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Conversores Multiníveis em Corrente

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Page 1: Conversores Multiníveis em Corrente

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

Conversores Multiníveis em Corrente

Tese submetida à Universidade Federal de Santa Catarina

para a obtenção do Grau de Doutor em Engenharia Elétrica

Henrique Antônio Carvalho Braga

Florianópolis, 1996

Page 2: Conversores Multiníveis em Corrente

ii

Conversores Multiníveis em Corrente

Henrique Antônio Carvalho Braga

Esta Tese foi julgada adequada para obtenção do título de Doutor em Engenharia,

especialidade Engenharia Elétrica, área de Sistemas de Energia, e aprovada em sua forma

final pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal de

Santa Catarina.

Florianópolis, 18 de Dezembro de 1996.

Prof. Ivo Barbi, Dr. Ing. Orientador

Prof. Adroaldo Raizer, Dr. Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Ivo Barbi, Dr. Ing.

Prof. Arnaldo José Perin, Dr. Ing.

Prof. Enio Valmor Kassick, Dr.,

Prof. Fernando Luiz Marcelo Antunes, Ph.D.

Prof. Gilberto Costa Drumond de Sousa, Ph.D.

Page 3: Conversores Multiníveis em Corrente

iii

Para Fernanda, Lucas e Mateus,

que pacientemente torceraram, sofreram

e aguardaram por este momento.

Page 4: Conversores Multiníveis em Corrente

iv

AGRADECIMENTOS

A Deus, Primeiro Cientista, que convida o homem a participar da imensa obra de

criação e descobrimento do universo.

A meus pais, Luiz e Aracy, pela paciência e dedicação, e por terem me proporcionado

as melhores opções de ensino, dentro de suas possibilidades.

Ao Professor Ivo Barbi, pelo profissionalismo, determinação, amizade e solicitude

durante todas as etapas deste trabalho.

Aos professores e profissionais do Instituto de Eletrônica de Potência da Universidade

Federal de Santa Catarina - INEP/UFSC, pela colaboração em diversos momentos.

Ao amigo, colega e atual professor do INEP, Alexandre Ferrari de Souza, pelas

valiosas colaborações e discussões técnicas, que me propiciaram evoluir em meus

conhecimentos.

Aos colegas e amigos, Carlos Alberto Canesin (professor da UNESP/Ilha Solteira),

Carlos Augusto Ayres (professor da EFEI/MG) e Ewaldo Luiz de Mattos Mehl (professor da

UFPR) pelas colaborações em várias ocasiões.

Aos Bolsistas de Iniciação Científica Juliano Anderson Pacheco, Luiz Cláudio Souza

dos Santos e Frank Weiner Heerdt, pelas contribuições em determinadas etapas deste

trabalho.

Aos amigos de Florianópolis, que com seu carinho, ajudaram a mim e minha família a

superar a saudade e distância do lar.

Ao sofrido Povo Brasileiro, muitas vezes sem o mínimo direito de acesso à Escola,

que com seu suor e impostos me permitiram atingir este estágio de educação.

Page 5: Conversores Multiníveis em Corrente

v

BIOGRAFIA DO AUTOR

HENRIQUE ANTÔNIO CARVALHO BRAGA nasceu em Aimorés, MG, em 01 de

agosto de 1959. Estudou até a quarta série do Primeiro Grau no Grupo Escolar Machado de

Assis, em sua cidade natal. Da quinta à oitava série do Primeiro Grau freqüentou o Instituto

Educaional Carmo, também em Aimorés, MG. O primeiro ano do Segundo Grau foi cursado

no Colégio Tiradentes da Polícia Militar, em Manhuaçu, MG. Em 1976 mudou-se para Juiz

de Fora, onde cursou os dois últimos anos do Segundo Grau e preparou-se para o Exame Pré-

Vestibular pelo Sistema CAVE de ensino. Prestou Vestibular em 1978 e foi aprovado na

Pontifícia Universidade Católica - PUC- de Belo Horizonte e na Universidade Federal de Juiz

de Fora - UJFJ, onde classificou-se em quinto lugar e efetivamente concluiu o curso de

Engenharia Elétrica, em 1982. Em 1983 ingressou no Curso de Mestrado em Engenharia

Elétrica da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade

Federal do Rio de Janeiro - COPPE/UFRJ. Orientado pelo Professor Edson Hirokazu

Watanabe, obteve o grau de Mestre em Ciências, em abril de 1988, na área de Eletrônica de

Potência. Em 1985 classificou-se em primeiro lugar, em concurso público, para provimento

de vaga de Professor de Eletrônica no Departamento de Circuitos Elétricos da Faculdade de

Engenharia da UFJF. Ingressou no quadro docente da UFJF em março de 1986, onde se

mantém ligado profissionalmente até a presente data. Na UFJF foi Coordenador do

Laboratório de Microcomputação - LABMICRO, Tesoureiro da Associação dos Professores

de Ensino Superior - APES e Chefe do Departamento de Circuitos Elétricos. Também foi

fundador e primeiro Conselheiro do Ramo Estudantil do Instituto dos Engenheiros Elétricos e

Eletrônicos - IEEE na UFJF. É membro da Sociedade Brasileira de Automática - SBA, da

Sociedade Brasileira de Eletrônica de Potência - SOBRAEP e do IEEE.

Page 6: Conversores Multiníveis em Corrente

vi

Sumário Página

Simbologia e Abreviaturas ___________________________________________________ix

Resumo___________________________________________________________________xi

Abstract _________________________________________________________________ xii

1. Introdução ______________________________________________________________ 1

1.1. Associação Série de Chaves Semicondutoras _____________________________________ 4

1.2. Associação Paralela de Chaves Semicondutoras __________________________________ 4

1.3. Associação de Conversores Estáticos ___________________________________________ 7

1.3.1. Associação Série de Conversores Estáticos____________________________________________ 8

1.3.2. Associação Paralela de Conversores Estáticos ________________________________________ 13

1.3.3. Conversão Estática Distribuída ____________________________________________________ 16

1.4. Associação de Células de Comutação __________________________________________ 18

1.5. Objetivos e Metodologia_____________________________________________________ 23

2. A Célula Multinível em Corrente ___________________________________________ 26

2.1. Conceitos Fundamentais ____________________________________________________ 26

2.2. Aplicação ao Conversor Buck-2 células ________________________________________ 34

2.3. Aplicação aos Conversores CC-CC____________________________________________ 40

2.4. Aplicação aos Inversores de Tensão ___________________________________________ 41

2.5. Aplicação aos Inversores de Corrente__________________________________________ 42

2.6. Aplicação aos Retificadores __________________________________________________ 44

2.7. Conclusões ________________________________________________________________ 45

3. Modelo Matemático dos Conversores MNC___________________________________ 46

3.1. Modelo da chave PWM _____________________________________________________ 46

3.2. Modelo Entrada-Saída do Conversor Buck - 2 células ____________________________ 49

3.3. Modelo Entrada-Saída do Conversor Buck - 3 células ____________________________ 55

3.4. Modelo Entrada-Saída do Conversor Boost - 2 células____________________________ 60

Page 7: Conversores Multiníveis em Corrente

vii

3.5. Modelo Controle-Saída do Conversor Buck - 2 células____________________________ 62

3.6. Modelo Controle-saída do Conversor Boost - 2células ____________________________ 64

3.7. Conclusões ________________________________________________________________ 68

4. Nova Técnica de Paralelismo ______________________________________________ 69

4.1. O Paralelismo Convencional _________________________________________________ 69

4.2. Paralelismo de IGBTs_______________________________________________________ 70

4.3. A Célula MNC como Técnica de Paralelismo ___________________________________ 72

4.4. Projeto dos Indutores de Equilíbrio ___________________________________________ 77

4.4.1. Paralelismo MNC Aplicado aos Conversores CC-CC___________________________________ 80

4.4.2. Paralelismo MNC Aplicado aos Inversores de Tensão e Retificadores de Corrente ___________ 87

4.4.3. Paralelismo MNC de Inversores de Corrente e Retificadores de Tensão ____________________ 95

4.5. Técnicas Alternativas de Paralelismo de Células de Comutação ____________________ 98

4.6. Considerações Sobre a Dinâmica do Equilíbrio de Correntes _____________________ 107

4.7. Conclusões _______________________________________________________________ 109

5. Conversores CC-CC Multiníveis em Corrente ________________________________ 110

5.1. Conteúdo Harmônico e Interferência Eletromagnética __________________________ 111

5.2. Corrente Multinível nos Conversores CC-CC __________________________________ 114

5.3. Metodologia de Projeto e Limitações Tecnológicas ______________________________ 121

5.4. Compensação do Desequilíbrio de Correntes___________________________________ 125

5.5. Outras Alternativas para Equilíbrio de Correntes ______________________________ 132

5.6. Conclusões _______________________________________________________________ 136

6. Inversores de Corrente e Retificadores de Tensão MNC________________________ 137

6.1. Inversor de Corrente ______________________________________________________ 137

6.2. Inversores de Corrente MNC________________________________________________ 140

6.3. Estratégias de Chaveamento ________________________________________________ 141

6.4. Seqüência Assimétrica de Chaveamento_______________________________________ 144

6.5. Seqüência Simétrica de Chaveamento ________________________________________ 153

6.6. Estratégia Genérica de Chaveamento_________________________________________ 155

Page 8: Conversores Multiníveis em Corrente

viii

6.7. Inversor MNC Polifásico ___________________________________________________ 159

6.8. Resultados Experimentais __________________________________________________ 161

6.9. Retificador de Tensão MNC ________________________________________________ 167

6.10. Conclusões ______________________________________________________________ 172

7.Um Pré-Regulador de 3,2 kW com FP Unitário

e Comutação Suave em Tensão____________________________________________ 173

7.1. Definição do Sistema_______________________________________________________ 173

7.2. Comutação Não-Dissipativa_________________________________________________ 179

7.3. Orientações de Projeto _____________________________________________________ 186

7.4. Resultados Experimentais __________________________________________________ 201

7.5. Conclusões _______________________________________________________________ 206

8.Conversores Multiníveis em Tensão e Corrente _______________________________ 207

8.1. Proposta de uma Topologia Genérica _________________________________________ 207

8.2. Conversor Buck -2 Células Multinível em Tensão e Corrente _____________________ 209

8.3. Conclusões _______________________________________________________________ 214

9.Conclusão Geral ________________________________________________________ 215

Referências Bibliográficas _________________________________________________ 223

Apêndice A - Arquivos de Simulação no Pspice® _______________________________ 228

Page 9: Conversores Multiníveis em Corrente

ix

Simbologia e Abreviaturas

SÍMBOLO SIGNIFICADO UNIDADE

utilizado para indicar fluxo convencional positivo de correntes

↑ utilizado para polaridade positiva convencional de tensões (ou +/-)

A terminal ativo da célula de comutação unidirecional em tensão

C terminal comum da célula de comutação

cf. confira ou conforme

Co capacitância do capacitor filtro de tensão µF

δ quociente entre as razões cíclicas D2/D1 para conversor MNC-2 células

D razão cíclica

∆i variação de corrente nos indutores ou chaves

Dq razão cíclica da célula q (também usado para denominar diodos)

∆t atraso no comando das chaves s

e.g. exempli gratia (por exemplo)

f freqüência escalar de uma grandeza alternada (senoidal ou não) Hz

φ ângulo relativo ao atraso no comando das chaves

fS freqüência de chaveamento de um conversor estático Hz

I corrente de fonte independente cc A

i corrente em ramo de um circuito (valor instantâneo) A

IC corrente média que sai do nó comum, C, de uma célula de comutação A

λ número de níveis de corrente de um conversor MNC

Lo indutância filtro de corrente H

Page 10: Conversores Multiníveis em Corrente

x

SÍMBOLO SIGNIFICADO UNIDADE

m margem de segurança usada no projeto de indutores de equilíbrio

M índice de modulação

n número de células de comutação associadas

P terminal passivo da célula de comutação unidirecional em tensão

q razão entre a resistência parasita, rL, do indutor de equilíbrio e r

θ representação do tempo em grandeza angular (é igual a ωt) rad (ou o)

r resistência “média”de condução de uma célula de comutação Ω

ρ razão entre a resistência série do indutor de filtro (nó C) e r

rL resistência parasita dos indutores de grampeamento Ω

Ro resistência de carga Ω

rON resistência de condução de chaves ou diodos (modelo resistivo) Ω

t tempo (em segundos, ms ou µs) s

T1, T2 terminal ativo ou passivo da célula de comutação bidirecional em tensão

THD taxa de distorção harmônica (“total harmonic distortion”) %

TS período de chaveamento (=1/fS) s

V tensão de fonte independente cc ou valor eficaz de tensão senoidal V

v tensão entre nós de um circuito (valor instantâneo) V

ω freqüência angular de um sinal alternado rad/s

Page 11: Conversores Multiníveis em Corrente

xi

Resumo

Neste trabalho propõe-se uma nova estrutura de associação paralela de células de

comutação que também apresenta múltiplos níveis de corrente nos elementos internos de

equilíbrio. Baseado nesta característica, o conceito de multiníveis em corrente é introduzido

aqui, exigindo uma diferenciação na terminologia convencional empregada até a presente

data.

A célula genérica multinível em corrente (MNC) consiste na associação paralela de

células de comutação por meio de indutores de grampeamento de corrente que garantem, na

condição recomendada de projeto, uma distribuição de corrente equilibrada entre as chaves

semicondutoras da estrutura. A estrutura genérica pode ser empregada como técnica de

paralelismo, situação em que as chaves são disparadas com o mesmo sinal de comando, ou na

geração de multiníveis de corrente no ramo de tensão da célula, aplicação que exige

defasagens e estratégias de comando específicas, em determinados casos.

Como técnica de paralelismo a célula MNC possui a vantagem de empregar um menor

número de elementos de equilíbrio, quando comparada com outras alternativas. A técnica

garante, ainda, um mecanismo de supressão de picos de corrente superando, assim, a técnica

convencional de associação paralela de chaves. Por meio desta característica, acredita-se

obter conversores mais robustos e confiáveis. Praticamente todos os conversores estáticos,

operando em condução contínua de corrente, podem beneficiar-se desta nova técnica.

Enquanto projetada para aproveitamento dos multiníveis de corrente a célula MNC é

capaz de otimizar o conteúdo harmônico do conversor, reduzir interferência eletromagnética

conduzida ou irradiada e, em determinados casos, viabilizar a obtenção de um fator de

potência “quase-unitário”.

No corpo do trabalho foram incluídas análises teóricas, equacionamento matemático,

resultados de simulação e experimentação para, praticamente, todos os casos estudados.

Novas estruturas e técnicas também foram sugeridas aqui, pois enquadram-se também no

tema principal proposto.

Page 12: Conversores Multiníveis em Corrente

xii

Abstract

This work presents a new electric structure for parallel connection of commutation

cells, having its internal elements conducting a number of intermediate current levels. By this

way, the current multilevel concept has been introduced for the very first time, requiring a

different terminology from the one employed nowadays.

The generic current multilevel cell associates any number of single commutation cells

by means of clamping inductors which guarantee, assuming a good design, a balanced

distribution of currents among the semiconductor switches of the structure. The generic

structure can be used to substitute the conventional parallel connection technique, a situation

that implies in the same gate signal for all the active switches, or to generate current

multilevels through the cell voltage branch, an application that requires delayed gate signals

and specific switching strategies, depending on the case.

As a new paralleling technique the new current multilevel cell has the advantage of

employing less balancing elements, as compared to other similar alternatives. The technique

also ensures a current clamping mechanism, which prevents that a single switch conducts

alone all the current of the structure. This situation is a known problem in the conventional

paralleling technique. Thus, the new technique can provide more reliable and robust

paralleled converters. Almost all static converters can take benefit of the new paralleling

technique.

When it is designed to generate current multilevels, the new cell can provide

converters with harmonics optimization (low THD), reduced irradiated and conducted EMI

and also a “quasi-unity” power factor rectifier.

Along this text a number of theoretical analyses have been included as well as

mathematical models, simulation and experimental results for almost all the studied cases.

Some other techniques and structures have been also suggested here, since they are related to

the main goal of the whole work too.

Page 13: Conversores Multiníveis em Corrente

1

1. Introdução

m dos mais importantes enfoques de pesquisa na indústria de componentes

usados em Eletrônica de Potência consiste na busca de dispositivos

semicondutores de potência capazes de conduzir elevadas correntes e

paralelamente suportar grandes valores de tensão quando bloqueados.

Neste sentido foram desenvolvidos novos dispositivos na última década, cada um dos quais

apresentando características máximas de tensão, corrente e freqüência qualificando-os para

diferentes aplicações.

De acordo com a tecnologia empregada na fabricação pode-se classificar os atuais

componentes semicondutores de potência em quatro grandes grupos principais: os tiristores

(SCR, GTO, etc.), os transistores de junção bipolar (BJT), os transistores de efeito de campo

(JFET, MOSFET, etc.) e os transistores híbridos ou transistores bipolares de gatilho isolado

(IGBT). Esta ordem de apresentação é cronológica, ou seja, os tiristores inauguraram a era

dos semicondutores controlados de potência enquanto os IGBTs consistem numa tecnologia

mais recente. Alguns destes componentes ocupam faixas bastante específicas de aplicações e

níveis de potência. Os tiristores, por exemplo, ainda reinam absolutos em aplicações de alta

potência e baixa freqüência (e.g. tração elétrica e transmissão HVDC - alta tensão/corrente

contínua). Já os IGBTs têm sido aplicados em freqüências intermediárias (menor que 50kHz)

em potências cada vez maiores (já superaram 1 MVA em 1996), chegando atualmente a

ameaçar os tiristores de potência mais baixa como os GTOs. Os IGBTs são usados hoje em

aplicações que vão desde fontes chaveadas a acionamento de motores. Os MOSFETs, por

outro lado, têm sido utilizados em médias potências e altas freqüências (50 a 600_kHz),

tipicamente em fontes chaveadas com comutação não dissipativa, periféricos de

computadores, eletrônica automotiva e fontes de potência para aquecimento indutivo [1]. Os

transistores bipolares ocupam, juntamente com os MOSFETs, a menor faixa de potência (até

dezenas de kW), sendo capazes de chavear satisfatoriamente até 20 kHz (mas em operação

linear operam até 30 MHz). Em determinadas aplicações tanto os MOSFETs quanto os

transistores bipolares também têm sido ameaçados por componentes mais modernos, como o

IGBT. Circuitos Integrados de potência (“smart power IC’s”) consistem em um novo capítulo

da Eletrônica de Potência, e têm sido desenvolvidos para atuar até na faixa de médias

potências, devendo substituir componentes discretos e circuitos convencionais de disparo e

UCapítulo

Page 14: Conversores Multiníveis em Corrente

2

proteção. Outros componentes recentes incluem o “MOS-controlled thyristor” (tiristor com

tecnologia de gate MOS, ou ainda tiristor de controle MOS) e o “Emitter-switched thyristor”

(ou tiristor chaveado pelo emissor). Eles devem ser utilizados em aplicações que exijam

tensões superiores a 2 kV [1], [2], [3].

A Tabela 1.1 reúne um conjunto de informações a respeito do estado-da-arte dos

componentes básicos mencionados aqui.

TABELA 1.1

- VALORES NOMINAIS MÁXIMOS DOS COMPONENTES (1996) -

COMPONENTE TENSÃO, V CORRENTE, A FREQÜÊNCIA, kHz POTÊNCIA, kVA

TIRISTOR 10.000 5.000 2 10.000

TRANSISTOR 1.000 300 20 200

MOSFET 1.000 100 50 50

IGBT 3.000 1.000 20 3.000

Para se atingir os níveis de tensão e corrente de alguns elementos da Tabela 1.1 os

fabricantes recorrem, em geral, a técnicas de produção de circuitos integrados. Para ampliar

os limites de corrente são produzidos módulos que contêm componentes discretos em paralelo

(na prática um paralelismo de “chips”). Estes módulos minimizam problemas de “layout” e

divergência de parâmetros, permitindo uma operação segura com elevados níveis de corrente

apesar de, geralmente, serem de alto custo[4]. Para os IGBTs, por exemplo, o limite de

corrente e potência dos componentes discretos está em torno de 70A e 200kVA.

Os valores desta tabela são aproximados, devendo ser usados apenas como estimativa,

já que a diversidade de fabricantes e tecnologias oferecem um universo muito extenso de

alternativas. Deve-se observar também que nem sempre é possível encontrar um componente

capaz de operar simultaneamente com os valores máximos indicados em uma mesma linha da

tabela. Outros parâmetros como a energia gasta no comando e corte, queda de tensão em

condução, custo, etc., também são fundamentais para a caracterização de um determinado

componente, mas não foram incluídos na tabela. A freqüência de trabalho máxima mostrada

não considera a possibilidade de circuitos de comutação suave, o que certamente ampliaria os

limites descritos. Os valores indicados consideram um limite aceitável de perdas de

chaveamento em operação dissipativa.

Page 15: Conversores Multiníveis em Corrente

3

A Fig. 1.1 mostra as principais aplicações de Eletrônica de Potência, em função da

tensão de bloqueio e corrente de condução exigida dos componentes semicondutores.

0.1

1

10

100

1000

Cor

rent

e de

Con

duçã

o, A

10 100 1000 10 000Tensão de Bloqueio, V

HVDCTRAÇÃOELÉTRICA

“BALLASTS” DEILUMINAÇÃO

ELETRÔNICAEMBARCADA

(AUTOMOTIVA)

FONTESCHAVEADAS

AUTOMAÇÃOINDUSTRIAL

ACIONAMENTODE MOTORES

Fig. 1.1- Aplicações típicas da Eletrônica de Potência.

Da Tabela 1.1 e Fig. 1.1 fica claro que alguns componentes podem ser utilizados em

diferentes aplicações, enquanto outros estão limitados a faixas específicas de potência. Mas,

os fabricantes de semicondutores mantêm um trabalho contínuo na pesquisa de novos

componentes, especialmente na tentativa de atingir e superar a marca dos kV e kA. Conforme

mencionado anteriormente uma possibilidade é produzir módulos de potência [4], [5]. Outras

técnicas incluem a extensão da junção de bloqueio direto por toda a área do dispositivo e não

somente em parte dele, conforme aplicado no tiristor de controle MOS [6]. Entretanto, os

novos dispositivos são normalmente mais caros, de difícil acesso e pouco conhecidos. Os

engenheiros preferem, então, empregar componentes bem estabelecidos no mercado, de baixo

custo e confiáveis. Assim, se uma determinada aplicação exige valores de tensão ou corrente

superiores aos que o dispositivo escolhido é capaz de lidar recorre-se ao processo de

associação de componentes. Associação série para grandes tensões e paralela para grandes

correntes. Este procedimento exige, em geral, um projeto cuidadoso e preciso para

determinados componentes. Alguns problemas comuns são: dificuldade de sincronismo na

entrada em condução e bloqueio, variações bruscas de tensão ou corrente nos dispositivos,

instabilidade térmica, etc.

Page 16: Conversores Multiníveis em Corrente

4

Para melhorar a confiabilidade da associação série e paralela de alguns tipos de chaves

semicondutoras de potência pode-se recorrer a diversos recursos, alguns bem difundidos na

literatura técnica.

1.1. Associação Série de Chaves Semicondutoras

A associação série de componentes requer procedimentos mais ou menos comuns para

os diferentes tipos de chaves semicondutoras. O problema aqui consiste em garantir que todos

os componentes da associação estejam submetidos à mesma tensão (dentro de certa

tolerância), tanto sob o ponto de vista estático quanto dinâmico. Do ponto de vista estático

ocorre que os componentes nem sempre possuem o mesmo modelo de estado ON (quedas de

tensão e impedâncias). A situação se agrava para componentes de lotes diferentes e é menos

crítica dentro de um mesmo lote. Sob o ponto de vista dinâmico existe a possibilidade de

apenas um componente ter que suportar toda a tensão do conversor, admitindo que os demais

tenham entrado em condução antes.

Os SCRs (“Silicon Controlled Rectifiers”) podem ser usados como exemplo para

ilustrar a necessidade de uma rede auxiliar, a fim de minimizar os problemas da associação

série simples. A solução mais comumente empregada é mostrada na Fig. 1.2, onde se percebe

a existência de elementos resistivos em paralelo com circuitos “snubbers” convencionais.

Naturalmente a impedância desta rede auxiliar deve ser projetada para não interferir no

chaveamento normal dos componentes.

Rede Auxiliarde EquilíbrioEstático e Dinâmicode Tensão

Fig. 1.2- Associação série de SCRs.

Os demais componentes semicondutores de potência requerem estruturas similares

para garantia da distribuição equilibrada de tensão, estática e dinâmica.

1.2. Associação Paralela de Chaves Semicondutoras

A Fig. 1.3 mostra o que ocorre em uma associação paralela de um par de dispositivos

quaisquer quando um componente assume toda a corrente durante o início de condução ou

bloqueio do par. Imperfeições de “layout”, indutâncias parasitas de fios e cabos e

Page 17: Conversores Multiníveis em Corrente

5

divergências no comportamento dinâmico dos dispositivos, respondem por problemas na

entrada em condução ou bloqueio de virtualmente todos os componentes semicondutores.

Atrasos no bloqueio podem ocorrer principalmente com transistores, devido ao tempo de

armazenagem (“storage time”), e com IGBTs, devido ao efeito da corrente de cauda [7].

tempo

(a) (b)

Fig. 1.3 - Chaveamentos com desequilíbrio de corrente em um par paralelo.

a) Entrada em condução; b) Bloqueio

Para viabilizar a associação paralela de transistores bipolares, BJTs, torna-se

necessária a utilização de resistores de emissor, como mostrado na Fig. 1.4. A ausência desses

elementos pode determinar a condução permanente de apenas uma chave, provocando o

fenômeno conhecido como desequilíbrio térmico (“thermal runaway”). Esta situação acontece

porque a tensão de saturação, VCEsat, do transistor possui coeficiente de temperatura negativo.

Ou seja, quanto mais corrente conduz um componente maior a sua temperatura, o que reduz a

sua tensão de saturação e o expõe o melhor caminho para a corrente. Esta realimentação

determinará, por fim, uma temperatura superior à que o componente pode suportar,

provocando sua destruição.

R R

Q Q1 2

i i1 2

Fig. 1.4- Associação Paralela de Transistores Bipolares.

Corrente na Chave 1

Corrente na Chave 2

Page 18: Conversores Multiníveis em Corrente

6

A associação paralela de SCRs (Silicon Controlled Rectifiers) pode também ser

inviabilizada pelos diferentes tempos de entrada ou saída de condução dos elementos. O

equilíbrio estático é resolvido, em geral, pela conexão série de fusíveis (cuja queda de tensão

é superior à dos tiristores, definindo assim uma distribuição de corrente equilibrada). Sob o

ponto de vista dinâmico, entretanto, costuma-se utilizar indutâncias em série com os

elementos semicondutores, como representado na Fig. 1.5a. Isto tem o efeito de limitar a taxa

de di/dt que poderia ser destrutiva para alguns elementos. Em alguns casos economicamente

justificáveis pode-se utilizar ainda indutâncias acopladas, como mostra a Fig. 1.5b. Deve-se

lembrar também que os SCRs devem ser protegidos contra dv/dt extremos, o que exige um

circuito snubber em paralelo com os componentes semicondutores (não mostrados na figura)

aumentando, assim, a complexidade da estrutura.

(a) (b)

Fig. 1.5- Associação Paralela de SCRs.

a) Indutâncias em série; b) Indutâncias acopladas

O coeficiente de temperatura positivo da resistência de condução dos MOSFETs

torna-se vantajoso para este tipo de componente semicondutor. Quanto maior a corrente de

um elemento em paralelo, maior sua resistência condução, o que em contrapartida limita o

crescimento da corrente, determinando um melhor equilíbrio estático de corrente. Assim, os

MOSFETs não requerem normalmente resistores ou indutores quando associados em paralelo.

Esta observação se aplica, no entanto, apenas para as condições de regime permanente do

componente. Para condições dinâmicas, diferenças no tempo de chaveamento e diferenças nas

indutâncias externas (cabos e parasitas) podem determinar um severo desequilíbrio refletido

em transitórios de corrente e tensão que afetam a operação do dispositivo. Os estados

dinâmicos são complexos e são função de muitas variáveis. Desta forma os componentes em

paralelo que sofrem as ações transitórias do desequilíbrio de corrente serão continuamente

submetidos a esforços diferentes dos demais. É possível afirmar, portanto, que este regime

poderá definir uma redução de confiabilidade e vida-útil dos circuitos em questão.

Em função dos recentes avanços na fabricação de IGBTs (“insulated gate bipolar

transistors”) diversos trabalhos têm sido publicados sobre as características destes elementos

Page 19: Conversores Multiníveis em Corrente

7

quando associados em paralelo [8], [9], [10]. Os IGBTs mais comuns no mercado são do tipo

epitaxial (“punch-through” ou PT) e possuem coeficiente de temperatura negativo (em relação

à tensão de saturação coletor-emissor), semelhante aos transistores bipolares. Desta forma

estes componentes também podem sofrer o efeito do desequilíbrio térmico, sendo

imprescindível a montagem dos componentes num mesmo dissipador [11]. Para garantir o

equilíbrio dinâmico de corrente em uma associação paralela de IGBTs exige-se um projeto

cuidadoso de “layout”. Deve-se buscar a total simetria dos ramos que envolvem os

componentes, reduzindo ao máximo as indutâncias parasitas de fios e cabos. Em geral, as

soluções propostas pelos fabricantes envolvem módulos e produtos especialmente projetados

para uma perfeita associação paralela, como no caso do encapsulamento ISOTOP®[5]. Na

prática isto representa linha de produção menor e, conseqüentemente, uma solução mais cara.

Uma outra categoria de IGBTs usa tecnologia homogênea (“non-punch-through” ou

NPT) e apresenta coeficiente de temperatura positivo, de forma que o problema do

desequilíbrio térmico é inexistente [5], [9]. Mas, os problemas de layout e diferenças nos

comportamentos dinâmicos dos componentes da associação ainda é um fato que deve ser

levado em consideração no projeto.

Recentemente, alguns grupos de pesquisa têm investido numa alternativa à simples

associação de componentes procurando, mais amplamente, a conexão de múltiplos

conversores. Outra linha de trabalho busca encontrar células básicas de comutação capazes de

serem associadas indefinidamente e que possam ser aplicadas a qualquer tipo de conversor

estático conhecido.

1.3. Associação de Conversores Estáticos

De maneira similar à que inspira a associação de chaves de potência, uma linha de

pesquisa recente estuda as possibilidades de associação de conversores em série e em

paralelo. A idéia principal por trás desta técnica consiste em repartir a tensão ou corrente total

de um conversor (em geral um inversor) entre um número determinado de conversores

menores. Em determinados casos é possível, ainda, obter níveis intermediários de tensão ou

corrente que viabilizam a síntese de uma forma de onda alternada em degraus, com baixa

distorção harmônica. O principal objetivo deste procedimento consiste na redução de perdas e

melhoria da estabilidade mecânica dos acionamentos de motores ca. Esta técnica deu origem

ao termo multinível, que tem sido largamente utilizado para designar níveis intermediários de

tensão em conversores. Provavelmente a terminologia tenha surgido a partir dos arranjos de

Page 20: Conversores Multiníveis em Corrente

8

transformadores multifases, muito utilizados nos primórdios da Eletrônica de Potência [12].

Importantes contribuições à nomenclatura, equacionamento e teoria generalizada de

conversores multiníveis de tensão são apresentados em [13].

A associação série ou paralela de conversores pode ser realizada para conversores com

entrada em tensão ou corrente. O texto a seguir apresenta alguns casos típicos propostos e

publicados, em sua maioria, na última década. Estes exemplos, e a seqüência com que são

apresentados (apesar de não ser uma seqüência cronológica de proposição científica),

compõem o conjunto básico de apoio bibliográfico que norteou o caminho para motivação

deste estudo. Em determinados casos fica impossível referenciar todas as contribuições em

um assunto específico, bem como encontrar a referência original ou primeira.

1.3.1. Associação Série de Conversores Estáticos

Os conversores cc-cc podem ser associados em série conforme exemplifica a Fig. 1.6

para pares de conversores buck e boost. A idéia poder ser expandida aos demais conversores

(buck-boost, c′uk, sepic e zeta), além de poder ser generalizada para um número qualquer de

unidades. A estrutura duplo-boost foi proposta como uma forma de reduzir o volume final do

conversor operando com correção do fator de potência, tendo sido originalmente denominada

de boost três-níveis [14], [15]. Isto é alcançado pela operação simétrica das chaves (mesma

largura de pulso e defasadas de metade do período) e pela conseqüente divisão da tensão de

saída entre os dois conversores. Assim, pode-se reduzir à metade o valor do indutor de

entrada, enquanto que as perdas de condução e chaveamento podem ser reduzidas (exigindo

menor volume de dissipador). Na prática a divisão de tensão não é tão simples de ser obtida e

alguns trabalhos têm procurado técnicas para alcançar o equilíbrio desejado [16].

V

V/2

V/2

V/2

V/2 V

(a) (b)

Fig. 1.6 - Associação série dupla de conversores cc-cc.

a) Duplo buck (ou buck três níveis); b) Duplo boost (ou boost três níveis)

A Fig. 1.7 mostra um esquema simplificado da associação de três inversores de tensão

(“voltage source inverter” - VSI) em meia-ponte proposta em [17]. Esta topologia foi sugerida

para permitir a repartição equilibrada da tensão de entrada (750V) através de transistores

Page 21: Conversores Multiníveis em Corrente

9

bipolares com capacidade de bloqueio menor. O inversor é comandado de maneira

convencional. Ou seja, as chaves S1, S3 e S5 recebem o mesmo pulso de disparo que é, por sua

vez, complementar (com devido tempo morto) ao pulso que dispara as chaves restantes. T1, T2

e T3 são transformadores para conexão à carga.

V6

V6

V6

V6

V6

V6

carga

carga

carga

V6

6

T1

T2

T3

T1

T2

T3

S1

S2

S3

S4

S5

S6

Rede deGrampeamento

de Tensão

inversor meia-ponte

Fig. 1.7 - Associação série de inversores VSI em meia-ponte.

A estrutura da Fig. 1.7 inclui ainda um circuito especial de grampeamento (não

detalhado na figura) das tensões nos primários dos transformadores, a fim de garantir uma

divisão de tensão segura. Os secundários dos transformadores também são conectados em

série produzindo uma tensão de cerca de 300V de pico. O comando utilizado não permite

operação multinível de tensão. Entretanto, isto poderia ser alcançado por meio de uma

estratégia de comando que incluísse atrasos entre os pulsos de disparo das chaves de mesmo

grupo.

A Fig. 1.8 apresenta um exemplo de associação série de inversores de tensão

monofásicos em ponte completa (ou “H-bridge”)[18].

Page 22: Conversores Multiníveis em Corrente

10

Carga

V1 = 2V

V2 = 2V

S1 S2

S4S3

S6S5

S7 S8

Fig. 1.8 - Associação série de inversores VSI em ponte completa.

A estrutura da Fig. 1.8 é capaz de impor à carga cinco níveis de tensão: +V, +V/2, 0, -

V/2 e -V. O circuito emprega oito chaves que, como para o inversor convencional, são

disparadas de forma complementar. Ou seja, se S1 conduz S3 está aberta, se S2 conduz S4 está

aberta, e o mesmo se dá para as chaves do inversor inferior. Isto garante que as chaves estarão

submetidas no máximo a uma tensão igual a V/2, que é metade da tensão total, V. Deve-se

observar, ainda, que para uma aplicação de carga genérica o circuito exige que as chaves

contenham diodos em anti-paralelo (o que é uma característica comum de algumas chaves

modernas, como MOSFETs e IGBTs-PT). Utilizando até 16 combinações de chaveamento

pode-se associar à seqüência de disparo qualquer método de otimização de harmônicos do

tipo PWM (“Pulse Width Modulation”). A Fig. 1.9 mostra uma tensão de saída possível onde

se utilizou larguras idênticas para todos os pulsos. Entretanto, poder-se-ia utilizar também

uma modulação do tipo PWM senoidal. Ou ainda, dependendo da freqüência da saída e do

nível de potência da aplicação, poder-se-ia evitar qualquer modulação. Isto reduziria as perdas

de chaveamento mas iria piorar o conteúdo harmônico na saída. Cumpre notar, porém, que a

técnica multinível exige muito menos das chaves, já que a freqüência de chaveamento de uma

chave individual é inferior à da repetição de pulsos na tensão de saída. Portanto, estratégias de

comando (modulações) mais complexas podem ser utilizadas, ja’ que não determinam

necessariamente numa elevação da freqüência de chaveamento, fator que deve ser evitado em

altas potências.

Page 23: Conversores Multiníveis em Corrente

11

Tensão na Carga

+V+V

2

- V2

- V

Tempo0

Fig. 1.9 - Tensão de saída multinível com controle por largura de pulso.

A topologia da Fig. 1.8 tem, entretanto, a desvantagem de exigir duas fontes de tensão

separadas (isoladas). É verdade que a partir de um sistema alternado poder-se-ia obter estas

duas fontes por meio de transformadores com secundário duplo, e posterior retificação. Mas

isto, sem dúvida, é uma característica bastante onerosa (e volumosa). A aplicação da técnica

da Fig. 1.8 apenas se justifica, portanto, quando uma variedade de potenciais cc é disponível.

Este sistema, bem como as técnicas de controle propostas em [18], pode ser estendido para

um número qualquer de inversores em série (um número indefinido de níveis de tensão) e

também ser adaptado para estruturas trifásicas.

A Fig. 1.10 apresenta uma topologia multinível proposta anteriormente àquela

mostrada na Fig. 1.8 e possui a vantagem de prescindir de múltiplas fontes cc. Entretanto,

como se pode notar, exige uma rede passiva (capacitores em paralelo com resistores) para

viabilizar os níveis intermediários de tensão [13]. No caso ideal, os capacitores assumem uma

tensão fixa igual à tensão de entrada dividida pelo número de chaves, excluindo a de neutro. É

possível conectar à carga qualquer ponto de tensão intermediária, o que viabiliza uma forma

de onda multinível. Nesta estrutura as chaves com mesmo índice operam de forma

complementar (quando a superior conduz a inferior está bloqueada, e vice-versa). Por este

motivo, a tensão nas chaves bloqueadas não é igual para todas elas. Por exemplo, se Sn

conduz, Sn’ estará submetida à tensão total V. Por outro lado, as tensões de bloqueio

diminuem conforme a chave esteja mais próxima do ponto neutro.

Apesar de permitir um total controle da forma de onda de tensão na carga esta

estrutura não obedece à regra da divisão da tensão de entrada entre as chaves (que é uma

característica fundamental da associação série). Consiste, assim, numa variação topológica

dos inversores conhecidos, capaz de gerar uma tensão multinível sem reunir as vantagens da

associação série de conversores. A configuração apresentada é do tipo inversor em meia-

ponte. Assim como no caso anterior, pode-se realizar ordens de comando associadas a

qualquer tipo de modulação, visando melhorar ainda mais a qualidade (reduzir os

Page 24: Conversores Multiníveis em Corrente

12

harmônicos) da tensão de saída. Aliás, esta preocupação é compartilhada por todos os

inversores multiníveis.

VCarga

V2n

S

S

S

1

2

n

S

S

S

1

2

n

,

,

,

S0

V2n

V2n

V2n

V2n

V2n

Fig. 1.10 - Inversor multinível de tensão em meia-ponte.

O inversor em meia-ponte da Fig. 1.10 é capaz de produzir n+1 níveis de tensão

(incluindo o zero) na carga, enquanto o inversor em ponte completa permitiria uma operação

com 2n+1 níveis. Por exemplo, o inversor meia-ponte (ou três-níveis) formado por duas

chaves mais a de neutro pode imprimir à carga os níveis +V/2, 0 e -V/2, enquanto o ponte-

completa permite os níveis +V, +V/2, 0, -V/2, -V. Esta configuração é apresentada na

Fig. 1.11, onde se pode observar que o circuito possui duas chaves a menos em comparação

com a estrutura da Fig. 1.8, que é equivalente em termos de níveis de tensão gerados na carga.

Este circuito também é conhecido como três-níveis (devido aos três potenciais de tensão

compostos pela entrada e dois capacitores), apesar de poder impor à carga cinco níveis de

tensão. É claro que esta afirmativa está subordinada ao fato de os capacitores manterem suas

tensões estáveis. Para garantir isto é necessário que a estratégia de comando seja tal que os

capacitores tenham ciclos de carga e descarga idênticos, para um período da tensão alternada

de saída (ou para múltiplos deste).

VCarga

S1

So

V2

S

S2

oV2

V2

V2

S1

S2,

,

,

Fig. 1.11 - Inversor VSI multinível em ponte completa.

Page 25: Conversores Multiníveis em Corrente

13

Existe ainda a possibilidade de se associar inversores CSI em série, como proposto em

[19] e mostrado na Fig. 1.12 para três unidades. Entretanto, a estratégia de modulação e

disparo utilizada nesta referência parece não beneficiar as chaves com uma divisão

equilibrada de tensão.

I cc

Inversor CSI

Fonte deCorrente cc

Fig. 1.12 - Associação série de inversores de corrente.

1.3.2. Associação Paralela de Conversores Estáticos

Conversores cc-cc podem ser associados em paralelo conforme ilustra a Fig. 1.13a

para dois conversores boost. Esta idéia foi proposta originalmente como uma forma de

superar as limitações tecnológicas dos componentes, tendo sido denominada conversão

“interleaved” [20]. Mais recentemente esta técnica tem sido resgatada e aplicada na correção

do fator de potência (PFC) de fontes chaveadas [21], [22]. A conversão “interleaved” refere-

se à interconexão de múltiplos conversores para os quais a freqüência de chaveamento é a

mesma, mas os pulsos de disparo são defasados. Isto permite benefícios análogos aos

alcançados com o conversor cc-cc três níveis da Fig. 1.6. É claro que a técnica pode ser

ampliada para um número qualquer de elementos e seria possível também disparar os

dispositivos com o mesmo sinal de comando. Outros conversores cc-cc poderiam também ser

associados de forma semelhante, como mostra a Fig. 1.13b para o conversor buck. A

Page 26: Conversores Multiníveis em Corrente

14

generalização desta idéia é um assunto que será tratado mais apropriadamente no Capítulo 4

(cf. também a Fig. 1.18).

L 1

L 2D2

D1

S 2S 1

Lf

I

I/2 I/2

I/2

I

I/2

(a) Boost (b) Buck

Fig. 1.13 - Conversores cc-cc em paralelo.

A Fig. 1.14 mostra um exemplo monofásico da associação paralela de dois inversores

VSI em ponte completa [23], [24]. Através desta técnica a corrente da carga é igualmente

partilhada pelas chaves ativas. Assim, espera-se que quando a corrente da carga, io, assumir

seu valor máximo as correntes provenientes das chaves, i1 e i2, fluirão com a metade deste

valor, ou seja io/2. A topologia pode ser aplicada a inversores trifásicos e ser generalizada para

um número maior de inversores em paralelo. Entretanto possui duas desvantagens: só permite

um número par de inversores e exige a construção de indutores acoplados, geralmente de

implementação mais complexa.

Carga

i2i1

io

V

Fig. 1.14 - Associação paralela de inversores de tensão em ponte completa

Assim como para o circuito da Fig. 1.8 aqui também torna-se importante a definição

de uma estratégia de comando, capaz de minimizar o conteúdo harmônico da saída, seja para

otimizar o acionamento de motores, seja para reduzir a interferência eletromagnética

irradiada. A técnica de paralelismo da Fig. 1.14 pode ser aplicada a uma grande variedade de

conversores em Eletrônica de Potência.

Estendendo a linha de pensamento da associação de conversores, é possível conectar

também inversores de corrente (“current source inverter”, CSI) em paralelo, como mostra a

Fig. 1.15. Esta topologia foi proposta em [25], a fim de aumentar a capacidade de potência

Page 27: Conversores Multiníveis em Corrente

15

dos inversores de corrente e viabilizar a redução do ruído e perdas no acionamento de motores

de indução. Naturalmente o circuito pode ser generalizado para um número qualquer de

conversores [26]. Entretanto, devem ser considerados os problemas pertinentes ao controle do

fluxo de potência simultaneamente com o controle do conteúdo harmônico [27]. Uma

importante contribuição desta técnica consiste na implementação de multiníveis de corrente,

até então só referenciada para inversores de tensão. A geração de sinais de comando para

viabilizar o bom equilíbrio de corrente entre os inversores (e chaves) torna-se um assunto

particular e complexo, sobretudo pelo grande número de dispositivos envolvidos [27].

Inversor 1

Inversor 2

Motor deIndução

Fonte deCorrente

Capacitoresde Filtragem

I

ia

a b c

I/2

I/2

Fig. 1.15- Associação de dois inversores de corrente em paralelo

A Fig. 1.16 mostra as formas de onda ideais para a corrente de saída na fase a do

circuito da Fig. 1.15 , bem como as contribuições individuais dos inversores, ia1 e ia2, em

função da corrente de entrada Idc. A variável α é a defasagem entre as correntes geradas pelos

dois inversores. Não se utilizou aqui nenhum tipo de modulação adicional o que, certamente,

poderia melhorar ainda mais a qualidade da forma de onda da tensão e corrente na carga.

Page 28: Conversores Multiníveis em Corrente

16

I2

I

απ3

α

i a

i a1

i a2

= i a1 i a2+

I2

I2

Fig. 1.16 - Corrente multinível na fase a e suas componentes.

1.3.3. Conversão Estática Distribuída

Pode-se concluir, a partir dos exemplos deste item, que a maior parte dos sistemas de

Eletrônica de Potência é capaz de ser representada por meio da associação de módulos

conversores básicos. Neste sentido, uma nova abordagem na associação de conversores tem

sido considerada, tendo como objeto principal a busca da distribuição equilibrada da potência

total entre um determinado número de conversores “autônomos” [28], [29]. Esta nova técnica

tem sido denominada “conversão distribuída”, ou ainda “sistemas com arquitetura celular”.

Esta segunda denominação será evitada neste texto, já que pode ser mal interpretada com o

tema discutido no próximo item. O assunto tem sido tratado como uma forma de se reduzir o

volume final do sistema por meio da elevação da freqüência nos conversores individuais.

Pode-se dizer que a conversão distribuída permite ainda, em relação ao sistema não

distribuído, um desempenho superior e uma maior confiabilidade. A questão da

confiabilidade está relacionada com a eventual introdução de módulos extras ou redundantes,

que em caso de falha individual reduzem a probabilidade de falha total do sistema [30]. A

Fig. 1.17 mostra um diagrama de blocos simplificado da técnica em questão.

Page 29: Conversores Multiníveis em Corrente

17

Conversor 1

Conversor 2

Conversor n

Controle de Tensão

Controle de Corrente

Carga

Tensãode

Entrada

Fig. 1.17 - Conversão distribuída.

Conforme mostra a Fig. 1.17 um sistema de conversão estática distribuída é uma

forma de se associar em paralelo vários conversores de baixa potência na tentativa de facilitar

a construção de sistemas de conversão estática de alta potência. Na prática, o equilíbrio

desejado entre os conversores básicos deverá ser alcançado por meio do controle da tensão e

corrente de um conversor individual, baseado em informações sobre o número de conversores

utilizados, bem como dados sobre os demais módulos [31], [32]. Assim, os conversores

individuais não são tão autônomos assim. De fato o termo autonomia tem sido substituído

recentemente por “quase-autonomia”, como pode ser concluído confrontando [33] e [34].

Dentro da concepção dos conversores distribuídos também busca-se uma forma

adequada para conexão das saídas em paralelo. Neste sentido foi desenvolvida a técnica

mostrada na Fig. 1.18 [29], que consiste numa forma de se associar inversores com pólo

ressonante (PRI), que é um tipo de estrutura com perdas de chaveamento nulas [35]. Apesar

de ter sido proposta muito recentemente, esta técnica de paralelismo foi inspirada em uma

referência mais antiga [36].

Page 30: Conversores Multiníveis em Corrente

18

Cr

Cr

Cr

1

2

n

Lr

Lr

Lr

1

2

n

CargaV2

V2

Fig. 1.18 - Conexão paralela de inversores com pólo ressonante (PRPI).

1.4. Associação de Células de Comutação

Uma forma mais básica de se propor conversores com capacidade de

compartilhamento de tensão ou corrente entre estruturas menores é tratá-los a partir de células

de chaveamento. Neste sentido foi proposto o conceito de célula de comutação ou chave

PWM [37]. A célula de comutação é uma estrutura de três terminais que representa toda a

não-linearidade existente em um conversor estático. Seu funcionamento é baseado na

operação complementar de duas chaves eletrônicas conectadas a um ponto comum. Em outras

palavras enquanto uma chave conduz a outra permanece bloqueada, e vice-versa. A Fig. 1.19

mostra duas maneiras de representar uma célula de comutação. Estas são as representações

mais simples. Entretanto, dentro da abordagem celular, seria possível incluir numa célula

básica elementos passivos, ou até mesmo chaves auxiliares.

C

T 2

1

T

C

1

T 2

Sn

Sn,

T

(a) (b)

Fig. 1.19 - A célula de comutação ou chave PWM.

a) Representação simplificada, b) Esquema “real”

Page 31: Conversores Multiníveis em Corrente

19

A linha pontilhada da Fig. 1.19b indica que as chaves são complementares, mas

poderia ser omitida usando-se a convenção de chaves de mesmo nome diferenciadas apenas

pelo sinal “ ’ ”, como também foi usado na figura. Entre os terminais T1 e T2 sempre haverá

uma fonte de tensão (ou um laço capacitivo), enquanto que o terminal C, ou comum, estará

sempre conectado a uma fonte de corrente (ou um ramo indutivo). Em termos de dispositivos

eletrônicos, e dependendo da natureza do conversor, a célula de comutação pode ser composta

de chaves controladas (MOSFET, IGBT, GTO, etc.) e chaves passivas (diodos). A Fig. 1.20

mostra os arranjos típicos para alguns conversores comuns em Eletrônica de Potência.

T 1

T 2

C

Corrente ca

Tensão ccA

P

C

Tensão cc

Corrente cc

C

T 2T 1Tensão ca

Corrente cc

S

S

S Sn

n

n n

,

,

(a) Fonte Chaveada (b) Inversor VSI (c) Inversor CSI

Fig. 1.20 - Arranjos para a célula de comutação.

Da Fig. 1.20 percebe-se que, dependendo do tipo de conversor, as tensões e correntes

nos terminais da célula básica de comutação podem ser do tipo unidirecional (corrente

contínua-cc) ou bidirecional (corrente alternada-ca). Para a fonte chaveada, ou conversor cc-

cc, da letra a os terminais T1 e T2 são mais comumente denominados A (de ativo) e P (de

passivo), respectivamente.

Um importante trabalho que se enquadra na concepção de associação de células é o

proposto em 1981 por Nabae, Takakashi e Akagi [38]. A Fig. 1.21a mostra a estrutura

proposta e a Fig. 1.21b apresenta a célula de comutação mínima. Este circuito foi denominado

originalmente inversor com neutro grampeado, ou NPC (“neutral-point clamped”), sendo

capaz de impor à carga 5 níveis de tensão. Assim como para outras estruturas similares este

conversor tem sido referenciado como conversor três-níveis (“three-level inverter”) [18] e

[39]. Curiosamente o trabalho não faz menção ao termo multinível, denominação que só mais

tarde foi definida por Bhagwat e Stefanovic′ [13].

Page 32: Conversores Multiníveis em Corrente

20

Embora a referência [13] tenha resgatado o termo “multinível” e generalizado o

tratamento com inversores VSI, o trabalho de Nabae et alli parece ter sido o primeiro a

discutir os benefícios desta técnica sobre os inversores convencionais (que até então

utilizavam a técnica PWM para controle de harmônicas). 1

V

V2

V2

Carga

V2

V2

V

S

S

S

S

2

2

1

1

,

,i o

T

T

1

2

C

(a) (b)

Fig. 1.21 - Inversor VSI - NPC monofásico em ponte completa (três-níveis).

O inversor NPC também pode ser generalizado para n-níveis, conforme discutido em

[40] e esquematizado na Fig. 1.22. Deve-se notar que um inversor NPC considerado três-

níveis possui duas chaves superiores e duas inferiores (para cada braço), que estão submetidas

à metade da tensão total. Para o caso genérico da Fig. 1.22 pode-se dizer que o inversor terá

n+1 níveis de tensão, e suas chaves bloqueadas estarão submetidas a uma tensão igual à

tensão de entrada dividida pelo número de chaves, n, de uma metade do braço (ou seja V/n).

O estudo de conversores estáticos utilizando o conceito da célula de comutação

permite uma abordagem mais simplificada e passível de generalização, seja do ponto de vista

do número de células, seja do ponto de vista do número de fases, seja do ponto de vista do

tipo de conversor. Dentro desta linha os trabalhos de Meynard&Foch constituem importantes

contribuições, sobretudo pelo estudo sistemático e proposição de aplicações [41], [42]. A

Fig. 1.23 mostra a célula genérica multinível proposta nessa referência, aqui representada para

facilidade de comparação com a Fig. 1.22. Entretanto, a mesma topologia já havia sido

publicada por Maruyama&Kumano [43], sendo até protegida anteriormente por uma patente

japonesa [81].

1 O trabalho de Nabae et. alli [38] data de 1981. Entretanto um trabalho mais antigo (1977) parece ter proposto uma outra

topologia multinível, mas que encontra-se protegida por patentes norte-americanas (cf. as referências [3] e [4] de [13]).

Devido às dificuldades óbvias estas referências não puderam ser localizadas.

Page 33: Conversores Multiníveis em Corrente

21

Vn

Vn

V

Vn

S

S

S

S

S

n

n-1

1

1

2

,

Vn

Vn

S

Sn-1

n

,

,

,

V0

Fig. 1.22 - Braço de inversor NPC multinível.

Sobre a estrutura NPC, a célula de Foch&Meynard tem a vantagem de melhor

equilíbrio de tensões [41]. Nesta estrutura n células são associadas por n-1 capacitores de

grampeamento (ou equilíbrio), enquanto que no conversor NPC são necessários n capacitores.

S

S

S

S

S

S

1

2

n

V

1

2

n

,

,

,

i

. . .

. . .

Vn

2Vn

( -1)Vn

nC

(ca ou cc)

C

CC

1

2n-1

T2

T1

Fig. 1.23 - Célula genérica multinível em tensão.

Na estrutura da Fig. 1.23 as chaves com mesmo número são do tipo complementar,

como exposto no início deste item. Uma tal estrutura também possui, em relação a algumas

topologias da seção anterior, a vantagem de poder ser aplicada a conversores cc-cc (isolados

Page 34: Conversores Multiníveis em Corrente

22

ou não). Entretanto, suas aplicações limitam-se a conversores tipo fonte de tensão. Alguns

exemplos típicos são mostrados na Fig. 1.24.

S

S1

3

V V3

2V3

S

S2

3

V3

2V3

S1

S

5

6

V3

2V3

S4S

CargaVS2

Carga

(a) Chopper ou Conversor Buck 4 níveis (b) Inversor VSI 4 níveis

Fig. 1.24 - Exemplos de aplicação da estrutura genérica da Fig. 1.23.

Apesar de suas vantagens, o trabalho de Meynard e Foch possui algumas restrições

que devem ser observadas, sobretudo na estratégia de comando utilizada. A Fig. 1.25 mostra

os resultados de simulação para o conversor buck três-níveis (duas células) com carga Ro-Lo e

comandos defasados com três estados: uma chave conduz, as duas conduzem e nenhuma

conduz (portanto uma estratégia bastante convencional). Os parâmetros utilizados foram

V=500V; C1=50µF; Lo=1mH; Ro=10Ω; D=60%; ∆t=5µs; TS=50µs (ou fS=20kHz). Onde C1 é

o capacitor de grampeamento; D é a razão cíclica, ∆t é o atraso no comando das duas chaves e

TS é o período de chaveamento (com freqüência fS).

O terceiro traço da Fig. 1.25a mostra como a tensão no capacitor de equilíbrio diverge

do valor previsto mesmo após a estrutura atingir o equilíbrio em regime permanente (como

pode ser constatado dos dois primeiros traços para a tensão e corrente na carga). Este

comportamento termina por provocar o desequilíbrio de tensão nas chaves, conforme

mostram os dois primeiros traços da Fig. 1.25b. O último traço mostra a corrente no capacitor

de equilíbrio e ilustra a desigualdade no processo de carga e descarga de C. O arquivo de

simulação desta estrutura no Pspice® é apresentado no Apêndice A (b2v.cir).

Page 35: Conversores Multiníveis em Corrente

23

(a) (b)

Fig. 1.25 - Divergência do ponto de operação para o conversor buck-2 células. (a) De cima para baixo: corrente de saída, tensão de saída e tensão no capacitor de grampeamento

(b) De cima para baixo: Tensão na chave S1, tensão na chave S2 e corrente no capacitor de grampeamento

As estruturas e técnicas apresentadas até aqui representam as principais propostas

publicadas nos últimos anos, envolvendo a associação de componentes, conversores ou

células de comutação. Em alguns casos a concepção multinível se aplica, mas tem sido

predominantemente relacionada a níveis intermediários de tensão. Fica evidente, assim, a

existência de uma “lacuna” tecnológica no que diz respeito a uma abordagem geral sobre os

conversores multiníveis em corrente. Inexiste, ainda, a proposição de uma célula genérica

multinível em corrente capaz de ser adaptada aos principais conversores estáticos.

1.5. Objetivos e Metodologia

O principal objetivo deste trabalho é propor uma estrutura genérica de divisão e

produção de níveis intermediários de corrente, que possa ser adaptada aos principais

conversores estáticos de Eletrônica de Potência. Pode-se conseguir, assim, uma operação em

níveis de potência mais elevados e, em determinados casos, a redução do conteúdo harmônico

gerado pelo conversor. Fica evidente a possibilidade de utilização de chaves semicondutores

de potência com níveis nominais de corrente bem inferiores ao total envolvido na aplicação e,

Page 36: Conversores Multiníveis em Corrente

24

até mesmo, a viabilidade de operação em níveis de potência acima dos permitidos pelo

“estado-da-arte”.

Como metas complementares serão incluídas a modelagem matemática da estrutura

genérica (bem como de alguns casos particulares), adaptação da estrutura para conversores

conhecidos, proposição de técnicas de projeto e implementação prática, proposta e análise de

estratégias de comando, estudo da viabilidade de comutação não-dissipativa e sugestão de

métodos de controle de equilíbrio de corrente nas chaves semicondutoras, quando for o caso.

Serão abordadas, também, algumas estruturas multiníveis em corrente pouco exploradas

formalmente até então, bem como as comparações básicas com a proposta deste trabalho.

A metodologia a ser empregada envolve a revisão bibliográfica criteriosa dos mais

recentes trabalhos publicados em periódicos e congressos internacionais especializados (o que

em parte foi apresentado neste capítulo), uso de técnicas de modelagem de circuitos

chaveados, emprego de ferramentas computacionais para simulação das estruturas propostas e

realização de estudos experimentais (adaptado a algumas estruturas) que viabilizem a

comprovação dos resultados teóricos.

O Capítulo 2 trata da apresentação básica da estrutura multinível em corrente (MNC)

desenvolvida neste estudo. Nesse capítulo a estrutura é estudada em sua forma básica e uma

prova geral de funcionamento é apresentada, sobretudo fundamentando-se em princípios

físicos e análise de circuitos por inspeção. Também são propostas as principais adaptações

aos conversores estáticos conhecidos.

O Capítulo 3 propõe uma técnica de modelagem matemática geral, baseada no

“modelo da célula de comutação”. Neste capítulo são desenvolvidas as equações gerais para

os conversores buck e boost bem como uma proposta de generalização de modelagem para

conversores com n células. Os modelos entrada-saída e controle-saída são abordados em

detalhes.

O Capítulo 4 discute a aplicação da célula MNC aqui proposta como técnica

alternativa de paralelismo de células de comutação. Neste caso não existe a preocupação

quanto à geração e aproveitamento de níveis intermediários de corrente (multiníveis).

Sugestões para projeto e adaptação do método a todos os conversores estáticos, bem como

outras considerações práticas são apresentadas. Uma comparação com a técnica convencional

de paralelismo, bem como com técnicas e estruturas mais recentes são discutidas em detalhes.

A dinâmica da distribuição de corrente entre chaves também é considerada neste capítulo. São

Page 37: Conversores Multiníveis em Corrente

25

apresentados, ainda, resultados práticos testando a vantagem da técnica para redução de picos

de corrente e resultados experimentais obtidos de um conversor buck-3 células de 4,5 kW.

O Capítulo 5 trata da aplicação da célula MNC aos conversores cc-cc com

aproveitamento dos níveis intermediários de corrente. Assim, os conversores MNC cc-cc são

estudados como uma proposta de minimização de interferência eletromagnética (EMI) e

eliminação de harmônicas específicas. Técnicas de projeto e limitações tecnológicas são

discutidas. Resultados experimentais mostram os efeitos de parâmetros parasitas no

desequilíbrio de corrente entre chaves. Soluções para o controle do desequilíbrio estático em

situações práticas são apresentadas e comparadas.

O Capítulo 6 discute a aplicação da célula MNC aos inversores fonte de corrente

(CSI) e retificadores com filtro de “ondulação” de corrente na saída. As estratégias de

chaveamento e modulação são discutidas, bem como uma proposição de parâmetros para

eliminação de harmônicas e minimização da distorção harmônica total. Um protótipo de um

conversor CSI-2 células (cinco níveis), operando em cerca de 2kW, mostra a viabilidade

prática do sistema bem como suas características e limitações. Também são apresentadas

propostas para obtenção de n níveis de corrente, bem como a possibilidade de operação com p

fases.

No Capítulo 7 apresenta-se a adaptação da célula MNC a um pré-regulador para

telecomunicações baseado em um conversor boost, com fator de potência unitário e

comutação suave em tensão, operando em 3,2 kW. As equações de projeto, técnicas de

implementação e resultados experimentais também são discutidos em detalhes.

O Capítulo 8 discute e propõe uma célula genérica multinível em corrente e tensão

(MNCV). Resultados de simulação, limitações de funcionamento, bem como propostas de

aplicação são apresentados. Sugestões para melhor abordagem e aprofundamento deste

assunto também são indicadas.

O Capítulo 9 apresenta as principais conclusões do presente estudo, seja sob o ponto

de vista particular de cada aplicação, seja com relação ao trabalho como um todo. Sugestões

para continuidade e aprofundamento das questões levantadas são discutidas e ponderadas.

Finalmente são relacionadas as citações bibliográficas e um apêndice envolvendo os

arquivos de simulação no Pspice®.

Page 38: Conversores Multiníveis em Corrente

26

2. A Célula Multinível em Corrente

o capítulo anterior foram apresentadas as bases teóricas da célula de

comutação. Mostrou-se ainda, na Fig. 1.23, uma técnica de associação

série de células, envolvendo chaves ativas, passivas e elementos

capacitivos. Apesar de genérica, aquela técnica possui algumas limitações

com relação a determinados conversores estáticos e quanto às técnicas de comando.

Neste capítulo será apresentada uma célula genérica de associação paralela de células

de comutação, bem como seu funcionamento básico e principais aplicações. Parte dos

resultados e discussões aqui apresentados foram publicados em [48] (cf. também [64]).

2.1. Conceitos Fundamentais

A Fig. 2.1 apresenta uma estrutura para associação paralela de células de comutação

capaz de ser empregada em praticamente todos os conversores estáticos conhecidos, podendo

ser comandada por meio de estratégias que seriam inviáveis para a técnica equivalente de

associação série. Como pode ser visto, as células são conectadas por meio de indutores,

denominados indutores de equilíbrio (ou ainda, indutores de divisão ou grampeamento). Será

mostrado que a corrente de saída do nó C divide-se de forma equilibrada, por entre as células

da associação. Como decorrência desta condição, será visto que os indutores assumem níveis

específicos de corrente que se situam entre o valor da corrente de saída e um valor mínimo.

Além disso, espera-se aproveitar estes níveis intermediários para, em determinados casos,

promover uma melhoria do conteúdo harmônico do conversor. Esta célula será doravante

referenciada como Célula Genérica Multinível em Corrente ou Célula MNC.

...

...

...SSS

L

CV

T1

T2

2L 1Ln-1i

i i

ii i

iS1S2S3

iSn

o

12n-1

123nS

Fig. 2.1- Célula genérica multinível em corrente

NCapítulo

Page 39: Conversores Multiníveis em Corrente

27

O circuito da Fig. 2.2 mostra a adaptação da célula genérica MNC ao conversor cc-cc

do tipo buck (às vezes referenciado como conversor abaixador ou “chopper”). Neste caso a

corrente de saída é unidirecional e as chaves inferiores são chaves semicondutoras passivas de

condução espontânea (ou diodos). As chaves superiores são chaves semicondutoras

controladas que podem ser de qualquer tecnologia, desde que permitam condução e bloqueio

comandado. Como este é um circuito de entrada em tensão, a saída é do tipo corrente, o que

explica a indutância de saída existente. Este elemento pode ser um filtro de corrente adicional

ou pode ser parte da própria carga (como nos motores cc). A carga, por sua vez, pode ser

puramente resistiva ou ainda possuir um capacitor em paralelo. Pode até conter uma força

contra-eletromotriz em série com a resistência e indutância. O circuito dessa figura será usado

para orientar uma primeira análise sobre o funcionamento geral da célula proposta.

...

...

...

S1S2Sn S3L

C

2L 1Ln-1

i i

ii

iS1S2S3Sn

io

12i n-1

i

OL

Carga

V

A

P Fig. 2.2 - Conversor CC-CC buck MNC

Para reunir as informações básicas sobre o funcionamento da estrutura da Fig. 2.2 é

necessário definir algumas condições-limites. Neste sentido, admite-se inicialmente que:

1. Os indutores de equilíbrio são ideais (indutância pura).

2. Todos os indutores são projetados para operação em condução contínua de

corrente (“continuous conduction mode”- CCM).

3. Todas as chaves superiores possuem o mesmo modelo de condução (resistência

dinâmica, tensão de saturação, etc.).

4. Todas as chaves inferiores possuem o mesmo modelo de condução (resistência

dinâmica, tensão de saturação, etc.).

5. As chaves ativas são comandadas com uma mesma razão cíclica, D, e período

de comutação, T.

De forma a simplificar o estudo por inspeção será considerado ainda que todas as

chaves (ativas e passivas) possuem modelo de operação resistivo, com resistência de

condução r (que tende a zero) e de bloqueio infinita (oo). É suposto, também, que os pulsos de

disparo das chaves ativas são coincidentes no tempo (sem atrasos ou defasagens). Após a

Page 40: Conversores Multiníveis em Corrente

28

análise inicial será apresentada uma discussão sobre as possíveis alterações quando algumas

destas condições não forem satisfeitas.

Considera-se, agora, que as chaves estão operando com razão cíclica máxima (D=1).

Neste caso, as chaves superiores estarão conduzindo em todo o intervalo T, e as chaves

inferiores estarão permanentemente bloqueadas. A Fig. 2.3 mostra o circuito equivalente para

esta situação.

...

...

S1S2Sn S3L

C

2L 1Ln-1

i i

ii

iS1S2S3Sn

io

12i n-1

i

OL

Carga

V

A

P

r r r r

...

Fig. 2.3 - Circuito equivalente para D=1

Como as resistências de condução são muito pequenas, pode-se dizer que o ponto C

assume um potencial de tensão constante igual a V (a tensão de entrada). Nesta situação, a

corrente de saída cresce exponencialmente até atingir seu valor máximo e em regime

permanente será limitada apenas pelos elementos resistivos (e ativos) da carga. Supondo uma

carga passiva com resistência igual a Ro, a corrente io atinge o valor V/Ro, que é fixo e sem

“ondulação” (ou seja corrente cc). Ora, sabe-se que em regime permanente de corrente

contínua os indutores tendem para um curto-circuito. Neste caso o circuito da Fig. 2.4

representa melhor o que acontece após io alcançar o valor de regime, Io. Percebe-se que

existem n elementos resistivos iguais, de valor r, em paralelo. Do nó comum C desta rede sai

(ou entra no nó A) uma corrente cc, sem ripple, de valor Io.

...

...

...

S1S2Sn S3

C

i i

ii

iS1S2S3Sn

12i n-1

i

V

A

P

r r r r

VRo

I o

Fig. 2.4 - Regime permanente para D=1

Aplicando a Lei de Kirchhoff das correntes (teorema do divisor de corrente) ao nó C

do circuito da Fig. 2.4 pode-se concluir que:

Page 41: Conversores Multiníveis em Corrente

29

i i i iInS S S Sno

1 2 3= = = = =... . (2.1)

Por outro lado, as correntes nos indutores de equilíbrio podem ser determinadas pela

Lei de Kirchhoff aplicada aos nós de chegada:

i I i IIn

n Ino S o

o o1 1

1= − = − =

−( ). (2.2)

i i in I

nIn

n InS

o o o2 1 2

1 2= − =

−− =

−( ) ( ). (2.3)

De forma geral, o q-ésimo indutor, Lq, terá uma corrente:

in q I

nqo=

−( ). (2.4)

Utilizando esta expressão para o último indutor de equilíbrio, Ln-1, vem:

iInno

− =1 . (2.5)

Deve ficar claro que as correntes dos indutores de equilíbrio, assim como a corrente de

saída, são correntes contínuas, constantes e sem ripple. Isto é reflexo da situação determinada

pela razão cíclica constante máxima. Conforme será demonstrado a seguir, as relações

descritas pelas equações (2.1) a (2.5) constituem uma figura de mérito para a célula genérica

da Fig. 2.1, sendo válidas desde que as condições (1)-(5) sejam respeitadas. Deve-se observar,

sobretudo, que estas relações não dependem do valor dos indutores, do valor ou existência de

elementos capacitivos na carga e nem do valor de r (já que se admitiu que todas as chaves são

iguais). De fato, se as equações (2.1) a (2.5) foram normalizadas para Io, os níveis

intermediários de corrente só dependerão do número de células associadas, n. Mais

amplamente porém, na presença de chaveamento, estas equações tratariam das relações entre

as correntes médias nos indutores e máximas das chaves (já que no bloqueio suas correntes

são nulas). Fica, assim, configurada a propriedade do uso da terminologia: célula MNC.

Um primeiro passo para comprovação das declarações anteriores seria verificar o que

ocorre quando, após atingir o regime com D=1, os pulsos das chaves são completamente

retirados (D=0). Esta condição é esquematizada na Fig. 2.5.

Page 42: Conversores Multiníveis em Corrente

30

...

...L

C

2L 1Ln-1

ii

io

12i n-1OL

Carga

V

A

P

r r r r

...

Fig. 2.5 - Ausência de pulsos nas chaves

Neste caso, a distribuição em níveis de corrente nos indutores determinaria que todos

os diodos entrariam em condução, numa ação de roda-livre (ou “free-wheeling”). Ora,

conforme admitido inicialmente, estes elementos se aproximam de um curto-circuito (r →0),

quando em condução. O primeiro efeito, então, seria a descarga progressiva da corrente de

saída em virtude da natureza resistiva da carga. Na ausência de fontes externas que fomentem

os níveis anteriores de corrente, todos os indutores de equilíbrio também se descarregam

gradualmente até zero, apesar de estarem envolvidos em laços quase ideais. Como a corrente

de saída Io também é zero percebe-se que, ainda assim, as equações (2.1) a (2.5) se verificam

em regime! Resta, portanto, investigar o que ocorre na situação normal de operação em que

0 < D < 1.

Uma constatação, aparentemente simples, a respeito da operação das chaves do

circuito da Fig. 2.1 é que as chaves superiores (ou ativas) conduzem sempre que recebem um

pulso de comando. Por outro lado, as chaves inferiores só conduzirão se não estiverem

reversamente polarizadas (quando não há comando para as superiores) e, se e somente se, as

correntes que chegam e saem de seu catodo forem diferentes. A situação de distribuição de

corrente em níveis, verificada na situação anterior, e declarada nas equações (2.1) a (2.5) é,

portanto, um caso que viabiliza a condução dos diodos. Assim, cumpre investigar que

modificações ocorrem quando a razão cíclica é reduzida. Ou seja, o que acontece quando o

conversor está realmente chaveando.

Em primeiro lugar, o indutor de saída deverá acompanhar a mudança no valor médio

da tensão de saída e assumir uma corrente menor que a máxima (V/Ro). Nesta situação, a

corrente de saída não é mais constante ideal e sim uma corrente média somada a uma

ondulação. Entretanto, para a componente média, todos os indutores continuam se

comportando como um curto-circuito. Logo, a situação da Fig. 2.4 ainda se verifica, seja para

condução das chaves comandadas, seja para a condução dos diodos. O circuito deve ser

entendido, no entanto, como um “equivalente médio de regime permanente”. As equações dos

Page 43: Conversores Multiníveis em Corrente

31

valores médios da tensão e corrente de saída em regime permanente são, como para um

conversor buck convencional, da seguinte forma:

V DVo = . (2.6)

e IDVRo

o= . (2.7)

Por outro lado, como os pulsos de comando são coincidentes no tempo, é fácil

verificar que os indutores de equilíbrio estarão sempre inseridos em laços de impedância

muito baixa (r → 0), seja para condução das chaves ativas ou passivas. É possível afirmar,

então, que pouca ou nenhuma alteração transitória os elementos reativos de equilíbrio sofrem,

por efeito do chaveamento.

Assim, como se está admitindo que todas as chaves (ativas e passivas) possuem o

mesmo modelo de condução resistivo, os indutores de equilíbrio não “enxergam” qualquer

alteração no circuito advinda do processo de chaveamento. Apenas terão que se ajustar ao

novo nível da corrente de saída. Mantém-se, portanto, a relação geral dada pelas equações

(2.1) a (2.5). Isto ocorre porque, para os ramos em paralelo, ainda continua valendo a lei das

correntes aplicadas ao nó C.

Conforme mencionado, a corrente de saída não é mais cc ideal, já que possui uma

ondulação que decorre do valor da freqüência de chaveamento e da razão cíclica. É de se

esperar, portanto, que esta ondulação seja transmitida de alguma forma aos indutores de

equilíbrio e chaves. Este efeito será discutido posteriormente neste texto.

A última condição básica a ser pesquisada trata da defasagem entre os pulsos de

comando para as chaves. Esta situação determina que, durante os instantes em que apenas

uma chave de um par vizinho conduz, o indutor conectado a elas estará submetido a toda a

tensão de entrada (já que o diodo da outra chave fecha o caminho). Isto implica em um

crescimento ou queda rápida da corrente no indutor, conforme a polaridade da tensão seja

positiva ou negativa, respectivamente. Esta situação é ilustrada na Fig. 2.6, em que a chave

Sq+1 conduz mas Sq não (porém seu diodo sim). Isto impõe sobre Lq uma tensão positiva, de

valor V, e a corrente iq (e, por conseguinte, a corrente na chave) deve crescer rapidamente.

Page 44: Conversores Multiníveis em Corrente

32

...

SS

qL

i qV

A

P

...

...

...

q+1

r 0

r 0

i q-1

q

Fig. 2.6 - Indutor submetido à tensão de entrada

Se a operação com atrasos nos pulsos for desejada, deve-se projetar os indutores de

equilíbrio de forma que as variações de corrente estejam dentro de certos limites, e que não

levem o indutor a operar em condução descontínua de corrente. Já que se admitiu que os

pulsos são de mesma largura, D, o crescimento em determinado instante será compensado

com a queda, em outro instante de mesma duração. Portanto, em termos médios, não há

porque ocorrer alterações nos níveis intermediários de corrente determinados pelas equações

(2.1) a (2.5). Um fato importante, e característico da operação com pulsos não coincidentes, é

que se torna possível drenar da fonte de tensão qualquer nível de corrente entre 0 e a corrente

que sai do nó C, desde que este nível exista nos indutores de equilíbrio. Isto viabiliza então a

operação em multiníveis de corrente da célula proposta. As condições de projeto para

operação com pulsos coincidentes e operação multinível serão discutidas em capítulos

específicos neste texto.

Resta agora discutir sobre as eventuais alterações na distribuição ideal de corrente, na

ocorrência de situações práticas que não obedeçam as condições básicas da página 27.

A condição no 1 prevê indutores ideais, o que na prática não é possível, já que esses

elementos possuem no mínimo uma resistência parasita em série com suas indutâncias.

Entretanto, se esta resistência for insignificante quando comparada com as resistências de

condução das chaves, seu efeito será desprezível na distribuição cc ideal da corrente nos

ramos. Ora, se os pulsos de disparo das chaves são coincidentes (ou com atrasos muito

“pequenos”) não existe necessidade de indutâncias de equilíbrio “elevadas”. Logo, é de se

esperar que os indutores também tenham resistência parasita desprezível. Mas se forem

exigidas indutâncias elevadas suas resistências parasitas irão provocar desequilíbrios de

corrente. No entanto, este fenômeno pode ser minimizado pelo uso de várias técnicas,

conforme será formalizado e discutido no Capítulo 5.

Page 45: Conversores Multiníveis em Corrente

33

A condição no 2 consiste numa condição de projeto dos indutores de grampeamento,

que pode ser alcançada desde que se conheçam os parâmetros relacionados. Também será

formalizada nos Capítulos 4 e 5.

As condições no 3 e 4 são similares já que determinam que os modelos de condução

das chaves de um mesmo lado (superior ou inferior) sejam idênticos. Dependendo da

tecnologia utilizada (diodo, tiristor, transistor bipolar, MOSFET ou IGBT) será mais trivial ou

não a obtenção de elementos com as mesmas características dentro de uma mesma série ou

produto. Sabe-se, por exemplo, que a divergência de parâmetros para os diodos de potência é

mínima. Em geral, dentro de um mesmo lote de fabricação, as divergências de parâmetros é

pouco acentuada, contribuindo para a verificação das condições exigidas. Por outro lado, o

projeto dos componentes pode ser realizado de forma que seja prevista uma “margem de

tolerância” nas correntes das chaves a fim de evitar danos provocados pelo desequilíbrio. Este

assunto também será discutido quantitativamente no Capítulo 4.

A condição no 5 determina que a razão cíclica das chaves de um mesmo lado seja

única. Esta é, de fato, uma condição indispensável. Conforme mencionado anteriormente, o

sistema é até capaz de suportar atrasos nos comandos, já que o acréscimo de corrente em um

intervalo pode ser compensado pelo decréscimo no intervalo com polaridade contrária (mas

de mesma duração). Fica evidente, então, que a existência de intervalos assimétricos (de

duração distinta) implicaria em desequilíbrio das correntes nas chaves. Entretanto, conforme

sugerido no parágrafo anterior, o uso de razões cíclicas diferentes pode ser usado para trazer o

sistema ao equilíbrio de corrente quando existe desequilíbrio resistivo nos ramos.

Uma última questão a ser considerada é quanto à natureza da corrente que sai do nó C.

Até aqui, foi considerado apenas a situação de corrente unidirecional. Pode-se dizer que este

tipo de corrente possui freqüência nula, já que é do tipo cc. Caso seja exigido que esta

corrente se alterne com uma determinada freqüência (e. g., em um inversor), os níveis de

corrente nos indutores de equilíbrio deverão acompanhar a “média instantânea” da corrente de

saída, a fim de que a distribuição de corrente nas chaves seja aceitável. As condições de

projeto para que esta situação se verifique serão discutidas no Capítulo 4.

Para as condições supostas neste capítulo é possível, portanto, propor o circuito

equivalente genérico da Fig. 2.7. Neste circuito, iC é a corrente que sai ou entra no nó C (o

que depende do tipo de conversor empregado). Este circuito deve ser considerado como uma

maneira simplificada de entender a distribuição “média instantânea” de corrente entre os

ramos da estrutura. No caso geral, em que o modelo de condução das chaves superiores não é

Page 46: Conversores Multiníveis em Corrente

34

necessariamente o mesmo das chaves inferiores, pode-se concluir que a resistência r

representa uma média no tempo das resistências das chaves, conforme expresso pela equação

(2.8), onde rA é a resistência de condução das chaves superiores e rP a das chaves inferiores.

...

r

r

r

i c

L 1L 2r L n-1

( )n in

c− 2 ( )n in

c− 1

nic

nic

nic

nic

Fig. 2.7- Modelo simplificado da célula genérica MNC (incluindo correntes “médias instantâneas”)

r Dr D rA P= + −( )1 (2.8)

O circuito equivalente da Fig. 2.7 pode ser útil para a obtenção de diversas

informações a respeito dos conversores MNC. Mas, sobretudo, é uma ferramenta valiosa para

entendimento da distribuição da corrente entre as chaves, já que viabiliza o cálculo dos

valores de regime das correntes em qualquer ramo da estrutura. Para o conversor com 3

células, por exemplo, L2 fica em série com a última resistência da associação na Fig. 2.7

(ocupando o lugar de Ln-1) . Em regime permanente cc os indutores de equilíbrio comportam-

se como curtos-circuitos, o que implica na divisão equilibrada de IC por 3. Além disso, por

inspeção, pode-se concluir que L2 estabiliza com uma corrente IC/3, enquanto L1 fica com

2.IC/3, valores que confirmam os resultados teóricos do item anterior.

2.2. Aplicação ao Conversor Buck-2 células

No item anterior foi apresentado um estudo teórico para o entendimento básico da

estrutura multinível proposta neste trabalho. Para este fim, foram utilizadas as leis e conceitos

da teoria geral de circuitos elétricos. O estudo pode, assim, ser considerado uma prova geral

para determinação dos níveis e distribuição de corrente entre os ramos da célula genérica

MNC.

Para ilustrar os conceitos apresentados até aqui será considerada a adaptação da célula

genérica a um conversor cc-cc buck de duas células, como mostra a Fig. 2.8. Neste conversor

as chaves ativas, S1 e S2 são comandadas com a mesma razão cíclica D. Por conseguinte as

chaves passivas ou diodos, D1 e D2, conduzem com uma razão cíclica 1-D. Em função destas

Page 47: Conversores Multiníveis em Corrente

35

suposições e conforme expresso na equação (2.6), pode-se concluir que em regime

permanente a tensão de saída filtrada, Vo, vale D.V. As principais variáveis do circuito (do

ponto de vista multinível e da distribuição de corrente) são a corrente de entrada, iV, a

corrente no indutor, i1 e a corrente de saída, io.

SS

DD

L

RoV

i 1 io

iV

voVoC

L1

o

12

12

v1

o

P

A

C

Fig. 2.8- Conversor buck-2 células

De acordo com a seção anterior, existem diversas maneiras de se comandar o

conversor da Fig. 2.8. Pode-se utilizar, por exemplo, pulsos coincidentes, defasados ou até

mesmo uma estratégia mais complexa. A Fig. 2.9 mostra os estágios de operação para o

circuito do conversor buck MNC - 2 células (três níveis) utilizando sinais de comando de

mesma largura e defasados no tempo de ∆t. Nestas etapas admitiu-se que a corrente no

indutor de grampeamento não se altera, mantendo-se constante no valor ideal (fonte de

corrente com metade da corrente de saída). Como já mencionado, esta situação pode ser

aproximada na prática por meio da escolha adequada do valor do indutor de grampeamento.

SS

L

DD

V 1

12

12

SS

L

DD

V 1

12

12

Io

I o2

I o2

Io

i =v I oi = vI o2

1o estágio 2o estágio

(duração: ∆t) (duração: D.T-∆t)

SS

L

DD

V 1

12

12

SS

L

DD

V

i = 0v

1

12

12

Io Io

I o2

I o2

i = vI o2

3o estágio 4o estágio

(duração: ∆t) (duração: T-D.T-∆t)

Fig. 2.9 - Estágios de operação para o conversor buck MNC- 2 células.

A Fig. 2.10 mostra as principais formas de onda (ideais e aproximadas) para o

conversor buck-2 células, de acordo com as etapas da Fig. 2.9.

Page 48: Conversores Multiníveis em Corrente

36

t

t

t

t

t

t

t

t

tTD.T

Io

Io2

i

i

o

1

GATES

v1

i V

vo

i S1

S1

S2

Io

V

-V

V

i D1

∆ t

Vo = D.V

Io2

Io2

Io2

Fig. 2.10 - Formas de onda ideais, aproximadas, em regime permanente.

Admitiu-se na Fig. 2.10 um funcionamento quase-ideal em regime permanente com

ondulação desprezível nas correntes dos indutores. Observando-se a forma de onda da

corrente de entrada, iV, percebe-se a existência de três níveis de corrente: 0, Io/2, e Io, o que é

viabilizado pela existência de um ∆t não nulo. Por este motivo este conversor também pode

ser referenciado como conversor três-níveis em corrente. Uma abordagem completa sobre a

importância e características deste tipo de operação será considerada no Capítulo 5.

Uma maneira de verificar o comportamento teórico das formas de onda da Fig. 2.10, e

ainda verificar suas diferenças em relação a um sistema menos idealizado, é realizar a

simulação digital desta estrutura. A Fig. 2.11 mostra os resultados de uma simulação com o

programa Pspice®, onde utilizou-se V=50V, f=20kHz, L1=250µH, Lo=800µH, D=60%,

∆t=5µs, Co=100µF e Ro=1,5Ω. Foram empregadas chaves comandadas por tensão (“vswitch”)

e modelos “default” para os diodos. O arquivo de descrição de circuitos (“.cir”) para

simulação no programa Pspice® é incluído no Apêndice A (b2i.cir). Detalhes que viabilizem

a execução de um projeto e definição destes parâmetros serão vistos mais adiante neste texto.

Page 49: Conversores Multiníveis em Corrente

37

(a) (b)

Fig. 2.11- Resultados de simulação numérica para o circuito da Fig. 2.8. (a) De cima para baixo: comandos, corrente na fonte, tensão de saída/indutor, corrente saída/indutor

(b) Correntes nas chaves e diodos

Pode-se observar da Fig. 2.11 que as equações desenvolvidas na seção anterior são

validadas em sua totalidade. Por exemplo, a tensão média de saída (ou nos terminais do

capacitor Co) de acordo com a equação (2.6) é 0,6x50V=30V, o que é confirmado na

simulação. Por sua vez, pelas equações (2.7) e (2.4) encontra-se 20A e 10A para as correntes

médias de saída e no indutor de divisão, respectivamente; o que também é confirmado na

figura. Nota-se, ainda, uma distribuição de corrente muito equilibrada, sob o ponto de vista

dinâmico (por causa de L1) e estático (devido ao uso de mesmos parâmetros das chaves na

simulação). Deve-se observar ainda que, devido à ondulação da corrente de saída e não-

idealidades da simulação, as correntes nas chaves não são totalmente idênticas. Apesar de

apresentarem áreas e valores de pico muito próximos a corrente na chave S1 (a mais próxima

da saída) parece sofrer uma ondulação maior. Este comportamento ocorre porque a chave S2

está no mesmo ramo do indutor de equilíbrio quando é acionada. Ora, devido a um laço de

baixa impedância, a variação de corrente neste indutor é desprezível, apesar de sua indutância

ser muito inferior à do indutor de saída. Entretanto, pelas leis de circuito, as correntes em cada

nó estão relacionadas entre si. Desta forma, é de se esperar que parte da ondulação da saída

seja refletida para as correntes nos ramos. Generalizando, pode-se dizer que quanto mais

Page 50: Conversores Multiníveis em Corrente

38

distante a chave estiver do ponto C da célula multinível menor será a sua ondulação, já que a

influência da corrente de saída passa a ser menos acentuada.

O conversor buck-2 células também foi implementado em laboratório, para

verificação das conclusões teóricas e simuladas. A Fig. 2.12 mostra o circuito experimental,

onde se verifica que foram utilizados MOSFETs como chaves ativas. Estes elementos foram

posicionados no circuito de forma a permitir a referência ao mesmo ponto de “source”, a fim

de simplificar o circuito de comando. É fácil concluir, entretanto, que a natureza “buck” do

circuito ainda é preservada. Os parâmetros de potência do circuito experimental são: V=50V;

D=0,8; fs=20kHz; Lo=330µH; L1=14µH, Ro=4Ω. Por outro lado, a Fig. 2.13 mostra o circuito

gerador de pulsos para os gates dos MOSFETs, baseado no circuito integrado SG3525

(Silicon General).

2 x IRF 530

4 Ω

330 µ F

14 µ H

i o

i 1

2 x MUR 830

50V

i S1

i D1

i S2

i D2

Fig. 2.12 - Conversor buck MNC-2 células montado em laboratório.

15 13

Vcc=15V

1N414847R P/ GATES

15V

820R

BC558A

14

11

169

1210

567

8

0.1u

10n 10K

35252K

freqüênciarazão-cíclica

1N4148

Fig. 2.13 - Circuito de geração de pulsos.

A Fig. 2.14 mostra os resultados experimentais obtidos do protótipo de

laboratório da Fig. 2.12, para o qual se adotou um atraso nulo no disparo das chaves. Para este

Page 51: Conversores Multiníveis em Corrente

39

circuito, os valores teóricos indicam uma corrente de saída de 10A e corrente no indutor de

equilíbrio e pico nas chaves de 5A. Fica claro, baseado nas formas de onda da Fig. 2.14, que a

distribuição de corrente alcançada é muito próxima da ideal, apesar da ondulação presente na

corrente de saída. Mesmo não apresentando três níveis de corrente na fonte de tensão, os

resultados são qualitativamente muito próximos dos resultados ideais e simulados em

computador. Detalhes sobre o projeto deste conversor serão apresentados no Capítulo 4.

i o

i1

0

0

20 us/div2 A/div

iD2

iD1

0

0

0

iS1

iS2

Fig. 2.14- Resultados experimentais para o conversor buck-2 células.

(a) Corrente nos Indutores; (b) Corrente nos IGBT’s (c) Corrente nos diodos

A operação com pulsos coincidentes, ou seja, mesmo sinal de comando para todas as

chaves, será abordada no Capítulo 4. Por outro lado, a operação dos conversores MNC com

atrasos no comando para aproveitamento de todos os níveis de corrente, será amplamente

explorada no Capítulo 5 e Capítulo 6. É possível definir, além disso, um caso particular do

disparo com sinais defasados. Trata-se de determinar que haja sempre uma chave em

condução, e nesta situação não haverá nível zero de corrente na fonte. Esta situação será

referenciada aqui como “comandos superpostos” e está ilustrada na simulação da Fig. 2.15.

Percebe-se que, para o caso de duas células associadas, é necessário que as razões cíclicas

(a)

(b)

(c)

Page 52: Conversores Multiníveis em Corrente

40

sejam maiores que 50%. Os parâmetros de potência são: V=50V; D=0,8; fs=20kHz;

Lo=400µH; L1=150µH, Ro=0,32Ω, definindo uma corrente de saída perto de 120A. Da figura

nota-se também o estabelecimento de uma excelente distribuição de corrente entre as chaves

(nível aproximado de corrente durante a condução). O arquivo de descrição de circuitos

(“.cir”) desta simulação no programa Pspice® é incluído no Apêndice A (b2i_nonzero.cir).

(a) (b)

Fig. 2.15 - Conversor buck MNC- 2 células com comandos superpostos.

(a) De cima para baixo: corrente na saída, no indutor de equilíbrio e na fonte; (b) correntes nas chaves

2.3. Aplicação aos Conversores CC-CC

A célula MNC da Fig. 2.1 pode ser adaptada topologicamente a basicamente todos os

conversores estáticos, desde que apresentem um ponto comum conectado a uma fonte de

corrente “firme” (contínua ou alternada, sem ocorrência de “descontinuidade”) e que possuam

a estrutura definida em termos de células de comutação.

A Fig. 2.16 apresenta a adaptação da célula da Fig. 2.1 a todos os conversores cc-cc

não isolados. Foi incluído na letra (a) o conversor buck, já estudado nas seções anteriores.

Esta é uma representação simplificada, já que os ramos de entrada e saída foram considerados

ou uma fonte de tensão ou uma fonte de corrente. A célula MNC é destacada nos circuitos por

uma linha tracejada. O indutor de equilíbrio foi indicado simplesmente por L.

Page 53: Conversores Multiníveis em Corrente

41

Os conversores da Fig. 2.16 podem ser comandados com pulsos coincidentes, situação

em que a corrente total é dividida pelas chaves, ou com pulsos defasados, o que além da

divisão permite o “terceiro nível” de corrente na fonte de tensão. Detalhes destas duas

aplicações serão apresentados nos capítulos 4 e 5. Deve-se observar, ainda, que a corrente no

nó C da célula não é a mesma para todos os conversores. Assim, nesta figura, as correntes

indicadas nos indutores de equilíbrio, L, revelam a particularidade de cada conversor.

Também foi indicado na figura a posição do nó ©.

IoIo/2

S2 S1

D2 D1Vi

L

(a)

II/2

S2 S1

D2

D1

Vo

(b)

L

(c)

Ia/2S1

S2 D2

D1

VoVi

L

Ii Io

S1 S2

Ca

D2 D1

(Ii+Io)2

(d)

L

Ii

S1 S2

Ca

D2D1(Ii+Ia)

2

Vo

Ia

La

(e)

L

D2S1

S2

Vi

Ia La

Ca

IoD1

(Ia+Io)2

(f)

L

Ia La

C C

C

C

C

C

Fig. 2.16 - Topologia dos conversores cc-cc MNC 2 células.

a) Buck; b) Boost; c) Buck-Boost; d) C’uk; e) Sepic; f) Zeta

2.4. Aplicação aos Inversores de Tensão

Os inversores de tensão são estruturas que possuem uma tensão de entrada do tipo cc,

em geral constante e com baixa ondulação, e que alimentam uma carga impondo uma corrente

do tipo alternada. Devido a esta definição, não existe nestes conversores um ramo onde

circule uma corrente cc de nível constante. Assim, o conceito de multiníveis de corrente não

pode ser aplicado aqui da maneira convencional. Entretanto, pela utilização da célula MNC os

inversores de tensão podem, pelo menos, beneficiar-se do divisão equilibrada de corrente

Page 54: Conversores Multiníveis em Corrente

42

entre as células, sobretudo do ponto de vista dinâmico, conforme será explorado no Capítulo

4. A Fig. 2.17 mostra um inversor de tensão monofásico em ponte completa, para o qual cada

“braço inversor” foi composto de três células de comutação associadas em paralela por meio

da nova topologia. Fica evidente a possibilidade de generalização para um número qualquer

de células ou mesmo para estruturas trifásicas (ou polifásicas). Este tipo de conversor permite

uma série de variações quanto à natureza da carga, isolamento e técnicas de comando. Estes

pontos serão discutidos mais oportunamente no Capítulo 4.

V o

Carga

L2 L1 L'2L' 1i

Fig. 2.17 - Inversor de tensão monofásico em ponte completa a 3 células.

2.5. Aplicação aos Inversores de Corrente

A célula genérica MNC da Fig. 2.1 pode também ser adaptada aos inversores de

corrente. Na realidade isto significa considerar que no ponto C da célula existe uma fonte de

corrente de entrada e que os terminais T1 e T2 serão a saída para a carga (que receberá uma

corrente do tipo alternada). A célula de comutação de corrente básica já foi apresentada na

Fig. 1.20c do capítulo anterior, onde cada chave com diodo em anti-paralelo (típica dos

conversores alimentados em tensão) foi substituída pelo conjunto de chaves com diodos em

série. Os tiristores (SCR, GTO, etc.) são chaves que representam este conjunto num único

elemento semicondutor, sendo portanto candidatos naturais em uma implementação prática de

alta potência. Também os IGBTs de tecnologia NPT possuem esta mesma característica. A

Fig. 2.18 mostra a associação paralela destas células utilizando a orientação MNC proposta

aqui. Deve-se perceber que os níveis intermediários de corrente nos indutores de equilíbrio

são os mesmos deduzidos na primeira seção deste capítulo.

Page 55: Conversores Multiníveis em Corrente

43

L

L

1

n-1

SSS

12n

T1 T2

S'S'2 n

I

In

C

S'1

In

(n-1)

In

In

In

In

In

In

Fig. 2.18 - Célula genérica aplicada aos inversores de corrente.

A Fig. 2.19 mostra a adaptação da célula genérica da Fig. 2.18 a uma estrutura de duas

células. Este conversor é capaz de impor à carga até cinco níveis de corrente: I, I/2, 0, -I/2, -I,

como mostra a Fig. 2.20. Desta forma ele pode oferecer uma saída de melhor qualidade,

quando comparado com o inversor de corrente convencional. Além disso, a corrente de

entrada será dividida entre as células da estrutura, o que permite a utilização de chaves com

metade do valor nominal de corrente. Este conversor é especialmente útil no processamento

de fontes de corrente de alta potência, como as obtidas por meio de reatores à base de bobinas

supercondutoras (SMES - “Superconducting Magnetic Energy Storage systems). Detalhes

sobre as técnicas de comando, aplicações, projeto, controle, bem como generalização para

outros níveis e número de fases serão discutidos no Capítulo 6.

L

L

CargaI

S S'1 1

S S'

S

2 2

S

S'S'4

3 34

p

n

I2

I2

T1 T2

Fig. 2.19 - Inversor de corrente MNC - 2 células.

Page 56: Conversores Multiníveis em Corrente

44

Fig. 2.20 - Corrente multinível na carga, 60Hz..

2.6. Aplicação aos Retificadores

O inversor de tensão da Fig. 2.17 pode ser reconfigurado para operar como um

conversor ca-cc. A fonte de tensão de entrada deve possuir em série um filtro de corrente,

determinando uma característica tipo boost, conforme mostrado na Fig. 2.21. Outro motivo

para esta denominação é que a tensão de saída média, voMédia, deve ser no mínimo igual à

tensão de pico de entrada, 2V. Esta estrutura será melhor considerada no Capítulo 4.

L2 L1 L'2L' 1

v t( ) = 2Vsen( t)ω

vo

L i

Fig. 2.21 - Conversor ca-cc MNC - 3 células tipo boost (ou retificador de corrente).

O inversor de corrente da Fig. 2.19 também pode ser reconfigurado para operar como

um conversor ca-cc. Neste caso deverá existir uma fonte de tensão alternada conectada aos

pontos T1 e T2, enquanto que a saída deve possuir um filtro razoável de corrente para

manutenção do nível e qualidade da corrente cc. Esta adaptação é mostrada na Fig. 2.22,

sendo muito útil em aplicações de potência elevada. Nesta estrutura a corrente de saída cc, Io,

é dividida equilibradamente entre os pares de chaves. Além disso a corrente na fonte de

tensão pode ser “esculpida” em até cinco níveis para apresentar um baixo conteúdo

Page 57: Conversores Multiníveis em Corrente

45

harmônico, de forma similar à mostrada na Fig. 2.20. Outros detalhes como implementação,

comando e controle serão vistos no Capítulo 6. Também será demonstrado que a tensão de

saída média, voMédia, é sempre inferior ao valor de pico da tensão de entrada, o que justifica a

denominação: retificador buck.

L

L

Carga

I

S S'1 1

S S'

S

2 2

S

S'

4

3 3S'4

p

n

T1T2

o

filtro

I2o

I2o vo

v t( ) = 2Vsen( t)ω

Fig. 2.22 - Retificador ca-cc monofásico a duas células tipo buck (ou retificador de tensão).

2.7. Conclusões

Neste capítulo a célula MNC foi apresentada, tendo sido estudada de uma forma

básica a fim de se esclarecer seu funcionamento teórico, métodos de comando,

equacionamento simplificado e condições fundamentais de equilíbrio de corrente e

estabelecimento de multiníveis. Alguns resultados simulados e experimentais foram incluídos

para comprovação das suposições teóricas. A aplicação da célula MNC foi considerada para

os principais conversores estáticos conhecidos.

Page 58: Conversores Multiníveis em Corrente

46

3. Modelo Matemático dos Conversores MNC

objetivo deste capítulo é estender os conhecimentos sobre a célula MNC

por meio de modelos matemáticos simplificados. Além de poder ser usada

para confirmar as deduções teóricas do Capítulo 2, a modelagem

matemática permite ainda obter uma série de informações úteis visando o

dimensionamento de componentes, projeto de controladores, etc. Serão tomados como

exemplo alguns conversores MNC básicos, apesar de a técnica utilizada aqui poder ser

aplicada a qualquer estrutura MNC mais complexa. Parte dos resultados aqui apresentados

foram publicados em [48] e [64].

Existem várias técnicas de modelagem de conversores PWM que podem ser adaptadas

ao conversor MNC [44], [45], [46]. Uma técnica introduzida recentemente por Vorpérian [37]

consiste em substituir cada célula de comutação por seu circuito equivalente médio, ou seja, o

modelo equivalente linearizado de pequenos sinais. Esta técnica é bastante simples, objetiva e

dá bons resultados. Ela será resumida na Seção 3.1 e aplicada à célula MNC nas seções

seguintes.

3.1. Modelo da chave PWM

O conceito de célula de comutação (ou chave PWM, conforme denominado em [37]),

foi discutido no Capítulo1. A modelagem da chave PWM consiste em isolar, para um

determinado conversor, o dispositivo não linear de três terminais (que é uma estrutura comum

a inúmeros conversores) e determinar suas propriedades invariantes. Feito isto um modelo de

circuito equivalente médio pode ser obtido, devendo ser substituído na estrutura original.

Este procedimento é muito semelhante ao realizado no estudo básico de transistores bipolares

por meio de um circuito equivalente de pequenos sinais. A técnica da chave PWM pode ser

empregada em conversores em modo de condução contínua (“continuous conduction

mode” - CCM) ou descontínua (“discontinuous conduction mode” - DCM) [47]. Apenas o

modelo CCM será apresentado e utilizado aqui, já que na célula MNC as correntes nos

indutores devem manter-se em seus níveis relativos com ondulação reduzida, a fim de garantir

a repartição equilibrada de corrente. A Fig. 3.1 mostra o circuito equivalente completo para a

chave PWM, incluindo algumas não-idealidades (resistência de capacitores e chaves).

OCapítulo

Page 59: Conversores Multiníveis em Corrente

47

1 : D- + DV D d

I cd

A

P

i a

C

i c

D (1-D) r e

vap vcp

D rA + (1-D) rP

Fig. 3.1 - Circuito equivalente da chave PWM.

Na Fig. 3.1 as variáveis D, IC e VD referem-se aos valores da razão cíclica, corrente no

nó comum C e da tensão definida pela equação (3.1), respectivamente, para um ponto de

operação qualquer. As quantidades re, rA e rP estão associadas às resistências séries parasitas

de capacitores (para algumas estruturas), resistência de condução da chave ativa e resistência

de condução da chave passiva, respectivamente. As fontes auxiliares de tensão e de corrente

são excitadas, ambas, por eventuais perturbações na razão cíclica, d. É claro que na ausência

de tais perturbações estas fontes entram em repouso. O circuito é, assim, útil para determinar

o comportamento de conversores em regime de razão cíclica constante, bem como quando

perturbado pela tensão de entrada, razão cíclica ou carga. A quantidade VD consiste numa

variável auxiliar descrita por:

V V I D rD ap c e= + −( )2 1 . (3.1)

Onde Vap é o valor da tensão entre os terminais A e P no ponto de operação, situação

em que a razão cíclica é D e a corrente que sai do nó C é IC. Por outro lado, o parâmetro re,

presente na Fig. 3.1 e na equação (3.1), é uma figura de mérito particular para cada conversor

e está relacionada com a ondulação na tensão vap. Da mesma forma, os valores de Vap e IC

devem ser relacionados com as variáveis correspondentes para o conversor estudado. A

Fig. 3.2 mostra as topologias dos conversores básicos cc-cc não-isolados, destacando-se a

chave PWM e seus terminais A, P e C. Alguns conversores foram desenhados de forma não-

convencional para facilitar o agrupamento de suas chaves na célula básica.

Page 60: Conversores Multiníveis em Corrente

48

+

+

+

+

+

+

+

+

+

CA

P

A

A

A

A

A

P

P

P

P

P

C

C

C

C

C

Ca

Cf

Ca

Ca

Ca

Cf

Cf

Cf

Cf Cf

Ro

Ro

Ro

Ro

Ro

Ro

Buck

Buck-Boost

Boost

Cuk

Sepic

Zeta

Fig. 3.2 - Conversores básicos cc-cc não-isolados.

A Tabela 3.1 mostra o valor literal do parâmetro re para os conversores cc-cc mais

comuns, admitindo fontes de tensão de entrada ideais nas topologias buck, buck-boost e zeta.

Percebe-se que re está sempre relacionado com a resistência série parasita dos capacitores da

estrutura. Assim, este parâmetro pode, em determinados casos, ser desprezado sem prejuízos

significativos de precisão no modelo resultante obtido.

TABELA 3.1

- O PARÂMETRO re PARA OS CONVERSORES CC-CC-

Conversor re

Buck 0

Boost rCf // Ro Buck-Boost rCf // Ro Cuk rCa Sepic (rCf // Ro)+rCa Zeta rCa

Por meio deste conjunto simplificado de informações torna-se possível transformar as

estruturas MNC em circuitos equivalentes lineares, de pequenos sinais. Baseado nas

estruturas apresentadas no capítulo anterior, pode-se supor que os conversores MNC estão

Page 61: Conversores Multiníveis em Corrente

49

sujeitos a perturbações provenientes das fontes de entrada (ou saída) e razão cíclica. Desta

forma, a análise da célula MNC será tratada em duas partes. A primeira delas supõe razão

cíclica fixa e investiga o comportamento da estrutura em função de variações na entrada. A

análise seguinte considera a entrada fixa e estuda o que ocorre quando a razão cíclica varia. É

claro que, rigorosamente, perturbações de outra natureza poderiam ocorrer (tais como

variação na carga, envelhecimento, temperatura, etc.). Entretanto, estes efeitos poderiam ser

estudados a partir dos modelos básicos. De fato, a proposição de equações e modelos para os

conversores MNC pode se tornar uma tarefa muito extensa. Restringindo, por exemplo, a

análise aos seis conversores básicos da Fig. 3.2 e considerando estruturas com duas e três

células paralelas, as duas análises (com razão cíclica variável e entrada variável)

determinariam 24 conjuntos completos de equações no domínio da freqüência (ou 60

equações). Sem computar o processamento algébrico para obtenção de equações no tempo ou

análise de não-idealidades! Assim, o desenvolvimento matemático das próximas seções estará

restrito, em geral, aos conversores cc-cc MNC buck e boost. Quando necessário, a análise

poderá ser estendida a outros conversores e particularidades.

3.2. Modelo Entrada-Saída do Conversor Buck - 2 células

A análise entrada-saída consiste em manter fixa a razão cíclica de um conversor e

verificar o que ocorre com as variáveis de interesse, supondo a entrada como excitação. No

estudo dos conversores MNC este tipo de análise pode ser usado como um método

matemático de obtenção dos níveis e distribuição de corrente na estrutura. É, portanto, uma

verificação alternativa à prova geral teórica apresentada no capítulo anterior. Para os

conversores cc-cc, por exemplo, a análise é feita considerando um degrau na tensão de

entrada do conversor.

Conforme mencionado, o circuito equivalente da Fig. 3.1 pode ser usado para diversos

tipos de modelagem. Para o estudo do comportamento entrada-saída de conversores (razão

cíclica constante) este circuito pode ser consideravelmente simplificado, caso sejam admitidas

algumas condições. Assim, para delimitar a validade do modelo, considera-se que:

i. Quando em condução, as chaves ativas e passivas comportam-se como

resistências puras, rA e rp, respectivamente; sendo substituídas no modelo por uma

resistência única, r, conforme expresso na equação (2.8) do capítulo anterior.

ii. Os capacitores são ideais, com resistência série nula.

iii. Os indutores são ideais (sem resistência parasita).

Page 62: Conversores Multiníveis em Corrente

50

iv. O circuito opera no modo de condução contínua (CCM), ou seja, a corrente nos

indutores não cai a zero nunca.

v. As chaves operam com a mesma razão cíclica D.

Nestas condições o circuito equivalente da Fig. 3.1 reduz-se ao mostrado na Fig. 3.3.

1 : DA

P

i a

C

i c

r

Fig. 3.3 - Modelo entrada-saída simplificado da chave PWM .

Substituindo o modelo da Fig. 3.3 nos terminais de cada par de chaves PWM no

circuito do conversor buck - 2 células da Fig. 2.8 obtém-se o circuito equivalente da Fig. 3.4.

Os modelos de cada célula foram envolvidos com uma linha tracejada e algumas variáveis de

apoio foram introduzidas nesta figura. Para esta técnica de modelagem, a forma mais simples

(e convencional) de consideração das chaves seria admitir nula sua resistência de condução.

Entretanto, é fácil concluir da Fig. 3.4 que esta simplificação tornaria impossível a obtenção

de uma expressão para a corrente no indutor de equilíbrio, L1, já que ele estaria submetido a

uma diferença de potencial igual a zero.

v(s)

1:D D:1r

r

Ro

i (s)1

s L1i (s)x

D i (s)x

D i (s)1

s.Lo+ io(s)

vo(s)

+

s C1

o

Fig. 3.4- Circuito equivalente entrada-saída do conversor buck - 2 células.

O circuito da Fig. 3.4 pode, então, ser resolvido para a corrente de saída e a do indutor

de equilíbrio. Estas quantidades representam o conjunto mínimo de variáveis que permitem

uma boa percepção da distribuição de corrente na estrutura. Utilizando as leis convencionais

de solução de circuitos elétricos pode-se escrever:

Page 63: Conversores Multiníveis em Corrente

51

i i ix o+ =1 . (3.2)

iDv s v s

r sL11

=−

+( ) ( )o . (3.3)

iDv s v s

rxo=

−( ) ( ). (3.4)

v s Z i so o( ) ( )= . (3.5)

Onde,

ZL C R s L s R

R C s=

+ ++

o o o o o

o o

2

1. (3.6)

Com alguma manipulação algébrica pode-se eliminar as variáveis auxiliares vo(s) e

ix(s) para escrever:

i s i sDv s i s sL

RR C s

ro

o oo

o o1

1( ) ( )

( ) ( ).= −

− ++

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

⎣⎢

⎦⎥

(3.7)

i sDv s i s sL

RR C s

r sL

o oo

o o1

1( )

( ) ( ).=

− ++

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

⎣⎢

⎦⎥

+ (3.8)

As equações (3.7) e (3.8) apresentam apenas duas variáveis desconhecidas i1(s) e

io(s), já que v(s) é a tensão de entrada (uma excitação conhecida). Logo, resolvendo

estas equações simultaneamente pode-se encontrar as seguintes funções de

transferência:

i sv s

R C s r sL DH s

o o o( )( )

( )( )( )

.=+ +1 2 1 ( 3.9)

i sv s

R C s rDH s

o o1 1( )( )

( )( )

.=+

( 3.10)

Onde:

Page 64: Conversores Multiníveis em Corrente

52

H s L L C R s rL R C L L L C R r s

L r rL r R C R L s R r ro o o o o o o o o

o o o o o

( ) ( )( ) .

= + + + +

+ + + + + +1

31 1

2

12

12

22 2

( 3.11)

As funções de transferência anteriores são de especial importância pois traduzem a

característica dinâmica do conversor utilizando a célula MNC. Podem, portanto, ser utilizadas

para se obter a resposta transitória e em regime permanente do conversor. De fato, as

equações (3.9)-(3.11) podem ser simuladas com recursos matemáticos do programa Pspice©

para serem comparadas com os resultados convencionais de simulação, como mostra a

Fig. 3.5. Considerou-se nesta simulação um degrau de 50V na tensão de entrada, adotando-se

fS=20kHz, D=0,6; L1=50µH, Lo=400µH, r=0,1Ω, Ro=1,5Ω e ∆t=1µs. Neste conjunto de

parâmetros a variável fS representa a freqüência de chaveamento do conversor (disparo das

chaves). O arquivo de descrição de circuitos (“.cir”) para simulação no Pspice® é apresentado

no Apêndice A (b2i3nmod.cir).

Fig. 3.5 - Resultados de simulação do conversor buck - 2 células.

(a) Circuito convencional; (b) Funções de transferência

Da Fig. 3.5 percebe-se que o modelo matemático proposto apresenta resultados muito

próximos dos simulados convencionalmente. Além disso eles confirmam os resultados

teóricos do capítulo anterior, ou seja, em regime permanente a corrente no indutor de

equilíbrio é metade da corrente de saída (o que garante distribuição equilibrada entre as

Corrente de

Corrente no Indutor

(a)

(b)

Funções de Transferência

Corrente de

Corrente no Indutor

Page 65: Conversores Multiníveis em Corrente

53

chaves). Agora, com alguma manipulação algébrica pode-se buscar as respostas no tempo de

io e i1 para, por exemplo, um degrau na tensão de entrada. Por definição, a saída do conversor

buck se comporta como uma fonte de corrente. Assim, se Co é feito nulo nas equações

anteriores não há alteração substancial nesta definição básica. Este procedimento, por outro

lado, determina uma simplificação desejável, já que reduz o trabalho matemático. Desta

forma, substituindo v(s) por V/s nas equações (3.9) e (3.10), além de fazer Co=0, chega-se a:

i sr sL DV

H so ( )( )

( ).=

+2 1

2 ( 3.12)

i srDVH s1

2( )

( ).= ( 3.13)

Onde:

H s L L s L r rL R L s R r r so o o o2 13

1 12 22 2( ) ( ) ( ) .= + + + + + ( 3.14)

Para uma boa faixa de casos práticos pode-se afirmar que a resistência de carga, Ro, é

muito maior que a resistência das chaves, r. Isto induz à suposição de que os termos rL1 e r2

exercem pouca influência em resultados numéricos relacionados com a equação anterior,

podendo ser desprezados sem prejuízo considerável. Finalmente, pode-se expandir H2(s) em

frações parciais e obter as transformadas inversas de Laplace das equações (3.12) e (3.13):

i tDVR

eoo

RL

to

o( ) .= −⎛

⎝⎜

⎠⎟

1 ( 3.15)

i tDV

RDV

rL R LL

erLR

eo o o

rL

t o

o

RL

to

o1

1

12

2 2 21( )

( ).= +

−−

⎝⎜

⎠⎟

− −

( 3.16)

As equações (3.15) e (3.16) revelam que em regime permanente (t→∞) a corrente no

indutor de divisão, i1, é a metade da corrente de saída, io, resultado coerente com as

conclusões teóricas do capítulo anterior. A equação (3.15) mostra ainda que a variação da

corrente de saída obedece a uma constante de tempo unicamente dependente do filtro de

saída, Lo, e da resistência de carga, Ro. Pode-se dizer que -Lo/Ro é a constante de tempo da

saída. Por outro lado, a corrente em L1 depende, não somente desta constante de tempo, como

também da constante de tempo -L1/2.r, que pode ser denominada constante de tempo do

conversor MNC buck - 2 células. Deve-se lembrar que as variações de io e i1, expressas por

Page 66: Conversores Multiníveis em Corrente

54

(3.15) e (3.16), indicam tão somente os valores médios instantâneos destas variáveis, não

sendo capazes de refletir a natureza chaveada do conversor.

A Fig. 3.6 mostra as representações gráficas das equações (3.15) e (3.16) para os

mesmos parâmetros de simulação da Fig. 3.5. Pode-se observar uma razoável concordância

com aqueles resultados, bem como com os resultados teóricos, apesar das simplificações

supostas.

0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.00

5

10

15

20

io (t)

i1 (t)

Tempo (ms)

Fig. 3.6- Representação gráfica das equações (3.15) e (3.16).

A Fig. 3.7 mostra os resultados de um ensaio transitório (degrau de 50V na tensão de

entrada) executado em laboratório para o conversor buck MNC-2 células. O circuito

empregado é o mesmo da Fig.2.12 (Capítulo 2), usando MOSFETs IRF 530 e diodos MUR

1515 como chaves ativas e passivas, respectivamente. Os demais parâmetros foram fS=20kHz;

D=0,8; L1= 14µH; Lo=330µH e Ro=4Ω (resultando numa potência em regime de 400W).

Apesar de os parâmetros serem diferentes dos utilizados na simulação e equações teóricas,

pode-se observar uma excelente concordância qualitativa.

0

2 A/div

200 us/div

io

i 1

Page 67: Conversores Multiníveis em Corrente

55

Fig. 3.7 - Resposta ao degrau de tensão para o conversor buck MNC-2 células (experimental).

3.3. Modelo Entrada-Saída do Conversor Buck - 3 células

De modo a obter dados que facilitem o estudo de generalização do conversor MNC

pode-se executar os mesmos passos de modelagem realizados para o conversor buck-2 células

para o conversor buck-3 células, representado na Fig. 3.8. Nesta figura o capacitor de saída já

foi considerado nulo, para simplificação das manipulações algébricas. A substituição do

modelo da Fig. 3.3 nesta estrutura é mostrada na Fig. 3.9.

SS

L

DD

LR

V

ii 1 o

i v

voVo

i 2

S

L

123

12D3

12 oo

Fig. 3.8- Conversor buck MNC - 3 células.

r r r

sLo

sL1sL2

Rov(s) vo (s) io(s)

ix(s)

D :11:D 1:D

ia(s)

v2 (s)

i2(s) i1(s)

Fig. 3.9 - Modelo linear do conversor buck MNC - 3 células.

Utilizando as regras convencionais de solução de circuitos para o circuito da Fig. 3.9,

pode-se escrever:

i s i s i sa1 2( ) ( ) ( )= + . ( 3.17)

i s i s i sxo ( ) ( ) ( )= +1 . ( 3.18)

i sv s

sL Ro oo

o( )( )

=+

. ( 3.19)

i sDv s v s

rxo( )

( ) ( )=

− . ( 3.20)

Page 68: Conversores Multiníveis em Corrente

56

i sv s v s

sL1o( )

( ) ( )=

−2

1 . ( 3.21)

i sDv s v s

r sL22( )

( ) ( )=

−+ 2

. ( 3.22)

i sDv s v s

ra ( )( ) ( )

=− 2 . ( 3.23)

Estas equações constituem um sistema de sete equações a sete incógnitas. Resolvendo

para io(s), i1(s) e i2(s) obtém-se:

i sv s

L L s rL rL s r DH s

o ( )( )

[ ( ) ]( )

=+ + +1 2

22 1

2

3

2 2 3 . ( 3.24)

i sv s

r sL rDH s

1 2

3

2( )( )

( )( )

=+

. ( 3.25)

i sv s

r DH s

22

3

( )( ) ( )

= . ( 3.26)

Onde,

H s L L L s rL L R L L rL L L L r s

L r r L rR L rR L L r s r R ro o o o

o o o o

3 1 23

1 2 1 2 2 12

22 2

1 2 12 3 2

2 22 2 2 3 3

( ) ( )( ) .

= + + + + +

+ + + + + + + ( 3.27)

As funções de transferência (3.24)-(3.26) podem ser simuladas no programa Pspice© a

fim de serem comparadas com os resultados de simulação convencional. Estas formas de onda

são apresentadas na Fig. 3.10, onde utilizou-se um degrau de tensão de entrada de 48V e

fS=20kHz; D=0,5; L1=L2=50µH; Lo=400µH; r=0,1Ω; Ro=1,0Ω e ∆t=1,0µs.

Pode-se observar que os resultados obedecem à distribuição teórica (Io, 2Io/3 e Io/3) e

que a modelagem matemática é, mais uma vez, confirmada.

Page 69: Conversores Multiníveis em Corrente

57

Fig. 3.10 - Simulação do conversor buck - 3 células.

(a) Simulação convencional; (b)Funções de Transferência

Admitindo agora que r seja muito menor que Ro e que L1 e L2 sejam ambos muito

menores que Lo pode-se desprezar em (3.27) os termos rL1L2, L2 r2, 2 r2L1 e r3. É possível

supor, ainda, em experimentos práticos que L1=L2=L. A adoção destas medidas simplifica

consideravelmente a expansão em frações parciais de H3(s) e a conseqüente obtenção da

transformada inversa de io(s), i1(s) e i2(s). (Na prática, entretanto, considerar as indutâncias de

equilíbrio muito menores que o indutor de filtro é uma condição que não se verifica

invariavelmente. Os capítulos seguintes discutem em que condições esta simplificação é

possível.) Executando, portanto, estes procedimentos, chega-se a:

i tDVR

eoo

RL

to

o( ) ( )= −−

1 ( 3.28)

(a)

(b)

Page 70: Conversores Multiníveis em Corrente

58

i tDVR

DVrL R L rL R L

rL R L rLR

erL R L L

erL R L L

e

o o o o o

o o oR

Lt o o

rL

t o or

Lt

o

o

1

3

23 3

2 32 6

( )( )( )

( ) ( ) ( ).

.

= +− −

⋅− −

+−

+−⎡

⎣⎢⎢

⎦⎥⎥

− − − ( 3.29)

i tDVR

DVLrL R L rL R L

r LRL

erL R L L

erL R L L

e

o o o o o

oR

Lt o o

rL

t o or

Lt

o

o

2

2 2 3

13 3

32 6

( )( )( )

( ) ( )..

.

= +− −

⋅ +−

+−⎡

⎣⎢⎢

⎦⎥⎥

− − − ( 3.30)

A Fig. 3.11 mostra a representação gráfica das equações (3.28), (3.29) e (3.30).

Novamente percebe-se uma estreita semelhança entre os resultados da estratégia de

modelagem proposta com os resultados obtidos de simulação computacional, o que valida as

proposições e conclusões emitidas neste item.

0

5

10

15

20

io (t)

i1 (t)

i2 (t)

0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 Tempo (ms)

Fig. 3.11- Representação gráfica das equações (3.21), (3.22) e (3.23).

As equações (3.29) e (3.30) revelam a presença de constantes de tempo diferentes das

presentes no conversor buck - 2 células. Mesmo assim, as constantes -L/r e -L/3r podem ser

definidas como constantes de tempo do conversor buck - 3 células, já que são determinadas

apenas por parâmetros inerentes à célula. Utilizando um programa de apoio algébrico (como o

MathCad®) e recorrendo ao circuito equivalente da Fig.2.7 (cf. Capítulo 2) pode-se obter, de

uma forma mais simples, as constantes de tempo para conversores de níveis maiores, como

mostra a Tabela 3.2. Considerando que todos os conversores MNC utilizem a mesma célula

genérica multinível pode-se inferir que as constantes desta tabela são típicas para a célula

MNC, e não somente para o conversor cc-cc tipo buck. Apenas deve-se fazer uma ressalva

quanto à constante de tempo -Lo/Ro, que no caso genérico será a constante de tempo do ramo

externo conectado ao ponto C da célula.

Page 71: Conversores Multiníveis em Corrente

59

TABELA 3.2 - CONSTANTES DE TEMPO DOS CONVERSORES MNC -

Número de células

Constantes de tempo (assumindo indutores de equilíbrio iguais, L)

2 -LoRo

-L.2 r

3 -LoRo

-Lr

-L.3 r

4 L

.r 2 2

L

.r 2 2 “além das presentes para n=2”

5 Lo

Ro

.2 L

.r 3 5

.2 L

.r 3 5

.2 L

.r 5 5

.2 L

.r 5 5

6 -L.2 r

L

.r 2 3

L

.r 2 3 “além das presentes para n=3”

7 -LoRo “mais seis expressões extensas”

8 L

.r 2 2 2

L

.r 2 2 2

L

.r 2 .i 2 2

L

.r 2 .i 2 2 “além das presentes para n=4”

9 -LoRo “mais oito expressões extensas”

10 L.2 r

.2 L

.r 4 .2 5 5

.2 L

.r 4 .2 5 5

.2 L

.r 4 ..i 2 5 5 .2 L

.r 4 ..i 2 5 5 “além das presentes para n=5” Obs.: Nesta tabela, i é o número complexo: −1 .

Como pode ser constatado nesta tabela, à medida que a ordem do conversor aumenta

começam a surgir números complexos (imaginários). Entretanto, a constante de tempo do

ramo ligado ao nó C da célula, -Lo/Ro, está sempre presente influenciando a evolução das

correntes; o que reforça a idéia de um sistema com saída (ou entrada) em corrente e partilha

por ramos paralelos. Da mesma forma as constanted de tempo de configurações com número

par de células repetem algumas constantes das “configurações metade”, como sugerem os

casos hachurados. Para os conversores de sete e nove células as constantes de tempo são

expressões muito extensas, tendo sido omitidas na tabela. A importância dos dados contidos

na Tabela 3.2 consiste no entendimento da resposta transitória dos conversores MNC. As

constantes de tempo indicam a “inércia” do conversor MNC em responder às variações que

ocorrem na corrente do nó C. Constantes de tempo mais rápidas implicam em melhor resposta

e, conseqüentemente, melhor distribuição de corrente.

Page 72: Conversores Multiníveis em Corrente

60

As equações (3.28), (3.29) e (3.30) confirmam diversos pontos já mencionados

anteriormente:

• A característica do nó C do conversor MNC é independente do número de

células utilizado e constantes do conversor;

• A distribuição de corrente, em regime permanente, entre os indutores de

divisão obedece a lei teórica deduzida no capítulo anterior;

• Baseado nos valores de regime para os indutores pode-se afirmar que todas

as chaves possuem distribuição eqüitativa de corrente;

• A célula MNC permite, sem ação de controle adicional, uma divisão de

corrente similar à obtida com o paralelismo convencional, assunto que será

abordado mais apropriadamente no Capítulo 4.

3.4. Modelo Entrada-Saída do Conversor Boost - 2 células

O conversor boost - 2 células, bem como o circuito equivalente obtido por substituição

do modelo da Fig. 3.3, são mostrados na Fig. 3.12. Os terminais das células de comutação

também são evidenciados nesta figura.

S S

L

r

Lf 1

D1D2

1 2C

R

ooV

i if 1

r

v(s)

(a)

(b)

i a(s)D

i 1(s)Di a(s) (1-D)

s L f

i f (s) i 1

s L 1

(s)

i 1 (s) (1-D)

i a(s)

Ros Co

1v (s)o

v (s)f

1C C2

A1 A2

PP1 2=

1C

C2

PP1 2=

A1 A2

Fig. 3.12- Conversor boost MNC - 2 células e circuito equivalente entrada-saída.

(a) Conversor boost - 2 células; (b) Circuito equivalente linear

Utilizando métodos convencionais de solução de circuitos elétricos, pode-se escrever

para o circuito da Fig. 3.12b:

1:D

1:D

Page 73: Conversores Multiníveis em Corrente

61

[ ]i s i s i s D0 a( ) ( ) ( ) ( )= + −1 1 . ( 3.31)

v s i s i s DRR C s0 1

0

0 01

1( ) [ ( ) ( )]( )= + −

+⎡

⎣⎢

⎦⎥a . ( 3.32)

i s i s i sf a( ) ( ) ( )= + 1 . ( 3.33)

v s r i s v s Df a( ) ( ) ( )( )= + −0 1 . ( 3.34)

i sv s v s

s Lff

f( )

( ) ( )=

−. ( 3.35)

i sv s v s D

sL rf o

11

1( )

( ) ( )( )=

+ −

+. ( 3.36)

As equações (3.31)-(3.36) constituem um sistema de seis equações a seis incógnitas.

Resolvendo para as variáveis de interesse v0(s), i0(s) e i1(s) encontra-se:

v ( )sv ( )s

..Ro ( )1 D .2 r .s L1

H( )so

. ( 3.37)

i ( )sv ( )s

.1 ..Ro s Co .2 r .s L1

H( )sf

. ( 3.38)

i ( )sv ( )s

.1 ..Ro s Co r

H( )s1

. ( 3.39)

Onde,

H( )s

+

...+

.......s3 L1

Lf Ro Co..L

1Lf

....2 Lf r Ro Co s2

...r2 Ro Co.Lo Ro

...2 L1

Ro D ..L1

Ro D2 ..2 Lf r s

r2 ..2 r Ro...4 Ro r D ...2 Ro r D2

. ( 3.40)

Este modelo pode ser facilmente testado através da simulação convencional de um

circuito boost - 2 células e simulação das funções de transferência (3.37)-(3.39), o que é

mostrado na Fig. 3.13. Para esta situação aplicou-se um degrau de tensão de entrada de 200V

e utilizou-se Lf=700µH; L1=10µH; D=0.5; fS=70 kHz; ∆t=0µs; r=0.2; R0=25Ω e C0=10µF.

Pode-se perceber uma excelente concordância entre a simulação convencional e a simulação

do modelo linear à partir das funções de transferência. Em função de a corrente no indutor de

Page 74: Conversores Multiníveis em Corrente

62

equilíbrio ser a metade da corrente de entrada, deve-se esperar uma distribuição de corrente

entre as chaves próxima do ideal.

(a) (b) Fig. 3.13 - Formas de onda do conversor boost - 2 células.

(De cima para baixo: tensão de saída, corrente de entrada e corrente no indutor de equilíbrio)

(a) Simulação convencional; (b) Funções de transferência (modelo linear)

3.5. Modelo Controle-Saída do Conversor Buck - 2 células

Para proceder a este estudo é necessário adaptar o circuito equivalente da Fig. 3.1 ao

circuito do conversor buck - 2 células. Na análise controle-saída a fonte de entrada fica em

repouso (curto-circuito) e a excitação do circuito é a perturbação na razão cíclica. Admite-se,

para este caso, que as duas células recebem a mesma perturbação d(s), que ocorre em ponto

de operação com tensão V e razão cíclica D. Assim, o circuito equivalente adaptado é o

apresentado na Fig. 3.14a. Pode-se observar que os terminais ativos das células, A1 e A2, estão

conectados e aterrados (fonte de tensão de entrada em repouso). Nota-se ainda que a corrente

de regime de saída do nó comum, C, da célula à esquerda é a própria corrente do indutor de

equilíbrio, I1. Por outro lado, para a célula à direita, é a corrente auxiliar IX. Além disso, a

tensão definida pela equação (3.1), VD, assume a tensão entre os terminais ativos e passivos

Page 75: Conversores Multiníveis em Corrente

63

das células; ou seja, V (o valor da tensão de entrada). Devido a estas particularidades o

circuito reduz-se ao mostrado na Fig. 3.14b.

s L1

i x

s.Lo

io(s)vo(s)

Ro

1 : D- + D

V d

I d

i ai 1

D : 1

DV d

+ -

1(s)

(s) (s) (s)

I dx

(s)

r r

s L1

i x

s.Lo

io (s)vo(s)

Ro

i 1 (s)

r r

Vd(s) Vd(s)

A1 A2

P1 P2

C1

C2

(a)

(b)

(s)

(s)

Fig. 3.14 - Circuito equivalente controle-saída buck - 2 células.

Utilizando os métodos convencionais de solução de circuitos elétricos pode-se

escrever para o circuito da Fig. 3.14:

i sVd s v s

r sL10

1( )

( ) ( )=

−+

. ( 3.41)

i sVd s v s

rx ( )( ) ( )

=− 0 . ( 3.42)

i sv s

R sLo0 ( )

( )=

+0

0 . ( 3.43)

i s i s i s0 1( ) ( ) ( )= +x . ( 3.44)

Resolvendo estas equações para vo(s), i1(s) e iX(s), obtém-se:

Page 76: Conversores Multiníveis em Corrente

64

v sd s

sL R r sL VL L s L r rL R L s R r r

o

o o o o

( )( )

( ) ( )( )

=+ +

+ + + + +0 0 1

12

1 12

22 2

. ( 3.45)

i sd s

r sL VL L s L r rL R L s R r r

o

o o o o

( )( )

( )( )

=+

+ + + + +2

2 21

12

1 12 . ( 3.46)

i sd s

r VL L s L r rL R L s R r ro o o o

1

12

1 122 2

( )( ) ( )

=+ + + + +

. ( 3.47)

Pode-se observar que o denominador de (3.45) a (3.47) (equação característica) é

idêntico ao encontrado em (3.14). É claro que este é um acontecimento esperado, já que a

equação característica é inerente ao sistema, e apenas significa que as manipulações

matemáticas são coerentes.

As funções de transferência (3.45)-(3.47) podem ser úteis no projeto de controladores

envolvendo as malhas de tensão e corrente do conversor buck - 2 células. Entretanto, deve-se

considerar que a distribuição equilibrada de corrente no conversor MNC é um processo

natural não necessitando, em geral, de estratégias de controle em malha fechada para ser

alcançada. Sobre esta afirmativa, mais informações serão apresentadas nos capítulos

seguintes.

3.6. Modelo Controle-Saída do Conversor Boost - 2 células

Substituindo o modelo linear da chave PWM da Fig. 3.1 no circuito do conversor

boost MNC - 2 células da Fig. 3.12a chega-se ao circuito equivalente da Fig. 3.15a.

Na maioria dos casos práticos o propósito da análise controle-saída é o de estudar o

comportamento dinâmico do conversor em torno de um ponto de operação determinado.

Nestas condições, a tensão de saída pode ser considerada constante e para efeito do modelo o

ramo da carga é representado por um curto circuito (fonte de tensão em repouso), conforme

representado na Fig. 3.15b.

Page 77: Conversores Multiníveis em Corrente

65

s Lf

s L 1r r

(I - I )d(s)1 f -I d(s)1

d(s)-VD

o RoosC

1

v (s)o

(s)f

i (s)1i

d(s)-VD

or

(s)f

i

s Lf

(s)1i

s L 1

V d(s)o

r

vf (s)V d(s)o

(a) (b)

Fig. 3.15 - Modelo linear controle-saída do conversor boost MNC - 2 células.

(a) Carga genérica; (b) Carga como fonte de tensão (em repouso)

Utilizando as leis convencionais de circuitos elétricos para o circuito da Fig. 3.15b,

pode-se escrever para as variáveis indicadas:

v s i s i s r V d sf f( ) [ ( ) ( )] ( )= − −1 o . ( 3.48)

i sv s V d s

r sLf

11

( )( ) ( )

=++

o . ( 3.49)

i sv ssLf

f

f( )

( )=

− . ( 3.50)

Eliminando a variável auxiliar, vf(s), e resolvendo estas equações para as correntes nos

indutores pode-se encontrar:

211

21

)2()2(

)()(

rsLrrLLLsLsrV

sdsi

ff

Of

+⋅⋅++⋅+⋅⋅

= . ( 3.51)

211

21

)2()()(

rsLrrLLLsrV

sdsi

ff

O

+⋅⋅++⋅

= . ( 3.52)

O zero de (3.51) é dado por:

zr

L=

− 2

1 . ( 3.53)

Por outro lado, a equação característica pode ser reescrita como:

1:D

1:D

Page 78: Conversores Multiníveis em Corrente

66

H( )s Lf s2 L1 r 2

L1Lf

s r2

Lf . ( 3.54)

Os pólos (raízes) da equação característica são:

..12

r.2 Lf L1

.4 Lf2 L1

2

.Lf L1 . ( 3.55)

..12

r.2 Lf L1

.4 Lf2 L1

2

.Lf L1 . ( 3.56)

Se L1 << Lf estes pólos tornam-se 0 (zero) e -2r/L1 [este, portanto, igual ao zero de

(3.51)]. Nesta condição, (3.51) e (3.52) podem ser reescritas:

f

O

f

Of

LsV

LsrLsLsrV

sdsi

⋅=

⋅+⋅⋅+⋅⋅

=)2(

)2()()(

1

1 . ( 3.57)

)2()(

)(

1

1

LsrLsrV

sdsi

f

O

⋅+⋅⋅

= . ( 3.58)

A equação (3.57) é uma “célebre” simplificação da função de transferência controle-

saída para os conversores boost, que se mostra válida também para os conversores MNC. Por

outro lado, (3.58) pode também ser simplificada se for considerado s << 2r/L1:

i sd s

V rsL r

VsL

o

f

o

f

1

2 2( )( ) ( )

= = . ( 3.59)

O que confirma a função de divisão de corrente no conversor MNC. As funções de

transferência (3.51) e (3.52) [e também (3.57) e (3.59)] podem ser bastante úteis para o

projeto de controladores em malha fechada, já que descrevem o comportamento dinâmico do

conversor boost MNC-2 células em torno do ponto de trabalho. A Fig. 3.16 mostra a resposta

em freqüência de acordo com as equações (3.51) e (3.52) utilizando Vo=400V; r=0,1Ω;

L1=10µH e Lf=500µH.

Page 79: Conversores Multiníveis em Corrente

67

Am

plitu

de [

dB]

1 10 100 1000 1 104 1 10540

20

0

20

40

60

80

Fase

[o ]

1 10 100 1000 1 104 1 105180

150

120

90

60

30

0

Taxa de variação da razão cíclica (Hz)

Fig. 3.16 - Resposta em freqüência do conversor boost MNC-2 células.

A função de transferência (3.51) mostra que a corrente de entrada possui um zero em

2r/L1 (cerca de 3,2 kHz para os parâmetros do exemplo). Por outro lado, o denominador de

(3.51) ou (3.52) apresenta um pólo próximo de zero (cerca de 15,8 Hz) e outro na mesma

freqüência de (3.51), ou seja 3,2 kHz. As curvas no domínio da freqüência da Fig. 3.16 são,

portanto, coerentes com estes valores. Neste sentido, é fácil verificar que as duas curvas de

amplitude decrescem (quase a partir de zero Hertz) com uma inclinação de -20 dB/década e se

aproximam de um ângulo de -90o. Para a corrente de entrada, o zero em 3,2 kHz compensa o

pólo na mesma freqüência, o que garante uma inclinação permanente de -20 dB/década e

ângulo mínimo de -90o. Por outro lado, a dinâmica da corrente do indutor de equilíbrio é

marcada pela existência do pólo em 3,2 kHz não compensado. Desta forma, ocorre neste

ponto uma mudança de inclinação para -40 dB/década e o ângulo irá se aproximar de -180o

nas freqüências mais altas. Um exemplo de utilização destas informações para o projeto de

um sistema de controle prático será mostrado no Capítulo 7.

( )arctan( )( )

i jd jf ω

ω

arctan( )( )

i jd j1 ω

ω⎛

⎝⎜

⎠⎟

20log( )( )

i jd jf ω

ω

20 log( )( )

i jd j1 ω

ω

Page 80: Conversores Multiníveis em Corrente

68

Outra análise que pode ser realizada aqui é quanto à relação entre as correntes de

entrada e no indutor de equilíbrio em presença de perturbação na razão cíclica. Para isto basta

proceder à divisão de (3.51) por (3.52):

i si s

r sLr

f ( )( )1

12=

+ . ( 3.60)

Mas, se for considerada uma taxa de variação da razão cíclica muito inferior a 2r/L1

(3,2 kHz para o exemplo) então a relação (3.60) aproxima-se do valor constante dois (ou seja,

a corrente de entrada é o dobro da corrente no indutor de equilíbrio). Em outras palavras, para

uma determinada faixa de variação na razão cíclica a relação entre as correntes ainda obedece

o padrão teórico determinado no capítulo anterior; que foi confirmado pelos modelos deste

capítulo. Por outro lado, para taxas de variação na razão cíclica acima de um determinado

valor a razão entre as correntes pode assumir valores elevados, implicando em desequilíbrio

de corrente entre as chaves.

Apesar de a modelagem matemática mostrada neste capítulo ter se dedicado aos

conversores cc-cc buck e boost, é evidente a sua validade e extensão para outros conversores.

É fato conhecido que diversos conversores cc-ca e ca-cc possuem característica tipo buck ou

boost, o que permitiria então uma adaptação direta dos resultados obtidos aqui para

descreverem seus comportamentos. Por outro lado, estes exemplos de modelagem pelo uso do

circuito equivalente da célula de comutação (ou chave PWM) podem ser imitados

sistematicamente para qualquer outro tipo de conversor que empregue a célula MNC como

método de associação paralela e geração de multiníveis de corrente. Particularidades e

limitações do modelo usado neste capítulo serão apresentadas nos capítulos seguintes.

3.7. Conclusões

Neste capítulo apresentou-se uma maneira de modelar matematicamente os

conversores MNC, usando o “modelo da chave PWM” (“PWM switch model”). Os

conversores cc-cc buck e boost foram utilizados como exemplo de modelagem. Foram

considerados os circuitos equivalentes e equações sob o ponto de vista entrada-saída e

controle-saída dos casos-exemplos. Resultados simulados e experimentais confirmaram a

validade do modelo empregado, apesar das simplificações.

4. Nova Técnica de Paralelismo

Capítulo

Page 81: Conversores Multiníveis em Corrente

69

o Capítulo 1 foram apresentadas algumas informações básicas sobre o

paralelismo de chaves semicondutoras. Também foram apresentadas

algumas técnicas de associação paralela de conversores estáticos. Neste

capítulo será apresentado um resumo da técnica convencional de

paralelismo e será discutida a utilização da célula MNC como uma nova técnica de associação

paralela de células de comutação. Parte dos resultados aqui apresentados foram publicados em

[48], [49] e [64].

4.1. O Paralelismo Convencional

A associação paralela de chaves semicondutoras de potência consiste numa prática

muito comum em Eletrônica de Potência. Entre as razões que induzem os engenheiros a

empregá-la pode-se citar:

• A aplicação exige um nível de corrente nas chaves superior ao “estado-da-arte”.

• O uso de chaves muito modernas e de maior capacidade nominal supera o

orçamento de um determinado projeto (chaves “estado-da-arte” em geral são mais

caras).

• Deseja-se empregar o domínio de conhecimento, adquirido em determinada

aplicação, para um certo nível de potência, e trabalhar em níveis superiores através

de sistemas modulares (células em paralelo).

• Utilizar componentes existentes em estoque.

• Utilizar componentes mais comuns e fáceis de encontrar no comércio.

• Superdimensionar a estrutura pelo uso de células redundantes, visando maior

confiabilidade.

Devido às peculiaridades de cada tipo de dispositivo uma série de recomendações e

precauções devem ser obedecidas a fim de se viabilizar o paralelismo (ou seja, garantir um

razoável equilíbrio entre as correntes nas chaves) e se evitar situações destrutivas [50], [51].

Além dos exemplos mencionados no Capítulo 1, pode-se acrescentar:

• Inclusão de resistência série no emissor de transistores comuns (BJTs) para

evitar desequilíbrio térmico devido a seu coeficiente de temperatura positivo

(maior temperatura, maior corrente de condução);

N

Page 82: Conversores Multiníveis em Corrente

70

• Inclusão de resistência série ao gate de MOSFETs visando amortecer

oscilações de alta-freqüência (provocadas pelas capacitâncias de entrada e

indutâncias parasitas);

• Uso de circuitos de proteção contra sobrecorrente para evitar destruição do

dispositivo que desligar por último, ou ligar primeiro (devido às

divergências nos tempos de “turn-on” e “turn-off” dos dispositivos);

• Uso de indutâncias em série com o dispositivo, em especial para tiristores,

visando melhorar o equilíbrio dinâmico;

• Minimização das resistências e indutâncias de fios e cabos de conexão aos

dispositivos, de forma a evitar assimetrias nos ramos paralelos;

• Projeto cuidadoso do sistema de dissipação (refrigeração) de calor;

• Escolha de componentes “casados”, ou seja, que possuam pequena

divergência de parâmetros.

Uma associação paralela de chaves semicondutoras pode ser considerada razoável

quando se atinge um bom equilíbrio térmico, além do equilíbrio estático e dinâmico de

correntes entre os componentes. Alguns componentes possuem mecanismos naturais de

equilíbrio térmico e estático de corrente, como é o caso dos MOSFETs e IGBTs.

4.2. Paralelismo de IGBTs

Os IGBTs são dispositivos que têm merecido nos últimos anos especial atenção

quanto às técnicas de paralelismo [4], [5], [8], [9], [10] e [11]. De um modo geral as soluções

que viabilizam a associação paralela desses componentes envolvem a elaboração de

sofisticados circuitos de controle e comando, bem como utilização de componentes especiais.

Normalmente estas soluções exigem negociações diretas do usuário com os fabricantes e,

conseqüentemente, tornam-se muito custosas.

Por outro lado, sabe-se que o equilíbrio térmico e dinâmico na associação paralela de

IGBTs são fatores mais restritivos que o simples equilíbrio estático de correntes [8], [11].

Além disso, o equilíbrio estático é muitas vezes alcançado nestes dispositivos por meio de um

processo natural, que aproxima os pontos de operação de cada componente da associação em

correntes elevadas [11], conforme ilustrado de forma simplificada na Fig. 4.1. Como pode ser

verificado, mesmo que as tensões de limiar (VCE0) sejam distintas, as resistências dinâmicas

assumem inclinações particulares que compensam o desequilíbrio em situação de corrente

elevada, justamente onde o paralelismo é mais crítico. Na figura, o ponto Q representa a

Page 83: Conversores Multiníveis em Corrente

71

situação de paralelismo (tensões coletor-emissor idênticas) em que as correntes dos

dispositivos são iguais, ou seja, equilíbrio estático perfeito.

i C

vCEVCE01VCE02

IC1=

IC2

IGBT1IGBT2

Q

Desequilíbrio estáticode correntes

Fig. 4.1 - Característica volt-ampère de IGBTs com diferentes tensões de limiar.

Também é fato conhecido que IGBTs com menor tensão de limiar possuem um

coeficiente de temperatura menos acentuado que os IGBTs com maior tensão de limiar.

Assim, quando a temperatura e a corrente crescem, o IGBT com menor tensão de limiar sofre

pouca influência em sua característica elétrica, ao passo que o IGBT com maior tensão de

limiar tem este parâmetro reduzido significativamente (coeficiente de temperatura negativo

para VCE0). Este fenômeno, portanto, melhora o equilíbrio estático de corrente em

temperaturas elevadas, exatamente onde o paralelismo é mais crítico [11].

Deve ficar claro, entretanto, que se os parâmetros de condução (VCE0 e resistência

dinâmica) forem muito distintos poderá ocorrer desequilíbrio estático de corrente. Este fato é

mais observado quando se empregam componentes de diferentes lotes de fabricação. Nesta

situação os engenheiros procuram escolher componentes casados, especialmente quando um

rigoroso equilíbrio estático de corrente é exigido.

Fica evidente, assim, que dos três importantes fatores de equilíbrio (térmico, estático e

dinâmico de corrente) que caracterizam uma associação paralela, o único fator que não possui

um mecanismo natural de compensação nos IGBTs é o equilíbrio dinâmico. Numa tentativa

de contribuir neste campo de estudo, os circuitos experimentais apresentados neste capítulo

empregam IGBTs.

4.3. A Célula MNC como Técnica de Paralelismo

Conforme mencionado e exemplificado nos capítulos anteriores, é possível obter

equilíbrio na distribuição de corrente entre as células de um conversor MNC mesmo quando

Page 84: Conversores Multiníveis em Corrente

72

as chaves “paralelas” são disparadas com idêntico sinal de comando. Neste caso não há

atrasos, ∆t, e conseqüentemente não é possível aproveitar os níveis intermediários de corrente

existentes nos indutores de equilíbrio. Esta seção apresenta detalhes de comparação desta

nova alternativa com a técnica convencional de paralelismo, bem como sugere procedimentos

para implementação prática.

Um dos sérios problemas ligados à associação convencional de chaves em paralelo

reside no desequilíbrio dinâmico das correntes conforme ilustrado na Fig.1.3 (cf. Capítulo 1).

O fenômeno é provocado por imperfeições de layout (assimetrias nas indutâncias de cabos e

ligações nos ramos das chaves), por divergências de comportamento das chaves na entrada e

saída de condução, ou ainda por imperfeições dos circuitos de comando. No primeiro caso, a

chave que possui a menor indutância série deverá assumir, por um certo tempo, toda a

corrente que chega ou sai do nó paralelo, o que poderá provocar sua destruição. Uma situação

semelhante ocorre quando a chave entra ou sai de condução antes das demais em função de

suas características de fabricação ou comando irregular. É claro que o problema torna-se

maior quanto maior for o número de componentes associados. É possível constatar, por

exemplo, que MOSFETs podem suportar picos de corrente até cerca de quatro vezes sua

corrente nominal. Entretanto, os IGBTs podem não suportar o dobro de sua corrente nominal!

Fica evidente, portanto, que a associação paralela convencional está limitada a umas poucas

unidades de componentes.

Para ilustrar o desequilíbrio dinâmico de corrente numa associação paralela de

componentes montou-se em laboratório o circuito da Fig. 4.2. Como pode ser visto o circuito

consiste de um conversor cc-cc buck - 2 células e utiliza IGBTs (HGTP10N50C1) como

chaves ativas e diodos de rápida recuperação (MUR 1515) como chaves passivas, sendo

acionado em 20kHz. O conversor foi montado de forma a dispensar transformadores de

acoplamento de “gate”, já que as chaves ativas estão com o mesmo potencial de emissor, da

mesma forma que no circuito da Fig. 2.12. Neste circuito foi introduzido propositadamente

uma indutância, Lb, de 100nH em série com a chave S1 a fim de emular os efeitos da

imperfeição de layout. O elemento de ligação das células, L, é quem determinará se a

associação é do tipo paralela convencional ou do tipo MNC. Fazendo-se L=0 (curto-circuito)

obtém-se o paralelismo normal, ao passo que escolhendo um valor apropriado obtém-se a

estrutura MNC. Detalhes sobre a escolha do valor de L serão apresentados no decorrer deste

capítulo. Os parâmetros utilizados neste circuito são: V=50V; Ro=4Ω; Lo=330µH; Lb=100nH,

Vg=10V; Io previsto= 10A.

Page 85: Conversores Multiníveis em Corrente

73

L

RL

L

S S

D DI

o

2 1

2 1

g 2 g 1

b

o o

V

vg

Fig. 4.2 - Circuito para teste do desequilíbrio de corrente.

A Fig. 4.3 mostra os resultados de ensaios de laboratório onde se fez, em primeiro

lugar, L=0 para representação do paralelismo convencional. Em seguida adotou-se L=14µH

estabelecendo, portanto, uma conversor MNC-2 níveis. Nos dois casos, manteve-se a

indutância de emissor de 100nH em série com a chave S1. Como é fácil perceber dos

oscilogramas, a técnica MNC minimiza a ocorrência de desequilíbrios dinâmicos de corrente

na chave em desvantagem. Pode-se dizer que a célula MNC apresenta uma “capacidade de

amortecimento ou grampeamento” de picos de corrente.

i S1

0

0

2 A/div

10 us/div

iS2

0

0

2 A/div

10 us/div

iS1

iS2

(a) (b)

Fig. 4.3- Efeitos de desequilíbrio no emissor. (a) Correntes nas chaves com L=0 (paralelismo convencional).

(b)correntes nas chaves com L=14 µH (célula MNC).

Conforme mencionado no início desta seção, outra preocupação que envolve o

paralelismo de componentes é com relação às divergências de comportamento no momento da

condução e bloqueio das chaves. Em termos práticos, o componente que conduz mais rápido

(menor “turn-on time”) ou bloqueia depois (maior “turn-off”) terá que assumir toda a corrente

que chega ou sai do ramo paralelo. O circuito da Fig. 4.2 foi testado em laboratório com um

conjunto de sinais de comando que tentou imitar estas possíveis diferenças dinâmicas. A

Fig. 4.4 mostra estes sinais onde se percebe que a chave S1 recebe comando para entrar e sair

Page 86: Conversores Multiníveis em Corrente

74

de condução com atraso em relação à chave S2. Neste ensaio a indutância de desequilíbrio do

emissor, Lb, foi removida.

40 us 10 us

300 ns 200 ns

f = 20 kHz

G2

G1

T

D1.T=39,9 us

D2.T=40,0 us

-5V

+10V

+10V

-5V

Fig. 4.4- Sinais de gates separados e não-coincidentes no tempo.

A Fig. 4.4 mostra os resultados de laboratório para o caso de paralelismo convencional

e também quando se utiliza a célula MNC.

iS1

iS2

2 A/div

10 us/div

0

0

0

0

i S1

iS2

2 A/div

10 us/div

(a) (b) Fig. 4.5- Ensaio de assimetria no comando.

(a) Correntes nas Chaves com L=0; (b) Correntes nas Chaves com L=14 µH.

Parece ser intuitivo que o efeito combinado destes problemas pode provocar danos

maiores para o paralelismo convencional. Assim, os resultados práticos da Fig. 4.3 e Fig. 4.5

mostram a superioridade, sob o ponto de vista da supressão de picos de corrente espúrios, da

célula MNC como técnica de paralelismo em relação à técnica convencional. Além disso,

deve ficar claro que a existência de atrasos no comando das chaves consiste num fato

absolutamente inviável no paralelismo convencional. Isto ocorre porque, dependendo do

tempo envolvido, estes atrasos podem determinar o sobreaquecimento do componente a ponto

de levá-lo à destruição. Fica evidente que estes problemas são drasticamente minimizados

pelo uso da célula MNC, caso ela seja corretamente dimensionada. Os experimentos

Page 87: Conversores Multiníveis em Corrente

75

mencionados aqui também foram realizados com MOSFETs e com outras séries de IGBTs,

apresentando resultados essencialmente idênticos aos relatados.

As experiências descritas nas figuras Fig. 4.3 e Fig. 4.5 mostaram que a célula MNC é

capaz de estabelecer boa divisão dinâmica de corrente e não interferir na divisão estática de

corrente, a menos da ondulação da corrente de saída que aparece mais na célula S1/D1. Deve-

se notar, ainda, que as razões cíclicas usadas na segunda experiência são ligeiramente

distintas, situação que não prejudicou o equilíbrio estático de corrente entre as chaves, ao

contrário do que foi alertado na discussão do Capítulo 2. De fato, o desequilíbrio de corrente

resultante é tolerável dentro de certos limites. Entretanto, pode-se questionar até que ponto

esta assimetria é desprezível.

Uma forma de responder a esta pergunta é realizar os mesmos procedimentos de

modelagem do Capítulo 2 adotando, para cada célula PWM, razões cíclicas diferentes. Pode-

se escolher como exemplo o circuito buck - 2 células, cujo circuito equivalente adaptado é

repetido na Fig. 4.6. Para simplificar a análise considerou-se que a resistência de condução

dos diodos, rP, exerce pouca influência na equação (2.8) do Capítulo 2. Na realidade esta

aproximação é bastante razoável já que a resistência dinâmica dos diodos é muito inferior à

das chaves ativas (em especial para MOSFETs) e sobretudo se a razão cíclica for superior a

50%. Valores práticos para a resistência de condução dos diodos de potência situam-se na

faixa de 50 mΩ, enquanto resistências de condução dos IGBTs superam 150 mΩ e de

MOSFETs 300 mΩ. Assim, a resistência do modelo definida pela equação (2.8) vale D rA, ou

simplesmente D r (onde D deve ser substituído pelo valor da razão cíclica de cada célula).

v(s)

s L

i (s)1

i (s)x

s.Lo

+ io(s)

vo(s)Ro

D 1 : 1 D21: D r1 D r2

Fig. 4.6 - Circuito equivalente buck - 2 células com D1≠ D2.

Resolvendo o circuito da Fig. 4.6 para io(s) e i1(s) pode-se encontrar:

io( )sv( )s

.D1 ..2 D2 r .s L..s2 L Lo

...D1 r L ..D2 r Lo.L R ..D1 r Lo s ..D1 r2 D2

..D2 r R ..D1 r R. ( 4.1)

Page 88: Conversores Multiníveis em Corrente

76

( )sv( )s

..D2 Lo .Lo D1 s ..D1 D2 r .D2 R .R D1

..s2 L Lo...D1 r L ..D2 r Lo

.L R ..D1 r Lo s ..D1 r2 D2..D2 r R ..D1 r R

i1

. ( 4.2)

Executando os mesmos passos algébricos realizados no Capítulo 2, poder-se-ia chegar

às equações no domínio do tempo. Tomando-se nestas equações apenas a parte independente

do tempo (ou seja, os valores de regime permanente) tem-se:

ID D r R D D V

D D rR11 2 2 1

1 2=

+ −+

[ ( )]( )

o

o . ( 4.3)

ID D rV

D D rRoo

=+

2 1 2

1 2( ) . ( 4.4)

Onde, I1 e Io são as correntes de regime permanente para o indutor de equilíbrio e

indutor de saída, respectivamente, enquanto r é a resistência da chave ativa. Nestas equações,

V é o valor da fonte de tensão de entrada. Normalizando I1 em função de Io, pode-se escrever:

I d1

12

1= +( . )ρ . ( 4.5)

Onde, ρ é a razão entre a resistência de carga e a resistência da chave ativa, enquanto

d é um parâmetro que é função das razões cíclicas:

dD DD D

=−2 1

1 2. . ( 4.6)

A Fig. 4.7 representa graficamente a equação (4.5) para quatro valores de ρ. Pode-se

dizer que a corrente normalizada é um parâmetro que indica se o conversor MNC está

operando próximo da condição ideal (distribuição eqüitativa de corrente entre as chaves em

regime permanente), já que este parâmetro é a razão entre as correntes do indutor de

equilíbrio e de saída. Nesta figura também foram indicados valores experimentais que

confirmam a validade da modelagem.

Fica evidente da Fig. 4.7 que quanto mais distintas forem as razões cíclicas ( | d | > 0 )

mais distante da marca ideal ( I1 0 5= , ) opera o conversor MNC. Também é fácil concluir que

uma dispersão nos tempos de entrada e saída de condução dos dispositivos paralelos pode

significar desequilíbrio de corrente entre as chaves. Entretanto, para o conjunto de

dispositivos testados a dispersão verificada revelou-se insuficiente para provocar

desequilíbrio em estado permanente, o que confirma a qualificação do conversor MNC como

técnica de paralelismo.

Page 89: Conversores Multiníveis em Corrente

77

Razões cíclicas iguais

Cor

rent

e de

Equ

ilíbr

io n

orm

aliz

ada,

I1

0.02 0.015 0.01 0.005 0 0.005 0.01 0.015 0.020

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1

d

Fig. 4.7- Razão entre Correntes versus d (em função de ρ).

Por outro lado, percebe-se que menores valores de ρ permitem uma operação

equilibrada dentro de uma larga faixa de assimetria na razão cíclica. Ora, menores valores de

ρ implicam em maiores potências (menor Ro), o que significa que a técnica MNC é mais

atraente e mais robusta justamente na faixa em que o paralelismo é mais desejável!

Conforme já mencionado, componentes com parâmetros de condução muito distintos

irão experimentar uma distribuição de corrente pouco equilibrada, tanto no paralelismo

convencional quanto na associação MNC. Entretanto, o equilíbrio dinâmico ainda favorece a

técnica MNC de paralelismo. Para um entendimento do desequilíbrio causado pelo uso de

componentes com diferentes resistências de condução pode-se adaptar a Fig. 5.10 do

Capítulo 5, que trata de desequilíbrios resistivos nos ramos paralelos da associação MNC.

4.4. Projeto dos Indutores de Equilíbrio

Da topologia básica da célula MNC apresentada no Capítulo 2 entende-se que existem

dois terminais aos quais se conecta uma fonte de tensão, seja ela independente ou não (e.g.

um ramo ou composição de ramos do tipo capacitivo). Esta afirmativa é invariável para

qualquer tipo de conversor implementado com células MNC, conforme os casos propostos

também naquele capítulo. O que difere entre os casos é quanto à natureza desta fonte de

tensão. Neste sentido a fonte pode ser:

• Fonte cc ideal (bateria, sistema ca-cc regulado, etc.).

• Carga capacitiva cc (carga regulada com um “pesado” capacitor de filtragem).

• Fonte ca ideal (sistema de distribuição monofásico ou trifásico, “no-break”, etc.)

ρ=40

ρ=20

ρ=10 ρ=5

Experimentais: + x Teóricos: ⎯⎯

Page 90: Conversores Multiníveis em Corrente

78

• Carga capacitiva ca (impedância de carga com capacitor de filtragem).

Na verdade estes casos podem ser agrupados aos pares. Ou seja, nos sistemas cc (os

dois primeiros pontos) a célula MNC está submetida a uma tensão constante bem definida,

sendo inclusive conhecido seu valor máximo (no caso de ela poder ser ajustada em um nível

desejado). Já nos dois últimos casos a tensão é do tipo variável e determina nos terminais da

célula MNC um valor qualquer entre o pico negativo e positivo.

Ora, o que torna a célula MNC superior ao paralelismo convencional é sua

estabilidade dinâmica. Ou seja, sua capacidade de limitar picos de corrente quando uma chave

individual assume toda a corrente do nó comum da célula. Se todas as chaves conduzissem ao

mesmo tempo os indutores de equilíbrio estariam sempre submetidos a uma tensão próxima

de zero (a tensão de condução das chaves) e nenhum pico de corrente seria observado.

Supondo então que o mesmo sinal de comando seja levado a todos os gates das chaves resta

ao projetista estimar o intervalo de tempo de erro, ∆t, durante o qual a chave divergente

impõe sobre o indutor de equilíbrio toda a tensão da célula. O efeito deste parâmetro é

idêntico ao atraso intencional no comando das chaves mencionado no Capítulo 2, apesar de

aqui estar relacionado com uma imperfeição do processo. (Para uma diferenciação de

terminologia será incluído, quando for o caso, o termo ∆t de dispersão.) Durante este intervalo

haverá, portanto, uma variação acentuada de corrente no indutor (a partir do seu nível de

corrente de regime), e também existirá na chave. Na verdade, o pior caso ocorre quando o

indutor à direita da chave tem sua corrente acrescida e o da esquerda reduzida, conforme

ilustra a Fig. 4.8. Nesta situação a chave em condução terá sua corrente acrescida da variação

de corrente nos dois indutores. Fica claro, assim, que quanto maior o indutor de equilíbrio

menor será a variação de corrente observada.

...

SqL

i qv(t)

...

...

...

Sq+1

r 0

r 0

i q-1

q

T2

T1

(cc ou ca)

Sq+2

r 0

q+1L

i q+1i q+2

S1L

i 1

1

C

oL

i o

Fig. 4.8 - Indutores submetidos à tensão da célula.

Por outro lado, para que a técnica de paralelismo baseada na célula MNC seja

eficiente e também econômica, é importante que os valores das indutâncias de equilíbrio

Page 91: Conversores Multiníveis em Corrente

79

sejam os menores possíveis. Entretanto, fazer estes elementos muito pequenos significa

aproximar-se do paralelismo convencional. Conforme discutido na seção anterior, o

paralelismo convencional impõe sérios riscos às chaves exigindo inúmeros cuidados. Assim,

deve existir um valor mínimo para os indutores de equilíbrio que seja capaz de reduzir os

riscos de sobrecorrente provocados por assimetrias no comando, indutâncias dos ramos

paralelos e dispersão nos parâmetros dos componentes (entrada e saída assíncrona). Talvez o

mais crítico destes problemas seja a dispersão nos parâmetros das chaves, já que os demais

podem ser minimizados por uma montagem adequada. De qualquer forma, ao projetar os

indutores de equilíbrio visando amenizar os efeitos da dispersão dos parâmetros das chaves o

projetista estará indiretamente minimizando os demais problemas. É claro que uma margem

de segurança mínima pode ser adotada para englobar a proteção contra estes problemas

remanescentes.

Seguindo a orientação acima, o valor dos indutores de equilíbrio pode ser definido

desde que sejam estimados os seguintes parâmetros:

• Tensão máxima a que o indutor deverá ser submetido, VMAX [em volts].

• Máxima dispersão, ∆t, estimada para os componentes utilizados [em segundos].

• Máxima sobrecorrente, ∆i, permitida nas chaves e, por conseguinte, nos indutores

(que no pior caso devem conduzir só metade desta variação) [em ampères].

• Margem de segurança, m [adimensional]. (Recomenda-se m=1,10 ou 1,20)

É fácil concluir ainda, da observação da célula genérica MNC (vide Fig.2.1), que

todos os indutores podem estar submetidos à mesma tensão máxima durante o tempo ∆t de

dispersão. Apesar de possuírem valores distintos de corrente média, pode-se adotar, por

simplicidade, o mesmo valor de indutância, L, para todos os indutores (usando o ∆i para o

pior caso) . Assim, o valor de L pode ser determinado baseado em sua lei de comportamento

físico, que adaptada para os parâmetros de projeto torna-se:

Lm

ou Lmn

= =2 V t

i2 V t

IMAX MAX

C ∆

∆∆

0 1, . ( 4.7)

Onde n é o número de células da associação, IC é o valor previsto da corrente média

ou de pico, conforme o caso, no ponto C da célula (para um conversor qualquer) e o fator 0,1

(relação à direita) é o índice percentual permitido para a variação de corrente máxima nas

chaves, durante ∆t, em torno do valor ideal (IC/n) .

Page 92: Conversores Multiníveis em Corrente

80

Se, ao contrário de usar o mesmo valor de indutância e limitar a variação absoluta de

corrente nos indutores, for feita a opção por um projeto mais econômico, pode-se tolerar um

∆i maior nos indutores cujo nível de corrente é maior. Assim, a equação (4.7) se tornaria:

Lm

Iq n q

n

=⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

⎣⎢⎤

⎦⎥−

2 V tMAX

C

0 1, . ( 4.8)

Onde q é a posição do indutor na célula MNC (para a célula mais próxima do ponto C,

q=1). Como se sabe, q pode variar de 1 até n-1. Esta segunda equação de projeto é menos

restritiva que a primeira, fornecendo menores valores de indutâncias, porém permitindo um

maior “ripple” de corrente nos dispositivos. Mesmo assim ela pode ser empregada, pois ainda

consiste numa alternativa muito superior ao paralelismo convencional. Deve-se considerar,

entretanto, que os dispositivos mais próximos do nó C da célula poderão experimentar

maiores “spikes” de corrente que os demais.

Como a dispersão ∆t não é um dado disponível em catálogos de chaves

semicondutoras procurou-se avaliar este parâmetro através de ensaios com os componentes

utilizados. Observou-se em laboratório que IGBTs com tFALL na faixa de 500ns (e corrente

nominal de 10A) apresentam uma dispersão máxima em torno de 25ns (o que fica dentro de

uma faixa de 5% quando comparado com o tempo de descida de catálogo). Com relação à

variação de corrente máxima na chave pode-se adotar um valor igual a 10% do seu valor de

pico ideal (ou seja, a corrente da aplicação dividida pelo número de células de comutação).

Nos itens seguintes serão apresentados exemplos de aplicação da técnica MNC de

paralelismo, bem como um detalhamento do uso das equações de projeto (4.7) e (4.8) para os

diferentes tipos de conversores estáticos.

4.4.1. Paralelismo MNC Aplicado aos Conversores CC-CC

Para ilustrar o uso da equação (4.7) pode-se tomar o conversor buck MNC - 3 células.

Admite-se uma tensão de entrada de 240V e uma corrente de saída de 30A. Nesta situação

VMAX é o próprio valor da tensão de entrada e a variação de corrente máxima permitida seria

de 1A [10%(30÷3)]. Assim, a equação (4.7) fornece L=13,2µH, o que é um valor

relativamente pequeno viabilizando, em geral, um projeto de baixo custo. Deve-se lembrar,

todavia, que o volume final dos indutores dependerá da corrente que estes elementos deverão

conduzir em regime permanente.

Page 93: Conversores Multiníveis em Corrente

81

SS

L

DD

LR

V

ii 1 o

Vo

i 2

S

L

123

12D3

12 oo

C

Fig. 4.9 - Conversor buck MNC - 3 células.

O exemplo descrito no parágrafo anterior foi simulado no programa Pspice®. Em

resumo, os parâmetros utilizados foram V=240V; Lo=700µH; D=0,8; fS=20kHz;

L1=L2=15µH; Ro=4Ω. Além disso, para verificar a capacidade de amortecimento de picos de

corrente a chave S2 teve seu comando de bloqueio atrasado em 25ns em relação às demais

(operando, portanto, com uma razão cíclica ligeiramente superior à das outras chaves).

Também procurou-se verificar o efeito adicional de uma indutância de desequilíbrio de

300nH no emissor desta mesma chave. A Fig. 4.10 mostra as correntes nos indutores de

equilíbrio em regime permanente, onde se pode constatar o estabelecimento dos níveis

teóricos de corrente. Além disso, pode-se observar que as correntes nos indutores de

equilíbrio sofrem ondulações desprezíveis, apesar das condições adversas consideradas na

simulação.

Fig. 4.10 - Correntes nos indutores do conversor MNC boost - 3 células.

A Fig. 4.11 mostra a distribuição de corrente em todas as chaves (controladas e

passivas) da estrutura simulada. Pode-se perceber que o pico de corrente de todas as chaves

está limitado a cerca de 10A, o que é exatamente um terço da corrente de saída. Isto

Page 94: Conversores Multiníveis em Corrente

82

caracteriza, portanto, uma distribuição de corrente bem equilibrada. É claro que o nível médio

de corrente das chaves ativas é diferente do verificado nas chaves passivas. O equilíbrio neste

sentido só seria possível numa operação com razão cíclica igual a 50%. Conforme já

mencionado no Capítulo 2, pode-se notar que a corrente na célula mais próxima da saída (S1 e

D1) é mais influenciada pela ondulação da corrente de saída. As demais chaves possuem

variação de corrente no estado de condução quase desprezível. Na figura também foram

indicados os picos de corrente amortecidos, que estão dentro do previsto na equação (4.7), ou

seja, menos de 1A. Pode-se notar também que o pico de corrente em S2 vale cerca de duas

vezes o pico observado nos diodos D1 e D3, elementos que conduzem após o corte de suas

chaves companheiras (as complementares S1 e S3).

Fig. 4.11 - Distribuição de corrente entre as chaves do conversor buck MNC - 3 células.

Sobrecorrentes grampeadas

Page 95: Conversores Multiníveis em Corrente

83

A Fig. 4.12 mostra o que aconteceria com as correntes nas chaves ativas, numa

associação paralela convencional, caso fossem observadas as mesmas imperfeições de

“layout” (indutância de desequilíbrio no emissor de S2) e chaveamento consideradas na

simulação anterior. Nota-se uma evidente ausência de limite de sobrecorrente. Percebe-se

que, ao contrário do observado na associação via célula MNC, a indutância de desequilíbrio

provoca sobrecorrentes adicionais na entrada em condução das chaves S1 e S2. Pode-se

constatar, entretanto, que durante a condução a ondulação da corrente de saída é igualmente

distribuída entre as chaves, o que consiste numa característica positiva da associação paralela

convencional, não presente na célula MNC.

Fig. 4.12 - Correntes das chaves ativas no paralelismo convencional.

O conversor buck MNC - 3 células também foi implementado em laboratório

utilizando-se V=240V; Lo=350µH; D=0,9; fs=20kHz; L1=L2=14µH; Ro=10,3Ω, tendo sido

empregados IGBTs HGTP10N50C1 como chaves ativas e diodos MUR830. A corrente média

de saída prevista pela equação (2.7) é, portanto, 21A; enquanto que a potência cc é de cerca

de 4,5 kW. Todas as chaves do conversor (IGBTs e diodos) foram montadas em um único

dissipador de calor e um pequeno ventilador foi usado para resfriar a estrutura em situação de

máxima carga. Não houve preocupação quanto à otimização do “layout” (simetria de ramos),

procedimento adotado para verificar os benefícios do paralelismo MNC. Também não foi

necessário utilizar supressores de tensão (“snubber’s”). O mesmo sinal de gate foi levado a

Sobrecorrente não-amortecida

Efeitos da indutância de desequilíbrio

Page 96: Conversores Multiníveis em Corrente

84

todos os IGBTs, tendo sido gerado conforme mostra a Fig. 4.13. Entretanto, o circuito da

Fig.2.13 também foi testado para este fim, com sucesso.

Vcc

56

15 1314

11

3.9K

1N916 1N916

2.7V 1N916

22R P/ GATES

2K

7

8

169

1210

35250.1u

10n 10K

Fig. 4.13 - Gerador de pulsos.

A Fig. 4.14 mostra as correntes no indutor de saída e indutores de equilíbrio. É fácil

observar o estabelecimento dos níveis teóricos de corrente: 21A, 14A e 7A.

Fig. 4.14 - Níveis de correntes nos indutores (5A/div; 20µs/div).

(De cima para baixo: indutor de saída, indutor L1, indutor L2)

Apesar da ausência de “snubbers”, não foi constatada a presença de sobretensões nas

chaves, conforme ilustra a Fig. 4.15 para a chave S3.

A Fig. 4.16 mostra a corrente observada em todas as chaves, incluindo os diodos. É

possível observar uma distribuição de corrente bastante equilibrada, apresentando um

resultado qualitativamente muito próximo do obtido por simulação (cf. Fig. 4.11).

Page 97: Conversores Multiníveis em Corrente

85

Fig. 4.15 - Tensão e corrente na chave S3 (100V/div, 5A/div, 20µs/div).

(traço superior: tensão na chave; traço inferior: corrente de coletor)

Fig. 4.16 - Distribuição de corrente entre as chaves (5A/div, 20µs/div).

A Fig. 4.17 mostra alguns detalhes do protótipo montado em laboratório, onde pode

ser constatada a diferença de volume entre os indutores de equilíbrio e o indutor de saída.

A aplicação da equação (4.7) é portanto muito direta para o conversor buck e os

demais conversores cc-cc, que foram mostrados para duas células na Fig.2.12 do Capítulo 2.

A Tabela 4.1 mostra as características particulares de cada um destes conversores, sob o

ponto de vista das figuras de mérito relacionadas com a célula MNC.

iS1

iS2

iS3

iD1

iD2

iD3

Page 98: Conversores Multiníveis em Corrente

86

Fig. 4.17 - Protótipo de laboratório do conversor MNC buck - 3 células (4,5 kW).

TABELA 4.1 - PARÂMETROS DE PROJETO DOS INDUTORES DE EQUILÍBRIO -

Conversor Tensão na Célula Corrente do nó C

Buck Tensão de Entrada Corrente de Saída

Boost Tensão de Saída Corrente de Entrada

Buck-Boost Tensão de Entrada + Tensão de Saída Corrente no Indutor Interno

Cuk Tensão no Capacitor Interno Corrente de Entrada + Corrente de Saída

Sepic Tensão de Saída + Tensão no Capacitor Interno

Corrente de Entrada + Corrente no Indutor Interno

Zeta Tensão de Entrada + Tensão no Capacitor Interno

Corrente de Saída + Corrente no Indutor Interno

Na Tabela 4.1, capacitor interno e indutor interno referem-se aos elementos reativos

que constituem a topologia básica de alguns conversores. Na Fig.2.12 do Capítulo 2 eles

foram indicados por Ca e La, respectivamente. Assim, para encontrar o parâmetro VMAX

necessário à equação (4.7) deve-se calcular o valor de regime da tensão indicada na segunda

coluna da tabela. Da mesma forma, para encontrar o valor pico-a-pico da ondulação de

corrente permitido, ∆i, basta tomar o valor de regime da corrente indicada na terceira coluna

da tabela, dividir pelo número de células utilizado e escolher a porcentagem tolerada.

Neste item ficou comprovado, por simulação e experimentalmente, que a célula MNC

é uma boa alternativa para o paralelismo de células de comutação, sendo capaz de estabelecer

um excelente equilíbrio dinâmico de correntes sem prejudicar o equilíbrio estático. Nos itens

seguintes serão apresentados casos simulados de adaptação da técnica de paralelismo MNC a

diferentes conversores estáticos, e serão empregados modelos resistivos simples e idênticos

Indutores de Equilíbrio

Indutor de Saída

Gerador de pulsos

Page 99: Conversores Multiníveis em Corrente

87

para as chaves. Entretanto, a capacidade de supressão de picos de corrente deve ficar

implícita, conforme foi exemplificado na Fig. 4.11.

4.4.2. Paralelismo MNC Aplicado aos Inversores de Tensão e

Retificadores de Corrente

O paralelismo MNC também pode ser aplicado aos inversores de tensão ou VSI

(meia-ponte ou ponte completa) e aos retificadores com indutância de filtragem da corrente de

entrada (tipo boost) e carga tipo capacitiva, como mostrado na Fig. 4.18 para as versões

monofásicas de célula única. No retificador da Fig. 4.18b a corrente no indutor de entrada está

no modo de condução contínua e, neste caso, a tensão de saída deve ser superior ao pico da

tensão de entrada (operação boost) [54]. O projeto dos indutores de equilíbrio para estes

conversores deve levar em consideração algumas características particulares. Em primeiro

lugar, deve-se observar a inexistência de um nível fixo de corrente cc. Ou seja, nos dois casos

a corrente que sai do nó C da célula é do tipo alternada. A freqüência desta corrente também é

outro fator particular, sendo mais crítico para o inversor de tensão. Isto ocorre porque existem

sistemas eletrônicos que utilizam este conversor como elo inversor de alta freqüência, o que

exige que a corrente nos indutores de equilíbrio acompanhem variações muito rápidas (di/dt

elevado), situação pouco confortável para os conversores MNC, conforme será discutido mais

tarde nesta seção.

V Carga

oi

1S

4S

3S

2Sv

C CC

CL

Lo

i1S

4S

3S

2S

(a) (b)

Fig. 4.18 - (a) Inversor de tensão (VSI) e (b) Retificador tipo boost (ou retificador de corrente).

Existe uma grande variedade de técnicas de comando viáveis para os conversores da

Fig. 4.18. A técnica básica consiste em disparar alternadamente, dentro de um período da

corrente de saída, as chaves opostas (superior esquerda com inferior direita e vice-versa).

Muito freqüentemente esta técnica envolve a modulação de um sinal senoidal de baixa

freqüência com um sinal de alta freqüência, sendo conhecida como Comando PWM Senoidal

e é muito utilizada para melhoria do conteúdo harmônico da corrente na carga (inversor) e

entrada (retificador). Para o caso particular do inversor da Fig. 4.18a existe outra técnica

Page 100: Conversores Multiníveis em Corrente

88

muito utilizada quando este conversor é aplicado em fontes chaveadas isoladas. Neste caso, a

estratégia de comando prevê sinais de gatilho deslocados no tempo entre os dois braços do

conversor e é denominada de comando “phase-shift” (ou deslocamento de fase). Nesta técnica

as chaves do mesmo braço recebem sinais de comando deslocados de meio período, enquanto

o outro braço tem um deslocamento no tempo que pode variar desde zero a meio período.

Na técnica de paralelismo MNC, os sinais de comando descritos no parágrafo anterior

são usados para disparar as chaves “paralelas” simultaneamente. Com um projeto adequado

dos indutores de grampeamento pode-se obter um bom equilíbrio dinâmico de corrente entre

as chaves, o que assegura a importante vantagem de elevação da potência de saída utilizando

chaves de valor nominal inferior e, conseqüentemente, mais baratas. Por outro lado, pode-se

disparar as chaves com pequenos atrasos a fim de reduzir a taxa de di/dt, fator diretamente

relacionado com a emissão de interferência eletromagnética. O Capítulo 5 mostra detalhes

desta proposta quando aplicada aos conversores cc-cc.

Sob o ponto de vista da natureza da carga do inversor VSI da Fig. 4.18a existem

algumas variações. As cargas mais comuns envolvem desde grandes motores até banco de

baterias. Por outro lado, em aplicações de fontes chaveadas isoladas cc-cc, o inversor é apenas

um meio de ligação entre a entrada e a saída, sendo comum utilizar uma ponte retificadora de

saída, como mostra a Fig. 4.19.

R

LLd o

o

(a) (b)

Inversor

VSIMonofásico

Inversor

VSIMonofásico

Fig. 4.19 - Carga do inversor VSI “full-bridge”. (a) Transformador - Ponte de Diodos- Carga.

(b) Circuito Equivalente Simplificado visto do Primário (sem capacitor).

Para os conversores da Fig. 4.18 a corrente que chega ou sai do nó C (e que deverá

dividir-se pelas chaves paralelas) varia com uma determinada freqüência, que pode ser igual

ou inferior à freqüência de chaveamento (para inversores sem e com modulação,

respectivamente). Ora, sabe-se que a corrente nos indutores de equilíbrio é, basicamente,

função da corrente de saída e da constante de tempo do conversor MNC (cf. a Tabela 3.2 do

Capítulo 3). Assim, o projeto dos indutores de equilíbrio deve prever uma constante de tempo

Page 101: Conversores Multiníveis em Corrente

89

do conversor MNC muito menor que a taxa de variação desta corrente, visando uma

reprodução fiel da corrente de saída. O caso mais crítico é o dos inversores sem modulação, já

que o período de chaveamento pode ser muito pequeno. Para os conversores com modulação

de alta freqüência (tipo PWM senoidal, por exemplo) a corrente de saída assume uma forma

de onda filtrada de baixa freqüência, facilitando o projeto dos indutores de equilíbrio.

Para os inversores e retificadores de tensão a equação de projeto dos indutores de

equilíbrio é essencialmente a mesma equação (4.7), com a particularidade que IC é a corrente

de pico. Entretanto, deve-se ter em mente que definido o valor de L, a constante de tempo do

conversor multinível estará definitivamente constituída. Tomando como exemplo o conversor

MNC - 2 células e consultando a Tabela 3.2 pode-se localizar a constante de tempo, τ, deste

conversor:

τ =Lr2

. ( 4.9)

O valor de τ deve, portanto, ser muito menor (por exemplo, 20 vezes inferior) que o

período de variação, T, da corrente de saída de forma a garantir um acompanhamento

“instantâneo” desta forma de onda. Desta maneira, pode-se avaliar para o valor de L

encontrado a máxima freqüência da saída, fS, capaz de viabilizar a operação do conversor

MNC - duas células,

f S =1

20τ . ( 4.10)

A título de exemplo pode-se tomar VMAX=120V, ∆i=1A e ∆t=25ns, valores que

levados à equação (4.7) determinam L=6,6µH. Supondo r=80mΩ e introduzindo estes dados

em (4.9) e (4.10) encontra-se fS=1,2kHz. É, portanto, uma freqüência muito baixa para

determinadas aplicações. Uma rápida avaliação dos parâmetros que influenciam as equações

(4.7) a (4.10) revela que a técnica de paralelismo MNC, aplicada a inversores VSI sem

modulação, funciona mais “confortavelmente” com baixos valores da tensão V e altas

correntes de saída (por conseguinte maior ∆i). Por outro lado, para inversores com

modulação, não há limitação quanto à máxima freqüência de chaveamento, já que a corrente

Page 102: Conversores Multiníveis em Corrente

90

de saída é, em geral, de baixa freqüência. No entanto, (4.10) ainda deve ser observada para a

freqüência de saída.

Para ilustrar a dificuldade de se obter equilíbrio de corrente para determinadas

freqüências, simulou-se o inversor “full-bridge” MNC - 2 células da Fig. 4.20. O conversor

opera sem modulação (comando “phase-shift”) alimentando a carga da Fig. 4.19b. Esta é

uma estrutura monofásica típica usada em fontes chaveadas cc-cc isoladas. Este conversor foi

simulado empregando-se V=120V; Ld=20µH; Lo=200µH; Ro=3,75Ω; L=7µH; “phase-

shift”=50µs e fS=5kHz.

V

CargaL

3 42

L = L = L1 2Células MNC

L

1 2

1

7 8

5 6oi

Fig. 4.20- Inversor de tensão MNC 2 células.

A Fig. 4.21a mostra as formas de onda básicas, onde se pode perceber que as correntes

nos indutores de equilíbrio não “conseguem” acompanhar a rapidez de variação da corrente

de saída. Isto implica em uma distribuição de corrente insatisfatória entre as chaves, conforme

ilustrado para algumas chaves selecionadas na Fig. 4.21b.

A Fig. 4.22 mostra que a distribuição de corrente é bastante razoável caso a freqüência

de chaveamento caia para 1 kHz, já que todas as correntes estão limitadas em torno da metade

da corrente de pico na carga. O arquivo de simulação (“.cir”) no programa Pspice® foi

incluído no Apêndice A (full2iret.cir).

Page 103: Conversores Multiníveis em Corrente

91

(a) (b)

Fig. 4.21- Formas de onda selecionadas para o inversor VSI, 2 células (“phase-shift”) com fS=5kHz. De cima para baixo: (a) tensão na carga; corrente de saída e corrente em L1; b) Correntes em algumas chaves.

(a) (b)

Fig. 4.22- Formas de Onda Selecionadas para o inversor VSI, 2 células (“phase-shift”) com fS=1kHz. De cima para baixo: (a) tensão na carga; corrente de saída e em L1; b) Correntes em algumas chaves.

Para confirmar a afirmativa sobre a boa adaptação da técnica de paralelismo MNC aos

conversores com modulação, um exemplo com modulação PWM senoidal foi simulado no

Pspice®. Utilizou-se um inversor MNC VSI - 2 células e carga tipo motor de indução (Ro, Lo)

. Os parâmetros de simulação são: V=170V; L1=L2=7µH; Lo=10mH, Ro=0,5Ω; Μ=0,6 (índice

de modulação); fSW=1,25kHz e freqüência de saída, fo=60Hz. A Fig. 4.23 mostra as formas de

onda simuladas dos principais pontos do circuito, enquanto as figuras Fig. 4.24 e Fig. 4.25

Page 104: Conversores Multiníveis em Corrente

92

apresentam as correntes em regime permanente nas chaves (ativas e passivas). É fácil

perceber uma excelente distribuição de corrente entre os dispositivos, com todas as correntes

limitadas em torno da metade do valor de pico da corrente de saída. Vale lembrar que, na

eventualidade de divergências na entrada em condução e bloqueio, assimetria de layout ou

imperfeições no comando, a célula MNC seria capaz de suprimir os picos de corrente em

virtude de sua característica de grampeamento. O arquivo de simulação (“.cir”) no programa

Pspice® foi incluído no Apêndice A (full2ipwm.cir).

Fig. 4.23- Formas de Onda Selecionadas para o inversor VSI, 2 células (modulação PWM senoidal).

(De cima para baixo: tensão na carga; corrente de saída; corrente em L1 e corrente em L2).

Fig. 4.24 - Correntes nas chaves ativas do inversor MNC - 2 células (modul. PWM senoidal).

Page 105: Conversores Multiníveis em Corrente

93

Fig. 4.25 - Correntes nos diodos do inversor MNC - 2 células (modul. PWM senoidal).

O retificador da Fig. 4.18b pode ser empregado utilizando-se o mesmo comando

PWM senoidal considerado no exemplo de simulação das figuras Fig. 4.23 a Fig. 4.25. Esta

aplicação foi proposta recentemente como uma alternativa interessante de retificação com

fator de potência unitário, utilizando apenas duas chaves controladas (estrutura semi-

controlada) [52]. É claro que como um sistema reversível de acionamento de motores o

inversor da Fig. 4.18a pode operar também como retificação, tendo a indutância do motor (ou

uma adicional de filtragem) funcionando como elemento de condução contínua de corrente.

Nestas condições a estrutura opera como elevadora de tensão sendo possível demonstrar que a

tensão de saída deve, necessariamente, ser maior que o pico da senóide de entrada. Daí a

justificativa de se denominar a topologia como retificador tipo boost.

Acrescentando, pois, a cada braço do circuito da Fig. 4.18b outro idêntico, associado

pela técnica MNC, obtém-se o retificador boost MNC - 2 células, que consiste na versão duas

células da mesma estrutura já apresentada na Fig.2.17 no Capítulo 2. O circuito assim gerado

foi simulado para V=311V; Li=10mH; M=0,87; f=ω/2π=60Hz; fS=2,4kHz; δ=26,5o (ângulo

de transferência de potência); P=6,4kW e Vo=400V. Para estes dados o pico da corrente de

entrada é cerca de 42A (e cada chave deverá ter um pico inferior a 21A). O projeto dos

indutores de equilíbrio baseou-se na equação (4.7) com VMAX=400V, ∆t=25ns e ∆I=2A, o que

Page 106: Conversores Multiníveis em Corrente

94

fornece L=11µH. Foram utilizados indutores com L1=L2=12µH. Os resultados são mostrados

nas figuras Fig. 4.26 e Fig. 4.27.

(a) (b)

Fig. 4.26 - Formas de onda simuladas para o retificador boost MNC - 2 células. (a) Traço superior: tensão de saída; Traço inferior: tensão de entrada/corrente de entrada.

(b) Traço superior: tensão na entrada da ponte; Traço inferior: corrente de entrada/correntes de equilíbrio.

(a) (b)

Fig. 4.27 - Correntes simuladas para o retificador boost MNC - 2 células.

(a) Correntes em algumas chaves; (b) correntes em alguns diodos.

Page 107: Conversores Multiníveis em Corrente

95

Conforme se constata da Fig. 4.27 a distribuição de corrente entre as chaves é muito bem equilibrada, o que permite a escolha de componentes com metade do valor nominal de corrente em comparação com a versão convencional de uma célula. Esta é, portanto, outra aplicação que confirma a adequação da técnica de paralelismo MNC para estruturas com modulação combinada ao comando das chaves. Neste caso não há limite para a freqüência de chaveamento, desde que a ondulação de corrente esteja contida dentro de uma faixa adequada.

4.4.3. Paralelismo MNC de Inversores de Corrente e Retificadores de Tensão

O paralelismo MNC aplica-se também a estruturas com tensão alternada na célula e corrente tipo cc no nó C, ou seja inversores CSI e retificadores de corrente. Neste caso incluem-se as estruturas clássicas, até hoje muito empregadas em Eletrônica de Potência, mostradas na Fig. 4.28 em versões monofásicas de célula única. Inversores de corrente têm sido utilizados em acionamento de motores ca (síncronos ou assíncronos) ou como circuitos osciladores (e.g., aquecimento indutivo). Já os retificadores podem ser aplicados em acionamento de motores cc, retificação de linhas ca, elo cc de linhas de transmissão HVDC, etc. Deve-se lembrar que os componentes complementares da célula são representados lado a lado, conforme indicado na Fig. 4.28. Numa conexão MNC as chaves associadas devem ser interligadas por indutores, como mostra a Fig.2.18 ou Fig.2.19 (e ainda a Fig.2.22). Pode-se constatar que no ponto C da célula, como sempre, existe uma fonte ou filtro de corrente “firme” (com baixa ondulação). Mas os pontos T1 e T2 não estão ligados a uma fonte de tensão cc. Os tiristores (SCRs, GTOs, etc.) são os componentes mais utilizados nestas estruturas e foram envolvidos por um círculo para representação da capacidade de corte forçado, algumas vezes exigida nas aplicações.

I

vca

Carga

C

T1

T2

C

Carga

Fonte deCorrente cc

I

C

C

T1T2

Chaves Complementares

(a) (b)

Fig. 4.28 - (a) Inversor de corrente (CSI) e (b) Retificador de tensão.

Page 108: Conversores Multiníveis em Corrente

96

Conforme mencionado no Capítulo 2 estes conversores podem se beneficiar de uma

operação multinível em corrente através de atrasos nos comandos das chaves “paralelas” da

célula MNC. Este assunto será melhor abordado no Capítulo 6. Mas mesmo numa operação

com paralelismo MNC (sem atrasos) ainda existe a vantagem da divisão de corrente entre

chaves paralelas, que poderiam ser dimensionadas em frações da corrente nominal original,

conforme o número de células empregado. O projeto dos indutores de equilíbrio, nesta

situação, deve considerar que a tensão da célula não é cc. Assim, é preciso calcular o valor

máximo ou da tensão na entrada em condução ou da tensão no desligamento das chaves

paralelas, aquela que representar o maior valor de tensão sobre os indutores de equilíbrio.

Admitindo que, tanto para o retificador quanto para o inversor, a tensão nos pontos T1 e T2 é

aproximadamente senoidal, e que o ponto de maior tensão está associado ao ângulo α, pode-

se escrever:

V Vsen(MAX = 2 α) ( 4.11)

Onde V é a tensão eficaz da senóide em questão. Pode-se considerar ainda uma

simplificação e fazer α=90o na equação (4.11), o que dará sempre o maior valor de tensão

(pior caso). Neste caso os indutores de equilíbrio estarão sobredimensionados. Os demais

parâmetros necessários ao cálculo dos indutores de equilíbrio pela equação (4.7) ou (4.8)

seguem a recomendação convencional.

A Fig. 4.29 mostra os resultados simulados de um inversor CSI MNC-2 células

(mesmo circuito da Fig. 2.19 do Capítulo 2), onde adotou-se I=100A, Lp=LN=150µH, e carga

R//C → 3Ω/700µF. As chaves foram disparadas numa seqüência que determinou três níveis

de corrente na carga: +I, 0 e -I. Como pode ser visto na Fig. 4.29b a distribuição de corrente

entre as chaves é perfeita. O arquivo de descrição de circuitos (.cir) do programa Pspice® é

apresentado no Apêndice A (csi_paral.cir). No Capítulo 6 estas estruturas serão estudadas

mais apropriadamente, considerando a possibilidade de múltiplos níveis de corrente na carga,

estratégias de chaveamento e limitações práticas.

A Tabela 4.2 apresenta um sumário sobre os principais parâmetros necessários ao

cálculo dos indutores de equilíbrio para os retificadores e inversores excluindo, portanto, os

conversores cc-cc que já foram considerados na Tabela 4.1.

Page 109: Conversores Multiníveis em Corrente

97

(a) (b)

Fig. 4.29 - Simulação do inversor CSI MNC-2 células.

(a) De cima para baixo: correntes nos indutores de equilíbrio; tensão na carga e corrente na carga.

(b) Correntes em algumas chaves.

TABELA 4.2 - ORIENTAÇÕES PARA O PROJETO DO INDUTOR DE EQUILÍBRIO -

Conversor Tensão VMAX Corrente para cálculo de ∆i

Observação

1. Retificador Boost Tensão de Saída Corrente de pico de entrada

2. Inversor de Tensão (não-modulado)

Tensão de Entrada Corrente de pico de saída

freqüência de chaveamento limitada pela eq. (4.10)

3. Inversor de Tensão (modulado)

Tensão de Entrada Corrente de pico de saída

• Não há limite para a freqüência de chaveamento;

• Freqüência de saída limitada pela eq. (4.10)

4. Retificador Buck Tensão de entrada para ωt=α

Corrente de saída Projeto simplificado: α=90o

5. Inversor de Corrente Tensão de saída para ωt=α

Corrente de entrada Projeto simplificado: α=90o

É claro que o projeto de um conversor MNC não se resume, exclusivamente, ao

projeto dos indutores de equilíbrio. Envolve também o projeto de filtros, dimensionamento

Page 110: Conversores Multiníveis em Corrente

98

das chaves, proteções, etc. Entretanto, estes pontos são bem estabelecidos no domínio da

Eletrônica de Potência, não havendo necessidade de repeti-los aqui. Deve-se, no entanto,

ressaltar que a escolha das chaves de potência, para um determinado conversor MNC, pode

ser orientada estritamente pela corrente prevista em cada célula (iC/n). Isto ocorre porque, no

estado de condução, todas as chaves conduzem “quase rigorosamente” a mesma corrente,

notadamente isenta de picos repetitivos (ao contrário do paralelismo convencional). Assim,

não há qualquer exigência de um sobredimensionamento das chaves para proteção contra

sobrecorrentes (ou “spikes” de corrente).

Deve-se mencionar, ainda, que o valor do filtro de corrente do nó C da célula irá

influenciar também as correntes nas chaves. De fato, conforme já mencionado, a corrente da

primeira célula é mais influenciada pela ondulação da corrente do indutor de filtragem.

Assim, quanto menor for esta ondulação mais homogênea será a distribuição estática de

corrente. Por outro lado, isto exigirá uma maior indutância de filtragem e, conseqüentemente

maior volume e peso da estrutura final. Recomenda-se, portanto, bom senso na escolha deste

elemento, que deverá ser pautada nas exigências básicas do equipamento a ser implementado

(tais como, necessidade ou não de compactação, peso, equilíbrio rigoroso de correntes, etc.).

4.5. Técnicas Alternativas de Paralelismo de Células de Comutação

A Fig.1.18 do Capítulo 1 mostrou um método de paralelismo de conversores com

arquitetura celular através da inclusão de indutores conectados à carga. Neste caso os

indutores fazem parte de cada célula conversora e auxiliam na distribuição da energia

fornecida à carga por cada conversor individual. Não é difícil imaginar a adaptação da mesma

idéia ao paralelismo de células de comutação, conforme ilustra a Fig. 4.30. Nesta estrutura “n

células são associadas por n indutores de equilíbrio”, recebendo por isso aqui a denominação

de estrutura NCNI. Basicamente, haverá distribuição equilibrada de corrente desde que as

chaves possuam a mesma razão cíclica e os indutores operem no modo de condução contínua

de corrente, condições também exigidas para a célula MNC.

Page 111: Conversores Multiníveis em Corrente

99

Ln

L2

T2

T1

C

io

ion

ion

S1S2S3

....L1

ion

Fig. 4.30 - Célula genérica de paralelismo NCNI.

Aparentemente proposta para o paralelismo de inversores[36], esta técnica tem sido

empregada em diversos trabalhos e com diversos propósitos [29], [52], [53]; mas só muito

recentemente recebeu uma abordagem de generalização para paralelismo de células de

comutação [55]. Essa referência, entretanto, sugeriu a necessidade de uma impedância de

entrada (em série com os nós de tensão T1 e T2) a fim de promover o equilíbrio natural de

correntes. Esta exigência, entretanto, não foi confirmada no presente estudo, conforme

revelam os resultados que seguem.

Assim, empregando o mesmo sinal de comando para todas as chaves da estrutura, é

possível obter o equilíbrio natural de correntes sem qualquer artifício adicional. Esta

afirmativa pode ser comprovada tomando-se como exemplo o conversor buck NCNI -3

células, mostrado na Fig. 4.31. Este conversor foi simulado adotando-se V=250V; fS=20kHz;

D=0,6; Lo=700µH; L1=L2=L3=12,5µH; R=5Ω (Io=30A) e ∆t=50ns (atraso intencional no

comando das chaves, para teste de paralelismo). A corrente média prevista nos indutores de

equilíbrio vale um terço da corrente de saída, ou seja 10A, que por conseguinte também será,

aproximadamente, o valor máximo de corrente nas chaves. Para limitar picos adicionais de

corrente em ∆i=1A o dimensionamento dos indutores foi realizado empregando a mesma

equação (4.7), usada para as estruturas MNC. Porém empregou-se metade do valor

recomendado já que o comando é convencional (a chave intermediária não conduz sozinha).A

Fig. 4.32 mostra as formas de onda de corrente nos indutores de equilíbrio e chaves ativas,

começando no estado transitório até atingir a condição de regime permanente. O arquivo de

simulação no programa Pspice® (“.cir”) é incluído no Apêndice A (b3incni.cir).

Page 112: Conversores Multiníveis em Corrente

100

LR

io

Vo

oo

1S

DD

V

S2S3

12D3

L1

L3

L2

i1

i2

i3

Fig. 4.31 - Conversor buck NCNI - 3 células.

(a) (b)

Fig. 4.32 - Equilíbrio natural de corrente no conversor buck NCNI - 3 células.

(a) Corrente nos indutores de equilíbrio; (b) corrente nas chaves.

Como pode ser observado da Fig. 4.32b esta estrutura também possui a capacidade de

grampeamento verificada na célula MNC. É capaz, portanto, de amortecer picos de corrente

provocados por dispersão nos parâmetros das chaves, imperfeição de comando ou “layout”.

Uma sobrecorrente adicional surgiu nas chaves S2 e S3, estando dentro dos limites de ∆i=1A,

admitido em projeto.

Apesar de os indutores conduzirem o mesmo nível de corrente, uma operação

multinível é também viável neste caso, já que por meio de comando adequado das chaves é

possível conectar a fonte de tensão aos indutores de equilíbrio em qualquer combinação

(apenas um indutor: Io/n, dois: 2Io/n, três: 3Io/n, etc.). Este fato é confirmado pela simulação

Page 113: Conversores Multiníveis em Corrente

101

mostrada na Fig. 4.33 para o mesmo caso anterior, porém com Lo=L1=L2=L3=1,25mH e

∆t=5µs.

Fig. 4.33 - Corrente de entrada para o conversor buck NCNI - 3 células/4 níveis.

Como pode ser inferido dos exemplos apresentados, a estrutura NCNI possui muitos

recursos constituindo uma alternativa muito atraente para a implementação de conversores

multiníveis em corrente e paralelismo de células de comutação. Entre suas vantagens

incluem-se a simetria da estrutura, o que implica em mesma forma de onda de corrente nas

chaves e mesmo nível de corrente nos indutores de equilíbrio. Por outro lado, os indutores de

equilíbrio são submetidos a uma ondulação relativa maior que a correspondente na célula

MNC. Esta afirmativa pode ser comprovada pelas formas de onda simuladas da Fig. 4.34,

onde são mostradas as correntes no indutor L3 da alternativa NCNI e L2 da MNC, tendo sido

empregados o mesmo conjunto de parâmetros num conversor buck - 3 células. Como pode ser

visto nesta figura, a ondulação nos indutores NCNI é cerca de duas vezes e meia a

correspondente MNC. Isto, sem dúvida, trará implicações práticas de dimensionamento

revelando-se tanto pior quanto maior for a ondulação da corrente na saída.

Diante destas considerações torna-se interessante reunir as informações básicas a

respeito das duas estruturas, para efeito comparativo. Conforme mencionado, o projeto dos

indutores de equilíbrio é feito usando a mesma equação (4.7) para a célula MNC, o que

implica que todos os indutores da estrutura terão o mesmo valor dos indutores da estrutura

MNC (porém com níveis distintos de corrente média). Esta informação viabiliza uma

comparação da energia armazenada (que dá uma idéia de volume) nos indutores para as duas

estruturas, o que é sumariado na Tabela 4.3 para até 5 células em paralelo . Nesta tabela L é o

valor de todos os indutores, enquanto I é o valor médio da corrente que sai (ou entra) no nó C.

Page 114: Conversores Multiníveis em Corrente

102

Fig. 4.34 - Comparação da ondulação de corrente nos indutores de equilíbrio.

TABELA 4.3 - ENERGIA IDEAL DOS INDUTORES DE EQUILÍBRIO -

Estrutura NCNI Estrutura MNC

No de Indutores,

N1

Energia * Total, ε1

No de Indutores,

N2

Energia *Total, ε2

2 2 2LI8

2

1 LI8

2

2,00 2,00

3 3 3LI18

2

2 5LI18

2

1,50 0,60

4 4 4LI32

2

3 14LI32

2

1,33 0,29

5 5 5LI50

2

4 30LI50

2

1,25 0,17

*O cálculo da energia não levou em consideração a ondulação de corrente

Das informações presentes na Tabela 4.3 percebe-se que a célula MNC sempre exigirá

um elemento indutivo a menos, em comparação com a estrutura NCNI. Entretanto, como o

cálculo da energia varia com o quadrado da corrente de saída (ou entrada dependendo do

conversor) a vantagem do número de componentes rapidamente deixa de existir em função do

volume ocupado pelos indutores. Deve-se lembrar, no entanto, que o cálculo destes

parâmetros admitiu corrente cc nos indutores, não levando em consideração a maior

ondulação nos indutores da técnica NCNI. Se isto for computado as energias totais para n=3

No de células

εε

1

2

NN

1

2

NCNI MNC

Page 115: Conversores Multiníveis em Corrente

103

são muito próximas, favorecendo portanto a estrutura MNC. Somente então para n≥4 a

alternativa NCNI passa a ter vantagens sob o ponto de vista da energia nos indutores. Por

outro lado, o volume real ocupado por um indutor será função do núcleo utilizado, material do

fio, tamanho do carretel e disponibilidade comercial de componentes. Assim ocorre que, não

raro, diferentes indutores (sob o ponto de vista da indutância e corrente armazenada) são

constituídos utilizando o mesmo formato núcleo/carretel, ocupando assim um volume final

muito próximo. Também deve-se considerar que conversores utilizando a técnica NCNI terão

sempre um elemento a mais, o que determina inúmeras implicações de montagem em escala,

confiabilidade, etc. De qualquer forma, a questão da energia não é a única que define as

vantagens/desvantagens de uma estrutura em relação à outra. A Tabela 4.4 reúne outras

importantes informações pertinentes às duas técnicas em questão. TABELA 4.4 - COMPARAÇÃO DA TÉCNICA NCNI E MNC PARA PARALELISMO -

Técnica no de células

no de indutores de

equilíbrio

Ondulação nos Indutores

Ondulação nas chaves

Constantes de

tempo

Multinível nos

Indutores

NCNI n n dependente da ondulação na corrente de saída

dependente da ondulação na corrente de saída

A mesma para todas os indutores e chaves, não depende de n

Não

MNC n n-1

desprezível para efeito de perdas

S1: fortemente influenciada pela saída;

Demais chaves: desprezível

Depende do número de células e varia com o elemento

Sim

As conclusões e discussões expressas nesta seção, até aqui, reúnem um material

bastante útil para que um projetista possa tomar decisões e dimensionar componentes

relativos ao tipo de técnica de paralelismo que deseja adotar. Porém, pela observação

topológica das duas estruturas, pode-se questionar sobre o número mínimo necessário de

indutores de equilíbrio capaz de viabilizar o paralelismo equilibrado de células de comutação.

De fato, o emprego de n-1 indutores na estrutura MNC parece indicar que existe uma

redundância de elementos na estrutura original NCNI. Baseado nesta hipótese, pode-se propor

uma variante da topologia NCNI curto-circuitando um dos elementos de equilíbrio, como

mostrado na Fig. 4.35.

Page 116: Conversores Multiníveis em Corrente

104

L1

Ln-1T2

C

T1

io

ion

ion

ion

S1S2S3

....

Fig. 4.35 - Variante reduzida da célula NCNI.

Um fato teórico que faz acreditar que a hipótese seja verdadeira é o de que a corrente, no ramo em que se curto-circuitou a indutância, está completamente definida já que todas as correntes que concorrem ao nó C são conhecidas. De fato, também externamente ao nó C

existe uma fonte de corrente “firme”, normalmente realizada por um laço indutivo, filtro de corrente, etc. Deve-se observar ainda que, devido à simetria original da estrutura, a posição do curto-circuito parece ser indiferente. Em outras palavras, o nó comum poderá estar ligado diretamente a qualquer célula individual do conversor.

Para verificar o comportamento de uma tal estrutura pode-se adaptá-la ao conversor buck, por exemplo, e simulá-la no Pspice®. Isto é feito utilizando o mesmo conversor da Fig. 4.31, cujas formas de onda principais são mostradas na Fig. 4.36. O arquivo “.cir” encontra-se no Apêndice A (b3ivar01.cir). Para a simulação da Fig. 4.36 foram adotados os mesmo valores de parâmetros e atrasos de comando, porém empregando maiores indutores que os adotados para a simulação

da Fig. 4.32: L1=L2=25µH e Lo=2mH, de forma a compensar a ausência de um elemento

indutivo. O curto circuito foi simulado por uma resistência de baixo valor: r1=1mΩ. Como se

pode perceber destas formas de onda, o circuito também atinge a estabilidade e a distribuição dinâmica e estática de correntes, sendo o resultado final qualitativamente muito próximo do alcançado na Fig. 4.32. É fácil concluir também sobre a necessidade de se elevar os valores das indutâncias para compensar a redução de elementos reativos na estrutura. Porém, as correntes nos ramos de equilíbrio continuam assumindo um mesmo valor médio de regime,

igual ao valor da corrente de saída dividido pelo número de chaves (neste caso 30A÷3=10A).

Assim, a técnica ganha com a redução de um elemento, sem implicar em elevação considerável do volume ocupado pelos indutores. Isto ocorre porque aumentar L não tem o mesmo efeito que aumentar a corrente, cuja relação é quadrática no cálculo da energia ou volume.

Page 117: Conversores Multiníveis em Corrente

105

Fig. 4.36 - Formas de onda da estrutura variante.

Desta forma fica comprovada a existência de uma nova técnica, variante da técnica

NCNI, que também exige n-1 indutores de equilíbrio (e, portanto, não é mais NCNI) para

promover o paralelismo. Deve-se observar, entretanto, que a estrutura perde a condição de

simetria e exige elementos de filtragem maiores.

Parece, assim, que a técnica MNC ficaria condenada ao esquecimento, em função de

seu maior volume exigido para os indutores de equilíbrio. Porém, o fato constatado na

variante da célula NCNI, de que a posição do nó C pode ser modificada em relação às células

individuais, também merece ser investigado para a técnica MNC. Um exemplo aplicado ao

conversor buck MNC-4 células é mostrado na Fig. 4.37. A estrutura foi simulada no programa

Pspice® e os resultados são mostrados na Fig. 4.38.

S

L

D250V

S 24

2D4

2L

R

io

Vo

oo

S

D

L

3

3

3

C

S

D

L

1

1

1

200A100A 50A50A

Fig. 4.37 - Variante da célula MNC.

Page 118: Conversores Multiníveis em Corrente

106

Fig. 4.38 - Formas de onda do conversor buck MNC-4 células com nó comum livre.

(a) corrente nos indutores; (b) corrente nas chaves.

Como pode ser visto dos resultados de simulação a distribuição de corrente

equilibrada é totalmente alcançada, agora com os indutores intermediários sendo melhor

aproveitados. Ou seja, não há mais a distribuição original onde ocorreria: 150A, 100A e 50A

nos indutores de equilíbrio. Ao contrário, apenas um deles se carrega com 100A e os demais

com 50A (o mesmo nível que se verificaria na estrutura NCNI). Em termos de energia ocorre

uma redução de cerca de 60%.

Dentro desta concepção, para uma estrutura MNC-3 células seria possível operar com

os indutores de equilíbrio com 1/3 da corrente do nó C, o que determina uma energia total

muito menor comparada com a composição original, quando um dos indutores se carregava

com 2/3 da corrente do nó C. Assim a terceira linha da Tabela 4.3 deve ser recalculada

ficando com: 2,0; 1,5; 0,67 e 0,5, o que sem dúvida, mostra uma melhora de desempenho da

célula MNC.

Uma comparação com a variante da estrutura NCNI também poderia ser feita. Porém

seria necessário antes entender os mecanismos de supressão de picos de corrente para

encontrar os valores de L que correspondam aos valores nas demais configurações. Este

assunto é proposto como tema de investigação no futuro.

Page 119: Conversores Multiníveis em Corrente

107

Baseado nas informações desta seção restará ao projetista definir qual a melhor

técnica a ser utilizada para a aplicação pretendida. Pode-se concluir, de uma forma geral, que

as duas alternativas de paralelismo aqui consideradas, bem como suas variantes, possuem

cada qual seus atrativos individuais. Deve ser lembrado ainda que, tratada da forma como foi

apresentada nesta seção, a técnica NCNI passa a ser viável em uma gama muito mais extensa

de aplicações, e sob uma ótica ainda não vislumbrada na literatura técnica atual.

4.6. Considerações Sobre a Dinâmica do Equilíbrio de Correntes

Pode-se concluir, em resumo, que tanto a célula MNC quanto a célula NCNI

constituem excelentes alternativas ao paralelismo convencional de células de comutação. Pelo

uso de uma destas duas técnicas obtém-se virtualmente o mesmo equilíbrio estático de

corrente entre as chaves comparado à técnica convencional, com a vantagem adicional de

excelente supressão de sobrecorrentes em função de imperfeições no chaveamento, layout,

etc. Deve-se ressaltar que o desempenho das técnicas propostas não exige qualquer ação de

controle para estabelecimento do equilíbrio de corrente nas chaves. De fato, esta é uma

exigência básica para que as alternativas permaneçam atraentes e simples.

Entretanto, na prática, um determinado conversor sofre uma série de perturbações,

seja na razão cíclica das chaves (para controle das exigências de tensão e corrente do

conversor), seja na carga, seja na alimentação, etc. Por outro lado, conforme mostrado no

capítulo anterior (cf. Tabela 3.2), existem constantes de tempo associadas ao conversor MNC

que poderiam prejudicar o equilíbrio dinâmico de corrente nas chaves na presença destas

perturbações. Espera-se contudo que, caso sejam obedecidas as recomendações de projeto

dos indutores, as constantes de tempo mencionadas serão muito inferiores à constante de

tempo da corrente no nó C, garantindo assim um bom desempenho dinâmico do conversor

MNC (ou NCNI) como técnica de paralelismo.

Das perturbações em um sistema prático, mencionadas no parágrafo anterior, talvez as

mais comuns sejam as relacionadas com variações na razão cíclica e na carga (ou da corrente

no nó C). De fato, as perturbações na tensão de entrada são menos acentuadas à exceção da

partida (ou início de funcionamento) do conversor. Entretanto, este evento é normalmente

controlado por um sistema de partida progressiva e o conversor não sofre os efeitos de

sobrecorrentes transitórias (também conhecido como “inrush”).

Page 120: Conversores Multiníveis em Corrente

108

A Fig. 4.39 mostra as formas de onda simuladas para um transitório de 100% na carga

de um conversor buck MNC-2 células. O arquivo de descrição do circuito (.cir) no programa

Pspice® é apresentado no apêndice A (b2iloadstep.cir). Nesta simulação, a corrente de saída

passa de cerca de 50A para 100A, a tensão de saída é de cerca de 120V (exceto durante o

transitório) e a potência da carga cresce de 6kW para 12kW. Os demais parâmetros são:

V=240V; D=0,5; r=75mΩ; L1=15µH; Lo=700µΗ; Co=200µH (filtro em paralelo com o

resistor de carga) e o transitório é aplicado em t=2ms. Empregou-se uma indutância de

equilíbrio cerca de 5 vezes superior à sugerida por (4.7), para verificar o efeito de uma maior

constante de tempo do conversor. Entretanto, nenhum desequilíbrio de corrente entre as

chaves foi observado, conforme se conclui da letra (b) da figura, onde se percebe que tanto

antes quanto depois do transitório as correntes de condução das chaves não superam a metade

da corrente de saída.

Fig. 4.39 - Transitório na carga de um conversor buck MNC- 2 células.

(a) De cima para baixo: tensão de saída, corrente no indutor de saída e corrente no indutor de equilíbrio.

(b) De cima para baixo: corrente na chave S1, corrente na chave S2.

(a)

(b)

Page 121: Conversores Multiníveis em Corrente

109

4.7. Conclusões

Neste capítulo foram apresentadas as características da célula MNC enquanto proposta

alternativa ao paralelismo de células de comutação. Através de ensaios de laboratório,

verificou-se a superioridade, sob o ponto de vista dinâmico, da técnica MNC comparada com

o método convencional de paralelismo. Apesar de as chaves não apresentarem rigorosamente

a mesma forma de onda (fato presente no paralelismo convencional), o equilíbrio estático de

corrente é muito próximo do alcançado com a técnica convencional. Resultados simulados e

experimentais confirmaram estas propriedades para os conversores cc-cc, inversores e

retificadores baseados na célula MNC.

A célula MNC também foi comparada com a célula NCNI, que é uma técnica antiga

mas pouco explorada na literatura técnica. Variantes da estrutura MNC e NCNI também

foram propostas. Concluiu-se que tanto as células originais quanto as variantes apresentam as

mesmas propriedades de equilíbrio dinâmico de corrente, sem prejudicar o equilíbrio estático.

Page 122: Conversores Multiníveis em Corrente

110

5. Conversores CC-CC Multiníveis em Corrente

capítulo anterior apresentou a célula MNC como uma alternativa ao

paralelismo convencional de células de comutação. Nesta situação as

chaves ativas são disparadas com o mesmo sinal de comando, ou seja,

nenhum atraso intencional existe entre os pulsos de disparo. Desta forma,

os níveis intermediários de corrente existentes nos indutores de equilíbrio não são transferidos

a nenhum outro ponto da estrutura.

Neste capítulo serão exploradas as características, vantagens e limitações da operação

de conversores cc-cc operando com múltiplos níveis de corrente (que não os tradicionais

zero/um do conversor cc-cc dois níveis convencional). Parte dos resultados aqui apresentados

foram publicados em [56].

Conforme discutido no Capítulo 2, a corrente da fonte de tensão (ou ramo capacitivo)

da célula MNC pode assumir os níveis intermediários de corrente desde que existam atrasos

nos comandos das chaves, conforme ilustra a Fig. 5.1. Nesta figura q assume os valores

1,2,…(n-1), onde n é o número de células associadas. Assim, estes níveis de corrente, além do

nível de corrente no ponto C da célula, podem estar presentes na corrente que “circula” pelos

terminais A e P.

Célula MNC

Níveis:

c(n-q)In

iv

ic

Ic

ic

t

(operando com "atrasos")

iv

t

A

P

C

Fig. 5.1 - Multiníveis de corrente nos conversores cc-cc (diagrama simplificado).

O

Capítulo

Page 123: Conversores Multiníveis em Corrente

111

5.1. Conteúdo Harmônico e Interferência Eletromagnética

Os conversores cc-cc são estruturas que possuem diversas aplicações em Eletrônica de

Potência, seja para uso industrial ou doméstico. Fontes de energia (para Telecomunicações,

computadores, satélites e naves espaciais, etc.), sistemas de carga de baterias, banhos

eletroquímicos, acionamentos de motor cc em velocidade variável, etc., são alguns dos

exemplos clássicos e ainda atuais.

Os conversores cc-cc não-isolados convencionais (cf. Fig.3.2) apresentam, invariavelmente, a forma de onda simplificada de corrente mostrada na Fig. 5.2, relativa aos terminais A e P.

-T T

DT

I ct

i v

0

Fig. 5.2 - Corrente convencional dois níveis nos terminais A e P de um conversor cc-cc.

Como pode ser visto, esta forma de onda apresenta simetria par [f(t)=f(-t)] e, portanto,

apenas possui termos em cosseno da série de Fourier:

i( )t .D Ic= 1

h

...2 sen( )hDπ

hIc cos( )h ω t

π ( 5.1)

Onde ω π= 2 f s e fS=1/T. A Fig. 5.3 mostra o espectro harmônico da forma de onda

ideal da Fig. 5.2, obtido com auxílio do programa Probe/Pspice® utilizando um conversor

buck ideal. Para obtê-lo adotou-se IC=30A; fS=50kHz e D=0,5 ou D=0,6, para as letras a e b,

respectivamente. Deve-se considerar que este espectro é totalmente dependente da razão

cíclica, D, podendo apresentar ou não determinadas componentes harmônicas. Pode-se

observar que estas representações estão em conformidade com a equação (5.1). De fato, o

espectro apresenta uma componente cc não-nula, uma forte componente na freqüência de

chaveamento e ainda, múltiplos (pares ou ímpares) desta.

Page 124: Conversores Multiníveis em Corrente

112

(a)

(b)

Fig. 5.3 - Espectro harmônico da corrente da Fig. 5.2 para (a) D=0,5 e (b) D=0,6.

Fica evidente que a forma de onda da Fig. 5.2 consiste numa fonte potencial de

poluição harmônica, sendo capaz de produzir freqüências muito altas ou rádio freqüências -

RF. Estes sinais podem ocasionar sérios efeitos eletromagnéticos, em especial nas imediações

de localização do equipamento eletrônico “infrator”. Isto ocorre porque os fios, cabos,

terminais e gabinetes que conduzem ou estão relacionados às rápidas mudanças de tensão ou

corrente (dv/dt ou di/dt) agem como antenas, podendo gerar interferência por condução ou

irradiação em outros equipamentos. O fato de os equipamentos estarem normalmente contidos

em gabinetes metálicos já proporciona uma redução das emissões. Mas não raro, a fonte, a

carga ou fios de sinal de comando são externos ao circuito de potência, configurando

novamente o problema da irradiação. Nem sempre todo o espectro gerado é prejudicial, mas

tão somente determinadas freqüências, que são proibitivas ou fortemente danosas para as

telecomunicações (ou que interfiram na operação de outros equipamentos).

Os engenheiros denominam o fenômeno descrito no parágrafo anterior de interferência

eletromagnética (EMI) e propõem uma série de legislações (“standards” ou normas) limitando

sua intensidade nos equipamentos que a produzem. Por outro lado, a habilidade de os

D=0,5

D=0,6

Page 125: Conversores Multiníveis em Corrente

113

equipamentos eletrônicos (que geram ou são suscetíveis à rádio interferência -RFI) operarem

de forma “harmoniosa” é definida como compatibilidade eletromagnética (EMC).

Dentre os organismos que sugerem normas eletroeletrônicas pode-se citar a FCC

(Federal Communications Commission) e o IEEE (The Institue of Electrical and Electronics

Engineers) nos EUA, a VDE (Verband Deutscher Electrotechniker) na Alemanha e a IEC

(International Electrotechnical Comission) nos países do Mercado Comum Europeu

(“European Economic Community” - EEC), cujas normas também são adotadas em várias

partes do mundo. Algumas das normas editadas por estes organismos são equivalentes ou

similares, mas é muito comum as empresas fabricantes de produtos eletro-eletrônicos de todo

o mundo procurarem obedecer às normas mais restritivas. Desta forma seus equipamentos

terão assegurado o direito de serem exportados e comercializados em diversos países.

A IEC é uma instituição internacional sediada em Genebra, na Suíça, que propõe e

distribui padrões de funcionamento de produtos eletroeletrônicos e componentes. Suas

recomendações incluem funções de segurança e desempenho. É muito referenciada a norma

IEC 555-2 que determina limites nos conteúdos harmônicos da corrente elétrica de

equipamentos monofásicos conectados às redes de alimentação em 50 ou 60 Hz, 220-240V

até 3,5kW. O CISPR (Comite International Special des Perturbations Radioelectriques),

também sediado em Genebra, é um comitê especial patrocinado pela IEC que atua em

assuntos sobre RFI e EMI.

A norma CISPR 22 estabelece limites de RFI e EMI permitidos aos equipamentos

eletro-eletrônicos, sejam estas interferências de natureza conduzida ou irradiada, conforme

relacionado na Tabela 5.1 em dBµV, para equipamentos industriais (classe A) e de uso

doméstico (classe B). Existem também normas militares (e.g. MIL-STD-461B nos EUA) que

apresentam seus resultados em dBµA. Os resultados em dBµV (como os do CISPR 22) são,

em geral, medidos para uma linha casada ou sistema de impedância LISN (“line impedance

stabilization network), Z, que pode ser de 50Ω ou 150Ω. Os resultados absolutos, em

microvolts, microampères ou watts podem ser obtidos pelas relações:

µ

µ

µ

µ

µ

VA

PVZ Z

dB V

dB A/

2x

dB V

=

=

= =−

1010

10 10

20

20

6 20 2

( / )

( )

/[ ](em watts)

⎬⎪⎪

⎭⎪⎪

. ( 5.2)

Page 126: Conversores Multiníveis em Corrente

114

TABELA 5.1 - NORMA CISPR -22 -

CISPR 22 Emission Limits for Class A Devices

Industrial Devices

--------------------------------------------------------------------------- Radiated Emissions (30 meters)

Frequency (MHz) uV/m dB(uV/m)

--------------------------------------------------------------------------- 30 - 230 31.6 30 230 - 1000 70.8 37

--------------------------------------------------------------------------- Conducted Emissions

Frequency (MHz) uV QP (AV) dB(uV) QP (AV)

--------------------------------------------------------------------------- 0.15 - 0.5 8912.5 (1995) 79 (66) 0.5 - 30 4467 (1000) 73 (60)

---------------------------------------------------------------------------

CISPR 22 Emission Limits for Class B Devices

Consumer Products

--------------------------------------------------------------------------- Radiated Emissions (10 meters)

Frequency (MHz) uV/m dB(uV/m)

--------------------------------------------------------------------------- 30 - 230 31.6 30 230 - 1000 70.8 37

--------------------------------------------------------------------------- Conducted Emissions

Frequency (MHz) uV QP (AV) dB(uV) QP (AV) ---------------------------------------------------------------------------

0.15 - 0.5 1995-631 (631-199.5) 66-56 (56-46)* 0.5 - 5 631 (199.5) 56 (46) 5 - 30 1000 (316) 60 (50)

--------------------------------------------------------------------------- * (limit varies linearly)

Para minimizar os efeitos negativos da poluição harmônica, é comum recorrer a

blindagens, filtros especiais e estratégicos, projetos criteriosos concordantes com as normas,

além de técnicas cuidadosas de montagem e fabricação de gabinetes, painéis e placas de

circuito-impresso [57]. Entretanto, o melhor procedimento de projeto consiste em minimizar a

EMI na fonte emissora, ao invés de empregar a “força-bruta” das técnicas de filtragem (que

muitas vezes determinam elevação de volume, peso e custo final)[58].

5.2. Corrente Multinível nos Conversores CC-CC

Pode-se concluir da seção anterior que é muito importante otimizar o conteúdo

harmônico e EMI dos conversores cc-cc. Também de acordo com aquelas informações, a

principal causa de um “rico” espectro harmônico é a existência de taxas de di/dt ou dv/dt

elevadas nos conversores.

Uma alternativa à forma de onda da Fig. 5.2 consiste em limitar a brusca ascensão e

queda da corrente por meio de degraus intermediários [51], [52]. Nos conversores MNC isto

pode ser obtido pela introdução de “pequenos” atrasos no comando das chaves associadas,

obtendo-se assim uma taxa de di/dt bastante inferior. Se os atrasos forem pequenos, conforme

sugerido, o valor das indutâncias de equilíbrio mantém-se razoável, não implicando em

aumento de volume e peso adicional à estrutura [cf. equação (4.7), do capítulo anterior].

Deve-se mencionar que esta estratégia é rigorosamente impossível em uma associação

Page 127: Conversores Multiníveis em Corrente

115

convencional de células de comutação, já que implicaria em sobrecorrentes insuportáveis nas

chaves, tanto piores quanto maior o número de células associadas.

A título de exemplo pode-se mencionar que os IGBTs e MOSFETs mais comuns

possuem tempo de entrada em condução típicos (“turn-on delay time” somado ao “rise time”)

em torno de 150ns. Supondo um conversor de única célula com corrente no nó C de 30A,

pode-se chegar a um di/dt real de 200x106A/s ou superior! Esta marca poderia ser

consideravelmente reduzida adotando-se um conversor MNC-3 células com atrasos

adicionais, ∆t, de 150ns. Assim, o di/dt seria reduzido para 33,3x106A/s, seis vezes inferior

portanto.

A Fig. 5.4 mostra a corrente de entrada de um conversor buck MNC-3 células

simulado no Pspice®, onde adotou-se V=250V; D=0,6; fS=50kHz; ∆t=300ns; L0=700µH; L1=

L2=50µH; r=84mΩ e Ro=5Ω. As indutâncias de equilíbrio foram calculadas com base na

equação (4.7) sem o uso do fator multiplicativo dois, o que consiste numa alteração que será

discutida mais tarde nesta seção.

Fig. 5.4 - Corrente de entrada do conversor buck MNC - 3 células com di/dt reduzido.

A Fig. 5.5 mostra os espectros harmônicos da corrente dois níveis e quatro níveis

(com pequenos atrasos) para conversores cc-cc operando com a mesma potência. Fica claro

que, ao reduzir a inclinação da corrente na entrada em condução e bloqueio, obtém-se uma

melhora razoável nas emissões harmônicas em altas freqüências.

Page 128: Conversores Multiníveis em Corrente

116

(a) (b)

Fig. 5.5 - Espectro harmônico para a) corrente 2 níveis e b) corrente 4 níveis com pequenos atrasos.

Uma forma simples e econômica de se obter este resultado na prática, seria pela

inclusão de redes de atraso passivas (implementadas com componentes R/C de precisão) aos

“gates” de apenas dois dispositivos comandados (um deles com constante de tempo duas

vezes superior ao outro). Entretanto esta possibilidade está limitada a uma faixa de freqüência

mais baixa, já que em altas freqüências implicaria em perdas de chaveamento.

Seguramente a técnica anterior traz benefícios quanto aos problemas de RFI e EMI em

conversores cc-cc, sobretudo os que exigem associação paralela de componentes. Entretanto,

uma otimização harmônica ou eliminação de freqüências indesejáveis só seria possível pela

ampliação dos tempos de atraso no comando das chaves. De fato, pela escolha correta destes

intervalos de tempo seria possível obter um espectro harmônico bem “mais comportado” do

que aqueles mostrados na Fig. 5.3.

A Fig. 5.6 mostra a forma de onda genérica de corrente multinível que circula pelos

terminais A e P dos conversores cc-cc MNC - n células. Nesta figura o eixo das abcissas foi

considerado 2πfS t (ou ωt ) e, por conseguinte, os atrasos no comando são indicados por sua

representação angular, φ (ou seja, ∆t 2πfS).

2 níveis 4 níveis (∆t=300ns)

Page 129: Conversores Multiníveis em Corrente

117

i v

0

φφ

φφ

−π π

πD.2

πD.2 - (n-1) φ

f t2π S

Icn

3I cn

cn

2I

I c(n-1)Icn

φ

Fig. 5.6 - Corrente multinível genérica nos conversores cc-cc.

É fácil concluir que a forma de onda da Fig. 5.6 também possui simetria par. Desta

forma, os coeficientes bh que acompanham os senos da série de Fourier são nulos. Pode-se

concluir ainda (até mesmo graficamente), que esta forma de onda multinível possui o mesmo

valor médio daquela da Fig. 5.2, conforme representado na Fig. 5.7 para diversos valores de n

(número de células associadas). Como pode ser observado nesta figura as áreas escuras são

iguais. Por outro lado, a área clara interna somada à área escura superior esquerda, sempre

remontam a onda quadrada convencional da Fig. 5.2. Assim, pode-se afirmar que se for

observado o padrão representado, a forma de onda de corrente multinível possui o mesmo

valor médio que sua convencional correspondente (uma célula/dois-níveis): D IC.

f t2π SπD.2

f t2π S

Ic

φ

φφ

φ

φ

φ

f t2πS

Ic

πD.2

φφ

Ic

πD.2

φφ

φ

φ

n=2 n=3 n=4

Fig. 5.7 - Igualdade de áreas

Baseado nestas observações é possível afirmar que as correntes multiníveis podem ser

expressas pela mesma equação (5.1), alterando-se apenas o coeficiente que multiplica os

cossenos (o termo ah da série de Fourier). Por inspeção da Fig. 5.6 a forma geral destes termos

é:

Page 130: Conversores Multiníveis em Corrente

118

a h c

D n

c

D n

D n

c

D nn

D nn

c

D nn

D n

I h tn I

nh t

In

h tIn

h t

= +−

+⎡

⎢⎢

+ + +

− −

− −

− −+

− −+ −

− −+ −

− −+ −

∫ ∫

2 1

2

0

2 12

2 12

2 12

2 12

3

2 12

2

2 12

2

2

πω ω

ω ω

π φ

π φ

π φφ

π φφ

π φφ

π φφ

π

cos( )( )

cos( )

cos( ) cos( )

( )

( )

( )

( )( )

( )( )

( )( )

(

L

L

−+ −

∫⎤

⎥⎥

12

1)

( )φ

φn

( 5.3)

Onde h é a ordem da harmônica a ser calculada. Resolvendo a equação (5.3) para

n=2…5 e normalizando para IC (harmônicas relativas), obtém-se:

Ah ( )n 2.1

.π h2 sen( )hD π cos 1

2h φ

( 5.4)

Ah ( )n 3

.23 π h

[2)sen(h D π cos( )h φ 1] ( 5.5)

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ Φ⋅+⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛ Φ⋅⋅⋅== hhDhsen

hA nh 2

1cos23cos)(1

)4( ππ

( 5.6)

Ah( )n 5

.2π5 h

sen ( )h D π [ 4 cos ( )h φ2 1 2 cos( )h φ ] ( 5.7)

Pode-se, agora, tomar como exemplo os conversores MNC-2 células (3 níveis) e

MNC - 3 células (4 níveis) e plotar algumas de suas harmônicas relativas em função do

ângulo de controle φ. Isto é feito na Fig. 5.8 considerando D=0,6 e restringindo para φ<50o.

Como se pode perceber não foi representada nestes gráficos a harmônica de quinta ordem, já

que para D=0,6 ela é nula [cf. as equações (5.4) e (5.5), bem como a Fig. 5.3b].

Page 131: Conversores Multiníveis em Corrente

119

0 10 20 30 40 500

0.05

0.1

0.15

0.2

A( )2

A( )3

A( )4

A( )6

A( )7

A( )11

0 10 20 30 40 50 φ [o] φ [o]

Fig. 5.8 - Módulo da amplitude harmônica relativa versus φ.

A principal utilidade da Fig. 5.8 é na determinação do atraso necessário para eliminar

uma determinada harmônica ou para minimizar um conjunto delas. Ainda é possível verificar

desta figura que as harmônicas de menor ordem exigem atrasos maiores para serem elimina-

das. Por outro lado, o conversor de 3 células (4 níveis) permite eliminar harmônicas de

mesma ordem com um atraso menor (o que sempre é desejável para reduzir o valor das

indutâncias de equilíbrio). Pode-se perceber, por exemplo, que escolhendo φ em torno de 45o

para n=3 é pos-sível minimizar (ou quase eliminar) todas as harmônicas plotadas à exceção

da sétima. Apesar deste valor de φ (atraso) também ser razoável para n=2 o resultado não é

tão eficiente, em es-pecial para as harmônicas de ordem dois, três, seis e sete. A Fig. 5.9

mostra a forma de onda e o respectivo espectro harmônico da corrente de entrada para o

conversor buck MNC-3 células, considerando os mesmos parâmetros da simulação da

Fig. 5.4, porém empregando ∆t=2,39µs (φ=43o) e Lo=L1=L2=700µH. São bastante evidentes

os benefícios alcançados em comparação com o espectro da Fig. 5.3b (onde D=0,6),

sobretudo se for lembrado que naquele caso os ní-veis de corrente eram ideais, enquanto aqui

as ondulações de corrente ainda prejudicam o conteúdo harmônico do conversor.

n=3 n=2

Page 132: Conversores Multiníveis em Corrente

120

Fig. 5.9 - Corrente de entrada do conversor buck MNC-3 células (φ=43o)

(topo: forma de onda; em baixo: espectro harmônico)

Curvas de auxílio ao projeto como as da Fig. 5.8 são muito úteis quando se deseja

encontrar um ângulo de atraso capaz de minimizar um maior grupo de componentes

harmônicas. Entretanto, se o objetivo principal for “expurgar” uma componente harmônica

específica pode-se recorrer a uma abordagem mais simples. De fato, é possível encontrar o

exato ângulo (ou conjunto deles) que elimina uma componente harmônica igualando-se as

equações (5.4) a (5.7) a zero e resolvê-las para φ. A Tabela 5.2 mostra estas soluções para n

entre dois e cinco, conforme obtidas com auxílio do programa MathCad®. Não é difícil

concluir que as soluções matematicamente rigorosas envolveriam “múltiplos trigonométricos”

dos valores mostrados. Mas estes resultados adicionais nem sempre têm valor prático, já que

poderiam determinar atrasos até superiores ao período de chaveamento.

Utilizando as relações da Tabela 5.2 com exemplos numéricos pode-se comprovar,

com certa facilidade, os resultados gráficos da Fig. 5.8. É possível perceber ainda que os

valores computados referem-se sempre ao menor valor de φ capaz de zerar uma determinada

harmônica, o que é uma informação importante para redução do valor da indutância de

equilíbrio.

Page 133: Conversores Multiníveis em Corrente

121

TABELA 5.2

- MENORES RAÍZES DAS EQUAÇÕES (5.4) - (5.7) PARA A VARIÁVEL φ −

No de células ⇒ n=2 n=3 n=4 n=5

φ [em rad] ⇒ πh

2

3

πh

1

2

πh

2

5

πh

Baseado na Tabela 5.2 pode-se encontrar a equação geral para determinação do ângulo

φ que elimine qualquer harmônica, h, em conversores MNC de qualquer ordem (qualquer

número de células associadas):

φπ

φ= ⋅ =2 360n h

oun h

[ ].

[ ]em rad em graus . ( 5.8)

Uma característica importante desta equação é sua independência quanto ao valor da

razão cíclica D. Desta forma, é possível definir o ângulo φ necessário sem se preocupar com o

valor de D, que poderá variar para atender às necessidades convencionais de controle de

tensão e corrente nos conversores cc-cc. De fato, as raízes das equações (5.4)-(5.7) são

todas independentes de D configurando, portanto, um perfil mais geral do fato.

5.3. Metodologia de Projeto e Limitações Tecnológicas

No Capítulo 4, Seção 4.3, foram apresentadas duas sugestões para dimensionamento

dos indutores de equilíbrio [equações (4.7) e (4.8)]. A equação (4.7) é mais rigorosa e deve

ser usada no caso geral de emprego da célula MNC como técnica de paralelismo. Para

operação multinível em corrente, entretanto, essa equação pode ser simplificada para:

Ln

f=

VI

MAX

C S0 1 2,φ

π . ( 5.9)

Onde n, VMAX, IC, φ e fS representam o número de células, a tensão da célula, a

corrente no ponto C, o ângulo relativo ao atraso de comando (em radianos) e a freqüência de

chaveamento do conversor, respectivamente. Nesta equação não foi necessário utilizar o fator

de segurança m nem o multiplicador dois usados em (4.7), já que se conhece com “bastante

certeza” o valor do ângulo de atraso, φ, orientado pelo projeto.

A equação (5.9) pode, em determinados casos, fornecer um valor elevado para a

indutância de equilíbrio (valores na faixa de vários mH). Isto, a primeira vista, não deveria

Page 134: Conversores Multiníveis em Corrente

122

representar problemas. Entretanto, a implementação prática de indutores com valor de

indutância elevado implica, em geral, em um valor de resistência série que poderá prejudicar

o equilíbrio de corrente ideal desejado nas chaves. Em outras palavras, o fator de qualidade do

indutor deve ser alto para reduzir diferenças de corrente entre as chaves.

Este problema pode ser entendido pelo uso do modelo simplificado do conversor

MNC, como proposto na Fig. 2.7 do Capítulo 2, e incluindo em série com as indutâncias de

equilíbrio suas resistências parasitas. A Fig. 5.10 representa esta situação para o conversor

MNC - duas células. Nesta figura rL é a resistência série do indutor L e r é função das

resistências das chaves, de acordo com a equação (2.8). Além disso, IC representa a corrente

que sai do nó C e I1 a corrente do indutor de equilíbrio, ambas consideradas em estado

permanente.

L

I1

I C

r

r rL

C

Fig. 5.10- Modelo Simplificado do Conversor MNC-2 células

(incluindo resistência série do indutor de equilíbrio)

Admitindo, pois, regime permanente de corrente contínua no circuito da Fig. 5.10, L

se comportará como um curto circuito, o que permite encontrar o valor médio de I1:

I IL

C1 2=

+r

r r ( 5.10)

Normalizando em função de IC e dividindo (5.10) por r, encontra-se:

III

1

C1

12

= =+ q

( 5.11)

Onde q é a razão entre rL e r. Percebe-se da equação (5.11) que quanto menor q mais a

razão entre as correntes nos indutores se aproxima da idealidade, ou seja ½. Esta conclusão

também fica clara na representação gráfica da Fig. 5.11. Nesta figura foi usada uma escala

logarítmica para a abcissa q, a fim de facilitar a leitura do gráfico.

Page 135: Conversores Multiníveis em Corrente

123

Maior resistência parasita →

Cor

rent

e N

orm

aliz

ada

0.01 0.1 1 100

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

)

q

Mel

hor e

quilí

brio

Fig. 5.11- Corrente de Equilíbrio Normalizada em função de q.

Supondo agora uma tolerância de 20% no desequilíbrio entre as chaves (computada

em função da corrente ideal no indutor) o menor valor aceitável para I1 seria de 0,4. Pela

figura, isto representa uma razão q de cerca de 0,50. Ora, a resistência de condução, r, de uma

célula de comutação pode ter valores tão baixos quanto 50mΩ (ocasião em que predomina a

resistência de diodos) até mais de 300mΩ (para células compostas de MOSFETs). Tomando

como exemplo o valor 150mΩ pode-se encontrar que o máximo valor para rL seria de 75 mΩ.

Por outro lado, a implementação convencional de um indutor de 1mH/10A pode ser feita em

um núcleo tipo EE 42-15 enrolando-se 68 espiras de fio de cobre #15AWG [59]. Pode-se

obter com estes dados o valor da resistência ôhmica cc deste indutor, multiplicando o número

de espiras pelo comprimento da espira média do núcleo e pelo fator ohms/cm (na temperatura

de trabalho). Neste caso obtém-se um indutor com uma resistência série em torno de 80 mΩ

que supera, assim, o limite proposto no exemplo. É claro que o valor da resistência está

relacionado com todos os fatores mencionados aqui: número de espiras, tipo do núcleo,

material do núcleo (ferrite, ferro-silício, etc.), material do fio, corrente de regime (e

ondulação), etc. De qualquer forma, fica configurada na prática uma dificuldade de se

alcançar um bom equilíbrio de corrente entre chaves para determinados valores da indutância

de equilíbrio.

Este resultado determina uma importante limitação no uso da célula multinível em

corrente genérica quando todas as chaves são comandadas com a mesma largura de pulso.

Page 136: Conversores Multiníveis em Corrente

124

Para verificar a limitação mencionada nesta seção implementou-se um conversor MNC buck-

2 células (três níveis), conforme esquematizado na Fig. 5.12, com comandos defasados de

5µs. O circuito de comando empregado, para prover pulsos de gate defasados, é mostrado na

Fig. 5.13. Nesse conversor foram usados os seguintes parâmetros experimentais: V=45V;

fS=20kHz; ∆t=5µs; Ro=2,8Ω; D=0,7; r=78mΩ e L=600µH (rL=50mΩ). A corrente de saída

média teórica é de 11A e a corrente no indutor de equilíbrio deveria ser 5,5A (no caso de

indutores ideais).

L

RL I

o

D2 D 1

S2 S1g 2 g 1

o o

V

2xHGTP10N50C1

2xMUR1515

Fig. 5.12 - Circuito experimental para obtenção de três níveis de corrente na fonte V.

Vdd100p

Vcc

10n 10K

567

8

15 13

141116

912

BC327

3.9K

10K Vcc

1K4321

CI-2452810K50p 16

151413

0.1u

Vdd

121110

98765

0.1u

1u

20KBC

10K

100p10

1u

3525CI-10.1u

2.2K

3Vg1

3.9KBC327

Vcc

g2

BC327

3V

54321

CI-34013

1413121110

0.1u

Vdd

89

3.9K 76

2.2K

S2S1

Fig. 5.13 - Diagrama esquemático do circuito de comando.

A Fig. 5.14 mostra os resultados experimentais para as correntes de saída, no indutor

de equilíbrio e na fonte. Nesta figura pode-se verificar que a corrente do indutor de equilíbrio

assume um valor de 4,5A diferente, portanto, do valor previsto teoricamente. Isto provoca

desequilíbrios no nível intermediário de corrente na fonte e nas chaves, conforme também se

confirma na Fig. 5.15.

L: EE 42/15 68 espiras (15AWG)

lg/2=0,3 mm

Page 137: Conversores Multiníveis em Corrente

125

Fig. 5.14 - Desequilíbrio no conversor buck MNC- três níveis (5A/div, 20µs/div). (De cima para baixo: corrente de saída, corrente no indutor de equilíbrio e corrente na fonte).

Fig. 5.15- Correntes desequilibradas nos dispositivos (5A/div; 20µs/div). (De cima para baixo: correntes no IGBT S1, no IGBT S2, no diodo D1 e no diodo D2).

5.4. Compensação do Desequilíbrio de Correntes

O desequilíbrio de correntes, mencionado na seção anterior, pode ser resolvido por

meio de alguns mecanismos:

1. Compensação resistiva.

desequilíbrio

Page 138: Conversores Multiníveis em Corrente

126

2. Controle do desequilíbrio estático por meio de ajuste na largura de pulso das

chaves “em desvantagem”.

3. Controle dinâmico da largura de pulso.

A primeira alternativa se baseia no fato de que o elemento causador do desequilíbrio é

a resistência parasita dos indutores de equilíbrio. Assim, pode-se pensar em introduzir, em

série com determinadas chaves, elementos resistivos adicionais que possuam resistência em

função da resistência parasita dos indutores de equilíbrio, e que sejam capazes de resgatar a

distribuição de corrente ideal. Este procedimento é ilustrado na Fig. 5.16 para as estruturas

MNC de 2 e 3 células. Nesta figura admite-se que os indutores de equilíbrio têm a mesma

indutância, mesma construção física e mesma resistência parasita rL. Apesar de parecer

“grosseira”, esta solução possui a vantagem de estabelecer o equilíbrio sem a exigência de

qualquer mecanismo de controle em malha fechada. Além disso ela será usada para

proposição de uma alternativa muito mais atraente, conforme será discutido ainda nesta seção.

A Fig. 5.17 mostra as formas de onda simuladas para o conversor buck MNC-2 células

nas mesmas condições daquelas apresentadas nas figuras Fig. 5.14 e Fig. 5.15, porém com

compensação resistiva do desequilíbrio (cf. Fig. 5.16a). O arquivo de descrição de circuitos

(“.cir”) para simulação no programa Pspice® é apresentado no Apêndice A (b2i_compres.cir).

SS 12

C

rL

rL

S *1S *2

T2

T1

SS 23

rL

rL

S *2S *3

T2

T1

S 1

C

S *1

rL rL

rL3

rL3

L 2 , rLL1 , rLL1 , rL

(a) (b)

Fig. 5.16 - Elementos resistivos de compensação.

(a) Célula MNC- 2 células; (b) Célula MNC- 3 células.

Page 139: Conversores Multiníveis em Corrente

127

(a) (b)

Fig. 5.17 - Compensação resistiva do desequilíbrio para o conversor buck MNC-2 células.

(a) De cima para baixo: corrente de saída, corrente no indutor de equilíbrio e corrente na fonte.

(b) De cima para baixo: Correntes nas chaves, S1, S2, D1, D2.

A segunda opção de compensação do desequilíbrio consiste no uso de razões cíclicas

diferentes entre as chaves. De fato, é possível interferir no desequilíbrio causado por rL

porque a célula MNC, mesmo em sua mais simples configuração (2 células) possui pelo

menos dois graus de liberdade. Assim, pode-se atuar em uma (ou mais) chaves apenas com o

objetivo de manter o nível ideal da divisão de corrente, forçando o valor previsto na

indutância em questão. A outra chave (a que está conectada ao ponto C do conversor) estaria

sendo comandada para atender às necessidades de controle de tensão e corrente na carga. Esta

possibilidade se inspira basicamente em dois fatos, que podem ser explicados usando o

conversor buck MNC-2 células. Em primeiro lugar, o desequilíbrio ocorre porque a célula,

S1/D1, conectada ao ponto C não sofre a mesma influência das resistências parasitas dos

indutores de equilíbrio em comparação com a célula S2/D2 (cf. Fig. 5.10). Portanto, assume

mais corrente em regime permanente cc, já que possui a menor impedância entre os ramos

paralelos. Para incrementar, portanto, a corrente nos outro indutor (e conseqüentemente na

célula S2/D2 ligada em série com ele) é preciso aumentar a largura de pulso da chave S2 em

relação a S1. Conduzindo mais tempo haveria uma compensação contra o caminho de maior

impedância. Em segundo lugar, a possibilidade de operação com razões cíclicas distintas já

foi provada viável no Capítulo 4 (cf. Fig.4.6) para a célula MNC, fortalecendo a proposta.

Page 140: Conversores Multiníveis em Corrente

128

Para comprovar a possibilidade mencionada no parágrafo anterior pode-se modelar o

conversor buck MNC-2 células utilizando os mesmos passos realizados no Capítulo 4, para a

modelagem entrada-saída, considerando D1≠D2. Neste caso, cada célula está associada a uma

resistência de condução particular. Entretanto, por simplicidade elas serão consideradas iguais

(o que não introduz erro considerável desde que a disparidade entre as razões cíclicas não seja

muito elevada). Assim, no circuito da Fig. 4.5 basta introduzir o parâmetro rL em série com o

indutor de equilíbrio, L1. Resolvendo, pois, para as variáveis io(s) e i1(s), chega-se às funções

de transferência:

i sv s

D L s rD D r D rH s

Lo ( )( ) ( )

=+ + +1 1 2 1 1 . ( 5.12)

i sv s

D L L D s r D R D DH s

o o L o1( )( )

( ) ( )( )

=− + + −2 1 2 2 1 . ( 5.13)

Onde:

H s L L s rL L r R L L r s r r r R r R ro o o o L L o o L( ) ( )= + + + + + + + +12

1 122 2 . ( 5.14)

Desprezando em (5.14) os termos rL1, r2 e r rL (que são insignificantes, na prática, na

presença dos demais termos) e admitindo um degrau de tensão V/s, pode-se encontrar as

expressões das correntes em função do tempo. Nestas expressões importa apenas conhecer os

valores das correntes para regime permanente, Io e I1 :

Io

..r D2

.D1

rL

.D1

r V

2 Ro r rL

r rL

Ro . ( 5.15)

I

1

.r D2

.Ro D1

.D2

.V

..2 Ro r .rL

r rL

Ro

Ro . ( 5.16)

Ora, sabe-se que em regime permanente I1 deve ser a metade de Io. Multiplicando

então (5.15) por ½, igualando o resultado a (5.16) e, finalmente, resolvendo para D2 chega-se

à seguinte relação:

D DR r rr R2 1

22

= ⋅+ +

+( )

( )o L

o . ( 5.17)

Page 141: Conversores Multiníveis em Corrente

129

A equação (5.17) independe do valor de V e pode ser usada para determinação do

valor de D2 necessário para o exemplo da Fig. 5.13, em que D1=0,7; r=78mΩ; rL=50mΩ e

Ro=2,8Ω. Para estes dados encontra-se D2=0,706, muito próximo portanto do valor de D1.

Utilizando agora este valor de D2 no circuito em questão obtém-se as formas de onda da

Fig. 5.18. Destas curvas percebe-se que a distribuição de corrente voltou ao equilíbrio, já que

I1≅0,5Io, o que resulta em patamares intermediários quase idênticos (a menos da ondulação) e,

conseqüentemente mesma corrente de condução das chaves e diodos.

Entretanto, nem sempre o valor de D2 é tão próximo de D1 como no último exemplo.

Para entender o inter-relacionamento dos parâmetros pode-se dividir os dois lados da equação

(5.17) por D1 e apenas o lado direito por r, para obter:

δρ

ρ=

+ ++

⋅2 1

2 1q

( 5.18)

Onde δ é a razão entre D2 e D1, ρ é a razão entre a resistência de saída e a resistência

das células ( r ) e q é a razão entre as resistências do indutor de equilíbrio e das células.

Fig. 5.18 - Distribuição de corrente equilibrada.

(De cima para baixo: corrente de saída, corrente no indutor de equilíbrio e corrente na fonte).

A Fig. 5.19 mostra a representação gráfica da equação (5.18), ou seja, quantas vezes

D2 precisa ser maior que D1 (no eixo vertical) em função da não-idealidade do indutor de

equilíbrio (eixo horizontal). As curvas são apresentadas em função de ρ (que é

Page 142: Conversores Multiníveis em Corrente

130

intrinsecamente ligado à resistência de carga). Pode-se notar que valores mais altos de

ρ exigem pequena diferença entre as razões cíclicas mesmo que a resistência parasita do

indutor de equilíbrio seja elevada. Por outro lado, menores valores de ρ são normalmente

associados a uma carga elevada (maior potência de saída). Entretanto, é possível que ρ seja

relativamente alto na prática desde que a tensão da aplicação também seja elevada. Por

exemplo, para V=200V; r=0,1Ω; D=0,6 (logo Vo=120V) e uma potência de saída igual a 4kW

implicam em Ro=3,6Ω e ρ=36.

Maior resistência parasita →

DD

2

1

0 1 2 3 4 51

1.05

1.1

1.15

1.2

1.25

δ( )15

δ( )10

δ( )20

δ( )40

q

Fig. 5.19 - δ versus q para o conversor MNC - 2 células (em função de ρ).

O método de controle baseado no uso de larguras de pulso distintas para

estabelecimento do equilíbrio estático das correntes pode ser útil quando não há variação dos

parâmetros que definem (5.17). Como se sabe, r e rL assumem valores fixos para um

determinado conversor. Por outro lado D1 varia, em geral para atender às necessidades de

tensão e corrente da aplicação. Da mesma forma Ro (a carga no conversor buck) pode variar

em uma aplicação prática. Se, entretanto, estes parâmetros não evoluem de forma brusca (ou

para o caso de carga fixa) a equação (5.17) pode ser “implementada eletronicamente” para

gerar o valor da razão cíclica D2. Para um conversor com n>2 seria preciso determinar

equações similares de definição das razões cíclicas.

A terceira proposta de controle do desequilíbrio de correntes consiste no controle

dinâmico da razão cíclica das chaves “em desvantagem”, a fim de estabelecer o equilíbrio

estático e dinâmico de correntes. Neste caso, admite-se que as variações na razão cíclica, D1,

ρ=10

ρ=15 ρ=20

ρ=40

Page 143: Conversores Multiníveis em Corrente

131

da chave S1 (a mais próxima do ponto C) atendam às exigências de tensão e corrente do

conversor e as demais chaves possuam um sistema de controle realimentado para superar seus

próprios desequilíbrios de corrente. Considera-se ainda que a variação da razão cíclica D1 é

lenta e que as demais razões cíclicas vão atuar em torno do ponto de operação estabelecido

pela primeira.

Para efeito de análise e por simplicidade será adotado o conversor buck MNC-2

células, admitindo-se que D1 se encontra em repouso (valor fixo), enquanto a razão cíclica da

chave S2, d2, representa toda a excitação do circuito. A Fig. 5.20 mostra o modelo linear de

pequenos sinais para as suposições em questão. Este circuito, já simplificado, é baseado no

circuito equivalente controle-saída da Fig.3.14 mostrado no Capítulo 3, onde considerou-se d1

(variações da razão cíclica D1) nulo e incluiu-se a resistência parasita, rL, em série com o

ramo do indutor de equilíbrio. Nesta abordagem as resistências das células foram supostas

iguais, o que introduz erro desprezível para pequenas variações de d2 em torno de D1.

Considerou-se também uma tensão de entrada constante V.

s L1

i x

s.Lo

io(s)vo(s)

Ro

1 : D- + D

V

I

i ai 1

1

(s)

r

s L1

i x

s.Lo

io (s)vo(s)

Ro

i 1 (s)

r

V

(a)

(b)

(s)

(s)

r+rL

d (s)2

2

d (s)2

d (s)2

r+rL

Fig. 5.20 - Circuito equivalente (e forma simplificada) controle-saída do conversor buck MNC-2 células.

(Inclui a resistência parasita do indutor de equilíbrio).

Page 144: Conversores Multiníveis em Corrente

132

O circuito da Fig. 5.20 pode ser resolvido para i1(s) a fim de se determinar sua função

de transferência. Na maioria das situações práticas r << Ro, consideração que proporciona a

seguinte equação:

i1

( )s

d2

( )s

..s Lo Ro r V

..s2 L1

Lo..Lo rL

.2 r .L1

Ro s .rL Ro..2 r Ro

(

(

)

) . ( 5.19)

Baseado na função de transferência (5.19) o projetista pode encontrar o melhor

compensador para atender exclusivamente às exigências de equilíbrio de corrente nas chaves

“em desvantagem”. Deve-se salientar, contudo, que a natureza dinâmica das correntes mais

distantes do ponto C é bastante lenta, sobretudo para maiores valores das indutâncias de

equilíbrio, normalmente exigidos em aplicações multiníveis (quando φ é muito grande). Mas

isto é relativamente pouco importante porque todos os ramos indutivos dos conversores cc-cc

possuem, em operação CCM, uma dinâmica mais lenta por natureza.

Uma metodologia de emprego da função de transferência de i1(s) para determinação

do controlador de corrente será considerada no Capítulo 7, podendo ser adaptada para a

situação desta seção, se for o caso. Por outro lado, a simplicidade do emprego da célula MNC

enquanto alternativa ao paralelismo de células e geração de multiníveis de corrente parece

perder um pouco de suas vantagens se houver a exigência de um sofisticado sistema de

controle em malha fechada para restabelecimento do equilíbrio. Assim, soluções mais simples

como a da Fig. 5.16 ou a relativa à equação (5.17), são amplamente recomendadas.

Entretanto, soluções ainda mais simples e atraentes podem ser obtidas, como as discutidas na

seção seguinte.

5.5. Outras Alternativas para Equilíbrio de Correntes

No Capítulo 4 foi apresentada uma comparação do uso da célula MNC com a célula

NCNI, da Fig.4.28, em aplicações no paralelismo de células. Uma importante vantagem da

estrutura NCNI em relação à estrutura MNC é sua simetria e que, seguramente, permite uma

operação multinível em corrente totalmente equilibrada mesmo na presença de resistências

Page 145: Conversores Multiníveis em Corrente

133

parasitas elevadas nos indutores de equilíbrio (desde que sejam iguais). Uma desvantagem

básica é a exigência de um elemento reativo a mais em relação à célula MNC.

Porém pode-se pensar em utilizar a variante da célula NCNI, apresentada na Fig. 4.34

do Capítulo 4, para promover a compensação resistiva do desequilíbrio, como mostrado na

Fig. 5.21. Nesta estrutura n células de comutação são associadas por meio de 1 elemento

resisitivo e n-1 indutores de equilíbrio (como na célula MNC). A resistência do elemento

resistivo de compensação deve ser de mesmo valor que a resistência parasita dos indutores.

Devido a esta construção esta alternativa será denominada aqui célula NCRI.

Ln-1

L1

T2

C

T1

ic

icn

S1S2S3

....

, rL

, rL

rL

icn

icn

Fig. 5.21 - Célula genérica NCRI.

As Fig. 5.22 e Fig. 5.23 mostram os resultados de simulação para o conversor

buck NCRI - 2 células onde se empregou V=250V; D=0,6; fS=50kHz; ∆t=5µs; L0=L1=

L2=1mH; r=80mΩ e Ro=1Ω e tanto r1 quanto as resistências, rL, dos indutores de equilíbrio

foram adotadas iguais a 100mΩ. O arquivo de descrição de circuitos (“.cir”) para simulação

no programa Pspice® é apresentado no Apêndice A (b3iLRmulti.cir). Teoricamente a

corrente de saída seria 150A, enquanto nos indutores e durante a condução das chaves de

50A.

Page 146: Conversores Multiníveis em Corrente

134

(a) (b)

Fig. 5.22 - (a) Tensão no ponto médio de duas células e corrente quatro níveis na fonte de tensão.

(b) Corrente nos elementos de equilíbrio (de cima para baixo: corrente em r1, L2, L3).

Os resultados simulados mostram o estabelecimento de uma distribuição de corrente

muito equilibrada. Todas as correntes nos elementos de equilíbrio possuem nível médio muito

próximo de 50A, apesar de uma maior ondulação em r1 (cf. Fig. 5.22b). Por conseguinte,

todas as chaves conduzem um nível de corrente em torno de 50A, com maior ondulação na

célula S1/D1 (a mais próxima do ponto C), como pode ser verificado na Fig. 5.23.

A solução para o desequilíbrio, devido às resistências parasitas dos indutores de

grampeamento, apresentada na Fig. 5.21, consiste assim numa alternativa muito atraente pois

não exige sistema de controle realimentado (a distribuição de corrente é natural). Para

minimizar as ondulações de corrente nas chaves durante a condução, sobretudo no par S1/D1,

seria necessário aumentar a capacidade de filtragem de corrente no ponto C da célula.

Page 147: Conversores Multiníveis em Corrente

135

Fig. 5.23 - Distribuição de corrente entre chaves.

(a) De cima para baixo: corrente na chave S1, S2 e S3; (b) Corrente nos diodos: D1, D2 e D3.

Na tentativa de viabilizar o equilíbrio de corrente entre as chaves pode-se optar

também pela implementação de indutores com baixa resistência série. Isto pode ser consegui-

do, até certo ponto, pela utilização de meios magnéticos que permitam níveis mais altos de

fluxo. Em baixas freqüências (<5kHz) pode-se trabalhar com ferro-silício, cujo fluxo de

saturação é da ordem de 1,2 Tesla. Ligas amorfas também são materiais superiores (em

termos de fluxo de saturação) ao ferrite e que ainda permitiriam operação em freqüências

altas. De qualquer forma, para operação da célula MNC perto da idealidade e sem controle

deve-se projetar indutores com resistência série muito inferior à resistência representativa das

chaves, r.

Indutores com resistência parasita desprezível também podem ser obtidos por meio de

materiais supercondutores. Apesar de parecer distante o uso destes elementos em ampla

escala industrial, os sistemas de supressão de transitório SMES (“superconducting magnetic

enegy storage”) estão se difundindo rapidamente, criando ambientes favoráveis para uso de

conversores MNC.

Outra alternativa de se reduzir o valor da resistência dos indutores de equilíbrio

consiste em modular o sinal de comando das chaves com uma freqüência mais alta. Desta

forma pode-se reduzir o tempo em que o indutor está submetido a uma fonte de tensão (o que

Page 148: Conversores Multiníveis em Corrente

136

provoca a ondulação) o que, conseqüentemente, exigirá menores valores de indutância (que

significa menos espiras e menor resistência série). Evidentemente esta alternativa está

limitada à máxima freqüência de chaveamento permitida pelo dispositivo semicondutor.

Quanto à questão da otimização harmônica existe ainda um meio bastante eficiente de

se obter bons resultados. Esta alternativa consiste em disparar as chaves, com determinada

defasagem entre elas, sem permitir nível zero de corrente nos terminais de tensão da célula.

Esta estratégia de comando foi exemplificada no Capítulo 2, Seção 2.2. Por esta opção, e

dependendo dos níveis de corrente que se queira impor aos terminais de tensão, pode-se obter

uma corrente “quase-cc”, o que concentrará o espectro harmônico na componente cc

produzindo níveis reduzidos de harmônicas de ordem elevada. Esta alternativa, no entanto,

está limitada a uma razão cíclica mínima (cujo valor depende do número de células

associadas), mas não deixa de compreender uma solução recomendável para a eliminação de

EMI nos conversores MNC cc-cc.

5.6. Conclusões

Neste capítulo foram discutidas as características, limitações e vantagens do uso de

multiníveis de corrente em conversores cc-cc. A simples utilização de pequenos atrasos na

entrada em condução e bloqueio das células individuais revelou-se útil na minimização de

emissão de rádio interferência. Um tratamento mais rigoroso também foi apresentado,

mostrando a possibilidade de se minimizar grupos de harmônicas ou componentes específicas.

Foi constatado, ainda, o problema do desequilíbrio de correntes provocado pelas resistências

parasitas dos indutores de grampeamento. Métodos de compensação deste desequilíbrio foram

relacionados, sendo que o uso da célula NCRI foi recomendado por ser mais simples e

econômico.

Page 149: Conversores Multiníveis em Corrente

137

6. Inversores de Corrente e

Retificadores de Tensão MNC

o Capítulo 2, Seção 2.5, mostrou-se uma forma de adaptar a célula

genérica MNC para se ter como entrada uma fonte de corrente cc e como

saída uma carga em tensão ca. Tal estrutura genérica foi utilizada para

gerar o inversor de corrente MNC-2 células, bem como o correspondente

retificador “tipo buck”, na Seção 2.6, que também possui corrente cc na saída do terminal C

da célula e tensão ca nos terminais T1 e T2. Esta célula MNC redesenhada é repetida aqui na

Fig. 6.1a e adaptada aos retificadores na Fig. 6.1b. Neste capítulo será apresentada uma

abordagem formal destes conversores, incluindo generalização para n níveis e p fases,

equações básicas, estratégias de comando e comprovação experimental. Parte dos resultados

apresentados aqui foram publicados em [60], [61], [62] e [63].

L

L

1

n-1

SSS 12n S'S'2 n

I

In

C

S'1

In

(n-1)

In

In

In

In

In

In

Carga ca(com filtro capacitivo)

T1 T2

L

L

1

n-1

SSS 12n S'S'2 n

I

In

C

S'1

In

(n-1)

In

In

In

In

In

In

Fonte de tensão caT2T1

(a) (b)

Fig. 6.1 - Célula genérica MNC aplicada a conversores com tensão ca.

(a) Metade inversora monofásica; (b) metade retificadora monofásica.

6.1. Inversor de Corrente

Ao contrário do inversor VSI, a entrada do inversor de corrente, CSI, é uma fonte de

corrente cc “firme”, ou seja, com ondulação muito baixa devido a uma forte filtragem de

corrente. O inversor de corrente tradicional típico é construído com tiristores (ou GTOs) e é

NCapítulo

Page 150: Conversores Multiníveis em Corrente

138

alimentado por um sistema retificador cc-ca controlado a tiristores com um elo cc (“dc link”)

para filtragem da corrente, conforme mostrado na Fig. 6.2. Nesta figura os tiristores foram

circundados de forma a se representar a capacidade de corte comandado, por meio de um

circuito auxiliar de comutação não mostrado na figura.

Carga

Icc

C

C

T1T2

Chaves Complementares

vca3 φ

Fonte deCorrente cc

Fig. 6.2 - Fonte de corrente e inversor CSI.

Os inversores de corrente têm sido empregados predominantemente na geração de

corrente alternada com freqüência variável, para acionamento de motores de indução ou

síncronos com velocidade variável.

Mais recentemente, topologias inversoras de alta potência conquistaram um espaço

considerável pela possibilidade de atuar como interface entre sistemas cc de armazenamento

de energia e linhas de transmissão ou sistemas de distribuição. Neste sentido, uma outra

configuração para a fonte de corrente da Fig. 6.2 consiste no uso de fontes de potência SMES

(“superconducting magnetic energy storage system”). Este sistema tem sido utilizado desde o

final da década de 70 e tem se beneficiado enormemente com os avanços da Eletrônica de

Potência. Uma possível aplicação é na estabilização de transientes em linhas de transmissão

[26], [27].

Os inversores de corrente, como o da Fig. 6.2, impõem à carga uma corrente com

forma de onda quadrada com ou sem nível zero (ou seja, com dois ou três níveis), usando +I,

0 e -I (onde I=ICC), como representado na Fig. 6.3. Na letra a da figura as áreas superiores e

inferiores (como as hachuradas) são iguais. Na letra b isto também se verifica.

Page 151: Conversores Multiníveis em Corrente

139

-T T

I

t

i o

0

I

t

i o

0

T2

-T2

θ θ-I -I

(a) (b)

Fig. 6.3 - Correntes alternadas convencionais na saída do inversor CSI. (a) Dois níveis; (b) três níveis.

A forma de onda da Fig. 6.3a tem simetria par e possui a seguinte descrição em

termos da série de Fourier:

i th

h hh t

hh t

h

h

h impar1

1

32

1

21

42

32

( ) cos( ) ( ) cos( ),

= −⎛⎝⎜

⎞⎠⎟ =

=

∞ +

=

∑ ∑ −I

sen senI

ππ π

ωπ

ω ( 6.1)

A forma de onda da Fig. 6.3b também tem simetria par e possui a seguinte descrição

em série de Fourier:

i th

h h th

21

4( ) cos( ) cos( )=

=

∑ Iπ

θ ω ( 6.2)

Tanto (6.1) quanto (6.2) apenas produzem harmônicas ímpares. Além disso, (6.2)

possui uma variável a mais, θ, que pode ser usada na eliminação de harmônicas específicas.

Por exemplo para θ=18o elimina-se a quinta harmônica, enquanto que com θ=12,85o

consegue-se a eliminação da sétima.

Esta possibilidade de controle harmônico, ainda que tímida pela existência de apenas

três níveis de corrente, constitui um procedimento indispensável. De fato, em topologias

inversoras de alta potência, não é aconselhável empregar modulação PWM senoidal em alta

freqüência para controle de harmônicas, devido às perdas de chaveamento. Assim, um salto

maior de qualidade pode ser vislumbrado pelo emprego de conversores multiníveis, que

viabilizam a obtenção de uma forma de onda otimizada (com eliminação de harmônicas ou

minimização da taxa de distorção harmônica), sem o inconveniente de chaveamentos em alta

freqüência.

Page 152: Conversores Multiníveis em Corrente

140

6.2. Inversores de Corrente MNC

A célula genérica da Fig. 6.1a pode ser facilmente adaptada para gerar

inversores de duas células em paralelo (cinco níveis), três células (sete níveis), quatro células

(nove níveis), etc., conforme representado na Fig. 6.4 em versões monofásicas. Nesta figura

os diodos e as chaves (cf. Fig. 6.1) foram considerados um elemento único, por simplicidade.

Assim, todas as chaves são do tipo unidirecional em corrente e bidirecional em tensão. Deve-

se lembrar também que, por comparação com a célula MNC básica, quaisquer duas chaves

conectadas ao mesmo ponto de um indutor de equilíbrio são complementares. São

complementares, portanto, na Fig. 6.4a as chaves S1 e S2, S3 e S4, S5 e S6, bem como S7 e S8.

Por outro lado, são consideradas “chaves paralelas” as que se encontram lado-a-lado (como S5

e S7, S2 e S4, etc.). O mesmo raciocínio pode ser usado para as demais estruturas da Fig. 6.4.

Cumpre mencionar também que, qualquer que seja a carga utilizada (motores, equipamentos

eletrônicos, etc.), há que se conectar capacitores de filtro nos nós de saída, a fim de manter a

natureza tipo tensão (ou ramo capacitivo) dos terminais de saída (cf. Fig. 6.1).

I

S7 S8

S6S5

L1

S9 S10

S11 S12

S2

S4S3

S1+ -

Vo

L2

L3

L4

S13 S14

S15 S16

S2

S4S3

S1

I

S11 S12

S6S5

S8S7

S10S9

S5 S6

S7 S8

S2

S4S3

S1+ -

v1

Vo

io

L1

L2

I

T2T1

C

C

io

2v

(a) (b) (c) Fig. 6.4 - Inversores de corrente MNC de (a) cinco (b) sete e (c) nove níveis.

A Fig. 6.5 mostra a forma de onda de corrente que se deseja impor à carga do inversor

da Fig. 6.4a, onde fica clara a existência de cinco níveis de corrente: -I, -I/2, 0, I/2 e I. As

estruturas da Fig. 6.4 possuem um número relativamente grande de chaves semicondutoras

(especialmente se for considerada a possibilidade de operação trifásica, ou com p fases).

Também é evidente a existência de inúmeras possibilidades de comando, ou estratégias de

Page 153: Conversores Multiníveis em Corrente

141

chaveamento, para obtenção de níveis intermediários de corrente. Este assunto será discutido

nas próximas seções.

I

t

i o

0

T2

-T2

-I

-I2

I2

Fig. 6.5 - Forma de onda da corrente de saída para o conversor da Fig. 6.4a.

6.3. Estratégias de Chaveamento

A determinação de estratégias de chaveamento viáveis, sob o ponto de vista de

equilíbrio de corrente e controle de potência, exige uma abordagem criteriosa. Uma seqüência

de chaveamento será denominada “simétrica” se todas as chaves conduzem rigorosamente

com a mesma largura de pulso, ou seja, com a mesma razão cíclica, durante um certo número

de períodos da corrente de saída. Quando isto não se verificar a estratégia será denominada

“assimétrica”.

Para os conversores MNC CSI, a escolha de uma seqüência de chaveamento para

obtenção de níveis intermediários de corrente, controle de potência e minimização da

distorção harmônica não é uma tarefa trivial. De fato, a simples inclusão de atrasos no disparo

das chaves paralelas, como utilizado para os conversores cc-cc (cf. Capítulo 5), não pode ser

utilizada de forma direta. Isto ocorre porque a tensão de saída não é fixa (ou cc) e os indutores

de equilíbrio poderão estar submetidos a valores diversos de tensão que não compensam,

mutuamente, os processos de carga e descarga dos elementos. Como resultado, a corrente

nestes elementos pode divergir do valor teórico ideal (ICC/n) e o desequilíbrio de corrente nas

chaves torna-se inevitável.

A mesma estrutura CSI MNC-2 células da Fig. 6.4a foi simulada numa aplicação de

paralelismo no Capítulo 4 (cf. Fig.4.28 e o texto relacionado). Naquele caso utilizou-se a

estratégia de disparo mais simples e convencional: 5742, 5731, 6831 e 6842 (onde cada

número do conjunto indica a chave em condução para determinado estado da seqüência de

chaveamento). Como já mencionado, o equilíbrio de corrente entre as chaves mostrou-se

Page 154: Conversores Multiníveis em Corrente

142

totalmente satisfatório. Se, por outro lado, nesta seqüência de chaveamento forem

introduzidos atrasos na condução das chaves paralelas (S5-S7; S2-S4; S3-S1 e S6-S8), as formas

de onda esperadas seriam como mostradas na Fig. 6.6. Nesta figura, as duas últimas formas de

onda representam as polaridades “relativas” das tensões nos indutores. O sinal ‘+’ indica que

a polaridade arbitrada da tensão no indutor de grampeamento coincide com os terminais T1 e

T2 (nesta ordem), ao passo que o sinal ‘−’ indica o inverso.

I II III IV V VI VII VIII I

+ +

+

S2

S6

S8

S4

S3

S1

S5

S7

0

v1

v2

i oI2

-I2 I

Fig. 6.6 - Formas de onda teóricas para o conversor CSI MNC-5 níveis.

Como se pode perceber da Fig. 6.6, esta estratégia é do tipo simétrica (todas as chaves

conduzem com mesma razão cíclica). Nesta figura, o ângulo α está relacionado com o atraso

no comando das chaves paralelas e todos os estados da corrente de saída (I, II,… VIII) duram

o mesmo tempo. Deve-se observar ainda que os comandos das chaves S6, S8, S4 e S2 são

exatamente complementares aos das chaves S5, S7, S3 e S1.

Como também pode ser constatado das duas últimas formas da Fig. 6.6, os indutores

estão ora submetidos ao par T1/T2 de terminais da carga, ora submetidos a T2/T1. Entretanto,

estas alternâncias ocorrem a cada 180o, intervalo em que o valor absoluto da tensão na carga

também se inverte. Assim, estes elementos reativos estarão submetidos sempre à mesma

polaridade absoluta, implicando em crescimento ou redução continuada de suas correntes

Page 155: Conversores Multiníveis em Corrente

143

armazenadas. Este comportamento se reflete no desequilíbrio de corrente entre as chaves,

como mostra a simulação da Fig. 6.7. Neste caso adotou-se I=ICC=100A (ideal),

L1=L2=50mH, carga R0//C0→3Ω/700µF, f=60 Hz e atrasos de 500µs (α=10,8o). Nota-se que

os níveis intermediários gradualmente afastam-se do valor ideal (-50A, +50A) e, por

conseguinte, também as correntes nas chaves. O arquivo de simulação no programa Pspice® é

apresentado no Apêndice A (csi_symdel.cir).

(a) (b)

Fig. 6.7 - Desequilíbrio de corrente pela divergência das correntes nos indutores.

(a) De cima para baixo: corrente em L1, L2 e carga; (b) Correntes em algumas chaves.

Como pode ser concluído da Fig. 6.6, para cada combinação de chaves em condução

os indutores podem estar submetidos a uma tensão nula (quando as chaves paralelas

conduzem simultaneamente), a uma tensão positiva (durante os atrasos de condução das

chaves paralelas, e dependendo da polaridade da carga), ou ainda negativa (idem). É claro que

esta análise é simplificada, pois admite que as chaves são ideais (resistência de condução

nula). Na prática, a tensão de condução das chaves também exerce alguma influência sobre os

indutores. A Tabela 6.1 mostra, para o caso da estrutura MNC cinco níveis, o que ocorre com

a corrente de saída e com as tensões sobre os indutores de equilíbrio, para cada combinação

(ou estado de condução) de chaves comandadas.

Page 156: Conversores Multiníveis em Corrente

144

TABELA 6.1 - ESTADOS DE CHAVEAMENTO

ESTADO CHAVES

EM CONDUÇÃO CORRENTE NA CARGA

POLARIDADE

DE L1 POLARIDADE

DE L2 CARGA EM

SÉRIE COM:

1 5 7 3 1 0 0 0 – 2 5 7 3 2 +I/2 0 – chave+L2 3 5 7 4 1 +I/2 0 + chave 4 5 7 4 2 +I 0 0 chaves //s 5 5 8 3 1 –I/2 + 0 chave+L1 6 5 8 3 2 0 + – – 7 5 8 4 1 0 + + – 8 5 8 4 2 +I/2 + 0 chave 9 6 7 3 1 –I/2 – 0 chave

10 6 7 3 2 0 – – – 11 6 7 4 1 0 – + – 12 6 7 4 2 +I/2 – 0 chave+L1 13 6 8 3 1 –I 0 0 chaves //s 14 6 8 3 2 –I/2 0 – chave 15 6 8 4 1 –I/2 0 + chave+L2 16 6 8 4 2 0 0 0 –

Pode-se observar desta tabela que existe um total de 6 (seis) estados de nível zero, 1

(um) estado de nível máximo, 1 (um) estado de nível mínimo, 4 (quatro) estados

intermediários positivos e 4 (quatro) estados intermediários negativos. É preciso lembrar

também que, nem sempre a polaridade ‘+’ está relacionada com uma tensão positiva sobre o

indutor. O sinal apenas indica a que terminais da carga o indutor de equilíbrio está conectado.

Portanto, a tensão entre estes terminais pode ser positiva ou negativa, dependendo do semi-

ciclo da tensão na carga.

Para que uma determinada seqüência de chaveamento seja viável, ela deve sempre

prever uma tensão média nula nos indutores durante um determinado número de ciclos da

corrente de saída. Esta condição não foi, portanto, observada na estratégia da Fig. 6.6,

resultando no desequilíbrio mostrado na Fig. 6.7. O número de ciclos necessários à

manutenção do equilíbrio de correntes dependerá do número de células associadas e do tipo

de estratégia empregada. Este assunto será abordado mais apropriadamente na Seção 6.6.

6.4. Seqüência Assimétrica de Chaveamento

O desequilíbrio de correntes verificado na Fig. 6.7 poderia ser resolvido dentro de um

ciclo da corrente de saída se fossem utilizados estados alternativos de chaveamento, conforme

Page 157: Conversores Multiníveis em Corrente

145

relacionados na Tabela 6.1. De fato, existem 4 alternativas +I/2 e outras 4 alternativas -I/2,

sendo estes os níveis intermediários onde ocorre tensão não-nula sobre os indutores de

equilíbrio. As formas de onda da Fig. 6.8 mostram uma alternativa viável à estratégia da

Fig. 6.6, onde foram adotados os estados 5 (5831) e 14 (6832) durante os intervalos VI e

VIII, respectivamente. Nesta situação as chaves não mais conduzem com a mesma largura de

pulso e a estratégia torna-se, portanto, assimétrica. Os ângulos α e φ, indicados na figura,

referem-se aos intervalos de corrente zero e de corrente intermediária (+I/2 ou -I/2) na

corrente de saída, respectivamente. É fácil concluir que estes ângulos são independentes e

podem ser escolhidos arbitrariamente, desde que respeitem a formação de cinco níveis e

garantam tensão média nula nos indutores. Também foram representadas as contribuições

individuais de corrente dos inversores interno, i1, e externo, i2 nas duas últimas formas de

onda.

I II III IV V VI VII VIII I

S2

S6

S8

S4

S3

S1

S5

S7

v1

v2

+ ++

I2

-I2

-I2

I2

i1

i2

I2

-I2 I

2π0i o

φ

π

α

Fig. 6.8 - Estratégia assimétrica de chaveamento.

A Fig. 6.9 mostra os resultados de simulação para o inversor CSI da Fig. 6.4a

utilizando a estratégia assimétrica de chaveamento da Fig. 6.8. Os parâmetros de simulação

são: I=100A; L1=L2=150mH; Ro=3Ω; Co=700µF e f=60Hz. Como se pode observar a

distribuição de corrente é próxima do ideal, já que uma corrente de cerca de 50A flui por

Page 158: Conversores Multiníveis em Corrente

146

todas as chaves durante a condução. Pode-se notar ainda da Fig. 6.9a que os indutores de

equilíbrio não assumem o mesmo ripple, o que pode ser explicado pelo fato de não estarem

submetidos à mesma tensão instantânea da carga. O arquivo de simulação no programa

Pspice® é apresentado no Apêndice A (csi_assimsc.cir).

É claro que, para o caso de chaveamento assimétrico, as chaves não possuem a mesma

corrente média, já que conduzem durante intervalos diferentes. Além disso, no exemplo da

Fig. 6.9, o espectro harmônico da corrente de saída não está otimizado, como pode ser

observado na Fig. 6.10. Estes dois pontos podem ser simultaneamente melhorados através do

ajuste nos tempos de chaveamento (e larguras de pulso) de cada chave, conforme discutido a

seguir.

(a) (b)

Fig. 6.9 - Conversor CSI MNC-2 células com chaveamento assimétrico.

(a) De cima para baixo: correntes nos indutores e corrente na carga; (b) correntes de algumas chaves.

Page 159: Conversores Multiníveis em Corrente

147

Fig. 6.10 - Espectro harmônico da corrente de saída (α=φ=45o).

O tratamento matemático que viabilize a melhor escolha para os tempos de condução

das chaves pode ser feito utilizando a primeira forma de onda da Fig. 6.8, bem como os

ângulos α e φ, já definidos. A forma de onda da corrente na carga possui simetria de meia-

onda e pode ser resolvida pela série de Fourier como sendo de simetria par, assim como

indicado na Fig. 6.11 (termos em seno da série são nulos). Também é admitido que haja

simetria de um quarto de ciclo (os patamares zero e intermediários duram o mesmo tempo), o

que garante a eliminação de harmônicas pares. Esta suposição também é necessária para

viabilizar a igualdade de corrente nos indutores, que do contrário não teriam tensão média

nula dentro de um ciclo. io

φ

π

α0

π−(2 + )φ α

I2

-I2 I θ=ωt

Fig. 6.11 - Corrente de saída e figuras de mérito.

Desta forma, os coeficientes harmônicos da corrente de saída cinco níveis podem ser

encontrados por:

A h.2

π

+

...d0

π ( ).2 φ α

2θ.I cos ( ).h θ d

π ( ).2 φ α

2

π ( ).2 φ α

θ.I2

cos ( ).h θ

d

π ( ).2 φ α

2φ α

π ( ).2 φ α

2.2 φ α

θ.I2

cos ( ).h θ dπ ( ).2 φ α

2.2 φ α

( )π ( ).2 φ α .2 φ αθ.I cos ( ).h θ

. ( 6.3)

Cuja solução simplificada e normalizada (harmônicas relativas a I=ICC) é:

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ Φ⋅+

⋅+⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛ ⋅

⋅⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ ⋅

⋅⋅

= hhhhh

Ah 2cos

2cos

2sin2 ααπ

π. ( 6.4)

Page 160: Conversores Multiníveis em Corrente

148

Estes coeficientes podem ser representados de forma gráfica desde que seja fixado o

valor de uma das variáveis (α ou φ). Alguns casos são mostrados na Fig. 6.12, considerando

sempre φ<45o. Nestes gráficos considerou-se o módulo de (6.4) normalizado para I, ou seja,

as amplitudes harmônicas relativas.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 450

0.05

0.1

0.15

0.2

A( )3

A( )5

A( )7

A( )9

A( )11

A( )13

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 φ [o] φ [o]

0 5 10 15 20 25 30 35 40 450

0.05

0.1

0.15

0.2

A( )3

A( )5

A( )7

A( )9

A( )11

A( )13

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 φ [o] φ [o]

Fig. 6.12 - Módulo dos coeficientes harmônicos da corrente cinco-níveis.

Por outro lado poderia ser admitido o caso particular em que α=φ. Para este caso, os

coeficientes harmônicos são definidos por:

Ah..2

( ).h πsin ..1

2h π cos ..3

2h φ cos ..1

2h φ

. . ( 6.5)

α=15o α=30o

α=45o α=60o

Page 161: Conversores Multiníveis em Corrente

149

A equação (6.5) também pode ser colocada sob a forma gráfica, conforme mostra a

Fig. 6.13. Neste gráfico considerou-se o módulo de (6.5) normalizado para I, ou seja, as

amplitudes harmônicas relativas.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 450

0.1

0.2

0.3

A( )3

A( )5

A( )7

A( )9

A( )11

A( )13

φ [o]

Fig. 6.13 - Coeficientes harmônicos da corrente cinco-níveis supondo α=φ.

As representações gráficas das figuras Fig. 6.12 e Fig. 6.13 podem ser utilizadas para

eliminação de harmônicas específicas ou escolha dos melhores ângulos que minimizem a

distorção harmônica total (THD).

Entretanto, a redução da THD pode ser tratada de uma forma mais elegante. Para

tanto, considera-se inicialmente que:

THD%0RMS

RMS= −100 1

2

12

ii

. ( 6.6)

Onde THD é expressa em % e iORMS e i1RMS são os valores eficazes da corrente de saída

cinco níveis e de sua componente fundamental, respectivamente. O valor eficaz, iORMS, pode

ser calculados por:

i0RMS

.2

πd

α2

α2

φI2

2

dα2

φ

π2

θ θI2

. ( 6.7)

Cujo resultado é:

α=φ

Page 162: Conversores Multiníveis em Corrente

150

i IORMS =− +2

22 2 3π α φ

π( )

. ( 6.8)

Desta equação, fica evidente uma restrição fundamental de funcionamento:

2 3 2α φ π+ < . ( 6.9)

Se α=φ, pode-se obter de (6.8):

i0RMS I= −1

52φπ . ( 6.10)

Por outro lado, a corrente fundamental é uma senóide simples, cujo valor eficaz é

obtido fazendo h=1 e dividindo (6.5) por 2 :

i1RMS

..I 2cos .1

2φ cos .3

π . ( 6.11)

Substituindo (6.10) e (6.11) em (6.6), chega-se a:

THD .100

.π .14

( ).5 φ .2 π

cos .12

φ cos .32

φ2

1

. ( 6.12)

É possível agora derivar (6.12) em função de φ, para encontrar o valor de φ que

minimize a distorção harmônica total:

M( )φ dd φ

THD

.54

π

cos .12

φ cos .32

φ2

...2 .54

φ .12

ππ

cos .12

φ cos .32

φ3

.12

sin .12

φ .32

sin .32

φ

.2 ..54

φ .12

ππ

cos .12

φ cos .32

φ2

1

. ( 6.13)

Igualando (6.13) a zero e resolvendo para φ encontra-se φ=27,57o ou φ=55,08o (que

define a máxima THD). Substituindo estes valores em (6.12) encontra-se que a THD mínima

é de 16,48% e a máxima de 35,41%.

Apesar de determinar um equacionamento matemático mais simples, a opção α=φ

nem sempre é a melhor escolha. De fato, esta condição reduz um grau de liberdade do

sistema. Assim, operando com α e φ diferentes, pode-se utilizar um deles para controlar a

potência fornecida à carga (supondo I constante), e o outro para minimizar a THD ou reduzir

Page 163: Conversores Multiníveis em Corrente

151

determinado grupo de harmônicas na potência nominal (que é a situação de maior amplitude

absoluta). Dos dois primeiros gráficos da Fig. 6.12 pode-se concluir, por exemplo, que

utilizando φ em torno de 30o implica numa boa redução de harmônicas (3a, 5a, 7a, etc.), sendo

possível ainda variar α (e conseqüentemente a potência entregue à carga) de 15o a 30o. É claro

que também se pode controlar a potência através do nível da corrente cc de entrada, I. Isto

poderia ser feito através de um “chopper” ou outro conversor apropriado, dependendo da

tecnologia da fonte de corrente empregada. Do estudo aqui exposto, fica claro que esta

situação é ainda mais confortável para o controle da THD da corrente de saída.

Para verificar as conclusões obtidas matematicamente pode-se simular o mesmo

conversor cinco-níveis simulado na Fig. 6.9 (para α=φ=45o) utilizando agora o valor ótimo

obtido por (6.13), ou seja α=φ=27,57o. A forma de onda da corrente de saída é mostrada na

Fig. 6.14, enquanto seu espectro harmônico é mostrado na Fig. 6.15.

Fig. 6.14 - Corrente na carga cinco-níveis para α=φ=27,57o.

Fig. 6.15 - Espectro harmônico da corrente da Fig. 6.14.

Page 164: Conversores Multiníveis em Corrente

152

Através do programa Pspice® é possível obter a THD de uma forma de onda por duas

maneiras distintas. A primeira delas é fornecida de forma direta através de um arquivo “.out”,

desde que na descrição do circuito seja acrescentada a linha “.four”, para a forma de onda em

questão (e para a freqüência desejada). Este procedimento, entretanto, pode apresentar falhas

já que leva em consideração apenas os coeficientes harmônicos de ordem menor ou igual a

nove. A outra possibilidade, mais precisa, é pelo uso da função “rms( )”. Fazendo isso para a

forma de onda da Fig. 6.14 (completamente estabilizada) obtém-se i0RMS=77.99A. Por outro

lado, tomando do arquivo “.out” o valor da primeira harmônica (ou medindo na Fig. 6.15)

encontra-se i1RMS=77A. Estes valores podem ser levados em (6.6), o que resulta em

THD=16,2% muito próximo, portanto, do valor teórico predito. Estes mesmos procedimentos

foram realizados para a simulação da Fig. 6.9 e revelaram uma THD=21,10%. Como os dois

casos apresentam uma mesma corrente eficaz de saída, cerca de 79A (e portanto uma mesma

potência fornecida à carga), fica evidente a utilidade do processo de otimização. Uma

superioridade de resultados é ainda mais significativa quando se compara estes valores com a

THD de uma corrente três-níveis convencional, como a da Fig. 6.3b, que apresenta no melhor

caso um índice de 31% [13].

Outro fator a ser mencionado é que, pelo uso de α=φ=27,57o as chaves conduzem

cerca de 15%, a mais ou a menos, em relação à condução ideal (D=50%). Entretanto,

se α=φ=45o a diferença aumenta para ±25%. O tempo de condução das chaves pode se

aproximar mais do valor ideal (mesmo valor médio de corrente para todas as chaves) quando

se utilizam menores valores de φ. A relação matemática que define o afastamento do valor

ideal pode ser definida por:

Fa =+

⎜⎜⎜

⎟⎟⎟

⋅ = ⋅

φ ππ

πφ

.180 1 100%

180100% ( 6.14)

Onde Fa é o Fator de Assimetria, para cada ângulo φ, e pode ser representado

graficamente como na Fig. 6.16.

Page 165: Conversores Multiníveis em Corrente

153

Fato

r de

Ass

imet

ria [%

]

0 5 10 15 20 25 30 35 40 450

5

10

15

20

25

)

φ [o]

Fig. 6.16 - Fator de assimetria versus φ .

6.5. Seqüência Simétrica de Chaveamento

O inconveniente da operação das chaves com tempos de condução diferentes, presente

na estratégia assimétrica, pode ser solucionado através de uma seqüência de chaveamento que

estabilize as correntes em dois (ou mais) ciclos da corrente de saída. A idéia de equilibrar a

corrente nos indutores é a mesma usada na estratégia simétrica, só que o equilíbrio é levado a

efeito apenas no ciclo seguinte. A Fig. 6.17 mostra uma possível solução para o desequilíbrio

observado na Fig. 6.7, utilizando informações da Tabela 6.1. Nesta figura, por simplicidade,

não foram representados os intervalos de condução das chaves pares, já que são

complementares às chaves ímpares.

I II III IV V VI VII VIII IX

S3

S1

S5

S7

0

v1

v2

io

X XI XII XIII XIV XV XVI I

+ +

+ +

Fig. 6.17 - Estratégia simétrica de chaveamento.

Page 166: Conversores Multiníveis em Corrente

154

Pode-se observar da Fig. 6.17 que as chaves ímpares conduzem durante 5 intervalos e

depois mais 3, somando 8 intervalos de um total de 16 (razão cíclica igual a 50%, portanto).

As chaves pares, por sua vez, conduzem durante 4 intervalos e depois mais 4 (como pode ser

concluído dos intervalos de zero das chaves ímpares), totalizando os mesmos 8 intervalos.

A simulação da Fig. 6.18 empregou os mesmos parâmetros que os adotados na

simulação da Fig. 6.7, porém utilizando a estratégia simétrica da Fig. 6.17. Como pode ser

observado, um dos indutores de equilíbrio apresenta uma ondulação de corrente cerca de duas

vezes superior à observada na estratégia assimétrica. Esta ondulação também é observada em

determinadas correntes, como na da chave S7, na Fig. 6.18b. Pode-se observar também destas

formas de onda que a repetição dos padrões só ocorre após dois ciclos (como esperado nesta

estratégia), o que implica na presença de subharmônicas de corrente. Mesmo assim, a

presença dos níveis intermediários é bastante definida, configurando uma forma de onda de

corrente de saída muito próxima dos cinco níveis ideais. A distribuição de corrente entre as

chaves é também muito balanceada, sendo que por todas as chaves flui uma corrente de cerca

de 50A, enquanto a entrada é de 100A. O arquivo de simulação no programa Pspice® é

apresentado no Apêndice A (csi_simsc.cir).

(a) (b)

Fig. 6.18 - Formas de onda de simulação da estratégia simétrica. (a) De cima para baixo: corrente nos indutores, corrente na carga; (b) corrente em algumas chaves.

Page 167: Conversores Multiníveis em Corrente

155

Uma das maneiras de viabilizar a geração dos pulsos para a estratégia simétrica (e

também assimétrica) é através de um gerador de pulsos digital, com os intervalos de condução

de cada chave armazenados em EPROM (cf. a Seção 6.8). Entretanto, também é possível

utilizar estratégias analógicas, lembrando que os pulsos das chaves pares são exatamente

complementares aos das chaves ímpares, o que simplificaria a implementação.

Pode-se mencionar ainda que, como para a estratégia assimétrica, pode-se melhorar o

espectro harmônico da corrente de saída utilizando o mesmo processo de otimização dos

ângulos relacionados com o chaveamento (α e φ).

Deve ficar claro também que tanto a estratégia assimétrica quanto a simétrica

propostas nas duas últimas seções não são únicas. Utilizando as informações da Tabela 6.1 é

possível definir uma série de possibilidades. Entretanto, esta tarefa pode se tornar bastante

complexa quando o número de células associadas aumenta. A Seção 6.6 mostra como

encontrar seqüências simétricas de chaveamento, para inversores monofásicos, com auxílio de

algoritmos computacionais.

6.6. Estratégia Genérica de Chaveamento

As seqüências de chaveamento “coerentes” (com tensão média nula nos indutores)

para o conversor cinco-níveis podem ser determinadas, com relativa facilidade, por inspeção.

Para os conversores sete-níveis ou superiores uma enorme dificuldade é observada devido ao

grande número de chaves envolvidas, bem como de combinações possíveis. Nestes casos é

necessário o uso de um algoritmo digital para resolver o problema do equilíbrio de correntes,

ou seja, encontrar as seqüências viáveis. Para um tratamento organizado do assunto, cumpre

definir alguns termos:

1. Combinação: São os conjuntos possíveis de chaves em condução durante

um determinado intervalo de tempo.

2. Seqüência simples: É um conjunto ordenado de combinações que

conduza à forma de onda desejada, admitindo que os indutores de

equilíbrio são fontes de corrente independentes.

3. Seqüência de tamanho z: É uma seqüência que compreende z períodos

da corrente de saída desejada.

4. Seqüência de freqüência mínima: É uma seqüência ordenada cujas

combinações consecutivas diferem de apenas um bit (o estado de apenas

uma chave ímpar).

Page 168: Conversores Multiníveis em Corrente

156

5. Seqüência real: É uma seqüência de freqüência mínima que garanta

tensão média nula, dentro de um número mínimo de ciclos, nos indutores

de equilíbrio.

Para a determinação das seqüências reais considera-se, portanto, que:

a) A freqüência de operação das chaves deve ser igual à freqüência

fundamental da corrente de saída.

b) As chaves devem apresentar, em regime permanente, correntes médias

aproximadamente iguais. Admitindo que os níveis de condução são os

mesmos para todas as chaves (I/n), conclui-se que as chaves devem

conduzir com a mesma largura de pulso. Em outras palavras, o tempo de

condução de cada chave deve ser igual à metade do período da seqüência

de chaveamento (que é múltiplo do período da corrente na carga) e

independente das larguras dos diversos níveis (as larguras serão

determinadas de forma a reduzir o conteúdo harmônico). Por conseguinte

a seqüência procurada é uma seqüência simétrica de chaveamento. (Um

dos objetivos do inversor de corrente multinível é obter uma distribuição

equilibrada de corrente entre as chaves da estrutura.)

c) O valor de pico das correntes nas chaves deve ser o menor possível.

Deve-se evitar uma baixa razão: valor médio/valor rms.

d) Redução do conteúdo harmônico da corrente de saída. Isto pode ser

obtido através da seleção apropriada das larguras dos diversos níveis da

forma de onda de corrente na saída do inversor.

e) A operação da estrutura deve ser independente do tipo de carga

conectada na saída. A corrente de saída do inversor deve ser

independente da tensão de saída do inversor (tensão na carga).

f) A tensão média em regime permanente em cada indutor de divisão da

estrutura deve ser nula. Se isto não acontecer, não será obtido o

equilíbrio das correntes nestes indutores.

De forma a facilitar a implementação de um algoritmo simbólico as informações sobre

as seqüências e estados devem estar sob a forma mais genérica possível. Em primeiro lugar é

preciso definir o número máximo de combinações, NC, para um dado conversor CSI

multinível. Conforme mostrado na Tabela 6.1, para o conversor cinco-níveis (λ=5) existem 16

combinações. Não é difícil demonstrar que, no caso geral:

Page 169: Conversores Multiníveis em Corrente

157

NC = −2 1( )λ ( 6.15)

Ou seja, para λ=7 existem 64 combinações, para λ=9 existem 256 e assim por diante.

Os níveis de corrente e tensão nos indutores também podem ser simbolizados de uma forma

independente. Assim, no conversor cinco-níveis existem na carga as correntes -2, -1, 0, 1 e 2

para representar -I, -I/2, 0, I/2 e I, respectivamente. No conversor 7 níveis: -3, -2, -1, 0, 1, 2 e

3. A tensão nos indutores poderia ser representada por +1, 0 ou -1, conforme os terminais

ligados. Por outro lado, os estados de condução das chaves seriam 1 (conduzindo) e 0

(bloqueado). É possível ainda representar os elementos em condução apenas por meio das

chaves ímpares (ou pares) já que as demais são complementares. Utilizando estas convenções

a Tabela 6.1 pode ser reescrita como na Tabela 6.2, para λ=5 (CSI cinco-níveis). TABELA 6.2

- ESTADOS POSSÍVEIS PARA ESTRUTURA CINCO-NÍVEIS -

Combinação S1S3 S5S7 Io V1 V2

0 00 00 0 0 0

1 00 01 1 –1 0

2 00 10 1 +1 0

3 00 11 2 0 0

4 01 00 –1 0 –1

5 01 01 0 –1 –1

6 01 10 0 +1 –1

7 01 11 1 0 –1

8 10 00 –1 0 +1

9 10 01 0 –1 +1

10 10 10 0 +1 +1

11 10 11 1 0 +1

12 11 00 –2 0 0

13 11 01 –1 –1 0

14 11 10 –1 +1 0

15 11 11 0 0 0

Deve-se notar que qualquer seqüência de chaveamento sempre deverá conter as

combinações 3 e 12 para composição do nível máximo e mínimo (± I). Entretanto, conforme

já mencionado para a Tabela 6.1 existem 6 (seis) opções para realização de nível zero e 4

(quatro) opções de nível intermediário (± I/2). Pode-se concluir, ainda, que existem sempre

dois intervalos de nível 0, +I/2 ou -I/2. Nestes intervalos é possível usar qualquer das

Page 170: Conversores Multiníveis em Corrente

158

combinações possíveis e inclusive repeti-las (no caso de seqüências simples). Desta forma, o

número total de seqüências simples de um período, NS, para o caso genérico é:

N N N N N .NS n-1 n= 0

21

42

4 4 0. . L ( 6.16)

Onde N0 é o número de combinações de corrente zero na carga, N1 é o número de

combinações do primeiro nível intermediário (I/2 para cinco níveis, I/3 para sete níveis, etc.),

N2 do segundo nível intermediário e assim por diante. As combinações de níveis

intermediários foram elevadas à potência 4 (quatro) porque tanto as positivas quanto as

negativas são de mesmo número e ocorrem duas vezes cada uma. É fácil constatar ainda que

Nn é sempre igual a 1 (um), ou seja, só existe uma combinação possível para o nível máximo

(+I) e outra única para o nível mínimo (-I) (e não podem ser descartadas, daí o expoente zero).

Adotando o procedimento acima pode-se obter as informações básicas sobre qualquer

conversor. A Tabela 6.3 mostra algumas informações para os conversores de três

(convencional), cinco, sete e nove níveis. TABELA 6.3

- COMBINAÇÕES E SEQÜÊNCIAS SIMPLES DE UM PERÍODO -

Níveis de Corrente na Carga

λ 0 ±1 ±2 ±3 ±4 NC NS

3 2 1 4 4

5 6 4 1 16 9216

7 20 15 6 1 64 2,62x104

9 70 56 28 8 1 256 1,21x1020

É claro que o número de seqüências simples é muito elevado e não reflete as

possibilidades práticas, que só existem nas seqüências reais. Assim, o algoritmo desenvolvido

deve tratar todas as possibilidades e buscar as seqüências de freqüência mínima e,

posteriormente, as seqüências reais (que atendam as condições a-f). Para os conversores com

λ≥5 não existem seqüências reais de apenas um período. As seções anteriores mostraram a

possibilidade de estabilizar o conversor apenas com seqüências assimétricas. Assim, para λ=5

as seqüências devem ser de dois períodos, para λ=7 de três períodos e para λ=9 de quatro

períodos. Utilizando o algoritmo de tratamento das seqüências (escrito em linguagem C)

pode-se encontrar as seqüências de chaveamento reais para λ=7 e λ=9 mostradas na Tabela

Page 171: Conversores Multiníveis em Corrente

159

6.4, que não são únicas. Nesta tabela foi utilizado o número da combinação (ou estado) e não

o número das chaves em condução. É bom lembrar que existem 64 e 256 estados possíveis

para sete e nove níveis, respectivamente.

Page 172: Conversores Multiníveis em Corrente

160

TABELA 6.4

- EXEMPLOS DE SEQÜÊNCIAS REAIS PARA λ=7 E λ=9 -

λ n z Seqüências Reais

7 3 3 56 57 61 63 47 39 7 5 1 0 32 40 56 60 62 63 31 15 7 6 4 0 8 24 56 58 59 63 55

23 7 3 2 0 16 48

9 4 4 240 248 252 254 255 239 207 143 15 31 63 127 255 247 243 241 240 244 252

253 255 223 207 79 15 47 63 191 255 251 243 242 240 176 48 32 0 2 3 11 15 13

12 4 0 64 192 208 240 112 48 16 0 1 3 7 15 14 12 8 0 128 192 224

As estratégias da Tabela 6.4 foram testadas em seus respectivos inversores (Fig. 6.4b e

Fig. 6.4c) apresentando os resultados esperados. A Fig. 6.19 mostra a corrente de saída e o

espectro harmônico para o inversor sete-níveis, onde adotou-se uma corrente de entrada

I=40A. Parte das informações contidas nesta seção consistem em desdobramentos do trabalho

em questão não desenvolvidos no INEP/UFSC, mas que foram publicadas com permissão.

Para uma complementação deste assunto deve-se recorrer a [62] e [63].

Fig. 6.19 - Corrente de saída e espectro harmônico para o conversor CSI sete-níveis.

6.7. Inversor MNC Polifásico

Apesar da possibilidade de generalização e determinação de estratégias de

chaveamento para λ níveis, a estrutura MNC deve, preferivelmente, poder ser adaptada a

conversores polifásicos. De fato, em níveis de potência mais elevados, é fundamental o

emprego de estruturas pelo menos trifásicas. A Fig. 6.20 mostra uma proposta de

generalização (n células, 3 fases) possível para o inversor MNC CSI. A Fig. 6.21 mostra o

caso particular para o inversor trifásico MNC CSI-2 células (até cinco níveis de corrente na

carga).

Page 173: Conversores Multiníveis em Corrente

161

Iabc

L 1(n-1)In

(n-1)In

L 2(n-1)

inv1 inv2

In

In

L n-1

L n

invn

Fig. 6.20 - Inversor CSI MNC-n células (2n+1 níveis) trifásico.

Iabc

L 1

L 2

inv1 inv2

I2

I2

Fig. 6.21 -Inversor CSI MNC-2 células (até cinco níveis), trifásico.

É evidente a dificuldade de se encontrar seqüências de chaveamento reais para

estruturas trifásicas ou polifásicas. Porém, uma abordagem bastante elegante é apresentada

em [26], utilizando vetores associados aos estados de chaveamento. Este assunto, porém, não

será considerado neste texto.

Page 174: Conversores Multiníveis em Corrente

162

6.8. Resultados Experimentais

Para verificar as informações e equacionamentos deduzidos neste capítulo o inversor

MNC-2 células cinco-níveis foi implementado em laboratório. O protótipo foi montado de

maneira a viabilizar o teste com a estratégia simétrica e assimétrica de chaveamento.

Como pode ser observado das figuras Fig. 6.1 ou Fig. 6.4a (ou ainda da Tabela 6.1) as

chaves internas ficam eventualmente em série com o indutor de equilíbrio. Por outro lado, as

chaves externas não compartilham esta característica. Desta forma, assim como para os

conversores MNC cc-cc estudados no Capítulo 5, pode haver desequilíbrio de corrente nos

conversores MNC CSI, provocado pela resistência parasita dos indutores de equilíbrio. De

fato, como os indutores ficam submetidos à tensão da carga, durante intervalos da ordem de

milissegundos, os valores de indutância devem ser elevados para minimizar a ondulação final

(bem como as diferenças de corrente de pico entre as chaves). Ora, valores elevados de

indutância implicam em maiores valores de resistência série e, conseqüentemente, maiores

desequilíbrios de corrente. Para resolver este problema pode-se recorrer à compensação

resistiva por ramo ou, melhor ainda, utilizar a sugestão proposta na Fig. 5.20. A Fig. 6.22

mostra a adaptação desta técnica para o conversor em questão.

L

I

L

rL

rL

rL

rL

2

1

Fig. 6.22 - Compensação resistiva para o inversor CSI MNC-2 células (cinco-níveis).

O melhor dispositivo semicondutor para compor a estrutura da Fig. 6.22 é o GTO,

porque é um componente unidirecional em corrente e bidirecional em tensão. Os IGBTs de

tecnologia NPT também se enquadram nesta categoria. Entretanto, devido às dificuldades de

estoque em laboratório, durante a implementação, a estrutura foi implementada com

IGBTs-PT em série com diodos. Como fonte de corrente, empregou-se uma fonte de tensão

em série com um indutor de 105 mH. A carga utilizada é do tipo R-C em paralelo com

Page 175: Conversores Multiníveis em Corrente

163

R=6,3Ω e C=100µF. A corrente de entrada proposta inicialmente era de 20A (10A de pico em

cada chave, portanto, no caso ideal). A freqüência da corrente de saída foi planejada para

60Hz. Nestas condições, e supondo uma operação senoidal ideal, pode-se estimar a tensão de

saída de pico em torno de 120V e uma potência de 1,2 kW. O ângulo estimado do fator de

potência é de 13,4o.

A estrutura foi testada utilizando α=φ=30o, muito próximo, portanto, do valor ótimo

definido na Seção 6.4. O projeto dos indutores de equilíbrio pode seguir a lei básica que rege

o comportamento de uma indutância (V=L∆i/∆t). O valor de V, para o pior caso, pode ser

encontrado de forma aproximada, como mostra a Fig. 6.23.

13,4 ° 13,4 °

φ = 30°30α = ° Fig. 6.23 - Encontrando a tensão nos indutores (representação aproximada).

De acordo com a Fig. 6.23 o valor de V para projeto dos indutores é

V=120xsen(2x15o+13,4o)=82,5V. O valor de ∆t é a duração de φ em milissegundos e vale

1,39ms. Admitiu-se aceitar, por outro lado, uma variação de corrente nas chaves de 2A (∆i).

Assim, o valor das indutâncias é de 57,3 mH. Para a freqüência de 60 Hz utilizada os

indutores devem ser construídos em núcleos de ferro-silício. Devido a imperfeições de

fabricação e material usado o valor prático não superou a marca de 50 mH. Detalhes do

projeto dos indutores, bem como outras informações sobre o protótipo são mostradas na

Fig. 6.24. A Fig. 6.25 mostra o circuito digital de geração de pulsos e seleção de estratégia. A

Fig. 6.26 mostra o circuito de interface e isolamento de gates, exigido em função de as chaves

não estarem sob um mesmo potencial de emissor. Como pode ser visto este circuito usa

Valor de tensão usado para projeto dos indutores

Tensão na carga suposta senoidal ideal

Page 176: Conversores Multiníveis em Corrente

164

transformadores de pulso e uma freqüência portadora de 500kHz. A Fig. 6.27 mostra um

detalhe fotográfico do protótipo.

105 mH

V

0.3

0.3

6.3

100

v

IGBTs: IGT4D10

DIODOS: MUR830

45 mH

45 mH

i o

out

µF

Ω

Ω

Ω

i

General Electric

Motorola

I=20A

2x16AWGlg/2=0,13cm

208 espiras

WS=290 cm 4

0,3 Ω

*

**

(10A, 400V)

(8A, 300V)

S 5 S 7 S 8 S 6

S 3 S 1 S 2 S 4

Fig. 6.24 - Circuito experimental.

Seleção de EstratégiaPino 21 de U5

Fig. 6.25 - Circuito de geração de pulsos (dados em EPROM-U5).

Page 177: Conversores Multiníveis em Corrente

165

+15V

1

2 3

7408A

24V

10K

D2 D3

D6G

3K9BC558B

13V1n8

D5

D1D4

TP

6.8K

1nF

BD137E

500 kHz

60 Hz

1/4

D1-D6 : 1N4147TP: Transformador de Pulso

(núcleo toroidal 10:12 espiras #24AWG)

KRE :1

Fig. 6.26 - Interface e isolamento de gate (uma parte de oito).

Fig. 6.27 - Fotografia do protótipo.

A Fig. 6.28 mostra as formas de onda de tensão/corrente na carga e correntes de

entrada/indutores de equilíbrio, obtidas do protótipo para a estratégia simétrica, onde se

percebe uma boa concordância com os resultados teóricos e simulados nas seções anteriores.

Neste caso empregou-se a seguinte seqüência de chaveamento: 5842-5742-5732-5731-6731-

6831-6841-6842-6742-5742-5741-5731-5831-6831-6832-6842. A corrente de entrada

utilizada foi de 18A, para não submeter os IGBTs a uma corrente superior à nominal. A

Fig. 6.29 mostra as correntes para a mesma estratégia, onde se percebe que todas as chaves

assumem aproximadamente a mesma corrente média (cerca de 9A).

Indutores de Equilíbrio

Interface e Isolamento de Gates

Gerador de Pulsos (Comando)

Elementos de Compensação Resistiva

Page 178: Conversores Multiníveis em Corrente

166

(a) (b)

Fig. 6.28 - Formas de onda para o modo simétrico (100V/div; 10A/div/ 5ms/div).

De cima para baixo: (a) Tensão e corrente na carga; (b) Corrente de entrada e nos indutores.

(a) (b)

Fig. 6.29 - Corrente nas chaves - modo simétrico (10A/div, 5ms/div).

De cima para baixo: (a) S1 a S4; (b) S5 a S8.

A Fig. 6.30 mostra os espectros harmônicos da tensão e corrente de saída. As taxas de

distorção harmônicas, reportadas pelo programa LabWindows® (que inclui até a harmônica

de ordem 40), foram de 6,31% e 15,95%, respectivamente.

Page 179: Conversores Multiníveis em Corrente

167

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 400

20

40

60

80

100

Harmônica (n)

Am

plitu

de(%

)

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 400

20

40

60

80

100

Harmônica (n) (a) (b)

Fig. 6.30 - Espectro harmônico - modo simétrico (a) tensão e (b) corrente na carga.

As figuras Fig. 6.31 a Fig. 6.33 mostram as formas de onda correspondentes para a

estratégia assimétrica. Neste caso empregou-se a seguinte seqüência de chaveamento: 6842-

6742-5742-5741-5731-6731-6831-6841. Também é possível observar aqui uma boa

concordância com os resultados previstos teoricamente. Pode-se perceber, por exemplo, que o

ripple de corrente observado nos indutores é menor que na estratégia simétrica, resultando em

uma melhor definição de níveis intermediários e correntes de condução mais homogêneas nas

chaves. Neste caso, porém, as correntes médias das chaves não são exatamente as mesmas, já

que conduzem com razões cíclicas distintas (±15% em relação ao caso simétrico). O

programa LabWindows® reportou taxas de distorção harmônica de 5,46% e 14,56% para a

tensão e corrente na carga, respectivamente.

100 V/div

10 A/div5 ms/div

gnd

gnd

(a) (b)

Fig. 6.31 - Formas de onda para o modo assimétrico (100V/div; 10A/div/ 5ms/div). De cima para baixo: (a) Tensão e corrente na carga; (b) Corrente de entrada e nos indutores.

Page 180: Conversores Multiníveis em Corrente

168

(a) (b)

Fig. 6.32 - Corrente nas chaves - modo assimétrico (10A/div, 5ms/div). De cima para baixo: (a) S1 a S4; (b) S5 a S8.

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 400

20

40

60

80

100

Harmônica (n)

Am

plitu

de(%

)

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40

0

20

40

60

80

100

Harmônica (n)

(a) (b) Fig. 6.33 - Espectro harmônico - modo assimétrico (a) tensão e (b) corrente na carga.

6.9. Retificador de Tensão MNC

A célula genérica retificadora da Fig. 6.1b, permite compor o retificador MNC-2

células (cinco-níveis) tipo buck da Fig. 6.34, que já havia sido apresentado na Fig. 2.22 do

Capítulo 2. Conforme já mencionado, também aqui seria ideal utilizar um componente

semicondutor da família dos tiristores (e.g. GTO), já que é bidirecional em tensão. A

representação da chave com diodo em série é útil apenas para ressaltar esta característica.

Page 181: Conversores Multiníveis em Corrente

169

L

L

Carga

I

S S7

S S

S

5

S

S

S3

1

86

2

4

1

2

I2

T1T2

o

v

Lo

o

I2o vo

Fig. 6.34 - Retificador MNC-2 células (cinco níveis) tipo buck monofásico.

Esta estrutura pode ser comandada por meio das mesmas estratégias usadas para o

conversor CSI MNC, porém com a vantagem de a tensão de entrada ser invariável. Isto

permite a operação com fator de potência quase unitário (a menos da THD da corrente de

entrada).

Os resultados de simulação apresentados na Fig. 6.35 comprovam esta teoria, tendo

sido obtidos por meio da seguinte estratégia assimétrica (seqüência de um período): 5832-

5842-5742-6742-6741-6841-6831-6832. O arquivo de descrição de circuitos (“.cir”) de

simulação no programa Pspice® é apresentado no Apêndice A (retca_cc2cell.cir).

Nesta simulação foram utilizadas chaves “vswitch” e diodos em série, como

representado na Fig. 6.34. Os parâmetros de simulação foram v=120Vrms (60Hz),

Lo=300mH, L1=L2=100mH, Ro=0,8Ω, RON=0,1Ω (resistência das chaves e diodos), α=30o e

φ=15o. Os valores utilizados para as indutâncias foram superdimensionados para reduzir as

ondulações de corrente e melhorar a visualização dos níveis intermediários. Em uma

implementação prática seria possível utilizar valores bem menores já que existe uma

tolerância para as diferenças entre os valores médios de corrente nas chaves. Deve-se ressaltar

que, como o valor de φ usado é muito pequeno, pode-se esperar que as diferenças de largura

de pulso entre as chaves seja em torno de ±8%, comparadas com o caso ideal (cf. Fig. 6.16).

Pode-se observar também da Fig. 6.35, que a tensão de saída (terceiro traço da letra a)

possui um patamar de zero em torno de -25V. Isto ocorre devido ao fluxo de 50A por quatro

Page 182: Conversores Multiníveis em Corrente

170

elementos com resistência de condução de 0,1Ω. No caso ideal, portanto, este patamar seria

de zero volts.

A Fig. 6.36 mostra a corrente nas chaves, onde se percebe que todas conduzem

aproximadamente 50A, portanto a metade do valor da corrente na entrada. Seus valores

médios, entretanto, diferem (como esperado) de ±8% da situação ideal (razão cíclica igual a

50%), devido às diferenças nas larguras de pulso.

(a) (b)

Fig. 6.35 - Formas de onda simuladas para o retificador buck MNC cinco-níveis

(a) De cima para baixo: tensão de entrada, corrente de entrada, tensão de saída (filtro+carga)

(b) De cima para baixo: Corrente de saída, corrente nos indutores de equilíbrio, tensão em L1

Page 183: Conversores Multiníveis em Corrente

171

Fig. 6.36 - Correntes nas chaves para o retificador buck - cinco níveis.

O valor da tensão e corrente de saída pode ser estimado teoricamente para o caso

genérico, quando se utiliza a estratégia empregada na simulação anterior. Para auxiliar este

desenvolvimento pode-se empregar o gráfico da Fig. 6.37.

Fig. 6.37 - Formas de onda para determinação do valor médio de vo.

Pelas informações da Fig. 6.37, pode-se escrever:

Page 184: Conversores Multiníveis em Corrente

172

voMédio.1

πd

α2

πα2

φ

θ2 Vsen( )θ

. ( 6.17)

Onde V é o valor eficaz da tensão de entrada, v, e θ=ωt é a representação do tempo em

grandeza angular. O resultado de (6.17) é:

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛+⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛ Φ+⋅

⋅= αα

π 21cos

21cos2 VVoMédio . ( 6.18)

Da equação (6.18) percebe-se que o maior valor de voMédio é atingido quando α=φ=0.

Nesta situação a tensão média de saída vale 0,64 2 V=0,9V (ou 0,64Vpico). Desta forma a

tensão média de saída é sempre menor que o valor eficaz ou o valor de pico da tensão de

entrada, justificando assim a denominação ‘retificador buck’.

Através de (6.18) também fica fácil obter o valor da corrente média de saída, que pode

ser encontrado dividindo-se voMédio pelo valor de Ro (no caso de carga resistiva). Também é

possível encontrar o valor do fator de potência, FP, através da seguinte equação:

FP(THD)

=+

cos( )ϕ121

. ( 6.19)

Onde ϕ1 é a defasagem entre a componente fundamental da corrente e a tensão de

entrada (neste caso, igual a zero). Por outro lado, utilizando as equações (6.5) e (6.8) para

α=30o e φ=15o pode-se encontrar os valores eficazes das correntes fundamental e total que

são 82,47A e 84,16A, respectivamente. Substituindo estas quantidades em (6.6) e tomando o

valor não-percentual da THD e, finalmente, substituindo em (6.19), obtém-se FP=0,98.

Page 185: Conversores Multiníveis em Corrente

173

São evidentes as possibilidades de aplicação para a estrutura apresentada nesta seção.

Ela pode atuar por exemplo com fluxo de potência reversível, situação em que ora funciona

como inversor, ora como retificador, apresentando um espectro harmônico reduzido sem o

uso de modulação em alta freqüência. Estes atrativos certamente qualificam as estruturas

mostradas neste capítulo para aplicações em altas potências.

O assunto da última Seção deste capítulo foi abordado neste trabalho durante um

curto espaço de tempo, sendo sugerido como objeto de estudos mais aprofundados no futuro.

6.10. Conclusões

Neste capítulo foram mostrados os detalhes de adaptação da célula MNC aos

inversores de corrente e retificadores de tensão. Por meio de estratégias de comando

adequadas, os níveis de corrente nos indutores de grampeamento são transferidos para a

malha de tensão da célula MNC, ou seja, a malha que envolve os terminais T1 e T2. É possível,

assim, otimizar o conteúdo harmônico do conversor ou mesmo eliminar componentes

harmônicos específicos. Para o conversor MNC de duas células (cinco níveis) foram

apresentadas as estratégias de chaveamento simétrica (equilíbrio em um ciclo) e assimétrica

(equilíbrio em dois ciclos). Para os conversores com três ou mais células de comutação deve-

se recorrer a um algoritmo computacional capaz de selecionar a estratégia adequada.

Resultados experimentais, para o inversor de corrente cinco níveis, foram apresentados e

confirmaram os resultados teóricos e simulados. A topologia trifásica do inversor MNC foi

sugerida, mas a geração da estratégia de comando foi proposta como continuidade do

trabalho. O retificador de tensão (ou tipo buck) MNC também foi estudado, revelando-se

vantajoso na obtenção de um fator de potência de entrada quase-unitário, sem a necessidade

de modulação em alta freqüência. Concluiu-se também que o conversor MNC pode ser usado

como estrutura de controle bidirecional do fluxo de potência. As estruturas deste capítulo,

sobretudo em sua forma trifásica, parecem constituir uma aplicação promissora em sistemas

SMES.

Page 186: Conversores Multiníveis em Corrente

174

7. Um Pré-Regulador de 3,2 kW com FP Unitário e

Comutação Suave em Tensão

este capítulo pretende-se mostrar um exemplo prático de aplicação da

célula MNC a um pré-regulador com fator de potência (FP) unitário,

operando com comutação suave (sem dissipação de energia) durante o

chaveamento das chaves do conversor principal. Um tal sistema possui

aplicação garantida em fontes de potência em Telecomunicações. Parte dos resultados

discutidos e apresentados aqui foram publicados em [65].

7.1. Definição do Sistema

O circuito proposto deve retificar e fazer uma primeira regulagem da tensão da rede,

para que um segundo conversor atenda à carga com as exigências finais de tensão, potência e

regulação. Esta configuração está esquematicamente representada na Fig. 7.1.

-

+ PRÉ-REGULADOR

COM ALTO FP E

ALTO RENDIMENTO220Vrms

1 2REGULADOR

CHAVEADO DE

SAÍDA

60Vcc, 50A

3400 Vcc

Fig. 7.1 - Diagrama de blocos da unidade retificadora.

O bloco 1 consiste de uma ponte semi-controlada a tiristores responsável pela

retificação inicial da tensão de alimentação (rede). Este circuito recebe um sinal de comando

que viabiliza a partida progressiva (“soft-start”) da unidade retificadora que, após um tempo

determinado, passa a atuar com ângulo de disparo mínimo emulando uma ponte convencional

a diodos. O bloco 2 é responsável pela pré-regulação, correção do fator de potência e

eliminação das perdas de chaveamento do sistema. O bloco 3 realizará o ajuste final da tensão

de saída, conforme as especificações exigidas pelo usuário.

O projeto de todo o sistema foi encomendado ao INEP/UFSC pela empresa paulista

Microlite Ltda., que especificou uma potência máxima de trabalho de 3,2 kW. Tal exigência

visa atender às recentes normas da Telebrás que orientam sobre as limitações de EMI e FP de

NCapítulo

RETIFICADOR DE ENTRADA TIRISTORIZADO

COM “SOFT-START”

Page 187: Conversores Multiníveis em Corrente

175

unidades retificadoras monofásicas de até 5760W [66]. Neste capítulo serão apresentados os

detalhes de implementação do bloco 2 da Fig. 7.1, além de algumas informações sobre a etapa

retificadora. Para informações sobre o bloco 3 pode-se consultar [77].

Nos últimos anos o conversor boost convencional tem sido largamente utilizado como

circuito pré-regulador chaveado, podendo apresentar fator de potência muito próximo da

unidade [67]. Os principais motivos de sua utilização são: facilidade de projeto do sistema,

baixo custo, concordância com as normas de controle de harmônicos e EMI. A Fig. 7.2

mostra o circuito básico empregado nestes sistemas de alto FP, bem como as formas de onda

teóricas principais. Na prática tanto a corrente em Lf quanto a corrente de entrada possuem

uma ondulação em torno do valor ideal. Esta ondulação depende, entre outras coisas, do valor

de Lf, da freqüência de chaveamento e da técnica de controle. As técnicas de controle que

determinam uma corrente no indutor do tipo condução contínua (CCM) aproveitam melhor

este elemento, apresentam melhor rendimento e oferecem melhor qualidade e facilidade de

filtragem. Por estas razões decidiu-se utilizar esta alternativa no projeto proposto

v

i i

i f L f

sensor

Controle eGeração

-

+

de Pulsos

Para a carga⇒

S

D

v t( ) = 2Vsen( t)ω

Vo

Fig. 7.2 - Pré regulador monofásico com alto FP.

Por causa dos atrativos mencionados no parágrafo anterior, optou-se por implementar

o pré-regulador do sistema por meio de um conversor boost, utilizando controle do FP

monitorando a corrente média instantânea, como empregado em [68] (ou [69]). Neste caso, o

controle de corrente é feito através de um controlador PI e um sensor que monitora a corrente

de entrada e compara com a senóide retificada. Circuitos integrados especiais são disponíveis

no mercado de componentes eletrônicos, sendo capazes de englobar todo este sistema de

controle e geração de pulsos, como é o caso do UC3854 da Unitrode [70]. O diagrama de

blocos básico deste circuito integrado é mostrado na Fig. 7.3.

Page 188: Conversores Multiníveis em Corrente

176

Fig. 7.3 - Diagrama de blocos do circuito integrado UC3854® da Unitrode™.

Este integrado monitora a forma de onda senoidal retificada (pino 6 e 8) para usá-la

como referência da corrente a ser imposta (pino 5). Este sinal é comparado com a corrente do

sensor (pino 4), que normalmente é do tipo resisitivo. Uma dente-de-serra com a freqüência

de chaveamento é gerada (pino 14) sendo comparada com a rede controladora que é

conectada à entrada inversora e saída do amplificador operacional interno (pino 4 e 3,

respectivamente). Este sinal é finalmente tratado e levado ao gate por meio de um “driver” de

potência (“push-pull” com saída no pino16), sendo usado como pulso de gate com razão

cíclica variável em função do erro de tensão e corrente. A realimentação para controle da

tensão de saída é feita através do pino 11. Para este fim, emprega-se um filtro passa-baixa

implementado através de outro operacional interno (cujas entrada inversora e saída são os

pinos 11 e 7, respectivamente), visando evitar ondulação de 120 Hz na saída. O integrado

ainda possui um sistema de limitação de corrente (pino 2). Detalhes do projeto da rede

controladora de corrente serão apresentados na Seção 7.3.

Como pode ser visto da Fig. 7.2, a corrente em Lf é uma senóide retificada. Para que

esta forma de onda ocorra a razão cíclica deve adequar-se a cada período de chaveamento, já

que se deseja uma tensão de saída fixa, Vo. Por outro lado, a relação geral entre as tensões em

um conversor boost vale para todo o período da senóide de entrada. Assim, pode-se escrever:

Page 189: Conversores Multiníveis em Corrente

177

Vov( )θ

11 d( )θ ( 7.1)

Onde θ=ωt e d(θ) é a razão cíclica variável no tempo (ou em função da ângulo

elétrico). Usando a definição da tensão de entrada mostrada na Fig. 7.2 pode-se escrever:

d( )θ 1 .

.2 VVo

sen( )θ ( 7.2)

Na realidade, a razão cíclica só varia a cada período de chaveamento, TS, porque é

uma variável discreta. Quando porém, TS, for muito inferior ao período da senóide de entrada

a equação (7.2) pode ser considerada como uma aproximação muito razoável. Desta

expressão entende-se que 2 V deve ser menor que Vo. Do contrário d(θ) teria que ser

negativo quando θ fosse igual a 90ο. Para este ângulo a razão cíclica assume seu valor

mínimo, que vale:

dmin d(90

V) 1

.2Vo

o

( 7.3)

Para a técnica de controle pela corrente média a freqüência de chaveamento, fS, é fixa.

Deve-se lembrar, ainda, que durante o tempo em que S está fechada d(θ).TS a tensão de

entrada está sobre Lf. Admitindo que durante este intervalo v(θ) é fixa, pode-se escrever:

v( )θ

.Lf ∆ i( )θ

.d( )θ Ts ( 7.4)

Onde ∆i(θ) é a variação ou ondulação de corrente em função do tempo (ou ângulo),

em torno do valor instantâneo desejado. Substituindo a definição de v(θ) e (7.2) em (7.4)

pode-se obter:

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡ ⋅−=

⋅⋅

⋅∆=∆ )(21)(

2

)()( θθ

θθ sen

VVsen

VT

Lii

OS

fn ( 7.5)

Onde ∆i(θ)n é o a ondulação normalizada. Pode-se encontrar o máximo valor da

ondulação (e o ângulo para o qual ocorre, θmax) derivando (7.5) em função de θ e igualando o

resultado a zero. Isto fornece:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⋅⋅

=VV

arcsen O

42

maxθ ( 7.6)

Page 190: Conversores Multiníveis em Corrente

178

Substituindo este valor em (7.5) chega-se a:

∆ imxn

.Vo 2.8 V ( 7.7)

Onde ∆imxn é a ondulação máxima normalizada. Adotando agora V=220V e Vo=400V

pode-se representar (7.2), (7.3), (7.5) e (7.7) graficamente, como mostrado nas figuras Fig. 7.4

e Fig. 7.5. Para estes valores de tensão a equação (7.6) fornece θ=40o ou θ=140o e a equação

(7.7) revela que ∆imxn vale 0,32. As informações aqui apresentadas serão úteis para o projeto

do conversor, conforme descrito na Seção 7.3.

Raz

ão C

íclic

a

0 45 90 135 1800

0.2

0.4

0.6

0.8

1

θ [o]

Fig. 7.4 - Representação gráfica da razão cíclica em função de θ.

Ond

ulaç

ão N

orm

aliz

ada

0 45 90 135 1800

0.1

0.2

0.3

0.4

θ [o]

Fig. 7.5 - Representação gráfica da ondulação normalizada em função de θ.

É evidente que seria possível utilizar outra técnica de controle da corrente de entrada,

tal como o comando por histerese constante [67], controle por histerese variável, [71] e [72],

ou controle por valores de pico e compensação de rampa [73]. Em qualquer caso, porém,

exige-se que a técnica empregada determine uma corrente em Lf no modo de condução

contínua.

1.2 V

Vo

.Vo 2.8 V

Page 191: Conversores Multiníveis em Corrente

179

Em função das necessidades de redução de volume da estrutura, planejou-se empregar

uma freqüência de chaveamento de 70kHz. Entretanto, com esta freqüência e na faixa de

potência exigida, as perdas de chaveamento passam a exigir um volume (e peso) considerável

para os dissipadores de calor. Assim, uma estrutura que viabilize a comutação suave dos

componentes semicondutores do conversor boost deve ser associada ao sistema, objetivando

tanto a compactação quanto o aumento de rendimento da estrutura.

O trabalho realizado por Gaidzinski&Barbi, publicado nas referências [68] e [69],

envolveu uma consolidação de tecnologia na faixa de potência de 1,6 kW e empregava

MOSFETs como chave de potência. De forma a aproveitar as informações e conclusões

geradas naquele trabalho imaginou-se construir a estrutura de 3,2 kW baseada em dois

módulos de 1,6 kW, associados em paralelo através da técnica MNC de paralelismo (cf.

Capítulo 4). Desta forma, em linhas gerais, o sistema assume a forma esquematizada na

Fig. 7.6, onde a célula MNC está evidenciada.

v

i isensor

UC 3854

-

i f L f

+ Para a carga⇒

L1

SistemaComutação

Suave

"Controle por Corrente Média"

M2M1

D2

D1 Célula MNC

Vo

Fig. 7.6 - Diagrama de blocos do pré-regulador com alto FP e alto rendimento.

Este sistema também poderia ser implementado com apenas uma célula de comutação

[74], ou ainda usando módulos menores como na técnica de “interleaving” [22]. Mas estas

alternativas reportam grandes dificuldades de implementação, equilíbrio de correntes ou

otimização de layout, inconvenientes praticamente inexistentes na técnica MNC de

paralelismo, como discutido no Capítulo 4.

Existem várias formas de se incorporar um sistema de comutação não-dissipativa ao

circuito da Fig. 7.6. Uma discussão básica sobre este assunto é apresentada na próxima seção.

Page 192: Conversores Multiníveis em Corrente

180

7.2. Comutação Não-Dissipativa

Durante a operação de um conversor eletrônico as chaves semicondutoras de potência

dissipam (ou perdem) energia de diversas formas. Em geral, estes elementos respondem pela

maior parte das perdas do conversor sendo responsáveis pela redução do rendimento do

equipamento. Os semicondutores usados em chaveamento perdem energia quando estão

bloqueados, quando conduzem, quando comutam (passam de um estado para outro) ou

quando recebem um pulso de comando para condução (às vezes para o corte também,

dependendo do dispositivo). Basicamente isto acontece porque os elementos não são ideais.

Quando os componentes estão no estado bloqueado eles ainda conduzem “alguma” corrente,

já que seu comportamento no bloqueio não é o de uma resistência infinita. Quando estão no

estado de condução eles ainda assumem “alguma” tensão, já que seu comportamento de

condução não é o de um curto-circuito. Quando comutam não passam de um estado para outro

instantaneamente. Quando recebem um pulso de comando não são uma fonte controlada de

tensão ideal.

As perdas de bloqueio e de comando são, em geral, desprezíveis para a maioria dos

componentes, quando comparadas com as perdas de condução. Em conversores que operam

com freqüência baixa as perdas de chaveamento também são insignificantes. O valor máximo

da freqüência de chaveamento para validar esta afirmativa, entretanto, varia de um

componente para outro (e.g. cerca de 2 kHz em tiristores, 20 kHz em IGBTs, etc.).

Porém, com a tendência de miniaturização (redução de volume e peso) dos

conversores e equipamentos, a operação com freqüências elevadas (>50 kHz até a faixa de

MHz) tornou-se uma necessidade. Nestas condições os componentes reativos integrantes do

conversor, ou elementos externos de filtragem, podem ser significativamente reduzidos em

tamanho, numa taxa inversamente proporcional ao crescimento da freqüência. Por outro lado,

as perdas de chaveamento também aumentam consideravelmente com a freqüência. Isto

ocorre porque os tempos gastos durante a entrada em condução e bloqueio são mais ou menos

fixos (podendo, entretanto, variar com a tensão, corrente ou temperatura). A Fig. 7.7 ilustra

graficamente, de uma forma simplificada, as perdas de uma chave semicondutora de potência,

ressaltando as perdas de chaveamento.

Page 193: Conversores Multiníveis em Corrente

181

v(t)

i(t)0

0

t

t

p(t)=v(t).i(t)

OFF ON OFF

tonTempo de

Entrada em ConduçãoTempo de Bloqueio

perdas OFFperdas ON

perdas OFF

Período de Chaveamento

toff

Fig. 7.7 - Perdas principais de um componente semicondutor de potência.

Os tempos ton e toff, na Fig. 7.7, representam os tempos necessários para uma chave

entrar em condução e ser bloqueada, respectivamente. O primeiro inclui o atraso de condução

(“turn-on delay time”) e o tempo de subida (“rise time”). O segundo envolve o atraso de

bloqueio (“turn-off delay time”) e o tempo de descida da corrente (“fall time”). Estes

parâmetros são normalmente especificados pelos fabricantes e variam de componente para

componente e de tecnologia para tecnologia. Os IGBTs, por exemplo, são mais lentos no

bloqueio quando comparados aos MOSFETs, devido à sua corrente de cauda. São, por esse

motivo, menos eficientes no chaveamento.

Ora, sabe-se que, para um determinado dispositivo, os tempos ton e toff são

aproximadamente fixos, o que significa que as perdas de chaveamento são mais significativas,

no cômputo da potência média perdida total, quanto menor for o período de chaveamento. Por

este motivo os engenheiros utilizaram no passado, e ainda usam, circuitos para redução de

esforços e minimização de perdas nos componentes semicondutores, geralmente denominados

circuitos supressores ou “snubbers”.

Mais recentemente foram propostas redes auxiliares de auxílio à comutação que

esperam a tensão ou a corrente caírem a zero para efetivamente ligarem ou desligarem um

dispositivo, respectivamente. No primeiro caso a comutação ocorre com tensão nula, em geral

referenciada pelo acrônimo ZVS (“Zero Voltage Switching”). No segundo caso, diz-se que a

comutação se dá com corrente nula, ou ZCS (“Zero Current Switching”). Estes dois

processos podem estar presentes em determinadas técnicas de comutação suave. Dependendo

da chave semicondutora empregada um determinado tipo de técnica de comutação suave

torna-se mais adequada ou não. Como mencionado, os IGBTs possuem normalmente uma

corrente de cauda no bloqueio, o que acentua as perdas no corte. Por esta razão é mais

Page 194: Conversores Multiníveis em Corrente

182

recomendável empregar uma técnica ZCS de comutação suave quando estes elementos forem

utilizados. Por outro lado, técnicas ZVS têm sido mais empregadas em conversores à

MOSFET, já que se beneficiam da maior capacitância “drain-source” destes elementos. Nesta

situação é até possível prescindir de elementos capacitivos externos no processo de

ressonância da comutação.

Uma grande variedade de técnicas de comutação ZVS tem sido proposta nos últimos

anos. Conversores quasi-ressonantes (QRC), multi-ressonantes (MRC), “quasi-square wave”

ressonantes (QSC) e outros podem operar com comutação suave em tensão mas, em geral,

impõem às chaves e demais elementos consideráveis esforços de tensão ou corrente (ou

ambos) [75]. Mais recentemente, as técnicas ZVT-VPEC e ZVS-INEP foram propostas e

apresentam desempenho muito superior às demais, já que impõem às chaves mínimos

esforços de tensão ou corrente (de forma muito similar aos ocorridos numa comutação PWM

dissipativa convencional).

A técnica ZVT (“Zero Voltage Transition”) foi proposta em 1992 pelo Virginia Power

Electronics Center - VPEC, sendo mostrada na Fig. 7.8 adaptada ao conversor boost [75].

S aDa

L rC rIf

Vo

D

M

Fig. 7.8 - Conversor boost com rede ZVT de comutação suave.

Na Fig. 7.8 a rede ZVT foi destacada e envolve uma chave auxiliar, Sa, um diodo

auxiliar, Da, e um indutor de ressonância, Lr. Conforme mencionado, o capacitor de

ressonância, Cr, pode ser considerado como sendo a capacitância parasita “drain-source” do

MOSFET. Para efeito de análise a corrente no indutor de entrada, If, e a tensão de saída, Vo,

são admitidas constantes durante a comutação; e os elementos semicondutores são

considerados ideais.

Resumidamente o processo de comutação suave tem sete etapas e inicia-se quando o

diodo D está conduzindo em roda-livre. No início da primeira etapa a chave Sa é disparada

(entrada ZCS) e o indutor Lr começa a se carregar linearmente, já que está polarizado com a

tensão de saída Vo por meio de D. Quando a corrente em Lr atinge a corrente de entrada, If, o

diodo D sai de condução (bloqueio ZVS) e começa a segunda etapa com a ressonância entre

Page 195: Conversores Multiníveis em Corrente

183

Lr e Cr. A tensão de Cr, que valia Vo, começa a cair até zero, momento em que o diodo anti-

paralelo de M entra em condução, configurando a terceira etapa. Este é o momento adequado

para início de condução de M (entrada ZVS) e posterior corte de Sa. Na quarta etapa Sa sai de

condução e Lr descarrega-se linearmente até zero através de Da (que entra em condução

dissipativa). Quando a corrente em Lr zera, Da também sai de condução (bloqueio ZCS). Na

quinta etapa o processo é totalmente idêntico a um conversor convencional com M em

condução. Na sexta etapa, quando M recebe o sinal de bloqueio, seu capacitor intrínseco, Cr,

carrega-se linearmente de zero até Vo em função da corrente de entrada If, configurando um

bloqueio ZVS de M. Ao final deste processo começa a sétima etapa, onde D passa a conduzir

em roda livre (com entrada em condução ZVS) e o processo inicia outro ciclo. A Fig. 7.9

mostra o plano de fase envolvendo todas as etapas.

iLr

vCr

1

23

4

5 6 7

If

Vo0

Fig. 7.9 - Plano de fase do processo ZVT para o conversor boost.

Em função do bloqueio dissipativo da chave auxiliar, Sa, recomenda-se que ela

também seja um MOSFET, devido ao menor tempo de bloqueio (e menores perdas que um

IGBT). Em determinadas aplicações práticas pode ser necessária a adoção de um indutor

saturado em série com o indutor ressonante para supressão de oscilações espúrias, bem como

um diodo rápido em série com estes elementos para evitar a condução do diodo anti-paralelo

intrínseco à chave auxiliar [75].

A técnica ZVS-INEP foi proposta em 1993 pelo Instituto de Eletrônica de Potência da

UFSC, sendo mostrada na Fig. 7.10 adaptada ao conversor boost [76]. Como pode ser visto,

esta técnica emprega uma fonte de tensão adicional no processo de comutação. Este elemento

é importante no processo de bloqueio não-dissipativo da chave auxiliar. A Fig. 7.10b mostra

uma maneira prática de implementação deste elemento.

Page 196: Conversores Multiníveis em Corrente

184

S a

Da

L r

If

Vo

D

M

C r

VaS a

DaL r

If

Vo

M

C r

Va

Dm

(a) (b)

Fig. 7.10 - Técnica ZVS-INEP aplicada ao conversor boost.

(a) Circuito ideal; (b) sugestão para implementação prática.

O funcionamento do circuito ZVS da Fig. 7.10 envolve sete etapas e pode ser

explicado admitindo-se, inicialmente, que o diodo boost D conduz em roda-livre (e,

conseqüentemente, Cr está descarregado). Na primeira etapa a chave Sa é disparada e a

corrente em Lr começa a crescer linearmente. A segunda etapa inicia quando esta corrente

atinge If e o diodo D entra em corte por ação ZVS devido à presença de Cr em paralelo. Nesta

etapa ocorre a ressonância entre Lr e Cr, situação que faz crescer a corrente ressonante bem

como a tensão em Cr (no sentido indicado na figura). A terceira etapa tem início quando esta

tensão atinge Vo. Neste momento a tensão sobre M atinge zero e seu diodo anti-paralelo

começa a conduzir, descarregando Lr. Este é o momento oportuno para disparar M (que entra

em condução ZVS). Entretanto, a corrente neste elemento só se torna positiva quando a

corrente em Lr cai a If e o diodo anti-paralelo deixa de conduzir. Neste instante começa a

quarta etapa com a corrente em M crescendo e no indutor ressonante decrescendo linearmente

(em função da tensão em oposição Va). Quando a corrente em Lr cai a zero a chave auxiliar Sa

sai de condução por uma transição suave de corrente, ZCS. Na quinta etapa existe apenas a

etapa boost convencional com M conduzindo, D cortado, Lr descarregado e Cr carregado com

Vo. Na sexta etapa M recebe um sinal de bloqueio e sai de condução por transição ZVS,

devido à sua capacitância parasita (não representada na figura). Nesta etapa Cr descarrega

linearmente até zero. Na sétima etapa, que é a mesma condição considerada no início, D

novamente conduz (entrada em condução ZVS) e o processo pode reiniciar no momento

oportuno (ciclo seguinte).

A Fig. 7.11 mostra a representação simbólica destas etapas em um plano de fases.

Page 197: Conversores Multiníveis em Corrente

185

i Lr

vCr

2

3

4567

If

Vo0

1

Fig. 7.11 - Plano de fase da técnica ZVS-INEP para o conversor boost.

Pela comparação das descrições de funcionamento destas duas técnicas e dos planos

de fase da Fig. 7.9 e Fig. 7.11 pode-se perceber que elas têm muito em comum. Ambas

possuem sete estados de funcionamento, apenas um estado ressonante e permitem a

comutação suave das chaves principais (M e D). Ainda, nos dois casos, a rede auxiliar exige

componentes semicondutores dimensionados para uma fração reduzida de corrente e potência,

quando comparados aos componentes principais.

No entanto, a técnica ZVT possui a vantagem de exigir um número menor de

componentes auxiliares (se for desconsiderada a estrutura L-D extra para redução de

oscilações espúrias). Por outro lado, a técnica ZVS-INEP viabiliza o bloqueio ZCS da chave

auxiliar, Sa, determinando uma menor potência dissipada, melhor rendimento, menor volume

e peso do dissipador necessário. As duas técnicas constituem, portanto, excelentes opções em

uma implementação prática.

As duas alternativas de comutação suave, descritas nesta seção, podem ainda ser

otimizadas pelo uso do comando via tiristor dual [78], [79]. Por esta técnica a chave principal

pode receber um sinal de comando em qualquer instante, mas só entrará em condução quando

a tensão em seus terminais cair a zero (ou, na prática, próximo de zero). Este é o

comportamento exatamente dual do tiristor convencional, por isso a denominação empregada.

A Fig. 7.12 mostra uma maneira simplificada de se representar este elemento, onde ficam

distintos o ponto de comando externo e o gate interno efetivo do dispositivo. O esquema

utilizou um MOSFET, mas poderia ser aplicado a um transistor bipolar, IGBT, etc.

Page 198: Conversores Multiníveis em Corrente

186

vgate

vds

drain

source

Comando

Fig. 7.12 - Tiristor dual.

Optou-se neste trabalho por implementar o sistema proposto utilizando a técnica ZVT

sugerindo, como desenvolvimento futuro, o emprego e comparações em relação à técnica

ZVS-INEP. Assim, a forma final do circuito a ser implementado é a da Fig. 7.13, onde foram

utilizados dois diodos adicionais, Da1 e Da2, a fim de evitar o uso de dois indutores

ressonantes (mais pesados e mais volumosos).

v

i isensor

UC 3854

-

+Para a carga

"Controle por Corrente Média"

M2M1

i f L f L1D2

D1

Vo

L r

Sa

Da1

Da2

Da3

ZVT

Fig. 7.13 - Pré-regulador boost ZVT com FP unitário.

A Fig. 7.14 mostra os resultados simulados para um conversor boost MNC-2 células

empregando a rede ZVT mostrada na Fig. 7.13, bem como o conceito de tiristor dual. Não foi

incluído na simulação o processo de correção de fator de potência, a fim de dar ênfase ao

funcionamento da técnica de comutação suave. A simulação empregou elementos “quase-

ideais” com os seguintes parâmetros: If=20A; V0=400V; fS=71,4 kHz; L1=15µH; Lr=10µH e

Cr1=Cr2=2nF (capacitores ressonantes). O arquivo de descrição de circuitos (“.cir”) é

mostrado no Apêndice A (b2izvtid.cir). A Fig. 7.14a revela, principalmente, o bom

funcionamento do tiristor dual que libera o pulso de gate para as chaves apenas quando a

tensão no capacitor ressonante cai a zero. Na Fig. 7.14b observa-se que as duas chaves entram

Page 199: Conversores Multiníveis em Corrente

187

e saem de condução com comutação ZVS. Em outras palavras, a corrente só circula na chave

quando a tensão em seus terminais cai a zero. Durante o bloqueio o mesmo se verifica, pelo

crescimento da tensão após a queda da corrente. Deve-se observar, ainda, que o objetivo

básico da técnica de paralelismo é preservado, já que as chaves conduzem uma corrente que é

a metade da corrente de entrada (20÷2=10A). Detalhes sobre o projeto da rede auxiliar ZVT,

bem como do sistema como um todo, serão apresentados na próxima seção.

(a) (b)

Fig. 7.14 - Comutação suave no conversor boost MNC-2 células. De cima para baixo: (a) corrente em Lr, tensão em Cr1; comandos e gate interno do tiristor dual;

(b) tensão em S1, tensão em S2, corrente em S1 e corrente em S2.

7.3. Orientações de Projeto

Antes da escolha dos elementos principais do sistema da Fig. 7.13, deve-se quantificar

as grandezas elétricas propostas. Para uma potência de 3,2 kW máxima na carga e supondo

um rendimento da estrutura de 95% a potência de entrada máxima será 3,4kW. Admitindo

±15% de variação na tensão de entrada o pior caso de corrente ocorre para uma tensão de

187Vrms. Nesta situação a corrente de entrada será de 18,2Arms ou 25,7A de pico. Nesta

situação as chaves irão conduzir uma corrente máxima de 12,9A (desconsiderando o ripple).

Page 200: Conversores Multiníveis em Corrente

188

É evidente que, com uma tensão de saída de 400V fixa, a carga se comportará como uma

resistência mínima de 50Ω.

O valor da indutância de entrada, Lf, pode ser calculado de forma a reduzir a

ondulação absoluta máxima de corrente de entrada, ∆imax . O valor máximo do ripple

normalizado é dado por (7.7), que substituído em (7.5) fornece:

LV T

4 ifo s

max≥

∆ ( 7.8)

Pode-se projetar o indutor aceitando uma ondulação máxima de 20% na corrente

(entrada ou em Lf), o que para os valores propostos significam 4,52A. Para uma freqüência de

70kHz, TS vale 14,2µs. Substituindo estes valores em (7.8) encontra-se Lf ≥ 314,2 µH. Se um

ripple de 10% for exigido este valor deve ser dobrado. Neste projeto será empregado

Lf=700µH, porém um resultado muito satisfatório ainda seria alcançado com metade deste

valor (bastando apenas acrescentar uma pequena filtragem capacitiva adicional no lado ca).

O indutor de grampeamento, L1, pode ser calculado por (4.7) sem o fator

multiplicativo 2 (que só é usado para n ≥3). Sabe-se ainda que os MOSFETs são dispositivos

mais rápidos que os IGBTs, apresentando menores divergências no chaveamento. Assim, com

m=1,2; n=2; VMAX=V0=400V; ∆t=20ns e IC=If=25,7A encontra-se Lf=7,4µH. Um indutor de

10µH foi utilizado no protótipo experimental.

Os componentes semicondutores principais (M1, M2, D1 e D2) podem ser

dimensionados através de simplificações nas descrições de suas variações no tempo[80].

Além disso, sabe-se que os MOSFETs são escolhidos basicamente por sua corrente eficaz,

enquanto que os diodos são determinados por sua corrente média. A corrente instantânea

nestes elementos é sempre a metade da corrente, if, no indutor boost. Desprezando a

ondulação desta corrente pode-se escrever:

iP

VI pf sen sen( ) ( ) ( )θ θ θ= =

2 ( 7.9)

Onde P é a potência máxima e V é a tensão eficaz de entrada mínima, para o pior caso.

Assim, metade deste valor está ora circulando no MOSFET [durante d(θ)], ora circulando no

diodo [durante 1-d(θ)]. Observando a evolução da razão cíclica d(θ), representada

graficamente na Fig. 7.4, nota-se que as chaves conduzem mais nas proximidades dos pontos

de zero da tensão (ou corrente). Na metade do semi-período a razão cíclica é mínima e as

chaves apresentam uma baixa corrente média instantânea e grande esforço de corrente. Por

Page 201: Conversores Multiníveis em Corrente

189

outro lado, os diodos apresentam uma corrente média que evolui senoidalmente, com

máximos nas metades dos semi-períodos (o que pode ser entendido invertendo-se o gráfico da

Fig. 7.4, que é o mesmo que subtrair de um cada ponto da figura). Esta característica constitui

uma formação mais adequada para ser descrita no tempo por sua variação média instantânea,

que pode ser expressa por:

i i dD f( ) ( ).[ ( )]θ θ θ= −1 ( 7.10)

Substituindo a definição de d(θ), dada por (7.2), na equação (7.10) pode-se determinar

o valor médio da corrente no diodo através de:

iDmed.1

πd

0

πθ

Ip2

sen( )θ V.2Vo

sen ( )θ

( 7.11)

Que resolvendo dá:

iDmed

..Ip 2 V.4 Vo

P.2 Vo ( 7.12)

Também é possível encontrar o valor eficaz da corrente no diodo através da expressão:

iDrms.1

πd

0

π

θ.Ip2 sen( )θ

.2 VVo

sen( )θ2

( 7.13)

Cuja solução é:

iDrms

..3 V Ip.4 Vo ( 7.14)

Outra informação geral, a respeito dos conversores cc-cc é:

i i ifrms Srms Drms

2 2 2= + ( 7.15)

Onde ifrms e iSrms são as correntes eficazes no indutor Lf e nas chaves ativas,

respectivamente. No caso do paralelismo a corrente de entrada deve ser reduzida à metade.

Desta forma, a corrente eficaz à esquerda do sinal de igualdade em (7.15) vale:

ifrmspI

2 2= ( 7.16)

Page 202: Conversores Multiníveis em Corrente

190

Assim, substituindo esta informação e (7.14) em (7.15) pode-se encontrar:

iSrms

Ip2

8

..3 V Ip.4 Vo

2

.Ip.4 Vo

.2 Vo2 .3 V2

( 7.17)

Existe, porém uma abordagem mais rigorosa para o cálculo da corrente eficaz nas

chaves ativas do conversor boost PFC. Ela consiste em integrar o somatório dos quadrados

das correntes para cada período de chaveamento (aproximando a corrente na chave pela

metade da corrente instantânea no indutor boost e excluindo o ripple) até o fim do semi-

período. Finalmente este resultado é multiplicado por 2/T, onde T é o período da senóide.

Deste produto é, então, extraída a raiz quadrada:

iSrms

.2

T= 0

M 1

k

d

.k

.k .d( ).( )k T

t2.P

.2 Vsen ( )2π f k

2S

TS

TSTS

TS . ( 7.18)

Onde M é o número de períodos de TS contidos em ½ T. Em outras palavras M vale

fS/(2f), sendo f a freqüência da senóide. A equação (7.18) é mais facilmente computada com o

auxílio de um software de apoio matemático, como o MathCad®.

Finalmente, usando os valores para o pior caso, determinados no primeiro parágrafo

desta seção, a corrente eficaz nos MOSFETs será 7,38A por (7.17) ou 6,13A, por (7.18). O

segundo resultado é mais preciso, porém mais trabalhoso (não é fruto de uma equação direta).

O primeiro cálculo, apesar de impreciso, pode ser empregado já que orienta um projeto com

maior margem de segurança.

Usando os mesmo valores de pior caso para (7.12), encontra-se que a corrente média

no diodo vale 4,3A. Observando ainda os valores de pico repetitivo e tensão reversa resolveu-

se adotar o MOSFET IRFP450 (500V; 8,8A@100oC; 0,4Ω) e diodos MUR850 (500V,

8Acc/16Amax).

Os elementos ressonantes podem ser escolhidos de forma que a transição suave ocorra

durante um intervalo desprezível, comparado ao período de chaveamento TS. Para a técnica

ZVT, o tempo de comutação, tC, dura [75]:

tL iV

L Cr fr rC

o= +

π2

( 7.19)

Page 203: Conversores Multiníveis em Corrente

191

Onde if é a corrente na entrada da célula, que no paralelismo é a metade da corrente no

indutor Lf. Deve-se observar ainda que esta corrente varia em todo o semi-período da tensão

da rede. Assim, a comutação demora mais na metade do semi-período, ou seja, em θ=90o.

Nesta condição a corrente vale, para o pior caso, cerca de 13A. Adotando arbitrariamente

Lr=10µH e impondo à comutação um máximo de 5% do período de chaveamento (0,7µs para

um chaveamento de 70kHz), encontra-se que o capacitor ressonante deve ser menor que

5,7nF. Deve-se lembrar ainda que, deste valor, pode ser subtraído o valor das capacitâncias

intrínsecas do diodo e do MOSFET, para cada célula. Para os componentes adotados isto

significa uma capacitância extra menor que 2nF.

Apesar do indutor ressonante ser de mesma indutância que o indutor de equilíbrio, a

construção física deles difere. Isto ocorre porque o indutor de equilíbrio atua como uma fonte

de corrente com ondulação desprezível, o que não é verdade para o indutor de ressonância.

Assim, o projeto deste último deve levar em consideração a particularidade da alta freqüência

na corrente (efeito “skin”). Alguns detalhes sobre a implementação destes elementos serão

apresentados no diagrama completo, ao final desta seção.

O tempo de duração do pulso da chave auxiliar deve ser maior que tC. Adotou-se um

pulso de gate para esta chave igual a 1µs.

Os elementos semicondutores do circuito ZVT (chave e diodo) são projetados para

uma fração da potência das chaves principais. Ambos conduzem, durante um pequeno

intervalo do período de chaveamento, uma corrente que é maior que o pico nas chaves (Ip/2).

Deve-se atentar ainda para o fato de que a chave bloqueia com comutação dissipativa, o que

exigirá alguma área de dissipação no dissipador (que pode envolver todos os elementos,

inclusive os principais). Por simplicidade escolheu-se no protótipo de laboratório os mesmos

elementos usados para chaves principais. Utilizando os cálculos convencionais para projeto

de dissipadores [59], encontra-se que este elemento deverá possuir uma resistência térmica

inferior a 0,49oC/W.

O projeto da rede controladora de corrente, que será associada ao circuito integrado

UC3854 deve partir da resposta dinâmica do conversor boost MNC-2 células, discutido de

forma básica no Capítulo 3, Seção 3.6. No entanto, algumas informações ligados ao circuito

integrado são necessárias para a utilização daquelas equações. A Fig. 7.15 mostra os

componentes externos e internos ao UC3854 especificamente destinados à compensação de

corrente monitorada pelo sensor resistivo, RS. Os elementos externos constituem uma

alternativa de controle recomendada pela Unitrode e que foi adotada em [68] e [69], para um

Page 204: Conversores Multiníveis em Corrente

192

sistema de 1,6kW. De forma a aproveitar este desenvolvimento, a mesma orientação foi

seguida para o sistema de 3,2kW aqui proposto.

R

Latch

i f

MULT

3,7 Vpp

5 4 3

R 1 R 2

UC3854

C 1

C2

R 3

AmplificadorSensor de Corrente

R S

sensor

R 2 R 3=

comparador PWM

vC

Fig. 7.15 - Detalhe do controlador de corrente (dentro e na periferia do UC3854).

A função de transferência da corrente no indutor boost (que se deseja controlar) tem a

mesma forma apresentada na equação (3.51) (cf. Capítulo 3). Porém, para efeito de

escalonamento aos níveis do integrado UC3854, há que se considerar a influência do sensor

resistivo, RS, e do valor pico-a-pico da dente de serra: 3,7V. Assim, (3.51) assume a forma:

i ( )sv ( )s ..s2 Lf L1

...2 Lf r .r L1 s r2

.Vo .2 r .s L1f

R S3,7

CG (s) =f

. ( 7.20)

Onde vC(s) é a tensão do controlador (cf. Fig. 7.15) [59]. O valor do sensor resistivo é

o mesmo utilizado em [69], ou seja 0,1Ω. Porém, cabe aqui uma ressalva. Para o sistema

proposto este elemento dissipa uma potência de até 33W, desconsiderando a ondulação. Em

uma implementação comercial seria interessante reduzir este valor à metade, ou mesmo a um

quarto, a fim de melhorar o rendimento do produto final.

Todos os parâmetros de (7.21) já foram definidos nesta seção, com exceção de r.

Como se sabe, r depende das resistências de condução das chaves ativas e diodos, bem como

da razão cíclica. Ora, para o presente caso a razão cíclica varia de cerca de 20% até 100% (cf.

Page 205: Conversores Multiníveis em Corrente

193

Fig. 7.4), o que implica em r variável. Entretanto, por simplicidade, será adotada uma razão

cíclica de 60%, que não é uma suposição precisa mas, por outro lado, não determina erro

considerável na operação do controlador, conforme mostrado ao fim desta seção. Para a

definição final de r será considerado que os MOSFETs possuem resistência de condução igual

a 0,4Ω, enquanto os diodos operam com 50mΩ, o que determina r=0,26Ω.

A resposta em freqüência do sistema [equação (7.20)] pode, agora, ser plotada em

gráficos de Bode, como mostra a Fig. 7.16.

20 lo

g |G

f(jω

)| [

dB]

1 10 100 1000 1 104 1 10540

20

0

20

40

60

fase

[o ]

1 10 100 1000 1 104 1 105100

80

60

40

20

0

Freqüência [Hz]

Fig. 7.16 - Resposta em freqüência da corrente no indutor boost.

Os valores dos resistores R2 e R3 podem ser determinados considerando que a corrente

no indutor boost (e no sensor) poderá atingir um valor máximo de 25,7A. Assim, por meio de

uma fórmula do fabricante tem-se [70]:

R RR RS

2 3

25 71875

= =, . .

,SET ( 7.21)

A equação original em [70] utiliza um denominador igual 3,75 (que é o dobro do

empregado aqui) em função da operação bi-volt (110-220V), que não é adotada neste projeto.

O valor de RSET está relacionado com a freqüência de chaveamento, tendo sido adotado aqui o

Page 206: Conversores Multiníveis em Corrente

194

mesmo valor sugerido em [69] e [70], ou seja 15kΩ. Para estes valores empregados, a

equação (7.19) fornece R2=R3=20,6kΩ. Foi adotado um valor de 22kΩ.

As demais recomendações e orientações para escolha da rede compensadora podem

ser encontradas em [69] e [70], sendo omitidas aqui. Os valores propostos nestas referências,

que também serão empregados no sistema proposto são: R3=82kΩ, C1=680pF, C2=68pF. A

função de transferência do controlador de corrente mostrado na Fig. 7.15 é:

H sR C s

R C C sR C CC C

sC ( )

( )

( )=

− +

++

+⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

3 1

2 1 23 1 2

1 2

1

1 . ( 7.22)

Cuja resposta em freqüência é mostrada na Fig. 7.17.

20 lo

g |H

C(jω

)| [

dB]

10 100 1000 1 104 1 105 1 10640

20

0

20

40

60

fase

[o ]

10 100 1000 1 104 1 105 1 106100

80

60

40

20

Freqüência [Hz]

Fig. 7.17 - Resposta em freqüência do controlador de corrente, HC(jω).

Como pode ser verificado, o controlador possui um zero e dois pólos (sendo um deles

na origem). Em linhas gerais, com os valores escolhidos para os parâmetros, obtém-se um

ganho de faixa plana de 11dB, o zero em uma freqüência de 3kHz (bem acima de 120Hz, que

Page 207: Conversores Multiníveis em Corrente

195

é a freqüência de variação da corrente e da razão cíclica), e o pólo não alocado na origem

numa freqüência dez vezes superior à do zero (ou seja, 30kHz). Estas características podem

ser verificadas na Fig. 7.17.

O ganho do sistema controlado em malha aberta pode agora ser representado

graficamente para verificação do desempenho e condições de estabilidade. Para tanto, basta

multiplicar (7.20) por (7.22) e substituir os parâmetros do sistema prático. Esta representação

no domínio da freqüência é apresentada na Fig. 7.18.

20 lo

g |G

fHC

(jω

)| [

dB]

10 100 1000 1 104 1 105 1 10680

40

0

40

80

120

fase

[o ]

10 100 1000 1 104 1 105 1 106180

160

140

120

100

Freqüência [Hz]

Fig. 7.18 - Resposta do sistema controlado em malha aberta, GH(s).

A função de transferência em malha aberta, representada na Fig. 7.18, revela que a

proposta de controle para o sistema atende às exigências convencionais de estabilidade. Em

resumo, o sistema controlado em malha aberta apresenta:

Page 208: Conversores Multiníveis em Corrente

196

• Pólo na origem.

• Freqüência de cruzamento perto de 10 kHz (fS/7).

• inclinação de -20dB/dec na freqüência de cruzamento.

• margem de fase de cerca de 55o.

Para comprovar a relativa independência destes critérios de estabilidade, quanto à

variação de r (durante um período da rede) o diagrama de Bode da Fig. 7.18 foi plotado para

alguns valores de r entre 0,1Ω e 0,4Ω, correspondendo a uma variação de D entre 20% e

100%. Estas curvas são mostradas na Fig. 7.19, onde se comprova que o sistema continua

estável apesar da incerteza de r.

20 lo

g |G

f Hc(

jω)|

10 100 1000 1 104 1 105 1 10680

40

0

40

80

120

fase

[o ]

10 100 1000 1 104 1 105 1 106180

160

140

120

100

Freqüência [Hz]

Fig. 7.19 - Influência de r na estabilidade do sistema controlado.

A Fig. 7.20 mostra as formas de onda simuladas de tensão e corrente na entrada do

pré-regulador controlado com o mesmo controlador discutido nesta seção. Os parâmetros são

os mesmos e foram empregados modelos de elementos reais para os semicondutores. A

simulação também emprega a técnica de tiristor dual e só não considera, por simplicidade, o

controle da malha de tensão. O arquivo de descrição do circuito (“.cir”) é apresentado no

Page 209: Conversores Multiníveis em Corrente

197

Apêndice A (bofplab.cir). A Fig. 7.21 mostra as correntes no indutor boost e no indutor de

grampeamento revelando que, desconsiderando a ondulação, a primeira é o dobro da segunda.

Fig. 7.20 - Tensão e corrente na entrada do pré-regulador de 3,2kW.

Fig. 7.21 - Corrente em Lf e no indutor de equilíbrio simuladas.

A Fig. 7.22 mostra as formas de onda de tensão e corrente nos dois MOSFETs

principais para verificação do processo de comutação suave. Como pode ser verificado, nos

dois casos a corrente só começa a fluir nos dispositivos quando a tensão dreno-fonte cai

totalmente a zero (ou próximo disso, no caso prático). Já no processo de bloqueio existe

interseção entre a corrente em queda e a tensão em ascendência. Na verdade os dispositivos

semicondutores estão efetivamente bloqueados durante esta ocorrência e o que se vê é o

processo de carga da capacitância intrínseca dos MOSFETs que não representa, portanto,

dissipação de energia nos elementos. Desta forma fica garantida a redução quase a zero das

perdas de chaveamento nos elementos principais.

Tensão de Entrada

Corrente de Entrada

Page 210: Conversores Multiníveis em Corrente

198

Fig. 7.22 - Detalhe da distribuição de corrente e comutação suave das chaves.

[Em cima: MOSFET M1 (tensão e corrente); Em baixo: MOSFET M2 (tensão e corrente)].

No final do Capítulo 3 ficou comprovado que o conversor boost MNC pode ser

compreendido, sob o ponto de vista dinâmico, como um conversor boost convencional. Tal

declaração decorre das equações simplificadas para a corrente no indutor boost (Vo/sLf) e no

indutor de equilíbrio (Vo/2sLf): equações (3.57) e (3.59). Este comportamento fomenta a idéia

de se controlar o conversor boost PFC por meio do monitoramento da corrente no indutor de

equilíbrio. Em alguns casos, esta possibilidade pode representar redução das perdas no sensor,

já que a corrente é reduzida à metade, enquanto as perdas são função do quadrado da corrente.

Por outro lado, o projeto rigoroso neste sentido, deve levar em conta a função de transferência

completa da corrente no indutor de equilíbrio (cf. Fig.3.16).

Para os mesmos parâmetros adotados neste projeto e considerando um sensor de

corrente de 10 mΩ ( e uma posterior amplificação de tensão de 10 vezes), a função de

transferência da corrente no indutor de equilíbrio, G1(s), fica:

G ( )s.r 0,01

10,3 7

..s2 Lf L1

...2 Lf r .r L1

s r21

Vo

. ( 7.23)

Page 211: Conversores Multiníveis em Corrente

199

Esta função é representada em diagramas de Bode na Fig. 7.23. Por outro lado, o

controlador para este sistema também precisa ser modificado. Uma sugestão é:

Hn( )s ..R

3R

1R

2

.R2

R1

.1.C

2R

3

s 1.C

1R

1R

2

s

s 1.C

1R

1

s ( 7.24)

20 lo

g |G

1(jω

)| [d

B]

1 10 100 1000 1 104 1 10560

40

20

0

20

40

fase

[o ]

1 10 100 1000 1 104 1 105180

140

100

60

20

20

Freqüência [Hz]

Fig. 7.23 - Resposta em freqüência da corrente no indutor de equilíbrio.

Se R1=1,67kΩ; R2=5kΩ; R3=100kΩ; C1=3nF e C2=2nF, a função de transferência do

controlador assume a forma no domínio da freqüência mostrada na Fig. 7.24.

A função de transferência em malha aberta é representada na Fig. 7.25. Para o sistema

controlado desta forma obtém-se boas condições de estabilidade, tais como:

Page 212: Conversores Multiníveis em Corrente

200

• Pólo na origem.

• Freqüência de cruzamento perto de 20 kHz (≈fS/4).

• inclinação de -20dB/dec na freqüência de cruzamento.

• margem de fase de cerca de 50o.

20

log

|Hn(

jω)|

[dB

]

1 10 100 1000 1 104 1 105 1 1060

50

100

fase

[o ]

1 10 100 1000 1 104 1 105 1 106100

50

0

50

Freqüência [Hz]

Fig. 7.24 - Resposta em freqüência da função de transferência de Hn(s).

Este sistema foi simulado no programa Pspice® e as principais formas de onda foram

representadas na Fig. 7.26. É fácil perceber que o pré-regulador também torna o FP perto da

unidade e ainda se consegue um excelente equilíbrio de corrente entre as chaves da estrutura.

A opção de monitorar a corrente no indutor de equilíbrio exige alguns cuidados

práticos a mais que a opção convencional e não foi usada no protótipo de laboratório. Fica, no

entanto, a comprovação de sua validade e possibilidade de emprego no futuro.

Page 213: Conversores Multiníveis em Corrente

201

20 lo

g |G

1. H

n(jω

)| [d

B]

1 10 100 1000 1 104 1 105 1 10680

40

0

40

80

120

fase

[o ]

1 10 100 1000 1 104 1 105 1 106180

165

150

135

120

105

90

Freqüência [Hz]

Fig. 7.25 Resposta em freqüência do sistema controlado (malha aberta).

(a)

(b)

Page 214: Conversores Multiníveis em Corrente

202

Fig. 7.26 - Formas de onda com monitoramento da corrente no indutor de equilíbrio.

De cima para baixo: a) Tensão e corrente de entrada (x10);

b) Corrente no indutor boost e no indutor de grampeamento.

7.4. Resultados Experimentais

Baseado no projeto descrito na seção anterior foi montado o protótipo de laboratório

mostrado na Fig. 7.27. A Fig. 7.28 mostra o diagrama do circuito de partida progressiva

(“soft-start”), associado ao circuito experimental, que pode ser usado para evitar crescimento

indesejado das correntes no pré-regulador. Em um sistema comercial, o circuito parte

progressivamente, através do comando desta rede auxiliar, até atingir a situação de regime

permanente.

220VCA

DJ

30A+

30A

Ci

2uF/250VCA

1

~

EE-65/2676 TURNS2X15 AWG

12 mm

Lf

6

Da1

Da2

Lr

M1 M2

9

R4470K1/2W

P150K

R53K3

4Da3

Ca27nF/630V

Ma

Re1180K

Re2180K

Co1

3 x 680uF/250V

Co2

3 x 680uF/250V

1/2W

+

400VDC

Pmd Vout

9

10

R24270R

R25680R

Q5BC327

D4 1N4148

D511DF4

1/2W

-

R22680R

Q3BC327

D1 1N4148

Q4BC327R23

470R

D211DF4

6

7

C3

100nFR618K

R21270R

5

R3 C1

22K

82K 680pF

1N4744

10

11

12

13

1N4744

R82K2 22K

R1

R2

Rsh100mR

2 3

7

8

1N4744

-~

52

9

220K

R95K470pF

C9

1uFC8

74 3

68pF

C2

11

R7

120K

8 R26470R

Q6BC327

11

C15820pF

BC337Q1

Q2BC327 13

12

16R19

120R

4

3

5

2

1

13

8

C1368pF

R1710K

R204K7

6

CD4528

C1422uF

Dz11N47441/2W

12 1

16

R1615K

Dz21N4747

10 13 14

UC3854

C5C4R15

1.2nF1uF18K470nF

6

8 15

C10

C7R1422K

R13

R11

820K

R10

4,7uF/25V

82K

R121M

100nFC6

220VCA

Ta11

12 220V/30V200mA

C12100nF

C11

100uF/63V

R18 100R

5W

D31N4001

Dz31N4747

25V

(DOIS INDUTORES DE 1.4mH)

1 nF

1 nF

D1

D2

DIODOS: MUR850

L1

MOSFET'S: IRFP 450

SOFT-START

RETIFICADOR

COM

Fig. 7.27 - Diagrama completo do circuito implementado em laboratório.

L1: 10µH EE 30/07 - Thornton

8 turns 2 x 15 AWG

0.24 mm

Lr: 10µH EE 30/07 - Thornton

16 turns 13 x 26 AWG

0.96 mm

Obs.: O sensor resistivo: RSH foi construído utilizando 10 resistores de

1Ω/2W em paralelo, localizados na placa de comando.

Page 215: Conversores Multiníveis em Corrente

203

1N4148

1N4148

120K

1N4001

220Vac

~

~

220uF63V

220V/24V200mA

781582nF22uF

25V

5

47K 68nF

16 13 611

9 1014 15 1 12

TCA 780470uF

25V

1N4370 3K3

3K9BC337

3K91K5

BC337

BC337

220R1/2W

1N4148

1N4148

+

100nF220R1/2W100nF

220Vac

~

~28/04

RESISTENCIA TERMICA DODISSIPADOR = 0,7 C/W

SKBH

82nF

Fig. 7.28 - Diagrama do retificador de entrada e circuito “soft-start”.

A Fig. 7.29 mostra as formas de onda da tensão e corrente (não-filtrada) na entrada do

sistema. É fácil perceber que as duas grandezas estão completamente em fase (cosφ=1) e que

a forma de onda da corrente apresenta baixíssima distorção (THD ≈ 0), desconsiderando a

deformação já existente na tensão da rede. Assim, pode-se concluir que o sistema final

apresenta um fator de potência muito próximo da unidade.

Fig. 7.29 - Tensão e corrente de entrada (100 V/div; 10A/div; 2ms/div).

Tensão de Entrada

Corrente de Entrada

Page 216: Conversores Multiníveis em Corrente

204

A Fig. 7.30 mostra as correntes no indutor boost, Lf, e no indutor de equilíbrio, L1.

Pode-se perceber que a relação básica do conversor MNC-2 células foi mantida, já que a

corrente de equilíbrio é metade da corrente no indutor de entrada. Esta relação é suficiente

para garantir uma distribuição de corrente equilibrada, o que pode ser melhor constatado pela

Fig. 7.31, onde são mostradas as correntes nos MOSFETs e nos diodos principais na situação

de pico de corrente.

Fig. 7.30 - Corrente no indutor boost e no indutor de equilíbrio (5 A/div; 2ms/div).

Corrente no Indutor de Equilíbrio

Corrente no Indutor Boost

Page 217: Conversores Multiníveis em Corrente

205

Fig. 7.31 - Comparação das correntes na condição de pico .

(De cima para baixo: M1, M2, D1 e D2; 5A/div; 5µs/div).

A Fig. 7.32 mostra um detalhe da comutação suave no MOSFET M1. Como tanto M1

quanto M2 (além dos diodos) operam com comutação não-dissipativa, a eficiência total do

sistema é muito alta, atingindo uma marca superior a 97%, valor que ainda poderia ser

superado caso fosse utilizado um sensor de corrente mais apropriado (um quarto ou menos do

valor original usado).

Fig. 7.32 - Detalhe da comutação suave (100V/div, 5A/div; 2µs/div).

A Fig. 7.33 mostra uma vista fotográfica do pré-regulador construído e testado em

laboratório, onde se pode comparar o tamanho do indutor de equilíbrio com o indutor boost.

De fato o circuito de grampeamento de corrente não representa alteração significativa no

volume ou peso da estrutura.

Apesar de o “produto” poder ser otimizado em termos de densidade de potência

obteve-se um protótipo final com cerca de 12W/in3, que constitui uma marca bastante

aceitável. Para redução do volume/peso, e conseqüentemente melhoria deste índice, seria

possível usar um indutor boost com metade da indutância e filtragem capacitiva na entrada,

Tensão “Drain-Source”

Corrente de Dreno

Page 218: Conversores Multiníveis em Corrente

206

reduzir o tamanho do sensor resistivo e usar apenas uma fonte para alimentação do circuito de

comando e “soft-start”.

Fig. 7.33 - Fotografia do protótipo.

7.5. Conclusões

Neste capítulo foram apresentados os passos de definição e projeto de um sistema pré-

regulador para Telecomunicações de 3,2kW, com fator de potência unitário e comutação não-

dissipativa das chaves principais. A fim de aproveitar o conhecimento adquirido na

implementação de um sistema similar, porém com metade da potência (1,6kW), empregou-se

a técnica MNC de paralelismo no conversor principal boost - duas células.

O protótipo implementado atingiu as especificações esperadas, apresentando uma

eficiência de cerca de 97%, FP próximo da unidade e excelente distribuição estática e

dinâmica de corrente. Conclui-se, assim, que o uso da técnica MNC além de acrescentar

robustez e confiabilidade ao sistema, não impede o emprego de técnicas convencionais de

controle do FP e comutação suave das células individuais.

Controle Soft-Start

Módulo Principal

Retificador de Entrada

Indutor Boost

Indutor de Equilíbrio

Sensor de Corrente e Controle UC3854

Page 219: Conversores Multiníveis em Corrente

207

8. Conversores Multiníveis em Tensão e Corrente

té o capítulo anterior, este trabalho dedicou-se à apresentação, discussão,

modelagem e projeto de estruturas multiníveis em corrente, seja para uso

em paralelismo de células, seja para geração de correntes multiníveis.

Neste capítulo será feita uma discussão básica sobre a possibilidade de se

concentrar, em um conversor estático qualquer, técnicas multiníveis em tensão e corrente

simultaneamente. Em outras palavras, será proposta uma célula genérica multinível em tensão

e corrente capaz de propiciar a distribuição da tensão e corrente total da aplicação, por entre

as chaves da estrutura, de forma equilibrada. Além disso, deve existir também a possibilidade

de geração multinível de tensão e corrente para fins de otimização harmônica.

Uma abordagem deste tipo parece ter aproveitamento garantido em diversas

aplicações de Eletrônica de Potência, já que permitirá o emprego de tensões e correntes

elevadas em estruturas construídas com elementos menores, dimensionados para uma fração

da potência total envolvida. As discussões apresentadas neste capítulo não foram publicadas

em qualquer veículo científico e também não foram verificadas experimentalmente, senão por

simulação digital (envolvendo componentes parasitas reais). Este conteúdo é, assim, proposto

como base para continuação de futuras investigações.

8.1. Proposta de uma Topologia Genérica

No Capítulo 1 foi apresentada uma discussão geral sobre os conversores multiníveis

em tensão, tendo sido apresentada na Fig.1.23 uma célula genérica multinível em tensão.

Também foi mostrado que aquela estrutura pode gerar desequilíbrio de tensão nas chaves,

caso fossem utilizados pulsos de disparo coincidentes no tempo. Por outro lado, empregando

sinais de comando defasados sem nível zero na fonte de tensão (ou seja, há sempre alguma

chave conduzindo durante todo o período de chaveamento), é possível equilibrar as tensões

nos elementos [41], [42]. Este tipo de comando também mostrou-se realizável nos

conversores MNC, conforme apresentado na Fig.2.15 do Capítulo 2. Assim, parece ser

possível associar as duas estruturas numa célula única, como sugerido na estrutura da Fig. 8.1.

ACapítulo

Page 220: Conversores Multiníveis em Corrente

208

V VC

I

T2

T1

(m-1)Vm

(m-1)Vm

mVm

In

(m-1)Vm

(n-2) In

(n-1) In

..... ..... .....

Ca1Vm

Ca m-1Cbm-1Cn m-1

Cb1Cn1

L 1L2Ln-1

Fig. 8.1 - Célula genérica multinível em tensão e corrente.

Por simplicidade a célula da Fig. 8.1 será denominada célula MNCV n/m, pois é

multinível em corrente e tensão e associa n células em paralelo e m células em série,

simultaneamente. Pode-se observar que esta estrutura exige n-1 indutores e m-1 capacitores

para realizar a associação proposta. É fácil concluir ainda que, do ponto de vista externo,

tanto a célula MNCV como a célula MNC e MNV, possuem externamente um nó comum C,

ao qual é associado uma fonte de corrente ou laço indutivo e dois nós de tensão, T1 e T2, aos

quais se conecta uma fonte de tensão ou ramo capacitivo. As figuras Fig. 8.2 e Fig. 8.3

mostram as versões 2/2 células corrente/tensão e 2/3 células corrente/tensão, respectivamente.

VV

S'2

S'1

S 1

S 2

S'4

S'3

S 4S 3

C 1 C 2

T2

T1

C

I

C 1 = C 2

2 I2

V2

L1

Fig. 8.2 - Célula MNCV 2/2 células.

Page 221: Conversores Multiníveis em Corrente

209

VC

I

S'2

S'1

S'3

S'5

S'4

S'6

S 5S 4

S 6

S 1

S 2

S 3

2V3

2V3

V3

V3

I2

L 1C1 C 3

C2 C 4

Fig. 8.3 -Célula MNCV 2/3 células.

Uma estrutura multinível em tensão e corrente semelhante à mostrada nas figuras

anteriores foi proposta também em [55], porém com n indutores de grampeamento e uma rede

passiva auxiliar para compensação de divergência de estado permanente nos capacitores (e

chaves). A referência [55] não apresenta resultados práticos, apenas simulados. Na

seção seguinte serão apresentados igualmente resultados de simulação, que mostram a

viabilidade de equilíbrio estático e dinâmico das tensões e correntes nos capacitores,

indutores e chaves, sem o emprego dos elementos adicionais, utilizados em [55].

8.2. Conversor Buck -2 Células Multinível em Tensão e Corrente

A Fig. 8.4 mostra a adaptação da célula genérica MNCV da Fig. 8.1 (ou o emprego

direto da célula da Fig. 8.2) a um conversor buck, já incluindo o resistor para compensação

resistiva. Os valores considerados nesta estrutura serão utilizados no exemplo de simulação

que será apresentado logo a seguir. Os valores de L1 e C1 utilizados foram dimensionados

pelas equação (4.7) sem o “fator dois” e uma equação dual-equivalente para o capacitor.

Deve-se observar que os capacitores estarão periodicamente submetidos, durante ∆t, à metade

da corrente que sai do nó C. Por outro lado, com a estratégia adotada, os indutores estarão

sempre submetidos à mesma tensão (produzida por braços diferentes) em seus terminais.

Como mostra a Fig. 8.5, ∆t vale 10µs. Os valores de C1 e L1 mostrados na figura são

justificados a seguir.

Page 222: Conversores Multiníveis em Corrente

210

1kV

D2

D1

S 1

S 2

D4

D3

S 4S 3

C

50A 500V

10µF 10µF

500V

700mH

8 Ω

5µH rL

Elemento de Compensaçãoresistiva (veja texto)

Fig. 8.4 - Conversor buck MNC 2/2 células

TS=50us

ton=40us

∆ t=10us

S /S 1 3

S /S 2 4

Fig. 8.5 - Comandos defasados para as chaves da Fig. 8.4

Conforme mencionado o indutor de equilíbrio está sempre “curto-circuitado” nesta

estratégia, ao passo que os capacitores descarregam-se, ou carregam-se, com a corrente do

indutor de equilíbrio durante ∆t. Para os indutores, no entanto, deve-se prever a possibilidade

de divergências de comando, layout ou características de chaveamento dos dispositivos que

promovam sobre o elemento toda a tensão da fonte, durante um intervalo de tempo (aqui

considerado 50ns). Adotando uma máxima variação de corrente e tensão, ∆i e ∆v, de 10% do

valor de regime, pode-se encontrar:

LV ns

iV ns

AH1

50 500 505

5= = =MAX. .∆

µ ( 8.1)

C

Is

vA s

VF1

0

210 50 10

5010= = =

. .µ µµ

∆ ( 8.2)

Page 223: Conversores Multiníveis em Corrente

211

A estrutura MNV pode ser entendida como a representação dual da estrutura MNC.

Neste sentido, algumas conclusões sobre a célula MNC podem ser adaptadas à célula MNV.

O Capítulo 3 (e indiretamente o Capítulo 2) mostraram, por exemplo, que o equilíbrio de

correntes na célula MNC ocorre em função das resistências de condução das chaves. Foi

mencionado, ainda, a existência de constantes de tempo dos conversores MNC, diretamente

ligadas aos valores das indutâncias e resistências. Para o conversor MNC-2 células a

constante de tempo era L/2r. Analogamente, por inspeção ou por dualidade, é fácil concluir

que no conversor MNV-2 células a constante de tempo vale 2roff.C, onde roff é a rresistência

de bloqueio média das chaves (ativa e passiva no caso dos conversores cc-cc), ponderada à

razão cíclica. Assim, não é difícil entender que o tempo de estabilização da tensão no

capacitor (e nas chaves) pode ser bastante grande. Para roff igual a 1 MΩ e C igual a 10µF a

constante de tempo do conversor MNV-2 células é de 20s!

Tal constante de tempo demanda um esforço de simulação considerável (no sentido de

tempo da simulação). Assim, para reduzir este tempo e mostrar inicialmente a capacidade de

estabilidade natural da estrutura MNCV, foram reduzidos os valores do capacitor e da

resistência de bloqueio das chaves para 5µF e 1kΩ, respectivamente. Isto determina uma

constante de tempo de 10ms e o conversor pode ser simulado por um tempo menor. Nesta

primeira simulação adotou-se um indutor de grampeamento de 1mH (com resistência série de

0,1Ω), vinte vezes superior ao valor de projeto, a fim de verificar também os efeitos de sua

constante de tempo. É claro que, mesmo para este valor do indutor de grampeamento a

corrente atingirá o regime muito cedo (menos de 5ms), considerando uma resistência de

condução das chaves igual a 0,3Ω e dos diodos igual a 0,1Ω.

A Fig. 8.6 mostra a evolução transitória das tensões nos capacitores e das correntes

nos indutores e elemento de compensação resistiva (usado para compensar a resistência série

do indutor elevado). Fica evidente que o sistema atinge o equilíbrio estático de tensão e

corrente naturalmente, o que determina invariavelmente uma boa distribuição de tensão e

corrente entre as chaves do circuito.

Os resultados subseqüentes empregaram os valores convencionais dos capacitores

(10µF) e indutor (5µH), bem como uma resistência de bloqueio de 1MΩ. A resistência do

compensador resistivo foi feita muito próxima de zero (1mΩ), neste caso.

Page 224: Conversores Multiníveis em Corrente

212

As figuras Fig. 8.7-Fig. 8.9 mostram as formas de onda principais, em regime

permanente, para o conversor buck da Fig. 8.4. Fica evidente destas figuras que o equilíbrio

de tensão e corrente foi alcançado. Todas as chaves e diodos possuem tensão de bloqueio em

torno de 500V, que é a metade da tensão de entrada. Por outro lado, estes mesmos elementos

apresentam uma corrente de condução em torno de 50A, que é a metade da corrente de saída.

O arquivo de simulação no Pspice® (“.cir”) é apresentado no Apêndice A (b2i2v.cir).

(a) (b)

Fig. 8.6 - Equilíbrio de tensão e corrente no conversor MNCV-2células

De cima para baixo: (a) Tensão em C1, tensão em C2;

(b) Corrente na carga e em L1, corrente no resistor de compensação

Page 225: Conversores Multiníveis em Corrente

213

(a) (b)

Fig. 8.7 - Formas de onda para o conversor buck MNCV 2/2 De cima para baixo: (a) Tensão em C1, C2 e corrente em C1

(b) Corrente na carga, em L2 e no elemento de compensação resistiva

Fig. 8.8 -Tensões nas chaves e diodos

Da esquerda para a direita e de cima para baixo: S1, S2, S3, S4, D1, D2, D3 e D4

Page 226: Conversores Multiníveis em Corrente

214

Fig. 8.9 -Correntes nas chaves e diodos

Da esquerda para a direita e de cima para baixo: S1, S2, S3, S4, D1, D2, D3 e D4

Numa implementação prática empregando essas estruturas e dependendo do tipo de

comando utilizado, podem ser exigidos valores de indutores não tão pequenos quanto os

determinados em uma aplicação de paralelismo MNC. Isto ocorre por dois fatores: a tensão da

aplicação é normalmente muito grande e o tempo de polarização dos indutores não é

desprezível devido ao comando defasado. Desta forma a resistência série dos indutores irá

provocar desequilíbrios de corrente entre as chaves.

No entanto, a alternativa de compensação resistiva discutida no Capítulo 5, aplica-se

favoravelmente também neste caso. Desta forma, numa tal aplicação será sempre

recomendada a inclusão de um elemento resistivo extra para compensar a desequilíbrio

provocado pelas resistências parasitas dos indutores de grampeamento.

8.3. Conclusões

Neste capítulo investigou-se a possibilidade de se incorporar em uma mesma estrutura

as vantagens da associação série e paralela de células de comutação, bem como a obtenção de

multiníveis de corrente e tensão simultâneos. A célula genérica proposta mostrou-se eficaz

nos exemplos simulados, tendo sido sugerido que ela seja objeto de estudos mais criteriosos

em trabalhos futuros.

Page 227: Conversores Multiníveis em Corrente

215

9. Conclusão Geral

este trabalho foi proposta uma nova estrutura de paralelismo de células de

comutação e geração de múltiplos níveis de corrente que pode ser aplicada

a virtualmente todos os conversores estáticos conhecidos. Os casos

particulares de difícil adaptação, bem como as limitações detectadas,

foram discutidos, quantificados e receberam, quando possível, sugestões alternativas de

solução. O trabalho dedicou-se também, para efeito de comparação, ao estudo de estruturas

multiníveis em corrente conhecidas e equivalentes à topologia empregada. Como

complemento deste estudo foram propostas algumas variantes da solução original.

O Capítulo 1 dedicou-se a uma revisão bibliográfica básica, considerando inicialmente

a questão da associação série e paralela de componentes semicondutores. As características

básicas e limitações desta abordagem para cada tipo de chave de potência atual foi relatada.

Considerou-se, em seguida, a possibilidade de associação de conversores em série e em

paralelo, o que constitui um procedimento mais geral e, muitas vezes, preferível. Nesta

discussão foram apresentadas as estruturas de paralelismo de conversores cc-cc e conversores

cc-ca. Algumas estruturas discutidas possuem a capacidade de gerar múltiplos níveis de

tensão ou corrente, o que favoreceu a introdução e caracterização do conceito geral de

conversores multiníveis. Como parte final deste capítulo foram apresentadas as estruturas,

relatadas na literatura técnica recente, destinadas à associação série de células de comutação.

Precedeu esta apresentação, porém, uma definição clássica da teoria das células de comutação

(ou chave PWM) sob o ponto de vista da natureza da chave empregada e do tipo de conversor

a ser implementado. Uma constatação básica, a partir da leitura do Capítulo 1, é relativa à

inexistência de um estudo e de uma estrutura geral para o paralelismo de células de

comutação, bem como para obtenção de níveis intermediários de corrente. Esta lacuna

tecnológica proporcionou as bases e motivação para o presente trabalho.

No Capítulo 2 foi apresentada a topologia genérica da célula de comutação multinível

em corrente (MNC), destinada basicamente ao paralelismo de células de comutação e

proposta para ser adaptada diretamente aos principais conversores estáticos. Uma discussão

simplificada baseada em inspeção de circuitos foi desenvolvida com o objetivo de servir de

N

Capítulo

Page 228: Conversores Multiníveis em Corrente

216

“prova geral” para verificação dos níveis de corrente nos indutores de grampeamento, bem

como dos valores de corrente de condução nas chaves semicondutoras. Resultados de

simulação e experimentação serviram como comprovação inicial das suposições teóricas. A

conclusão básica aqui é que a distribuição de corrente equilibrada entre as chaves ocorre pelo

efeito das resistências de condução das chaves complementares das células, que em regime

permanente encontram-se como em um paralelismo simples. Por outro lado, os indutores

carregam-se com níveis distintos de corrente, inferiores à corrente total que sai do nó comum

da célula MNC. O restante do capítulo é destinado a mostrar, qualitativamente, como adaptar

a célula MNC aos conversores cc-cc não-isolados, inversores de tensão, inversores de

corrente e retificadores. Cada uma destas possibilidades foi abordada, posteriormente, em

capítulos específicos.

O Capítulo 3 dedicou-se à formalização matemática da célula MNC pelo uso do

modelo da “chave PWM”. Os conversores buck e boost MNC-2 células foram utilizados

como exemplos para a modelagem. Assim, foram apresentados os equacionamentos para os

circuitos entrada-saída (considerando a tensão de alimentação como excitação), bem como os

modelos controle-saída (considerando a razão cíclica como excitação do sistema). Foi

mencionado que os modelos entrada-saída prestam-se para uma análise do comportamento

dos conversores, em especial quanto à distribuição de corrente nos ramos, em função de

variações na tensão de entrada. A análise controle-saída oferece informações fundamentais

para projeto de controladores destinados a promover a estabilidade dinâmica dos sistemas que

empregam a célula MNC. Através de um artifício de generalização foram levantadas as

constantes de tempo dos conversores MNC com até dez células em paralelo. Os resultados

experimentais e os obtidos por simulação comprovaram os resultados teóricos, sob o ponto de

vista das equações descritas no tempo ou no domínio da freqüência.

No Capítulo 4 discutiu-se sobre o paralelismo de células de comutação. Neste caso, os

níveis intermediários de corrente nos indutores de equilíbrio não são aproveitados para

otimizar o conteúdo harmônico do conversor. Foram relacionadas as principais motivações

que induzem os engenheiros a considerar a opção de construir um sistema pelo emprego de

chaves em paralelo. O paralelismo convencional foi implementado em laboratório e

comparado, a partir de um conjunto básico de situações práticas, com o paralelismo via célula

MNC. Verificou-se, em resumo, que a técnica MNC de paralelismo é superior ao paralelismo

convencional, já que consegue minimizar os esforços de corrente nas chaves, oriundos de

divergências nos parâmetros de chaveamento dos elementos ou provenientes de desequilíbrios

Page 229: Conversores Multiníveis em Corrente

217

nas indutâncias de dispersão. Como resultado, a técnica MNC permite a obtenção de um

sistema mais imune às imperfeições de layout, chaveamento, divergências no circuito de gate,

etc. Observou-se, inclusive, a possibilidade de operação com razões cíclicas ligeiramente

distintas, fato que não determinava um desequilíbrio significativo. Esta condição foi

quantificada formalmente, de modo a se conhecer os parâmetros envolvidos e qual a margem

de liberdade na distinção dos comandos. Após este estudo básico, foram sugeridas equações

de projeto dos indutores de grampeamento, levando em consideração as divergências dos

componentes associados, máxima variação de corrente permitida nas chaves, tensão de

trabalho, margem de segurança, número de células, etc. A aplicação destas fórmulas de

projeto aos diversos tipos de conversores estáticos foi investigada e particularizada. Um

exemplo de projeto aplicado a um conversor buck MNC-3 células de 4,5kW foi relatado,

tendo sido alcançado o equilíbrio estático de corrente, bem como a supressão de picos

espúrios de corrente devido ao chaveamento e diferenças de layout. A aplicação aos

inversores de tensão foi considerada possível, porém com limitações quanto à máxima

freqüência de operação. Estas estruturas não possuem o nó comum da célula MNC

“amarrado” a uma fonte de corrente firme ou laço indutivo de alta constante de tempo

(situação comum nos demais conversores). Desta forma, foi determinada uma maneira de se

conhecer o limite de operação do conversor tendo em vista a freqüência de chaveamento (ou

da saída) e constantes de tempo do conversor. Quando estes inversores operam com corrente

de saída em baixa freqüência, modulados por um sinal de alta freqüência, a adaptação e

utilidade da técnica MNC verificou-se total. Os demais casos estão sempre relacionados a

fontes de corrente definidas no nó comum da célula MNC, configurando sistemas de fácil

aplicação e uso direto. A técnica MNC de paralelismo também foi comparada com uma

estrutura recentemente indicada na literatura técnica, aqui denominada estrutura NCNI (por

utilizar o mesmo número de indutores de equilíbrio que o número de células associadas). Esta

estrutura não apresenta indutores carregados com níveis distintos de corrente, mas também

permite operação multinível. Sua desvantagem é quanto ao número de componentes

empregados, apesar de o volume ocupado por eles ser reduzido. Esta compactação se dá

porque, para um determinado número de células associadas, todos os indutores carregam-se

com o valor da corrente no nó comum dividida pelo número de células (e, como se sabe, o

volume de um indutor é diretamento proporcional ao quadrado de sua corrente). Verificou-se,

portanto, que esta estrutura possui vantagens de compactação quando o número de células é

superior a quatro. Informações, sob o formato de tabelas, envolvendo número de

Page 230: Conversores Multiníveis em Corrente

218

componentes, característica multinível, energia total dos indutores, etc., foram apresentadas

para efeito de comparação entre a técnica MNC e a técnica NCNI de paralelismo. Ao final do

capítulo foi mostrada uma possibilidade alternativa de topologia multinível e paralelismo. De

fato, a nova opção fundamenta-se na idéia de que não há necessidade de n indutores de

grampeamento para promover a associação paralela de n células de comutação. Este

postulado é baseado na própria estrutura da célula MNC. Assim, foram sugeridas estruturas

variantes da técnica MNC e da técnica NCNI de paralelismo que se revelaram, ambas,

bastante atraentes como novas possibilidades. A abordagem rigorosa deste assunto fica

sugerida como tema de pesquisa futura, já que sua proposição foi realizada à conclusão deste

texto.

No Capítulo 5 discutiu-se sobre a possibilidade de gerar multiníveis de corrente nos

terminais fonte de tensão da célula multinível. Para tanto, exige-se que as chaves sejam

disparadas com atrasos de tempo umas em relação às outras, ou seja, pelo uso de comandos

defasados. Até mesmo pelo uso de atrasos muito pequenos no comando das chaves já se

obtém uma razoável melhora na interferência irradiada, já que o di/dt de corrente é reduzido a

uma fração do convencional. Esta opção foi considerada, em especial, para os conversores cc-

cc. Para estas estruturas, a existência de ondas quadradas convencionais nos terminais de

tensão implica na possibilidade de elevado conteúdo harmônico e interferência

eletromagnética conduzida ou irradiada. A principal justificativa para o emprego de correntes

multiníveis é, portanto, quanto à otimização do conteúdo harmônico do conversor. Um estudo

sobre o conteúdo harmônico de ondas multiníveis em corrente foi apresentado com base na

série de Fourier. Foi mostrado que, pelo controle do tempo de duração dos níveis

intermediários de corrente, é possível obter um espectro harmônico com qualidade muito

superior aos obtidos com o comando convencional, considerando os mesmos níveis de

energia nas chaves, fontes e carga. Neste tipo de abordagem, entretanto, os indutores de

grampeamento necessitam ter maiores valores de indutância, a fim de reduzir as variações de

corrente durante o tempo em que estão polarizados pela tensão dos terminais da célula. Por

outro lado, indutâncias elevadas, implicam normalmente em maiores valores de resistência

parasita nos indutores. Assim, foi discutido o efeito deste parâmetro no equilíbrio de correntes

do conversor. Quanto maior o valor da resistência série dos indutores maior o desequilíbrio

causado quando se emprega a célula MNC. Foram propostas, no entanto, alternativas para a

solução deste problema. O uso de larguras de pulso diferentes é uma delas. O emprego de

uma malha de controle específica é outra. Porém, a técnica mais recomendável é a da

Page 231: Conversores Multiníveis em Corrente

219

compensação resistiva que encontra, na variante da célula NCNI sua opção mais elegante,

eficiente e econômica.

O Capítulo 6 apresentou um estudo de aplicação da célula MNC aos inversores de

corrente e retificadores com filtro de corrente cc na saída. Apesar de poderem se beneficiar

também da distribuição de corrente equilibrada no paralelismo MNC, estes conversores têm

seu desempenho otimizado pelo uso de multiníveis de corrente e controle adequado das

larguras dos níveis intermediários. Para se obter este tipo de forma de onda é preciso planejar

cuidadosamente a estratégia de comando. O uso inadvertido de seqüências de disparo

“aparentemente” corretas pode implicar em uma tensão líquida não-nula nos indutores de

grampeamento, o que fatalmente determinará desequilíbrio entre eles e, por conseguinte, nas

chaves da estrutura. Dois tipos de estratégia de comando foram considerados para o inversor

cinco-níveis: a estratégia assimétrica e a estratégia simétrica. Usando a estratégia assimétrica

obtém-se o equilíbrio do conversor em apenas um ciclo da corrente da carga, porém as chaves

conduzem com tempos diferentes, implicando em valores médios distintos. A adoção de

larguras reduzidas para as tensões intermediárias pode, no entanto, minimizar

significativamente esta assimetria. Por outro lado, a estratégia simétrica provê o equilíbrio de

corrente no conversor por meio de dois ou mais ciclos da corrente de saída. A desvantagem é

que, para mesmos valores das indutâncias de equilíbrio, esta estratégia determina maiores

ondulações de corrente nas chaves e indutores que a estratégia assimétrica. Um discussão

formal, baseada nos coeficientes da série de Fourier, foi apresentada para a forma de onda

genérica cinco-níveis. Foi encontrada a expressão matemática do valor eficaz da corrente

cinco-níveis, em função dos ângulos, α e φ, usados no controle de harmônicas e fluxo de

potência. Determinou-se o ângulo ótimo para minimização da Taxa de Distorção Harmônica

(THD) na corrente multinível, considerando α=φ. Um breve estudo sobre a determinação de

seqüências gerais de chaveamento foi apresentado, considerando a dificuldade de tratamento

dos conversores multiníveis com mais de cinco-níveis de corrente. A definição de estratégias

é empreendida por meio de um algoritmo computacional, que manipula um conjunto de

estratégias possíveis, e decide sobre as que compreendem a desejável tensão líquida nula nos

indutores de equilíbrio. Busca-se primeiro as seqüências que exigem um menor número de

ciclos da corrente de saída para alcançarem a estabilidade, aumentando o número de ciclos

quando necessário. Concluiu-se que não existem seqüências reais de dois ciclos para os

conversores com três e quatro células, por exemplo. Utilizando uma estratégia de três ciclos

para o conversor de três células (sete níveis) simulou-se o inversor básico, cuja forma de onda

Page 232: Conversores Multiníveis em Corrente

220

de corrente apresentou-se com um conteúdo harmônico muito baixo. Foram consideradas,

posteriormente, as possibilidades de adaptação da célula MNC inversora a estruturas

trifásicas. Conclui-se sobre a dificuldade de obtenção de estratégias de chaveamento para este

caso, mas uma referência bibliográfica foi indicada como subsídio neste campo. Este tipo de

abordagem é sugerido como tema para investigações futuras. Um exemplo de projeto foi

apresentado, abordando um protótipo de inversor cinco-níveis de 1,2kW implementado em

laboratório. As formas de onda para a estratégia simétrica e assimétrica foram apresentadas

para α=φ=30o, revelando-se coerentes com as deduções teóricas. A parte final deste capítulo

dedicou-se ao retificador cinco-níveis com filtro de corrente na carga, denominado retificador

buck cinco-níveis. Este tipo de estrutura pode ser comandada com os mesmos tipos de

estratégias usadas no caso inversor, porém com a possibilidade de impor corrente em fase

com a tensão de entrada (da rede). Aliado ao baixo conteúdo harmônico da forma de onda

cinco-níveis, é possível obter com esta estrutura, um retificador abaixador (buck) com fator de

potência (FP) próximo da unidade. Uma formulação matemática básica foi apresentada

considerando, porém, que este assunto deverá ser abordado com mais profundidade em

estudos posteriores.

No Capítulo 7 foram apresentados os passos de decisão, equacionamento e projeto de

um pré-regulador de 3,2kW para Telecomunicações, com fator de potência unitário e

comutação não-dissipativa das chaves principais. Discutiu-se sobre a estrutura geral de um tal

sistema empregando um conversor boost com controle de corrente média na entrada (CCM).

Decidiu-se utilizar um circuito integrado específico para projeto: o UC3854® da Unitrode™.

Foram consideradas, ainda, as alternativas mais apropriadas para implementação da

comutação suave no conversor boost, dentre elas a técnica ZVT-VPEC e a técnica ZVS-

INEP. As duas opções foram consideradas como alternativas bastante aceitáveis. Por

empregar um menor número de componentes auxiliares adotou-se a técnica ZVT no pré-

regulador proposto, sugerindo como estudo futuro a implementação com a técnica ZVS-INEP

e posterior comparação de resultados. O conceito de tiristor dual foi mencionado, ressaltando

a sua propriedade em associação com qualquer das técnicas, sendo proposto como técnica

auxiliar a ser empregada. Após esta definição completa da estrutura, escolha da técnica de

comutação suave e método de controle a ser empregado foi apresentada uma orientação geral

de projeto e dimensionamento de componentes. Um destaque especial foi destinado ao projeto

do controlador de corrente, associado ao circuito integrado UC3854. Foi mostrado que o

controlador proposto atende aos principais requisitos de estabilidade dinâmica tendo sido

Page 233: Conversores Multiníveis em Corrente

221

avaliada, também, a influência da variação de parâmetros no sistema controlado. Uma

alternativa de monitorar a corrente no indutor de equilíbrio, para efeito de controle, foi

considerada tendo sido proposto um controlador específico para o caso. A parte final deste

capítulo dedicou-se à apresentação dos circuitos e detalhes da implementação prática,

ressaltando a qualidade das formas de onda e obtenção de um FP unitário. O rendimento

atingido pela estrutura foi de cerca de 97%, sendo ressalvado que poderia ser ate 1% maior

caso fosse empregado um sensor de corrente mais apropriado.

Foi proposta no Capítulo 8 uma célula multinível em tensão e corrente (MNCV),

simultaneamente, capaz de ser adaptada à maior parte dos conversores em Eletrônica de

Potência. A célula genérica MNCV foi formalizada e adaptada a casos particulares com duas

e três células de tensão/corrente. O conversor buck MNCV 2/2 células foi utilizado como

exemplo, tendo sido projetado e simulado no programa Pspice® para um caso de

1000V/100A. Foi constatada a obtenção de equilíbrio natural da tensão e corrente nos

elementos de grampeamento, o que resulta no equilíbrio desejável da corrente e tensão entre

as chaves da estrutura. Deve-se considerar, entretanto, que o circuito deve ser comandado por

meio de pulsos defasados, com razão cíclica superior a 50%, com pelo menos uma chave

conduzindo em qualquer instante. Este assunto foi considerado apenas no final do presente

trabalho, sendo sugerido, portanto, como tema de pesquisas futuras.

Além destas conclusões específicas pode-se enumerar um conjunto de conclusões

gerais sobre a estrutura MNC e sobre o presente trabalho:

• Propôs-se uma célula multinível em corrente que emprega n-1 indutores de

equilíbrio para promover a associação paralela de n células de comutação.

• Foram levantadas as características de funcionamento básico da estrutura geral.

• Foi realizado o equacionamento básico para efeito de dimensionamento de

componentes e determinação de controladores dinâmicos.

• A célula MNC revelou-se uma alternativa bastante apropriada quanto ao

paralelismo de células de comutação, suprimindo picos de corrente nas chaves

oriundos de imprecisões de disparo e entrada/saída de condução, imperfeições do

circuito de comando e assimetria de layout. Por outro lado, o seu emprego não

resultou em prejuízo do equilíbrio estático de corrente, configurando assim sua

superioridade em relação à técnica convencional de paralelismo.

Page 234: Conversores Multiníveis em Corrente

222

• A célula MNC foi comparada com a estrutura NCNI e foram propostas variantes

destas opções. As duas alternativas são bastante aconselháveis para o paralelismo

de células, sendo apenas limitadas quanto à freqüência de variação da corrente do

nó comum da célula.

• A célula MNC também pode ser usada para otimização do conteúdo harmônico de

conversores cc-cc, inversores de corrente e retificadores com filtro de corrente na

carga, sem a necessidade de modulação PWM de alta freqüência.

• A célula MNC se aplica como técnica de paralelismo em conversores boost com

FP unitário e aceita operação com comutação suave das chaves principais.

• Foi proposta uma célula genérica MNCV capaz de promover a distribuição de

tensão e corrente entre células e geração de multiníveis de tensão e corrente nos

conversores.

É possível, ainda, sugerir como temas de investigação futura os tópicos que não foram

abordados em profundidade aqui, tais como:

1. Equacionamento e determinação de particularidades a respeito dos demais

conversores cc-cc MNC (buck-boost, cuk, sepic e zeta).

2. Adaptação aos conversores isolados (forward, flyback, etc.).

3. Estudo formal e equacionamento das variantes das estruturas MNC e NCNI.

4. Funcionamento, controle e geração de estratégias de comando para os inversores e

retificadores de corrente MNC trifásicos (ou polifásicos).

5. Estudo aprofundado sobre os retificadores de tensão MNC (tipo buck), com FP

quase-unitário.

6. Estudo e comparação de técnicas de comutação suave aplicadas a todos os

conversores MNC.

7. Aprofundamento do estudo sobre os conversores multiníveis simultâneos em tensão

e corrente, MNCV.

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[81] Sugimoto, “ ”, Patente Japonesa 80.260, 1982 (cf. Referência [1] de [43]).

Arquivos de Simulação no Pspice®

Cap.1: Arquivo <b2v.cir> *CONVERSOR CC-CC BUCK.2I *HENRIQUE A.C. BRAGA Vin 1 0 500 S1 2 4 G1 0 chave D1 3 4 diodo S2 1 2 G2 0 chave D2 0 3 diodo C1 2 3 50u ic=250 Lo 4 5 2000u ic=1 Ro 5 0 10 V1 G1 0 PULSE(0 15 1p 1p 1p 30u 50u) V2 G2 0 PULSE(0 16 1u 1p 1p 30u 50u)

.MODEL DIODO D(Rs=.1 Vj=.6V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.1 ROFF=10MEG VON=10 VOFF=1) .options abstol = 10uA itl5=0 itl4=60 chgtol = 10.000p + reltol = .01 tnom = 0 vntol = 10uV ; *ipsp* .tran 1.000u 3.000m 0 1u; *ipsp* .probe .END

========== ooooo ====== Cap.2: Arquivo <b2i.cir>

*CONVERSOR CC-CC BUCK.2I *HENRIQUE A.C. BRAGA

Apêndice A -

Page 240: Conversores Multiníveis em Corrente

228

v 1 0 50 S1 1 3 G1 0 chave D1 0 3 diodo S2 1 2 G2 0 chave D2 0 2 diodo L1 2 3 250u Lo 3 4 800u Co 4 0 100u Ro 4 0 1.5 V1 G1 0 PULSE(0 15 1p 1p 1p 30u 50u) V2 G2 0 PULSE(0 16 5u 1p 1p 30u 50u) .MODEL DIODO D(Rs=.1 Vj=.6V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.1 ROFF=10MEG VON=10 VOFF=1) .options abstol = 1nA itl5=0 itl4=60 chgtol = 10.000p + reltol = .01 tnom = 0 vntol = 1uV ; *ipsp* .tran 5.000u 6.000m 0 0 ; *ipsp* .probe .END

Cap.2: Arquivo <b2i_nonzero.cir> *CONVERSOR CC-CC BUCK.2I *HENRIQUE A.C. BRAGA Vin 1 0 50 S1 1 3 G1 0 chave D1 0 3 diodo S2 1 2 G2 0 chave D2 0 2 diodo L1 2 3 150u Lo 3 4 400u Ro 4 0 0.32 V1 G1 0 PULSE(0 15 1p 1p 1p 40u 50u) V2 G2 0 PULSE(16 0 15u 1p 1p 10u 50u) .MODEL DIODO D(Rs=.1 Vj=.5V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.1 ROFF=10MEG VON=10 VOFF=1) .options abstol = 1uA itl5=0 itl4=60 chgtol = 10.000p + reltol = .01 tnom = 0 vntol = 1uV ; *ipsp* .tran 5.000u 8.000m 0 uic ; *ipsp* .probe .END

========== ooooo ========== Cap.3: Arquivo <b2i3nmod.cir>

*CONVERSOR CC-CC BUCK.2I-tres-niveis; *Inclui resposta do Modelo-Constante de tempo rapida Vin 1 0 pulse(0 50 1p 1p 1p 10m 10.2m) S1 1 3 G1 0 chave D1 0 3 diodo S2 1 2 G2 0 chave D2 0 2 diodo L1 2 3 50u Lo 3 4 400u Co 4 0 10u Ro 4 0 1.5 V1 G1 0 PULSE(0 15 1p 1p 1p 30u 50u) V2 G2 0 PULSE(0 16 1u 1p 1p 30u 50u) .MODEL DIODO D(Rs=.05 Vj=.1V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.09 ROFF=10MEG VON=10 VOFF=1) * Modelo Linear: Eo 5 0 laplace v(1) = + (0.2+50u*s)*(9u*s+0.6)/(0.3p*s*s*s+21.27n*s*s+160.15u*s+0.31) EL 6 0 laplace v(1) = + (0.9u*s+0.06)/(0.3p*s*s*s+21.27n*s*s+160.15u*s+0.31) Rx 5 0 10k Ry 6 0 10k .options abstol = 1uA itl5=0 itl4=60 + chgtol = 10.000p reltol = .05 tnom = 0 vntol = 10u ; *ipsp* .tran 10.000u 3.000m 0 5.000u ; *ipsp*

.probe i(Vin) v(2) v(3) v(v1) v(v2) i(S1) i(S2) i(D1) i(D2) +v(4) v(5) v(6) i(Lo) i(L1) .END

========== ooooo ==========

Cap.4: Arquivo <full2iret.cir> *CONVERSOR FULL-BRIDGE, 2I-phase shift - *Retificador de Saida *HENRIQUE A.C. BRAGA Vin 1 0 120 S1 1 11 G1 0 chave Ds1 11 3 diodo D1 3 1 diodo S2 1 9 G1 0 chave Ds2 9 2 diodo D2 2 1 diodo S3 6 16 G2 0 chave Ds3 16 0 diodo D3 0 6 diodo S4 5 14 G2 0 chave Ds4 14 0 diodo D4 0 5 diodo S5 1 15 G3 0 chave Ds5 15 6 diodo D5 6 1 diodo S6 1 13 G3 0 chave Ds6 13 5 diodo D6 5 1 diodo S7 3 12 G4 0 chave Ds7 12 0 diodo D7 0 3 diodo S8 2 10 G4 0 chave Ds8 10 0 diodo D8 0 2 diodo L1 2 3 7u L2 5 6 7u Ld 3 4 20u ;Retificador de Saida Db1 4 7 diodo Db2 8 5 diodo Db3 5 7 diodo Db4 8 4 diodo Lo 7 20 200u Ro 20 8 3.75 ;Co 20 8 50u V1 G1 0 PULSE(0 15 1p 1p 1p 500u 1000u) V3 G3 0 PULSE(0 15 250u 1p 1p 500u 1000u) V2 G2 0 PULSE(15 0 249.9u 1p 1p 500.2u 1000u) V4 G4 0 PULSE(0 15 500.1u 1p 1p 499.8u 1000u) .MODEL DIODO D(Rs=.05 Vj=.6V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.09 ROFF=10MEG VON=10 VOFF=1) .options abstol = 10nA itl5=0 itl4=60 chgtol=100p + reltol = .01 tnom = 0 vntol = 100uV ; *ipsp* .tran 1.000u 3m 0 1.000u ; *ipsp* ;.ic v(4,5)=90 .probe .END

========== ooooo ==========

Cap.4: Arquivo <full2ipwm.cir> *CONVERSOR FULL-BRIDGE, 2I-PWM *HENRIQUE A.C. BRAGA Vin 1 0 170 S1 1 10 G1 0 chave Ds1 10 3 diodo D1 3 1 diodo S2 1 20 G1 0 chave Ds2 20 2 diodo D2 2 1 diodo S3 30 0 G1 0 chave Ds3 6 30 diodo D3 0 6 diodo

Page 241: Conversores Multiníveis em Corrente

229

S4 40 0 G1 0 chave Ds4 5 40 diodo D4 0 5 diodo S5 1 50 G2 0 chave Ds5 50 6 diodo D5 6 1 diodo S6 1 60 G2 0 chave Ds6 60 5 diodo D6 5 1 diodo S7 70 0 G2 0 chave Ds7 3 70 diodo D7 0 3 diodo S8 80 0 G2 0 chave Ds8 2 80 diodo D8 0 2 diodo L1 2 3 7u L2 5 6 7u Lo 3 4 10m Ro 4 5 0.5 *Geracao PWM v1 13 0 sin (0 6 60 0 0 0) r1 13 0 10k vt 16 0 pulse (10 -10 0 .4m .4m 1e-12 .8m) r6 16 0 10k EPW2 g2 0 TABLE V(16)-V(13) (-1e-2,0) (0,15) (1e-2,15) EPW1 g1 0 TABLE V(g2)-v(0) (0,15) (1,0) (2,0) r10 g1 0 10k r20 g2 0 10k .MODEL DIODO D(Rs=.05 Vj=.6V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.09 ROFF=10MEG VON=10 VOFF=1) .options abstol = 1uA itl5=0 itl4=60 chgtol = 10.000p + reltol = .01 tnom = 0 vntol = 1uV ; *ipsp* .tran 10u 0.1 0.05 50.000u uic ; *ipsp* .probe v(3,5) i(Lo) i(L1) i(L2) i(S1) i(S2) i(S3) i(S4) + i(S5) i(S6) i(S7) i(S8) i(D1) i(D2) i(D3) i(D4) i(D5) + i(D6) i(D7) i(D8) .END

========== ooooo ==========

Cap.4: Arquivo <b3incni.cir> *CONVERSOR CC-CC BUCK.3I *HENRIQUE A.C. BRAGA Vin 4 0 250V S1 4 1 G1 0 chave D1 0 1 diodo S2 4 2 G2 0 chave D2 0 2 diodo S3 4 3 G3 0 chave D3 0 3 diodo L1 1 5 12.5u L2 2 5 12.5u L3 3 5 12.5u Lo 5 6 700u Ro 6 0 5 V1 G1 0 PULSE(0 15 1p 1p 1p 30u 50u) V2 G2 0 PULSE(0 16 50n 1p 1p 30u 50u) V3 G3 0 PULSE(0 16 100n 1p 1p 30u 50u) .MODEL DIODO D(Rs=.1 Vj=.1V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.1 ROFF=10MEG VON=10 VOFF=1) .options abstol = 1nA itl5=0 itl4=20 + chgtol = 10.000p reltol = .01 tnom = 0 vntol = 1nA ; *ipsp* .tran 1.000u 2.000m 0 10.000u uic ; *ipsp* .probe v(2) v(3) v(4) v(v1) v(v2) v(v3) i(S1) i(S2) i(S3) i(Lo) + i(L1) i(L2) i(L3) i(D1) i(D2) i(D3) i(Vin) v(5) .END

========== ooooo ==========

Cap.4: Arquivo <b3ivar01.cir>

*CONVERSOR CC-CC BUCK.3I *HENRIQUE A.C. BRAGA Vin 4 0 250V S1 4 1 G1 0 chave D1 0 1 diodo S2 4 2 G2 0 chave D2 0 2 diodo S3 4 3 G3 0 chave D3 0 3 diodo r1 1 5 1mohm ; curto-circuito no lugar de L1 original L1 2 5 25u L2 3 5 25u Lo 5 6 2m Ro 6 0 5 V1 G1 0 PULSE(0 15 1p 1p 1p 30u 50u) V2 G2 0 PULSE(0 16 50n 1p 1p 30u 50u) V3 G3 0 PULSE(0 16 100n 1p 1p 30u 50u) .MODEL DIODO D(Rs=.1 Vj=.1V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.1 ROFF=10MEG VON=10 VOFF=1) .options abstol = 1nA itl5=0 itl4=20 + chgtol = 10.000p reltol = .01 tnom = 0 vntol = 1nA ; *ipsp* .tran 1.000u 2.000m 0 10.000u uic ; *ipsp* .probe v(2) v(3) v(4) v(v1) v(v2) v(v3) i(S1) i(S2) i(S3) i(Lo) + i(r1) i(L1) i(L2) i(D1) i(D2) i(D3) i(Vin) v(5) .END

========== ooooo ==========

Cap.4: Arquivo <csi_paral.cir> *CSI (MULTINIVEL EM CORRENTE) *Chaveamento em Paralelo Convencional 3 Níveis Ii 0 1 100A S5 1 6 C5 0 CHAVE S3 3 10 C3 0 CHAVE S7 2 7 C7 0 CHAVE S1 3 11 C1 0 CHAVE S8 2 8 C8 0 CHAVE S2 4 12 C2 0 CHAVE S6 1 9 C6 0 CHAVE S4 4 13 C4 0 CHAVE * *DEFINICAO DOS DIODOS * D5 6 3 DIODO D7 7 3 DIODO D3 10 0 DIODO D1 11 5 DIODO D2 12 5 DIODO D4 13 0 DIODO D8 8 4 DIODO D6 9 4 DIODO * *DEFINICAO ELEMENTOS PASSIVOS * LP 1 20 150u ic=50 rp 20 2 0.001 LN 50 0 150u ic=50 rn 5 50 0.001 * R0 3 4 3.0OHMS C0 3 4 700u ic=0 * *TENSOES DE CONTROLE DAS CHAVES * VC1 C1 0 PULSE(0 15 6.77m 0 0 8.333m 16.667m) VC3 C3 0 PULSE(0 15 6.77m 0 0 8.333m 16.667m) VC5 C5 0 PULSE(0 15 1.56m 0 0 8.333m 16.667m) VC7 C7 0 PULSE(0 15 1.56m 0 0 8.333m 16.667m) e2 C2 0 TABLE v(C1) (0,15) (7,15) (15,0)

Page 242: Conversores Multiníveis em Corrente

230

e4 C4 0 TABLE v(C3) (0,15) (7,15) (15,0) e6 C6 0 TABLE v(C5) (0,15) (7,15) (15,0) e8 C8 0 TABLE v(C7) (0,15) (7,15) (15,0) * .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=0.1 ROFF=1E+6 VON=4V VOFF=0.5V) .MODEL DIODO D(VJ=0.4 RS=0.1) .OPTIONS ITL4=60 ITL5=0 ABSTOL=1u VNTOL=10uV CHGTOL=100p RELTOL=0.01 .tran 100.000u .5 0 100.000u uic ; *ipsp* .probe .END

========== ooooo ==========

Cap.4: Arquivo <b2i_loadstep.cir> *CONVERSOR CC-CC BUCK.2I-degrau na saida *HENRIQUE A.C. BRAGA Vin 1 0 240V S1 1 3 G1 0 chave D1 0 3 diodo S2 1 2 G2 0 chave D2 0 2 diodo L1 2 3 15u ic=25 Lo 3 4 700u ic=50 Co 4 0 200u ic=120 Ro 4 0 2.4 Rop 4 5 2.4 Sop 5 0 gp 0 chave V1 G1 0 PULSE(0 15 1p 1p 1p 25u 50u) V2 G2 0 PULSE(0 16 1p 1p 1p 25u 50u) Vp gp 0 PULSE(0 16 2m 1p 1p 7m 7m) .MODEL DIODO D(rs=.05 Vj=.5V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.1 ROFF=10MEG VON=10 +VOFF=1) .options abstol = 1nA itl5=0 itl4=60 itl5=0 + chgtol = 10.000p reltol = .01 tnom = 0 vntol = 1nA ; *ipsp* .tran 5.000u 7.000m 0 0 uic ; *ipsp* .probe i(Lo) i(L1) i(S1) i(S2) i(D1) i(D2) v(4) .END

========== ooooo ========== Cap.5: Arquivo <b2i_compres.cir>

*CONVERSOR CC-CC BUCK.2I-Tres Niveis-inclui parasitas * e Compensação Resistiva - HENRIQUE A.C. BRAGA Vin 10 0 45 rin 10 1 0.01 ;resistência interna da fonte S1 4a 0 G1 0 chave r1 4 4a 0.05 ;resistência de compensação D1 4b 1 diodo r2 4 4b 0.05 ;resistência de compensação S2 2 0 G2 0 chave D2 2 1 diodo L1 3 2 700u ic=5.5 r 4 3 0.05 ;resistência parasita de L1 Lo 1 5 950u ic=11 Ro 5 4 2.8 V1 G1 0 PULSE(0 15 5u 1p 1p 35u 50u) V2 G2 0 PULSE(0 16 1p 1p 1p 35u 50u) .MODEL DIODO D(Rs=.05 Vj=.6V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.09 ROFF=10MEG +VON=10 VOFF=1) .options abstol = 1uA itl5=0 itl4=60 chgtol = 100.00p + reltol = .01 tnom = 0 vntol = 10uV ; *ipsp* .tran 2.000u 5.000m 0 1u uic ; *ipsp* .probe .END

========== ooooo ==========

Cap.5: Arquivo <b3iLRmulti.cir> *CONVERSOR CC-CC BUCK.3I NCRI *Quatro níveis, 2 indutores e 1 resistor

*HENRIQUE A.C. BRAGA Vin 4 0 250V S1 4 1 G1 0 chave D1 0 1 diodo S2 4 2 G2 0 chave D2 0 2 diodo S3 4 3 G3 0 chave D3 0 3 diodo R1 1 5 100m L1 2a 5 1m ic=50 R2 2 2a 100m L2 3a 5 1m ic=50 R3 3 3a 100m Lo 5 6 1m ic=150 Ro 6 0 1 V1 G1 0 PULSE(0 15 1p 1p 1p 30u 50u) V2 G2 0 PULSE(0 16 5u 1p 1p 30u 50u) V3 G3 0 PULSE(0 16 10u 1p 1p 30u 50u) .MODEL DIODO D(Rs=.05 Vj=.1V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.1 ROFF=10MEG VON=10 +VOFF=1) .options abstol = 1nA itl5=0 itl4=20 + chgtol = 10.000p reltol = .01 tnom = 0 vntol = 1nA ; *ipsp* .tran 1.000u 2.000m 0 10.000u uic ; *ipsp* .probe v(2) v(3) v(4) v(v1) v(v2) v(v3) i(S1) i(S2) i(S3) i(Lo) +i(L2) i(L3) i(D1) i(D2) i(D3) i(Vin) v(5) i(R1) .END

========== ooooo ==========

Cap.6: Arquivo <csi_symdel.cir> *CSI (MULT-NIVEL EM CORRENTE) *Chaveamento Simétrico com Delay 5 Níveis Ii 0 1 100A S5 1 6 C5 0 CHAVE S3 3 10 C3 0 CHAVE S7 2 7 C7 0 CHAVE S1 3 11 C1 0 CHAVE S8 2 8 C8 0 CHAVE S2 4 12 C2 0 CHAVE S6 1 9 C6 0 CHAVE S4 4 13 C4 0 CHAVE * *DEFINICAO DOS DIODOS * D5 6 3 DIODO D7 7 3 DIODO D3 10 0 DIODO D1 11 5 DIODO D2 12 5 DIODO D4 13 0 DIODO D8 8 4 DIODO D6 9 4 DIODO * *DEFINICAO ELEMENTOS PASSIVOS * L1 1 20 50m ic=50 r1 20 2 0.001 L2 50 0 50m ic=50 r2 5 50 0.001 * R0 3 4 3.0OHMS C0 3 4 700u ic=0 * *TENSOES DE CONTROLE DAS CHAVES * VC1 C1 0 PULSE(0 15 6.77m 0 0 8.333m 16.667m) VC3 C3 0 PULSE(0 15 7.27m 0 0 8.333m 16.667m) VC5 C5 0 PULSE(0 15 1.56m 0 0 8.333m 16.667m) VC7 C7 0 PULSE(0 15 2.06m 0 0 8.333m 16.667m) e2 C2 0 TABLE v(C1) (0,15) (7,15) (15,0) e4 C4 0 TABLE v(C3) (0,15) (7,15) (15,0) e6 C6 0 TABLE v(C5) (0,15) (7,15) (15,0) e8 C8 0 TABLE v(C7) (0,15) (7,15) (15,0) *

Page 243: Conversores Multiníveis em Corrente

231

.MODEL CHAVE VSWITCH(RON=0.1 ROFF=1E+6 VON=4V VOFF=0.5V)

.MODEL DIODO D(VJ=0.4 RS=0.1)

.OPTIONS ITL4=60 ITL5=0 ABSTOL=1u VNTOL=10uV CHGTOL=100p RELTOL=0.01 .tran 100.000u .5 0 100.000u uic ; *ipsp* .probe .END

========== ooooo ==========

Cap.6: Arquivo <csi_assimsc.cir> *CSI (MULT-NIVEL EM CORRENTE) *Chaveamento Assimétrico ("larguras iguais") Ii 0 1 100A S5 1 6 C5 0 CHAVE S3 3 10 C3 0 CHAVE S7 2 7 C7 0 CHAVE S1 3 11 C1 0 CHAVE S8 2 8 C8 0 CHAVE S2 4 12 C2 0 CHAVE S6 1 9 C6 0 CHAVE S4 4 13 C4 0 CHAVE * *DEFINICAO DOS DIODOS * D5 6 3 DIODO D7 7 3 DIODO D3 10 0 DIODO D1 11 5 DIODO D2 12 5 DIODO D4 13 0 DIODO D8 8 4 DIODO D6 9 4 DIODO * *DEFINICAO ELEMENTOS PASSIVOS * L1 1 20 150mH ic=50 rp 20 2 0.01 L2 50 0 150mH ic=50 rn 5 50 0.01 * R0 3 4 3.0OHMS C0 3 4 700u ic=0 * *TENSOES DE CONTROLE DAS CHAVES * VC5 C5 0 PULSE(0 15 2.08m 0 0 10.42m 16.667m) VC7 C7 0 PULSE(0 15 4.17m 0 0 6.25m 16.667m) VC3 C3 0 PULSE(0 15 6.25m 0 0 10.42m 16.667m) VC1 C1 0 PULSE(0 15 8.34m 0 0 6.25m 16.667m) * e2 C2 0 TABLE v(C1) (0,15) (7,15) (15,0) e4 C4 0 TABLE v(C3) (0,15) (7,15) (15,0) e6 C6 0 TABLE v(C5) (0,15) (7,15) (15,0) e8 C8 0 TABLE v(C7) (0,15) (7,15) (15,0) * .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=0.1 ROFF=1E+6 VON=4V VOFF=0.5V) .MODEL DIODO D(VJ=0.4 RS=0.1) .OPTIONS ITL4=60 ITL5=0 ABSTOL=1u VNTOL=10uV CHGTOL=100p RELTOL=0.01 .tran 100.000u 1 0 100.000u uic ; *ipsp* .probe i(L1) i(L2) i(S1) i(S2) i(S3) i(S4) i(S5) i(S6) +i(S7) i(S8) v(1,2) v(50) i(R0) i(C0) v(3,4) v(vc5) +v(vc1) v(vc3) v(e4) v(vc7) v(e6) v(e8) v(e2) .END

========== ooooo ==========

Cap.6: Arquivo <csi_simsc.cir> *CSI (MULTINÍVEL EM CORRENTE) *Chaveamento Simétrico Ii 0 1 100A S5 1 6 C5 0 CHAVE S3 3 10 C3 0 CHAVE S7 2 7 C7 0 CHAVE S1 3 11 C1 0 CHAVE S8 2 8 C8 0 CHAVE S2 4 12 C2 0 CHAVE S6 1 9 C6 0 CHAVE

S4 4 13 C4 0 CHAVE * *DEFINICAO DOS DIODOS * D5 6 3 DIODO D7 7 3 DIODO D3 10 0 DIODO D1 11 5 DIODO D2 12 5 DIODO D4 13 0 DIODO D8 8 4 DIODO D6 9 4 DIODO * *DEFINICAO ELEMENTOS PASSIVOS * L1 1 20 150mH ic=50 rp 20 2 0.01 L2 50 0 150mH ic=50 rn 5 50 0.01 * R0 3 4 3.0OHMS C0 3 4 700u ic=0 * *TENSOES DE CONTROLE DAS CHAVES * V1a C1a 0 PULSE(0 15 8.34m 0 0 10.42m 33.333m) V1b C1b 0 PULSE(0 15 27.08m 0 0 6.24m 33.333m) e1 C1 0 value = v(c1a)+v(c1b) V3a C3a 0 PULSE(0 15 10.42m 0 0 6.24m 33.333m) V3b C3b 0 PULSE(15 0 2.08m 0 0 22.92m 33.333m) e3 C3 0 value = v(c3a)+v(c3b) V5a C5a 0 PULSE(0 15 14.58m 0 0 6.24m 33.333m) V5b C5b 0 PULSE(15 0 6.24m 0 0 22.92m 33.333m) e5 C5 0 value = v(c5a)+v(c5b) V7a C7a 0 PULSE(0 15 12.50m 0 0 10.42m 33.333m) V7b C7b 0 PULSE(15 0 4.16m 0 0 27.08m 33.333m) e7 C7 0 value = v(c7a)+v(c7b) * e2 C2 0 TABLE v(C1) (0,15) (7,15) (15,0) e4 C4 0 TABLE v(C3) (0,15) (7,15) (15,0) e6 C6 0 TABLE v(C5) (0,15) (7,15) (15,0) e8 C8 0 TABLE v(C7) (0,15) (7,15) (15,0) * .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=0.1 ROFF=1E+6 VON=4V VOFF=0.5V) .MODEL DIODO D(VJ=0.4 RS=0.1) .OPTIONS ITL4=60 ITL5=0 ABSTOL=1u VNTOL=10uV CHGTOL=100p RELTOL=0.01 .tran 100.000u 1 0 100.000u uic ; *ipsp* .probe i(L1) i(L2) i(S1) i(S2) i(S3) i(S4) i(S5) i(S6) +i(S7) i(S8) v(1,2) v(50) i(R0) i(C0) v(3,4) v(e1) +v(e2) v(e3) v(e4) v(e5) v(e6) v(e7) v(e8) .END

========== ooooo ==========

Cap.6: Arquivo <retca_cc2cell.cir>

*Retificador Buck MNC - 5 Níveis *Fator de Potência Unitário *Circuito de entrada * Vi 3 4 sin(0 170 60 0 0 0) L1 2 1 100m ic=50 S5 6 1 C5 0 CHAVE S7 7 2 C7 0 CHAVE S3 10 3 C3 0 CHAVE S1 11 3 C1 0 CHAVE S6 9 1 C6 0 CHAVE S8 8 2 C8 2 CHAVE S2 12 4 C2 0 CHAVE S4 13 4 C4 0 CHAVE L2 0 5 100m ic=50 * *DEFINICAO DOS DIODOS * D5 3 6 DIODO D7 3 7 DIODO D3 0 10 DIODO

Page 244: Conversores Multiníveis em Corrente

232

D1 5 11 DIODO D6 4 9 DIODO D8 4 8 DIODO D2 5 12 DIODO D4 0 13 DIODO * *Filtro e Carga * Lo 1 14 300m ic=100 Ro 14 0 0.8 * * *TENSOES DE CONTROLE DAS CHAVES V5 C5 0 PULSE(15 0 6.712963m 0 0 9.259222m 16.667m) V7 C7 0 PULSE(0 15 1.62037m 0 0 7.4073777m 16.6667m) V3 C3 0 PULSE(15 0 0.69444m 0 0 9.259222m 16.6667m) V1 C1 0 PULSE(0 15 7.63889m 0 0 7.4073777m 16.6667m) e6 C6 0 table v(C5) (0,15) (7,15) (15,0) e8 C8 2 table v(C7,0) (0,15) (7,15) (15,0) e2 C2 0 table v(C1) (0,15) (7,15) (15,0) e4 C4 0 table v(C3) (0,15) (7,15) (15,0) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=0.1 ROFF=1E+6 VON=2.5V VOFF=2.0V) .MODEL DIODO D(VJ=0.2 RS=0.1) .OPTIONS ITL4=60 ITL5=0 ABSTOL=1u VNTOL=10uV CHGTOL=100p RELTOL=0.01 .tran 50.000u .5 0 0 uic ; *ipsp* .probe .END

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Cap.7: Arquivo <bo2izvtid.cir>

Circuito Boost MNC-2 células; Comutação suave via ZVT *circuito de potência If 0 1 20 S1 1 0 G1 0 chave D1 1 2 diodo Dp1 0 1 diodo Cr1 1 0 2nF ic=0 Xs1 G 0 1 G1 TDUAL L1 1 4 15u ic=10 S2 4 0 G2 0 chave D2 4 2 diodo Dp2 0 4 diodo Cr2 4 0 2nF ic=0 Xs2 G 0 4 G2 TDUAL Vo 2 0 400 *circuito comutação suave - ZVT Da1 1 5 diodo Da2 4 5 diodo Lr 5 3 10u Da3 3 2 diodo Sa 3 0 Ga 0 chave Va Ga 0 pulse (0 15 0 1p 1p 1u 14u) Ra Ga 0 10k Vg G 0 pulse (0 15 0 1p 1p 10u 14u) * SUBCIRCUITO TIRISTOR DUAL .SUBCKT TDUAL G1 S D G * * | | | | * | | | (Gate Saida) * | | (Drain) * | (Source) * (Gate Entrada) * Espera pulso (e.g 12V) em G1 e libera * pulso de 15 Volts em G, se Vds=0. * TIRISTOR DUAL EA 1 S table v(D,S) (0,15) (3.5,15) (7,0) EB 2 S table v(G1,S) (-1,0) (0,0) (1,15)

R2 Gi S 470 Va 4 S 15 Ra 4 Gi 22 Da1 Gi 1 diodo Da2 Gi 2 diodo Eo Gk S table v(Gi,S) (-1,0) (1,0) (13,15) ro Gk G 25 co G S 1n .ENDS .model chave vswitch(ron=0.3 roff=1e6 von=10 voff=2) .model diodo D(rs=0.1 Vj=0.7 Cjo=200p) .tran 200n 60u 0 50n uic ; *ipsp* .options itl5 = 0 itl4 = 60 abstol = 1n chgtol = 100p + reltol = .01 vntol = 1u ; *ipsp* .probe .end

========== ooooo ==========

Cap.7: Arquivo <bofpreal.cir> Circuito Boost com alto FP (malha de corrente) *Comutação suave via ZVT/Tiristor Dual *circuito de potência vin 1 2 sin (0 311 60 0 0 0) d1 1 3 diodo d2 2 3 diodo d3 50 1 diodo d4 50 2 diodo rs 0 50 0.1 Lf 3 4 700u ic=0 dp 4 5 mur850 M1 4 G1 0 0 irfp450 Xs1 6a 0 4 G1 TDUAL L1 4 4a 10u ic=0 M2 4a G2 0 0 irfp450 Xs2 6a 0 4a G2 TDUAL dpa 4a 5 mur850 co 5 0 680u ic=400 ro 5 0 50 *Adaptação do sensor de corrente ra1 50 70 10k ra2 70 90 10k eax 90 0 0 70 100k *circuito auxiliar de comutação Da1 4 4b mur850 Da2 4a 4b mur850 Lr 4b 4c 10u Da 4c 5 mur850 Ma 4c Gx 0 0 irfp460 *elementos de controle vref 15 0 sin (0 2.06 60 0 0 0) rref 15 0 10k eref 8 0 value = abs(v(15)) *Controle de corrente r1 90 7 22k x1 8 7 20 30 10 lf411 c1 9 10 680p c2 7 10 68p r3 7 9 82k r4 10 11 1k r5 13 12 1k r6 20 6 1k x2 11 12 20 30 6 0 lm311 ; pulsos para chaves em 6a 0 table v(6,0) (-1,0) (1,0) (2,15) dzls 10a 10 D1N744 Vls 10a 0 .7 *monoestavel vmono Gx 0 pulse (0 15 0 1p 1p 1u 14.286u) Rx Gx 0 10k vds 13 0 pulse (0 3.7 0 14.266u 10n 10n 14.286u) va1 20 0 15 va2 30 0 -15

Page 245: Conversores Multiníveis em Corrente

233

* SUBCIRCUITO TIRISTOR DUAL .SUBCKT TDUAL G1 S D G * * | | | | * | | | (Gate Saida) * | | (Drain) * | (Source) * (Gate Entrada) * Espera pulso (e.g 12V) em G1 e libera * pulso de 15 Volts em G, se Vds=0. * TIRISTOR DUAL EA 1 S table v(D,S) (0,15) (8,15) (9.0,0) EB 2 S table v(G1,S) (-1,0) (0,0) (1,15) R2 Gi S 470 Va 4 S 15 Ra 4 Gi 22 Da1 Gi 1 d1n916 Da2 Gi 2 d1n916 Eo Gk S table v(Gi,S) (-1,0) (10,0) (13,15) ro Gk G 25 .ENDS .model D1N744 D(Is=0.05u Rs=10m Bv=2.5 Ibv=0.05u Cjo=100p) .model diodo D(Vj=0.4 Cjo=100p) .temp 100 .lib hb.lib .tran 2u .017 0 0.2u uic ; *ipsp* .options itl5 = 0 itl4=50 abstol = 1n chgtol = 100.0p + reltol = .01 vntol = 1u ; *ipsp* .probe v(7) v(8) v(10) v(13) v(6a) i(L1) i(Lf) + id(M1) id(M2) i(dp) i(dpa) v(90) v(4) v(4a) v(Vin) i(Vin) .end

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Cap.8: Arquivo <b2i2v.cir>

*CONVERSOR CC-CC BUCK.2I/2V *HENRIQUE A.C. BRAGA Vin 1 0 1000 S1 5 7 G1 0 chave D1 6 7 diodo S2 1 5 G2 0 chave D2 0 6 diodo S3 2 4 G1 0 chave D3 3 4 diodo S4 1 2 G2 0 chave D4 0 3 diodo C1 5 6 10u ic=500 C2 2 3 10u ic=500 r1 7 70 0.1 L2 4 60 .05m ic=50 r2 60 70 0.1 Lo 70 8 700u ic=100 Ro 8 0 8 V1 G1 0 PULSE(0 15 1p 1p 1p 40u 50u) V2 G2 0 PULSE(16 0 15u 1p 1p 10u 50u) .MODEL DIODO D(Rs=.1 Vj=.5V) .MODEL CHAVE VSWITCH(RON=.4 ROFF=1MEG VON=10 VOFF=1) .options abstol = 1uA itl5=0 itl4=60 chgtol = 10.000p + reltol = .01 tnom = 0 vntol = 1uV ; *ipsp* .tran 5.000u 10m 0 uic ; *ipsp* .probe .END