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  1. Introdução Refere-se ao leasing, também conhecido por arrendamento mercantil. O leasing, também conhecido como arrendamento mercantil, é uma espécie de contrato de adesão e permite a capacitação e modernização de empresas, permitindo maior circulação de bens e mercadorias, tanto no aspecto da celeridade das negociações, bem como pela facilidade da aderência ao contrato pré-estipulado. Caracteriza-se como um contrato complexo e engloba em si caract erísticas de diversos institutos jurídicos como a locação, compra e venda e o financiamento. A questão cujo estudo nos propomos tem suscitado inúmeras divergências por parte da doutrina e da jurisprudência. Assim, nosso objetivo é apresentar uma visão geral sobre o tema a partir de sua evolução histórica, conceito e espécies e introduzir a discussão acerca das chamadas cláusulas abusivas, não sendo pretensão do presente estudo esgotar tão densa matéria. 2. Origem do vocábulo e noções históricas O vocábulo Leasing, de o rigem norte-amer icana, é composto do sufixo ing que exprime ação verbal, continuidade (gerúndio), e o verbo to lease traduzido como o ato de alugar ou arrendar. No Brasil, o leasing também é chamado de arrendamento mercantil, sendo as partes o arrendante ou arrendador e o arrendatário. A evolução histór ica do conceito do leasing remonta à Antigüidade havendo vestígios de caracter ísticas rudimentares do referido instituto no Cód igo de Hamurábi, na Babilônia. Na Grécia antiga, indícios da existência desse tipo contratual podem ser encontrados a partir da obra "Política" de Aristóteles. No Egito, encontramos características do arrendamento mercantil em norma que permitia a um homem de posses que alugasse seus instrumentos de trabalho, bem como seus escravos, a outro homem de mesma condição econômica. Alguns institutos do Direito Romano, como, por exemplo, a locação, o comodato, a compra e venda, o depósito e a fidúcia podem ser elencados como institutosbase do moderno arrendamento mercantil. Na Idade Média, instituto semelhante era quando o senhor feudal alienava seus bens sem exigir pagamento à vista; enquanto não satisfeito o preço, o proprietário mantinha o direito real sobre o bem. Na Idade Moderna também são encontra dos alguns acontecimentos que se assemelham ao leasing. Entretanto, a maior parte da doutrina atribui a David Boot he Jr., um norteamericano, a concepção de leasing que temos na atualidade. Boothe firmou um contrato com um banco no qual o b anco adquiriria o maquinário necessário para os negócios de David e o cederia em locação. O êxito se sua empreitada foi tamanho que em 1952,  juntamente com o Bank of América , ele fundou a U.S. Leasing C orporation. Sua

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 1. Introdução

Refere-se ao leasing, também conhecido por arrendamento mercantil.O leasing, também conhecido como arrendamento mercantil, é uma espécie decontrato de adesão e permite a capacitação e modernização de empresas, permitindomaior circulação de bens e mercadorias, tanto no aspecto da celeridade dasnegociações, bem como pela facilidade da aderência ao contrato pré-estipulado.Caracteriza-se como um contrato complexo e engloba em si características dediversos institutos jurídicos como a locação, compra e venda e o financiamento.A questão cujo estudo nos propomos tem suscitado inúmeras divergências por parteda doutrina e da jurisprudência. Assim, nosso objetivo é apresentar uma visão geralsobre otema a partir de sua evolução histórica, conceito e espécies e introduzir a discussãoacercadas chamadas cláusulas abusivas, não sendo pretensão do presente estudo esgotar tãodensa

matéria. 2. Origem do vocábulo e noções históricasO vocábulo Leasing, de origem norte-americana, é composto do sufixo ing queexprime ação verbal, continuidade (gerúndio), e o verbo to lease traduzido como o atodealugar ou arrendar.No Brasil, o leasing também é chamado de arrendamento mercantil, sendo as parteso arrendante ou arrendador e o arrendatário.A evolução histórica do conceito do leasing remonta à Antigüidade havendovestígios de características rudimentares do referido instituto no Código de Hamurábi,naBabilônia. Na Grécia antiga, indícios da existência desse tipo contratual podem ser

encontrados a partir da obra "Política" de Aristóteles. No Egito, encontramoscaracterísticasdo arrendamento mercantil em norma que permitia a um homem de posses quealugasseseus instrumentos de trabalho, bem como seus escravos, a outro homem de mesmacondição econômica. Alguns institutos do Direito Romano, como, por exemplo, alocação,o comodato, a compra e venda, o depósito e a fidúcia podem ser elencados comoinstitutosbase do moderno arrendamento mercantil.Na Idade Média, instituto semelhante era quando o senhor feudal alienava seus benssem exigir pagamento à vista; enquanto não satisfeito o preço, o proprietário

mantinha odireito real sobre o bem. Na Idade Moderna também são encontrados algunsacontecimentos que se assemelham ao leasing.Entretanto, a maior parte da doutrina atribui a David Boothe Jr., um norteamericano,a concepção de leasing que temos na atualidade. Boothe firmou um contratocom um banco no qual o banco adquiriria o maquinário necessário para os negócios deDavid e o cederia em locação. O êxito se sua empreitada foi tamanho que em 1952,

 juntamente com o Bank of América, ele fundou a U.S. Leasing Corporation. Sua

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sociedade objetivava adquirir os insumos dos fabricantes e locá-los aos usuários,sendo,dessa forma, um agente intermediário.Apesar de todas as considerações acerca da evolução do instituto estudado, faz-semister ressaltar que tais constatações devem se limitar a um interesse histórico, umavez que, na atualidade, a causa, função e estrutura do leasing devem ser analisadassob a égideda contemporaneidade.3. ConceitoTrata-se de uma modalidade de contrato mercantil complexo, haja vista sua naturezaresultante da fusão de outros contratos. Embora se trate de uma locação, permeadapelaconsignação de promessa de compra, esse contrato também contém umfinanciamento,criando uma associação entre essas figuras.É definido pela lei n. 6.099/74 no parágrafo único do artigo primeiro: "Considera-searrendamento mercantil a operação realizada entre pessoas jurídicas, que tenham por

objetoo arrendamento de bens adquiridos a terceiros pela arrendadora, para fins de usopróprio daarrendatária e não atendam as especificações desta".A citada lei teve alguns de seus dispositivos alterados pela lei n. 7.123/83. Com anova lei, é permitida a participação de pessoas físicas no contrato, como elucida seuartigoprimeiro: Considera-se arrendamento mercantil, para efeitos da lei, o negócio

 jurídicorealizado entre pessoas jurídicas, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou

 jurídica,

na qualidade de arrendatária e que tenha por objeto o arrendamento de bensadquiridos pelaarrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta.Em outras palavras, o leasing é um contrato pelo qual o arrendatário, desejandoutilizar determinado imóvel ou equipamento, consegue que uma instituição financeiraoadquira e depois o alugue por um prazo determinado, tendo o interessado ainda, aofinal docontrato, três opções: a devolução do bem, a renovação do contrato ou a compra dobempelo preço residual fixado no momento inicial do contrato.

4. Natureza JurídicaA lei n. 6.099/74 concede respaldo legal ao instituto do arrendamento mercantil,contudo esquiva-se de qualificar sua natureza jurídica, sendo, pois, essa questão,muito discutida entre os doutrinadores brasileiros, haja vista a ausência de qualquerdeterminaçãolegal que a conceitue.Contudo, faz-se de extrema relevância conceber a natureza jurídica dessamodalidade contratual como algo diverso dos contratos previstos nas leis tradicionais.

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O leasing é contrato típico, nominado e regulamentado por legislação própria. Há,no entanto, dúvida quanto a sua classificação em contrato misto ou complexo.Alguns doutrinadores defendem que se trata de um contrato misto, uma vez quereúne características de diversos tipos contratuais, formando, contudo, uma unidadeindissolúvel. Basta o descumprimento de apenas um dos elementos que o compõemparainutilizar inteiramente o pacto.Outros o vêem como negócio jurídico complexo.Enquadra-se o contrato de leasing no ramo do Direito Comercial, pois a locadora oua empresa de leasing deve ser necessariamente uma pessoa jurídica de carátermercantil.Lição importante nos é explicada por Justino Magno Araújo quando diz queno arrendamento mercantil as partes concordam em arrendar um bem, não com afinalidade de perceber ou pagar remuneração pelo seu uso, mas com o propósitode gerar um fluxo de pagamentos que permita ao arrendatário adquirir o bem aofinal, e ao arrendador, recuperar o capital investido na operação. Há, portanto,um negócio jurídico indireto, no qual as partes se servem de um meio para

alcançar um fim que não é típico do negócio escolhido.1Alguns autores, dentre eles Miranda Leão, Fábio Konder Comparato e Arnold Waldnão concordam com a teoria do negócio jurídico indireto, porque, via de regra, é oacessoà utilidade do bem e não à sua propriedade, que origina a manifestação da vontadedaspartes no contrato.

1ARAÚJO, Justino Magno. Inexecução do contrato de Leasing em razão de cláusulas

abusivas, p. 33. 5. Modalidades de LeasingAs espécies existentes de leasing são: o leasing financeiro, o leasing operacional, oleasing imobiliário e o lease-back. Contudo, essa classificação não esgota aspossibilidadesexistentes, haja vista a evolução dos institutos jurídicos, bem como a do setorempresarial.No leasing financeiro o vínculo obrigacional se estabelece entre uma instituiçãofinanceira e uma pessoa física ou jurídica. Constitui a modalidade de arrendamentomercantil mais comum nos negócios jurídicos brasileiros, sendo chamado também deleasing puro. A empresa de leasing (arrendadora), a pedido se seu cliente, adquire obem

por ele escolhido e transfere-lhe a posse durante um determinado período, medianteopagamento de uma contraprestação.Como nos mostra Fábio Ulhoa Coelho, o leasing financeiro se caracteriza pela

inexistência de um resíduo expressivo:Para o exercício de compra, o arrendatário desembolsa uma importância depequeno valor, devendo a soma das prestações correspondentes à locação sersuficiente para a recuperação do custo do bem e o retorno do investimento da

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arrendadora.2Já no leasing operacional, também denominado renting, o resíduo a ser pago pela

arrendatária, no momento da operação de compra, tende a ser expressivo. Trata-se deumalocação, na qual a arrendadora compromete-se a prestar serviços de manutenção dacoisaarrendada, pelo período em que vigorar o contrato. A rescisão do contrato podeocorrer aqualquer tempo pelo arrendatário, desde que ele o faça mediante aviso prévio.Característica dessa modalidade contratual é que o valor pago pelo arrendatário servecomopagamento do preço do bem, caso sua opção seja adquiri-lo, fenômeno esse nãopresente nalocação.Os contratos de leasing imobiliário são aqueles que têm como objeto bens imóveis

podendo esses se tratarem de imóveis já edificados bem como de terrenos com a

finalidadede construção.

2COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direto Comercial, p. 467. O lease-back constitui

espécie de leasing no qual uma empresa, que detenhapropriedade de um bem, vende-o a uma outra empresa, que o adquirindo, arrenda-o àvendedora. Uma das peculiaridades dessa espécie de arrendamento é que ela só podeserrealizada entre pessoas jurídicas.Existem ainda outras modalidades de leasing, mas essas não são utilizadas no

Brasil. Como exemplo, podemos citar o Leasing purchase e a operação chamadaDummyCorporation.6. Obrigações das partesO arrendamento mercantil classifica-se como um tipo de contrato bilateral. Sãobilaterais, os contratos dotados de prestações para ambas as partes.São obrigações do arrendador: a aquisição dos bens a serem arrendados (escolhidospelo arrendatário), bem como a entrega destes ao interessado para seu uso e gozo;aceitar aopção do arrendatário ao final do contrato, ou seja, renovar o contrato, receber obem

restituído, ou ainda, vender o bem mediante o pagamento do preço residual.Por sua vez, cabe ao arrendatário: pagar as prestações da maneira que se ajustara,manter os bens arrendados, e, ao final do contrato, se não quiser comprá-los, suportarosencargos dos bens arrendados e pagar ao arrendador todas as prestações quecompletariamo cumprimento integral da obrigação de rescindir o contrato antes da data estipuladacomo

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vencimento.7. Das cláusulas abusivasO chamado contrato de adesão é aquele em que uma das partes estipula cláusulas aoseu livre arbítrio e discricionariamente enquanto a outra meramente o adere. Difere-se dochamado contrato paritário, que pressupõe uma igualdade entre os pactuantes. Naadesão contratual ao leasing, o arrendatário consente com o conteúdopredeterminado pelo arrendador, sem que haja a possibilidade de discutir os termosdocontrato, limitando-se a aceitá-lo ou não. Essa unilateralidade na estipulação docontratoacaba por gerar uma desigualdade ou até mesmo um desequilíbrio, ocorrendo o riscodeaparecerem no instrumento cláusulas que concedem excessivas vantagens aopredisponenteem detrimento ao aderente, que fica subjugado a encargos deveras onerosos. Taiscláusulas,

no nosso ordenamento jurídico, são conhecidas como cláusulas abusivas.A abusividade de uma cláusula contratual é de fácil visibilidade, uma vez que não édifícil perceber a ocorrência de desequilíbrio entre os pólos contratantes.No Brasil, até pouco tempo atrás, tais cláusulas encontravam-se disciplinadasunicamente pelo Código de Defesa do Consumidor. Entretanto, o Código Civil de 2002trouxe normas explícitas a respeito, dando ênfase ao princípio da boa-fé e daonerosidadeexcessiva, normas essas, visando à proteção do contratante economicamente maisfraco.O instituto do arrendamento mercantil foi criado para atender as necessidades dasempresas e não do consumidor. A partir disso, não é difícil inferir que pode haver

decisõesque não admitam a aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos arrendatários,umavez que seu objeto não tem como finalidade o uso próprio, mas busca a realização dasnecessidades da empresa arrendatária, visando implementação em sua atividadecomercial.Contudo, tais considerações não impedem que o Código de Defesa do Consumidorseja aplicado nos contratos de leasing, principalmente, no que se refere a reajustes,taxas de

 juros, etc.Destarte, questiona-se se os contratos de adesão detentores de cláusulas abusivas

poderão ensejar a nulidade do contrato com base no que dispõe o art. 51. IV, do CDC:"Art.51: São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas aofornecimento de produtos e serviços que: IV - estabeleçam obrigações consideradasiníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejamincompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade". Para tal efeito, caracteriza-se o contratode leasing como uma relação de consumo,apesar das divergências doutrinárias e jurisprudenciais acerca do tema. Assim, éinegável a

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aplicação do Código de Defesa do consumidor ao contrato citado.Entretanto, como nos explica Rossane Marina Fróes Saltori,Vale lembrar a ressalva que o próprio Código de Defesa do Consumidor fazquanto à necessidade de o consumidor ser o destinatário final do bem, nãopodendo dele se valer para fins lucrativos. Para tanto, aqueles contratos deleasing que não se caracterizam relação de consumo devem se valer da proteçãodas leis civis e comerciais pertinentes.3As cláusulas abusivas devem ser consideradas nulas pelo judiciário através de açõesrevisionais propostas, tendo como fundamento a Constituição Federal, bem como oCódigode Defesa no Consumidor. É válido lembrar que, somente através da intervenção

 judicial,as insituições financeras farão a adaptação das cláusulas de conteúdo abusivo àsnormas nodireito vigente, assim almejando a eqüidade e a justiça social.8. Conclusão

A peculiaridade de contrato de leasing é a tríplice opção conferida ao arrendatárioao final do contrato, podendo ele, comprar o bem por um valor residual acordado (talvaloré a diferença entre o valor real do bem e as prestações já pagas nos aluguéis),prorrogar ocontrato mediante sua renovação ou extingui-lo, devolvendo o bem.A complexidade do tema gera não poucas divergências doutrinárias com relação àsua natureza jurídicaTrata-se de um contrato de adesão em que a unilateralidade na estipulação dascláusulas obrigacionais pode levar o arrendatário a uma onerosidade excessiva, deevidente

desigualdade e desequilibro entre as partes.