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Contribuição para a Audiência Pública ARSAE 15/2016
A Kondor Invest e a XP Gestão de Recursos expressam neste documento as suas contribuições
para o aprimoramento das propostas de regulamentação realizadas pela ARSAE para o primeiro
ciclo de revisão tarifária da COPASA (Companhia de Saneamento de Minas Gerais).
Para fins de praticidade, esse material será dividido em diversas subseções temáticas, que
abordarão uma boa parte dos princípios metodológicos propostos pela agência.
No geral, essa contribuição abordará os seguintes aspectos:
Contribuição 1 (Pág 2): Definição da Taxa de Depreciação Regulatória
Contribuição 2 (Pág 16): Metodologia de cálculo da BRR que será remunerada ao longo do
ciclo
Contribuição 3 (Pág 26): Juros sobre Obras em Andamento
Contribuição 4 (Pág 34): Meta para evolução do IDT e Redução de Perdas
Contribuição 5 (Pág 46): Compartilhamento de Outras Receitas
Dados para contato:
Rodrigo Castro Dias
RG/CPF: 21.676.940-6 / 116.473.687-55
XP Gestão de Recursos Ltda
CNPJ: 07.625.200/0001-89
Matheus Amorim
RG/CPF: 24.700.419-5 / 137.855.237-77
Kondor Administradora e Gestora de Recursos Financeiros Ltda
CNPJ: 08.486.313/0001-03
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Contribuição 1: Definição da Taxa de Depreciação Regulatória
1. Proposta atual da ARSAE
A proposta atual da ARSAE para o cálculo da depreciação regulatória que será utilizada para fins
de cálculo da Base de Ativos para o primeiro ciclo tarifário e para os próximos ciclos, como
descrito na “NOTA TÉCNICA CRFEF 39/2016” será a da metodologia contábil, a partir da vida útil
de cada ativo presente no arquivo “Banco Patrimonial”, que é fornecido periodicamente à ARSAE
pela companhia.
2. Conceitos e métodos de avaliação da depreciação regulatória
A definição de depreciação regulatória ou “quota de reintegração regulatória” (como é chamada
por alguns outros agentes) corresponde ao valor anual que visa a recompor os ativos atrelados à
prestação do serviço ao longo da sua vida útil. Tal definição pode ser encontrada em metodologias
de outras agências reguladoras, conforme ser observado na Resolução Normativa N⁰ 234/2006 da
ANEEL:
Ou seja, a parcela de depreciação comumente presente na tarifa corresponde à parcela anual paga
pelo consumidor à concessionária visando à recomposição dos ativos em serviço, de forma a
manter a prestação do serviço. Tal parcela é calculada considerando o valor do ativo e a vida útil
calculada pelo regulador para fins regulatórios.
Portanto, a depreciação regulatória calculada pelo regulador deve corresponder ao investimento
necessário a ser realizado pelo prestador de forma a recompor os ativos em serviço. Essa lógica
também pode ser deduzida pelo fato de que esse valor é descontado da base de ativos a cada ano,
ou seja, é o investimento necessário para que o prestador preserve o valor da sua base de ativos
em termos reais ao longo dos anos.
Caso a depreciação regulatória calculada seja maior do que o investimento necessário para
recomposição dos ativos, embora o prestador recomponha todos os ativos a cada ano, a sua base
de ativos regulatória decresceria em termos reais, o que nesse sentido é contrário à lógica
regulatória. E caso a depreciação regulatória calculada seja menor do que o investimento
necessário para recomposição dos ativos, em um cenário onde o prestador realize o investimento
3
para recompor seus ativos haveria uma valorização em termos reais da base de ativos ao longo
dos anos, o que também não parece ter razoabilidade conceitual.
3. Problemas encontrados decorrentes do uso dessa metodologia
O arquivo definido como sendo a principal ferramenta para composição da Base de Ativos da
empresa possui em sua base de dados a vida útil por ativo que a companhia utiliza para fins de
depreciação contábil, porém esse dado não reflete a vida útil física desses ativos e nem a vida útil
em termos de benefícios econômicos.
Tal distorção pode ser observada de maneira muito clara, principalmente no que se refere à
definição da vida útil para fins contábeis, que foi calculada utilizando a taxa média anual
ponderada de depreciação de 4,72%, conforme apresentado pela agência no arquivo xls
“Detalhamento da Base de Ativos Regulatória” publicado no site da audiência pública.
Figura 1 - Taxa Média de Depreciação - Planilha "Detalhamento da Base de Ativos Regulatória" (ARSAE)
Vamos listar alguns motivos pelos quais acreditamos que esta vida útil não deveria ser utilizada
para fins de cálculo da base de ativos regulatória da COPASA.
I. Não condiz com a vida útil encontrada para outras empresas com ativos semelhantes
à COPASA
Visto que as características gerais dos ativos da COPASA não diferem de maneira significativa das
de outras concessões de saneamento no Brasil, é esperado que a vida útil, para fins regulatórios
dos ativos da COPASA, seja semelhante à das outras empresas.
Porém, ao se comparar os resultados das depreciações regulatórias encontradas para outras 5
empresas (CAGECE, CAESB, SANEPAR, COMPESA e SABESP) que realizaram laudos de suas bases de
ativos com o valor a ser empregado na COPASA, encontramos uma diferença muito grande. É
importante frisar que todas essas 5 empresas comparadas também passaram por um processo de
revisão tarifária.
Figura 2 - Taxa de depreciação regulatória implícita na tarifa calculada pelo regulador.
Taxa Média4,72%
Taxa Média Anual Ponderada de Depreciação (%)Classe de Bens
Total Geral
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Pelo que se pode constatar através da análise das informações disponíveis, a principal diferença
entre o resultado da depreciação dessas empresas para valor preliminar da COPASA é o fato de
que para redes e tubulações usualmente usa-se uma vida útil ao redor de 50 anos, e como a maior
parte dos ativos da empresa (cerca de 60-70%) são justamente redes e tubulações, esse valor
acaba trazendo o resultado ponderado para uma taxa naturalmente mais baixa.
II. Sendo os ativos e serviços da COPASA semelhantes às demais companhias, conclui-se
portanto que o uso de uma taxa equivalente a cerca de 21 anos não parece estar de
acordo com o consenso das companhias e agências regulatórias do setor, criando um
conflito de interesses para o operador, possivelmente onerando desnecessariamente
o consumidor
Ao assumir que a vida útil média dos seus ativos é de 21 anos, cria-se um incentivo perverso à
COPASA para que ela troque todos os seus ativos de 21 em 21 anos, o que não condiz com a
necessidade real, que mostra a companhia e suas companhias comparáveis operando
equipamentos que estão em perfeito funcionamento há mais de 40 anos de operação.
Neste caso, embora estes ativos estejam em pleno funcionamento e seja possível usufruir
economicamente deles sem prejuízo em termos de qualidade do serviço prestado, a companhia
seria incentivada a trocar estes ativos, uma vez que em estando 100% depreciados para fins
regulatórios, não seria economicamente proveitoso manter esses ativos na base por não
possuírem uma remuneração associada, apenas custo.
Figura 3 - Tarifa necessária para remuneração de um investimento de R$1bilhão em diferentes cenários de vida útil
O resultado direto desse efeito é que, ao se definir para fins regulatórios uma maior depreciação
para esses ativos, a tarifa inicial não só seria maior como também depois do período de 21 anos a
companhia teria que renovar o investimento nesse ativo, o que traria um salto muito grande na
tarifa necessária para remunerá-lo sem que haja necessidade operacional desse investimento.
5
Por outro lado, no cenário da vida útil mais longa e condizente, como 50 anos, a tarifa inicial seria
menor, haveria uma queda gradual da mesma ao longo dos 50 anos, representando um ônus
menor para o consumidor, e por fim tiraria da companhia o conflito de interesses em fazer
investimentos não considerados prudentes, deixando o foco e capacidade operacional da
companhia única e exclusivamente na expansão das suas redes de água e esgoto, melhoria da
qualidade dos serviços e troca de ativos que operacionalmente não estão em sua plena
capacidade de uso.
III. Traz uma diferença relevante entre a depreciação assumida pela ARSAE para
composição da tarifa da COPASA historicamente e resultado de um cálculo
considerando uma vida útil de 21 anos.
Após a criação da ARSAE em 2009, no reajuste anual de 2010 a agência estabeleceu os valores
nominais dos diversos itens que compõem a tarifa da COPASA, dentre eles a depreciação, que foi
definida em R$257,1MM para o período de março de 2010 a fevereiro de 2011, baseado no
reajuste da tarifa de março de 2008 a fevereiro de 2009 para esse período.
Os valores estão explicitados na tabela abaixo, divulgada pela própria agência reguladora:
6
Figura 4 - Tabela com o custos implícitos na tarifa da Copasa segundo a Nota Técnica n001/2010-ARSAE-MG.
Para os reajustes de 2011 em diante a ARSAE, segundo as notas técnicas, realizou o apenas o
reajuste da parcela implícita de depreciação na tarifa pelo INCC. Essa metodologia acabou por
prejudicar financeiramente a companhia em dois aspectos importantes.
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O primeiro aspecto foi que não foram considerados os investimentos que a companhia realizou de
2009 em diante, mas apenas a perda inflacionária da parcela original do ano anterior. Em outras
palavras, todo o investimento realizado desse período em diante não teve parcela de depreciação
e nem parcela de remuneração associada.
Como esses investimentos serão novamente “regulatoriamente depreciados” e inflacionados para
cálculo da composição da Base de Ativos Regulatória para dezembro de 2016, que é objeto dessa
revisão, não só a depreciação recalculada será bem superior ao valor implícito na tarifa da
companhia como ele também desconsiderará toda a remuneração perdida ao longo do tempo.
Apenas para trazermos números efetivos para a discussão, o carrego desse descasamento entre os
dados recalculados e os implícitos na tarifa (de depreciação), alcançaria um valor ao redor de
R$2,6 bilhões se atualizado a IPCA + WACC.
Figura 5 - Cálculo da perda financeira decorrente da diferença entre a depreciação regulatória (assumindo uma vida útil de 21 anos) e a implícita historicamente na tarifa definida pela ARSAE.
Esses dados acabam mostrando de maneira bem clara que, com esse cálculo e a conceitual
definição que o passado já estaria naturalmente ajustado, a ARSAE estaria retirando grande parte
do retorno econômico que a COPASA deveria ter tido sobre esses ativos, mas que, na prática,
nunca esteve implícito na tarifa historicamente.
4. Breve Conclusão
Por fim, por se tratar de um processo que envolve uma quantidade enorme de variáveis e
presunções, é sempre importante ao seu fim analisarmos o resultado da adoção de tais premissas
e verificar a aderência dela em termos técnicos ou conceituais à realidade.
O resultado da adoção do percentual contábil médio de 4,72% pelo regulador levou a um valor
nominal da parcela de depreciação regulatória ao redor de R$600-650 milhões. Acontece que,
segundo informações do Plano Plurianual de Negócios da COPASA MG 2017 a 2021, divulgado
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
IPCA 5,90% 4,29% 5,91% 6,50% 5,02% 6,73% 6,41% 10,70% 7,00%
CDI (taxa anual) 12,5% 11,3% 10,1% 11,8% 8,3% 9,0% 10,9% 13,3% 14,3%
INCC-DI/FGV usado no reajuste 8,1% 8,8% 7,0% 8,0% 7,0% 7,3%
WACC real antes dos impostos (13,02%) 13,0% 13,0% 13,0% 13,0% 13,0% 13,0% 13,0% 13,0% 13,0%
A) Depreciação regulatória (vida útil de 21 anos) 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Depreciação regulatória 298 330 368 407 447 486 531 588 663
B) Implícito na Tarifa definida pela Arsae 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Depreciação implícita (corrigida por INCC) 240 247 257 278 302 324 350 374 401
Delta A - B -> Dep. Regulatória - Dep. Implícita 58 83 111 129 144 162 182 214 262
Valor acumulado (somatório das diferenças) 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Reajustando o passivo ano a ano a IPCA+WACC 58 152 293 482 716 1026 1415 1985 2662
Valor que deveria ser adicionado na base de ativos ------Î
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pela companhia no dia 22/12/2016, a média dos investimentos, em termos reais, para o próximo
ciclo é de cerca de R$ 650 milhões por ano. Esse plano contempla todos os investimentos
esperados pela companhia para dar continuidade às obras em andamento, assim como expansão
e manutenção da rede atual.
Figura 6 - Tabela do Plano Plurianual de Investimentos da Copasa para os próximos 5 anos (21/12/2016)
Nesse momento chegamos a um grande impasse conceitual: como pode o investimento projetado
de uma companhia que está longe de sua maturidade operacional e que possui um plano não
desprezível de expansão ser, segundo a metodologia adotada, o equivalente à sua depreciação
calculada, ou seja, o investimento mínimo necessário em termos teóricos para manutenção da
prestação do serviço com qualidade com a reposição de ativos?
O resultado prático desse descasamento entre investimentos e depreciação é explicado por uma
conta matematicamente simples. A cada momento em que há uma depreciação regulatória (e não
contábil) anual maior do que os investimentos do período, a remuneração da companhia, em
termos reais, é reduzida de maneira progressiva, sendo que a necessidade da prestação do serviço
continua a mesma, com custos operacionais e, principalmente, financeiros associados ao
processo.
Assim, concluímos que o patamar de depreciação regulatória calculado ameaça a sustentabilidade
da concessão por não refletir de maneira satisfatória a realidade operacional.
Dessa maneira, a conclusão, após todos os pontos levantados, é que a definição de um patamar
como esse de depreciação regulatória, apesar de ser muito mais fácil de ser aplicado do que um
calculado de forma independente pela agência reguladora, não só é punitivo para a companhia e
consumidor como carece de razoabilidade real, conceitual e prática.
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5. Possíveis soluções para os problemas apresentados
Existem diversas soluções para atenuar esses problemas, embora nenhuma solução encontrada
corrija-o perfeitamente. Algumas das possíveis soluções são:
Solução 1: Utilização da metodologia de VNR para cálculo do valor dos ativos e da depreciação
regulatória.
Solução 2: Calcular um componente financeiro (item 2.III do relatório) a ser somado à base de
ativos inicial que consistiria em calcular ano a ano a diferença entre a depreciação regulatória e a
depreciação implícita na tarifa e trazer a valor presente estes valores reajustando-os por um
índice. Esta solução corrige o fato da depreciação implícita na tarifa historicamente ter sido bem
menor do que a regulatória usada para depreciação da base de ativos até o fim de 2016.
Solução 3: Considerar preliminarmente uma vida útil para fins de cálculo da base de ativos em
linha com o valor calculado para a revisão tarifária de outras companhias de saneamento (ao redor
de 2-2,5%) para cálculo da base de ativos da COPASA em 2016 e, posteriormente, exigir que a
COPASA contrate uma empresa avaliadora que faça o cálculo da depreciação efetiva dos seus
ativos, utilizando este valor como definitivo para ajuste da tarifa no reajuste tarifário de 2018.
A Solução 1 não possui tempo hábil de ser realizada até o fim do processo tarifário de 2017, sendo
possível de ser implementada apenas na segunda revisão tarifária, sendo que até lá a companhia
passaria por um ciclo inteiro com todos os problemas destacados, sendo as Soluções 2 e 3 as duas
melhores em termos de modicidade tarifária e remuneração justa do capital para a empresa.
A Solução 2, contudo, embora ajuste os problemas do passado, tem efeito apenas paliativo, uma
vez que não corrige para o futuro o erro conceitual por trás da depreciação regulatória, e
consequentemente, o cerne de toda a discussão dessa proposta.
A Solução 3, por fim, embora exija a criação de uma tarifa provisória a ser ajustada em 2018, é
uma solução que corrige de forma muito mais rápida todos os problemas apontados pois tem
muito mais aderência com as práticas sendo adotadas em outras agência, além de levar,
posteriormente, a um embasamento técnico independente muito melhor para cálculo da
depreciação regulatória a ser utilizada futuramente.
6. Proposta
Por isso, a nossa proposta é que a Arsae utilize como vida útil regulatória (utilizada para fins de
cálculo da base de ativos inicial) um valor em linha com de outras regulações de saneamento e
em linha com a vida útil física dos ativos. E que a partir dessa nova vida útil e do novo valor de
base de ativos bruta recalcule a BAR inicial e a depreciação regulatória da empresa.
Sendo assim nossa proposta está em linha com a Solução 3.
10
ANEXO I – Cálculos utilizados para o gráfico da Figura 3 - Tarifa necessária para remuneração de
um investimento de R$1bilhão em diferentes cenários de vida útil.
Figura 7 - Cálculo ano a ano da tarifa para um investimento de R$1bilhão com vida útil de 21 anos e renovado após o fim da sua vida útil.
Figura 8 - Cálculo ano a ano da tarifa para um investimento de R$1bilhão com vida útil de 50 anos e renovado após o fim da sua vida útil.
Vida útil 21
Depreciação 4,8%
WACC pré-imposto 12,1%
Ano 0 1 2 3 4 5 20 21 22 23 42 43 44 49 50
Investimento 1000 1000 1000
Base Bruta 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 0 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Base Líquida t-1 0 1000 952 905 857 810 95 48 1000 952 48 1000 952 714 667
Depreciação -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48
Base Líquida t0 1000 952 905 857 810 762 48 0 952 905 0 952 905 667 619
(1) QRR 48 48 48 48 48 48 48 48 48 48 48 48 48 48
(2) Remuneração do capital 115 110 104 98 92 6 0 115 110 0 115 110 81 75
Tarifa ( = (1) + (2)) 163 157 152 146 140 53 48 163 157 48 163 157 128 123
Vida útil 50
Depreciação 2,0%
WACC pré-imposto 12,1%
Ano 0 1 2 3 4 5 20 21 22 23 42 43 44 49 50
Investimento 1000
Base Bruta 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Base Líquida t-1 0 1000 980 960 940 920 620 600 580 560 180 160 140 40 20
Depreciação -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20
Base Líquida t0 1000 980 960 940 920 900 600 580 560 540 160 140 120 20 0
(1) QRR 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
(2) Remuneração do capital 119 116 114 112 109 73 70 68 65 19 17 15 2 0
Tarifa ( = (1) + (2)) 139 136 134 132 129 93 90 88 85 39 37 35 22 20
11
ANEXO II – Trechos das notas técnicas de outras agências reguladoras de saneamento referente
à Depreciação Regulatória utilizada para cálculo da base de ativos
Sabesp
Figura 9 - Trecho da nota técnica da Arsesp que trata sobre o resultado do cálculo da base de ativos da Sabesp para o primeiro ciclo tarifário.
12
ANEEL
Figura 10 - Trecho do "Estudo de Vida Útil Econômica e Taxa de Depreciação" realizado pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá em parceria com a ANEEL.
13
Sanepar
Figura 3 - Trecho da Nota técnica Preliminar RTP - 01/2017 da AGEPAR com relação à primeira revisão tarifária periódica da Sanepar
14
Cagece
Figura 4 - Resultado do processo de fiscalização da Base de Ativos da CAGECE presente na Nota Técnica CET n 13/2015 da ARCE-CE
CAESB
Figura 5 - Trecho da Nota Técnica n009/2016 - SEF/ADASA
16
Contribuição 2: Metodologia de cálculo da BRR que será
remunerada ao longo do ciclo
Para a definição da BRR (Base de Remuneração Regulatória) para fins de remuneração do capital, a
ARSAE a partir do valor de BAR calculado para dezembro de 2016 projetou este valor para os 3
anos seguintes (dez/17, dez/18 e dez/19). Após esse cálculo ela utilizou o valor correspondente à
média desses 4 anos para determinação da BAR média do ciclo, como demonstrado na tabela a
seguir:
Ao realizar tal projeção a ARSAE considerou apenas a depreciação incorrida nesse período, sem
levar em conta os investimentos a serem realizados pela empresa. Em nossa visão isto implica,
além de em uma inconsistência conceitual (visto que necessariamente haverão investimentos ao
longo do ciclo), em uma remuneração do capital muito menor do que a proposta regulatoriamente
e está em desacordo com a própria metodologia proposta pela ARSAE na NTCRFEF 37/2016:
“Para cumprir integralmente os objetivos da Revisão Tarifária Periódica, deve-se realizar
uma profunda avaliação dos custos do prestador para se definir o nível de receita
necessário para cobrir os custos operacionais em regime de eficiência, para remunerar e
amortizar adequadamente o capital investido pelo prestador e para gerar os recursos
necessários para realização dos investimentos, objetivando o cumprimento das metas e
objetivos do serviço, dentre outros (artigo 29).”
O que tentaremos realizar nessa análise é mostrar nossa visão de que a remuneração do capital
efetiva percebida dos investimentos da COPASA, se utilizada a metodologia proposta, será bem
menor do que a definida pela ARSAE como adequada (WACC regulatório), conforme explicam os
pontos a seguir:
1. Análise das diversas metodologias de remuneração do capital e suas principais
características
Para a nossa análise assumiremos um investimento teórico de R$100 milhões com vida útil de 20
anos (os resultados da análise são semelhantes independentemente da vida útil considerada) que
será realizado pela COPASA.
17
É sabido que o cenário ideal para remuneração deste investimento via WACC seria aquele onde
todo o investimento realizado é reconhecido para fins de remuneração a partir do momento exato
de entrada em operação.
Obviamente não existe uma metodologia perfeita, tendo cada uma com seus prós e contras,
sendo importante avaliar minuciosamente, de acordo com as características da companhia e do
setor que ela está inserida, qual seria a melhor escolha, tendo como objetivo maximizar os
benefícios e minimizar os efeitos nocivos.
Um resumo de como cada agência reguladora estudada costuma contemplar a remuneração dos
ativos está descrita na tabela a seguir:
O que se pode concluir é que, apesar de haverem metodologias diferentes de remuneração, existe
um consenso em relação à tomada de decisão de projeção ou não das premissas para o ciclo
seguinte, havendo em alguns casos a projeção integral das premissas (nos casos em que o cálculo
da tarifa é feito via Fluxo de Caixa Descontado) e em outros apenas os valores encontrados no
início do ciclo (nos casos calculados com base em Receita Requerida).
O formato de regulação que contempla o cálculo de tarifa pelo método de Fluxo de Caixa
Descontado, que é utilizado por outras agências reguladoras em saneamento e gás (ARSESP e
AGEPAR, por exemplo) tenta se aproximar desse cenário, embora possua distorções por se basear
em uma expectativa futura de investimentos que a prestadora planeja realizar (que podem acabar
não ocorrendo efetivamente), por assumir que todos esses investimentos estarão de acordo com
as exigências de prudência e utilidade do regulador e também por demandar uma projeção
detalhada de muito mais variáveis como volume, custos operacionais etc, não somente a dos
investimentos.
Como o objetivo é analisarmos os efeitos das metodologias na Base de Remuneração Regulatória,
chamaremos esse cenário de “Ideal”.
Para o caso de algumas outras agências reguladoras, como por exemplo a ANEEL, para fins de
definição da tarifa do início do ciclo tarifário, considera-se que essa deve contemplar o mínimo
investimento necessário para manter em funcionamento perfeito a operação, em outra palavras,
o montante equivalente a depreciação regulatória definida pela agência.
Agência ARSAE AGEPAR ARSESP ANEEL ADASA ARESC ARPE
Estado MG PR SP Nacional DF SC PE
Prestador COPASA SANEPAR SABESPDistribuidoras e
TransmissorasCAESB CASAN COMPESA
MetodologiaReceita
RequeridaFCD FCD
Receita
Requerida
Receita
RequeridaFCD
Receita
Requerida
Projeção Base de
AtivosSim Sim Sim Não* Não Sim Não*
Reconhecimento de
Investimentos FuturosNão Sim Sim Não*
Embutido no
FCD do Fator XSim Não*
* Não há projeção de BAR porém como se utiliza a BAR inicial para todo o ciclo, implicitamente a projeção considera investimentos anuais da mesma proporção da depreciação projetada.
18
Em termos práticos, nesse caso como as adições ao longo do ciclo seriam iguais às reduções, o
resultado disso é que a Base de Ativos que irá ser remunerada é equivalente à Base de Ativos
Regulatória inicialmente calculada.
Essa metodologia tende a minimizar os impactos da necessidade de um projeção de investimentos
mais detalhada, porém caso ocorram investimentos acima desse valor, esses somente são
avaliados ao final do ciclo e, se forem definidos como prudentes, são considerados para a Base de
Ativos inicial da companhia para o ciclo seguinte.
Ao serem contemplados na base apenas no início da próxima Revisão Tarifária já terão sido
depreciados e não remunerados desde o momento de sua ativação até a data da Revisão Tarifária
seguinte, tornam menor o incentivo a se investir nos primeiros anos do ciclo.
Caso esta forma de remuneração fosse utilizada pela ARSAE, a remuneração do capital ao longo do
ciclo seria, em termos reais, equivalente a BAR de R$10.120.785.663 multiplicada pelo WACC de
13,02% ao longo dos 4 anos. Chamaremos esse cenário de “Cenário 2”.
Por fim temos a metodologia utilizada pela ARSAE, que calcula a média da base de ativos ao longo
do ciclo porém considerando apenas a depreciação regulatória, desconsiderando os investimentos
que serão realizados. Chamaremos esse cenário de “Cenário 3”.
2. Análise do retorno implícito do investimento anual ao longo do ciclo sob diferentes
cenários de cálculo da base de ativos a ser utilizada para fins de remuneração do capital
Embora o valor e a vida útil do investimento sejam os mesmos, cada uma dessas metodologias
assumirá uma BRR diferente a ser remunerada ao longo de cada ciclo. A tabela abaixo mostra qual
a BRR considerada para fins de remuneração no primeiro ciclo em cada um dos cenários,
considerando que o investimento começa a ser realizado no primeiro ano do período anterior (de
4 anos) à revisão tarifária do prestador:
O investimento a ser realizado pelo prestador fictício ao longo do ciclo tarifário pode ser realizado,
teoricamente, em 4 momentos diferentes: no ano após a revisão tarifária ou nos 3 anos seguintes.
Para simplificar a análise, consideraremos que o prestador realizará R$100 milhões de
investimento em cada um desses 4 anos e calcularemos qual o somatório de todas as receitas
advindas da parcela de “remuneração do capital” implícita na tarifa ao longo da vida útil desses
investimentos.
ano1 ano2 ano3 ano4 ano 1 ano 2 ano 3 ano 4
100,0 95,0 90,0 85,0 80,0 75,0 70,0 65,0
100,0 95,0 90,0 85,0 80,0 75,0 70,0 65,0
- - - - 80,0 80 80 80
- - - - 72,5 72,5 72,5 72,5
ciclo tarifárioperíodo anterior
Base de ativos regulatória
BAR remunerada (ideal)
BAR remunerada (cenário 2)
BAR remunerada (cenário 3)
19
Tabela 1 - Cenário onde o investimento é realizado no ano imediatamente após a revisão tarifária.
Tabela 2 - Cenário onde o investimento é realizado 1 ano após a revisão tarifária.
Tabela 3 - Cenário onde o investimento é realizado 2 anos após a revisão tarifária.
Tabela 4 - Cenário onde o investimento é realizado 3 anos após a revisão tarifária.
Consolidamos os resultados das análises na tabela a seguir:
ano 1 ano 2 ano 3 ano 4
100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0 0 0
IDEAL Base remunerada 100,0 95,0 90,0 85,0 80,0 75,0 70,0 65,0 60,0 55,0 50,0 45,0 40,0 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Remuneração 13,0 12,4 11,7 11,1 10,4 9,8 9,1 8,5 7,8 7,2 6,5 5,9 5,2 4,6 3,9 3,3 2,6 2,0 1,3 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0
SOMA 136,5
Cenário 2 Base remunerada 100,0 95,0 90,0 85,0 80,0 80,0 80,0 80,0 60,0 60,0 60,0 60,0 40,0 40,0 40,0 40,0 20,0 20,0 20,0 20,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Remuneração 10,4 10,4 10,4 10,4 7,8 7,8 7,8 7,8 5,2 5,2 5,2 5,2 2,6 2,6 2,6 2,6 0,0 0,0 0,0 0,0
SOMA 104,0
Cenário 3 Base remunerada 100,0 95,0 90,0 85,0 72,5 72,5 72,5 72,5 52,5 52,5 52,5 52,5 32,5 32,5 32,5 32,5 12,5 12,5 12,5 12,5 0,0 0,0 0,0 0,0
Remuneração 9,4 9,4 9,4 9,4 6,8 6,8 6,8 6,8 4,2 4,2 4,2 4,2 1,6 1,6 1,6 1,6 0,0 0,0 0,0 0,0
SOMA 88,4
Base de ativos regulatória
1 ciclo 2 ciclo 3 ciclo 4 ciclo 5 ciclo
ano 1 ano 2 ano 3 ano 4
0 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0 0
IDEAL Base remunerada 0,0 100,0 95,0 90,0 85,0 80,0 75,0 70,0 65,0 60,0 55,0 50,0 45,0 40,0 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 0,0 0,0
Remuneração 0,0 13,0 12,4 11,7 11,1 10,4 9,8 9,1 8,5 7,8 7,2 6,5 5,9 5,2 4,6 3,9 3,3 2,6 2,0 1,3 0,7 0,0 0,0 0,0
SOMA 136,5
Cenário 2 Base remunerada 0,0 100,0 95,0 90,0 85,0 85,0 85,0 85,0 65,0 65,0 65,0 65,0 45,0 45,0 45,0 45,0 25,0 25,0 25,0 25,0 5,0 5,0 5,0 5,0
Remuneração 11,1 11,1 11,1 11,1 8,5 8,5 8,5 8,5 5,9 5,9 5,9 5,9 3,3 3,3 3,3 3,3 0,7 0,7 0,7 0,7
SOMA 117,0
Cenário 3 Base remunerada 0,0 100,0 95,0 90,0 77,5 77,5 77,5 77,5 57,5 57,5 57,5 57,5 37,5 37,5 37,5 37,5 17,5 17,5 17,5 17,5 1,3 1,3 1,3 1,3
Remuneração 10,1 10,1 10,1 10,1 7,5 7,5 7,5 7,5 4,9 4,9 4,9 4,9 2,3 2,3 2,3 2,3 0,2 0,2 0,2 0,2
SOMA 99,5
Base de ativos regulatória
1 ciclo 2 ciclo 3 ciclo 4 ciclo 5 ciclo
ano 1 ano 2 ano 3 ano 4
0 0 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0
IDEAL Base remunerada 0,0 0,0 100,0 95,0 90,0 85,0 80,0 75,0 70,0 65,0 60,0 55,0 50,0 45,0 40,0 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 0,0
Remuneração 0,0 0,0 13,0 12,4 11,7 11,1 10,4 9,8 9,1 8,5 7,8 7,2 6,5 5,9 5,2 4,6 3,9 3,3 2,6 2,0 1,3 0,7 0,0 0,0
SOMA 136,5
Cenário 2 Base remunerada 0,0 0,0 100,0 95,0 90,0 90,0 90,0 90,0 70,0 70,0 70,0 70,0 50,0 50,0 50,0 50,0 30,0 30,0 30,0 30,0 10,0 10,0 10,0 10,0
Remuneração 11,7 11,7 11,7 11,7 9,1 9,1 9,1 9,1 6,5 6,5 6,5 6,5 3,9 3,9 3,9 3,9 1,3 1,3 1,3 1,3
SOMA 130,0
Cenário 3 Base remunerada 0,0 0,0 100,0 95,0 82,5 82,5 82,5 82,5 62,5 62,5 62,5 62,5 42,5 42,5 42,5 42,5 22,5 22,5 22,5 22,5 3,8 3,8 3,8 3,8
Remuneração 10,7 10,7 10,7 10,7 8,1 8,1 8,1 8,1 5,5 5,5 5,5 5,5 2,9 2,9 2,9 2,9 0,5 0,5 0,5 0,5
SOMA 111,2
Base de ativos regulatória
1 ciclo 2 ciclo 3 ciclo 4 ciclo 5 ciclo
ano 1 ano 2 ano 3 ano 4
0 0 0 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0
IDEAL Base remunerada 0,0 0,0 0,0 100,0 95,0 90,0 85,0 80,0 75,0 70,0 65,0 60,0 55,0 50,0 45,0 40,0 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0
Remuneração 0,0 0,0 0,0 13,0 12,4 11,7 11,1 10,4 9,8 9,1 8,5 7,8 7,2 6,5 5,9 5,2 4,6 3,9 3,3 2,6 2,0 1,3 0,7 0,0
SOMA 136,5
Cenário 2 Base remunerada 0,0 0,0 0,0 100,0 95,0 95,0 95,0 95,0 75,0 75,0 75,0 75,0 55,0 55,0 55,0 55,0 35,0 35,0 35,0 35,0 15,0 15,0 15,0 15,0
Remuneração 12,4 12,4 12,4 12,4 9,8 9,8 9,8 9,8 7,2 7,2 7,2 7,2 4,6 4,6 4,6 4,6 2,0 2,0 2,0 2,0
SOMA 143,0
Cenário 3 Base remunerada 0,0 0,0 0,0 100,0 87,5 87,5 87,5 87,5 67,5 67,5 67,5 67,5 47,5 47,5 47,5 47,5 27,5 27,5 27,5 27,5 7,5 7,5 7,5 7,5
Remuneração 11,4 11,4 11,4 11,4 8,8 8,8 8,8 8,8 6,2 6,2 6,2 6,2 3,6 3,6 3,6 3,6 1,0 1,0 1,0 1,0
SOMA 123,5
Base de ativos regulatória
1 ciclo 2 ciclo 3 ciclo 4 ciclo 5 ciclo
20
Tabela 5 - Resumo dos resultados das análises do somatório de EBITs para cada cenário
A partir dessa análise, observa-se que a forma de reconhecimento da BAR para remuneração ao
longo do ciclo do “Cenário 2” possui uma remuneração média dos 4 anos de investimento 10%
abaixo do “Cenário Ideal” enquanto no “Cenário 3”, que é o cenário considerado pela ARSAE, a
remuneração média de um investimento de R$100 milhões por ano ao longo do ciclo é 23% abaixo
do “Cenário Ideal”.
Se, em uma análise mais completa, ao invés de somarmos apenas as parcelas de remuneração ao
longo da vida útil do investimento, somarmos também as parcelas de depreciação regulatória e as
descontarmos trazendo a valor presente, utilizando como taxa de desconto o WACC regulatório,
observamos uma maior diferença entre a remuneração do investimento dependendo de cada
metodologia. Essa conclusão pode ser observada na tabela a seguir.
Tabela 6 - Resumo dos resultados da análise do somatório de EBITDAs trazidos a valor presente para cada cenário
Sendo assim, conclui-se que a forma com que a ARSAE está realizando o cálculo da BAR média do
ciclo para fins de remuneração do capital, implica em uma remuneração (já trazida a valor
Y0* Y1** Y2*** Y3****Remuneração
média
Remuneração média
versus ideal
Ideal 137 137 137 137 137 0%
Cenário 2 104 117 130 143 124 -10%
Cenário 3 88 99 111 124 106 -23%
*Y0 = ano logo após a revisão tarifária
**Y1 = faltando 3 anos para a revisão tarifária
***Y2 = faltando 2 anos para a revisão tarifária
****Y3 = faltando 1 ano para a revisão tarifária
Somatório das Remunerações do investimento (EBIT) ao longo da vida útil do ativo
Y0* Y1** Y2*** Y3****Remuneração
média
Remuneração média
versus ideal
Ideal 100 100 100 100 100 0%
Cenário 2 53 64 76 90 71 -29%
Cenário 3 49 58 70 83 65 -35%
*Y0 = ano logo após a revisão tarifária
**Y1 = faltando 3 anos para a revisão tarifária
***Y2 = faltando 2 anos para a revisão tarifária
****Y3 = faltando 1 ano para a revisão tarifária
Remuneração do investimento (EBITDA) ao longo de sua vida útil a valor presente
21
presente) 35% abaixo do “Cenário Ideal”, onde o investimento seria remunerado a partir da data
de entrada em operação.
Em outras palavras, o resultado prático da aplicação da metodologia proposta é que todo o
investimento realizado pela COPASA (assumindo um investimento uniforme ao longo dos anos)
seria glosado necessariamente, independente de qualquer avaliação de prudência, em 35% ou,
sob outra ótica, que a remuneração percebia pelo agente seria 35% menor do que a remuneração
justa regulatória, que é representada pelo “Cenário Ideal”.
Esse efeito é comprovado quando realizamos a conta da Taxa Interna de Retorno (TIR) em cada
cenário, incluindo para esta simulação também a parcela de depreciação regulatória. Nessa
avaliação, observa-se que nos Cenários 2 e 3 a TIR do investimento fica respectivamente 35% e
44% abaixo da TIR no “Cenário Ideal”, que é, naturalmente, igual ao WACC proposto.
Tabela 7 - TIR do investimento para cada um dos cenários, considerando atém da parcela de remuneração do capital a parcela de depreciação regulatória.
Sendo assim, acreditamos que a metodologia proposta de remuneração do capital a partir da
média da base de ativos depreciada ao longo do ciclo, sem considerar os investimentos que devem
ser realizados para manter a base em operação e atingir as metas propostas pela ARSAE na
metodologia de Incentivo Tarifário, não condiz com a remuneração justa definida pela agência.
Este resultado inclusive contradiz o que a própria ARSAE comenta diversas vezes nas Notas
Técnicas CRFEF 37/2016 e CRFEF 41/2016:
Nota Técnica CRFEF 37/2016
“A Arsae objetiva com esta Revisão proteger os interesses dos usuários, incentivar a
ampliação da abrangência, aumentar o volume de investimentos e gerar valor no setor, de
forma que o serviço seja prestado com qualidade e segurança, e promover a sustentabilidade
operacional e econômico-financeira da prestação.
(..)
Y0* Y1** Y2*** Y3****Remuneração
média
Remuneração média
versus ideal
Ideal 13,0% 13,0% 13,0% 13,0% 13,0% 0%
Cenário 2 5,8% 7,6% 9,2% 11,3% 8,5% -35%
Cenário 3 4,9% 6,3% 7,9% 10,0% 7,3% -44%
*Y0 = ano logo após a revisão tarifária
**Y1 = faltando 3 anos para a revisão tarifária
***Y2 = faltando 2 anos para a revisão tarifária
****Y3 = faltando 1 ano para a revisão tarifária
TIRR da remuneração total (incluindo depreciação regulatória) ao longo do ciclo
22
Ademais, deve-se garantir que o prestador consiga financiar os investimentos realizados na
atividade fim de forma apropriada, ou seja, a regulação deve garantir uma taxa razoável de
retorno sobre o capital, que posteriormente reverte-se em benefícios para o próprio usuário.
(...)
Tarifas unicamente módicas tendem a diminuir a capacidade de investimentos do prestador,
prejudicando no longo prazo os próprios usuários.
(...)
Dada a característica de uso intensivo de capital dos serviços de abastecimento de água e de
esgotamento sanitário, estes itens têm significativo peso na composição das tarifas. Assim, o
regulador deve estabelecer uma recuperação justa dos recursos aplicados, de forma que, sem
perder de vista a modicidade tarifária, seja permitida a realização dos investimentos
necessários à adequada qualidade dos serviços e à sua expansão.”
Nota Técnica CRFEF 41/2016
“O objetivo da definição de taxas de retorno “justas” por uma entidade reguladora é
assegurar que a empresa regulada seja capaz de recuperar os custos de captação e de
oportunidade do capital empregado na geração dos produtos e serviços,
(...)
Definir uma taxa de retorno abaixo deste equilíbrio pode afastar os investidores, e defini-la
acima permitiria à empresa apropriar-se de um lucro excedente, em detrimento da
modicidade tarifária para os usuários. Fixações incorretas de preços enviam sinais distorcidos
ao mercado e resultam em ineficiência alocativa dos recursos (IRG, 2007).”
Além de contrariar a metodologia definida pela ARSAE, acreditamos que ao não remunerar
adequadamente o capital investido de acordo com o WACC proposto, as premissas da Lei
11.445/2007, que corresponde ao marco regulatório nacional do saneamento básico, não estão
sendo cumpridas, pois além de não remunerar adequadamente o capital investido, não gera os
recursos necessários para a realização dos investimentos futuros, pois eles não estão inclusos no
cálculo do custo de capital, apenas os investimentos passados.
Art. 29. Os serviços públicos de saneamento básico terão a sustentabilidade econômico-
financeira assegurada, sempre que possível, mediante remuneração pela cobrança dos
serviços:
(...)
§ 1o Observado o disposto nos incisos I a III do caput deste artigo, a instituição das tarifas,
preços públicos e taxas para os serviços de saneamento básico observará as seguintes
diretrizes:
23
(...)
III - geração dos recursos necessários para realização dos investimentos, objetivando o
cumprimento das metas e objetivos do serviço;
(...)
VI - remuneração adequada do capital investido pelos prestadores dos serviços;
3. Remuneração dos investimentos realizados antes do seu reconhecimento na base no
próximo ciclo tarifário
Embora para fins de remuneração pela metodologia da revisão tarifária os investimentos
realizados ao longo do ciclo só são considerados na próxima revisão tarifária (pela metodologia
atual), a ARSAE argumenta que estes investimentos levam a um incremento de volume, o que por
si só já traria remuneração sobre esses investimentos ao longo do ciclo até que eles sejam
considerados na base no próximo ciclo. Não acreditamos que essa remuneração possa ser
considerada, uma vez que:
I. Segundo a metodologia definida na NT CRFEF 59, uma parcela importante da Receita Tarifária
da companhia advém da parcela de Depreciação Regulatória, calculada pela ARSAE no
montante de R$ 625 milhões, que visa meramente a recomposição de ativos, tendo com
impacto apenas a manutenção da prestação do serviço, não tendo qualquer relação com
expansão da malha operacional da companhia.
II. Além do montante referente à recomposição de ativos, uma gama relevante (e cada vez
maior) dos projetos atuais da companhia como aumento de segurança na oferta de água
(interligação de reservatórios por exemplo), redução de perdas, melhoria na qualidade do
fornecimento de água e, principalmente, aumento da cobertura de tratamento de esgoto, são
investimentos que deverão ser realizados pela COPASA e não tem contrapartida de volume
para fins de remuneração.
III. Pela situação atual do Estado de Minas Gerais, onde 87,1% e 75,2% do esgoto é,
respectivamente, coletado e tratado é esperado que a parcela relevante dos investimentos da
companhia acabe sendo direcionada para o segmento. Como durante o ciclo a estrutura
tarifária passará por um período de transição, com a migração para uma tarifa única de
esgoto, no mesmo patamar da de água, qualquer investimento realizado no segmento, ainda
que tenha alguma contrapartida de volume, não será remunerado pela taxa adequada.
IV. Além disso, como a maior parte dos consumidores marginais conectados à rede possui um
consumo médio menor do que a média da COPASA, esse impacto também se traduz em uma
tarifa média menor (devido à atual estrutura tarifária). Isso acontece, pois cada vez mais o
24
crescimento marginal da companhia em termos de ligações se dá em regiões mais distante
dos grandes centros e das regiões com maior renda familiar. Sendo assim, o retorno do
consumidor marginal é muito menor do que da média da COPASA.
V. Entre o investimento ser realizado e haver o aumento de volume há um período, em geral de
cerca de 2 anos, que é o tempo para a obra completar e interligar os novos consumidores, o
que cria um grande descasamento temporal entre investimento e volume, removendo
portanto grande parte desse retorno adicional devido a aumento de volume.
VI. Existem riscos com relação ao aumento de volume em decorrência do investimento realizado
que não são de controle da COPASA, como por exemplo: o fato do consumidor
potencialmente não decidir se ligar a rede (uma vez que é escolha dele).
VII. Nos últimos anos observa-se na COPASA e em outras prestadoras de saneamento que o
consumo por ligação está em uma trajetória de queda, o que se deve às campanhas de
conscientização, da crise hídrica nacional e também da retração econômica, gerando uma
mudança no comportamento dos consumidores (além do fato do consumidor marginal ter
um consumo menor). Ou seja, por mais que os consumidores novos tragam um volume
adicional à base, os consumidores já presentes na base estão reduzindo o seu consumo
médio.
VIII. Por fim, na nota técnica NT CRFEF 54/2017 a ARSAE afirma que o risco de volume, tanto de
aumento quanto de queda deve ser alocado à COPASA:
“Dentro da filosofia balizadora do regime de preço teto, a agência entende que é parte do
negócio da COPASA a absorção de variações na demanda. Ademais, a ARSAE entende que o
risco de mercado deve ser alocado para o agente com maior capacidade de gestão desse
risco. A companhia possui mais gestão sobre sua demanda do que os usuários, seja por
meio de ações que assegurem a continuidade e a qualidade do serviço ou investimentos que
garantam a segurança hídrica.”
Diante de todos esses exemplos listados, nos parece claro que a gestão dos riscos de volume é,
conforme definido pela própria Agência, parte intrínseca do risco da atividade em que a
companhia está inserida, não tendo a companhia qualquer garantia de volume por parte do
regulador.
Sendo assim, mesmo numa hipótese remota e de difícil operacionalização, em que fossem
avaliados os investimentos e seus diferentes potencias de geração adicional de volumes de
maneira individual (o que traria uma enorme complexidade à gestão dos mesmos), como não há
uma garantia regulatória/contratual não pode um eventual incremento marginal de volume,
definido como risco da companhia, vir a ser considerado como pretexto de remuneração temporal
adequada dos investimentos.
25
PROPOSTA
Nossa proposta é que a ARSAE considere para fins de cálculo da BAR que será remunerada ao
longo do ciclo, no mínimo, o investimento necessário para recompor a depreciação dos ativos ao
longo do tempo, ou seja, a utilização de uma base constante de remuneração ao longo do ciclo.
Esta proposição corrigiria a distorção causada pela ARSAE ao considerar apenas a parcela de
depreciação regulatória ao longo ciclo para fins de cálculo da BRR.
Adicionalmente, é importante ressaltar a importância de serem considerados, também para fins
tarifários, os investimentos necessários para que a companhia possa cumprir com as metas de
crescimento do IDT e redução de perdas que estão sendo considerados na metodologia dos
Incentivos Tarifários.
Essa inclusão é importante uma vez que para que possam ser atingidas tais metas a companhia
deverá incorrer em um aumento relevante do seu plano de investimentos original e uma parte
relevante desses investimentos não incorrer necessariamente em (i) aumento de volume, no caso
do tratamento da expansão do tratamento de esgoto e (ii) viabilidade econômica, no caso de
alguns casos do combate às perdas onde o benefício direto em termos de custos da não-perda da
água não remunere os investimentos necessários para que essa perda seja evitada.
26
Contribuição 3: Juros sobre Obras em Andamento
Na nota técnica NTCREF 59, a agência reguladora expõe a projeção realizada da BAR ao longo do
ciclo em questão para o cálculo da base média a ser remunerada:
Além dos pontos expostos na contribuição anterior em relação à própria metodologia em si, a
agência apresentou posteriormente como teria sido calculado o item FBR, que contempla os ativos
que foram excluídos da Base de Ativos Regulatória. Esses itens estão listados na tabela abaixo:
Nessa contribuição iremos tratar diretamente do item relacionado às Obras em Andamento.
1. Visão Geral
De acordo com Jamison (2005), e comumente realizado pelos reguladores europeus e nacionais,
os investimentos a serem considerados na base de ativos devem passar pelo teste da prudência,
da eficiência e da utilidade.
A grande dificuldade encontrada pelo prestador é tentar fornecer o incentivo adequado para que
o prestador tenha o recurso para efetuar os investimentos e ao mesmo tempo incentivo para
realizar as obras no menor tempo possível, sem ferir os testes acima listados.
Grupo de Conta da Base de Ativos - Junho/16 Valor Residual (R$)* 1 - Total da Base de Ativos 12.314.600.005
2 - Base Regulatória de Ativos Essenciais (BRE) 9.905.439.582
3 - Base Regulatória de Ativos Acessórios (BRA) 215.346.081
4 - Fora da Base Regulatória (FBR) 2.193.814.342
- Obras em Andamento 1.282.485.761
- Ativos Não Onerosos (Doações) 227.308.352
- Receita de Construção 125.311.049
- Ativos Paralisados 190.677.395
- Direito para Exploração de Concessões 357.556.047
- Outros 17.219.752
Valor da Base de Ativos a ser remunerada (2+3) 10.120.785.663
Composição da Base de Ativos Regulatória e valor a ser remunerado
27
As companhias geralmente constroem seus ativos ao longo do tempo, o que faz com que os
investimentos sejam realizados antes dos ativos possuírem utilidade e estarem em operação.
Existem 2 métodos para reconhecer esse fato nas tarifas:
a. O primeiro método é o método das Obras em Andamento (CWIP em inglês), que
inclui o investimento na base de ativos no momento em que ele é realizado (base
caixa). Esse método traz alguns possíveis problemas, pois em teoria ele viola os
padrões de operacionalidade e utilidade exigidos para que o investimento
componha a base de ativos, porém pelo outro lado ele fornece os recursos
necessários para arcar com os custos necessários durante a realização dos
investimentos.
b. O segundo método é o da capitalização dos custos de financiamento dos projetos
e é chamado de “provisão para fundos utilizados durante a construção”
(allowance for funds used during construction ou AFDUC) nas regulações
americanas e européias. O AFDUC adiciona o custo de oportunidade dos recursos
durante a construção à base de ativos no momento em que o ativo entra em
operação, em seguida o AFDUC é depreciado ao longo do tempo junto com o
mesmo. O AFDUC não provê os recursos para a realização do investimento, porém
eles serão adicionados à base de ativos posteriormente.
2. Algumas Regulações Nacionais de Energia e Saneamento
a. ARSESP/SABESP
Na Nota Técnica Final RTS/004/2014, a agência definiu que, para o tratamento da
BAR ao longo do ciclo, consideraria somente os ativos em serviço. Porém os
investimentos que seriam incorporados posteriormente deveriam ser acrescidos
dos Juros de Obras em Andamento calculados a partir de parâmetros regulatórios.
Figura 7 - Tabela da Nota Técnica RTS 004 2014 da ARSESP
28
Para o cálculo desses juros, seriam aplicados sobre os investimentos, depois de
submetidos aos critérios de prudência (utilidade e custo) e por um prazo máximo
de execução de obra aceitável do ponto de vista regulatório (que a ARSESP
estabeleceu em 18 meses), o Custo Médio Ponderado do Capital (WACC) em
termos nominais (embora na metodologia do FCD todos os termos estejam em
moeda corrente do ano da revisão tarifária).
Desse modo, os custos financeiros decorrentes de prazo excessivo na execução
dos investimentos não seriam incorporados à BAR porém os investimentos que se
tornariam produtivos ao longo do ciclo seriam acompanhados dos custos
financeiros associados.
Esse reconhecimento condiz com que a contribuição feita pela SABESP no
processo que frisava que tal correção tinha justificativa conceitual pelo fato de
que o capital investido mereceria remuneração financeira até sua efetiva entrada
em operação.
A partir desse momento, os ativos passariam a gerar receitas tarifárias em função
de sua utilização pelos usuários e consequentemente iniciar-se-ia a recuperação
do capital investido, incluindo o custo financeiro do capital aplicado durante a fase
de construção.
b. AGEPAR/SANEPAR
A AGEPAR utiliza um conceito bem semelhante à ARSESP, calculando os juros
sobre obras em andamento considerando-se o Custo Médio Ponderado de Capital
(WACC) após impostos.
Figura 8 - Tabela da Nota Técnica "Metodologias para Revisão Tarifária Periódica -
RTP" da AGEPAR de Abril de 2016
29
A diferença maior entre as regulações ocorre no fato de que a agência resolveu
definir de maneira mais explícita o que seria o prazo ótimo e curva de desembolso
dos investimentos, variando de acordo com o tipo de instalação a ser realizada.
As diferentes curvas de desembolso ótimas definidas para os diversos tipos de
obras são expostas nas tabelas abaixo:
Figura 9 - Tabela da Nota Técnica "Metodologias para Revisão Tarifária Periódica -
RTP" da AGEPAR de Abril de 2016
c. ANEEL/Distribuição e Transmissão
A ANEEL, assim como a AGEPAR trabalha com a definição de correção dos
investimentos e de curva regulatória ótima, conforme demonstrado pela equação
abaixo:
Figura 10 - Fórmula do Cálculo dos Juros sobre Obras em Andamento, segundo a
Resolução Normatiza nº 386/2009
As curvas de desembolso ótimas definidas para obras de subestações, linhas de
transmissão, redes de distribuição, entre outros, são expostas nas tabelas abaixo:
30
Figura 11- Tabela da Resolução Normatiza nº 386/2009 - Curva de Desembolso de
Obras de Transmissão
Figura 12 - Tabela do Manual de contabilidade da ANEEL – Curva de Desembolso
de Obras de Distribuição
Um resumo dos resultados encontrados nas metodologias listadas, assim como em outras
avaliados está presente na tabela seguir:
3. Outras Regulações Internacionais de Energia e Saneamento
a. África do Sul
Agência ARSAE AGEPAR ARSESP ANEEL ADASA ARESC ARPE
Estado MG PR SP Nacional DF SC PE
Prestador COPASA SANEPAR SABESPDistribuidoras e
TransmissorasCAESB CASAN COMPESA
Reconhecimento de
Obras em AndamentoNão Sim Sim Ciclo Seguinte Ciclo Seguinte Sim Ciclo Seguinte
Juros sobre Obras em
AndamentoNão
WACC
(prazo
eficiente)
WACC
(prazo
eficiente)
WACC
(prazo
eficiente)
Sim
(FRC*)
WACC
(prazo
eficiente)
Sim
(Não explicita
Taxa)
* Fórmula que combina o WACC com a vida útil econômica média dos ativos fixada pela ADASA (~ WACC)
31
As distribuidoras de energia da África do Sul incluem no cálculo da base de ativos
as obras em andamento. O principal argumento é de que a inclusão desses valores
evita um aumento expressivo da tarifa após a entrada operacional de um ativo de
valor elevado, o que causaria um “rate shock”.
b. Associação Regional dos Reguladores de Energia (ERRA – 37 agências
reguladoras de energia elétrica da Europa, Ásia e África)
Uma forma de entendimento é de que os investimentos realizados devem ser
incluídos na base de ativos de acordo com os custos incorridos até o momento de
entrada do ativo operacionalmente. Porém a grande dúvida paira sobre como
compensar adequadamente o prestador pelos investimentos que ainda não estão
operacionalmente em uso.
Uma das opções é a de incorporar ao valor do ativo os custos do financiamento
atrelado a esses investimentos, porém esta opção não contempla todos os riscos
envolvidos na realização dos mesmos. A outra opção é de adicionar ao valor dos
ativos a remuneração regulatória (WACC), que é a remuneração justa regulatória
definida pelo regulador que inclui todos os riscos envolvidos na realização do
investimento. Essa remuneração deve ser somada ao valor do ativo original na
data de entrada do mesmo.
Alguns reguladores consideram as obras em andamento na base de ativos. Porém
esta inclusão requer um julgamento de prudência sobre o investimento realizado,
e cada regulador possui uma forma específica de realizar essa análise e de quanto
das obras em andamento deve ser adicionado à base de ativos.
c. Edison Electric Institute (Associação que representa todas as empresas privadas
de energia elétrica dos EUA, seus membros operam em 50 estados e fornecem
energia para 220 milhões de pessoas)
Durante muitos anos a prática comum era de incluir na base de ativos os custos
prévios da construção (overhead construction costs). Tais custos incluíam os custos
de incorporação, legais, de engenharia, serviços administrativos, custo da dívida e
impostos durante a construção. Com o desenvolvimento de um sistema uniforme
de contabilidade, as “utilities” foram obrigadas a incluir todos os custos incorridos
durante a construção.
Os juros sobre construção eram capitalizados e quando a planta entrava em
operação os juros acumulados eram adicionados ao custo contábil do projeto que
era depreciado durante a vida útil do mesmo. Em 1971, a Federal Power
Comission (precedente à Federal Energy Regulatory Commission (FERC))
32
abandonou o termo “juros sobre construção” e o substituiu por “provisão para
fundos utilizados durante a construção” (allowance for funds used during
construction ou AFDUC).
Ao fim dos anos 1960, tanto os custos da construção quanto os custos de capital
começaram a crescer drasticamente, além disso os períodos de construção
também cresceram muito e como resultado disso o valor do AFDUC passou a ficar
muito grande.
Confrontado por problemas sérios de fluxo de caixa e cobertura da dívida
insuficiente, várias das comissões começaram a permitir a inclusão das Obras em
Andamento (CWIP nos EUA e OEA no Brasil) na base de ativos. Ao fim dos anos
1970 a grande maioria dos estados permitia a inclusão das OEAs na base de ativos,
porém cada uma possuía diferentes critérios para inclusão integral ou de parte
dessas contas.
d. Análise da AEP (uma das maiores empresas de utilidades públicas nos EUA com
5.4 milhões de consumidores em 11 estados) sobre o tema de obras em
andamento
Dentro do arcabouço regulatório tradicional as empresas de utilidades públicas
podem pedir que o custo de capital de um investimento novo seja adicionado à
base de ativos antes da construção estar completa e o ativo estar
operacionalmente disponível. A adição das Obras em Andamento, que antes não
era tão aceito, está sendo cada vez mais aceito pelas agências reguladoras,
principalmente para ativos que estão próximo do fim da sua construção.
A inclusão das Obras em Andamento permite que as empresas tivessem os
recursos para os custos financeiros do projeto antes deles ficarem prontos. Ela
elimina a lentidão regulatória (tempo entre o projeto ficar pronto e a recuperação
dos custos) e diminui a incerteza regulatória (reduz a possibilidade da agência
reguladora de não incluir na tarifa o custo do projeto).
PROPOSTA
A nossa análise mostrou ser consenso, em âmbito nacional e internacional, que, caso os
investimentos não sejam reconhecidos na BAR no momento em que são realizados (método
caixa), quando forem incluídos posteriormente, dever-se-á agregar à BAR o custo financeiro
associado ao tempo decorrido entre o dispêndio efetivo do capital e sua ativação definitiva na
Base. Esse custo é o Juros Sobre Obras em Andamento (JOA), que é comumente calculado pela
33
aplicação ao valor histórico do investimento de um fator de ajuste composto por inflação do
período mais um fator de custo de capital real (WACC).
Portanto, propomos que no cálculo do valor do investimento a ser incluído na base de ativos
esteja contemplado um fator de ajuste, que corresponda a IPCA somado ao WACC regulatório, de
modo a corrigir o valor do investimento desde o momento de sua realização até o momento de
início operacional (inclusão na BAR) do mesmo.
34
Contribuição 4: Meta para evolução do IDT e Redução de Perdas
Ao se definir uma metodologia para incentivos tarifários, punindo ou remunerando o prestador
caso ele atinja ou não a meta, acreditamos que o ponto mais crítico será a definição da meta para
o aumento do índice de tratamento de esgoto e para a redução de perdas. A mesma deveria ser
definida com cautela e em conjunto com a prestadora.
A própria ARSAE na Nota Técnica CRFEF 55/2017 deixou claro o fato dela não saber qual a real
capacidade operacional da companhia no trecho a seguir:
“Como o prestador obviamente conhece melhor a propria gestão que o regulador, os
potenciais de redução de custo, elevação da qualidade do serviço e redução de perdas na
distribuição de agua são desconhecidos pela agência no momento da definição das tarifas,
mas podem ser revelados através de mecanismos de incentivos tarifarios.”
Sendo assim, acreditamos ser importante antes de definir-se uma meta ideal e aplicá-la, que a
ARSAE entenda com a COPASA qual a meta viável sob diferentes óticas.
A capacidade de aumento do índice de tratamento de esgoto da companhia depende
principalmente de três fatores: histórico do setor (sanity check), custo de capital regulatório
incluído na tarifa e capacidade operacional.
Fator 1: Histórico do setor
Acreditamos ser prudente, para definição da meta de aumento da rede de tratamento de esgoto,
verificar o que já foi realizado historicamente no Brasil nesse aspecto e checar se a meta proposta
pela ARSAE condiz com o que o histórico do setor aponta como possível.
Para as nossas análises utilizamos os dados fornecidos pelas empresas de prestação de serviço de
esgotamento sanitário ao SNIS, mais em específico os dados de economias ativas de esgoto e
economias ativas de água. Selecionamos o universo das 10 maiores empresas que possuem
serviço de tratamento de esgoto, com exceção da Sanepar que apresentou poucos dados ao SNIS.
Agrupando os dados selecionados observamos que a COPASA possui relação de número de
economias ativas de esgoto sobre economias ativas de água, que chamaremos de “Índice de
Tratamento”, apenas inferior à Sabesp e CAESB em 2015.
35
Figura 13 - Evolução do Índice de Tratamento (economias ativas de esgoto sobre economias ativas de água)
Ao se analisar o período de 5, 10 e 15 anos, observa-se que a COPASA e a Embasa possuíram
elevação de Índice de Tratamento muito acima das outras empresas.
Observa-se pela tabela que a COPASA, juntamente com a Embasa, possuiu um desempenho
excelente relativo ao universo de empresas de saneamento brasileiras, mesmo com todos os
desafios do setor.
Sendo assim, acreditamos que o desempenho da COPASA com relação ao aumento do Índice de
Tratamento tem sido muito superior a todos os outros prestadores e, portanto, para se definir
uma meta acima do implementado pela COPASA historicamente, deve ser realizado um trabalho
extenso para determinação da viabilidade operacional e econômico-financeira dessa meta, uma
vez que não foi alcançada por nenhum prestador historicamente.
Preliminarmente a ARSAE propôs um aumento de 2,26% no IDT, índice esse que apenas foi
atingido nos últimos 16 anos, 8 vezes. Ou seja, de um espaço amostral de 153 ocorrências apenas
5,2% estão dentro da meta proposta pela ARSAE, sendo que nunca houve repetição desse índice
em 2 ou mais anos consecutivos.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Copasa Saneago Sabesp Embasa CompesaCorsan Cedae CAGECE CAESB CAGEPA
Período Copasa Saneago Sabesp Embasa Compesa Corsan Cedae CAGECE CAESB CAGEPA
2010-2015 6,3% 5,9% 2,9% 8,3% 1,2% 1,4% -8,4% 1,0% 1,2% 9,4%
2005-2015 16,2% 8,6% 5,9% 13,6% -2,8% 1,9% -8,1% 2,9% 9,5%
2000-2015 21,1% 9,1% 9,4% 22,3% 1,2% 2,4% -8,7% 3,4% 9,1%
36
É importante ressaltar que essa análise, além de ter gerado um percentual bem reduzido de casos
aderentes ao proposto, ainda considera tanto o crescimento orgânico, que é fruto de investimento
em ampliação da rede de tratamento de esgoto, quanto crescimento inorgânico, que é fruto da
assinatura de novos contratos de prestação de serviço de esgotamento sanitário. Os últimos levam
a crescimentos eventuais e não recorrentes do Índice de Tratamento, que deveriam ser ajustados
nos dados.
Um exemplo claro deste crescimento inorgânico foi o crescimento da COPASA em 2009, que se
deveu principalmente à assinatura de novos contratos de concessão de esgoto. Caso parecido
acontece, tanto na Cedae em 2006 quanto a Cagepa em 2003, que possuíram índices acima da
meta da ARSAE, porém totalmente fora da tendência dos anos anteriores ou posteriores a esses
pontos, o que sugere inconsistências nos dados ou assinatura de novos contratos de concessões
de esgotamento sanitário, levando a crescimento inorgânico do Índice de Tratamento, que não
deveria ser considerado na análise.
Fator 2: Custo de Capital Regulatório incluído na tarifa
O custo de capital regulatório incluso na tarifa, que é composto pela depreciação regulatória e
pela remuneração da base de ativos, deve ser capaz de contemplar o pagamento de empréstimos,
tributos sobre o lucro, remuneração aos acionistas e realização dos investimentos necessários
Copasa Saneago Sabesp Embasa Compesa Corsan Cedae Cagece CAESB Cagepa Sanepar
2015 0,1% 1,1% 0,4% 1,8% 0,5% 0,4% -1,2% 1,1% 1,1% 1,1% 0,6%
2014 1,1% 1,8% 0,7% 1,4% 0,3% 0,2% -0,1% 2,0% 0,3% 1,8%
2013 1,9% 1,1% 0,5% 2,3% 0,5% 0,5% 0,3% -1,7% -0,9% 0,2% 1,3%
2012 0,9% 0,8% 0,6% 1,7% 0,1% 0,1% -0,2% 0,1% 0,3% 1,9%
2011 2,3% 1,0% 0,8% 1,1% -0,2% 0,1% -0,2% 0,6% 0,2% -1,1%
2010 0,9% 0,0% 0,7% 0,3% 0,2% 0,3% 0,4% 0,0% 0,4% 1,1%
2009 5,0% 0,7% 0,6% 0,4% 0,0% 0,0% 0,1% 1,3% 0,2% 1,7%
2008 2,0% 1,4% 0,6% 1,7% -4,5% 0,0% 0,4% -1,3% 0,2% 2,4%
2007 1,6% -0,2% 0,6% 0,8% 0,5% 0,1% -0,9% -0,4%
2006 0,5% 0,9% 0,5% 2,1% -0,2% 0,2% 2,9% 1,9% -0,3%
2005 0,3% 0,7% 0,4% 2,2% 0,9% 0,4% -0,7% -0,2% 0,2%
2004 2,9% -0,4% 0,8% 2,3% 0,7% -0,3% -0,1% -0,9% -2,8%
2003 0,3% -0,2% 0,6% 2,0% 1,5% 0,4% -0,3% -0,7% 3,0%
2002 0,9% 0,8% 1,3% 0,7% 0,4% 0,4% -0,1% 0,8% -1,0%
2001 0,5% -0,4% 0,4% 1,5% 0,5% -0,4% 0,8% 1,4% 0,2%
2000 0,9% -0,6% 0,4% 0,8% -3,2% 1,2% -1,7% 0,7% 1,3%
Evolução anual do Índice de Tratamento
Ocorrências% da
amostra
43 28,1%
28 18,3%
8 5,2%
153
acima de 0,9%
acima de 1,3%
acima de 2,26%
Total da amostra
37
para se adequar à expansão e qualidade do serviço segundo parâmetros definidos pela ARSAE. A
Nota Técnica CRFEF 59/2017 estabelece isso:
“Dada a característica de uso intensivo de capital dos serviços de abastecimento de água e
de esgotamento sanitário, estes itens têm significativo peso na composição das tarifas.
Assim, o regulador deve estabelecer uma recuperação justa dos recursos aplicados, de forma
que, sem perder de vista a modicidade tarifária, seja permitida a realização dos
investimentos necessários à adequada qualidade dos serviços e à sua expansão. Os recursos
concedidos ao prestador para arcar com os Custos de Capital deverão ser utilizados pela
companhia para pagamentos de empréstimos (juros, correção monetária, encargos e
amortização); pagamentos de tributos sobre o lucro (IR e CSLL); pagamentos de
remuneração aos acionistas e reinvestimento.”
Sendo assim, segundo a metodologia da ARSAE a parcela de Custo de Capital incluso na tarifa de
R$ 1,88bi deve cobrir todos esses custos.
A seguir calcularemos cada um desses custos implícitos na tarifa da COPASA:
Custo tributário: desconsiderando efeito de JCP, os tributos sobre lucro incluso nesse custo de
capital são de 34% da tarifa, ou seja, a parcela de custo de capital pós-pagamento de IR e CSLL fica
em R$ 1,24 bilhões.
Remuneração aos acionistas: pela lei ela deve representar de 25% a 95% do lucro líquido da
empresa, assumindo conservadoramente o lucro líquido de 2016 para servir de base e um
pagamento de 25% (mínimo) em cima desse lucro, temos R$ 110 milhões de pagamento de
dividendos.
Pagamento de empréstimos: com relação aos juros e correção monetária, segundo a metodologia
de cálculo do WACC, a ARSAE já define qual parcela de remuneração do capital será utilizada para
esse fim:
Pelos cálculos da ARSAE temos:
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑐𝑜𝑚 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑖𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑎𝑝ó𝑠 𝑖𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 = 𝑊𝑑𝑅𝑑(1 − 𝑡)(𝐵𝑎𝑠𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑚𝑢𝑛𝑒𝑟𝑎çã𝑜 𝑟𝑒𝑔𝑢𝑙𝑎𝑡ó𝑟𝑖𝑎)
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑐𝑜𝑚 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑖𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑎𝑝ó𝑠 𝑖𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 = 35,05% ∗ 12,11% ∗ (1 − 34%) ∗ 𝑅$ 9.276.025.888
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑐𝑜𝑚 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑖𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑎𝑝ó𝑠 𝑖𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 = 𝑅$ 259.859.173,61
38
O resultado final que encontramos de recurso livre para reinvestimento, desconsiderando os
custos com amortização das dívidas, é de R$870 milhões.
Com relação à amortização da dívida, podemos observar pelo DFP da companhia que a parcela de
amortização média dos próximos 4 anos da empresa é de aproximadamente R$540MM.
Sendo assim, o saldo restante da parcela de custo de capital para reinvestimentos seria de R$ 330
milhões após consideração das amortizações e os R$870 milhões calculados antes das mesmas.
Ou seja, todo o investimento que a empresa realizar acima de R$330 milhões gerará uma
necessidade de captação de dívida e, uma vez que o investimento não é remunerado ao longo do
ciclo, todo o investimento realizado só possuirá contrapartida na receita a partir da revisão
tarifária de 2021.
Portanto, como pode ser observado na análise realizada, no atual custo de capital incluso na tarifa
da COPASA o recurso para reinvestimento, assumindo o pagamento mínimo de dividendos, é de
apenas R$330 milhões, bem abaixo do plano de investimentos proposto e histórico da companhia.
Tendo isso em vista, realizaremos a nossa próxima análise, que trata justamente sobre aumento
de alavancagem. Para tal, não assumiremos as amortizações das dívidas da COPASA, mantendo a
alavancagem constante e considerando apenas o pagamento dos juros, correções e encargos.
De forma a entender qual o comportamento da alavancagem, em termos de Dívida Líquida/LAJIDA
regulatório (assumindo que ela possua o seu LAJIDA igual ao LAJIDA regulatório), implícita no atual
custo de capital contemplado na tarifa, realizaremos simulações para diferentes investimentos
anuais médios ao longo do ciclo.
Todas essas simulações não levam em consideração a inflação, ou seja, o custo de capital
regulatório implícito na tarifa cresce a 2,5% ao ano, que é o crescimento de volume assumido e a
dívida cresce a 5,56% ao ano, que é o custo de capital de terceiros em termos reais definido pela
ARSAE no cálculo do WACC.
Os resultados da análise são:
Amortização por ano 2017 2018 2019 2020 Média
Empréstimos e financiamentos 365 397 529 284 394
Debentures 146 145 144 138 143
Total 512 542 673 422 537
39
Pelo resultado das análises observa-se que a premissa de R$1 bilhão de investimento ao ano não
eleva muito a alavancagem da COPASA ao longo dos anos, enquanto as premissas de R$1,4 bilhão
e R$1,8 bilhão levariam a um aumento muito rápido da alavancagem ao longo do ciclo.
A principal dúvida é sobre qual o mínimo investimento anual necessário para que a COPASA
cumpra com a meta de aumento do IDT definida pela ARSAE, de modo a saber se essa meta é
viável financeiramente.
Este valor só poderia ser definido corretamente através de estudos da COPASA contendo quais
projetos são necessários para realizar a meta e qual o investimento esperado de cada projeto,
informações essas que não possuímos e que levaria tempo para ser desenvolvida.
2017 2018 2019 2020
Investimento por ano 1800 1800 1800 1800
Necessidade de alavancagem
(Investimento - recurso livre ex-amortização)930 930 930 930
Dívida acumulada 930 1912 2948 4042
Custo de capital regulatório = LAJIDA regulatório 1879 1926 1974 2023
Alavancagem adicional acumulada (Dívida
acumulada/LAJIDA)0,5 1,0 1,5 2,0
2017 2018 2019 2020
Investimento por ano 1400 1400 1400 1400
Necessidade de alavancagem
(Investimento - recurso livre ex-amortização)530 530 530 530
Dívida acumulada 530 1089 1680 2303
Custo de capital regulatório = LAJIDA regulatório 1879 1926 1974 2023
Alavancagem adicional acumulada (Dívida
acumulada/LAJIDA)0,3 0,6 0,9 1,1
2017 2018 2019 2020
Investimento por ano 1000 1000 1000 1000
Necessidade de alavancagem
(Investimento - recurso livre ex-amortização)130 130 130 130
Dívida acumulada 130 267 412 565
Custo de capital regulatório = LAJIDA regulatório 1879 1926 1974 2023
Alavancagem adicional acumulada (Dívida
acumulada/LAJIDA)0,1 0,1 0,2 0,3
40
Para tentar responder a essa pergunta utilizaremos os dados históricos publicados pela companhia
de crescimento de economias de esgoto e economias de água para construir a seguinte análise:
1) Ano a ano coletar o crescimento do índice e quanto de investimento foi realizado pela
companhia.
2) Atualizar monetariamente até 2016 o valor do investimento realizado em cada um desses
anos.
Tal análise é demonstrada na tabela a seguir:
Sendo assim observa-se que no período de 2012-2015 a COPASA realizou uma média de R$1,2
bilhão de investimentos ao ano (a valores de 2016), tendo o crescimento do Índice de Tratamento
apresentado uma média de 1,1% ao ano.
Apesar da falta de informação tornar a análise complicada, é possível sugerir que para alcançar a
meta preliminar da ARSAE, de 2,26% de crescimento do índice ao ano, o investimento necessário
possivelmente deveria bem maior do que a média realizada de R$1,2 bilhão.
Vale notar que essa análise superdimensiona o resultado pois considera que todo investimento
geraria necessariamente um incremento do índice e, que todos os investimentos foram prudentes
porém subdimensiona o investimento marginal necessário para crescimento do Índice de
Tratamento, pois desconsidera o fato de que o crescimento marginal de tratamento de esgoto
tende a ser sempre mais caro, uma vez que parte-se para áreas mais complexas do ponto de vista
operacional, com menor densidade demográfica e maior distância das ETEs/ETAs, é esperado que
os investimentos sejam cada vez maiores.
Além disso, no fim de 2007 a COPASA possuía 611 concessões de água e 184 concessões de
esgoto, enquanto que no fim de 2016 ela possuía 635 concessões de água e 299 de esgoto, um
crescimento de 3,9% e 62,5% respectivamente, o que corresponde a um crescimento inorgânico,
logo não incluso no investimento realizado, portanto subdimensionando o valor do mesmo. Boa
parte dessas novas concessões foram assinadas no período de 2008-2011, o que torna os valores
de crescimento do índice desses anos superdimensionados.
Através dessa análise, acredita-se que o investimento necessário para atingir a meta preliminar de
aumento do IDT de 2,26% por ano levaria a um crescimento muito rápido da alavancagem da
COPASA ao longo do ciclo, muito acima do que ela consegue suportar financeiramente sem se
desequilibrar economicamente.
Ano 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Economias de esgoto 2.200 2.449 2.532 2.709 2.894 3.065 3.213 3.289 3.386
Economias de água 4.010 4.120 4.253 4.402 4.572 4.731 4.880 4.991 5.083
Índice 54,9% 59,4% 59,5% 61,5% 63,3% 64,8% 65,8% 65,9% 66,6%
Crescimento do Índice 2,42% 4,58% 0,08% 2,69% 1,80% 1,50% 1,10% 0,10% 0,70%
Investimento realizado 780 1060 982 830 841 981 1187 964 426
Inflacionado até 2016 1291 1681 1471 1167 1117 1230 1399 1027 426
(a) Somatório dos investimentos de 2008-2016 (em R$milhões) 10810
(b) Crescimento total do índice em pontos percentuais (2008-16) 14,97
Investimento implicíto para crescimento de 1% no índice (a)/(b) 722,2
41
Fator 3: Capacidade Operacional e Gestão de Riscos
Além de analisar se a meta definida pela ARSAE possui respaldo histórico e se é financeiramente
viável, é importante também entender se operacionalmente essa meta pode ser atingida, uma vez
que dependendo da meta ela pode apresentar desafios operacionais nunca antes realizados pela
empresa e nem pelo setor.
De acordo com o plano de investimentos da COPASA, traçado no fim de 2016, a empresa planeja
realizar um investimento médio anual de R$640 milhões ao longo dos próximos 5 anos.
Sendo assim, qualquer necessidade de investimento muito maior do que a prevista pelo plano de
negócios da empresa levaria tempo para ser implementada, uma vez que levaria à necessidade de
realização de novos estudos para novos projetos, contratação de empreendimentos, e aumento
da quantidade de equipes em campo para poder realizar todo o investimento.
Além disso, uma mudança repentina pela empresa no plano de investimentos pode levar a
projetos com execução abaixo do desejado o que acarretaria em uma piora na qualidade do
serviço prestado, que não é de interesse da ARSAE nem da sociedade. De acordo com a análise
anterior, seria necessário bem mais de R$1,2bi para atingir a meta preliminar proposta pela
ARSAE, ou seja, mais do que o dobro do planejado pela empresa.
Somado a isso, é importante ressaltar que todo investimento planejado possui um parcela de
riscos que é passível de ser gerenciada pela companhia, porém existem outros que não são
capazes de serem controlados pela empresa por dependerem de entidades independentes como
os processos de licitação, licenciamento ambiental, desapropriação, dentre muitos outros.
Apesar da proposta de se tentar incentivar um incremento da atividade ser interessante e existir a
percepção de que naturalmente existe a possibilidade de se melhorar sempre o que vem sendo
feito, a proposição de metas extremamente agressivas e, nesse caso, não somente com incentivos
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mas também com punições severas para o não cumprimento das metas pode gerar inclusive um
efeito totalmente oposto ao objetivo, fazendo com que, ao invés de incentivada, a empresa tenha
cada vez mais dificuldade de alcançar o seu objetivo.
Trazendo números reais e para facilitar a análise utilizando dados presentes na tabela 1
apresentada na Nota Técnica CRFEF 55/2017 proposta, caso a companhia escolhesse uma meta
próxima da sua média histórica como, por exemplo 1,26%, e entregasse como resultado
exatamente a meta escolhida, teria uma redução de 1,20% em sua receita tarifária, ou algo
próximo a R$ 50 milhões.
Se considerados os números apresentados anteriormente nesse estudo, onde foi calculado que o
recurso “livre” para investimentos seria de R$ 330 milhões, o impacto dessa redução seria de mais
de 15% de volume de recursos.
Portanto acreditamos ser importante entender com a COPASA qual a real capacidade operacional
da empresa em termos de execução de crescimento de IDT e também quanto tempo que a
empresa levaria para se adequar à nova necessidade de investimentos em linha com as metas
definidas pela ARSAE.
Vale notar que o índice de tratamento em países desenvolvidos é de 80-85%, uma realidade ainda
extremamente distante da brasileira e da COPASA. E embora acreditemos que estes números
devem ser utilizados como meta para a COPASA, essa meta só será possível no longo prazo (15-20
anos).
Figura 14 - Percentual da população com acesso a tratamento de esgoto Fonte: OECD, ONU.
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43
PROPOSTAS
Uma vez demonstrado que a atual meta parece inviável do ponto de vista histórico, financeiro e
operacional na atual conjuntura da COPASA, propomos as seguintes modificações:
1. De forma a se definir uma meta de tratamento de esgoto, construir um estudo em conjunto
com a COPASA para se definir qual a real capacidade da empresa, dado suas condições
financeiras e operacionais.
2. Redefinição da meta regulatória de aumento anual do IDT para um número mais realista e
em linha com o histórico preliminarmente, caso não haja tempo para realizar esse estudo.
3. Implantação de uma meta progressiva de aumento do IDT a partir do próximo ciclo.
Acreditamos que ao se aplicar uma meta gradual a ARSAE forneceria tempo e poderia auxiliar com
fiscalização e estudos de forma que a COPASA possa adequar-se operacionalmente e
financeiramente à nova realidade em termos de metas operacionais e investimento anual.
A lógica de se aplicar uma meta progressiva ao longo do ciclo partindo do ponto atual possui
amplo respaldo em outras regulações e pela própria ARSAE como pode ser observado a seguir na
própria metodologia de custos operacionais.
Meta de custos operacionais: é de comum prática pelas agências reguladoras, como por
exemplo a ANEEL e a própria ARSAE, ao se definir um custo operacional regulatório de
benchmark, não aplicar este custo à tarifa da empresa no primeiro ano, mas sim fazer com
que este custo seja incorporado na tarifa ao longo do ciclo de 4 anos através de um fator
de produtividade. Isso para permitir com que a empresa tenha 4 anos para adequar-se a
essa nova realidade de custos operacionais.
Acreditamos que a mesma lógica vale para a meta de redução anual de perdas e aumento do IDT
da COPASA, uma vez que não é factível que a empresa consiga somente em um ano adequar toda
a sua estrutura de equipe de acompanhamento de obras, estrutura de capital e equipes de campo
operacionais para visando aumentar sua cobertura de tratamento de esgoto, constantemente, em
um ritmo mais acelerado que o histórico e planejado.
Além disso, é de entendimento da ARSAE que para se realizar uma obra de tratamento de esgoto a
empresa precisa realizar os estudos para o planejamento da obra, lançar editais públicos para
contratação de empresas para realizar os investimentos e, em seguida, iniciar as obras.
Uma vez que as metas propostas pela ARSAE muito provavelmente estariam distantes do plano
atual de investimentos da COPASA, que é suficiente apenas para cobrir a depreciação regulatória
ao longo do ciclo, para que a empresa se adeque à nova realidade operacional levaria no mínimo
2-3 anos. Sendo assim, acreditamos ser impossível da COPASA atingir qualquer meta proposta
pelo regulador que seja diferente do que já está planejado pela companhia nos próximos anos.
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Portanto em nossa visão, o ideal é que a ARSAE aplique integralmente a nova meta de aumento do
IDT a partir do início do próximo ciclo tarifário e que até lá sejam realizados estudos pela COPASA
e pela ARSAE de modo a estabelecer uma meta baseada nas reais capacidades financeiras e
operacionais da empresa.
4. Considerar no cálculo da BRR os investimentos a serem realizados de forma a atingir as
metas propostas pela ARSAE.
Das nossas propostas, a mais importante é a de, após verificada com a companhia a capacidade
operacional real de se executar tais projetos, considerar no cálculo da BRR para fins de
remuneração do capital, além dos investimentos para repor a depreciação regulatória, todo o
investimento ao longo do ciclo que precisa ser realizado de forma a atingir as metas definidas pela
ARSAE.
Isso se deve pois:
A remuneração desses investimentos garante que a COPASA possuirá na tarifa o recurso
necessário para pagamento dos passivos financeiros atrelados a esses investimentos
(custo de capital de terceiros), que caso não possuam remuneração atrelada, levariam a
um crescimento rápido da alavancagem do prestador.
Como demonstrado ao longo deste documento, a atual metodologia para cálculo da BRR
que será remunerada ao longo do ciclo, considerando apenas a depreciação, leva a um
retorno regulatório sobre o investimento médio do ciclo muito inferior ao WACC
regulatório, o que desincentiva o prestador a investir e, portanto, a atingir as metas
operacionais propostas pela ARSAE.
Não considerar no cálculo da BRR os investimentos necessários para cumprimento das
metas impostas pela ARSAE não condiz com a Lei 11.445/2007, que estabelece que as
tarifas instituídas pelo regulador devem remunerar o capital investido pelo prestador de
serviço e gerar os recursos necessários para realização dos investimentos necessários para
o cumprimento das metas do serviço, que estão sendo definidas pela Arsae na
metodologia de Incentivos Tarifários. Como pode ser observado a seguir na lei:
Art. 29. Os serviços públicos de saneamento básico terão a sustentabilidade econômico-
financeira assegurada, sempre que possível, mediante remuneração pela cobrança dos
serviços:
(...)
§ 1o Observado o disposto nos incisos I a III do caput deste artigo, a instituição das tarifas,
preços públicos e taxas para os serviços de saneamento básico observará as seguintes
diretrizes:
(...)
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III - geração dos recursos necessários para realização dos investimentos, objetivando o
cumprimento das metas e objetivos do serviço;
(...)
VI - remuneração adequada do capital investido pelos prestadores dos serviços;
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Contribuição 5: Compartilhamento de Outras Receitas
1. Introdução
NOTA Técnica CRFEF 37 da ARSAE:
“Dentre os objetivos da regulação (artigo 22), inclui-se a definição de tarifas que assegurem tanto
o equilíbrio econômico e financeiro quanto a modicidade tarifária, mediante mecanismos que
induzam a eficiência e eficácia dos serviços e que permitam a apropriação social dos ganhos de
produtividade.”
Devido à essência da prestação dos serviços de utilidades públicas como saneamento, distribuição
de energia elétrica e gás, é comum que as concessionárias possuam outras fontes de receitas, não
provenientes diretamente da tarifa e que seja analisado o consequente compartilhamento dos
ganhos decorrentes dessas receitas com o consumidor.
Tal dispositivo é inclusive diretamente mencionado na Lei Nº 8.987 de 13 de fevereiro de 1995,
que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos, onde fica
claro que cada agência deve analisar essas receitas e avaliar como considerá-las tendo com vistas
a favorecer a modicidade tarifária, conforme demonstrado abaixo:
“Capítulo IV
DA POLÍTICA TARIFÁRIA
(...)
Art. 11. No atendimento às peculiaridades de cada serviço público, poderá o poder concedente
prever, em favor da concessionária, no edital de licitação, a possibilidade de outras fontes
provenientes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos associados, com
ou sem exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade das tarifas, observado o disposto no
art. 17 desta Lei.
Parágrafo único. As fontes de receita previstas neste artigo serão obrigatoriamente
consideradas para a aferição do inicial equilíbrio econômico-financeiro do contrato.”
Como não há definições claras sobre como deve ser a condução da análise de tais itens, o que se
vê analisando as diversas regulações no Brasil, é que é discricionário de cada agência reguladora a
interpretação de como essas “Outras Receitas” devem ser consideradas para o cálculo da Receita
Tarifária ou Requerida da companhia.
A definição, porém, que é amplamente utilizada é de que essas receitas são provenientes de
atividades complementares e/ou adicionais à prestação do serviço público por parte das
concessionárias e que, usualmente, não têm uma estrutura de custos plenamente dissociada da
atividade regulada.
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Essa contribuição tem como objetivo traçar uma análise comparativa de como outras agências
reguladoras abordam o assunto e mostrar algumas distorções criadas com a metodologia da Nota
Técnica disponibilizada pela ARSAE, notadamente a reversão da receita de aplicações financeiras.
2. Definições da ARSAE e comparação com outras regulações
A ARSAE na Nota Técnica CRFEF 50/2016 definiu os seguintes grupos de “Outra Receitas”:
As “Outras Receitas – Operacionais” compreendem as “receitas de atividade de apoio aos serviços
de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Por exemplo, podem ser destacadas as
receitas oriundas de ligações e religações de água e de esgoto, de conserto de hidrômetro,
assistência técnica e perfuração de poços” e possuem, nessa regulação, tratamento de reversão
total.
Já as “Outras Receitas – Financeiras” incluem “as receitas decorrentes de investimentos diversos e as obtidas em razão de aplicação de multas e sanções por parte do prestador” e terão uma análise feita de maneira individual, enquanto que as demais não listadas serão enquadradas no item “Outras Receitas – Diversas”. A tabela com o resumo do material levantado nas demais regulações está a seguir (a lista total com a metodologia utilizada por cada agência pode ser encontrada em anexo):
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Em geral, vemos uma lógica parecida, principalmente relativa aos itens a serem considerados, havendo uma maior divergência em relação ao percentual de reversão. Algumas das agências analisadas costumam considerar um percentual de reversão parcial, pois consideram que a companhia precisa ter incentivo para continuar e expandir a prestação do serviço. A Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Infraestrutura do Paraná (AGEPAR) por exemplo descreve esse raciocínio na nota “Metodologias para Revisão Tarifária Periódica – RTP”: “O nível de compartilhamento de Outras Receitas deve ser equilibrado entre a concessionaria e os consumidores de modo a beneficiar ambos. Caso o nível de compartilhamento seja muito elevado, haverá uma redução da atratividade econômica para a concessionária, ensejando um baixo incentivo de execução de atividade complementares/adicionais.” Outras agências reguladoras como a ARSESP e a própria ARSAE, possuem uma visão mais crítica e consideram que, uma vez que já existe um custo associado à prestação desses serviços na tarifa e que eles teriam correlação com um eventual aumento de receita tarifária, estas receitas devem ser totalmente revertidas à modicidade tarifária, não havendo necessidade de se manter um incentivo extra. Apesar das divergências nesse tema e alguns outros menos expressivos, acreditamos que eles podem ser considerados itens mais passíveis de interpretação, portanto mais sujeitos a discordâncias.
3. O período de observação
Um dos pontos comentados em outras regulações, e que concordamos, é que a utilização de um período de referência de apenas 12 meses anteriores à data da revisão gera um efeito que pode tornar a captura do compartilhamento, se não ineficiente, pelo menos com uma eficácia reduzida.
Agência ARSAE AGEPAR ARSESP ANEEL ADASA ARESC ARPE
Estado MG PR SP Nacional DF SC PE
Prestador COPASA SANEPAR SABESPDistribuidoras
de En. ElétricaCAESB (2º Ciclo) CASAN COMPESA
Outras Receitas
OperacionaisSim / 100% Sim / 25% Sim / 100% Sim / 60% Sim / 50% Sim / 50% Sim / 100%
Multas/Sanções Sim / 100% Não Sim / 100% Não Não Não Não
Juros Não Não Sim / 100% Não Não Não Não
Juros de Aplicações,
Dividendos e JCPSim / 90% Não Não Não Não Não Não
Programas Específicos Sim / 100% Não Sim / 100% Sim / 30 a 60% Não Não Não
Outras Receitas Gerais Sim / 100% Não Sim / 100% Sim / 30 a 60% Sim / 10 a 50% Sim / 10 a 50% Individual
Periodo de Medição 12 meses 12 mesesMédias de 2/3
anos12 meses
Média de 48
meses
Média de 48
meses??
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Isso acontece, pois como o objetivo da captura de um percentual das outras receitas é compartilhar desde o início com o consumidor parte desse benefício futuro, e o cálculo da tarifa para todo o ciclo é feito apenas com base em dados do ano anterior ao ciclo em questão, o impacto prático é que caso haja um evento não-recorrente de aumento nessa receita, ele repercutirá por todo o ciclo tarifário, ou seja, capturará um montante em prol da modicidade tarifária muito maior do que o valor financeiro que essa própria receita gerou para a companhia.
4. A captura de “Receitas de Aplicações Financeiras”
A principal conclusão da análise das regulações que se tornou mais evidente acabou ocorrendo no próprio caso da ARSAE, que incluiu na regulação do Estado de Minas Gerais algo que não havia sido apropriado em nenhuma das outras metodologias estudadas:
“As receitas financeiras, bem como os juros sobre capital proprio e os dividendos são oriundos de atividades não finalísticas do prestador. Nesse sentido, e a fim de compartilhar com os usuários os ganhos econômicos oriundos de receitas adicionais não previstas, o valor desse grupo terá o percentual de 90% revertido para a modicidade tarifaria.” Em geral, mesmo quando existem menções às “Receitas Financeiras” nas regulações estudadas, esses costumam ser componentes financeiros (multas e juros que visam a concessionária devido à conduta inadequada dos consumidores), porém sempre detendo uma correlação direta com a atividade fim do prestador. O Caixa das companhias, segundo a contabilidade, é a conta onde são registrados os recursos imediatamente disponíveis e que são mantidos em aplicações financeiras de muito baixo risco e alta rapidez de resgate, obtendo rentabilidades módicas, usualmente bem próximas à SELIC, a taxa básica de juros da economia. Isso ocorre porque essas aplicações têm como objetivo único assegurar a liquidez da companhia frente a incertezas ou custos de curto prazo, não possuindo perfil de investimentos moderado ou agressivo, e sim a manutenção do mínimo custo de oportunidade para que não haja perda do valor do dinheiro no tempo. A gestão desse volume financeiro faz parte da avaliação interna de riscos operacionais e financeiros da companhia, não podendo os juros dessa aplicação serem considerados como “outras fontes provenientes de receitas alternativas, complementares, acessorias”, conforme descrito no artigo 11 da Lei Nº 8.987 de 13 de fevereiro de 1995 e, consequentemente, não deveriam ser elegíveis a reversão em prol da modicidade tarifária. Além disso, a gestão desse caixa é relevante para as tomadas de decisão referentes à contínua definição da estrutura ótima de capital, que levará em consideração a conjuntura econômica na qual a companhia está inserida e as melhores ações com vistas a maximizar a sua geração de recursos para fazer frente às suas obrigações. A reversão desses valores, se analisada em conjunto com outros fatores da metodologia de revisão tarifária, também citados em nossas contribuições, gera uma distorção que acaba por ter um
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resultado prático único: a indução à companhia de deter uma gestão de caixa agressiva e, provavelmente, não ótima dos seus recursos. Alguns dos incentivos perversos que são dados por essa captura são listados a seguir (todos eles correlacionados e dependentes um dos outros):
1. Distribuição maior de dividendos ou maior amortização de dívidas: Duas delas, as mais fáceis pois dependem apenas de uma decisão do prestador, são a maior distribuição de dividendos ou utilização desse volume para amortização antecipada de dívidas. A distribuição de dividendos precisa ser vista sempre no contexto da melhor alocação de capital e um incentivo para que isso aconteça, mesmo havendo uma geração de valor maior com a retenção desses recursos na companhia, tem impacto direto negativo, tanto para o acionista (que deixa de alocar da melhor maneira possível) quanto para o consumidor (pois esses recursos poderiam ser utilizados em investimentos). Já no caso referente à amortização antecipada de dívidas, é esperado que a companhia saiba fazer uma boa administração de suas emissões de dívidas, sendo assim caso a companhia seja incentivada a amortizar uma dívida cujo custo atual é menor do que o custo marginal de novas captações, ou caso ela seja desincentivada a captar uma dívida com um custo menor do que a rentabilidade atual do seu portfólio de investimentos ela estaria tendo um incentivo perverso a realizar movimentos de amortização de dívida não prudentes do ponto de vista de estrutura de capital. 2. Redução dos investimentos: O terceiro deles, e o que a companhia tem menor capacidade de expandir no curto prazo, é a execução de um maior volume de investimentos. À primeira vista desincentivar a companhia a manter um caixa maior em seu balanço poderia ser visto como um incentivo à companhia para que ela realize mais investimentos, porém na prática o resultado efetivo acaba sendo o oposto. Isso acontece pois para que o investimento seja feito de maneira prudente, principalmente no caso de grandes projetos, são necessários planos de investimentos, diversos estudos de projeto, licitações, licenciamentos, entre outros, sendo assim não é possível precisar o momento exato de desembolso do caixa e quanto mais tempo os recursos ficam parados no caixa, maior a destruição de valor pois quase todo o seu rendimento acaba sendo revertido para redução de tarifa pelo regulador. Sendo assim o incentivo da companhia fica sendo de diminuir o plano de investimentos, principalmente no caso de grandes projetos, mesmo que eles sejam possuam benefícios para os consumidores e os acionistas. 3. Maior assunção de riscos:
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A consequência clara e direta de uma tentativa de forçar uma alocação de recursos a qualquer custo (pois caso eles fiquem parados no caixa o seu rendimento é revertido para a tarifa) é a tomada de riscos maiores operacionais (inadimplência, custos extraordinários, etc), e financeiros (menor cobertura para o serviço de dívida de curto/médio prazo, capital de giro, atraso em financiamentos, etc). 4. Alteração da estrutura de capital ótima da companhia:
Por fim, em se dando incentivos impróprios para a gestão financeira da companhia, estamos distorcendo um dos pilares da metodologia de revisão tarifária que é induzir a companhia e remunerá-la pela estrutura de capital ótima que maximize os benefícios do endividamento (como menor custo e benefício tributário) sem trazer riscos adicionais à companhia.
5. Proposta
Tendo esses pontos expostos, uma vez que tal incentivo perverso tende a gerar um efeito muito mais punitivo na assunção de riscos para companhia do que a reversão poderia gerar de modicidade tarifária a proposta que temos é que as receitas com aplicações financeiras não sejam revertidas, uma vez que entendemos que (i) as mesmas não tem caráter acessório ou complementar, (ii) já são obtidas com base em uma remuneração módica, com objetivo da manutenção do valor do dinheiro no tempo, (iii) que são realizadas com vistas a propiciar uma gestão mais segura dos riscos operacionais e financeiros para a companhia e (iv) são a remuneração justa para que não haja perda do valor do dinheiro no tempo. Além disso, propõe-se que os valores de outras receitas possuam tratamento para exclusão de efeitos não recorrentes com a utilização de uma média dos últimos 48 meses anteriores à data da revisão tarifária, atualizados pelo IGP-M até a data da revisão tarifária e, assim, aplicar a redução do valor resultante para o cálculo da Receita Tarifária.
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ANEEL (Módulo 2: Revisão Tarifária Periódica das Concessionárias de Distribuição - Submódulo 2.7A – Outras Receitas)
ADASA (Nota Técnica nº 009/2016-SEF-SJU/ADASA) e ARESC ( Nota Técnica 00X/2016/ARESC)