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1 Universidade Federal de São Carlos – UFSCar Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Disciplina de Microbiologia Controle Biológico Catiana Regina Brumatti Clóvis Wesley Oliveira de Souza

Controle Biológico

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Universidade Federal de São Carlos – UFSCarPrograma de Pós-Graduação em Biotecnologia

Disciplina de Microbiologia

Controle Biológico

Catiana Regina BrumattiClóvis Wesley Oliveira de Souza

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Sumário

1. Histórico...... ........................................................................... 3

2. Definição ..................................................................................4

3. Vantagens e desvantagens do controle biológico.....................7

4. Principais microorganismos utilizados no controle biológico...84.1 Fungos............................................................................94.2 Bactérias........................................................................114.3 Vírus..............................................................................12

5. Referências bibliográficas.........................................................14

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1. Histórico

O marco inicial do controle biológico data do século III a.C., quando os chineses observaram que formigas (Oecophylla smaragdina) predadoras reduziam as populações de pragas dos citros. O primeiro registro do controle biológico com parasitóides aconteceu em 1602 quando Aldrovandi relatou que o parasitismo da lagarta-das-crucíferas (Pieris sp.) por Apanteles glomeratus.

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Em 1830 na Europa alguns fungos, bactérias e protozoários foram identificados como agentes causais de doenças em insetos e em 1873 foi realizada a primeira transferência internacional de um predador (ácaro) dos EUA para a França, com a finalidade de controlar a filoxera (Daktulosphaira vitifoliae);

No entanto em 1888, na Califórnia EUA, foi realizado o primeiro programa de controle biológico clássico de sucesso com a introdução da joaninha australiana Rodolia cardinalis, usada no controle da cochonilha Icerya purchasi. Desde então o controle biológico tem sido praticado utilizando cerca de mil espécies de inimigos naturais no controle de cerca de 300 espécies de pragas em 350 programas de controle biológico desenvolvidos mundialmente. No Brasil há casos de sucesso como o controle biológico das pragas de cana-de-açúcar, dos pulgões-do-trigo, da lagarta e percevejo da cana, da cochonilha das pastagens, da minadora-dos-citros, da cochonilha da mandioca e de lepidópteros praga utilizando Trichogramma spp. O controle biológico é considerado de grande importância no manejo de pragas.

No Brasil, o primeiro inseto introduzido para uso como agente de controle biológico foi o parasitóide Prospaltella berlesei, importado dos EUA em 1921, para o controle da cochonilha escama-branca (Pseudaulacaspis pentagona). Em 1994 foi introduzido também dos EUA Diachasmimorpha longicaudata, para o controle das

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moscas-das-frutas (Ceratitis capitata e Anastrepha fraterculus), em diversas frutíferas. Também na mesma década, em 1997, foi importado dos EUA o parasitóide Ageniaspis citrícola, para o controle do minador-dos-citros (Phyllocnistis citrella), estabelecendo-se em todas as regiões brasileiras produtoras de citros. Já em 1993 e 1998 foi importado o ácaro Neoseiulus californicus, para o controle do ácaro-vermelho-da-macieira (Panonychus ulm)i. Além destes, vários outros inimigos naturais foram importados para o estabelecimento de programas de controle biológico clássico; entretanto, muitos não tiveram sucesso.

A utilização de agentes biológicos era realizada como método de controle isolado como método de controle isolado até a década de 50. A partir de então, com o surgimento do Manejo Integrado de Pragas (MIP) o controle biológico passou a fazer parte de uma estratégia de manejo onde podem ser utilizados outros métodos de controle, como o cultural, o mecânico, por comportamento, o físico e a resistência de plantas a insetos. No caso do controle químico, que continua sendo o mais empregado,há uma conscientização dos profissionais envolvidos e dos sérios problemas que podem causar ao homem e ao meio ambiente, para ser utilizado em conjunto com o controle biológico é necessário levar em conta, principalmente, o conhecimento da seletividade dos produtos aos inimigos naturais. Também se torna importante conhecer a bioecologia das pragas e dos agentes de controle biológico, para que se faça a aplicação dos produtos em épocas mais favoráveis ao controle das pragas.

Embora se conheçam muitos dos efeitos negativos dos inseticidas sobre o meio ambiente, a sua aplicação ainda é necessária, mas há uma serie de fatores que necessitam ser levados em conta na hora de implementar um programa de controle químico ou biológico, como os custos e o tempo para o desenvolvimento e a taxa de sucesso dos programas além de outros.

2. Definição

O controle biológico consiste no emprego de um organismo (predador, parasita ou patógeno) que causa danos atacando lavouras. São chamados de agentes de controle populacional e ocorrem naturalmente nos ecossistemas.

Práticas culturais, tais como o uso de plantas geneticamente uniformes em monoculturas, o plantio de cultivares homogêneos susceptíveis a doenças e a aplicação de fertilizantes em concentrações que favorecem o aumento da densidade de patógenos, têm fortalecido o potencial destrutivo das doenças de plantas. O combate a essas doenças tornou-se, portanto, altamente dependente de compostos químicos sintéticos (agrotóxicos). Além de que o uso de fungicidas é um método primário de controle de doenças causadas por fungos em plantas e animais, incluindo humanos.

O controle biológico trata-se de uma estratégia muito utilizada em sistemas agroecológicos, assim como na agricultura convencional que se vale do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Ele é usado pelo homem, aplicado como uma biotecnologia baseada na utilização de recursos genéticos microbianos, insetos predadores e parasitóides para o controle de pragas, especialmente os insetos e ácaros fitófagos, nos sistemas de produção agrícola.

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Os tipos de controle são divididos em natural e aplicado. O natural,é classificado como um fator efetivo que determina o balanço ecológico entre patógenos e seus antagonistas, sem a interferência humana; e o aplicado, que consiste na introdução e manipulação de inimigos naturais pelo homem. Além de se caracterizar pela liberação inundativa de um grande número de um determinado agente de controle biológico produzido de forma massal, visando o decréscimo da população de uma determinada praga e o restabelecimento do seu nível de equilíbrio. Embora esse agente de controle possa se estabelecer no local de liberação, a sua atuação é semelhante a um inseticida sintético, pois controla rapidamente os insetos-praga.

Portanto o controle biológico, através da aplicação de microrganismos pode suprimir as doenças das plantas, significando uma poderosa alternativa ao uso dos químicos sintéticos. A grande diversidade de micróbios providencia uma aparente e interminável fonte para esta proposta. Aumentando a abundância de uma espécie em particular na vizinhança de uma planta, podemos suprimir a doença sem causar efeitos negativos ao resto da comunidade microbiana ou a outros organismos no ecossistema.

Diversos inseticidas químicos como organofosforados, carbamatos e piretróides têm sido usados. Entretanto, o uso contínuo e indiscriminado desses agrotóxicos tem selecionado populações resistentes, obrigando os produtores a utilizarem doses cada vez mais elevadas. Além disso, esses inseticidas destroem a fauna auxiliar, deixam resíduos na vegetação e, em inúmeros casos, contaminam o meio ambiente.

Existem algumas iniciativas políticas de redução do uso de agrotóxicos, sendo o exemplo cubano o mais contundente. Desde 1982, Cuba tem-se voltado para o MIP, com ênfase no controle biológico. Em decorrência do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos que impossibilita a compra de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, os agricultores cubanos aprenderam a substituir o uso de agrotóxicos por um programa maciço de controle biológico. Um dos aspectos importantes da estratégia cubana é a descentralização da produção dos agentes de controle biológico, graças a técnicas simples e de baixo custo que foram desenvolvidas nas duas últimas décadas, possibilitando, simultaneamente, uma produção artesanal e de alto padrão de qualidade. Essa produção é feita pelos próprios filhos de agricultores associados às cooperativas que trabalham na elaboração de modernos produtos biotecnológicos em escala local.

No Brasil, embora o uso do controle biológico não seja uma prática generalizada entre os agricultores, há avanços significativos em alguns cultivos, devido aos esforços de órgãos estaduais de pesquisa e da Embrapa. Um exemplo de sucesso é o controle da lagarta da soja (Anticarsia gemmatallis) por meio do Baculovirus anticarsia. Essa prática foi lançada pelo Centro Nacional de Pesquisa da Soja em 1983 e, desde então, o produto foi utilizado em mais de dez milhões de hectares, proporcionando ao país uma economia estimada em cem milhões de dólares em agrotóxicos, sem considerar os benefícios ambientais resultantes da não-aplicação de mais de onze milhões de litros desses produtos.

Abaixo são listados os principais organismos usados no Brasil como controle biológico:

Agente Biológico O que ele ataca Como se aplica

Fungo Metarhizium anisopliae Cigarrinha da folha da cana-de-açúcar

O fungo é pulverizado e, em contato com o corpo do inseto, causa

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doença.

Fungo Metarhizium anisopliae Broca dos citrus O fungo é polvilhado nos buracos da planta contaminando a praga.

Fungo Beauveria bassiana Besouro "moleque-da-bananeira" O fungo é aplicado em forma de pasta em pedaços de bananeira que são colocados ao redor das árvores servindo de isca.

Fungo Insectonrum sporothrix Percevejo "mosca-de-renda" O fungo é pulverizado e, em contato com o corpo do inseto, causa doença.

Vírus Baculovírus anticarsia Lagarta da soja Pulverizado sobre a planta o vírus adoece a lagarta que se alimenta das folhas.

Vírus Baculovírus spodoptera Lagarta do cartucho do milho Pulverizado sobre a planta, o vírus adoece a lagarta que se alimenta da espiga em formação.

Vírus Granulose Mandorová da mandioca Pulverizado sobre a mandioca o víris é nocivo à praga.

Nematóide Deladendus siridicola Vespa-da-madeira Em forma de gelatina, o produto é injetado no tronco da árvore esterelizando a vespa.

Bactéria Bacillus thuringiensis(Dipel)

Lagartas desfolhadoras Pulverizado sobre a planta o Dipel é nocivo às lagartas.

Para alcançar esses resultados, todo programa de controle biológico deve começar com o reconhecimento dos inimigos naturais da "praga-chave da cultura"

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(principal organismo que causa danos econômicos as lavouras). Uma vez identificada a espécie e o comportamento da "praga" em questão, o principal desafio dos centros de pesquisa diz respeito à reprodução desse inimigo natural em grandes quantidades e com custos reduzidos. Outra estratégia, consiste no desenvolvimento dentro da propriedade de práticas culturais (consórcio e rotação de culturas, uso de plantas como "quebra-vento", cultivos em faixas, entre outros) que aumentem a diversidade de espécies e a estabilidade ecológica do sistema, dificultando a reprodução do organismo com potencial para se tornar uma "praga".

Nos programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), existe uma tendência de caracterizá-lo não apenas como uma prática que propõe um manejo racional de agrotóxicos, mas também como um conjunto de práticas que inclua, além do próprio controle biológico, a rotação de culturas e o uso de variedades resistentes.

A constatação dos efeitos dos pesticidas sobre o meio ambiente tem intensificado os esforços para se utilizar microrganismos como agentes biológicos, ao invés de defensivos químicos para o controle de pragas. Inseticidas microbianos dizem respeito à característica patogênica que alguns microrganismos apresentam para alguns insetos.

Em cada aplicação, os microrganismos precisam ser dispersos no meio ambiente. Alguns requerimentos específicos precisam ser preenchidos antes da utilização do microrganismo como inseticida microbiano, dentre elas podem citar: 1. Facilidade para a produção em larga-escala; 2. A viabilidade do microrganismo precisa ser mantida; 3. O organismo não deve apresentar toxicidade ou patogenicidade a animais e plantas; 4. O organismo precisa apresentar menos custo que os agentes químicos.

O controle biológico se aplicado sem um estudo prévio do comportamento biológico das espécies envolvidas pode acarretar sérios distúrbios no equilíbrio natural de um ecossistema. Na Jamaica, por exemplo, em 1872, introduziu-se o mangusto(mamífero carnívoro) para combater ratos que causavam grandes prejuízos às plantações de cana-de-açúcar. O mangusto, entretanto, cumpriu bem demais o seu papel de predador de rato. Praticamente dizimou não os ratos, como também populações diversas de outros mamíferos, além de aves terrícolas, répteis e crustáceos, alterando a harmonia do ecossistema em questão. Para completar, os poucos ratos que conseguiram sobreviver adaptaram-se à vida arborícola e acabaram constituindo uma população que voltou a causar danos significativos à cultura canavieira.

Outro exemplo célebre de controle biológico malsucedido ocorreu na Austrália em 1859, foram introduzidos alguns casais de coelhos, com o propósito de se combater ervas daninhas que se infestavam em certas regiões. Os coelhos, porém, não encontraram predadores e parasitas capazes de promover a regulamentação de sua população; proliferaram intensamente, devastaram as ervas daninhas e também as pastagens que serviam de alimento ao gado, grande fonte de riqueza do continente. Com isso os coelhos acabaram tornando-se o maior flagelo que a Austrália havia conhecido até então, e por esse motivo em 1950, a Austrália importou vírus causadores da mixomatose, uma doença que se manifesta apenas em coelhos e algumas lebres. Graças a esse vírus, a população de coelhos da Austrália acha-se atualmente em equilíbrio, sendo mantida dentro de uma densidade considerada tolerável em relação aos recursos da região.

3. Vantagens e desvantagens do controle biológico

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O controle biológico de pragas reduz os riscos legais, ambientais e públicos do uso de produtos químicos. Métodos de controle biológico podem ser usados em plantações para evitar que populações de pragas atinjam níveis danosos. A vantagem do uso de inseticidas biológicos (bioinseticidas) é a sua alta especificidade com relação à praga alvo, não afetando outros insetos, plantas e animais

Ele pode representar uma alternativa mais econômica ao uso de alguns inseticidas. Algumas medidas de controle biológico podem evitar danos econômicos a produtos agrícolas. A maioria dos inseticidas apresenta amplo espectro de atuação e matam de modo não específico outros animais ecologicamente importantes e potencialmente úteis. Os inimigos naturais usualmente têm preferências muito específicas para certos tipos de pragas e podem não causar dano algum a animais benéficos e a pessoas, havendo menos perigo de impacto sobre o ambiente e qualidade da água. Quando usados adequadamente, vários produtos comerciais para controle biológico podem ser bastante eficazes.

A desvantagem do controle biológico é que ele requer planejamento e gerenciamento intensivos, pois pode demandar tempo, controle, paciência, educação e treinamento. O uso bem sucedido do controle biológico requer um grande entendimento da biologia da praga e a de seus inimigos. Muitos inimigos naturais de pragas são sensíveis a pesticidas e seu uso em um programa de controle biológico requer muito cuidado, sendo que em alguns casos pode ser até mais caro que o uso de pesticidas. Freqüentemente, os resultados do uso de práticas de controle biológico não são tão drásticas ou tão rápidas como aqueles do uso de pesticidas comuns, pois a maioria dos inimigos naturais ataca somente tipos específicos de animais, ao contrário dos pesticidas de amplo espectro.

Outro problema da utilização de predadores e parasitóides é a dificuldade em criar estes insetos em laboratório, quer seja em hospedeiro natural ou artificial. Quando os agentes de biocontrole são criados sobre hospedeiros naturais, há maior dificuldade para sua multiplicação, há casos em que é necessário cultivar a planta hospedeira para criação do inseto fitófago para depois multiplicar o inimigo natural sobre esse inseto. Além da grande dificuldade em se imitar o ambiente de criação natural dos insetos, também se torna onerosa a mão-de-obra que representa cerca de 80% dos custos de produção de um laboratório.

4.Microrganismos utilizados em controle biológico

O Brasil, possuindo um clima tropical em grande parte de seu território e com vastas áreas cultivadas, tem dificuldade em utilizar o controle químico de insetos, que se torna até inviável e antieconômico em certas condições, além de causar desequilíbrios biológicos e problemas de intoxicação. A solução é o uso e aplicação de técnicas como a produção de "inseticidas microbianos" que possam se não substituir, pelo menos diminuir o uso de agroquímicos com vantagens econômicas e de preservação do ambiente.

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Numerosos organismos têm obtido sucesso em pesquisa de bancada, porém a produção em escala, o desenvolvimento de uma formulação efetiva, a manutenção da estabilidade e a expectativa de um produto de baixo custo tem impossibilitado que os resultados da pesquisa cheguem até o mercado consumidor.

Bactérias, vírus, fungos, protozoários podem ser utilizados como inseticidas, alguns deles são produzidos comercialmente em fermentações de larga-escala ou como hospedeiro de insetos. Neste trabalho são estudados alguns exemplos de microorganismos utilizados no controle biológico dentre eles podemos citar: fungos, bactérias e vírus.

4.1 Fungos Atualmente, sabe-se que cerca de 400 espécies de fungos atacam insetos e

ácaros, o que estimula estudos voltados para utilização desses fungos como micofungicidas, micoinseticidas e micoherbicidas.

O Brasil talvez seja o país onde as pesquisas e a utilização em larga escala de fungos entomopatogênicos (fungos que atacam insetos), têm tido maior sucesso. O melhoramento genético clássico, o desenvolvimento de marcadores moleculares, a clonagem de genes e outros estudos têm sido realizados em um esforço conjunto abrangendo diversas instituições. Assim, vários centros da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), ESALQ/USP, UNICAMP, Centro de Biotecnologia da UFRGS, Universidade Estadual de Londrina, UCS e UFPernambuco, além de empresas privadas, têm trabalhado com fungos como o Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana e Nomuraea rileyi aplicando tecnologias clássicas e modernas para um melhor conhecimento da biologia e genética desses fungos e no desenvolvimento de linhagens mais eficientes no controle biológico de insetos.

O controle biológico é por isso provavelmente mais eficiente que o controle da doença baseado na utilização de químicos sintéticos. A complexidade das interações entre os microrganismos, o envolvimento de numerosos mecanismos de supressão da doença por um único organismo, e a adaptação da maioria dos agentes de biocontrole ao ambiente em que são usados contribuem para a crença de que o controle biológico será mais durável que os químicos sintéticos.

Espécies do fungo saprófita Trichoderma tem sido utilizadas com sucesso como agentes de controle biológico de algumas doenças causadas por fungos fitopatogênicos, como Rhizoctonia spp., Sclerotium spp., Fusarium spp. e outros. Fungicidas formulados com linhagens de Trichoderma, como a ATCC 20476, estão sendo comercializadas há mais de 20 anos no norte da Europa, principalmente para o combate de doenças causadas por Botrytis cinerea em morangueiros. Contudo, a despeito dos vários casos, relatados anualmente, sobre o potencial de microrganismos como agentes de controle biológico de doenças de plantas. Muitos agentes de biocontrole são difíceis de serem formulados como produtos.

Recentemente tem sido verificado que fungos e bactérias encontrados internamente em vegetais, particularmente em suas partes aéreas como folhas e ramos, têm enorme importância no controle de doenças de plantas e também de insetos. Uma boa quantidade da população de microrganismos que existe no interior de plantas é constituída por fungos que são denominados de fungos endofíticos. Eles, além de controlarem doenças e pragas, podem possuir outras propriedades, como alterar o metabolismo das plantas, impedindo formação de sementes ou produzindo hormônios

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que causam modificações no desenvolvimento dos vegetais. Além de que há casos de incremento de produção em plantas, graças à presença desses endofíticos.

O fungo Metarhizium anisopliae é um inimigo natural da cigarrinha da folha, e pode parasitar aproximadamente 200 insetos hospedeiros diferentes, o que traz a possibilidade de sua utilização como único agente biológico controlador de diversas pragas.

O estudo de fungos endofíticos é feito em países de clima temperado; entretanto, são escassos os trabalhos com plantas tropicais. Devido a isso, vários laboratórios têm isolado e encontrado novas características de valor biotecnológico em fungos endofíticos, sua manipulação genética tem sido feita no intuito de serem clonados genes de interesse, de tal modo que sua reinoculação em plantas cultivadas poderá levar à introdução nos vegetais de características novas e de interesse biotecnológico.

A ausência de queima dos canaviais aumenta a incidência e severidade dos danos causados pela cigarrinha-da-raiz, Mahanarva fimbriolata. A ação do Metarhizium anisopliae ocorre quando os esporos liberados pelo fungo aderem à cutícula da cigarrinha, germinando e produzindo filamentos (micélio), as hifas que crescem sobre o inseto produzem apressórios que penetram na cutícula do inseto. Ocorre então a degradação da cutícula por enzimas, dentre elas podemos citar as Lipases, e proteases (PR1-quimoelastase). No interior dos insetos, os fungos produzem toxinas - as Destruxinas. A colonização no corpo da lagarta segue inicialmente pelos corpos gordurosos em seguida atinge o sistema digestivo e Tubos de Malpighi, a hipoderme esistema nervoso, e por último os músculos e traquéias. Devido à infecção o inseto é morto e no seu exterior desenvolvem-se os esporos ou conídios liberados pelo vento.

Abaixo estão listados alguns fungos que são usados no controle biológico sua utilização e os níveis de estudo:

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Os níveis relacionados na tabela equivalem a: 0 incipiente; 1 estudos de laboratório e pequenos experimentos; 2 ensaios de campo e pequena produção em laboratório; 3 ensaios de campo e produção elevada e produto comprovadamente eficiente e comercilaizado.

A utilização desses controladores naturais restringe também a aplicação abusiva de fungicidas. As técnicas de produção massal desses controladores biológicos, a otimização dos processos de aplicação e o melhoramento genético dos fungos empregados, tornando-os mais eficientes, vêm sendo desenvolvidos em laboratórios do Brasil e exterior. Exemplos de interesse têm sido obtidos em alguns centros de pesquisa da EMBRAPA no Sul e Sudeste do país.

4.2BactériasPesticidas microbianos são formulações que contém os esporos, células

vegetativas ou algum metabolito do desenvolvimento dos microrganismos patogênicos e que mantém a característica de entomopatogenicidade.

No Brasil os estudos com Bacillus thuringiensis iniciaram-se na década de 70,por fermentação submersa e estudos implantaram o processo de fermentação semi-sólida, usando resíduos particulados, farinhas, farelos, bagaço de cana de açúcar, quirela de milho, quirela de arroz, dentre outros resíduos da Agro indústria. Três bactérias, Bacillus popilliae, B. moritae, B. thuringensis, são comercialmente produzidas para controle biológico. B. popilliae é obitido diretamente de larvas infectadas, e as outras bactérias são cultivadas em processos de fermentação submersa.

Nos setenta anos que se seguiram à descoberta do Bacillus thuringiensis doinício de 1900 no Japão e 1911 na Alemanha, houve relativamente pouca atenção voltada a esse microrganismo. Passados noventa anos, está sendo estudado por cientistas e pesquisadores das mais variadas áreas do conhecimento, tendo se realizado na década de noventa muitos eventos específicos a respeito do Bacillus thuringiensis.

A utilização de Bacillus thuringiensis Berliner em programas de controle biológico é uma alternativa eficaz e não contaminante. Diversos biopesticidas à base dessa bactéria encontram-se disponíveis no mercado, o produto comercial DipelR tem oferecido bons resultados no controle da P. xylostella .

O mecanismo de ação do B.thuringensis, se dá depois de cultivada em um meio contendo amido, xarope de milho, caseína, extrato de levedura e sacarose. Após

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aproximadamente 30 horas de fermentação, a esporulação ocorre, acompanhado pela formação de proteínas extracelulares e intracelulares. Ela produz um cristal protéicointracelular, que apresenta elevada toxicidade, específica para larvas de certos insetos lepidópteros, mas inteiramente atóxico para animais vertebrados e plantas. Após a ingestão do cristal pelo inseto, este é dissolvido no pH alcalino do intestino, inibindo o transporte de íons, provocando a morte do inseto.

As amostras do Bt se mostram eficientes no combate à lagarta-do-cartucho, que mata principalmente as lagartas jovens, com até 4 dias de vida. O processo de produção é dominado, com testes de produção em larga escala e utilização de insumos de baixo custo. Isso possibilita um custo de produção muito inferior ao de defensivos químicos.

As formulações de B. thuringiensis são os produtos biológicos mais vendidos em todo o mundo representando cerca de 90 % do faturamento com esses produtos, e deve crescer 10% ao ano. Seu emprego destina-se principalmente para o controle de lagartas, pragas florestais (30 milhões de dólares) e vetores representados por pernilongos e borrachudos. O custo para o tratamento de um hectare de cultura varia de US$ 7,5 a 15. Para o tratamento visando o controle de pernilongos, o custo envolvendo aplicação de B. thuringiensis israelenses pode chegar a US$ 67 o hectare.

Existem pesquisadores que acreditam em valores entre 300 a 750 milhões de dólares. No Brasil, o mercado para esses produtos é também muito promissor, pois ocorrem cerca de quinhentas pragas de importância econômica. Existem cerca de 65 produtos já desenvolvidos pelas indústrias, a partir de Bacillus thuringiensis, em diversas regiões do mundo.

4.3VírusMais de 650 vírus tem sido caracterizado como patógenos de plantas, e

demonstram possibilidades para sua utilização como inseticidas biológicos.

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O controle biológico tem como objetivo controlar as pragas agrícolas e os insetos transmissores de doenças a partir do uso de seus inimigos naturais. Baculovirus constituem um grupo de vírus encontrados na sua maioria em insetos, principalmente da ordem Lepidoptera. Esses vírus são utilizados como alternativas ao uso de inseticidas químicos, pois possuem uma alta especificidade, conferindo total segurança ao homem e não oferece riscos ao meio ambiente.

Eles foram originalmente encontrados como controladores de populações de campo e alguns têm sido utilizados como biopesticidas para aplicação em lavouras ou mesmo em florestas. Para um melhor uso e manipulação do vírus como bioinseticida é necessária a sua caracterização, pois as informações obtidas dos estudos referentes ao patógeno e de suas interações com o hospedeiro vão contribuir para o monitoramento e segurança no campo.

A Embrapa vêm desenvolvendo estudos para caracterização do patógeno causador da doença nas lagartas do trigo. O patógeno causador de morte dessas lagartas foi então identificado como do grupo dos baculovirus (família Baculoviridae, gênero Nucleopolyhedrovirus) e caracterizado com base nas análises de sua morfologia, taxonomia, proteínas estruturais e DNA viral. Visando uma possível e melhor utilização do agente no controle biológico da lagarta do trigo, estudos de sua biologia e patologia estão sendo conduzidos para uma caracterização mais detalhada e completa do baculovirus. Os resultados de pesquisa obtidos até o momento aliados aos resultados preliminares quanto patogenicidade do vírus em estudo indicam que esse agente apresenta um grande potencial para uso no controle biológico da praga do trigo.

O modo de ação do baculovírus inicia-se quando as folhas de soja contaminadas com o micróbio são ingeridas pela lagarta. O vírus se multiplica no corpo da lagarta que perde a capacidade de movimentação e de se alimentar.

Após o quarto dia da contaminação, já se observa uma descoloração no corpo das lagartas doentes, sendo que, próxima à morte, estas já apresentam o corpo bem amarelado, não se alimentam mais e sobem para as partes mais altas da planta, onde morrem dependuradas. A morte ocorre entre o sétimo e nono dia após a contaminação e, depois de alguns dias, seus corpos apodrecem, soltando mais vírus sobre a soja, que serve para matar outras lagartas que vão aparecendo na lavoura;

O Baculovírus possui alta eficiência para controlar a lagarta quando pulverizado sobre a lavoura, na dose recomendada.

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