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Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 Contraturno Escolar: Principais Preocupações presentes entre o C.R.A.S e a Comunidade Antonio Richard Carias Faculdade de Psicologia Centro de Ciências da Vida [email protected] Raquel Souza Lobo Guzzo Grupo de Pesquisa Avaliação e Intervenção Psicossocial: Prevenção, Comunidade e Libertação Centro de Ciências da Vida [email protected] Resumo: O contraturno escolar atualmente é regu- lamentado a partir de políticas públicas, sendo pre- sente no Programa Mais Educação e no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), por meio do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e adolescentes de 06 a 15 anos. O objetivo deste estudo é compreender as principais preocupações presentes nas orientações para os profissionais do Serviço de Convivência e Fortaleci- mento de Vínculos do SUAS, pois desta forma, bus- ca-se avaliar as correspondentes preocupações com o contraturno escolar na assistência social. Os resul- tados evidenciaram cinco grandes categorias de pre- ocupações que se tornam significativas para o traba- lho dos profissionais envolvidos. Tornou-se evidente a preocupação com fatores de desenvolvimento, fa- tores contrários ao desenvolvimento, aspectos da infância, orientações técnicas e atividades na assis- tência social. O presente estudo relava a importância do contraturno existente na Proteção Básica da as- sistência social, particularmente na luta contra o tra- balho infantil. Palavras-chave: Contraturno escolar, políticas pú- blicas, SUAS. Área do Conhecimento: Ciências Humanas - Psico- logia – FAPIC/CNPQ 1. Introdução 1.1 Contraturno Escolar na Assistência Social A Educação Integral, que corresponde ao ensino e atividades de formação cidadã, está em pauta nas políticas públicas atuais. [9] pontuam que a proposta de um ensino integral está alicerçada no protagonismo do Estado em oferecer o direito a aprender, tanto no que concerne ao currículo aca- dêmico, quanto em atividades complementares de formação humana. Desta forma, essas atividades se inserem no período oposto às aulas, ou seja, no outro turno do dia, compondo, portanto um contraturno escolar [9]. Contudo, é significativo pontuar a contribuição do contraturno escolar na rede socioassistencial, parti- cularmente no Serviço de Convivência e Fortaleci- mento de Vínculos do SUAS 1 . Esse turno de ativida- des diferenciadas, no período oposto as aulas, é or- ganizado de forma diferente do contraturno da Esco- la Integral, particularmente quanto a objetivos e me- todologias utilizadas [4]. Primeiramente, o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos está inserido no SUAS, é regulamentado, desde 2009, pela Tipificação Nacio- nal de Serviços Sócioassistenciais. Neste serviço é oferecido atendimento a crianças e adolescentes entre 06 a 15 anos, expostas a situações de vulnera- bilidades e riscos. A proteção fornecida no SUAS, a todo cidadão, é categorizada conforme o grau de rompimento dos vínculos familiares, sendo sistemati- zada em Proteção Básica, de Média Complexidade e Alta Complexidade [4]. Por meio deste serviço e, consequentemente do contraturno, o Estado busca reduzir situações de vulnerabilidade social, prevenir ocorrências de riscos sociais com possíveis agravamentos e/ou reincidên- cias, aumentar o acesso da população a serviços socioassistenciais e/ou setoriais, além de melhorar a qualidade de vida das famílias que moram na região de abrangência do Centro de Referência de Assis- tência Social (CRAS) [4]. 1.2 Contraturno Escolar: historicidade da proposta 1 Sistema Unico de Assistencia Social

Contraturno Escolar: Principais Preocupações presentes entre o C.R.A.S e … · O documento é denominado: “Orientações Técnicas sobre o Serviço de Convivência e Fortalecimento

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23 e 24 de setembro de 2014

Contraturno Escolar: Principais Preocupações presentes entre o C.R.A.S e a Comunidade

Antonio Richard Carias Faculdade de Psicologia

Centro de Ciências da Vida [email protected]

Raquel Souza Lobo Guzzo Grupo de Pesquisa Avaliação e Intervenção

Psicossocial: Prevenção, Comunidade e Libertação Centro de Ciências da Vida [email protected]

Resumo: O contraturno escolar atualmente é regu-lamentado a partir de políticas públicas, sendo pre-sente no Programa Mais Educação e no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), por meio do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e adolescentes de 06 a 15 anos. O objetivo deste estudo é compreender as principais preocupações presentes nas orientações para os profissionais do Serviço de Convivência e Fortaleci-mento de Vínculos do SUAS, pois desta forma, bus-ca-se avaliar as correspondentes preocupações com o contraturno escolar na assistência social. Os resul-tados evidenciaram cinco grandes categorias de pre-ocupações que se tornam significativas para o traba-lho dos profissionais envolvidos. Tornou-se evidente a preocupação com fatores de desenvolvimento, fa-tores contrários ao desenvolvimento, aspectos da infância, orientações técnicas e atividades na assis-tência social. O presente estudo relava a importância do contraturno existente na Proteção Básica da as-sistência social, particularmente na luta contra o tra-balho infantil. Palavras-chave: Contraturno escolar, políticas pú-blicas, SUAS. Área do Conhecimento: Ciências Humanas - Psico-logia – FAPIC/CNPQ

1. Introdução 1.1 Contraturno Escolar na Assistência Social

A Educação Integral, que corresponde ao ensino e atividades de formação cidadã, está em pauta nas políticas públicas atuais. [9] pontuam que a proposta de um ensino integral está alicerçada no protagonismo do Estado em oferecer o direito a aprender, tanto no que concerne ao currículo aca-

dêmico, quanto em atividades complementares de formação humana.

Desta forma, essas atividades se inserem no período oposto às aulas, ou seja, no outro turno do dia, compondo, portanto um contraturno escolar [9].  Contudo, é significativo pontuar a contribuição do contraturno escolar na rede socioassistencial, parti-cularmente no Serviço de Convivência e Fortaleci-mento de Vínculos do SUAS1. Esse turno de ativida-des diferenciadas, no período oposto as aulas, é or-ganizado de forma diferente do contraturno da Esco-la Integral, particularmente quanto a objetivos e me-todologias utilizadas [4].  

Primeiramente, o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos está inserido no SUAS, é regulamentado, desde 2009, pela Tipificação Nacio-nal de Serviços Sócioassistenciais. Neste serviço é oferecido atendimento a crianças e adolescentes entre 06 a 15 anos, expostas a situações de vulnera-bilidades e riscos. A proteção fornecida no SUAS, a todo cidadão, é categorizada conforme o grau de rompimento dos vínculos familiares, sendo sistemati-zada em Proteção Básica, de Média Complexidade e Alta Complexidade [4].

Por meio deste serviço e, consequentemente do contraturno, o Estado busca reduzir situações de vulnerabilidade social, prevenir ocorrências de riscos sociais com possíveis agravamentos e/ou reincidên-cias, aumentar o acesso da população a serviços socioassistenciais e/ou setoriais, além de melhorar a qualidade de vida das famílias que moram na região de abrangência do Centro de Referência de Assis-tência Social (CRAS) [4].

1.2 Contraturno Escolar: historicidade da proposta

1 Sistema Unico de Assistencia Social

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23 e 24 de setembro de 2014

O contraturno escolar no Brasil foi primeira-mente pensado pelo intelectual baiano Anízio Teixei-ra (1900 a 1971). Pensador do Movimento da Escola Nova, Anízio participou da elaboração da Lei de Dire-trizes e Bases da Educação Nacional de 1961, sendo que defendeu a ampliação e acesso da população a escola pública de qualidade [10].

Segundo [7] no Brasil, o intelectual desen-volveu na cidade de Salvador-BA, uma escola mode-lo de atendimento integral a crianças e adolescentes. A referida instituição ficou conhecida como Escola Parque, mas seu nome oficial era Centro Educacio-nal Carneiro Ribeiro. Darcy Ribeiro (1922 – 1997), amigo de Anízio, inspirou-se nas propostas educaci-onais do mesmo e, elaborou durante os dois gover-nos de Leonel Brizolla, no Rio de Janeiro, os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP´s).

No ano de 2009, por meio da resolução nº 109, foi publicada a Tipificação Nacional dos Servi-ços Socioassistenciais, que prevê e regulamenta a sistematização do SUAS. Por meio deste documen-to, são delineadas as atividades de cada serviço do SUAS, sendo de interesse particular desta pesquisa, a regulamentação do Serviço de Convivência e For-talecimento de Vínculos, pois no mesmo se insere um espaço de contraturno escolar [4].

1.3 Criança e Adolescente como sujeito so-

cial no Contraturno

A existência de dois contraturnos escolares na atualidade (Programa Mais Educação e Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos) reme-te ao cuidado para com o sujeito social presente na criança e no adolescente. De fato, a infância foi vi-venciada de forma diferente conforme cada povo e época, sendo nitidamente influenciada por aspectos culturais. Segundo [2], a infância ocidental na Idade Média era comparada a vida de um pequeno adulto, o qual se vestia de modo semelhante e era retratado nos quadros com um rosto envelhecido.

Desta forma, a partir da Idade Moderna, par-ticularmente quando a burguesia assume um poder social maior, a criança passou a ser vista como um ser angelical, de pureza, necessitada de cuidados. A visão de um pequeno adulto não era mais aceita, tornando-se repudiada; portanto, a criança passou a ser vista como um ser em desenvolvimento, repleto de potencialidades [2].

Contudo, na sociedade atual, a crença em algumas medidas protetivas para com a infância são na verdade prejudiciais ao desenvolvimento. [6] aler-tam, por exemplo, para a crença indiscriminada no trabalho, por parte de famílias pobres da população, que veem na atividade laboral da criança como uma medida protetiva ao crescimento.

2. Objetivo

Este estudo teve por objetivo identificar as principais preocupações no cuidado para com a in-fância e adolescência, assistida pelo contraturno es-colar na assistência social, sendo este fornecido no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e adolescentes de 06 a 15 anos. 3. Método Material

Trata-se de uma pesquisa documental, a qual segundo Gil (2008) é caracterizada pela leitura de documento sob um tratamento analítico. Portanto, o documento utilizado como material foi publicado em 2010 pelo governo federal e editado pelo Ministé-rio do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. O documento é denominado: “Orientações Técnicas sobre o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Crianças e Adolescentes de 06 a 15 anos”.

Procedimento Primeiramente, foi realizada a leitura do do-

cumento analisado nesta pesquisa, buscando com-preender a sua temática geral e suas particularida-des. Desta forma, foi realizada uma nova leitura, de caráter analítico, a partir da metodologia proposta por Bardin (2004). Foram levantadas categorias te-máticas em função das preocupações mais frequen-tes no material. Estas categorias foram analisadas, em função da literatura, buscando uma compreensão mais rigorosa sobre as orientações técnicas forneci-das no contraturno escolar do Serviço de Convivên-cia e Fortalecimento de Vínculos do SUAS.

4. Resultados e Discussão

Por meio do levantamento das principais preocupações presentes no documento, foram elabo-radas cinco grandes categorias que englobam condi-ções positivas e negativas para o desenvolvimento; perspectiva sobre a infância e adolescência; preocu-

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pação em orientar tecnicamente para a atuação pro-fissional e preocupação em apontar o percurso histó-rico e legislativo da assistência social que influencia-ram o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

Tabela 1: Contraturno Escolar – principais preocupações

Grandes  categorias  levantadas   f   %  Fatores   Desencadeantes   para   Condições  de  Desenvolvimento   124   28,5  Fatores   Contraditórios   para   Condições   de  Desenvolvimento   53   12,18  Infância  e  Adolescência:  Etapas  no  Desen-­‐volvimento   72   16,55  Orientações   Técnicas   do   Serviço   e   Cons-­‐trução  do  Documento   162   37,24  Assistência   Social:   Serviço   de   Convivência  e  Fortalecimento   24   5,51  

TOTAL   435   100  

A tabela 1 descreve as principais preocupa-ções presentes no documento, sendo que, a catego-ria: “Orientações Técnicas do Serviço e Construção do Documento” foi a que apresentou maior percentu-al (37,24%). Tal categoria refere-se a orientações, funções /divisões de atividades dentro do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Cri-anças e Adolescentes de 06 a 15 anos. Expõe, por-tanto, que a principal função do documento é orien-tar, fornecer subsídios para a atuação profissional, permitindo com que os funcionários e voluntários envolvidos com o contraturno da assistência social, possam desenvolver as atividades por meio de uma perspectiva comum.

Desta forma, faz-se necessário compreender particularidades de cada categoria levantada, possi-bilitando a elaboração de sub-categorias em função das temáticas dos trechos. Tal apropriação permitirá um maior detalhamento das preocupações encontra-das e, possibilitará uma triangulação de dados que, segundo [11] garante a pesquisa qualitativa maior rigor.

4.1 A preocupação com o Desenvolvimento

O desenvolvimento na visão histórico-social acontece a partir da mediação das relações huma-nas, ou seja, o individuo se desenvolve inserido na

sociedade, na cultura e, portanto, no mundo simbóli-co. Desta forma, o ser humano somente consegue romper os limites do conhecimento adquirido para se apropriar de novos saberes a partir de outras pesso-as que permitam e realizem a mediação [1].

Não se trata de um processo unilateral, mas dialético; no qual ambos os participantes aprendem e se desenvolvem. O vínculo torna-se fundamental, porque aprender e se desenvolver com o outro exige relação, e a mediação na Zona de Desenvolvimento Proximal somente acontece a partir de relações es-tabelecidas [1].

Desta forma, cabe pontuar o espaço de con-traturno da assistência social como um local privile-giado para o estabelecimento, o fortalecimento e res-tauração de vínculos perdidos e/ou danificados. Po-rém, é inegável que para a concretização do desen-volvimento, a partir do paradigma aqui exposto, são fundamentais os vínculos e o trabalho social efetivo, ou seja, as condições concretas que permitam uma estrutura para a mediação.

Tabela 2: Preocupação com o Desenvolvimento

A tabela 2, referente às sub-categorias pre-sentes na categoria maior “Fatores Desencadeantes para Condições de Desenvolvimento”, mostra que existe, por parte do documento, uma atenção particu-lar para a “Intersetorialidade nas políticas e serviços” (33, 87%) e posteriormente, para os “Percursos Compartilhados” (29,84%).

Desta forma, o principal motivo para o traba-lho intersetorial é fortalecer as condições concretas e objetivas para o desenvolvimento. De fato, se uma criança participa do contraturno no Serviço de Convi-vência e Fortalecimento de Vínculos, e apresenta graves carências nutricionais, a mesma poderá ser encaminhada para outra atividade pública que aten-da as suas necessidades. Atendimento médico e

Fatores  Desencadeantes  para  Condições  de  Desenvolvimento   f   %  Papel  da  família  e  seu  fortalecimento     21   16,93  

Intersetorialidade  nas  políticas  públicas   42   33,87  

Respeito  a  territorialidade  brasileira     24   19,35  

Percursos  compartilhados   37   29,84  

TOTAL   124   100  

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avaliação socioeconômica, por exemplo, permitiriam uma ação planejada para intervenções.

4.2 A preocupação com os fatores que preju-dicam o desenvolvimento

De fato, por meio da tabela 1, torna-se visível que além da preocupação com a promoção do de-senvolvimento, há uma consideração sobre os as-pectos que prejudicam a efetivação do mesmo, por-tanto, tais aspectos interferem nas relações sociais e nas condições materiais de vida. Tabela 3: Contraturno Escolar – Prejuízos ao desenvolvi-mento

Fatores  Contraditórios  para  Condições  de  Desenvolvimento   f %

Pobreza  e  suas  implicações   5   9,43  

Trabalho  infantil   25   47,17  

Vulnerabilidades  e  riscos   23   43,39  

TOTAL   53   100  Por meio da tabela 3 torna-se visível que a

maior preocupação em percentual é o “Trabalho in-fantil” (47,17%); seguidas pela “Vulnerabilidades e riscos” e “Pobreza e suas implicações”. A primeira sub-categoria (Pobreza e suas implicações) contém trechos que assinalam a necessidade de recursos socioassistenciais para a sobrevivência, tais como bolsas federais em dinheiro; a segunda sub-categoria refere-se a atividades laborais inadequa-das a idade e maturação das crianças; a terceira abrange situações de fragilidades nos vínculos soci-ais e familiares.

De fato, a maioria das crianças é dirigida ao contraturno para prevenção aos fatores contrários ao desenvolvimento. Segundo a [4], a Proteção Básica tem por meta prevenir e fortalecer vínculos; sendo que, neste eixo se insere o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos.

O documento enfatiza que a maior priorida-de, dentre os aspectos que impedem o desenvolvi-mento, é o trabalho infantil, sendo tal resultado rea-firmado por meio da tabela 3. Desta forma, é impor-tante compreender o trabalho infantil como a ativida-de laboral exercida por uma criança que não possui, em função de maturação e inserção na cultura, con-dições físicas e psicológicas para a realização desta;

além de que tal atividade é comprometedora no exercício das vivências infantis.

4.3 A preocupação com as etapas da Infância e Adolescência

Segundo [2] é a partir da Idade Moderna que a visão de infância foi sendo estabelecida, possibilitan-do a proteção e o tratamento diferenciado para as crianças. Desta forma, a ciência passou a considerar as particularidades desta fase da vida como momen-to especial de desenvolvimento.

Tabela  4:  Contraturno  Escolar  –  Infância  e  Adolescência  

Infância  e  Adolescência:  Etapas  no  De-­‐senvolvimento   f   %  

Criança  e  Adolescentes:  sujeitos  de  direi-­‐tos   47   65,28  

Atenção  particular  a  Infância   16   22,22  

Atenção  particular  a  Adolescência   9   12,5  

TOTAL   72   100  Por meio da tabela 4 é visível três sub-

categorias, sendo que, “Criança e Adolescentes: su-jeito de direitos” (65,28%) refere-se a preocupação, por parte do documento aqui analisado, em pontuar que estes sujeitos possuem direitos e que portanto, são cidadãos em igual medida aos adultos. Tal sub-categoria apresenta trechos que reforçam a posição de que a criança e o adolescente devem ser escuta-dos, priorizados como pessoas de vontade.

De fato, a educação é direito de toda crian-ça, assim como as experiências da infância: brincar, sonhar, descobrir o mundo espontaneamente. Na verdade, a criança é um cidadão e, portanto, goza de iguais direitos.  

Portanto, os direitos garantidos legalmente buscam proteger a criança/adolescente para que vivencie de forma saudável e plena a etapa do de-senvolvimento maturacional e cultural a qual está envolvida. Porém, tais etapas apresentam diferen-ças, visto que, o Serviço de Convivência e Fortaleci-mento de Vínculos aqui relatado, engloba usuários de 06 a 15 anos. Dentro deste intervalo, encontram-se crianças e adolescentes em diferentes níveis de contato com as experiências típicas de cada etapa.

O documento apresenta a preocupação em pontuar as diferenças entre as etapas, pois possibili-ta uma delimitação e atuação diferenciada para ca-

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da. As necessidades de uma criança são de ordem diferenciada para com o adolescente, exigindo do profissional atuante no serviço maior atenção.

Contudo, observa-se que há maior preocu-pação com a infância (22,22%) do que com a ado-lescência (12,5%). Tal aspecto poderia ser tratado em maior igualdade, visto que, muitos adolescentes se encontram em situações comprometedoras ao desenvolvimento. Apesar da criança não possuir maior repertório de ações para intervir na realidade, tanto ela quanto o adolescente podem ser prioriza-dos em igual medida, visto que há uma significativa diferença entre a atenção dedicada particularmente a crianças e aos adolescentes.

4.4 A preocupação com as orientações técni-cas e a construção do documento

De fato, o documento analisado busca orien-tar tecnicamente a atuação dos profissionais da As-sistência Social no Serviço de Convivência e Fortale-cimento de Vínculos. Tais orientações visam à eficá-cia do serviço, possibilitando a diminuição das se-quelas da Questão Social, ou seja, das mazelas do capitalismo.

Tabela   5:   Contraturno   Escolar   –   Orientações   Técnicas   e  Construção  do  documento  

Orientações  Técnicas  do  Serviço  e  Cons-­‐trução  do  Documento   f   %  Organização  e  gestão  dos  materiais  e  re-­‐cursos  humanos   43   26,54  Construção  do  documento  e  organização  das  pesquisas   15   9,26  Orientações  técnicas  sobre  atividades  de-­‐senvolvidas   104   64,2  

TOTAL   162   100  Segundo a tabela 5, a maior sub-categoria

(64,2%) refere-se a orientações técnicas para os pro-fissionais atuantes no serviço, seguidas das sub-categorias que englobam a organização e gestão de recursos, como materiais, funções de funcionários, distribuições de horas/atividades nos Núcleos (26,54%) e, da preocupação em descrever como o documento foi feito e com quais pesquisas foi emba-sado para defender seus propósitos (9,26%).

A preocupação em orientar, organizar e diri-gir, possivelmente visa a maior eficácia e eficiência dos serviços que de forma ampla, visam interferir na

Questão Social. Portanto, é importante salientar que a Questão Social é a referência para o desenvolvi-mento de políticas sociais, sendo definida como o conjunto de desigualdades sociais inerentes ao capi-talismo a partir das relações entre as pessoas que esse sistema estabelece. A origem do conceito re-monta ao inicio da industrialização do século XIX, na qual a Revolução Industrial foi o evento propulsor para o fenômeno da pauperização massiva [12].

Diante deste fato, evidencia-se a preocupa-ção em combater a Questão Social e, desta forma, faz-se necessária boa gestão, organização e distri-buição dos recursos, garantindo a possibilidade de sucessos nas atividades. É interessante pontuar a preocupação em descrever as funções dos funcioná-rios, suas atividades e sugestões de atuação; além de orientá-los em como atuar com as crianças.

4.5 A preocupação com as ações e os docu-mentos da Assistência Social

Conforme exposto na tabela 1, tal categoria ex-pressa documentos e ações da Assistência Social brasileira que, dentro de um percurso histórico, impli-caram direta ou indiretamente no Serviço de Convi-vência e Fortalecimento de Vínculos de Crianças e Adolescentes de 06 a 15 anos, e portanto, no contra-turno. Tabela  6:  Contraturno  Escolar  –  Assistência  Social  

Assistência  Social:  Serviço  de  Convivência  e  Fortalecimento     f   %  Documentos  da  Assistência  Social  no  Serviço  de  Convivência   12   50  Ações  da  Assistência  Social  no  Serviço  de  Convivência   12   50  

TOTAL   24   100  De acordo com a tabela 6, existe uma igual-

dade na preocupação em apresentar os documentos e ações importantes que influenciaram na elabora-ção do contraturno da assistência social. Tal aspecto demonstra a necessidade de contextualizar ações, intervenções e planejamentos no SUAS. O conceito de “ações” refere-se a trechos que demarcam mu-danças importantes na assistência social, muitas destas, após a publicação de novos documentos ori-entadores.

A mais destacada ação da assistência social no documento é o reconhecimento da mesma assis-tência enquanto direito e, não como favor. Segundo

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[12], a concretização desse direito foi um processo longo na história do Brasil; sendo que, desde a Inde-pendência até a Constituição de 1988, a assistência foi exercida enquanto caridade por instituições religi-osas e/ou pessoas.

A partir da Constituição vigente é que a Se-guridade Social demarcou o direito a assistência a todos os brasileiros [12]. A sistematização desse di-reito também foi um processo longo, particularmente desde a formulação do SUAS até a sua efetivação enquanto trabalho.

Desta forma, torna-se evidente que o contra-turno da assistência social é um direito da crian-ça/adolescente, sendo importante a conscientização do mesmo. Possivelmente, seria interessante o tra-balho de conscientização com as famílias próximas ao serviço, sobre o direito a assistência.

5. Considerações Finais

Os resultados evidenciaram a existência de cinco grandes preocupações de diferentes temáticas, sendo que, destaca-se a preocupação em orientar e organizar as atividades do serviço. O documento constantemente retoma a temática do trabalho infan-til, possivelmente como um dos maiores motivos pa-ra a necessidade de um contraturno escolar.

Torna-se evidente, por meio das orientações técnicas, a busca pelo desenvolvimento das crianças e adolescentes participantes/usuários do serviço. Busca-se constante relação entre o contraturno, a comunidade e outros serviços, que de forma articu-lada, tornam possível a existência da intersetoriali-dade.

Contudo, apesar de pontuar a perspectiva de desenvolvimento como sócio-histórica, o documento não contém referências bibliográficas, particularmen-te as que permitiriam ao leitor uma melhor compre-ensão e fundamentação do paradigma de desenvol-vimento adotado.

6. Referências

[1] Alves, A. M. (2010) O método materialista históri-co dialético: alguns apontamentos sobre a subjetivi-dade. Revista de Psicologia da UNESP, 9 (1), p. 1-13,

[2] Ariès, P. (1981). A história social da criança e da família. Rio de Janeiro, RJ, 2ª Edição, LTC- Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.

[3] Bardin, L. (2009). Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA.

[4] Brasil (2009). Resolução nº 109, de 11 de no-vembro de 2009. Aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, Brasília, DF.

[5] Brasil (2013). Secretaria de Educação Básica. Manual Operacional de Educação Integral, Brasília, DF.  

 [6] Campos , H.R., Alverga, A.R. (2001). Trabalho infantil e ideologia: contribuição ao estudo da crença indiscriminada na dignidade do trabalho. Estudos de Psicologia, v.06, nº 02, p. 227-233.

[7] Corrêa, M. (1988). A Revolução dos Normalistas. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, SP, v.66, nº01, p. 13-24. [8] Gil, R.L (2008). Como elaborar projetos de pes-quisa. São Paulo, SP; 4ª Edição, Atlas.

[9] Lecler, G.F. E e Moll, J. (2012). Programa Mais Educação: avanços e desafios para uma estratégia indutora da Educação Integral e em tempo integral. Educar em Revista, Curitiba, PR, n.45, p.91-110.

[10] Romanelli, O. O. (1986). História da Educação no Brasil. Petrópolis, RJ; 8ª Edição, Editora Vozes.

[11] Stake, R. (2011). Pesquisa qualitativa. Estudan-do como as coisas funcionam. São Paulo, SP; 2ª Edição, Editora Penso.

[12] Yasbek, M.C. (2008) Estado e Políticas Sociais. Praia Vermelha – Estudos de Política e Teoria Soci-al, Rio de Janeiro, RJ, v.18, n.1, p.1-22.