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CONTROLE BIOLGICO E MANEJO DE PRAGAS NA
AGRICULTURA SUSTENTVEL
Vanda Helena Paes Bueno/ Juracy Caldeira Lins Jr.
Alcides Moino Junior
Luis Cludio Paterno da Silveira
(Departamento de Entomologia/UFLA)
1
SUMRIO
1. Introduo 1
2. Inimigos Naturais 1
3. Controle Biolgico com Entomfagos 3
3.1. Regulao de Populaes 3
4. Tipos de Controle Biolgico 4
4.1. Controle Biolgico Natural 5
4.2. Controle Biolgico Aplicado 5
5. Programas de Controle Biolgico com Entomfagos 7
5.1. Cultura da Cana-de-Acar 8
5.2. Cultura da Soja 12
5.3. Cultura do Tomate 14
5.4. Cultura do Trigo 16
5.5. Fruteiras 17
5.6. Macieira 18
5.7. Florestas 19
5.8. Cultivos Protegidos 19
6. Controle microbiano de pragas: definio, conceitos e microrganismos
entomopatognicos 23
7. Epizootiologia e utilizao de entomopatgenos no Manejo Integrado de Pragas 26
8. Tecnologias de controle microbiano de pragas com fungos, bactrias, vrus e
nematides entomopatognicos 32
8.1. Principais programas de controle microbiano no Brasil 32
9. Produo de microrganismos entomopatognicos 35
10. Controle de qualidade de produtos microbianos 42
11. Bibliografia recomendada 46
1
1. Introduo
O controle biolgico um fenmeno natural, a regulao do nmero de plantas e
animais pelos inimigos naturais, os agentes biticos de mortalidade. Envolve o mecanismo
da densidade recproca, o qual atua de tal forma que sempre uma populao regulada por
outra populao, ou seja, um ser vivo sempre explorado por outro ser vivo e com efeitos
na regulamentao do crescimento populacional, e assim mantendo o equilbrio da
natureza. O controle biolgico foi definido por DeBach (1968) como a ao de
parasitides, predadores e patgenos na manuteno da densidade de outro organismo a um
nvel mais baixo do que aquele que normalmente ocorreria nas suas ausncias.
O controle biolgico pode ser interpretado de trs formas: (1) como um campo de
estudos em diferentes reas, tais como ecologia de populaes, biosistemtica,
comportamento, fisiologia e gentica; (2) como um fenmeno natural: quase todas as
espcies tm inimigos naturais que regulam suas populaes e (3) como uma estratgia de
controle de pragas atravs da utilizao de parasitides, predadores e patgenos.
O controle biolgico assim, um componente da estratgia do manejo integrado de
pragas, com nfase, aqui, aos insetos e caros. De acordo com Parra et.al. (2002),
atualmente o controle biolgico assume importncia cada vez maior em programas de
manejo integrado de pragas (MIP), principalmente em um momento que se discute muito a
produo integrada rumo a uma agricultura sustentvel. Nesse caso, o controle biolgico
constitui ao lado da taxonomia, do nvel de controle e da amostragem, um dos pilares de
sustentao de qualquer programa de MIP. Alm disso, importante como medida de
controle para manuteno de pragas abaixo do nvel de dano econmico, junto a outros
mtodos, como o cultural, fsico, o de resistncia de plantas a insetos e os comportamentais
(feromnios), que podem at ser harmoniosamente integrados com mtodos qumicos
(produtos seletivos) ou mesmo com plantas transgnicas.
2. Inimigos Naturais
Os organismos vivos que atuam como agentes de controle biolgico constituem o
grupo dos inimigos naturais, o qual formado pelos parasitides, predadores e patgenos.
2
Os dois primeiros so denominados agentes entomfagos e, o ltimo, entomopatognico.
Esses organismos, entomopatognicos, sero abordados dentro do Controle Microbiano.
Quanto aos entomfagos, embora exista um grande nmero de organismos que se
alimentam de insetos, como pssaros, lagartos, sapos, tamandu, a nfase aqui para
insetos que se alimentam de insetos, onde se apiam, atualmente, os programas de controle
biolgico de insetos-praga.
Do ponto de vista econmico, um inimigo natural efetivo aquele que capaz de
regular a densidade populacional de uma praga e mant-la em nveis abaixo daquele de
dano econmico estabelecido para um determinado cultivo (Figura 1). No geral, os
inimigos naturais, em particular, os parasitides e predadores mais efetivos, devem
apresentar as seguintes caractersticas: adaptabilidade s mudanas das condies fsicas do
meio ambiente, um certo grau de especificidade a um determinado hospedeiro/presa, alta
capacidade de crescimento populacional com relao a seu hospedeiro/presa, alta
capacidade de busca, particularmente em baixas densidades do hospedeiro/presa,
sincronizao sazonal com o hospedeiro/presa e capacidade de sobreviver nos perodos de
ausncia do hospedeiro/presa, e capaz de modificar sua ao em funo de sua prpria
densidade e do hospedeiro/presa, ou seja, mostrar densidade recproca.
Parasitides dentro da entomologia considera-se o termo parasitide, ao inseto que
parasita um hospedeiro, completa o seu ciclo em um nico hospedeiro e usualmente mata
esse hospedeiro. Suas larvas exibem o habito parastico, e os adultos so de vida livre, se
alimentando de nctar, substancias aucaradas etc. Os parasitides esto, em sua maioria,
dentro da Ordem Hymenoptera, e poucos na Ordem Diptera (Famlia Tachinidae). Atacam
e se desenvolvem em todos os estgios dos insetos, ou seja, ovo, larva (ninfa), pupa e
adulto. Alguns exemplos de parasitides, Trichogramma pretiosum, Cotesia flavipes,
Telenomus podisi, Trissolcus basalis, Lysiphlebus testaceipes, Aphidius colemani.
Existem os parasitides primrios, aqueles que se desenvolvem em hospedeiros no
parasitides, ou seja, seus hospedeiros so fitfagos, saprfagos, polenfagos etc. E os
hiperparasitides, que so parasitides que se desenvolvem em outro parasitide (o
parasitide do parasitide). Tambm existem os endoparasitides, ou seja, o parasitide que
se desenvolve dentro do corpo do hospedeiro, podendo ser solitrio, quando uma nica
3
larva completa seu desenvolvimento em determinado hospedeiro, ou gregrio, quando
vrias larvas se desenvolvem at a maturidade em um nico hospedeiro. E o
ectoparasitide, espcie que se desenvolve fora do corpo do hospedeiro (a larva se alimenta
inserindo as peas bucais atravs do tegumento do hospedeiro), podendo ser tambm
solitrio e gregrio.
Como categorias do parasitismo, pode-se citar o multiparasitismo, situao na qual
mais de uma espcie de parasitide ocorre dentro ou sobre um nico hospedeiro, e o
superparasitismo, fenmeno no qual vrios indivduos de uma mesma espcie de
parasitide podem se desenvolver em um hospedeiro. No caso de um menor nmero de
hospedeiros, em relao ao nmero de parasitides, o superpararasitismo pode atuar como
um mecanismo de regulao da populao do parasitide em funo daquela do hospedeiro.
E no multiparasitismo, pode ocorrer a competio, levando a morte de um dos parasitides.
Predadores so indivduos de vida livre, usualmente maior do que as presas
requerem um grande nmero de presas para completar o seu ciclo de vida, e podem
apresentar o comportamento predatrio, tanto no estgio ninfal (larval) como adulto.
Quanto ao hbito alimentar podem ser mastigadores ou sugadores. Esto presentes em
vrias ordens de insetos, sendo as mais importantes: Coleoptera (Famlias Coccinellidae,
Carabidae), Diptera (Familias Syrphidae, Asilidae), Hemiptera (Famlias Anthocoridae,
Pentatomidae, Reduviidae), Neuroptera (Famlia Chrysopidae), Hymenoptera (Famlia
Vespidae), Dermaptera (Famlias Forficulidae, Labiduridae). Alguns exemplos de insetos
predadores, Orius insidiosus, Chrysoperla externa, Labidura riparia, Cycloneda
sanguinea, Porasilus barbiellinii, Brachygastra lecheguana, Podisus nigrispinus.
3. Controle Biolgico com Entomfagos
3.1. Regulao de Populaes
Ainda que se tenha utilizado erroneamente como sinnimos, os termos controle e
regulao se referem a diferentes processos que produzem diferentes efeitos sobre as
populaes.
4
Controle se refere a fatores de supresso, que destroem uma porcentagem fixa da
populao independentemente da densidade da populao. Por exemplo, o efeito da chuva
eliminaria (hipoteticamente) 80% da populao de um pulgo sem importar se a densidade
do pulgo de 10 mil ou um milho/ha; similarmente aconteceria com o controle de uma
praga com inseticida. Assim uma populao pode ser reduzida rpida e substancialmente
por meio desse controle, mas, os efeitos do controle so geralmente curtos e seguidos de
uma rpida ressurgncia da praga.
Em contraste, regulao inclui o efeito dos fatores do meio ambiente cuja ao
determinada pela densidade da populao, ou seja, se destri uma porcentagem mais alta
quando se incrementa a populao e vice-versa (Figura 1). Por exemplo, ao aumentar a
densidade de uma praga, se incrementa tambm a disponibilidade de recursos alimentares e
ou locais de reproduo do fator regulador (parasitide ou predador), o que permite
incrementar tambm sua prpria populao. Esse aumento do inimigo natural traz como
conseqncia um aumento na porcentagem de mortalidade da praga como resultado do
parasitismo ou predao, at chegar a um certo nvel mximo (os inimigos naturais nunca
eliminam 100% de seus hospedeiros/presas); inversamente, ao decrescer a populao da
praga, a densidade do inimigo natural tambm diminui como resultado dos efeitos de
escassez de alimento, disperso e outros fatores, o qual resulta em um decrscimo na
porcentagem de mortalidade da praga pelo parasitide/predador. Este processo garante a
no extino do hospedeiro/presa, o qual evita tambm a extino do parasitide/predador.
Assim, o fator regulador est perfeitamente inserido dentro do contexto do controle
biolgico de pragas.
4. Tipos de Controle Biolgico
Do ponto de vista agrcola, podemos enfocar o controle biolgico de duas formas: o
controle biolgico natural e o controle biolgico aplicado.
5
4.1. Controle Biolgico Natural
O conceito balano da natureza se define como a tendncia natural das populaes
de plantas e animais de no crescer at o infinito, nem decrescer at a extino, como
resultado de processos reguladores (como os inimigos naturais) em ambientes no
perturbados (ecossistemas naturais). Assim, o controle biolgico natural envolve as aes
combinadas (fatores biticos e abiticos) de todo o meio ambiente na manuteno das
densidades caractersticas da populao, ou seja, o equilbrio natural. Muitos organismos-
praga potenciais podem ser mantidos em densidades muito abaixo dos nveis de danos por
inimigos naturais que ocorrem naturalmente no campo. Em ecossistemas naturais, uma
enorme quantidade de espcies de inimigos naturais mantm insetos fitfagos em baixas
densidades populacionais. Mesmo em agroecossistemas, muitas pragas potenciais so
mantidas em nveis que no causam danos, por meio da ao dos inimigos naturais que
ocorrem naturalmente. DeBach e Rosen (1991) estimaram que 90% de todas as pragas
agrcolas so mantidas sob controle natural.
4.2. Controle Biolgico Aplicado
O controle biolgico aplicado envolve a interferncia do homem e funciona no
sentido de incrementar as interaes antagnicas que ocorrem entre os seres vivos na
natureza. Esse tipo de controle pode ser clssico, conservao e aumentativo.
O controle biolgico clssico envolve a importao dos agentes de controle de um
pas para outro ou de uma regio para outra, de modo a estabelecer um equilbrio biolgico
a uma dada praga. Em muitos casos, o complexo de inimigos naturais associados com um
inseto-praga pode ser inadequado. Isto especialmente evidente quando um inseto-praga
acidentalmente introduzido em uma nova rea geogrfica sem seus inimigos naturais, o que
envolveria ento, a procura e a introduo do inimigo natural apropriado para a praga ou
espcies proximamente relacionadas. Uma srie de estudos, no entanto, devem ser
realizados previamente com esses agentes de controle para que haja certeza no que diz
respeito segurana e efetividade, antes da implantao do programa. O primeiro grande
6
sucesso de controle biolgico, que se tornou um exemplo clssico na literatura foi a
introduo na Califrnia da joaninha australiana Rodolia cardinalis (Coleoptera:
Coccinellidae) trazida da Austrlia em 1888, para o controle do pulgo-branco-dos citros,
Icerya purchasi (Hemiptera: Margarodidae), o qual foi completado, de maneira espetacular,
dois anos aps a liberao da joaninha. Esse caso de controle biolgico clssico
considerado um marco no controle biolgico como um mtodo de controle de pragas.
Conservao envolve medidas que preservem os inimigos naturais em um
agroecossistema, ou seja, manipular o seu ambiente de forma favorvel, como evitar
prticas culturais inadequadas, preservar fontes de alimentao ou habitat, uso de produtos
fitossanitrios seletivos. A conservao pode resultar tanto em maior diversidade de
espcies benficas quanto em uma grande populao de cada espcie, conduzindo a um
melhor controle de pragas. A conservao de inimigos naturais provavelmente a mais
disponvel e importante prtica de controle biolgico para os produtores de vegetais
(hortalias). Os inimigos naturais ocorrem em todos os sistemas de produo de vegetais,
sendo adaptados ao ambiente local e as pragas-alvo. A preservao e manuteno dos
inimigos naturais so imprescindveis para estabelecer o equilbrio biolgico e reduzir os
custos de produo.
O controle biolgico aumentativo, onde os inimigos naturais so periodicamente
introduzidos e liberados, aps a criao massal em laboratrio; comercialmente aplicado
em grandes reas em vrios sistemas de cultivo ao redor do mundo. Segundo van Lenteren
(2000), internacionalmente, mais de 125 espcies de inimigos naturais esto disponveis
comercialmente para o controle biolgico aumentativo. Esta forma de controle aplicada
em campo aberto em cultivos que so atacados somente por poucas pragas, e tambm,
particularmente popular em sistemas de cultivos protegidos, onde todo o espectro de pragas
pode ser manejado por um conjunto de inimigos naturais.
Trs formas de liberaes aumentativas de inimigos naturais podem ser
distinguidas:
Liberao inundativa os inimigos naturais so criados massalmente em
laboratrio, sendo periodicamente liberados em grandes nmeros para obter um efeito de
controle imediato de pragas por uma ou duas geraes, isto , esses organismos so usados
como inseticidas biolgicos. utilizado em culturas anuais, ou em cultivos onde o nvel
7
de dano muito baixo exigindo um rpido controle da praga nos estgios iniciais da
infestao, ou em cultivos onde ocorre somente uma gerao da praga.
Liberao inoculativa os inimigos naturais so liberados em nmero limitado, ou
seja, somente um pequeno nmero liberado, com objetivo de supresso em longo prazo da
populao da praga. aplicado em culturas perenes ou semiperenes e florestas. tpica do
controle biolgico clssico.
Liberao inoculativa sazonal, onde os inimigos naturais so liberados em casas de
vegetao, com cultivos de curta durao, no perodo de ocorrncia da praga. Um
relativamente, grande nmero de inimigos naturais liberado tanto para obter um controle
imediato como para permitir o crescimento da populao do agente de controle durante o
ciclo do cultivo. Segundo van Lenteren (2000), este tipo de liberao lembra a liberao
inoculativa ou controle biolgico clssico, entretanto, tem como objetivo o efeito de
controle sobre vrias geraes. Tem sido desenvolvido na Europa durante as ltimas trs
dcadas e aplicado, comercialmente, com grande sucesso para pragas em cultivos em
casas de vegetao.
5. Programas de Controle Biolgico com Entomfagos
Como definido anteriormente, nos ecossistemas naturais, as populaes de
artrpodos entomfagos representam o fator ecolgico que mais freqentemente regulam as
populaes de insetos herbvoros. Mas, quando este mecanismo de controle natural no
regula uma determinada populao, pode-se induzir a ao de entomfagos por meio do
emprego do controle biolgico aplicado.
Van Lenteren & Bueno (2003), mencionam que 25% da rea mundial com uso de
controle biolgico aumentativo encontra-se na Amrica Latina. Inicialmente o controle
biolgico aumentativo foi usado para manejo de pragas que tinham se tornado resistente
aos produtos fitossanitrios. Atualmente, aplicado por razes de eficcia e custos, os quais
so comparveis com ou mais baixos do que o controle qumico convencional. A
popularidade do controle biolgico aumentativo, segundo esses autores, pode ser explicada
por um nmero de importantes benefcios quando comparado com o controle qumico: no
h efeitos fitotxicos em plantas jovens, no ocorre aborto prematuro de flores e frutos,
liberao de inimigos naturais leva menos tempo e mais prazerosa do que aplicao de
8
produtos fitossanitrios, vrias pragas-chave podem ser controladas somente com inimigos
naturais, no existe perodo de carncia aps a liberao de inimigos naturais e isto permite
continua colheita sem perigo para a sade do homem, alm de no deixar resduos txicos
nas plantas e meio ambiente. Mais de 100 espcies de inimigos naturais so hoje
disponveis comercialmente para controle biolgico aumentativo.
Um programa de controle biolgico deve ser bem planejado, e vrias etapas devem
compor este programa, de acordo com van Lenteren (2000) e Parra et.al. (2002):
1. Conhecimento taxonmico da praga-alvo, sua regio de origem.
2. Informaes coletadas, atravs de pesquisa na literatura, sobre a biologia,
comportamento da praga, e outras que auxiliem no processo de controle da mesma.
3. Inventrio dos inimigos naturais.
4. Seleo dos inimigos naturais mais promissores. Estudos mais detalhados sobre
biologia, comportamento etc.
5. Criao massal do inimigo natural selecionado. Tcnicas para criao massal.
Controle de qualidade
6. Liberao do inimigo natural
7. Avaliao final da efetividade biolgica e econmica
Alm dessas etapas do programa de controle biolgico, fundamental que haja
certa lgica para que ele atinja o usurio, e segundo Parra (1993), as etapas, para tal
lgica, seriam as seguintes: (a) seleo da (s) cultura (s) e do (s) inimigo (s) natural (is);
(b) criao de pequeno porte do hospedeiro/presa para desenvolvimento de pesquisa
bsica; (c) desenvolvimento de um sistema de criao massal; (d) avaliao do
custo/benefcio e (e) transferncia da tecnologia ao usurio (Figura 2).
No Brasil, vrios programas de controle biolgico com entomfagos tm sido
conduzidos e aplicados.
5.1. Cultura da Cana-de-Acar
Envolve o maior programa de controle biolgico do mundo, pela extenso da rea
canavieira, so cerca de 2,5 milhes de hectares.
Praga - A broca-da-cana de acar, Diatraea saccharalis, um lepidptero, que na
sua fase larval causa danos diretos e indiretos a cana-de-acar. Os danos diretos decorrem
9
da alimentao e caracterizam-se por perda de peso (pela abertura de galerias no entren),
morte da gema apical da planta (corao morto), encurtamento do entren etc. Os danos
indiretos so causados por microorganismos que invadem o entren atravs do orifcio
aberto pela lagarta. Esses microorganismos, preferencialmente fungos dos gneros
Fusarium e Colletotricum, causam a podrido vermelha do colmo, o que ocasiona a
inverso da sacarose, provocando perdas bastante significativas.
Seu controle bastante difcil devido lagarta penetrar no interior do colmo. Assim a busca
por mtodos de controle eficientes, levou os pesquisadores a optar pelo seu controle
biolgico, o qual envolveu inicialmente, tcnicos do IAA/Planalsucar (rgo atualmente
extinto) e da Copersucar.
Inimigos naturais - Entre os principais inimigos naturais da broca encontram-se os
parasitides, moscas nativas Paratheresia claripaplis e Lydella minense (Dptera:
Tachinidae), e a vespinha introduzida Cotesia flavipes (Hymenoptera: Braconidae). O
controle biolgico da broca iniciou-se com as moscas, mas depois se optou pelo uso do
parasitide C. flavipes.
Controle biolgico - Em abril de 1974, C. flavipes proveniente de Trinidad foi
introduzido em Alagoas, Brasil, iniciando-se o Programa Nacional de Controle Biolgico
de Diatraea spp. (broca da cana-de-acar) no pas, desenvolvido pelo IAA/Planalsucar
(Mendona Filho et al., 1977), sendo distribudo posteriormente em Pernambuco, Paraba,
Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia e Rio de Janeiro para controlar D. saccharalis e D.
flavipenella, e em So Paulo e Amap para controlar D. saccharalis.
Em 1975, de acordo com Botelho & Macedo (2002), iniciaram-se as pesquisas com
C. flavipes no estado de So Paulo, a partir de material procedente do nordeste do Brasil.
At 1978 o aperfeioamento na tecnologia tornou a produo de C. flavipes em laboratrio
mais simples (produo do hospedeiro (broca) em dieta artificial), e a melhoria de sua
performance no campo deu-se com a introduo de novas linhagens originrias de regies
mais frias e midas da ndia e do Paqusito, realizadas em 1978 (Macedo, 1978, 2000).
A quantidade de C. flavipes produzida e as necessidades de liberao so variveis e
precisam ser dimensionadas ao longo do ano para que as reas prioritrias sejam atendidas.
10
Assim, h necessidade do acompanhamento sistemtico da evoluo da praga, da
fenologia da planta e da poca do ano.
Antes e aps a liberao de C. flavipes necessrio o monitoramento sistemtico da
populao da praga, a partir do momento em que comeam a aparecer os primeiros
entrens visveis na cana. Tambm aps a liberao (10 a 15 dias aps a liberao) o
acompanhamento permite avaliar o desempenho do parasitide no controle da broca. Isto
pode ser feito empregando-se um dos dois mtodos:
. Hora/homem de coleta: amostrador caminha casualmente pelo canavial e coleta
formas biolgicas da praga e do inimigo natural (lagartas e pupas da praga, pupas do
parasitide), anotando-se o tempo de trabalho, o que envolve normalmente o perodo de
uma hora.
. Plantas amostradas: as observaes so feitas em pontos amostrais 5 metros
lineares, repetidas quatro vezes por hectare, onde todas as canas so contadas e examinadas
e as formas biolgicas da praga e do inimigo natural coletado.
Nesse caso, estima-se posteriormente a populao da praga, multiplicando-se o
nmero aproximado de cana existentes em 1 hectare pelo nmero de lagartas encontradas
por cana.
Os levantamentos tm que ser dirigidos s variedades mais suscetveis praga,
cultivadas em lavouras de cana de primeiro corte, tanto de 18 como de 12 meses, s reas
que recebem irrigao ou fertilizao e aos viveiros de mudas. Nas situaes em que o
acompanhamento da praga indicar que a populao de lagartas est no estdio adequado de
ser parasitada, isto , lagartas de 3 instar em diante (cerca de 1.5 cm de comprimento), j
dentro dos colmos, com coletas mdias superiores a 10 lagartas/hora/homem ou com
populao mdia estimada igual ou superior a 2.500 lagartas/ha, preciso fazer o controle.
Para cada hectare de cana-de-acar so necessrios 6 mil C. flavipes adultos, com
custo aproximado de R$15,00/ha.
Para avaliar o desempenho do parasitide no campo, faz-se a coleta de material
biolgico seguindo a mesma metodologia descrita anteriormente. Depois da amostragem da
rea e com os dados tabulados, avalia-se o desempenho do parasitide e, a partir dos
resultados, decide-se pela convenincia ou no de se repetir a liberao. Esta se repete
11
quando o parasitismo baixo (menos de 20%) e a populao de lagartas, alta, segundo os
parmetros mencionados anteriormente.
Os resultados desses vrios anos demonstram que o controle biolgico de D.
saccharalis, por meio de liberaes sistemticas de C. flavipes, ou seja, inundativas, foi e
continua sendo um sucesso com real contribuio na reduo da intensidade de infestao
da praga, a qual era inicialmente de 10%, e sendo reduzido para 2%, um nvel considerado
timo, sem causar prejuzos.
O ndice de infestao da broca-da cana, segundo Gallo et.al. (2002) obtido
coletando-se em cada talho 100 colmos de cana, ao acaso, e contando-se o nmero de
interndios broqueados, e o nmero total de interndios. Para o calculo do ndice de
infestao, usa-se a frmula:
I = 100 x (nmero de interndios borqueados)
(nmero total de interndios)
Esse ndice tem que ser sempre menor ou igual a 3%.
Relatos da Copersucar revelam, tambm que em 1991, 17 laboratrios de usinas
cooperadas haviam liberado 943 milhes de adultos de C. flavipes, representando 76,8% do
contingente de parasitides liberados, e que a porcentagem de infestao da praga, em
canaviais de 26 usinas cooperadas, tinha sido reduzida de uma mdia de 9% em 1980 para
3,17% em 1991 (Copersucar, 1992).
Essa diminuio na intensidade de infestao da broca foi verificada em um perodo
em que a rea de cana-de-acar no estado de So Paulo praticamente dobrou (hoje so
mais de 2,5 milhes de hectares) e o perfil das variedades plantadas foi alterado, o qual
composto, atualmente, por canas mais ricas em acar, mais produtivas e mais susceptveis
a broca (Botelho e Macedo, 2002). Isto demonstra que o parasitide C. flavipes exerceu e
continua exercendo o seu papel de agente de controle biolgico da broca, e que esse
programa de controle biolgico da broca em cana-de-acar foi e continua sendo um
sucesso.
Vrios laboratrios, atualmente, produzem e comercializam a vespinha C. flavipes
no Brasil.
12
5.2. Cultura da Soja
Pragas - A cultura da soja abriga um nmero elevado de espcies de insetos, sendo
que alguns causam srios prejuzos cultura e so considerados como pragas principais.
Entre eles, destacam-se o percevejo verde grande Nezara viridula, o percevejo verde
pequeno Piezodorus guildinii e o percevejo marrom Euchistus heros (Hemiptera:
Pentatomidae).
Esses insetos apresentam 5 estdios ninfais, e tanto as ninfas como os adultos sugam
a seiva da planta e dos gros. Aparecem a partir da florao, causando os maiores danos
entre os estdios de desenvolvimento das vagens e final de enchimento dos gros. Seus
ataques podem causar considervel reduo no rendimento e na qualidade da semente, e so
agentes transmissores de doenas fungicas, como a mancha fermento, e pode retardar a
maturao das plantas, causando o fenmeno da reteno foliar, soja louca, o qual
dificulta a colheita.
Inimigos naturais - Os insetos pragas da soja esto sujeitos ao ataque de um grande
nmero de inimigos naturais que se encarregam de eliminar parte de sua populao,
exercendo, portanto um controle natural sobre os mesmos. Alguns desses agentes so to
eficazes que, sob certas condies, mantm populaes de insetos-praga abaixo do nvel de
dano econmico durante toda a safra, dispensando assim, a necessidade de controle
qumico.
Para os percevejos, o parasitismo exercido principalmente pelo dptero
Eutrichopodopsis nitens (Diptera; Tachinidae) que ataca os adultos (deposita ovos sobre o
corpo dos pecevejos, e as larvas aps a ecloso penetram no corpo dos mesmos), e por
vrias espcies de vespinhas que parasitam os ovos dos percevejos, sendo Trissolcus
basalis e Telenomus podisi (Hymenoptera: Scelionidae) as mais importantes.
Esta vespinha um microhimenptero, de cor brilhante, de 1mm de comprimento.
Os adultos tm vida livre e depositam seus ovos no interior dos percevejos matando o
embrio. O desenvolvimento do parasitide perceptvel externamente pelas mudanas na
colorao dos ovos do hospedeiro. Ovos de N. viridula e E. heros quando parasitados
mudam da cor amarela para cinza, trs quatro dias aps o ataque (fase de larva); aps
tornam-se castanhos (fase de pupa) e pretos quando prximos da emergncia dos adultos.
13
Aps completar o desenvolvimento, os adultos de T. basalis emergem por um orifcio
circular no topo do ovo (Correa-Ferreira & Panizzi, 1999). Ao se comparar o ciclo dos
percevejos (40 dias) com o ciclo da vespinha (10 dias) ocorrem quatro geraes da
vespinha para uma gerao do percevejo, o que favorece o crescimento da sua populao.
As fmeas apresentam uma fecundidade mdia de 250 ovos, depositados, principalmente,
na primeira semana de vida.
Controle biolgico - Considerando que T. basalis desenvolve-se de ovo a adulto em
ovos do hospedeiro, a manuteno de colnias de percevejos como fonte contnua de
fornecimento de ovos, viabilizando multiplicaes de T. basalis em grande porte e suas
liberaes em campo em programas de controle biolgico, tem fundamental importncia.
A vespinha T. basalis ocorre naturalmente nas lavouras de soja, entretanto, o uso
inadequado de inseticidas prejudica a sua eficincia. Para preservar, aumentar e antecipar a
sua ocorrncia recomenda-se que o parasitide seja liberado nas folhagens das plantas de
soja, nas primeiras semeaduras, com a soja no final do florescimento, quando os percevejos
comeam a invadir a cultura e iniciam a oviposio. Assim, o efeito do parasitide sobre a
populao de percevejos antecipado, mantendo-a abaixo do nvel de dano econmico
durante o perodo crtico. Devido ao ciclo da vespinha ser curto, em torno de 10 dias, a
liberao nas culturas semeadas primeiramente ou semeadas com cultivares precoce
permitir a multiplicao mais rpida dos parasitides os quais iro busca de novos
hospedeiros.
Recomenda-se liberar 5000 vespinhas/ha em diferentes pontos da cultura nos
perodos de menor insolao ou, ovos parasitados colados em cartelas de papelo (trs
cartelas/ha), presas nas plantas um ou dois dias antes da emergncia dos parasitides
adultos. As cartelas com as massas de ovos parasitadas so protegidas por uma tela de
nylon, evitando-se que os ovos sejam predados antes da total emergncia dos parasitides, e
amarradas na poro mediana das plantas de soja.
O comportamento de colonizao dos campos de soja pelos parasitides de ovos
segue a distribuio dos hospedeiros na cultura. Concentram-se, inicialmente, nas bordas da
cultura, devido s maiores populaes de ovos de percevejos nessas reas, dispersando-se,
posteriormente, para o interior do campo (Corra-Ferreira, 2002).
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Aps a liberao dos parasitides deve-se acompanhar periodicamente a populao
de percevejos atravs da amostragem com o pano de batida (a qual vlida para lagartas e
percevejos), preferencialmente de cor branca, preso em duas varas, com um metro de
comprimento, o qual deve ser estendido entre duas fileiras de soja. As plantas da rea
compreendida pelo pano devem ser sacudidas vigorosamente sobre ele, havendo, assim, a
queda das pragas sobre o pano, as quais devero ser contadas.
Este procedimento deve ser repetido em vrios pontos da cultura, considerando
como resultado final a mdia dos vrios pontos amostrados. Recomenda-se vistoriar a
cultura pelo menos uma vez por semana, iniciando as amostragens no principio do ataque
das pragas, intensificando o processo ao aproximar-se do nvel de ao. Para os percevejos,
esse nvel de 4 percevejos grandes em mdia/batida de pano (soja consumo), ou 2
percevejos grandes em mdia/batida de pano (soja semente). So considerados percevejos
grandes, aqueles com mais de 0.5 cm de comprimento.
O programa de controle biolgico dos percevejos da soja por meio da utilizao de
T. basalis conta com a multiplicao desse agente no prprio campo, e por isso
fundamental que seja liberado quando a populao de percevejos ainda baixa (menor que
os nveis de ao), respeitando o perodo indicado para liberao.
O controle biolgico dos percevejos da soja foi incorporado ao manejo integrado
das pragas da soja, estando atualmente atuando em uma rea de 18.020 hectares de soja,
com o envolvimento de 343 produtores, em diferentes etapas de implantao, alm de
produtores isolados, destacando-se aqueles com reas de soja orgnica. O programa conta
com cinco laboratrios de criao e multiplicao do parasitide T. basalis para liberao e
atendimento as microbacias, alm do laboratrio da Embrapa Soja (Correa-Ferreira, 2002).
5.3. Cultura do Tomate
O tomate (Lycopersicum esculentum) uma solancea cultivada em todas as regies
do Brasil, e no contexto mundial, o pas situa-se, atualmente, como o nono produtor dessa
solancea. A produo brasileira de tomate, caracterizada pelo mercado como tomate
industrial (cultivo rasteiro) e de consumo in natura (cultivo estaqueado), de
aproximadamente 2,6 milhes de toneladas, distribuda em 55,3% no Sudeste, 19,3% no
Nordeste, 13,0% no Centro-Oeste, 12,5% no Sul e 0,1% no Norte.
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Pragas - Dentre as pragas do tomateiro destacam-se a traa-do-tomateiro Tuta
absoluta (Lepidoptera: Gelechiidae) e a moca-branca Bemisia tabaci, bitipo B (Bemisia
argentifolii) (Hemiptera: Aleyrodidae). E entre seus principais inimigos naturais, esto os
parasitides de ovos do gnero Trichogramma (para T. absoluta) e a vespinha Encarsia
formosa (para a mosca branca).
A traa-do-tomateiro um microlepidptero (10 mm de envergadura e 6mm de
comprimento), colorao cinza-prateada, asas franjadas. A lagarta inicialmente branca,
passando depois a verde com uma suave mancha avermelhada no dorso. Esta praga ocorre
durante todo o ciclo do tomateiro, atacando com severidade os brotos terminais, as gemas e
as flores. As lagartas fazem galerias transparentes nas folhas, destruindo todo o mesfilo
foliar, alm de broquearem o caule na insero dos ramos e os frutos (Haji, 1982).
Inimigos naturais e Controle Biolgico - Espcies de parasitides do gnero
Trichogramma, entre elas, T. pretiosum vem sendo utilizada para o controle da traa-do-
tomateiro, T. absoluta. Iniciou-se em 1990, pela Embrapa Semi-rido, em Petrolina,
Juazeiro e regies adjacentes. Esse parasitide foi importado da Colmbia, e produzido no
Brasil, em ovos da traa dos cereais Sitrotoga cerealella, colados em cartelas de papelo.
As liberaes de T. pretiosum para o controle biolgico de T. absoluta devem ser
realizadas, de preferncia, duas vezes por semana, utilizando-se em cada liberao 75
polegadas quadradas de T. pretiosum por hectare (150 pl2/ha/semana). Dependendo da
populao da praga, pode-se aumentar a quantidade do parasitide a ser liberada. Uma
polegada quadrada (6,45 cm2) contm cerca de 3.000 ovos parasitados por T. pretiosum.
Considerando-se um ciclo de trs meses para a cultura do tomate (aps o transplante),
utilizam-se no total 1800 polegadas quadradas, ou aproximadamente 5.4 milhes de
parasitides por hectare (Haji et.al., 2002).
Para a mosca-branca, no cultivo do tomate, o controle biolgico ainda no
realizado no Brasil, pois o parasitide E. formosa atualmente comercializado somente na
Europa, Estados Unidos e Canad, para uso em cultivos dessa hortalia em sistema
protegido (Bueno, 2001).
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5.4. Cultura do Trigo
Pragas - Os pulges que atacam a cultura do trigo so as pragas mais importantes
ocasionado danos diretos, pela suco da seiva, e indiretos, pela tansmisso de
fitopatgenos, especialmente o vrus amarelo da cevada. As espcies mais comuns so
Metopolophium dirhodum (Walker), Schizaphis graminum (Rondani), Sitobion avenae,
Rhopalosiphum padi (L.) e Rophalosiphum rufiabdominale (Sasaki).
Inimigos naturais - De acordo com Hagen e van den Bosch (1968), entre os
inimigos naturais dos pulges destacam-se microhimenpteros parasitides primrios, das
familias Aphidiidae e Aphelinidae, insetos predadores das familias Coccinellidae,
Syrphidae, Ceccidomyiidae, Chrysopidae e Anthocoridae.
No entanto, os parasitides de pulges da Famlia Aphidiidae parecem ser os mais
efetivos para serem usados em programas de controle biolgico de pulges, e muitas
espcies tem sido investigadas como candidatas ao controle biolgico de pulges-praga.
Entre as mais promissoras esto, Aphidius colemani, Lysiphlebus testaceipes, Praon
volucre, sendo as duas primeiras j comercializadas. Segundo Mackauer e Way (1976), as
espcies com maior potencial apresentam todos ou a maioria dos requerimentos essenciais
para um efetivo inimigo natural, como alta capacidade reprodutiva, curto tempo de gerao,
boa capacidade de disperso e ciclo de vida bem sincronizado com aquele de seus afdeos
hospedeiros.
Controle Biolgico - O programa de controle biolgico do trigo no Brasil iniciou-se
em 1978, com introduo, criao massal e liberao de inimigos naturais, caracterizando o
controle biolgico clssico, envolvendo a FAO, Embrapa-Trigo, e com atividades at 1992,
com produo e distribuio de parasitides. Foram realizados tambm outros estudos
abrangendo biologia, dinmica populacional, danos e seletividade de inseticidas aos
inimigos naturais dos pulges do trigo, visando desenvolver tecnologias de manejo dessas
pragas que revertessem o quadro de desequilbrio existente na cultura do trigo. Esse manejo
enfatizou o controle biolgico, por meio da introduo de novos inimigos naturais e de
medidas complementares de preservao destes e das espcies j existentes (Salvadori e
Salles, 2002).
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5.5. Fruteiras
Pragas - As moscas-das-frutas (Dptera: Tephritidae) atacam mais de 400 espcies
de frutas, e esto entre as principais pragas que afetam a fruticultura em todo o mundo, no
s pelos danos diretos causados produo, como pelas exigncias quarentenrias impostas
pelos paises importadores de fruta in natura.
Dentre as espcies mais importantes, destacam-se a mosca-do-mediterrneo
Ceratitis capitata e vrias espcies de Anastrepha (A fraterculus, A. obliqua).
A mosca-do-mediterraneo a mais importante, acha-se difundida por todo o
territrio nacional, atacando pssego, laranja, pra, goiaba e muitos outros hospedeiros.
Mede em torno de 4 a 5 mm de comprimento, e apresenta colorao predominantemente
amarela, com trax preto na face superior, com desenhos simtricos brancos. Os adultos
de Anastrepha medem cerca de 6.5 mm de comprimento, com um colorido
predominantemente amarelo e com mancha amarela em forma de S que vai da base
extremidade da asa.
Inimigos naturais e Controle Biolgico - Dentre os inimigos naturais das moscas-
das-frutas destaca-se o parasitide Diachasmimorpha longicaudata (Hymenoptera:
Braconidae). Esse parasitide oviposita no ltimo instar larval das moscas-das-frutas e
completa seu desenvolvimento no puprio do hospedeiro.
O parasitide D. longicaudata foi introduzido no Brasil atravs da Embrapa
Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, BA em 1994, com o objetivo de avaliar o
potencial de utilizao desse agente em diferentes ecossistemas do Brasil visando a
implantao de um programa de controle biolgico das moscas-das-frutas neotropicais. E,
em termos prticos, o controle biolgico de moscas-das-frutas em programas de diversos
pases, como, por exemplo, nos Estados Unidos (Havai), baseia-se no mtodo inundativo,
ou seja, os parasitides so produzidos e liberados em escala massal (Carvalho e
Nascimento, 2002). Segundo Malavasi (1996), no Mxico que se encontra o projeto mais
avanado; no laboratrio do Programa Moscamed, em Tapachula, so criados meio milho
de parasitides/semana.
No Brasil, a partir de 1995, o Cena/USP passou a multiplicar massalmente, liberar e
distribuir o parasitide D. longicaudata. A estimativa de produo, de janeiro de 1995 a
outrubro de 2001, foi de 195 milhes de pupas de C. capitata, das quais 150 milhes de D.
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longicaudata, que foram utilizadas em pesquisas prprias e distribudas a empresas e
rgos interessados, principalmente do Estado de So Paulo. Foram feitos tambm envios
de grande volume para a Guiana Francesa e Amap, visando o controle da mosca-da-
carambola. A capacidade de produo da biofbrica piloto estimada em 50 milhes a 60
milhes de larvas ou pupas de C. capitata por ms, e desse total, 90% poder ser destinado
a produo de parasitides (Walder, 2002).
A fim de garantir e ampliar a chance de sucesso no estabelecimento de D.
longicaudata no Brasil, enviaram-se remessas do parasitide extico para laboratrios
interessados na avaliao desse organismo, nos estados da Bahia, Pernambuco, Minas
Gerais, So Paulo, Rio Grande do Sul e Amazonas. Todos os projetos implementados nas
diferentes regies do pas seguiram a mesma metodologia, ou seja, foram realizadas
monitoramentos de larvas de mosca-das-frutas (tempo = 0) em diferentes fruteiras antes das
liberaes de D. longicaudata no campo.
Atualmente o projeto de controle biolgico das moscas-das-frutas est se
espalhando pelo Brasil, baseando-se nos benefcios das liberaes j alcanados em outras
partes do mundo, e j existe a implantao de uma biofbrica, em Juazeiro, estado da Bahia
destinado a produo comercial de parasitides, visando suprir a demanda e contribuir para
a consolidao da fruticultura tropical.
5.6. Macieira
Dentre as principais pragas da macieira, encontra-se o caro vermelho Panonychus
ulmi. Quatro empresas (Agrcola Fraiburgo S.A., Fisher Fraiburgo Agrcola Ltda., Pomifrai
Fruticultura S.A. e Renar maas S. A. ), produtoras de mas em Fraiburgo, Santa Catarina,
construram unidades de criao do caro predador Neoseiulus californicus com a
finalidade de implantar o controle biolgico inundativo de P. ulmi, atualmente em um total
de 6.600 hectares (Monteiro, 2002). Segundo este autor, criao de caros predadores para
uso do controle biolgico de caro vermelho pode ser realizada com sucesso em pomares
nas regies produtoras de ma do Sul do Brasil. Produtores e cooperativas podero obter
rendimentos significativos com a economia de acaricidas utilizando N. californicus.
Estima-se que a economia produzida com o controle biolgico de caros, quando
comparado com o controle convencional, seja de cerca de 85 dlares por hectare.
19
5.7. Florestas
Lagartas desfolhadoras so importantes pragas em diversos sitemas agroflorestais
no Brasil, e os trabalhos desenvolvidos nos ltimos 10 anos no pas, vm apontando o uso
de percevejos predadores (Hemiptera: Pentatomidae: Asopinae) para o controle biolgico
dessas lagartas. As companhias reflorestadoras CAF Florestal Ltda., Champion Celulose,
Mannesmann Florestal Ltda., Pains Florestal S.A. e Reflorestadora do Alto Jequitinhonha
(Refloralje) esto produzindo, estudando e utilizando percevejos predadores (Podisus
nigrispinus, Supputius cincticeps, Brontocoris tabidus) para o controle biolgico de
Thyrinteina arnobia (Geometridae), Psorocampa denticulata (Notodontidae),
Euspsedossoma aberrans (Arctiidae), Sarsina violascens (Lymantridae), e de outros
lepidpteros desfolhadores de eucalipto (Zanuncio et.al., 2002).
5.8. Cultivos Protegidos
Muitos fatores evoluram e contriburam para o desenvolvimento da agricultura moderna,
porm um deles parecia aos agricultores de controle impossvel: dominar a adversidade
climtica. A sazonalidade climtica permitia o aproveitamento de apenas alguns perodos
do ano para o desenvolvimento de cultivos, fato que deu origem aos conhecidos calendrios
agrcolas. A geada, o vento frio, o granizo, a insolao e a chuva demasiada restringiam o
aproveitamento da terra, deixando-a ociosa por longos perodos do ano, limitando a sua
capacidade de produo e privando os agricultores da obteno de melhores lucros (Bueno,
2001). Diante desta situao, os agricultores comearam a enfrentar o desafio de controlar o
ambiente das plantas, e no final do sculo XIX, a produo comercial em casas de
vegetao tornou-se estabelecida.
Casas de vegetao so sistemas nicos, com caractersticas prprias e peculiares.
Vrias caractersticas ecolgicas fazem esses sistemas serem completamente diferentes de
outros ecossistemas natural ou manejado. Cria-se um ambiente especifico que no somente
determina a natureza da infestao de uma praga, como tambm molda o papel dos agentes
de controle biolgico.
Embora sejam ambientes que podem ser controlados e ofeream condies de
melhoria para o crescimento e desenvolvimento de uma grande variedade de plantas, os
mesmos podem tambm favorecer o aparecimento de pragas e doenas. Segundo Gullino e
20
Wardlow (1999), o aumento da complexidade com pragas e doenas e os altos padres
cosmticos para os produtos vegetais (hortcolas) e ornamentais tm levado os produtores a
aplicaes preventivas intensivas e rotineiras de produtos fitossanitrios, o que resulta no
aparecimento, em poucos anos, de pragas e patgenos resistentes aos produtos mais
freqentemente usados, o que por sua vez aumenta os custos de controle.
Assim, o controle biolgico atravs do uso de parasitides, predadores e organismos
entomopatognicos, atualmente uma realidade bastante desejvel em sistemas de cultivos
protegidos, uma vez que muitos casos de sucesso tm ocorrido em pases que j utilizam
esse mtodo de controle, perfeitamente inserido nos princpios que regem o manejo
integrado de pragas (MIP) (Tabela 1). Agentes entomfagos e entomopatognicos vm
sendo usados comercialmente em muitos pases da Europa, no Canad e Estados Unidos
para controlar importantes pragas em um amplo espectro de cultivos nos sistemas
protegidos.
Nas ltimas dcadas seu uso vem aumentando consideravelmente uma vez que o
controle biolgico de pragas um mtodo sustentvel, econmico e ambientalmente mais
atrativo do que o controle qumico. Os programas de controle biolgico so adaptados por
especialistas para um determinado cultivo, seja ornamental ou vegetal, observando-se, por
exemplo, qual espcie de inimigo natural usar; o tempo, quantidade e freqncia de
liberao. Tambm verificar quanto ao melhor sistema de liberao, como distribuir
eficientemente o inimigo natural, assim como observar quanto disperso do agente de
controle, e preos competitivos dos inimigos naturais comparados ao uso de produtos
fitossaintrios.
O controle biolgico em casas de vegetao pode envolver a conservao, o
controle natural e o controle aumentativo. De acordo com van Lenteren (2000), o manejo
adequado dos arredores das casas de vegetao pode estimular ou restaurar o controle
natural, e promover a migrao de insetos benficos para o interior dessas estruturas.
Muitos parasitides de moscas minadoras e de pulges, como tambm predadores de tripes,
migram para as estruturas protegidas, proporcionando o controle dessas pragas, desde que
encontrem um ambiente equilibrado, e na ausncia de produtos qumicos.
No caso da liberao de agentes entomfagos, o controle biolgico em casas de
vegetao aplicado por meio do mtodo inoculativo sazonal, no qual os parasitides e
21
predadores exticos ou nativos so criados massalmente e periodicamente liberados em
cultivos de curta durao, permitindo tanto um efeito imediato contra a praga como um
crescimento da populao do inimigo natural para um controle tardio durante a mesma
estao. Em alguns casos, usa-se a liberao inundativa para obter uma reduo imediata da
populao da praga. Segundo van Lenteren (2000), estima-se que a rea total mundial sob
formas sazonais inoculativas e inundativas de controle biolgico seja de cerca de 32
milhes de hectares, incluindo condies de campo e de casas de vegetao.
Pragas em casas de vegetao so atualmente manejadas atravs do controle
biolgico em cerca de 14.000 dos 30.0000 hectares sob cultivos protegidos no mundo,
comparados com os 200 hectares sob controle biolgico nos anos 70 (van Lenteren, 1995).
Acima de 80% do controle biolgico aplicado em casas de vegetao so para cultivos de
pepino, tomate e pimento (Ravensberg, 1992), e todos os cultivos hortcolas juntos somam
cerca de 90% dos inimigos naturais comercializados.
O grande nmero de inimigos naturais hoje disponveis, com vrias espcies para
cada praga, como para a mosca minadora, mosca branca, tripes, afdeos e caros, tem
tornado os programas de controle biolgico em casas de vegetao estveis e confiveis.
Um fator indicador do sucesso dessa forma de controle a drstica reduo no uso de
inseticidas: em hortcolas essa reduo da ordem de 80 a 95% (Bolckmans, 1999).
Vrias empresas esto envolvidas com a produo de inimigos naturais (Tabela 2), e
tambm podem ser visualizados nesta tabela, as principais pragas e seus respectivos
inimigos naturais envolvidos com cultivos em sistemas protegidos.
Os principais inimigos naturais usados e vendidos comercialmente e que podem
estar presentes nos cultivos de ornamentais e vegetais em sistemas protegidos so:
1. Parasitides: Aphidius colemani, Lysiphlebus testaceipes, Praon sp. so pequenas
vespinhas, parasitides de pulges. Ataca os pulges, introduzindo, atravs de seu
ovipositor, um ovo no interior do corpo do pulgo. Desse ovo sai uma larva, a qual se
alimenta dos tecidos internos do pulgo, matando-o. O pulgo parasitado apresenta um
aspecto de mumia, normalmente de colorao palha.
2. Parasitides: Encarsia formosa, Eretmocerus eremicus - so parasitides de mosca-
branca. Parasita os estgios ninfais da mosca-branca, onde a fmea coloca um ovo. O
22
desenvolvimento do parasitide ocorre na pupa do hospedeiro, a qual torna-se negra em sua
colorao.
3. Predadores: Orius spp. (O. insidiosus, O. thyestes,O. laevigatus, O. majusculus)
so pequenos percevejos predadores, principalmente de tripes. Tanto suas ninfas como os
adultos se alimentam de todos os estgios da presa, e so encontrados no mesmo habitat de
suas presas. No caso das ornamentais, vivem particularmente nas flores.
4. Parasitides: Dacnusa sibirica, Diglyphus isaea - so pequenas vespinhas,
parasitides de larvas da mosca-minadora. Fmeas de D. sibirica colocam seus ovos no
interior das larvas da mosca-minadora, o parasitide se desenvolve dentro da pupa do
hospedeiro. Fmeas de D. isaea matam a larva da mosca-minadora na mina e coloca o ovo
em cima da larva da mosca-minadora, dentro da mina.
5. Predador: Phytoseiulus persimilis caro predador do caro rajado. Os caros
fitfagos que foram predados apresentam colorao marrom para preta, e podem ser
identificados como finos pontos negros sobre as folhas. No confundir com caros vivos
que so marrom-claros ou vermelho-escuros.
Outros inimigos naturais, como joaninhas, crisopdeos, e tambm fungos, bactrias
e virus entomopatognicos podem ser encontrados associados as principais pragas em
ornamentais e vegetais em sistemas protegidos.
No Brasil, as pesquisas com controle biolgico nesses sistemas de cultivo so
recentes. Envolvem atualmente, o uso dos percevejos predadores Orius insidiosus e O.
thyestes para o controle de tripes, e dos parasitides Aphidius colemani, Lysiphlebus
testaceipes e Praon volucre para o controle de pulges. Esto sendo realizados estudos da
biologia, comportamento, interao intraguilda, influncia dos fatores ecolgicos como
fotoperodo e temperatura, e do hospedeiro/presa e mtodos de criao massal. Tambm
envolvendo a liberao desses agentes em cultivos comerciais, com nfase as taxas de
liberao e uso de unidades de criao aberta (plantas banqueiras)
A liberao inoculativa sazonal de O. insidiosus e L. testaceipes em plantio
comercial de crisntemo de corte em casa de vegetao, de 600m2, para controle de tripes e
pulges, respectivamente, demonstrou que esses agentes foram efetivos como agentes de
controle biolgico, controlando a populao da praga e mantendo-a abaixo do nvel de dano
econmico. O predador O. insidiosus foi liberado na taxa de 1,5 a 2,0 Orius/m2 em 5
23
liberaes/ciclo de cultivo do crisntemo, e o parasitide L. tetaceipes, em duas liberaes
(Figura 3), a primeira de 0,15 fmeas/m2 e a segunda de 0,24 fmeas/m
2 (Silveira et al.
2004, Rodrigues et al. 2005).
Assim, se aposta no futuro do controle biolgico nesses sistemas de cultivos, porque
(1) menor nmero de inseticidas disponveis (resistncia e registro); (2) poltica
governamental para reduzir o uso de inseticidas; (3) consumidores demandam por produtos
livres de resduos; (4) conscincia dos efeitos dos inseticidas sobre a biodiversidade; (4)
muitos inimigos naturais esperam por sua descoberta e uso; (6) pode ser empregado por
pequenos agricultores e na agricultura com alta tecnologia.
O controle biolgico ambientalmente seguro, de longo prazo e sustentvel, e,
portanto, a melhor opo de controle.
6. Controle microbiano de pragas: definio, conceitos e microrganismos
entomopatognicos
Se considerarmos que cada espcie de inseto seja suscetvel a pelo menos um
microrganismo patognico, como ocorre com todos os outros organismos vivos dos
diferentes reinos, ou seja, que pelo menos um microrganismo seja capaz de causar algum
tipo de doena a esse inseto, temos uma pequena noo da importncia do estudo dessas
doenas no contexto do controle de pragas, principalmente. Isso se d pela estimativa de
que existam cerca de 2.500.000 espcies de insetos sobre a Terra, sendo que, dessas,
aproximadamente 1.000.000 de espcies j so conhecidas e identificadas. Desse montante,
por volta de 10% podem ser consideradas pragas agrcolas, florestais ou urbanas.
A patologia de insetos a cincia que estuda as doenas dos insetos, visando utiliz-
las para o controle de pragas ou com o objetivo de evit-las quando ocorrem em insetos
teis (abelhas, bicho-da-seda, agentes de controle biolgico, etc). Por doena, podemos
definir um processo dinmico, no qual hospedeiro (inseto) e patgeno (microrganismo),
em ntima relao com o meio, influenciam-se mutuamente, resultando modificaes
morfolgicas e fisiolgicas em ambos. Este um conceito estrito, j que, numa maior
abrangncia podemos tambm considerar como doenas, as alteraes em processos
24
fsicos, bioqumicos e fisiolgicos dos insetos, tais como abrases, fraturas, deficincias
nutricionais, entre outros.
O controle microbiano um ramo do controle biolgico que trata da utilizao
racional dos entomopatgenos, visando a manuteno das populaes de pragas a nveis de
dano no-econmicos, segundo os princpios do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Podemos definir, para o controle microbiano, da mesma forma que para o controle
biolgico com a utilizao de entomfagos, tipos de controle, como o natural e o aplicado,
e estratgias de uso, como introduo inundativa e inoculativa, aumento ou incremento e
conservao/proteo.
As principais vantagens do uso de microrganismos entomopatognicos para o
controle de pragas so a especificidade e a seletividade desses agentes de controle, bem
como a facilidade de multiplicao, disperso e produo em meios artificiais e a ausncia
de poluio ambiental e toxicidade ao homem e outros organismos no-alvo, entre outras.
Dessa forma, percebe-se que o controle microbiano de insetos, como brao do controle
biolgico, base de sustentao do equilbrio natural das espcies de insetos
potencialmente consideradas como pragas.
Os principais microrganismos relacionados ao controle microbiano de insetos so
fungos, bactrias, vrus e nematides entomopatognicos, com vrios casos estudados e
exemplos de utilizao comercial, alm de outros microrganismos como protozorios,
ricktsias, espiroplasmas e fitoplasmas, menos conhecidos e estudados, mas tambm com
imenso potencial de investigao com relao patogenia e utilizao aplicada.
Os fungos so microrganismos unicelulares (leveduras) ou pluricelulares (maioria
dos fungos), constitudos de clulas providas de parede originada por celulose e quitina,
alm de outros acares, que formam um conjunto denominado miclio. Essas estruturas
vegetativas que constituem o miclio so denominadas hifas, sendo que, aps a colonizao
de um determinado hospedeiro, surgem estruturas reprodutivas conhecidas como esporos
ou condios, originadas de reproduo sexuada ou assexuada, responsveis pela
disseminao do patgeno. Os fungos possuem grande variabilidade gentica, largo
espectro de hospedeiros e geralmente penetram nos insetos via tegumento. Os principais
grupos/espcies de interesse so: Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae, M.
flavoviride, Nomuraea rileyi, Verticillium lecanii, Hirsutella thompsonii, Aschersonia
25
aleyrodis, Paecilomyces spp., Cordyceps spp., e os fungos da ordem Entomophthorales
(Zoophthora, Entomophthora, Entomophaga, Neozygites).
As bactrias que infectam insetos podem ser esporulantes ou no-esporulantes,
obrigatrias ou facultativas, e penetram no inseto por via oral. So estruturas unicelulares,
geralmente em forma de bastonetes, sendo o grupo das bactrias esporulantes constitudo
de uma clula vegetativa que contm, em seu interior, um esporo de resistncia, que garante
boa estabilidade no ambiente, a despeito de condies ambientais desfavorveis, e um
corpo parasporal, ou cristal protico, composto por protenas txicas que exercem efeito
sobre os insetos-alvo.
Essas bactrias tm sido amplamente pesquisadas, devido ao grande interesse
gerado pela possibilidade de produo desses microrganismos por processos fermentativos,
sendo o grupo de entomopatgenos com maior potencial comercial, refletido na grande
quantidade de produtos comerciais disponveis em todo o mundo, ao contrrio do que
ocorre com os outros grupos de microrganismos entomopatognicos. Os principais grupos
so: Bacillus thuringiensis (diversas variedades), como var. kurstaki, que ataca lagartas
(Lepidoptera), var. israelensis, infectando larvas de Diptera (pernilongos e borrachudos) e
var. tenebrionis, infectando Coleoptera; Bacillus sphaericus, tambm em larvas de Diptera,
e Bacillus larvae e B. alvei, que causam doenas em abelhas; pode-se citar tambm Serratia
marcescens e S. entomophila, que causam septicemias em diversos insetos, pertencentes ao
grupo das bactrias no-esporulantes.
Vrus so macromolculas (nucleoprotenas), que contm somente um tipo de cido
nucleico (DNA ou RNA), e so parasitos celulares obrigatrios que penetram nos insetos
por via oral. Os vrus que causam doenas em insetos so bastante especficos, sendo, entre
os principais grupos de entomopatgenos, dos mais seguros em relao a possveis efeitos
sobre o homem ou outros animais no-alvo. Os principais grupos so os vrus de poliedrose
nuclear (VPN), citoplasmtica (VPC) e de grandulose (VG), conhecidos como Baculovirus.
Os nematides entomopatognicos so vermes semelhantes queles que infectam
plantas, e se relacionam com os insetos de trs formas: forsia (transporte), parasitismo
obrigatrio ou parasitismo facultativo. De maneira geral, esses nematides no possuem
estiletes bucais, ao contrrio do que ocorre nos nematides fitopatognicos, e alguns grupos
tm uma associao muito ntima (simbiose ou mutualismo) com bactrias no processo de
26
estabelecimento da doena. Dessa forma, esses nematides carregam em seu interior um
pequeno inculo de bactrias especficas, que so liberadas no interior do corpo do inseto
aps a penetrao do nematide, via aberturas naturais (boca, nus). Essas bactrias ento
se multiplicam em todos os tecidos do inseto, matando-o por septicemia (infeco
generalizada), ficando o nematide imerso no material do qual passa a se alimentar. Os
principais grupos de interesse para o controle microbiano so: Famlia Steinernematidae e
Famlia Heterorhabditidae, os quais possuem uma estreita associao com bactrias
(Xenorhabdus); Famlia Mermithidae, que so parasitos obrigatrios e Famlia
Neotylenchidae, nematides dotados de estiletes bucais, como os fitoparasticos.
Alguns problemas relacionados comercializao de produtos microbianos, que
impedem atualmente um maior desenvolvimento dessa linha de trabalho, so a
concorrncia com produtos qumicos, a falta de assistncia tcnica durante a
comercializao e aps a aplicao do produtos, a existncia de formulaes
inadequadas e produtos de baixa qualidade no mercado, a exigncia de condies
especficas de armazenamento desses produtos, entre outros.
Apesar disso, j existe no mercado, principalmente internacional, um bom
nmero de produtos microbianos disposio do consumidor, e so timas as
perspectivas de utilizao desses produtos em um curto espao de tempo em nossas
condies, em decorrncia do processo de conscientizao da sociedade na direo do
consumo de produtos agrcolas sanitria e ambientalmente seguros, os quais, inclusive,
podem ser melhor remunerados em funo das caractersticas citadas.
7. Epizootiologia e utilizao de entomopatgenos no Manejo Integrado de Pragas
Epizootiologia o estudo dos fatores que favorecem ou no a ocorrncia de doenas
em insetos. Numa analogia a outra palavra bastante conhecida, mais aplicada rea de
sade humana, podemos considerar que epizootiologia seria o mesmo que epidemiologia,
ou seja, o estudo das epidemias, principalmente dos fatores associados a essa ocorrncia
generalizada da doena.
Como j definido anteriormente, podemos definir as doenas num mbito estrito
(doenas microbianas ou infecciosas) ou numa esfera mais ampla, considerando tambm as
27
doenas no-infecciosas, ou de outras causas (fsicas, qumicas, fisiolgicas, nutricionais).
Mais uma vez, ficaremos restritos primeira definio.
Dessa forma, os objetivos principais dos estudos epizootiolgicos so: descobrir e
estudar o ciclo de vida dos agentes entomopatognicos, quantificar a sua ocorrncia, num
determinado local/poca/hospedeiro e fornecer subsdios para estratgias de controle
microbiano de pragas (Figura 4).
De maneira geral, independentemente do entompatgeno estudado, podemos dizer
que o desenvolvimento da doena se d de acordo com uma distribuio conhecida como
curva epizotica (Figura 5). Essa curva constituda de uma fase pr-epizotica,
caracterizada pela existncia de focos primrios da doena, oriundos de insetos mortos,
estruturas do entomopatgeno existentes no solo, por exemplo, capazes de desencadear o
processo. Em seguida, percebe-se uma fase de grande incremento na taxa de ocorrncia da
doena, chamada fase epizotica propriamente dita, caracterizada pela rpida multiplicao
e disseminao do microrganismo, com consequente aumento da mortalidade do inseto
hospedeiro e do inculo presente na rea. Por fim, reconhecemos a fase denominada ps-
epizotica, na qual, em virtude principalmente das condies ambientais desfavorveis, e
da diminuio do nmero de hospedeiros suscetveis, devido alta mortalidade, percebe-se
a diminuio da ocorrncia da doena na populao.
Com base no padro de ocorrncia observado, podemos tambm definir doena
enzotica (menos agressiva, que ocorre normalmente em taxas mais baixas) e doena
epizotica (caracterizada pela agressividade do entomopatgenos e altas taxas de
mortalidade e disseminao). Essa definio feita com base em conceitos e taxas
derivados dos estudos epidemiolgicos, como taxas de prevalncia, incidncia, mortalidade
anual, mortalidade especfica, mortalidade etria, nmero de casos fatais, porcentagem de
infeco e transmisso. Por vezes, no fcil, no caso de doenas em insetos, obter dados
consistentes que permitam a determinao dessas taxas ou ndices.
Em suma, a epizootiologia trata de estudar e conhecer os fatores biticos, relativos
ao hospedeiro (inseto) e ao patgeno (microrganismo), bem como os fatores abiticos ou
ambientais (climticos e no-climticos), que so responsveis por dar condies para o
desenvolvimento do processo dinmico ao qual nos referimos como doena.
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Com relao aos fatores biticos relacionados ao hospedeiro (inseto), visando
estabelecer padres relativos principalmente ocorrncia de pragas e sua suscetibilidade
s doenas, podemos citar alguns aspectos a serem abordados:
a) Caractersticas ou estratgias reprodutivas da praga, com o reconhecimento e
caracterizao de populaes de insetos estrategistas r ou k, quanto utilizao
dos recursos biticos e alimentares disponveis;
b) Caractersticas da populao visada quanto suscetibilidade individual, em
contraposio suscetibilidade da populao como um todo, importante no aspecto
da transmisso e disseminao da doena;
c) Densidade da populao, j que epizootias esto diretamente ligadas existncia de
altas densidades populacionais da praga e ao fato de patgenos de disseminao
horizontal (contato entre indivduos) serem tambm dependentes da densidade
populacional. Tambm, nesse caso, interessa muito a estratgia de introduo do
patgeno que ser utilizada, como por exemplo, a introduo inundativa, com o
patgeno sendo utilizado na forma de inseticida microbiano, em altas concentraes
por rea, relativamente independente da densidade populacional da praga;
d) Biologia e hbitos dos insetos: importante o conhecimento dos hbitos alimentares
e do comportamento dos insetos, visando uma ao mais efetiva do controle
microbiano. Como exemplo, temos insetos mastigadores de vida livre, cuja
deposio do produto microbiano sobre o substrato de alimentao (ex: folhas) de
extrema importncia; conhecer o estgio suscetvel da praga (formas jovens,
adultos); avaliar o comportamento de insetos de solo (solo como reservatrio
natural de patgenos, condies de UR alta, temperaturas amenas, o papel de
microrganismos antagnicos), podem facilitar o desenvolvimento de iscas atrativas,
que promovem um alto potencial de inculo com proteo do entomopatgeno a
condies adversas; e tambm, mais especificamente, o caso dos insetos sociais,
com caractersticas de agregao, trofalaxia (troca de alimento), grooming =
comportamento de limpeza, que so estratgias utilizadas para evitar doenas, mas
que podem, em alguns casos, contribuir com a disseminao do microrganismo;
e) Migraes de insetos e mudanas nos hbitos: a ocorrncia do geotropismo
negativo, devido ao fenmeno chamado behavioral fever (= febre
29
comportamental), muito comum em insetos doentes, utilizado como mecanismo de
defesa, mas que contribui com a maior disseminao de certos fungos, por exemplo;
f) Predisposio do hospedeiro: caracterstica intrnseca espcie, relativa via de
inoculao qual o inseto mais suscetvel, bem como ao espectro de enzimas e pH
no intestino, alm da interao do tegumento com as condies climticas,
favorecendo a deposio de ceras, visando a economia de gua, o que pode
dificultar a penetrao do entomopatgeno, alm da fase/estgio em que se encontra
o inseto, e da maior suscetibilidade na poca das mudas de tegumento (Figura 6);
g) Presena de hospedeiros: fator relativo necessidade de hospedeiros primrios,
secundrios, alternativos e/ou intermedirios para o completo desenvolvimento do
ciclo da doena, como ocorre para alguns fungos patognicos a pernilongos
(Coelomomyces, Amblyospora);
Dentre os fatores biticos relacionados aos entomopatgenos, pode-se destacar:
a) Tipos de patgenos: primrios, secundrios, acidentais, ocasionais, facultativos,
obrigatrios, gerando classificaes quanto sua agressividade (caracterstica
enzotica/epizotica), tais como patgeno rpido, lento, crnico, epizoticos, entre
outros;
b) Infectividade (capacidade de penetrao habilidade natural), patogenicidade
(capacidade de provocar doena caractersitica gentica), virulncia e
agressividade (nveis de ocorrncia de doenas caracterstica biolgica altervel)
que so caractersticas intrnsecas ao patgeno, inclusive em nvel subespecfico
(isolados, cepas, raas, etc.);
c) Estratgia de reproduo do patgeno: geralmente patgenos epizoticos so mais
recomendados para controle de pragas anuais (em estratgias inundativas) e
patgenos enzoticos para pragas em cultivos perenes, semiperenes (incremento e
introduo inoculativa), devido principalmente s diferenas na capacidade de
disseminao;
d) Disseminao e transmisso dos patgenos: h patgenos com mecanismos
adaptativos bastante evidenciados, como os fungos Entomophthorales, com ejeo
de condios primrios (no-infectivos), permitindo maior disseminao e ocorrncia
frequente de epizootias, e outros bastante infectivos, com alta virulncia, alta
30
reproduo, mas sem epizootias naturais, como Bacillus thuringiensis, alm da
importncia de se conhecer se o mecanismo de transmisso do microrganismo
vertical (de gerao a gerao do inseto) ou horizontal (somente entre indivduos);
e) Vias de inoculao dos patgenos: tais como via tegumento, transmissal oral,
transmisso transovignica ou transovariana, o que corrobora para aumento da
capacidade de didsseminao da doena;
f) Capacidade de sobrevivncia dos patgenos, evidenciada naqueles microrganismos
com fases de resistncia (esporos bacterianos, poliedros virais, clamidsporos em
fungos Entomophthorales, esclerdios, sinmios), que so estruturas geralmente
no-infectivas, mas que garantem persistncia no ambiente e em condies
adversas;
g) Potencial de inculo, definido como o nmero de propgulos viveis sobre o
hospedeiro, capaz de iniciar o processo de doena, que influencia diretamente a
infectividade dos patgenos;
h) Interaes entre organismos, tais como sinergismo, antagonismo, coexistncia, que
so relaes ecolgicas que podem modificar completamente a eficincia de
determinado microrganismo entomopatognico no ambiente;
Dentre os fatores abiticos (climticos e no-climticos) que necessitamos conhecer
para os estudos epizootiolgicos, podemos citar:
a) Temperatura: essencial na estabilidade no armazenamento, na aplicao e
ocorrncia natural dos microrganismos entomopatognicos, sendo que os insetos,
fora da faixa de 15 a 38, sofrem estresse, favorecendo os patgenos, alm do
processo de desnaturao de protenas e decomposio do cido nucleico, que pode
alterar a eficincia de vrus, por exemplo (Figura 7);
b) Umidade: expressa em quantidade de chuva, umidade do solo e umidade do ar
(relativa, absoluta, nvel de saturao), limitante para processos reprodutivos de
microrganismos;
c) Radiao e fotoperodo, principalmente com relao faixa de raios UV, que
degradam partculas virais e propgulos de fungos, com maior efeito;
d) Solo: com destaque s condies limitantes de pH para o estabelecimento de
patgenos, lembrando que este ambiente um depositrio de grande nmero de
31
patgenos e tambm de microrganismos antagnicos, como Trichoderma,
Penicillium e actinomicetos, entre outros;
e) Produtos fitossanitrios, que ainda so a base do controle de pragas em sistemas
desequilibrados, e mesmo nos quais se procura aplicar os princpios sustentveis do
MIP; estes produtos podem causar efeitos letais, fungistticos, bacteriostticos ou
podem, por outro lado, melhorar o crescimento e reproduo dos patgenos, quando
portadores de caractersticas benficas de seletividade, base da estratgia de
conservao.
De maneira geral, o que se procura atravs dos estudos epizootiolgicos, alm do
conhecimento dos fatores que afetam a ocorrncia de doenas, a sua implicao no
processo de deciso da melhor estratgia para uso do microrganismo entomopatognico
como agente de controle, dentro de um programa de MIP, incluindo, em alguns casos, a
possibilidade de previso da ocorrncia das doenas em funo do conjunto de fatores
biticos e abiticos relativos ao hospedeiro, patgeno e ambiente, o que seria de extrema
importncia para a manuteno de populaes de pragas abaixo do nvel de dano
econmico sem a necessidade de introdues artificiais, seja de agentes biolgicos ou de
outros mtodos de controle mais agressivos.
Assim, como a filosofia do MIP visa a utilizao conjunta de vrias tticas de
controle, com aproveitamento do potencial de controle natural, a doena, seja pela sua
ocorrncia natural ou pela introduo artificial parte desse contexto. Como j dito
anteriormente, assim como definido para o controle biolgico por entomfagos, h diversas
estratgias, como introduo inoculativa, introduo inundativa, aumento ou incremento,
conservao ou proteo, e inclusive a utilizao de patgenos modificados e plantas
transgnicas, que podem ser consideradas com relao ao controle microbiano.
Quando consideramos a ocorrncia natural de doenas, os patgenos devem ser
tidos como elementos bsicos do manejo integrado, podendo inclusive, em algumas
situaes, ser o elemento principal. Para tal, so necessrios estudos preliminares e
estabelecimento de padres de ocorrncia de doenas (padres epizootiolgicos), baseados
principalmente no monitoramento da doena na populao hospedeira, que, juntando-se
comparao com ocorrncias anteriores, podem permitir previses, baseadas, muitas vezes,
em complexos modelos matemticos desenvolvidos para tal fim.
32
De outra maneira, quando pensamos na utilizao dos entomopatgenos como
agentes introduzidos de controle biolgicos, devemos pensar em estratgias como
introdues inoculativas, aumento ou incremento (em ambientes perenes ou semi-perenes),
introduo inundativa com inseticidas microbianos (para culturas anuais, principalmente).
Por fim, talvez a melhor forma/estratgia para se aproveitar o potencial de controle
dos microrganismos entomopatognicos seja a conservao/proteo dos entomopatgenos
j existentes, de forma que os mesmos possam atuar como agentes reguladores das
populaes de pragas, sejam eles de ocorrncia natural ou introduzida, sem que outras
atividades ou intervenes no agroecossistema venham a prejudicar essa eficincia.
Assim, prticas como a utilizao correta de produtos qumicos, com a verificao
da seletividade dos produtos aos microrganismos; a compatibilidade de entomopatgenos
com outros agentes biolgicos (predadores, parasitides, por exemplo); a utilizao de
prticas agrcolas visando a melhoria da ao dos entomopatgenos (irrigao, plantio
direto); a incorporao de patgenos em plantas (transformao gentica) e o manejo da
resistncia de pragas aos entomopatgenos, que deve ser preocupao constante, so
essenciais para a incluso dos microrganismos patognicos a insetos num sistema
equilibrado, eficiente e sustentvel.
8. Tecnologias de controle microbiano de pragas com fungos, bactrias, vrus e
nematides entomopatognicos
8.1. Principais programas de controle microbiano no Brasil
Os principais programas de controle de pragas utilizando microrganismos
entomopatognicos no Brasil so:
a) cigarrinhas da cana-de-acar e das pastagens, com o fungo M. anisopliae: este
programa baseia-se no uso do fungo de forma inundativa, aplicado em rea total,
na quantidade de aproximadamente 1 kg do produto comercial por hectare.
Deve-se ressaltar que os produtos comerciais base de fungos
entomopatognicos no Brasil so, na sua maioria, formulados na forma de p
molhvel, com cerca de 5% de fungo e 95% de inertes (arroz modo). O uso de
33
M. anisopliae tem tido um largo impulso nos ltimos anos, principalmente no
Estado de So Paulo, com a volta dos cultivos da cana crua (sem queimada para
colheita), o que vem trazendo problemas com a cigarrinha da raiz da cana-de-
acar, praga anteriormente controlada em consequncia do uso do fogo. Assim,
cerca de 10 novas empresas surgiram para atendimento da grande demanda
recm-implantada.
b) cupins de montculo e da cana-de-acar, com os fungos B. bassiana e M.
anisopliae: programa que vem sendo preconizado e desenvolvido aps a retirada
dos produtos fitossanitrios organoclorados no Brasil, o que ocorreu em meados
dos anos 80. Baseia-se na utilizao de iscas atrativas de papelo corrugado,
impregnadas com suspenses aquosas dos fungos isoladamente, ou em
associao com produtos fitossanitrios seletivos, como imidacloprid e fipronil,
entre outros (introduo inoculativa). Essas iscas atraem operrios dos cupins,
que infectam-se e levam propgulos dos fungos aos outros indivduos da
colnia, j que o ninho difuso e subterrneo, alm de se apoiar no
comportamento de limpeza (grooming) e na trofalaxia dos cupins como
eficientes meios de disseminao;
c) broca (moleque) da bananeira, com o fungo B. bassiana: programa j
desenvolvido h um bom tempo, com base na utilizao de iscas de pseudocaule
da bananeira, muito atrativas aos adultos de Cosmopolites sordidus. Nessas
iscas, que podem ser do tipo telha ou queijo, de acordo com o formato,
pincelada uma pasta de fungo e arroz modo com gua (pode ser a formulao
comercial), com a qual o inseto adulto se infecta, disseminando o fungo para
outros indivduos, devido ao seu comportamento de agregao. Tambm uma
estratgia de introduo inoculativa;
d) broca-do-cafeeiro, com o fungo B. bassiana: um programa relativamente novo,
embora j se saiba sobre a ocorrncia natural desse fungo h muito tempo na
cultura do cafeeiro. Atualmente, procura-se desenvolver uma metodologia mais
racional de aplicao do fungo na cultura, evitando-se trabalhar com
formulaes lquidas, dando-se preferncia formulao p seco, capaz de
penetrar mais eficientemente no interior da cultura, alm de estudos que visam o
34
controle da broca em reinfestaes provenientes do terreiro de caf e de frutos
cados ao solo, quando no h o chamado repasse na cultura;
e) percevejo-de-renda da seringueira, com o fungo Sporothrix insectorum: bastante
utilizado em grandes reas de produo comercial da seringueira nos Estados de
So Paulo, Mato Grosso e Rondnia, este fungo, muito especfico para a praga
em questo comercializado em formulaes lquidas (suspenses
concentradas), ainda com produo restrita a alguns institutos de pesquisa e
laboratrios prprios das empresas produtoras;
f) lagartas (Lepidoptera), com a bactria B. thuringiensis var. kurstaki, sendo este
o programa baseado em formulao comercial de maior sucesso, no s no
Brasil, mas no mundo todo, em funo do desenvolvimento de produtos de
qualidade e apelo comercial. A bactria utilizada principalmente, no Brasil, em
reas de explorao florestal, em especial no cultivo do eucalipto, visando o
controle de lagartas desfolhadoras. Tambm registrado para uso em hortcolas
e diversas culturas frutferas;
g) lagarta da soja, com Baculovirus anticarsia (VPN), sendo este o maior programa
de controle biolgico estabelecido no mundo, em rea, com o uso de um
entomopatgeno (hoje, cerca de 1,5 milho de hectares de soja, no Brasil). um
programa desenvolvido pela Embrapa Soja (Londrina, PR), que j transferiu a
tecnologia de produo do vrus para algumas pequenas empresas nacionais, as
quais, sob a superviso tcnica e de controle de qualidade da Embrapa,
comercializam as formulaes existentes (na sua maioria, ps molhveis). este
um timo exemplo da evoluo de um programa de controle microbiano, desde
sua divulgao e implantao, com o apoio da extenso rural, at o
desenvolvimento de formulaes comerciais de qualidade, a partir de uma
tecnologia simples que era conduzida pelo prprio agricultor;
h) vespa da madeira, com o uso do nematide Deladenus siricidicola: programa
desenvolvido pela Embrapa Florestas (Colombo, PR), tendo como base um
nematide extico, da famlia Neotylenchidae, que, alm de se alimentar de um
fungo, que serve tambm de alimento para a larva da vespa, que praga de
35
Pinus, causa esterilizao e castrao parasitria nos adultos, os quais fazem a
postura de ovos infrteis, com a consequente reduo populacional da praga.
Vrios outros estudos vm sendo conduzidos em diversas instituies de pesquisa,
visando o controle de importantes insetos-pragas e vetores de doenas de importncia
mdica e veterinria, dentre os quais podemos destacar o controle de pragas em cultivos
protegidos, principalmente de pulges e tripes, com o uso de fungos e nematides
entomopatognicos, associados liberao de predadores e parasitides, e o controle de
pragas do cafeeiro, alm da broca, com especial ateno para as cochonilhas e cigarras, o
que vem contribuindo, sem dvida, para uma maior insero dos microrganismos
entomopatognicos no Manejo Integrado de Pragas de diversos agroecossistemas,
buscando, cada vez mais, a manuteno de um ambiente produtivo seguro, equilibrado,
saudvel e sustentvel.
9. Produo de microrganismos entomopatognicos
Apesar de ser uma rea do conhecimento relativamente antiga, o controle
microbiano tomou grande impulso principalmente aps a proibio do uso dos inseticidas
organoclorados, e tambm em decorrncia do estabelecimento do Manejo Integrado de
Pragas como prtica racional no controle de insetos prejudiciais em sistemas agrcolas e
florestais sustentveis.
Os microrganismos entomopatognicos precisam estar disponveis em grandes
quantidades para sua aplicao como bioinseticidas (estratgias de introduo), devido
necessidade de elevado potencial de inculo para que se inicie o processo de doena numa
determinada populao de insetos. O que se nota, atualmente, que no ocorre, na maioria
dos casos, essa disponibilidade em quantidades e formulaes suficientes e adequadas para
o controle de importantes pragas agrcolas e florestais, bem como vetores de doenas de
importncia mdico-veterinria.
A produo de microrganismos entomopatognicos uma fase muito importante no
processo de desenvolvimento de um bioinseticida. Uma anlise crtica permite a
constatao de que as indstrias de produtos fitossanitrios investem uma grande parcela de
seus recursos no desenvolvimento de inseticidas qumicos, contrastando com um nfimo
36
direcionamento em pesquisa e desenvolvimento de produtos microbianos, muitas vezes
relacionado somente necessidade do marketing empresarial, visando estabelecer uma
relao com preocupaes ecolgicas perante sociedade. Isso se deve a vrios fatores,
entre eles a preocupao da indstria com problemas derivados do registro de patentes; o
amplo mercado ainda existente no pas para produtos qumicos, resultante do pequeno nvel
de conscientizao de produtores, consumidores etc. sobre a necessidade da utilizao de
mtodos mais racionais para o controle de pragas; os custos para o desenvolvimento de um
produto microbiano, os quais, ao contrrio do que se possa pensar, so equiparveis aos
necessrios para a obteno de uma nova molcula qumica, se considerarmos o
envolvimento de trs sistemas biolgicos: patgeno, hospedeiro e ambiente.
Desse baixo investimento que hoje predomina, resultam produtos microbianos de
qualidade insatisfatria no que diz respeito aos aspectos de pureza, viabilidade e eficcia do
agente de controle (patgeno). Os produtos base de fungos e vrus, principalmente, so
ainda produzidos por processos considerados artesanais, mesmo em escala comercial.
Exceo a essa regra so os produtos base de bactrias entomopatognicas, com destaque
para Bacillus thuringiensis, os quais so obtidos em processos fermentativos controlados,
em grande escala, derivados de rotinas de produo em indstrias farmacuticas e de
alimentos, com vasta experincia no desenvolvimento de produtos oriundos de
fermentao.
A despeito desse quadro negativo existem, principalmente no mercado
internacional, muitos produtos microbianos j desenvolvidos e comercializados. Esses
produtos atingem dois mercados diferenciados, sendo o primeiro voltado para o emprego
do patgeno em estratgias de introduo inundativa, exigindo alta tecnologia para a
produo de grandes quantidades de propgulos, e o segundo tendo como alvo pequenos
produtores de hortalias, jardins residenciais, parques etc., onde podem atuar empresas de
menor porte, que utilizem processos menos dispendiosos de produo.
De forma resumida, pode-se salientar que os produtos base de fungos
entomopatognicos so os mais problemticos com relao produo e desenvolvimento
de bioinseticidas, devido dificuldade na obteno de produtos com estabilidade, pureza e
concentrao de propgulos que permitam a sua utilizao eficiente em condies de
campo. Esses problemas advm do fato de esses microrganismos serem suscetveis a
37
alteraes genticas durante o processo de produo, que diminuem sua infectividade, bem
como dificuldade de controle de contaminaes por outros microrganismos e quase
inexistncia de formulaes que protejam o patgeno dos fatores ambientais de degradao,
como temperatura, umidade e, principalmente, radiao solar.
Os vrus, apesar de serem menos dependentes de fatores biticos que os fungos, so
considerados patgenos de ao lenta, sendo essa uma grande desvantagem comercial. A
especificidade hospedeira que apresentam, apesar de ser um timo indicativo no aspecto de
segurana, o principal fator limitante na produo, pois o fato de serem patgenos
obrigatrios