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Controladoria-Geral da UniãoOuvidoria-Geral da União
PARECER
Referência: 99902.001899/2013-12
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Restrição deacesso:
Sem restrição.
Ementa: Contrato – ato normativo – demonstrativos – informação incorreta – interessepessoal – Caixa Econômica Federal – informação já disponibilizada – nãoconhecimento.
Órgão ouentidade
recorrido (a):
Caixa Econômica Federal.
Recorrente: M.C.E.N.
Senhor Ouvidor-Geral da União,
1. O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação pública, com base na
Lei nº 12.527/2011, conforme resumo descritivo a seguir apresentado:
Relatório Data TeorPedido 03/11/2013 “Solicito cópia do documento, FUNDAMENTO LEGAL, que
a CEF baseia-se para descumprir o meu Contrato Particular deVenda Parcelada de Imóvel Funcional,fazendo alteraçõesunilaterais e não acatando a Declaração Correta de ReajustesSalariais da área de Recursos Humanos de meu EmpregadorCEF.”
Resposta inicial 28/11/2013 “1. Em atenção ao Protocolo gerado por meio do E-SIC,informamos que:1.1. A CAIXA cumpre regularmente todos os contratosfirmados com seus Clientes/Mutuários. Para os contratosfirmados a partir da publicação da Lei 8.025/1990 e doDecreto 172/91 – Imóvel Funcional, as prestações deamortização e juros, assim como o prêmio de seguro mensalsão reajustadas de acordo com a variação dos reajustessalariais dos mutuários, o que é previsto no contrato de mútuoda Sra. M.C.E.N., assinado em 30/11/1990. O assunto emquestão é fundamentado no artigo 14, Inciso VI, do Decreto99.266/90, que regulamentou a Lei 8.025/90, em que “asprestações mensais serão revistas no mesmo percentual e na
mesma periodicidade dos reajustes, inclusive antecipações, devencimentos ou salários, da categoria funcional ouprofissional do adquirente, a partir do mês subsequente à suaconcessão”. A MP 482/1994, transformada na Lei 8880/94,por sua vez, regulamenta a conversão dos salários para URVem 01/03/1994, que reajustava automaticamente os valoresexpressos em cruzeiros reais à época. Citados atos legaisbaseiam os procedimentos adotados pela CAIXA quanto àaplicação dos reajustes salariais ao contrato firmado com aCliente. As legislações citadas estão disponíveis no sítiowww.planalto.gov.br.”A CAIXA encerra a resposta indicando à solicitante os outroscanais de atendimento disponíveis, para reclamações, dúvidasetc.
Recurso àautoridade superior
07/12/2013 “(...)1. A CEF NÃO ATENDEU a minha Solicitação:” cópia dodocumento – FUNDAMENTO LEGAL – que a CEF baseia-separa DESCUMPRIR o meu Contrato Particular de VendaParcelada de Imóvel Funcional, fazendo ALTERAÇÕESUNILATERAIS e NÃO ACATANDO A DECLARAÇÃOCORRETA DE REAJUSTES SALARIAIS da Categoria,fornecida pela CEPES – CN Gestão de Pessoas – FOLHA DEPAGAMENTO, de meu EMPREGADOR CEF de 22 deagosto de 2013, em ANEXO.”2. Os Senhores DECLARAM que estão fundamentados noArtigo 14, Inciso VI, do Decreto 99.266/90. Portanto deverãoter em mãos o “ACORDO COLETIVO DE TRABALHO de1993 na data base da Categoria” ou qualquer outroDOCUMENTO LEGAL que comprove as ANTECIPAÇÕESSALARIAIS nos meses de Abri/94-47,67%, Mai/94 –42,63%, Jun/94 – 41,53% e Jul/93 – 16,45%. Ou será que osSenhores estão CONFUNDINDO URV (indexador temporárioutilizado pelo Governo Federal para implantar o novo padrãomonetário) com antecipações salariais? Os índices de variaçãoda URV Não CARACTERIZAM RECOMPOSIÇÃO DEPERDAS OU ANTECIPAÇÕES SALARIAIS, mas simRECOMPOSIÇÃO DA MOEDA. São parcelas de naturezajurídica absolutamente diversas. Muito bem explicado peloArt. 4º MP 482/94 transformada na Lei 8880/94: “O BancoCentral do Brasil até a emissão do REAL, fixará a paridadediária entre o Cruzeiro Real e a URV, tomando por base aPERDA DO PODER AQUISITIVO DO CRUZEIRO REAL.”3. Sendo induzida pela CEF a ler o Decreto 99.266 de 28 demaio de 1990 chamou minha atenção o Parágrafo Único doArtigo 42, ao qual sugiro especial atenção.”
Resposta dorecurso àautoridade superior
16/12/2013 “1. Em atenção a sua solicitação, registrada através do E-SIC,site CGU, informamos que:1.1 Em análise do pleito da mutuária MARIA DO CARMONEVES SCUDEZE, as prestações de amortização e juros,assim como o prêmio de seguro mensal serão reajustados de
acordo com a variação do BTN, pelo índice que venha serestabelecido para os financiamentos do SFH ou segundo oreajuste salarial, quando se tratar de adquirente assalariado, oque é previsto no contrato de mútuo da Sra. Maria do CarmoEstebanez Neves, assinado em 30/11/1990. Essa questãofundamenta-se no artigo 14, Inciso VI, do Decreto 99.266/90,que regulamentou a Lei 8.025/90, em que “as prestaçõesmensais serão revistas no mesmo percentual e na mesmaperiodicidade dos reajustes, inclusive antecipações, devencimentos ou salários, da categoria funcional ouprofissional do adquirente, a partir do mês subsequente à suaconcessão”.1.2 Uma vez que a mutuária em questão tratava-se deadquirente assalariada, sem prejuízo das demais disposiçõeslegais e normativas, ratifica-se que os reajustes aplicados aosalário dessa, não importando a forma de cálculo, devem serrepassados às prestações de amortizações e juros, bem comoaos prêmios de seguro mensal.1.3 Ressaltamos que a CAIXA cumpre regularmente todos oscontratos firmados com seus Clientes/Mutuários, o que nãoencontra fundamento a alegação da mutuaria quanto arequerer documento “que a CEF baseia-se paraDESCUMPRIR o meu Contrato Particular de Venda Parceladade Imóvel Funcional”.1.3.1 A MP 482/1994, transformada na Lei 8880/94, por suavez, regulamenta a conversão dos salários para URV em01/03/1994, que reajustava automaticamente os valoresexpressos em cruzeiros reais à época.1.3.2 Citados atos legais baseiam os procedimentos adotadospela CAIXA quanto à aplicação dos reajustes salariais aocontrato firmado com a Cliente.1.3.3 Não é necessário apresentar cópia das legislaçõescitadas, pois estão disponíveis no sítio www.planalto.gov.br.”A CAIXA encerra a resposta indicando à solicitante os outroscanais de atendimento disponíveis, para reclamações, dúvidasetc.
Recurso àautoridade máxima
19/12/2013 “1. A CEF não atendeu a minha solicitação, não considerou odocumento, em Anexo: DECLARAÇÃO DE REAJUSTESSALARIAIS DA CATEGORIA PROFISSIONAL, fornecidapelo Departamento de Pessoal de meu empregador CaixaEconômica Federal, e, nem deve ter consultado a área dePessoal sobre o assunto, pois do contrário não estaria fazendodeclarações infundadas ( confundindo “entendendo” variaçãoda URV com Reajustes Salariais, pois a variação da URVNÃO caracteriza recomposição de perdas salariais mas SIMRECOMPOSIÇÃO DO VALOR DA MOEDA, vide MP 434,MP 457, MP 482/94 e Lei 8880/94).2. No item 1.2.a CEF ratifica que aplicaram ao meufinanciamento os reajustes aplicados ao meu salário.Segundo, demonstro no Anexo I, referente a folha 4 da
Planilha de Evolução de Financiamento do meu ImóvelFuncional, a CEF aplicou índices de reajustes em meufinanciamento nos meses de Maio/94 – 47,67%, Junho/94 –42,63%, Julho/94 – 41,53%, Agosto/94 – 16,45%, reajustesesses que NÃO CONSTAM EM DECLARAÇÕES DE MEUEMPREGADOR-CEF, como reajustes salariais, o quecomprovo no Anexo II, com a Declaração do Departamentode Pessoal emitida em 22 de agosto de 2013, bem comoDeclaração do ano de 2001,em anexo III, onde constam alémdos Reajustes na Data Base da Categoria, tambémantecipações, vantagens pessoais, como Deltas porMerecimento e/ou por Antiguidade, menos os índices citadosacima.3. No item 1.3 o DEOPE- DE Operações Corporativas da CEFdeclara que cumpre regularmente todos os contratos e que eufaço alegações infundadas. Cumpre-me informar que não façoalegações infundadas, mas sim COMPROVAÇÕESDOCUMENTADAS, porém a Área Habitacional é quem temque justificar a NÃO ACEITAÇÃO DAS DECLARAÇÕESFORNECIDAS PELA ÁREA DE PESSOAL DE MEUEMPREGADOR CEF, apresentadas por mim, ao longo detodos esses anos, como se meu empregador fosse uma PessoaJurídica Inidônea. O que fica muito deselegante por parte daÁrea de Habitação e até mesmo pode-se considerardesobediência ao Código de Ética da Empresa (normas deRegistro no SIPON, Acordo de Conduta Pessoal eProfissional- ACPP ), no que tange aos valores: Respeito,Honestidade, Compromisso, Transparência eResponsabilidade.4. Com base nessas informações documentadas a CEFdescumpriu sim o meu CONTRATO PARTICULAR DECOMPRA E VENDA A PRAZO COM PACTO ADJETO DEHIPOTECA E OBRIGAÇÕES bem como o CONTRATO DEINSTRUMENTO PARTICULAR DE RETIFICAÇÃO ERATIFICAÇÃO assinado em 08 de agosto de 1991, paraaplicar o Decreto 172 de 08 de julho de 1991,atribuindo/aplicando índices que NÃO SÃO REAJUSTESSALARIAIS, fazendo alterações unilaterais.5. Acreditando que o Senhor Presidente da CEF com sua vastaexperiência na área Habitacional, com base nos documentos einformações já prestadas, e em poder do AgenteFinanceiro/também meu Empregador CEF, solicito aDEPURAÇÃO de meu Contrato e a conseqüente retiradadestes índices que não são Reajustes Salariais.”
Resposta dorecurso àautoridade máxima
26/12/2013 “1. Em atenção a sua solicitação, registrada através do E-SIC,site CGU, informamos que:1.1 Conforme HH369.004, item 3.8.3.2, as prestações deamortização e juros, assim como o prêmio de seguro mensalserão reajustados de acordo com a variação do BTN, peloíndice que venha ser estabelecido para os financiamentos do
SFH ou segundo o reajuste salarial, quando se tratar deadquirente assalariado, o que é o caso.1.2 Contudo a mutuária alega que pelo fato de as declaraçõesnão constarem os porcentuais de reajuste a partir de abril/94,acusa a Caixa de descumprir o contrato de mútuo assinado em30/11/1990.1.3 Ocorre que os salários foram reajustados a partir deabril/94 pela URV, configurando reajuste salarial que deve serrepassado para a prestação e prêmios de seguro, conformeartigo 14, Inciso VI, do Decreto 99.266/90, que regulamentoua Lei 8.025/90, que ora transcrevemos abaixo: “VI - asprestações mensais serão revistas no mesmo percentual e namesma periodicidade dos reajustes, inclusive antecipações, devencimentos ou salários, da categoria funcional ouprofissional do adquirente, a partir do mês subseqüente à suaconcessão; (Redação dada pelo decreto nº 172, de 1991)”2 Então, restando claro que os salários da mutuária tiveram osreajustes pela URV após março/94, os mesmos foramrepassados devida e corretamente para as prestações docontrato da Sra. M.C.N.S.3 Ressaltamos que a mutuária tem efetuado diversasreclamações diretamente à Caixa apenas mudando o modusoperandi, para sanar a questão em que a Caixa já deixou claroque cumpriu cabalmente o contrato, os normativos e alegislação pertinente.”A CAIXA encerra a resposta indicando à solicitante os outroscanais de atendimento disponíveis, para reclamações, dúvidasetc.
Recurso à CGU 05/01/2014 “1. Solicito a esta CORREGEDORIA, em grau de Recurso, aanálise das Correspondências e ANEXOS, através do Sistemade Informações, trocadas entre Mim e a CEF, com aconstatação de que a CEF NÃO RESPONDEU AS MINHASSOLICITAÇÕES. Desrespeitando meu Contrato –Instrumento Jurídico Perfeito – Registrado no Cartório do 2ºOfício de Registro de Imóveis de Brasília/DF – DOC ANEXOI e II, bem como a Lei 12.527/2011, o Decreto Lei N.º 7.724de 16/05/2012 e a própria Constituição Federal do Brasil.2. “Solicito cópia do documento, FUNDAMENTO LEGAL,que a CEF baseia-se para descumprir o meu ContratoParticular de Venda Parcelada de Imóvel Funcional, fazendoalterações unilaterais e não acatando a Declaração Correta deReajustes Salariais da área de Recursos Humanos de meuEmpregador CEF.” (solicitação inicial) 3. Informo que emJaneiro de 2013 solicitei à CEF a Depuração de MeuFinanciamento de Imóvel Funcional com a finalidade deQuitação Antecipada.4. As áreas meio da CEF, mesmo sendo sabedores da Nãoaplicação desses índices de Variação da URV em meufinanciamento, não conseguiram autorização superior para aretirada dos mesmos.
5. Vendo como única alternativa a utilização dos serviçosdesta CGU, pois acreditava que a CEF respeitaria as Leis, oque não ocorreu, então restou-me o Recurso aos Senhores.6. Não entendo essa filosofia da CEF, pois na ocasião deminha solicitação de Depuração de Saldo Devedor paraQuitação Antecipada, foi-me fornecido pela CEF-AG.PLANALTO o OF.N.º 015/2012/PV PLANALTO/BR de 14de janeiro de 2013 - Documento Padrão para todos osfinanciamento Imobiliários - DOC. ANEXO III. EsteDocumento foi dirigido pelo Agente financeiro CEF aoDEPARTAMENTO DE PESSOAL de meu EMPREGADORCAIXA ECONOMICA FEDERAL, solicitandoDECLARAÇÃO de meus Reajustes Salariais na Data Base daCategoria.7. Atendido através da DECLARAÇÃO da CEPES- CNGESTÃO DE PESSOAS, em 08 de abril de 2013, assinadapelo Coordenador Centralizadora/Filial Senhor DANIEL DECASTRO BORGES - DOC ANEXO IV - bem como, também,em nova DECLARAÇÃO fornecida pela CEPES – CNGestão de Pessoas – Folha de Pagamento, pela SenhoraIZABEL CRISTINA GARCIA DIAS – Coordenadora –Centralizadora/Filial/BR em 22 de Agosto de 2013 – DOCANEXO V.8. Até o presente momento NÃO entendi o que está faltandoao Agente Financeiro CAIXA ECONOMICA FEDERAL para“ACEITAR” as DECLARAÇÕES DE REAJUSTESSALARIAIS NA DATA BASE DA CATEGORIA, de meuEMPREGADOR CEF. Eu trabalhei na Empresa CEF eacredito/aceito as Declarações por confiar na Competência,Honestidade, Profissionalismo. Zelo pelos Interesses daEmpresa e seu Bom nome, bem como dos Colegas da Área deRecursos Humanos – Folha de Pagamento.9. Em nenhuma das respostas enviadas pela CEF ela cita e/oujustifica o conhecimento/ reconhecimento dasDECLARAÇÕES DE REAJUSTE SALARIAIS DE MEUEMPREGADOR CEF que constam ANEXADAS nesteProcesso e já em poder da mesma.10. Dispensável se faz CITAR os Artigos, parágrafos, incisosda Lei de Acesso a Informação – N.º 12.527/2011, do DecretoLei N.º 7.724/2013 e da Constituição Federal do Brasil aoqual pode-se enquadrar o Agente Financeiro CEF por NÃORESPONDER, NÃO ANALISAR, IGNORAR, NEGAR OACESSO A INFORMAÇÃO, objeto do pedido formulado.11. Coloco-me á disposição desta CORREGEDORIA paraquaisquer outras informações/documentos que se fizeremnecessário.”
É o relatório.Análise
2. Registre-se que o recurso foi apresentado à CGU de forma tempestiva e recebido de
acordo com as regras e condições estabelecidas no art. 16 da Lei nº 12.527/2011 e art. 23 do
Decreto nº 7.724/2012:
Lei nº 12.527/2012
Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades doPoder Executivo Federal, o requerente poderá recorrer àControladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cinco)dias se:
(...)§ 1o O recurso previsto neste artigo somente poderá ser
dirigido à Controladoria Geral da União depois de submetido àapreciação de pelo menos uma autoridade hierarquicamente superioràquela que exarou a decisão impugnada, que deliberará no prazo de 5(cinco) dias.
Decreto nº 7724/2012
Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo únicodo art. 21 ou infrutífera a reclamação de que trata o art. 22, poderáo requerente apresentar recurso no prazo de dez dias, contado daciência da decisão, à Controladoria-Geral da União, que deverá semanifestar no prazo de cinco dias, contado do recebimento dorecurso.
3. Deve-se mencionar que a Caixa não informou à cidadã sobre o procedimento recursal,
especialmente quanto à possibilidade e prazo para interposição de recurso e indicação da
autoridade para sua apreciação, nos termos do art. 19, II, do Decreto nº 7.724/2011.
4. No mérito, o primeiro aspecto a se observar diz respeito ao teor do pedido feito pela
recorrente (mutuária de um contrato de financiamento imobiliário firmado com a Caixa), que
solicita:
“... cópia do documento, FUNDAMENTO LEGAL, que a CEF
baseia-se para descumprir o meu Contrato Particular de Venda
Parcelada de Imóvel Funcional, fazendo alterações unilaterais e não
acatando a Declaração Correta de Reajustes Salariais da área de
Recursos Humanos de meu Empregador CEF.” (grifo nosso)
Para que se possa elucidar o caso, de modo a concluir se temos ou não um legítimo pedido de
acesso à informação, é necessário analisar o significado dos termos utilizados no pedido
inicial. De partida, não se pode dissociar o documento (ou fundamento legal) requerido pela
recorrente com o elemento seguinte que o qualifica: “... que a CEF baseia-se para
descumprir...”. Segundo o pedido feito, a recorrente não quer um documento qualquer, mas
aquele que serviria de sustentação (base) para o descumprimento do contrato imobiliário pela
CEF. Isso levaria a duas respostas possíveis por parte da Caixa: 1) eis aqui o documento
utilizado para descumprir o contrato firmado com a mutuária (hipótese menos provável); ou
2) não existe tal documento, pois a empresa cumpre com todas as suas obrigações contratuais
(hipótese mais provável). Como era de se esperar, isto é exatamente o que a Caixa afirma em
sua resposta: “A CAIXA cumpre regularmente todos os contratos firmados com seus
Clientes/Mutuários.” E, por indução decorrente da forma como a pergunta foi feita, chega-se
a um beco sem saída no tocante à possibilidade de solucionar o caso no âmbito da Lei de
Acesso a Informação (LAI), pois agora não se trata mais de ter acesso a determinado
documento ou informação, mas de debater, de discutir, se a Caixa tem descumprido ou não
obrigações contratuais em relação à recorrente. Portanto, essa discussão, de cunho jurídico
específico (relação contratual, direitos e obrigações, cumprimento de condições pactuadas)
não pertence, não está contida nos limites distintos e precisos da Lei nº 12.527/2011.
5. Como segundo aspecto, verifica-se que a recorrente se utiliza do aposto “fundamento
legal” depois do termo “documento”, na tentativa de especificar ou tentar esclarecer o pedido.
A partir daí, durante o trâmite recursal, a Caixa e também a recorrente passam a citar, discutir
e debater arduamente sobre normas, leis, MP nº 482/1994 (que instituiu o Plano Real), índices
de reajuste aplicáveis ao contrato, acordo coletivo de trabalho, BTN, URV, entre outros. De
um lado, a Caixa diz que cumpre o contrato e segue as normas aplicáveis, chegando a afirmar
textualmente que “... as prestações de amortização e juros, assim como o prêmio de seguro
mensal são reajustadas de acordo com a variação dos reajustes salariais dos mutuários, o que é
previsto no contrato de mútuo da Sra. M.C.E.N., assinado em 30/11/1990.” De outro, a
recorrente afirma justamente o contrário e alega, já em sede de recursos, que a Caixa não se
utiliza ou reconhece as Declarações de Reajustes Salariais fornecidos pela própria Caixa (que
é sua empregadora) para compor os índices de reajuste do contrato. Constata-se, pois, que este
cenário de divergência e embate entre as partes apenas reforça o entendimento de que estamos
diante de um caso que ultrapassa os limites da Lei nº 12.527/2011, pois requer interpretação
de fatos e normas e gera a necessidade de aprofundamento e incursão jurídica em temas
alheios à função da LAI, que é a de propiciar ao cidadão o alcance do direito fundamental de
ter acesso a informações públicas ou de seu interesse pessoal. Em síntese, o objeto deste
recurso não se circunscreve à questão da informação em si (campo de aplicação da LAI), mas
à interpretação que deve ser dada a informações, documentos e normas (campo de aplicação
de outros ramos jurídicos).
6. Há outros elementos no pedido, e nos desdobramentos recursais, que demonstram a
incompatibilidade e inviabilidade jurídica da Lei de Acesso a Informação em suprir a
pretensão da recorrente. Esta, ao longo de todo o trâmite, se utiliza de expressões como
“descumprir”, “alterações unilaterais”, “não acatando”, “declaração correta”, “aplicando
índices que não são reajustes salariais” etc. A cidadã não quer o fornecimento de um simples
documento ou informação, que estejam acessíveis e disponíveis, mas busca razões e
fundamentos, reclama e se indigna com fatos e situações que vão além da informação em si.
Percebe-se, de forma clara, que a questão de fundo a permear este caso não é de informação,
mas de revisão do contrato imobiliário firmado com a Caixa. É uma pretensão de natureza
diversa e, como tal, a solução da controvérsia não pode ser remetida à LAI, por conta de seu
escopo determinado e bem definido.
7. Os documentos anexados pela recorrente tampouco auxiliam no alcance de sua
pretensão, no que tange à LAI, pois como já afirmado, referem-se a outra órbita de discussão.
A validade, o acerto, a possível falta de consideração pela Caixa dos registros contidos nesses
documentos devem ser levados e discutidos em outros canais, que permitam o exercício do
contraditório e ampla defesa para, trazidas as razões das partes ao processo, se possa chegar
ao final a uma decisão de mérito sobre a existência de direito da recorrente a obter revisão do
seu contrato. A via do processo administrativo ou judicial podem ser pertinentes a tal
finalidade (entre outros possíveis canais), mas certamente não é adequada a via da LAI. A
propósito, pelo que afirma a Caixa, a recorrente vem fazendo reclamações à empresa por meio
de outros canais, o que indica que, insatisfeita com o resultado obtido, tenta agora o canal da
Lei de Acesso a Informação para continuar e, quem sabe, avançar na discussão travada em
outras instâncias. Ainda que a LAI seja essencial e indispensável na consecução e na garantia
do direito fundamental de acesso a informação, ela não é capaz de suprir lacunas, carências,
ou auxiliar em pretensões que vão além de seu escopo.
Conclusão
8. De todo o exposto, opina-se pelo não conhecimento do recurso, pois a pretensão da
recorrente, que tem como pano de fundo a revisão do seu contrato imobiliário com a Caixa
Econômica Federal, ultrapassa os limites de aplicação da Lei de Acesso a Informação.
9. Em termos procedimentais, deve-se ressaltar que a Caixa não informou à recorrente
sobre o procedimento recursal, especialmente quanto à possibilidade e prazo para interposição
de recurso e indicação da autoridade para sua apreciação, nos termos do art. 19, II, do Decreto
nº 7.724/2011.
10. Nesse sentido, recomenda-se orientar a autoridade de monitoramento competente para
que reavalie os fluxos internos da empresa com o fim de assegurar o cumprimento das normas
relativas ao acesso à informação, em especial:
a) Informar em suas respostas aos cidadãos sobre a possibilidade e prazo para
interposição de recurso bem como a autoridade competente para apreciá-lo.
MÁRCIO ALMEIDA DO AMARAL
Analista de Finanças e Controle
D E C I S Ã O
No exercício das atribuições a mim conferidas pela Portaria n. 1.567 da
Controladoria-Geral da União, de 22 de agosto de 2013, adoto, como fundamento deste ato, o
parecer acima, para decidir pelo não conhecimento do recurso interposto, nos termos do art.
23 do referido Decreto, no âmbito do pedido de informação nº 99902.001899/2013-12,
direcionado à Caixa Econômica Federal.
Gilberto Waller Júnior
Ouvidor-Geral da União Substituto
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICAControladoria-Geral da União
Folha de Assinaturas
Referência: PROCESSO nº 99902.001899/2013-12
Documento: PARECER nº 1433 de 24/04/2014
Assunto: Instrução de recurso - LAI
Ouvidor
Assinado Digitalmente em 24/04/2014
GILBERTO WALLER JUNIOR
Signatário(s):
aprovo.
Relação de Despachos:
Assinado Digitalmente em 24/04/2014
Ouvidor
GILBERTO WALLER JUNIOR
Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O código para verificação da autenticidade deste
documento é: 9eda85a4_8d12dc94f748386
Controladoria-Geral da UniãoOuvidoria-Geral da União
PARECER
Referência: 99902.001899/2013-12
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Restrição deacesso:
Sem restrição.
Ementa: Contrato – ato normativo – demonstrativos – informação incorreta – interessepessoal – Caixa Econômica Federal – informação já disponibilizada – nãoconhecimento.
Órgão ouentidade
recorrido (a):
Caixa Econômica Federal.
Recorrente: M.C.E.N.
Senhor Ouvidor-Geral da União,
1. O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação pública, com base na
Lei nº 12.527/2011, conforme resumo descritivo a seguir apresentado:
Relatório Data TeorPedido 03/11/2013 “Solicito cópia do documento, FUNDAMENTO LEGAL, que
a CEF baseia-se para descumprir o meu Contrato Particular deVenda Parcelada de Imóvel Funcional,fazendo alteraçõesunilaterais e não acatando a Declaração Correta de ReajustesSalariais da área de Recursos Humanos de meu EmpregadorCEF.”
Resposta inicial 28/11/2013 “1. Em atenção ao Protocolo gerado por meio do E-SIC,informamos que:1.1. A CAIXA cumpre regularmente todos os contratosfirmados com seus Clientes/Mutuários. Para os contratosfirmados a partir da publicação da Lei 8.025/1990 e doDecreto 172/91 – Imóvel Funcional, as prestações deamortização e juros, assim como o prêmio de seguro mensalsão reajustadas de acordo com a variação dos reajustessalariais dos mutuários, o que é previsto no contrato de mútuoda Sra. M.C.E.N., assinado em 30/11/1990. O assunto emquestão é fundamentado no artigo 14, Inciso VI, do Decreto99.266/90, que regulamentou a Lei 8.025/90, em que “asprestações mensais serão revistas no mesmo percentual e na
mesma periodicidade dos reajustes, inclusive antecipações, devencimentos ou salários, da categoria funcional ouprofissional do adquirente, a partir do mês subsequente à suaconcessão”. A MP 482/1994, transformada na Lei 8880/94,por sua vez, regulamenta a conversão dos salários para URVem 01/03/1994, que reajustava automaticamente os valoresexpressos em cruzeiros reais à época. Citados atos legaisbaseiam os procedimentos adotados pela CAIXA quanto àaplicação dos reajustes salariais ao contrato firmado com aCliente. As legislações citadas estão disponíveis no sítiowww.planalto.gov.br.”A CAIXA encerra a resposta indicando à solicitante os outroscanais de atendimento disponíveis, para reclamações, dúvidasetc.
Recurso àautoridade superior
07/12/2013 “(...)1. A CEF NÃO ATENDEU a minha Solicitação:” cópia dodocumento – FUNDAMENTO LEGAL – que a CEF baseia-separa DESCUMPRIR o meu Contrato Particular de VendaParcelada de Imóvel Funcional, fazendo ALTERAÇÕESUNILATERAIS e NÃO ACATANDO A DECLARAÇÃOCORRETA DE REAJUSTES SALARIAIS da Categoria,fornecida pela CEPES – CN Gestão de Pessoas – FOLHA DEPAGAMENTO, de meu EMPREGADOR CEF de 22 deagosto de 2013, em ANEXO.”2. Os Senhores DECLARAM que estão fundamentados noArtigo 14, Inciso VI, do Decreto 99.266/90. Portanto deverãoter em mãos o “ACORDO COLETIVO DE TRABALHO de1993 na data base da Categoria” ou qualquer outroDOCUMENTO LEGAL que comprove as ANTECIPAÇÕESSALARIAIS nos meses de Abri/94-47,67%, Mai/94 –42,63%, Jun/94 – 41,53% e Jul/93 – 16,45%. Ou será que osSenhores estão CONFUNDINDO URV (indexador temporárioutilizado pelo Governo Federal para implantar o novo padrãomonetário) com antecipações salariais? Os índices de variaçãoda URV Não CARACTERIZAM RECOMPOSIÇÃO DEPERDAS OU ANTECIPAÇÕES SALARIAIS, mas simRECOMPOSIÇÃO DA MOEDA. São parcelas de naturezajurídica absolutamente diversas. Muito bem explicado peloArt. 4º MP 482/94 transformada na Lei 8880/94: “O BancoCentral do Brasil até a emissão do REAL, fixará a paridadediária entre o Cruzeiro Real e a URV, tomando por base aPERDA DO PODER AQUISITIVO DO CRUZEIRO REAL.”3. Sendo induzida pela CEF a ler o Decreto 99.266 de 28 demaio de 1990 chamou minha atenção o Parágrafo Único doArtigo 42, ao qual sugiro especial atenção.”
Resposta dorecurso àautoridade superior
16/12/2013 “1. Em atenção a sua solicitação, registrada através do E-SIC,site CGU, informamos que:1.1 Em análise do pleito da mutuária MARIA DO CARMONEVES SCUDEZE, as prestações de amortização e juros,assim como o prêmio de seguro mensal serão reajustados de
acordo com a variação do BTN, pelo índice que venha serestabelecido para os financiamentos do SFH ou segundo oreajuste salarial, quando se tratar de adquirente assalariado, oque é previsto no contrato de mútuo da Sra. Maria do CarmoEstebanez Neves, assinado em 30/11/1990. Essa questãofundamenta-se no artigo 14, Inciso VI, do Decreto 99.266/90,que regulamentou a Lei 8.025/90, em que “as prestaçõesmensais serão revistas no mesmo percentual e na mesmaperiodicidade dos reajustes, inclusive antecipações, devencimentos ou salários, da categoria funcional ouprofissional do adquirente, a partir do mês subsequente à suaconcessão”.1.2 Uma vez que a mutuária em questão tratava-se deadquirente assalariada, sem prejuízo das demais disposiçõeslegais e normativas, ratifica-se que os reajustes aplicados aosalário dessa, não importando a forma de cálculo, devem serrepassados às prestações de amortizações e juros, bem comoaos prêmios de seguro mensal.1.3 Ressaltamos que a CAIXA cumpre regularmente todos oscontratos firmados com seus Clientes/Mutuários, o que nãoencontra fundamento a alegação da mutuaria quanto arequerer documento “que a CEF baseia-se paraDESCUMPRIR o meu Contrato Particular de Venda Parceladade Imóvel Funcional”.1.3.1 A MP 482/1994, transformada na Lei 8880/94, por suavez, regulamenta a conversão dos salários para URV em01/03/1994, que reajustava automaticamente os valoresexpressos em cruzeiros reais à época.1.3.2 Citados atos legais baseiam os procedimentos adotadospela CAIXA quanto à aplicação dos reajustes salariais aocontrato firmado com a Cliente.1.3.3 Não é necessário apresentar cópia das legislaçõescitadas, pois estão disponíveis no sítio www.planalto.gov.br.”A CAIXA encerra a resposta indicando à solicitante os outroscanais de atendimento disponíveis, para reclamações, dúvidasetc.
Recurso àautoridade máxima
19/12/2013 “1. A CEF não atendeu a minha solicitação, não considerou odocumento, em Anexo: DECLARAÇÃO DE REAJUSTESSALARIAIS DA CATEGORIA PROFISSIONAL, fornecidapelo Departamento de Pessoal de meu empregador CaixaEconômica Federal, e, nem deve ter consultado a área dePessoal sobre o assunto, pois do contrário não estaria fazendodeclarações infundadas ( confundindo “entendendo” variaçãoda URV com Reajustes Salariais, pois a variação da URVNÃO caracteriza recomposição de perdas salariais mas SIMRECOMPOSIÇÃO DO VALOR DA MOEDA, vide MP 434,MP 457, MP 482/94 e Lei 8880/94).2. No item 1.2.a CEF ratifica que aplicaram ao meufinanciamento os reajustes aplicados ao meu salário.Segundo, demonstro no Anexo I, referente a folha 4 da
Planilha de Evolução de Financiamento do meu ImóvelFuncional, a CEF aplicou índices de reajustes em meufinanciamento nos meses de Maio/94 – 47,67%, Junho/94 –42,63%, Julho/94 – 41,53%, Agosto/94 – 16,45%, reajustesesses que NÃO CONSTAM EM DECLARAÇÕES DE MEUEMPREGADOR-CEF, como reajustes salariais, o quecomprovo no Anexo II, com a Declaração do Departamentode Pessoal emitida em 22 de agosto de 2013, bem comoDeclaração do ano de 2001,em anexo III, onde constam alémdos Reajustes na Data Base da Categoria, tambémantecipações, vantagens pessoais, como Deltas porMerecimento e/ou por Antiguidade, menos os índices citadosacima.3. No item 1.3 o DEOPE- DE Operações Corporativas da CEFdeclara que cumpre regularmente todos os contratos e que eufaço alegações infundadas. Cumpre-me informar que não façoalegações infundadas, mas sim COMPROVAÇÕESDOCUMENTADAS, porém a Área Habitacional é quem temque justificar a NÃO ACEITAÇÃO DAS DECLARAÇÕESFORNECIDAS PELA ÁREA DE PESSOAL DE MEUEMPREGADOR CEF, apresentadas por mim, ao longo detodos esses anos, como se meu empregador fosse uma PessoaJurídica Inidônea. O que fica muito deselegante por parte daÁrea de Habitação e até mesmo pode-se considerardesobediência ao Código de Ética da Empresa (normas deRegistro no SIPON, Acordo de Conduta Pessoal eProfissional- ACPP ), no que tange aos valores: Respeito,Honestidade, Compromisso, Transparência eResponsabilidade.4. Com base nessas informações documentadas a CEFdescumpriu sim o meu CONTRATO PARTICULAR DECOMPRA E VENDA A PRAZO COM PACTO ADJETO DEHIPOTECA E OBRIGAÇÕES bem como o CONTRATO DEINSTRUMENTO PARTICULAR DE RETIFICAÇÃO ERATIFICAÇÃO assinado em 08 de agosto de 1991, paraaplicar o Decreto 172 de 08 de julho de 1991,atribuindo/aplicando índices que NÃO SÃO REAJUSTESSALARIAIS, fazendo alterações unilaterais.5. Acreditando que o Senhor Presidente da CEF com sua vastaexperiência na área Habitacional, com base nos documentos einformações já prestadas, e em poder do AgenteFinanceiro/também meu Empregador CEF, solicito aDEPURAÇÃO de meu Contrato e a conseqüente retiradadestes índices que não são Reajustes Salariais.”
Resposta dorecurso àautoridade máxima
26/12/2013 “1. Em atenção a sua solicitação, registrada através do E-SIC,site CGU, informamos que:1.1 Conforme HH369.004, item 3.8.3.2, as prestações deamortização e juros, assim como o prêmio de seguro mensalserão reajustados de acordo com a variação do BTN, peloíndice que venha ser estabelecido para os financiamentos do
SFH ou segundo o reajuste salarial, quando se tratar deadquirente assalariado, o que é o caso.1.2 Contudo a mutuária alega que pelo fato de as declaraçõesnão constarem os porcentuais de reajuste a partir de abril/94,acusa a Caixa de descumprir o contrato de mútuo assinado em30/11/1990.1.3 Ocorre que os salários foram reajustados a partir deabril/94 pela URV, configurando reajuste salarial que deve serrepassado para a prestação e prêmios de seguro, conformeartigo 14, Inciso VI, do Decreto 99.266/90, que regulamentoua Lei 8.025/90, que ora transcrevemos abaixo: “VI - asprestações mensais serão revistas no mesmo percentual e namesma periodicidade dos reajustes, inclusive antecipações, devencimentos ou salários, da categoria funcional ouprofissional do adquirente, a partir do mês subseqüente à suaconcessão; (Redação dada pelo decreto nº 172, de 1991)”2 Então, restando claro que os salários da mutuária tiveram osreajustes pela URV após março/94, os mesmos foramrepassados devida e corretamente para as prestações docontrato da Sra. M.C.N.S.3 Ressaltamos que a mutuária tem efetuado diversasreclamações diretamente à Caixa apenas mudando o modusoperandi, para sanar a questão em que a Caixa já deixou claroque cumpriu cabalmente o contrato, os normativos e alegislação pertinente.”A CAIXA encerra a resposta indicando à solicitante os outroscanais de atendimento disponíveis, para reclamações, dúvidasetc.
Recurso à CGU 05/01/2014 “1. Solicito a esta CORREGEDORIA, em grau de Recurso, aanálise das Correspondências e ANEXOS, através do Sistemade Informações, trocadas entre Mim e a CEF, com aconstatação de que a CEF NÃO RESPONDEU AS MINHASSOLICITAÇÕES. Desrespeitando meu Contrato –Instrumento Jurídico Perfeito – Registrado no Cartório do 2ºOfício de Registro de Imóveis de Brasília/DF – DOC ANEXOI e II, bem como a Lei 12.527/2011, o Decreto Lei N.º 7.724de 16/05/2012 e a própria Constituição Federal do Brasil.2. “Solicito cópia do documento, FUNDAMENTO LEGAL,que a CEF baseia-se para descumprir o meu ContratoParticular de Venda Parcelada de Imóvel Funcional, fazendoalterações unilaterais e não acatando a Declaração Correta deReajustes Salariais da área de Recursos Humanos de meuEmpregador CEF.” (solicitação inicial) 3. Informo que emJaneiro de 2013 solicitei à CEF a Depuração de MeuFinanciamento de Imóvel Funcional com a finalidade deQuitação Antecipada.4. As áreas meio da CEF, mesmo sendo sabedores da Nãoaplicação desses índices de Variação da URV em meufinanciamento, não conseguiram autorização superior para aretirada dos mesmos.
5. Vendo como única alternativa a utilização dos serviçosdesta CGU, pois acreditava que a CEF respeitaria as Leis, oque não ocorreu, então restou-me o Recurso aos Senhores.6. Não entendo essa filosofia da CEF, pois na ocasião deminha solicitação de Depuração de Saldo Devedor paraQuitação Antecipada, foi-me fornecido pela CEF-AG.PLANALTO o OF.N.º 015/2012/PV PLANALTO/BR de 14de janeiro de 2013 - Documento Padrão para todos osfinanciamento Imobiliários - DOC. ANEXO III. EsteDocumento foi dirigido pelo Agente financeiro CEF aoDEPARTAMENTO DE PESSOAL de meu EMPREGADORCAIXA ECONOMICA FEDERAL, solicitandoDECLARAÇÃO de meus Reajustes Salariais na Data Base daCategoria.7. Atendido através da DECLARAÇÃO da CEPES- CNGESTÃO DE PESSOAS, em 08 de abril de 2013, assinadapelo Coordenador Centralizadora/Filial Senhor DANIEL DECASTRO BORGES - DOC ANEXO IV - bem como, também,em nova DECLARAÇÃO fornecida pela CEPES – CNGestão de Pessoas – Folha de Pagamento, pela SenhoraIZABEL CRISTINA GARCIA DIAS – Coordenadora –Centralizadora/Filial/BR em 22 de Agosto de 2013 – DOCANEXO V.8. Até o presente momento NÃO entendi o que está faltandoao Agente Financeiro CAIXA ECONOMICA FEDERAL para“ACEITAR” as DECLARAÇÕES DE REAJUSTESSALARIAIS NA DATA BASE DA CATEGORIA, de meuEMPREGADOR CEF. Eu trabalhei na Empresa CEF eacredito/aceito as Declarações por confiar na Competência,Honestidade, Profissionalismo. Zelo pelos Interesses daEmpresa e seu Bom nome, bem como dos Colegas da Área deRecursos Humanos – Folha de Pagamento.9. Em nenhuma das respostas enviadas pela CEF ela cita e/oujustifica o conhecimento/ reconhecimento dasDECLARAÇÕES DE REAJUSTE SALARIAIS DE MEUEMPREGADOR CEF que constam ANEXADAS nesteProcesso e já em poder da mesma.10. Dispensável se faz CITAR os Artigos, parágrafos, incisosda Lei de Acesso a Informação – N.º 12.527/2011, do DecretoLei N.º 7.724/2013 e da Constituição Federal do Brasil aoqual pode-se enquadrar o Agente Financeiro CEF por NÃORESPONDER, NÃO ANALISAR, IGNORAR, NEGAR OACESSO A INFORMAÇÃO, objeto do pedido formulado.11. Coloco-me á disposição desta CORREGEDORIA paraquaisquer outras informações/documentos que se fizeremnecessário.”
É o relatório.Análise
2. Registre-se que o recurso foi apresentado à CGU de forma tempestiva e recebido de
acordo com as regras e condições estabelecidas no art. 16 da Lei nº 12.527/2011 e art. 23 do
Decreto nº 7.724/2012:
Lei nº 12.527/2012
Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades doPoder Executivo Federal, o requerente poderá recorrer àControladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cinco)dias se:
(...)§ 1o O recurso previsto neste artigo somente poderá ser
dirigido à Controladoria Geral da União depois de submetido àapreciação de pelo menos uma autoridade hierarquicamente superioràquela que exarou a decisão impugnada, que deliberará no prazo de 5(cinco) dias.
Decreto nº 7724/2012
Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo únicodo art. 21 ou infrutífera a reclamação de que trata o art. 22, poderáo requerente apresentar recurso no prazo de dez dias, contado daciência da decisão, à Controladoria-Geral da União, que deverá semanifestar no prazo de cinco dias, contado do recebimento dorecurso.
3. Deve-se mencionar que a Caixa não informou à cidadã sobre o procedimento recursal,
especialmente quanto à possibilidade e prazo para interposição de recurso e indicação da
autoridade para sua apreciação, nos termos do art. 19, II, do Decreto nº 7.724/2011.
4. No mérito, o primeiro aspecto a se observar diz respeito ao teor do pedido feito pela
recorrente (mutuária de um contrato de financiamento imobiliário firmado com a Caixa), que
solicita:
“... cópia do documento, FUNDAMENTO LEGAL, que a CEF
baseia-se para descumprir o meu Contrato Particular de Venda
Parcelada de Imóvel Funcional, fazendo alterações unilaterais e não
acatando a Declaração Correta de Reajustes Salariais da área de
Recursos Humanos de meu Empregador CEF.” (grifo nosso)
Para que se possa elucidar o caso, de modo a concluir se temos ou não um legítimo pedido de
acesso à informação, é necessário analisar o significado dos termos utilizados no pedido
inicial. De partida, não se pode dissociar o documento (ou fundamento legal) requerido pela
recorrente com o elemento seguinte que o qualifica: “... que a CEF baseia-se para
descumprir...”. Segundo o pedido feito, a recorrente não quer um documento qualquer, mas
aquele que serviria de sustentação (base) para o descumprimento do contrato imobiliário pela
CEF. Isso levaria a duas respostas possíveis por parte da Caixa: 1) eis aqui o documento
utilizado para descumprir o contrato firmado com a mutuária (hipótese menos provável); ou
2) não existe tal documento, pois a empresa cumpre com todas as suas obrigações contratuais
(hipótese mais provável). Como era de se esperar, isto é exatamente o que a Caixa afirma em
sua resposta: “A CAIXA cumpre regularmente todos os contratos firmados com seus
Clientes/Mutuários.” E, por indução decorrente da forma como a pergunta foi feita, chega-se
a um beco sem saída no tocante à possibilidade de solucionar o caso no âmbito da Lei de
Acesso a Informação (LAI), pois agora não se trata mais de ter acesso a determinado
documento ou informação, mas de debater, de discutir, se a Caixa tem descumprido ou não
obrigações contratuais em relação à recorrente. Portanto, essa discussão, de cunho jurídico
específico (relação contratual, direitos e obrigações, cumprimento de condições pactuadas)
não pertence, não está contida nos limites distintos e precisos da Lei nº 12.527/2011.
5. Como segundo aspecto, verifica-se que a recorrente se utiliza do aposto “fundamento
legal” depois do termo “documento”, na tentativa de especificar ou tentar esclarecer o pedido.
A partir daí, durante o trâmite recursal, a Caixa e também a recorrente passam a citar, discutir
e debater arduamente sobre normas, leis, MP nº 482/1994 (que instituiu o Plano Real), índices
de reajuste aplicáveis ao contrato, acordo coletivo de trabalho, BTN, URV, entre outros. De
um lado, a Caixa diz que cumpre o contrato e segue as normas aplicáveis, chegando a afirmar
textualmente que “... as prestações de amortização e juros, assim como o prêmio de seguro
mensal são reajustadas de acordo com a variação dos reajustes salariais dos mutuários, o que é
previsto no contrato de mútuo da Sra. M.C.E.N., assinado em 30/11/1990.” De outro, a
recorrente afirma justamente o contrário e alega, já em sede de recursos, que a Caixa não se
utiliza ou reconhece as Declarações de Reajustes Salariais fornecidos pela própria Caixa (que
é sua empregadora) para compor os índices de reajuste do contrato. Constata-se, pois, que este
cenário de divergência e embate entre as partes apenas reforça o entendimento de que estamos
diante de um caso que ultrapassa os limites da Lei nº 12.527/2011, pois requer interpretação
de fatos e normas e gera a necessidade de aprofundamento e incursão jurídica em temas
alheios à função da LAI, que é a de propiciar ao cidadão o alcance do direito fundamental de
ter acesso a informações públicas ou de seu interesse pessoal. Em síntese, o objeto deste
recurso não se circunscreve à questão da informação em si (campo de aplicação da LAI), mas
à interpretação que deve ser dada a informações, documentos e normas (campo de aplicação
de outros ramos jurídicos).
6. Há outros elementos no pedido, e nos desdobramentos recursais, que demonstram a
incompatibilidade e inviabilidade jurídica da Lei de Acesso a Informação em suprir a
pretensão da recorrente. Esta, ao longo de todo o trâmite, se utiliza de expressões como
“descumprir”, “alterações unilaterais”, “não acatando”, “declaração correta”, “aplicando
índices que não são reajustes salariais” etc. A cidadã não quer o fornecimento de um simples
documento ou informação, que estejam acessíveis e disponíveis, mas busca razões e
fundamentos, reclama e se indigna com fatos e situações que vão além da informação em si.
Percebe-se, de forma clara, que a questão de fundo a permear este caso não é de informação,
mas de revisão do contrato imobiliário firmado com a Caixa. É uma pretensão de natureza
diversa e, como tal, a solução da controvérsia não pode ser remetida à LAI, por conta de seu
escopo determinado e bem definido.
7. Os documentos anexados pela recorrente tampouco auxiliam no alcance de sua
pretensão, no que tange à LAI, pois como já afirmado, referem-se a outra órbita de discussão.
A validade, o acerto, a possível falta de consideração pela Caixa dos registros contidos nesses
documentos devem ser levados e discutidos em outros canais, que permitam o exercício do
contraditório e ampla defesa para, trazidas as razões das partes ao processo, se possa chegar
ao final a uma decisão de mérito sobre a existência de direito da recorrente a obter revisão do
seu contrato. A via do processo administrativo ou judicial podem ser pertinentes a tal
finalidade (entre outros possíveis canais), mas certamente não é adequada a via da LAI. A
propósito, pelo que afirma a Caixa, a recorrente vem fazendo reclamações à empresa por meio
de outros canais, o que indica que, insatisfeita com o resultado obtido, tenta agora o canal da
Lei de Acesso a Informação para continuar e, quem sabe, avançar na discussão travada em
outras instâncias. Ainda que a LAI seja essencial e indispensável na consecução e na garantia
do direito fundamental de acesso a informação, ela não é capaz de suprir lacunas, carências,
ou auxiliar em pretensões que vão além de seu escopo.
Conclusão
8. De todo o exposto, opina-se pelo não conhecimento do recurso, pois a pretensão da
recorrente, que tem como pano de fundo a revisão do seu contrato imobiliário com a Caixa
Econômica Federal, ultrapassa os limites de aplicação da Lei de Acesso a Informação.
9. Em termos procedimentais, deve-se ressaltar que a Caixa não informou à recorrente
sobre o procedimento recursal, especialmente quanto à possibilidade e prazo para interposição
de recurso e indicação da autoridade para sua apreciação, nos termos do art. 19, II, do Decreto
nº 7.724/2011.
10. Nesse sentido, recomenda-se orientar a autoridade de monitoramento competente para
que reavalie os fluxos internos da empresa com o fim de assegurar o cumprimento das normas
relativas ao acesso à informação, em especial:
a) Informar em suas respostas aos cidadãos sobre a possibilidade e prazo para
interposição de recurso bem como a autoridade competente para apreciá-lo.
MÁRCIO ALMEIDA DO AMARAL
Analista de Finanças e Controle
D E C I S Ã O
No exercício das atribuições a mim conferidas pela Portaria n. 1.567 da
Controladoria-Geral da União, de 22 de agosto de 2013, adoto, como fundamento deste ato, o
parecer acima, para decidir pelo não conhecimento do recurso interposto, nos termos do art.
23 do referido Decreto, no âmbito do pedido de informação nº 99902.001899/2013-12,
direcionado à Caixa Econômica Federal.
Gilberto Waller Júnior
Ouvidor-Geral da União Substituto