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Contos Ideias Bacanas

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Contos

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Conto: dos mitos e lendas aos quadrinhos

Amanda M. M. Giacopini

Daniela S. Menali

Juliana C. Fernandes

Melissa C. Forato

Alunas do curso de Licenciatura em Letras do IEL

(Instituto de Estudos da Linguagem) / Unicamp.

Estágio Supervisionado

Orientadora:

Prof.ª Drª Orna Messer Levin

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Agradecimento

Agradecemos ao amigo Sergio Ricardo Mazzolani que gentilmente

criou a capa de nosso fascículo didático. Agradecemos também a professora Orna por sua dedicação e

paciência no decorrer deste trabalho.

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Apresentação

Este fascículo foi pensado especialmente para você, aluno, que

vive uma realidade escolar às vezes por demais tradicional. Este

trabalho é o resultado de um ano nosso como autoras e estudantes,

que nos dedicamos para a construção de uma educação mais

produtiva e diversificada. Os temas dos capítulos foram pensados de

forma que a leitura se torne mais interessante e próxima de seu dia-a-

dia. Esperamos que você se divirta enquanto aprende, de forma a

conhecer o mundo literário com novas cores e matizes.

Procuramos propor atividades interessantes e diferentes, para

que note como a literatura não está distante de sua realidade, mas a

integra de uma tal forma que você muitas vezes nem se dá conta. Não

pense que existem respostas prontas: o que mais vale nesta leitura

são as suas reflexões que, aliadas a este breve livro, o levarão por

novos e insuspeitos caminhos.

Desejamos a você que a leitura seja uma passagem agradável

de se percorrer, e que você encontre no mundo dos contos inspiração

para novas leituras, conhecimentos e crescimento pessoal.

As autoras

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ÍNDICE

Capítulo 1: Mitos, contos e lendas..................................................... 09

Capítulo 2: Qualquer história é um conto?.......................................27

Capítulo 3: O conto contemporâneo.................................................. 41

Capítulo 4: Uma nova face para o conto contemporâneo............ 51

Capítulo 5: HQ – Um novo formato para o conto........................... 63

Anexo 1: O burro juiz........................ .................................................80

Bibliografia...............................................................................................81

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O começo de um conto

ocê já pode ter se perguntado: de onde vem o conto? Quem o inventou?

Ele já nasceu escrito?

Hoje se sabe que não há forma de definir exatamente quando os

contos começaram a ser “contados”. Isto ocorre porque o ato de contar é um hábito milenar.

Existem hipóteses de que os contos orais mais antigos sejam os egípcios, datados de 4.000

a.C. Mas é na cultura árabe que podemos encontrar o registro escrito mais remoto de

histórias: As mil e uma noites, no qual Sherazade conquista o rei por meio da arte de contar

histórias. Você conhece o enredo desta obra?

A história de As mil e uma noites tem início quando Charchair, o rei da Pérsia,

amargurado e desiludido pela traição da rainha, decide consolidar um plano cruel para

castigar as mulheres do reino. Após matar sua primeira esposa, ele decide desposar uma

jovem diferente a cada dia e, tendo passado a noite de núpcias dava ordens para que essa

nova esposa fosse executada. Mas depois de ser desposada pelo rei, a jovem Sherazade o

envolve com a narrativa de um conto. Com a chegada da manhã, Charchair se vê obrigado a

cuidar de seus afazeres sem ter tido tempo de ouvir o final do relato que Sherazade lhe

contara. Assim, tomado pela curiosidade, o rei poupa a vida da nova esposa por aquele dia.

E deste modo, munida de sua criatividade e destreza, a nova rainha vê passarem-se 1001

noites sem que o rei mandasse executar sua morte.

Assim chegou até nós esta coletânea de narrativas do Antigo Oriente. Nela foram

incluídos contos belos e exóticos da cultura árabe, a qual não por coincidência é o berço da

escrita.

V

Mitos, contos e lendas

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Antes do registro escrito dos contos, estes eram transmitidos oralmente. Deste

modo, a narrativa oral foi a forma primitiva do conto, presente nas noites de lua em que os

antigos se reuniam e, para passar o tempo, narravam histórias de bichos, lendas populares e

mitos.

Estas reuniões eram muito comuns em tribos, sendo que nestas ocasiões era eleito

um contador responsável por transmitir a tradição, lições de moral, etc. Com o tempo, este

hábito foi incorporado como uma prática familiar. Imaginemos a cena: a família agrupada

ao redor do dono da fala, o contador de histórias, repositório de

lendas e histórias e possuidor da arte de narrar.

Uma das figuras mais populares de contadores que

conhecemos hoje no Brasil é a Dona Benta de Monteiro Lobato,

uma senhora que contava histórias fabulosas para Narizinho,

Pedrinho e Emília, a boneca falante. Muitas das histórias

narradas por Dona Benta são lendas folclóricas do Brasil, como

as lendas do Saci e da sereia Iara que passaram de geração a

geração.

Mitos e lendas

Não há uma divisão precisa a respeito do que é conto, mito ou lenda. Estes termos

referem-se a narrativas com diferenças tênues. A respeito destas nomenclaturas, observe o

que a Grande Enciclopédia Portuguesa Brasileira Volume XIV (p.926) aponta:

Entre a lenda e o mito há de comum a porção de sobrenatural e irracional

que uma e outra contém. Diferem, porém, no grau de transcendência do

significado e no recuo do tempo. O mito situa-se nos tempos ante-históricos e

representa em um ser ou episódio sobrenaturais, quer acontecimento que por sua

excepcional grandeza e alcance houvesse profundamente impressionado os

homens (e, por exemplo, a utilização do fogo, representada no mito de Prometeu,

indo arrebatá-lo do Céu), quer fenômeno natural e normal, como o renascer anual

da Primavera (...). Tal transcendente significado, relacionado com as origens

das coisas e traduzindo em dramas de deuses e heróis mistérios religiosos ou

fenômenos cósmicos, não o têm as lendas ou contos populares, cuja ação se

move neste mundo, entre os homens e não recua para além das origens dos

povos cristãos. Por isso, se a lenda é mito pelo que encerra de sobrenatural e

irracional – e até pelo que possa conter de sobrevivência mística – chama-lhe

Max Muller Mitologia Moderna e A. Langhi Mitologia Romanesca restringindo

por tais epítetos a transcendência de significado do substantivo. (grifos nossos)

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Como você pôde ver, mitos e lendas se diferem com relação à sua face

transcendental. Isto ocorre porque o mito ultrapassa os limites de nosso tempo e espaço,

criando um mundo sobrenatural de deuses e heróis existente antes mesmo dos homens. Já

as lendas, restringem-se ao nosso mundo, numa co-habitação de deuses e homens,

envolvendo fenômenos naturais tais como o surgimento da noite, que veremos a seguir.

A tribo indígena Tupi, na tentativa de explicar o surgimento da noite criou uma

lenda muito interessante, reproduzida para leitura atenta logo abaixo:

Como a noite apareceu Intitulado por Couto de Magalhães

"No princípio não havia noite; havia dia somente em todo tempo. A

noite esteve adormecida no fundo das águas. Não havia animais: todas as coisas

falavam. A filha da Cobra Grande, contam, casara-se com um moço. Este moço

tinha três fâmulos fiéis. Um dia chamou ele os três fâmulos e lhes disse: "Ide

passear, porque minha mulher não quer dormir comigo." Os fâmulos foram-se, e

então ele chamou sua mulher para dormir com ele. A filha da Cobra Grande

respondeu-lhe: "Ainda não é noite". O moço disse-lhe: "Não há noite, somente

há dia." A moça falou: "Meu pai tem noite". Se queres dormir comigo, manda

buscá-la, lá pelo grande rio." O moço chamou os três fâmulos; a moça mandou-

os à casa de seu pai para trazerem um caroço de tucumã. Os fâmulos foram, chegaram à casa da Cobra

Grande, esta lhes entregou um caroço de tucumã muito bem fechado e disse-lhes: "Aqui está; levai-o. Eia!

não o abrais, senão todas as coisas se perderão." Os fâmulos foram-se, estavam ouvindo barulho dentro do

coco de tucumã, assim: ten, ten, len...xi...era o barulho dos grilos e dos sapinhos que cantam de noite. Quando

já estavam longe, um dos fâmulos disse a seus companheiros:

"Vamos ver que barulho será este." O piloto disse: "Não, do

contrário nos perderemos. Vamos embora, eia, rema!" Eles foram e

continuaram a ouvir aquele barulho dentro do coco de tucumã e

não sabiam que barulho era. Quando já estavam muito longe,

ajuntaram-se no meio da canoa, acenderam fogo, derreteram o breu

que fechava o coco, e o abriram. De repente tudo escureceu. O

piloto então disse: "Nós estamos perdidos; e a moça, em sua casa,

já sabe que nós abrimos o coco de tucumã!" Eles seguiram viagem.

A moça, em sua casa, disse então a seu marido: "Eles soltaram a

noite; vamos esperar a manhã."

Então todas as coisas que estavam espalhadas pelo

bosque, se transformaram em animais e em pássaros. As coisas que

estavam espalhadas pelo rio, se transformaram em patos e em

peixes. Do paneiro gerou-se a onça; o pescador e sua canoa se

transformaram em pato. A filha da Cobra Grande, quando viu a

estrela-dalva, disse a seu marido: "A madrugada vem rompendo. Vou

dividir o dia da noite." Então ela enrolou um fio, e disse-lhe: "Tu serás

cujubim." Assim, ela fez o cujubim, pintou a cabeça do cujubim de

branco, com tabatinga, pintou-lhe as pernas de vermelho com urucum, e

então disse-lhe: "Cantarás para todo o sempre, quando a manhã vier

raiando." Ela enrolou o fio, sacudiu cinza em cima dele, e disse: "Tu

serás inambu, para cantar nos diversos tempos da noite, e de

madrugada."

De então para cá todos os pássaros cantaram em seus tempos, e de

madrugada para alegrar o princípio do dia.

Quando os três fâmulos chegaram, o moço disse-lhes: "Não fostes fiéis; abristes o caroço de tucumã,

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soltastes a noite e todas as coisas se perderam, e vós também que vos metamorfoseastes em macacos, andareis

para todo o sempre pelos galhos de paus." A boca preta, e a risca amarela que eles têm no braço, dizem que é

ainda o sinal do breu que fechava o caroço de tucumã, que escorreu sobre eles quando o derreteram."

ROMERO, Sílvio. Contos Populares do Brasil. 2. ed. São Paulo: Landy, 2002. 363 p.

O texto acima expressa a forma com a qual os tupis encaravam o surgimento da

noite e a criação dos animais. Tudo na história se concentra no caroço de tucumã, um fruto

típico do local onde a tribo tupi habita. Desta forma, podemos entender que a lenda, além

de trazer uma visão primitiva de como a noite poderia ter surgido, expressa um forte tom

local dessa cultura, já que esta lenda só faz sentido para esta tribo por conhecerem o

tucumã. Assim, a composição das lendas é repleta de fatores locais. Além disso, há também

uma porção de extraordinário nesta lenda, cuja característica também é recorrente nos

mitos, pela presença do ente sobrenatural Cobra Grande, que é o protetor do tucumã e,

portanto, detentor da noite.

Curiosidade: Mito de Prometeu e Pandora

Os gregos acreditavam que na criação do mundo, os deuses

do Olimpo escolheram dois valorosos titãs para distribuírem dons às

criaturas. Assim, Prometeu e Epimeteu distribuíram dons, talentos e

instintos a todas as criaturas. Porém, ao chegar a vez do homem, não

lhes restava mais nada. Compadecendo-se da raça humana, Prometeu

invadiu secretamente o Olimpo e roubou uma chama do fogo

sagrado, dotando os homens da capacidade

de dominar o fogo e assim subjugar as

outras criaturas. Ao descobrirem o seu

pecado, os deuses do Olimpo o condenaram

a ficar pendurado em um penhasco enquanto

um repugnante abutre devorava seu fígado. Quanto a Epimeteu, os

deuses lhe enviaram uma formosa donzela chamada Pandora para

ser sua esposa. O titã ficou encantado. A moça, porém, detinha

uma curiosidade muito aguçada, e sem que Epimeteu percebesse,

Pandora abriu a caixa que continha todos os males existentes,

libertando todo mal que hoje conhecemos.

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Há também muitos exemplos de mitos presentes no que chamamos de mitologias

grega e romana. Quem nunca ouviu sobre o mito de Cupido, o deus do Amor, ou o mito de

Hércules? E de Zeus, o deus do Monte Olimpo? Os mitos fizeram parte da religião dos

povos antigos no Período Clássico, iniciando-se com os gregos por volta dos séculos VI a

IV a.C. Estas crenças inspiraram diversos artistas e até hoje são bastante conhecidas, pois

nos dizem muito sobre a visão de mundo da cultura a qual pertencem.

Mas o que mitos e lendas têm em comum com o conto?

O início do registro destas narrativas existentes na cultura dos povos e tribos antigos

foi a semente para o surgimento dos contos modernos. O imaginário coletivo, ao ser

registrado sob a forma escrita, permitiu aos compiladores acrescentarem a estas histórias

um estilo próprio, fixando uma versão particular da narrativa registrada. Com o tempo as

pessoas deixaram de registrar histórias contadas pelos outros para criarem suas próprias

narrativas, de forma que a autoria tornou-se fator primordial dos escritores das sociedades

mais contemporâneas.

Para exemplificar, podemos pensar em dois tipos de texto: os de nossa infância,

como Branca de Neve ou Os três porquinhos, ou textos mais reconhecidos pela literatura

canônica, como A cartomante de Machado de Assis ou Uma Galinha, de Clarice Lispector.

Observe que o primeiro tipo de contos é muito divulgado, mas pouco se sabe sobre

sua autoria, como é o caso da maioria dos contos de fadas. A expressão “contos de fadas” é

usada para se referir às histórias anônimas que foram e vêm sendo reelaboradas, compostas

por fragmentos de outras histórias, sofrendo acréscimos, supressões, mesclando-se até

chegar aos nossos ouvidos. Daí a expressão tão conhecida: quem conta um conto, aumenta

um ponto.

Segundo Maria de Luzia (1992), “Em língua portuguesa o termo „conto‟ serve para

designar a forma popular, folclórica, criação coletiva da linguagem e daí a não-propriedade

de um único criador, e, ao mesmo tempo, a forma artística atributo exclusivo de um estilo

peculiar, individual”. Ou seja, são considerados contos tanto os textos dos quais sabemos o

autor quanto os textos dos quais pouco se conhece a origem.

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Curiosidade: Freia, a rainha dos deuses nórdicos

Algumas narrativas foram transmitidas oralmente por

tanto tempo que as versões mais conhecidas hoje acabaram

por carregar muito pouco da versão original. É o caso desta

figura da cultura nórdica.

Freia, “A Amada”, era para os nórdicos a esposa de

Odin, o Pai-de-Tudo. Ela sentava-se em

seu trono celestial e tecia as nuvens que

amenizam o calor do sol. Por meio de

artimanhas femininas, ela conseguia de

Odin a realização dos desejos dos

guerreiros que a ela recorriam. Era a

protetora dos que navegavam os mares e

a guardiã das crianças. Porém, com o

advento do cristianismo, Freia foi transformada numa figura

diabólica, uma líder dentre as bruxas. Os gatos, que antes

puxavam seu carro e eram vistos como seres gentis,

passaram a ser criaturas satânicas que a acompanhavam, e até hoje são relacionados com

contos de bruxaria.

Atualmente, podemos dizer que ainda há um resquício do

conto popular nas lendas urbanas, relatos de cunho ficcional que

são amplamente divulgados oralmente, através de e-mails ou pela

própria imprensa. Quem não conhece a história da Loira do

banheiro? Embora não seja um exemplo clássico como o Saci

Pererê, a história da loira do banheiro é conhecida principalmente

nos meios escolares. Vejamos uma das mais conhecidas lendas

urbanas da região Sudeste.

A loira do banheiro

Esta história é muito contada em escolas da rede

pública na cidade de São Paulo. Sua fama é muito grande

entre os alunos.

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Uma garota muito bonita de cabelos loiros com aproximadamente 15 anos sempre

planejava maneiras de matar aula. Uma delas era ficar ao banheiro da escola esperando o

tempo passar.

Porém um dia, um acidente terrível aconteceu. A loira escorregou no piso molhado

do banheiro e bateu sua cabeça no chão. Ficou em coma e pouco tempo depois veio a

falecer.

A menina não se conformou com seu fim trágico e prematuro. Sua alma não quis

descansar em paz e passou a assombrar os banheiros das escolas. Muitos alunos juram

terem visto a famosa loira do banheiro, pálida e com algodão no nariz para evitar que o

sangue escorresse.

Você pode encontrar estas e outras versões (da boca do povo) no site:

http://ifolclore.vilabol.uol.com.br/lendas/sd/sd_loira01.htm. Pode ainda conhecer diferentes

versões, nos diferentes estados brasileiros: http://www.e-farsas.com/lendas_loira.htm

É possível citar ainda diversas lendas urbanas que as pessoas comentam com

freqüência: A Loira da Estrada, Elvis Não Morreu, o Roubo dos Rins, enfim, um repertório

significativo presente na imaginação da sociedade.

Para concluir Da incrível Sherazade e suas mil e uma noites até as histórias de Edgar Alan Poe

(falaremos sobre ele no próximo capítulo), o conto tornou-se senão o mais popular, um dos

mais populares estilos literários. Você já se arriscou a escrever algum? Você já tentou

definir o que é conto? Conhecemos na nossa literatura brasileira alguém que tentou. O

escritor Mário de Andrade afirmou: “Conto será sempre aquilo que seu autor batizou de

conto”. Você concorda?

O que você aprendeu:

Enfim,.

ale a pena conferir!

V

O que você aprendeu

Neste capítulo foi possível conhecer ou rever:

A origem do conto

Diferentes mitos e lendas e sua relação com o conto

As lendas urbanas

Enfim, você pôde perceber a importância cultural do conto, hoje considerado uma forma literária.

Page 17: Contos Ideias Bacanas

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Filmes de histórias remontadas ou às avessas

Como está tudo programado no mundo dos contos de fada para que haja um final feliz, o Mago,

responsável pelo equilíbrio entre as forças do bem e do mal, decide sair em férias. Ele deixa seus

assistentes, Mambo e Manco, cuidando de tudo. Porém um erro faz com que Frieda, a madrasta da

Cinderela, tenha a posse do cajado mágico. Seu objetivo é tomar o controle do mundo de contos de

fada, fazendo com que os vilões vençam e que os finais das histórias jamais sejam felizes

novamente. Isto faz com que Cinderela, mais conhecida como Ella entre os amigos, tenha que

encontrar um meio de, a madrasta da Cinderela, tenha a posse do cajado mágico. Seu o deter Frieda, contando com a ajuda de Rick,

Manco, Mambo e um exército composto de fadas e anões.

http://www.adorocinema.com.br/filmes/deu-a-louca-na-cinderela/deu-a-louca-na-cinderela.asp

O filme conta a história da bela princesa Giselle

que é banida por uma rainha malvada de seu mundo animado mágico e musical e vai parar na

dura realidade das ruas de Manhattan dos dias de hoje. Em choque no novo e estranho ambiente

que não funciona na base do "e viveram felizes

para sempre", Giselle está agora à deriva em um mundo caótico e que necessita urgentemente de

encantamento. Mas quando Giselle começa a se apaixonar por um advogado divorciado e

charmoso que vem em seu auxílio - ela, mesmo estando prometida a um perfeito príncipe

encantado de contos de fadas em sua terra, se pergunta: será que a perspectiva de romance de um livro de histórias é capaz de sobreviver

no mundo real?

http://www.choveu.net/cinema/cinema.aspx?keyfilme=MTMzODk=

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A tranqüilidade da vida na floresta é alterada

quando um livro de receitas é roubado. Os suspeitos do crime são Chapeuzinho Vermelho, o

Lobo Mau, o Lenhador e a Vovó, mas cada um deles conta uma história diferente sobre o ocorrido. Cabe

então ao inspetor Nick Pirueta investigar o caso e descobrir a verdade.

http://www.adorocinema.com/filmes/deu-a-louca-na-chapeuzinho/deu-a-louca-na-

chapeuzinho.asp

Em um pântano distante vive Shrek, um ogro solitário que vê, sem mais nem menos,

sua vida ser invadida por uma série de personagens de contos de fada, como três

ratos cegos, um grande e malvado lobo e ainda três porcos que não têm um lugar onde morar.

Todos eles foram expulsos de seus lares pelo maligno Lorde Farquaad. Determinado a

recuperar a tranqüilidade de antes, Shrek

resolve encontrar Farquaad e com ele faz um acordo: todos os personagens poderão retornar

aos seus lares se ele e seu amigo Burro resgatarem uma bela princesa, que é

prisioneira de um dragão. Porém, quando Shrek e o Burro enfim conseguem resgatar a princesa logo eles descobrem que seus problemas

estão apenas começando. http://www.adorocinema.com.br/filmes/shrek/shrek.asp

Page 19: Contos Ideias Bacanas

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Atividade 1 Responda às questões com base no conto sobre surgimento da noite apresentado neste

capítulo.

a) Há contos, mitos e lendas que

explicam o surgimento de

outros elementos da natureza.

Reúna-se com seus colegas de

classe (vocês podem ir à

biblioteca, pesquisar na

Internet ou mesmo perguntar

aos professores e familiares) e

pesquise sobre esses outros

textos. Faça uma lista e

compare com os outros grupos

de sua sala.

b) Pudemos perceber que no mito indígena o surgimento da noite é explicado

conforme a crença do povo Tupi, ou seja, trata-se de uma explicação que

não é científica. De acordo com o mito lido, conte como surgiu a noite.

Descreva, em termos científicos, por que a noite surge. Para isso, é relevante

lembrar das aulas de geografia, onde o professor explicou os movimentos de

translação e rotação da Terra.

c) A noite pode suscitar diferentes sensações nas pessoas, em algumas pode

provocar melancolia, em outras, romantismo, e ainda há aquelas que vêem a

noite como algo que representa medo e mistério. Qual é a sua visão a

respeito da noite? Na pintura acima, obra de Vincent van Gogh “Noite

Estrelada”, a noite foi pintada de memória e não a partir de uma paisagem

real. Acredita-se que este seja o motivo pelo qual essa obra cause um

impacto ao espectador. Como você acha que o artista sentiu a noite? Que

impressão este quadro causou em você?

Respostas esperadas

a) Espera-se que o aluno tenha um contato prático dentro e fora de sala de aula com

alguns veículos de pesquisa para que aprofunde seus conhecimentos a respeito de

contos, mitos e lendas.

b) Trata-se de uma atividade interdisciplinar de compreensão do mito e refacção do

surgimento da noite com base no conhecimento científico.

Atividades

Page 20: Contos Ideias Bacanas

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c) Esta atividade permitirá com que o aluno associe o tema do texto lido à obra de

Vincent van Gogh. É um exercício subjetivo que visa trazer à tona certas emoções por

meio da expressão artística e assim demonstrar que a arte sempre sugere algum tipo de

emoção.

Atividade 2 Beowulf, o guerreiro dos geats

A história de Beowulf foi trazida para a Grã-Bretanha pelos vikings. Hrothgar era rei da

Dinamarca e construiu em seu reino um poderoso palácio. No entanto, seu povo era afligido

pelo monstro Grendel, que todas as noites

invadia o salão e devorava os mais corajosos

guerreiros. Sabendo da aflição deste reino,

Beowulf partiu da terra dos gueats e foi ao

encontro de Hrothgar, ao qual jurou acabar com

a criatura. Beowulf e seus homens dormiam no

salão do palácio quando o monstro chegou.

Beowulf arrancou o braço de Grendel com as

próprias mãos, fazendo com que a criatura

fugisse para os pântanos para esperar a morte. Todos comemoraram a vitória e dormiram

tranqüilos. Mas Grendel foi ao encontro de sua mãe, e quando esta viu a sua dor jurou-lhe

vingança, e atacou o reino de Hrothgar, deixando um rastro de morte e destruição. Mais

uma vez Beowulf partiu para a luta, e encontrou a horrenda criatura, metade lobo, metade

mulher, numa caverna sob a água. Beowulf lutou bravamente com a mãe de Grendel e a

derrotou, trazendo novamente a paz para o povo da Dinamarca. Anos mais tarde, quando se

tornou rei do povo dos gueats, Beowulf enfrentou um poderoso dragão e conseguiu matá-

lo, mas isto lhe custou a vida. Como recompensa por sua morte, o herói conquistou um

gigantesco tesouro para o seu reino e sua fama espalhou-se por toda a Escandinávia.

Beowulf, o filme

Inspirado em um antigo poema, o filme conta a história do destemido guerreiro

escandinavo Beowulf (Ray Winstone), que precisa defender o

reino do monarca Hrothgar (Anthony Hopkins) do feroz demônio

Grendel (Crispin Glover). Em uma desesperada batalha, Beowulf

acaba matando o monstro, atraindo para si a terrível ira de sua

impiedosa e sedutora mãe (Angelina Jolie), que decide vingar sua

morte. Anos mais tarde, Beowulf irá se deparar com o maior

desafio de sua vida, personificado na figura de um poderoso

dragão. O filme apresenta importantes acontecimentos da lenda,

não deixando, é claro, de acrescentar um toque a mais de ficção

na história, que envolve muitos elementos que não estavam

presentes na lenda original do guerreiro.

Agora é sua vez!

Reúna-se com seus amigos e assista a este filme. Releia o resumo da lenda original e

discuta com sua classe: o que o filme e a lenda têm em comum? Quais suas diferenças?

Porque vocês acham que o diretor alterou a história original?

Page 21: Contos Ideias Bacanas

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Resposta esperada

Através desta atividade pretende-se despertar nos alunos um interesse sobre as diversas

versões que uma lenda pode adquirir. Ao ver o filme, eles perceberão que apesar de contar

parte essencial da lenda original, o filme traz novos contornos à história. O diretor do filme

pode ter alterado a história por diversos motivos: para tornar o filme mais emocionante,

para que a história tivesse um clima mais romântico em alguns momentos, etc.

Atividade 3

Câmara Cascudo disse que o conto “É um documento vivo, que denuncia costumes, idéias,

mentalidades, decisões e julgamentos”.

a) Com base nessa afirmação e no que leu até agora, você pode dizer por que o conto é

um documento vivo?

b) Dê exemplos, com base em suas experiências, de contos, mitos ou lendas que

denunciem costumes ou julgamentos. Por exemplo: há contos que defendem que as

pessoas boas sempre são recompensadas no final; como no caso da humilde

Cinderela, que foi uma boa moça e no fim se casou com o príncipe. Ou ainda.

quando Pinocchio contava mentiras, seu nariz crescia, o que demonstrava que era

errado contar mentiras.

Resposta esperada

O aluno deverá notar que o conto é um documento vivo, porque traz registros dos traços

culturais de uma determinada sociedade. E é vivo porque é transmitido de geração a

geração até chegar aos nossos ouvidos. Além disso, o aluno deverá perceber que,

dependendo do contexto histórico, o conto denunciará diferentes costumes. Por exemplo:

muitas coisas que não eram aceitas pela sociedade antigamente são tidas hoje como

comuns.

Atividade 4 Neste capítulo, você aprendeu que os mitos e as lendas muitas vezes são maneiras de

explicar fenômenos e/ou acontecimentos de uma forma muito típica de cada sociedade.

Nosso país, de grande extensão, abriga os mais diversos tipos de culturas, com costumes,

culinária e sotaques bastante diferentes entre si. Isso sem mencionar a quantidade de mitos

e lendas. Você já havia pensado nisso? Pesquise com pessoas de outras regiões do Brasil,

que porventura você conheça, ou mesmo em livros e na Internet, algum mito ou lenda que

não seja conhecido nessa região, ou ainda, que tenha uma versão diferente da que você

conhece.

Resposta esperada

Nesta atividade buscamos aproximar a questão da diversidade cultural através dos mitos e

lendas, mostrando que bem próximo a nós, dentro do mesmo país, essa diversidade é

grande e bastante rica, estimulando o interesse e respeito pelas diferenças. Aqui o aluno

poderá citar a lenda do Boi-Bumbá (Amazonas), a lenda do Famaliá (norte de Minas e

Nordeste), a lenda do Negrinho do Pastoreio ou da Salamanca do Jarau (Rio Grande do

Sul), etc.

Page 22: Contos Ideias Bacanas

21

Atividade 5 Quem nunca brincou de telefone sem fio? Eis um bom exemplo do que aconteceu

com os contos desde o início dos tempos. Faça um círculo em sala, alguém terá que

inventar uma pequena história e falará no ouvido do outro e assim sucessivamente até que a

história chegue ao ouvido do criador da história. Observação: O aluno que inventou a

história deverá anotar a versão inicial e a final. Depois a sala poderá discutir as mudanças e

ver na prática o que está sendo abordado neste capítulo.

Resposta esperada

A atividade tem por objetivo mostrar aos alunos que antes de se ter registro escrito, cada

pessoa que contava uma história a modificava conforme seu próprio ponto de vista, ou seja,

ressaltava as partes que mais chamavam sua atenção.

Atividade 6 Certamente você já deve ter ouvido falar da Loira do banheiro, se não ouviu, acabou

de conhecer. Então agora é sua vez de passar esse conto adiante. Reescreva essa lenda

urbana, a partir de sua visão. Depois, compartilhe sua versão da história com seus colegas

de classe. Essa será uma maneira interessante de perceber como os contos vão sendo

modificados quando passam de boca em boca.

Resposta esperada

Espera-se com essa atividade de produção textual incentivar o aluno a pesquisar lendas

urbanas e discutir com seus colegas as diferentes versões de uma mesma lenda. O que

prova que os contos, os mitos e as lendas foram modificados com o passar do tempo, pois

de boca em boca sempre se modificam.

Atividade 7 Leia os quadrinhos e responda:

Page 23: Contos Ideias Bacanas

22

Veja a história completa em: http://www.monica.com.br/comics/banheiro/pag1.htm

Page 24: Contos Ideias Bacanas

23

a) A lenda da Loira do banheiro é o tipo de história que pode gerar julgamentos de

valor no que se refere a acreditar ou não. Cebolinha não acredita nessa lenda urbana

e você? Você conhece alguma história assim que alguns acreditem e outro não? Ou

já foi para alguma cidade pequena de interior que tenha alguma lenda? Ou conhece

alguma história de acampamento? Conte para a sala.

b) Experimente fazer quadrinhos com a história que contou. Você pode criar

personagens conversando sobre o assunto como fez Maurício de Sousa ou então

fazer quadrinhos da história em si. A seguir, exponha esses quadrinhos na sala de

aula.

c) A Mônica disse que tem um ritual para a assombração da loira aparecer. Você sabe

o que é um ritual? Será que todos os rituais são voltados para o mal? Pesquise com

seu professor a respeito.

Respostas esperadas

a) O objetivo dessa atividade é desenvolver uma prática oral. O aluno/estudante

buscará na memória alguma história do tipo fantástica e contará para a sala. Espera-

se que ele conte com um tom de suspense como histórias desse âmbito exigem.

b) O objetivo é a produção do gênero quadrinhos. Espera-se que o aluno atente para a

importância da imagem na produção de significado da história e que perceba que a

parte textual deve ser estruturada por meio de diálogos e que o texto tem que ser

bem mais sintético devido a essa estrutura.

c) (Se necessário o professor pode auxiliar numa discussão sobre este tema). Espera-se

que o aluno perceba que ritual é um procedimento realizado para algo acontecer. A

pessoa que faz um ritual tem que seguir alguns passos que devem obedecer a

alguma ordem. Se modificar a ordem ou fazer algum passo errado, o ritual não dará

certo. É uma atividade também que exige uma reflexão. Baseado em seu

conhecimento de mundo, o aluno deverá responder se os rituais são voltados

somente para o mal.

Atividade 8

A Murta que Geme é um personagem dos livros Harry Potter. Ela era

uma aluna de Hogwarts* que depois de morta virou um fantasma que

assombra o banheiro feminino do segundo andar da escola. Não pára de

ter acessos de raiva, inundando o banheiro. Foi morta pelo basilisco* na

época em que Tom Riddle estudava em Hogwarts, quando este abriu a

Câmara Secreta*. Aparentemente aconteceram vários ataques, mas o de

Murta foi o único fatal, e também o último.

*Hogwarts: Considerada como a melhor escola para bruxos de toda Europa, foi fundada há mais de 1.000 anos por quatro

dos melhores bruxos da época.

Page 25: Contos Ideias Bacanas

24

*Basilisco: uma cobra verde-vivo. Embora tenha um excepcional veneno, seu principal método de matar são seus grandes

olhos amarelos, que mata qualquer um que olhar diretamente para eles (e petrifica aqueles que olharem através de alguma

interferência).

*Tom Riddle: Talvez o mais brilhante estudante que Hogwarts já teve (um personagem do lado do mal).

*Câmara Secreta: Lugar criado para bruxos legítimos por um dos bruxos fundadores da escola que achava que somente

bruxos legítmos poderiam frequentar Hogwards. Lá ficava o basilisco.

http://potterish.com/wiki/index.php/Hogwarts

Agora que você pôde ver ou rever a história da Loira do banheiro e da Murta Que

Geme de Harry Potter, faça uma comparação, com base no que você já sabe e naquilo que

você leu, entre esses personagens e histórias dizendo o que há em comum e as diferenças

entre eles.

Resposta esperada

O aluno deverá dizer o que há em comum nas duas histórias, por exemplo, ambas as

meninas foram mortas no banheiro e assombram as pessoas lá; ambas inundam o banheiro.

Já algumas diferenças: a loira do banheiro escorregou por acidente no banheiro, bateu a

cabeça e morreu, já a Murta foi assassinada pelo basilisco, além disso, não há indícios de

que a Murta “cabulava aulas”, como a loira do banheiro. Todas essas semelhanças e

diferenças comprovam que há uma idéia comum – a menina que morreu no banheiro e

assombra as pessoas lá – e a partir dessa idéia diferentes versões foram desenvolvidas.

Atividade 9 Leia o texto abaixo e responda às questões:

Conto de fadas (uma versão para adultos)

O relógio marcava 16h45 quando Cinderela chegou à casa de

chá. Esperando impacientemente lá estava a Bela, batendo os

dedos no tampo da mesa. Apesar de não estar atrasada, pois o

encontro foi agendado para as 17h, Cinderela se sentiu culpada

por fazer a controladora Bela esperar.

“Que demora!” – exclamou a Bela, que já nem era tão bela

assim, depois de ter se casado com a Fera, tinha engordado uns

15 quilos, para dizer o mínimo. Cinderela sentou-se à mesa e ficou quieta, contou até dez e

tentou se concentrar no mantra que seu personal de ioga havia ensinado para quando

estivesse muito próxima de explodir. Depois de respirar até dez por cinco seqüências

seguidas, Cinderela se acalmou e, só então, conseguiu desfrutar da companhia da amiga.

“Branca de Neve ainda não chegou, como sempre”, queixa-se a Bela comendo mais um

merengue lambuzado de açúcar.

“Ela sempre chega um pouco atrasada”, confirmou Cinderela já refeita da quase explosão

de raiva.

“Como vão as crianças e o maridão?” – indagou a Bela.

“Ah, o Júnior está terrível! A professora disse que ele está aprontando na classe e, pelo

jeito, nunca se encaixará no perfil de príncipe encantado, seguindo as pegadas do pai. Eu já

nem sei como fazer. Cinderelazinha tem uma agressividade que nem sei como será, ela é

Page 26: Contos Ideias Bacanas

25

toda brutalizada, não gosta de brincar de boneca e sequer usa aquelas roupas lindas cheias

de fitinhas e sapatinhos de cristal. Só quer saber de aprender boxes, lutas marciais! Meus

filhos não correspondem a nenhum perfil de príncipe e princesa, já não sei o que fazer com

estas crianças. Sinceramente, não sei onde eu errei”, disse Cinderela caindo em prantos no

meio do salão de chá.

Sem saber o que falar, Bela empurra um pedaço de bolo de chocolate dizendo: “Come que

logo vai passar. Mas e o príncipe não ajuda em nada? Você tem que se impor, Cinderela!

Afinal, a criação dos filhos é de responsabilidade dos dois!” – argumenta indignada a Bela.

“Ah, o príncipe já não é mais o mesmo. Sempre me deixa de

lado e agora deu para chegar muito tarde. Desconfio que ele

tenha um caso com uma das empregadinhas do palácio. Ele

vive de cochichos pelos cantos ao celular, agora deu para

querer fazer ginástica, determinou que os costureiros reais

fizessem um guarda-roupa novinho! Ele está naquela fase da

meia-idade que não aceita a velhice. Sabe que ele já marcou

consulta com um médico para fazer implante no cabelo? Ele já

não me ama mais”, sentenciou Cinderela dando uma grande

fungada no fino lencinho bordado que Bela tinha lhe

oferecido.(...)

http://carlagiffoni.blogspot.com/2008/03/conto-de-fadas-uma-verso-para-adultos.html

a) O texto acima faz referência a alguns contos de fadas muito conhecidos

mundialmente. Quais são eles? Quais os elementos presentes no texto que podem

nos levar a esta conclusão?

b) Podemos perceber no texto uma série de elementos que caracterizam problemas de

nossa sociedade atual. Identifique-os.

c) Meus filhos não correspondem a nenhum perfil de príncipe e princesa, já não sei o

que fazer com estas crianças. Cinderela fala esta frase referindo-se ao perfil de

príncipe do contexto no qual a história foi inicialmente escrita. Reflita: qual seria o

perfil de príncipe/princesa na sociedade de hoje? (Se necessário o professor pode

auxiliar numa discussão sobre este tema).

Respostas esperadas

a) O texto acima faz referência às histórias da Branca de Neve, A Bela e a Fera e

Cinderela. Podemos perceber esta relação pelo nome das personagens, pela

alusão às figuras do príncipe encantado e da Fera, e às roupas lindas cheias de

fitinhas e sapatinhos de cristal.

b) São problemas característicos de nossa sociedade atual o desejo das mulheres de

perderem peso, a compulsão pela comida, a dificuldade de educar os filhos e os

problemas de traição no casamento, que não existiam nas histórias originais

destas personagens.

c) Esta questão tem o objetivo de gerar nos alunos uma reflexão acerca dos valores

que nossa sociedade tem hoje e dos valores que eram válidos na época em que

as histórias foram escritas. Assim, o fato de que a filha de Cinderela não deseja

Page 27: Contos Ideias Bacanas

26

usar roupas com fitas e nem sapatos de cristal não seria hoje um empecilho para

que ela se tornasse uma “princesa”.

Atividade 10

Agora você pode verificar na prática como surge um conto, assistindo ao filme

Narradores de Javé (http://pt.wikipedia.org/wiki/Narradores_de_Jav%C3%A9). Após assistir ao

filme, discuta com seus colegas de classe, junte as idéias e faça seu próprio conto,

utilizando o que aprendeu nesse capítulo.

Page 28: Contos Ideias Bacanas

27

este capítulo pretendemos tratar do conto no sentido usual do termo, não

mais como relato de mitos e lendas, mas como arte literária, tal como você já

deve ter lido na escola. Agora, porém, você verá alguns contos que são

pouco comuns na sala de aula. É possível que você desconheça alguns dos autores:

passaremos por contos da literatura mais recente, que tratam de problemas e situações

bastante próximas do nosso dia-a-dia. A partir destes textos, você irá pensar sobre que

estrutura permite que determinado texto seja considerado conto e questionar se tal

estrutura existe de fato.

Para iniciar esta discussão, observaremos neste capítulo algumas definições de

conto.

Vejamos a definição de um dicionário sobre o assunto:

conto1

con.to1

sm (der regressiva de contar) 1 Narração falada ou escrita. 2 História ou historieta

imaginadas. 3 Fábula. 4 Patranha inventada para engazopar indivíduos rústicos e

geralmente de má-fé. sm pl Embustices, histórias, tretas. C. acumulativo, Folc:

brinquedo infantil que consiste no encadeamento de palavras articuladas em série

ininterrupta, formando histórias sem fim. C. da carochinha: conto popular para

crianças; lenda. Cair no conto: ser iludido.

Fonte:http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=português portugues&palavra=conto

Observamos que a primeira acepção que o dicionário traz para a palavra está

relacionada ao ato de narrar. Pense agora nos contos que você conhece: tratam-se

sempre de formas narrativas. Logo, podemos dizer que o conto é essencialmente uma

narrativa. Afinal, o conto é uma história narrada por alguém, sendo que seu narrador

pode estar em primeira ou terceira pessoa.

Só isso, porém, não é suficiente para definir o que é um conto. E por que não?

Justamente porque novelas, romances, crônicas e diversos outros gêneros literários

possuem este mesmo caráter narrativo. Então como distinguir o conto das demais

N

Qualquer história é um conto? “Conto é aquilo que seu autor batizou com o nome de conto”.

Mário de Andrade

Page 29: Contos Ideias Bacanas

28

narrativas? Essa pergunta obteve diversas respostas ao longo da história - vejamos

algumas delas.

Um grande contista que muito falou sobre a teoria do conto foi Edgar Allan

Poe. Ele definiu dois princípios básicos do conto: a extensão e a unidade de efeito.

Para Poe um bom conto seria aquele que, diferentemente do romance, pudesse ser lido

“numa só assentada”, e que, em um curto espaço de tempo (de meia a duas horas)

conseguisse alcançar um efeito, único e intenso, previsto pelo autor. Dessa forma, ele

explica que “no conto breve, o autor é capaz de realizar a plenitude de sua intenção, seja

ela qual for. Durante a hora de leitura atenta, a alma do leitor está sob o controle do

escritor. Não há nenhuma influência externa ou extrínseca que resulte de cansaço ou

interrupção”.(p. 20)

Quem foi Edgar Allan Poe?

Edgar Allan Poe nasceu em Boston, no dia 19 de Janeiro de 1809. Seus pais

faleceram pouco tempo depois do nascimento de Rosalie, a filha mais nova do casal.

Porém, Poe e sua irmã não ficaram desamparados e foram adotados pelo rico casal John

Allan e Frances Keeling Allan.

Aos 27 anos casou-se com sua prima, Virgínia Clemn.

Em 1847, sofreu com a morte de sua esposa vitimada pela

tuberculose. Desiludido, voltou para Richmore. Depois foi

para Nova York e entregou-se à bebida. Antes de seguir para

a Filadélfia, resolveu encontrar-se com velhos amigos. Na

manhã seguinte, Poe foi encontrado por um amigo,

inconsciente e moribundo. Morreu na manhã do domingo

seguinte, aos 39 anos, em 7 de outubro de 1884.

As definições de conto não páram por aí. Elas dizem respeito também ao

conteúdo que ele pode ou deve envolver. No livro intitulado “Teoria do Conto”, Nadia

Gotlib critica o conto visto como compromisso com a realidade, dizendo que “O conto,

no entanto, não se refere só ao acontecido. Não tem compromisso com o evento real.

Nele, realidade e ficção não têm limites precisos”. “Um relato, copia-se; um conto,

inventa-se”, afirma Raúl Castagnino. “A esta altura, não importa averiguar se há

verdade ou falsidade: o que existe é já a ficção, a arte de inventar um modo de

Page 30: Contos Ideias Bacanas

29

representar algo”(p. 8). Então você poderia se perguntar: sobre o quê trata um conto? E

talvez a resposta para esta questão ainda não esteja clara.

Curiosidades: As teorias de Tchékhov

Também Anton Pavlovitch Tchékhov foi contista.

Em muitos pontos coincidiu com o pensamento de Poe.

Mas para Tchékhov, a brevidade e efeito do conto não

bastavam: o gênero precisaria ainda de força, clareza e

compactação. Força dos acontecimentos, prendendo a

atenção do leitor, clareza de idéias para uma compreensão

imediata da história, e compactação, pois “Quanto mais

objetivo, mais forte será o efeito” (Tchékhov).

Esta discussão sobre teorias do conto é uma história inacabada. O debate tomou

direções tão imprecisas que Mário de Andrade, um dos grandes escritores do século

XX, demonstrou sua insatisfação diante desta polêmica afirmando: “Tanto andam

agora preocupados em definir o conto que não sei bem se o que vou contar é conto ou

não, sei que é verdade” (ANDRADE, Mario. 1956)

Para pensar um pouco mais sobre as dificuldades em se definir o gênero, leia

atentamente o texto abaixo:

Texto 1: Sinhá Secada

Vieram tomar o menino da Senhora. Séria, mãe, moça dos olhos grandes, nem

sequer era formosa; o filho, abaixo de ano, requeria seus afagos. Não deviam cumprir

essa ação, para o marido, homem forçoso. Ela procedera mal, ele estava do lado da

honra. Chegavam pelo mandado inconcebíveis pessoas diversas, pegaram em braços o

inocente, a Senhora ainda fez menção de entregar algum ter, mas a mulher da cara

corpulenta não consentiu; depois andaram a fora, na satisfação da presteza, dita

nenhuma desculpa ou palavra.

Muitos entravam na casa então, devastada de dono. Cuidavam escutar soluço,

do qual mesmo não se percebendo noção. Sentada ela se sucedia, nas veras da alma,

enfim enquanto repicada de tremor. Iam lhe dar água e conselhos; ela nem ouvia,

inteiramente, por não se descravar de assustada dor. - "Com quê?"- clamou alguém,

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Page 31: Contos Ideias Bacanas

30

contra as escritas injustiças sem medida nem remédio. Achavam que ela devia renitir,

igual onça invencível; queriam não aprovar o desamparo comum, nem ponderar o medo

do mundo, da rua constante e triste. Ela continha na mão lembrança de criança, a

chupeta seca. - "Uf!"- e a gente se fazendo mal, com dó, com dúvida de Deus em

escuros. Do jeito, o fato se endereçou, começador, no certo dia. No lugar, por conta de

tudo, mães contemplavam as filhas, expostas ao adiante viver, como o fogo apura e

amedronta, o que não se resume. (...)

ROSA, João Guimarães. Sinhá Secada. In: BOSI, Alfredo. O Conto Brasileiro Contemporâneo.

11. ed. São Paulo: Cultrix, 1995. p. 61-64.

O texto narra o drama de uma mãe solteira que tem seu filho tomado. O autor,

Guimarães Rosa, recorre a figuras de linguagem a fim de criar efeitos no texto. Observe

a oração: “Muitos entravam na casa então, devastada de dono”. Nela, Rosa brinca com a

linguagem: a casa estaria tão repleta de gente estranha, que já não existiria mais um

“dono”. O trecho inteiro se passa na casa da mãe desamparada e toda a descrição do

cenário gira em torno do que essa mãe sente em relação ao ocorrido. “Ela continha na

mão lembrança de criança, a chupeta seca.” – esta oração exprime o que a moça trazia

na mão (chupeta seca) em função do que ela trazia em seus sentimentos (lembrança de

criança). O texto apresenta, ainda, momentos nos quais o foco do narrador recai sobre

os pensamentos da mãe: “o filho, abaixo de ano, requeria seus afagos”. Neste trecho, a

fala do narrador expressa um pensamento que pertence à mãe. Dizemos que nestes

momentos o narrador é onisciente.

Tome Nota!

Narrador onisciente é quando a voz do narrador traduz a voz da personagem,

de forma que o narrador conhece e expressa os pensamentos, desejos e sentimentos de

algum personagem da história.

Mas os contos possuem formatos muitos variados. Veja agora um conto

moderno:

Texto 2: O ciclista

Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho

e não se perturba – levanta vôo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano

persegue a morte como trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a

domicílio.

Page 32: Contos Ideias Bacanas

31

É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio

acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso,

desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné.

Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão.

Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfano esqueleto. Se não se

estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre

nuvens, a bicicleta no ombro.

Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água no asfalto.

Num só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.

Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o

sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.

TREVISAN, Dalton. O ciclista. In: BOSI, Alfredo. O Conto Brasileiro

Contemporâneo. 11. ed. São Paulo: Cultrix, 1995. p. 189.

Quem é Dalton Trevisan?

Dalton Trevisan nasceu em Curitiba a 14 de junho de 1925. Diplomou-se pela

Faculdade de Direito do Paraná. Fundou na sua cidade uma das revistas literárias mais

importantes da década de 40, Joaquim. Começou a

editar os seus contos em folhetos que lembram a

literatura de cordel. A partir de 1959, com a

publicação das Novelas Nada Exemplares, a sua

obra passa a ter repercussão nacional. Atualmente

vive em Curitiba e não dá entrevistas: é um autor

que não gosta de publicidade.

No conto acima, toda a narrativa acontece em função da forma como o ciclista se

comporta – sua forma de pedalar, os riscos que corre quando está na rua, etc. Apesar de

ser um conto curto, não deixa de possuir uma ação e personagens bem definidos (o

ciclista andando na rua com sua bicicleta). O segredo da brevidade deste conto está no

uso constante que seu autor faz de metáforas: “Na esquina dá com o sinal vermelho e

não se perturba – levanta vôo bem na cara do guarda crucificado”.

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Page 33: Contos Ideias Bacanas

32

Certamente podemos dizer que os dois textos acima são muito diferentes. Apesar

dos autores terem nascido em épocas relativamente próximas, observamos que as

narrativas diferem muito quanto ao tipo de tema, descrição, tempo narrativo, linguagem,

extensão, etc. Apesar de tais diferenças, considera-se que ambos pertencem ao mesmo

gênero: o conto. Como pode ser?

A estrutura do conto

É possível observar nos contos a presença de uma estrutura característica, o que

nos colocaria próximos, senão de uma definição precisa, ao menos de um conjunto de

princípios aos quais os contos geralmente seguem: são narrativas em prosa, concisas,

breves. Por conta disto, há autores que destacam como importante característica do

conto a densidade, já que estes reúnem em poucas linhas uma história com início, meio

e fim.

Consideremos agora um conjunto de propriedades que os contos em geral

apresentam. Ressaltemos, contudo, que para serem bons contos não precisam

obrigatoriamente apresentar estas propriedades. Você pode fazer um texto que não se

encaixe perfeitamente nestes itens que iremos expor, mas que seja um ótimo conto.

Vamos apenas revisar estas propriedades que se encontram em muitos dos contos que

conhecemos.

1. Narração: sempre está presente, pois um conto é uma forma de narrativa. Pode

estar em primeira ou terceira pessoa, não importa. Como há uma preferência pela

concisão da história e concentração dos efeitos, a narrativa torna-se curta.

2. Ação: o conto geralmente apresenta um único conflito, já que costuma ser uma

história curta que não comportaria conflitos diversos.

3. Tempo: o tempo é limitado, já que as ações são limitadas pela própria

brevidade da narrativa.

4. Espaço: a história costuma passar-se em um único espaço, já que não há tempo

para mover os personagens por muitos cenários. Isto não quer dizer que o cenário tenha

que ser único, mas apenas que sua limitação deve-se às limitações da própria ação.

5. Efeito: A ação do conto converge para causar no leitor um efeito, que

geralmente é o objetivo do conto. Pode ser um conto assustador, comédia, romance; não

importa.

Page 34: Contos Ideias Bacanas

33

6. Personagens: são poucas, já que isto permite que a narrativa seja mais curta.

7. Descrição: os elementos descritivos costumam ser poucos. A descrição do

espaço (ou ambiente) e das personagens pode ser modesta, sendo geralmente voltada

para o que é exigido pela ação, ou seja, para o efeito que se deseja alcançar com o

conto. Poucas vezes o conto apresenta digressões (retorno para fatos do passado) e

extrapolações (inclusão de outras ações além da ação principal), já que costuma ser

contido em suas reflexões. Isto, porém, não é uma regra geral, já que os contos

contemporâneos muito inovaram em certas características que não eram comuns nos

primeiros contos literários.

8. Diálogo: costuma ser muito importante quando se trata de tornar o conto mais

dinâmico. O dinamismo do diálogo pode contribuir para que se possa amplificar algum

efeito desejado.

9. Linguagem: geralmente é muito objetiva, visando à densidade e condensação da

história. O conto pode se despir de abstrações e da preocupação com o rebuscamento, de

forma que os fatos predominem na narrativa. É muito comum o uso de metáforas, como

uma forma de economia da linguagem, já que através destas construímos imagens

repletas de significado.

A linguagem é um aspecto do conto que admitiu muitas roupagens ao longo da

história, visto que a língua está sempre em transformação. Dessa forma, essa condição

se transferiu para o conto, que também apresenta uma linguagem mais ou menos

peculiar, de acordo com o período histórico no qual é escrito e conforme os objetivos do

autor ao escrever o texto. E isso nos leva ao próximo capítulo.

O que você aprendeu:

Os contos são muito diferentes entre si. É muito difícil

estabelecer uma definição satisfatória. As definições de conto são muito diversas, referindo-se

tanto à estrutura do conto quanto a sua linguagem e

extensão. O conto possui alguns elementos que o organizam, de

forma a caracterizar a estrutura do gênero.

Page 35: Contos Ideias Bacanas

34

ale a pena conferir!

PARA ASSISTIR EM SALA: OS IRMÃOS GRIMM

Do aclamado diretor Terry Gilliam, as aventuras dos lendários escritores de

contos de fada Will (Matt Damon) e Jake Grimm (Heath

Ledger), dois irmãos que viajam através da Europa de

Napoleão enfrentando monstros e demônios em troca de

dinheiro rápido. Mas, quando as autoridades francesas

descobrem seu esquema, os trapaceiros são forçados a

enfrentar uma maldição real em uma floresta encantada,

onde jovens donzelas continuam a desaparecer sob

circunstâncias misteriosas.

Fonte: http://www.europafilmes.com.br/hotsites/osirmaosgrimm/

DICA DE LIVRO: O QUE É CONTO

Da coleção primeiros passos, o livro “O que é conto” de Luzia

de Maria é um excelente texto para quem deseja iniciar o estudo sobre

a teoria do conto. Como possui uma linguagem acessível, pode

inclusive ser trabalhado em sala de aula. É uma leitura muito

recomendável aos adolescentes, já que além de abordar a origem do

conto o livro trata também de suas características e definições.

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Page 36: Contos Ideias Bacanas

35

Atividade 1 Vamos refletir sobre os textos lidos no início do capítulo. Repare no título do primeiro

texto: “Sinhá secada”. Levante hipóteses: por que este título foi escolhido para o conto?

Leve em consideração o trecho que você leu.

Resposta esperada

Esta atividade tem por objetivo avaliar a interpretação que o aluno fez do texto,

fazendo-o relacionar o texto ao título. O termo “secada” pode ser relacionado ao fato de

que tanto chorou a mãe da criança que ela ficou “secada”. Pode-se pensar também no

fato de que, ao ter seu filho tomado, a senhora perdeu o sentido de sua vida, ficando

seca, ou “secada”, nas palavras do autor.

Atividade 2 Os textos das páginas 21 e 22 apresentam muitas semelhanças e diferenças com relação

à sua estrutura e linguagem. Vamos pensar um pouco mais sobre estas características.

Observe esta oração do texto 1:

“Chegavam pelo mandado inconcebíveis pessoas diversas”. Qual o efeito da utilização

do adjetivo “inconcebíveis” no texto?

Observe agora a oração do texto 2:

“Curvado no guidão lá vai ele numa chispa”. Qual o efeito da expressão “numa chispa”?

A partir das questões acima, responda: qual figura de linguagem é recorrente nos dois

textos?

Resposta esperada

O termo “inconcebíveis pessoas” pode ser considerada expressão do quão inconcebível

era a situação para a mãe ao ter o seu filho tomado. Já o termo “numa chispa” coloca em

evidência a rapidez do ciclista. Esta atividade tem o objetivo de fazer o aluno notar a

recorrência de metonímias e metáforas como recursos de linguagem presentes no conto.

Atividade 3 Observe agora o seguinte trecho, que trata das dificuldades do ciclista em meio à

correria do dia-a-dia. O texto apresenta um aspecto interessante quanto à velocidade,

expresso pela construção de frases curtas, que surgem no texto como flashes:

“Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água no asfalto. Num só

corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.” (texto 2)

Agora responda: qual o efeito de velocidade que podemos perceber no trecho acima?

Em que isso se relaciona com o tema do texto?

Atividades

Page 37: Contos Ideias Bacanas

36

Resposta esperada No trecho acima, podemos notar que a utilização de frases curtas e em flashes faz com

que o texto adquira rapidez em seus acontecimentos. Esta rapidez está relacionada com

o tema do ciclista por conta do cotidiano agitado pelo qual este tem que passar,

enfrentando a velocidade dos automóveis nas ruas.

Atividade 4 O texto abaixo foi retirado de um site da internet. Justifique, através de elementos

estruturais, por que o texto abaixo não pode ser considerado um conto.

Detentas são flagradas com drogas

Adagoberto Baptista / Agência Anhangüera

16/05/2008 - Duas detentas da Penitenciária do São Bernardo, em Campinas, foram

flagradas com porções de maconha, no final da tarde de quinta-feira. Elas cumprem

penas no presídio e acabaram descobertas pelas agentes penitenciárias. Uma das

acusadas, Adriana Amaro do Nascimento, de 22 anos, estava com 13 porções de

maconha escondidas na calcinha.

A outra presa, Charliene Alves da Silva, de 25 anos, carregava um pacote com a

droga a granel. As agentes ainda acharam três bilhetes com diversas anotações com as

mulheres. As duas foram levadas para o plantão da Delegacia do 5º Distrito Policial

(Jardim Amazonas) e autuadas em flagrante pela acusação de tráfico de entorpecentes.

Resposta Esperada

O texto não pode ser considerado um conto, pois se trata de um caso verídico, uma

notícia de jornal. Este texto não possui o objetivo explícito de causar um efeito em seu

leitor, mas sim de informá-lo. Nele, a presença de figuras de linguagem é bastante

restrita.

Atividade 5 Pensando um pouco sobre o conceito de introspecção, leia atentamente o trecho de

conto abaixo. Localize os trechos nos quais o uso de introspecção é evidente.

Tome Nota:

Introspecção ocorre quando o personagem se volta para seus próprios

pensamentos, num ato reflexivo interno.

Feliz Aniversário – Clarice Lispector

(...)

Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era

a mãe. A aniversariante piscou. Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela era

a mãe de todos. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e

obriga mudez e terror aos vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta.

Ela era a mãe de todos. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de todos e,

Page 38: Contos Ideias Bacanas

37

impotente à cadeira, desprezava-os. E olhava-os piscando. Todos aqueles seus filhos e

netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como se

cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração,

Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada. Cadê Rodrigo? Rodrigo com

olhar sonolento e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um

homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela vida

que falhava. Como?! Como tendo sido tão forte pudera dar á luz aqueles seres opacos,

com braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte, que casara em hora e tempo devidos

com um bom homem a quem, obediente e independente, ela respeitara; a quem

respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos e lhe honrara os resguardos. O

tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capacidade sequer para

uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem

austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns

comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua

família. Incoercível, virou a cabeça e com força insuspeita cuspiu no chão. (...) http://www.releituras.com/clispector_aniversario.asp

Resposta esperada

Espera-se que o aluno possa notar a diversidade do gênero conto, já que no caso acima o

autor se utiliza da introspecção como forma de situar o leitor com relação aos

sentimentos da personagem. Alguns trechos que o aluno pode destacar são:

“Todos aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho,

pensou de repente como se cuspisse.”

“Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração, Rodrigo, com

aquela carinha dura, viril e despenteada. Cadê Rodrigo?”

“Como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com braços moles e

rostos ansiosos?”

“Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem austeridade? O rancor

roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas.”

Atividade 6 Pense em algum livro que você leu recentemente. Faça uma lista dos principais

acontecimentos do livro. O desafio será transformar essa história em um conto. Para

isso, siga corretamente as indicações abaixo:

- Sua história deve ter apenas 3 personagens.

- A ação deve se passar em um único local.

- A ação deverá durar cerca de uma hora.

Resposta esperada

Esse trabalho de produção textual tem o objetivo de fazer com que o leitor aplique o que

foi estudado sobre linguagem, espaço, efeito, densidade, etc.

Atividade 7 Os dois textos abaixo não são contos. Por quê? Justifique sua resposta com base nos

elementos estudados.

Page 39: Contos Ideias Bacanas

38

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Texto 1

Texto 2

“Médico de atriz global é acusado de erro médico em caso de dengue”

O médico foi acusado de erro médico porque demorou a diagnosticar a doença e

realizar os devidos procedimentos médicos no combate à doença.

Essa poderia ser uma manchete dos jornais desse fim de semana, mas adivinhe:

não é! Hoje vemos pessoas em uma jornada subumana em busca de atendimento

médico, morrendo nas portas dos hospitais públicos do Rio de Janeiro, quase que

implorando por um mínimo de atendimento.

O governo federal, como forma de alívio para esse caos, trouxe em caráter de

emergência algumas dezenas de médicos de outros estados que nem experiência possui

no tratamento à dengue.

Então pergunto, pode um cidadão do Rio de Janeiro, com essa demora no

diagnóstico da doença, na eterna fila de espera, indo de hospital em hospital, quase que

implorando para ser atendido, questionar essa atitude do Estado do Rio?

Sinceramente eu acredito que tenha fundamento essa demanda. Agora imagine o

caos que seria no judiciário estadual essa enxurrada de ações. Um verdadeiro desastre.

Perceba, então, que um dos fatores para o aparecimento desta explosão de

litigiosidade é político. No momento em que os legisladores, na criação da Constituição

de 1988, massificam o acesso à saúde, dando a todos os direitos ao acesso e impondo ao

Estado o dever de prestar este serviço, eles o fazem por uma aspiração social de ter sua

dignidade, de ver seu direito como ser humano atendido no que tange a sua saúde.

É notável, no entanto, que o Estado universaliza o acesso, mas não cria

mecanismos eficazes para a completa prestação de serviço, pois, por diversos motivos

se exime da obrigação, deixando a cargo da iniciativa privada a superação das

dificuldades.

E o que encontramos hoje? Um sistema de Saúde Pública falido e com uma

demanda tal que os hospitais da rede pública não conseguem, sequer, absorver para um

atendimento inicial.

http://direitodomedico.blogspot.com/2008/04/mdico-de-atriz-global-acusado-de-erro.html

Resposta esperada

Quer-se avaliar se o aluno é capaz de diferenciar os gêneros dos dois textos acima. O

primeiro é uma história em quadrinhos que traz um jogo de imagens não reconhecido

como característica dos contos. Já o segundo texto trata de fatos verídicos do nosso

tempo de forma objetiva, é um texto jornalístico. Ou seja, nenhum dos dois textos acima

é um conto.

Page 40: Contos Ideias Bacanas

39

Atividade 8 Você viu que “A ação do conto converge para causar no leitor um efeito, que

geralmente é o objetivo do conto”. Segue abaixo um trecho de conto de Allan Poe.

Trata-se de um conto de terror, no qual todo o vocabulário foi pensado para criar uma

situação de tensão. Identifique no texto quais palavras contribuem para a formação de

um clima tenso na história.

O Gato Preto – Edgar Allan Poe

(...) Durante o dia o animal não me deixava um só momento. De noite, a cada hora,

quando despertava dos meus sonhos cheios de indefinível angústia, era para sentir o

bafo quente daquela coisa sobre o meu rosto e o seu peso enorme, encarnação de um

pesadelo que eu não tinha forças para afastar, pesando-me eternamente sobre o coração.

Sob a pressão de tormentos como estes, os fracos resquícios do bem que havia em mim

desapareceram. Só os pensamentos pecaminosos me eram familiares - os mais sombrios

e os mais infames dos pensamentos. A tristeza do meu temperamento aumentou até se

tornar em ódio a tudo e à humanidade inteira. Entretanto, a minha dedicada mulher era a

vítima mais usual e paciente das súbitas, freqüentes e incontroláveis explosões de fúria a

que então me abandonava cegamente.

Um dia acompanhou-me, por qualquer afazer doméstico, à cave do velho

edifício onde a nossa pobreza nos forçava a habitar. O gato seguiu-me nas escadas

íngremes e quase me derrubou, o que me exasperou até à loucura. Apoderei-me de um

machado, e desvanecendo-se na minha fúria o receio infantil que até então tinha detido

a minha mão, desferi um golpe sobre o animal, que seria fatal se o tivesse atingido

como eu queria. Mas o golpe foi sustido diabolicamente pela mão da minha mulher.

Enraivecido pela sua intromissão, libertei o braço da sua mão e enterrei-lhe o machado

no crânio. Caiu morta, ali mesmo, sem um queixume. http://www.apocalipse2000.com.br/contos06.htm

Resposta esperada

Pode-se dizer que contribuem para a formação de um clima tenso as palavras: angústia,

encarnação, pesadelo, tormentos, pecaminosos, sombrios, infames, tristeza, ódio,

vítima, fúria, pobreza, loucura, golpe, fatal, diabolicamente, enraivecido, crânio e morta.

Atividade 9 O texto abaixo é um trecho do livro “Laços de Família”, de Clarice Lispector. Leia-o

atentamente e grife os momentos nos quais fica evidente o narrador onisciente.

(...)

O trem não partia e ambas esperavam sem ter o que dizer. A mãe tirou o espelho

da bolsa e examinou-se no seu chapéu novo, comprado no mesmo chapeleiro da filha.

Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração

por si mesma. A filha observava divertida. Ninguém mais pode te amar senão eu,

pensou a mulher rindo pelos olhos; e o peso da responsabilidade deu-lhe à boca um

gosto de sangue. Como se "mãe e filha" fosse vida e repugnância. Não, não se podia

dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o espelho na

bolsa, e fitava-a sorrindo. O rosto usado e ainda bem esperto parecia esforçar-se por dar

aos outros alguma impressão, da qual o chapéu faria parte. A campainha da Estação

tocou de súbito, houve um movimento geral de ansiedade, várias pessoas correram

pensando que o trem já partia: mamãe! disse a mulher. Catarina! disse a velha. Ambas

se olhavam espantadas, a mala na cabeça de um carregador interrompeu-lhes a visão e

Page 41: Contos Ideias Bacanas

40

um rapaz correndo segurou de passagem o braço de Catarina, deslocando-lhe a gola do

vestido. Quando puderam ver-se de novo, Catarina estava sob a iminência de lhe

perguntar se não esquecera de nada... Texto extraído do livro "Laços de Família", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1998, pág. 94.

Resposta esperada

Pode-se dizer que o narrador onisciente é evidente em orações como:

“Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração

por si mesma.”

“A filha observava divertida.”

“Não, não se podia dizer que amava sua mãe.”

“Catarina estava sob a iminência de lhe perguntar se não esquecera de nada.”

Atividade 10 Agora você será o autor: Leia o poema abaixo, e pense sobre a história que ele conta.

Transforme agora a história do poema em um conto. Atenção! Ele poderá ter no

máximo 50 linhas! Procure utilizar as figuras de linguagem que você conhece.

Aprende…

Tu encontrarás sempre no teu caminho

alguém para a lição de que precisas.

Aprende, mesmo que não queiras.

A boa lição… Alguém sempre a precisar.

Feliz é o que aprende.

Errar é humano, diz a sabedoria popular.

Insistir no erro é obstinação.

Pecado contra o Espírito Santo.

Aquele que reconhece seu erro,

está no caminho da perfeição.

Aquele que confessa e se arrepende,

caminha para a salvação.

Reconhece teu erro.

Mesmo que custe muito,

ao te orgulho e vaidade.

Jamais justifique o errado.

“Fulano foi o culpado.”

Arrepender e reparar

é o caminho certo

da Paz espiritual.

Um dia, um salteador,

condenado ao suplício,

reconheceu seus erros,

e justificou o inocente.

E o que aconteceu com ele?

Poema extraído do livro “Vintém de Cobre, Meias Confissões de Aninha”, 4ª edição, editora UFG, p.197

Page 42: Contos Ideias Bacanas

41

os capítulos anteriores pudemos conhecer e entender um pouquinho sobre o

surgimento do conto e os principais aspectos estruturais que o diferenciam

de uma novela ou mesmo de um romance. Pois bem, neste capítulo, vamos

conhecer mais de perto a produção de contos e como o contexto histórico pode influenciar

nesta produção. E mais que isso, focalizaremos a nova forma de se fazer contos face à

modernidade e o desafio do contista diante desse novo mundo, tecnológico e rápido. No

entanto, é importante lembrar que os aspectos do conto que serão discutidos aqui não valem

como regra geral, pois não é possível enquadrar os contos contemporâneos num mesmo

formato pré-determinado.

O conto contemporâneo se diferencia muito dos contos de outras épocas. Isso ocorre

porque o foco muda conforme o período histórico e social da escrita dos textos.

“Não se cogita mais de produzir (nem de usar como categorias) a Beleza, a Graça, a

Simetria, a Harmonia. O que vale é o Impacto, produzido pela habilidade ou a Força.

Não se deseja emocionar o leitor nem suscitar contemplação, mas causar choque”.1

Notaremos no decorrer desta unidade, que nas últimas décadas os autores passaram a

buscar maior impacto sobre os leitores por meio de seus contos. E esse impacto, conforme

Antônio Cândido, passou a ser produzido por meio de uma habilidade lingüística, que se

caracteriza pelo uso mais freqüente de determinadas figuras de linguagem com o objetivo de

obter algum efeito.

Vamos iniciar nossa reflexão com textos que pertencem mais à nossa

contemporaneidade!

1 CÂNDIDO, A. “Os brasileiros e a literatura latino-americana”, in: Novos estudos CEBRAP, SP. vol. 1, dez. 81, p. 67

N

O Conto Contemporâneo

Page 43: Contos Ideias Bacanas

42

m pouco de história

“De como estrangular um general”

O conto “De como estrangular

um general” conta a história de um cidadão

comum que em uma determinada situação

sente um desejo de estrangular o general.

Ele que quando criança admirava e

respeitava as autoridades militares, agora

queria matar o general. Américo, esse era o

nome do cidadão, sonhava dias e noites

preso àquele pesadelo. Finalmente, aquele

período de aprisionamento e tortura

psicológica passa. Américo sente-se mais

feliz. Até que vê na rua o general, não

magro como em seus “sonhos”, mas gordo.

Ele não hesita, troca algumas palavras com

o sarcástico general: “E Américo soube

então que aquela era a hora, e que depois

dela nada mais haveria”.

- Eu te matei noites e noites

seguidas, no escuro do meu quarto – disse

Américo.

- Verdade? – resmungou o general

com voz de escárnio.

- Sim, verdade – disse

Américo retirando a faca do bolso e

enterrando-a toda naquela enorme barriga

fofa. Porque o general crescera, pensou

sarcasticamente, e ele não seria nenhum

idiota para julgar-se forte o suficiente para

matá-lo apenas com as duas fracas e débeis

mãos”.

De como estrangular um general

Poderia muito bem sonhar que matava um médico, um

jornalista, um deputado, ou até mesmo um senador. Um dia

chegou a pensar que poderia esfaquear ou balear o presidente da

República, mas nunca um general. Porque um general – pensava

Américo – é sempre um general.

Até que um dia lhe disseram que também o

presidente da República era um general. Américo sentiu um

calafrio percorrer-lhe a espinha e encolheu-se todo. Aquilo era

terrível.

Américo era um homem tímido e temeroso,

embora grande como um hipopótamo. Suas mãos eram

desajeitadas, mas no sonho, dançavam ágeis e jeitosas em torno

do pescoço militar. Quando acordava, porém, olhava para estas

mãos e algo lhe dizia que as mãos do sonho não eram as suas.

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Page 44: Contos Ideias Bacanas

43

Mas eram. Eram as suas mãos e um dia talvez ele não pudesse jamais dominá-las.

Também isto o torturava. Porque um dia, por exemplo, poderia estar caminhando por uma rua deserta,

tranqüilo, quem sabe até assobiando o Hino Nacional Brasileiro. E de repente, o general. Sim, o

general, o general bem ali à sua frente, disponível e magro.

E então ele avançaria sobre aquela frágil e verde farda. O general abriria muito os

olhos, ergueria as mãos frágeis e finas para detê-lo e seria inútil. Porque ele avançaria com seu grande

corpo sobre aquela repelente figura verde e, pouco a pouco, suas manzorras descontroladas bailariam

ao som de uma vaga música em torno daquele pescoço fino como um lápis.

O general tentaria ainda detê-lo com uma ridícula voz de comando, e ele riria muito e

apertaria com quase carinho aquele pescoço ridículo. Descansaria ali as suas duas mãos e nada faria,

porque o medo que invadiria os olhos do general lhe daria prazer. E só depois, quando o general

estivesse suando e tivesse borrado todas as calças ele apertaria as mãos com força. Para partir, de um

só golpe, aquele miserável pescoço.

EMEDIATO, Luiz Fernando. De como estrangular um general. In: Trevas no Paraíso – histórias de amor

e guerra nos anos de chumbo. São Paulo: Geração Editorial, 2004.

m pouco de história

“Os Homens que Descobriram as Cadeiras Proibidas”

Uma família se reunia em um jantar,

quando de repente alguns “homens” entram na

casa e a vasculham. Os homens encontram

uma cadeira na cozinha, segundo eles, ela não

deveria estar ali. Os homens então intimam o

dono da casa a ir prestar depoimento em uma

delegacia, ao mesmo tempo em que tenta

convencer o cidadão de que eles nunca

estiveram ali. A partir daí o cidadão começa a

questionar e refletir sobre aquela situação, o

que acaba por confundir os homens que

daquela situação nada têm a explicar: Por que

estariam ali? Por que o cidadão precisaria

prestar depoimento?

COTIDIANO: Os Homens que Descobriam Cadeiras Proibidas

Os homens não bateram, porque há muito naquela cidade, ou país, a polícia não precisava

bater para entrar. Não traziam mandados judiciais, há muito os mandados tinham perdido a razão de

ser. Não havia um estado de direito.

Os homens entraram, atravessaram a sala onde a família jantava, até então tranqüilamente.

U

Page 45: Contos Ideias Bacanas

42

Inspeção de rotina, comunicou o chefe dos homens que

tinham entrado.

Fiquem à vontade, disse o dono da casa, voltando para

terminar a sopa, indiferente à súbita invasão. A indiferença

significava apenas impotência.

Os homens vasculharam a sala, os quartos, o banheiro,

o quarto das crianças, a cozinha, a área de serviço e o quarto da

empregada. Quarto? Aqueles cubículos, senzalas que as

imobiliárias fazem.

Voltaram da cozinha com uma cadeira branca de fórmica.

–Vamos levar essa cadeira. Amanhã o senhor apareça para prestar depoimento.

–Não sei como ela apareceu aí. Tínhamos vendido.

Não queremos saber. A cadeira estava na cozinha.

“Talvez eles mesmos tenham trazido e colocado lá”, pensou o homem. Pensou, com medo que

o outro percebesse o que ele estava pensando. Os pensamentos estavam proibidos há muito,

principalmente pensamentos que colocassem em dúvida, ou em cheque, as ações dos homens.

BRANDÃO, Ignácio de Loyola: COTIDIANO: Os Homens que Descobriam Cadeiras Proibidas In: BRANDÃO, Ignácio de Loyola.

Cadeiras Proibidas. 10. Ed. São Paulo: Global, 2003. P. 11-17

A respeito dos textos acima pudemos observar que eles partilham de um mesmo

contexto histórico e social de produção: a ditadura militar.

Tome Nota

O Regime Militar no Brasil foi um governo instaurado em 1964, após um golpe dado

pelas Forças Armadas contra o governo do presidente João Goulart. Foi um período marcado

por governantes que abusavam do poder e pode ser caracterizado pela violência e censura.

Jornalistas, artistas ou pessoas comuns não podiam criticar o governo ou expressar uma

opinião contrária, pois se o fizessem sofreriam opressão. Assim, as liberdades individuais

foram suprimidas. O momento mais forte desse regime é caracterizado pela instituição do AI-

5 que permitiu ao governo intervir nos estados sem levar em consideração a Constituição, a

cassar mandatos eletivos e a suspender por 10 anos os direitos políticos de qualquer cidadão.

Muitos músicos, escritores e demais artistas tiveram que se exilar em outros países ou,

caso quisessem permanecer no Brasil, teriam que driblar a censura por meio de uma

linguagem camuflada. Esse período da política brasileira perdurou até 1985. http://www.jornallivre.com.br/225524/o-que-foi-a-ditadura-militar-brasileira.html (acesso em 29/09/2008)

Observe que os dois contos remetem ao período de repressão característico de um

governo ditatorial. Quais elementos observados nos textos podem evidenciar isso?

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Page 46: Contos Ideias Bacanas

43

Partindo de princípios semânticos, isto é, das mudanças de significação das palavras

no tempo e no espaço, podemos pensar sobre a forma por meio da qual a autoridade é

retratada. No primeiro texto isso se dá na figura de um homem com um desejo quase

inconsciente de matar um general; no segundo fragmento, autoridades invadem a casa de um

cidadão comum, intimando-o a comparecer numa delegacia para prestar depoimento.

Podemos dizer que em ambos a autoridade não é vista como algo positivo e respeitoso, mas

sim como uma instância abusiva.

É possível constatar ainda que a linguagem teve um papel fundamental nos textos do

período, pois ela foi o instrumento de expressão dos escritores brasileiros contra a repressão

da época.

Note que um ponto interessante e comum entre alguns escritores dessa época é que sua

forma de expressão não estava propriamente no que era dito, mas sim na maneira como era

dito. Geralmente, os contistas lançavam mão das figuras de linguagem para dizer o não

dizível, naquele momento, no intuito de burlar a censura. Exemplo retirado do texto de

Emediato:

“(...) pouco a pouco, suas manzorras* descontroladas bailariam ao som de uma vaga música em torno

daquele pescoço fino como um lápis”.

* mão grande

Neste trecho, você pode notar que o autor fala de um estrangulamento de uma forma

quase poética. Isto se dá por meio do eufemismo, uma figura da linguagem que nos permite

falar de determinados fatos, geralmente ruins, de forma leve. No caso, descreve-se a morte do

general como uma dança. Além disso, compara-se seu pescoço a um lápis como uma forma

de evidenciar a fragilidade física do general frente ao narrador, o qual apresenta como sendo

“grande como um hipopótamo” (como pode ser visto no texto lido) – figuras de comparação.

Nota-se também que a linguagem dos contos pode ser fragmentada, ou seja, a história

não obedece necessariamente a uma ordem cronológica, em contraste com certa linearidade e

descrição detalhada, minuciosa de outros contos. Além disso, trabalha-se com elipses,

supressões, saltos, deixando subentendidos alguns dados e pressupondo a compreensão do

leitor que preencherá as lagunas deixadas.

Veja um exemplo abaixo:

“Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas

espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um

mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da

tarde”.

Page 47: Contos Ideias Bacanas

44

TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol. In: TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol e outros contos. 19. ed. São

Paulo: Ática, 2001. p. 26.

Apesar de Telles ser uma autora do século XX, seu estilo é extremamente descritivo e

detalhista, diferindo muito de Emediato e Brandão, autores dos textos lidos no início desta

unidade. Enquanto Telles desenvolve seu conto de acordo com a ordem natural dos fatos: a

personagem sobe a ladeira e conforme avança, vê as crianças brincando, concluindo que essas

crianças eram o único sinal de vida presente na quieta rua, Emediato apresenta a história do

homem, que divaga por meio de pensamentos e sonhos, movido pela vontade de matar o

general. Ou seja, Américo representa um misto de sonho e realidade que se alternam ao longo

do texto. Essa alternância faz com que tenhamos a impressão de uma leitura não linear.

Este é um exemplo da diferença entre contos de uma mesma época os quais

demonstram que não podemos classificar todos os autores contemporâneos numa mesma

“receita”.

Para muitos autores o importante é retratar de forma “nua e crua” as sujeiras da

sociedade, como foi o caso de alguns contos de Dalton Trevisan, autor do livro O Vampiro de

Curitiba. O autor opta por uma precisão total em sua obra ao descrever as “micro-sujeiras” da

burguesia curitibana.

Assim, a organização do conto contemporâneo pode permanecer a mesma, mas a

linguagem se modifica muito, adequando-se ao contexto histórico, social, cultural, etc.

E então, você consegue observar como há uma grande variedade na forma de

linguagem entre os autores mais recentes? Outro exemplo:

“Veja, parou um carro. Ela vai descer. Colocar-me em posição. Ai, querida, não faça isso, eu vi tudo.

Disfarce, vem o marido (...) Esse aí é um dos tais? Puxa, que olhar feroz. Alguns preferem é o rapaz, seria capaz

de? Deus me livre, beijar outro homem, ainda mais de bigode e catinga de cigarro?”

TREVISAN, Dalton. O vampiro de Curitiba. In: Os cem melhores contos brasileiros do século. p. 252-254

Em relação à construção acima, repare que há um intenso diálogo entre as personagens

sendo que quase não há marcação nas falas das mesmas: a pontuação é escassa, não havendo

parágrafos ou travessões, o que reflete uma situação caótica, de confusão... Esta é uma outra

forma de se utilizar a linguagem para obter um determinado efeito. Através do que se poderia

chamar de um discurso “direto livre”, no qual não há marcações formais de diálogo, o escritor

pôde retratar uma situação de conflito.

Vamos refletir mais um pouco:

Page 48: Contos Ideias Bacanas

45

“Na embarcação desconfortável, tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua

luz vacilante: um velho, uma mulher com uma criança e eu.”

TELLES, Lygia Fagundes. Natal na barca. In: TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol e outros contos. 19. ed. São

Paulo: Ática, 2001. p. 20

Encontramos aqui uma figura de linguagem freqüentemente utilizada por estes

escritores: a elipse. Trata-se da omissão de um termo cujo sentido já está subentendido. No

caso do exemplo acima podemos notar que o verbo foi omitido, ou seja, a escritora poderia ter

escrito: “Na embarcação desconfortável, tosca, havia apenas quatro passageiros (...)”. Você

sabe por que ela omitiu o verbo? Vejamos outro exemplo de cortes abruptos e uso de elipses

para percebermos isso:

“Ter, haver. Uma sombra no chão, um seguro que se desvalorizou, uma gaiola de passarinho. Uma

cicatriz de operação na barriga e mais cinco invisíveis, que doem quando chove. Uma lâmpada de cabeceira, um

cachorro vermelho, uma colcha e os seus retalhos. Um envelope com fotografias, não aquele álbum. Um canto

de sala e o livro marcado”.

RAMOS, Ricardo. Circuito Fechado (4). In: BOSI, Alfredo. O Conto Brasileiro Contemporâneo. 11. ed. São Paulo: Cultrix,

1997. p. 259.

A partir desse exemplo, podemos pensar em alguns porquês para o uso da elipse no

conto moderno. Muitos consideram a elipse como um elemento importante da construção

literária, visto que gera a aceleração do ritmo da linguagem no conto. Além disso, o uso de

elipses contribui para uma linguagem mais expressiva e entrecortada, como flashes, já que

esta forma de expressão chama a atenção do leitor para a sucessão dos acontecimentos, ao

mesmo tempo em que sugere pistas para o significado das seqüências construídas. Como

podemos perceber no trecho acima, os verbos “ter” e “haver” que aparecem no início aplicam-

se a todas as orações que vêm na seqüência.

O tamanho do texto é também um motivo significativo para o emprego dessa figura de

linguagem, afinal, muitas vezes o escritor terá um espaço relativamente limitado para

transmitir ao leitor o efeito desejado, utilizando então a elipse como uma forma de tornar seu

texto mais econômico. O mais intrigante é saber que o desafio dos contistas está em fazer com

que seus textos transmitam o máximo usando o mínimo de palavras. E será exatamente isso

que veremos no próximo capítulo. A busca dos autores pelo enxugamento do texto: o menor e

mais completo.

Page 49: Contos Ideias Bacanas

46

ale a pena conferir – livros sobre contos contemporâneos

V

“Um passeio pela mais deliciosa e contundente ficção curta produzida no Brasil

entre 1900 e o fim dos anos 90. Uma antologia capaz de traduzir as mudanças do

país e as inquietações de várias gerações de brasileiros, em cem anos de produção

literária. A prova de que a arte do gênero não cessa de melhorar em nossa

literatura”. http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/?q=node/482

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O que você aprendeu

Os contos contemporâneos tendem causar diferentes efeitos no leitor por

meio de uma linguagem:

Entrecortada, violenta ou velada (décadas de 60 e 70)

Figuras de linguagem – eufemismo, comparação, elipses. A fim de

atingir objetivos como precisão (dizer o máximo no mínimo), concisão,

ou mesmo causar algum impacto no leitor

Os contos contemporâneos abarcam uma grande variedade de estilos. Não há

uma receita para ser um autor contemporâneo.

Page 50: Contos Ideias Bacanas

47

Atividade 01 Agora que você leu os contos, volte ao primeiro deles. Observe atentamente o título dado à

história: “De como estrangular um general”. Note que a oração é iniciada por uma preposição

(“de”) seguida de uma conjunção (“como”). Levante hipóteses: Qual (ou quais) efeito (s) de

sentido traz esta expressão para o texto?

Resposta esperada

Nesta atividade, pretendemos que o leitor reflita sobre os efeitos de sentido e direcionamento

que a elaboração de um título pode acarretar para a leitura de um texto. No caso do conto da

atividade, esperamos que o leitor perceba que a expressão “de como” traz um sentido de

instrução: como se o tema do conto fosse uma receita que nos ensinasse a estrangular um

general.

Atividade 02 Agora que você refletiu sobre os possíveis sentidos do título, elabore um texto estabelecendo

uma relação entre o título e a história deste conto: de que modo o primeiro reafirma/contradiz

o segundo e vice-versa?

Resposta esperada

É esperado que o leitor perceba a dissonância entre a idéia de método que o título traz e a

história do conto em si, que narra o drama de uma personagem que sonha com o

estrangulamento de um general, ocorrendo uma mistura do universo racional (título) com o

onírico (história).

Atividade 03 O conto de Loyola Brandão se inicia pela presença de uma cadeira encontrada por homens na

cozinha, que segundo eles não deveria estar ali. A cadeira, no entanto, pode ser apenas uma

metáfora... Reflita então o que a cadeira pode estar representando neste conto.

Resposta esperada

O leitor deverá refletir sobre o que simboliza a cadeira, diante da situação de invasão de

propriedade e suspensão dos direitos do cidadão, expressos no conto. A cadeira pode ser

qualquer livro, propriedade do cidadão, que represente na visão do governo ditatorial alguma

ameaça.

Atividade 04 Ao longo do capítulo pudemos notar alguns aspectos da ditadura por meio das análises dos

contos que se referem a este contexto. Esta ilustração remete a uma marcante característica do

período. Comente tal característica e se preciso recorra ao seu material de história.

Atividades

Page 51: Contos Ideias Bacanas

48

Resposta esperada

Espera-se que o aluno comente sobre a supressão da liberdade de expressão e a repressão que

sofria quem ousasse dizer o que pensava a respeito do regime. Em relação aos olhos tapados,

espera-se que se diga que o individuo para não ser apanhado pela censura devia ser um

alienado ou fingir/ tentar não ver as atrocidades e o excesso de autoridade da ditadura. Era

necessário não ver para não falar mal ou se rebelar. Essa é uma atividade interdisciplinar que

visa à pesquisa.

Atividade 05 Agora que você conheceu alguns aspectos do conto contemporâneo, identifique quais das

características discutidas neste capítulo se encontram presentes no trecho abaixo. Justifique

sua resposta com base no que você leu no decorrer do capítulo.

Presença da tragédia

Se alguém me matasse. Se eu fosse abatido a tiros por uma amante, pelo marido de uma de minhas

amantes, por um neurótico pela fama, por um serial killer americano que tivesse vindo ao Brasil, pelo

engano de um traficante, por um assaltante num cruzamento, por uma das milhares de balas perdidas

que cruzam a cidade, por uma dessas motos enraivecidas que alucinam o trânsito, por um colega de

profissão inconformado com a minha fama. Se morresse em uma inundação, atingido por um raio ou

por uma árvore derrubada por um vendaval. Por um remédio com data vencida, por uma comida

estragada. Uma tragédia noticiada por toda a mídia, alimentada e realimentada, provocando manchetes

vorazes, devoradas com prazer pelo público e construindo a minha legenda. Melhor que fosse algo

misterioso. O noticiário duraria mais tempo, o caso seria revisto por curiosos dispostos a desvendar

enigmas. Provocar a necessidade de uma autópsia, de exumação. Ser o enigma do século seria a minha

glória. Se eu tivesse essa certeza, não me incomodaria de estar morto.

(9.10.2000)

BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O Anônimo, Cadernos de Literatura Brasileira - Instituto Moreira

Salles - São Paulo, nº. 11, Junho de 2001, pág. 98.

Resposta esperada

O leitor deverá aplicar em um outro texto os aspectos que conseguiu identificar nos textos

lidos nesse capítulo. Algumas vezes, esses aspectos se repetem em outros textos do mesmo

período, como é o caso desse conto.

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Page 52: Contos Ideias Bacanas

49

Atividade 06 Agora é sua vez! Com base em tudo que você viu até agora sobre o conto, observe essa

imagem e faça dela um conto contemporâneo, utilizando todos os recursos vistos que julgar

necessário.

Resposta esperada

Através dessa produção textual, o leitor poderá praticar o conteúdo trabalhado no capítulo: as

metáforas, elipses, eufemismo, o ritmo da linguagem... Definitivamente esta é uma

oportunidade de produção de um gênero diferente.

Atividade 07 Vamos pensar mais um pouco a respeito dos autores contemporâneos... Leia o texto abaixo:

Ignácio de Loyola Brandão – Entrevista

Como você vê o papel do escritor no mundo hoje?

O escritor deve escrever. Uns escrevem por escrever, fazendo disso uma arte pela arte.

Bonitos e vazios. Outros, colocam a arte também em função de alguma coisa, dando importância ao

homem em si. Acho que o escritor deve retratar seu tempo, apontar os furúnculos, tumores e alegrias.

E também oferecer divertimento, distração.

BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Entrevista. O Homem do Furo na Mão e Outras Histórias. São

Paulo: Ática, 1987. p. 5. (Rosa dos Ventos)

Agora reflita: qual poderia ser o papel do escritor contemporâneo? Quais temas você

considera que seriam interessantes de se trabalhar num conto considerando o contexto

histórico e social do nosso tempo?

Resposta esperada

Essa atividade busca fazer com que o leitor relacione os contos lidos ao seu presente e ao seu

próprio contexto social.

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Page 53: Contos Ideias Bacanas

50

Atividade 08 Como foi demonstrado nesse capítulo, as figuras de linguagem contribuem com o autor no

sentido de atribuírem determinado sentido ao texto ou causarem alguma reação no leitor.

Pesquise na biblioteca ou na internet (você encontrará apenas trechos) outros contos que se

utilizem desse recurso, a figura de linguagem. Não se limite a contos contemporâneos, você

pode e deve buscar contos fantásticos, de terror ou mesmo nos contos de fadas. Esta será uma

oportunidade de colocar em prática o que você aprendeu nos capítulos anteriores e conhecer

muitos outros contos...

Resposta esperada

Estimular a pesquisa e a comparação entre diferentes contos e contistas, bem como a

possibilidade de trabalho com a linguagem e com os sentidos através do emprego das figuras

de linguagem. Muito mais que decorar ou dar nomes, é necessário que se compreenda o por

quê da utilização desse recurso.

Atividade 09 Reescreva o conto presente no Anexo 1, na página 80, atribuindo-lhe características

contemporâneas como as estudadas no capítulo 2. Sinta-se livre para alterar o tamanho do

texto ou mesmo o desenrolar da história. Agora, você é o autor.

* O conto encontra-se após a atividade 10.

Resposta esperada

O leitor terá a oportunidade de se colocar no lugar do autor, percebendo que para escrever um

conto é necessário muito mais do que inspiração é necessário um grande trabalho com a

linguagem.

Atividade 10 Geralmente, quando um filme é lançado no cinema podemos ver em jornais e revistas textos

falando sobre eles. Algumas pessoas inclusive procuram no jornal para saber se determinado

filme é bom ou não. Isso também acontece na literatura, o nome dado para isso é crítica

literária. São textos um pouco mais longos, depende do crítico, do que a crítica de cinema, por

exemplo, e são muito interessantes para sabermos as opiniões de outras pessoas sobre

determinado livro ou conto.

Agora é sua vez, escolha um conto contemporâneo, se possível vá à biblioteca ou peça ao

professor um conto diferente e leia-o por completo. Escreva um texto criticando ou elogiando

o trabalho do autor falando do enredo, do conteúdo, das palavras utilizadas. Dessa vez, você é

o crítico literário.

Resposta esperada

Busca-se que o aluno produza um texto crítico, com base nos conceitos que estudou até agora

neste fascículo. Sugestão: a proposta dessa atividade é bem flexível, cada aluno pode avaliar o

conto de outro colega feito na atividade anterior, ao invés dos contos literários propriamente

ditos. É interessante também que os alunos pesquisem e tragam para discussão em sala alguns

exemplos de críticas, para auxiliar na posterior execução dessa atividade.

Page 54: Contos Ideias Bacanas

51

“O conto vence por nocaute” Júlio Cortazar

“Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”.

omo você definiria a sentença acima? Texto? Frase? Oração? Pois nós lhe

afirmamos que quem a concebeu a classificou como conto, por mais incrível

que isso possa parecer de início. Ou melhor, como microconto. Este

microconto é de autoria de Augusto Monterroso e trata-se do mais famoso microconto do

mundo, segundo Marcelino Freire informa em sua coletânea “Os Cem Menores Contos

Brasileiros do Século” – uma clara paródia à famosa coletânea “Os Cem Melhores Contos

Brasileiros do Século”, de Ítalo Moriconi, já citada no capítulo 3.

O advento dos

microcontos – ou minicontos, como são também conhecidos –

figura dentro do contexto de um movimento maior,

denominado Minimalismo, o qual é característico da pós-

modernidade.

A palavra Minimalismo se refere aos movimentos

artísticos e culturais que permearam o século XX que

C

Augusto Monterroso nasceu em 1921, na

Guatemala. Em 1944, mudou-se para o

México. Foi agraciado, em 2000, com o

Prêmio Príncipe de Astúrias de Letras. Um

dos escritores latinos mais notáveis,

Monterroso tem predileção por contos e

ensaios. "O dinossauro", uma de suas obras

mais célebres, é considerado o menor

conto da literatura mundial. Augusto

Monterroso faleceu em fevereiro de 2003. http://www.releituras.com/amonterroso_menu.asp

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Uma nova face do conto contemporâneo

Page 55: Contos Ideias Bacanas

52

prezavam pela expressão artística nas suas formas mais simples e

essenciais, de forma que era considerada bela a ausência de

acessórios, de ornamentos, e valorizada a manifestação artística por

meio de formas básicas e o mais singelas possível. Você

compreenderá melhor esse movimento com o auxílio das imagens

abaixo:

A primeira imagem mostra uma decoração “carregada”, cheia de móveis (mesa,

cadeiras, aparadores, quadros e um grande lustre), na qual quase não há espaço para a

locomoção. Já na segunda figura, temos apresentado um ambiente mais livre e espaçoso, com

poucos móveis e objetos, característico do ideal minimalista.

Essa tendência ao pouco (ou nenhum) detalhamento e à simplicidade de formas não é

diferente na literatura. A literatura minimalista é caracterizada pela economia de palavras.

Espera-se dos leitores uma participação ainda mais ativa na criação da história, pois eles

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Na música minimalista, uma obra pode resumir-se à execução de apenas duas notas. Em

geral, o mesmo som é repetido à exaustão. A música minimalista nasce com a série

Composições 1960, criada por La Monte Young (1935-). O destaque é Terry Riley (1935-),

autor de “Em Dó”.

Fonte: http://www.spiner.com.br/modules.php?name=arteecultura&file=menu/movimentos/minimalismo

Page 56: Contos Ideias Bacanas

53

devem tomar posição com base em dicas e insinuações, ao invés de descrições explícitas na

narrativa.

O escritor americano Ernest Hemingway, já falecido, ficou conhecido como fundador

da Literatura Minimalista, uma vez que seus textos foram pioneiros em prezar pela concisão e

pouca adjetivação, garantindo um maior espaço para a interpretação do leitor.

Ernest Miller Hemingway nasceu em 1899, em Oak Park,

Illinois (EUA). Filho de um médico da zona rural, cresceu em

contato com um ambiente pobre e rude, que conheceu ao

acompanhar o trabalho do pai na região. Esse ambiente foi

descrito em seu livro de contos In Our Time (1925).

Trabalhando como repórter, Hemingway alista-se no exército

italiano em 1916 e é gravemente ferido na frente de batalha. Ao

deixar o hospital, passa a trabalhar como correspondente em

Paris. Em 1926, publica O Sol Também Se Levanta, livro que

obteria um sucesso surpreendente.

Ganhador do Nobel de Literatura (1954), Hemingway suicidou-

se em sua casa de Ketchum, em Idaho (EUA), em 1961. http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u117.jhtm

Na literatura brasileira, o movimento minimalista incentivou

a produção de microcontos. A obra Ah, é?, de subtítulo

“Ministórias” de autoria de Dalton Trevisan (1994), é

considerada obra-prima do estilo minimalista. A obra é

composta por contos curtíssimos e a tensão da narrativa,

característica do gênero conto, é valorizada. De acordo com

Spalding, um estudioso de microcontos, esta tensão

narrativa geralmente é produzida por meio de cortes e

elipses, cabendo ao leitor imaginar o que está oculto. Dentre

os contos do livro de Trevisan, leia abaixo um dos mais longos:

Tarde de verão, é levado ao jardim na cadeira de braços –

sobre a palhinha dura a capa de plástico e, apesar do calor,

manta xadrez no joelho. Cabeça caída no peito, um fio de

baba no queixo. Sozinho, regala-se com o trino da corruíra*,

um cacho dourado de giesta* e, ao arrepio da brisa, as

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Page 57: Contos Ideias Bacanas

54

folhinhas do chorão faiscando – verde, verde! Primeira vez

depois do insulto cerebral aquela ânsia de viver. De novo um

homem, não barata leprosa com caspa na sobrancelha – e, a

sombra das folhas na cabecinha trêmula, adormece. Gritos:

Recolha a roupa. Maria, feche a janela. Prendeu o Nero?

Rebenta com fúria o temporal. Aos trancos João ergue o

rosto, a chuva escorre na boca torta. Revira em agonia o olho

vermelho – é uma coisa, que a família esquece na confusão

de recolher a roupa e fechar as janelas?

Trevisan, Dalton. In: Ah, é? 1994

*Trino: gorjear, trilar, canto melodioso formado de notas rápidas,

emitido por algumas aves, como a andorinha, o rouxinol, o sabiá

etc.

*Corruíra: nome comum dado as várias espécies de pássaros da

família dos trogloditídeos.

*Giesta: gênero de plantas ornamentais leguminosas, vassoura de

giesta.

Vemos aqui personagens, espaço, ação, enfim, todo o necessário para o

desenvolvimento da história. E, como Hemingway, o autor deixa a cargo do leitor pensar e

compreender o conto, ou seja, o autor não fornece nada pronto; apenas “pistas”, que, unidas

por quem lê, formam um todo coerente. Trevisan garante apenas instrumentos para que o

leitor tire suas próprias conclusões a respeito da personagem que é levada em uma cadeira

para o jardim. Será esta personagem uma coisa? Recolhe-se a roupa, fecha-se a janela,

prende-se o cachorro, mas ninguém se lembra da personagem que fora levada ao jardim.

A economia na linguagem pode ser notada em passagens como “Prendeu o Nero?”:

em momento algum se diz que Nero seria um cachorro, no entanto, o verbo “prender” e o

nome próprio incomum em seres humanos fazem com que o leitor infira que se trata de um

cão. É interessante notar neste conto, que a narrativa se constrói descrevendo-se um quadro,

uma cena. Numa construção não minimalista, provavelmente teríamos algo como:

“Numa tarde de verão, ele é levado ao jardim em sua cadeira de braços, e

sobre a palhinha dura da mesma, estava a capa de plástico. Apesar do calor, tinha

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Page 58: Contos Ideias Bacanas

55

uma manta xadrez sobre o joelho. Estava com a cabeça caída no peito e pendia um

fio de baba em seu queixo.”

Releia o início do conto de Trevisan e compare com o trecho reescrito que você acaba

de ler: quantas palavras foram suprimidas? Muitas, não é mesmo? Porém, a falta dessas

palavras, da primeira vez que você leu o conto, atrapalhou o seu entendimento do trecho?

Tenho certeza de que não, porque você, como bom leitor, subentendeu-as. Assim, você pode

notar o quanto é importante o papel do leitor neste tipo de narrativa extremamente breve.

O mais interessante nisso tudo é que o microconto, ainda que tão curto se comparado

aos contos de fadas e lendas, por exemplo, exige a atenção do leitor para uma interpretação

que não está ali tão clara...

Vários microcontos forma obra de Marcelino Freire,

denominada Os Cem Menores Contos Brasileiros do

Século. Para construí-la, o autor “desafiou” (nas palavras

do próprio) 100 escritores brasileiros a escreverem contos

com, no máximo, 50 letras. Entre eles, participam da

coletânea: Millôr Fernandes, Moacyr Scliar, Marçal

Aquino, Lygia Fagundes Telles, e muitos outros grandes

nomes da Literatura Brasileira Contemporânea.

Os microcontos, tal como qualquer outro tipo de narrativa, podem ser construídos nas

mais variadas formas. Temos aqui alguns exemplos de microcontos (retirados da Antologia de

Marcelino Freire) nos quais podemos notar essas diferentes construções formais. Observe o

microconto abaixo:

Se eu soubesse o que procuro com esse controle remoto...

Fernando Bonassi

No microconto acima transcrito nota-se uma voz de narrador-personagem – alguém

que fala sobre si próprio – marcada pela construção na pessoa verbal; além da presença das

reticências, confirmando a não necessidade de mais palavras ou explicações. Nisto está a

essência dos microcontos: dizer pouco sugerindo muito. Em relação ao conteúdo, o título

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Page 59: Contos Ideias Bacanas

56

“Só” e a cena do homem solitário e indeciso em frente à TV sugerem a falta de sentido e

objetivo para a existência humana. Abaixo, veja um outro exemplo com forma distinta:

Disque-denúncia

-Cabeça?

-É.

-De quem?

-Não sei. O dono não tá junto.

Marçal Aquino

Aqui o miniconto se estrutura na forma de diálogo, por meio do discurso direto. Não

há presença de narrador, nem se explicita quem seriam os personagens. No entanto, é evidente

a ação que se desenrola (uma denúncia por telefone) bem como seus personagens são

facilmente identificáveis (cidadão/policial). Nesse microconto está clara a questão da crítica à

violência nos dias atuais.

Caiu da escada e foi para o andar de cima.

Adrienne Myrtes

No caso do microconto acima, composto por uma única sentença, podemos notar o

narrador externo à ação, demonstrado pelo do uso da terceira pessoa. Temos também ação

(cair/ir) e uma personagem que não é sequer descrita, o que não interfere na compreensão da

narrativa.

O uso de figuras de linguagens é um recurso bastante presente nos microcontos, o qual

auxilia na concisão da linguagem. Neste caso, Adrienne Myrtes usa o eufemismo “foi para o

andar de cima” para expressar a morte da personagem, contrastando com o verbo cair (indica

uma única direção possível, ou seja, para baixo) com o ato de ir para o andar de cima.

Tome Nota!:

O que é Eufemismo?:

É a atenuação ou suavização de idéias consideradas desagradáveis, cruéis,

imorais, obscenas ou ofensivas. Por exemplo:

“Nos fizeram varrer calçadas, limpar o que faz todo o cão...” (Em lugar de

fezes)

ou mesmo:

Page 60: Contos Ideias Bacanas

57

"Trata-se de um usurpador do bem alheio..." (Em lugar de ladrão)

Vê-se, portanto, que muitas são as questões que podem surgir quando pensamos nessa

nova maneira de fazer Literatura. Podemos nos perguntar se é possível contarmos uma

história em tão poucas palavras... Quem defende os microcontos como gênero literário dirá

que sim, e que isto irá depender da habilidade do autor em dizer o mínimo necessário em cada

vez menos palavras. Por outro lado, há quem defenda que, para haver narrativas, são

necessários personagem, ação e enredo, ou seja, requisitos demais pra uma única sentença. E

você, agora que estudou três capítulos sobre contos, o que pensa a respeito desta novidade?

O haicai é uma forma de poema japonês, em geral composto por um total de 17

sílabas poéticas, divididas na seqüência de 5, 7 e 5 sílabas. Outra questão de

destaque na organização dessa forma de poema é o uso da chamada “palavra de

estação”: um termo ou expressão presente no haicai que faz referência a uma

estação do ano. Os haicais são construídos dentro de uma temática das estações do

ano que, de acordo com a cultura japonesa, além das quatro que conhecemos

(primavera, verão, outono e inverno), englobam também o Ano Novo, totalizando,

portanto, cinco estações.

Abaixo, um exemplo de haicai:

Primeiro frio do ano fui feliz

se não me engano

Paulo Leminski

Page 61: Contos Ideias Bacanas

58

O que você aprendeu:

O que é um microconto

Movimento minimalista As principais diferenças e semelhanças entre contos e

microcontos

Consulte o site http://www.nemonox.com/1000portas/projeto.html

e conheça outros microcontos.

Page 62: Contos Ideias Bacanas

59

Atividade 1 Volte agora ao capítulo 2 que trata da estrutura dos contos e responda: quais semelhanças e

diferenças você pode encontrar entre os contos e os microcontos?

Resposta esperada

Sem dúvida maior diferença é a brevidade, pois o tamanho do conto será uma das diferenças

mais gritantes. Como semelhanças os alunos poderão citar a presença de um narrador, de um

enredo e personagem. Nem sempre os microcontos nos fornecerão um espaço claro, mas a

ação estará sempre presente. Além disso, a descrição é escassa e quase ausente nos

microcontos – o professor poderá pensar em outras semelhanças e diferenças.

Atividade 2 A linguagem literária permite muitas interpretações. Nos microcontos, essa característica é

ressaltada pela brevidade, que não permite detalhes. Leia os contos abaixo e apresente tantas

interpretações quantas considerar possíveis:

ACERTO

-Está feito?

-Sim

-Quem?

-O de treze...

-É?

-Sim.

-E agora?

-O enterro é às cinco. Francisco de Morais Mendes

VIGÍLIA

Pronto nos olhos,

O pranto só espera a notícia.

João Anzanello Carrascoza

Resposta esperada

Leitura(s) pessoal(ais) do microconto.

Atividades

Page 63: Contos Ideias Bacanas

60

Atividade 3 Leia o microconto abaixo:

MAS O RIO CONTINUA LINDO

Pensa o desempregado

Ao pular do Corcovado.

Antonio Torres

Agora reflita e responda: qual o recurso estilístico presente neste microconto que o diferencia

dos demais? Qual o efeito provocado pelo uso deste recurso?

Resposta esperada

O recurso de que se fala é a rima. Espera-se que o aluno veja que, embora estejamos tratando

de texto em prosa, a rima aparece conferindo a qualidade de prosa poética ao microconto, ou

seja, ainda que não seja poesia, a sonoridade é ressaltada.

Atividade 4 Você pôde observar neste capítulo que os microcontos também variam em seu tamanho:

podem ser de uma página ou mesmo de uma linha. Use sua criatividade e dê continuidade à

narrativa do microconto abaixo, sem, contudo, fazer com que ele deixe de ser um microconto.

FUMAÇA

Olhou a casa, o ipê florido.

Tudo para ela.

Suspendeu a mala e foi. Ronaldo Correia de Brito

Resposta esperada

Produção de texto (microconto).

Atividade 5 O microconto transcrito abaixo pode provocar riso. Explique como se dá o efeito cômico.

TESTE DE VISTA

Ler? Não, senhor.

São óculos para descanso.

Moacyr Godoy Moreira

Page 64: Contos Ideias Bacanas

61

Resposta esperada

Quer-se obter do aluno a explicação de que a comicidade se daria pela ambigüidade do termo

“descanso”, quando relacionado à “óculos”, assim, “óculos para descanso” é entendido como

“óculos para que não se leia”.

Atividade 6 Faça com que o microconto abaixo se transforme num conto comum, como os que você viu

nos capítulos anteriores. Para isso, acrescente detalhes, descrições e o que mais lhe parecer

conveniente.

A DÍVIDA

Mata o pai, arromba o cofre, só uma caixa vazia. José Castello

Resposta esperada

Produção textual de gênero conto.

Atividade 7 A Internet é um campo fértil para os microcontos. Atualmente, é grande o número de

internautas que escrevem e postam em seus blogs os seus próprios microcontos. Faça uma

breve pesquisa na Internet e liste aqui o que você encontrar e considerar interessante a

respeito dos microcontos no meio digital. Depois, reflita: essas duas formas de microcontos

são diferentes entre si ou se assemelham? O meio de publicação (livro/Internet) interfere na

construção do microconto? O que você acha?

Resposta esperada

Essa é uma questão de pesquisa e reflexão sobre a interferência do meio no gênero. Resposta

pessoal.

Atividade 8 Ernest Hemingway, escritor já citado no capítulo, tem uma teoria muito famosa a respeito dos

contos. Nesta teoria, ele compara o conto a um iceberg. Formesm grupos e pesquisem a

respeito dessa comparação. Depois, expliquem a teoria utilizando-se dos microcontos como

exemplo.

Resposta esperada

Espera-se que o aluno pesquise e descubra o porque da comparação dos contos aos icebergs,

explicando com base em algum(ns) microconto(s) que, como nos icebergs – os quais tem

somente um oitavo do seu volume visível fora d`água - também os contos “escondem” muitos

sentidos por detrás de poucas palavras.

Atividade 9 Leia os microcontos a seguir e defina um tema comum entre eles.

BALA PERDIDA

Acorda, levanta, vai ganhar a vida...

(Disparos)

Page 65: Contos Ideias Bacanas

62

...passou tão rápida.

Wilson Freire

PODE

Você pode morrer a qualquer momento.

André Sant’anna

FIM DE PAPO

Na milésima segunda noite, Sherazade degolou o sultão.

Antônio Carlos Secchin

Uma vida inteira pela frente.

O tiro veio por trás.

Cíntia Moscovich

Morreu de quê?

Gastou-se.

Eugênia Menezes

Resposta esperada

Espera-se que o aluno observe que a morte é um dos temas comuns a todos os contos. Alguns

falam de assassinato: num Sherazade mata o sultão, noutros ocorrem mortes por tiros... esta

não é uma resposta única poderão haver outras possibilidades.

Atividade 10 Leia o microconto abaixo de Ivana Arruda Leite, cujo título foi omitido. Qual a sua

interpretação a respeito dele? O que ocorre nesse microconto?

Confesso.

Fui eu que enfiei a faca na barriga desse porco.

Releia o microconto agora com o seu título:

FEIJOADA

Confesso.

Fui eu que enfiei a faca na barriga desse porco.

Há uma mudança na interpretação desse microconto a partir da leitura de seu título. Explique

essa mudança.

Resposta esperada

Espera-se que o aluno note que o título faz toda a diferença na interpretação, uma vez que

direciona novo sentindo para a palavra “porco”, a qual inicialmente poderia ser interpretada

como uma referência – insulto – a um ser humano, quando na verdade se trata da alusão ao

animal, como fica claro depois que lemos o título.

Page 66: Contos Ideias Bacanas

63

“Um belo livro desperta vocação, desperta curiosidade,

ler ensina, entrete, desperta curiosidade. Ele é a junção de duas

cabeças pensantes: a do autor e a do leitor”

(Maurício de Sousa)

Agora que você já aprendeu bastante sobre a origem do conto e sua estrutura,

analisou alguns contos contemporâneos e conheceu os microcontos, vamos explorar um

novo formato do conto: os quadrinhos – ou simplesmente as HQ, como também são

conhecidos. Quem não leu quando criança gibis da Turma da Mônica ou Comics da

Marvel, como os X-Men e o Super-Homem? Você sabia que existem contos de

Machado de Assis, Moacyr Scliar e Lima Barreto, dentre outros, adaptados para os

quadrinhos? É isso mesmo, eles estão disponíveis para leitura tanto em forma virtual

quanto impressa.

Aprendendo um pouco sobre as HQ

As histórias em quadrinhos, como qualquer forma de expressão artística, têm

uma linguagem característica do gênero, com códigos e regras. São vários os elementos

que a compõem. Os principais são:

Imagem: elemento fundamental da linguagem dos quadrinhos, a imagem tem

importância maior em relação à escrita nos HQs. As HQ se propõem a contar uma

história baseada em imagens. Isso não quer dizer que a palavra seja sempre dispensável,

mas significa que ela não é o meio primordial de comunicação como na literatura

tradicional, sendo, às vezes, desnecessária. Há histórias em quadrinhos que sequer

utilizam os balões de fala. As imagens abaixo, por exemplo, não apresentam falas,

porém, sua compreensão é perfeitamente possível:

HQ – Um novo formato

para os contos

Page 67: Contos Ideias Bacanas

64

http: //www.monica.com.br/cookpage/cookpage.cgi?!pag=comics/tirinhas/tira248

Representação do movimento: as histórias em quadrinhos representam

movimentos através de imagens, luzes e sombras. Vários recursos são utilizados com

esse objetivo: a deformação de folhas e galhos de árvores sob ação do vento, a

inclinação de um corpo para indicar que este está correndo, a alteração das dobras das

roupas no sentido do deslocamento,

dentre outros.

Encadeamento de imagens: nas histórias em quadrinhos, o autor decompõe

uma ação em um determinado número de imagens colocadas em seqüência. Não há,

contudo, um recurso tecnológico digital que reproduza o movimento, como nos

Na imagem ao lado conseguimos observar

que a moça está, no mínimo, assustada, sem

que para isso ela tenha dito absolutamente

nada.

Page 68: Contos Ideias Bacanas

65

desenhos animados, por exemplo. Assim, a ilusão do movimento fica por conta da

linguagem visual transmitida ao leitor.

Representação dos sons: além da prática comum de colocar dentro dos

chamados ―balões‖ a representação escrita das falas das personagens, é freqüente

também a utilização da escrita para representações sonoras que não fazem parte da

linguagem humana. São, de um modo geral, representações de ruídos. Tais

representações se fazem por meio de onomatopéias, como nos exemplos abaixo:

Literatura e HQs

Tome Nota

Como você pode perceber, onomatopéia é a figura de linguagem utilizada para

representarmos algo pelo seu som. Empregamos este recurso em expressões tais como:

O “cri cri” dos grilos na janela a incomodava.

Ou ainda:

Eu ia pela rua quando de repente - “cabrum” - começou a chover.

Dessa forma, a onomatopéia é um modo de representar, através da escrita, os ruídos.

Veja outros exemplos de onomatopéia comumente encontrados nas histórias em quadrinhos:

Aaai! – grito de dor Argh! – nojo Ah! – grito de surpresa, dor, medo ou pavor Eeek! ic! – soluço Ah! Ah! Ah! – risada ou gargalhada Er... Ahn ... – indecisão

Ahhh! – alívio Bah! – desagrado

Ahn! – choro Bam! – tiro de revólver Arf! – animal arfando, ofegante Buá! – choro

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Page 69: Contos Ideias Bacanas

66

Além de heróis como o Super-Homem e a Mulher Maravilha, existem também

HQs sobre personagens mais próximos da realidade como Calvin, Luluzinha, Turma da

Mônica e Popeye. Além disso, há quadrinhos inspirados em personagens literários,

porque é cada vez mais comum encontrarmos adaptações de contos e romances.

Machado de Assis, Manuel Antonio de Almeida, Lima Barreto e Moacyr Scliar – o qual

teve adaptado para os HQs seu conto A orelha de Van Gogh – são alguns exemplos

disso.

Observe que a adaptação de contos literários para os quadrinhos não é um

movimento tão simples. Adaptar uma obra para um outro gênero ou linguagem

significa, em certa medida, modificá-la. A mudança é inevitável, e depende do objetivo

da adaptação. Vejamos alguns casos.

Dom Casmurro em quadrinhos – uma adaptação que deu certo

Um caso interessante envolvendo quadrinhos e literatura foi a adaptação baseada

no livro Dom Casmurro de Machado de Assis.

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Page 70: Contos Ideias Bacanas

67

O jornal Extra, do Rio de Janeiro, publicou em setembro de 2008 uma adaptação

em quadrinhos da história da personagem Capitu, na qual ela é inocentada da suspeita

de traição em relação a Bentinho.

A obra original trata do namoro de Bentinho e Capitu que se deu desde que eram

crianças, e posterior casamento. Bentinho, destinado a ser padre devido a uma promessa

de sua mãe, conheceu a nova vizinha Capitu, por quem se apaixonou e desistiu de ser

seminarista. Com o passar dos anos, Bentinho vai fazendo jus ao seu apelido de

casmurro na mesma proporção em que seu ciúme por Capitu cresce. Seu modo

rabugento e cismado de ser se agrava com o nascimento de Ezequiel, seu filho.

Bentinho começa a desconfiar que o menino é filho do seu melhor amigo, Escobar. Daí

surge a pergunta que mais se repete entre os leitores: ―Afinal, Capitu traiu ou não traiu

Bentinho?‖ – uma pergunta que o livro não responde, os críticos tentam responder e à

qual os leitores ficam sem resposta...

Diante de quase cem anos de polêmica, João Arruda e Vinícius Micthell

elaboraram uma história em quadrinhos que inocenta Capitu. Eles criaram a narrativa na

forma de um tribunal. A história se pauta nos argumentos dos advogados de acusação e

de defesa.

O final da HQ apresenta uma prova irrefutável da inocência da personagem.

Contudo, tal prova é uma reviravolta completa na trama proposta por Machado de

Assis, que deixou a dúvida em suspenso.

Essa HQ pode ser lida na íntegra no site:

http://extra.globo.com/blogs/tirandodeletra/post.asp?t=quadrinhos_do_julgament

o_de_capitu&cod_Post=129130&a=506

Veja logo a seguir alguns trechos da HQ selecionados:

Page 71: Contos Ideias Bacanas

68

Esse quadrinho criou um desfecho diferente para o romance Dom Casmurro. Além

disso, no romance de Machado de Assis, Bentinho é o narrador, logo, toda a trama é

apresentada sob seu ponto de vista. Observe que, no trecho da HQ acima, predomina a

fala das personagens participantes, em detrimento da fala do narrador, presente apenas

no topo do terceiro quadrinho.

Uns Braços em quadrinhos – uma outra adaptação

A versão em HQ do conto Uns Braços, de Machado de Assis, traz um texto mais fiel

ao original. Nesta adaptação para HQ preservou-se a figura do narrador, tão importante

para o conto machadiano.

Veja a seguir um trecho da adaptação:

Page 72: Contos Ideias Bacanas

69

Como você pode notar, o narrador está bastante presente nos quadrinhos,

representado pela caixa quadrada acima das imagens. Veja agora um trecho da obra

original, que corresponde aos quadrinhos retratados acima:

Como você pode notar, o narrador está bastante presente nos quadrinhos, representado

pela caixa quadrada acima das imagens. Veja agora um trecho da obra original, que

corresponde aos quadrinhos retratados acima:

Uns Braços

(...) Saiu da sala, atravessou rasgadamente o corredor e foi até o quarto do

mocinho, cuja porta achou escancarada. D. Severina parou, espiou, deu com ele na rede,

dormindo, com o braço para fora e o folheto caído no chão. A cabeça inclinava-se um

pouco do lado da porta, deixando ver os olhos fechados, os cabelos revoltos e um

grande ar de riso e de beatitude.

D. Severina sentiu bater-lhe o coração com veemência e recuou. Sonhara de

noite com ele; pode ser que ele estivesse sonhando com ela. Desde madrugada que a

figura do mocinho andava-lhe diante dos olhos como uma tentação diabólica. Recuou

ainda, depois voltou, olhou dois, três, cinco minutos, ou mais. Parece que o sono dava à

adolescência de Inácio uma expressão mais acentuada, quase feminina, quase pueril.

"Uma criança!" disse ela a si mesma, naquela língua sem palavras que todos trazemos

Page 73: Contos Ideias Bacanas

70

conosco. E esta idéia abateu-lhe o alvoroço do sangue e dissipou-lhe em parte a

turvação dos sentidos.

"Uma criança!"

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000259.pdf

Nos quadrinhos, um dos efeitos que a preferência pelo uso constante da fala do

narrador produz é a preservação da atmosfera reflexiva e ambígua do conto

machadiano. Enquanto na HQ de Dom Casmurro observamos uma representação

consecutiva de falas, provocando uma leitura mais dramatizada, em Uns Braços

notamos uma tendência a preservar o narrador da obra original. O que há, neste caso, é

uma inserção de imagens de forma que a adaptação ao gênero dos quadrinhos interfira

menos no enredo original.

O que é Mangá?

Mangá é o nome dado às histórias em quadrinhos de origem japonesa. A palavra surgiu da

junção de outros dois vocábulos: man, que significa involuntário, e gá, imagem.

Os mangás se diferenciam dos quadrinhos ocidentais não só pela sua origem, mas

principalmente por se utilizarem de uma representação gráfica completamente própria. Pra

começar, o alfabeto japonês se compõe de ideogramas que não só representam sons, mas também

idéias. Assim, em um mangá o texto em geral, mas principalmente as onomatopéias, fazem parte

da arte. A ordem de leitura dos mangás também é diferente daquela que estamos acostumados. Um

livro japonês começa pelo que seria o fim de uma publicação ocidental. Além disso, o texto é

disposto da direita para a esquerda.

Outra característica peculiar dos mangás é que eles são publicados em volumes de mais ou

menos 200 páginas cada, o que permite aos autores criar histórias mais longas e aprofundadas.

Dessa forma, em um mangá é comum ver várias páginas só de imagens, sem diálogos, e também

ações que se desenrolam por muitos quadrinhos e abordadas por diferentes pontos de vista. A

disposição dos quadrinhos em uma página de mangá é diferente daquela que se costuma ver num

comic americano, que costuma ter três ou quatro fileiras de quadrinhos por página. Como os

mangakás (nome dado aos autores de mangás) dispõem de um espaço maior para contar sua

história, também empregam um número menor de quadrinhos por página – não é difícil ver página

até sem quadrinhos, com uma única imagem estourada.

Também é característica dos mangás serem feitos completamente em preto-e-branco e em

papel jornal, o que torna o produto mais barato e faz com que ele seja consumido por todo tipo de

pessoa - no Japão eles são lidos por crianças, estudantes, executivos, donas-de-casa…

Esses são apenas alguns pontos que caracterizam os mangás. Só que o principal é a

capacidade que eles têm de encantar pessoas do mundo todo. Ler um mangá é uma experiência

única. É mergulhar em um mundo próprio. Cheio de ação, emoção, heróis, criaturas mágicas e

muita, muita diversão. hhhttttttppp::://////mmmaaannngggaaasssjjjbbbccc...uuuooolll ...cccooommm...bbbrrr///ooo---qqquuueee---eee---mmmaaannngggaaa///

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Page 74: Contos Ideias Bacanas

71

Conclusão

Você pode notar que muitos contos literários tiveram em suas edições algumas

ilustrações de seu enredo. Podemos dizer que esta foi a semente para chegarmos às

histórias em quadrinhos – um gênero que ocupa um espaço cada vez maior nas estantes

das livrarias. É possível afirmar que ―traduzir‖ obras da literatura canônica para a

linguagem dos quadrinhos foi uma maneira de aproximar estas histórias de um público

leitor mais jovem. Essas adaptações foram, de certa forma, uma modernização de obras

da literatura brasileira, que talvez não despertassem tanto interesse nos adolescentes

caso fossem apresentadas em seu formato original.

Não podemos esquecer, contudo, que transpor um conto literário para quadrinhos

significa alterar o gênero inicial da história. Ler um quadrinho de um conto nunca será a

mesma coisa do que ler o conto original, pois os quadrinhos sempre trarão uma visão

limitada da história. Caberá a você ser um leitor perspicaz, buscando nos quadrinhos

toda a riqueza que o mundo das imagens pode nos fornecer, sem se esquecer de que a

escrita é também uma forma de comunicação única, a qual traz um mundo de

expressões que imagem alguma pode traduzir.

.

O que você aprendeu:

As histórias em quadrinhos têm alguns elementos principais tais como: imagens,

representação de movimentos, encadeamento de imagens e representação de

sons;

Alguns contos literários foram adaptados para a linguagem dos quadrinhos, sendo

que esse movimento pode valorizar a história original em maior ou menor grau;

As HQs e os contos literários pertencem a gêneros diferentes, sendo que cada um

tem uma riqueza própria que não pode ser comparada.

Page 75: Contos Ideias Bacanas

72

Dando seqüência à recente onda de adaptações de textos literários para

os quadrinhos feitos por artistas brasileiros, a editora Desiderata

divulgou o lançamento de Irmãos Grimm em Quadrinhos

A obra traz 14 contos clássicos em versões criadas por diversos

quadrinhistas.

Os contos dos irmãos Grimm (Jacob e Wilhelm), considerados

educativos e até certo ponto moralistas, foram colhidos a partir da

tradição oral européia, em especial a alemã e a francesa, em volumes

publicados entre 1811 e 1863. As adaptações tentam resgatar os contos

como os Grimm os compilaram, sem o conteúdo politicamente correto

que surgiu no decorrer dos anos. De acordo com o release da editora, as

versões em quadrinhos buscam interpretações para as histórias, com

um apelo "pop" e contemporâneo. Fonte: www.universohq.com/.../2007/n17122007_07.cfm

ale a pena conferir

Dicas de leitura

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Page 76: Contos Ideias Bacanas

73

Atividade 1 Você se lembra da lenda urbana da Loira do banheiro que lemos no capítulo 1? Releia

os quadrinhos com atenção e compare com o texto em prosa. Que diferenças você pode

notar entre as duas formas de contar esta mesma lenda? É possível encontrar

semelhanças? Explicite.

Resposta esperada

Espera-se que o aluno possa dizer que no texto em prosa a forma de contar a lenda é por

meio de um texto corrido, sem a presença de diálogos e imagens, enquanto que nos

quadrinhos o texto está dentro de balões de fala e há personagens que conversam. Os

efeitos que ambos causam também são diferentes, no texto corrido a sensação que se

tem é de estar recebendo uma informação, nos quadrinhos, através da fala das

personagens, cria-se um clima de suspense.

A semelhança está no conteúdo, pois tanto o texto quanto os quadrinhos tratam da lenda

da Loira do Banheiro.

Atividade 2 Leia a tirinha abaixo. Com base nela redija um conto de, no mínimo, quinze linhas.

Lembre-se que a linguagem do conto e da tirinha diferem. Enquanto a tirinha tem uma

linguagem sintética e conta com o auxílio de imagens, o conto possui uma voz narrativa

que organiza o relato.

(http: //tirasnacionais.blogspot.com/2008/10/galerinha-do-hc-mb-rosa-duval_28.html)

Resposta esperada

Nesta atividade espera-se que o aluno recorra à própria criatividade e às informações

esclarecidas nos capítulos iniciais sobre as características do conto. Espera-se que ele

possa detalhar seu texto recorrendo ao narrador, descrevendo o cenário, as personagens,

etc.

Atividade 3 Você se lembra do mito Tupi apresentado no capítulo 1? Releia e faça um quadrinho

com base neste mito. Você poderá contar com o auxílio da professora de educação

artística para aprimorar seus desenhos. Não se esqueça: nos quadrinhos você deverá

usar balões de fala e onomatopéias!

Resposta esperada

Quadro 3: É a época de provas.

Atividades

Page 77: Contos Ideias Bacanas

74

Novamente uma proposta interdisciplinar. O aluno deve recorrer às técnicas adquiridas

na aula de artes para produzir seus desenhos. Mas o mais importante é que ele saiba

adaptar a linguagem textual para os quadrinhos, usando balões de fala, de narração e

onomatopéias quando necessário.

Atividade 4 As onomatopéias são figuras de linguagem que imitam sons e barulhos. Crie

onomatopéias para os quadrinhos abaixo:

______________ _____________ _______________

________________ _____________ _____________

(http://www.letras.ufmg.br/redigir/HQProf.pdf )

_____________ _________________

Resposta esperada

Os alunos devem criar suas onomatopéias e discutir com os colegas a pertinência delas.

É importante que eles percebam que, como a maioria das onomatopéias não é uma

convenção consolidada na língua, vai haver mais de uma possibilidade para cada caso.

Atividade 5 Que efeito as onomatopéias dos quadrinhos abaixo produz:

Page 78: Contos Ideias Bacanas

75

http://lh5.ggpht.com/xcorex2/ReD_61TBTdI/AAAAAAAAABM/JAwMfZE30RA/s288/Peanuts.1953_066.jpg

Resposta esperada

Espera-se que o aluno diga que o uso dessas onomatopéias contribuiu para um efeito

cômico. Para chegar nessa idéia o aluno precisa interpretar os quadrinhos, observar que

na primeira cena o garoto e o cão estão se estranhando, na segunda começam a rosnar,

na terceira latem ferozmente um para o outro e no último quadrinho saem correndo

porque se assustam com o ruído que produziram.

Atividade 6 Observe na figura abaixo como se deve ler um mangá:

Volte ao texto do capítulo 5 e releia o Box sobre Mangás e responda:

a) Qual a diferença entre os mangás e os Comics americanos?

b) Você já leu algum mangá? Há alguém em sua sala que já tenha lido este tipo de

quadrinho? Converse com seus amigos e troque experiências. Discuta com eles sobre as

diferenças de se ler este tipo de quadrinhos e as HQs ocidentais.

Respostas esperadas:

a) Os mangás se diferem dos Comics americanos em dois aspectos: no que diz respeito à

forma, os mangás são lidos da direita para a esquerda, ao contrário das HQs ocidentais.

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Page 79: Contos Ideias Bacanas

76

Com relação ao conteúdo, os mangás têm mais onomatopéias, de forma que grande

parte dos quadrinhos serve para expressar momentos de emoção, enquanto que os

Comics americanos são mais enxutos.

b) ---

Atividade 7 (Literatura Brasileira em Quadrinhos: O homem que sabia javanês, Editora Escala Educacional)

Para adaptar um conto ao formato de história em quadrinhos, são necessárias algumas

alterações. Leia, o trecho abaixo, do conto original, compare com a versão em

quadrinhos e responda a questão. Em uma confeitaria, certa vez, ao meu amigo Castro contava eu as partidas que havia

pregado às convicções e às respeitabilidades, para poder viver. Houve mesmo uma dada

ocasião, quando estive em Manaus, em que fui obrigado a esconder a minha qualidade de

bacharel, para mais confiança obter dos clientes, que afluíam ao meu escritório de feiticeiro e

adivinho. Contava eu isso.

O meu amigo ouvia-me calado, embevecido, gostando daquele meu Gil Blas vivido, até que, em

uma pausa da conversa, ao esgotarmos os copos, observou a esmo:

— Tens levado uma vida bem engraçada, Castelo!

— Só assim se pode viver… Isto de uma ocupação única: sair de casa a certas horas, voltar a

outras, aborrece, não achas? Não sei como me tenho agüentado lá, no consulado!

— Cansa-se; mas não é isso que me admiro. O que me admira é que tenhas corrido tantas

aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático. — Qual! Aqui mesmo, meu caro Castro, se podem arranjar belas páginas de vida. Imagina tu

que eu já fui professor de javanês?

Page 80: Contos Ideias Bacanas

77

Que alterações você observou?

Resposta esperada

Espera-se que o aluno observe que não houve alteração do texto nesta adaptação de

quadrinhos. A diferença é a inserção de imagens e a disposição do texto original em

balões de fala.

Atividade 8 Observe o quadrinho e depois leia o trecho de Memórias de um sargento de

milícias que o segue.

Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se, porém do negócio, e viera

ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o

Page 81: Contos Ideias Bacanas

78

vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no

mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de

Lisboa, saloia rechonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo

de sua mocidade mal apessoado, e, sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria

encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o

ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito.

A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e

deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto

uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado;

ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez

um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares,

que pareciam sê-lo de muitos anos.

Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar

juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete

meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido,

gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas

horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o

que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1969

Como na atividade anterior, compare o texto com a adaptação para os quadrinhos e

descreva quais foram as alterações.

Resposta esperada

Espera-se que o aluno observe que diferentemente do que houve na atividade anterior, o

texto original não foi simplesmente transposto em balões de fala. Toda a descrição foi

suprimida, mas a informação principal foi mantida.

Atividade 9 Leia os quadrinhos abaixo e observe atentamente o olhar de Inácio, personagem do

conto Uns braços de Machado de Assis. O que você poderia dizer sobre a relação entre

texto e a ilustração, considerando apenas os olhos do personagem.

Atividade 10

Page 82: Contos Ideias Bacanas

79

Escolha um conto e transforme-o em HQ. Se possível, visite o site

http://ideiasemblog.blogspot.com/2008/09/hagqu-criando-quadrinhos-4.htmt e veja

como disponibilizá-lo inclusive na Internet.

Veja abaixo um pouquinho da proposta pedagógica desse blog:

O que é o site “HagáQuê”?

Todos conhecem o caráter lúdico das histórias em quadrinhos (HQs) e muitos a consideram uma forma de arte. Além de

entreter, as HQs podem auxiliar no processo de ensino-aprendizagem dos mais diversos conteúdos, como geografia,

matemática, história, português e idiomas estrangeiros, além de ser uma excelente ferramenta para o trabalho com

alunos com necessidades especiais. Baseado nestas características positivas das HQs, surgiu a proposta de

desenvolvimento do software HagáQuê, um editor de histórias em quadrinhos com fins pedagógicos.

Page 83: Contos Ideias Bacanas

80

Para quem aprecia o senso de humor de Monteiro Lobato eis uma pequena fábula intitulada O burro juiz. Nossa recomendação: mesmo sendo togado é recomendável não enfiar a carapuça. Disputava a gralha com o sabiá, afirmando que a sua voz valia a dele. Como as outras aves rissem daquela pretensão, a bulhenta matraca de penas, furiosa, disse: — Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um juiz. Canta o sabiá, canto eu, e a sentença do julgador decidirá quem é o melhor artista. Topam? — Topamos! piaram as aves. Mas quem servirá de juiz? Estavam a debater este ponto, quando zurrou um burro. — Nem de encomenda! exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima para julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas. Convidê-mo-lo. Aceitou o burro o juizado e veio postar-se no centro da roda. — Vamos lá, comecem! ordenou ele. O sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam sabiás, garganteando os trinos mais melodiosos e límpidos. Uma pura maravilha, que deixou mergulhado em êxtase o auditório em peso. — Agora eu! disse a gralha, dando um passo à frente. E abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvidos aos próprios surdos. Terminada a justa, o meritíssimo juiz deu a sentença: — Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona Gralha, porque canta muito mais forte que mestre sabiá. (*) Quem burro nasce, togado ou não, burro morre.

(*) A condenação de Monteiro Lobato a uma pena de prisão pelo Tribunal de Segurança Nacional em 1941

confirmou essa velha fábula. A sentença deu a razão ao que cantava mais forte...

De Fábulas, in Obras Completas de Monteiro Lobato, Vol. 15, 17ª edição, 1969. Editora Brasiliense.

Capítulo 3 O burro juiz

Anexo 1

Page 84: Contos Ideias Bacanas

81

BRANDÃO, Ignácio de Loyola: COTIDIANO: Os Homens que Descobriam Cadeiras

Proibidas In: BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras Proibidas. 10. ed. São Paulo: Global,

2003. p. 11-17.

_________: O Anônimo, Cadernos de Literatura Brasileira - Instituto Moreira Salles - São

Paulo, nº. 11, Junho de 2001, p. 98.

_________: Entrevista. O Homem do Furo na Mão e Outras Histórias. São Paulo: Ática,

1987. p. 5. (Rosa dos Ventos).

CARIOCA, Patrícia C. et al. Uma Viagem pela Poesia. 2007. 56 f. Trabalho de Conclusão de

Estágio Supervisionado (Graduação) - Curso de Letras, Departamento de Teoria Literária,

Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, 2007.

CARTER, Angela. 103 Contos de fadas. São Paulo: Companhia Das Letras, 2007. 499 p.

CASCUDO, Luís da Câmara. Contos Tradicionais do Brasil. 11. ed. Rio de Janeiro: Ediouro,

1998. 349 p.

CHACÓN, Manuela. As mil e uma noites. Retirado de:

http://conexaooriente.wordpress.com/2007/09/10/as-mil-e-uma-noites/

CHINELATTO, Thaís. Apontamentos sobre o conto. Retirado de:

http://www.facasper.com.br/cultura/site/noticia.php?tabela=noticias&id=398.

D’OLIVEIRA, Gêisa Fernandes. Cultura em quadrinhos: reflexões sobre as Histórias em

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