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Coordenação científica e autoria: Alan da Costa Macedo e Juliana Benicio

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Coordenação científi ca e autoria:

Alan da Costa Macedo e Juliana Benicio

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Direção do SITRAEMGGestão 2014/2017

Autoria e coordenação científica: Alan da Costa Macedo e Juliana Benício. Coordenadores Gerais: Alan da Costa Macedo, Alexandre Magnus Melo Martins e lgor Yagelovic. Coordenadores Executi-vos: Daniel de Oliveira, Etur Zehuri, Evandro, Antônio da Silva, Geraldo Correia da Cruz, Nilson Jorge de Moraes e Vilma Oliveira Lourenço. Coordenadores de Finanças: Célio lzidoro Rosa e João Baptista Sellera Bárbaro. Coordenadores Regionais: Dinali Savis de Souza, Dirceu José dos Santos, Henrique Olegário Pacheco, Lin-dolfo Alves de Carvalho Neto, Mário Alves e Sandro Luis Pacheco. Revisão: Gil Carlos Dias. Projeto gráfico e diagramação: Diogo França. Impressão: Silva Lara. Tiragem: 250 exemplares

A NOVA PROPOSTA DE REFORMA DA PREVIDÊNCIA E A IRRESIGNAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA

A visão do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal no Estado de Minas Gerais

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INTRODUÇÃO

“Precisamos reformar a previdência”: esta é uma chamada que está na pauta das discussões políticas desde, pelo menos, o go-verno Fernando Henrique Cardoso (1995–2002). Justifica-se tal necessidade sob a alegação de um suposto rombo, partindo-se do argumento de que se gasta mais do que se arrecada na previdência social brasileira, em função do aumento da expectativa de vida e do consequente envelhecimento da população, bem como em razão do crescimento demográfico.

Nascemos demais, morremos de menos! O ajuste proposto está diretamente ligado a uma visão segmentada da sociedade, cunhan-do de individual um problema eminentemente social.

Com o mesmo modus operandi de lideranças anteriores, o go-verno apresenta números falaciosos sobre eventual “rombo” na previdência que não são aceitos por especialistas no tema e não estão vinculados ao projeto de poder dos governantes.

Não é demais lembrar que o ex-presidente Lula, já no ano de 2003, enviou ao Congresso Nacional a Proposta de Emenda Cons-titucional 40 (PEC 40), que reivindicava uma reforma para a pre-vidência. A proposta do governo caiu como uma bomba para todas e todos aqueles que acreditavam em um partido em “defesa do trabalhador” e dos “segurados da previdência – RGPS”.

A reforma da previdência de 2003 foi, com todas as letras, “com-prada” no grande esquema de corrupção que ficou conhecido como

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4 “mensalão”. O Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento da Ação Penal 470, constatou existência de corruptores dentro do Poder Executivo, os líderes ideológicos e verdadeiros comandantes do PT, e dos corrompidos, deputados de várias siglas partidárias da base governista. O objeto maior daquele esquema de corrupção sem precedentes foi, justamente, a PEC 40/2003.

Foi a partir dessa constatação que vários setores da sociedade, inclusive partidos políticos e associações de magistrados, propu-seram, por meio de ADI, a anulação da EC 41/2003. A ação do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), autuada sob o nº 4889, foi protocolada em 11 de dezembro de 2012. Foi pedida a anulação da reforma da previdência, sendo citados os nomes de Roberto Je-fferson Monteiro Francisco (PTB/RJ), Romeu Ferreira de Queiroz (PTB/MG), José Rodrigues Borba (PMDB/PR), Valdemar Costa Neto (PL/SP), Carlos Alberto Rodrigues Pinto (PL/RJ), Pedro da Silva Corrêa de Oliveira Andrade Neto (PP/PE) e Pedro Henry Neto (PP/MT). Argumentou-se que, in verbis:

Houve um esquema criminoso de compra de apoio político para o Governo no Congresso, tendo sido comprovado o re-cebimento pelos deputados federais (à época) de valores para que pudessem votar de acordo com a orientação do governo”. “Ficou provado que esse esquema de compra de apoio político para o Governo no Congresso ocorreu na mesma época da votação da PEC 40/2003 de autoria do Poder Executivo, que foi transformada na Emenda Constitucional 41/2003. Grifos acrescidos ao original.

Há algum tempo, o SITRAEMG vem alertando sobre os retroces-sos sociais praticados pelo governo federal com as destemperadas reformas na previdência como saída rápida para um problema de endividamento eterno via rolagem permanente da dívida pública, má gestão dos recursos públicos, desvios de verbas e irresponsa-bilidade fi scal.

Esse discurso volta à tona, com o governo de Michel Temer e seu Ministro da Fazenda Henrique Meirelles. A justifi cativa é a mesma

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5para respaldar essa política de guerra contra direitos conquistados, a duras penas, pelas trabalhadoras e trabalhadores. Temer, Dilma, e também seus antecessores, Lula e Fernando Henrique Cardoso, apresentam sempre o suposto défi cit da previdência, sem conse-guir convencer aquelas e aqueles que, de fato, estudam o assunto de forma isenta.

Qual a origem e o objetivo da previdência social? Quem a fi -nancia? Existe realmente um rombo? O que a legislação determina sobre os direitos sociais? Esses são alguns dos questionamentos sobre os quais se pretende discorrer nas próximas linhas, buscando subsidiar refl exões em contraponto aos argumentos favoráveis à precarização da previdência social.

PREVIDÊNCIA: DIREITO SOCIAL FUNDAMENTAL

Os direitos sociais são conquistas dos movimentos populares que visam a estabelecer a melhoria das condições de vida das parcelas desfavorecidas da sociedade, com vistas à diminuição da desigual-dade social, em observância aos objetivos da República Federativa do Brasil enumerados no art. 3º da CR/88. São, portanto, direitos que exigem do Estado uma atuação positiva, em pleno exercício

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6 das atribuições e objetivos fixados constitucionalmente com vistas à (1) construir uma sociedade livre, justa e solidária; (2) garantir o desenvolvimento nacional; (3) erradicar a pobreza e a marginaliza-ção e a reduzir as desigualdades sociais e regionais e (4) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Os direitos sociais surgem em decorrência de vitórias das tra-balhadoras e trabalhadores nas lutas travadas entre o capital e o trabalho ao longo dos séculos, e sua efetivação consolida-se como forma de garantir que os seres humanos vivam com dignidade.

Não é demais dizer que, apesar de atenderem às necessidades individuais de homens e mulheres, os direitos sociais possuem um viés coletivo, pois as consequências de seu não atendimento recaem sobre o conjunto da sociedade.

BREVE RESGATE DO SURGIMENTO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

O capitalismo liberal, surgido no fim do século XVIII, impingia ao conjunto das trabalhadoras e trabalhadores condições extre-mamente indignas. Uma parcela da sociedade estava alijada do

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7processo produtivo, sem acesso às condições materiais de sobre-vivência. A parcela que conseguia acesso às manufaturas então existentes era submetida a longas jornadas, em ambiente precá-rio, recebendo soldos miseráveis, o que fazia com que, em 1841, a expectativa de vida fosse de 25 anos em Manchester e de 36 em Londres.

Mediante muita resistência de obreiras e obreiros, somada à reconhecida necessidade pelo próprio capital de que fosse prolon-gada a vida de sua mão de obra para garantir disponibilidade de força de trabalho no mercado, os direitos sociais foram, progres-sivamente, implementados.

Inicialmente, tais direitos limitavam-se a proteger as traba-lhadoras e trabalhadores da incipiente revolução industrial. Com o tempo, foi ampliado o rol de direitos e os mesmos passaram a abarcar um maior contingente de pessoas.

A previdência no Brasil surge em 1923, na forma de caixas de aposentadoria e pensão. Não possuía o caráter de política pública, sendo certo que apenas algumas categorias profissionais possuíam tal direito, como uma concessão direta de seu empregador.

Na década de 30, início da era Vargas, foram criados os insti-tutos de aposentadoria e pensão por categoria de trabalhadores, os conhecidos IAPs. Em 1966, com a fusão dos IAPs, cria-se no Brasil um órgão previdenciário unitário, então chamado Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

A partir da instituição do conceito de seguridade social pela Constituição de 1988, o INPS passa, em 1990, a denominar-se Ins-tituto Nacional do Seguro Social (INSS).

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COMO A PREVIDÊNCIA ESTÁ PREVISTA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA?

A Constituição Federal de 1988, ao enumerar a previdência como um direito social (art. 6º, caput) no título II, que trata dos “Direitos e Garantias Fundamentais”, alça a previdência social à condição de direito social fundamental.

A previdência social está inserida na seguridade social, que traz um feixe de direitos que têm por objetivo, de um lado, (1) proteger os indivíduos que sofrem perda ou redução da capacidade econômica em razão de eventos possíveis como o adoecimento, o desemprego, a maternidade; e, de outro, (2) resguardar a sociedade de efeitos nocivos dos desequilíbrios econômicos e sociais decor-rentes das contingências a que todo o ser humano está submetido. É que, uma vez submetidos a uma situação, ainda que temporária, de adoecimento, invalidez, velhice e outros, o mercado não absorve essa mão de obra, cabendo ao Estado a construção de políticas sociais que abarquem esse conjunto de pessoas.

O conceito de seguridade social está consignado no artigo 194 da Constituição da República, segundo o qual “a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”, competindo ao poder público organizá-la com base nos seguintes objetivos:

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9* Universalidade da cobertura e do atendimento;* Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às popu-

lações urbanas e rurais;* Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e

serviços;* Irredutibilidade do valor dos benefícios;* Equidade na forma de participação no custeio;* Diversidade da base de financiamento;* Caráter democrático e descentralizado da administração, me-

diante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do governo nos órgãos colegiados.

Importante perceber que a disponibilidade da seguridade social para o conjunto da população, abrangendo políticas de saúde, assis-tência e previdência social somente foi institucionalizada no Brasil em 1988. Até então, o acesso a tais direitos dependia diretamente de vínculo empregatício, ou seja, para ter acesso à seguridade, era preciso ter emprego com carteira assinada.

Vale citar trecho de entrevista da pesquisadora Denise Gentil1 que, em sua tese de doutorado, desmascara a farsa da chamada crise da previdência social no Brasil:

A Previdência é parte integrante do sistema mais amplo de Seguridade Social.É parte fundamental do sistema de proteção social ergui-do pela Constituição de 1988, um dos maiores avanços na

1 INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS. Em tese de doutorado, pesqui-

sadora denuncia a farsa da crise da Previdência Social no Brasil for-

jada pelo governo com apoio da imprensa. 13 jan. 2016. Disponível em:

< http://www.ihu.unisinos.br/noticias/550763-em-tese-de-doutorado-pes-

quisadora-denuncia-a-farsa-da-crise-da-previdencia-social-no-brasil-for-

jada-pelo-governo-com-apoio-da-imprensa>. Acesso em 07 outubro de 2016.

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10 conquista da cidadania, ao dar à população acesso a servi-ços públicos essenciais. Esse conjunto de políticas sociais se transformou no mais importante esforço de construção de uma sociedade menos desigual, associado à política de elevação do salário mínimo. A visão dominante do debate dos dias de hoje, entretanto, frequentemente isola a Previ-dência do conjunto das políticas sociais, reduzindo-a a um problema fiscal localizado cujo suposto déficit desestabiliza o orçamento geral. Conforme argumentei antes, esse déficit não existe, contabilmente é uma farsa ou, no mínimo, um erro de interpretação dos dispositivos constitucionais.

Não se pode esquecer de que o Brasil é um país profundamente desigual, erguido em bases escravocratas, o que torna aceitável no imaginário coletivo a ideia de que uma parcela do povo não tenha acesso a certos direitos.

A virada conceitual no tema da seguridade social, trazida pela CR/88, oferece o subsídio para a construção de políticas em favor dos membros mais vulneráveis da sociedade, com vistas a garantir que todos gozem de um nível basilar de seguridade social ao longo de suas vidas.

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QUAIS ALTERAÇÕES ESTÃO SENDO VISLUMBRADAS?

A proposta única e concentrada de desmonte da previdência social, prometida pelo governo Temer em seu programa de governo inti-tulado “Ponte para o Futuro”, ainda não foi enviada ao Congresso Nacional, sendo esperado que seja remetida ainda em 2016.

Em termos gerais, para o regime geral e para o regime próprio de previdência social, estariam entre as mudanças, segundo as-sessores do presidente:

a Adoção de idade mínima para aposentadoria por tempo de contribui-ção das seguradas e segurados do INSS e aumento da idade mínima das servidoras e servidores públicos, exceto invalidez e aposentadoria especial — (mudança constitucional)

b Fixação da idade mínima em 65 anos para os regimes geral e próprio, bem como para as trabalhadoras e trabalhadores urbanos e rurais de ambos os sexos — (mudança constitucional)

c Equiparar, de modo gradual, o diferencial do tempo de contribuição das mulheres ao dos homens — (mudança constitucional)

d Ampliação da carência, para efeito de aposentadoria por idade, que hoje é de 15 anos — (mudança infraconstitucional, lei ordinária)

e Ampliação do tempo de contribuição para efeito de aposentadorias especiais — (mudança infraconstitucional, lei complementar)

f Aposentadoria por idade: aumento de 60 (mulher) e 65 (homem), para

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12 algo entre 70 e 75 anos para ambos os sexos, incluindo trabalhadores rurais — (mudança constitucional)

g Desvinculação do valor do piso dos benefícios previdenciários do salário mínimo — (mudança constitucional, lei ordinária)

h Diferenciar o piso dos benefícios previdenciários do piso dos benefícios assistenciais, entre os quais também seriam incluídas as aposentado-rias rurais — (mudança constitucional)

i Proibir o acúmulo de aposentadorias e destas com pensões — (mu-dança constitucional)

j Aumento do valor da contribuição previdenciária, especialmente da servidora e do servidor público — (mudança infraconstitucional, lei ordinária). (Grifos em negrito para alterações nos RGPS dos servi-dores Publicos

Os meios de comunicação de massa tradicionais, ao invés de trazerem os dois polos da discussão para que a sociedade fique esclarecida, veiculam apenas o discurso do déficit pregado pelo governo. Não informam, por exemplo, que por meio da desvincu-lação de receitas da União (DRU), o governo desvia recursos da previdência social (bem como da saúde, educação) para outras despesas, notadamente a formação do “superávit primário” para pagar juros vultosos da dívida pública. Não informam que ape-sar das perspectivas de longevidade, grandes problemas epide-miológicos (câncer, doenças tropicais, doenças transmitidas por mosquitos, entre outras) vêm causando alta taxa de mortalidade de forma que nas diversas regiões do país, em especial no norte e nordeste, a média de longevidade seja de 65 anos. Deixam de dizer que idosos não aposentados podem gerar jovens desempregados em razão da finitude dos postos de trabalho, entre outras diversas variáveis que, certamente, não são aventadas pelo governo e nem “por suas redes televisivas”.

É importante relembrar que foi o atual presidente Michel Temer, quando deputado federal, que relatou, em plenário, a reforma da previdência do governo FHC, transformada na EC 20, que suprimiu diversos direitos dos segurados do INSS e do regime próprio dos

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13servidores. Se o seu parecer tivesse sido integralmente aprovado, muito dos pontos acima citados já teriam se convalidado desde muito tempo.

Uma das primeiras medidas do governo Michel Temer, quando ainda presidia o país interinamente, foi incorporar a previdência social ao Ministério da Fazenda, transferindo para o domínio da equipe econômica, além da arrecadação previdenciária, que já esta-va sob controle da Secretaria da Receita Federal do Brasil, também o poder de formular políticas públicas em matéria previdenciária.

A grande preocupação dos previdenciaristas é o fato de que as equipes econômicas do Ministério da Fazenda desconhecem a complexidade dos regimes previdenciários. Os técnicos fazendários não pontuam a proteção social, estando adstritos a questões finan-ceiras e fiscais, sempre com propósito de gerar sobra de recursos.

AS SUCESSIVAS REFORMAS DA PREVIDÊNCIA NO SERVIÇO PÚBLICO

Historicamente, os governantes veem na previdência social uma fonte inesgotável de recursos para suas administrações. No mo-mento da concessão dos benefícios, contudo, esses mesmos gover-nantes interpretam-na como algo muito oneroso para o Estado.

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14 Sobre os sucessivos desmontes que a previdência dos servidores vem sofrendo, o advogado previdenciarista Roberto de Carvalho Santos2 lecionou em palestra ministrada aos servidores repre-sentados pelo SITRAEMG, que os ataques começaram com a EC 03, de 1993 (governo Itamar Franco), que instituiu a contribuição previdenciária dos servidores federais.

Sequencialmente, a EC 20, da era Fernando Henrique Cardoso, estabeleceu, entre várias alterações, a idade mínima para aposen-tadoria voluntária.

De forma sintética, segue uma exposição das alterações reali-zadas por Emenda Constitucional a partir de 2003:

EC 41/2003

A Emenda Constitucional nº 41 pôs fim à integralidade dos pro-ventos, ressalvados casos de quem já estivesse aposentado ou já reunisse as condições para se aposentar, criando, contudo, um re-quisito para a aposentadoria integral: idade mínima de 60 anos para os homens e 55 anos para as mulheres, contando, respecti-vamente, com 35 e 30 anos de contribuição, bem como 20 anos de efetivo exercício no serviço público e 10 anos de carreira e 5 anos de efetivo exercício no cargo em que se der a aposentadoria.

Conforme sistematiza o advogado previdencialista Antônio Au-guste de Queiroz:3

2 SITRAEMG. Especialista em previdência fala sobre o RPPS e as reformas

aventadas pelo governo. 30 ag. 2016. Disponível em <http://www.sitraemg.

org.br/especialista-em-previdencia-fala-sobre-o-rpps-e-as-reformas-a-

ventadas-pelo-governo/>. Acesso em 07 de outubro de 2016.

3 CONJUR. QUEIROZ, Antônio Augusto de. Histórico da Previdência, e a

ameaça de mais uma reforma. 07 jun. 2016. Disponível em:

<http://www.conjur.com.br/2016-jun-07/antonio-queiroz-historico-ame-

aca-reforma-previdencia>. Acesso em 07 de outubro de 2016.

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15A EC 41/03, no governo Lula, ampliou as exigências da re-forma anterior em relação aos servidores públicos: a) a ampliação de dez para 20 anos do tempo de perma-nência no serviço público para aposentadoria integral do servidor que ingressou no serviço público até 31/12/2003; b) Fim das regras de transição da EC 20; c) Instituição do redutor de pensão; d) Fim da paridade para novos servidores; e) Fim da integralidade para novos servidores, com cál-culo pela média; f) Instituição da cobrança de contribuição de aposentados e pensionistas, incidente sobre a parcela acima do teto do RGPS; g) Adoção de tetos e subtetos na administração pública; e h) Previsão de adoção, por lei ordinária, da previdência complementar do servidor.

EC 47/2005

A EC 47/05, também aprovada durante o governo Lula, de certa forma, diante da pressão dos servidores, suavizou os efeitos malé-ficos da EC 41 e instituiu regra de transição em relação:

a) Paridade e integralidade, desde que o servidor conte com mais de 25 anos de serviço público, com redução da idade mínima de 60 anos para homens e 55 para mulheres se a soma da idade com o tempo de serviço supere a fórmula 85/95, sendo indispensável pelo menos 35 de contribuição, no caso do servidor homem, e 30, no caso da servidora mulher; e b) Isenção do dobro do teto do INSS na parcela do pro-vento de aposentadoria ou pensão quando o beneficiário for portador de doença incapacitante.”

Perceba-se que a referida emenda garantiu a aposentadoria com integralidade e paridade aos servidores que ingressaram no serviço público até a data da publicação da Emenda Constitucional nº 20/1998, ou seja, até 16/12/1998.

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16EC 70/2012

A EC 70/12, aprovada durante o governo Dilma, assegurou a inte-gralidade para a aposentadoria por invalidez, porém, só abrange quem ingressou no serviço púbico até 31 de dezembro de 2003.

EC 88/2015

A EC 88/15, também aprovada durante o governo Dilma, am-pliou de 70 para 75 anos a idade para efeito de aposentadoria compulsória.

No plano infraconstitucional, verificaram-se algumas mudanças para o servidor público, entre elas a questão da pensão por morte vitalícia.

A partir Medida Provisória 664, convertida na Lei 13.135/15, finalizou-se o instituto da pensão vitalícia para os dependentes do servidor falecido.

De acordo com a nova regra, válida para os regimes geral e próprio dos servidores, a pensão por morte será devida além dos quatro meses — e condicionada à idade do beneficiário — somente se forem comprovadas as seguintes carências:

a) Pelo menos 18 contribuições mensais ao regime previden-ciário e;b) Pelo menos dois anos de casamento ou união estável an-teriores ao óbito do segurado, as quais asseguram ao pensio-nista/beneficiário usufruir do benéfico: b.1) por três anos, se tiver menos de 21 anos de idade; b.2) por seis anos, se tiver entre 21 e 26 anos de idade; b.3) por dez anos, se tiver entre 27 e 29 anos de idade; b.4) por 15 anos, se tiver entre 30 e 40 anos de idade; b.5) por 20 anos, se tiver entre 41 e 43 anos de idade; b.6) vitalício, com mais de 44 anos de idade.

Ainda se discutem as mudanças impostas por diversas ações diretas de inconstitucionalidade. Ocorre que, antes mesmo da aná-lise da constitucionalidade das mudanças, já se discute uma nova

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17reforma da previdência, na qual seriam feitas alterações profundas para garantir “sustentabilidade” ao sistema de previdência.

BREVE EXPLICAÇÃO SOBRE O SUPOSTO DÉFICIT

A CR/88 estabelece quais as fontes de financiamento da segurida-de social, sendo certo que a contribuição previdenciária a cargo de trabalhadoras e trabalhadores e demais segurados da previ-dência social é apenas uma delas. Nos dizeres de Vanderley José Maçaneiro4, auditor fiscal da receita federal do Brasil:

Apesar de integrar um orçamento constantemente superavi-tário, o discurso daqueles que buscam descontruir as justas conquistas dos trabalhadores brasileiros é o de que a Previ-dência Social é altamente deficitária. Para chegar a essa conclusão, que não se sustenta na ver-dade, partem da simples comparação entre o que é arrecadado exclusivamente com as contribuições que incidem sobre a

4 MAÇANEIRO, Vanderley José. Financiamento da Previdência Social:

Receitas, Renúncias e Recuperação de Créditos. In Previdência Social

Contribuição ao Debate. Brasília, Fundação ANFIP, maio de 2016. P. 11.

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18 folha de pagamentos e a totalidade dos valores gastos com benefícios previdenciários, sejam eles urbanos ou rurais, con-forme demonstrado na Tabela 2. Esquecem das outras fontes de financiamento, como os re-cursos arrecadados com a Contribuição para o financiamento da Seguridade Social – COFINS e a Contribuição Social sobre o Lucro – CSL, por exemplo.

Sobre as fontes de custeio, observe-se o que determina a CR/88:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a socie-dade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contri-buições sociais:I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II – do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pen-são concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III – sobre a receita de concursos de prognósticos.IV – do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

Os recursos arrecadados têm por objetivo cobrir benefícios pre-videnciários, saúde, assistência social, custeio e gastos com pes-soal do INSS e da assistência social, ações da seguridade social, benefícios e ações do FAT.

Como já afirmado, o sistema previdenciário brasileiro existe formalmente desde 1923 e, nas primeiras décadas, havia muitos

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19contribuintes e poucos aposentados, o que tornava a previdência altamente superavitária. Tais valores, porém, não foram mantidos em um fundo para atender aos futuros aposentados, mas foram des-viados para a construção de diversas obras, por sucessivos governos.

E para onde foram esses recursos? Viabilizaram diversos pro-jetos governamentais relevantes e estratégicos, dentre os quais destacamos: Carteira Agrícola e Industrial do Banco do Brasil, principal agência de financiamento ao setor entre as décadas de 30 e 50; Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); Companhias Hidrelétricas do São Francisco (CHESF); Companhia Nacional de Álcalis (CNA); Fábrica Nacional de Motores (FNM); Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES); construção de Brasília, Ponte Rio Niterói, Itaipu Binacional etc.

O caixa da previdência social é constantemente assaltado, seja por intermédio das renúncias fiscais, da desvinculação das receitas da União (DRU) por meio da qual o Estado destaca parte5 das con-tribuições sociais destinadas à previdência social para o pagamento de juros da dívida pública junto aos especuladores internacionais. Desde 1998 com o governo Fernando Henrique Cardoso, seguido por Lula e Dilma Roussef, assiste-se a inúmeros retrocessos sociais alcunhados de reformas na previdência.

Certo é que, ainda que na arrecadação total a seguridade so-cial fosse deficitária, não se pode esquecer de que o constituinte originário criou uma lógica tripartite de financiamento, devendo ser considerado que ao Estado brasileiro compete assegurar o equilíbrio financeiro do sistema, complementando o caixa se ne-cessário for, em razão de se estar diante de um direito social que demanda atuação positiva do Estado sempre tendo como “objetivo o bem-estar e a justiça sociais” (art. 193, CR/88).

A despeito das informações cotidianamente veiculadas pela

5 A EC 93, de 08 de setembro de 2016, que operou alteração no art. 76 do

ato das disposições constitucionais transitórias, permite a realocação de

determinadas receitas federais no importe de 30% da arrecadação, até 31

de dezembro de 2023.

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20 mídia tradicional, ainda hoje, o que se arrecada segundo as receitas previstas no art. 195 da CR/88 é superior ao que se gasta, tal como se identifica na tabela abaixo

Tabela – Orçamento da Seguridade Social (em bilhões de reais)

10

Previdência Social: Contribuição ao debate

Tabela 1 - Orçamento da Seguridade Social

Essa composição da Seguridade Social está definida no artigo 194 da Cons-tituição Federal:

“Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto inte-grado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da socie-

RECEITAS REALIZADAS 2005 2010 2013 2014 2015 DIfEREnçA 2015 / 2014

1. RECEITA DE ConTRIbuIçõES SoCIAIS 277.045 441.266 634.239 665.163 671.637 6.474 1,0

Receita PRevidenciáRia (1) 108.434 211.968 317.164 349.503 352.553 3.049 0,9

aRRecadação PRevidenciáRia 108.434 211.968 307.147 337.503 350.272 12.769 3,8

URbana 105.086 207.154 300.991 330.833 343.191 12.358 3,7

RURal 3.348 4.814 6.156 6.670 7.081 411 6,2

comPensações não RePassadas (2) 0 0 10.017 12.000 2.281 -9.719 -81,0

cofins 89.597 140.023 199.410 195.914 200.926 5.012 2,6

csll 26.232 45.754 62.545 63.197 59.665 -3.531 -5,6

Pis/PaseP 22.083 40.372 51.185 51.920 53.071 1.151 2,2

oUtRas contRibUições (3) 30.699 3.148 4.055 4.775 5.423 647 13,6

2. Receitas de entidades da segURidade 11.704 14.742 15.078 19.210 20.534 1.324 6,9

RecURsos PRóPRios do mds 87 305 239 183 137 -46 -25,3

RecURsos PRóPRios do mPs 798 267 819 608 1.078 470 77,3

RecURsos PRóPRios do ms 947 2.700 3.858 4.312 4.257 -56 -1,3

RecURsos PRóRios do fat 9.507 10.978 9.430 13.438 14.160 722 5,4

RecURsos PRóPRios dos HU (4) 102 50 103 117 238 121 103,9

taxas, mUltas e jURos da fiscalização 264 443 509 552 664 112 20,3

3. contRaPaRtida do oRç. fiscal PaRa ePU (5) 1.052 2.136 1.782 1.835 2.226 391 21,3

RECEITAS DA SEguRIDADE SoCIAL 289.801 458.144 651.099 686.208 694.397 35.109 5,4

DESPESAS REALIZADAS 2005 2010 2013 2014 2015 DIfEREnçA 2015 / 2014

1. benefícios PRevidenciáRios (1) 145.816 256.259 357.003 394.201 436.090 41.889 10,63

PRevidenciáRios URbanos 118.626 199.461 274.652 303.541 336.296 32.756 10,79

PRevidenciáRios RURais 27.190 55.473 80.355 88.703 98.041 9.338 10,5

comPensação PRevidenciáRia (6) - 1.325 1.996 1.958 1.753 -205 -10,46

2. benefícios assistenciais (7) 9.335 22.234 33.869 37.598 41.798 4.200 11,17

assistenciais idosos - loas e Rmv 4.067 10.365 15.916 17.715 18.460 744 4,20

assistenciaisi deficientes - loas e Rmv 5.268 11.869 17.953 19.882 23.338 3.456 17,4

3. bolsa família e oUtRas tRansfeRências 6.769 13.493 24.004 26.162 26.921 759 2,90

4. ePU - benefícios de legislação esPecial 1.052 2.136 1.782 1.835 2.226 391 21,3

5. saúde: desPesas do ms (8) 34.517 62.329 85.429 94.235 102.206 7.971 8,46

6. assistência social: desPesas do mds (8) 1.716 3.994 6.227 7.020 5.389 -1.631 -23,2

7. PRevidência social: desPesas do mPs (8) 3.404 6.482 7.401 7.828 8.197 370 4,72

8. oUtRas ações da segURidade social 2.454 7.584 11.972 10.965 11.655 690 6,3

9. benefícios fat 11.375 29.195 46.561 51.833 48.180 -3.652 -7,05

10. oUtRas ações do fat 547 560 505 522 506 -16 -3,0

DESPESAS DA SEguRIDADE SoCIAL 216.985 404.266 574.754 632.199 683.169 50.970 8,1

RESuLTADo DA SEguRIDADE SoCIAL 72.817 53.878 76.345 54.009 11.228 -42.781 -79,2

fonTE: MTPS, STn, Rfb, SIAfI E SIgA bRASIL. ELAboRAção AnfIP(*) 2015 - DADoS AInDA PRELIMInARES

Fonte: MTPS, STN, RFB, SIAFI e

SIGA BRASIL apud Maçaneiro (2016, p. 10)

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21Perceba-se que no ano de 2015 as receitas da seguridade so-cial somaram R$ 694.397 bilhões, quando as despesas realizadas atingiram R$ 683.169 bilhões, o que quer dizer que se todos os recursos constitucionalmente destinados à previdência social fos-sem mantidos em seu caixa, não haveria que se falar em déficit da previdência. A tabela permite inferir, por fim, que a realidade de superávit foi verificada, também, nos anos anteriores.

CONCLUSÃO — REFORMA DA PREVIDÊNCIA: A IDEOLOGIA DA CLASSE DOMINANTE

Percebe-se que um dos interesses por trás da propagandeada exis-tência de um déficit na previdência social guarda relação com intenções de parcela minoritária da sociedade que pretende que o país economize com os gastos públicos para reverter esse capital ao pagamento dos juros da dívida pública.

As novas propostas do governo Temer, pegando carona em pro-jetos da autoria de Dilma, precisam ser enfrentadas com vigor por aquelas e aqueles que têm a missão de levar a informação de forma

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22 desvinculada e imparcial para a sociedade. Algumas e alguns que ignoram as verdadeiras intenções do governo, patriotas, mas des-conhecedores no que toca às profundezas do tema, podem achar “razoável” aumentar a idade de aposentadoria, sob a alegação de que a expectativa de vida da população tem crescido, que há um “rombo na previdência” e que, em algum momento, não se terá mais dinheiro para pagar aposentadorias.

Sabe-se que o atual governo conta com uma grande base polí-tica no Congresso Nacional, tendo apenas como oposição, de fato, o PT, o PCdoB, o PDT, o Psol, o PSTU e a Rede Sustentabilidade, que juntos somam no máximo cem deputados.

Fica evidente que um tema tão polêmico e complexo como a reforma da previdência, que envolve tanto as trabalhadoras e tra-balhadores da iniciativa privada, quanto as servidoras e servidores públicos, deve ser tratado como “principal plano de lutas” de todo o povo brasileiro, sob pena de sermos atropelados pelas políticas neoliberais que fazem parte do projeto de poder do atual governo e seus aliados.

É notório que manifestações bem orquestradas e trabalho de corpo a corpo no Congresso Nacional podem mudar os rumos dessa triste história que se apresenta através de um discurso falacioso de déficit.

Nossa pressão e da sociedade como um todo pode provocar dis-sidências na base parlamentar que atualmente coloca-se em favor da pauta do governo, mas isso vai requerer muita luta, união com demais categorias profissionais, mobilização.

É por tudo isso que o SITRAEMG - Sindicato dos Trabalha-dores do Poder Judiciário Federal em Minas Gerais - realizou, no dia 15/10/2016, o “Grande encontro para debates sobre a reforma da previdência”.

Nosso maior objetivo é sensibilizar os demais líderes sindicais, OAB, representantes de categorias profissionais e as próprias ser-vidoras e servidores sobre a necessidade de unirmos forças para combater essa imoralidade que é a reforma da previdência sob premissas irreais de déficit.

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23Não temos nenhuma ambição política de legitimar ou deslegi-timar qualquer governo. Nossa luta sempre foi e sempre será em favor da moralidade, da justiça e da defesa das trabalhadoras e trabalhadores, mormente, aquelas e aqueles do Poder Judiciário da União em Minas Gerais. Foram árduas lutas durante o governo FHC e, continuamente, nos governos Lula e Dilma. Se Michel Temer insiste em políticas contra a classe trabalhadora e contra as segu-radas e segurados da previdência, também terá que nos enfrentar.

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SINDICATO DOS TRABALHADORES DO PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

NO ESTADO DE MINAS GERAIS