em sua casa. Então, estava nervoso e apreensivo, pois não sabia se iria correr tudo bem.

Chegando o dia tão esperado da festa, Marcelo aguarda ansiosa-mente seus convidados. Já era passado a hora marcada e ainda ninguém havia chegado. Passou meia hora e, enfim, chegaram.

A carne foi posta no fogo, a música animava a todos, e a conversa ficara animada.

No fim da festa, após vários amigos terem ido embora e seus pais terem ido dormir, um de seus convidados tem a ideia de pegar o carro de seus pais e ir a outra festinha. Marcelo achou que não era uma boa ideia, mas seu amigo não desiste e consegue convencê-lo.

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Logo que saíram do portão, o carro provocou uma colisão com outro que ia passando naquele instante.

O que era para ser uma festa divertida, quase acaba em desastre.

Rafael Eduardo Grosskopf Blaskovski

3º Ano – Ensino Médio

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A DESPEDIDA!

Helena era uma moça jovem com objetivos a cumprir em sua vida. Queria casar e construir uma família. Aos 22 anos conheceu, na faculdade, Gustavo com seus 26 anos de idade. Foram feitos um para o outro. Ele também tinha um projeto de vida tracejado. Era um moço de família bem de vida, tinha vários bens garantidos e estava querendo construir uma casa! Então, por que não?!

Os dois começaram a namorar. O relacionamento, cinco anos de-pois, continuava firme e forte. Esse belo casal, então, resolve unir-se para sempre. Queriam um casamento de luxo, com muita decoração, comida, bebida, com todos os amigos e familiares. Haveria até festa de despedida de solteira para a futura noiva.

Iniciaram os preparativos com muita antecedência, quase meio ano antes do casório, para tudo correr nos conformes. Tudo estava de acordo com o planejado. O maior problema era o vestido da noiva, um vestido de luxo, com vários detalhes em cristais, desejado por todas as mulheres.

Dias antes do casamento já estava tudo organizado. Os últimos ajustes do vestido foram feitos. Helena e Gustavo estavam super ansio-sos! Chegou o dia da despedida de solteira dela, que iria ser em uma boate chique, somente para suas amigas mais íntimas.

A noite chegou, ela arrumou-se e, então, partiu para a sua festa. Tudo foi perfeito até aquela hora. Helena e as amigas beberam, dança-ram, riram muito e tiraram várias fotos para guardar como registro da-quela noite tão significativa para elas.

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No caminho para casa um imprevisto aconteceu. Sua amiga e fu-tura madrinha de casamento estava dirigindo embriagada. Infelizmente, elas colidiram o carro com uma carreta, e a noiva morreu na hora!

Rafaela Mariá Huebl

3º Ano – Ensino Médio

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SÓ FICARAM AS LEMBRANÇAS

Diz que o tempo apaga o passado. O que seria de mim, se de fato isso fosse verdade? Como seriam os meus dias nublados e as minhas tardes invernais? O tempo não conseguiu passar a borracha na minha memória, não teve o poder de apagar as lembranças do grande amor da minha vida e de tudo que passamos juntos.

Há 45 anos, eu sempre passava por uma praça, sentava num ban-co e fingia que estava lendo um livro, só para poder ficar olhando para ela. Uma garota linda de olhos azuis e cabelos loiros, que três dias por semana sentava no mesmo banco da praça, embaixo da sombra de uma árvore, para ler seus livros. Num destes dias resolvi ir falar com ela. As-sim começou nossa história de amor.

Cada dia que passava nosso amor aumentava mais. Tudo era per-feito. Passávamos nossas tardes na praça onde nos conhecemos. Então houve um dia que ela não foi até a praça me ver. A princípio imaginei que sua mãe tivesse descoberto tudo. Quando a campainha tocou e vi sua expressão, percebi que era muito pior. Seus pais estavam indo embora e este poderia ser o último dia em que eu a veria.

Agora ela começou a me remeter cartas. Respondi a algumas, mas nem todas, pois nutria grande raiva pelo fato de ela não ter escolhido ficar comigo e ter ido embora. Depois de um tempo as cartas cessaram. Havia algumas que eu até ainda não tinha aberto. A saudade era tão forte que resolvi responder a algumas delas, mas não obtive resposta. Então, fui atrás de quem eu tanto amava. Passei por todos os lugares, mas não a encontrei. Quando já estava desistindo, encontrei sua mãe. Contou-me tudo que havia acontecido e o porquê de eu não ter recebido cartas dela.

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Havia ficado doente e, como conta sua mãe, até os últimos dias de sua vida, escrevia as cartas e ia à caixinha do correio à espera de resposta.

Talvez se eu tivesse aberto suas últimas cartas ou tivesse ido atrás dela, logo que ela se foi, eu poderia ter passado com ela muitos momen-tos até o último dia de sua vida e não a teria deixado esperando uma carta minha.

Agora estou aqui, sentado no mesmo banco da praça em que eu a conheci. Só o que me restou foram lembranças. Apego-me a elas, re-componho mentalmente cada um de nossos atos, nossos risos e nossas conversas. Acredito que assim fica mais fácil viver e tê-la mais próxima de mim.

Sabrina Naderer

3º Ano – Ensino Médio

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O ‘’SIM ‘’ QUE FECHA PORTAS

Sabe de uma coisa? Você estava linda! Radiante! Mais do que nunca, você exalava sua luz, e todos te olhavam com a maior admiração, assim como eu. Até de longe dava para ver o brilho e as pequenas lágri-mas se formarem em seus olhos, e a emoção misturada com alegria toma-rem conta de você. Confesso que foi difícil segurar a minha emoção, mas eu estava muito concentrado e muito nervoso que não lembro se chorei.

Seu vestido? Estava à altura da princesa que você é com seu cabe-lo preso em um longo véu que tomava conta de parte do tapete vermelho estendido pelo corredor da igreja. Era o seu dia, e tudo parecia perfeito. Você deslizou devagar pelo tapete, sorrindo para todos, feliz por vê-los: seus amigos, seus tios, primos, e avós. Você estava ao lado do seu pai, que, se conheço bem, tremia de nervoso tal a emoção. Segurava nas mãos rosas brancas e flores lilases. A igreja estava com a decoração toda nesses tons, tudo do jeito que você imaginava.

A cerimônia foi simples, mas duvido quem alguém, mulheres principalmente, saíram de lá sem se emocionar. Os seus votos foram sim-ples e honestos. Prometeu companheirismo, amor, cumplicidade e, acima de tudo, amizade. Prometeu mais. Prometeu paciência quando seria fácil brigar, compreensão quando seria fácil perder a paciência, e inteligência para saber administrar as adversidades que aparecerem pelo caminho. Simples, completo e cheio de amor, assim como você.

Sabe do que eu me lembrei naquele momento? Das nossas brigas, das idas e vindas. Passou um filme em minha cabeça, principalmente das várias vezes em que você andou de bicicleta em frente à porta de minha casa, mas eu sabia que era de propósito, eu sabia que você fazia isso para

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poder me ver porque tinha saudades. Sorri, com lágrimas nos olhos.

Na hora de dizer o sim, foi uma mistura de pressa com nervosis-mo e ansiedade, pude ter certeza de que era isso que você queria. Sua mão esquerda, fina e de dedos longos recebeu um lindo anel de ouro com brilhantes, e sua boca um delicado beijo. Estava feito.

Você olhou para mim nesse exato momento, como se por algum motivo eu tivesse chamado a sua atenção de propósito, mas rápido, como uma estrela cadente que não há tempo para desculpas ou pedidos, você desviou o olhar. E agora eu sabia as exatas semelhanças e diferenças de nossas vidas, e sabe qual a principal? Você demonstra seus sentimen-tos, você tem coragem, você vai atrás daquilo que quer. Então sabe qual a maior diferença? Você sempre passou de bicicleta em frente a minha casa, mas eu nunca abri a porta para você. E foi aí então que nossas vidas tomaram rumos diferentes para sempre. Hoje eu engulo meu orgulho, vou embora sozinho e deixo você aí. Espero que esteja feliz, que seja feliz.

Taís Lutke

3º Ano – Ensino Médio

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DUAS VIDAS

Hoje acordei com as mãos trêmulas, preocupada e em plena con-fusão de sentimentos. Não conseguia entender o motivo daquela situação toda.

Conheci Luciano cinco anos atrás, num barzinho que eu frequen-tava. Ele festejava o aniversário de um colega, quando nossos olhares encontraram-se pela primeira vez. E eu, então, rezava para revê-lo em breve.

Naquele mesmo mês de setembro, no mesmo bar, começamos a conversar e trocamos nossos números. Que alegria ter aquele papelzinho dobrado em meu bolso. Podia até sentir seu cheiro e lembrar-me da sua voz.

Não sei explicar o que sentia naqueles tempos, mas acho que era paixão. Aquele lindo jovem moreno dominava meu coração, mudava meus sentimentos e enchia de paz meus pensamentos.

Agora estou aqui – depois de tudo o que passamos – sentada no banco do hospital, relembrando e revivendo, sorrindo e chorando, aman-do e sofrendo. Porque a vida é assim?! O que mais ela quer de mim? É o que indagava meu coração aflito, aqui sozinho esperando por alguma notícia que pudesse me confortar.

Enquanto aguardava, fiquei me deliciando com nossas histórias. Nosso primeiro beijo misturava-se com nossos sonhos e desejos. Nossos aniversários de namoro, nossas viagens e nosso casamento. Como era bom estar ao lado dele!

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Será que eu havia feito o suficiente? Aproveitado cada momento? Não queria me arrepender das coisas que fiz, mas daquelas que não fiz. Os abraços que não dei, aquele beijo que faltou, as palavras que não falei e os carinhos que não retribuí.

A nostalgia me envolvia, tomei um susto quando a porta da UTI que se abriu. Era Dr. Manuel, o médico responsável pelo caso de Lucia-no. As notícias que me trouxe, porém, não eram tão boas como eu espe-rava. Meu amado estava muito debilitado. Afinal, o acidente que sofreu era grave assim como seu caso. Luciano estava entre a vida e a morte. E eu?! Não sei bem certo onde eu me encontrava, eu só sei que não era nada como eu sonhara.

Hoje, a saudade dentro de mim é o que me corrói. Saudade dos nossos momentos, das suas risadas e da sua voz. Voz que me acalmava e me chamava de sua, sua adorada. Como dói vê-lo desse jeito, tão debili-tado, com seus cabelos despenteados e sua boca deformada.

- Luciano, sou eu meu bem. Só queria te dizer que preciso de você e estou ansiosa para te reencontrar. Nossa casa está do jeito que deixou, bem como meu amor por você? Ah! Esse só aumentou. E a boa notícia é que agora não somos apenas dois, mas trago dentro de mim o maior pre-sente que você poderia me dar: nosso tão sonhado filho... – Eu disse isso tudo na esperança que ele me ouvisse. Foi então que bem baixinho pude escutar um longo e sofrido sussurrar: – A - M – A - N - D - A?!

Paola Alexandra Muehlbauer

3º Ano – Ensino Médio

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IDAS E VINDAS

Arrumava-me rapidamente, enquanto os minutos passavam. Já estava atrasada para a cerimônia de casamento. Cheguei minutos antes da noiva entrar na igreja. Estava tudo lindo, maravilhoso. Como em um conto de fadas. Apenas flores brancas e violetas enfeitavam a igreja. A música era perfeita para aquele momento tão especial. A hora do sim se aproximava e, como sempre, foi emocionante. Não teve como segurar as lágrimas. Uma chuva de arroz caía sobre os noivos.

Depois houve uma festa digna de princesa. Lá conheci um homem muito bonito por sinal. Sentamo-nos e conversamos. Percebi que tínha-mos muitas coisas em comum. Até que chegou um momento em que con-fessei. Não queria nada com ele, apenas amizade. Ele ficou inconsolável com a minha atitude. Confessou que estava apaixonado.

Os dias foram passando e, apesar do acontecido, continuamos conversando. Sim, estava arrependida do que tinha feito. Apaixonada? Acho que sim. Tentei começar tudo de novo. Combinamos sair para con-versar melhor e pôr as coisas nos seus devidos lugares.

Como toda mulher, nessas situações, eu estava nervosa. No come-ço, não tínhamos muito o que falar, mas com o passar do tempo, tudo foi fluindo naturalmente. Pedi desculpas pelo que tinha feito. Ele entendeu a situação. Desculpas aceitas.

Continuamos conversando. A cada dia que passava, estava mais apaixonada. Seus atos e palavras me encantavam. E quando preciso, seus braços me confortavam.

Até hoje estamos juntos e felizes. Parece estranho e meloso de-

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mais. Mas nunca pensei que, a partir da cerimônia de casamento de ami-gos, começaria a preparar a minha.

Julia Weihermann

3º Ano – Ensino Médio

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NÃO OLHE PARA O ESPELHO

Ela sempre vivera naquela casa. Ela e seu corpo delgado. Seus cabelos cor de fogo, olhos arregalados, coração fraco e inocente. Mesmo quando seu coração com ira palpitava, sua mão a altura do peito subia.

Quando a beira da cama sentava, olhava o seu reflexo e deixava-se assustar de leve, e distraia-se pensando. Prosseguia imediatamente para um novo pensamento, logo que o anterior se evaporasse de vez.

Em seguida levantava da cama para preparar seu chá. Olhando para as palmas das mãos alvas, saía para cuidar da vida. Seus pulmões às vezes sorriam.

Seu estômago embrulhava-se compulsivamente, assim como o de todos que vivem na solidão. Sua mãe lhe servia uma tigela de sopa, mas logo vomitava o que comia. Asseada que era, limpava sua boca com panos brancos. Voltava para o quarto pelos longos corredores, incolor por onde seu opaco vestido farfalhava, e seus dedos a parede roçava.

Mesmo quando o seu corpo começou a ficar intangível, andava. Na cama sentava para respirar e pensar nas coisas. Novos pensamentos surgiam. Seu vestido com ruídos quase inaudíveis.

Quando o seu corpo fraco ficou na maca, deitou seus pés, não tocaram mais o chão. Fechou levemente os olhos. Sua sombra não se projetou mais na parede branca do quarto.

Seus pulmões não mais funcionavam.

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Tommy Nathan Lopes Ferreira

3º Ano – Ensino Médio

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UMA VIDA EM OUTRA DIREÇÃO

Tenho saudades. Tenho saudades de caminhar na praia no fim de tarde, sentir a areia por entre meus dedos, a água gelada bater quando me aproximava do mar. Tenho saudades de correr no campo, rolar na grama, às vezes, até me espetar, tenho saudades de atravessar a lagoa, a água batendo em minhas canelas.

Hoje faz quatro anos.

Era final de janeiro, estávamos voltando da praia, a noite ia caindo. Lembro-me de duas luzes fortes em nossa direção. As férias acabaram com o barulho dos pneus freando no asfalto, minha mãe gri-tando, um estrondo. Os vidros se quebraram e tudo ficou escuro.

Acordei em um lugar claro.

Recuperava os sentidos em uma cama, no centro médico. Algumas horas após o acidente. Alguém trocou minhas roupas por uma camisola, semelhante a um guardanapo. Sinto um odor impregnado no ar. Cheiro de doença lavada com desinfetante. O cheiro de remédio. Pela janela vejo meus pais, abraçados. Minha mãe ergue a cabeça e eu chamo-a. Vejo-a entrar e lentamente cruzar o quarto. Ela senta-se ao meu lado, contente por me ver acordada, e meu pai parado junto à porta. Pergunto o que aconteceu, e ela me diz que o caminhão atingiu o lado do carro em que eu estava na parte de trás. Perguntei também onde estavam minhas pernas. Seus olhos se arregalaram e com a respiração ofegante ela me disse que estavam bem aqui. Ela ergueu a cabeça e chamou meu pai e ele fez sinal ao médico. Dias se passaram e eu voltei para casa. As coisas mudaram. Algu-mas coisas tiveram que mudar em minha casa, serem adaptadas.

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Agora minhas férias na praia são um pouco diferentes. Sinto a areia se erguer com o vento e tocar minhas mãos enquanto as mesmas empurram as rodas. O cheiro do mar, a brisa que faz meus cabelos voa-rem. Gosto de ir até lá ver as crianças correr atrás de uma bola, fazerem castelos, fugindo das ondas.

A cadeira já não me atrapalha mais, ainda posso voltar à praia, tomar sorvete, fazer castelos. Perdi apenas o movimento das pernas, mas meu coração continua no mesmo ritmo. O acidente foi só um grão de areia da praia que o vento levou para longe.

Nathalia Seeber Bonato

3º Ano – Ensino Médio

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SONHO LÚCIDO

Chovia muito forte, estava frio, havia acabado de acordar, porém meus olhos não estavam conseguindo provar a mim mesmo onde esta-va. Um vento muito forte batia em meu rosto, eu estava em cima de um grande ônibus, no centro de uma cidade completamente abandonada e destruída, não havia ninguém por lá, todos os prédios estavam com as janelas quebradas, e eu só conseguia ouvir o som dos pássaros.

Depois de perceber no caos que me encontrava, pensei que fosse tudo apenas um sonho, mas parecia tudo muito real, um sonho lúcido.

Após certo tempo analisando, consegui decifrar onde estava. Era o centro da minha cidade, porém parecia que havia passado muitos e muitos anos. A pequena casa de minha tia Lúcia nem estava mais lá. No seu lugar havia um prédio com mais de dez andares. Sozinho andei ali, por horas, até ver a imagem de uma mulher que me lembrava muito minha filha, porém minha filha tinha apenas seis anos, e esta era uma mulher adulta que chorava desesperada. Decidi aproximar-me.

Ela parecia não perceber minha presença, não conseguia me ver. Decidi então me aproximar mais ainda. Aí tive a certeza de que aquela mulher era minha filha, só mais velha. Ela chorava olhando uma pequena foto minha. Minha visão começou a se apagar e logo desmaiei.

Acordei em minha cama, com minha mulher. Chovia muito, es-tava frio, era domingo. Foi apenas um sonho, um sonho estranho que me fez perceber que devo passar mais tempo com minha família e dar mais valor às pequenas coisas da vida.

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Edilson Kohls Schlogl

3º Ano – Ensino Médio

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AS MANIFESTAÇÕES DO NOSSO BRASIL

Durante as últimas semanas, o povo brasileiro começou a abrir os olhos para a tremenda sujeira que vem sendo colocada para baixo do ta-pete há certo tempo, e esse despertar veio na forma de greves, manifesta-ções e muito protesto, com a mídia exercendo grande papel para divulgar tudo isso ao restante da população.

Até ai tudo bem. Todo cidadão tem o direito de protestar e cobrar seus direitos, é algo no mínimo justo, porém desde que esse protesto seja pacífico, porque de nada adianta reivindicar direitos destruindo lojas Bra-sil afora, pois o dono dessa loja faz parte do povo e não tem culpa pelas besteiras que nossos políticos fazem, mas tem toda culpa por ter colocado certo político no posto onde está.

Aí eu te pergunto meu caro leitor: a grande maioria dos jovens que estão protestando e liderando movimentos nas ruas realmente está lá porque quer melhorias na educação, nos transportes e na saúde? Ou estão lá simplesmente para “causar”?!

É muito fácil quebrar patrimônios públicos, provocar a polícia e depois sair postando nas redes sociais que levou bala da polícia de cho-que. Mas, meu amigo, polícia de choque, o nome já diz, o policial não vai passar a mão na sua cabeça e te dizer: “Vai pra casa filho”. Muito pelo contrário, é esse policial que vai «sentar» bala de borracha e bombas de efeito moral em cada um que fugir do real sentido de protesto pacífico.

Creio que por meio do vandalismo o povo brasileiro não vai con-seguir muitas mudanças no país. Para isso é necessário a conscientização

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da população na hora do voto, pois de nada adianta querer quebrar tudo porque a passagem de ônibus teve seu preço aumentado se foi você, ele ou eu quem colocaram no poder aquele governante corrupto e incom-petente. Por isso, nosso povo precisa mais consciência na hora do voto, e menos violência, por favor. O voto é uma guilhotina sem Revolução Francesa. Então, faça uma revolução à brasileira: use o voto.

Eduardo Baptista Ludwinski

3º Ano – Ensino Médio

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VIAGEM

Era uma vez uma família que fazia uma viagem de barco ao longo do oceano pacífico. O destino era um resort na costa central do Caribe. Viajaram 12 dias a bordo do Pérola Negra. Desfrutaram de muita diver-são, comidas exóticas, prazeres, bebidas, festas, cassinos. Todos estavam fascinados com tamanha grandeza e luxo. Eis porém que um fato inespe-rado ocorre para abalar as estruturas da nave.

Zequinha, o filho, estava brincando o dia todo perto da piscina quando o capitão do Pérola Negra anuncia que o barco passaria por for-tes correntezas e precisaria da atenção e cuidado de todos os tripulantes. Quando as fortes ondas começaram, Ana e João corriam em direção a Zequinha, pois o perigo surgira de repente. O barco bate em uma pedra causando forte atrito. Isso fez com que Zequinha caísse nas profundas águas do oceano pacifico.

Quando caiu, a tripulação imediatamente ajuda-o lançando uma boia em alto mar. Finalmente ele consegue agarrá-la e assim se salvar.

No Pérola ficaram animados com a notícia de que o garoto foi salvo. Seus pais estremeceram de felicidade e deram uma festa em come-moração ao final feliz da história.

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Lucas Eduardo Dias

3º Ano – Ensino Médio

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ATÉ O FINAL

Era manha chuvosa, com um vento que balançava meus cabelos quase totalmente brancos para lá e para cá. Estava olhando o movimento agitado da rua. Era hora em que crianças iam para a escola. Uma correria.

Recordei-me do meu tempo de escola, dos meus colegas, das brincadeiras, tudo era tão bom. Nessa época eu tinha um melhor amigo, daqueles especiais, que sempre cuidava de mim, eu o amava demais. Ele tinha lindos olhos verdes, olhos que me atraiam de uma forma intensa, uma coisa rara de se sentir. O seu sorriso era meigo, era capaz de me alegrar em qualquer circunstâncias. Ele era alto, quando me segurava em seus braços, me sentia segura de qualquer mal. Era tudo melhor ao lado dele.

Já chegava a meio-dia, era hora de entrar para almoçar, me lem-brei de todas as vezes em que a gente almoçava juntos, lasanha a bolo-nhesa, pizza ou x-salada, esse era o nosso cardápio. Juntos deveríamos ter ganhado alguns quilos, mas não importava, estética era ultima coisa com que me importaria, ele era lindo do jeito que era, especial com cada gesto de atenção, o que me deixava cada vez mais encantada.

Quando chegou a tarde deitei-me para assistir a um filme, e me recordei de todos os que já tinha visto com ele, já tínhamos visto tantos. Mas em todos perdíamos alguma parte, pois qualquer coisa era motivo de risadas que tiravam nossa atenção. Nosso riso era leve, fácil, verdadeiro. Nossa conversa fluía, ele me entendia, e mesmo quando não me entendia, dava um jeito para me ajudar.

Quando a noite veio, fui olhar as fotos, de todas as viagens que

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fizemos, tantos momentos bons, tristes, bobos, felizes. Quantas coisas vivemos juntos. Uma amizade que se tornou maior do que qualquer sen-timento, amor.

Fomos crescendo e aprendendo, com a vida, com os erros e um com o outro. Uma das coisas que ele me ensinou foi a força de um sentimento verdadeiro, pois o nosso carinho era maior do que qualquer desavença. Mais um dia se passou com meus cabelos cada vez mais brancos, recor-dações e saudades. Escuto a porta batendo, alguém dizendo “cheguei”, lá vem os olhos verdes, com o sorriso encantador me segurando forte, como sempre foi e eu sempre amei e amarei. Ate o final.

Fernanda Regina Heimann

3º Ano – Ensino Médio

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SONHO

Era manhã de quinta quando lembrei que deveria ir ao banco. Foi uma manhã comum até então. Levantei, lavei o rosto, tomei café e escovei os dentes. Pra qualquer pessoa era um dia normal, mas para mim aquele dia estava perfeitamente ensolarado, apanhei o celular e disquei pra minha esposa.

– Oi, amor, como está seu dia?

- Está um pouco corrido, não vejo a hora de chegar em casa!

- Que ótimo, pois temos compromisso com a praia depois do ex-pediente.

Peguei o rumo do banco, a fila de carro naquele dia tinha apro-ximadamente quatro quilômetros e meio até meu destino, foram quase duas longas horas. Desci do carro e percebi meu cadarço desamarrado, agachei e com uma única manobra fiz dois laços e pronto. Quando me levantei vi a enorme fila do banco, eram umas vinte e cinco pessoas na minha frente, com certeza levaria uma boa parte do meu dia. Me confor-mei que me atrasaria para o trabalho e isso ocorreu quando observei a duas pessoas na minha frente, era o irmão de minha esposa.

– Ei, Geraldo!

- Fala meu camarada! Que tá fazendo aí?

- Vim pagar umas contas, mas acho que vou me atrasar para o trabalho, você não guardaria minha senha pra mim enquanto vou ao es-critório avisar minha chefe?

- Claro Juca, vá lá, acho que com essa fila ainda poderemos bater um papo quando voltar!

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Mal terminei de ouvir e já saí com pressa. Chegando ao escri-tório encontro minha chefe abrindo as portas, não era o único atrasado ali. Disse que tinha algumas contas pra pagar e não levaria mais de duas horas pra voltar. Desci correndo as escadas, pois não estava com saco de esperar o elevador. Cheguei no banco estava lá meu cunhado com a cara entediada e somente três pessoas a menos na fila, parei do seu lado e começamos a conversar, falamos sobre os filhos, cervejas, jogos e apro-veitamos pra combinar as festas de final de ano. O tempo passou rápido e logo chegou nossa vez. Ele pagou a conta dele e foi se despedir de mim entregando o meu bilhete da fila quando eu indaguei:

- E meu envelope?

- Que envelope? Tá doido?

- Não, o envelope de dinheiro que deixei contigo antes de sair

- Você só pode estar ficando louco!

- VOCÊ ESTÁ FICANDO LOUCO, POR FAVOR DEVOLVA MEU ENVELOPE!

Geraldo, indignado com a situação constrangedora, estava pronto para me dar um golpe quando ouço a voz de minha esposa dizendo:

- Zé! Acorda Zé! Você vai se atrasar demais lembre-se que ainda deve passar no banco!

Foi quando percebi que não passava de um sonho muito louco.

Gabrielle Van Den Boom

3º Ano – Ensino Médio

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NOITE INUSITADA EM VERACRUZ Já era tarde da noite. Após 14 horas de viagem, chegamos, enfim, ao nosso destino, Vera Cruz. Havíamos reservado suítes em um hotel histórico da cidade e muito belo. Ao chegar nesse hotel para realizar a entrada, o gerente do hotel descobriu que eles estavam lotados por conta de uma maratona que havia na cidade e acabaram fazendo mais reser-vas do que tinham de quartos disponíveis. Éramos 50 pessoas, havendo quartos disponíveis para apenas 35. Pensamos que iríamos dormir na rua, então o gerente falou, “Temos convênio com um hotel aqui perto, se não se incomodarem deslocamos essas 15 pessoas para este hotel por essa noite e a próxima noite poderão retornar ao hotel porque teremos quar-tos disponíveis”. Aceitamos essa oferta, porque já estávamos cansados da viagem. Foi escolhido 15 meninos para irem a este hotel. Lá chegando tivemos uma grande surpresa, o hotel não era um hotel, e sim era um motel. Imagine agora 15 homens entrando em um motel, a cena era muito engraçada, sentimo-nos incomodados a prin-cípio, mas não havia outra opção. Foi separado grupos de três pessoas por quarto. Ao entrar no quarto havia espelhos por todos os lados e bar-ras para pole-dance, de tão triste que era nossa situação apenas pode-ríamos rir. As camas eram King Size, mas não, não dormimos juntos, e nem nos banhamos aquela noite, já que o chuveiro era no meio do quarto, e ninguém gosta de se banhar enquanto há outras pessoas no mesmo ambiente. No outro dia, já às sete horas da manhã chamamos táxis e fomos ao nosso hotel em que havíamos feito as reservas para o café da manhã. Nossos colegas perguntavam como era o nosso hotel, nós apenas poderíamos rir, já que definitivamente não era um hotel. Passado esse problema de primeira hora, já tínha-

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mos nossa acomodações no hotel e fizemos um passeio turísti-co durante o dia no aquário e no forte de Vera Cruz. Felizmente durante a noite tudo voltou ao normal, e em um hotel normal.

Bruno Ruiz Paloma - Intercambista do Rotary México

3º Ano – Ensino Médio

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DEPOIMENTO DE UMA VÍTIMA

Retirado dos documentos confidencias do FBI. –Tudo bem Edward, pode começar. –Era domingo. Estávamos eu, minha esposa Jennifer e minha filha Jéssica na área de gramado, atrás de nossa casa, curtindo aquele final de semana, coisa rara de acontecer, pois geralmente eu viajava por tempo indeterminado devido ao meu trabalho. Já era de costume o filho do nosso amigo John de mesma idade de minha filha naquela época, chamá-la para brincar na sua casa. Com minha permissão ela foi. Deu-me um beijo na bochecha direita e um abraço bem apertado em Jennifer e foi toda alegre brincar.

Já passada a tarde e a noite começando a chegar, Jéssica ainda não havia chegado. Esperamos mais alguns minutos pela sua chegada, mas como não chegava ligamos para John. Perguntei a ele se poderia dizer à Jéssica que voltasse pra casa, pois já estava tarde. A resposta dele foi de que ela já havia saído de lá há mais de uma hora. Então, perguntei se ela havia dito que iria a algum lugar antes de ir para casa. Para o meu desespero a resposta foi negativa. Nesse caso a demora não tinha justifi-cativa, pois a casa de John fica a cinco minutos de caminhada da nossa. Logo pensei que ela poderia ter ido ao parque, onde brincava nos dias de semana com as outras crianças da vizinhança e que fica no meio do cami-nho que ela tomava para casa. Mas não fazia sentido ela ir sozinha num domingo à noite àquele parque. Mesmo assim, fui até lá. Quando entrei em meio às árvores... (pausa), - Edward, está tudo bem? –Não! (choro). Aquela coisa horrorosa segurando em uma das suas mãos as roupas dela! –Como ele era Edward? –Ele não, aquilo! Vestindo um terno negro e me olhando. Na verdade aquilo não tinha face. Era só uma coisa sem olhos, boca ou nariz. Não era humano! Tinha aproximadamente três metros de

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altura com seus braços quase se encostando ao chão... Agora eu só sei que ele me persegue... Ahh! (Gritos) Seu monstro, levou minha pobre filha! Eu sei de sua existência e que a qualquer hora vai me levar também. Monstro!

- Ele está atrás dele, detenham-no, homens! (Tiros)... (passos não identificados)... Fim da gravação.

Lucas Urbanski

3º Ano – Ensino Médio

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SEDE POR VIDA

Eduardo estava trabalhando na lanchonete do seu Braneu, à bei-ra do mar, naquele verão, como de costume desde os quinze anos. Estava guardando dinheiro para comprar um carro. Um bom carro. As tempora-das de verão eram as épocas favoritas de Eduardo. Além de faturar uma boa grana, podia sair do trabalho e ir direto para baía pegar onda com seus amigos. Suas economias dos cinco verões trabalhados já lhe haviam proporcionado uma boa poupança. E caso faltasse, tinha o suporte dos amigos que lhe cobravam passeios assim que ele comprasse o carro tão sonhado. O apoio do pai, Eduardo não tinha, afinal, o velho, a muito custo, já pagava a faculdade e não lhe sobrava mais recursos. O pai de Eduardo era um bom homem. Devoto à família, simples, humilde e um bom trabalhador. Sempre estimulava seus quatro filhos a serem indepen-dentes, sonhadores, realistas e a lutar pelo que queriam. O velho estava muito satisfeito com sua vida, tinha tudo o que queria, uma linda família e uma boa casa. Sua satisfação era evidente. A de Eduardo não. De fato, Eduardo não estava satisfeito com sua vida. Eduardo queria mais. Queria mais que comprar um carro. Queria mais que terminar a faculdade. Não que não estivesse feliz, pelo contrário, tinha bons amigos, uma família que o amava e um gosto imenso por viver. Exato. Ele amava viver. Por isso queria mais. Estava sedento por coisas novas. Queria uma aventura de verdade. Uma aventura da qual pudesse se orgulhar e se gabar, con-tando para seus netos e bisnetos. Seu coração de aventureiro batia forte no seu peito lembrando-lhe que a vida tinha mais a oferecer. E era o que estava prestes a acontecer.

A manhã veio, o sol brilhou mais forte ao nascer. A vida insistiu em sorrir para Eduardo e este por sua vez não hesitou.

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Hoje, seus netos e bisnetos sempre pedem para ouvir a mesma história e sonham em ter uma aventura como a de seu vovô Eduardo. Mas esta história, os netinhos de Eduardo sabem contar melhor, quem sabe a até de cor.

Mariana de Sousa Vieira

3º Ano – Ensino Médio

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NÃO ROUBE

Era uma vez um amigo que decidiu ir ao fliperama. Quando che-gou lá ele se deparou com a quantidade de brinquedos diversos, mas não tinha dinheiro para comprar fichas. Muito triste ele saiu caminhando através da praça de alimentação quando achou 50,00 numa mesa. Ele obviamente não era ladrão e nunca iria roubar o dinheiro, então ele pagou 1 real que tinha no bolso para um garotinho de 6 anos de idade ir roubar. Com o dinheiro que ele agora tinha, decidiu voltar ao fliperama e gastar tudo em fichas.

Passou a tarde jogando e ganhou vários novos brinquedos como prêmio. Ao voltar para casa alguns garotos um pouco mais velhos para-ram-no e curtiram muito o ioiô que ele estava brincando. Então, bateram nele e roubaram todos os novos brinquedos do coitado.

O dia do garoto já estava arruinado e nada podia ficar pior... Po-rém quando chegou em casa, lembrou que o real que ele tinha no bolso era na verdade para comprar pão para a mãe que estava morrendo de fome, e infelizmente era tarde demais. Moral da história, não roube.

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Juan Carlos Péricas

3º Ano – Ensino Médio

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