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UFRRJ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E
ESTRATÉGIA EM NEGÓCIOS
DISSERTAÇÃO
Viabilidade das Cooperativas Abertas: um estudo de caso da
Cooperativa de Crédito de Mendes Ltda
MARCIO ROBERTO PALHARES NAMI
2004
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E ESTRATÉGIA EM NEGÓCIOS
Viabilidade das Cooperativas Abertas: um estudo de caso da Cooperativa de Crédito de Mendes Ltda
MARCIO ROBERTO PALHARES NAMI
Sob a Orientação da Professora Dra. Ana Alice Vilas Boas
Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Gestão e Estratégia em Negócios
Seropédica, RJ Outubro de 2004
LEVAR PARA REFAZER EM UMA BLIBLIOTECA ANTES DE ENCADERNAR
Verificar na Biblioteca Central. ........... .....................
Nami, Marcio Roberto Palhares Título da dissertação/tese. Município. Estado. Instituição. Instituto. Ano. xv. nº f: il.............................. Orientador: I. Referência orientador. II. Referência Instituição. Instituto. III. Título
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E ESTRATÉGIA EM NEGÓCIOS
MARCIO ROBERTO PALHARES NAMI Dissertação submetida ao Curso de Mestrado Profissional em Gestão e Estratégia em Negócios como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Gestão e Estratégia em Negócios. DISSERTAÇÃO APROVADA EM: 15 /10 / 2004
_________________________________
Ana Alice Vilas Boas, PhD - UFRRJ
_____________________________________ Antonio Carlos Nogueira, Dr - UFRRJ
_______________________________________ Edgard Alencar, PhD - UFLA
A todos aqueles que atuaram em maior ou menor grau na manutenção e preservação desta casa de crédito
ao longo dos seus 74 anos de existência.
Aos associados, funcionários e diretores da Cooperativa de Mendes.
SUMÁRIO
Lista de Tabelas e Gráficos .................................................................... i Resumo .................................................................................................................. ii Abstract ............................................................................................................. iii 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1
1.1 Relevância do Tema ....................................................................... 4
1.2 Objetivos................................................................................................ 4
1.3 Estrutura da Dissertação ....................................................... 5
2 REVISÃO DE LITERATURA................................................................ 6
2.1 Tipos de Sociedades Cooperativas ........................................ 6
2.2 Cooperativas de Crédito ....................................
2.2.1 Perfil das Cooperativas de Crédito .................................. 16
2.3 Formas Similares de Organização da Sociedade .................... 18
2.3.1 Comparação entre Cooperativas e Empresas ......................... 21
2.4 Antigos Sistemas Cooperativistas .................................................... 23
2.5 História dos Principais Cooperativistas ....................................... 29
2.6 Legislação Cooperativista no Mundo ...................................... 44
2.7 Legislação Cooperativista no Brasil .............................................. 53
2.7.1 Dispositivos Constitucionais que Fazem Referência ao Cooperativismo ...... 55
3. METODOLOGIA .................................................................................................... 58
3.1 Coleta de Dados............................................................................................... 58
3.2 Análise de Dados.............................................................................................. 59
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................... 59
4.1 Histórico e Perfil da Cremendes ........................................................ 59
4.2 Trajetória da Cremendes: Versão do Presidente da CECRERJ ......................... 60
4.3 Perfil Atual da Cremendes: Dados Complementares ............. 67
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 73
5.1 Sugestão para Futuras Pesquisas ........................................................ 74
Referências Bibliográficas ........................................... ................... 75
Anexo I Estatuto da Cremendes ........................................................... 77
Anexo II Matérias Jornalísticas .............................................................. 98
Anexo III Resolução 3106 do Banco Central do Brasil ............................................. 103
LISTAS DE QUADROS E GRÁFICOS
Quadro 1: Principais Diferenças entre Cooperativas e Bancos ...........................................20 Quadro 2: Comparativo entre Empresas de Capital e Sociedades Cooperativas ............... 22 Gráfico 1: Carteira de Empréstimos da Cooperativa de Mendes..........................................96 Gráfico 2: Evolução do Capital.............................................................................................97
i
RESUMO
NAMI, Marcio Roberto Palhares. Viabilidade das Cooperativas Abertas: Um Estudo de Caso da Cooperativa de Crédito de Mendes Ltda. Seropédica UFRRJ, 2004 125p. (Dissertação, Mestrado Profissional em Gestão e Estratégia em Negócios).
O Brasil possui um extenso território com uma diversidade imensa de características culturais e econômicas, baseado nesta realidade existe o grande desafio de fazer chegar o crédito, destinado ao fomento e expansão, a quem necessita de pequenas somas, e ao mesmo tempo, tem dificuldade de suprir as exigências normais de mercado, devido à falta de recursos culturais e patrimoniais. Face ao quadro acima, este estudo mostra a importância de uma cooperativa de crédito aberta para o desenvolvimento de uma região, as chamadas cooperativas Luzzatti, que trazem em sua filosofia a preocupação em reverter os recursos ao menor custo possível e buscam atingir o maior número de associados, não havendo preocupação com o lucro. O modelo escolhido foi a Cooperativa de Crédito de Mendes Ltda, uma cooperativa que atua no interior do estado do Rio de Janeiro há 74 anos ininterruptamente e que vem trazendo respostas aos anseios da população em geral, com foco especial nas operações destinadas aos associados de baixa renda. Ao se analisar os dados, bem como os resultados financeiros e econômicos disponíveis ao longo de ¾ de século, constatou-se que esta iniciativa é válida e que ela capacidade de atingir as diversas camadas populacionais. Além disso, observou-se que a história desta cooperativa vem contribuir para a confirmação da suposição deste estudo e deixa claro que o cooperativismo de credito é um modelo viável. A CreMendes tem se mostrado pioneira neste movimento e tem contribuído para a manutenção deste ramo do cooperativismo como uma alternativa de desenvolvimento local e regional, pois toda região circunvizinha tem se beneficiado dos serviços oferecidos por essa instituição.
Palavras-chave: Cooperativismo, Cooperativas Luzzatti, Cooperativas de livre adesão
ABSTRACT
NAMI, Marcio Roberto Palhares. Availability of Luzzatti Cooperatives: The Cremendes Ltd Case Study. Seropédica UFRRJ, 2004 125P. (Dissertation, Professional Master in Management and Business Strategy).
Brazil has a large area with a wide range of cultural and economic features; on the basis of this reality there is the great challenge of making credit destined to fostering and expansion possible to those in need of small amounts of money and who, at the same time, find it difficult to fulfill usual market demands, due to lack of cultural and patrimonial resources. In the face of the above-mentioned scenery, this study shows the importance of credit cooperative societies open in order to foster the development of a region – the so-called Luzzatti cooperative societies, which carry on a philosophy which concerns about the reversion of resources at a cost as low as possible, and which seek to achieve the highest number of associate members, profit concerns being left aside. The chosen model was the Cooperativa de Crédito de Mendes Ltda, a 74-year-old cooperative society which exists in the state of Rio de Janeiro and which has brought satisfactory answers to the demands of the whole population, with special focus on the operations destined to low-income associate members. It was noticed that Key-words: Luzzatti Cooperatives, Cooperativism, Free Enrollment Cooperatives
iii
1. INTRODUÇÃO
A Aliança Cooperativista Internacional (ACI), com 750 milhões de membros, é a
maior organização não governamental do mundo e a primeira adotada como órgão
consultivo pela Organização das Nações Unidas. Fundada em Londres em 1895, hoje com
sede em Genebra, na Suíça, a ACI é independente, reúne e representa as cooperativas de
todo o mundo. A aliança é um fórum privilegiado, que serve como referência para a
solução de problemas comuns em âmbito internacional. Atua como agente catalisador,
promovendo posições de consenso no setor privado ou subsidiando governos nas definições
de suas políticas e diretrizes (ACI, 1995).
Toda cooperativa tem como órgão decisório máximo a Assembléia Geral. Toda e
qualquer decisão de interesse da sociedade é tomada conforme disposto na legislação e no
estatuto social. O cooperado assume, além das obrigações individuais, a responsabilidade
coletiva de, em ato de reunião, juntamente com todos ou em sua maioria, decidir, discutir e
deliberar. No caso do Brasil, em sua legislação pertinente, Lei 5764/71, esta se realiza
durante o exercício social nas seguintes ocasiões: a) assembléia de constituição – é
realizada no ato de constituição da cooperativa, faz-se necessário o mínimo de 20 pessoas
presentes. Nesta assembléia será escolhido o nome da cooperativa, sua sede, será definido e
discutido o seu estatuto social, sendo também eleitos os representantes dos órgãos de
administração (Conselho de Administração/Diretoria e Conselho Fiscal); b) assembléia
geral ordinária (AGO) – obrigatoriamente realizada uma vez por ano, acontecendo nos três
primeiros meses após o término do exercício social para deliberar sobre os seguintes
assuntos: prestação de contas dos órgãos da administração, compreendendo relatório da
gestão, balanço geral, demonstrativo de sobras (destinação) ou perdas (rateio), plano futuro
de atividade da cooperativa, eleição e posse dos componentes dos órgãos da Administração.
Compete ao Conselho Fiscal, fixação dos honorários dos seus membros, e cédula
de presença, bem como outros assuntos de interesse do quadro social, com obtenção de
aprovação pela maioria simples; c) assembléia geral extraordinária (AGE) – visando
deliberar sobre quaisquer assuntos da cooperativa, efetiva-se sempre que necessário,
mediante convocação em edital. Enquadram-se como questões prioritárias, sendo de
competência exclusiva da AGE, deliberar sobre: a) reforma do Estatuto Social; b) fusão,
incorporação ou desmembramento; c) mudança de objetivos da sociedade; d) dissolução
voluntária e nomeação de liquidante; e) aprovação das contas do liquidante, f) exige
aprovação de dois terços do quadro social presente. Sendo que, associado é aquele que
integra o quadro social de uma associação, com direitos e deveres comuns a todos os
membros, previstos estatutariamente.
Conselheiros são pessoas que compõem a Diretoria e/ou Conselho de
Administração, como também o Conselho Fiscal. Seu mandato é sempre eletivo, são os
responsáveis pela cooperativa e caso ajam com dolo, fraude ou simulação, têm
responsabilidade civil e criminal sobre seus atos.
A Doutrina Cooperativa refere-se aos princípios cooperativos e ensaios filosóficos
que os fundamentam, constituindo-se em importante fator para o surgimento e a
manutenção da cooperação. É uma forma de intervenção grupal que surgiu opondo-se às
conseqüências práticas do liberalismo, que visa à correção do social através de uma forma
específica de associar-se. Tem por fim desenvolver por todos os meios a seu alcance, a
fraternal convivência entre os cooperados, tratar dos interesses comuns, estabelecer todas as
formas de proteção e defesa dos seus membros, promover sobre sólidas bases a sua
prosperidade, a sua riqueza, a sua independência e seu progresso material e moral.
O Estatuto Social, derivado do latim stature (estabelecer, constituir, fundar) em
sentido amplo, entende-se por lei ou regulamento em que se fixam os princípios
institucionais ou orgânicos de uma coletividade.
A Federação das Cooperativas, constituída de, no mínimo, três cooperativas
singulares, tem como objetivo a prestação dos serviços às singulares filiadas. A Federação
tem por premissa orientar, em maior escala, as atividades econômicas e as gestões políticas
das cooperativas confederadas.
A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) é uma sociedade civil sem fins
lucrativos com sede na capital da República, que atua como órgão técnico consultivo,
promovendo, em nível nacional, a assistência e representação do sistema cooperativista.
O artigo 21 da revogada Lei Cooperativista nº. 22.239, de 19 de dezembro de 1932,
catalogou 16 categorias principais que são: Cooperativas de produção agrícolas;
Cooperativas de produção industrial; Cooperativas de trabalho (profissional ou de classe);
Cooperativas de beneficiamento de produtos; Cooperativas de compras em comum;
Cooperativas de vendas em comum; Cooperativas de consumo; Cooperativas de
abastecimento; Cooperativas de crédito; Cooperativas de seguros; Cooperativas de
Construção de casas populares; Cooperativas editoras e de cultura intelectual; Cooperativas
escolares; Cooperativas mistas; Cooperativas centrais; Cooperativas de cooperativas
(federações). Isso mostra a relevância de se estudar cada um destes tipos para melhor
entender as peculiaridades.
Na legislação atual, já não mais existe qualquer forma de classificação, contudo, a
pratica dividiu o movimento em nove ramos, adotada oficialmente pela OCB (1998). Tem-
se, Ramo Agropecuário; Ramo de Consumo; Ramo de Crédito; Ramo Educacional; Ramo
Habitacional; Ramo de Saúde; Ramo de Serviços; Ramo de Trabalho; e Ramo
Especial/Mineral/Produção.
Ao longo de décadas de prática cooperativista no Brasil, constata-se que poucos
modelos teóricos destinados à orientação de futuros cooperativistas ou entusiastas do tema
foram efetivamente produzidos. Mas, o estado do Rio Grande Sul, berço do cooperativismo
nacional, vem produzindo dados históricos ao longo das décadas de prática de atividades
cooperativistas.
Neste contexto, o incentivo a uma empreitada que visa analisar o processo de
desenvolvimento das cooperativas de crédito teve início em 2002, quando o autor desta foi
convidado para um projeto de consultoria na Cooperativa de Mendes, no estado do Rio de
Janeiro. O mesmo viu este projeto evoluir e passou a ter participação efetiva no Conselho
de Administração da mesma, permanecendo lá até os dias atuais como Conselheiro.
O trabalho leva a uma visão geral das peculiaridades do tema cooperativismo e
conta um pouco de sua história no mundo, no Brasil e especificamente o impacto de uma
sociedade cooperativa na cidade de Mendes, parcialmente descrito sob a forma dos extratos
de atas existentes na referida cooperativa.
1.1 Relevância do Tema
O Banco Central do Brasil possibilitou a abertura de Cooperativas de Crédito por
quase todo o território nacional através da Resolução 3106 de 25 de junho de 2003. O que
possibilitou o atendimento parcial dos anseios dos entusiastas do movimento cooperativista.
Solicitação esta que era reiterada deste a década de 1960, sem, entretanto encontrar resposta
até esta data.
Ocorre que por ser uma resolução recente e tratar de um tema pouco conhecido da
maioria dos brasileiros: o cooperativismo, tal estudo se faz necessário e importante, pois
mostra um exemplo sólido de sucesso no Brasil, que pode assim nortear novos
empreendimentos a serem motivados por esta empreitada que se iniciou há 74 anos atrás.
1.2. Objetivos
Este estudo visa mostrar a capacidade de se desenvolver das cooperativas de crédito,
que modificam e atualizam sua gama de produtos, sem, entretanto abrir mão de sua
essência e filosofia originais.
Especificamente busca mostrar alguns aspectos da atuação e viabilidade da
Cooperativa de Crédito de Mendes. Uma cooperativa do tipo Luzzatti que funciona no
interior do estado do Rio de Janeiro de forma ininterrupta a quase 3/4 de século, para assim
respaldar eventuais iniciativas a serem empreendidas com o advento da Resolução 3106.
1.3 Estrutura da Dissertação
No capítulo de revisão de literatura é primeiramente descrito o cooperativismo
como um todo, destacando seus diversos aspectos e segmentos, com ênfase no
cooperativismo de crédito. É dado um panorama mundial sobre o tema com as suas
diversas vertentes e implicações, partindo depois para uma visão da evolução do
cooperativismo no Brasil dando a seguir foco no cooperativismo de crédito até que
finalmente descreve-se as leis e normas que regem o tema como um todo.
A metodologia compreendeu basicamente uma revisão bibliográfica sobre
cooperativismo e um estudo de caso na Cooperativa de Mendes Ltda (Cremendes). Para
tanto fez-se uma análise dos documentos do Conselho de Administração da Cooperativa de
Mendes e consulta adicionais às fontes bibliográficas disponíveis na Central das
Cooperativas de Economia e Crédito do Estado do Rio de Janeiro, bem como uma breve
pesquisa com os associados da Cremendes.
No capítulo de resultados e discussão apresenta-se o histórico e perfil da Cremendes
com o intuito de mostrar seu processo evolutivo e as atividades que deram sustentabilidade
e permitiram sua viabilidade como modelo para novos empreendimentos desta natureza. O
depoimento do presidente da CECRERJ, sobre a trajetória da Cremendes, também são
apresentadas neste capitulo para subsidiar as conclusões deste estudo, bem como dados
complementares do perfil atual da referida cooperativa.
No último capítulo, são apresentadas as conclusões finais e as sugestões para futuras
pesquisas.
2. REVISÃO DE LITERATURA
Este capítulo trata, em primeiro lugar, do cooperativismo como um todo, destacando
seus diversos tipos e segmentos, dando ênfase ao Cooperativismo de Crédito por causa do
objetivo principal desta pesquisa. Na seqüência, apresenta-se o panorama mundial sobre o
tema com as suas diversas vertentes e implicações, partindo depois para uma visão da
evolução do cooperativismo no Brasil dando, a seguir, foco ao cooperativismo de crédito e
no final do mesmo, descreve-se as leis e normas que regem o tema como um todo.
2.1 Tipos de Sociedades Cooperativistas
A última revisão dos princípios cooperativistas ocorreu no congresso da ACI
realizado em Manchester, em 1995. Neste congresso ficou aprovado, como guia para as
instituições cooperativistas, os seguintes princípios (ACI, 1995): adesão livre e voluntária;
controle democrático pelos sócios; participação econômica dos sócios; independência e
autonomia das cooperativas; princípio da educação, treinamento e formação; princípio da
cooperação entre cooperativas; e princípio da preocupação com a comunidade.
Estes princípios são valores que norteiam as instituições cooperativistas em todo
mundo. E, independente do tipo de cooperativa, ele deve se pautar nestes valores para ser
considerado como tal. Mesmo assim, as formas de cooperativismo podem ser bastante
diversificadas, e por isso merecem ser consideradas em seu conjunto para dar uma idéia da
amplitude de atuação desta forma de organização das pessoas. Normalmente, as
cooperativas evoluem da participação e do envolvimento das pessoas em grupos e
associações que buscam novas formas de atingirem seus objetivos pessoais, econômicos,
financeiros e até mesmo políticos.
Assim sendo, torna-se relevante fazer uma breve descrição dos tipos de cooperativas
existentes para melhor entender a complexidade desta forma de organização. Segundo
Thenório Filho (2002), existem 10 tipos principais de cooperativas, que podem ser assim
classificados e descritos.
a) Cooperativas Agropecuárias
São cooperativas compostas pelas cooperativas de produtores rurais ou agropastoris
e de pesca, cujos meios de produção pertencem ao cooperado. É um dos ramos com maior
número de cooperativas e cooperados no Brasil e no mundo. O leque de atividades
econômicas abrangidas por esse ramo é enorme e sua participação no Produto Interno bruto
de quase todos os países é significativa. Essas cooperativas geralmente cuidam de toda a
cadeia produtiva, desde o preparo da terra até a industrialização e comercialização dos
produtos.
Em qualquer tipo de cooperativa a participação é importante, como já foi dito, mas
neste caso específico, a participação é fundamental por causa das peculiaridades desta
forma de associação. Os produtores rurais apresentam peculiaridades que merecem
destaque e que podem comprometer o sucesso de iniciativas desta natureza. Neste contexto,
Vilas Boas (2000) afirma que comprometimento e o envolvimento dos membros de
associações de produtores rurais é essencial para que os mesmos possam conduzir suas
organizações com eficácia rumo a uma categoria organizacional de maior relevância, que
neste caso são as cooperativas agropecuárias.
b) Cooperativas de Consumo
São compostas pelas cooperativas dedicadas à compra em comum de artigos de
consumo para seus cooperante. Segundo Thenório Filho (2002), a primeira cooperativa do
mundo foi de consumo e surgiu em Rochdale, na Inglaterra, no ano de 1843. Também no
Brasil esse ramo é o mais antigo, cujo primeiro registro é de 1889, em Minas Gerais, com o
nome de Sociedade Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto. Durante muitas
décadas esse ramo ficou muito limitado a funcionários de empresas, operando as prazo,
com desconto na folha de pagamento. No período altamente inflacionário essas
cooperativas perderam mercado para as grandes redes de supermercados e atualmente estão
se rearticulando como ,cooperativas abertas a qualquer consumidor. À medida que
oferecem produtos mais confiáveis ao consumidor, principalmente alimentos sem
agrotóxicos, diretamente de produtores também organizados em cooperativas, esse ramo
tem excelentes perspectivas de crescimento.
c) Cooperativas de Crédito
As cooperativas de crédito são sociedades de pessoas destinadas a proporcionar,
pela mutualidade, assistência financeira aos seus cooperados. Funcionam mediante
autorização do Banco Central do Brasil, porque são equiparadas às demais instituições
financeiras. A lei lhes proíbe que adotem o nome de banco. No entanto, guardam alguns
pontos em comum com essas instituições financeiras. Para consecução de seus objetivos
podem praticar as operações passivas típicas de sua modalidade, como obter recursos no
mercado financeiro, nas instituições de crédito, particulares ou oficiais, através de repasse e
refinanciamentos. Podem captar recursos de seus cooperados via depósitos à vista e a
prazo; fazer cobrança de títulos, recebimentos e pagamentos, mediante convênios
correspondentes no país, depósitos em custódia e outras captações típicas da modalidade.
d) Cooperativas Educacionais
Compostas por cooperativas de professores, cooperativas de alunos de escola
agrícola, cooperativas de pais de alunos e cooperativas de atividades afins. Esse é um ramo
recente, criado em Itumbiara-GO, em 1987, no que se refere às cooperativas de pais de
alunos, como excelente resposta à situação caótica do ensino brasileiro, em que o ensino
público deixa muito a desejar quanto à qualidade e o ensino particular se tornou oneroso
demais. Em todos os estados essas cooperativas estão sendo a melhor solução para os pais e
os alunos, pois se tornam menos onerosas e realizam uma educação comprometida com o
desenvolvimento endógeno da comunidade, resgatando a cidadania em plenitude. As
cooperativas de escolas agrícolas estão em dificuldades, diante de mudanças recentes na
legislação brasileira, que dificulta o funcionamento dessas cooperativas.
e) Cooperativas Habitacionais
Compostas pelas cooperativas destinadas à construção, manutenção e administração
de conjuntos habitacionais para seu quadro social. Esse ramo esteve muito tempo vinculado
ao Banco Nacional de Habitação e ao Instituto Nacional de Orientação às Cooperativas-
Inocoops. Mas com a extinção do BNH e a enorme demanda por habitação, esse ramo se
rearticulou e partiu para o auto-funcionamento, com excelentes resultados. O exemplo mais
contundente é o Projeto Águas Claras, Em Brasília/DF, onde a maioria dos prédios foi
construída pelo sistema Cooperativista.
f) Cooperativas de Infra-estrutura
Antes denominado “Energia/telecomunicação e Serviços”. As cooperativas de infra-
estrutura são compostas pelas cooperativas, cuja finalidade é atender direta e
prioritariamente o próprio quadro social com serviços de infra-estrutura. As cooperativas de
eletrificação rural, que são a maioria, aos poucos estão deixando de ser meras repassadoras
de energia, para serem geradoras de energia.
g) Cooperativas de Mineração
Compostas pelas cooperativas com finalidade de pesquisar, extrair, lavrar,
industrializar, comercializar, importar e exportar produtos minerais. É um ramo com grande
potencial, principalmente com o respaldo da atual Constituição Brasileira, mas que
necessita de especial apoio para se organizar. Os garimpeiros, geralmente, são pessoas que
vêm de diversas regiões, atraídas pela perspectiva de enriquecimento rápido, que se
aglomeram num local para extrair minérios, sem experiência cooperativista. As
cooperativas de garimpeiros geralmente cuidam de diversos aspectos, como saúde,
alimentação, educação, etc. além as atividades específicas do ramo. As cooperativas de
mineração são grandes parceiras na recomposição ambiental, uma vez que fazem um
extrativismo politicamente correto, sempre preservando o meio ambiente.
h) Cooperativas de Produção
Compostas pelas cooperativas dedicadas à produção de um ou mais tipos de bens e
mercadorias, sendo os meios de produção coletivos, através da pessoa jurídica, e não
individual do cooperado. É um ramo relativamente novo, cuja denominação pertencia antes
ao ramo agropecuário. Para os empregados, cuja empresa entra em falência, a cooperativa
de produção geralmente é a única alternativa para manter os postos de trabalho. Em outros
países, esse ramo está bem desenvolvido, como na Espanha (Mondragon). No Brasil, cada
vez mais os empregados estão descobrindo as vantagens de constituir o próprio negócio,
deixando de ser assalariados para tornarem-se donos e empresários.
i) Cooperativa de Saúde
Compostas pelas cooperativas que se dedicam à preservação e recuperação da saúde
humana. É um dos ramos que mais rapidamente cresceu nos últimos anos, incluindo
médicos, dentistas, psicólogos e profissionais de outras atividades afins. É interessante
ressaltar que esse ramo surgiu no Brasil e está se expandindo para outros países. Também
se expandiu para outras áreas, como a de crédito e de seguros. Ultimamente, os usuários de
serviços de saúde também estão se reunindo em cooperativas. Muitas cooperativas usam
serviços do ramo saúde em convênios, cumprindo um dos princípios do sistema, que é a
integração.
j) Cooperativas Especiais ou Sociais
Compostas pelas cooperativas constituídas por pessoas que precisam ser tuteladas.
A lei nº 9867 do dia 10 de novembro de 1999, criou a possibilidade de se constituírem
cooperativas “sociais” para a organização e gestão de serviços sócio-sanitários e
educativos, mediante atividades agrícolas, industriais, comerciais e de serviços,
contemplando as seguintes pessoas: deficientes físicos, sensoriais, psíquicos e mentais,
dependentes de acompanhamento psiquiátrico permanente, dependentes químicos, pessoas
egressas de prisões, os condenados a penas alternativas à detenção e os adolescentes em
idade adequada ao trabalho e situação familiar difícil do ponto de vista econômico, social e
afetivo.
As cooperativas sociais organizam seu trabalho, especialmente no que diz respeito
às dificuldades gerais e individuais das pessoas em desvantagem, e desenvolvem e
executam programas especiais de treinamento, com o objetivo de aumentar-lhe a
produtividade e a independência econômica e social. A condição de pessoa em
desvantagem deve ser atestada por documentação proveniente de órgão da administração
pública, ressalvando-se o direito à privacidade. O estatuto da dita “Cooperativa Social”
poderá prever uma ou mais categorias de sócios voluntários, que lhes preste serviços
gratuitamente, e não estejam incluídos na definição de pessoas em desvantagem.
k) Cooperativas de Trabalho
As cooperativas de trabalho são sociedades de pessoas que, reciprocamente, se
obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de
proveito comum, sem objetivo de lucro, vez que o resultado do trabalho é dividido entre os
cooperados. Trata-se de uma modalidade que vem despontando como opção para gerar,
manter ou recuperar postos de trabalho. Denominam-se cooperativas de trabalho, tanto as
que produzem bens como aquelas que produzem serviços, sempre pelos próprios
cooperados. São trabalhadores cooperados, todos sócios da sociedade cooperativa, desde os
que executam os trabalhos mais simples (carregadores, pedreiros, garis, etc.) até
especialistas como médicos, engenheiros, advogados, etc. Esse ramo permite que o
trabalhador se organize em grupos para atuar no mercado sem intermediários. Através de
uma cooperativa de trabalho, organizam-se, sendo, ao mesmo tempo, donos do próprio
negócio, oferecendo ao mercado uma prestação de serviço qualificada, como também
usuários dos serviços ofertados pela cooperativa (benefícios).
Elas constituem-se em empresas auto-gestionárias e auto-sustentáveis, como
qualquer outra empresa. As cooperativas, ao praticarem operação comercial, pagam
tributos, sendo que o ato cooperativo (art.79 da Lei 5.764/71), entre cooperados, não sofre
incidência tributária. Quem recebe o ganho é o cooperado, que também para seus tributos
normais de contribuição individual (ISS, INSS, IRPF). As cooperativas de trabalho atuam
de várias maneiras no mercado: com empresas públicas ou privadas ou pessoas físicas,
através as licitações, ou contratos específicos, tanto na oferta de prestação de serviços como
na produção de bens. Qualquer desses contratos, ao ser elaborado, requer avaliação
criteriosa de custos para se evitar a inviabilidade da cooperativa, que deve, para tanto, criar
fundos que resguardem os direitos sociais e universais do trabalhador cooperado. Não
recebem salário, mas sim pró-labore, variável das sobras resultantes do seu trabalho.
Trata-se de uma sociedade democrática, em que cada cooperado é autônomo, não
tendo, portanto, vínculo empregatício com a cooperativa e sendo, assim, titular de seu posto
de trabalho. O art. 91 de Lei nº 5.764/71 dispõe que essas cooperativas igualam-se às
demais empresas em relação aos seus empregados para fins de cumprimento da legislação
trabalhista e previdenciária. Para Meinen et al (2002), elas diferenciam-se da empresa
tradicional pelos seguintes aspectos:
1- Apostam no capital humano (sendo uma sociedade de pessoas e não de capital);
2- Não visam lucro;
3- Democrática (cada cooperado, um voto);
4- O cooperado é autônomo (não tendo relação de emprego com a sua cooperativa e
com o tomador de serviços contratante);
5- Não sujeitas a falência;
6- Possuem um tratamento legal diferenciado possuindo uma variação substancial em
relação aos custos; e
7- Não remuneram o tempo ocioso: pagam de acordo com a produção, com tarefas
executadas e/ou com o trabalho contratado.
A lei cooperativista, 5764/71, dita as regras para formação dessas cooperativas,
relacionamento para com os cooperados e a sociedade. Alguns destaques, a saber:
1- forma-se com, no mínimo vinte cooperados;
2- aprovar o estatuto social com eleição dos conselhos (administração e Fiscal) e
responsáveis pela direção da entidade, se for o caso de contratação de diretoria
executiva;
3- arquivar o estatuto social na junta comercial do Estado;
4- registrá-los no CNPJ do Ministério da fazenda, obtendo o alvará de funcionamento
da prefeitura local;
5- registrar-se no órgão representativo estadual ou nacional, obtendo assim, a
autorização para funcionamento;
6- ter regularidade operacional;
7- estabelecer um fundo de reserva, destinado a reparar eventuais perdas e um fundo
de assistência técnica, educacional e social – FATES, para prestar assistência aos
cooperados, seus familiares e quando previsto no estatuto aos seus empregados,
sendo que estes fundos são obrigatórios;
8- observância de determinadas peculiaridades ao elaborar o contrato de prestação de
serviços, de forma a evitar a subordinação direta dos cooperados à tomadora ou
ingerência desta, em relação à cooperativa. Esclarecer as normas de natureza técnica
e operacional evitando que a subordinação contratual e legal seja confundida com a
subordinação jurídica ou direta;
9- inexistência de exclusividade: estar dirigidas para o mercado e não para uma única
tomadora de serviços, evitando a dependência econômica da cooperativa em relação
ao tomador de serviços; e
10- privilegiar as cooperativas já existentes, estimulando o espírito empreendedor dos
cooperados, estabelecendo prazo para que estes busquem novas parcerias.
Em suma, estes são os principais tipos de cooperativas existentes. Todas elas
seguem certos princípios e diretrizes que norteiam suas ações, embora cada uma tenha suas
características e peculiaridades. Mas, tendo em vista a finalidade deste estudo, dar-se-á na
próxima seção, ênfase ao cooperativismo de crédito com o intuito de subsidiar as análises e
discussões sobre a viabilidade deste ramo frente às novas mudanças no cenário brasileiro,
no que se refere a este tema.
2.2 Cooperativas de Crédito
A história do cooperativismo recente guarda relação direta com o desequilíbrio da
distribuição de renda e da alocação de riquezas, quadro que, na fase de concepção do
movimento (meados do Século XIX), se via agravado pelas repercussões da Revolução
Industrial.
Os tecelões de Rochdale, na Inglaterra, que, em 1844, se agruparam em uma
associação cooperativa para ter acesso a alimentos mais baratos (pela compra direta junto
ao produtor, eliminando a figurado intermediador), agricultores do município de
Flammersfeld, Alemanha, elegeram a via cooperativada para pôr fim à agiotagem que
imperava na região, razão da hipoteca de suas propriedades e benfeitorias e da penhora de
seus animais. Liderados pelo servidor publico e filho de agricultores Friedrich Wilhelm
Raiffeisen, assessorado pelo Pastor Muller, os pequenos produtores, em 1848, através da
criação de associação de auto-ajuda (Associação ed. Amparo aos Agricultores sem
Recurso, também batizada de “Caixa Rural”), resolveram reagir a ações de um comerciante
de gado do local, que, em retribuição à cedência de vacas de leite, cobrava,
documentalmente, novilhas do rebanho, impondo juros e amortizações muito além da
capacidade de solvência dos agricultores. A solução, na prática, consistia em reunir as
economias de produtores mais abastados e com elas atender às necessidades individuais dos
rurícolas menos favorecidos, sem a perspectiva do ganho abusivo. Nascia, assim, sob a
égide da auto-ajuda e do mutualismo, como fonte alternativa e democrática de
financiamento, o que mais tarde se convencionou designar cooperativismo de crédito.
(BERGENGREN, 2001).
Ainda segundo Bergengren (2001), as cooperativas de crédito se subdividem em
dois ramos: cooperativas de crédito rural e cooperativas de economia e crédito mútuo (mais
comuns na área urbana). As Cooperativas de Economia de Crédito Mútuo podem agrupar
pessoas físicas que exerçam determinadas profissões ou atividade comum; qualquer
profissional pode se associar em cooperativa de crédito: advogado, engenheiro, pedreiro,
etc. desde que seja pessoa física. Podem ainda associar-se, nessas cooperativas, pessoas
físicas que estejam vinculadas à determinada entidade, tais como empregados de uma
empresa, pública ou privada, qualquer que seja a sua finalidade. Tem a sua área de ação
circunscrita às dependências da empresas ou qualquer outro tipo de entidade, onde seus
empregados exerçam suas atividades empregatícias. Há exemplos como o caso de bancários
que, ligados aos bancos por vínculo empregatício, formaram a sua cooperativa de crédito. É
comum o registro de cooperativas de economia e crédito mútuo de servidores de empresas
públicas. As cooperativas de crédito rural são formadas pelos produtores rurais, nas áreas
agrícolas, pecuárias, e extrativistas ou por pessoas que se dedicam às operações de captura
e transformação do pescado. Excepcionalmente, pessoas jurídicas podem integrar os seus
quadros sociais, segundo e Resolução 2608/1999, do Banco Central do Brasil.
Esse ramo cooperativista nasceu no século XIX, na Alemanha, ocasião em que o
progresso foi acompanhado pelo estado de miséria de grande parte da humanidade. Os
camponeses alemães foram levados a se endividarem com empréstimos a juros altos para
suprir as despesas anuais da agricultura. Foi quando em 1849, na cidade de Heddsdof,
Fredrich Wilhelm Raffeisen fundou uma caixa de socorro para fomentar o crédito aos
agricultores, dando origem ao cooperativismo de crédito rural. Posteriormente em Delitxch,
Hermam Schulze-Delitzsch, iniciou o cooperativismo de crédito urbano. O cooperativismo
de crédito Italiano teve como seus maiores expoentes Luigi Luzzatti e Leone Wollemborg.
Luzzatti fundou, no ano de 1865, o primeiro banco cooperativo urbano em leilão, e
Wollemborg organizou a primeira cooperativa de crédito Lorégia (Itália), em 1883. Tanto
os bancos populares de Luzzatti, como as cooperativas de crédito de Wollemborg, eram a
adaptação de novas condições econômico-sociais inspiradas nos sistemas alemães de
Schulze-Delitzsch e de Raiffeisen.
As cooperativas de crédito mútuo urbano no Brasil sofreram grande influência
desses pioneiros. No Brasil, a primeira cooperativa de crédito rural surgiu em 1902, na
região rural de colonização alemã, atual município de nova Petrópolis, RS, por iniciativa do
jesuíta suíço Theodor Amistad. O primeiro ato baixado pelo poder público, destinado a
amparar o cooperativismo no Brasil, foi o Decreto nº 169-A de 19/1/1890, criando o crédito
móvel e o bilhete de mercadorias, Já em 1903 foi promulgada a Lei nº 979 de 6 de janeiro,
concedendo aos sindicatos a faculdade de organizar caixas de crédito agrícola, além de
permitir a fundação de cooperativas de outras espécies. Na cooperativa de crédito, o poder
de decidir é pessoal de cada sócio, tendo cada um direito a um voto, independente do
volume de capital que detenha. A falência não as atinge; podem apenas sofrer um processo
de liquidação, uma vez que não vivem em função do lucro, mas sim de servir aos seus
cooperados.
Segundo Irion (1997), este é um ramo do cooperativismo que se mostra eficaz,
notadamente nos países onde as crises econômicas se apresentam mais agudas, combatendo
as distorções do crédito e das atividades produtivas, oferecendo juros mais acessíveis,
trabalhando com o capital do próprio cooperado. Ele possui o diferencial do baixo custo
operacional, permitindo repassar ao tomador mutuário, as vantagens de ser dono da
instituição financeira, o que atenua os fenômenos negativos das crises econômicas.
O cooperativismo na Itália, de acordo com Thenório Filho (1999), teve como seus
maiores expoentes Luigi Luzzatti e Leone Wollemborg. Luzzatti fundou no ano de 1865 o
primeiro banco cooperativo urbano em Milão, e Wollemborg organizou a primeira
cooperativa de crédito em Lorégia em 1883. Os bancos populares de Luzzatti e as
cooperativas de crédito de Wollemborg eram a adaptação das novas condições econômico-
sociais, inspiradas no sistema alemão com algumas modificações.
Segundo Pinho (1997: 54), estas cooperativas:
“adotam o self-help embora admitam ajuda estatal. Esta deve ser apenas supletiva, desaparecendo tão logo a sociedade esteja em condições de resolver os seus problemas; dão grande importância à conduta dos associados, dos quais exigem sérias qualidades morais e fiscalização recíproca; adotam a máxima convertire in capital l`onestá a fim de criar em torno da sociedade uma atmosfera moral de confiança; concedem empréstimo mediante palavra de honra; não remuneram os administradores da sociedade”.
As Luzzatti existentes no Brasil, atualmente são treze, nos estados do Rio de Janeiro,
São Paulo, Bahia, Ceará e Mato Grosso, tem como característica principal a de serem
cooperativas abertas ao público em geral, tendo como requisito básico para a admissão
residir no município sede ou nos circunvizinhos.
Estas cooperativas são fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil que desde os idos
de 1950 proibiu a criação de novas cooperativas Luzzatti e em 1999 através da resolução
2608 instituiu normas que inviabilizavam a manutenção das cooperativas ainda existentes.
Após mobilização das mais diversas frentes cooperativistas junto ao Congresso Nacional
foi editada a resolução 2771 de 30 de agosto de 2000 que entre outros aspectos revogava
em seu artigo quinto a Resolução número 2608.
No que se refere às operações ativas diferem dos bancos, fundamentalmente porque
só podem contratar essas operações, isto é, empréstimos de dinheiro, com seus cooperados,
ao contrário dos Bancos que operam com o público, o comércio, indústria e demais
segmentos, conforme suas linhas de crédito disponíveis. As cooperativas só têm linhas de
crédito destinadas à ocupação de seus cooperados, sejam elas específicas da profissão ou
atividades econômicas que aglutinam ou as destinadas à assistência financeira inespecífica,
em percentuais fixados em regulamentos do Banco Central, mas sempre e exclusivamente
direcionados aos seus cooperados. Submetem-se às regras de segurança operacional
baixadas pelo Banco Central, semelhantes às exigidas para as demais instituições
financeiras (observância dos princípios de diversificação de riscos e exigência de
garantias). São consideradas garantias idôneas as condições pessoais do cooperado,
apuradas em cadastro, até o montante de capital que o mutuário tenha integralizado.
Bergengren (2001) afirma que as operações ativas e passivas só podem ser
praticadas com seus cooperados, tanto as que atuam na aplicação de recursos próprios,
como de terceiros. Entre elas temos:
b) abertura de crédito, simples e em conta corrente;
c) crédito rural (financiamento de custeio, investimento e comercialização);
d) repasses de recursos de instituições financeiras;
e) adiantamento a depositantes.
Estas cooperativas podem praticar também:
a) operações acessórias, como prestação de serviços (cobranças de títulos, recebimento, pagamentos);
b) operações de custódia (guarda e depósito de recebíveis em cheques);
c) operações especiais (aplicação financeira de recursos eventualmente ociosos visando preservar o poder de compra da moeda).
2.2.1 Perfil das Cooperativas de Crédito
As cooperativas de crédito se dividem em três principais tipos: ocupacional, associacional e residencial. Dentro da primeira categoria têm-se os empregados de unidades industriais, trabalhadores de ferrovias, funcionários públicos, entre outros. O segundo grupo inclui membros de organizações fraternais específicas, sindicatos, associações de produtores agrícolas e similares. E há, finalmente, as pequenas cooperativas de crédito circunscritas aos residentes em pequenas comunidades e nas vizinhanças dos lugares maiores.
No Brasil as cooperativas destinadas às pequenas comunidades podem ser criadas
nos dias atuais, obedecidos aos critérios da Resolução número 3106, do Banco Central do
Brasil. Existiu inclusive no ano de 1999 a resolução número 2608 do Banco Central do
Brasil determinando o fechamento das existentes. Após efetuado um movimento nacional o
quadro foi parcialmente revertido, pois embora a proibição da criação de novas
cooperativas abertas ao público fosse mantido – as chamadas Luzzatti – foi autorizada a
manutenção das existentes.
As cooperativas de crédito são fiscalizadas por suas centrais e pelo Banco Central
do Brasil, e por muitas vezes elas são confundidas com bancos comerciais. Mas, segundo
Meinen et al (2002) existem expressivas diferenças entre estes dois tipos de instituições,
conforme mostra o Quadro 1. A principal delas diz respeito a concepção primordial e/ou
primária das mesmas, ou seja: os bancos são sociedades de capital, ao passo que as
cooperativas são sociedades de pessoas. Isso é, sem dúvida, o ponto de partida para as
demais diferenças existentes entre as mesmas.
Este perfil mostra de certa forma, a viabilidade das cooperativas de crédito no
sentido que o usuário é o próprio dono do negócio. Neste sentido, ele vai estar sempre
buscando o melhor para o seu negócio de forma que seu empreendimento tenha sucesso e
seja viável operacionalmente e financeiramente.
2.3 Formas Similares de Organização da Sociedade
Embora exista a diferenciação apresentada na primeira seção deste trabalho, pode-se
ainda encontrar outras formas de organização da sociedade, que apresentam características
e valores bem parecidos com aqueles que norteiam as sociedades cooperativas. Segundo
Bergengren (2001), as principais formas similares às cooperativas são os ejidos, falanstério,
kolhoz, kvtza ou kibbutz e o zadruga.
Quadro l: Principais diferenças entre Cooperativas de Crédito e Bancos
BANCOS COOPERATIVAS DE CRÉDITO São sociedades de capital São sociedades de pessoas
O poder é exercido na proporção do número de ações
O voto tem peso igual para todos, uma pessoa um voto
As deliberações são concentradas As decisões são partilhadas entre muitos O administrador é um terceiro (homem de
mercado) O administrador é do meio (cooperativado)
O usuário de operações é mero cliente O usuário é o próprio dono (cooperativado)
O usuário não exerce qualquer influência no preço dos produtos
O usuário é o próprio dono (cooperativado) toda a política operacional é decidida pelos
próprios donos (cooperativados)
Podem tratar distintamente cada usuário Não podem distinguir: o que vale para um vale
para todos (Lei 5764/71) Avançam pela competição Desenvolvem-se pela cooperação
Visam o lucro por excelência O lucro está fora de seu objeto (art. 3 da Lei
5764/71)
O resultado é de poucos donos (nada é dividido com o cliente)
O excedente (sobras) é distribuído entre todos os usuários na proporção das operações
individuais reduzindo ao máximo o preço pago pelos cooperativados
São reguladas pela Lei das Sociedades Anônimas
São reguladas pela Lei cooperativista
Fonte: Meinen et al (2002, 56).
Para um melhor entendimento destas formas similares de cooperativa e das relações
que por ventura possam existir entre estas formas e as formas atuais de sociedades
cooperativistas, apresentam-se a seguir uma breve descrição das mesmas.
a) Ejidos
Forma primitiva de organização de comunidades indígenas, no México. Através da
cooperação, semeavam e colhiam suas lavouras com instrumentos de propriedade coletiva.
A terra era posse comum, sendo coletivamente cultivada ou dividida entre membros para
que a cultivassem individualmente; contribuíam os membros do grupo para despesas de
processo que objetivassem obtenção de terra.
b) Falanstério
Associação imaginada por Charles Fourier, reunindo um grupo de pessoas que
tinham como objetivo produzir bens de consumo. Organização fundamentada na associação
livre e universal, mantendo a hereditariedade, a propriedade, o capital e o interesse
individual, além da distribuição do excedente, que é repartido entre o trabalho, o capital e o
talento, entendido este como participação em atividades de gerenciamento e direção.
Expressa a idéia de que ao trabalhador caberia uma parte do resultado social na proporção
da participação pessoal no trabalho coletivo. O projeto visava ligar organicamente a
produção agrícola à industrial, excluindo a figura do intermediário. Propunha a instalação
de entrepostos comuns, onde os produtos seriam depositados pelos produtores até a ocasião
de venda. Nesse caso, o produtor receberia um adiantamento de até 2/3 do valor dos
produtos. As mercadorias seriam oferecidas aos consumidores com preços atrativos, posto
que foram excluídos os lucros intermediários. Foi um exemplo que retratou a idéia da
cooperação de crédito, junto ao consumo e comercialização.
c) Kolkhoz
Modalidade de exploração coletiva praticada na comunidade dos Estados
Independentes, como por exemplo, na Rússia. É uma cooperativa de produção agrícola que
combina elementos de cooperativas de utilização comum de material agrícola, cooperativas
de processamento, de comercialização, etc. Apresenta certas peculiaridades como, por
exemplo:
1- o direito de ingresso só se formaliza perante a satisfação de exigências colocadas
pelo estado;
2- submissão ao programa de produção do Estado;
3- remuneração, segundo os dias de trabalho, mas em consonância com tabelas de
unidade de medida dos trabalhos agrícolas trudoden. Considerado como cooperativa
agrícola, a qual responde aos interesses e necessidades socioeconômicas através do
desenvolvimento das atividades produtivas do campo, inovando e racionalizando
custos. Une os interesses individual e coletivo nos resultados da produção,
possibilitando aumento de rendas e bem-estar aos produtores.
Para este mesmo autor, os Kolkhoz, ejido e Kibbtz assemelham-se nos seguintes
aspectos:
1- São adeptos dos princípios rochdaleanos, modificando ou abandonando alguns deles.
2- Não há discriminação racial e religiosa;
3- Repartem as sobras na produção do trabalho de cada um;
4- Cada membro, um voto;
5- Reuniões regulares através de assembléias;
6- Agricultores centrados em base cooperativa;
7- A assembléia tem poder soberano para resolver questões do grupo;
8- Comitês eleitos controlam os negócios da comunidade
9- Espírito de auto-ajuda e ajuda mútua (solidariedade) estão presentes nos membros e
comunidade rural. As diferenças ocorrem em função da cultura e da política do
Estado, onde se localizam as cooperativas. Observado sob certo ângulo o ejido pode
ser considerado um subtipo de Kolkhoz por ser ambos criadores por decisões da
Administração do Estado. A decisão espontânea de criar a estrutura socioeconômica
do Kibbutz, o faz diferente dos outros modelos citados. Esse tema se acha
amplamente explanado em Pinho (1966).
d) Kvtza
Palavra hebraica que significa pequeno grupo. É o nome pelo qual a comunidade
cooperativa sionista tornou-se conhecida. Mais conhecido pelo termo comum do Kibbutz
ou Kibbutzim, que significa grupo grande Kolkhoz.
e) Zadruga ou Mir
Entre os povos eslavos, encontram-se igualmente formas de comunidades agrícolas
coletivas: zadruga entre os sérvios e o mir entre os russos.
O mir representava ainda, no tempo da escravatura, a comunidade dos camponeses
que viviam em terras pertencentes a um senhor; este cedia o usufruto do mir em troca de
um imposto coletivo. A Lei de 1861 sobre a emancipação dos sérvios favoreceu a
apropriação coletiva das terras, o que tornou possível ao mesmo tempo uma garantia
coletiva das obrigações fiscais.
Na Rússia, existe uma instituição econômica muito mais próxima da cooperativa
moderna: a artel. Quanto às origens e as características essenciais da artel, como também
do mir, não há unanimidade de pontos de vista entre os historiadores e os economistas. O
que está bem claro é que se trata de associações de trabalho, que datam do século XIV,
formadas, sobretudo por pescadores, lenhadores, lavradores, etc. As características da
associação seriam as seguintes: uma associação de pessoas, reunindo um número ilimitado
de trabalhadores (em nossos dias, também de intelectuais) que não possuem capital ou
possuem um capital bem reduzido. A associação elege seu chefe, baseia-se na solidariedade
dos associados, entre os quais reina um espírito familial. A artel encarrega-se da execução
de certos trabalhos. É uma forma aproximada das cooperativas modernas de trabalho
(cooperativas di braccianti, comanditas de oficina etc).
Na Idade Média, entre os povos cristãos, desenvolveram-se as organizações
econômicas dos monastérios que, do ponto de vista da economia, era uma espécie de
cooperativa integral, em que a produção e o consumo se faziam em comum.
De Brouckère, que distingue uma forma autoritária e uma forma cooperativa de
organização da produção, acredita que o castelo da Idade Média permite-nos apreender uma
das formas primitivas do cooperativismo. O domínio senhorial abrangia a área em que
trabalhavam os servos, a área em que trabalhavam os vassalos do senhor e finalmente as
áreas “comunais” (campos, bosques, pastagens), exploradas em comum pelos moradores
das terras senhoriais em uma forma quase igualitária.
Da mesma forma, no mundo do artesanato das cidades, as corporações, que eram
organizações para a defesa dos interesses profissionais, muitas vezes realizam também
funções secundárias de caráter econômico, em benefício dos membros da corporação. Em
síntese, pode-se afirmar que estas formas de organização influenciaram na estruturação e
definição dos campos de atuação das cooperativas nas outras regiões do mundo, inclusive
no Brasil e nas próprias empresas de um modo geral. Portanto, inclui-se também neste
estudo uma breve análise comparativa entre cooperativas e empresas para contextualizar a
análise dos fatores de sucesso e viabilidade das instituições cooperativas, em específico das
cooperativas de crédito.
2.3.1 Comparação entre Cooperativas e Empresas
As cooperativas são uma das opções de organização econômica que convive e
mantém negócios com a outra opção, a empresarial, pois as empresas ora são clientes ora
fornecedores das cooperativas. A opção pela cooperativa não é excludente. É, portanto,
uma alternativa disponível para organizar a economia, dentro da liberdade que caracteriza a
sociedade avançada. De acordo com Bergengren (2001, 56), “Não existe contradição entre
cooperativas e empresas ou entre cooperativa e estado razão pela qual elas existem onde a
economia é descentralizada e capitalista ou centralizada no estado”.
O quadro comparativo entre cooperativa e empresa exposto a seguir resume as
diferenças de foco fundamentais entre uma empresa convencional e uma sociedade
cooperativa. Diferenças estas pautadas fundamentalmente na necessidade imperiosa do
lucro, predominante no caso das empresas convencionais. Fica claro, no Quadro 2, que as
sociedades cooperativas enfatizam a solidariedade, a prestação de serviços sem visar lucro,
a superação da concorrência pela cooperação e a iniciativa individual ou grupal com fim
social. Além de muitas outras características, vale a pena ressaltar a sua cultura que é muito
mais conservacionista do que a cultura das empresas que focam os aspectos consumistas.
Ainda merece destaque a superação da intermediação no processo de
comercialização, a função negocial com fins sociais, a existência de um estatuto social e a
integração de todos nas tarefas desempenhadas pelas cooperativas. Tudo isso, sem falar na
função do capital nestas instituições, que é usado como meio para se atingir os objetivos em
comum e não como finalidade última, como acontece nas organizações empresariais.
Neste contexto, observa-se que as cooperativas, até mesmo as de crédito, tem
possibilidade de atender melhor os anseios da sociedade e devem ser estimuladas para que
mais pessoas tenham acesso a iniciativas desta natureza. Neste caso, a educação
desempenha um papel relevante, porque muitas pessoas, principalmente no Brasil, não têm
conhecimento destas características e peculiaridades. Quando as pessoas passam a conhecer
as vantagens de se unirem em cooperativas e passam a atuar em grupo, elas conseguem
melhorar seu padrão de vida, conforme afirmam Vilas Boas, Canabarro e Nami (2004).
Quadro 2: Comparativo entre empresas de capital e sociedades cooperativas
CARACTERÍSTICA EMPRESA DE CAPITAL COOPERATIVA
1- Valor Agressividade Solidariedade 2- Princípio Competição Cooperação
3- Objetivo Lucro como motor essencial Prestação de serviço sem objetivo
de lucro 4- Cultura Consumista Conservacionista
5- Iniciativa Individual e/ou grupal sem fim
social Individual e/ou grupal sem fim
social 6- Decisões Voto do capital (ações) Voto das pessoas
7- Concorrência Lei suprema Superação da concorrência pela
cooperação 8- Comercialização Com intermediação Superação da intermediação 9- Vendas À prestações À vista e a dinheiro
10- Conquista do mercado Pela publicidade e artifícios Eventualmente pela publicidade
sem artifícios e pela qualidade dos produtos e seriedade nos negócios
11- Operação de mercado entre a instituição e os sócios
Existe Não existe
12- Função executada Função negocial Função negocial com fins sociais 13- Princípio da identidade ou da dupla qualidade
Não possui Possui
14- Princípio do regionalismo ou da unicidade
Em geral não existe, quando existe significa cartelização
Existe em alguns segmentos
15- Instrumento que formaliza e instituição
Contrato social Estatuto social
16- Área de ação Em geral não possui Sempre possui 17- Divisão de classes Mecanismo imprescindível Integração de todos 18- Natureza do quadro social
Pessoa física e/ou jurídica Pessoa física e só
excepcionalmente pessoa jurídica 19- Natureza do vínculo com sócio
Natureza societária Natureza institucional
20- Método de produção O capital arrenda o trabalho O trabalho arreda o capital 21- Propriedade dos meios de produção
Privado como direito absoluto Privado como meio social
22- Unidade de capital Ações ou quotas Quotas 23- Capital como fator de produção
Fator principal Fator secundário. O fator
principal é o sócio 24- Função do capital Capital é fim Capital é meio 25- Distribuição dos Distribuído conforme o capital Distribuído conforme a operação
resultados de cada sócio 26- Sujeição à falência Sim Não � Fonte: Bergengren (2001, 63)
2.4 Antigos Sistemas Cooperativistas
Mantendo estas considerações em mente, vale a pena discutir um pouco mais sobre
os sistemas cooperativistas, pois eles são relevantes no contexto social. Estes sistemas
oferecem aos seus membros a possibilidade atuar em grupo para conseguir atingir seus
objetivos pessoais e profissionais com mais facilidade e com menos esforços. De acordo
com Thenório Filho (1999), os principais sistemas cooperativistas são os sistemas
Rochdale, Hermann e o Schulze-delitszch, conforme apresentado a seguir.
a) Sistema Rochdale
Um grupo de operários tecelões (27 homens e 1 mulher) sob influência de
intelectuais socialistas defendem fundar uma cooperativa de consumo denominada
Rochdale Society of Equitable Pionners, iniciada em dezembro de 1843. Os seus
fundadores economizaram durante um ano, integralizando uma libra esterlina cada um e
somente iniciou suas atividades em dezembro de 1844, na cidade de Rochdale, no condado
de Lancashire, na Inglaterra. A história desses operários tem sido de grande referência para
o cooperativismo moderno. No início do século XIX, a Inglaterra (toda a Europa) passava
por sérios conflitos motivados por uma crise, entre os operários trabalhadores, os antigos
condados herdados dos senhores feudais e a era industrial que se instalava. Os
trabalhadores, prejudicados pelo novo modelo econômico que dispensava o trabalho
artesanal, substituindo-o pela produção industrial, tiveram que enfrenta, de modo
insustentável, a problemática básica da sobrevivência humana, como:
a) falta de moradia;
b) acesso a educação, saúde e alimentação;
c) alto índice de desemprego.
Esses operários com dificuldades para garantir subsistência, inclusive de seus
familiares, embrenham-se, então, a buscar alternativas palpáveis para mudar essa situação.
Economizaram, em um ano, 28 libras esterlinas para pôr em prática um projeto de vida que
consistia, segundo Thenório Filho (1999) em:
1. abrir um armazém comunitário para a venda de provisões, roupas, etc;
2. comprar e construir casas destinadas aos membros que desejassem amparar-se
mutuamente para melhorar sua condição doméstica e social;
3. iniciar a manufatura dos produtos que a cooperativa julgasse conveniente, empregando
os cooperados que se encontrassem sem trabalho ou que estivessem com reduções
salariais;
4. comprar ou alugar terra para o cultivo pelos membros desempregados;
5. organizar as forças de produção e de distribuição;
6. desenvolver métodos de educação;
7. praticar uma administração auto-gestionária e democrática do empreendimento.
Aos pioneiros de Rochdale confere-se, portanto, o mérito de que souberam
organizar, de maneira perfeita, um programa completo, unindo os princípios teóricos às
regras práticas de organização e funcionamento. Idéia e realização, ajustando-se de modo
inseparável neste sistema. Estabeleceram, além das regras econômicas relativas à direção
dos negócios, outras referentes à associação cooperativa (democrática) e sua estrutura e que
são adotadas ainda hoje e, pelas cooperativas do mundo inteiro.
A sociedade tem por fim realizar um benefício pecuniário e melhorar a condição
doméstica e social de seus membros, reunindo um capital dividido em quotas de uma libra e
suficiente à prática do seguinte plano:
- Abrir um armazém para a venda de gêneros alimentícios, roupas, etc.
- Comprar ou construir casas para os associados que desejarem ajudar-se
mutuamente para melhorar as condições de sua vida doméstica e social.
- Empreender a fabricação de artigos que a sociedade julgar conveniente
produzir, para dar trabalho aos membros que estiverem desempregados ou que
venham a sofrer contínua redução de salários.
- Comprar ou alugar terras, que são cultivadas por seus membros que não
têm trabalho ou por aqueles cujos salários sejam insuficientes.
- Logo que for possível, a sociedade procederá à organização das forças de
produção, da distribuição, de educação e de seu próprio governo com recursos
próprios, ou, em outros termos, ela se constituirá em colônia autônoma, na qual todos
os interesses serão solidarizados, auxiliará as outras sociedades que queiram fundar
colônias semelhantes.
- Com o fim de propagar a temperança, a sociedade abrirá em um de seus
locais um estabelecimento de temperança.
Denominação atribuída aos organizadores da primeira cooperativa, criada em 1843,
e que iniciou suas atividades em dezembro de 1844, no subúrbio de Rochdale, distrito de
Manchester, Inglaterra. É a principal referência para o cooperativismo moderno, a história
dos 28 operários tecelões que, no início do século XIX, sofreram as conseqüências do novo
modelo econômico que se instalara. Ao se verem prejudicados pela substituição do trabalho
artesanal pela produção industrial e tenso que enfrentar problemas básicos ligados à
necessidade de sobrevivência, decidem buscar em seu meio, alternativas possíveis que
pudessem garantir-lhes sobrevivência e sustento dos familiares. Se poucos benefícios
obtinham das relações de trabalho com os senhores feudais, viram-se mais prejudicados
ainda com as transformações introduzidas na economia. Não tinham acesso à educação,
saúde e alimentação. Experimentava-se um alto índice de desemprego, em virtude de mão-
de-obra excedente, aliado à falta de moradia.
A situação era difícil e angustiante para a classe operária em toda a Europa. E foi
sob influência de intelectuais socialistas da época, que um grupo de tecelões ingleses (27
homens e uma mulher) economizou durante um ano, uma libra esterlina, cada um, para
formação do capital necessário. Este grupo era formado por James Smithies, William
Cooper, John Coller, Miles Ashworth, James Tweedale, John Hill, John Holt, Charles
Howarth, David Brooks, Samuel Ashworth, William Mallalien, James Daly, John Bent,
John Kershaw, John Scrowcroft, James Standring, Joseph Smith, Robert Taylor, James
Wilkinson, Georges Haeley, James Maden, James Manock, William Taylor, Benjamim
Reedmam, James Bramford e Ana Tweedale. Eles decidiram então fundar uma sociedade
conhecida como – Rochdale Society of Equitable Pionners. Registrada em 24 de outubro de
1844, e só mais tarde denominada “cooperativa”. Esta sociedade tinha o objetivo de
fornecer bens de consumo aos cooperados e outros serviços de ordem econômica e social.
Eles propuseram soluções para realização de seus projetos de vida, traduzidos pelas
necessidades vivenciadas pelo grupo, na época, com:
1- abertura de um armazém comunitário para a venda de diversas mercadorias;
2- comprar e construir moradias, para aqueles que desejassem amparar-se mutuamente;
3- empreender campanha educativa contra o alcoolismo (uso generalizado, na época)
4- arrendamento de terrenos parra cultivo;
5- iniciação na manufatura de produtos predeterminados, oferecendo desta forma
trabalho para os sem trabalho ou que tiveram reduções salariais;
6- organizar as forças de produção, distribuição, educação, administração democrática
e autogestionária do empreendimento.
Estas pessoas tiveram intuição e sensibilidade para elaborar um estatuto, que
estabelecia normas de fundamental importância para a existência e manutenção da
sociedade, incluindo um plano de objetivos a ser trabalho. Essas normas, mais tarde, foram
chamadas de princípios, formando, no decorrer do tempo, a base do sistema econômico e
social do cooperativismo. Relatam os doutrinadores que o grande mérito dos cooperados de
Rochdale foi o de terem acumulado os melhores ensinamentos dos que os precederam,
terem administrado com eficácia os negócios, codificando-os sob a forma de normas, mais
tarde chamadas de princípios. Passaram a constituir-se em fundamentos da doutrina
cooperativista, sistematizada, a partir da Escola de Nîmes, com Charles Gide. Nessa ordem,
alinhavam-se os seguintes princípios:
1- representantes dos cooperados, eleitos em assembléia geral;
2- adesão e demissão dos cooperados de modo livre
3- compra e venda , á vista
4- pagamento de juros limitados ao capital;
5- direito de apenas um voto por cooperado;
6- constituição de um fundo especial para educação dos cooperados;
7- autofinanciamento das obras sociais.
b) Sistema Hermann Schulze-delitszch
Em Delitszch, na Alemanha, nasceu em 1908, Hermann Delitszch. Considerado
pioneiro do movimento em seu país, dotado de espírito altamente filantrópico e
organizador, criou um sistema prático interessante para a classe média da cidade.
Organizou bancos populares, possibilitando acesso a crédito barato, na intenção de minorar
os sofrimentos por meio de organizações de auxílio mútuo. Em 1849, na sua cidade natal,
realizava as primeiras tentativas de caráter cooperativo, que consistia na criação de:
1. uma caixa de socorro para os casos de doença e morte, com direito iguais para todos os
sócios;
2. uma associação de marceneiros para o abastecimento de matéria-prima com base na
garantia solidária dos sócios. Elaborou e apresentou ao Parlamento prussiano, em 1863,
um projeto de ajuda mútua, versando que, só através da associação a sociedade
alcançaria um eficaz desempenho em todas as ações e esferas da vida, em que o Estado
não logrou chegar. Ressaltou o aperfeiçoamento do ser humano pelo caminho da
associação que ensina o indivíduo a governar a sua vida e a do Estado, preparando-se
nessa escola a trabalhar pela comunidade a eu pertence.
Salientou que as principais características das cooperativas criadas seriam:
a) designar-se à classe média urbana (artesãos, comerciantes, pequenos patrões), sem a
conotação de entidade classista, permitindo a participação de todas as categorias
econômicas;
b) adoção do princípio self-help, sem caráter filantrópico e ação interventora do
Estado;
c) capital formado sob modalidade de quotas-partes, a partir de recursos dos próprios
cooperados;
d) fundo de reservas, em geral, limitado a 10% do capital subscrito;
e) lucro repartido pelos cooperados sob a forma de dividendo;
f) sócios respondem de modo solidário e ilimitado pelos negócios da cooperativa.
c) Sistema Friedrich Wilhelm Raiffeisen
Dedicando atenção aos habitantes das zonas rurais, Raiffeisen funda, em Heddsdorf
(1854), uma caixa de socorros que logo substituiu por uma sociedade de crédito. Filho de
agricultor, que cresce vivenciando as dificuldades de seu meio. Sendo até eleito como
prefeito, ele demonstra preocupação com as questões sociais, ressaltando a importância do
cristianismo como veículo para despertar amor ao próximo e espírito de solidariedade. Ele
também criou caixas de crédito e economia em muitas outras localidades.
Raiffeisen afirmou que: aqueles que crêem que pela introdução das cooperativas se
poderia criar, de um só golpe, um estado de coisas melhor, engana-se gravemente, pois
salienta que é necessário, antes, preparar o espírito e educar os sentimentos para que a obra
cooperativa dê as verdadeiras flores e os verdadeiros frutos.
De acordo com Thenório Filho (1999), as cooperativas de Raiffeisen têm como
principais características desse sistema:
1. área de operação limitada e restrita, para que os cooperados pudessem se conhecer,
exercendo melhor controle entre si, com o propósito de assegurar a qualidade de quadro
social que tinham com ideal;
2. não distribuiu retorno excedente;
3. responsabilidade pelos compromissos da sociedade, pessoal, solidária e ilimitada de
todos os cooperados;
4. recomendava a constituição de cooperativas de vendas dos produtos, assim como
cooperativas de seguro contra a mortalidade de gado;
5. política de crédito das caixas rurais, com financiamento a longo prazo, considerando o
ciclo de exploração das atividades agrícolas;
6. concessão de créditos imobiliários, com garantia hipotecária a prazos mais longos,
lançando idéia dos bancos hipotecários;
7. caráter centralista, porque se baseia em pequenas unidades cooperativas e a
centralização faz-se necessária no terreno da organização financeira, apregoando a
importância da criação de um banco central, servindo de meio de compensação dos
fundos disponíveis de diversas cooperativas afiliadas;
8. fundamentam-se no princípio cristão de amor ao próximo;
9. dão grande importância à formação moral dos cooperados, aos quais se
responsabilizam, de modo solidário e ilimitado, pelas obrigações contraídas pelas
cooperativas; e
10. não remuneram os dirigentes da sociedade.
2.5 História dos Principais Cooperativistas
A história do cooperativismo começou no século XVIII e os principais
cooperativistas que atuaram neste período foram: Robert Owen, William King, William
Thompson, Charles Fourier, George Jacob Holyoake, Louis Blanc, Charles Gide, Herman
Schulze, Friedrich Wilhelm Raiffeisen, Luigi Luzzatti, P.C. Plokboy e John Bellers. Suas
idéias e ideais serviram de base para a estruturação do que se tem hoje sobre
cooperativismo. Estes homens orientaram e encabeçaram vários movimentos em prol das
pessoas e da filosofia de vida que eles acreditavam.
As primeiras idéias, dando início ao movimento, manifestam-se através da corrente
liberal dos socialistas utópicos do século XIX e primeira metade do século XX, com as
experiências que marcaram a época. O ambiente intelectual dos socialistas estava
impregnado dos ideais de justiça e fraternidade. Grande era o entusiasmo pela tradição de
liberdade. Soma-se a esse quadro intelectual, uma realidade constituída pelo sofrimento da
classe trabalhadora, criando, assim, o contexto propício ao aparecimento das cooperativas,
que surgem da necessidade de desejo da classe trabalhadora em superar a miséria pelos seus
próprios meios (ajuda-mútua). Nessa ocasião, grandes modificações nos setores
econômicos e sociais estavam sendo introduzidas e geradas pelos avanços tecnológicos,
transformaram radicalmente o sistema de produção. Os próprios princípios cooperativistas
tiveram sua origem neste tipo de movimento e em busca de formas mais adequadas de
produção e trabalho. Assim sendo, vejamos a contribuição de cada um deles.
a) Robert Owen (1771-1858)
Robert Owen nasceu em Newton, lugarejo do Condado de Montgomery, no país de
Gales, no dia 14 de maio de 1771. Ele foi o sexto filho de um grupo de sete irmãos, de pais
que eram modestos trabalhadores. O seu pai era seleiro e ferreiro e sua mãe filha de um
fazendeiro dos arredores, habituada à luta do campo.
Em Manchester ele aprimorou suas habilidades em fiação e teares, com 15 anos de
idade, desenvolvendo conhecimentos profundos das técnicas que precederam a Revolução
Industrial, que estava por eclodir justamente nesse setor industrial.
Aos 22 anos, tendo sido convidado pelo Dr. Thomas Percival a participar da mais
formosa sociedade literária filosófica daquela época em todo mundo a “Lit and Pi de
Manchester” iniciou atividades de cunho social e de apoio aos grupos menos favorecidos.
b) William King (1786 – 1865)
William King era médico de vasta cultura radicado em Brighton, Inglaterra, também
grande amigo dos trabalhadores até pela sua formação de devotado cristão. Entendia o Dr.
King, que o cooperativismo era a melhor forma de procedimento para a criação de
melhores condições de vida, na sociedade daquela época. Durante mais de dez anos, 1828 a
1838, publicou a revista mensal denominada “The Co-operator”, através da qual
desenvolveu sua teoria da cooperação.
Seus ensinamentos resultaram na criação de inúmeras cooperativas na Grã-
Bretanha, por centenas de trabalhadores adeptos de seus ensinamentos, sistema esse que em
resumo. Segundo Fabio Filho (1999, 45), “Cada associado levava uma pequena quantidade
semanal de gêneros e bens econômicos e com o arrecadado, se abria uma tenda. Os lucros
obtidos da reunião constituíam um fundo comum, destinado a comprar terras ou casas que
possuiriam logo em comum todos os associados. A idéia que guiava estas empresas era de
que o operário deveria melhorar sua situação por si mesmo, sem recorrer ao auxílio dos
capitalistas generosos, como Robert Owen”.
c) William Thompson
William Thompson foi um médico irlandês contemporâneo de William King, e
discípulo de Robert Owen.
Defendia a idéia de uma economia cooperativa e voluntária, com objetivos claros
voltados para a distribuição da riqueza de tal forma que satisfizesse, realmente, os anseios
das pessoas, como se expressou em seu trabalho, editado em 1822, “Inquérito sobre os
Princípios da Distribuição da Riqueza, mais condizente com a felicidade humana”.
d) Charles Fourier (1772 – 1837)
Era natural de Besançon, França, e foi contemporâneo de Robert Owen. Sua vida
bastante atribulada, tendo escapado até da guilhotina, era filho de rico comerciante cuja
fortuna recebida por herança foi perdida em maus negócios com produtos coloniais.
Já como conseqüência da pobreza, empregou-se em uma casa comercial de
Marselha, o que lhe possibilitou observar as manipulações especulativas que se praticavam
no comércio.
Desde cedo foi um apaixonado pela música, pelas flores e pela geografia, o que lhe
valeu o cognome de “Sublime Louco de Besançon”. Além de ardoroso pregador das
“associações”, cujas economias societárias deveriam ser encaradas em seus menores
detalhes, defendeu também a educação em comum de crianças e a emancipação social e
política das mulheres.
De acordo com Luz Filho (1997) ele lançou as sete bases, pelas quais supunha
extinguir o pauperismo, prevenir as discórdias, garantir o máximo ao povo por ser enorme a
produção fornecida pelo seu regime societário. Estas leis afirmavam:
1. Que o trabalhador seja associado e pago por dividendos e não por salários;
2. Que cada um – homem, mulher ou criança – seja pago em relação a três faculdades:
capital, trabalho e talento;
3. Que as seções industriais sejam variadas cerca de oito vezes por dia, pois o entusiasmo
não se pode manter mais de uma hora e meia a duas horas do exercício de uma função
agrícola ou manufaturaria;
4. Que as funções se exerçam em companhia de amigos, espontaneamente, reunidos e
estimulados por meio de anulações bastante ativas;
5. Que as oficinas apresentem ao operário os requintes de elegância e de asseio;
6. Que a divisão do trabalho seja leveda ao grau extremo, a fim de caberem a cada sexo as
funções que lhe convêm;
7. Que cada homem mulher ou criança goze plenamente dessa distribuição do direito de
trabalhar ou no direito de intervir sempre em qualquer ramo de labor que lhe convenha,
à escolha, isento de qualquer atestado de probidade ou de aptidão.
e) George Jacob Holyoake (1817–1906)
Natural de Birmingham, importante centro político da Inglaterra, era descendente de família humilde. Muito jovem conheceu Robert Owen, em 1838, cujas idéias abraçou e defendeu, embora fossem tidas por muitos como visionárias.
Na verdade foi um grande socialista-cristão, com inúmeras obras publicadas sobre
temas político-sociais, e muitas conferencias sobre ajuda mútua e a cooperação que, na
expressão de Luz Filho (1997), tiveram grande influência para a criação da cooperativa dos
“Pioneiros de Rochdale”.
Foi um dos fundadores da A. C. I. – Aliança Cooperativa Internacional de Londres,
em 1895, notabilizando-se pelo manifesto apresentado à Câmara dos Comuns de seu país
visando obter a “Carta do Cooperativismo” cujos conceitos são os seguintes:
1. O cooperativismo complementa a Economia Política ao organizar a distribuição da
riqueza;
2. Ele não prejudica a fortuna de ninguém;
3. Não perturba a sociedade;
4. Não molesta os homens de Estado;
5. Não constitui uma associação secreta;
6. Não quer nenhuma violência;
7. Não causa nenhuma desordem;
8. Não ambiciona honrarias
9. Não pede privilégios especiais
10. Não reclama favores;
11. Não fomenta greves;
12. Não anda atrás de ajuda oficial;
13. Não teme a concorrência do comércio em qualquer ramo da produção;
14. Sente horror pelos monopólios e combate incessantemente;
15. Deseja a concorrência sã e honesta, na qual se vê a alma de todo o verdadeiro
progresso; e
16. Significa responsabilidade e a participação pessoal neste prestígio, que o trabalho com
pensamento, sabe conquistar.
Pela sua notoriedade no movimento foi dado o nome de “HOLYOAKE HOUSE”
(Casa de Holyoake) ao Edifício da União Cooperativa Inglesa.
f) Louis Blanc (1814 – 1882)
Louis Blanc nasceu em 1814 em Madri, e fez seus estudos em Paris. Ele era
jornalista, orador político e crítico impiedoso do injusto meio ambiente e da livre
concorrência.
Em 1839, publicou o livro “Organização do Trabalho”, no qual ataca a concorrência
como produtora de crises sociais. Neste livro ele proclamava o “Direito ao Trabalho” como
o mais sagrado de todos os direitos.
Ele defendia a intervenção do Estado na economia, a quem caberia, segundo ele,
incentivar a criação de uma “Oficina Social” nos moldes de uma associação de classe,
constituída de trabalhadores da mesma categoria profissional. Esta “Oficina Social” seria
regida por um Estatuto Social e fiscalizada pelo Estado, onde se definisse que o resultado
do trabalho deveria estar fundamentado na igualdade do salário.
Por outro lado, as sobras provenientes das vendas dos produtos, seriam distribuídas
da seguinte forma: uma porcentagem para dividendos outra para o Fundo de Reserva
destinado à prestação de Assistência Social, e o restante para a aquisição de novos meios de
produção, a fim de permitir o ingresso de novos associados e a abertura de novas “Oficinas
Sociais”.
g) Charles Gide (1847 – 1932)
Ilustre economista e doutrinador francês, Charles Guide é um dos grandes
precursores e o mais profundo sistematizador da doutrina do cooperativismo universal. Ele
enunciava as doze virtudes do cooperativismo, que são:
1. Viver melhor;
2. Fazer a educação do povo;
3. Interessar a mulher nas questões sociais;
4. Abolir os conflitos;
5. Pagar a dinheiro – à vista
6. Estabelecer o justo preço
7. Combater as despesas com as bebidas alcóolicas;
8. Suprimir os parasitas sociais;
9. Reconstituir uma propriedade coletiva;
10. Eliminar o lucro;
11. Facilitar a todos o acesso à propriedade;
12. Economizar sem sacrifícios.
Casselman (2002) enunciava também algumas idéias distintas. Para este autor, ele
tinha uma base religiosa e filosófica que falta ao cooperativismo inglês, pois a Escola de
Nîmes advogava um maior mais envolvimento dos vários tipos de cooperativas no sentido
de descentralizar o movimento. Além disso, o Movimento de Nîmes reune cooperativas de
produtores e sociedades artesanais em sua estrutura, enquanto o Movimento de Rochdale
era exclusivamente consumidor.
h) Herman Schulze (1808-1883)
Nascido na cidade de Delitzsch, formou-se em direito, foi deputado e prefeito
desta cidade, adotando o seu nome posteriormente, já que Schulze era muito comum na
Alemanha, ele foi membro da Assembléia Nacional Alemã, externou preocupação com a
exploração sofrida pelos industriais, comerciantes e trabalhadores de sua cidade natal.
Esse quadro levou-o a organizar sociedades de crédito que atendessem às necessidades
dessas pessoas.
A maior ênfase dessas sociedades foi dada para a área urbana. Em Delitzsch,
Schulze daria início ao programa organizando uma pequena caixa de socorro,
especialmente para atender casos de doença ou de morte. Mais, tarde, em 1850, surgira a
primeira cooperativa de crédito urbano. Logo depois, surgiram outras, resultando no
aparecimento da União Geral das Sociedades Cooperativas e Artesanais Alemães. Nesta
fase, a área de atuação dessas cooperativas não obedecia limites rígidos e as instituições
não recebiam auxílio do Estado.
Quando começou a funcionar, esse tipo de cooperativa era estruturada com base
num fundo compulsório, diferentemente do que era feito nas Caixas Rurais. Só mais tarde
seria estabelecida a obrigatoriedade de subscrição e integralização do capital social.
De acordo com Irion (1997), as cooperativas passaram a ser conhecidas com o nome
de Schulze-Delitzsch, tendo as seguintes características principais.
- adoção do princípio de auto-ajuda;
- responsabilidade limitada dos sócios;
- sobras líquidas distribuídas proporcionalmente ao capital;
- controle democrático, que permite que cada associado tenha direito a um voto;
- áreas de ação não restritas;
- empréstimos a curto prazo, de acordo com as modalidades bancárias vigentes;
- diretores executivos remunerados
i) Friedrich Wilhelm Raiffeisen (1818-1888)
Raiffeisen nasceu em 1818, na pequena cidade de Hamn, no Sieg (Renânia), sétimo
dos nove filhos do agricultor e prefeito Gottfried Friedrich Raiffeisen, filho de um pastor
luterano e ficou órfão muito cedo. Não podendo continuar seus estudos depois da escola
primária, foi instruído pelo pastor da comuna, durante as horas em que não estava ajudando
a mãe no trabalho do campo. Com 17 anos, tendo de seguir uma carreira, entrou como
voluntário para o exército, pensando em se alistar novamente. Aos 25 anos foi obrigado a
abandonar o exército por causa de uma doença dos olhos que se manifestou na época e que
o fez sofrer a vida toda.
Com a ajuda de um de seus tios, Friedrich W. Raiffeisen ingressou na administração
pública. Aos 27 anos, tornou-se prefeito de Weyerbusch (Weterwalde), onde se revelou um
grande organizador. Durante o inverno de 1847-1848, a região sofreu uma grande penúria.
Friedrich W. Raiffeisen organizou o abastecimento com farinha de trigo e cuidou da
fabricação do pão, que era vendido e dois preços: um para os ricos, outro para os pobres.
Como ele trabalhou no campo em sua juventude, pode observar as dificuldades dos
lavradores para obtenção de crédito. Explorados pelos negociantes – que compravam as
safras a preços muito abaixo do mercado, eles conseguiam com muita dificuldade recursos
suficientes para despesas anuais da agricultura. Acompanhando de perto o sofrimento dos
agricultores, que também era o seu, Raiffeisen pensava em como conseguir mudar este
quadro.
Numa tentativa de buscar soluções para esse problema, Raiffeisen criou formas de
auxílio aos agricultores, organizando entidades beneficentes de vários tipos. Em 1849, por
intermédio de uma dessas entidades, os agricultores puderam ter acesso ao crédito, para
atendimento de suas necessidades básicas. Esta Sociedade, localizada na cidade de
Heddsdorf, deu origem ao cooperativismo de crédito rural, que na verdade começou como
uma simples caixa de socorro.
Irion (1997) afirma que as normas e características principais dessas entidades eram
as seguintes:
- responsabilidade solidária de todos os associados;
- não obrigatoriedade de subscrição e integralização de capital, permitindo o ingresso
de todos na sociedade, desde que fossem pessoas idôneas;
- destinação integral das sobras para formação de um fundo de reserva para a
cooperativa;
- gestão democrática, permitindo que cada participante tivesse direito a voto nas
deliberações sociais; e
- área de ação reduzida, com o objetivo de resguardar a solidariedade financeira
assumida, permitindo o interesse pelos problemas comuns.
Após a criação e organização desta caixa rural, Raiffeisen passou a difundir a idéia
em várias regiões da Alemanha. Logo, estas sociedades passaram a ser conhecidas como
Caixas Rurais Raiffeisen, que além de emprestarem dinheiro, procuravam diminuir o
desemprego e cuidar da educação das famílias.
Essa oportunidade fez Friedrich Wilhelm Raiffeisen meditar, de maneira que, no
ano seguinte, quando foi transferido para Flammersfled, fundou, juntamente com uns 60
moradores abastados, a “Sociedade beneficente de Flammersfled para ajudar os agricultores
necessitados”. A atividade principal voltava-se contra o comércio usuário do gado. Mas,
logo essa sociedade começou a conceder créditos em dinheiro. Para obter os fundos
necessários anexou-se a essa sociedade uma caixa de poupança. Assim, pois, de caixa de
socorro, a instituição tornou-se uma instituição de crédito e poupança.
Como o prefeito de Heddesford (Neuwied), Friedrich Wilhelm Raiffeisen fundou,
em 1854, uma caixa de socorro, mas logo a substituiu por uma sociedade de crédito –
“Heddesdorfer-Darlehnskassen-Verein”. A denominação “Darlehnskassen-Verein” ainda
hoje é aplicada às cooperativas de crédito do tipo Raiffeisen.
Em 1865, Raiffeisen teve de deixar seu serviço por causa de uma doença nervosa e
de sua doença de olhos que piorava. Para poder subsistir, pois sua pensão era muito
pequena, fundou inicialmente uma fábrica de cigarros, depois um depósito de vinhos. Com
esse comércio, conseguiu pagar suas dívidas e garantir o sustento da família. Ele morreu em
1888.
j) Luigi Luzzatti (1841-1927)
Os sistemas Schulze-Delitzsch e Raiffeisen foram adotados, algumas vezes, com
modificações, em outros países, no movimento cooperativo rural e no das classes médias
das cidades. Essas modificações são explicadas pela necessidade de adaptar a
cooperativa às diferentes condições das diversas economias nacionais no quadro das
quais ela terá que se desenvolver. Foi assim que na Itália foram criados os sistemas
Luzzatti e Wollemborg.
Luigi Luzzatti era homem político, professor universitário, autor de obras
econômicas e financeiras, orador de talento, é considerado o verdadeiro fundador do
cooperativismo de crédito italiano. Em 1864 e 1865 ele fundou em Lodi e Milan os
primeiros bancos populares segundo o modelo Schulze-Delitzsch, que ele conheceu
enquanto estudante em Berlim. Esses bancos foram imitados em outros lugares e foi
assim que nasceu uma poderosa organização a partir do impulso inicial de Luzzatti.
Ele caracterizava assim a cooperativa de crédito e a caixa de poupança: “A caixa
de poupança é o cofrinho do pobre, que junta dinheiro para os emprestarem aos ricos; a
cooperativa de crédito é o dinheirinho do necessitado, que vai servir sempre ao
necessitado” (IRION, 1999, 56).
Luzzatti tinha apenas 22 anos quando publicou seu “La diffusione Del credito e le
Banche Populari”, em Pavoda, em 1863, onde ele expõe suas primeiras idéias sobre as
cooperativas de crédito. Como já foi mencionado, Luzzatti adotou o sistema Schulze-
Delitzsch, modificando-o para adapta-lo à realidade italiana. É assim que nasceu um
novo tipo italiano de banco popular.
Enquanto que a parte social nos bancos populares Schulze na Alemanha era de no
mínimo de 10.000 Marcos, variando habitualmente de 300,00 a 500,00 Marcos, na Itália
ela foi fixada em 25,00 ou 50,00 Liras, algumas vezes até mesmo 5,00 liras; muito
raramente se elevava a 100,00 liras. Cada associado podia ter várias partes sociais, até o
máximo de 5.000,00 liras no total.
Schulze-Delitzsch considerava os bancos populares como “caixas de poupança
obrigatórias” para a acumulação gradual de um capital mais importante, Luzzatti
pensava que se poderia obter das massas populares os capitais a partir de disposições
menos severas, pela persuasão e a liberdade, ao contrário da imposição, e que se pode
obter resultados favoráveis mesmo com capitais mais modestos.
Por outro lado, Luzzatti dá uma importância maior aos fundos de reserva,
formados a partir do levantamento parcial dos lucros anuais e que podem superar o valor
do capital social. Luzzatti emitiu para seus bancos populares a máxima: “converter em
capital a honestidade”. Ele queria dizer com isso que mesmo na ausência de um
poderoso capital próprio, que formaria a base do crédito da cooperativa, essa não pode
obter créditos das caixas de poupança e dos bancos privados e até mesmo atrair
depósitos, se criarmos em volta da cooperativa uma atmosfera moral de confiança.
Ela será criada com a exigência de sérias qualidades morais de seus membros, por
uma fiscalização recíproca de seus associados, pela escolha criteriosa dos
administradores, pela participação ativa de todos os associados na direção e na
organização da cooperativa, pela seriedade e objetividade perfeita na atribuição de
créditos, pela fiscalização desses e, sobretudo, por operações feitas abertamente e
submetidas a cada momento ao controle e à crítica da opinião pública.
Luzzatti pensava que a responsabilidade solidária não poderia ser implantada na
Itália. Foi apenas mais tarde que essa forma de responsabilidade, com a qual ele
concordou também, entrou no sistema.
Ao inverso do sistema Schulze-Delitzsch, a administração era gratuita, Luzzatti
introduziu os pequenos empréstimos, concedidos sob palavra de honra e sem juros aos
mais pobres. Em vista da ajuda financeira as empresas cooperativas, ele foi o criador de
um instituto central de crédito, fundado em Roma com a participação do Estado e de
cooperativas.
Luzzatti não exclui, portanto, a ajuda do estado, mas não lhe deu importância
primordial. No discurso de abertura que ele fez no Congresso Internacional, em
Cremona, ele citou o seguinte a esse respeito:
“Consideramos o cooperativista armado com sua potência individual, que
multiplica pela associação, como o Exército da paz social, que se move nas
primeiras linhas das grandes batalhas e obtém grandes vitórias; o Estado é como
um Exército de reserva que em certas circunstâncias e na presença de certo
eventos, se coloca na primeira linha para ganhar o combate social, de onde se
retira de novo mais tarde”. (IRION, 1997, 87)
Apesar de ser Judeu e descendente de uma rica família israelita de Veneza, Luzzatti
tinha uma concepção próxima da ética cristã, que dominava todas as manifestações no
terreno cooperativo e social.
No discurso de Cremona, Luzzatti formulou o lema do cooperativismo da
seguinte maneira: Ajuda-te, Deus e o Estado te ajudarão! e ele completava:
“Alguns, mais audaciosos que eu, afastarão Deus, outros mais anarquistas que
eu afastarão o Estado; outros ainda mais audaciosos e anarquistas ao mesmo
tempo, eliminarão Deus e o Estado; mas mesmo quando teremos eliminado
Deus, mesmo quando teremos eliminado o Estado, o outro preceito continuará,
no entanto sempre inteiro: Ajudemo-nos uns aos outros, porque é nessa ajuda
recíproca que está a verdadeira via da redenção”. (IRION, 1997, 84)
l) P. C. Plokboy e John Bellers
A importância de P. C. Plockboy e John Bellers para a formação da doutrina
cooperativista foi salientada na literatura social por Edward Bernstein, Karl Munding,
Henry Faucherre, Hans Müller e, mais recentemente Robert Schloesser.
P. C. Plockboy, de origem holandesa, publicou em 1659 sob o pseudônimo de Peter
Cornelius van Zurickzee, um panfleto com título bastante longo:
“Ensaio sobre um método para tornar felizes os pobres desta nação e os dos outros povos, reunindo um certo número de homens competentes em uma pequena associação econômica ou pequena república na qual cada um conservará sua propriedade e poderá, sem recorrer à força, ser empregado no gênero de trabalho para o qual tem mais aptidão. O meio de livrar esta nação, assim como as demais, não somente dos preguiçosos e dos malvados, mas também das pessoas que buscaram e encontraram o meio de viver às custas do trabalho dos outros. Como a nexo, publica-se um convite a esta associação ou pequena república”. (MLADENATZ, 2003)
Plockboy buscava com uma associação econômica em que a propriedade individual
seria mantida, mas em que desapareceria a exploração de uns pelos outros, seriam formadas
famílias ou pequenos grupos econômicos constituídos pelas quatro mais importantes
categorias de indivíduos que compõem a humanidade: agricultores, artesãos, marítimos e
mestres das artes e das ciências. Cada um receberia um crédito por sua contribuição para a
associação (terra, dinheiro, meios de transporte). À medida desses aportes, o associado não
teria a receber nenhum lucro. A propriedade individual é, pois, respeita, assim como a
herança. Os associados podem anunciar sua retirada, sua participação deve então lhes ser
restituída.
Para começar, um grupo de “pais” deve reunir um fundo, destinado à construção de
dois grandes prédios: um na “city” de Londres, que abrigará de 20 a 30 famílias e a marcará
igualmente toda espécie de armazém; um outro no campo, mais vasto e mais espaçoso, que
servirá de centro de produção e de imóvel residencial.
Os dirigentes e os empregados devem ser eleitos por um ano pelos membros da
associação. Os membros trabalham seis horas por dia para produção comum, mais os
operários contratados trabalham doze horas estes tem liberdade de tornam-se membros
também. Os melhores operários são escolhidos e designados como contra mestres.
Periodicamente, membros da família são transferidos da cidade para o campo, para que
desenvolvam e aumentem seu conhecimento técnico e afim de que todos possam aproveitar
as vantagens da vida no campo.
Quais seriam, de acordo com Plockboy, os resultados de seu projeto? Em primeiro
lugar, estabelece-se uma ligação orgânica entre agricultura e a indústria nessa economia
coletiva. Esta é uma idéia que tem reaparecido nos últimos anos nos meios dirigentes do
mundo cooperativo.
No campo do consumo, afirma Plockboy, consegue-se a baixar os preços das
mercadorias, porque o aproveitamento é feito em comum e em grandes quantidades pelos
associados dessa organização econômica. O trabalho é ai igualmente facilitado e a
produção é feita nas condições mais vantajosas.
A associação não teme a concorrência dos comerciantes particulares, pois as
vantagens oferecidas por esta organização cooperativa possibilitam amplamente produzir a
um custo menor do que a das empresas privadas.
A cada seis ou doze meses, encerram-se as contas e distribui-se o excedente, o que
permite que cada associado dê uma pequena parte aos pobres, presenteie os seus amigos ou
faça qualquer outra coisa que deseje. Os homens de negócios que estão fora, afirma
Plockboy, debatem-se continuamente entre o temor e a esperança, enquanto na associação
todos irão ao trabalho com a alma tranqüila.
“Enquanto os industriais de fora oprimem seus operários, impondo-lhes trabalhos
pesados, e só lhes oferecem salários reduzidos, entre nós ocorre o contrário: o lucro do
empreendedor será empregado para o bem e recreação do operário” (THENORIO FILHO,
2002: 46)
A justificativa dada por Plockboy era baseada nos ensinamentos da moral cristã.
Plokboy teria fundado, com alguns outros associados, uma colônia semelhante em
Nouvelle-Hollande, mais ela foi dissolvida em 1664 por ordem do governador britânico.
Considerações sobre estes autores, segundo Bergengreen (2001):
1) Inicialmente, a própria idéia de associação. A cooperativa realiza a associação das
forças econômicas na busca do fim comum. Logo, recorre ao espírito de solidariedade e
não ao espírito de competição dos associados. Estabelece o princípio do entendimento
para toda a vida e não o de luta pela vida.
2) A cooperativa é uma ação de emancipação das classes trabalhadoras da nação (a
expressão “classe trabalhadora” é aqui compreendida em sentido amplo). Parte-se da
idéia de organização dos interesses do trabalho.
3) Esta organização do trabalho, essa ação de emancipação das classes operárias faz-se
pela própria iniciativa dos interessados. É uma ação de auto-assistência – bem destinada
da ação filantrópica e da ação da autoridade pública para a defesa dos interesses dos
fracos do ponto de vista econômico. O poder público se pode eventualmente coordenar
e ajudar essa ação de self help (auto-ajuda).
4) A cooperativa conclama o homem para que ele se associe com seus semelhantes. Aqui,
o capital é apenas um meio de realização dos fins da instituição. A cooperativa não
busca o ganho, mas oferece serviços aos associados. Encontra-se essa idéia de
eliminação do lucro industrial ou comercia em vários desses pensadores sociais que
foram os apóstolos da cooperativa moderna.
5) A cooperativa representa uma econômica coletiva. Todas as funções econômicas dos
membros ou somente uma parte dessas que são assumidas por uma empresa comum.
6) Cada unidade cooperativa não se considera isolada, mas somente uma célula de uma
grande organização federativa a serviço do interesse geral.
7) Essa organização é considerada perpétua. Pelos fundos acumulados por diferentes
instituições ao longo dos anos, busca-se a cumulação de fundos coletivos, que vão
contribuir para o desenvolvimento futuro do movimento.
Conforme mencionado anteriormente, estes homens contribuíram, a seu modo e
tempo, para com o que se tem hoje sobre cooperativismo. Suas filosofias de vida e suas
ações deram base para a legislação atual sobre este tema.
2.6. Legislação Cooperativista no Mundo
A seguir apresentar-se-á exemplos sumarizados de algumas legislações
cooperativistas mundiais a fim de permitir comparação posterior. Conforme Irion (1997), as
principais orientações e legislações são:
a) Resolução 49 da ONU
Reconhece que as cooperativas, em suas distintas formas, estão passando a ser fator
indispensável do desenvolvimento econômico e social de todos os países que promovem a
participação mais completa possível no processo de desenvolvimento de todos os grupos da
população, inclusive mulheres, jovens, pessoas incapacitadas e/ou anciões.
Reconhece também a importante contribuição que trazem e as possibilidades que as
cooperativas, de todos os tipos, oferecem para preparar e aplicar as decisões da Cúpula
Social Mundial sobre Desenvolvimento Social da Quarta Conferencia Mundial sobre a
Mulher: Ação para a Igualdade, o Desenvolvimento e a Paz, que foi realizada, em 1995. Na
Conferência das Nações Unidas sobre os Assentamentos Humanos (Habita II) que se
realizou em 1996, este tema também foi tratado, enfatizando os seguintes itens.
1. Toma nota e reconhece o relatório do Secretário Geral sobre as condições jurídicas
e o papel das cooperativas tendo em conta as novas tendências econômicas e
sociais.
2. Convida os governos, organizações internacionais, organismos especializados em
organizações cooperativas nacionais e internacionais pertinentes a observar
anualmente o primeiro sábado de julho, a partir de 1995, como o Dia Internacional
das Cooperativas, proclamado pela Assembléia Geral em sua Resolução 47/90.
3. Alerta também ao governo dos paises participantes, que ao formular estratégias
nacionais para o desenvolvimento, estudem a fundo as possibilidades que oferecem
as cooperativas de contribuir para a solução dos problemas econômicos-sociais e
ambientais.
4. Alerta aos governos para que considerem a possibilidade de revisar as limitações
jurídicas e administrativas que se impõem as atividades das cooperativas, com vistas
a eliminar as que não sejam aplicáveis.
5. Convida os organismos governamentais para que, em colaboração com as
cooperativas e outras organizações pertinentes, elaborem programas destinados a
melhorar as estatísticas sobre as contribuições das cooperativas às economias
nacionais e facilitem a difusão de informação sobre cooperativas.
b) Constituição da República Mexicana
Art. 25. Corresponde ao Estado a direção do desenvolvimento nacional para
garantir que este seja integral, que fortaleça a Soberania da Nação e seu regime
democrático e que, mediante o fomento do crescimento econômico e o emprego e uma
mais justa distribuição do ingresso e da riqueza, permita o pleno exercício da liberdade
e da dignidade dos indivíduos, grupos e classes sociais, cuja seguridade protege esta
Constituição. (...)
Ao desenvolvimento econômico nacional concorrerão, com responsabilidade social
e o setor privado, sem menoscabo de outras formas de atividades econômica que
contribuam ao desenvolvimento da Nação.
O setor público terá seu cargo, de maneira exclusiva, as áreas estratégicas que se
assinalam no art. 28 §4º, da Constituição, mantendo sempre o Governo Federal a
propriedade e do controle sobre o organismo que em seu caso se estabeleçam.
Debaixo de critérios de eqüidade social e produtividade se apoiará e se
impulsionará as empresas dos setores social e privado da economia, sujeitando-os às
modalidades que ditem o interesse público e ao uso, em benefício geral, dos recursos
produtivos, cuidando de sua conservação e do meio ambiente.
A lei estabelecerá os mecanismos que facilitem a organização e a expansão da
atividade econômica do setor social: (...) organizações de trabalhadores, cooperativas,
comunidades, empresas que pertençam a majoritária ou exclusivamente aos
trabalhadores e, em geral, de todas as formas de organização social para a produção,
distribuição e consumo de bens e serviços socialmente necessários. (...)
Art. 28. (...) Nos Estados Unidos Mexicanos ficam proibidos os monopólios, as
práticas monopolistas (...). em conseqüência, a lei castigará severamente, e as
autoridades perseguirão com eficiência, toda concentração ou ajuntamento em uma ou
poças mãos de artigos de consumo necessário e que tenha como objetivo obter a alta
dos preços; todo acordo, procedimento ou combinação dos produtores, industriais,
comerciantes ou empresários de serviços, que de qualquer maneira ajam para evitar a
livre concorrência ou a competência entre si (...).
Não constituem monopólios as associações de trabalhadores fornadas para
proteger seus próprios interesses e as associações ou sociedades cooperativas de
produtores para que, em defesa de seus interesses ou do interesse geral, vendam
diretamente nos mercados estrangeiros os produtos nacionais ou indústrias que sejam a
principal fonte de riqueza da região em que se produzam ou que não sejam artigos de
primeira necessidade, sempre que ditas associações estejam sob vigilância ou amparo
do Governo Federal dos Estados, e prévia autorização que de efeito obtenha das
Legislaturas respectivas em cada caso. As mesmas Legislaturas, por si ou proposta do
Executivo, poderão derrogar, quando assim o exijam as necessidades publicas, as
autorizações concedidas para a formação das associações de que se trata. (...)
c) Constituição da República Popular da Hungria
Capítulo I – A ordem Social da República Popular da Hungria Art. 10.
As Cooperativas formam parte da ordem social Socialista: servem os interesses de
seus membros em harmonia com os interesses sociais e econômicos do Estado
Socialista.
O Estado apoia o movimento cooperativo baseado na associação voluntária dos
trabalhadores e o desenvolvimento da propriedade cooperativa socialista garante a
autonomia das cooperativas; no interesse dos valores e princípios das cooperativas
socialistas, e exerce a supervisão de sua atividade.
A República Popular da Hungria concede uma atenção especial às cooperativas
rurais de produção agrícola. Protege e fomenta a propriedade socialista-cooperativa
da terra.
d) Constituição da República Popular da Polônia
Capítulo II – O Regime Social e Econômico
Art. 26. A República Popular da Polônia apoia o desenvolvimento das mais
variadas formas do movimento cooperativo nas cidades e no campo, concedendo
uma ajuda direta, no cumprimento de suas tarefas, e dispensa à propriedade
cooperativa, desde que a propriedade socializada, uma atenção e proteção
especial.
e) Constituição da República da Venezuela
Título III – Dos Deveres, Direitos e Garantias
Capítulo IV – Direitos Sociais
Art. 72. O Estado protegerá as associações, corporações, sociedades e
comunidades que tenham por objeto o melhor cumprimento dos objetivos da pessoa
humana e convivência social, e fomentará a organização de cooperativas e demais,
instituições destinadas a melhorar as condições de economia popular.
f) Constituição da República Popular da Bulgária
Capítulo II – Organização Econômico-Social
Art. 14. As formas de propriedade na República Popular da Bulgária são as
seguintes: propriedade estatal (nacional), propriedade cooperativa, propriedade
das organizações sociais e propriedade privada.
Art. 19. (1) A propriedade cooperativa pertence ao coletivo de
trabalhadores, unidos voluntariamente para a realização da atividade econômica
das reuniões cooperativas e das organizações inter-cooperativas.
(2) O direito de propriedade cooperativa exerce-se em interesse da sociedade
e dos cooperativados.
Capítulo IV – A Assembléia Nacional
Art. 80. (1) O direito de iniciativa legislativa pertence ao Conselho de
Estado, ao Conselho de ministros, às Comissões Permanentes da Assembléia
Nacional, aos Deputados, ao Tribunal Supremo e ao procurador-geral.
(2) Também têm direito de iniciativa legislativa as organizações sociais em
nome do Conselho Nacional da Frente da Pátria, do Conselho Central dos
Sindicatos, do Comitê Central da União da Juventude Comunista Dimitroviana e
do Conselho de Direção da União Cooperativa Central na resolução de questões
ligadas à sua atividade.
g) Constituição da República de Cuba
Capítulo I – Fundamentos Políticos, Sociais e Econômicos do Estado
Art. 20. O Estado reconhece a propriedade dos agricultores pequenos sobre suas
terras e outros meios e instrumentos de produção, conforme o que estabelece a lei.
Os pequenos agricultores têm direito a associar-se entre si, na forma e com
os requisitos que estabelece a lei, tanto aos fins da produção agropecuária como
aos de obtenção de créditos e serviços estatais.
Autoriza-se a organização de cooperativas agropecuárias nos casos e na
forma que a lei estabelece a lei, tanto aos fins da propriedade coletiva dos
campesinos integrados nelas.
O Estado apoia a produção cooperativa dos pequenos agricultores, assim
como a produção individual que contribua para o auge da economia nacional.
h) Constituição da (extinta) União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Capítulo II – Sistema Econômico
Art.12. São propriedades dos colcoses e de outras organizações
cooperativas e das suas associações os meios de produção e outros bens
indispensáveis para execução das suas tarefas estatuárias.
A terra ocupada pelos colcoses é lhes concedida para usufruto gratuito e
com caráter da perpetuidade.
O Estado contribui para o desenvolvimento da propriedade colcosiano-
cooperativa a sua aproximação da propriedade estatal. (...)
Capítulo III – Desenvolvimento Social e Cultural
Art. 24. (...) O Estado estimula a atividade das cooperativas e de outras
organizações sociais em todas as esferas dos serviços da população. (...)
i) Constituição da Espanha
Título VIII – Economia e Fazenda
Art. 129:1. (...) 2. Os poderes públicos promoverão eficazmente as diversas
formas de participação na empresa e fomentarão, mediante uma legislação adequada, as
sociedades cooperativas. (...).
j) Constituição Política do Peru
Título III – Do Regime Econômico
Capítulo I – Principais Gerais
Art. 116. O Estado promove e protege o livre desenvolvimento do
cooperativismo e a autonomia das empresas cooperativas.
Assim mesmo, estimula e ampara o desenvolvimento das empresas
autogestionárias, comunitárias e demais formas associativas.
Art. 159. A reforma agrária é o instrumento de transformação da estrutura
rural e de promoção integral do homem do campo. Dirige-se para um sistema justo
da propriedade, posse e trabalho da terra, para o desenvolvimento econômico e
social da Nação. Com esse fim, o Estado: (...)
3 – Apoia o desenvolvimento das empresas cooperativas e outras formas
associativas, livremente constituídas, para a produção, transformação, comércio e
distribuição de produtos primários. (...)
Capítulo VIII – Das Comunidades Camponesas e Nativas
Art. 162. O Estado promove o desenvolvimento integral das Comunidades
Camponesas e Nativas. Fomenta as empresas comunitárias e cooperativas.
k) Constituição da República Popular da China
Capítulo I – Princípios Gerais
Art. 8º. As comunas populares rurais, as cooperativas de produção agrícola
e outras formas de economia cooperativa de produção, abastecimento e venda de
crédito, consumo etc., são propriedade coletiva socialista das massas
trabalhadoras. (...).
Todas as formas de economia cooperativa existentes no artesanato, na
indústria, na construção, no transporte, no comércio e nos serviços públicos das
cidades e povoados, estão dentro do setor econômico da propriedade coletiva
socialista das massas trabalhadoras.
O Estado protege os direitos e interesses legítimos das entidades
econômicas coletivas tanto da cidade como do campo. Estimula, orienta e ajuda a
economia coletiva em seu desenvolvimento.
l) Constituição da República da Guiné-Bissau
Título I – Princípios Fundamentais da Natureza e Fundamentos do Estado
Art. 11.1. A organização econômica e social da República da Guiné-Bissau
tem como objetivo a promoção contínua do bem-estar do povo, a liquidação da
exploração do homem pelo homem e a eliminação de todas as formas de sujeição
da pessoa humana a interesses degradantes, em proveito de indivíduos de grupos e
classes.
2. Para a realização desse objetivo, o Estado da Guiné-Bissau promove:
(...) h) organização das cooperativas e o estímulo à produção popular; (...)
Art. 12.1. Na República da Guiné-Bissau são reconhecidas as seguintes
formas de propriedade: (...) b) a propriedade cooperativa, que, organizada sob do
livre consentimento, incide sobre a exploração agrícola, a produção de bens de
consumo, o artesanato e outras atividades fixadas por lei; (...)
Art.13. A economia nacional rege-se pelo princípio da direção e
planificação estatal.(...)
3. O estado pode dar por concessão às cooperativas e outras pessoas jurídicas
singulares ou coletivas a exploração da propriedade estatal, desde que sirva o
interesse geral e aumente as riquezas sociais.
m) Constituição da República da Itália
Parte I – Direitos e Deveres dos Cidadãos
Título III – Relações Econômicas
Art. 43. Para os fins da utilidade geral, a lei pode reservar originariamente
ou transferir, mediante expropriação e salvo indenização, ao Estado, as entidades
públicas ou a comunidades de trabalhadores ou de usuários, determinadas
empresas ou categorias de empresas, que se relacionem com serviços públicos
essenciais ou com fontes de energia ou monopólios, as quais tenham caráter de
preeminente interesse social.
Art. 45. A República reconhece a função da cooperação em caráter de
reciprocidade e sem fins de exploração privada. A lei promove estimula a
incrementação da mesma como os meios mais apropriados, assegurando-lhe, com
oportunos controles, o seu caráter e as suas finalidades.
n) Constituição da República Portuguesa
Esta constituição, visivelmente, contempla disposições amplamente generosas sobre
o cooperativismo, as quais parecem que influenciaram (positivamente) os constituintes
brasileiros. Como se vê a seguir.
Art. 61. Iniciativa privada, cooperativa e autogestionária.
1. A iniciativa econômica privada exerce-se livremente nos quadros definidos pela
Constituição e pela lei e tendo em conta o interesse geral.
2. A todos é reconhecido o direito da livre à constituição de cooperativas, desde
que observados os princípios cooperativos.
3. As cooperativas desenvolvem livremente as suas atividades e podem agrupar-se
em uniões, federações e confederações.
4. Reconhecido o direito de autogestão, nos termos da lei.
Art. 84. Cooperativas e experiências de autogestão.
1. O Estado estimula e apoia a criação e atividade de cooperativas.
2. A lei definirá os benefícios fiscais e financeiros das cooperativas, bem como
condições mais favoráveis à obtenção de crédito e auxílio técnico.
Nota: Além destes, de alguma forma se reportam ao cooperativismo os arts. 43º, 4, e
75º, 2 (ensino); 60º, 3 (atividades nos domínios dos direitos dos consumidores; 65º, 2, “b”
(habilitação); 82º, 4, “a” (princípios cooperativos, tal como referido no art. 61º, 2) e 97º, 2,
98º e 100º, 1 e 2 (agricultura).
O resumo do significado da farta contemplação constitucional pode ser obtido na
obra do constitucionalista português Jorge Miranda (1996, apud Meinen et al 2002), que faz
a seguinte leitura:
“A Constituição dedica um particular favor ao cooperativismo, consagrando o direito de criação de cooperativas como um direito fundamental (...) incumbindo o Estado de estimular e apoiar em geral as cooperativas (...).
A iniciativa cooperativa é o núcleo do setor ‘cooperativo e social’ de propriedade e atividades econômicas (...), cuja proteção é um dos princípios fundamentais da organização econômica social (...). E o lugar que ocupa não é só ditado pela relativa maior fragilidade das empresas do tipo cooperativo; é outrossim ditada por razões sociais e políticas ligadas à própria idéia de Direito da Constituição; e representa, porventura, uma das suas notas mais originais”.
De leitura rápida dos dispositivos cuja redação foi aqui reproduzida, pode-se
verificar a seguinte (e integral) relação de correspondência entre as constituições
portuguesa e brasileira (como logo se verá):
a) o item 1 do art. 61º da CRP identifica-se no art. 170 de nossa Carta;
b) os itens 2, 3 e 4 do art. 61º vêm prestigiados no art. 5º, XVII e XVIII;
c) o item 1 do art. 86º tem fiel reprodução no § 2º do art. 174;
d) finalmente, o item 2 do art. 86º assemelha-se ao que figura do art. 146, III, “c”.
Estas informações colhidas das diversas regulamentações sobre cooperativismo no
mundo dão uma idéia da amplitude e relevância deste tema. Por isso, na seqüência,
apresenta-se a Legislação Cooperativista Brasileira, para depois comparar e mostrar o que
levou a edição da nova Resolução sobre Cooperativismo de Crédito, no Brasil.
2.7. Legislação Cooperativista no Brasil
De acordo com Irion (1997), as cooperativas estão reguladas por uma lei especial
em função de sua formação societária. Sua regência legal é a Lei 5764/71, pode ser assim
cotada:
“Art.3º - Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica; de proveito comum, sem objetivo de lucro.”
“Art.4º - As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características: (...).”
“Art.5º - As sociedades cooperativas poderão adotar por objeto qualquer gênero de serviço, operação ou atividade, assegurando-se-lhes o direito exclusivo e exigindo-se-lhes a obrigação ‘cooperativa’ em sua denominação.
Parágrafo Único – É vedado às cooperativas o uso da expressão ‘Banco’”.
Vale ressaltar que a lei especial buscou nas leis civis e direito comercial inspiração subsidiária no arcabouço jurídico das sociedades cooperativas. Neste contexto, Carvalho Mendonça (1997, 38) assim afirma:
“As leis são denominadas pelos princípios gerais de direito chamados também o espírito geral das leis.
Não é possível estabelecer regras para o conhecimento e a aplicação desses princípios, à luz da ciência jurídica e o intérprete deve estudá-los, e quando maiores a ilustração, o fato e o senso prático deste, melhor apurados serão aqueles.”
A legislação deverá sempre buscar a satisfação da necessidade societária, nenhuma norma sobrevive sozinha, sua dinâmica evolução é condição máxima, para que não ocorra engessamento do instituto que regula. Ao legislador é impossível reconhecer
seus efeitos no tempo e no espaço, prever as modificações necessárias do conteúdo da norma ao sistema. Uma vez em vigor, a lei produz efeitos independentemente do legislador, desenvolvendo-se, evoluindo, alongando-se, restringindo-se, adaptando-se sempre ao meio limitado a que veio servir.
2.7.1. Dispositivos Constitucionais que fazem referência ao Cooperativismo Brasileiro
A Constituição Federal do Brasil (1988) apresenta alguns artigos e incisos que falam da criação de associações e cooperativas. Além de apresentar legislação complementar sobre este tema para garantir a todos os direitos e deveres quando da criação de tais instituições. Vejamos a transcrição de algumas destas regulamentações.
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
Art. 146. Cabe à lei complementar:
III – estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:
c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas.
Art.174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.
§ 2º. A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo.
§ 3º. O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros.
§ 4º. As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão prioridade na autorização ou concessão para a pesquisa e lavra dos recursos de jazidas de minerais garimpáveis, nas áreas onde estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo com o artigo 21, XXV, na forma da lei.
VI – o cooperativismo;
Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturando de forma promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, será regulado em lei complementar, que disporá, inclusive, sobre:
VIII – o funcionamento das cooperativas de créditos e os requisitos para que possam ter condições de operacionalidade e estruturação próprias das instituições financeiras.
No que tange o cooperativismo de crédito, tanto rural quanto urbano, tem-se as seguintes leis e resoluções:
Lei Nº 5764 de 16/12/71: aborda a constituição e funcionamento das cooperativas, objetivo, natureza jurídica e gênero de serviço.
Lei Nº 4595/64: dispõe sobre a autorização para funcionamento das cooperativas de crédito como instituição financeira.
Resolução Nº 2771/00: aprova o regulamento, constituição e funcionamento das cooperativas de crédito.
Lei Nº 6024/74: apresenta as normas para liquidação das instituições financeiras.
Lei Nº 7492/86: define os crimes contra o sistema financeiro nacional.
Lei Nº 9613/98: combate as atividades cambiais e financeiras ilícitas.
Resolução Nº 2554/98: define controles internos das instituições financeiras.
Resolução Nº 2025/93 e Nº 2747/00: regulamenta a abertura, movimentação e encerramento das contas bancárias.
Resolução Nº 2682/99: apresenta os critérios de classificação das operações de crédito no pais.
Resolução Nº 3106/04: dispõe sobre a criação de cooperativas abertas.
A observância e o cumprimento destas regulamentações são de extrema importância para o bom desenvolvimento do cooperativismo de crédito no Brasil e para que sua viabilidade seja de certa forma garantida de antemão. Mas, sabe-se que apenas a observância da lei não é suficiente para que uma organização, cooperativista ou não, tenha sucesso. Outras medidas devem ser tomadas para gerenciar o empreendimento de sentido de levá-lo a auto-sustentação e a viabilidade social e econômica.
Neste capítulo foram apresentados os temas considerados mais relevantes para o entendimento do sistema cooperativista como um todo. Abordou-se os princípios cooperativistas, os tipos de sociedades cooperativas existentes, os precursores deste movimento no mundo, a legislação cooperativista a nível mundial e no Brasil, dando ênfase principalmente ao cooperativismo de crédito. Isso, sem mencionar a análise comparativa entre empresas de capital e sociedades cooperativas de crédito. O que permitiu fazer um paralelo entre estas duas formas de organização destas instituições que movimentam recursos financeiros em duas perspectivas bastante diferentes.
Para um melhor entendimento sobre a viabilidade do cooperativismo de crédito, no próximo capítulo será apresentada a metodologia para fazer um aprofundamento nos estudos deste tipo de cooperativismo e na seqüência será apresentado o estudo de caso da Cooperativa de Crédito de Mendes – Cremendes.
3. METODOLOGIA
O presente capítulo descreve o método e os recursos técnicos utilizados nesta
pesquisa que visa discutir a viabilidade do cooperativismo de credito no Brasil, a partir da
analise da trajetória de uma cooperativa de crédito que tem uma historia de sucesso. Este
trabalho concretizou-se como:
1. Estudo bibliográfico sobre cooperativismo;
2. Estudo dos anais do Conselho de Administração da Cooperativa de Mendes;
3. Consulta às fontes secundárias disponíveis na Central das Cooperativas de
Economia e Crédito do Estado do Rio de Janeiro; e
4. Pesquisa de campo com um grupo de associados da referida cooperativa, como
fonte primária de dados.
No tocante à pesquisa bibliográfica, Lakatos (1982, p. 66) afirma que a mesma
oferece meios para definir e resolver, não somente problemas já conhecidos, como também
novas áreas onde os problemas não se cristalizam suficientemente. De forma
complementar, Lakatos e Marconi (2001) postulam que uma pesquisa científica é o
processo de realizar entendimentos generalizados através da observação.
Quanto à composição da pesquisa optou-se pela metodologia conhecida como
estudo de caso, baseada nos trabalhos de Yin (2002). O estudo de caso é um dos caminhos
para a realização de pesquisa em Ciências Sociais. Em geral, estudos de caso são as
estratégias preferidas quando as questões "como" ou "por que" estão presentes, e quando o
investigador tem um pequeno controle sobre os eventos.
Ainda segundo Yin (2002), o estudo de caso e os experimentos não representam
uma "prova", e a meta do investigador é expandir e generalizar (generalização analítica) e
não enumerar freqüências (generalização estatística).
Por outro lado, Lakatos e Marconi (2001, 106) afirmam que os estudos de caso
“constituem etapas mais concretas de investigação, com a finalidade mais restrita em
termos de explicação geral dos fenômenos menos abstratos”. Também sobre esta
metodologia, afirma Yin (1994, 1):
A essência de um Estudo de Caso, ou a tendência central de todos os tipos de Estudo de Caso é que eles tentam esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: por que elas foram tomadas? Como elas foram implementadas? E, quais os resultados alcançados?
Segundo Lakatos e Marconi (2001), a pesquisa é de caráter descritivo, onde o
pesquisador observa e então descreve o que observou, medindo e relatando as
características de uma população ou fenômeno em estudo. Neste caso, o estudo da
viabilidade da Cremendes é uma pesquisa científica de caráter descritivo.
3.1 Coleta de Dados
Baseado nas fontes primárias e secundárias acima mencionadas desenvolveu-se o
estudo de caso. Durante a fase de coleta de dados reuniram-se as informações necessárias
para análise e avaliação nas diversas etapas do processo de crescimento e desenvolvimento
da Cooperativa de Credito de Mendes. Neste período o pesquisador teve oportunidade de
lidar e utilizar diferentes fontes de dados para a pesquisa, estas múltiplas fontes de
evidência foram: OCB, Confebras, Cecrerj e arquivos da Cremendes.
Para Yin (1990), as evidências para estudos de caso podem vir de seis fontes:
documentos, registros arquivais, entrevistas, observação direta, observação participante, e
artefatos físicos. Entre as citadas foram utilizadas:
a. Documentação - Foram utilizadas as atas de reunião da equipe de trabalho, bem
como outros registros escritos, plano de negócios, projeto técnico, recortes de
jornais e artigos e demais documentos administrativos.
b. Registros arquivais - Foram analisados os documentos arquivados na Cooperativa
tais como documentos de diversas naturezas, fotos, organogramas, diagramas
utilizados na construção do ambiente virtual, registros e anotações pessoais.
c. Entrevistas – Foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas com questões aberta
para coletar dados sobre satisfação dos associados quanto aos serviços oferecidos
pela cooperativa. AS referidas perguntas encontram-se descritas no corpo do
próximo capítulo, na seção Pesquisa de Opinião dos Associados. As entrevistas
foram realizadas com os associados entre outubro e dezembro de 2002, pelo próprio
autor deste trabalho que é Conselheiro da Cooperativa de Crédito de Mendes.
Foram entrevistados 100 cooperados que foram abordados quando eles estavam na
sede da cooperativa fazendo suas movimentações, pagando suas contas ou
desempenhando qualquer outra atividade no local.
A coleta dos dados secundários foi também sistematizada e operacionalizada por
funcionários e estagiários da cooperativa que fizeram o levantamento das Atas das
Reuniões da Cremendes desde sua fundação até os dias atuais e de outros documentos
relevantes arquivados na sede da Cremendes ao longo de sua trajetória, tais como fotos,
panfletos e notícias publicadas em jornais.
3.2 Análise dos Dados
Após a coleta dos dados da entrevista com os associados, procedeu-se a análise dos
mesmos. Foi realizada também uma análise quantitativa e qualitativa de outros fatos e
dados que permitiu traçar perfil e as metas da instituição para seu crescimento e expansão.
A partir deste momento, criou-se um comitê consultivo dentro do Conselho de
Administração visando implementar as ações e melhorias necessárias. Após a
implementação destas medidas procedeu-se a análise dos extratos de atas da cooperativa e
dos demais documentos que foram angariados no decorrer do período de coleta de dados.
Para a análise das respostas dos cooperados não foi utilizado nenhum programa
estatístico ou nenhuma outra ferramenta similar, pois as perguntas e respostas eram de fácil
entendimento. As respostas foram agrupadas e depois categorizadas em itens mais comuns
e/ou mais citados e os dados numéricos foram agrupados em percentagens.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este capítulo apresenta os principais resultados desta pesquisa, enfatizando o
processo evolutivo da Cooperativa de Crédito de Mendes, algumas considerações do
Presidente da CECRERJ sobre a trajetória histórica desta cooperativa, análise da pesquisa
de opinião dos associados, e uma breve análise da situação atual da mesma com o intuito de
mostrar como uma instituição desta natureza cresceu e se desenvolveu entre outras
instituições bancárias que atuam na mesma localidade.
4.1 Histórico e Perfil da Cremendes
Foi o idealismo dos primeiros 31 sócios quotistas, todos moradores de Mendes, naquela época 4o distrito do município de Barra do Piraí/RJ, sul do estado, que deu início em 20 de outubro de 1929, ao primeiro banco da cidade com a fundação da Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada, “Banco de Mendes”, para funcionar nas dependências da “Pharmácia Central” da cidade.
Ao longo dos seus 74 anos de história, a Cooperativa de Crédito de Mendes, na medida de suas disponibilidades e área de atuação, sempre assistiu a população local com os instrumentos financeiros necessários a cada época ou conjuntura econômica, contribuindo para a consolidação e formação da identidade da região. O que pode ser observado nos documentos da cooperativa conforme apresentado na seqüência desta seção.
Assim sendo, reproduz-se, mantendo a grafia da época, a Acta da Assembléia Geral
Constituinte da Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada “Banco de Mendes”,
que descreve o processo de criação da mesma.
“BANQUINHO DE MENDES - Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Ltda., fundada em 20 de outubro de 1929, no recinto da Pharmacia Central, no centro de Mendes, 4º Distrito de Barra do Pirahy, sob a presença de 31 acionistas fundadores.
Do 4º districto do município de Barra do Pirahy, Estado do Rio de Janeiro: aos vinte de outubro de mil novecentos e vinte e nove, neste districto, no recinto da Pharmacia Central, presentes os abaixo assinados, membros fundadores da Soc. Coop. de Resp. Limitada “Banco de Mendes”, para os fins dos artigos da Acto Constitutivo que se referem à Assembléa Geral, assumindo a presidência o Dr. João Neri, que convidou para escrever acta dos trabalhos o Sr. Candido Gomes da Silva, foi declarada aberta a sessão, e preliminarmente approvados os estatutos, sendo por
unanimidade adaptados textualmente tais dispositivos do Acto Constitutivos, lançado e por todos assignado neste mesmo livro de Actas, e que será transcripto nas páginas em branco do livro de matrícula de arcodo com o artigo 17 do decreto 1637, de 5 de janeiro de 1907.
Procedendo-se à eleição dos membros dos Conselhos de Direcção e Fiscal, ficaram estes assim constituidos: Director Presidente, Dr. Alvaro Berardinelli; Vice - Presidente honorário, Henry Jessen; Director Thezoureiro, José Gomes da Rocha. Conselho Fiscal effectivo: Dr. Mario de Oliveira Brandão, Quizio Ferrini e Achille Galffione; supplentes, Rodrigo Montgomery, Jules Puyau e Luiz Presser.
O presidente effectivo da Assembléa dá então posse aos membros dos conselhos eleitos, que prometeram bem cumprir os estatutos e regulamentos do Banco. Declarou então o Sr. José Gomes da Rocha que até a presente data foram subscriptas por 140 accionistas 2154 acções no valor de cento e sete contos e setecentos mil réis achando-se em poder do Snr. Henry Jessen a quantia de 5:000$000 (cinco contos de réis) recebida de vários accionistas, por conta de sua acções subscriptas.
Nada mais havendo a tratar, foi pelo mesmo Snr. presidente encerrada a sessão e eu Candido Gomes da Silva, secretário designado, esta escrevi e assigno, com os demais membros fundadores da Sociedade.
Ass. Candido Gomes da Silva, Dr. Alvaro Berardinelli, José Gomes da Rocha, Manoel Silveira da Costa, Henri Jessen, Jorge de Poli, Vittório Noscon, Luiz Ribeiro Maia, José Henrique Lopes, Gerolamo Margutti, Mário de Rechi, Júlio Barbosa Vianna, Domingos Lopes, Armando Terra Passos, Antonio de Sá Leite, Felipe Braga, Rachid José Sallé, Emilio Brazil, Venancio do Rego Netto, José Teixeria Pinto, Cesar Goldoni, Adolpho Baptista de Figueiredo, Roderich Montgomery, Nestor Alves da Silva, Mário de Oliveira Brandão, Jules Puyau, Edgard Crause, Jules Puyau, Achille Galfione, Waldemar Alves de Souza e Silva e Germando dos Santos Simão”.
Esta citação mostra o processo de criação do Banco de Mendes, atual Cremendes,
destacando as pessoas envolvidas no processo, o capital integralizado e outras informações
relevantes que deram início a um movimento cooperativista que dura até a presente data.
Vale ressaltar que um dos primeiros associados foi Cândido Mariano Rondon, na época
General Rondon, admitido em 4 de novembro de 1929, Matrícula n.º 27.
A primeira diretoria foi assim composta: - Diretor presidente: Dr. Álvaro Berardinelli
- Vice-presidente Honorário: Henri Jessen; Diretor Tesoureiro: José Gomes da Rocha; Conselho Fiscal Efetivo: Dr. Mário de Oliveira Brandão, Quinzio Ferrini e Achile Galfione; Suplentes: Rodrigo Montgomery, Jules Puyau e Luiz Presser.
Sua sede própria foi inaugurada em 15 de junho de 1938 no Centro Comercial de Mendes, na Av. Júlio Braga, 20 - construída com a efetiva participação da comunidade Mendense, que doou materiais de construção, conforme registro nos seus arquivos.
No decorrer de sua história, a Cremendes passou por varias mudanças, inclusive de nome. A evolução da nomenclatura da cooperativa foi a seguinte:
• Banco de Mendes Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Ltda. Em: 20/10/1929;
• Banco Agrícola de Mendes Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Ltda. Em: 13/08/1939;
• Cooperativa Banco Agrícola de Mendes Ltda. Em: 17/09/1944; • Cooperativa de Crédito de Mendes Ltda. Em: 12/06/1966.
Alguns outros fatos dignos de registro que ajudaram a montar a trajetória de sucesso da Cremendes são apresentados a seguir. Muitos deles estão ligados a efetivação da sustentabilidade e viabilidade da cooperativa, tais como:
• Durante 36 anos – da sua criação em 1929 até 1964, foi o único e atuante estabelecimento de crédito atendendo à comunidade de Mendes;
• Presta todos os serviços de um banco do mercado: tem 03 caixas, terminal de consulta e acolhe papéis compensáveis – duplicatas, carnês etc., com movimento diário em torno de 300 atendimentos;
• Por longo tempo foi correspondente do Banco do Brasil S/A na cidade de Mendes/RJ;
• Foi correspondente, por três décadas do Banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais S/A, Banco Boavista S/A, Banco Hipotecário e Agrícola do Rio de Janeiro etc...
• Se encontra totalmente informatizada, foi a primeira cooperativa de crédito a aderir ao Sistema do Bancoob – Banco Cooperativo do Brasil S/A, criado em agosto de 1997 e situado entre os 20 maiores bancos do país em patrimônio líquido;
• Seu salão é um espaço cultural aberto à cidade, para exposições, feiras de alunos, palestras, feiras de artesanato entre outros, possui dependências com equipamentos de informática e periodicamente ministra cursos de capacitação a associados e dependentes com todo o material doado pela cooperativa.
A Cremendes está localizada no município de Mendes, no interior do estado do Rio
de Janeiro, mas a área de jurisdição desta cooperativa compreende os municípios de:
Mendes, Barra do Piraí, Piraí, Vassouras, Engenheiro Paulo de Frontin e Paracambi,
mostrando a sua relevância para os moradores da região circunvizinha. A cidade possui
cerca de 500 pontos comerciais entre pequenas e micro empresas dos mais variados ramos:
comércio varejista; mercearias; mini-mercados; farmácias e drogarias; pequenas fábricas de
produtos artesanais e rurais; produtos ligados a atividades agropecuárias. O município de
Mendes tem um perfil típico de cidade do interior com suas atividades centradas nos ramos
agro-pastoris e turístico.
A cidade de Mendes é assistida por agências do Banco do Brasil, Caixa Econômica
Federal, Banerj e por dois escritórios de financeiras, um exclusivo para atendimento de
funcionários públicos e outro destinado ao público em geral.
A CreMendes é considerada pela própria população de Mendes um patrimônio da
cidade. Após 74 anos de atividades ininterruptas, ultrapassando uma Guerra Mundial e
todos os planos econômicos do Brasil, a Cooperativa de Crédito tinha em agosto de 2004
1.620 associados. Entre estes, 180 comerciantes e micro empresários da cidade, que se
utilizam da Cooperativa para iniciar e/ou desenvolver sua produção, prestar serviços e
comercializar produtos, na região.
A população do município é de 17.400 habitantes, mas mesmo os que não são
associados da CreMendes utilizam os serviços da Cooperativa que dispõe de 3 caixas,
terminal de consultas e transações de papéis compensáveis – duplicatas, carnês, títulos etc.
A Cremendes foi a primeira cooperativa de crédito a aderir ao sistema do Bancoob, por isso
esta totalmente informatizada e o movimento diário gira em torno de 300 atendimentos.
A Carteira de Empréstimos tem ênfase em empréstimos de pequeno porte, sendo que cerca de 100 contratos têm valores iguais ou inferiores a R$ 1.000,00 (hum mil reais). Além disso, existe o sistema de Contratos de Crédito Rotativo que beneficiam associados na faixa de renda mensal inferior a R$ 500.00, os quais passam a ter acesso a limites para uso eventual de R$ 300.00, em média, sem necessidade de avalistas – o que favoreceu o acesso a empréstimo para mais de 180 associados.
Devido às características de crédito pulverizado, destinado ao atender o maior número possível de associados com valores adequados à sua capacidade de pagamento, os índices de juro são mantidos em patamares aceitáveis, girando em torno de 3.8%.
Durante longo período, em parte devido à conjuntura econômica que impedia e
corroia os valores aplicados a médio e longo prazo, não houve uma política efetiva de
elevação de capital; somente eventos esporádicos. Face à nova realidade, aliada ao projeto
de conscientização da comunidade e associados da importância de se conhecer e atuar em
cooperativismo, foi lançada uma campanha de 12 parcelas mensais para aporte de capital,
com valor médio de R$ 30,00, que, até março de 2003, contava com um aporte total
superior a R$ 19 mil e mais de 60 adesões. Em preparo um plano com mais inovações a ser
lançado em 2004.
Estes dados mostram que o Crédito Cooperativo é muito mais do que uma
alternativa financeira, porque firma-se como um sistema unido, que oferece o bem-estar
econômico por meio de ações concretas de melhoria das condições de vida de seus
associados, que são em geral pessoas de baixa renda ou pequenos comerciantes.
4.2 – Trajetória da CreMendes: Versão do Presidente da CECRERJ
A CreMendes tem uma trajetória de sucesso e neste início de milênio o número de
associados vem crescendo consideravelmente como mostra os seguintes números. Em
dezembro de 2001, ela reunia 1.411 associados e em março de 2003 este número subiu para
1.524. Em agosto de 2004, quando da realização da pesquisa de campo, este número tinha
subido para 1620 cooperados.
Neste contexto de crescimento da cooperativa, o depoimento de Gilson Galvão
Pinto, Presidente da CECRERJ – Central das Cooperativas de Economia e Crédito do
Estado do Rio de Janeiro, que reúne mais de 70 cooperativas afiliadas e cerca de 70 mil
associados, corrobora a idéia de viabilidade econômica e social da Cremendes. Este
depoimento mostra fatos importantes que ocorreram na trajetória da Cremendes. Sendo que
estes fatos permitiram que ela se tornasse uma instituição viável como modelo de
desenvolvimento local e regional.
O Sr. Gilson Galvão Pinto afirma que: “A Cooperativa de Crédito de Mendes, com seu exemplo de união, de luta e de resistência para continuar servindo seus associados e a população da pequena cidade, é uma expressão do Luzzatismo, na História do Cooperativismo. Este movimento em prol da sobrevivência das Luzzatti foi exemplarmente liderado pela CreMendes, que não somente buscou alianças para sua própria sobrevivência diante da arbitrária Resolução 2.608 do Banco Central, como também irradiou para as demais cooperativas Luzzatti e por todo o sistema do país o espírito cooperativista de união, levando às autoridades do Governo e à Opinião Pública forte consciência cooperativista de defesa das cooperativas de crédito abertas.
Por que todo o sistema engajou-se na luta pela derrogação da Resolução nº
2.608? Em parte, porque a medida nos pegou de surpresa. Em nenhum momento as lideranças do cooperativismo de crédito foram consultadas. Não tivemos qualquer discussão sobre o tema com as autoridades do Bacen. Além disso, a Resolução feriu
o direito soberano da Constituição Brasileira, que nos garantia o direito de nos organizarmos. Como uma Medida poderia sobrepor-se a ela? Se as Luzzatti já existiam há cerca de 70 anos, em diversos Estados brasileiros, como a Medida pôde colocar-se acima da Constituição e determinar sua extinção, no curto prazo de dois anos, sem motivos específicos? Como o Banco Central não considerou os benefícios concretos que as Luzzatti dispõem aos associados e às comunidades onde atuam? Como tomar tal decisão sem consultas e discussões dentro do sistema e com dirigentes das próprias Luzzatti?
A reação não poderia ser outra: o sistema cooperativo nacional e internacional, não só o de crédito, mas os das demais categorias, uniu-se para buscar a derrogação da Resolução. O exemplo da CreMendes, que, além dos associados, mobilizou e sensibilizou a cidade e a região, irradiou-se rapidamente, inclusive pelo veículos da Imprensa. Em um dos eventos em prol da sua sobrevivência, a Cooperativa parou a cidade; o trânsito teve de ser desviado; uma lista de adesão à sua causa reuniu mais de 1.000 assinaturas (considerar que a população de Mendes é de cerca de 17.000 habitantes); desfile de escolares deu perfil de data cívica ao evento; a banda da Polícia Militar saudava os convidados - autoridades do sistema vindos de diversos Estados, associados e demais moradores; a rádio local anunciava o evento, continuamente, e a Bandeira Brasileira foi hasteada na fachada da sua sede. Tudo isto para mostrar que, naquele Ato de Solidariedade, quando a CreMendes completou 70 anos, em outubro de 1999, a ordem do dia era: “A Cooperativa de Mendes não pode fechar!
Paralelamente à mobilização e aos anseios de todos para derrogar a 2.608, e à mensagem que a população de Mendes e o sistema deixaram, naquele Ato, uma profunda reflexão também firmava-se como ordem do dia: por que fechar as Luzzatti? Se entendiam que era necessário maior controle nessas cooperativas abertas, por que não criar uma agência reguladora, a exemplo do que ocorre em outros países? Como a Aliança Americana Cooperativista que fiscaliza as cooperativas de crédito com o conhecimento necessário para proceder um controle isento e eficaz do sistema. No Brasil, o Governo precisa criar órgãos fiscalizadores e reguladores do sistema. Lamentavelmente, ainda está restrita somente ao Banco Central esta atuação. Por que não um Banco Central do sistema financeiro voltado para os bancos comerciais e banqueiros e um Banco Central para as Cooperativas de Crédito? Seria uma forma de, com profundo conhecimento da atuação do crédito cooperativo, sanear o sistema, reforçar as garantias do cooperado, aprimorar processos de administração, modernizar formas de gestão e punir, se necessário. Como está, cabe ao Banco Central punir e/ou intervir, mas sem o aprofundamento de conhecer o outro lado, vivenciando o dia a dia das cooperativas. Falta-nos um órgão que nos oriente, preserve nossa atuação e História, redirecione as cooperativas que tenham problemas e que possam afetar o sistema, como um todo. É preciso muito tempo para alcançarmos isto. Mas não temos nem mesmo um ponto de partida.
Neste ano de 2004, a CreMendes volta a ser espelho para o movimento pela livre adesão às cooperativas de crédito, uma luta que a CECRERJ e demais
instituições do sistema iniciam. Concomitantemente, propomos a criação de um órgão fiscalizador voltado só para o sistema. Em agosto, levamos às autoridades do Governo, em reunião em Brasília, nossa posição sobre o tema. É necessário que se incremente a participação das lideranças e dos cooperados nas decisões e isto será possível com um novo organismo fiscalizador voltado para o setor. É também preciso destacar que, no crédito cooperativo, o associado é, ao mesmo tempo, usuário e dono da cooperativa. Como a Resolução 2.608 pôde ser tão arbitrária e não levar em conta as particularidades do nosso sistema, como esta? Como não considerar esta posição de cliente e dono? Como não buscar suas opiniões?
Não podemos deixar de destacar o sentimento de preconceito contra as Luzzatti, que tantas vezes ficou acentuado em reuniões e medidas do Banco Central. A qualquer solicitação que fosse citada uma causa referente às Luzzatti, ouvia-se: “Luzzatti não!” Sem explicações. Sem respostas ao nosso questionamento do porquê daquela posição. Sem considerar dados e resultados concretos de como as Luzzatti contribuem para o desenvolvimento de suas localidades e para a melhoria de vida da população carente do país.
Trazer à tona a luta da CreMendes, das demais Luzzatti e do sistema cooperativo é um incentivo para todos nós, porque, daqui para frente, temos uma nova bandeira a defender. Com o lema: COOPERATIVA DE CRÉDITO É UMA INSTITUIÇÃO DE TODOS OS BRASILEIROS! A CECRERJ sai em defesa das Cooperativas de Crédito de livre adesão de associados. Da mesma forma que, em 1999, liderando o pensamento do cooperativismo nacional, saímos em defesa das Luzzatti, este é o momento apropriado para defendermos esta causa em prol do fortalecimento do crédito cooperativo, com a ADESÃO LIVRE, AMPLA E IRRESTRITA DE COOPERADOS.
É importante lembrar que, de 15 a 17 de agosto de 2003, realizamos o
Encontro “As Cooperativas de Crédito Diante da Resolução 3.106 do Banco Central do Brasil”, em Rio Bonito – RJ, quando expressivo número de líderes cooperativistas do sistema CECRERJ aprovou deliberações para mudar e aprimorar dispositivos da Resolução. Em concordância com o que ficou estabelecido, vimos analisando e avançando nessa questão, reavaliada durante o Congresso de Cuiabá, em junho de 2004, e que ganha maior dimensão, neste momento, com a Carta de Cuiabá, que reitera as deliberações anteriores, do evento em Rio Bonito, e que vem ao encontro do ideário desta Central.
Não queremos somente firmar uma posição. Queremos nos espelhar no
exemplo de resistência da CreMendes e das demais Luzzatti, em 1999 e em 2000, ano em que a derrogação da 2.608 efetivou-se, coroando a vitória das cooperativas abertas.
Para isso, recordar a conquista com a derrogação da 2.608 é, ao mesmo
tempo, documentar este momento histórico para apresentar propostas novas e concretas, que reunimos em Minuta de Projeto, e que foram apresentadas ao
conjunto de Centrais nacionais, às filiadas e à Confebras, no Encontro de Conselheiros, em Brasília, no dia 24 de agosto de 2004.
Não temos dúvida de que era necessário dar este primeiro passo, que está
dado.
Assim como a CreMendes e as Luzzatti brasileiras romperam paradigma ao provocar a derrogação da 2.608, no prazo de um ano, e plantaram um novo parâmetro para fortalecer o sistema cooperativo de crédito, da mesma forma damos continuidade àquela iniciativa e aos seus resultados, quando iniciamos mobilização nacional para a questão da livre adesão. Em 1999 e 2000, mostramos organização e toda a documentação que comprovava não haver sustentação para manter a 2.608. A Resolução do Bacen acentuou o sentimento de defesa unindo as 13 Cooperativas Luzzatti do país. Um número pequeno, mas o que fica para a História é a grandeza da atuação dos integrantes do crédito cooperativo, e sua expressão no cenário nacional. Agora, em 2004, damos mais este passo pelas mudanças compatíveis com liberdade e cidadania, de modo que cada brasileiro possa associar-se a uma cooperativa de crédito, se for de sua vontade.
Pela união do pensamento e do agir cooperativista estamos em alerta e
trabalhando, arduamente, para evitar e transformar qualquer medida que possa fragmentar o perfil do nosso sistema e/ou travar o desenvolvimento de nosso setor. As Cooperativas de Crédito são inquestionáveis aliadas do desenvolvimento econômico e social do Brasil. Não podem, por isso, estarem atreladas a medidas tão restritivas e mesmo impeditivas ao seu fortalecimento e crescimento. Por isso, nossa posição é pela readequação da Resolução 3.106 do BC, em prol da abertura das cooperativas e da liberdade das pessoas se associarem e se organizarem, sem determinação de limite territorial.
Mais uma vez, a CECRERJ assume o desafio de defender o Luzzattismo. Da
mesma forma que iniciamos o movimento pela CreMendes, em 1999, e festejamos a vitória diante da derrogação da 2.608, esta Central assume a postura de que defender o Luzzattismo é uma questão de cidadania e a cooperativa de crédito de livre adesão é um direito de todo brasileiro.
Como entendemos o Luzzattismo como modelo do futuro do cooperativismo
de crédito, no Brasil, estamos unidos, mais uma vez, na sustentação dos interesses do crédito cooperativo.
Parabéns à CreMendes, aos seus associados, aos mendenses e a cada
brasileiro que aderiu à tão significativa e indispensável luta.
Mendes, município no interior do Estado do Rio de Janeiro, distante apenas 90 km do Rio e com menos de 18.000 habitantes, pode até não ser prioridade para as políticas governamentais, mas sua Cooperativa de Crédito Luzzatti conseguiu o apoio, a mobilização e a adesão de 800 milhões de pessoas, de diversos países, representadas pela maior Organização Não Governamental do mundo, a ACI –
Aliança Cooperativa Internacional, instituição de cúpula do cooperativismo mundial, com sede na Suíça, e também da COLAC – Confederación Latino Americana de Cooperativas de Ahorro, que reúne 6 milhões de cooperados na América Latina.
O que motivou e como ocorreram estas adesões?
Com apoio ACI e da COLAC veio em carta oficial dessas instituições ao
Presidente Fernando Henrique Cardoso, em 20/12/1999, como um alerta sobre o grave impacto social que certamente ocorreria com a Resolução 2.608 do Banco Central do Brasil, de 27 de maio de 1999, que determinava o fechamento das cooperativas abertas à população, denominadas Luzzatti. Essas cooperativas, apenas 13, no Brasil, incluindo a CreMendes, reúnem alguns milhares de associados; estão sediadas em municípios que, em muitos casos, não contam com agências bancárias; socorrem, principalmente, as pessoas de baixa renda, em suas necessidades e urgências, com financiamento e empréstimo, e constituem-se em apoio financeiro imediato para micro empresários, pequenos comerciantes, profissionais liberais, artesãos e cidadãos comuns, formando a base para o desenvolvimento dessas localidades.
Como uma cidade tão pequena, como Mendes, pôde sensibilizar não só as
autoridades do Governo Federal na distante Brasília, mas também instituições e líderes nacionais e internacionais do Cooperativismo? Ameaçada com a morte anunciada, pois o Bacen estabeleceu para seu fechamento o prazo de 2 anos, que expiraria em maio de 2001, a CreMendes tem a chancela de modelo de gestão para todo o sistema cooperativista brasileiro e internacional; é reconhecida pela população como o “Banquinho de Mendes”; tem registro comprovado de ser a mais antiga cooperativa aberta modelo Luzzatti em atividade, no Brasil, e foi o único “Banco” da região, de 1929 a 1964.
As Cooperativas de Crédito Luzzatti são modelo há quase um século em no
nosso país, vêm contribuindo, significativamente, para as melhores condições econômicas e sociais de seus associados. Abertas à população dos municípios e dos arredores onde se situam, elas cumprem a missão social de facilitar o crédito em condições muito melhores do que os de mercado. Inseridas na filosofia cooperativista, praticam a socialização do dinheiro, com atendimento verdadeiramente humano, analisando caso a caso, com a urgência que merece cada associado – que é, no cooperativismo de crédito, cliente e dono da cooperativa, ao mesmo tempo. Visam, essencialmente, ao bem comum, jamais ao lucro do empreendimento.
Por que as Luzzatti, com reconhecidos exemplos de sua eficácia e modelo de
crédito cooperativo, no mundo inteiro, especialmente nos países desenvolvidos, vêm passando por tantas restrições ao seu funcionamento e sua expansão, no Brasil?
As Luzzatti são uma referência visível do que o Cooperativismo quer, em nosso país. Temos, em nosso Estado, um marco histórico do sistema, a Luzzatti de Mendes, cuja mobilização de instituições e autoridades - nacionais e internacionais - dos associados ao crédito cooperativo e da população do município e dos arredores, em apoio à luta pela sua sobrevivência e das demais Luzzatti brasileiras, é uma prova incontestável de que, pela união do sistema e por um processo altamente democrático, foi possível mudar, em curto prazo, a Resolução 2.608 do Banco Central, que as condenava ao fechamento. A derrogação da 2.608 formou uma consciência muito ampla sobre o papel das Luzzatti, deu visibilidade de sua importância na assistência à população de pequenas cidades e, objetivamente, abriu o caminho para, neste momento, nos unirmos de novo em prol de “um novo Luzzattismo”, ou seja, paralelamente ao nosso esforço para termos mais vigor e rigor na construção ideológica e nas práticas do sistema. Neste ano de 2004, uma nova mobilização inicia-se, e a CECRERJ começa uma nova caminhada, para a qual as Luzzatti, novamente, são o modelo pretendido para o crédito cooperativo em geral. É urgente e necessário que nossa meta seja atingida, com a vitória do sistema, que, unido, propõe a abertura das cooperativas, sob o lema: COOPERATIVAS DE CRÉDITO: UM DIREITO DE TODOS OS BRASILEIROS, e pela derrogação da Resolução 3.106, do Banco Central que restringe a atuação das cooperativas de livre adesão. É preciso que o crédito cooperativo construa um modelo de permanência aos seus princípios e não só de obediência às Resoluções.”
Este depoimento deixa claro que a Cremendes tem uma história de sucesso e
consequentemente isso faz parte da história do Cooperativismo de Crédito no Brasil. O
movimento em prol da manutenção das cooperativas de crédito e em prol da melhoria das
condições de sobrevivência destas cooperativas desta natureza é uma conquista que será
mantida por causa do papel social desempenhado por estas cooperativas. Como também
ficou claro no exposto acima.
A luta da CreMendes em prol das Luzzatti teve alguns destaques e apoio de
entidades ligadas ao cooperativismo de crédito, como pode-se observar a seguir:
a) CECRERJ – Central de Cooperativas de Economia e Crédito do Estado do Rio
de Janeiro, representando, na época, cerca de 70 cooperativas e seus mais de
70.000 associados, que mobilizou o sistema cooperativo de diversos segmentos,
no Brasil, em defesa da CreMendes e das demais Luzzatti. Diversas ações
marcaram este apoio, como edição de boletim especial, confecção de cartazes,
encontros de dirigentes e associados, entre outras. Seu apoio chegou à Opinião
Pública pela estratégia de divulgar pelos veículos de Imprensa do Rio os
benefícios da CreMendes e a questão da Resolução 2.608 com, suas
conseqüências negativas para a Cooperativa e a comunidade local;
b) ACI – Aliança Cooperativa Internacional, instituição de cúpula do
cooperativismo mundial, com sede na Suíça, existente há 106 anos,
representando 800 milhões de associados, de diversos países, que enviou carta
oficial ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, em 20/12/1999, como um
alerta sobre o grave impacto social que certamente ocorreria com a Resolução
2.608 do Banco Central;
c) COLAC – Confederación Latino Americana de Cooperativas de Ahorro, que
reúne 6 milhões de cooperados na América Latina, manifestou idêntico apoio ao
da ACI;
d) CONFEBRAS – Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito, cujo
apoio foi fundamental para irradiar a defesa das Luzzatti pelo país e diante das
autoridades do Governo. Em outubrode1999, lançou uma edição especial do seu
Jornal, com o título: Luzzatti – Em Defesa do Cooperativismo de Crédito, com
esta chamada, na quarta capa: “LUZZATTI: É NOSSO COMPROMISSO
DEFENDER ESTA IDÉIA, SR. PRESIDENTE!”
e) OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras, com apoio pela mobilização de
associados de diversas áreas do cooperativismo nacional;
f) CENTRAIS DE COOPERATIVAS DE CRÉDITO – além da CECRERJ, a qual
está afiliada a CreMendes, as demais Centrais brasileiras uniram-se em prol da
luta pelas Luzzatti,em demonstração da união do sistema e da relevância da
causa;
g) BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A., que sustentou sua missão de
apoio e teve ampla participação no processo de defesa da CreMendes e das
Luzzatti. O presidente Raimundo Mariano do Valle, o Diretor de Operações José
Santos e demais representantes estiveram algumas vezes na CreMendes para
apoio à Cooperativa e tiveram marcante participação nos eventos mobilizadores
em prol das cooperativas de crédito;
h) BANSICREDI – que teve postura de apoio à causa, em cartas e mobilização em
favor das Luzzatti;
i) SICREDI – Sistema de Crédito Cooperativo e SICOOB – Sistema das
Cooperativas Integrantes do Bancoob, que mantiveram a tradição de integrar o
sistema, manifestada pelas ações diversas de apoio à derrogação da Resolução do
Bacen;
j) FRENCOOP – Frente Parlamentar Cooperativista, integrada por Senadores e
Deputados, foi a “voz” das Cooperativas de Crédito no Congresso Nacional;
k) OCERJ – Organização das Cooperativas do Estado do Rio de Janeiro, cuja
participação é destacada como polo irradiador da causa nos segmentos
cooperativistas que integra;
l) ALERJ – Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, que, entre outras
iniciativas de apoio, elaborou junto com a CECRERJ uma carta encaminhada ao
Governador do Estado, solicitando sua interferência junto à Presidência da
República para suprimir da Resolução 2.608 o artigo que determinava a extinção
da CreMendes e das demais Luzzatti.
Todo este movimento vem contribuir com a suposição deste estudo e deixa claro
que o cooperativismo de credito é um modelo viável. Além disso, a CreMendes tem si
mostrado pioneira neste movimento e tem contribuído para a manutenção do
Cooperativismo de Crédito como uma alternativa de desenvolvimento local e regional.
4.3 Pesquisa de Opinião dos Associados
O conselho de administração da Cooperativa de Mendes quando da realização de
sua reunião ordinária no início de março de 2002 deixou patente a necessidade premente de
renovar e atualizar os produtos e serviços oferecidos aos seus associados como forma de
manutenção e modernização da gama de serviços naquela ocasião existentes.
Do universo à época, cerca de 1450 associados, os diretores selecionaram
aleatoriamente sob a forma de abordagem na sede da cooperativa cerca de 100 cooperados
das mais variadas atividades profissionais e níveis de renda, indagando cada um deles com
as seguintes perguntas:
1. O Sr./Sra. está satisfeito(a) com a qualidade do atendimento da sua Cooperativa?
2. O Sr./Sra. necessita de algum produto ou serviço que sua cooperativa ainda não
oferece? Qual?
3. O que mais o(a) motiva para permanecer associado de nossa Cooperativa?
4. Qual seu grau de satisfação com a Cooperativa em uma escala de 0 a 10?
5. Favor citar o que o Sr./Sra. considera um ponto positivo em nossa Cooperativa.
6. Favor citar o que o Sr./Sra. considera um ponto negativo em nossa Cooperativa.
7. Caso queira favor apresentar suas sugestões ou reclamações.
Após a tabulação das informações destas entrevistas, observou-se que:
• Com relação à primeira questão, 73% dos entrevistados se declararam satisfeitos, 23%
insatisfeitos e 4% não opinaram ou não tinham opinião formada;
• Na questão 2, que abordava produtos ou serviços oferecidos pela cooperativa, o critério
para seleção das respostas considerou a primeira opção elencada pelo associado por
ordem de preferência. Foram destacados os seguintes resultados: 36 respondentes
citaram cartões de crédito; 12 pessoas (comerciantes em geral) necessitavam de
políticas de desconto de títulos; 16 associados citaram a necessidade de convênio com a
Light (concessionária de luz do estado do Rio de Janeiro) para recebimento de faturas
de conta de luz; 10 associados, proprietários de pontos comerciais, salientaram a
necessidade de autorização para abertura de contas correntes pessoa jurídica; 8
associados manifestaram o desejo de receberem seus benefícios do INSS na
cooperativa, e 18 associados não opinaram/não sentiam necessidade de outros produtos
ou serviços.
• Do universo de 100 associados indagados, apenas 4% não quis falar sobre o nível de
satisfação quanto ao atendimento na cooperativa, mas a média de 96% ficou em 6.7;
• Para apuração dos pontos positivos foi adotado o critério de escolha do item citado em
primeiro plano nos casos em que o associado apresentou mais de uma opção em
primeiro lugar. Os pontos positivos foram: atendimento (70 citações), baixos custos de
manutenção (21 citações), e localização (7 citações). Vale ressaltar que apenas 2
associados não opinaram ou não quiseram responder.
• Para os pontos negativos foi adotado o mesmo critério de apuração dos pontos
positivos, tendo como respostas principais: necessidade de diversificar serviços (20
citações) e a necessidade de um caixa automático (12 citações). Os demais 68
entrevistados não opinaram ou não quiseram responder.
Com base nos resultados apresentados foi criada uma comissão consultiva que se
encaminhou para a CECRERJ, Central das Cooperativas do Estado do Rio de Janeiro,
entidade cooperativista de segundo grau da qual a cooperativa de Mendes é filiada, a fim de
traçar um plano de melhoria para a Cremendes nas mais diferentes áreas de produtos e
serviços ligados ao cooperativismo e ao sistema financeiro como um todo. Em paralelo,
foram realizadas reuniões com os diretores da cooperativa de forma a viabilizar e estruturar
os planos de modernização dos produtos/serviços oferecidos. De forma concisa seguem
algumas necessidades apuradas e suas respectivas ações tomadas pelo Conselho Diretor:
• Foi efetuada uma reforma geral nas instalações da sede da cooperativa envolvendo piso,
pintura, mobiliário máquinas e equipamentos de informática buscando modernizar e
atualizar o lay-out;
• Foi firmado convênio com a Prefeitura Municipal de Mendes para arrecadação dos
carnês de IPTU e água da cidade;
• Foi firmado um convênio com a UNIMED (Cooperativa Médica de Serviços de Saúde)
através da Cooprevisaúde (cooperativa especializada em produtos e serviços de saúde)
de forma a ofertar aos funcionários um plano de saúde completo de escopo nacional
para o atendimento as suas necessidades. Após período de experiência foi negociada a
possibilidade dos associados em geral se filiarem com um custo médio de mensalidades
cerca de 35% mais atrativos que os demais planos disponíveis no mercado;
• Firmado um convênio com o BANCOOB (Banco Cooperativo do Brasil S/A) para a
oferta aos associados do cartão Bancoob Visa, que possui todas as comodidades
disponíveis na Bandeira Visa. O que foi negociado com uma taxa reduzida de rotativo,
sendo7%, em 01/05/2003, ao passo que o mercado cobra em média 9.5%;
• Os funcionários passaram por criterioso treinamento e reciclagem de forma a enfatizar a
necessidade do bom atendimento, agilidade e presteza nas informações aos associados
da cooperativa;
• Foram contratados funcionários oriundos de outras instituições, com experiência em
outras instituições financeiras (bancos comerciais) para agirem como multiplicadores
dos diversos perfis de mercado;
• Foi contatada a central das cooperativas de forma a solicitar a viabilização de convênio
com a Light, até a data da elaboração do presente as negociações não haviam sido
conclusivas.
Estas iniciativas demonstraram o interesse do comitê gestor em atender melhor a
comunidade e os associados. A pesquisa permitiu traçar as novas diretrizes e implementar
algumas mudanças importantes que contribuíram para a melhoria da imagem da
CreMendes junto a comunidade.
4.4 Perfil Atual da CreMendes: Dados Complementares
Para complementar a análise da viabilidade das cooperativas de crédito, decidiu-se
fazer também um levantamento em relação à evolução da carteira de empréstimos e a
evolução do capital da cooperativa nos últimos anos.
O Gráfico 1 mostra a evolução da carteira de empréstimos, sendo os dados em laranja, verde e azul respectivos aos balancetes de dezembro de 2001, dezembro de 2002 e março 2003. A carteira de empréstimos apresentou uma evolução de mais de 50% com ênfase na concessão de empréstimos de pequena monta. Cerca de 100 contratos tinham valores iguais ou inferiores a R$ 1.000.00, em 2002, dando acesso ao crédito a associados de baixa renda e com pequenas necessidades de consumo.
Gráfico 1: Carteira de Empréstimos da Cooperativa de Mendes
Fonte: Dados da Pesquisa
Durante longo período em parte devido à conjuntura econômica que impedia e corroía
os valores aplicados a médio e longo prazo, não houve uma política efetiva de elevação de
capital, somente eventos esporádicos. Face à nova realidade aliada ao projeto de
conscientização da comunidade e dos associados sobre a importância de se conhecer e atuar
em cooperativismo, foi lançada uma campanha de 12 parcelas mensais, que no momento 1
(dezembro de 2001), comparado ao momento 2 (dezembro de 2002), e finalmente com o
momento 3 (março de 2003), deixa visível a evolução do aporte de capital da Cremendes.
Vale ressaltar que o valor médio de contribuição para o associado é de R$ 30.00 e que
isso gerou um aporte total superior a R$ 19 mil, conforme mostra o Gráfico 2. Sendo que
60 associados aderiram a este projeto.
Gráfico 2: Evolução do Capital Social da Cooperativa de Crédito de Mendes
EVOLUÇÃO CAPITAL
180000,00
190000,00
200000,00
210000,00
220000,00
1 2 3
VA
LOR
R$
0,00
200.000,00
400.000,00
600.000,00
R$
1
Evolução Empréstimos
A administração da cooperativa considerou-se satisfeita com os resultados obtidos e
propôs a realização de uma nova pesquisa para saber se houve mudanças no nível de
satisfação dos clientes em março de 2003, após a implantação da maioria das modificações
supra descritas. Nesta pesquisa foi levantada a seguinte questão: Qual seu grau de
satisfação com a Cooperativa em uma escala de 0 a 10? Um formulário com esta questão
foi distribuído de forma aleatória, nas mesas da gerência e guichês de caixa. Foram
recolhidos 100 formulários e chegou-se a média de 8.7, como índice médio de satisfação
dos associados. O que mostra que o índice melhorou de 2002 para 2004, revelando que as
medidas tomadas pela diretoria potencializaram os serviços oferecidos pela cooperativa.
Em suma, pode-se afirmar que a Cooperativa de Crédito de Mendes vem cumprindo
sua função social e tem sido bem aceita na comunidade onde ela está inserida. Ela tem se
mostrado um modelo viável a ser seguido por outros grupos de pessoas que acreditam nos
princípios cooperativistas. A comunicação com os clientes e membros do comitê gestor se
mostrou relevante para o crescimento e sobrevivência da cooperativa em estudo.
O governo atual também vem apostando no desenvolvimento do cooperativismo no
Brasil e por esta razão, em março de 2003 foram iniciados estudos de viabilidade, que
deram origem à Resolução número 3106 do Banco Central do Brasil. O que motivou ainda
mais o interesse pelo cooperativismo, em todo o país. Sendo inclusive a Cooperativa de
Mendes objeto de uma série de reportagens pelo Jornal Valor Econômico (Anexos 2), onde
a trajetória da CreMendes é sempre destacada, bem como os aspectos sociais e a conjuntura
atual para integração e participação de membros na sociedade cooperativa.
Os movimentos atuais para viabilização desta nova medida devem se ampliar com o
tempo e a Cooperativa de Crédito de Mendes será sempre um exemplo a ser seguido para
por causa da sua história de sucesso no final do último milênio e no início deste, conforme
ficou demonstrado neste estudo.
5. CONCLUSÃO
A fim de alcançar o objetivo do trabalho que é fornecer subsídios para aqueles que
eventualmente venham buscar empreender a abertura de novas sociedades cooperativas
pelo Brasil, buscou-se fornecer informações suficientes com relação a histórico
cooperativista no Brasil e mundo, descrevendo-os através de tipos de sociedade, legislação
e evolução e no caso específico da cooperativa de Mendes, mostrar que uma instituição
com ¾ de século de existência é ao mesmo tempo capaz de inovar e sobreviver sem,
entretanto, distanciar-se de suas características originais e seus princípios estatutários.
A Cooperativa de Mendes se encontra em evidência como exemplo de cooperativa
aberta, servindo como base inclusive para matérias em periódicos diversos, motivadas
principalmente pela edição da resolução número 3106 do Banco Central do Brasil, onde é
facultada a abertura de cooperativas de crédito em cidades com menos de 200.000
habitantes. Em face desta esta medida, um grande número de cooperativistas e/ou futuros
cooperativistas busca estudar o exemplo da Cremendes para entender suas peculiaridades e
utilizar o seu acervo que reúne documentos alusivos à legislação e história cooperativista
desde sua fundação em 1929, para projetar novas instituições desta natureza.
O perfil desta cooperativa denota a capacidade de uma instituição de 74 anos em
reaprender, sobreviver, inovar e por seu turno conseguir sobressair-se em um universo
altamente dinâmico e competitivo que é o setor financeiro. Embora não sejam concorrentes
de uma forma direta, devido às diferentes características dos bancos comerciais em relação
às cooperativas, a Cremendes vem se sobressaindo no atendimento à comunidade de baixa
renda e aos pequenos comerciantes e empresários que às vezes não têm acesso aos bancos
maiores que priorizam os clientes que investem mais.
As melhorias que foram incorporadas a Cremendes, após a pesquisa junto aos
associados, mostram que o Comitê Gestor da cooperativa está buscando viabilizar a
qualidade no atendimento ao associado e que isso ajuda a melhorar a imagem da
cooperativa junto à comunidade. Além disso, a trajetória da cooperativa ao longo dos anos
prova que este tipo de instituição é viável economicamente e socialmente.
A história desta cooperativa vem contribuir para a confirmação da suposição deste
estudo e deixa claro que o cooperativismo de credito é um modelo viável. Além disso, a
CreMendes tem si mostrado pioneira neste movimento e tem contribuído para a
manutenção do deste ramo do cooperativismo como uma alternativa de desenvolvimento
local e regional, pois toda região circunvizinha tem se beneficiado desta instituição.
5.1 Sugestões para Futuras Pesquisas
Anexou-se, a este estudo, uma cópia da Resolução número 3106, do Banco Central
do Brasil, como forma de nortear eventuais pesquisadores a comparar as estruturas
históricas com as novas determinações legais, servindo assim como um balizador para
futuras pesquisas.
Além disso, novos estudos podem ser realizados com o intuito de avaliar o poder
da comunicação na evolução do cooperativismo no Brasil e no mundo. Pois, é relevante
entender mais e melhor sobre o relacionamento comitê gestor e cooperados tanto no
cooperativismo de crédito como em outras formas de cooperativismo.
Outros estudos também podem ser realizados para analisar as carências no setor
relativas a: necessidade de profissionais especializados, dificuldade de conscientizar
associados de seus direitos e deveres e principalmente, como manter e fomentar uma
sociedade de pessoas em um mercado com perfil voltado majoritariamente para as
sociedades de capital.
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YIN, Robert. Case Study Research: design of methods. Applied Social Research. Methods Series; V.5. London: Sage, 1994
Anexo I - Estatuto da Cooperativa de Mendes
CAPÍTULO PRIMEIRO
Da denominação, Sede, Foro, Área, Prazo e Ano Social
Artigo 1º A Cooperativa de Crédito de Mendes Ltda., sediada na Av. Júlio Braga nº
20, no Município de Mendes, Estado do Rio de Janeiro, instituição sem fins
lucrativos, reger-se-á pela lei n.4.595 de 31/12/64, pela regulamentação
baixada pelo Banco Central do Brasil, pela lei n.5.764, de 16/12/71 e pelos
presentes estatutos.
Artigo 2º A Sociedade terá:
a) sede e foro jurídico na Comarca de Mendes (RJ);
b) Área de ação limitada aos municípios de Barra do Pirai, Vassouras, Eng.
Paulo de Frontin, Paracambi e Pirai;
c) prazo de duração indeterminado;
d) ano social coincidente com o ano civil.
CAPÍTULO SEGUNDO
Do Capital Social
Artigo 3º O Capital Social, variável e dividido em cotas – partes no valor de R$ 1,00
(um real), unidade monetária padrão vigente, não poderá ser inferior a R$
20.000,00 ( vinte mil reais).
PARÁGRAFO ÚNICO – Sempre que ocorrer mudança na unidade
monetária padrão no País, o valor de cada cota – parte será reajustado,
adotando-se a nova moeda, de forma que seu valor mínimo corresponderá a
uma unidade padrão.
Artigo 4º O Capital Social será sempre realizado em moeda corrente.
Artigo 5º Cada associado deverá subscrever integralmente no alto de sua participação
o mínimo de 20 (vinte) cotas – partes, mas nenhum poderá deter mais de um
terço do Capital Social.
Artigo 6 O associado não poderá ceder cotas – pertencentes á pessoas estranhas ao
quadro social, nem dá-las em penhor ou negociá-las de qualquer modo com
terceiros, mas seu valor responderá sempre como segunda garantia pelas
obrigações que contrair com a Cooperativa por operações diretas ou em
favor de outro associado.
PARÁGRAFO ÚNICO – Depois de integralizadas as cotas – partes
poderão ser transferidas entre associados, obedecendo o limite de capital
estabelecido no artigo 5º destes Estatutos. Toda a movimentação de cotas-
partes será averbada no Livro de Matrícula, mediamente termo que conterá
as assinaturas de cedente, do cessionário e do diretor competente.
CAPÍTULO TERCEIRO
Do Objetivo e das Operações
Artigo 7º A Cooperativa terá por objetivo proporcionar crédito a seus associados
mediamente taxas módicas, com observância da regulamentação baixada
pelas autoridades monetárias.
Artigo 8º A Cooperativa só poderá operar ativa e passivamente com seus associados,
sendo-lhe permitido ainda realizar para estes, serviços acessórios
relacionados com pagamento de impostos, contas de luz, gás, telefone e
semelhantes.
CAPÍTULO QUARTO
Dos Associados
Artigo 9º O número de associados será ilimitado quanto ao máximo, não podendo,
porém, ser inferior a 20 (vinte).
Artigo 10º Exclusivamente pessoas físicas que possuam capacidade jurídica de
contratar e residam ou exerçam atividades na área de ação delimitada no
artigo segundo, letra “b”, poderão associar-se à Cooperativa.
PARÁGRAFO ÚNICO – Será excepcionalmente permitida a admissão de
pessoas jurídicas que tenham por objetivo as mesmas ou correlata das
atividades econômicas das pessoas físicas, ou ainda, aquelas sem fins
lucrativos.
Artigo 11º Não poderão pertencer ao quadro social nem conseqüentemente participar
dos órgãos previstos no artigo 29, nem exercer função de gerência:
a) pessoas que operarem com os mesmos fins da Cooperativa;
b) pessoas que em qualquer outra instituição financeira, inclusive
Cooperativa de Crédito, que tenham mais de 10% do Capital, exerçam
funções de gerência ou participem de órgãos de administração,
consultivos, fiscais e semelhantes.
Artigo 12º Só após transcorridos o prazo de 30 dias, contados de sua admissão na
Cooperativa, poderá o associado obter ou garantir empréstimos.
Artigo 13º O associado terá direito a:
a) tomar parte nas assembléias, discutindo e votando, os assuntos que nela
forem tratados, com as restrições dos artigos 27º e 28º destes estatutos;
b) propor ao Conselho de Administração e as Assembléias Gerais as
medidas que julgar convenientes ao interesse social;
c) efetuar as operações objeto da Cooperativa, de acordo com estes
estatutos e normas estabelecidas;
d) inspecionar na sede social, em qualquer tempo, os livros de atas e
matrículas e, durante os trinta dias que precedem a Assembléia Geral
Ordinária, até três dias antes de sua realização, os livros e papéis de
contabilidade, os balanços e contas e documentação relativa ao
exercício;
e) pedir demissão em qualquer tempo;
f) votar e ser votado para os cargos sociais, com as restrições dos artigos 27
e 28.
Artigo 14º O associado se obriga a:
a) Subscrever e integralizar as quotas-partes de capital de acordo com o
determinado nestes Estatutos;
b) Zelar pelos interesses morais e materiais da Cooperativa;
c) Satisfazer pontualmente os compromissos que contrair com a
Cooperativa;
d) Cumprir fielmente as disposições estatutárias, respeitando as
deliberações tomadas pela Assembléia Geral ou pelos órgãos
administrativos;
e) Pagar sua parte nas perdas apuradas em balanço, na proporção das
operações que houver realizado com a Cooperativa
f) Pagar sua parte nas despesas gerais, quando o valor destas for rateado
entre os associados;
g) Ter sempre em vista que a cooperação é obra de interesse comum, ao
qual, não se deverá sobrepor o interesse individual.
Artigo 15º A demissão do associado, que não poderá ser negada, será requerida ao
Presidente, tornando-se efetiva pelas assinaturas deste e do demissionário no
respectivo livro de matrícula.
Artigo 16º Além de motivos de direito, o Conselho de Administração eliminará o
associado que;
a) praticar atos que o desabonem no conceito da Cooperativa;
b) exercer qualquer atividade que entre em conflito com os interesses da
Cooperativa ou que possa vir a prejudicá-los;
c) faltar com o cumprimento, reiteradamente, das obrigações assumidas
com a Cooperativa, do que decorra prejuízo ou necessidade de qualquer
procedimento judicial;
d) cometer infração legal ou estatutária.
Artigo 17º A eliminação será deliberada pelo Conselho de Administração após duas
notificações ao associado e os motivos que a ocasionaram, constarão da ata
respectiva e do termo lavrado no Livro de Matrícula, assinado pelos
conselheiros presentes a reunião que a tiver decidido.
Artigo 18º A diretoria comunicará a eliminação ao associado dentro de 30 (trinta) dias
de sua ocorrência, remetendo-lhe as notificações pelo correio, com aviso de
recepção ou por qualquer outra forma que confirme o recebimento, delas
constando explicitamente os motivos da medida, do que caberá recurso para
a primeira Assembléia Geral que se realizará.
Artigo 19º Feita a interposição do recurso, os efeitos da eliminação ficarão suspensos
até a deliberação da Assembléia Geral.
Artigo 20º A dissolução da pessoa jurídica, a morte da pessoa física e a incapacidade
civil se não for legalmente suprida, importam na exclusão do associado.
Artigo 21º O associado responderá subsidiariamente pelas obrigações sociais para com
terceiros até a concorrência do valor das cotas que subscrevem,
responsabilidade que só poderá ser invocada depois de judicialmente exigida
da Cooperativa.
PARÁGRAFO ÚNICO – A obrigação perdurará para os demitidos,
eliminados ou excluídos, até quando forem aprovadas as contas do exercício
que se deu a retirada.
Artigo 22º A responsabilidade do associado, para o demitido, eliminado ou excluído,
por prejuízo verificados na Cooperativa, terminará na data de aprovação, por
Assembléia Geral do balanço do semestre em que ocorreu a demissão,
eliminação ou exclusão.
Artigo 23º O associado demitido, eliminado ou excluído terá direito de retirar, sem
prejuízo da responsabilidade que lhe competir, o que lhe couber pelo capital
realizado, juros e sobras, conforme a respectiva conta-corrente e o balanço
do semestre em que se deu a demissão, eliminação ou exclusão, sempre
depois de aprovado este pela Assembléia Geral.
Artigo 24º As obrigações dos associados falecidos, contraídas com a Cooperativa e as
oriundas de suas responsabilidades como associado, em fase de terceiros,
passarão aos herdeiros, prescrevendo, porém, após um ano de abertura da
sucessão.
Artigo 25º Os herdeiro terão direito ao capital, juros e sobras do associado, conforme a
respectiva conta-corrente e o balanço do semestre de sua morte, podendo
ficar sub-rogados nos direitos sociais do falecido se, de acordo com os
presentes Estatutos, puderem e quiserem fazer parte da Cooperativa.
Artigo 26º Ocorrendo simultaneamente muitas demissões, eliminações ou exclusões, de
modo a acarretar dificuldades financeiras a Cooperativa pela retirada do
capital social, o Conselho de Administração poderá estabelecer que a
restituição seja feita em parcelas mensais não menores de 10% (dez por
cento), pagáveis a partir da data da Assembléia Geral do Exercício em que
se deram as retiradas.
Artigo 27º Os associados admitidos a menos de 30 (trinta) dias do edital da primeira
convocação da Assembléia Geral, poderão tomar parte na discussão dos
assuntos, mas não poderão votá-los.
Artigo 28º O associado não poderá votar em assunto de seu interesse particular embora
permitida sua participação nos debates.
CAPÍTULO QUINTO
Dos Órgãos de Administração e Fiscalização
Artigo 29º São órgãos de Administração e Fiscalização:
A) ASSEMBLÉIA GERAL DOS ASSOCIADOS;
B) CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO;
C) DIRETORIA EXECUTIVA;
D) CONSELHO FISCAL.
DAS ASSEMBLÉIAS GERAIS
Artigo 30º A Assembléia Geral dos associados é o órgão supremo da entidade e nos
limites legais e dos Estatutos terá poderes para decidir os negócios relativos
ao objeto da sociedade e tomar resoluções convenientes a seu
desenvolvimento e defesa. Suas deliberações que vincularem a todos, ainda
que ausentes ou discordantes, serão tomadas por maioria simples de votos
dos associados presentes salvo nos casos em que a lei e estes estatutos
dispuserem em contrário.
PARÁGRAFO PRIMEIRO – Cada associado, presente ou representado
não terá direito a mais de um voto, qualquer que seja o número de suas
quotas-partes.
PARÁGRAFO SEGUNDO – Nos casos de associados que se distribuam
por área distante a mais de 50 (cinqüenta quilômetros) da sede da
Cooperativa, ou no caso de doença comprovada, será permitida a
representação por meio de mandatário que tenha a qualidade de associado no
gozo de seus direitos sociais e não exerça carga eletivo na sociedade vedado
a cada mandatário dispor de mais de 3 (três) votos, compreendido o seu.
PARÁGRAFO TERCEIRO – Enquanto o número de associados for
superior a 1.000 (mil), poderá o mandatário que preencher as condições do
parágrafo anterior, representar até o máximo de 4 (quatro) associados.
Artigo 31 As Assembléias Gerais serão convocadas com antecedência mínima de 10
(dez) dias em primeira convocação, mediantes editais afixados em locais
visíveis das principais dependências da sociedade e através da publicidade
em jornal de grande circulação local e por circulares enviados aos
associados.
PARÁGRAFO ÚNICO – As Assembléias serão convocadas pelo
Presidente, por deliberação do Conselho de Administração ou de qualquer
dos órgãos da Administração, pelo Conselho Fiscal ou após solicitações não
atendidas pelo Presidente, por um quinto dos associados em pleno gozo de
seus direitos.
Artigo 32º Os editais de convocação das Assembléias Gerais deverão conter:
I - a denominação da sociedade, seguida pela expressão “Convocação da
Assembléia Geral”, com especificação de se tratar de ordinária ou
extraordinária;
II - o dia e a hora da reunião, em cada convocação, assim como, o local de
sua realização, a qual, salvo motivo justificado, será sempre o da sede
social;
III - a seqüência de convocações;
IV - a ordem do dia dos trabalhos;
V - o número de associados existentes na data de sua expedição, para
efeito de cálculo do “quorum” de instalação;
VI - data de assinatura do responsável pela convocação.
PARÁGRAFO ÚNICO – No caso de a convocação ser feita por
associados, o edital de convocação será assinado pelos primeiros signatários
do documento que a originou.
Artigo 33º As Assembléias Gerais poderão realizar-se em Segunda e terceira
convocações, conforme for o caso, do mesmo dia da primeira com a
diferença mínima de uma hora, desde que assim expressamente conste do
respectivo edital.
Artigo 34º Nas Assembléias Gerais o “quorum” de instalação será o seguinte:
I - dois terços do número de associados, na primeira convocação;
II - metade mais um dos associados, na Segunda convocação;
III - mínima de 10 (dez) associados na terceira convocação.
PARÁGRAFO ÚNICO – A presença dos associados em cada convocação
será registrada em livro próprio.
Artigo 35º Os trabalhos das Assembléias Gerais serão dirigidos pelo Presidente da
sociedade, salvo os que não foram por ele convocados, cuja presidência
caberá ao escolhido na ocasião.
PARÁGRAFO PRIMEIRO – O presidente ou qualquer outro membro dos
órgãos da administração ou de fiscalização não poderão dirigir os trabalhos
quando a Assembléia estiver deliberando bobre o relatório e as contas da
Administração, sendo então, substituídos pelo associado que for designado
pelo plenário.
PARÁGRAFO SEGUNDO – O Presidente da Assembléia Geral escolherá
um associado para, na qualidade de secretário, compor a mesa diretora dos
trabalhos.
Artigo 36º É da competência das Assembléias Gerais, quer ordinárias ou
extraordinárias a destituição dos membros dos órgãos de administração ou
fiscalização, em face das causas que a justifiquem, desde que previamente
mencionado o assunto no edital de convocação.
Artigo 37º da Assembléia Geral lavrar-se-á ata que será assinada pela massa diretora
dos trabalhos e por uma comissão de associados indicada pelo plenário.
DAS ASSEMBLÉIAS GERAIS ORDINÁRIAS
Artigo 38º A Assembléia Geral Ordinária, que se realiza nos três primeiros meses após
o término do exercício social, delibera sobre os seguintes assuntos que
deverão constar da ordem do dia:
I - prestação de contas dos órgãos da administra, compreendendo o
relatório da gestão, balanço, e demonstrativo da conta “Sobras e
Perdas” da sociedade o Parecer do Conselho Fiscal, relativos aos
primeiros e segundos semestres, sobre os quais não poderão votar os
mesmos dos órgãos referidos;
II - destinação das sobras ou repartição dos prejuízos, deduzidas no
primeiro caso, as porcentagens do fundo de Reserva e de outros
instituídos, assim como, os juros atribuídos ao capital Social;
III - eleição dos componentes dos órgãos de administração e de outros
quando for o caso e do Conselho Fiscal;
IV - quando previsto, a fixação do valor dos honorários e cédulas de
presença dos membros do Conselho Fiscal, do Conselho de
Administração ou da Diretoria;
V - quaisquer assuntos do interesse social, excluídos os enumerados no
artigo 40 (quarenta) destes Estatutos.
DAS ASSEMBLÉIAS GERAIS EXTRAORDINÁRIAS
Artigo 39º A assembléia Geral Extraordinária realizar-se-á sempre que necessário e
poderá deliberar sobre qualquer assunto de interesse da sociedade desde que
mencionado no edital de convocação.
Artigo 40º Será da competência exclusiva da Assembléia Geral Extraordinária deliberar
sobre os seguintes assuntos:
I – reforma dos Estatutos;
II – fusão, incorporação ou desmembramento;
III – mudança do objeto da sociedade;
IV – dissolução voluntária da sociedade e nomeação de liquidantes;
V – deliberação sobre as contas dos liquidantes.
PARÁGRAFO ÚNICO – Serão necessários os votos de dois terços (2/3)
dos associados presentes para tornar válidas as deliberações do que trata este
artigo.
DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Artigo 41º O Conselho de Administração será composto de 5 (cinco) membros
exclusivamente de associados eleitos pela Assembléia Geral, com mandato
de 3 (três) anos, sendo obrigatória a renovação de, no mínimo de um terço
do Conselho de Administração.
Artigo 42º Competirá ao Conselho de Administração, com observância das disposições
legais e regulamentares em vigor:
a) Cumprir e fazer cumprir as deliberações das Assembléias Gerais;
b) Estabelecer as normas operacionais e deliberar sobre as despesas de
Administração;
c) Examinar os balancetes e a situação econômica-financeira da
cooperativa;
d) Convocar as Assembléias Gerais;
e) Deliberar sobre a admissão, demissão, eliminação e exclusão dos
associados;
f) Designar mensalmente um de seus membros para funcionar como
Diretor de Turno.
Artigo 43º Para comprar, alienar, hipotecar ou por qualquer outra forma, onerar bens
imóveis, o Conselho de Administração dependerá de prévia autorização da
Assembléia Geral.
Artigo 44º Os membros do Conselho de Administração serão substituídos nas ausências
ou impedimentos por associados designados pelos demais conselheiros, se
tais afastamentos não forem superiores a 90 (noventa) dias.
PARÁGRAFO PRIMEIRO – E m caso de vaga definitiva ou superior a
noventa dias, o Presidente convocará dentro de 30 (trinta) dias a Assembléia
Geral para preenchimento dos cargos.
PARÁGRAFO SEGUNDO – Se ficar vaga por prazo superior a dois
meses, mais da metade dos cargos do Conselho de administração, o
Presidente convocará imediatamente Assembléia Geral para preenchimento.
PARÁGRAFO TERCEIRO – Se as vagas forem totais, caberá ao
Conselho Fiscal a convocação imediata da Assembléia Geral para
Preenchimento.
PARÁGRAFO QUARTO – Os membros eleitos ocuparão os cargos até o
final dos mandatos dos antecessores.
Artigo 45º Os componentes dos órgãos administrativos e do Conselho Fiscal, bem
como os liquidantes, responderão solidariamente pelas obrigações assumidas
pela Cooperativa durante sua gestão, até que elas se cumpram. Para efeito de
responsabilidade criminal e que equipar-se-ão aos administradores de
sociedades anônimas.
DA DIRETORIA EXECUTIVA
Artigo 46º A Diretoria Executiva será composta pelo Presidente, Diretor-Gerente e
Diretor-de-Turno, escolhidos dentre os Membros do conselho de
Administração, os dois primeiros eleitos especificamente pela Assembléia
Geral e o último designado mensalmente por aquele Conselho.
Artigo 47º Competirá a Diretoria Executiva cumprir e fazer cumprir as deliberações do
Conselho de Administração.
Artigo 48º O Presidente e o Gerente, em conjunto, representarão ativa e passivamente a
Cooperativa, em juízo ou fora dele, competindo-lhes assinar cheques,
instrumentos de procuração e qualquer outro documentos representativo da
responsabilidade da Cooperativa.
Artigo 49º O Presidente será substituído pelo gerente, este pelo Diretor de turno e este
último por outro Conselheiro ou por associado designado pelo Conselho de
Administração, mas as substituições só ocorrerão se as ausências ou
impedimentos não forem superiores a noventa dias.
DO CONSELHO FISCAL
Artigo 50º O Conselho Fiscal é constituído de três membros efetivos e igual número de
suplentes, eleitos em Assembléia Geral Ordinária, sendo as substituições
feitas pelos suplentes mais votados. Na hipótese de empate de votação pelo
mais idoso.
PARÁGRAFO ÚNICO – Os membros do Conselho Fiscal terão mandato
de (1) ano, sendo permitida a reeleição de um terço (1/3) dos efetivos e um
terço do suplentes.
Artigo 51º Não podem fazer parte dos Conselho Fiscal:
a) Os parentes até segundo grau;
b) Os parentes dos membros do Conselho de Administração até o segundo
grau,
c) Os empregados da Cooperativa e dos membros do Conselho de
Administração;
Artigo 52º As deliberações do Conselho Fiscal serão exaradas em atas circunstanciadas,
lavradas em livro próprio e assinadas por todos os seus componentes, logo
após o encerramento dos trabalhos.
Artigo 53º O Conselho Fiscal exercerá total assídua fiscalização sobre os negócios da
sociedade par o que poderá valer-se de técnicos de reconhecida idoneidade,
competindo-lhe principalmente:
a) Examinar livros, documentos, correspondências e fazer inquérito de
qualquer natureza;
b) Analisar os balancetes mensais e verificar, no mínimo uma vez por mês,
a exatidão do saldo em Caixa;
c) Examinar mensalmente se todos os empréstimos foram concedidos
segundo as normas estabelecidas pelo Conselho de Administração;
d) Verificar se o conselho de Administração se reuniu regularmente e se ao
cabo de cada reunião foram lavradas as respectivas datas;
e) Verificar se a escrituração do Livro de Matrícula está em dia;
f) Verificar se a Cooperativa se comporta segundo as normas baixas pelas
Autoridades Monetárias, advertindo por escrito o Conselho de
Administração no caso de existir qualquer infringência nesse particular;
g) Verificar se a Cooperativa está em dia com seus compromissos junto às
repartições públicas fiscais e de previdência;
h) Apresentar a Assembléia Geral parecer sobre os negócios e operações
sociais, tomando como base os balanços semestrais e contas
CAPÍTULO SEXTO
Do Balanço e das Sobras e Perdas
Artigo 54º Em 30 de junho e 31 de dezembro de cada ano serão levantados balanços
gerais da Cooperativa.
Artigo 55º Por ocasião do balanço semestral e como encargo do exercício será levada a
crédito do Fundo de Amortização do Ativo Fixo “parcela correspondente às
depreciações dos bens que constituem o “Ativo Fixo” da Cooperativa, até
atingir o montante deste.
PARÁGRAFO ÚNICO – O cálculo de que se trata este artigo será
efetuado sobre o valor atual dos bens, isto é, o valor de compra menos as
depreciações já sofridas, e respeitando o seguinte percentual: 5% (cinco por
cento) por semestre, sobre as Instalações e Móveis e Utensílios.
Artigo 56º As sobras líquidas apuradas em balanço terão a seguinte destinação:
a) Prioritariamente, 10 (dez por cento) no mimo para o Fundo de Reserva;
b) Montante necessário à atribuição de juros ao Capital realizado, à taxa
que tiver sido fixada pelo Conselho de Administração, até o máximo de
12% a. ;
c) Cinco por cento para a constituição e manutenção do Fundo de
Assistência Técnica, educacional e Social, destinado a prestação de
assistência aos associados, seus familiares e aos empregados da
Cooperativa, o qual, será indivisível entre os associados.
d) O restante será distribuído aos associados proporcionalmente ao volume
das operações que tenham efetuado com a Cooperativa.
Artigo 57º O Fundo de Reserva será constituído ainda das importâncias provenientes de
rendas eventuais.
Artigo 58º O Fundo de Reserva será indivisível entre os associados. Destinar-se-á a
cobrir perdas eventuais da Cooperativa e a atender ao desenvolvimento de
suas atividades.
Artigo 59º Aprovados os balanços do exercício social pela Assembléia Geral Ordinária,
o prejuízo de cada semestre, será rateado entre os associados na proporção
de sua participação nas operações do mesmo período.
PARÁGRAFO ÚNICO – Para fins de rateio, o resultado do primeiro
semestre não se incorpora ao do segundo.
CAPÍTULO SÉTIMO
Da Dissolução e Liquidação
Artigo 60º A Cooperativa se dissolverá pelos seguintes motivos:
I. Quando assim deliberar a Assembléia Geral, desde que os associados,
totalizando o número mínimo exigido pelo artigo 34, combinando com o
parágrafo único do artigo 40 deste Estatuto, não se disponham a
assegurar a sua continuidade;
II. Pela redução do número mínimo de associados ou de capital social
mínimo, se, até a Assembléia Geral subseqüente, realizada em prazo não
inferior a 6 (seis) meses, eles não forem restabelecidos;
III. Pelo cancelamento da autorização para funcionar;
IV. Pela paralisação de suas atividades por mais de 120 (cento e vinte) dias
PARÁGRAFO PRIMEIRO – Quando a dissolução da sociedade não for
promovida voluntariamente, nas hipóteses previstas no artigo presente, a
medida poderá ser tomada judicialmente a pedido de qualquer associado ou
por iniciativa do órgão executivo federal.
PARÁGRAFO SEGUNDO – Quando a dissolução for deliberada pela
Assembléia Geral, esta nomeará um liquidante ou mais, em um Conselho
Fiscal de 3 (três) membros para proceder à sua liquidação.
PARÁGRAFO TERCEIRO – O processo de liquidação só poderá ser
iniciado após audiência do respectivo órgão executivo federal.
PARÁGRAFO QUARTO – A Assembléia Geral, nos limites de suas
atribuições, poderá, em qualquer tempo, destituir os liquidantes e os
membros do Conselho Fiscal, designando os seus substitutos.
PARÁGRAFO QUINTO – Em todos os atos e operações, os liquidantes
deverão usar a denominação da Cooperativa, seguida da expressão “Em
Liquidação”.
PARÁGRAFO SEXTO – Os liquidantes terão todos os poderes normais de
administração podendo praticar atos e operações necessárias à realização do
ativo e pagamento do passivo.
CAPÍTULO OITAVO
Das Disposições Gerais
Artigo 61º Os membros dos órgãos de Administração não poderão Ter entre si laços de
parentesco até o segundo grau em linha reta ou colateral.
Artigo 62º Serão inelegíveis, além das pessoas impedidas por lei especial, os
condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos
públicos, ou por crime falimentar, de prevenção a peita ou suborno,
concussão, pecúlio, ou contra a economia popular, a fé pública ou a
propriedade.
Artigo 63º Os participantes em ato ou operação social, em que se oculte a natureza da
sociedade, poderão se declarados pessoalmente responsáveis pelas
obrigações em nome dela contraída, sem prejuízo das sanções cabíveis.
Artigo 64º A Sociedade, por seus Diretores, ou representada pelo associado escolhido
em Assembléia Geral, terá direto de ação contra os administradores, para
promover sua responsabilidade nos casos do artigo 45º deste Estatuto.
Artigo 65º O associado que aceitar trabalho remunerado e permanente nos serviços
mantidos com a Cooperativa perderá o direto de votar e ser votado, até que
Sejam aprovadas as contas de exercício em que ele tiver deixado o emprego.
Artigo 66º Qualquer reforma estatutária dependerá de prévia e expressa aprovação do
Banco Central do Brasil para que possa entrar em vigor e produzir efeitos
perante o registro do Comércio.
Artigo 67º A Cooperativa submeterá à aprovação do Banco Central do Brasil no prazo
de 15 (quinze) dias, os nomes dos eleitos para membros do Conselho de
Administração e do Conselho Fiscal (efetivos e suplentes).
Artigo 68º A posse dos membros eleitos para o Conselho de Administração e Conselho
Fiscal, efetivos e suplentes, só poderá ser efetivada de acordo com as
disposições do Banco Central do Brasil.
PARÁGRAFO ÚNICO – Os membros dos Conselhos neste artigo referido
que faltarem a três reuniões consecutivas ou a cinco alternadas, sem motivo
justificado, a critério do órgão a que pertencem, perderão o mandato.
Artigo 69º A Cooperativa é obrigada a prestar quaisquer esclarecimentos que lhes forem
solicitados pelo Banco Central do Brasil e remeterá a esse órgão normativo,
anualmente, a relação dos associados admitidos, demitidos, eliminados e
excluídos no período , cópias das atas, de bancos e dos relatórios do
exercício social e parecer do Conselho Fiscal.
Artigo 70º É facultado aos atuais associados da Cooperativa, para fins de integralização
do número mínimo de cotas partes previsto no artigo quinto deste Estatuto, a
subscrição da parte que lhes faltar mediante prestações periódicas, no prazo
máximo de doze meses.
Anexo II - Reportagens Publicadas no Jornal Valor Econômico
Terça-feira, 3 de junho de 2003 - Ano 4 - Nº 771 - Finanças
Líderes de cooperativas comemoram abertura
Mônica Izaguirre, de São Paulo
Embora não tivessem sido consultados até agora, os líderes do sistema de cooperativas
comemoraram a intenção do governo federal de permitir a criação de cooperativas de
crédito de livre associação. Matéria publicada na edição de ontem do Valor noticiou que
está quase pronto o programa que possibilitará qualquer pessoa, sem exigência de qualquer
vínculo empregatício, aderir às cooperativas de crédito.
"É um grande avanço", afirmou Gilson Gavião, presidente da central das cooperativas do
Rio de Janeiro (Cecrerj). "É uma boa notícia", disse Marcio Roberto Palhares Nami,
diretor-conselheiro da CreMendes, uma das poucas cooperativas abertas existentes no
Brasil, que opera no município de Mendes, a 90 km da capital do Rio. Por outro lado, estes
profissionais mostraram preocupação com a falta de informação sobre que modelo será
utilizado e, principalmente, se os bancos cooperativos (Bancoob e Bansicred) serão
utilizados no programa de abertura ou se vão dividir o espaço com o Banco do Brasil e a
Caixa Econômica Federal.
O sistema de cooperativas aberto existe há décadas. É o chamado sistema Luzzatti, tolhido
com a reforma do sistema financeiro de 1964, que proibiu a criação de novas cooperativas.
Hoje existem apenas 10 em andamento - Itororó (BA); Barbalha (CE); Caixeiral do Crato
(Crato, CE); Lageado (RS); Sul Riograndense (Porto Alegre, RS); Hering (Blumenau, SC);
Mirassol (SP); Olímpia (SP); Mendes (RJ) e Guarulhos (SP).
Em 1999, o Banco Central tentou fechar estas cooperativas abertas. Pela Resolução 2.608,
o BC deu um prazo de dois anos para que elas fechassem as portas. Houve um intenso
lobby, que envolveu as centrais estaduais e a Organização das Cooperativas do Brasil, que
conseguiram reverter a resolução. No entanto, continuou proibida a criação de novas. Para
permitir a criação de instituições abertas, o governo terá que reformular a Resolução 2.771
do BC, explica Marcio Palhares Nami.
A cooperativa de Mendes tem 73 anos de existência e atende 1.500 pessoas, moradores da
cidade (de 17 mil habitantes) e de municípios vizinhos (Barra do Piraí, Paulo de Frontein,
Vassouras, Piraí e Paracambi). Para entrar na cooperativa, o cidadão tem apenas que
apresentar comprovante de endereço no município, CIC, RG e comprovante de renda.
Demora 30 dias para a conta ser aprovada, prazo em que são checados os dados dos
cadastros negativos de crédito (Serasa e SPC). Não se trata de uma mera conta corrente. O
cooperado tem que comprar cotas da cooperativa. Na CreMendes, o candidato a cooperado
paga R$ 157,00 - R$ 100 para comprar o mínimo de 100 cotas; R$ 50,00 para depósito de
abertura da conta; e R$ 7,00 pela pesquisa aos cadastros negativos.
Aberta a conta, ele terá direito a talão de cheque, saldo, extrato e crédito, que varia de
acordo com a renda apresentada. A taxa de juros, que era 3,5%, com as sucessivas altas da
Selic foi aumentada mês passado para 4,1% ao mês. Há dois meses, a Mendes instituiu uma
tarifa de R$ 3,00 para financiar um programa de modernização tecnológica que a interligará
ao sistema nacional cooperativo. E há também um fundo de renda fixa, que remunera os
aplicadores em 1,5% ao mês. (J.R.)
Quinta-feira, 5 de junho de 2003 - Ano 4 - Nº 773 - Finanças
BC vai propor redução da exigência de capital das
cooperativas de crédito
Mônica Izaguirre, de Brasília
Enquanto o governo se prepara para anunciar mudanças nas regras de formação de
cooperativas de crédito, o Banco Central já estuda outra medida para estimular o setor. O
diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, disse ontem que proporá à equipe econômica uma
redução no requerimento de capital destas instituições.
Pelo menos para a maioria das cooperativas, informou Darcy, a idéia é exigir o mesmo
Índice de Basiléia cobrado dos bancos. Ou seja, o mesmo percentual mínimo de relação
entre o patrimônio líquido e o valor dos ativos ponderado pelo risco, hoje maior para as
cooperativas.
A redução do capital mínimo requerido permitirá que, com igual montante de patrimônio,
as cooperativas concedam um volume maior de crédito. Os seus ativos, formados
basicamente por empréstimos, poderiam chegar a 9,09 vezes o seu patrimônio líquido - e
não só a 6,66 vezes, como é hoje para a maioria. Ao permitir uma alavancagem maior, o
governo não só estimularia o setor, mas também abriria mais espaço para fazer das
cooperativas um canal de aplicação de recursos oficiais em microcrédito.
A nova medida em estudo foi revelada por Darcy durante depoimento à Comissão de
Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. Ao terminar a sessão, ele esclareceu que
a alteração não é para breve. Primeiro, confirmou, o governo quer "flexibilizar" as regras de
constituição de cooperativas, para torná-las mais abertas. Como o anúncio deverá ser feito
pelo presidente Lula, Darcy evitou dar detalhes desta flexibilização. Mas, trata-se
basicamente de permitir a formação de cooperativas de livre associação, sem exigência de
vínculo prévio entre os cooperados, a não ser uma delimitação geográfica. Pelas regras
atuais, é necessário algum tipo de vínculo profissional entre os cooperados.
No que diz respeito ao nível de capitalização, atualmente o BC exige que as cooperativas
mantenham patrimônio líquido de, no mínimo, 15% do valor de seus ativos ponderados
pelo risco. No caso das cooperativas independentes, ou seja, não-vinculadas a cooperativas
centrais (estas cooperativas de cooperativas), o percentual mínimo é de 20%, o que lhes
permite emprestar no máximo volume equivalente a cinco vezes o seu PL.
Darcy revelou que, para as cooperativas vinculadas a centrais, a tendência do BC é reduzir
o requerimento mínimo de capital para 11%, o mesmo percentual exigido dos bancos. É
isso que elevaria de 6,66 para 9,09 vezes o valor limite dos ativos em relação ao
patrimônio. Segundo números apresentados pelo diretor do BC aos deputados ontem, 81%
das cooperativas de crédito singulares (ou seja, não-centrais) existentes no país são
vinculadas a cooperativas centrais.
As cooperativas centrais, sobre as quais a vigilância do BC é maior, têm obrigação de
fiscalizar as singulares a elas vinculadas. Desde que as normas referentes a auditorias,
controles internos e prestação de informações ficaram mais rígidos, o BC avalia que houve
progresso em termos prudenciais na concessão do crédito. A maior segurança das
operações que resultou desse processo, explica Darcy, é o que permite agora reduzir o
capital mínimo requerido.
Das cooperativas não-vinculadas ou independentes, que representam os 19% restantes do
total de cooperativas singulares, o BC continuaria a exigir uma capitalização maior. Neste
caso, explicou, o BC não conta com a ajuda das centrais para fiscalizar. Não
necessariamente, porém, o percentual continuaria nos atuais 20%.
Darcy informou ainda que o capital mínimo requerido das cooperativas centrais, atualmente
de 13% dos ativos ponderados pelo risco, também deverá cair para 11%, se a proposta dele
for acatada pelo governo. Os bancos cooperativos - ou seja, controlados por cooperativas -
já são sujeitos ao mínimo de 11%, como qualquer banco.
Embora devam ser adotadas em momentos diferentes, a permissão para que se formem
cooperativas de livre associação e a exigência de menos capital das cooperativas vão no
mesmo sentido. Ambas as medidas buscam fazer do setor uma alternativa aos bancos e
financeiras e ajudar a reduzir os spreads bancários com o aumento da concorrência.
Segunda-feira, 2 de junho de 2003 - Ano 4 - Nº 770 - Finanças
Crédito Legislação facilitará formação de grupos que
concedem empréstimos mais baratos - Governo abre espaço às
cooperativas
Mônica Izaguirre, de Brasília
O governo anunciará nos próximos dias uma importante mudança nas normas de
constituição de cooperativas de crédito. Uma resolução do Conselho Monetário Nacional
(CMN) permitirá que se formem cooperativas de livre associação - ou seja, abertas a
qualquer pessoa e sem exigência de nenhum tipo de vínculo entre os cooperados, a não ser
uma delimitação geográfica.
Embora a medida seja aparentemente simples, o que está por trás é um plano ambicioso:
ampliar e difundir o sistema cooperativo de crédito de forma que ele se torne uma
alternativa, de fato, aos bancos e financeiras, que cobram juros salgados sobre os seus
empréstimos. No sistema de cooperativas, as taxas que remuneram os depósitos a prazo dos
cotistas e as cobradas nas aplicações são, em geral, definidas pelos próprios cooperados, em
assembléias. São, portanto, mais baixas.
Com a permissão para a criação de entidades abertas, o governo quer facilitar a formação
de cooperativas principalmente em municípios menores - o tamanho estará determinado na
resolução do CMN -, onde a segmentação existente hoje torna difícil a obtenção de
quantidade suficiente de trabalhadores. As localidades menores também são as menos
atendidas pelo sistema bancário e, portanto, têm menos acesso ao crédito.
Como os bancos, as cooperativas também podem captar depósitos à vista e a prazo, mas
apenas junto aos seus próprios associados, que são também os únicos que podem receber
empréstimos dessas entidades. As cooperativas, principalmente as rurais atualmente,
também podem tomar recursos em bancos oficiais para aplicar em crédito.
A área econômica aposta no projeto como um poderoso instrumento para aumentar a
concorrência no sistema financeiro e democratizar o acesso ao crédito, e, com isso tentar
quebrar a resistência dos bancos em baixar os spreads (diferença entre a taxa captação e de
aplicação) embutidos nos juros ao tomador final.
Não é à toa que nos últimos dias o governo começou a insistir na tecla de que há gordura
para os bancos baixarem os spreads, através da redução das suas margens de lucro. Apenas
na última semana o apelo constou dos pronunciamentos do ministro do Planejamento,
Guido Mantega, do chefe da Casa Civil, José Dirceu, e do próprio presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Outro objetivo é criar, em todo o país, canais de concessão de microcrédito, inclusive com
repasse de recursos de bancos oficiais às cooperativas que se formarem a partir do novo
modelo. O Banco do Brasil, por exemplo, poderá repassar recursos do Programa de
Geração de Emprego e Renda (Proger), o Banco do Nordeste poderá fazer repasses do
Protrabalho, entre outros. As cooperativas, ao operar com microcrédito, passariam a ser
uma alternativa principalmente para a população de baixa renda, até para crédito ao
consumo.
Ao introduzir o modelo aberto de cooperativismo, o governo pretende facilitar e estimular
principalmente o surgimento de cooperativas de trabalhadores urbanos, formais ou
informais, já que a prática entre produtos rurais já é consolidada. A regulamentação atual
restringe a formação dessas instituições sem fins lucrativos em áreas urbanas, pois exige
algum tipo de vínculo profissional entre os associados.
Se um grupo de trabalhadores quiser se reunir numa mesma cooperativa, em princípio, é
necessário que eles sejam ou da mesma empresa ou do mesmo conglomerado. Se
pertencerem a empresas de donos diferentes, é preciso que essas empresas " desenvolvam
atividades idênticas ou estreitamente correlacionadas por afinidade ou complementaridade "
, diz a norma atual.
No caso dos profissionais liberais e dos servidores públicos, pela regulamentação, as
cooperativas também são necessariamente segmentadas. A segmentação só não existe mais
para pequenos e microempresários, que, desde novembro de 2002, podem se juntar
independentemente da atividade que desenvolvem.
Até a década de 70, a regulamentação permitia a formação de cooperativas de livre
associação no Brasil. Eram as chamadas cooperativas Luzzatti - referência ao italiano Luigi
Luzzatti, que criou o modelo em 1864. Hoje existem apenas 13 delas no país. A formação
de novas foi proibida e a maioria das existentes na época foi liquidada na pelo BC por
problemas de gestão e de mau uso da poupança dos associados.
O governo acredita que, com as normas prudenciais mais duras e a rígida fiscalização que
imporá às futuras cooperativas abertas, o risco de isso acontecer de novo é muito pequeno.
O modelo não levará o nome Luzzatti justamente porque este ficou associado a problemas.
Segundo dados do BC, ao final de 2002, existiam no país 1.395 cooperativas em
funcionamento, com mais de 1,43 milhões de cooperados. Elas detêm, contudo, apenas
1,4% do patrimônio líquido exigível e 1% do ativo permanente do sistema financeiro
nacional. Até o final de junho do ano passado, elas respondiam por apenas 1,64% do total
de operações de crédito do sistema financeiro e cerca de 70% tinha patrimônio líquido
inferior a R$ 1 milhão.
Anexo III – Resolução 3106 do Banco Central do Brasil
RESOLUÇÃO Nº 3.106
Dispõe sobre os requisitos e procedimentos para a constituição, a autorização para funcionamento e alterações estatutárias, bem como para o cancelamento da autorização para funcionamento de cooperativas de crédito.
O BANCO CENTRAL DO BRASIL, na forma do art. 9º da Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964, torna público que o CONSLHO MONETÁRIO NACIONAL, em sessão realizada em 24 de junho de 2003, tendo em vista o disposto nos arts. 4º, incisos VI e VIII, e 55 da referida lei e 103 da Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971. R E S O L V E U:
Art. 1º Aprovar o regulamento anexo, que disciplina a constituição e o funcionamento de cooperativas de crédito.
Art. 2º Não serão concedidas autorizações para o funcionamento de seções de crédito de cooperativas mistas.
Art. 3º Os pedidos de autorização de que trata o regulamento anexo serão objeto de estudos pelo Banco Central do Brasil com vistas a sua aceitação ou recusa.
Art. 4º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a baixar as normas e a adotar as medidas julgadas necessárias à execução do disposto nesta resolução.
Art. 5º Aplicam-se aos processos protocolizados no Banco Central do Brasil anteriormente à data de publicação desta resolução as disposições das Resoluções 2.771, de 30 de agosto de 2000, e 3.058, de 20 de dezembro de 2002.
Art. 6º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação. Art. 7º Ficam revogadas as Resoluções 2.771, de 30 de agosto de 2000, e 3.058, de 20 de dezembro de 2002.
Brasília, 25 de junho de 2003. Henrique de Campos Meirelles Presidente
Regulamento anexo à Resolução 3.106, de 25 de junho de 2003, que disciplina a constituição, a autorização para
funcionamento e alterações estatutárias, bem como o cancelamento da autorização para funcionamento de cooperativas de crédito.
CAPÍTULO I
DA CONSTITUIÇÃO E DA CONSTITUIÇÃO PARA FUNCIONAMENTO Art. 1º As cooperativas de crédito devem observar, para sua constituição, a legislação em vigor, as normas deste regulamento e demais disposições regulamentares vigentes. Art. 2º Previamente à constituição de cooperativa de crédito singular, os interessados devem apresentar ao Banco Central do Brasil projeto abordando os seguintes pontos: I - identificação do grupo de associados fundadores e, quando for o caso, das entidades fornecedoras de apoio técnico ou financeiro, com abordagem das motivações e propósitos que levaram à decisão de constituir a cooperativa; II - condições estatutárias de associação e área de atuação pretendida; III - cooperativa central de crédito a que será filiada, ou, na hipótese de não filiação, os motivos que determinaram essa decisão, evidenciando, nesse caso, como a cooperativa pretende suprir os serviços prestados pelas centrais; IV - estrutura organizacional prevista; V - descrição do sistema de controles internos, com vistas à adequada supervisão de atividades por parte da administração; VI - estimativa do número de pessoas que preenchem as condições de associação e do crescimento do quadro nos três anos seguintes de funcionamento, indicando as formas de divulgação visando atrair novos associados; VII - descrição dos serviços a serem prestados, da política de crédito e das tecnologias e sistemas empregados no atendimento aos associados; VIII - medidas visando a efetiva participação dos associados nas assembléias;
IX - formas de divulgação aos associados das deliberações adotadas nas assembléias, demonstrativos financeiros, pareceres de auditoria e atos da administração; X - definição de prazo máximo para início de atividades após a eventual concessão da autorização para funcionamento. Art. 3º Previamente à constituição de cooperativa central de crédito, os interessados devem apresentar ao Banco Central do Brasil projeto abordando, em função dos objetivos da cooperativa, os seguintes pontos: I - identificação das cooperativas singulares associadas, com indicação de nome, número de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), município sede, tipos de serviços prestados, municípios integrantes da área de atuação, número de associados e sua variação nos últimos três anos; II - identificação, quando for o caso, das entidades fornecedoras de suporte técnico ou financeiro para constituição da central; III - previsão de participação societária da central em instituições financeiras ou de outra natureza; IV - condições estatutárias de associação, área de atuação pretendida e eventual previsão de ampliação, com estimativa do número de cooperativas de crédito singulares não filiadas a centrais ali existentes, que preencham referidas condições; V - política de promoção da constituição de novas cooperativas de crédito e identificação dessas oportunidades na área de atuação pleiteada; política de promoção de novas filiações, requisitos para filiação de cooperativas existentes e estimativas do crescimento do quadro de filiadas nos próximos três anos; VI - estrutura organizacional e responsabilidades atribuídas aos componentes administrativos e delineamento do sistema de controles internos a ser implementado; VII - requisitos a serem adotados para exercício de cargos de administração e de cargos integrantes dos quadros técnicos encarregados das funções de supervisão e de auditoria em filiadas; VIII - dimensionamento e evolução nos próximos três anos, das áreas responsáveis pelo cumprimento das atribuições estabelecidas
no Capítulo IV, destacando a eventual contratação de serviços de outras centrais, de auditores independentes e de outras entidades, com vistas a suprir ou complementar os quadros próprios e à obtenção de apoio técnico para a formação das equipes de supervisores, auditores e instrutores; IX - medidas a serem adotadas para tornar efetiva a implementação dos sistemas de controles internos das singulares filiadas, desenvolvimento ou adoção de manual padronizado de controles internos e realização das auditorias internas requeridas pela regulamentação, abordando a possível contratação de serviços de outras entidades visando esses fins; X - serviços financeiros a serem prestados; política de captação e de crédito; administração centralizada de recursos, fluxos operacionais, obrigações, limites e responsabilidades a serem observados; deveres e obrigações da central e das filiadas no tocante à solidariedade financeira, recomposição de liquidez, operações de saneamento e constituição de fundo garantidor; XI - serviços visando proporcionar às filiadas acesso ao sistema de compensação de cheques e de transferência de recursos entre instituições financeiras, respectivo controle de riscos, fluxos operacionais e relacionamento com bancos conveniados; XII - planejamento das atividades de capacitação de administradores, gerentes e associados de cooperativas filiadas para os próximos três anos, destacando as entidades especializadas em treinamento a serem eventualmente contratadas; XIII - descrição de outros serviços relevantes para o funcionamento das cooperativas filiadas, especialmente consultoria jurídica, desenvolvimento e padronização de sistemas de informática, sistemas administrativos e de atendimento a associados; XIV - estudo econômico-financeiro referente aos três anos seguintes, demonstrando as economias de escala a serem obtidas pelas singulares associadas, sua capacidade para arcar com os custos operacionais, orçamento de receitas e despesas e formas de rateio às singulares. Parágrafo único. A constituição de cooperativa central subordina-se ao cumprimento, por parte das cooperativas singulares fundadoras, dos limites operacionais estabelecidos pela regulamentação em vigor e de suas obrigações perante o Banco Central do Brasil, bem como à regularidade dos dados registrados em qualquer sistema público ou privado de cadastro de informações.
Art. 4º O Banco Central do Brasil, no curso do exame dos projetos de que tratam os arts. 2º e 3º, pode solicitar a apresentação de: I - estudo de viabilidade abrangendo os três primeiros anos de atividade da instituição, abordando: a) análise econômico-financeira da área de atuação e do segmento social definido pelas condições de associação; b) demanda de serviços financeiros apresentada pelo referido segmento social e atendimento por instituições concorrentes; c) projeção da estrutura patrimonial e de resultados; II - documentos destinados à comprovação das possibilidades de reunião, controle, realização de operações e prestação de serviços, com vistas à aprovação da área de admissão de associados, bem como de manifestação da respectiva cooperativa central, quando for o caso. Art. 5º Uma vez obtida a manifestação favorável do Banco Central do Brasil em relação ao projeto de constituição da cooperativa de crédito, os interessados devem formalizar o pedido de autorização para funcionamento no prazo máximo de noventa dias, contado do recebimento da respectiva comunicação, cuja inobservância ensejará o arquivamento do processo. § 1º O pedido de autorização deve ser instruído de acordo com as determinações específicas do Banco Central do Brasil. § 2º O Banco Central do Brasil pode conceder, mediante solicitação justificada, prazo adicional de até noventa dias, findo o qual, não adotadas as providências pertinentes, o respectivo processo será automaticamente arquivado. § 3º A autorização para funcionamento de cooperativa de crédito está vinculada à aprovação, pelo Banco Central do Brasil, dos atos formais de constituição, observada a regulamentação vigente. § 4º O início das atividades da cooperativa de crédito deverá observar o prazo previsto no respectivo projeto, podendo o Banco Central do Brasil conceder, em caráter de excepcionalidade, prorrogação do prazo, mediante requisição fundamentada, firmada pelos administradores da cooperativa.
CAPÍTULO II
DAS CONDIÇÕES ESTATUTÁRIAS DE ADMISSÃO DE
ASSOCIADOS
Art. 6º As cooperativas de crédito singulares devem estabelecer no respectivo estatuto condições de admissão de associados segundo um dos seguintes critérios: I - empregados, servidores e pessoas físicas prestadoras de serviço em caráter não eventual, de uma ou mais pessoas jurídicas, públicas ou privadas, definidas no estatuto, cujas atividades sejam afins, complementares ou correlatas, ou pertencentes a um mesmo conglomerado econômico; II - profissionais e trabalhadores dedicados a uma ou mais profissões e atividades, definidas no estatuto, cujos objetos sejam afins, complementares ou correlatos; III - pessoas que desenvolvam, na área de atuação da cooperativa, de forma efetiva e predominante, atividades agrícolas, pecuárias ou extrativas, ou se dediquem a operações de captura e transformação do pescado; IV - pequenos empresários, microempresários ou microempreendedores, responsáveis por negócios de natureza industrial, comercial ou de prestação de serviços, incluídas as atividades da área rural objeto do inciso III, cuja receita bruta anual, por ocasião da associação, seja igual ou inferior ao limite estabelecido pelo art 2º da Lei 9.841, de 5 de outubro de 1999, para as empresas de pequeno porte; V - livre admissão de associados. Art. 7º A cooperativa de crédito singular pode fazer constar de seus estatutos previsão de associação de: I - seus próprios empregados e pessoas físicas que a ela prestem serviços em caráter não eventual, equiparados aos primeiros para os correspondentes efeitos legais; II - empregados e pessoas físicas prestadoras de serviços em caráter não eventual às entidades a ela associadas e àquelas de cujo capital participe direta ou indiretamente;
III - aposentados que, quando em atividade, atendiam aos critérios estatutários de associação; IV - pais, cônjuge ou companheiro, viúvo, filho e dependente legal e pensionista de associado vivo ou falecido; V - pensionistas de falecidos que preenchiam as condições estatutárias de associação; VI - pessoas jurídicas, observadas as disposições da legislação em vigor. Art. 8º O Banco Central do Brasil pode aprovar, a seu critério, pedidos de fusão, de incorporação e de continuidade de funcionamento de cooperativas de crédito, cujas condições de admissão de associados na nova cooperativa preservem os públicos-alvo anteriormente atendidos pelas cooperativas envolvidas. Capítulo III DAS CONDIÇÕES ESPECIAIS RELATIVAS ÀS COOPERATIVAS DE LIVRE ADMISSÃO DE ASSOCIADOS E ÀS DE PEQUENOS EMPRESÁRIOS, MICROEMPRESÁRIOS E MICROEMPREENDEDORES Art. 9º O Banco Central do Brasil somente examinará pedidos de autorização para funcionamento de novas cooperativas de crédito cujos estatutos estabeleçam a livre admissão de associados, bem como de aprovação de alteração estatutária de cooperativas de crédito em funcionamento com vistas à referida condição de admissão, dentro das seguintes condições: I - caso a população da respectiva área de atuação não exceda 100 mil habitantes, é admitida a autorização para funcionamento de novas cooperativas, bem como a alteração estatutária de cooperativas existentes que apresentem cumprimento dos limites operacionais estabelecidos pela regulamentação em vigor, de suas obrigações perante o Banco Central do Brasil e regularidade dos dados registrados em qualquer sistema público ou privado de cadastro e informações; II - caso a população da respectiva área de atuação exceda 100 mil habitantes, é admitida a alteração estatutária de cooperativas em funcionamento há mais de três anos, que apresentem cumprimento dos limites operacionais estabelecidos pela regulamentação em vigor, de suas obrigações perante o Banco Central
do Brasil e regularidade dos dados registrados em qualquer sistema público ou privado de cadastro e informações. § 1º A área de atuação das cooperativas de que trata este artigo deve ser constituída por um ou mais municípios inteiros em região contínua, com população total não superior a 750 mil habitantes. § 2º A área de atuação das cooperativas formadas de acordo com o inciso I pode ser ampliada, mediante aprovação do correspondente pedido pelo Banco Central do Brasil, após três anos de funcionamento no regime de livre admissão, observado o disposto no inciso II. § 3º A população dos municípios pertencentes à área de atuação das cooperativas de que trata este artigo será verificada com base nos dados das estimativas populacionais municipais divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), relativos à data mais próxima disponível, ou, na sua falta, dados oriundos do poder público local.
§ 4º São equiparadas a municípios, para efeitos da verificação das condições estabelecidas neste regulamento, as regiões administrativas pertencentes ao Distrito Federal.
Art. 10. As cooperativas de crédito cujos estatutos estabeleçam a livre admissão de associados devem observar, também, as seguintes condições: I - filiação a cooperativa central de crédito que apresente: a) três anos de funcionamento; b) cumprimento das atribuições referidas no art. 13, dos limites operacionais estabelecidos pela regulamentação em vigor e de suas obrigações perante o Banco Central do Brasil; c) regularidade dos dados registrados em qualquer sistema público ou privado de cadastro de informações; d) Patrimônio de Referência (PR) superior a R$600.000,00 (seiscentos mil reais) nas Regiões Sudeste e Sul, superior a R$500.000,00 (quinhentos mil reais) na Região Centro-Oeste e superior a R$400.000,00 (quatrocentos mil reais) nas Regiões Norte e Nordeste; II - apresentação, quando do pedido de autorização para funcionamento, ou pedido de alteração estatutária visando aprovação
das condições de admissão de associados referidas no caput, do projeto de que trata o art. 2º e de relatório de conformidade da respectiva cooperativa central de crédito expondo os motivos que recomendam a aprovação do pedido; III - participação em fundo garantidor, no caso de haver captação de depósitos; IV - publicação de declaração de propósito por parte dos administradores eleitos, com vistas à correspondente homologação pelo Banco Central do Brasil; V - aplicação em créditos equivalente a, no mínimo, 50% (cinqüenta por cento) do valor médio dos saldos diários dos depósitos do mês anterior ao mês de referência, ou dos seis meses anteriores ao mês de referência, o que for menor, requisito cujo cumprimento deverá ser verificado mensalmente a partir do décimo terceiro mês de funcionamento da cooperativa de livre admissão de associados. § 1º O limite estabelecido no inciso V pode ser cumprido mediante transferência de recursos à respectiva cooperativa central de crédito, com vistas ao repasse integral a outras cooperativas singulares de livre admissão e correspondente aplicação em créditos aos respectivos associados, devendo o montante repassado ser acrescido ao limite mínimo próprio da cooperativa singular recebedora. § 2º O montante equivalente à deficiência de cumprimento do limite referido no inciso V, bem como os recursos recebidos por repasse nos termos do §.1º e não aplicados em créditos aos respectivos associados, devem ser recolhidos ao Banco Central do Brasil, em moeda corrente, e remunerados mensalmente pela remuneração básica dos depósitos de poupança, acrescida de juros de 0,5 % a.m. (cinco décimos por cento ao mês), permanecendo indisponíveis pelo prazo de um mês, cabendo àquela Autarquia estabelecer os procedimentos julgados necessários ao cumprimento do disposto neste parágrafo. Art. 11. As cooperativas de crédito de pequenos empresários, microempresários e microempreendedores devem observar, também, as seguintes condições: I - filiação a cooperativa central de crédito, respeitado o disposto no art. 10, inciso I, alíneas -b- e -c-; II - publicação de declaração de propósito por parte dos
administradores eleitos, com vistas à correspondente homologação pelo Banco Central do Brasil. Art. 12. Na hipótese de não cumprimento do disposto no art. 10, incisos I ou III, e no art. 11, inciso I, ficam as cooperativas de livre admissão de associados e as de pequenos empresários, microempresários e microempreendedores obrigadas a adotar as seguintes medidas: I - suspensão da admissão de novos associados; e II - apresentação, ao Banco Central do Brasil, de relatório detalhando os motivos que levaram a essa situação, bem como de plano de adequação a ser aprovado e acompanhado pela referida Autarquia. Capítulo IV DAS ATRIBUIÇÕES ESPECIAIS DAS COOPERATIVAS CENTRAIS DE CRÉDITO Art. 13. As cooperativas centrais de crédito devem prever, em seus estatutos e normas operacionais, dispositivos que possibilitem prevenir e corrigir situações anormais que possam configurar infrações a normas legais ou regulamentares ou acarretar risco para a solidez das cooperativas filiadas e do sistema associado, inclusive a possibilidade de constituir fundo garantidor. Parágrafo único. Com vistas a atingir os objetivos previstos neste artigo, as cooperativas centrais de crédito devem desempenhar, entre outras, as seguintes funções: I - supervisionar o funcionamento de suas filiadas, com vistas ao cumprimento da legislação e regulamentação em vigor e das normas próprias do sistema associado; II - assegurar o cumprimento da regulamentação referente à implementação do sistema de controles internos de suas filiadas; III - promover a formação e a capacitação permanente dos membros de órgãos estatutários, gerentes e associados de cooperativas filiadas, bem como de seus próprios supervisores e auditores; IV - realizar auditoria de demonstrações financeiras das filiadas, inclusive notas explicativas exigidas pelas normas legais e regulamentares em vigor, podendo, para tanto, examinar livros e registros de contabilidade e outros documentos, observando-se a seguinte freqüência:
a) demonstrações relativas às datas-base de 30 de junho e de 31 de dezembro, no caso de cooperativas de pequenos empresários, microempresários e microempreendedores e de cooperativas de livre admissão de associados; b) demonstrações relativas ao encerramento do exercício social, no caso das demais cooperativas singulares filiadas. Art. 14. As cooperativas centrais de crédito devem observar os seguintes procedimentos no desempenho das funções de que trata o art. 13: I - dispor, em seus quadros próprios, com vistas à realização de auditoria de demonstrações financeiras de cooperativas singulares, de responsáveis técnicos que atendam à regulamentação específica do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), ou contratar serviços de outra central ou de auditores independentes registrados na Comissão de Valores Mobiliários; II - zelar pela não-ocorrência de impedimentos e incompatibilidades previstos nas normas e regulamentos do CFC, em relação aos responsáveis técnicos referidos no inciso I e aos demais membros das equipes prestadoras de serviços de auditoria independente e de auditoria interna, com referência às cooperativas singulares auditadas; III - elaborar relatório de auditoria de demonstrações financeiras, opinando sobre sua adequação às práticas contábeis adotadas no Brasil e às normas editadas pelo Banco Central do Brasil, conforme periodicidade estabelecida no art. 13, parágrafo único, inciso IV; IV - elaborar relatório de avaliação da qualidade e adequação dos controles internos, inclusive dos controles e sistemas de processamento eletrônico de dados e de avaliação de riscos, e do cumprimento de normas operacionais estabelecidas na legislação e regulamentação em vigor, devendo ser evidenciadas as irregularidades encontradas, conforme periodicidade estabelecida no art. 13, parágrafo único, inciso IV; V - manter à disposição do Banco Central do Brasil, pelo prazo mínimo de cinco anos, os documentos referidos nos incisos III e IV, os papéis de trabalho, correspondências, contratos de prestação de serviços, bem como os documentos relacionados com os trabalhos de auditoria;
VI - recomendar e adotar medidas adequadas com vistas ao restabelecimento da normalidade do funcionamento das cooperativas filiadas ou assistidas sob contrato, em face de situações de desconformidade com as normas aplicáveis ou que acarretem risco imediato ou futuro; VII - comunicar ao Banco Central do Brasil as irregularidades ou situações de exposição anormal a riscos detectadas por meio do desempenho das atribuições de que trata o art. 13, inclusive as medidas tomadas ou recomendadas pela central e eventuais obstáculos encontrados para sua implementação, dando ênfase, no caso de cooperativas filiadas, às ocorrências que indiquem possibilidade de futuro desligamento; VIII - apresentar ao Banco Central do Brasil relatório justificando ocorrências de desfiliação e de indeferimento de pedido de filiação de cooperativa singular. Art. 15. As cooperativas centrais devem comunicar ao Banco Central do Brasil, na forma a ser estabelecida por aquela Autarquia, os requisitos e critérios adotados para admitir a filiação e proceder a desfiliação de cooperativas singulares. Parágrafo único. A comunicação referida no caput deve abordar a estratégia de viabilização da filiação de cooperativas recém constituídas que ainda não atendam a possíveis requisitos relativos a porte patrimonial e estrutura organizacional, com vistas ao provimento dos serviços tratados neste capítulo. Art. 16. O Banco Central do Brasil poderá determinar à cooperativa central, cujo desempenho das atribuições tratadas neste capítulo seja considerado deficiente, a contratação de serviços de auditores independentes registrados na Comissão de Valores Mobiliários ou de outras cooperativas centrais de crédito, enquanto não forem supridas as deficiências verificadas. Art. 17. As cooperativas centrais devem designar, dentre seus administradores, responsável perante o Banco Central do Brasil pelas atividades tratadas neste capítulo. Art. 18. O Banco Central do Brasil poderá definir, com vistas ao cumprimento das disposições deste capítulo: I - critérios de inspeção e de avaliação e padrão de elaboração de relatórios; II - cooperativas singulares em relação às quais deve ser
automático o envio, à referida Autarquia, dos relatórios referidos no art. 14, incisos III e IV, e prazos a serem observados; III - condições a serem observadas com vistas à prestação de serviços, sob contrato, a cooperativas de crédito não filiadas, bem como à contratação de serviços especializados no mercado; IV - prazos para elaboração e envio de relatórios e de adequação aos requisitos estabelecidos, bem como outras condições julgadas necessárias à observância das presentes disposições. Capítulo V DO CAPITAL E DO PATRIMÔNIO Art. 19. As cooperativas de crédito devem observar os seguintes limites mínimos, em relação ao capital integralizado e ao PR: I - cooperativas centrais: a) capital integralizado de R$60.000,00 (sessenta mil reais), na data de autorização para funcionamento; b) PR de R$150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais), após três anos da referida data; c) PR de R$300.000,00 (trezentos mil reais), após cinco anos da referida data; II - cooperativas singulares filiadas a centrais, excetuadas as incluídas nos incisos III e IV: a) capital integralizado de R$3.000,00 (três mil reais), na data de autorização para funcionamento; b) PR de R$30.000,00 (trinta mil reais), após três anos da referida data; c) PR de R$60.000,00 (sessenta mil reais), após cinco anos da referida data; III - cooperativas singulares de livre admissão de associados cuja área de atuação apresente população não superior a 100 mil habitantes e cooperativas singulares de pequenos empresários, microempresários e microempreendedores:
a) capital integralizado de R$10.000,00 (dez mil reais), na data de autorização para funcionamento; b) PR de R$60.000,00 (sessenta mil reais), após dois anos da referida data; c) PR de R$120.000,00 (cento e vinte mil reais), após quatro anos da referida data; IV - cooperativas singulares de livre admissão de associados cuja área de atuação apresente população superior a cem mil habitantes: a) PR de R$6.000.000,00 (seis milhões de reais), nos casos em que a área de atuação inclua qualquer localidade dentre as referidas no § 1º; b) PR de R$3.000.000,00 (três milhões de reais), nos casos em que a área de atuação não inclua qualquer localidade dentre as referidas no § 1º; V - cooperativas singulares não filiadas a centrais: a) capital integralizado de R$4.300,00 (quatro mil e trezentos reais), na data de autorização para funcionamento; b) PR de R$43.000,00 (quarenta e três mil reais), após dois anos da referida data; c) PR de R$86.000,00 (oitenta e seis mil reais), após quatro anos da referida data. § 1º As localidades a serem consideradas, para efeito de definição do PR mínimo requerido no inciso IV, são os municípios com mais de cem mil habitantes pertencentes a Regiões Metropolitanas formadas em torno de capitais de Unidades da Federação, definidas mediante lei complementar estadual, excluídas as áreas denominadas colar metropolitano e de expansão metropolitana, não pertencentes ao núcleo metropolitano. § 2º Para as Regiões Norte e Nordeste, aplica-se redutor de 50% (cinqüenta por cento) aos limites mínimos de PR estabelecidos no inciso IV. Art. 20. Para efeito de verificação do atendimento dos limites mínimos de capital integralizado e PR das cooperativas de
crédito, devem ser deduzidos os valores correspondentes ao patrimônio líquido mínimo fixado para as instituições financeiras de que participe, ajustados proporcionalmente ao nível de cada participação. Art. 21. As cooperativas de crédito devem manter valor de PR compatível com o grau de risco da estrutura de seus ativos, passivos e contas de compensação (PLE), de acordo com normas específicas a serem editadas pelo Banco Central do Brasil. Parágrafo único. Enquanto não editadas as normas referidas no caput, permanecem aplicáveis as disposições do art. 7º do Regulamento anexo à Resolução 2.771, de 30 de agosto de 2000, e da Circular 3.147, de 4 de setembro de 2002. Art. 22. São vedadas às cooperativas de crédito: I - a integralização de quotas-partes e rateio de perdas de exercícios anteriores mediante concessão de crédito ou retenção de parte do seu valor; II - a adoção de capital rotativo, assim caracterizado o registro, em contas de patrimônio líquido, de recursos captados em condições semelhantes às de depósitos à vista e a prazo. § 1º A cooperativa de crédito cujo estatuto estabeleça critério de proporcionalidade entre o capital subscrito e o movimento financeiro pode acrescer, às operações de crédito destinadas ao financiamento das atividades produtivas do associado, recursos destinados à elevação do respectivo capital, com vistas a atingir o mínimo exigido para a concessão do financiamento. § 2º Para o cálculo do PR, deve ser excluído o saldo atualizado das operações de crédito de que trata o § 1º referentes à elevação de capital de associados. § 3º O estatuto social pode estabelecer regras referentes a resgates eventuais de quotas de capital, quando de iniciativa do associado, de forma a preservar, além do número mínimo de quotas, o cumprimento dos limites estabelecidos pela regulamentação em vigor e a integridade do capital e patrimônio líquido, cujos recursos devem permanecer por prazo suficiente para refletir a estabilidade inerente à sua natureza de capital fixo da instituição.
Capítulo VI DAS OPERAÇÕES E DOS LIMITES DE EXPOSIÇÃO POR CLIENTE
Art. 23. As cooperativas de crédito podem: I - captar depósitos, somente de associados, sem emissão de certificado; obter empréstimos ou repasses de instituições financeiras nacionais ou estrangeiras; receber recursos oriundos de fundos oficiais e recursos, em caráter eventual, isentos de remuneração ou a taxas favorecidas, de qualquer entidade na forma de doações, empréstimos ou repasses; II - conceder créditos e prestar garantias, inclusive em operações realizadas ao amparo da regulamentação do crédito rural em favor de produtores rurais, somente a associados; III - aplicar recursos no mercado financeiro, inclusive em depósitos à vista e a prazo com ou sem emissão de certificado, observadas eventuais restrições legais e regulamentares específicas de cada aplicação; IV - prestar serviços de cobrança, de custódia, de recebimentos e pagamentos por conta de terceiros sob convênio com instituições públicas e privadas e de correspondente no País, nos termos da regulamentação em vigor; V - no caso de cooperativas centrais de crédito, prestar serviços de administração de recursos de terceiros em favor de singulares filiadas, bem como serviços técnicos referentes às atribuições tratadas no capítulo IV a outras cooperativas de crédito centrais e singulares filiadas ou não; VI - proceder à contratação de serviços com objetivo de viabilizar a compensação de cheques e as transferências de recursos no sistema financeiro, de prover necessidades de funcionamento da instituição ou de complementar os serviços prestados pela cooperativa aos associados. § 1º A cooperativa de crédito singular que não participe de fundo garantidor deve obter do associado declaração de conhecimento dessa situação: I - por ocasião da respectiva abertura, para as novas contas de depósitos; II - até 30 de junho de 2004, para as contas de depósitos existentes na data da entrada em vigor desta resolução.
§ 2º A concessão de créditos e a prestação de garantias a membros de órgãos estatutários devem observar critérios idênticos aos utilizados para os demais associados. § 3º O Banco Central do Brasil pode autorizar e regulamentar outras atividades a serem desenvolvidas pelas cooperativas de crédito. Art. 24. Devem ser observados, pelas cooperativas de crédito, os seguintes limites de exposição por cliente: I - 25% (vinte e cinco por cento) do PR, por parte de todas as cooperativas de crédito, em aplicações em títulos e valores mobiliários emitidos por uma mesma empresa, empresas coligadas e controladora e suas controladas; II - 20% (vinte por cento) do PR, por parte de cooperativas centrais de crédito, em operações de crédito e de concessão de garantias com uma única cooperativa filiada; III - 10% (dez por cento) do PR, por parte de cooperativas singulares filiadas a centrais de crédito, e 5 % (cinco por cento) do PR, por parte de cooperativas de crédito singulares não filiadas a centrais de crédito, em operações de crédito e de concessão de garantias com um único associado. § 1º Não estão sujeitos aos limites de exposição por cliente os depósitos e aplicações efetuados nas cooperativas centrais pelas cooperativas filiadas, bem como os realizados no banco cooperativo pelas cooperativas acionistas. § 2º As cooperativas de crédito singulares filiadas a centrais, na realização de operações de crédito ao amparo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), em favor de associados pessoas físicas, podem adotar limite de exposição por cliente de até 20% (vinte por cento) do PR durante o primeiro ano de funcionamento e de 10% (dez por cento) após o referido prazo. § 3º Para efeito de verificação dos limites estabelecidos neste artigo, deve ser deduzido do PR o montante das participações no capital social de outras instituições financeiras. Capítulo VII DO CANCELAMENTO DA AUTORIZAÇÃO PARA FUNCIONAMENTO
Art. 25. O Banco Central do Brasil pode cancelar a autorização para o funcionamento de cooperativa de crédito que ingressar em regime de liquidação ordinária. Art. 26. O Banco Central do Brasil, esgotadas as demais medidas cabíveis na esfera de sua competência, pode cancelar a autorização para funcionamento das instituições de que trata este regulamento, quando constatada, a qualquer tempo, uma ou mais das seguintes situações: I - inatividade operacional, sem justa causa; II - instituição não localizada no endereço informado ao Banco Central do Brasil; III - interrupção, por mais de quatro meses, sem justa causa, do envio de demonstrativos financeiros exigidos pela regulamentação em vigor, àquela Autarquia; IV - descumprimento do prazo para início de atividades previsto no processo de autorização, observado o disposto no art. 5º, § 4º. § 1º O Banco Central do Brasil pode conceder prorrogação do prazo previsto para início de atividades referido no inciso IV, cabendo, nesse caso, a solicitação de quaisquer documentos e declarações visando atualização do processo de autorização. § 2º O Banco Central do Brasil, previamente ao cancelamento pelos motivos referidos neste artigo, divulgará, por meio que julgar mais adequado, sua intenção de cancelar a autorização de que se trata, com vistas à eventual apresentação de objeções, por parte do público, no prazo de trinta dias. Capítulo VIII DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 27. As cooperativas de crédito singulares não filiadas a centrais devem ter suas demonstrações financeiras relativas a encerramento de exercício social, inclusive notas explicativas exigidas pelas normas legais e regulamentares em vigor, submetidas à auditoria independente.
Parágrafo único. Para a realização dos serviços de auditoria referidos neste artigo, podem ser contratados auditores independentes registrados na Comissão de Valores Mobiliários ou cooperativas centrais de crédito. Art. 28. As cooperativas de crédito singulares não filiadas a centrais podem contratar serviços de cooperativas centrais de crédito, com vistas à implementação de sistemas de controles internos e à realização de auditoria interna exigidas pelas disposições regulamentares em vigor. Art. 29. Respeitada a legislação e a regulamentação em vigor, as cooperativas de crédito somente podem participar do capital de: I - cooperativa central de crédito, no caso de cooperativa singular; II - instituições financeiras controladas por cooperativas de crédito, de acordo com regulamentação específica; III - As cooperativas, ou empresas controladas por cooperativas centrais de crédito, que atuem exclusivamente na prestação de serviços e fornecimento de bens a instituições do setor cooperativo, desde que necessários ao seu funcionamento ou complementares aos serviços e produtos oferecidos aos associados; IV - entidades de representação institucional, de cooperação técnica ou de fins educacionais. Art. 30. É vedado aos membros de órgãos estatutários e aos ocupantes de funções de gerência de cooperativas de crédito participar da administração ou deter 5% (cinco por cento) ou mais do capital de outras instituições financeiras, exceto de cooperativas de crédito. Art. 31. Somente é permitida a reeleição, como efetivo ou suplente, de um dos membros efetivos e um dos membros suplentes do conselho fiscal de cooperativas de crédito. Art. 32. As cooperativas de crédito singulares devem manter, nas suas dependências, em local acessível e visível, publicação impressa ou quadro informativo dos direitos e deveres dos associados, contendo exposição sobre a forma de rateio das eventuais perdas e a existência ou não de cobertura de fundo garantidor de depósitos e respectivos limites.
Art. 33. As cooperativas de livre admissão de associados, em funcionamento na data da entrada em vigor desta resolução, devem observar as normas aplicáveis às cooperativas singulares referidas no art. 6º, incisos I, II e III, não sendo exigida, para a continuidade de seu funcionamento, a adequação aos requisitos específicos estabelecidos na presente resolução para as cooperativas de livre admissão de associados. Parágrafo único. Nas hipóteses de ampliação da respectiva área de atuação, bem como de instalação de Posto de Atendimento Cooperativo (PAC) e de Posto de Atendimento Transitório (PAT), as cooperativas de que trata o caput devem adequar-se aos requisitos relativos a esse tipo de cooperativas estabelecidos neste regulamento. Art. 34. As infrações aos dispositivos da legislação em vigor e deste regulamento, bem como a prática de atos contrários aos princípios cooperativistas, sujeitam os diretores e os membros de conselhos administrativos, consultivos, fiscais e semelhantes de cooperativas de crédito às penalidades da Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964, sem prejuízo de outras estabelecidas na legislação em vigor. § 1º Constatado o descumprimento de qualquer limite operacional, o Banco Central do Brasil poderá exigir a apresentação de plano de regularização contendo medidas previstas para enquadramento e respectivo cronograma de execução. § 2º Os prazos de apresentação do plano de regularização e de cumprimento das medidas para enquadramento e outras condições pertinentes serão determinados pelo Banco Central do Brasil. § 3º A implementação de plano de regularização deverá ser objeto de acompanhamento por parte de cooperativa central de crédito, ou de auditor independente, que remeterá relatórios mensais ao Banco Central do Brasil. Art. 35. O Banco Central do Brasil, com relação aos pedidos de alteração estatutária envolvendo ampliação da área de atuação ou das condições de admissão de associados, pode exigir o cumprimento dos requisitos estabelecidos nos arts. 2º a 4º. Art. 36. O Banco Central do Brasil pode: I - interromper o exame de processos de autorização ou de
alteração estatutária, caso verificada, por parte das cooperativas interessadas, situação de irregularidade com relação ao cumprimento da legislação e regulamentação em vigor, inclusive quanto aos limites operacionais e obrigações perante o Banco Central do Brasil, bem como quanto a dados registrados em qualquer sistema público ou privado de cadastro de informações, mantendo-se referida interrupção até a solução das pendências ou a apresentação de fundamentadas justificativas; II - solicitar documentos e informações adicionais que julgar necessários à decisão da pretensão; III - convocar para entrevista os associados fundadores e administradores da cooperativa de crédito singular e administradores da cooperativa central de crédito. Art. 37. O Banco Central do Brasil indeferirá os pedidos em relação aos quais for apurada: I - irregularidade cadastral contra associados fundadores ou administradores; II - falsidade nas declarações ou documentos apresentados na instrução do processo. Parágrafo único. Nos casos de que trata o inciso I, o Banco Central do Brasil concederá prazo aos interessados para que a irregularidade cadastral seja sanada ou, se for o caso, para apresentação da correspondente justificativa.