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CONTRIBUIÇÃO: Pesquisa/ Analise/ Sistematização/ Produção ... · mas um conjunto de opiniões pré concebidas onde a principal função é valorizar as diferenças biológicas

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CONTRIBUIÇÃO: Pesquisa/ Analise/ Sistematização/ Produção (27/10/2009)

O racismo é a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras. Onde existe a convicção de que alguns indivíduos e sua relação entre características físicas hereditárias, e determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais, são superiores a outros. O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré concebidas onde a principal função é valorizar as diferenças biológicas entre os seres humanos, em que alguns acreditam ser superiores aos outros de acordo com sua matriz racial. A crença da existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade.

Bebedouros diferenciados para brancos e "negros" nos EUA, em 1939. No Brasil, até a década de 60’, em várias cidades do interior de São Paulo e outros Estados, haviam bares/ calçadas/ entre outros locais, onde circulavam somente brancos!!!

O Povo Brasileiro, obra do antropólogo Darcy Ribeiro lançada em 1995, aborda

a história da formação do povo brasileiro. Nela, Darcy Ribeiro descreve que: "[...] Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Como descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da malignidade destilada e instilada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer

mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria." "A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista." O que é DISCRIMINAÇÃO racial?

A Convenção Internacional para a Eliminação de todas as Normas de Discriminação Racial da ONU, ratificada pelo Brasil, diz que: "Discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e/ou exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública" Art. 1. Discriminação racial no trabalho e na profissão!

Atento às estatísticas que sempre apresentam uma realidade desfavorável para negros na colocação no mercado de trabalho, o governo federal vem desenvolvendo um trabalho de conscientização da população para o problema da discriminação racial no emprego e na profissão. Uma das ações foi a criação do Programa de Combate à Discriminação no Trabalho e na Profissão, desenvolvido pelo Ministério do Trabalho em 1995. No ano seguinte, contou com a parceria da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, do Ministério da Justiça. COMBATE À DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO E NA PROFISSÃO

Contando com o apoio de empresas privadas, o programa procura divulgar os conceitos e princípios da Convenção nº 111, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que trata da discriminação no emprego, buscando promover a igualdade de oportunidades de trabalho a todas as raças. Além de atuar nos estados brasileiros, instalando núcleos regionais de combate à desigualdades de oportunidades no trabalho. Já foram instalados núcleos em Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. 21 de Março – DIA INTERNACINAL DA ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL

A Organização das Nações Unidas - ONU - instituiu o dia 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial em memória do Massacre de Shaperville. Em 21 de março de 1960, 20.000 negros protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular. Isso aconteceu na cidade de Joanesburgo, na África do Sul. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão e o saldo da violência foram 69 mortos e 186 feridos. O dia 21 de março marca ainda outras conquistas da população negra no mundo: a independência da Etiópia, em 1975, e da Namíbia, em 1990, ambos países africanos.

A Convenção Internacional para a Eliminação de todas as Normas de Discriminação Racial da ONU, ratificada pelo Brasil, diz que:

"Discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e/ou exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública" Art. 1.

Atento às estatísticas que sempre apresentam uma realidade desfavorável para negros na colocação no mercado de trabalho, o governo federal vem desenvolvendo um trabalho de conscientização da população para o problema da discriminação racial no emprego e na profissão. Uma das ações foi a criação do Programa de Combate à Discriminação no Trabalho e na Profissão, desenvolvido pelo Ministério do Trabalho em 1995. No ano seguinte, contou com a parceria da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, do Ministério da Justiça.

Combate à Discriminação no Trabalho e na Profissão

Contando com o apoio de empresas privadas, o programa procura divulgar os conceitos e princípios da Convenção nº 111, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que trata da discriminação no emprego, buscando promover a igualdade de oportunidades de trabalho a todas as raças. Além de atuar nos estados brasileiros, instalando núcleos regionais de combate à desigualdades de oportunidades no trabalho. Já foram instalados núcleos em Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.

A Organização das Nações Unidas - ONU - instituiu o dia 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial em memória do Massacre de Shaperville. Em 21 de março de 1960, 20.000 negros protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular. Isso aconteceu na cidade de Joanesburgo, na África do Sul. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão e o saldo da violência foram 69 mortos e 186 feridos.

O dia 21 de março marca ainda outras conquistas da população negra no mundo: a independência da Etiópia, em 1975, e da Namíbia, em 1990, ambos países africanos.

Conferência mundial na África do Sul, em 2001

De 31 de agosto a 7 de setembro de 2001 ocorreu a III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância em Durban, na África do Sul.

Temas urgentes e polêmicos sacudiram a conferência, da qual fizeram parte 173 países, 4 mil organizações não governamentais (ONGs) e um total de mais de 16 mil participantes. O Brasil estava presente, com 42 delegados e cinco assessores técnicos.

Um importante papel coube ao nosso país: Edna Roland, mulher, negra e ativista foi a relatora geral da conferência, representando também as minorias vítimas de discriminação e intolerância.

A proposta de um programa de criação de cotas para estudantes negros nas universidades públicas brasileiras foi apresentada e gerou polêmica.

Ao fim da Conferência, foram elaboradas uma Declaração e uma Plataforma de Ação, a fim de direcionar esforços e concretizar as intenções da reunião.

Debatendo a discriminação no Fórum Social Mundial - 2002

A Conferência Especial África/Brasil, no Fórum Social Mundial - 2002, serviu para colocar em

dia assuntos referentes à realidade dos negros e afro-descendentes, tanto no Brasil quanto no continente africano.

Os conferencistas, entre os quais se incluíam Taoufik Bem Abdallah, Aminata Traore, Benedita da Silva e o animador Jacques d'Adesky, estavam de acordo quanto à importância do FSM 2001 para a união entre povos afro-descendentes brasileiros e africanos, resultando na Conferência Especial em fevereiro de 2002. Foi ainda mais clara a repercussão positiva da Conferência Mundial Contra o Racismo, Xenofobia e Intolerância, ocorrida em Durban, em 2001, para que as discussões tomassem corpo e fossem levadas ao Fórum deste ano.

O principal tópico de discussão foi a tese das reparações, que já passou da hora de sair do papel. Esta tese propõe a compensação dos povos pelos danos materiais e morais causados pelo colonialismo e pela escravidão.

Neste ponto, Brasil e África têm problemas semelhantes: ambos foram vítimas destes fatos históricos. Reparar estes danos, então, torna-se necessário. Mas não apenas financeiramente - eticamente, também. E sem esquecer que, por mais alto que seja o valor econômico estipulado para tal "reparação", ela nunca é completa e este valor sempre será simbólico. Afinal, como medir a dor e o sofrimento?

O mundo todo deve colaborar no processo. A começar pelos valores transmitidos pela mídia, pelos sistemas de educação, na família e na comunidade.

Você aprendeu história da África? O que sabe sobre seus costumes e religiões? Que imagem você recebe dos africanos e dos afro-descendentes? E nos outros países, como são vistos os negros e sua cultura? Com certeza eles ocuparam pouco espaço nas cartilhas das escolas do mundo.

Uma questão levantada nesta conferência merece atenção. Trata-se do fato de se realizarem, efetivamente, estas mudanças sugeridas. Porque ninguém quer mais saber de "solidariedade diplomática" entre os países: todos falam, falam e não fazem nada.

Entre as sugestões de ações, as de cunho coletivo seriam as mais viáveis: investimento em educação e qualificação profissional já seriam uma boa iniciativa para criar oportunidades mais justas aos membros das comunidades afro-descendentes no Brasil.

De 31 de janeiro a 5 de fevereiro deste ano, ocorreu em Porto Alegre a segunda versão do Fórum Social Mundial, um importante evento que mobiliza todo o mundo para discutir assuntos globais. O primeiro Fórum, ocorrido em 2001, foi marcado por conferências, seminários e atos políticos, sempre com o foco na valorização da diversidade e nas possibilidades de se construir um mundo melhor.

Dando continuidade ao sucesso de 2001, o Fórum Social deste ano teve o subtítulo "Um outro mundo é possível". Questões urgentes, como a situação da mulher, dos indígenas e dos negros, foram debatidas com entusiasmo no evento marcado principalmente pela reflexão e luta contra as exclusões.

As conferências reuniram redes, movimentos e organizações da sociedade civil que lutam contra a globalização e o neoliberalismo. Também houve Conferências Especiais, voltadas para a continuidade e a divulgação dos projetos que precederam o Fórum de 2002. Um exemplo foi a Conferência Especial África/Brasil, onde se atualizaram os temas da Conferência Mundial Contra o Racismo, Xenofobia e Intolerância, ocorrida em Durban, em 2001.

Além das conferências, também foram realizados seminários internacionais, oficinas para trocas de experiências, coletivas de imprensa, atos políticos (como o Tribunal da Dívida Externa), acampamentos indígenas e de jovens, eventos culturais e muito mais.

Selecionamos para você os trechos da legislação que garantem os direitos civis de todos os brasileiros, independente de raça, sexo ou religião. Confira os itens que falam especificamente de racismo.

Título I - dos princípios fundamentais

Art.3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I. construir uma sociedade livre, justa e solidária; II. garantir o desenvolvimento nacional; III. erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV. promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e

quaisquer outras formas de discriminação.

Título II - dos direitos e garantias fundamentais Capítulo I - dos direitos e deveres individuais e coletivos Art.5° - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XLII. a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.

Consulte a Constituição da República Federativa do BrasilConstituição da República Federativa do BrasilConstituição da República Federativa do BrasilConstituição da República Federativa do Brasil na íntegra.

A Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989, define os crimes resultantes de raça ou de cor e suas respectivas punições.

População negra no mercado de trabalho Pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) mostram uma realidade mais precária enfrentada pelos negros no mercado de trabalho, em comparação com a enfrentada pelos não-negros, quando se consideram dados como as taxas de desemprego, a presença nos diferentes postos de trabalho e os valores dos rendimentos, entre outros. "O aspecto mais perverso da discriminação no espaço de trabalho se dá nos processos de promoção ou mobilidade para cargos de chefia, liderança ou comando, que têm maiores responsabilidades, visibilidade e remuneração", afirma Mércia Consolação Silva, socióloga e consultora do Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdade (Ceert). De fato, os dados do Dieese para a proporção de assalariados negros e não-negros em ocupações de direção e chefia mostram níveis de desigualdade de oportunidades, além de variações regionais, quando se comparam os resultados para as seis regiões metropolitanas pesquisadas: Belo Horizonte, Distrito Federal, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo. Enquanto, por exemplo, na região de Salvador, 10,3% dos negros (pretos e pardos) ocupam cargos de chefia e a porcentagem entre não-negros (brancos e amarelos) é de 29,6%, na região metropolitana de São Paulo, essas proporções são de 4,4% e 15,7%, respectivamente (dados de 2002, apresentados no Boletim Dieese - Novembro de 2002). Para contextualizar, é importante notar que a presença da população negra é maior em Salvador (81,8%) do que em São Paulo (33,0%) (dados do Mapa da população negra no mercado de trabalho no Brasil, encomendado ao Dieese). Entre as principais discriminações sofridas pelos negros no mercado de trabalho, Silva aponta ainda o acesso ao emprego, uma vez que muitas empresas com bons salários e benefícios não contratam negros ou, quando o fazem, são para os postos menos qualificados e com menores remunerações. Além disso, segundo a socióloga, setores como o financeiro e o químico são mais discriminatórios que outros, entre eles o de couro, de alimentação e o metalúrgico. "Mas é importante notar que esses setores são caracterizados por serem menos 'avançados' tecnologicamente, exigindo ainda um trabalhor com habilidades manuais ou com trabalhos que exigem 'menor capacitação' ", acrescenta. "Quanto mais 'nobre' o trabalho, menor a representação de negros e negras", concorda Neide Aparecida Fonseca, presidente do Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial (Inspir). Segundo boletim do Dieese, considerando diferentes ramos de atividade, a proporção de pretos e pardos ocupados é maior nos ramos agrícola, construção civil e prestação de serviços, enquanto os brancos estão mais presentes na indústria de transformação, no comércio de mercadorias, na área social e na administração pública (Tabela 1). Quanto à posição ocupada no trabalho, 13,7% dos pretos e 9,1% dos pardos trabalham, por exemplo, em serviços domésticos, enquanto a proporção de brancos na mesma posição é de 6,3%. Por outro lado, em regime estatutário e como empregadores, há mais brancos (7,3% e 5,8%, respectivamente) do que pretos (6,1% e 1,3%) e pardos

(5,3% e 2,3%) (dados de 2001, apresentados no Boletim Dieese - Novembro de 2002). Tabela 1 - População ocupada, segundo ramo de atividade, por cor (em %) Brasil - 2001

Ramos de Atividade

Branca Preta Parda

Agrícola 16,1 17,5 27,5

Indústria de transformação

14,1 11,2 10,1

Indústria da construção

5,3 10,0 7,7

Outras atividades industriais

1,0 1,3 1,3

Comércio de mercadorias

15,6 11,4 12,7

Prestação de serviços

18,9 27,2 20,9

Serviços auxiliares da atividade econômica

5,6 3,2 2,7

Transporte e comunicação

4,4 4,0 3,9

Social 11,5 8,4 7,7

Administração pública

5,2 4,4 4,3

Outras atividades, mal definidas ou não declaradas

2,3 1,3 1,1

Total 100,0 100,0 100,0

Fonte: IBGE. PNAD 2001 Quanto à discriminação no ambiente de trabalho, de acordo com a socióloga, as formas mais recorrentes e cotidianas são indiretas e institucionais (e não diretas e individuais). Exemplo delas seriam a ausência de um programa que valorize a diversidade e a exclusão dos trabalhadores negros em processos de treinamento e capacitação, o que é, posteriormente, usado como forma de avaliação para promoções ou demissões. Além disso, ela conta que "as fotos e outros instrumentos promocionais da empresa não exibem os negros, causando uma não identificação desses funcionários com o ambiente ou grupo de trabalhadores da empresa". Segundo a presidente do Inspir, os trabalhadores negros muitas vezes não têm consciência da discriminação que sofrem.

Ainda de acordo com Fonseca, muitos trabalhadores conhecem os procedimentos a seguir, quando têm consciência que estão sendo discriminados. No entanto, os departamentos jurídicos dos sindicatos ainda estão pouco preparados para lidar com o tema. Os trabalhadores sabem que a batalha judicial é longa e que o empregador tentará descaracterizar os fatos como discriminação racial ou ainda acreditam que a empresa tentará provar a incapacidade do funcionário, no caso de demissões, ou que a discriminação é individual e não institucional. Segundo Gilcéria Oliveira, advogada, que durante a ditadura militar foi presidente da extinta Associação Cultural do Negro, entidade fundada pelo poeta e teatrólogo negro Solano Trindade, o melhor é procurar uma entidade de defesa dos direitos humanos, como o departamento da Ordem dos Advogados do Brasil, que atua na área. Nesse sentido, de acordo com a consultora do Ceert, a cada dia mais negros procuram a Justiça e as delegacias especiais para denunciarem as discriminações que sofrem. "Mas esse número ainda é muito pequeno se olharmos os dados da realidade e observarmos o quanto o trabalhador negro é cotidianamente discriminado no mercado de trabalho", diz a socióloga. No entanto, segundo a advogada, os direitos dos trabalhadores negros são iguais aos de todos os brasileiros e não existem leis específicas sobre discriminação racial nos locais de trabalho. "Isso porque toda e qualquer discriminação sobre raça, sexo, homossexualismo e outros está proibida no artigo 5º da Constituição Federal, que trata dos direitos e deveres individuais e coletivos", explica ela. Por outro lado, em 1965, o governo brasileiro ratificou a Convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho - OIT e, em 1995, solicitou a cooperação técnica da organização para a implementação dos compromissos assumidos anteriormente, que envolviam formular e aplicar uma política nacional que buscasse a igualdade de oportunidades e tratamento, em matéria de emprego e profissão. Segundo Silva, a convenção ainda não está sendo cumprida pelas empresas, com exceção de algumas multinacionais, que estão começando a implementar programas de diversidade e promoção da igualdade. De acordo com Oliveira, a discriminação racial no mercado de trabalho tem diminuído ao longo do tempo, porque os negros têm tido mais acesso à escola ou mesmo à universidade. "A falta de escolaridade é crucial para os brasileiros, com perda maior para os negros, que também são pobres", argumenta. Silva, por outro lado, considera que a discriminação racial no mercado de trabalho tem mudado de forma. "O governo já admite que há [racismo no Brasil] e está se propondo, a partir de muita pressão do movimento negro e de outros grupos organizados, a pensar, criar e promover políticas públicas que possam reverter esse quadro", comenta a socióloga. Fatores sócio-econômicos Nas seis regiões metropolitanas analisadas pelo Dieese, embora haja diferenças de região para região, as taxas de desemprego são maiores entre os negros do que entre os não-negros. Em Salvador, por exemplo, onde são encontradas as maiores taxas em ambos os casos, 29,0% dos negros encontram-se desempregados, enquanto a taxa entre não-negros é de 19,9%. Em São Paulo, essas taxas são de 23,9% e 16,7%, entre negros e não-negros, respectivamente. Além disso, as mulheres, tanto negras como não-negras, têm taxas de desemprego superiores às médias, em todas as regiões pesquisadas, enquanto as taxas entres os homens, tanto negros como não-negros, são sempre inferiores às médias. Entre os quatro grupos, as mulheres negras têm as maiores taxas de desemprego e os homens não-negros, as menores (Tabela 2).

Tabela 2 - Taxas de desemprego total, por sexo e cor Regiões metropolitanas do Brasil - 2002

Regiões Metropolitanas

Negros Não-Negros

Total Mulheres Homens Total Mulheres Homens

Belo Horizonte 19,9 22,4 17,9 16,1 19,9 12,8

Distrito Federal

23,0 25,2 21,0 17,2 21,2 13,3

Porto Alegre 22,7 24,7 20,8 14,9 17,9 12,5

Recife 22,4 25,8 19,8 19,1 23,3 15,3

Salvador 29,0 32,0 26,2 19,9 21,9 17,9

São Paulo 23,9 27,4 21,0 16,7 20,1 14,0

Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboração: DIEESE Obs.: (a) Dados com base na média do período de janeiro a junho de 2002 (b) Negros inclui pretos e pardos. Não-negros inclui brancos e amarelos Com relação às condições de vida, os níveis de pobreza e indigência mostram que os pardos e os pretos vivem em condições mais precárias do que os brancos: 48,4% dos pardos são pobres e 22,3%, indigentes; as proporções entre pretos são 42,9% e 18,3%, de pobres e indigentes, respectivamente; enquanto 22,6% dos brancos são pobres e 8,1% são indigentes. É importante ainda notar que, em números absolutos, os pardos pobres (30.041) e indigentes (13.841), somados aos pretos pobres (3.597) e indigentes (1.533), são em maior número do que os brancos pobres (19.008) e indigentes (6.862) (dados de 1999, apresentados no Boletim Dieese - Novembro de 2001). Considerando a distribuição das famílias por classes de rendimento médio mensal, as proporções de famílias chefiadas por pretos e pardos que recebem mais de três salários mínimos são de 7,7% e 7,6%, respectivamente, enquanto, entre os brancos, 25,2% estão nessa faixa salarial. Por outro lado, 26,2% das famílias com chefes pretos e 30,4% com chefes pardos recebem menos de meio salário mínimo, sendo a proporção de famílias com chefes brancos nessa situação de 12,7% (Tabela 3). Tabela 3 - Distribuição das famílias por classe de rendimento médio mensal familiar per capita, segundo a cor do chefe (em %) Brasil - 1999

Classes de Rendimento

Famílias segundo a cor do chefe

Branca Preta Parda

Até 1/2 salário mínimo

12,7 26,2 30,4

Mais de 1/2 salário mínimo

20,0 28,6 27,7

Mais de 1 a 3 salários mínimos

37,3 31,1 27,7

Mais 3 a 5 salários mínimos

11,1 4,3 4,4

Mais de 5 salários mínimos

14,1 3,4 3,2

Fonte: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000 Elaboração: DIEESE Ainda com relação aos aspectos sócio-econômicos, os dados da distribuição dos empregados segundo os direitos sociais e benefícios recebidos mostram que a porcentagem de empregados negros e pardos que recebem vale-transporte, vale-refeição e férias é inferior à de brancos, sendo que a situação se inverte apenas no caso do auxílio-moradia. Por exemplo, enquanto 29,84% dos trabalhadores brancos recebem vale-transporte, a porcentagem no caso de pretos e pardos é de 11,80% (Fonte: Pesquisa sobre padrões de vida 1996 - 1997, Rio de Janeiro: IBGE, 1998. Disponível em "Estatísticas do século XX", tema "Trabalho"). Fatores educacionais Considerando diferentes níveis de escolaridade, o valor do rendimento médio por hora no trabalho para pretos e pardos é sempre inferior ao valor para brancos, em cada um dos níveis. Por exemplo, se os anos de estudo variam entre quatro e sete, o valor do rendimento médio é de R$ 1,93 para pretos e pardos e de R$ 2,86 para brancos. Para um nível de escolaridade mais alto, de 12 anos ou mais, os valores são R$ 11,32 para pretos e pardos e R$ 14,44 no caso de brancos (Fonte: Pesquisa sobre padrões de vida 1996 - 1997, Rio de Janeiro: IBGE, 1998. Disponível em www.ibge.gov.br em "Estatísticas do século XX", tema "Trabalho"). Portanto, ainda que uma pessoa negra ou parda tenha estudado o mesmo número de anos que uma pessoa branca, seus rendimentos são menores. Além disso, enquanto o número médio de anos de estudo é de 6,7 para a população de cor branca, o número de anos correspondente para pretos é de 4,5 e para pardos, de 4,6 (dados de 1999, apresentados no Boletim Dieese - Novembro de 2001). Tanto entre negros, como entre não-negros, as taxas de desemprego são mais elevadas entres os trabalhadores que possuem ensino médio incompleto, nas seis regiões pesquisadas pelo Dieese. Em Salvador, para esse grau de escolaridade, a taxa de demsemprego é de 42,1% entre os negros, sendo a maior em comparação com as outras regiões (a taxa entre os não-negros não é apresentada). Por outro lado, independente do grau de escolaridade, as taxas de desemprego são maiores entre negros do que entre não-negros, com exceção do Distrito Federal, para trabalhadores com curso superior, onde as taxas se igualam. Além disso, em Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador, as taxas de desemprego entre trabalhadores que possuem ensino médio completo e ensino superior são inferiores às taxas entre trabalhadores analfabetos e trabalhadores com ensino fundamental incompleto ou completo (Tabela 4).

Tabela 4 - Taxas de desemprego total, por cor e escolaridade (em %) Regiões metropolitanas do Brasil - 2001 Regiões Metropolitanas

Cor Analfabeto

Fundamental Incompleto

Fundamental Completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Superior

Belo Horizonte

Negra

(1) 24,2 23,2 33,8 19,2 (1)

Não-Negra

17,9 15,6 16,3 22,3 12,6 4,8

Distrito Federal

Negra

23,1 27,2 25,5 33,8 19,7 7,3

Não-Negra

15,9 22,0 23,0 30,3 18,3 7,3

Recife

Negra

17,0 22,0 23,3 30,9 22,4 (1)

Não-Negra

(1) 20,5 21,9 29,7 22,5 (1)

Porto Alegre

Negra

(1) 24,2 23,2 33,8 19,2 (1)

Não-Negra

17,9 15,6 16,3 22,3 12,6 4,8

Salvador

Negra

(1) 31,5 29,3 42,1 25,3 (1)

Não-Negra

(1) 26,5 27,3 (1) 19,7 (1)

São Paulo

Negra

16,4 21,4 25,9 32,7 18,1 6,9

Não-Negra

16,2 16,7 17,8 26,4 14,3 6

Fonte: DIEESE/SEADE e entidades regionais. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboração: DIEESE Nota (1) A amostra não comporta desagregação para esta categoria Obs.: (a) Dados com base na média do período de janeiro a junho de 2001; (b) Negros inclui pretos e pardos. Não-Negros inclui brancos e amarelos A exclusão existente no mundo do trabalho também se dá no sistema educacional. Dos 28.234.039 estudantes do ensino fundamental, 52,0% são brancos, 43,1% são pardos e

4,5%, pretos. No ensino médio, que tem 3.760.935 alunos, as proporções correspondentes são 65,3%, 30,1% e 3,3%, para brancos, pardos e pretos, respectivamente, e, cursando o ensino superior, existem 1.665.982 estudantes, sendo 78,6% deles brancos, 17,4% de pardos e 1,4% de pretos (Fonte: Anuário Estatístico do Brasil 1992, Rio de Janeiro: IBGE, v. 52, 1992. Disponível em www.ibge.gov.br em "Estatísticas do século XX", tema "Educação").

PESQUISA/ ANÁLISE/ SISTEMATIZAÇÃO/ COMPILAÇÃO/ ELABORAÇÃO

Nelson Brazilio de Lima – IEPD (25/ 08/ 2015)