Controle Biológico e Manejo de Pragas

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  • CONTROLE BIOLGICO E MANEJO DE PRAGAS NA

    AGRICULTURA SUSTENTVEL

    Vanda Helena Paes Bueno/ Juracy Caldeira Lins Jr.

    Alcides Moino Junior

    Luis Cludio Paterno da Silveira

    (Departamento de Entomologia/UFLA)

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    SUMRIO

    1. Introduo 1

    2. Inimigos Naturais 1

    3. Controle Biolgico com Entomfagos 3

    3.1. Regulao de Populaes 3

    4. Tipos de Controle Biolgico 4

    4.1. Controle Biolgico Natural 5

    4.2. Controle Biolgico Aplicado 5

    5. Programas de Controle Biolgico com Entomfagos 7

    5.1. Cultura da Cana-de-Acar 8

    5.2. Cultura da Soja 12

    5.3. Cultura do Tomate 14

    5.4. Cultura do Trigo 16

    5.5. Fruteiras 17

    5.6. Macieira 18

    5.7. Florestas 19

    5.8. Cultivos Protegidos 19

    6. Controle microbiano de pragas: definio, conceitos e microrganismos

    entomopatognicos 23

    7. Epizootiologia e utilizao de entomopatgenos no Manejo Integrado de Pragas 26

    8. Tecnologias de controle microbiano de pragas com fungos, bactrias, vrus e

    nematides entomopatognicos 32

    8.1. Principais programas de controle microbiano no Brasil 32

    9. Produo de microrganismos entomopatognicos 35

    10. Controle de qualidade de produtos microbianos 42

    11. Bibliografia recomendada 46

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    1. Introduo

    O controle biolgico um fenmeno natural, a regulao do nmero de plantas e

    animais pelos inimigos naturais, os agentes biticos de mortalidade. Envolve o mecanismo

    da densidade recproca, o qual atua de tal forma que sempre uma populao regulada por

    outra populao, ou seja, um ser vivo sempre explorado por outro ser vivo e com efeitos

    na regulamentao do crescimento populacional, e assim mantendo o equilbrio da

    natureza. O controle biolgico foi definido por DeBach (1968) como a ao de

    parasitides, predadores e patgenos na manuteno da densidade de outro organismo a um

    nvel mais baixo do que aquele que normalmente ocorreria nas suas ausncias.

    O controle biolgico pode ser interpretado de trs formas: (1) como um campo de

    estudos em diferentes reas, tais como ecologia de populaes, biosistemtica,

    comportamento, fisiologia e gentica; (2) como um fenmeno natural: quase todas as

    espcies tm inimigos naturais que regulam suas populaes e (3) como uma estratgia de

    controle de pragas atravs da utilizao de parasitides, predadores e patgenos.

    O controle biolgico assim, um componente da estratgia do manejo integrado de

    pragas, com nfase, aqui, aos insetos e caros. De acordo com Parra et.al. (2002),

    atualmente o controle biolgico assume importncia cada vez maior em programas de

    manejo integrado de pragas (MIP), principalmente em um momento que se discute muito a

    produo integrada rumo a uma agricultura sustentvel. Nesse caso, o controle biolgico

    constitui ao lado da taxonomia, do nvel de controle e da amostragem, um dos pilares de

    sustentao de qualquer programa de MIP. Alm disso, importante como medida de

    controle para manuteno de pragas abaixo do nvel de dano econmico, junto a outros

    mtodos, como o cultural, fsico, o de resistncia de plantas a insetos e os comportamentais

    (feromnios), que podem at ser harmoniosamente integrados com mtodos qumicos

    (produtos seletivos) ou mesmo com plantas transgnicas.

    2. Inimigos Naturais

    Os organismos vivos que atuam como agentes de controle biolgico constituem o

    grupo dos inimigos naturais, o qual formado pelos parasitides, predadores e patgenos.

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    Os dois primeiros so denominados agentes entomfagos e, o ltimo, entomopatognico.

    Esses organismos, entomopatognicos, sero abordados dentro do Controle Microbiano.

    Quanto aos entomfagos, embora exista um grande nmero de organismos que se

    alimentam de insetos, como pssaros, lagartos, sapos, tamandu, a nfase aqui para

    insetos que se alimentam de insetos, onde se apiam, atualmente, os programas de controle

    biolgico de insetos-praga.

    Do ponto de vista econmico, um inimigo natural efetivo aquele que capaz de

    regular a densidade populacional de uma praga e mant-la em nveis abaixo daquele de

    dano econmico estabelecido para um determinado cultivo (Figura 1). No geral, os

    inimigos naturais, em particular, os parasitides e predadores mais efetivos, devem

    apresentar as seguintes caractersticas: adaptabilidade s mudanas das condies fsicas do

    meio ambiente, um certo grau de especificidade a um determinado hospedeiro/presa, alta

    capacidade de crescimento populacional com relao a seu hospedeiro/presa, alta

    capacidade de busca, particularmente em baixas densidades do hospedeiro/presa,

    sincronizao sazonal com o hospedeiro/presa e capacidade de sobreviver nos perodos de

    ausncia do hospedeiro/presa, e capaz de modificar sua ao em funo de sua prpria

    densidade e do hospedeiro/presa, ou seja, mostrar densidade recproca.

    Parasitides dentro da entomologia considera-se o termo parasitide, ao inseto que

    parasita um hospedeiro, completa o seu ciclo em um nico hospedeiro e usualmente mata

    esse hospedeiro. Suas larvas exibem o habito parastico, e os adultos so de vida livre, se

    alimentando de nctar, substancias aucaradas etc. Os parasitides esto, em sua maioria,

    dentro da Ordem Hymenoptera, e poucos na Ordem Diptera (Famlia Tachinidae). Atacam

    e se desenvolvem em todos os estgios dos insetos, ou seja, ovo, larva (ninfa), pupa e

    adulto. Alguns exemplos de parasitides, Trichogramma pretiosum, Cotesia flavipes,

    Telenomus podisi, Trissolcus basalis, Lysiphlebus testaceipes, Aphidius colemani.

    Existem os parasitides primrios, aqueles que se desenvolvem em hospedeiros no

    parasitides, ou seja, seus hospedeiros so fitfagos, saprfagos, polenfagos etc. E os

    hiperparasitides, que so parasitides que se desenvolvem em outro parasitide (o

    parasitide do parasitide). Tambm existem os endoparasitides, ou seja, o parasitide que

    se desenvolve dentro do corpo do hospedeiro, podendo ser solitrio, quando uma nica

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    larva completa seu desenvolvimento em determinado hospedeiro, ou gregrio, quando

    vrias larvas se desenvolvem at a maturidade em um nico hospedeiro. E o

    ectoparasitide, espcie que se desenvolve fora do corpo do hospedeiro (a larva se alimenta

    inserindo as peas bucais atravs do tegumento do hospedeiro), podendo ser tambm

    solitrio e gregrio.

    Como categorias do parasitismo, pode-se citar o multiparasitismo, situao na qual

    mais de uma espcie de parasitide ocorre dentro ou sobre um nico hospedeiro, e o

    superparasitismo, fenmeno no qual vrios indivduos de uma mesma espcie de

    parasitide podem se desenvolver em um hospedeiro. No caso de um menor nmero de

    hospedeiros, em relao ao nmero de parasitides, o superpararasitismo pode atuar como

    um mecanismo de regulao da populao do parasitide em funo daquela do hospedeiro.

    E no multiparasitismo, pode ocorrer a competio, levando a morte de um dos parasitides.

    Predadores so indivduos de vida livre, usualmente maior do que as presas

    requerem um grande nmero de presas para completar o seu ciclo de vida, e podem

    apresentar o comportamento predatrio, tanto no estgio ninfal (larval) como adulto.

    Quanto ao hbito alimentar podem ser mastigadores ou sugadores. Esto presentes em

    vrias ordens de insetos, sendo as mais importantes: Coleoptera (Famlias Coccinellidae,

    Carabidae), Diptera (Familias Syrphidae, Asilidae), Hemiptera (Famlias Anthocoridae,

    Pentatomidae, Reduviidae), Neuroptera (Famlia Chrysopidae), Hymenoptera (Famlia

    Vespidae), Dermaptera (Famlias Forficulidae, Labiduridae). Alguns exemplos de insetos

    predadores, Orius insidiosus, Chrysoperla externa, Labidura riparia, Cycloneda

    sanguinea, Porasilus barbiellinii, Brachygastra lecheguana, Podisus nigrispinus.

    3. Controle Biolgico com Entomfagos

    3.1. Regulao de Populaes

    Ainda que se tenha utilizado erroneamente como sinnimos, os termos controle e

    regulao se referem a diferentes processos que produzem diferentes efeitos sobre as

    populaes.

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    Controle se refere a fatores de supresso, que destroem uma porcentagem fixa da

    populao independentemente da densidade da populao. Por exemplo, o efeito da chuva

    eliminaria (hipoteticamente) 80% da populao de um pulgo sem importar se a densidade

    do pulgo de 10 mil ou um milho/ha; similarmente aconteceria com o controle de uma

    praga com inseticida. Assim uma populao pode ser reduzida rpida e substancialmente

    por meio desse controle, mas, os efeitos do controle so geralmente curtos e seguidos de

    uma rpida ressurgncia da praga.

    Em contraste, regulao inclui o efeito dos fatores do meio ambiente cuja ao

    determinada pela densidade da populao, ou seja, se destri uma porcentagem mais alta

    quando se incrementa a populao e vice-versa (Figura 1). Por exemplo, ao aumentar a

    densidade de uma praga, se incrementa tambm a disponibilidade de recursos alimentares e

    ou locais de reproduo do fator regulador (parasitide ou predador), o que permite

    incrementar tambm sua prpria populao. Esse aumento do inimigo natural traz como

    conseqncia um aumento na porcentagem de mortalidade da praga como resultado do

    parasitismo ou predao, at chegar a um certo nvel mximo (os inimigos naturais nunca

    eliminam 100% de seus hospedeiros/presas); inversamente, ao decrescer a populao da

    praga, a densidade do inimigo natural tambm diminui como resultado dos efeitos de

    escassez de alimento, disperso e outros fatores, o qual resulta em um decrscimo na

    porcentagem de mortalidade da praga pelo parasitide/predador. Este processo garante a

    no extino do hospedeiro/presa, o qual evita tambm a extino do parasitide/predador.

    Assim, o fator regulador est perfeitamente inserido dentro do contexto do controle

    biolgico de pragas.

    4. Tipos de Controle Biolgico

    Do ponto de vista agrcola, podemos enfocar o controle biolgico de duas formas: o

    controle biolgico natural e o controle biolgico aplicado.

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    4.1. Controle Biolgico Natural

    O conceito balano da natureza se define como a tendncia natural das populaes

    de plantas e animais de no crescer at o infinito, nem decrescer at a extino, como

    resultado de processos reguladores (como os inimigos naturais) em ambientes no

    perturbados (ecossistemas naturais). Assim, o controle biolgico natural envolve as aes

    combinadas (fatores biticos e abiticos) de todo o meio ambiente na manuteno das

    densidades caractersticas da populao, ou seja, o equilbrio natural. Muitos organismos-

    praga potenciais podem ser mantidos em densidades muito abaixo dos nveis de danos por

    inimigos naturais que ocorrem naturalmente no campo. Em ecossistemas naturais, uma

    enorme quantidade de espcies de inimigos naturais mantm insetos fitfagos em baixas

    densidades populacionais. Mesmo em agroecossistemas, muitas pragas potenciais so

    mantidas em nveis que no causam danos, por meio da ao dos inimigos naturais que

    ocorrem naturalmente. DeBach e Rosen (1991) estimaram que 90% de todas as pragas

    agrcolas so mantidas sob controle natural.

    4.2. Controle Biolgico Aplicado

    O controle biolgico aplicado envolve a interferncia do homem e funciona no

    sentido de incrementar as interaes antagnicas que ocorrem entre os seres vivos na

    natureza. Esse tipo de controle pode ser clssico, conservao e aumentativo.

    O controle biolgico clssico envolve a importao dos agentes de controle de um

    pas para outro ou de uma regio para outra, de modo a estabelecer um equilbrio biolgico

    a uma dada praga. Em muitos casos, o complexo de inimigos naturais associados com um

    inseto-praga pode ser inadequado. Isto especialmente evidente quando um inseto-praga

    acidentalmente introduzido em uma nova rea geogrfica sem seus inimigos naturais, o que

    envolveria ento, a procura e a introduo do inimigo natural apropriado para a praga ou

    espcies proximamente relacionadas. Uma srie de estudos, no entanto, devem ser

    realizados previamente com esses agentes de controle para que haja certeza no que diz

    respeito segurana e efetividade, antes da implantao do programa. O primeiro grande

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    sucesso de controle biolgico, que se tornou um exemplo clssico na literatura foi a

    introduo na Califrnia da joaninha australiana Rodolia cardinalis (Coleoptera:

    Coccinellidae) trazida da Austrlia em 1888, para o controle do pulgo-branco-dos citros,

    Icerya purchasi (Hemiptera: Margarodidae), o qual foi completado, de maneira espetacular,

    dois anos aps a liberao da joaninha. Esse caso de controle biolgico clssico

    considerado um marco no controle biolgico como um mtodo de controle de pragas.

    Conservao envolve medidas que preservem os inimigos naturais em um

    agroecossistema, ou seja, manipular o seu ambiente de forma favorvel, como evitar

    prticas culturais inadequadas, preservar fontes de alimentao ou habitat, uso de produtos

    fitossanitrios seletivos. A conservao pode resultar tanto em maior diversidade de

    espcies benficas quanto em uma grande populao de cada espcie, conduzindo a um

    melhor controle de pragas. A conservao de inimigos naturais provavelmente a mais

    disponvel e importante prtica de controle biolgico para os produtores de vegetais

    (hortalias). Os inimigos naturais ocorrem em todos os sistemas de produo de vegetais,

    sendo adaptados ao ambiente local e as pragas-alvo. A preservao e manuteno dos

    inimigos naturais so imprescindveis para estabelecer o equilbrio biolgico e reduzir os

    custos de produo.

    O controle biolgico aumentativo, onde os inimigos naturais so periodicamente

    introduzidos e liberados, aps a criao massal em laboratrio; comercialmente aplicado

    em grandes reas em vrios sistemas de cultivo ao redor do mundo. Segundo van Lenteren

    (2000), internacionalmente, mais de 125 espcies de inimigos naturais esto disponveis

    comercialmente para o controle biolgico aumentativo. Esta forma de controle aplicada

    em campo aberto em cultivos que so atacados somente por poucas pragas, e tambm,

    particularmente popular em sistemas de cultivos protegidos, onde todo o espectro de pragas

    pode ser manejado por um conjunto de inimigos naturais.

    Trs formas de liberaes aumentativas de inimigos naturais podem ser

    distinguidas:

    Liberao inundativa os inimigos naturais so criados massalmente em

    laboratrio, sendo periodicamente liberados em grandes nmeros para obter um efeito de

    controle imediato de pragas por uma ou duas geraes, isto , esses organismos so usados

    como inseticidas biolgicos. utilizado em culturas anuais, ou em cultivos onde o nvel

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    de dano muito baixo exigindo um rpido controle da praga nos estgios iniciais da

    infestao, ou em cultivos onde ocorre somente uma gerao da praga.

    Liberao inoculativa os inimigos naturais so liberados em nmero limitado, ou

    seja, somente um pequeno nmero liberado, com objetivo de supresso em longo prazo da

    populao da praga. aplicado em culturas perenes ou semiperenes e florestas. tpica do

    controle biolgico clssico.

    Liberao inoculativa sazonal, onde os inimigos naturais so liberados em casas de

    vegetao, com cultivos de curta durao, no perodo de ocorrncia da praga. Um

    relativamente, grande nmero de inimigos naturais liberado tanto para obter um controle

    imediato como para permitir o crescimento da populao do agente de controle durante o

    ciclo do cultivo. Segundo van Lenteren (2000), este tipo de liberao lembra a liberao

    inoculativa ou controle biolgico clssico, entretanto, tem como objetivo o efeito de

    controle sobre vrias geraes. Tem sido desenvolvido na Europa durante as ltimas trs

    dcadas e aplicado, comercialmente, com grande sucesso para pragas em cultivos em

    casas de vegetao.

    5. Programas de Controle Biolgico com Entomfagos

    Como definido anteriormente, nos ecossistemas naturais, as populaes de

    artrpodos entomfagos representam o fator ecolgico que mais freqentemente regulam as

    populaes de insetos herbvoros. Mas, quando este mecanismo de controle natural no

    regula uma determinada populao, pode-se induzir a ao de entomfagos por meio do

    emprego do controle biolgico aplicado.

    Van Lenteren & Bueno (2003), mencionam que 25% da rea mundial com uso de

    controle biolgico aumentativo encontra-se na Amrica Latina. Inicialmente o controle

    biolgico aumentativo foi usado para manejo de pragas que tinham se tornado resistente

    aos produtos fitossanitrios. Atualmente, aplicado por razes de eficcia e custos, os quais

    so comparveis com ou mais baixos do que o controle qumico convencional. A

    popularidade do controle biolgico aumentativo, segundo esses autores, pode ser explicada

    por um nmero de importantes benefcios quando comparado com o controle qumico: no

    h efeitos fitotxicos em plantas jovens, no ocorre aborto prematuro de flores e frutos,

    liberao de inimigos naturais leva menos tempo e mais prazerosa do que aplicao de

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    produtos fitossanitrios, vrias pragas-chave podem ser controladas somente com inimigos

    naturais, no existe perodo de carncia aps a liberao de inimigos naturais e isto permite

    continua colheita sem perigo para a sade do homem, alm de no deixar resduos txicos

    nas plantas e meio ambiente. Mais de 100 espcies de inimigos naturais so hoje

    disponveis comercialmente para controle biolgico aumentativo.

    Um programa de controle biolgico deve ser bem planejado, e vrias etapas devem

    compor este programa, de acordo com van Lenteren (2000) e Parra et.al. (2002):

    1. Conhecimento taxonmico da praga-alvo, sua regio de origem.

    2. Informaes coletadas, atravs de pesquisa na literatura, sobre a biologia,

    comportamento da praga, e outras que auxiliem no processo de controle da mesma.

    3. Inventrio dos inimigos naturais.

    4. Seleo dos inimigos naturais mais promissores. Estudos mais detalhados sobre

    biologia, comportamento etc.

    5. Criao massal do inimigo natural selecionado. Tcnicas para criao massal.

    Controle de qualidade

    6. Liberao do inimigo natural

    7. Avaliao final da efetividade biolgica e econmica

    Alm dessas etapas do programa de controle biolgico, fundamental que haja

    certa lgica para que ele atinja o usurio, e segundo Parra (1993), as etapas, para tal

    lgica, seriam as seguintes: (a) seleo da (s) cultura (s) e do (s) inimigo (s) natural (is);

    (b) criao de pequeno porte do hospedeiro/presa para desenvolvimento de pesquisa

    bsica; (c) desenvolvimento de um sistema de criao massal; (d) avaliao do

    custo/benefcio e (e) transferncia da tecnologia ao usurio (Figura 2).

    No Brasil, vrios programas de controle biolgico com entomfagos tm sido

    conduzidos e aplicados.

    5.1. Cultura da Cana-de-Acar

    Envolve o maior programa de controle biolgico do mundo, pela extenso da rea

    canavieira, so cerca de 2,5 milhes de hectares.

    Praga - A broca-da-cana de acar, Diatraea saccharalis, um lepidptero, que na

    sua fase larval causa danos diretos e indiretos a cana-de-acar. Os danos diretos decorrem

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    da alimentao e caracterizam-se por perda de peso (pela abertura de galerias no entren),

    morte da gema apical da planta (corao morto), encurtamento do entren etc. Os danos

    indiretos so causados por microorganismos que invadem o entren atravs do orifcio

    aberto pela lagarta. Esses microorganismos, preferencialmente fungos dos gneros

    Fusarium e Colletotricum, causam a podrido vermelha do colmo, o que ocasiona a

    inverso da sacarose, provocando perdas bastante significativas.

    Seu controle bastante difcil devido lagarta penetrar no interior do colmo. Assim a busca

    por mtodos de controle eficientes, levou os pesquisadores a optar pelo seu controle

    biolgico, o qual envolveu inicialmente, tcnicos do IAA/Planalsucar (rgo atualmente

    extinto) e da Copersucar.

    Inimigos naturais - Entre os principais inimigos naturais da broca encontram-se os

    parasitides, moscas nativas Paratheresia claripaplis e Lydella minense (Dptera:

    Tachinidae), e a vespinha introduzida Cotesia flavipes (Hymenoptera: Braconidae). O

    controle biolgico da broca iniciou-se com as moscas, mas depois se optou pelo uso do

    parasitide C. flavipes.

    Controle biolgico - Em abril de 1974, C. flavipes proveniente de Trinidad foi

    introduzido em Alagoas, Brasil, iniciando-se o Programa Nacional de Controle Biolgico

    de Diatraea spp. (broca da cana-de-acar) no pas, desenvolvido pelo IAA/Planalsucar

    (Mendona Filho et al., 1977), sendo distribudo posteriormente em Pernambuco, Paraba,

    Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia e Rio de Janeiro para controlar D. saccharalis e D.

    flavipenella, e em So Paulo e Amap para controlar D. saccharalis.

    Em 1975, de acordo com Botelho & Macedo (2002), iniciaram-se as pesquisas com

    C. flavipes no estado de So Paulo, a partir de material procedente do nordeste do Brasil.

    At 1978 o aperfeioamento na tecnologia tornou a produo de C. flavipes em laboratrio

    mais simples (produo do hospedeiro (broca) em dieta artificial), e a melhoria de sua

    performance no campo deu-se com a introduo de novas linhagens originrias de regies

    mais frias e midas da ndia e do Paqusito, realizadas em 1978 (Macedo, 1978, 2000).

    A quantidade de C. flavipes produzida e as necessidades de liberao so variveis e

    precisam ser dimensionadas ao longo do ano para que as reas prioritrias sejam atendidas.

  • 10

    Assim, h necessidade do acompanhamento sistemtico da evoluo da praga, da

    fenologia da planta e da poca do ano.

    Antes e aps a liberao de C. flavipes necessrio o monitoramento sistemtico da

    populao da praga, a partir do momento em que comeam a aparecer os primeiros

    entrens visveis na cana. Tambm aps a liberao (10 a 15 dias aps a liberao) o

    acompanhamento permite avaliar o desempenho do parasitide no controle da broca. Isto

    pode ser feito empregando-se um dos dois mtodos:

    . Hora/homem de coleta: amostrador caminha casualmente pelo canavial e coleta

    formas biolgicas da praga e do inimigo natural (lagartas e pupas da praga, pupas do

    parasitide), anotando-se o tempo de trabalho, o que envolve normalmente o perodo de

    uma hora.

    . Plantas amostradas: as observaes so feitas em pontos amostrais 5 metros

    lineares, repetidas quatro vezes por hectare, onde todas as canas so contadas e examinadas

    e as formas biolgicas da praga e do inimigo natural coletado.

    Nesse caso, estima-se posteriormente a populao da praga, multiplicando-se o

    nmero aproximado de cana existentes em 1 hectare pelo nmero de lagartas encontradas

    por cana.

    Os levantamentos tm que ser dirigidos s variedades mais suscetveis praga,

    cultivadas em lavouras de cana de primeiro corte, tanto de 18 como de 12 meses, s reas

    que recebem irrigao ou fertilizao e aos viveiros de mudas. Nas situaes em que o

    acompanhamento da praga indicar que a populao de lagartas est no estdio adequado de

    ser parasitada, isto , lagartas de 3 instar em diante (cerca de 1.5 cm de comprimento), j

    dentro dos colmos, com coletas mdias superiores a 10 lagartas/hora/homem ou com

    populao mdia estimada igual ou superior a 2.500 lagartas/ha, preciso fazer o controle.

    Para cada hectare de cana-de-acar so necessrios 6 mil C. flavipes adultos, com

    custo aproximado de R$15,00/ha.

    Para avaliar o desempenho do parasitide no campo, faz-se a coleta de material

    biolgico seguindo a mesma metodologia descrita anteriormente. Depois da amostragem da

    rea e com os dados tabulados, avalia-se o desempenho do parasitide e, a partir dos

    resultados, decide-se pela convenincia ou no de se repetir a liberao. Esta se repete

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    quando o parasitismo baixo (menos de 20%) e a populao de lagartas, alta, segundo os

    parmetros mencionados anteriormente.

    Os resultados desses vrios anos demonstram que o controle biolgico de D.

    saccharalis, por meio de liberaes sistemticas de C. flavipes, ou seja, inundativas, foi e

    continua sendo um sucesso com real contribuio na reduo da intensidade de infestao

    da praga, a qual era inicialmente de 10%, e sendo reduzido para 2%, um nvel considerado

    timo, sem causar prejuzos.

    O ndice de infestao da broca-da cana, segundo Gallo et.al. (2002) obtido

    coletando-se em cada talho 100 colmos de cana, ao acaso, e contando-se o nmero de

    interndios broqueados, e o nmero total de interndios. Para o calculo do ndice de

    infestao, usa-se a frmula:

    I = 100 x (nmero de interndios borqueados)

    (nmero total de interndios)

    Esse ndice tem que ser sempre menor ou igual a 3%.

    Relatos da Copersucar revelam, tambm que em 1991, 17 laboratrios de usinas

    cooperadas haviam liberado 943 milhes de adultos de C. flavipes, representando 76,8% do

    contingente de parasitides liberados, e que a porcentagem de infestao da praga, em

    canaviais de 26 usinas cooperadas, tinha sido reduzida de uma mdia de 9% em 1980 para

    3,17% em 1991 (Copersucar, 1992).

    Essa diminuio na intensidade de infestao da broca foi verificada em um perodo

    em que a rea de cana-de-acar no estado de So Paulo praticamente dobrou (hoje so

    mais de 2,5 milhes de hectares) e o perfil das variedades plantadas foi alterado, o qual

    composto, atualmente, por canas mais ricas em acar, mais produtivas e mais susceptveis

    a broca (Botelho e Macedo, 2002). Isto demonstra que o parasitide C. flavipes exerceu e

    continua exercendo o seu papel de agente de controle biolgico da broca, e que esse

    programa de controle biolgico da broca em cana-de-acar foi e continua sendo um

    sucesso.

    Vrios laboratrios, atualmente, produzem e comercializam a vespinha C. flavipes

    no Brasil.

  • 12

    5.2. Cultura da Soja

    Pragas - A cultura da soja abriga um nmero elevado de espcies de insetos, sendo

    que alguns causam srios prejuzos cultura e so considerados como pragas principais.

    Entre eles, destacam-se o percevejo verde grande Nezara viridula, o percevejo verde

    pequeno Piezodorus guildinii e o percevejo marrom Euchistus heros (Hemiptera:

    Pentatomidae).

    Esses insetos apresentam 5 estdios ninfais, e tanto as ninfas como os adultos sugam

    a seiva da planta e dos gros. Aparecem a partir da florao, causando os maiores danos

    entre os estdios de desenvolvimento das vagens e final de enchimento dos gros. Seus

    ataques podem causar considervel reduo no rendimento e na qualidade da semente, e so

    agentes transmissores de doenas fungicas, como a mancha fermento, e pode retardar a

    maturao das plantas, causando o fenmeno da reteno foliar, soja louca, o qual

    dificulta a colheita.

    Inimigos naturais - Os insetos pragas da soja esto sujeitos ao ataque de um grande

    nmero de inimigos naturais que se encarregam de eliminar parte de sua populao,

    exercendo, portanto um controle natural sobre os mesmos. Alguns desses agentes so to

    eficazes que, sob certas condies, mantm populaes de insetos-praga abaixo do nvel de

    dano econmico durante toda a safra, dispensando assim, a necessidade de controle

    qumico.

    Para os percevejos, o parasitismo exercido principalmente pelo dptero

    Eutrichopodopsis nitens (Diptera; Tachinidae) que ataca os adultos (deposita ovos sobre o

    corpo dos pecevejos, e as larvas aps a ecloso penetram no corpo dos mesmos), e por

    vrias espcies de vespinhas que parasitam os ovos dos percevejos, sendo Trissolcus

    basalis e Telenomus podisi (Hymenoptera: Scelionidae) as mais importantes.

    Esta vespinha um microhimenptero, de cor brilhante, de 1mm de comprimento.

    Os adultos tm vida livre e depositam seus ovos no interior dos percevejos matando o

    embrio. O desenvolvimento do parasitide perceptvel externamente pelas mudanas na

    colorao dos ovos do hospedeiro. Ovos de N. viridula e E. heros quando parasitados

    mudam da cor amarela para cinza, trs quatro dias aps o ataque (fase de larva); aps

    tornam-se castanhos (fase de pupa) e pretos quando prximos da emergncia dos adultos.

  • 13

    Aps completar o desenvolvimento, os adultos de T. basalis emergem por um orifcio

    circular no topo do ovo (Correa-Ferreira & Panizzi, 1999). Ao se comparar o ciclo dos

    percevejos (40 dias) com o ciclo da vespinha (10 dias) ocorrem quatro geraes da

    vespinha para uma gerao do percevejo, o que favorece o crescimento da sua populao.

    As fmeas apresentam uma fecundidade mdia de 250 ovos, depositados, principalmente,

    na primeira semana de vida.

    Controle biolgico - Considerando que T. basalis desenvolve-se de ovo a adulto em

    ovos do hospedeiro, a manuteno de colnias de percevejos como fonte contnua de

    fornecimento de ovos, viabilizando multiplicaes de T. basalis em grande porte e suas

    liberaes em campo em programas de controle biolgico, tem fundamental importncia.

    A vespinha T. basalis ocorre naturalmente nas lavouras de soja, entretanto, o uso

    inadequado de inseticidas prejudica a sua eficincia. Para preservar, aumentar e antecipar a

    sua ocorrncia recomenda-se que o parasitide seja liberado nas folhagens das plantas de

    soja, nas primeiras semeaduras, com a soja no final do florescimento, quando os percevejos

    comeam a invadir a cultura e iniciam a oviposio. Assim, o efeito do parasitide sobre a

    populao de percevejos antecipado, mantendo-a abaixo do nvel de dano econmico

    durante o perodo crtico. Devido ao ciclo da vespinha ser curto, em torno de 10 dias, a

    liberao nas culturas semeadas primeiramente ou semeadas com cultivares precoce

    permitir a multiplicao mais rpida dos parasitides os quais iro busca de novos

    hospedeiros.

    Recomenda-se liberar 5000 vespinhas/ha em diferentes pontos da cultura nos

    perodos de menor insolao ou, ovos parasitados colados em cartelas de papelo (trs

    cartelas/ha), presas nas plantas um ou dois dias antes da emergncia dos parasitides

    adultos. As cartelas com as massas de ovos parasitadas so protegidas por uma tela de

    nylon, evitando-se que os ovos sejam predados antes da total emergncia dos parasitides, e

    amarradas na poro mediana das plantas de soja.

    O comportamento de colonizao dos campos de soja pelos parasitides de ovos

    segue a distribuio dos hospedeiros na cultura. Concentram-se, inicialmente, nas bordas da

    cultura, devido s maiores populaes de ovos de percevejos nessas reas, dispersando-se,

    posteriormente, para o interior do campo (Corra-Ferreira, 2002).

  • 14

    Aps a liberao dos parasitides deve-se acompanhar periodicamente a populao

    de percevejos atravs da amostragem com o pano de batida (a qual vlida para lagartas e

    percevejos), preferencialmente de cor branca, preso em duas varas, com um metro de

    comprimento, o qual deve ser estendido entre duas fileiras de soja. As plantas da rea

    compreendida pelo pano devem ser sacudidas vigorosamente sobre ele, havendo, assim, a

    queda das pragas sobre o pano, as quais devero ser contadas.

    Este procedimento deve ser repetido em vrios pontos da cultura, considerando

    como resultado final a mdia dos vrios pontos amostrados. Recomenda-se vistoriar a

    cultura pelo menos uma vez por semana, iniciando as amostragens no principio do ataque

    das pragas, intensificando o processo ao aproximar-se do nvel de ao. Para os percevejos,

    esse nvel de 4 percevejos grandes em mdia/batida de pano (soja consumo), ou 2

    percevejos grandes em mdia/batida de pano (soja semente). So considerados percevejos

    grandes, aqueles com mais de 0.5 cm de comprimento.

    O programa de controle biolgico dos percevejos da soja por meio da utilizao de

    T. basalis conta com a multiplicao desse agente no prprio campo, e por isso

    fundamental que seja liberado quando a populao de percevejos ainda baixa (menor que

    os nveis de ao), respeitando o perodo indicado para liberao.

    O controle biolgico dos percevejos da soja foi incorporado ao manejo integrado

    das pragas da soja, estando atualmente atuando em uma rea de 18.020 hectares de soja,

    com o envolvimento de 343 produtores, em diferentes etapas de implantao, alm de

    produtores isolados, destacando-se aqueles com reas de soja orgnica. O programa conta

    com cinco laboratrios de criao e multiplicao do parasitide T. basalis para liberao e

    atendimento as microbacias, alm do laboratrio da Embrapa Soja (Correa-Ferreira, 2002).

    5.3. Cultura do Tomate

    O tomate (Lycopersicum esculentum) uma solancea cultivada em todas as regies

    do Brasil, e no contexto mundial, o pas situa-se, atualmente, como o nono produtor dessa

    solancea. A produo brasileira de tomate, caracterizada pelo mercado como tomate

    industrial (cultivo rasteiro) e de consumo in natura (cultivo estaqueado), de

    aproximadamente 2,6 milhes de toneladas, distribuda em 55,3% no Sudeste, 19,3% no

    Nordeste, 13,0% no Centro-Oeste, 12,5% no Sul e 0,1% no Norte.

  • 15

    Pragas - Dentre as pragas do tomateiro destacam-se a traa-do-tomateiro Tuta

    absoluta (Lepidoptera: Gelechiidae) e a moca-branca Bemisia tabaci, bitipo B (Bemisia

    argentifolii) (Hemiptera: Aleyrodidae). E entre seus principais inimigos naturais, esto os

    parasitides de ovos do gnero Trichogramma (para T. absoluta) e a vespinha Encarsia

    formosa (para a mosca branca).

    A traa-do-tomateiro um microlepidptero (10 mm de envergadura e 6mm de

    comprimento), colorao cinza-prateada, asas franjadas. A lagarta inicialmente branca,

    passando depois a verde com uma suave mancha avermelhada no dorso. Esta praga ocorre

    durante todo o ciclo do tomateiro, atacando com severidade os brotos terminais, as gemas e

    as flores. As lagartas fazem galerias transparentes nas folhas, destruindo todo o mesfilo

    foliar, alm de broquearem o caule na insero dos ramos e os frutos (Haji, 1982).

    Inimigos naturais e Controle Biolgico - Espcies de parasitides do gnero

    Trichogramma, entre elas, T. pretiosum vem sendo utilizada para o controle da traa-do-

    tomateiro, T. absoluta. Iniciou-se em 1990, pela Embrapa Semi-rido, em Petrolina,

    Juazeiro e regies adjacentes. Esse parasitide foi importado da Colmbia, e produzido no

    Brasil, em ovos da traa dos cereais Sitrotoga cerealella, colados em cartelas de papelo.

    As liberaes de T. pretiosum para o controle biolgico de T. absoluta devem ser

    realizadas, de preferncia, duas vezes por semana, utilizando-se em cada liberao 75

    polegadas quadradas de T. pretiosum por hectare (150 pl2/ha/semana). Dependendo da

    populao da praga, pode-se aumentar a quantidade do parasitide a ser liberada. Uma

    polegada quadrada (6,45 cm2) contm cerca de 3.000 ovos parasitados por T. pretiosum.

    Considerando-se um ciclo de trs meses para a cultura do tomate (aps o transplante),

    utilizam-se no total 1800 polegadas quadradas, ou aproximadamente 5.4 milhes de

    parasitides por hectare (Haji et.al., 2002).

    Para a mosca-branca, no cultivo do tomate, o controle biolgico ainda no

    realizado no Brasil, pois o parasitide E. formosa atualmente comercializado somente na

    Europa, Estados Unidos e Canad, para uso em cultivos dessa hortalia em sistema

    protegido (Bueno, 2001).

  • 16

    5.4. Cultura do Trigo

    Pragas - Os pulges que atacam a cultura do trigo so as pragas mais importantes

    ocasionado danos diretos, pela suco da seiva, e indiretos, pela tansmisso de

    fitopatgenos, especialmente o vrus amarelo da cevada. As espcies mais comuns so

    Metopolophium dirhodum (Walker), Schizaphis graminum (Rondani), Sitobion avenae,

    Rhopalosiphum padi (L.) e Rophalosiphum rufiabdominale (Sasaki).

    Inimigos naturais - De acordo com Hagen e van den Bosch (1968), entre os

    inimigos naturais dos pulges destacam-se microhimenpteros parasitides primrios, das

    familias Aphidiidae e Aphelinidae, insetos predadores das familias Coccinellidae,

    Syrphidae, Ceccidomyiidae, Chrysopidae e Anthocoridae.

    No entanto, os parasitides de pulges da Famlia Aphidiidae parecem ser os mais

    efetivos para serem usados em programas de controle biolgico de pulges, e muitas

    espcies tem sido investigadas como candidatas ao controle biolgico de pulges-praga.

    Entre as mais promissoras esto, Aphidius colemani, Lysiphlebus testaceipes, Praon

    volucre, sendo as duas primeiras j comercializadas. Segundo Mackauer e Way (1976), as

    espcies com maior potencial apresentam todos ou a maioria dos requerimentos essenciais

    para um efetivo inimigo natural, como alta capacidade reprodutiva, curto tempo de gerao,

    boa capacidade de disperso e ciclo de vida bem sincronizado com aquele de seus afdeos

    hospedeiros.

    Controle Biolgico - O programa de controle biolgico do trigo no Brasil iniciou-se

    em 1978, com introduo, criao massal e liberao de inimigos naturais, caracterizando o

    controle biolgico clssico, envolvendo a FAO, Embrapa-Trigo, e com atividades at 1992,

    com produo e distribuio de parasitides. Foram realizados tambm outros estudos

    abrangendo biologia, dinmica populacional, danos e seletividade de inseticidas aos

    inimigos naturais dos pulges do trigo, visando desenvolver tecnologias de manejo dessas

    pragas que revertessem o quadro de desequilbrio existente na cultura do trigo. Esse manejo

    enfatizou o controle biolgico, por meio da introduo de novos inimigos naturais e de

    medidas complementares de preservao destes e das espcies j existentes (Salvadori e

    Salles, 2002).

  • 17

    5.5. Fruteiras

    Pragas - As moscas-das-frutas (Dptera: Tephritidae) atacam mais de 400 espcies

    de frutas, e esto entre as principais pragas que afetam a fruticultura em todo o mundo, no

    s pelos danos diretos causados produo, como pelas exigncias quarentenrias impostas

    pelos paises importadores de fruta in natura.

    Dentre as espcies mais importantes, destacam-se a mosca-do-mediterrneo

    Ceratitis capitata e vrias espcies de Anastrepha (A fraterculus, A. obliqua).

    A mosca-do-mediterraneo a mais importante, acha-se difundida por todo o

    territrio nacional, atacando pssego, laranja, pra, goiaba e muitos outros hospedeiros.

    Mede em torno de 4 a 5 mm de comprimento, e apresenta colorao predominantemente

    amarela, com trax preto na face superior, com desenhos simtricos brancos. Os adultos

    de Anastrepha medem cerca de 6.5 mm de comprimento, com um colorido

    predominantemente amarelo e com mancha amarela em forma de S que vai da base

    extremidade da asa.

    Inimigos naturais e Controle Biolgico - Dentre os inimigos naturais das moscas-

    das-frutas destaca-se o parasitide Diachasmimorpha longicaudata (Hymenoptera:

    Braconidae). Esse parasitide oviposita no ltimo instar larval das moscas-das-frutas e

    completa seu desenvolvimento no puprio do hospedeiro.

    O parasitide D. longicaudata foi introduzido no Brasil atravs da Embrapa

    Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, BA em 1994, com o objetivo de avaliar o

    potencial de utilizao desse agente em diferentes ecossistemas do Brasil visando a

    implantao de um programa de controle biolgico das moscas-das-frutas neotropicais. E,

    em termos prticos, o controle biolgico de moscas-das-frutas em programas de diversos

    pases, como, por exemplo, nos Estados Unidos (Havai), baseia-se no mtodo inundativo,

    ou seja, os parasitides so produzidos e liberados em escala massal (Carvalho e

    Nascimento, 2002). Segundo Malavasi (1996), no Mxico que se encontra o projeto mais

    avanado; no laboratrio do Programa Moscamed, em Tapachula, so criados meio milho

    de parasitides/semana.

    No Brasil, a partir de 1995, o Cena/USP passou a multiplicar massalmente, liberar e

    distribuir o parasitide D. longicaudata. A estimativa de produo, de janeiro de 1995 a

    outrubro de 2001, foi de 195 milhes de pupas de C. capitata, das quais 150 milhes de D.

  • 18

    longicaudata, que foram utilizadas em pesquisas prprias e distribudas a empresas e

    rgos interessados, principalmente do Estado de So Paulo. Foram feitos tambm envios

    de grande volume para a Guiana Francesa e Amap, visando o controle da mosca-da-

    carambola. A capacidade de produo da biofbrica piloto estimada em 50 milhes a 60

    milhes de larvas ou pupas de C. capitata por ms, e desse total, 90% poder ser destinado

    a produo de parasitides (Walder, 2002).

    A fim de garantir e ampliar a chance de sucesso no estabelecimento de D.

    longicaudata no Brasil, enviaram-se remessas do parasitide extico para laboratrios

    interessados na avaliao desse organismo, nos estados da Bahia, Pernambuco, Minas

    Gerais, So Paulo, Rio Grande do Sul e Amazonas. Todos os projetos implementados nas

    diferentes regies do pas seguiram a mesma metodologia, ou seja, foram realizadas

    monitoramentos de larvas de mosca-das-frutas (tempo = 0) em diferentes fruteiras antes das

    liberaes de D. longicaudata no campo.

    Atualmente o projeto de controle biolgico das moscas-das-frutas est se

    espalhando pelo Brasil, baseando-se nos benefcios das liberaes j alcanados em outras

    partes do mundo, e j existe a implantao de uma biofbrica, em Juazeiro, estado da Bahia

    destinado a produo comercial de parasitides, visando suprir a demanda e contribuir para

    a consolidao da fruticultura tropical.

    5.6. Macieira

    Dentre as principais pragas da macieira, encontra-se o caro vermelho Panonychus

    ulmi. Quatro empresas (Agrcola Fraiburgo S.A., Fisher Fraiburgo Agrcola Ltda., Pomifrai

    Fruticultura S.A. e Renar maas S. A. ), produtoras de mas em Fraiburgo, Santa Catarina,

    construram unidades de criao do caro predador Neoseiulus californicus com a

    finalidade de implantar o controle biolgico inundativo de P. ulmi, atualmente em um total

    de 6.600 hectares (Monteiro, 2002). Segundo este autor, criao de caros predadores para

    uso do controle biolgico de caro vermelho pode ser realizada com sucesso em pomares

    nas regies produtoras de ma do Sul do Brasil. Produtores e cooperativas podero obter

    rendimentos significativos com a economia de acaricidas utilizando N. californicus.

    Estima-se que a economia produzida com o controle biolgico de caros, quando

    comparado com o controle convencional, seja de cerca de 85 dlares por hectare.

  • 19

    5.7. Florestas

    Lagartas desfolhadoras so importantes pragas em diversos sitemas agroflorestais

    no Brasil, e os trabalhos desenvolvidos nos ltimos 10 anos no pas, vm apontando o uso

    de percevejos predadores (Hemiptera: Pentatomidae: Asopinae) para o controle biolgico

    dessas lagartas. As companhias reflorestadoras CAF Florestal Ltda., Champion Celulose,

    Mannesmann Florestal Ltda., Pains Florestal S.A. e Reflorestadora do Alto Jequitinhonha

    (Refloralje) esto produzindo, estudando e utilizando percevejos predadores (Podisus

    nigrispinus, Supputius cincticeps, Brontocoris tabidus) para o controle biolgico de

    Thyrinteina arnobia (Geometridae), Psorocampa denticulata (Notodontidae),

    Euspsedossoma aberrans (Arctiidae), Sarsina violascens (Lymantridae), e de outros

    lepidpteros desfolhadores de eucalipto (Zanuncio et.al., 2002).

    5.8. Cultivos Protegidos

    Muitos fatores evoluram e contriburam para o desenvolvimento da agricultura moderna,

    porm um deles parecia aos agricultores de controle impossvel: dominar a adversidade

    climtica. A sazonalidade climtica permitia o aproveitamento de apenas alguns perodos

    do ano para o desenvolvimento de cultivos, fato que deu origem aos conhecidos calendrios

    agrcolas. A geada, o vento frio, o granizo, a insolao e a chuva demasiada restringiam o

    aproveitamento da terra, deixando-a ociosa por longos perodos do ano, limitando a sua

    capacidade de produo e privando os agricultores da obteno de melhores lucros (Bueno,

    2001). Diante desta situao, os agricultores comearam a enfrentar o desafio de controlar o

    ambiente das plantas, e no final do sculo XIX, a produo comercial em casas de

    vegetao tornou-se estabelecida.

    Casas de vegetao so sistemas nicos, com caractersticas prprias e peculiares.

    Vrias caractersticas ecolgicas fazem esses sistemas serem completamente diferentes de

    outros ecossistemas natural ou manejado. Cria-se um ambiente especifico que no somente

    determina a natureza da infestao de uma praga, como tambm molda o papel dos agentes

    de controle biolgico.

    Embora sejam ambientes que podem ser controlados e ofeream condies de

    melhoria para o crescimento e desenvolvimento de uma grande variedade de plantas, os

    mesmos podem tambm favorecer o aparecimento de pragas e doenas. Segundo Gullino e

  • 20

    Wardlow (1999), o aumento da complexidade com pragas e doenas e os altos padres

    cosmticos para os produtos vegetais (hortcolas) e ornamentais tm levado os produtores a

    aplicaes preventivas intensivas e rotineiras de produtos fitossanitrios, o que resulta no

    aparecimento, em poucos anos, de pragas e patgenos resistentes aos produtos mais

    freqentemente usados, o que por sua vez aumenta os custos de controle.

    Assim, o controle biolgico atravs do uso de parasitides, predadores e organismos

    entomopatognicos, atualmente uma realidade bastante desejvel em sistemas de cultivos

    protegidos, uma vez que muitos casos de sucesso tm ocorrido em pases que j utilizam

    esse mtodo de controle, perfeitamente inserido nos princpios que regem o manejo

    integrado de pragas (MIP) (Tabela 1). Agentes entomfagos e entomopatognicos vm

    sendo usados comercialmente em muitos pases da Europa, no Canad e Estados Unidos

    para controlar importantes pragas em um amplo espectro de cultivos nos sistemas

    protegidos.

    Nas ltimas dcadas seu uso vem aumentando consideravelmente uma vez que o

    controle biolgico de pragas um mtodo sustentvel, econmico e ambientalmente mais

    atrativo do que o controle qumico. Os programas de controle biolgico so adaptados por

    especialistas para um determinado cultivo, seja ornamental ou vegetal, observando-se, por

    exemplo, qual espcie de inimigo natural usar; o tempo, quantidade e freqncia de

    liberao. Tambm verificar quanto ao melhor sistema de liberao, como distribuir

    eficientemente o inimigo natural, assim como observar quanto disperso do agente de

    controle, e preos competitivos dos inimigos naturais comparados ao uso de produtos

    fitossaintrios.

    O controle biolgico em casas de vegetao pode envolver a conservao, o

    controle natural e o controle aumentativo. De acordo com van Lenteren (2000), o manejo

    adequado dos arredores das casas de vegetao pode estimular ou restaurar o controle

    natural, e promover a migrao de insetos benficos para o interior dessas estruturas.

    Muitos parasitides de moscas minadoras e de pulges, como tambm predadores de tripes,

    migram para as estruturas protegidas, proporcionando o controle dessas pragas, desde que

    encontrem um ambiente equilibrado, e na ausncia de produtos qumicos.

    No caso da liberao de agentes entomfagos, o controle biolgico em casas de

    vegetao aplicado por meio do mtodo inoculativo sazonal, no qual os parasitides e

  • 21

    predadores exticos ou nativos so criados massalmente e periodicamente liberados em

    cultivos de curta durao, permitindo tanto um efeito imediato contra a praga como um

    crescimento da populao do inimigo natural para um controle tardio durante a mesma

    estao. Em alguns casos, usa-se a liberao inundativa para obter uma reduo imediata da

    populao da praga. Segundo van Lenteren (2000), estima-se que a rea total mundial sob

    formas sazonais inoculativas e inundativas de controle biolgico seja de cerca de 32

    milhes de hectares, incluindo condies de campo e de casas de vegetao.

    Pragas em casas de vegetao so atualmente manejadas atravs do controle

    biolgico em cerca de 14.000 dos 30.0000 hectares sob cultivos protegidos no mundo,

    comparados com os 200 hectares sob controle biolgico nos anos 70 (van Lenteren, 1995).

    Acima de 80% do controle biolgico aplicado em casas de vegetao so para cultivos de

    pepino, tomate e pimento (Ravensberg, 1992), e todos os cultivos hortcolas juntos somam

    cerca de 90% dos inimigos naturais comercializados.

    O grande nmero de inimigos naturais hoje disponveis, com vrias espcies para

    cada praga, como para a mosca minadora, mosca branca, tripes, afdeos e caros, tem

    tornado os programas de controle biolgico em casas de vegetao estveis e confiveis.

    Um fator indicador do sucesso dessa forma de controle a drstica reduo no uso de

    inseticidas: em hortcolas essa reduo da ordem de 80 a 95% (Bolckmans, 1999).

    Vrias empresas esto envolvidas com a produo de inimigos naturais (Tabela 2), e

    tambm podem ser visualizados nesta tabela, as principais pragas e seus respectivos

    inimigos naturais envolvidos com cultivos em sistemas protegidos.

    Os principais inimigos naturais usados e vendidos comercialmente e que podem

    estar presentes nos cultivos de ornamentais e vegetais em sistemas protegidos so:

    1. Parasitides: Aphidius colemani, Lysiphlebus testaceipes, Praon sp. so pequenas

    vespinhas, parasitides de pulges. Ataca os pulges, introduzindo, atravs de seu

    ovipositor, um ovo no interior do corpo do pulgo. Desse ovo sai uma larva, a qual se

    alimenta dos tecidos internos do pulgo, matando-o. O pulgo parasitado apresenta um

    aspecto de mumia, normalmente de colorao palha.

    2. Parasitides: Encarsia formosa, Eretmocerus eremicus - so parasitides de mosca-

    branca. Parasita os estgios ninfais da mosca-branca, onde a fmea coloca um ovo. O

  • 22

    desenvolvimento do parasitide ocorre na pupa do hospedeiro, a qual torna-se negra em sua

    colorao.

    3. Predadores: Orius spp. (O. insidiosus, O. thyestes,O. laevigatus, O. majusculus)

    so pequenos percevejos predadores, principalmente de tripes. Tanto suas ninfas como os

    adultos se alimentam de todos os estgios da presa, e so encontrados no mesmo habitat de

    suas presas. No caso das ornamentais, vivem particularmente nas flores.

    4. Parasitides: Dacnusa sibirica, Diglyphus isaea - so pequenas vespinhas,

    parasitides de larvas da mosca-minadora. Fmeas de D. sibirica colocam seus ovos no

    interior das larvas da mosca-minadora, o parasitide se desenvolve dentro da pupa do

    hospedeiro. Fmeas de D. isaea matam a larva da mosca-minadora na mina e coloca o ovo

    em cima da larva da mosca-minadora, dentro da mina.

    5. Predador: Phytoseiulus persimilis caro predador do caro rajado. Os caros

    fitfagos que foram predados apresentam colorao marrom para preta, e podem ser

    identificados como finos pontos negros sobre as folhas. No confundir com caros vivos

    que so marrom-claros ou vermelho-escuros.

    Outros inimigos naturais, como joaninhas, crisopdeos, e tambm fungos, bactrias

    e virus entomopatognicos podem ser encontrados associados as principais pragas em

    ornamentais e vegetais em sistemas protegidos.

    No Brasil, as pesquisas com controle biolgico nesses sistemas de cultivo so

    recentes. Envolvem atualmente, o uso dos percevejos predadores Orius insidiosus e O.

    thyestes para o controle de tripes, e dos parasitides Aphidius colemani, Lysiphlebus

    testaceipes e Praon volucre para o controle de pulges. Esto sendo realizados estudos da

    biologia, comportamento, interao intraguilda, influncia dos fatores ecolgicos como

    fotoperodo e temperatura, e do hospedeiro/presa e mtodos de criao massal. Tambm

    envolvendo a liberao desses agentes em cultivos comerciais, com nfase as taxas de

    liberao e uso de unidades de criao aberta (plantas banqueiras)

    A liberao inoculativa sazonal de O. insidiosus e L. testaceipes em plantio

    comercial de crisntemo de corte em casa de vegetao, de 600m2, para controle de tripes e

    pulges, respectivamente, demonstrou que esses agentes foram efetivos como agentes de

    controle biolgico, controlando a populao da praga e mantendo-a abaixo do nvel de dano

    econmico. O predador O. insidiosus foi liberado na taxa de 1,5 a 2,0 Orius/m2 em 5

  • 23

    liberaes/ciclo de cultivo do crisntemo, e o parasitide L. tetaceipes, em duas liberaes

    (Figura 3), a primeira de 0,15 fmeas/m2 e a segunda de 0,24 fmeas/m

    2 (Silveira et al.

    2004, Rodrigues et al. 2005).

    Assim, se aposta no futuro do controle biolgico nesses sistemas de cultivos, porque

    (1) menor nmero de inseticidas disponveis (resistncia e registro); (2) poltica

    governamental para reduzir o uso de inseticidas; (3) consumidores demandam por produtos

    livres de resduos; (4) conscincia dos efeitos dos inseticidas sobre a biodiversidade; (4)

    muitos inimigos naturais esperam por sua descoberta e uso; (6) pode ser empregado por

    pequenos agricultores e na agricultura com alta tecnologia.

    O controle biolgico ambientalmente seguro, de longo prazo e sustentvel, e,

    portanto, a melhor opo de controle.

    6. Controle microbiano de pragas: definio, conceitos e microrganismos

    entomopatognicos

    Se considerarmos que cada espcie de inseto seja suscetvel a pelo menos um

    microrganismo patognico, como ocorre com todos os outros organismos vivos dos

    diferentes reinos, ou seja, que pelo menos um microrganismo seja capaz de causar algum

    tipo de doena a esse inseto, temos uma pequena noo da importncia do estudo dessas

    doenas no contexto do controle de pragas, principalmente. Isso se d pela estimativa de

    que existam cerca de 2.500.000 espcies de insetos sobre a Terra, sendo que, dessas,

    aproximadamente 1.000.000 de espcies j so conhecidas e identificadas. Desse montante,

    por volta de 10% podem ser consideradas pragas agrcolas, florestais ou urbanas.

    A patologia de insetos a cincia que estuda as doenas dos insetos, visando utiliz-

    las para o controle de pragas ou com o objetivo de evit-las quando ocorrem em insetos

    teis (abelhas, bicho-da-seda, agentes de controle biolgico, etc). Por doena, podemos

    definir um processo dinmico, no qual hospedeiro (inseto) e patgeno (microrganismo),

    em ntima relao com o meio, influenciam-se mutuamente, resultando modificaes

    morfolgicas e fisiolgicas em ambos. Este um conceito estrito, j que, numa maior

    abrangncia podemos tambm considerar como doenas, as alteraes em processos

  • 24

    fsicos, bioqumicos e fisiolgicos dos insetos, tais como abrases, fraturas, deficincias

    nutricionais, entre outros.

    O controle microbiano um ramo do controle biolgico que trata da utilizao

    racional dos entomopatgenos, visando a manuteno das populaes de pragas a nveis de

    dano no-econmicos, segundo os princpios do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

    Podemos definir, para o controle microbiano, da mesma forma que para o controle

    biolgico com a utilizao de entomfagos, tipos de controle, como o natural e o aplicado,

    e estratgias de uso, como introduo inundativa e inoculativa, aumento ou incremento e

    conservao/proteo.

    As principais vantagens do uso de microrganismos entomopatognicos para o

    controle de pragas so a especificidade e a seletividade desses agentes de controle, bem

    como a facilidade de multiplicao, disperso e produo em meios artificiais e a ausncia

    de poluio ambiental e toxicidade ao homem e outros organismos no-alvo, entre outras.

    Dessa forma, percebe-se que o controle microbiano de insetos, como brao do controle

    biolgico, base de sustentao do equilbrio natural das espcies de insetos

    potencialmente consideradas como pragas.

    Os principais microrganismos relacionados ao controle microbiano de insetos so

    fungos, bactrias, vrus e nematides entomopatognicos, com vrios casos estudados e

    exemplos de utilizao comercial, alm de outros microrganismos como protozorios,

    ricktsias, espiroplasmas e fitoplasmas, menos conhecidos e estudados, mas tambm com

    imenso potencial de investigao com relao patogenia e utilizao aplicada.

    Os fungos so microrganismos unicelulares (leveduras) ou pluricelulares (maioria

    dos fungos), constitudos de clulas providas de parede originada por celulose e quitina,

    alm de outros acares, que formam um conjunto denominado miclio. Essas estruturas

    vegetativas que constituem o miclio so denominadas hifas, sendo que, aps a colonizao

    de um determinado hospedeiro, surgem estruturas reprodutivas conhecidas como esporos

    ou condios, originadas de reproduo sexuada ou assexuada, responsveis pela

    disseminao do patgeno. Os fungos possuem grande variabilidade gentica, largo

    espectro de hospedeiros e geralmente penetram nos insetos via tegumento. Os principais

    grupos/espcies de interesse so: Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae, M.

    flavoviride, Nomuraea rileyi, Verticillium lecanii, Hirsutella thompsonii, Aschersonia

  • 25

    aleyrodis, Paecilomyces spp., Cordyceps spp., e os fungos da ordem Entomophthorales

    (Zoophthora, Entomophthora, Entomophaga, Neozygites).

    As bactrias que infectam insetos podem ser esporulantes ou no-esporulantes,

    obrigatrias ou facultativas, e penetram no inseto por via oral. So estruturas unicelulares,

    geralmente em forma de bastonetes, sendo o grupo das bactrias esporulantes constitudo

    de uma clula vegetativa que contm, em seu interior, um esporo de resistncia, que garante

    boa estabilidade no ambiente, a despeito de condies ambientais desfavorveis, e um

    corpo parasporal, ou cristal protico, composto por protenas txicas que exercem efeito

    sobre os insetos-alvo.

    Essas bactrias tm sido amplamente pesquisadas, devido ao grande interesse

    gerado pela possibilidade de produo desses microrganismos por processos fermentativos,

    sendo o grupo de entomopatgenos com maior potencial comercial, refletido na grande

    quantidade de produtos comerciais disponveis em todo o mundo, ao contrrio do que

    ocorre com os outros grupos de microrganismos entomopatognicos. Os principais grupos

    so: Bacillus thuringiensis (diversas variedades), como var. kurstaki, que ataca lagartas

    (Lepidoptera), var. israelensis, infectando larvas de Diptera (pernilongos e borrachudos) e

    var. tenebrionis, infectando Coleoptera; Bacillus sphaericus, tambm em larvas de Diptera,

    e Bacillus larvae e B. alvei, que causam doenas em abelhas; pode-se citar tambm Serratia

    marcescens e S. entomophila, que causam septicemias em diversos insetos, pertencentes ao

    grupo das bactrias no-esporulantes.

    Vrus so macromolculas (nucleoprotenas), que contm somente um tipo de cido

    nucleico (DNA ou RNA), e so parasitos celulares obrigatrios que penetram nos insetos

    por via oral. Os vrus que causam doenas em insetos so bastante especficos, sendo, entre

    os principais grupos de entomopatgenos, dos mais seguros em relao a possveis efeitos

    sobre o homem ou outros animais no-alvo. Os principais grupos so os vrus de poliedrose

    nuclear (VPN), citoplasmtica (VPC) e de grandulose (VG), conhecidos como Baculovirus.

    Os nematides entomopatognicos so vermes semelhantes queles que infectam

    plantas, e se relacionam com os insetos de trs formas: forsia (transporte), parasitismo

    obrigatrio ou parasitismo facultativo. De maneira geral, esses nematides no possuem

    estiletes bucais, ao contrrio do que ocorre nos nematides fitopatognicos, e alguns grupos

    tm uma associao muito ntima (simbiose ou mutualismo) com bactrias no processo de

  • 26

    estabelecimento da doena. Dessa forma, esses nematides carregam em seu interior um

    pequeno inculo de bactrias especficas, que so liberadas no interior do corpo do inseto

    aps a penetrao do nematide, via aberturas naturais (boca, nus). Essas bactrias ento

    se multiplicam em todos os tecidos do inseto, matando-o por septicemia (infeco

    generalizada), ficando o nematide imerso no material do qual passa a se alimentar. Os

    principais grupos de interesse para o controle microbiano so: Famlia Steinernematidae e

    Famlia Heterorhabditidae, os quais possuem uma estreita associao com bactrias

    (Xenorhabdus); Famlia Mermithidae, que so parasitos obrigatrios e Famlia

    Neotylenchidae, nematides dotados de estiletes bucais, como os fitoparasticos.

    Alguns problemas relacionados comercializao de produtos microbianos, que

    impedem atualmente um maior desenvolvimento dessa linha de trabalho, so a

    concorrncia com produtos qumicos, a falta de assistncia tcnica durante a

    comercializao e aps a aplicao do produtos, a existncia de formulaes

    inadequadas e produtos de baixa qualidade no mercado, a exigncia de condies

    especficas de armazenamento desses produtos, entre outros.

    Apesar disso, j existe no mercado, principalmente internacional, um bom

    nmero de produtos microbianos disposio do consumidor, e so timas as

    perspectivas de utilizao desses produtos em um curto espao de tempo em nossas

    condies, em decorrncia do processo de conscientizao da sociedade na direo do

    consumo de produtos agrcolas sanitria e ambientalmente seguros, os quais, inclusive,

    podem ser melhor remunerados em funo das caractersticas citadas.

    7. Epizootiologia e utilizao de entomopatgenos no Manejo Integrado de Pragas

    Epizootiologia o estudo dos fatores que favorecem ou no a ocorrncia de doenas

    em insetos. Numa analogia a outra palavra bastante conhecida, mais aplicada rea de

    sade humana, podemos considerar que epizootiologia seria o mesmo que epidemiologia,

    ou seja, o estudo das epidemias, principalmente dos fatores associados a essa ocorrncia

    generalizada da doena.

    Como j definido anteriormente, podemos definir as doenas num mbito estrito

    (doenas microbianas ou infecciosas) ou numa esfera mais ampla, considerando tambm as

  • 27

    doenas no-infecciosas, ou de outras causas (fsicas, qumicas, fisiolgicas, nutricionais).

    Mais uma vez, ficaremos restritos primeira definio.

    Dessa forma, os objetivos principais dos estudos epizootiolgicos so: descobrir e

    estudar o ciclo de vida dos agentes entomopatognicos, quantificar a sua ocorrncia, num

    determinado local/poca/hospedeiro e fornecer subsdios para estratgias de controle

    microbiano de pragas (Figura 4).

    De maneira geral, independentemente do entompatgeno estudado, podemos dizer

    que o desenvolvimento da doena se d de acordo com uma distribuio conhecida como

    curva epizotica (Figura 5). Essa curva constituda de uma fase pr-epizotica,

    caracterizada pela existncia de focos primrios da doena, oriundos de insetos mortos,

    estruturas do entomopatgeno existentes no solo, por exemplo, capazes de desencadear o

    processo. Em seguida, percebe-se uma fase de grande incremento na taxa de ocorrncia da

    doena, chamada fase epizotica propriamente dita, caracterizada pela rpida multiplicao

    e disseminao do microrganismo, com consequente aumento da mortalidade do inseto

    hospedeiro e do inculo presente na rea. Por fim, reconhecemos a fase denominada ps-

    epizotica, na qual, em virtude principalmente das condies ambientais desfavorveis, e

    da diminuio do nmero de hospedeiros suscetveis, devido alta mortalidade, percebe-se

    a diminuio da ocorrncia da doena na populao.

    Com base no padro de ocorrncia observado, podemos tambm definir doena

    enzotica (menos agressiva, que ocorre normalmente em taxas mais baixas) e doena

    epizotica (caracterizada pela agressividade do entomopatgenos e altas taxas de

    mortalidade e disseminao). Essa definio feita com base em conceitos e taxas

    derivados dos estudos epidemiolgicos, como taxas de prevalncia, incidncia, mortalidade

    anual, mortalidade especfica, mortalidade etria, nmero de casos fatais, porcentagem de

    infeco e transmisso. Por vezes, no fcil, no caso de doenas em insetos, obter dados

    consistentes que permitam a determinao dessas taxas ou ndices.

    Em suma, a epizootiologia trata de estudar e conhecer os fatores biticos, relativos

    ao hospedeiro (inseto) e ao patgeno (microrganismo), bem como os fatores abiticos ou

    ambientais (climticos e no-climticos), que so responsveis por dar condies para o

    desenvolvimento do processo dinmico ao qual nos referimos como doena.

  • 28

    Com relao aos fatores biticos relacionados ao hospedeiro (inseto), visando

    estabelecer padres relativos principalmente ocorrncia de pragas e sua suscetibilidade

    s doenas, podemos citar alguns aspectos a serem abordados:

    a) Caractersticas ou estratgias reprodutivas da praga, com o reconhecimento e

    caracterizao de populaes de insetos estrategistas r ou k, quanto utilizao

    dos recursos biticos e alimentares disponveis;

    b) Caractersticas da populao visada quanto suscetibilidade individual, em

    contraposio suscetibilidade da populao como um todo, importante no aspecto

    da transmisso e disseminao da doena;

    c) Densidade da populao, j que epizootias esto diretamente ligadas existncia de

    altas densidades populacionais da praga e ao fato de patgenos de disseminao

    horizontal (contato entre indivduos) serem tambm dependentes da densidade

    populacional. Tambm, nesse caso, interessa muito a estratgia de introduo do

    patgeno que ser utilizada, como por exemplo, a introduo inundativa, com o

    patgeno sendo utilizado na forma de inseticida microbiano, em altas concentraes

    por rea, relativamente independente da densidade populacional da praga;

    d) Biologia e hbitos dos insetos: importante o conhecimento dos hbitos alimentares

    e do comportamento dos insetos, visando uma ao mais efetiva do controle

    microbiano. Como exemplo, temos insetos mastigadores de vida livre, cuja

    deposio do produto microbiano sobre o substrato de alimentao (ex: folhas) de

    extrema importncia; conhecer o estgio suscetvel da praga (formas jovens,

    adultos); avaliar o comportamento de insetos de solo (solo como reservatrio

    natural de patgenos, condies de UR alta, temperaturas amenas, o papel de

    microrganismos antagnicos), podem facilitar o desenvolvimento de iscas atrativas,

    que promovem um alto potencial de inculo com proteo do entomopatgeno a

    condies adversas; e tambm, mais especificamente, o caso dos insetos sociais,

    com caractersticas de agregao, trofalaxia (troca de alimento), grooming =

    comportamento de limpeza, que so estratgias utilizadas para evitar doenas, mas

    que podem, em alguns casos, contribuir com a disseminao do microrganismo;

    e) Migraes de insetos e mudanas nos hbitos: a ocorrncia do geotropismo

    negativo, devido ao fenmeno chamado behavioral fever (= febre

  • 29

    comportamental), muito comum em insetos doentes, utilizado como mecanismo de

    defesa, mas que contribui com a maior disseminao de certos fungos, por exemplo;

    f) Predisposio do hospedeiro: caracterstica intrnseca espcie, relativa via de

    inoculao qual o inseto mais suscetvel, bem como ao espectro de enzimas e pH

    no intestino, alm da interao do tegumento com as condies climticas,

    favorecendo a deposio de ceras, visando a economia de gua, o que pode

    dificultar a penetrao do entomopatgeno, alm da fase/estgio em que se encontra

    o inseto, e da maior suscetibilidade na poca das mudas de tegumento (Figura 6);

    g) Presena de hospedeiros: fator relativo necessidade de hospedeiros primrios,

    secundrios, alternativos e/ou intermedirios para o completo desenvolvimento do

    ciclo da doena, como ocorre para alguns fungos patognicos a pernilongos

    (Coelomomyces, Amblyospora);

    Dentre os fatores biticos relacionados aos entomopatgenos, pode-se destacar:

    a) Tipos de patgenos: primrios, secundrios, acidentais, ocasionais, facultativos,

    obrigatrios, gerando classificaes quanto sua agressividade (caracterstica

    enzotica/epizotica), tais como patgeno rpido, lento, crnico, epizoticos, entre

    outros;

    b) Infectividade (capacidade de penetrao habilidade natural), patogenicidade

    (capacidade de provocar doena caractersitica gentica), virulncia e

    agressividade (nveis de ocorrncia de doenas caracterstica biolgica altervel)

    que so caractersticas intrnsecas ao patgeno, inclusive em nvel subespecfico

    (isolados, cepas, raas, etc.);

    c) Estratgia de reproduo do patgeno: geralmente patgenos epizoticos so mais

    recomendados para controle de pragas anuais (em estratgias inundativas) e

    patgenos enzoticos para pragas em cultivos perenes, semiperenes (incremento e

    introduo inoculativa), devido principalmente s diferenas na capacidade de

    disseminao;

    d) Disseminao e transmisso dos patgenos: h patgenos com mecanismos

    adaptativos bastante evidenciados, como os fungos Entomophthorales, com ejeo

    de condios primrios (no-infectivos), permitindo maior disseminao e ocorrncia

    frequente de epizootias, e outros bastante infectivos, com alta virulncia, alta

  • 30

    reproduo, mas sem epizootias naturais, como Bacillus thuringiensis, alm da

    importncia de se conhecer se o mecanismo de transmisso do microrganismo

    vertical (de gerao a gerao do inseto) ou horizontal (somente entre indivduos);

    e) Vias de inoculao dos patgenos: tais como via tegumento, transmissal oral,

    transmisso transovignica ou transovariana, o que corrobora para aumento da

    capacidade de didsseminao da doena;

    f) Capacidade de sobrevivncia dos patgenos, evidenciada naqueles microrganismos

    com fases de resistncia (esporos bacterianos, poliedros virais, clamidsporos em

    fungos Entomophthorales, esclerdios, sinmios), que so estruturas geralmente

    no-infectivas, mas que garantem persistncia no ambiente e em condies

    adversas;

    g) Potencial de inculo, definido como o nmero de propgulos viveis sobre o

    hospedeiro, capaz de iniciar o processo de doena, que influencia diretamente a

    infectividade dos patgenos;

    h) Interaes entre organismos, tais como sinergismo, antagonismo, coexistncia, que

    so relaes ecolgicas que podem modificar completamente a eficincia de

    determinado microrganismo entomopatognico no ambiente;

    Dentre os fatores abiticos (climticos e no-climticos) que necessitamos conhecer

    para os estudos epizootiolgicos, podemos citar:

    a) Temperatura: essencial na estabilidade no armazenamento, na aplicao e

    ocorrncia natural dos microrganismos entomopatognicos, sendo que os insetos,

    fora da faixa de 15 a 38, sofrem estresse, favorecendo os patgenos, alm do

    processo de desnaturao de protenas e decomposio do cido nucleico, que pode

    alterar a eficincia de vrus, por exemplo (Figura 7);

    b) Umidade: expressa em quantidade de chuva, umidade do solo e umidade do ar

    (relativa, absoluta, nvel de saturao), limitante para processos reprodutivos de

    microrganismos;

    c) Radiao e fotoperodo, principalmente com relao faixa de raios UV, que

    degradam partculas virais e propgulos de fungos, com maior efeito;

    d) Solo: com destaque s condies limitantes de pH para o estabelecimento de

    patgenos, lembrando que este ambiente um depositrio de grande nmero de

  • 31

    patgenos e tambm de microrganismos antagnicos, como Trichoderma,

    Penicillium e actinomicetos, entre outros;

    e) Produtos fitossanitrios, que ainda so a base do controle de pragas em sistemas

    desequilibrados, e mesmo nos quais se procura aplicar os princpios sustentveis do

    MIP; estes produtos podem causar efeitos letais, fungistticos, bacteriostticos ou

    podem, por outro lado, melhorar o crescimento e reproduo dos patgenos, quando

    portadores de caractersticas benficas de seletividade, base da estratgia de

    conservao.

    De maneira geral, o que se procura atravs dos estudos epizootiolgicos, alm do

    conhecimento dos fatores que afetam a ocorrncia de doenas, a sua implicao no

    processo de deciso da melhor estratgia para uso do microrganismo entomopatognico

    como agente de controle, dentro de um programa de MIP, incluindo, em alguns casos, a

    possibilidade de previso da ocorrncia das doenas em funo do conjunto de fatores

    biticos e abiticos relativos ao hospedeiro, patgeno e ambiente, o que seria de extrema

    importncia para a manuteno de populaes de pragas abaixo do nvel de dano

    econmico sem a necessidade de introdues artificiais, seja de agentes biolgicos ou de

    outros mtodos de controle mais agressivos.

    Assim, como a filosofia do MIP visa a utilizao conjunta de vrias tticas de

    controle, com aproveitamento do potencial de controle natural, a doena, seja pela sua

    ocorrncia natural ou pela introduo artificial parte desse contexto. Como j dito

    anteriormente, assim como definido para o controle biolgico por entomfagos, h diversas

    estratgias, como introduo inoculativa, introduo inundativa, aumento ou incremento,

    conservao ou proteo, e inclusive a utilizao de patgenos modificados e plantas

    transgnicas, que podem ser consideradas com relao ao controle microbiano.

    Quando consideramos a ocorrncia natural de doenas, os patgenos devem ser

    tidos como elementos bsicos do manejo integrado, podendo inclusive, em algumas

    situaes, ser o elemento principal. Para tal, so necessrios estudos preliminares e

    estabelecimento de padres de ocorrncia de doenas (padres epizootiolgicos), baseados

    principalmente no monitoramento da doena na populao hospedeira, que, juntando-se

    comparao com ocorrncias anteriores, podem permitir previses, baseadas, muitas vezes,

    em complexos modelos matemticos desenvolvidos para tal fim.

  • 32

    De outra maneira, quando pensamos na utilizao dos entomopatgenos como

    agentes introduzidos de controle biolgicos, devemos pensar em estratgias como

    introdues inoculativas, aumento ou incremento (em ambientes perenes ou semi-perenes),

    introduo inundativa com inseticidas microbianos (para culturas anuais, principalmente).

    Por fim, talvez a melhor forma/estratgia para se aproveitar o potencial de controle

    dos microrganismos entomopatognicos seja a conservao/proteo dos entomopatgenos

    j existentes, de forma que os mesmos possam atuar como agentes reguladores das

    populaes de pragas, sejam eles de ocorrncia natural ou introduzida, sem que outras

    atividades ou intervenes no agroecossistema venham a prejudicar essa eficincia.

    Assim, prticas como a utilizao correta de produtos qumicos, com a verificao

    da seletividade dos produtos aos microrganismos; a compatibilidade de entomopatgenos

    com outros agentes biolgicos (predadores, parasitides, por exemplo); a utilizao de

    prticas agrcolas visando a melhoria da ao dos entomopatgenos (irrigao, plantio

    direto); a incorporao de patgenos em plantas (transformao gentica) e o manejo da

    resistncia de pragas aos entomopatgenos, que deve ser preocupao constante, so

    essenciais para a incluso dos microrganismos patognicos a insetos num sistema

    equilibrado, eficiente e sustentvel.

    8. Tecnologias de controle microbiano de pragas com fungos, bactrias, vrus e

    nematides entomopatognicos

    8.1. Principais programas de controle microbiano no Brasil

    Os principais programas de controle de pragas utilizando microrganismos

    entomopatognicos no Brasil so:

    a) cigarrinhas da cana-de-acar e das pastagens, com o fungo M. anisopliae: este

    programa baseia-se no uso do fungo de forma inundativa, aplicado em rea total,

    na quantidade de aproximadamente 1 kg do produto comercial por hectare.

    Deve-se ressaltar que os produtos comerciais base de fungos

    entomopatognicos no Brasil so, na sua maioria, formulados na forma de p

    molhvel, com cerca de 5% de fungo e 95% de inertes (arroz modo). O uso de

  • 33

    M. anisopliae tem tido um largo impulso nos ltimos anos, principalmente no

    Estado de So Paulo, com a volta dos cultivos da cana crua (sem queimada para

    colheita), o que vem trazendo problemas com a cigarrinha da raiz da cana-de-

    acar, praga anteriormente controlada em consequncia do uso do fogo. Assim,

    cerca de 10 novas empresas surgiram para atendimento da grande demanda

    recm-implantada.

    b) cupins de montculo e da cana-de-acar, com os fungos B. bassiana e M.

    anisopliae: programa que vem sendo preconizado e desenvolvido aps a retirada

    dos produtos fitossanitrios organoclorados no Brasil, o que ocorreu em meados

    dos anos 80. Baseia-se na utilizao de iscas atrativas de papelo corrugado,

    impregnadas com suspenses aquosas dos fungos isoladamente, ou em

    associao com produtos fitossanitrios seletivos, como imidacloprid e fipronil,

    entre outros (introduo inoculativa). Essas iscas atraem operrios dos cupins,

    que infectam-se e levam propgulos dos fungos aos outros indivduos da

    colnia, j que o ninho difuso e subterrneo, alm de se apoiar no

    comportamento de limpeza (grooming) e na trofalaxia dos cupins como

    eficientes meios de disseminao;

    c) broca (moleque) da bananeira, com o fungo B. bassiana: programa j

    desenvolvido h um bom tempo, com base na utilizao de iscas de pseudocaule

    da bananeira, muito atrativas aos adultos de Cosmopolites sordidus. Nessas

    iscas, que podem ser do tipo telha ou queijo, de acordo com o formato,

    pincelada uma pasta de fungo e arroz modo com gua (pode ser a formulao

    comercial), com a qual o inseto adulto se infecta, disseminando o fungo para

    outros indivduos, devido ao seu comportamento de agregao. Tambm uma

    estratgia de introduo inoculativa;

    d) broca-do-cafeeiro, com o fungo B. bassiana: um programa relativamente novo,

    embora j se saiba sobre a ocorrncia natural desse fungo h muito tempo na

    cultura do cafeeiro. Atualmente, procura-se desenvolver uma metodologia mais

    racional de aplicao do fungo na cultura, evitando-se trabalhar com

    formulaes lquidas, dando-se preferncia formulao p seco, capaz de

    penetrar mais eficientemente no interior da cultura, alm de estudos que visam o

  • 34

    controle da broca em reinfestaes provenientes do terreiro de caf e de frutos

    cados ao solo, quando no h o chamado repasse na cultura;

    e) percevejo-de-renda da seringueira, com o fungo Sporothrix insectorum: bastante

    utilizado em grandes reas de produo comercial da seringueira nos Estados de

    So Paulo, Mato Grosso e Rondnia, este fungo, muito especfico para a praga

    em questo comercializado em formulaes lquidas (suspenses

    concentradas), ainda com produo restrita a alguns institutos de pesquisa e

    laboratrios prprios das empresas produtoras;

    f) lagartas (Lepidoptera), com a bactria B. thuringiensis var. kurstaki, sendo este

    o programa baseado em formulao comercial de maior sucesso, no s no

    Brasil, mas no mundo todo, em funo do desenvolvimento de produtos de

    qualidade e apelo comercial. A bactria utilizada principalmente, no Brasil, em

    reas de explorao florestal, em especial no cultivo do eucalipto, visando o

    controle de lagartas desfolhadoras. Tambm registrado para uso em hortcolas

    e diversas culturas frutferas;

    g) lagarta da soja, com Baculovirus anticarsia (VPN), sendo este o maior programa

    de controle biolgico estabelecido no mundo, em rea, com o uso de um

    entomopatgeno (hoje, cerca de 1,5 milho de hectares de soja, no Brasil). um

    programa desenvolvido pela Embrapa Soja (Londrina, PR), que j transferiu a

    tecnologia de produo do vrus para algumas pequenas empresas nacionais, as

    quais, sob a superviso tcnica e de controle de qualidade da Embrapa,

    comercializam as formulaes existentes (na sua maioria, ps molhveis). este

    um timo exemplo da evoluo de um programa de controle microbiano, desde

    sua divulgao e implantao, com o apoio da extenso rural, at o

    desenvolvimento de formulaes comerciais de qualidade, a partir de uma

    tecnologia simples que era conduzida pelo prprio agricultor;

    h) vespa da madeira, com o uso do nematide Deladenus siricidicola: programa

    desenvolvido pela Embrapa Florestas (Colombo, PR), tendo como base um

    nematide extico, da famlia Neotylenchidae, que, alm de se alimentar de um

    fungo, que serve tambm de alimento para a larva da vespa, que praga de

  • 35

    Pinus, causa esterilizao e castrao parasitria nos adultos, os quais fazem a

    postura de ovos infrteis, com a consequente reduo populacional da praga.

    Vrios outros estudos vm sendo conduzidos em diversas instituies de pesquisa,

    visando o controle de importantes insetos-pragas e vetores de doenas de importncia

    mdica e veterinria, dentre os quais podemos destacar o controle de pragas em cultivos

    protegidos, principalmente de pulges e tripes, com o uso de fungos e nematides

    entomopatognicos, associados liberao de predadores e parasitides, e o controle de

    pragas do cafeeiro, alm da broca, com especial ateno para as cochonilhas e cigarras, o

    que vem contribuindo, sem dvida, para uma maior insero dos microrganismos

    entomopatognicos no Manejo Integrado de Pragas de diversos agroecossistemas,

    buscando, cada vez mais, a manuteno de um ambiente produtivo seguro, equilibrado,

    saudvel e sustentvel.

    9. Produo de microrganismos entomopatognicos

    Apesar de ser uma rea do conhecimento relativamente antiga, o controle

    microbiano tomou grande impulso principalmente aps a proibio do uso dos inseticidas

    organoclorados, e tambm em decorrncia do estabelecimento do Manejo Integrado de

    Pragas como prtica racional no controle de insetos prejudiciais em sistemas agrcolas e

    florestais sustentveis.

    Os microrganismos entomopatognicos precisam estar disponveis em grandes

    quantidades para sua aplicao como bioinseticidas (estratgias de introduo), devido

    necessidade de elevado potencial de inculo para que se inicie o processo de doena numa

    determinada populao de insetos. O que se nota, atualmente, que no ocorre, na maioria

    dos casos, essa disponibilidade em quantidades e formulaes suficientes e adequadas para

    o controle de importantes pragas agrcolas e florestais, bem como vetores de doenas de

    importncia mdico-veterinria.

    A produo de microrganismos entomopatognicos uma fase muito importante no

    processo de desenvolvimento de um bioinseticida. Uma anlise crtica permite a

    constatao de que as indstrias de produtos fitossanitrios investem uma grande parcela de

    seus recursos no desenvolvimento de inseticidas qumicos, contrastando com um nfimo

  • 36

    direcionamento em pesquisa e desenvolvimento de produtos microbianos, muitas vezes

    relacionado somente necessidade do marketing empresarial, visando estabelecer uma

    relao com preocupaes ecolgicas perante sociedade. Isso se deve a vrios fatores,

    entre eles a preocupao da indstria com problemas derivados do registro de patentes; o

    amplo mercado ainda existente no pas para produtos qumicos, resultante do pequeno nvel

    de conscientizao de produtores, consumidores etc. sobre a necessidade da utilizao de

    mtodos mais racionais para o controle de pragas; os custos para o desenvolvimento de um

    produto microbiano, os quais, ao contrrio do que se possa pensar, so equiparveis aos

    necessrios para a obteno de uma nova molcula qumica, se considerarmos o

    envolvimento de trs sistemas biolgicos: patgeno, hospedeiro e ambiente.

    Desse baixo investimento que hoje predomina, resultam produtos microbianos de

    qualidade insatisfatria no que diz respeito aos aspectos de pureza, viabilidade e eficcia do

    agente de controle (patgeno). Os produtos base de fungos e vrus, principalmente, so

    ainda produzidos por processos considerados artesanais, mesmo em escala comercial.

    Exceo a essa regra so os produtos base de bactrias entomopatognicas, com destaque

    para Bacillus thuringiensis, os quais so obtidos em processos fermentativos controlados,

    em grande escala, derivados de rotinas de produo em indstrias farmacuticas e de

    alimentos, com vasta experincia no desenvolvimento de produtos oriundos de

    fermentao.

    A despeito desse quadro negativo existem, principalmente no mercado

    internacional, muitos produtos microbianos j desenvolvidos e comercializados. Esses

    produtos atingem dois mercados diferenciados, sendo o primeiro voltado para o emprego

    do patgeno em estratgias de introduo inundativa, exigindo alta tecnologia para a

    produo de grandes quantidades de propgulos, e o segundo tendo como alvo pequenos

    produtores de hortalias, jardins residenciais, parques etc., onde podem atuar empresas de

    menor porte, que utilizem processos menos dispendiosos de produo.

    De forma resumida, pode-se salientar que os produtos base de fungos

    entomopatognicos so os mais problemticos com relao produo e desenvolvimento

    de bioinseticidas, devido dificuldade na obteno de produtos com estabilidade, pureza e

    concentrao de propgulos que permitam a sua utilizao eficiente em condies de

    campo. Esses problemas advm do fato de esses microrganismos serem suscetveis a

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    alteraes genticas durante o processo de produo, que diminuem sua infectividade, bem

    como dificuldade de controle de contaminaes por outros microrganismos e quase

    inexistncia de formulaes que protejam o patgeno dos fatores ambientais de degradao,

    como temperatura, umidade e, principalmente, radiao solar.

    Os vrus, apesar de serem menos dependentes de fatores biticos que os fungos, so

    considerados patgenos de ao lenta, sendo essa uma grande desvantagem comercial. A

    especificidade hospedeira que apresentam, apesar de ser um timo indicativo no aspecto de

    segurana, o principal fator limitante na produo, pois o fato de serem patgenos

    obrigatrios