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VII SEME AD ESTUDO DE CASO MÉTODOS QUANTITATIVOS E INFORMÁTICA CONTROLE DE INCIDENTES ATRAVÉS DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Paulo Sergio Ceretta - [email protected] Professor Doutor do Departamento de Ciências Administrativas - Pesquisador CNPq Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Rua Marechal Floriano Peixoto, 1184 – Centro – CEP: 97015-372 – Santa Maria/RS Telefone: (55) 222-3444 - Ramal: 296 Sidarta Ruthes de Lima [email protected] Acadêmico do Curso de Graduação em Administração – Núcleo de Pesquisa Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Rua General Neto, 39 – Apto 101 – Centro – CEP: 97050-241 – Santa Maria/RS Telefone: (55) 221-5608 Michael Ruthes de Lima [email protected] Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia de Produção Civil Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – CEFET-PR Travessa Polisú, 57 – Juvevê – CEP: 80530-330 – Curitiba/PR Telefone: (41) 252-5326 e 621-7494 RESUMO O presente artigo é um estudo sobre o desenvolvimento de um sistema de segurança do trabalho apoiado na tecnologia da informação. A investigação é do tipo estudo de caso, realizado na empresa Cimento Rio Branco S.A. no Paraná. Através dos resultados obtidos, verificou-se que os responsáveis pela segurança do trabalho pretendem organizar o controle dos relatos de incidência de forma à integrar as principais áreas da empresa. Pode-se concluir que há uma grande expectativa por parte dos responsáveis pelo sistema de segurança quanto às vantagens que este sistema de informação pode trazer para a empresa, os principais benefícios estimados são: redução da burocracia, redução de custos com a segurança do trabalho, melhorias das condições de trabalho, feedback em tempo real, além do aumento da motivação no trabalho, responsabilidade social e ética quanto às questões de segurança dos trabalhadores. PALAVRAS-CHAVE Engenharia de Segurança; Controle de Incidência; Sistema de Informação; Prevenção de Acidentes.

Controle de Incidentes TI

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CONTROLE DE INCIDENTES ATRAVÉS DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Paulo Sergio Ceretta - [email protected] Professor Doutor do Departamento de Ciências Administrativas - Pesquisador CNPq

Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Rua Marechal Floriano Peixoto, 1184 – Centro – CEP: 97015-372 – Santa Maria/RS

Telefone: (55) 222-3444 - Ramal: 296

Sidarta Ruthes de Lima – [email protected] Acadêmico do Curso de Graduação em Administração – Núcleo de Pesquisa

Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Rua General Neto, 39 – Apto 101 – Centro – CEP: 97050-241 – Santa Maria/RS

Telefone: (55) 221-5608

Michael Ruthes de Lima – [email protected] Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia de Produção Civil

Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – CEFET-PR Travessa Polisú, 57 – Juvevê – CEP: 80530-330 – Curitiba/PR

Telefone: (41) 252-5326 e 621-7494

RESUMO O presente artigo é um estudo sobre o desenvolvimento de um sistema de segurança do trabalho apoiado na tecnologia da informação. A investigação é do tipo estudo de caso, realizado na empresa Cimento Rio Branco S.A. no Paraná. Através dos resultados obtidos, verificou-se que os responsáveis pela segurança do trabalho pretendem organizar o controle dos relatos de incidência de forma à integrar as principais áreas da empresa. Pode-se concluir que há uma grande expectativa por parte dos responsáveis pelo sistema de segurança quanto às vantagens que este sistema de informação pode trazer para a empresa, os principais benefícios estimados são: redução da burocracia, redução de custos com a segurança do trabalho, melhorias das condições de trabalho, feedback em tempo real, além do aumento da motivação no trabalho, responsabilidade social e ética quanto às questões de segurança dos trabalhadores. PALAVRAS-CHAVE Engenharia de Segurança; Controle de Incidência; Sistema de Informação; Prevenção de Acidentes.

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CONTROLE DE INCIDENTES ATRAVÉS DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO 1. INTRODUÇÃO A tecnologia da informação está presente nas mais diversas áreas do conhecimento humano, sua aplicação nas organizações empresariais é cada vez mais efetiva e são diversos os estudos que relatam como as empresas estão utilizando a tecnologia da informação. De fato, percebe-se que está sendo aproveitada, essa tecnologia, nas mais diferentes áreas e funções das empresas e com distintas conseqüências quanto ao seu uso. Monteiro (2001) realizou um estudo que identificou a utilização da TI como ferramenta para gerenciar a cadeia de suprimentos de uma indústria. Já Yonezawa e Bergamaschi (1998), identificaram como as organizações utilizam a Internet e o comércio eletrônico. Machado (2002) pesquisou o desenvolvimento de um sistema de informação para Inteligência de Negócio (BI). Ozaki e Vidal (2001) realizaram um estudo de caso sobre o sistema de informação Enterprise Resource Planning – ERP. Portanto, pode-se perceber, com esta breve descrição, a amplitude de aplicações que a Tecnologia da Informação esta sendo empregada nas organizações. No estudo de Castellani (1998), foram abordados as conseqüências da Tecnologia da Informação para a sociedade de um modo geral, onde diferentes grupos têm diferentes opiniões com relação à tecnologia. Existe uma corrente de pensamento que acredita que o uso da TI é capaz de produzir um futuro melhor, através da democratização da informação, aumento da competitividade dos negócios. Na concepção dessa corrente, o progresso tecnológico leva ao progresso social, tem-se, então a chamada Utopia Tecnológica. Por outro lado, existem pensadores que acreditam que a TI é responsável pelo aumento do desemprego e da miséria, da centralização do poder e da concentração de riquezas na mão de quem detém a informação, esta corrente é conhecida como Catastrofismo. Segundo Almeida (1998), mesmo com a grande velocidade de desenvolvimento da tecnologia de informática, pode-se considerá-la nova e sua utilização precária. A velocidade de evolução da tecnologia tem sido maior do que a capacidade das empresas em absorve-las, há muitos casos de fracassos devidos ao desconhecimento adequado da tecnologia. Para o autor, a dificuldade encontrada pelas empresas está na integração na tecnologia com orientação adequada de abordagem do problema a ser solucionado e na escolha adequada da metodologia a ser utilizada. O objetivo deste trabalho é fornecer uma visão geral do caso de desenvolvimento de um sistema de informação apoiado na tecnologia de informática, cuja finalidade é gerenciar os dados dos relatos de incidentes da indústria Cimento Rio Branco S.A., empresa sediada na cidade de Rio Branco do Sul no Estado do Paraná e que pertence ao Grupo Votorantim. Inicialmente, será feita uma revisão literária, buscando referências de publicações a respeito do assunto. A seguir, será explicadas a metodologia aplicada neste estudo, com a caracterização do trabalho, os resultados obtidos e, por fim, a conclusão do estudo e recomendações para futuras pesquisas. 2. TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO: ASPECTOS GERAIS

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O papel da Tecnologia da Informação como ferramenta de apoio à tomada de decisão tem proporcionado vários benefícios, desde a velocidade com que a decisão é tomada até o nível da informação que chega para os gestores, muitas vezes de cunho estratégico. Para alcançar este nível estratégico, é preciso considerar vários fatores fundamentais na implantação de um sistema de gestão empresarial. Para Almeida (1998), o sucesso de implantação de sistemas de gestão empresarial está ligado a três aspectos: i) abordagem ou metodologia para concepção e desenvolvimento de um sistema de informação para apoio empresarial; ii) orientação de busca de informação; e, iii) escolha de tecnologia de informática. De Sordi (2003) destaca diversas ações que ajudam no desenvolvimento de uma arquitetura de Tecnologia da Informação coerente e apropriada às atuais necessidades de uma organização, deve-se priorizar alguns pontos, como: i) visão de uma arquitetura de TI dinâmica e utilização de benchmark como parâmetro; ii) antes de qualquer ação é importante conhecer o portfólio de sistemas de informação da empresa (pontos fortes e fracos); iii) fazer da informação um direcionador estratégico; iv) não pensar mais em funções, mas sim em processos de negócio; e, v) eliminar o que for desnecessário quanto aos sistemas e tecnologia da informação. Dentro da TI, os sistemas de informação são ferramentas amplamente utilizadas pelas organizações. Segundo Laudon e Laudon (1999), sistemas de informação são um conjunto de componentes inter-relacionados que coleta, recupera, processa, armazena e distribui informação e têm a finalidade de facilitar a gestão das organizações através do planejamento, controle, coordenação, análise e decisão. Conforme os autores, um sistema de informação é constituído de três atividades básicas: i) entrada; ii) processamento; e, iii) saída. Os sistemas de informação são amplos em seu escopo, incluem as tecnologias, os procedimentos organizacionais, as práticas e as políticas que geram informação e as pessoas que trabalham com essa informação. De acordo com Almeida (1998), os sistemas têm que ser flexíveis para manipular os dados sob diversas maneiras, conforme as necessidades do gerente. As metodologias estruturadas, utilizadas no desenvolvimento de sistemas operacionais, não são adequadas à criação de sistemas de informação gerencial e de apoio à decisão. A atividade gerencial necessita de informações dinâmicas, pois os negócios se modificam e evoluem ao longo do tempo. É preciso orientar o sistema de informação gerencial de cima para baixo (top-down), através da determinação do problema e da busca das respostas às perguntas corretas. Almeida (1998) compartilha da mesma opinião de Goldratt (1991), e afirma que informação é a resposta à pergunta certa, onde reúnem-se os dados necessários para suprir o processo de tomada de decisão. A composição e estruturação dos sistemas de informação devem ser realizadas dentro da estrutura do processo de decisão. Portanto, significa que a informação não é a entrada para o processo de decisão, mas sim o resultado deste. Na tentativa de distinguir dado de informação, Goldratt (1991) explica que, para uma pessoa qualquer, um dado pode ser uma gama de caracteres que descreve algo sobre a realidade, mas para outra pessoa, este mesmo dado pode fornece a resposta para uma determinada situação, desta forma resulta numa informação, com o fornecimento das respostas às perguntas. As organizações têm necessidade de processar e distribuir as informações, neste sentido, Eaton e Smithers (1984), identificaram três formas de intercâmbio: i) comunicação individual (de pessoa para pessoa); ii) teledifusão das informações (de uma para muitas pessoas); e, iii) prestação de contas (registro de evento ou atividade). Para Laudon e Laudon (1999), um

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sistema deve ter dimensões organizacional e humana, além dos componentes técnicos, desta forma ele pode responder as necessidades da empresa de acordo com as diferentes funções e níveis organizacionais, evidenciados na Figura 1. Figura 1 – Integração dos sistemas de informação dentro de uma empresa Fonte: Adaptado de: Laudon e Laudon, (1999, p. 27). As organizações usam os sistemas de informação de várias formas e com objetivos distintos. Laudon e Laudon (1999) classificam os sistemas de informação segundo a função específica em: i) sistemas de fabricação e produção; ii) sistemas de vendas e marketing; iii) sistemas de finanças e contabilidade; e, iv) sistemas de recursos humanos. No nível mais elementar, os sistemas monitoram as atividades diárias de uma organização, como todos os sistemas básicos de produção, marketing, finanças e recursos humanos. Existem, também, sistemas que dão suporte gerencial à empresa, como os sistemas de informações gerenciais (SIG), sistema de suporte à decisão (SSD) e sistema de suporte executivo (SSE), este último atende a alta administração e dá apoio ao planejamento estratégico de longo prazo, já o SIG e o SSD estão direcionados aos gerentes dos níveis médios e inferiores e tratam de questões de curto prazo. Mañas (2002) relacionou uma série de atividades que auxiliam na construção de sistemas de informação que tem como finalidade à solução de diferentes tipos de problemas. As atividades que auxiliam na administração das informações são: i) interpretação (censores e técnicas para extrair características de dados contínuos); ii) predição (dedução de possíveis conseqüências para uma determinada situação); iii) diagnóstico (descrição de uma situação para inferir conclusões); iv) desenho (configurações de objetos baseados em um conjunto de restrições do problema); v) planejamento (atividades de desenho de ações); vi) rastreamento (comparação do comportamento atual com o esperado); vii) depuração (solução para um funcionamento incorreto); viii) reparação (plano para remediação); ix) instrução (diagnóstico para solucionar o mau desempenho); e, x) controle (conduz o comportamento total do sistema). Segundo Davenport (1994), existem numerosos exemplos de investimento em TI ao qual se associa pouca, ou nenhuma, mudança nos processos. As organizações erram em não considerar a visão de conjunto, pois isolam os dados dentro das funções existentes. O autor sugere que os projetos de processos devam ser desenvolvidos em conjunto com a tecnologia

Funcionários da Produção e Serviços

Níveis Organizacional

Trabalhadores do Conhecimento

Gerência Média Ou Intermediária

Gerência Sênior

Operações, Produção e Serviço

Problema Organizacional

Conhecimento

Tático

Estratégico

Finanças/ Contabilidade

Recursos Humanos

Vendas/ Marketing

Produção

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de informação e as demais habilidades que possam dar apoio. As informações dão sustentabilidade aos processos, tornando-os mais eficientes e eficazes como, por exemplo, medir e acompanhar o desempenho de processos, integrar atividades dentro e através de processos, personalizar processos para clientes e facilitar o planejamento e a otimização dos processos a longo prazo. Existem diversas técnicas de análise que são utilizadas nas organizações como base para tomada de decisão em investimento em tecnologia da informação. Para Graeml (2003), as técnicas tradicionais de análise de investimento parecem ser aceitáveis como apoio à decisão, porém, existem limitações em identificar os benefícios indiretos, futuros e intangíveis. Segundo o autor, benefícios como ganhos da integração na competitividade das empresas, expansão da cadeia de valor e a integração com clientes e fornecedores não são evidenciados através das técnicas de análise de investimento tradicional (valor presente líquido, payback, etc.). As organizações precisam utilizar, além das tradicionais, outras técnicas de análise que considere os benefícios intangíveis. Graeml (1998) sugere a criação de um conjunto de medidores e indicadores de desempenho específico para a TI que, por sua vez, deve estar alinhado com os indicadores corporativos, pois é impossível isolar as contribuições da TI das de outros fatores organizacionais. Existem sistemas, como o ERP, que são comercializados como pacotes de software comerciais. De acordo com Souza e Zwicker (1999), Enterprise Resource Planning – ERP são sistemas de informações integrados com a finalidade de dar suporte à maioria das operações de uma organização, possuem cinco características básicas: i) são pacotes de software comerciais; ii) são desenvolvidos a parir de modelos-padrão de processos; iii) integram os sistemas das diversas áreas da empresa; iv) utilizam um banco de dados corporativo; e, v) possui grande abrangência funcional. Quanto à utilização e aplicação do ERP nas organizações, Ozaki e Vidal (2001) citam as principais funcionalidades e áreas de abrangência: i) atividades administrativas (finanças, recursos humanos, contabilidade e tributário); ii) atividades comerciais (pedido, faturamento, logística e distribuição); e, iii) atividades produtivas (projeto, manufatura, controle de estoques e custos). Os autores salientam que a dinâmica das regras e práticas de negócios e a evolução constante da tecnologia trazem conseqüências como a incorporação de novas funcionalidades ao sistema. No seu estudo, Souza e Zwicker (1999) descrevem o ciclo de vida de sistemas ERP, conforme a Figura 2, que por sua vez representa as etapas do projeto de desenvolvimento e utilização de sistemas de informação e serve para melhor enfrentar os problemas de uma mudança organizacional causadas pelo programa ERP. Figura 2 – Ciclo de vida de sistemas ERP

Novas Necessidades, Conhecimento Acumulado Parâmetros já Estabelecidos

DECISÃO E SELEÇÃO

IMPLEMENTAÇÃO Fase 1

Fase 2 Fase n UTILIZAÇÃO

Fase 1 Fase 2

Fase n Pacote Selecionado Plano de Implementação Módulos Parametrizados,

Customizados Dados Migrados

Usuários Treinados

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Fonte: Adaptado de: Souza e Zwicker, (1999, p. 12). De acordo com a observação visual da Figura 2, pode-se perceber que as etapas do ciclo de vida de sistemas são: i) decisão e seleção, onde é realizada a adequação do software aos requisitos dos usuários. ii) implementação, onde os módulos do sistema são colocados em funcionamento; e, iii) utilização, onde se busca incorporar novas necessidades, corrigir problemas e apresentar melhorias. 3. O PREVENCIONISMO E A ENGENHARIA DE SEGURANÇA DE SISTEMAS É importante fazer algumas considerações sobre prevencionismo e engenharia de segurança de sistemas, pois este tema faz parte do objetivo deste trabalho, que é focalizar um sistema de informação que auxilie no controle de relato de incidentes como fonte de informação para minimizar acidentes. Segundo De Cicco e Fantazzini (1979), prevencionismo, no seu sentido mais amplo, engloba um número cada vez maior de fatores e atividades, desde ações de reparação de danos (lesões) até a prevenção de todas as situações geradoras de efeitos indesejados ao trabalho. A engenharia de segurança de sistemas e suas técnicas de aplicação surgiram da necessidade de segurança total em áreas onde não se poderia correr riscos. Segundo os autores, risco é uma ou mais condições de uma variável, com o potencial necessário para causar danos e, perigo expressa uma exposição relativa a um risco, que favorece a sua materialização em danos. Para Cicco e Fantazzini (1979), qualquer evento ou fato negativo com potencialidade para provocar dano é um incidente crítico ou “quase-acidente”. Os autores citam algumas pesquisas que evidenciaram que as condições inseguras detectadas nos acidentes sem lesão são as mesmas que desencadearam acidentes com lesões e, os futuros acidentes com lesões e/ou danos materiais podem ser prognosticados a partir da análise dos incidentes. Os incidentes críticos podem ser hierarquizados de acordo com os critérios de criticidade: i) prioridade 1: incidentes que podem afetar a integridade física dos recursos humanos; ii) prioridade 2: incidentes que ocasionam o fracasso da missão e objetivo do sistema ou empresa e que se traduz em paralisação total; iii) prioridade 3: incidentes que impedem o cumprimento da missão, em termos de entregar, em condições de preço e qualidade, o que o mercado espera; iv) prioridade 4: incidentes que altera a programação de recursos e esforços na produção de bens e serviços, e que traduzem em maior custo. 4. ASPECTOS METODOLÓGICOS No presente artigo foi utilizada uma pesquisa descritiva na forma de um estudo de caso. De acordo com Cervo e Bervian (2002), a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos sem manipulá-los, na tentativa de descobrir com que freqüência ocorre os fenômenos, bem como sua natureza e características. Em síntese, a pesquisa descritiva trabalha sobre dados ou fatos colhidos da própria realidade. Ainda, conforme Cervo e Bervian (2002), a pesquisa descritiva pode assumir diversas formas, entre elas o estudo de caso, que é definido como uma pesquisa sobre um determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade que seja representativo do seu universo. Este estudo foi realizado através da utilização de dados primários coletados da empresa Cimento Rio Branco S.A. que pertence ao Grupo Votorantim. Todos os dados primários são referentes ao

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ano de 2004. Também foram utilizados dados secundários extraídos da internet, documento público, e pesquisa bibliográfica. 5. O PAPEL DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO NO RELATO DE INCIDENTES São diversas as aplicações de tecnologia da informação numa organização, este estudo de caso aborda os aspectos de um sistema de informação para gerenciar os dados relativos à segurança e prevenção de acidentes, ou seja, uma abordagem prevencionista. O sistema de segurança da empresa Cimento Rio Branco foi idealizado e construído com base na teoria e no estudo de De Cicco e Fantazzini (1979), seguindo padrões definidos dentro das políticas relacionadas com as normas ISO 9000, ISO 14000, Sistema NOSA de segurança e outras políticas adotadas pela organização. Essas normas foram elaboradas para desempenhar várias funções, entre elas, a de garantir ao operador a segurança necessária para exercer suas atividades durante todo o processo. Todos os funcionários possuem treinamento conforme as normas e padrões adotados pela empresa, existem normas que são comuns a todos e são denominadas Padrão de Definição – PD e, existem normas que são específicas de cada área e operador, denominadas Padrão Operacional – PO. Anteriormente à implantação do sistema, a organização “controlava” os incidentes da seguinte forma: foram instruídos todos os funcionários para que relatem, através do formulário de bolso – denominado “relato de incidentes”, qualquer não-conformidade com as normas ou anormalidades que não estejam previstas nos padrões e que tenha potencialidade de provocar danos. Estes relatos forneciam dados que eram classificados por setor e colocados numa planilha eletrônica, permitindo, teoricamente, que os responsáveis de cada setor tomassem a devida providência para o problema. Este modelo adotado pela Cimento Rio Branco é semelhante ao da “Técnica de Incidentes Críticos”, descrita por De Cicco e Fantazzini (1979), ou seja, é um método para identificar erros e condições inseguras, que possam causar acidentes com lesões, tanto reais como potenciais, através de uma amostra de observadores-participantes, selecionados dentro da empresa. Porém, no caso da Cimento Rio Branco, o relato de incidentes não funciona através de amostragem, mas sim com a participação de todos os funcionários. Com a falta de um sistema de informação aliado a tecnologia de informática, os responsáveis encarregados pelo controle dos relatos de incidentes não conseguiam dar uma resposta rápida e precisa quanto às questões levantadas pelos funcionários, o que aumentava o risco de iminência de acidentes, pois as respostas e soluções dos problemas seguidamente chagavam atrasadas. Entre outras coisas, o que se espera com a implantação do sistema de informação é que seja possível elaborar relatórios e gráficos de acompanhamento que auxiliem a gerencia a tomar decisões mais seguras, precisas e rápidas, no que tange a prevenção de acidentes e danos em todo o processo. A falta de rapidez na identificação dos relatos de incidentes e seus devidos encaminhamentos de respostas e soluções traziam conseqüências negativas na motivação do pessoal interno. Segundo os responsáveis pelo sistema de relatos de incidentes, foram constatadas várias reclamações por parte dos funcionários no que tange a demora das respostas e soluções que deviam ser adotadas, muitos desses problemas identificados pelos relatos não eram resolvidos, devido, principalmente, pela falta de informação no tempo certo. Os funcionários não viam

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resultados com a prática de relatos de incidentes, o que gerou descrédito no sistema de segurança e desmotivação do pessoal. Esses relatórios e gráficos com suas respectivas tratativas e resultados, quando divulgados, pode tornar-se um aspecto motivacional, pois os funcionários sentem-se colaboradores da melhoria da empresa, ao mesmo tempo em que a organização reduz seus custos de fiscalização uma vez que os seus funcionários estão envolvidos na causa. Outro problema observado pela gerencia estava relacionado com as várias maneiras de formular o relato, pois o que a primeira vista poderia ser dois relatos distintos, muitas vezes era o mesmo, expresso de maneira diferente. O sistema de informação pode filtrar os dados (relatos de incidentes) e classificá-los quanto ao setor da empresa, grau de risco, tipo (saúde, segurança e meio ambiente). Com a implantação do sistema de informação, os colaboradores continuarão a relatar os incidentes através dos formulários mas, agora, aliado à tecnologia da informação, é possível garantir mais agilidade na distribuição, com o direcionamento automático dos relatos para o respectivo setor responsável, conforme ilustração da Figura 3. Figura 3 – Modelo de coleta e compilação dos relatos de incidências Um dos problemas relacionados ao antigo sistema de relato de incidentes era a falta de integração que havia entre os setores da empresa, não que seja por falta de coordenação e empenho dos responsáveis, mas por ser uma tarefa muito complicada, visto que existe, na empresa, diversos setores com muitos funcionários, todos gerando diariamente uma enorme quantidade de dados através dos relatos de incidência. A integração dos setores da organização através do sistema de informação, permite que cada área participe na solução e tratativas dos relatos de incidentes, conforme a Figura 4. Pode existir um problema que para a sua solução envolva mais de um setor, por exemplo, uma pane elétrica e mecânica em uma máquina exigindo, assim, o envolvimento mútuo do setor de manutenção elétrica e manutenção mecânica. Portanto, o sistema deve fazer o elo de ligação entre todas as áreas da empresa, permitindo, assim, o intercâmbio de informações de forma menos burocrática, contribuindo para a velocidade do processo de resolução de problemas. Figura 4 – Intercâmbio dos relatos de incidências

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Setor A

Setor B

Setor C

Setor n

Colaboradores Incidências Sistema Distribuição

Setor n

Setor E

Setor D Setor C

Setor B

Setor A

Relato de Incidentes

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O funcionário da empresa é um colaborador permanente e não, obrigatoriamente, restrito a observar relatos de incidentes dentro de seu setor, podendo, então, no decorrer de suas atividades ou não, deparar com qualquer situação ou condição com potencialidade para provocar danos, relatando mesmo que não seja em sua área de trabalho. Caberá ao sistema, identificar e encaminhar para a respectiva unidade da organização que, por sua vez, orientará os respectivos técnicos responsáveis pela solução, para serem providenciadas as devidas tratativas do relato de incidente, conforme ilustra da Figura 5. Figura 5 – Fluxo da informação de incidência por setor Através da tecnologia da informação, a empresa pretende melhorar vários problemas que vinham ocorrendo com o atual sistema de relato de incidentes. Os técnicos de segurança prevêem melhorias para os seguintes aspectos do atual sistema de relatos de incidentes: i) agilidade e rapidez na identificação do tipo e da magnitude dos problemas potenciais produtores de lesões; ii) garantia de avaliação contínua para os diferentes setores da organização; iii) facilidade de categorizar os relatos em níveis de segurança; iv) orientar o técnico quais setores apresentam maiores riscos de ocorrência de acidentes; v) integrar os setores da empresa com garantia de maior agilidade nas soluções dos problemas; vi) minimizar os custos de fiscalização das não-conformidades; vii) minimizar os custos de controle dos incidentes; viii) maximizar a produtividade do técnico de segurança, com a redução de trabalhos burocráticos (relatórios, gráficos, estatísticas e etc); e, ix) focalizar as atividades específicas da área (desempenho de segurança, prevenção de acidentes, treinamento e etc). Um benefício que os técnicos de segurança esperam que a tecnologia da informação proporcione é a rapidez e agilidade de acesso aos dados e informações históricas do sistema de segurança e suas tratativas (resoluções). Quando um funcionário descreve um incidente e encaminha para o sistema de informação, sua tratativa é direcionada para o responsável e resolvida através de um método de solução de problema. Esse método pode ser armazenado no sistema e acessado a qualquer momento em que se evidencie a ocorrência do mesmo incidente, ou seja, quando for detectado um relato de incidência que já ocorreu em outra ocasião, o técnico responsável pode localizar os dados daquela ocorrência como, por exemplo, o período (data e hora), como aconteceu e qual a solução que foi tomada (método) e porque aconteceu o problema (causa). Através do armazenamento de informações históricas a empresa pode reduzir os gastos com retrabalhos na resolução de problemas de segurança, de processo, de manutenção, entre

Setor A

Setor A

Setor B

Setor C

Setor n

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Empresa Unidade Responsável Solução

Tratativa

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outros. As informações históricas podem evidenciar outra hipótese, de que as ocorrências seguidas da mesma incidência podem ser devido a uma resolução que não é a melhor alternativa, pois quando houver repetição sistemática do mesmo problema é sinal que o mesmo não está sendo solucionado de forma concisa e duradoura. 6. CONCLUSÕES Este estudo teve como objetivo principal evidenciar mais uma aplicação da tecnologia da informação nas organizações. Procurou-se demonstrar qual a finalidade que os idealizadores queriam deste sistema de informação e, como os problemas e dificuldades que existem no sistema de segurança influenciaram e serviram de parâmetro para a construção do modelo de gestão pretendido pelos responsáveis pela área de segurança. Para que o projeto deste sistema de informação funcione com sucesso é necessário o envolvimento de todos os funcionários. Apesar da tecnologia da informação agilizar e tornar muito prático o trabalho, ela não funciona sozinha, ou seja, é preciso um acompanhamento constante dos responsáveis e contribuição de todos os funcionários da empresa para que este sistema de segurança possa dar os resultados esperados, os técnicos de segurança terão que coordenar todo o projeto, inclusive promover seminários e treinamento sobre o novo sistema. Existe uma estimativa positiva quanto aos benefícios que este sistema de informação pode trazer para a organização como, por exemplo, redução da burocracia, redução de custos com a segurança do trabalho, melhorias das condições de trabalho, feedback em tempo real, histórico das tratativas e resoluções dos problemas, controle das incidências, facilidade de relatórios e gráficos com informações importantes para tomada de decisão, aumento da motivação no trabalho, responsabilidade social e ética quanto às questões de segurança dos trabalhadores. Por fim, fica como sugestão para novos estudos conferir se os problemas expostos neste artigo foram sanados com a integração do sistema de segurança e a tecnologia da informação, para este posterior estudo, recomenda-se esperar um ou dois anos para que o sistema seja efetivamente implantado em toda a empresa. Após este período de adaptação e correção dos problemas pertinentes à gestão do sistema, seria interessante realizar uma pesquisa exploratória com os usuários do sistema (técnicos de segurança) e com os relatores das incidências (amostra do quadro de funcionários), para confrontar a diferença do planejado com a realidade. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, F. C. Desenvolvimento de sistemas de informação gerencial e de apoio à decisão. In: Anais do III SEMEAD, São Paulo, 1998. CASTELLANI, M. R. Impactos da tecnologia da informação: entre sonho e pesadelo. In: Anais do III SEMEAD, São Paulo, 1998. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. DAVENPORT, T. H. Reengenharia de processos: como inovar na empresa através da tecnologia da informação. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1994. De CICCO, F. M. G. A. F.; FANTAZZINI, M. L. Introdução à engenharia de segurança de sistemas. São Paulo: Fundacentro, 1979. De SORDI, J. O. Tecnologia da informação aplicada aos negócios. São Paulo: Atlas, 2003.

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