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2019 COORDENAÇÃO ROGÉRIO SANCHES CUNHA Carreiras Jurídicas Defensoria Pública Estadual Defensor Público 7ª edição Revista, ampliada e atualizada

COORDENAÇÃO Defensoria Pública Estadual...28 Rogério Sanches Cunha sequentes às violações das garantias primárias (ex: anula-bilidade dos atos inválidos e responsabilidade

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  • 2019

    COORDENAÇÃOROGÉRIO SANCHES CUNHA

    Carreiras Jurídicas

    Defensoria Pública Estadual

    Defensor Público

    7ª ediçãoRevista, ampliada e atualizada

  • Direito Penal • Questões 25

    Direito Penal

    Rogério Sanches Cunha

    TABELA DE INCIDÊNCIA DE QUESTÕES

    Distribuição das questões organizada

    por ordem didática de assuntos

    Assunto Número de Questões Peso

    1. CRIMINOLOGIA 1 0,53%

    2. CATEGORIAS DO DIREITO PENAL 1 0,53%

    3. PRINCÍPIOS 1 0,53%

    4. LEI PENAL 4 2,11%

    5. LEI PENAL NO TEMPO 1 0,53%

    6. DO CRIME 38 20,00%

    7. CULPABILIDADE 3 1,58%

    8. REGIME DE PENA 4 2,11%

    9. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS 6 3,16%

    10. APLICAÇÃO DA PENA 11 5,79%

    11. CONCURSO DE CRIMES 4 2,11%

    12. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA 3 1,58%

    13. LIVRAMENTO CONDICIONAL 4 2,11%

    14. EFEITOS DA CONDENAÇÃO 2 1,05%

    15. MEDIDAS DE SEGURANÇA 4 2,11%

    16. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 16 8,42%

    17. HOMICÍDIO 2 1,05%

    18. LESÃO CORPORAL 2 1,05%

    19. CRIMES CONTRA A HONRA 4 2,11%

    20. FURTO 10 5,26%

    21. ROUBO 4 2,11%

    22. ESTELIONATO 3 1,58%

    23. RECEPTAÇÃO 1 0,53%

    24. ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS 2 1,05%

    25. CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS 1 0,53%

    26. CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 3 1,58%

    27. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA 3 1,58%

  • Rogério Sanches Cunha26

    28. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO 1 0,53%

    29. FALSIDADE IDEOLÓGICA 1 0,53%

    30. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 5 2,63%

    31. LEGISLAÇÃO ESPECIAL 45 23,68%

    Total 190 100%

  • Direito Penal • Questões 27

    antes mesmo do seu cometimento, bastando apurar a genética do indivíduo e seus vínculos ancestrais crimino-sos.

    Alternativa “d”: A teoria da reação social tem ligação com a teoria do etiquetamento (ou labelling approach), que considera o sistema penal seletivo quanto ao estabeleci-mento dos agentes criminosos, proporcionando que a lei penal recaia com maior ênfase apenas sobre determinadas camadas da população. Nesse contexto, a reação social frente ao fato e ao agente desviante é determinante para a atuação dos órgãos institucionais.

    Alternativa “e”: o garantismo estabelece critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal, des-legitimando normas ou formas de controle social que se sobreponham aos direitos e garantias individuais. Assim, o garantismo exerce a função de estabelecer o objeto e os limites do direito penal nas sociedades democráticas, uti-lizando-se dos direitos funda mentais, que adquirem status de intangibilidade.

    Alternativa correta: letra “d”:

    2. CATEGORIAS DO DIREITO PENAL

    02. (Cespe – Defensor Público – DF/ 2013 – Adap-tada) Com relação aos conceitos, objetivos e princípios do direito penal, às penas restritivas de direitos, ao livra-mento condicional e à reincidência, julgue os itens sub-secutivos.

    A versão clássica do modelo penal garantista ideal se funda sob os princípios da legalidade estrita, da materiali-dade e lesividade dos delitos, da responsabilidade pessoal, do contraditório entre as partes e da presunção de inocên-cia.

    COMENTÁRIOS

    Assertiva: Certa

    Está correta a assertiva. No direito penal garantista, a Constituição é o fundamento de validade de todas as nor-mas infraconstitucionais, que deverão respeitar os direitos fundamentais nela consagrados. As garantias dividem-se em: (i) Primárias: são os limites e vínculos normativos impostos, na tutela do direito, ao exercício de qualquer poder (ex: proibições e obrigações, formais e substanciais); (ii) Secundárias: são as diversas formas de reparação sub-

    Direito Penal

    Rogério Sanches Cunha

    QUESTÕES

    1. CRIMINOLOGIA

    01. (FCC – Defensor Público – DPE – AM/2018 – Rea-plicação) Ficaria claro, com ele, que a maneira pela qual as sociedades e suas instituições reagem diante de um fato é mais determinante para defini-lo como delitivo ou desviado do que a própria natureza do fato (...).

    (Adaptado de: ANITUA, Gabriel Ignacio. Histórias dos pensamentos criminológicos. Rio de Janeiro: Revan, 2008, p. 588)

    A teoria criminológica descrita na passagem acima é conhecida por

    a) Escola de Chicago.

    b) Associação Diferencial.

    c) Escola Positivista.

    d) Reação Social.

    e) Garantismo Penal.

    COMENTÁRIOS

    Alternativa “a”: no âmbito da Escola de Chicago criou-se a Teoria da Ecologia Criminal ou Teoria da Desor-ganização Social, em que se adota um método empírico de estudo buscando angariar fontes de informações de diver-sos âmbitos da vida cotidiana, mas sempre ligados à estru-tura das cidades, seu crescimento e seu desenvolvimento. As cidades, assim, eram pontos cruciais para o desenvolvi-mento da Escola de Chicago.

    Alternativa “b”: a teoria da associação diferencial entende que não são apenas os mecanismos subjetivos de uma pessoa e sua formação intelectual e cultural que levariam ao cometimento do crime. Existe uma influência externa com pressão de opinião pública, meio cultural, capacidade técnica do agente, possibilidade de acesso ao tipo de crime que pretende cometer, enfim, um meca-nismo complexo de aceleração e frenagem do comporta-mento do delinquente.

    Alternativa “c”: na concepção positivista, o delin-quente está determinado a tal rumo por fatores biológicos e/ou fatores sociais. É alguém fadado a ser um criminoso. Parece possível, nessa compreensão, combater o crime

  • Rogério Sanches Cunha28

    sequentes às violações das garantias primárias (ex: anula-bilidade dos atos inválidos e responsabilidade por atos ilí-citos). O garantismo estabelece critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal, deslegitimando normas ou formas de controle social que se sobreponham aos direitos e garantias individuais. Assim, o garantismo exerce a fun-ção de estabelecer o objeto e os limites do direito penal nas sociedades democráticas, utilizando-se dos direitos fundamentais, que adquirem status de intangibilidade.

    3. PRINCÍPIOS

    03. (Cespe – Defensor Público – PR/ 2015 – Adap-tada) A respeito do objeto de estudo do direito penal, do direito penal do autor e das teorias da pena, julgue os itens seguintes.

    No direito penal do autor, o delito é visto como um sintoma de um estado do autor, mecânica ou moralmente inferior ao das pessoas consideradas normais.

    COMENTÁRIOS

    Assertiva: Certa

    Consiste o Direito Penal do autor na punição do indi-víduo baseada em seus pensamentos, desejos ou estilo de vida. É vedado diante do princípio da materialização do fato (nullum crimen sine actio), segundo o qual o Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, isto é, fatos (e nunca condições internas ou existenciais). O plu-ralismo de ideias e a ausência de preconceitos são pre-missas do Estado Democrático de Direito, de modo que não se admite a criação de tipos penais incriminadores da personalidade do cidadão. Como adverte Beccaria, “Se a intenção fosse punida, seria necessário ter não apenas um Código particular para cada cidadão, mas uma nova lei penal para cada crime”. Alertamos, no entanto, que o nosso ordenamento penal, de forma legítima, adotou o Direito Penal do fato, mas que considera circunstâncias relacionadas ao autor, especificamente quando da análise da pena (personalidade, antecedentes criminais), corolá-rio do mandamento constitucional da individualização da sanção penal.

    4. LEI PENAL

    04. (Vunesp – Defensor Público – DPE – RO/2017) O Código Penal estabelece que é crime “praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público” (CP, art. 233). Para interpretar o exato signifi-cado da expressão “ato obsceno”, deve o operador do Direito valer-se de elementos

    a) analógicos.

    b) autênticos.

    c) sociológicos.

    d) gramaticais.

    e) sintáticos.

    COMENTÁRIOS

    Alternativa “a”: está errada a assertiva. Na interpre-tação analógica, o Código, atendendo ao princípio da legalidade, detalha todas as situações que quer regular e, posteriormente, permite que aquilo que a elas seja seme-lhante possa também ser abrangido no dispositivo. É o que ocorre, por exemplo, no artigo 121, §2º, I, do Código Penal, que dispõe ser qualificado o homicídio quando cometido “mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe” (grifos aditados). Percebe-se que o legisla-dor fornece uma fórmula casuística (“mediante paga ou promessa”) e, em seguida, apresenta uma fórmula gené-rica (“ou por outro motivo torpe”). Não é disso que se trata na interpretação da expressão ato obsceno.

    Alternativa “b”: está errada a assertiva. A interpre-tação autêntica (ou legislativa) é aquela fornecida pela própria lei, a exemplo do conceito de funcionário público, trazido pelo art. 327 do Código Penal. Também não é disso que se trata, pois a lei não confere interpretação à expres-são ato obsceno.

    Alternativa “c”: está correta a assertiva. Ato obsceno tem significado relativo, modificando-se de acordo com os valores culturais inerentes à coletividade, que certamente não serão os mesmos em todo o país, além de se modifi-carem com o passar do tempo. Por exemplo, pode-se citar o beijo lascivo, que em anos passados era tido como ato ultrajante ao pudor público, mas, com a evolução dos cos-tumes, deixou-se de assim considerá-lo. Trata-se, portanto, de interpretar a expressão se valendo de elementos socio-lógicos.

    Alternativa “d”: está errada a assertiva. A interpreta-ção gramatical, filológica ou literal é a que considera o sen-tido literal das palavras, correspondente à sua etimologia. Esta forma de interpretação não é suficiente para esclare-cer o significado da expressão ato obsceno.

    Alternativa “e”: está errada a assertiva. Utilizar na interpretação elementos sintáticos equivale a efetuar a interpretação gramatical.

    Alternativa correta: letra “c”.

    05. (Cespe – Defensor Público – PR/ 2015 – Adap-tada) A respeito do objeto de estudo do direito penal, do direito penal do autor e das teorias da pena, julgue os itens seguintes.

    O direito penal, mediante a interpretação das leis penais, proporciona aos juízes um sistema orientador de decisões que contém e reduz o poder punitivo, para impul-sionar o progresso do estado constitucional de direito.

    COMENTÁRIOS

    Assertiva: Certa

    Está correta a assertiva. Temos, por exemplo, a inter-pretação conforme a Constituição, que assume nítido relevo dentro da perspectiva do Estado Democrático de Direito, em que a Constituição deve informar e conformar as normas que lhe são hierarquicamente inferiores. Esta forma de interpretação é marcada pelo confronto entre a

  • Direito Penal • Questões 29

    norma legal e a Constituição, aferindo a validade daquela dentro de uma perspectiva garantista, numa verdadeira “filtragem” à qual só resistem aqueles dispositivos que não estão em desacordo com os direitos e garantias da Carta Magna.

    06. (FMP – Defensor Público – PA/2015) Assinale a alternativa INCORRETA.

    a) Segundo entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal, a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado, se a sua vigência é anterior à ces-sação da continuidade.

    b) O princípio tempus regit actum determina que a lei penal aplicável ao fato delitivo será aquela vigente à época em que este for julgado.

    c) No caso de crime permanente, aplica-se ao crime integral a nova lei, ainda que mais gravosa, se esta entrar em vigência durante a execução da conduta criminosa.

    d) Em matéria de direito penal transitório intertempo-ral, vige a regra da retroatividade da lei penal mais benéfica.

    e) Em relação às leis temporárias, vige a regra da ultra--atividade, de modo que se aplicam aos fatos prati-cados durante a sua vigência, embora decorrido o período de sua duração.

    COMENTÁRIOS

    Alternativa correta: letra “b”: está errada a asser-tiva, pois o princípio tempus regit actum determina que se aplica, em regra, a lei penal vigente ao tempo da realiza-ção do fato criminoso. Excepcionalmente, no entanto, será permitida a retroatividade da lei penal para alcançar fatos passados, desde que benéfica ao réu.

    Alternativa “a”: está correta a assertiva. No crime continuado, se entrar em vigor lei mais grave enquanto não cessada a continuidade, aplica-se a novatio legis in pejus, conforme dispõe a súmula nº 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime per-manente, se a sua vigência é anterior à cessação da conti-nuidade ou da permanência”.

    Alternativa “c”: assim como ocorre no crime continu-ado, se entrar em vigor lei mais grave enquanto de desen-volve o crime permanente, aplica-se a novatio legis in pejus, conforme também estabelece a súmula nº 711 do STF.

    Alternativa “d”: está correta a assertiva. O artigo 5º, XL da CF/88 enuncia, como regra geral, que “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Trata-se da irretroa-tividade da lei penal, excetuada somente quando esta lei beneficia de algum modo o acusado (ou mesmo o conde-nado). Esta retroatividade da lei benéfica é determinada por razões de política criminal, autorizando que a lei nova – que deveria produzir efeitos a partir da sua entrada em vigor – produza efeitos sobre as ações ou omissões realiza-das antes de sua existência no mundo jurídico.

    Alternativa “e”: está correta a assertiva. A lei tempo-rária tem duas características essenciais: a) autorrevo-gabilidade: se consideram revogadas assim que encer-

    rado o prazo fixado; b) ultra-atividade: alcançam os fatos praticados durante a sua vigência, ainda que as circunstân-cias de prazo tenham se esvaído, uma vez que essas con-dições são elementos temporais do próprio fato típico. Observe-se que, por serem (em regra) de curta duração, se não tivessem a característica da ultra-atividade perderiam sua força intimidativa. Em outras palavras, podemos afir-mar que as leis temporárias não se sujeitam aos efeitos da abolitio criminis (salvo se houver lei expressa com esse fim).

    07. (FMP – Defensor Público – PA/2015) Assinale a alternativa CORRETA.

    a) Leis penais em branco em sentido estrito são aque-las, cuja norma de complementação é oriunda da mesma fonte legislativa que editou a norma que necessita desse complemento.

    b) A lei penal em branco é revogada em conseqüência da revogação de sua norma de complementação.

    c) Leis penais em branco em sentido amplo são aque-las leis penais, cuja norma de complementação é oriunda de fonte diversa daquela que a editou.

    d) No crime de uso de documento falso, o Código Penal brasileiro emprega a técnica de leis penais em branco ao revés, isto é, daquelas leis penais que remetem a outras normas incriminadoras para especificação da pena.

    e) As leis penais em branco consistem em modalidade de lei temporária.

    COMENTÁRIOS

    Alternativa correta: letra “d”: está correta a asser-tiva. Na norma penal em branco ao revés, o complemento refere-se à sanção, preceito secundário, não ao conteúdo proibitivo (preceito primário). Como exemplo, além do uso de documento falso, temos a Lei nº 2.889/56, que cuida do crime de genocídio, mas não comina diretamente a pena, fazendo expressa referência a outras leis no que diz res-peito a esse ponto. O complemento da norma penal em branco ao revés deverá, necessariamente, ser encontrado em lei.

    Alternativa “a”: está errada a assertiva. Na norma penal em branco própria (ou em sentido estrito ou heterogênea), o complemento normativo não emana do legislador, mas sim de fonte normativa diversa. Exemplo: a Lei nº 11.343/2006 (editada pelo Poder Legislativo) dis-ciplina os crimes relacionados com o comércio de drogas, porém a aplicabilidade dos tipos penais depende de com-plemento encontrado em portaria do Ministério da Saúde, a Portaria nº 344/2008 (editada pelo Poder Executivo).

    Alternativa “b”: está errada a assertiva. A revogação do complemento da norma penal não tem nenhum efeito sobre a vigência da lei que complementa, a não ser que, sendo também uma norma editada pelo Poder Legislativo, traga expressamente a revogação. O que a revogação do complemento pode provocar é a retroatividade para bene-ficiar os agentes que foram punidos com base no comple-mento que deixou de existir. De acordo com Alberto Silva Franco (Código penal e sua interpretação jurisprudencial.

  • Rogério Sanches Cunha30

    Parte Geral. Tomo I. v.1. 6. ed. São Paulo: RT, 1997, p. 36), cujo posicionamento foi adotado pelo STF (Cf. STF – Primeira Turma – HC 73168 – Rel. Min. Moreira Alves – DJ 15/03/1995 e STF – Segunda Turma – HC 68904 – Rel. Min. Carlos Velloso – DJ 03/04/1992) a alteração de um complemento de uma norma penal em branco homogênea (emanada do próprio legislador) sempre teria efeitos retroativos, vez que a norma complementar, como lei ordinária que é, também foi submetida a rigoroso e demorado processo legislativo. A situação, contudo, se inverte quando se tra-tar de norma penal em branco heterogênea. Neste caso, a situação se modifica para comportar duas soluções. Quando a legislação complementar não se reveste de excepcionalidade, como é caso das portarias sanitárias estabelecedoras das moléstias cuja notificação é compul-sória, pela sua característica, se revogada ou modifi-cada, poderá conduzir também à descriminalização. Já na legislação complementar de caráter excepcional, como no caso das portarias de ordem econômica (tabela-mento de preços), pela sua característica, se revogada ou modificada, não conduz à descriminalização.

    Alternativa “c”: está errada a assertiva. Norma penal em branco em sentido amplo (imprópria ou homogê-nea) é aquela em que o complemento normativo emana do próprio legislador, ou seja, da mesma fonte de produção normativa. Por motivos de técnica legislativa, o comple-mento poderá ser encontrado no próprio diploma legal ou em diploma legal diverso. Assim, teremos: a) norma penal em branco imprópria homovitelina: o complemento emana da mesma instância legislativa (norma incompleta e seu complemento integram a mesma estrutura norma-tiva). Exemplo: o artigo 312 do Código Penal trata do crime de peculato, conduta praticada por funcionário público. O conceito de funcionário público, para fins penais, está positivado em outro artigo, mais precisamente o 327, também do Código Penal; b) norma penal em branco heterovitelina: o complemento da norma emana de ins-tância legislativa diversa (norma incompleta e seu comple-mento integram estruturas normativas diversas). Exemplo: o artigo 236 do Código Penal depende de complemento encontrado no Código Civil, instância legislativa diversa. Note-se que o conceito de “impedimento” é encontrado em diploma legal distinto (Código Civil).

    Alternativa “e”: está errada a assertiva. O conceito de lei penal em branco não se confunde com o de lei tempo-rária. A primeira é aquela que depende de complemento normativo. É dizer: seu preceito primário (descrição da con-duta proibida) não é completo, dependendo de comple-mentação a ser dada por outra norma. A segunda é aquela instituída por um prazo determinado, ou seja, é a lei que criminaliza determinada conduta, porém prefixando no seu texto lapso temporal para a sua vigência. É o caso da Lei 12.663/12, que criou inúmeros crimes que buscam pro-teger o patrimônio material e imaterial da FIFA, infrações penais com tempo certo de vigência (até 31 de dezembro de 2014).

    5. LEI PENAL NO TEMPO

    08. (Vunesp – Defensor Público – MS/2014) Assinale a alternativa correta quanto ao adequado entendi-mento sobre a lei penal no tempo.

    a) De acordo com o entendimento do Supremo Tri-bunal Federal, a lei penal mais grave é aplicada ao crime continuado ou ao crime permanente se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

    b) O princípio da retroatividade da lei benéfica, escul-pido no art. 2.°, parágrafo único, do CP, não se aplica às medidas de segurança aplicadas por sentença penal transitada em julgado e em fase de execução da medida, por força do reconhecimento da semi ou total imputabilidade do agente.

    c) A abolitio criminis resulta no desaparecimento do delito e todos os seus reflexos penais e civis da sen-tença condenatória transitada em julgado.

    d) Dada a impossibilidade de reconhecimento de ofí-cio de lei mais benéfica em favor do agente, pelo juízo de conhecimento após o trânsito em julgado da sentença condenatória, a parte deve formular requerimento para o reconhecimento da lei mais benéfica ao referido Juízo.

    COMENTÁRIOS

    Alternativa correta: letra “a”: está correta a asser-tiva. No crime continuado e no crime permanente, se entrar em vigor lei mais grave enquanto não cessada a con-tinuidade ou a permanência, aplica-se a novatio legis in pejus, conforme dispõe a súmula nº 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime per-manente, se a sua vigência é anterior à cessação da conti-nuidade ou da permanência”.

    Alternativa “b”: está errada a assertiva. De acordo com o art. 2º do Código Penal, “A lei posterior, que de qual-quer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos ante-riores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”. Não importa, para a retroatividade benéfica, se houve aplicação de pena ou de medida de segurança.

    Alternativa “c”: está errada a assertiva. Os efeitos extrapenais, positivados nos artigos 91 e 92 do Código Penal, não serão alcançados pela lei descriminalizadora. Assim, mesmo com a revogação do crime, subsiste, por exemplo, a obrigação de indenizar o dano causado, enquanto que os efeitos penais terão de ser extintos, retirando-se o nome do agente do rol dos culpados, não podendo a condenação ser considerada para fins de rein-cidência ou de antecedentes penais.

    Alternativa “d”: depois do trânsito em julgado, surge a questão a respeito de qual o juiz competente para apli-car a lei penal mais benéfica. A resposta a esse questiona-mento dependerá do conteúdo da lei penal benéfica. Se a sua aplicação depender de mera operação matemática, o juiz da execução da pena é competente para aplicá-la. Por outro lado, se for necessário juízo de valor para apli-

  • Direito Penal • Questões 31

    cação da lei penal mais favorável, o interessado deverá ajuizar revisão criminal (art. 621 do CPP) para desconstituir o trânsito em julgado e aplicar a lei nova. Dessa maneira, podemos dizer que a súmula nº 611 do STF, dispondo que “transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juiz da execução a aplicação de lei mais benigna”, é incompleta, já que, se a lei mais benigna implicar juízo de valor, competirá ao juízo revisor, ou seja, àquele responsá-vel pelo julgamento da revisão criminal.

    6. DO CRIME

    6.1. CLASSIFICAÇÃO DE CRIMES

    09. (FCC – Defensor Público – DPE – AP/2018) Nos crimes comissivos por omissão,

    a) pelo critério nomológico, violam-se normas man-damentais.

    b) a tipicidade é a do tipo comissivo, mas pode tam-bém, excepcionalmente, ser a do tipo omissivo.

    c) a falta do poder de agir gera atipicidade da con-duta.

    d) são delitos de mera atividade, que se consumam com a simples inatividade.

    e) no caso de ingerência, a conduta anterior deve ser a produtora do dano ou lesão.

    COMENTÁRIOS

    Alternativa “a”: o critério nomológico se relaciona com o método empírico, que se baseia na análise e obser-vação da realidade. Nas palavras de José Francisco Cus-tódio Filho, “Tal modelo [critério nomológico] baseia-se na idéia que uma explicação é um argumento no qual a conclusão é uma descrição do fenômeno a ser explicado, o explanandum, e cujas premissas, que formam o chamado explanans, são de dois tipos: (a) aquelas que descrevem determinados fatos particulares relacionados com o fenô-meno a ser explicado, e (b) aquelas que descrevem regu-laridades na natureza, expressas por meio de leis gerais” (Explicando explicações na educação científica: domínio cognitivo, status afetivo e sentimento de entendimento, tese de doutorado, Florianópolis, 2007). Com base em observação empírica, toda omissão seria própria, daí o erro de associar o critério nomológico aos crimes comissivos por omissão.

    Alternativa “b”: Ao contrário do crime omissivo pró-prio, nas hipóteses de omissão impura o tipo pe nal infrin-gido pelo omitente descreve conduta comissiva, como se tivesse causado o resul tado. O omitente conquista o evento comissivamente incriminado por meio de um não fazer, de uma abstenção ou omissão. Da mesma forma que se pode matar uma criança por meio de asfixia, tam-bém é possível chegar a esse mesmo resultado porque se deixa de socorrê-la (omissão). Se o omitente tinha o dever jurídico de impedir a morte do menor, responderá por homicídio (e não simples omissão de socorro). Ocorre uma subsunção indireta entre fato (omis são) e norma (tipo que descreve uma ação).

    Alternativa “c”: Não se presume a responsabilidade penal simplesmente em razão da omissão por parte de quem estava obrigado ao contrário. Impõe-se a análise concreta dos acontecimentos para esta belecer se, naque-las circunstâncias, havia a possibilidade de o agente atuar para afastar a ocorrência do resultado lesivo ao bem jurí-dico que devia proteger. É fato, por exemplo, que o médico encarregado do pronto socorro a paciente em situação de emergência deve atuar para reverter a situação e preservar a vida daquela pessoa. Não se pode, entretanto, imputar--lhe a responsabilidade pela morte de alguém que não atendeu porque, naquele momento, dispensava sua aten-ção a outra pessoa em situação semelhante.

    Alternativa “d”: A consumação dos crimes comissivos por omissão pressupõe a ocorrência do resultado lesivo que o agente estava obrigado a evitar.

    Alternativa “e”: Verifica-se a ingerência na situação disposta no art. 13, § 2º, c, do CP, em que o agente tem o dever de agir se, com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Vê-se que não se exige que a conduta anterior seja a provocadora do resultado, mas sim que tenha criado o risco de sua ocorrência. Se a conduta em si provoca o resultado, estamos diante de um crime comissivo.

    Alternativa correta: letra “c”.

    10. (Cespe – Defensor Público – DPE – PE/2018) Com relação à classificação dos crimes, julgue os itens a seguir.

    I. Denomina-se crime plurissubsistente o crime cometido por vários agentes.

    II. Se o sujeito fizer tudo o que está ao seu alcance para a consumação do crime, mas o resultado não ocorrer por circunstâncias alheias a sua vontade, configura-se crime falho.

    III. Havendo, em razão do tipo, dois sujeitos passivos, o crime é denominado vago.

    IV. Crime habitual cometido com ânimo de lucro é denominado crime a prazo.

    V. Crime praticado por intermédio de automóvel é denominado delito de circulação.

    Estão certos apenas os itens

    a) I e II.

    b) I e IV.

    c) II e V.

    d) III e IV.

    e) III e V.

    COMENTÁRIOS

    Item I: está errada a assertiva. Crime plurissubsistente é aquele cuja conduta pode ser fracionada em diversos atos. O crime que deve ser cometido por vários agentes é denominado plurissubjetivo.

    Item II: está correta a assertiva. Dá-se o crime falho (tentativa perfeita ou acabada) quando o agente, apesar de praticar todos os atos executórios à sua disposição, não

  • Rogério Sanches Cunha32

    consegue consumar o crime por circunstâncias alheias à sua vontade.

    Item III: está errada a assertiva. Crime vago é o que não tem sujeito passivo definido, que atinge, por exemplo, a coletividade. O crime que, em razão das características do tipo, tem dois sujeitos passivos é denominado crime de dupla subjetividade passiva.

    Item IV: está errada a assertiva. Crime a prazo é aquele que consuma apenas com o decurso de determinado perí-odo, como ocorre com a apropriação de coisa achada, que se consuma se o agente que acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixa de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor, ou de entregá-la à autori-dade competente, dentro no prazo de quinze dias.

    Item V: está correta a assertiva. O crime de circulação é aquele cometido por meio de um automóvel.

    Alternativa correta: letra “c”.

    11. (Cespe – Defensor Público – DPE – AC/2017) No que tange à classificação dos delitos,

    a) os crimes de mão própria possuem uma prévia limitação, de natureza normativa, quanto à possibi-lidade de autoria de indivíduos não contemplados pelo tipo penal.

    b) o crime de favorecimento à prostituição é classi-ficado como crime instantâneo de habitualidade preexistente.

    c) o agente responderá, no tipo misto alternativo, por todos os crimes que sua conduta alcançar, atin-gindo mais de um núcleo enunciado na norma.

    d) o crime de prevaricação é classificado como delito especial próprio e, quando praticado por agente estranho à administração pública, encontra corre-lação com outra conduta tipificada em dispositivo penal diverso.

    e) a multiplicidade de condutas por parte do agente, uma vez que existe mais de um núcleo, torna-se obrigatória no tipo misto cumulativo, para que o delito seja consumado.

    COMENTÁRIOS

    Alternativa “a”: está errada a assertiva, porque a limi-tação quanto à possibilidade de autoria de indivíduos não contemplados pelo tipo penal nos crimes de mão própria tem natureza descritiva, não normativa. Os elementos objetivos descritivos são identificados por descreverem os aspectos materiais da conduta, como objetos, tempo, lugar, forma de execução. São elementos que não depen-dem de valoração para a inteligência do seu significado, ao contrário dos normativos.

    Alternativa “b”: está errada a assertiva. Nas moda-lidades induzir, atrair e facilitar consuma-se o delito de favorecimento da prostituição no momento em que a vítima passa a se dedicar à prostituição ou outra forma de exploração sexual, colocando-se, de forma constante, à disposição dos clientes, ainda que não tenha atendido nenhum. Trata-se de crime instantâneo, pois as ações

    nucleares induzir, atrair e facilitar não exigem reiteração de atos. Não se trata de crime instantâneo de habitualidade preexistente, que, nas palavras de Nucci, é “a figura típica passível de concretização pela prática de uma única con-duta, com resultado instantâneo, embora exija, para tanto, o desenvolvimento habitual de outro comportamento pre-existente. É o que ocorre no caso de venda de mercadoria de procedência estrangeira, introduzida clandestinamente no País, no exercício de atividade comercial (art. 334, § 1.º, c, CP). Não existindo anteriormente a prática habitual de atividade empresarial, não se configura o delito nesse tipo penal previsto, embora seja ele instantâneo” (Manual de Direito Penal. 10ª ed. São Paulo: RT, 2014, p. 145).

    Alternativa “c”: está errada a assertiva. O tipo misto é alternativo quando a lei estabelece diversos núcleos que, se praticados no mesmo contexto fático, caracterizam o cometimento de apenas um delito. No tráfico de drogas, por exemplo, se “A” importa a pasta base de cocaína, pre-para a substância e expõe o produto final à venda, será punido por apenas um delito, embora, no caso, a pena possa ser aumentada com base nas circunstâncias judiciais.

    Alternativa “d”: está errada a assertiva. A prevarica-ção é crime próprio puro, pois só pode ser cometido por funcionário público e não encontra figura típica seme-lhante para punir a conduta de quem não ostenta a mesma qualidade.

    Alternativa “e”: não obstante tenha sido considerada correta, a assertiva está equivocada. O tipo é misto cumula-tivo quando a lei estabelece várias condutas nucleares que, se praticadas seguidamente, ainda que em contexto único, ensejam o concurso material. É o caso, por exemplo, do art. 198 do Código Penal, que pune as condutas de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola. A multiplicidade de condutas não é, portanto, obrigatória para que ocorra a consumação. Se o agente cometer uma ação nuclear, responderá por um crime con-sumado; se praticar mais de uma, haverá concurso.

    Alternativa correta: letra “e”.

    12. (UFMT – Defensor Público – DPE – MT/2016) Em relação aos crimes, é INCORRETO afirmar:

    a) Crimes de mera conduta são de consumação ante-cipada.

    b) Nos denominados crimes materiais, o tipo penal descreve a conduta e o resultado naturalístico exi-gido.

    c) No crime preterdoloso, a totalidade do resultado representa um excesso de fim (isto é, o agente quis um minus e ocorreu um majus), de modo que há uma conjugação de dolo (no antecedente) e culpa (no subsequente).

    d) Crimes de forma livre são aqueles que admitem qualquer meio de execução.

    e) Crimes transeuntes são aqueles que não deixam vestígios materiais.

  • Direito Penal • Questões 33

    COMENTÁRIOS

    Alternativa correta: letra “a”: está errada a assertiva. Os crimes de mera conduta são aqueles em que o tipo penal descreve apenas a conduta delituosa, sem sequer mencionar resultado naturalístico. Pune-se aqui pela sim-ples atividade, como, por exemplo, na violação de domi-cílio (art. 150, CP). Os crimes de consumação antecipada são os formais, nos quais apesar de o tipo penal descrever conduta e resultado naturalístico, este é dispensável para a consumação.

    Alternativa “b”: está correta a assertiva. São crimes materiais aqueles em que o tipo penal descreve conduta e resultado naturalístico (necessária modificação no mundo exterior), sendo indispensável a sua ocorrência para haver consumação. A conduta e o resultado são cronologica-mente separados. É o que ocorre, por exemplo, com o homicídio (art. 121 do CP).

    Alternativa “c”: está correta a assertiva. No crime preterdoloso, o agente pratica delito distinto do que havia projetado cometer, advindo da conduta dolosa resultado culposo mais grave do que o projetado. O comportamento é doloso, mas o resultado (mais grave) é involuntário. Cui-da-se, portanto, de figura criminosa híbrida, havendo ver-dadeiro concurso de dolo e culpa no mesmo fato (dolo no antecedente – conduta – e culpa no consequente – resul-tado).

    Alternativa “d”: está correta a assertiva. O crime de execução livre é aquele que admite variadas formas para a prática da conduta típica, como o homicídio, cometido por golpes de faca, disparo de arma de fogo, envenenamento, esganadura etc.

    Alternativa “e”: está correta a assertiva. O delito de fato transeunte não permite constatação mediante análise de vestígios, pois não os exibe. Ex.: injúria cometida por meio de palavras.

    6.2. TEORIA DO DELITO

    13. (FCC – Defensor Público – DPE – RS/2018) O afas-tamento da tipicidade, quando verificada lesão penal-mente irrelevante decorrente de conduta formalmente incriminada, dá-se por:

    a) princípio da adequação social.

    b) princípio da intervenção mínima.

    c) princípio da humanidade das sanções.

    d) princípio da insignificância.

    e) ineficácia absoluta do meio ou absoluta improprie-dade do objeto (crime impossível).

    COMENTÁRIOS

    Alternativa “a”: segundo o princípio da adequação social, apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal, não será considerada típica se for socialmente ade-quada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente condicionada. Não é o caso das situações em que normalmente se considera irre-

    levante a lesão, decorrente de conduta socialmente repro-vável, mas que se opta por não punir.

    Alternativa “b”: destinada especialmente ao legisla-dor, a intervenção mínima é um princípio geral segundo o qual o Direito Penal só deve ser cogitado quando estri-tamente necessário, de modo que a sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle (caráter subsidiário), observando somente os casos de rele-vante lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente tute-lado (caráter fragmentário). A lesão penalmente irrelevante é analisada sob a perspectiva de um dos desdobramentos da intervenção mínima: a fragmentariedade.

    Alternativa “c”: de acordo com o princípio da huma-nidade das penas, a ninguém pode ser imposta pena ofensiva à dignidade da pessoa humana, vedan do-se reprimenda indigna, cruel, desumana ou degradante. Este mandamento guia o Estado na criação, aplicação e execu-ção das leis penais.

    Alternativa “d”: O princípio da insignificância é um instrumento segundo o qual se permite a análise da rele-vância da lesão ao bem jurídico tutelado. Mesmo em situ-ações em que abstratamente se justifica a tutela penal de determinado bem jurídico, é possível que a conduta con-cretamente considerada provoque uma lesão irrelevante que não justifique a incidência do Direito Penal. É o caso, por exemplo, da subtração de uma folha de papel em branco, que em tese caracteriza o crime de furto, mas, na prática, não atinge de forma relevante o patrimônio. Neste caso, o princípio da insignificância exclui a tipicidade mate-rial.

    Alternativa “e”: não existe relação entre irrelevância da lesão e crime impossível, que somente pode ser con-siderado se o meio eleito pelo agente for absolutamente ineficaz ou se o objeto material visado for absolutamente impróprio para sofrer as consequências da conduta. Se houve lesão ao bem jurídico, ainda que irrelevante, não se verifica nenhuma das situações de crime impossível.

    Alternativa correta: letra “d”.

    14. (UFMT – Defensor Público – DPE – MT/2016) O princípio da insignificância ou da bagatela exclui a

    a) punibilidade.

    b) executividade.

    c) tipicidade material.

    d) ilicitude formal.

    e) culpabilidade.

    COMENTÁRIOS

    Alternativa correta: letra “c” (responde, também, as demais alternativas): está correta a assertiva. Como desdobramento lógico da fragmentariedade, temos o princípio da insignificância. Ainda que o legislador crie tipos incriminadores em observância aos princípios gerais do Direito Penal, poderá ocorrer situação em que a ofensa concretamente perpetrada seja diminuta, isto é, que não seja capaz de atingir materialmente e de forma relevante e intolerável o bem jurídico protegido. Nesses casos, esta-

  • Rogério Sanches Cunha34

    remos diante do que se denomina “infração bagatelar”, ou “crime de bagatela”. A doutrina entendia a tipicidade como sendo a subsunção da conduta empreendida pelo agente à norma abstratamente prevista. Essa adequação conduta--norma é denominada de “tipicidade formal”. A tendência atual, todavia, é a de conceituar a tipicidade penal pelo seu aspecto formal aliado à tipicidade conglobante. A tipi-cidade conglobante, por sua vez, deve ser analisada sob dois aspectos: a) se a conduta representa relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico (tipicidade material); b) se a conduta é determinada ou fomentada pelo direito penal (antinormatividade). Assim, não basta a existência de previsão abstrata a que a conduta empreendida se amolde perfeitamente, sendo necessário que essa conduta não seja fomentada e que atente de fato contra o bem jurídico tutelado. Deverá ser feito um juízo entre as consequências do crime praticado e a reprimenda a ser imposta ao agente. O princípio da insignificância tem lugar justamente neste primeiro aspecto da tipicidade conglobante, a tipicidade material.

    15. (FCC – Defensor Público – DPE – BA/2016) Sobre a evolução das Escolas Penais,

    a) a estrutura do delito no causal-naturalismo tem por característica a presença de elementos subjetivos no tipo.

    b) a transformação realizada pelo finalismo na teoria do delito consiste, principalmente, na relevância atribuída à vontade e aos aspectos subjetivos da culpabilidade.

    c) a necessidade de associação das categorias do delito a um fundamento material de ofensa ao bem jurídico é uma das bases do funcionalismo de Claus Roxin.

    d) o funcionalismo teleológico de Günther Jakobs impossibilitou a construção de mecanismos de imputação baseados no direito penal do autor.

    e) a base ontológica do funcionalismo permitiu a construção da teoria da imputação objetiva.

    COMENTÁRIOS

    Alternativa correta: letra “c”: está correta a assertiva. Desenvolvido a partir de 1970, com a obra “Política Crimi-nal e Sistema Jurídico-Penal” (Claus Roxin), o funcionalismo rompe com o finalismo (trata-se de um rompimento con-ceitual, não estrutural) na medida em que visa a superar as concepções meramente ontológicas daquela corrente. Com isso, Roxin redimensiona a incidência do Direito Penal, reduzindo o alargado alcance que a tipicidade for-mal lhe conferia até então. Se a missão do Direito Penal é proteger os valores essenciais à convivência social harmô-nica, a intervenção mínima deve nortear a sua aplicação, consagrando como típicos apenas os fatos materialmente relevantes. A teoria do delito deve ser reconstruída com lastro em critérios políticos criminais. Com razão, explica Luis Greco: “O finalismo pensa que a realidade é unívoca (primeiro engano), e que basta conhecê-la para resolver os problemas jurídicos (segundo engano – falácia natura-lista); o funcionalista admite serem várias as interpretações

    possíveis da realidade, de modo que o problema jurídico só pode ser resolvido através de considerações axiológi-cas, isto é, que digam respeito à eficácia e a legitimidade da atuação do Direito Penal” (Introdução à dogmática fun-cionalista do delito. Porto Alegre: Revista Jurídica, Jul. 2000, p. 39). Deste modo, o funcionalismo teleológico ou mode-rado propõe que se entenda a conduta como comporta-mento humano voluntário, causador de relevante e into-lerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Estruturalmente, ensina Claus Roxin que o crime é composto também de três substratos, sendo eles: fato típico, antijuridicidade e responsabilidade. A culpabi-lidade, portanto, deixa de integrar (diretamente) o crime, figurando, sob a ótica do autor, como limite funcional da pena (culpabilidade funcional).

    Alternativa “a”: está errada a assertiva. Para a teoria causalista, o conceito analítico de crime é composto por três partes: fato típico, antijuridicidade e culpabilidade. É somente no terceiro substrato do crime que se deve ana-lisar, segundo o causalismo, o dolo ou culpa. A culpabili-dade, conceituada como vínculo psíquico entre o autor e o resultado, seria composta de dois elementos: a imputa-bilidade e a culpabilidade dolosa ou a culpabilidade cul-posa. Já que a culpabilidade é o elemento valorativo do conceito de crime causalista, o dolo será denominado de dolo normativo (em oposição aos finalistas, que adotarão o dolo natural).

    Alternativa “b”: está errada a assertiva. A teoria fina-lista concebe a conduta como comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim. A finalidade, portanto, é a nota distintiva entre esta teoria e as que lhe antecedem. É ela que transformará a ação num ato de vontade com conteúdo, ao partir da premissa de que toda conduta é orientada por um querer. Supera-se, com esta noção, a “cegueira” do causalismo, já que o finalismo é nitidamente “vidente” (dizia-se “cego” o causalismo por-que a conduta, para esta corrente, não enxerga nada – não se destina a um fim). Os finalistas entendem o crime como fato típico, antijurídico e culpável. A grande mudança estrutural se opera na culpabilidade. De fato, dolo e culpa migram para o fato típico, o que rendeu críticas ao fina-lismo – que teria “esvaziado” a culpabilidade.

    Alternativa “d”: está errada a assertiva. O funciona-lismo de Günther Jakobs não é o teleológico, mas o radical ou sistêmico. As premissas sobre as quais se funda o fun-cionalismo sistêmico deram ensejo à exumação da teoria do Direito Penal do Inimigo, representando a construção de um sistema próprio para o tratamento do indivíduo con-siderado “infiel ao sistema”. Considera que àquele que se dedica a determinados crimes não se deve garantir o status de cidadão; esse indivíduo merece, ao revés, punição espe-cífica e severa, uma vez que o seu comportamento põe em risco, de forma ímpar, a integridade do sistema penal. Uma de suas características é a preponderância do direito penal do autor em contraposição ao direito penal do fato (flexibi-lizando o princípio da exteriorização do fato).

    Alternativa “e”: está errada a assertiva porque o fun-cionalismo não tem base ontológica, mas teleológica. As teorias funcionalistas surgiram superando a visão ontoló-gica do causalismo e do finalismo, nascendo da percepção

  • Direito Penal • Questões 35

    de que o Direito Penal tem necessariamente uma missão e que os seus institutos devem ser compreendidos de acordo com ela. São teorias funcionalistas na medida em que constroem o Direito Penal a partir da função que lhe é conferida. Visualizam o Direito Penal como uma função inserida na ordem jurídica.

    16. (Cespe – Defensor Público – PR/ 2015 – Adap-tada) A respeito do conflito aparente de normas penais, dos crimes tentados e consumados, da tipicidade penal, dos tipos de imprudência e do arrependimento poste-rior, julgue os itens seguintes.

    A coação física irresistível configura hipótese jurídi-co-penal de ausência de conduta, engendrando, assim, a atipicidade do fato.

    COMENTÁRIOS

    Assertiva: Certa

    Está correta a assertiva. Ocorre a coação física irre-sistível nas hipóteses em que o agente, em razão de força física externa, é impossibilitado de determinar seus movi-mentos de acordo com sua vontade. Imaginemos, por exemplo, que um sujeito, com dever de agir para impedir determinado resultado, seja amarrado e, consequente-mente, impossibilitado de evitar que ocorra o resultado lesivo. Em primeira análise, a sua omissão configuraria o crime omissivo impróprio decorrente da sua condição de garantidor. Entretanto, a ausência de conduta impede a caracterização do crime.

    Alertamos que a coação física não se confunde com a coação moral irresistível (vis compulsiva), havendo, nesse caso, o emprego de grave ameaça. Na coação moral é con-ferida ao coagido a possibilidade de escolha, entre cumprir o ato determinado pelo coator ou sofrer as consequências danosas por ele prometidas. Diferentemente da física, na moral temos conduta, porém não livre, questão a ser anali-sada no campo da culpabilidade.

    17. (UFPR – Defensor Público – PR/2014) Segundo a teoria da tipicidade conglobante, o fato não é típico por falta de lesividade:

    1. quando se cumpre um dever jurídico.

    2. quando, para defender um bem ou valor próprio, o agente sacrifica bem ou valor alheios de menor magnitude.

    3. quando se pratica uma ação fomentada pelo direito.

    4. quando há o consentimento do titular do bem jurí-dico.

    5. quando o agente pratica a conduta em legítima defesa putativa.

    Assinale a alternativa correta.

    a) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

    b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.

    c) Somente as afirmativas 1, 2, 4 e 5 são verdadeiras.

    d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.

    e) Somente as afirmativas 3 e 5 são verdadeiras.

    COMENTÁRIOS

    Alternativa correta: letra “d” (responde, também, as demais alternativas): a tipicidade conglobante se orga-niza no sentido de harmonizar os diversos ramos do Direito num verdadeiro ordenamento jurídico, pois a proibição de comportamentos determinados ou incentivados é incoe-rente e deve ser afastada. Por isso, condutas praticadas em razão de um dever jurídico (oficial de justiça que apreende um bem), no exercício de um direito fomentado (pugilista que agride o adversário) ou sob o consentimento do titular de um bem jurídico disponível (tatuagens ou adornos cor-porais) devem ser considerados, antes de lícitas, atípicas, pois não há antinormatividade que as caracterize.

    18. (Vunesp – Defensor Público – MS/2014) Conside-rando a teoria do crime, assinale a alternativa correta.

    a) Conforme entendimento jurisprudencial, é sufi-ciente para fundamentar a aplicação do princípio da insignificância a presença de um dos seguintes elementos: mínima ofensividade da conduta do agente, ínfima periculosidade da ação, ausência total de reprovabilidade do comportamento e mínima expressividade da lesão jurídica.

    b) O abolicionismo, ou minimalismo penal, propõe a eliminação total da pena de prisão como meca-nismo de controle social e sua substituição por outro mecanismo de controle.

    c) A teoria constitucionalista do delito preconiza que o direito penal somente poderá ser aplicado diante de condutas capazes de causar lesão (ou perigo de lesão) concreta e intolerável aos bens jurídicos com relevância penal.

    d) Idealizado por Günter Jakobs, o direito penal do inimigo é considerado um direito penal de terceira velocidade, por utilizar a pena privativa de liber-dade, mas, também, permitir a flexibilização de garantias materiais e processuais de todos integran-tes da sociedade, podendo, inclusive, ser observado no direito brasileiro alguns institutos da lei que trata dos crimes hediondos.

    COMENTÁRIOS

    Alternativa correta: letra “c”: está correta a assertiva. A teoria constitucionalista do delito, que refuta o Direito Penal estritamente legalista, é construída basicamente em cinco aspectos: a) a tipicidade deixa de ser simplesmente formal. A partir desta teoria, a tipicidade penal é formal + material; b) não há crime sem lesão ou ao menos perigo concreto de lesão a bem jurídico tutelado pela norma penal; c) o aspecto material da tipicidade é fundamen-tado no juízo de desaprovação da conduta e no desvalor do resultado jurídico; d) a criação de risco permitido ou proibido não reflete a teoria da imputação objetiva, mas integra o juízo de valoração da conduta; e) estabelece nova denominação aos elementos que integram a tipicidade, que passam de objetivo e subjetivo a formal, material e subjetivo.

  • Rogério Sanches Cunha36

    Alternativa “a”: está errada a assertiva. Os elementos elencados devem estar simultaneamente presentes para que tenha lugar o princípio da insignificância (STF: HC 136.896/MS, DJe 20/02/2017).

    Alternativa “b”: abolicionismo e minimalismo não são sinônimos e têm propostas distintas. O primeiro des-taca a desnecessidade do direito penal encarando-o mais como uma fonte de problemas sociais do que como uma forma efetiva de pacificação. O segundo, embora surja baseado em críticas semelhantes, não prega a eliminação da pena criminal, mas sua reserva aos casos em que seja imprescindível a segregação.

    Alternativa “d”: de acordo com o funcionalismo sistê-mico (ou radical), defendido por Günther Jakobs, a função do Direito Penal é a de assegurar o império da norma, ou seja, resguardar o sistema, mostrando que o direito posto existe e não pode ser violado. Quando o Direito Penal é chamado a atuar, o bem jurídico protegido já foi violado, de modo que sua função primordial não pode ser a segu-rança de bens jurídicos, mas sim a garantia de validade do sistema. Nesta linha de raciocínio, para Jakobs “aquele que se desvia da norma por princípio não oferece qualquer garantia de que se comportará como pessoa; por isso, não pode ser tratado como cidadão, mas deve ser combatido como inimigo”. Surge assim o Direito Penal do Inimigo, cui-dando de maneira própria o infiel ao sistema (não todos os integrantes da sociedade, como aponta a assertiva), apli-cando-se lhe não o Direito, “vínculo entre pessoas que, por sua vez, são titulares de direitos e deveres”, mas sim a coa-ção, repressão necessária àqueles que perderam o seu sta-tus de cidadão (JAKOBS, Günther. Direito Penal do Inimigo. Trad. Gercélia Batista de Oliveira Mendes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 23). O inimigo da contemporanei-dade é, para Jakobs, o terrorista, o traficante de drogas, de armas e de seres humanos, os membros de organizações criminosas transnacionais.

    6.3. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

    19. (FCC – Defensor Público – DPE – AP/2018) A imputação como ferramenta da teoria do delito,

    a) tem aplicação apenas aos delitos culposos, já que nos tipos dolosos seu papel é satisfatoriamente ocupado pela teoria do dolo.

    b) a referência a ela corresponde a uma terminologia recente, atravessando importantes altos e baixos em seu uso, ou no espaço ocupado como centro das diferentes doutrinas.

    c) tem por pressuposto a menor relevância do nexo de causalidade natural em relação a quem se deve atribuir a ação ou o resultado como típicos.

    d) ainda é vista majoritariamente como nebulosa, e constitui uma categoria na qual se procuram reu-nir todos aqueles pro blemas que carecem de uma posição sistemática clara.

    e) possui aplicação nos delitos denominados pela doutrina brasileira como de mera conduta, nos mol-des desenvolvidos por Claus Roxin, por configurar

    uma teoria funcional sem vinculação ao aspecto subjetivo.

    COMENTÁRIOS

    µ Nota do autor: embora o enunciado não deixe claro, as assertivas nos levam à conclusão de que a questão trata da teoria da imputação objetiva.

    Alternativa “a”: está errada a assertiva. A teoria da imputação objetiva tem aplicação tanto em crimes dolosos quanto em crimes culposos, tendo em vista que se propõe a inserir novos critérios de imputação do resultado relativa-mente ao nexo causal, não ao elemento subjetivo.

    Alternativa “b”: não se trata de terminologia recente, pois, como destacamos nos comentários à assertiva cor-reta, sua elaboração remonta ao menos ao início do século XX.

    Alternativa “c”: está correta a assertiva. Desenvolvida por Karl Larenz (1927) e Richard Honig (1930) – e atual-mente rea presentada por Claus Roxin e Günther Jakobs –, a teoria da imputação objetiva, apesar do que sugere sua denominação, não se propõe a atribuir objetivamente o resultado ao agente, mas justamente delimitar essa impu-tação, evitando o regresso ao infinito gerado pela causa-lidade simples (teoria da equivalência dos antecedentes causais) e aprimorando a causalidade adequada. A impu-tação objetiva determina que sejam considerados, além do nexo físico (causa/efeito), também critérios normativos no mo mento da atribuição do resultado, pois, de acordo com a causalidade vigente, situações absurdas proporcio-nadas pela conditio sine qua non (e, não raras vezes, pela causalidade adequada) somente são evitadas em razão da análise do dolo e da culpa. Tais elementos são a criação ou incremento de um risco proibido e a realização desse risco no resultado.

    Alternativa “d”: está errada a assertiva, em primeiro lugar, porque não se trata de teoria vista como “nebulosa” pela doutrina mais abalizada, como a de Claus Roxin e de Günther Jakobs. Além disso, como já vimos nos comen-tários à assertiva correta, sua proposta não é a de reunir pro blemas que carecem de uma posição sistemática clara.

    Alternativa “e”: está errada a assertiva, pois a pro-blemática envolvendo a imputação do resultado – que é a que se dedica a teoria da imputação objetiva – só tem relevância em face de crimes materiais, em que há resul-tado naturalístico.

    Alternativa correta: letra “c”.

    20. (FMP – Defensor Público – PA/2015) A é esfaque-ada por B, sofrendo lesões corporais leves. Socorrida e medicada, A é orientada quanto aos cuidados a tomar, mas não obedece à prescrição médica e em virtude dessa falta de cuidado, o ferimento infecciona, gan-grena, e ela morre. Assinale a alternativa CORRETA.

    a) B responde pelo resultado morte, visto se tratar de causa superveniente absolutamente indepen-dente.