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r e v p o r t s a ú d e p ú b l i c a . 2 0 1 5; 3 3(1) :57–70 www.elsevier.pt/rpsp Artigo de revisão Contributo da avaliac ¸ão psicológica no exame clínico de condutores com doenc ¸a neurológica e psiquiátrica: revisão teórica Inês Saraiva Ferreira a,e Mário Rodrigues Simões b a Universidade Europeia, Laureate International Universities, Lisboa. Laboratório de Avaliac ¸ão Psicológica e Psicometria. Centro de Investigac ¸ão do Núcleo de Estudos e Intervenc ¸ão Cognitivo-Comportamental (CINEICC). Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educac ¸ão, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal b Laboratório de Avaliac ¸ão Psicológica e Psicometria. Centro de Investigac ¸ão do Núcleo de Estudos e Intervenc ¸ão Cognitivo-Comportamental (CINEICC). Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educac ¸ão, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal informação sobre o artigo Historial do artigo: Recebido a 29 de outubro de 2012 Aceite a 17 de março de 2014 Palavras-chave: Avaliac ¸ão psicológica Testes cognitivos Conduc ¸ão automóvel Aptidão para a conduc ¸ão Doenc ¸a neurológica Doenc ¸a psiquiátrica r e s u m o Contexto: Os condutores com doenc ¸a neurológica ou psiquiátrica podem apresentar alterac ¸ões cognitivas e comportamentais suscetíveis de diminuir a aptidão para conduzir um automóvel. Um número considerável de investigac ¸ões e publicac ¸ões comprova a utili- dade de instrumentos e protocolos de avaliac ¸ão psicológica para prever o desempenho da atividade de conduc ¸ ão. Objetivo: Documentar dados de investigac ¸ão empírica relativos a testes psicológicos pre- ditores da atividade de conduc ¸ão em pessoas com doenc ¸a neurológica ou psiquiátrica, e contribuir para a sensibilizac ¸ão de médicos profissionais sobre a utilidade de uma avaliac ¸ão psicológica diferenciada no exame clínico de condutores. Método: Pesquisa de literatura em bases de dados científicas (B-On, EBSCO, ISI Web of Kno- wledge, OvidSP, ProQuest, WileyBlackwell), num horizonte temporal de 2000 a julho de 2013. Foram considerados termos de pesquisa específicos e abrangendo patologias como traumatismo crânio-encefálico, acidente vascular cerebral, esclerose múltipla, doenc ¸a de Alzheimer, doenc ¸a de Parkinson, depressão, esquizofrenia e perturbac ¸ão de hiperatividade com défice de atenc ¸ ão. Resultados: Os dados de investigac ¸ão empírica corroboram a validade de instrumentos e pro- tocolos de avaliac ¸ão psicológica, nomeadamente de natureza cognitiva, na identificac ¸ão de casos com diminuic ¸ão da capacidade de conduc ¸ão e maior risco de acidente de viac ¸ ão. Os domínios visuo-percetivo, visuo-espacial, atenc ¸ão visual, func ¸ões executivas mas, também, a velocidade de processamento e memória de trabalho, são documentados sistematica- mente como determinantes da capacidade de conduc ¸ ão. Discussão e conclusões: Uma avaliac ¸ão psicológica especializada poderá constituir um contri- buto decisivo no exame clínico de condutores, permitindo obter elementos relevantes para Autor para correspondência. Correio eletrónico: [email protected] (I.S. Ferreira). http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2014.03.003 0870-9025/© 2012 The Authors. Publicado por Elsevier España, S.L.U. em nome da Escola Nacional de Saúde Pública. Este é um artigo Open Access sob a licença de CC BY-NC-SA (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/).

Contributo da avaliação psicológica no exame clínico de ......Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educac¸ão,Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal informação sobreo

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www.elsev ier .p t / rpsp

rtigo de revisão

ontributo da avaliacão psicológica no examelínico de condutores com doenca neurológica

psiquiátrica: revisão teórica

nês Saraiva Ferreiraa,∗ e Mário Rodrigues Simõesb

Universidade Europeia, Laureate International Universities, Lisboa. Laboratório de Avaliacão Psicológica e Psicometria. Centroe Investigacão do Núcleo de Estudos e Intervencão Cognitivo-Comportamental (CINEICC). Faculdade de Psicologia e de Ciências daducacão, Universidade de Coimbra, Coimbra, PortugalLaboratório de Avaliacão Psicológica e Psicometria. Centro de Investigacão do Núcleo de Estudos e Intervencãoognitivo-Comportamental (CINEICC). Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educacão, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal

nformação sobre o artigo

istorial do artigo:

ecebido a 29 de outubro de 2012

ceite a 17 de março de 2014

alavras-chave:

valiacão psicológica

estes cognitivos

onducão automóvel

ptidão para a conducão

oenca neurológica

oenca psiquiátrica

r e s u m o

Contexto: Os condutores com doenca neurológica ou psiquiátrica podem apresentar

alteracões cognitivas e comportamentais suscetíveis de diminuir a aptidão para conduzir

um automóvel. Um número considerável de investigacões e publicacões comprova a utili-

dade de instrumentos e protocolos de avaliacão psicológica para prever o desempenho da

atividade de conducão.

Objetivo: Documentar dados de investigacão empírica relativos a testes psicológicos pre-

ditores da atividade de conducão em pessoas com doenca neurológica ou psiquiátrica, e

contribuir para a sensibilizacão de médicos profissionais sobre a utilidade de uma avaliacão

psicológica diferenciada no exame clínico de condutores.

Método: Pesquisa de literatura em bases de dados científicas (B-On, EBSCO, ISI Web of Kno-

wledge, OvidSP, ProQuest, WileyBlackwell), num horizonte temporal de 2000 a julho de

2013. Foram considerados termos de pesquisa específicos e abrangendo patologias como

traumatismo crânio-encefálico, acidente vascular cerebral, esclerose múltipla, doenca de

Alzheimer, doenca de Parkinson, depressão, esquizofrenia e perturbacão de hiperatividade

com défice de atencão.

Resultados: Os dados de investigacão empírica corroboram a validade de instrumentos e pro-

tocolos de avaliacão psicológica, nomeadamente de natureza cognitiva, na identificacão de

casos com diminuicão da capacidade de conducão e maior risco de acidente de viacão. Os

domínios visuo-percetivo, visuo-espacial, atencão visual, funcões executivas mas, também,

a velocidade de processamento e memória de trabalho, são documentados sistematica-

mente como determinantes da capacidade de conducão.

: Uma avaliacão psicológica especializada poderá constituir um contri-

Discussão e conclusões

buto decisivo no exame clínico de condutores, permitindo obter elementos relevantes para

∗ Autor para correspondência.Correio eletrónico: [email protected] (I.S. Ferreira).

ttp://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2014.03.003870-9025/© 2012 The Authors. Publicado por Elsevier España, S.L.U. em nome da Escola Nacional de Saúde Pública. Este é um artigo Openccess sob a licença de CC BY-NC-SA (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/).

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decisão e fundamentacão do parecer de aptidão ou inaptidão para a conducão. Com a

finalidade de aumentar o rigor das avaliacões e fundamentar os pareceres emitidos pelos

técnicos, é recomendada uma articulacão de resultados da avaliacão médica e avaliacão

psicológica para a conducão.

© 2012 The Authors. Publicado por Elsevier España, S.L.U. em nome da Escola Nacional de

Saúde Pública. Este é um artigo Open Access sob a licença de CC BY-NC-SA

(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/).

Contribution of the psychological assessment in the clinical examinationof drivers with neurological and psychiatric disease: Theoretical review

Keywords:

Psychological assessment

Cognitive tests

Automobile driving

Fitness to drive

Neurological disease

Psychiatric disease

a b s t r a c t

Background: Drivers with neurological or psychiatric disease may have cognitive and behavi-

oral deficits likely to reduce the ability to drive a car. Considerable research and publications

has shown the utility of instruments and psychological assessment protocols to predict the

performance on driving activity.

Objective: To document empirical data regarding to psychological test predictors of driving

activity in people with neurological or psychiatric disorders, and contribute to the awareness

of medical professionals about the usefulness of a differentiated psychological assessment

in the clinical examination of drivers.

Methods: Literature search in scientific databases (B-On, EBSCO, ISI Web of Knowledge,

OvidSP, ProQuest, WileyBlackwell), in a time period between 2000 and July of 2013. Were

considered specific search terms and covering medical conditions such as traumatic brain

injury, stroke, multiple sclerosis, Alzheimer’s disease, Parkinson’s disease, depression, schi-

zophrenia and attention-deficit hyperactivity disorder.

Results: Research data confirms the validity of instruments and psychological assessment

protocols, particularly of cognitive nature, in identifying cases with impaired driving ability

and increased risk of crashes. Cognitive domains such as visuo-perceptual, visuospatial,

visual attention, executive functions, but also the processing speed and working memory,

are documented systematically as determinants of driving ability.

Discussion and conclusions: A specialized psychological assessment may constitute a decisive

contribution in the clinical examination of drivers, allowing collecting relevant elements to

the process of decision making and justification of the clinical judgment of fit or unfitting

to drive. With the purpose of increasing the accuracy of the assessments and support the

clinical judgments by experts, it is recommended an articulation of results between medical

assessment and psychological assessment for driving.

© 2012 The Authors. Published by Elsevier España, S.L.U. on behalf of Escola Nacional

de Saúde Pública. This is an open access article under the CC BY-NC-SA license

Introducão

As pessoas com diversos tipos de doenca, nomeada-mente doenca neurológica ou psiquiátrica, podem apresentaralteracões cognitivas e comportamentais suscetíveis de com-prometer, de modo temporário ou permanente, o desempenhoda atividade de conducão automóvel. Um número conside-rável de estudos corrobora um maior risco de acidente deviacão em condutores com doenca neurológica, comparativa-mente a condutores sem doenca identificada (casos-controlo)ou com a populacão condutora em geral, em particular: trau-matismo crânio-encefálico1–3 (TCE); acidente vascular cerebral4,5

(AVC); esclerose múltipla6–8 (EM); doenca de Alzheimer9–11 (DA) e

doenca de Parkinson12 (DP). Embora os dados de investigacãosobre o risco de acidente de viacão em condutores comdoenca psiquiátrica sejam relativamente escassos, a depressão, a

(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/).

esquizofrenia e a perturbacão de hiperatividade com défice deatencão são também consideradas potenciais fatores derisco13–15.

No âmbito da avaliacão médica de condutores, um diag-nóstico de doenca neurológica ou psiquiátrica não representa,no entanto, um indicador conclusivo da aptidão para aconducão16. Em pessoas com um mesmo diagnóstico e, inclu-sivamente, com sintomas com o mesmo nível de gravidade,podem coexistir quadros clínicos heterogéneos, associados asituacões de comorbilidade, com distinta influência no fun-cionamento cognitivo e psicomotor, e no comportamentode conducão. Concomitantemente, o consumo regular e/ouprolongado de medicacão psicofarmacológica pode ocasionarefeitos secundários na conducão de veículos a motor. Refe-

renciando apenas algumas substâncias representativas, asbenzodiazepinas17, os antidepressivos18 (nomeadamente ostricíclicos) e os antipsicóticos19 (especialmente os atípicos) são
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uscetíveis de afetar a capacidade de controlo de comandose.g., volante, pedais), o posicionamento lateral do veículo nastrada, a regulacão da velocidade e os processos de tomadae decisão. De modo a possibilitar a identificacão de casos comlteracões cognitivas e psicomotoras suscetíveis de limitar oxercício da conducão em seguranca, pode ser recomendadama avaliacão psicológica especializada no exame de condu-ores.

A atividade de conducão exige, de modo simplificado, antegridade, coordenacão e rapidez de diferentes processos psico-ógicos de natureza cognitiva: perceber e atender os múltiplosstímulos do ambiente rodoviário, interpretar as situacões derânsito, decidir sobre as acões necessárias, planear e exe-utar acões, e processar o feedback de modo a determinar

necessidade de novas acões13. A presenca de défices nes-es domínios, incluindo a percecão, atencão e funcionamentoxecutivo, é frequente em pessoas com doenca neurológicau psiquiátrica14. O exame dos processos cognitivos intrínse-os ao desempenho da tarefa de conducão constitui o objetivoentral da avaliacão psicológica de condutores, cujos resulta-os evidenciam utilidade na previsão desta atividade.

Existem evidências empíricas de que a avaliacão médica pouco sensível e específica no exame de funcões cogniti-as que determinam a capacidade de conducão. Embora possaer determinante no processo de avaliacão e instrucão deondicões médicas suscetíveis de influenciar o desempenhoa conducão (funcões sensoriais e motoras, doencas cróni-as, comorbilidades, medicacão, etc.), não inclui o recurso anstrumentos e técnicas de avaliacão psicológica, imprescindí-eis para uma avaliacão formal, estandardizada e quantificadae alteracões cognitivas suscetíveis de afetar a seguranca daonducão20–22.

Os pedidos de parecer psicológico por parte de médicosesponsáveis por atestados para a conducão são, no entanto,elativamente escassos em comparacão com a proporcão deessoas com doenca neurológica ou psiquiátrica, e que con-inuam a conduzir. Uma explicacão para este fato poderáorresponder à falta de formacão formal no domínio do examelínico de condutores23,24, limitando a possibilidade de umabordagem avaliativa holística e diferenciada. Neste contexto,

expectável que um largo número de utentes não seja refe-enciado e examinado de um modo rigoroso nas suas aptidõesognitivas para a conducão.

O presente texto tem como objetivo uma revisão teórica daiteratura sobre testes psicológicos preditores do desempenhoa atividade de conducão em pessoas com doenca neuroló-ica ou psiquiátrica, procurando ilustrar a utilidade de umavaliacão psicológica diferenciada no exame clínico de con-utores.

étodo

presente revisão foi baseada numa pesquisa de literaturam bases de dados científicas (B-On, EBSCO, ISI Web of Kno-ledge, OvidSP, ProQuest, WileyBlackwell), num horizonte

emporal de 2000 a julho de 2013, incluindo os idiomas inglês,rancês, espanhol e português. Foram considerados os seguin-es termos de pesquisa: driving, automobile, fitness to drive,ccidents, crash, road test, cognitive, psychological assessment,

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neuropsychological assessment, testing, stroke, brain injury, multiplesclerosis, dementia, Alzheimer’s, Parkinson’s, depression, schizoph-renia e attention-deficit hyperactivity disorder.

Os critérios de selecão dos estudos incluíram os seguin-tes: (a) estudos documentados em artigos de periódicos comarbitragem científica; (b) estudos com dados de investigacãoempírica que corroboram a validade de instrumentos ou pro-tocolos de avaliacão psicológica em relacão a medidas dedesempenho da conducão (provas em contexto real de trân-sito e/ou dados sobre acidentes); (c) estudos com amostrasreferentes a condutores com diagnóstico clínico específico,nomeadamente doenca neurológica (acidente vascular cere-bral, esclerose múltipla, doenca de Alzheimer, doenca deParkinson, traumatismo crânio-encefálico) ou psiquiátrica(depressão, esquizofrenia, perturbacão de hiperatividade comdéfice de atencão).

A escolha das patologias foi baseada em critérios de inci-dência e de impacto funcional a nível global, incluindo cincodas dez doencas neurológicas mais frequentes (em conjuntocom a epilepsia, cefaleias crónicas, neuropatias, perturbacõesneurológicas associadas a infecões e má nutricão)25 e duasdoencas psiquiátricas (depressão e esquizofrenia) com maiorrisco de incapacidade funcional26. A perturbacão de hiperati-vidade com défice de atencão foi ainda objeto de revisão, sendoreferenciada como a doenca psiquiátrica com mais dados con-sistentes de efeito negativo na conducão13.

Resultados

De acordo com os critérios de selecão dos estudos, foramidentificados 36 artigos referentes a condutores com doencaneurológica (tabela 1): traumatismo crânio-encefálico (n = 4),acidente vascular cerebral (n = 7), esclerose múltipla (n = 5),doenca de Alzheimer (n = 12) e doenca de Parkinson (n = 8).

No âmbito dos estudos, a revisão de literatura é apresen-tada por patologia e de acordo com as seguintes rubricas:características gerais do quadro clínico e aspetos epidemi-ológicos; importância da atividade de conducão; alteracõescognitivas representativas e impacto na conducão; testespsicológicos preditores de desempenho na atividade deconducão.

No campo das doencas psiquiátricas, uma vez que nãoforam identificados estudos de natureza empírica sobre aassociacão entre testes psicológicos e medidas de desempe-nho da conducão, foram documentados dados de investigacãosugestivos da utilidade da avaliacão psicológica para aconducão nesta populacão clínica.

Doencas neurológicas

Traumatismo crânio-encefálico

Características gerais do quadro clínico e aspetos epidemiológicos.O TCE resulta de uma forca mecânica na caixa craniana

associada a lesões focais ou difusas do encéfalo. O tipo delesão depende da natureza e magnitude da forca aplicada, dasua duracão e do local de aplicacão, podendo ainda ocorreremlesões cerebrais secundárias associadas a alteracões celulares
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Tabela 1 – Síntese de características e resultados dos estudos selecionados (doenca neurológica)

PatologiaPrimeiro autor, ano,referência

• Amostras• Medidas de conducão

Resultados principais

TCEColeman

200227• 71 TCE• A (dados reportados/4 meses a 10 anos apósTCE)

Resultado compósito em testes neurocognitivos (Color Trails Test, Matrizes e SequênciasLetras-Números [WAIS-III]*) apresenta correlacão moderada (r = 0,34) com envolvimentoem acidentes.

Radford200428

• 52 TCE• CR (apto/inapto)

SDSA*, Stroop* e AMIPB (Information Processing) classificam corretamente 87% (64%sensibilidade, 95% especificidade).

Novack200629

• 60 TCE• CR (apto/inapto)

UFOV − 2* e TMT − B* são preditores do resultado na conducão (explicam 32 e 29% davariância, respetivamente).

Rapport200830

• 251 TCE• A (dados oficiais e reportados/3 meses a 15após TCE)

Resultado compósito em testes neurocognitivos (Symbol Digit Modalities Test, Judgement ofLine Orientation, Sequências Letras-Números [WAIS-III]*, Stroop*, California Verbal LearningTest − II [total ensaios 1 − 5], TMT [A e B]* e Digit Vigilance Test) apresenta correlacão comenvolvimento em acidentes.

AVCLundqvist

200031• 30 AVC, 30 controlos• CR (apto/inapto)

Complex Reaction Time classifica corretamente 83% da amostra global.

Akinwuntan200232

• 104 AVC• CR (0 − 40 pontos)

FCR − cópia* explica 24% da variância na conducão.

Lundberg200333

• 97 AVC• CR (apto/inapto)

SDSA* classifica corretamente 78% dos condutores.

Uc200434

• 32 AVC, 104 controlos• CR (erros)

Cubos (WAIS-III)* é preditor de erros que comprometem a seguranca; UFOV* eFCR − memória* são preditores de erros de navegacão em condutores com AVC.

Akinwuntan200535

• 38 AVC• CR (apto/inapto)

SDSA* classifica corretamente 79% dos condutores.

Akinwuntan200636

• 68 AVC• CR (49-196 pontos)

Provas do SDSA* (Dot Cancellation, Square Matrices), Incompatibility Test e outra variávelclínica (acuidade binocular) explicam 35% da variância na conducão.

George201037

• 66 AVC• CR (apto/inapto)

UFOV − 2* classifica corretamente 78% (86% sensibilidade, 69% especificidade) e SDSAclassifica 75% (71% sensibilidade, 78% especificidade) dos condutores.

EMSchultheis

20027• 27 EM,17 controlos• A (dados oficiais/últimos 5 anos)

Incidência de acidentes superior em condutores com EM e resultados inferiores nos Cubose Código (WAIS-III)*, Stroop* e TMT (A e B)*.

Lincoln200838

• 34 EM• CR (apto/inapto)

SDSA* (Dot Cancellation, Road Sign Recognition) e AMIPB (Design Learning, Information Processing)classificam corretamente 88% dos condutores (85% sensibilidade, 90% especificidade).

Schultheis20108

• 66 EM• A (dados oficiais/últimos 5 anos) e CR(apto/inapto)

Symbol Digit Modalities Test classifica corretamente 84% (86% sensibilidade, 75%especificidade) dos resultados na conducão e 7/24 Spatial Recall Test classifica corretamente70% (74% sensibilidade, 55% especificidade) dos condutores com/sem acidentes.

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– Tabela 1 (Continued)

PatologiaPrimeiro autor, ano,referência

• Amostras• Medidas de conducão

Resultados principais

• Akinwuntan201239

• 44 EM• CR (apto/inapto)

SDSA* classifica corretamente 86% dos condutores com EM (80% sensibilidade, 88%especificidade).

• Akinwuntan201240

• 44 EM• CR (apto/inapto)

Stroop*, UFOV − 1* e provas do SDSA* (Square Matrices e Road Sign Recognition) classificamcorretamente 91% dos condutores (70% sensibilidade, 97% especificidade).

DAZuin

200241• 56 DA, 31 controlos• A (dados reportados/últimos 3 anos)

Blessed Dementia Rating Scale é preditor de acidentes em condutores com DA.

Duchek200342

• 21 DA provável, 29 DA ligeira, 58 controlos• CR (apto/marginal/inapto)

CDR* é preditor do desempenho de conducão na amostra global. CDR 1 com 2,7 vezesmaior risco de inaptidão em comparacão com CDR 0.

Brown200543

• 31 DA provável, 24 controlos• CR (apto/marginal/inapto)

Driving Scenes Test (NAB) classifica corretamente 66% da amostra global.

Uc200544

• 33 DA provável, 137 controlos• CR (erros)

Rey Auditory-Verbal Learning Test* e Structure from Motion são preditores de erros quecomprometem a seguranca em condutores com declínio cognitivo.

Whelihan200545

• 23 DA provável, 23 controlos• CR (apto/inapto)

Maze Navigation Test classifica corretamente 80% dos condutores com declínio cognitivo.

Lincoln200646

• 17 DA• CR (apto/inapto)

MMSE*, SDSA*, Salford Objective Recognition Test, Stroop*, VOSP (Incomplete Letters), BADS (KeySearch e Rule Shift) e AMIPB (Information Processing) classificam corretamente 88% doscondutores (67% sensibilidade, 100% especificidade, ponto de corte 5).

Ott200847

• 53 DA provável, 35 DA ligeira, 45 controlos• CR (apto/inapto)

Maze Navigation Test, Hopkins Verbal Learning Test (ensaio 1) e TMT − A classificamcorretamente 81% da amostra global.

Dawson200948

• 40 DA provável, 115 controlos• CR (erros)

Teste de Retencão Visual de Benton, FCR-cópia* e TMT − A* são preditores de erros quecomprometem a seguranca em condutores com declínio cognitivo.

Dobbs201049

• 192 DA provável − ligeira, 52 controlos• CR (apto/inapto)

Provas do DemTect (Supermarket task, Repeat of word list, Number conversion)* são preditores doresultado na conducão na amostra global (80% sensibilidade, 87% especificidade).

Lafont201050

• 20 DA ligeira, 56 controlos• CR (apto/inapto)

Código (WAIS-III)* é preditor de inaptidão na amostra global (92% sensibilidade, 81%especificidade, ponto de corte 29).

Lincoln201051

• 65 DA• CR (apto/inapto)

MMSE*, SDSA*, Salford Objective Recognition Test, Stroop*, VOSP (Incomplete Letters, NumberLocalization, Position Discrimination), BADS (Key Search, Rule Shift), AMIPB (InformationProcessing), TMT (A e B)* classificam corretamente 78% dos condutores (80% sensibilidade,69% especificidade, ponto de corte 0,2).

Carr201152

• 99 DA• CR (apto/inapto)

Eight-item Informant Interview to Differentiate Aging and Dementia (AD-8), Desenho do Relógio*e TMT − A* classificam corretamente 85% dos condutores.

DPUc

200653• 71 DP, 147 controlos• CR (erros)

TMT (B − A)* é o melhor preditor de erros sob efeito de uma tarefa de distracão. UFOV*, FCR(cópia e memória)*, AVTL* e Teste de Retencão Visual de Benton são também preditores deerros em condutores com DP.

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– Tabela 1 (Continued)

PatologiaPrimeiro autor, ano,referência

• Amostras• Medidas de conducão

Resultados principais

Uc200654

• 79 DP, 151 controlos• CR (erros)

TMT (B − A)* é preditor de erros que comprometem a seguranca; UFOV* e FCR − cópia* sãopreditores da capacidade de identificacão de sinais em condutores com DP.

Worringham200655

• 25 DP, 21 controlos• CR (apto/inapto)

Purdue Pegboard Test, Symbol Digit Verbal Test e outras variáveis clínicas (tempo dediagnóstico, sensibilidade ao contraste) classificam corretamente 90% dos condutores comDP.

Amick200756

• 25 DP• CR (apto, marginal)

FCR − cópia* e TMT − B* classificam corretamente mais de 70% dos condutores (73%sensibilidade, 71% especificidade).

Devos200757

• 40 DP, 40 controlos• CR (apto/inapto)

CDR* e outras variáveis clínicas (tempo de diagnóstico, sensibilidade ao contraste, UnifiedParkinson’s Disease Rating Scale − motor score) classificam corretamente 90% dos condutorescom DP (91% sensibilidade, 90% especificidade).

Uc200758

• 77 DP, 152 controlos• CR (erros)

UFOV* é preditor de erros que comprometem a seguranca e FCR − memória* de erros denavegacão em condutores com DP.

Classen200959

• 19 DP, 104 controlos• CR (apto/inapto)

UFOV* é preditor do resultado na conducão (87% sensibilidade, 82% especificidade) empessoas com DP.

Devos201360

• 60 DP• CR (apto/inapto)

CDR* e outras variáveis clínicas (tempo de diagnóstico, sensibilidade ao contraste, UnifiedParkinson’s Disease Rating Scale − motor score) classificam corretamente 77% dos condutorescom DP (96% sensibilidade, 64% especificidade).

Abreviaturas:A = Acidentes de viacão; AMIPB = Adult Memory and Information Processing Battery; AVC = Acidente vascular cerebral; AVLT = (Rey) Auditory Verbal Learning Test*; BADS = Behavioral Assessment of Dysexe-cutive Syndrome; CR = Conducão real; CDR = Clinical Dementia Rating*; DA = Doenca de Alzheimer; DP = Doenca de Parkinson; EM = Esclerose múltipla; FCR = Figura Complexa de Rey*; MMSE = Mini-MentalState Examination*; NAB = Neuropsychology Assessment Battery; SDSA = Stroke Drivers Screening Assessment*; TCE = Traumatismo crânio-encefálico; TMT = Trail Making Test*; UFOV = Useful Field of ViewTest*; VOSP = Visual Object and Space Perception Battery; WAIS-III = Wechsler Adult Intelligence Scale-Third Edition*.*Instrumentos com estudos na populacão portuguesa.

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nos vasos sanguíneos61. Nos países desenvolvidos, os TCEonstituem a principal causa de mortalidade e morbilidadeos adultos jovens. Em Portugal, os dados relativos à inci-ência de casos de TCE entre 1996-1997 foi de 137/100.000,om uma taxa de mortalidade na ordem dos 17/100.000 em997. Estimou-se ainda que em cada ano surgem mais de.700 novos casos de incapacidade resultante de TCE, e ques números relativos à prevalência atingem milhares deessoas62.

Importância da atividade de conducão. Em condutores víti-as de TCE, a atividade de conducão é considerada um fator

eterminante na manutencão da independência, no processoe reintegracão social e na qualidade de vida63. No entanto,ais de metade dos casos retoma essa atividade sem qual-

uer avaliacão clínica especializada e aconselhamento64,65.s pessoas com TCE grave, em particular, tendem a sobre-alorizar o processo de reabilitacão física e a negligenciars eventuais problemas cognitivos e emocionais persistentes,uscetíveis de diminuir a aptidão para conduzir um automóvelm seguranca28.

Alteracões cognitivas representativas e impacto na conducão. previsão do desempenho de conducão em pessoas comCE é, na maioria dos casos, complexa e difícil conside-ando a heterogeneidade de sequelas físicas, cognitivas eomportamentais que podem comprometer a proficiência deonducão66. A natureza das lesões cerebrais, a gravidade doraumatismo, o tempo decorrido e a evolucão dos défi-es desde a lesão cerebral, são exemplos de fatores queodem contribuir para a diversidade de sintomas clínicos eubjetivos67. A lentidão no processamento de informacão cor-esponde a uma das sequelas neurocognitivas mais evidentesos casos de TCE, com impacto negativo na eficiência dosrocessos percetivos (e.g., perceber e atender a estímulos dombiente), atencionais (e.g., selecionar os estímulos relevan-es ou dar atencão a mais de um estímulo em simultâneo) executivos (e.g., antecipar, planear, tomar decisões e monito-izar o comportamento), considerados como cruciais na tarefae conducão13–15. Os défices nestes domínios podem ser fre-uentes e persistentes mesmo após a implementacão de umrograma de reabilitacão neuropsicológica68.

Testes psicológicos preditores de desempenho na atividade deonducão. Existem evidências sobre a utilidade de testes cogni-ivos para prever o desempenho de conducão real em pessoasítimas de TCE. Provas que examinam a velocidade de proces-amento e memória de trabalho (Symbol Digit Modalities Test30,equências Letras-Números27,28), a atencão visual e funciona-ento executivo (UFOV − 229, Trail Making Test29, Color Trails

est27, Stroop28,30), e capacidades visuo-percetivas (Matrizes27,udgment of Line Orientation30), constituem preditores signifi-ativos. Por exemplo, numa amostra de 52 condutores vítimase TCE, um modelo de previsão incluindo testes que tambémxaminam estes domínios (Stroke Drivers Screnning Assess-ent, Stroop e Information Processing), permitiu obter uma

lassificacão correta (critério aptidão/inaptidão em prova deonducão) em 87% dos casos28.

cidente vascular cerebral

aracterísticas gerais do quadro clínico e aspetos epidemiológi-os. Um AVC é caracterizado pela instalacão súbita de um

. 2 0 1 5;3 3(1):57–70 63

défice neurológico variável, resultante da oclusão (isquemia)ou rotura (hemorragia) de uma artéria cerebral, podendoainda ocorrer complicacões neurológicas associadas a edemae hipertensão intracraniana. Os AVC são a primeira causade morte em Portugal e a principal causa de incapacidadenas pessoas idosas. Constituem também a segunda causamais comum de demência, bem como a mais frequentede epilepsia e depressão no idoso69. Não é conhecida, emrigor, a incidência e prevalência dos AVC na populacão por-tuguesa, mas foi estimada uma incidência aproximada de279/100.000 casos por ano70, sendo que metade dos sobrevi-ventes exibem alguma incapacidade e 30% ficam dependentesde cuidadores71.

Importância da atividade de conducão. Em pessoas víti-mas de AVC, retomar a atividade de conducão poderepresentar um dos principais objetivos do processo dereabilitacão, tendo em consideracão a frequência de seque-las motoras, nomeadamente hemiparesias e hemiplegias, quelimitam a mobilidade e independência72. Os défices moto-res são, na maioria dos casos, compensados com recursoa adaptacões no veículo, ou simplesmente com o usode um automóvel com caixa de velocidades automática73.Contudo, a presenca de défices cognitivos, mesmo sub-tis, pode diminuir de modo significativo a capacidade deconducão, sendo recomendada uma avaliacão psicológicaespecializada74.

Alteracões cognitivas representativas e impacto na conducão.A manifestacão de alteracões cognitivas e do comporta-mento é determinada, em grande parte, pela localizacãoe extensão da lesão vascular. No que concerne à profi-ciência da conducão automóvel, os défices na percecãovisual, na atencão e no funcionamento executivo são par-ticularmente relevantes, contrariamente a eventuais déficesnos domínios da linguagem ou memória75. Por exemplo,a inatencão hemiespacial seletiva constitui o defeito cog-nitivo mais frequente nas lesões vasculares do hemisfériocerebral direito, podendo persistir de modo subtil mesmoapós um período formal de reabilitacão neuropsicológica76.Durante a tarefa de conducão, este défice limita a capa-cidade de perceber, atender e responder a estímulos nohemiespaco esquerdo do campo visual, sendo referenciadocomo um preditor significativo de envolvimento em acidentede viacão77.

Testes psicológicos preditores de desempenho na atividade deconducão. Vários estudos documentam a utilidade de testescognitivos específicos para prever o desempenho de conducãoem contexto real de trânsito em pessoas vítimas de AVC. OsCubos da WAIS (que examinam capacidades visuo-percetivase visuo-espaciais, mas também velocidade de processamento,atencão visual e componentes intrínsecos às funcões executi-vas) constituem um teste preditor de erros que comprometema seguranca durante a conducão34. Os desempenhos naFigura Complexa de Rey32,34, no UFOV Test34,37 e no StrokeDrivers’ screening Assessment33,35,37 (SDSA) são também pre-ditores significativos da capacidade de conducão em maisdo que um estudo. Importa ainda destacar um modelo deavaliacão baseado no Complex Reaction Time (teste de tempos dereacão complexa que envolve vários recursos cognitivos),

permitindo obter uma classificacão correta (critério apti-dão/inaptidão em prova de conducão) em 83% dos casos31.
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Esclerose múltipla

Características gerais do quadro clínico e aspetos epidemiológicos.A EM é uma doenca inflamatória crónica e progressiva dosistema nervoso central, associada a sintomas diversificadosem funcão da localizacão da inflamacão e da desmielinizacãodas células nervosas. A doenca pode apresentar-se de váriasformas, sendo a mais comum a Esclerose múltipla surto remis-são, caracterizada pelo aparecimento de surtos associados aatividade inflamatória exacerbada, intercalados com perío-dos de remissão da doenca, durante os quais pode ocorrer arecuperacão de alguns sintomas78. Estima-se, a partir de estu-dos epidemiológicos, uma incidência de 4,3/100.000 casos porano na Europa79, afetando cerca de 6.500 pessoas em Portugal.Em regra, a doenca manifesta-se clinicamente entre os 20 e 40anos de idade, sendo a causa mais frequente de incapacidadepor doenca neurológica não traumática do adulto jovem78.

Importância da atividade de conducão. Em pessoas com EMa conducão é considerada crucial na manutencão da mobi-lidade, independência e liberdade, constituindo também umsímbolo de capacidade funcional. Aproximadamente 23% doscondutores com EM cessam a conducão depois do diagnós-tico, e os que continuam a conduzir apresentam melhorfuncionamento físico e cognitivo80. Apesar da tendência parareduzirem essa atividade, os condutores com EM correspon-dem a um grupo clínico com maior risco de acidente emcomparacão com condutores sem doenca identificada6,7.

Alteracões cognitivas representativas e impacto na conducão.A par de eventuais sintomas visuais (e.g., neurite ótica, nis-tagmo) e motores (e.g., espasticidade, ataxia), as alteracõescognitivas são comuns, nomeadamente na velocidade de pro-cessamento, atencão, memória e funcionamento executivo(com frequente preservacão da linguagem e do funcio-namento intelectual), e podem ter influência negativa naproficiência de conducão81. Por exemplo, em comparacão comcasos-controlo, um grupo de pacientes com EM evidenciou umnúmero significativo de erros no controlo lateral e na regulacãoda velocidade do veículo durante a conducão82.

Testes psicológicos preditores de desempenho na atividade deconducão. Um estudo de Lincoln e Radford38 é ilustrativoda eficácia dos testes cognitivos para prever o desempenhode conducão real em pessoas com EM. Numa amostra de34 condutores, os desempenhos no Dot Cancellation (atencão econcentracão), Design Learning (memória visual), Adult Memoryand Information-Processing Task (velocidade de processamento)e Road Sign Recognition (capacidades visuo-espaciais) per-mitiram obter uma funcão discriminante com eficiênciaclassificatória de 88%. Akinwuntan et al.39, numa amostrade 44 pessoas com EM, comprovam igualmente a utilidadedas provas do SDSA para prever o resultado na conducão,com uma eficiência classificatória de 86%. Adicionalmente,um modelo de previsão incluindo três provas do SDSA (SquareMatrices Directions, Square Matrices Compass e Road Sign Recogni-tion), o Stroop e o UFOV Test, permitiu aumentar a eficiênciaclassificatória para 91%40. Nas investigacões de Schultheis

7,8

et al. , testes que compreendem velocidade de processamento eatencão visual, como o Symbol Digit Modalities Test8 e Código7

(WAIS), capacidades visuo-espacias, como o 7/24 Spatial RecallTest8 e Cubos7 (WAIS), e funcões executivas, como o Stroop e

a . 2 0 1 5;3 3(1):57–70

Trail Making Test7, foram preditores significativos de medidasdo desempenho da conducão, corroborando a utilidade des-tes instrumentos na avaliacão da capacidade de conducão empessoas com EM.

Doenca de Alzheimer

Características gerais do quadro clínico e aspetos epidemiológicos.A doenca de Alzheimer é uma doenca neurodegenerativacaracterizada clinicamente por uma demência progressiva ehistologicamente pela presenca de placas senis, entrancadosneurofibrilhares e perda progressiva de neurónios na regiãolímbica e do córtex parieto-temporal. Representa a causamais frequente de demência e tem início, na maioria doscasos, após os 65 anos. O quadro clínico típico da DA incluiuma deterioracão precoce e proeminente da memória recente,seguida de outras alteracões cognitivas e comportamen-tais, interferindo com a capacidade funcional do indivíduo.O funcionamento sensorial e motor é preservado até umafase avancada da doenca83. O envelhecimento demográfico eaumento da esperanca média de vida têm contribuído para oaumento da prevalência das demências a nível global, sendoque em Portugal, os dados epidemiológicos no norte do paísapontam para uma prevalência de 2,7/100 casos entre 55-79anos84.

Importância da atividade de conducão. De acordo com dadosinternacionais, cerca de 30 a 45% das pessoas com demênciamantém uma conducão ativa e durante vários anos após oinício da síndrome85. A cessacão da atividade de conducãoconstitui um momento decisivo (e difícil) no processo deevolucão da doenca, confrontando a pessoa com a perda gravede capacidade funcional86. A maioria dos condutores comdemência, à semelhanca dos condutores idosos, querem seros próprios a decidir sobre a sua atividade de conducão. Noentanto, o processo da doenca limita a consciência dos défi-ces funcionais e dos problemas na conducão, bem como acapacidade de tomar decisões ajustadas à realidade87.

Alteracões cognitivas representativas e impacto na conducão.Os primeiros sintomas cognitivos da doenca incluem, usual-mente, o defeito na memória recente e alteracões associadasnoutras funcões como a orientacão, atencão, linguagem,funcão visuo-espacial e executiva. Podem também coexistirsintomas neuropsiquiátricos como apatia, agitacão, sintomasdepressivos e psicóticos. As alteracões neurocognitivas têmimpacto no desempenho funcional da conducão88, emboraexistam evidências de que o defeito mnésico não seja pre-ponderante na proficiência de conducão e seguranca89. Aspessoas com demência provável identificada a partir da escalade avaliacão global Clinical Dementia Rating90,91 (CDR) podemapresentar um desempenho de conducão em seguranca aindadurante um longo período de tempo11. Nos casos de demên-cia ligeira, existem evidências de um aumento significativode erros que colocam em risco a seguranca, a título exempli-ficativo: menor capacidade de detecão dos sinais de trânsito,falhas no controlo lateral e longitudinal do veículo, e conducão

44,48

temerária em cruzamentos, entroncamentos e rotundas .Testes psicológicos preditores de desempenho na atividade de

conducão. Em pessoas com DA existem evidências de testesespecíficos com capacidade preditiva significativa em relacão

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o desempenho de conducão, a título ilustrativo: o Código daAIS50 (velocidade de processamento), o Driving Scenes Test daeuropsychology Assessment Battery43 (atencão visual), o Mazeavigation Test45 (funcões executivas) e escalas de avaliacãolobal como o Blessed Dementia Rating Scale41 e o CDR42. Outrosstudos ilustram a utilidade de modelos de avaliacão maisbrangentes, incluindo os referidos domínios e as capacida-es visuo-espaciais, com uma precisão classificatória variávelntre os 78 e 88%46,47,51,52.

oenca de Parkinson

aracterísticas gerais do quadro clínico e aspetos epidemiológicos. DP é uma doenca neurodegenerativa crónica progres-iva caracterizada clinicamente por tremor de repouso,igidez e bradicinesia. Patologicamente, caracteriza-se poregeneracão de neurónios dopaminérgicos no sistema nigro-striado e pela presenca de inclusões intraneuronais de corpose Lewy. A par dos sintomas motores clássicos, a DP éambém associada a sintomas cognitivos e comportamen-ais, mesmo em estádios iniciais da doenca e em doentesão demenciados. O risco relativo de desenvolver demênciaos doentes de Parkinson é superior ao da populacão emeral, caracterizando-se por uma síndrome disfuncional exe-utiva predominante, associando-se frequentemente a váriaslteracões psiquiátricas como a depressão, a ansiedade e osintomas psicóticos. A prevalência da doenca aumenta com

idade e atinge aproximadamente 1% da populacão mundialom mais de 65 anos de idade92. Em Portugal, foi determinadama prevalência de 130/100.00093, sendo que o Observatórioacional de Saúde apontou, em 2005, uma prevalência auto-

declarada de 392,4/100.00094.Importância da atividade de conducão. Para pessoas com DP,

tarefa de conducão é essencial para a mobilidade, sobre-udo com o agravamento dos sintomas motores associados

alteracões da marcha e instabilidade corporal. De acordoom dados internacionais, cerca de 60% das pessoas com DPantém uma conducão ativa até um estádio avancado da

oenca12.Alteracões cognitivas representativas e impacto na conducão.

DP é associada a alteracões cognitivas, nomeadamente natencão, memória, velocidade de processamento e funcio-amento executivo. Vários estudos documentam o declínioa proficiência de conducão real em pessoas com DP. Porxemplo, em comparacão com grupos de controlo, foi assi-alado um aumento significativo do número de erros deonducão que colocam em risco a seguranca rodoviá-ia, como conducão errática e desvios do veículo paraora da via58,95, ausência de pesquisa visual durante as

anobras (e.g., mudanca de direcão ou de via, marcha-atrás, estacionamento)96, períodos de tempo elevados paraniciacão e execucão de manobras, assim como dificuldadesa regulacão da velocidade97.

Testes psicológicos preditores de desempenho na atividadee conducão. Considerando a ineficácia de escalas clínicas

ue examinam o grau de gravidade da DP para prever aapacidade de conducão96–98, Devos e colaboradores57,60, tes-aram um modelo de avaliacão incluindo apenas o exame

otor da Unified Parkinson’s Disease Rating Scale e o CDR,

. 2 0 1 5;3 3(1):57–70 65

obtendo uma precisão classificatória elevada (77–90%). Umoutro estudo55 incluindo o Purdue Pegboard Test (destrezamanual e coordenacão bimanual) e Symbol Digit Verbal Test(velocidade de processamento) permitiu obter um modelocom excelente poder discriminante (90%). O UFOV test53,54,58,59,o Trail Making Test53,54,56 e a Figura Complexa de Rey53,54,58 sãotambém exemplos de preditores do desempenho de conducãoreal em mais do que um estudo, corroborando o valor incre-mental de testes (neuro)psicológicos específicos na avaliacãoclínica de condutores com DP.

Doencas psiquiátricas

Na literatura atual existe uma escassez de dados empíricossobre a relacão entre doencas psiquiátricas e a capacidadede conducão, em grande parte justificado pela dificuldadeno controlo de variáveis confundentes, de modo particu-lar, em diferenciar o impacto dos sintomas da doenca e osefeitos dos psicofármacos (e.g., antidepressivos, benzodiaze-pinas, antipsicóticos) nessa atividade13,99. Défices de atencãoe concentracão, lentidão ou agitacão psicomotora, fadigafácil, ansiedade, consumo abusivo de substâncias e outroscomportamentos de risco são sintomas comuns em doen-tes psiquiátricos e com potencial efeito negativo na tarefa deconducão100.

Em pessoas com diagnóstico de depressão, o consumo deantidepressivos com efeitos sedativos foi associado a ligeiroaumento do risco de acidente de viacão101. O consumo de fár-macos com inibidores seletivos da recaptacão da serotoninae da noradrenalina, também contribui para desempenhosinferiores em provas de conducão real, em comparacão comcasos controlo. As dificuldades no controlo lateral do veí-culo e na regulacão da velocidade constituem os erros maisrepresentativos durante a tarefa conducão real em pessoascom depressão102, mas também no desempenho de conducãosimulada em pessoas com esquizofrenia103. Alguns estudossugerem um maior número de infracões às regras de trânsitoe de acidentes de viacão em pacientes esquizofrénicos com-parativamente à populacão não psiquiátrica104, embora estadiferenca não tenha sido observada por outros autores105.

No âmbito das doencas psiquiátricas importa ainda assi-nalar a evidência do efeito negativo da perturbacão dehiperatividade com défice de atencão (PHDA) na capacidadede conducão. Os comportamentos de desatencão, agitacãomotora e impulsividade, bem como outros fatores de riscoassociados a este grupo clínico como o consumo abusivode substâncias e comportamento antissocial, foram docu-mentados de modo sistemático como preditores de ummaior número de infracões (nomeadamente por excesso develocidade) e acidentes de viacão associados a ferimentos,comparativamente a condutores sem doenca identificada(casos controlo) ou com a populacão condutora em geral106–108.

Em termos globais, é sugestivo que estas condicõespsiquiátricas, associadas a um consumo prolongado depsicofármacos, possam comprometer o funcionamento neu-

rocognitivo e o comportamento de conducão. São necessáriosestudos sistemáticos sobre a relacão entre testes (neuro) psi-cológicos e a capacidade de conducão em pessoas com doencapsiquiátrica. Natureza da doenca, anos de duracão da doenca,
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gravidade dos sintomas, comorbilidades, psicofármacos etestes do protocolo de avaliacão são algumas das variáveis aconsiderar nas investigacões.

Discussão e conclusões

A avaliacão da aptidão física, mental e psicológica paraa conducão constitui uma preocupacão muito atual emSaúde Pública, igualmente expressa num número cres-cente de investigacões e publicacões na literatura médica epsicológica13–16,106,107,109,110.

A capacidade de conducão pode ser comprometida poralteracões cognitivas, frequentes em pessoas com doencaneurológica ou psiquiátrica. O impacto de défices ou de declí-nio cognitivo na atividade de conducão é um dos dados maisconsistentes identificados nos grupos clínicos consideradosneste trabalho.

Os estudos recenseados corroboram a utilidade de tes-tes psicológicos específicos, nomeadamente cognitivos, naavaliacão de condutores com doenca neurológica ou psiquiá-trica. Do ponto de vista clínico, os domínios visuo-percetivo,visuo-espacial, atencão visual, funcões executivas, mas também avelocidade de processamento e memória de trabalho, são documen-tados sistematicamente como determinantes da capacidadede conducão. Uma avaliacão psicológica especializada queexamine de modo estruturado estes domínios poderá consti-tuir um contributo determinante, permitindo obter elementosclínicos relevantes para o processo de tomada de decisão efundamentacão do parecer de aptidão ou inaptidão para aconducão.

Importa também referir que a avaliacão da personalidade ede sintomas psicopatológicos, embora não incluída no âmbitodas investigacões referenciadas, é parte integrante dos pro-tocolos de avaliacão psicológica de condutores, conforme oatual Regulamento da habilitacão legal para conduzir111. De modoparticular, o padrão comportamental do indivíduo deve seranalisado com recurso a técnicas de avaliacão psicológicacomo a entrevista e observacão clínica, procurando aferir umaeventual diminuicão do controlo de impulsos e a identificacãode comportamento social inapropriado (e.g., desinibicão, eufo-ria, irritabilidade fácil, agressividade, perseveracão e rigidezmanifestas). Estas alteracões são frequentes nos grupos clíni-cos considerados e podem ser potenciadas em contexto real detrânsito, uma vez que a tarefa de conducão exige também umcontrolo emocional e comportamental adequado. Por outrolado, a entrevista e observacão clínica identificam importan-tes indicadores do funcionamento cognitivo. Por exemplo, aspessoas com deterioracão cognitiva podem apresentar faltade juízo crítico e de capacidade de insight, o que afeta o reco-nhecimento dos défices funcionais e dos riscos inerentes àatividade de conducão87. Estas questões concretas são valori-zadas numa avaliacão psicológica especializada e contribuempara assegurar maior rigor no exame clínico da aptidão para aconducão.

A avaliacão psicológica de condutores pode ser conceptu-

alizada, deste modo, como abrangente (englobando as esferascognitiva, emocional e comportamental) e sistemática (formal,estandardizada, quantificada), concretizando-se através dorecurso a instrumentos e protocolos válidos, isto é, fundamenta-

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dos em estudos empíricos de validade em relacão a medidasde conducão. Se a conducão contribui para a independên-cia e o bem-estar psicológico, e a reducão ou restricão destaatividade potencia o isolamento social e a manifestacão desintomas de depressão112, importa uma gestão rigorosa dosinstrumentos disponíveis e assegurar a validade de todo oprocesso de avaliacão, de modo a evitar inferências incorre-tas sobre a capacidade de conducão dos indivíduos (e todas asimplicacões pessoais, familiares e sociais associadas).

O processo de avaliacão psicológica deve ainda ser diferenciadoem funcão do diagnóstico e grupo etário a que pertence o condu-tor (sugestivo de comportamentos e problemas de conducãocaracterísticos), sem contudo esquecer que a conducão auto-móvel é uma atividade que envolve requisitos universais emtermos cognitivos113,114. Do ponto de vista prático, é dese-jável o reconhecimento de um instrumento ou protocolobásico comum que permita assegurar o grau de exigência dasavaliacões e a comparabilidade de resultados115.

A abordagem avaliativa deve ser também adaptada à natu-reza evolutiva da doenca. Se em patologias de natureza nãoprogressiva (e.g., TCE, esquizofrenia) pode ser recomendadauma avaliacão da aptidão para a conducão após um períodoformal de intervencão terapêutica (e.g., reabilitacão cogni-tiva, psicofarmacológica) e relativa estabilizacão do quadro defuncionamento neurocognitivo, noutros casos importa reco-nhecer a necessidade de reavaliacões periódicas. Estas sãojustificadas considerando a obrigatoriedade de monitorizara natureza progressiva de algumas doencas desde o iní-cio de suposicão do diagnóstico (e.g., demências, EM), ou opossível impacto da medicacão e agravamento nos compor-tamentos de conducão decorrentes de processos evolutivosde envelhecimento inerentes a todos os quadros clínicos. Naabordagem de condutores com doenca neurodegenerativa, opsicólogo deve ainda assumir tarefas específicas no âmbito doaconselhamento, com a finalidade de minimizar potenciaisconsequências psicológicas decorrentes de medidas restriti-vas de conducão109.

No que concerne ao processo da avaliacão médica decondutores, destacamos ainda a necessidade de um instru-mento breve de rastreio cognitivo que possibilite a identificacãode condutores de risco (decorrente da presenca de déficescognitivos) e fundamentacão dos pedidos de referenciacãopara uma avaliacão psicológica especializada (abrangente,aprofundada, sistemática). Neste contexto, importa referirque o Mini-Mental State Examination116–118 (MMSE), um instru-mento breve de avaliacão cognitiva global de uso tradicionale generalizado em contexto clínico, carece de evidências sufi-cientemente válidas e consistentes para ser considerado umindicador de risco para a conducão, nomeadamente em pes-soas com demência119. Embora a prova seja relativamente útilno rastreio de declínio cognitivo com nível de gravidademoderado a severo118, a natureza do teste é essencialmenteverbal e limitada na avaliacão de domínios cognitivos essen-ciais para o comportamento de conducão, nomeadamentea percecão visual, a atencão e o funcionamento executivo.Neste sentido, e com maior interesse e atualidade para aavaliacão médica de condutores, o Addenbrooke’s Cognitive Exa-

120,121

mination Revised (ACE-R), igualmente um teste de rastreiocognitivo mais completo do que o MMSE (incorporando o pró-prio MMSE e tarefas de avaliacão das funcões executivas e
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r e v p o r t s a ú d e p ú b

isuo-espaciais), poderá corresponder a um potencial métodoe avaliacão para identificacão de condutores de risco. Osados de investigacão comprovam que o ACE-R apresentama eficiência classificatória superior na detecão de con-utores inaptos na conducão, e sugerem a utilidade deste

ndicador para fundamentar um pedido de referenciacão parama avaliacão psicológica especializada122. Em consonânciaom estes resultados, é sugestivo que o Montreal Cognitivessessment123,124 (MoCA), um instrumento breve de avaliacãoognitiva global que examina diferentes domínios, incluindos funcões executivas e capacidades visuo-espaciais, tambémossa constituir um teste com boas capacidades preditivas doesempenho de conducão, mas são necessários estudos dealidade que permitam suportar esta hipótese.

No prática clínica, o exame da aptidão para conduzirm pessoas com doenca neurológica ou psiquiátrica carece,radicionalmente, de uma avaliacão das funcões cognitivasecessárias para o desempenho da atividade de conducão emeguranca99. Ao longo deste trabalho procurámos evidenciar atilidade de uma avaliacão psicológica diferenciada no examelínico de condutores pertencentes a grupos clínicos específi-os. Com a finalidade de aumentar o rigor dos exames e o graue certeza dos pareceres clínicos para a conducão, é recomen-ada uma articulacão de resultados provenientes da avaliacãoédica e da avaliacão psicológica num contexto mais alargado

e colaboracão transdisciplinar125.

onflitos de interesses

s autores declaram não haver conflito de interesses.

e f e r ê n c i a s b i b l i o g r á f i c a s

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