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LUZIA ELAINE DOMINGUES PIMENTA VARGAS
Coprodutos do beneficiamento de girassol na dieta de ovinos confinados
Cuiabá-MT
2017
2
LUZIA ELAINE DOMINGUES PIMENTA VARGAS
Coprodutos do beneficiamento de girassol na dieta de ovinos confinados
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Ciência Animal da Universidade
Federal de Mato Grosso para a obtenção do título de
mestre em Ciência Animal.
Área de concentração: Produção animal
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Lima de Souza
Coorientador: Prof. Dr. Anderson de Moura Zanine
Coorientadora: Profa. Dra. Daniele de Jesus Ferreira
Cuiabá-MT
2017
3
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Ficha catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Douglas Rios (CRB1/1610)
P644c
Pimenta-Vargas, Luzia Elaine Domingues. Coprodutos do beneficiamento de girassol na dieta de ovinos confinados. / Luzia Elaine Domingues Pimenta-Vargas, 2017. 69 fls. Orientador: Prof. Dr. Alexandre Lima de Souza Coorientador: Prof. Dr. Anderson de Moura Zanine Coorientadora: Profª. Drª. Daniele de Jesus Ferreira Dissertação (Mestrado) – UFMT, Programa de pós-graduação em Ciência Animal – Área de concentração: Produção animal. Cuiabá, 2017. 1.Biodiesel. 2.Proteína. 3.Lipídeos. 4.Volumoso. 5.Ruminantes. I.Título. CDU 636
5
“A eficiência no campo é resultado da apropriação das oportunidades
dadas aos produtores. As oportunidades são apropriadas se forem disponibilizadas
eficazmente ao campo. Cada agricultor tem um tempo, um ritmo, um anseio, um
sonho. A eficiência é relativa. Mesmas oportunidades, diferentes particularidades,
resultados que podem não agradar ao todo. Mas que podem representar grandes
conquistas individuais. O campo precisa de oportunidades reais, condizentes com
o anseio local. O produtor não deve atender a produção, a produção deve atender
ao produtor. A produção deve crescer com oportunidades planejadas e sustentadas
pelo anseio do produtor.”
Maurício Arantes Vargas
6
Dedicatória
Ao meu esposo, Maurício Arantes Vargas,
A meus filhos queridos, Mário Rodrigues Pimenta Netto e
Amanda Arantes Pimenta Vargas, que incondicionalmente
apoiam minha profissionalização com constantes
demonstrações de incentivos, amor e carinho.
Vocês são meu porto seguro.
Aos meus pais Mario (in memorian) e Marli sempre
presentes em minhas decisões,
eu dedico.
7
Agradecimentos
À Deus, que com muitas bênçãos sempre será meu maior mestre e a Santa Luzia por
iluminar os caminhos de minha jornada.
A Dr. Alexandre Lima de Souza, pela valorosa orientação, apoio irrestrito aos trabalhos
realizados neste estudo e principalmente pelo respeito e carinho. Um exímio exemplo de
professor, pai e pessoa.
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso-Campus de
Campo Novo do Parecis pela compreensão ao oferecer-me condições para concluir esse estudo.
Ao professor Dr. Luciano da Silva Cabral, não só por viabilizar a realização de todas as
análises e de outros trabalhos que permitissem maior compreensão desse estudo, mas também
pelos incentivos aos processos de ensino e pesquisa.
Aos coorientadores Dr. Anderson de Moura Zanine e Dra. Daniele Ferreira da Silva pela
contribuição desde o planejamento à finalização desse estudo, em especial a Dra. Daniele pelo
relevante aporte financeiro na execução dos experimentos in vivo, através de projeto aprovado
pelo CNPq e FAPEMAT.
A Dr. Alexandre Agostinho Mexia por seus incentivos e marcante participação em minha
formação profissional.
A Parecis Alimentos S.A, doadora dos coprodutos de girassol utilizados no estudo e em
especial a Dr. Carlos Eduardo Momesso, Everton Lucas Griebler e Camila Herklotz pela
atenção e informações repassadas sobre a agroindústria do girassol.
Aos professores que compõem o Programa de Pós-graduação em Ciência Animal-
PPGCA e a colaboradora Elaine Silva Alegre que com muito esmero e absoluta dedicação
buscam a excelência do ensino e pesquisas realizadas pela UFMT. Especial agradecimentos aos
professores Dra. Rosemary Galatti, Dr. Nelcino de Paula e Dr. André Gustavo Leão (UFMT-
Campus de Rondonópolis) pelo apoio e inúmeras dúvidas sanadas na realização do trabalho.
A Maurício Arantes Vargas por seu apoio financeiro na aquisição de vários produtos para
execução dos experimentos e realização das análises laboratoriais.
As grandes amigas Vandinelma, Thereza Pessato e Célia, que por diversas vezes
remanejaram suas aulas comigo no IFMT para que eu pudesse executar os experimentos in vivo
e aos demais amigos de “Los vidas estupendas”, Cláudio Marcio, Willian e Edilene pelos
momentos de alegria e amizade, que absolutamente amenizaram as dificuldades nesta jornada.
Aos doutorandos e para sempre amigos Lilian Rondena Pesqueiro, Leni Lima e
Wanderson Castro pelos imprescindíveis ensinamentos e incondicional companheirismo.
8
Aos colegas e amigos da turma “Ciência Animal 2015/1”, Izabella Bianchi, Daniele
Brutti, Bruna Gomes, João Marcos Tavares, Laura Zanelatto, Elder Cavlacante, Vinicius
Castro, Thamires Caetano, Dandara Semedo, Ana Carla Carvalho, Fabiana Costa, e Rayana
Viana Costa, pelo prazeroso convívio. Uma linda família que guardarei no meu coração.
A todos da equipe LANA, em especial a Claudio e Paulo pela amizade e constantes
orientações no uso do laboratório de Nutrição Animal-UFMT, campus Cuiabá.
A todos os VICs e PIBICs dos professores Dr. Alexandre Lima e Dr. Zanine que me
ajudaram na execução do experimento em Rondonópolis, em especial a Magali, Fraeeguer
Bonairy, Letícia, Lorran, João, Bianca, Camila, Amanda, Renan e Douglas.
A Mario Netto, Alessandra, Julian Kely e Bárbara por ajudarem na execução das análises
laboratoriais, a Pedro Ivo e Lucien nas incubações in situ e Iuri e Silvio nas incubações in vitro.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para realização deste trabalho, os meus
sinceros muito obrigada e que Deus os abençoe sempre.
9
RESUMO
PIMENTA-VARGAS, L. E. D. Coprodutos do beneficiamento de girassol na dieta de ovinos
confinados. 2017. 60f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Faculdade de Agronomia e
Zootecnia. Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2017.
Os ruminantes, devido ao seu sistema digestivo peculiar, apresentam alta capacidade de
consumo e digestão de uma variedade de coprodutos gerados pela agroindústria. Por sua vez,
o beneficiamento de girassol para produção de óleo gera coprodutos que, devido ao alto volume,
podem ocasionar problemas organizacionais e ambientais. Assim, nesta pesquisa teve-se por
objetivo avaliar a viabilidade nutricional da inclusão de coprodutos do beneficiamento de
girassol à dieta de ovinos. No Laboratório de Metabolismo Animal no Campus Universitário
de Rondonópolis-MT foram realizados dois experimentos independentes. Para cada
experimento foram utilizados 20 borregos não castrados, de aproximadamente 30 kg de peso
corporal (PC) inicial, alojados em gaiolas de metabolismo e arranjados em um delineamento
experimental em blocos casualizados com cinco repetições. Foram avaliadas a composição
química dos ingredientes, rações, sobras, fezes e urina, a partir dos quais foram quantificados
os consumos e digestibilidades da matéria seca (MS) e dos nutrientes e o balanço de compostos
nitrogenados (BN). Em ambos os experimentos as dietas foram isoproteicas com relação
volumoso:concentrado (V:C) de 60:40%, em base da MS. Os dados foram submetidos às
análises de variância e regressão utilizando-se o software estatístico R. No primeiro
experimento foi avaliado a inclusão de 0; 12; 24; e 36% de resíduo de girassol (RG) em
substituição a silagem de milho na dieta. O consumo de MS, matéria orgânica (MO), proteína
bruta (PB), fibra em detergente ácido (FDA), nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN)
e carboidratos não fibrosos (CNF) não foram influenciados (P>0,05) pela a inclusão de RG.
Foram registrados valores médios de 1271,70 e 158,8 g dia-1, respectivamente para os consumos
de MS e PB. Porem houve influencia (P
10
SUMMARY
PIMENTA-VARGAS, L. E. D. Byproducts of sunflower industry on feedlot sheep diet. 2017.
60f. Dissertation (Master in Animal Science). Faculty of Agronomy and Animal Science.
Federal University of Mato Grosso, Cuiabá, 2017.
Ruminants, due to their peculiar digestive system, presents high capacity of consumption and
digestion of a variety of byproducts generated by the agribusiness. In turn, sunflower processing
for oil production generates byproducts that, due to the high volume, can cause organizational
and environmental problems. Thus, the objective of this research was to evaluate the nutritional
viability of the inclusion of byproducts from the sunflower processing to the sheep diet. In the
Laboratory of Animal Metabolism in the University Campus of Rondonópolis-MT, two
independent experiments were performed. For each experiment, 20 uncastrated lambs weighing
approximately 30 kg body weight (CP) were housed in metabolism cages and arranged in a
randomized complete block design with five replicates. The chemical composition of the
ingredients, rations, leftovers, faeces and urine were evaluated, from which the intakes and
digestibilities of the dry matter (DM) and nutrients and nitrogen balance (BN) were quantified.
In both experiments the diets were isoprotein with a bulky: concentrate ratio (V: C) of 60: 40%,
based on MS. Data were submitted to analysis of variance and regression using statistical
software R. In the first experiment was evaluated the inclusion of 0; 12; 24; and 36% of
sunflower residue (RG) to replace corn silage in the diet. The consumption of DM, organic
matter (OM), crude protein (CP), acid detergent fiber (FDA), neutral detergent insoluble
nitrogen (NIDN) and non-fibrous carbohydrates (CNF) were not influenced (P> 0.05) by the
inclusion of GR. Mean values of 1271.70 and 158.8 g day-1, respectively, were recorded for MS
and PB intakes. However, there was an influence (P
11
SUMÁRIO
Página
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 12
2. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 14
2.1. Aspectos socioeconômicos da ovinocultura................................................... 14
2. 2. Coprodutos da cultura de girassol na alimentação de ruminantes ................ 17
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 23
4. CAPÍTULO I ..................................................................................................... 28
Inclusão de resíduo de girassol na dieta de ovinos confinados ............................. 28
1. Introdução ......................................................................................................... 30
2. Material e Métodos ........................................................................................... 31
2.1. Caracterização do local e dos animais ........................................................... 31
2.2. Caracterização do experimento e das dietas .................................................. 32
2.3. Coleta de amostras e análises química ........................................................... 33
2.4. Consumo, digestibilidade aparente e balanço de compostos nitrogenados ... 34
2.5. Delineamento experimental e análise estatística .......................................... 35
3. Resultados e discussão ..................................................................................... 35
4. Conclusão .......................................................................................................... 42
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 43
CAPÍTULO II ....................................................................................................... 48
Inclusão de farelo de girassol na dieta de ovinos confinados ............................ 48
1. Introdução ......................................................................................................... 50
2. Material e Métodos ........................................................................................... 51
2.1. Caracterização do local e dos animais ........................................................... 51
2.2. Caracterização do experimento e das dietas .................................................. 51
2.3. Coleta de amostras e análises química ........................................................... 53
2.4. Consumo, digestibilidade aparente e balanço de compostos nitrogenados ... 54
2.5. Delineamento experimental e análise estatística .......................................... 55
3. Resultados e discussão ..................................................................................... 55
4. Conclusão .......................................................................................................... 63
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 64
10
LISTA DE TABELAS
Página
CAPÌTULO I
Tabela 01 Composição da dieta conforme proporção dos ingredientes ................ 32
Tabela 02. Composição química da silagem de milho (SM), milho fubá (MF),
farelo de soja (FS) e resíduo de girassol (RG), conforme a inclusão de
resíduo de girassol na dieta experimental.........................................
33
Tabela 03. Composição químico das dietas experimentais conforme inclusão de
resíduo de girassol ................................................................................
33
Tabela 04. Consumo médio de matéria seca (MS) e dos nutrientes das dietas,
coeficiente de variação (CV) e probabilidade de efeito pela análise
de regressão em função do nível de inclusão de resíduo de girassol
na dieta................................................................................................
36
Tabela 05. Coeficiente de digestibilidade (CD) em função dos níveis de inclusão
de resíduo de girassol na MS, coeficiente de variação (CV) e
probabilidade de efeito pela análise de regressão............................
39
Tabela 06. Nitrogênio (NI), nitrogênio fecal (NF), nitrogênio absorvido (NA), N
urina (NU), nitrogênio retido (NR), glicose plasmática (GP) e ureia
plasmática (UP) em função dos níveis de inclusão de resíduo de
girassol na MS, coeficiente de variação (CV) e probabilidade de
efeito pela análise de regressão...........................................................
41
CAPÍTULO II
Tabela 01 Composição da dieta conforme proporção dos ingredientes ................ 52
Tabela 02. Composição química da silagem de milho (SM), milho fubá (MF),
farelo de soja (FS) e farelo de girassol (FG) utilizados no experimento
e dos tratamentos, conforme a inclusão de farelo de girassol na dieta
experimental ..............................................................
53
Tabela 03. Consumo médio de matéria seca (MS) e dos nutrientes das dietas,
coeficiente de variação (CV) e probabilidade de efeito pela análise
de regressão em função do nível de inclusão de farelo de girassol na
dieta ....................................................................................................
56
11
Tabela 04. Coeficiente de digestibilidade (CD) em função dos níveis de inclusão
de farelo de girassol na ração concentrada (base da MS), coeficiente
de variação (CV) e probabilidade de efeito pela análise de regressão
........................................................................................
59
Tabela 05. Nitrogênio (NI), nitrogênio fecal (NF), nitrogênio absorvido (NA), N
urina (NU), nitrogênio retido (NR) em função dos níveis de inclusão
de farelo de girassol na ração concentrada (base da MS), coeficiente
de variação (CV) e probabilidade de efeito pela análise de
regressão.........................................................................................
62
12
1. INTRODUÇÃO
A crescente demanda por produtos de origem animal no século XXI está associada ao
crescimento da população humana, aumento da renda e urbanização nos países em
desenvolvimento (FAO, 2015). Neste cenário, a ovinocultura de corte tem-se destacado,
principalmente devido à carne. Por ser considerada magra, de sabor peculiar, apresentar
diversidade de cortes e se manter com qualidade sob refrigeração tem conquistado novos
mercados, incluindo nichos diferenciados de clientes (OSÓRIO et al., 2009; MALVA, et al.,
2016). Todavia, a produção brasileira não abastece o mercado interno com eficiência e leva o
país à condição de importador de produtos cárneos ovinos (MAGALHÃES et al., 2016).
Para aumentar a oferta e tornar o setor competitivo, os produtores podem aperfeiçoar os
sistemas de produção com a terminação de cordeiros confinados. O confinamento oportuniza
oferecer alimentos que atendam melhor as exigências dos animais, além de maximizar o
potencial genético dos mesmos com aumento na taxa de ganho de peso e redução do ciclo de
produção. Entretanto, o elevado custo dos concentrados é um fator limitante, sobretudo no
âmbito de pequenos produtores.
Por outro lado, com a expansão do processamento da produção agrícola surgem no
mercado vários alimentos alternativos denominados de subprodutos ou coprodutos da
agroindústria com características químicas compatíveis à nutrição animal. Ainda hoje não
existe consenso no emprego da terminologia que melhor defina esses alimentos.
Para Martins (2003) e Quintela et al. (2009), com base na valoração, os resíduos podem
assumir a designação de coprodutos quando já possuem um mercado para comercialização ou
subproduto quando sua venda depende de fatores externos que podem ou não valorizá-los. Para
oleaginosas, Quintela et al. (2009) consideram como coprodutos os resíduos de cascas, matéria
celulósica, farelos ou tortas. Acrescentam que independente da valoração, qualquer resíduo
deve ter uma destinação que vise reduzir os impactos ambientais e maximizar os resultados da
energia aplicada e por isso deve ser denominado de coproduto.
Neste contexto, a inclusão parcial ou total de coprodutos agroindustriais de menor valor
comercial permite reduzir gastos com a alimentação animal, além de favorecer o
reaproveitamento de matéria orgânica. Todavia, antes de serem fornecidos aos animais é
necessário identificar possíveis fatores tóxicos ou antinutricionais presentes, bem como, as
quantidades máximas dentro da formulação das dietas (SOUZA et al., 2010; RIBEIRO et al.,
2011).
13
Entre os coprodutos agroindustriais, especial interesse é verificado no beneficiamento de
oleaginosas que elevou significativamente o volume de alimentos que podem contribuir para o
sistema de produção animal. De acordo com estimativas da CONAB (2016) até 2024 a área
plantada com espécies de alto teor de óleo deverá ultrapassar a 34 milhões hectares no Brasil.
A instituição enfatiza a cultura do girassol, cujo consumo do óleo foi o que mais cresceu nos
últimos anos e destaca a participação expressiva de Mato Grosso, responsável por mais de 70%
dos grãos cultivados no país (CONAB, 2016).
O crescimento na extração do óleo de girassol avança dentro e fora do Brasil. Desde 2015
o girassol ocupa a 3ª posição no ranking mundial de espécie mais processada para extração de
óleo, superior a de algodão e amendoim e inferior apenas a de soja e colza. Na safra 2016/2017
houve crescimento na produção mundial de óleo de girassol de 9,0% em relação à safra anterior
(USDA, 2016).
Os grãos de girassol são ricos em gorduras mono e polinsaturados com teores de ácidos
oleico, linoleico e linolênico próximo a 90% (PALMQUIST e MATTOS, 2011). Estes ácidos
graxos contribuem na prevenção de doenças cardiovasculares e cancerígenas. Embora, sejam
essenciais ao desenvolvimento fisiológico, os mesmos não são sintetizados no organismo
humano. Por isso nos últimos anos, várias pesquisas buscaram aumentar essas fontes na carne
de animais ruminantes (FERNANDES et al., 2009; MAIA et al. 2012).
O resíduo e o farelo são alguns dos principais coprodutos da agroindústria de demagação
de grãos de girassol para obtenção de biodiesel ou óleo vegetal. O resíduo da limpeza dos grãos
de girassol pela agroindústria é o primeiro coproduto gerado antes da extração do óleo. O
material é composto por fragmentos de aquênios, pecíolos, brácteas e inflorescências. Na
literatura, observam-se relatos de sua aplicação em diferentes áreas: na construção civil, como
compósito agregado a matriz cimentícia (ERHARDT et al., 2014); na agricultura, como
cobertura vegetal devido seus efeitos alelopáticos (ALSAADAWI et al., 2011) e como adubo
orgânico (BASHIR et al., 2012).
Próximo às indústrias é comum o uso de resíduo de girassol em sistemas de confinamento
na dieta de bovinos. O coproduto pode variar em função do material de origem, mas parece ser
fonte rica em proteínas e óleos essenciais. Contudo, é necessária uma avaliação criteriosa da
composição química e dos efeitos de sua inclusão na dieta, sobretudo no consumo e na
digestibilidade dos nutrientes, principais variáveis que afetam o desempenho dos animais
(MERTENS, 1994).
No entanto, à medida que o uso de solventes químicos promove maior eficiência na
extração de óleo, o farelo de girassol tende a ser o principal coproduto da agroindústria. Para
14
cada tonelada de grãos esmagados são obtidos 550 kg de farelo de girassol, ou seja, o
rendimento desse coproduto chega a 55% (PIGHNELLI, 2009). Valor que representa uma
importante perda de biomassa e nutrientes, além de contribuir expressivamente para aumentar
o volume de passivo ambiental das empresas.
O valor nutritivo do farelo de girassol pode variar conforme a cultivar, sistema de plantio,
grau de decortização das sementes, mas principalmente pelo método de extração do óleo
(MANDARINO, 1992; CARRERA et al., 2012). O uso de solventes, como o hexano, resulta
em farelos com menor teor de extrato etéreo e maior teor proteico. Quando as cascas são
preservadas, o coproduto apresenta altos teores de fibras e menor potencial energético
(CARRERA et al., 2012).
Estudos científicos verificaram que na nutrição de ruminantes o farelo de girassol possui
valor nutritivo semelhante aos farelos de algodão e de soja (GARCIA et al., 2006; MOTA et
al., 2015) e superior a torta de girassol (Santos, 2008) e grãos secos de destilaria com
solúveis/DDGS (GAO et al., 2015). Além de ser boa fonte de proteína degradada no rúmen
(ZAGORAKIS et al., 2015), o farelo de girassol possui bom perfil de aminoácidos, com elevado
teor de metionina (GAO et al., 2015). No entanto, baixo teor de lisina (2,0 a 2,83%) quando
comparado ao farelo de soja (NRC, 2007). Limitação que sugere a combinação cuidadosa de
diferentes suplementos para otimizar o equilíbrio de aminoácidos na formulação de ração.
Diante do crescimento do agronegócio, em especial da ovinocultura e do girassol, e do
aumento na disponibilidade de coprodutos, propõe-se avaliar com esta pesquisa os efeitos da
inclusão de coprodutos do beneficiamento de girassol (Helianthus annuus) na dieta de ovinos
sobre o consumo e digestibilidade dos nutrientes e o balanço dos compostos nitrogenados.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Aspectos socioeconômicos da ovinocultura
Uma das primeiras atividades zootécnicas desenvolvidas pelo homem, a domesticação
dos animais, pode ser constatada pelas pinturas rupestres, há cerca de dez mil anos, em que a
criação de ovinos esteve presente na história e evolução da humanidade (ZEDER e HESSE,
2000).
No Brasil, a ovinocultura foi introduzida desde a colonização, mas em grande parte do
território nacional a criação é vista como uma atividade secundária, concomitante a
bovinocultura. Para Nunes et al. (2007), embora a ovinocultura tenha relevância social e
15
econômica no país, ainda existe um baixo desenvolvimento ponderal das crias e elevada taxa
de mortalidade de animais jovens, associada ao inadequado manejo alimentar e sanitário, o que
leva a disponibilidade de animais em idade tardia para o abate.
As diferenças organizacionais são significativas entre as regiões produtoras no Brasil.
Tanto a produção quanto o mercado consumidor de produtos ovinos concentram-se no Rio
Grande do Sul e em alguns estados da região Nordeste. Contudo, a demanda tem se expandido
em outras regiões como o Centro-Oeste e o Sudeste e criado novas expectativas para o setor
(SOUZA et al., 2012). Amenizados esses efeitos, o desenvolvimento rural das regiões pode
estrategicamente contar com o fomento da cadeia produtiva da ovinocultura, associado a outros
arranjos produtivos e gerar renda aos produtores rurais e aos demais agentes desse mercado
(FONSECA, 2009).
A FAO estima uma crescente demanda por produtos de origem animal no século XXI.
Associa a demanda ao crescimento da população, aumento dos rendimentos, urbanização nos
países em desenvolvimento e destaca a ovinocultura como uma oportunidade para os
pecuaristas (FAO, 2015). Em 2015, o rebanho mundial de ovinos foi estimado em 1,2 bilhão
de cabeças e está distribuído por todos os continentes do planeta.
A China está à frente dos demais países, seu rebanho representa cerca de 17% do efetivo
mundial e a produção de carne corresponde a 37%. A Austrália ocupa a segunda posição com
6% do plantel, enquanto, a Índia, participa com 9,5% da produção de carne. Nos últimos cinco
anos a atividade apresentou um padrão de crescimento anual em torno de 1,5%, e os dez países
com maior rebanho de ovinos do mundo, representam aproximadamente 49% do rebanho
mundial (FAO, 2015).
Neste cenário o Brasil ocupa a 18º posição de maior rebanho de ovinos. Em 2015 o efetivo
foi de 18.450.551 animais, com destaque às regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste, com
11.149.336, 4.877.671 e 1.027.552 cabeças, respectivamente. Apesar do estado de Mato Grosso
contribuir com menos de 2% (358.450 animais), ele se destaca pelo constante crescimento. Em
2014 foi de aproximadamente 24% (IBGE, 2015).
A União Europeia e os Estados Unidos são os mercados mais rentáveis para a carne ovina
devido a valorizarem como um produto diferenciado, destacando-se o menor teor de gordura e
sabor peculiar (OSÓRIO et al., 2009). A qualidade da carne ovina está associada a um nível
adequado de gordura corporal, suficiente para propiciar uma leve cobertura da carcaça,
protegendo-a contra a perda excessiva de umidade durante o processo de resfriamento, e ainda,
um mínimo de gordura intramuscular, a qual garante o paladar característico.
16
A pouca maturidade dos feixes musculares do animal jovem garante um bom nível de
maciez (OSÓRIO et al., 2009). A qualidade da carne pode ser o diferencial da ovinocultura
para competir com a de outras espécies. Os bons atributos estão associados a carcaças com peso
médio de 12 a 13 kg, provenientes de animais com no máximo 120 dias de idade (MALVA et
al., 2016).
O mercado interno brasileiro também se apresenta promissor à produção e ao consumo
da carne ovina. Os preços pagos aos produtores elevaram-se na última década tornando a
atividade atraente e rentável. Entretanto, a produção ainda não supre a demanda interna, o que
leva o Brasil a importar ovinos, principalmente do Uruguai (MAGALHÃES et al., 2016).
A organização dos produtores, com vista à regularidade de oferta de produtos, é um dos
principais desafios a serem superados para conquistar o mercado consumidor. Barchet et al.
(2011) propõem a tecnificação e verticalização da produção a fim de aumentar a
competitividade do setor. A terminação dos cordeiros com a implementação do sistema
intensivo favorece a maior rotatividade do sistema produtivo e a possibilidade de incorporar
um grande número de ingredientes na dieta de forma a maximizar a eficiência no consumo para
transformação em proteína animal.
Ao confinar os ovinos é possível fornecer dietas de melhor qualidade e suprir as
exigências nutricionais para mantença e produção. Entre os ingredientes mais utilizados na
formulação de concentrados de animais confinados destacam-se o milho e o farelo de soja, pois
oferecem energia e proteína de alto valor biológico. A boa aceitabilidade e ausência de fatores
antinutricionais favorecem o consumo pelos ruminantes (CARVALHO et al., 2009). Porém, o
uso de grandes quantidades de grãos podem inviabilizar economicamente a atividade (ZIGUER
et al., 2010).
A inclusão parcial ou total de coprodutos agroindustriais de menor valor comercial
aparece como alternativa para reduzir custos de produção e permitir a destinação dos grãos a
outras atividades mais nobres. Mas, para viabilizar o uso dos coprodutos, fazem-se necessários
estudos que identifiquem a disponibilidade, viabilidade econômica, existência de fatores
tóxicos ou antinutricionais e as quantidades adequadas para formulação das dietas (ABDALA
et al., 2008; PINA et al., 2010, SOUZA et al., 2010; RIBEIRO et al., 2011).
2.2. Coprodutos da cultura de girassol na alimentação de ruminantes
Entre os alimentos alternativos disponíveis no mercado, peculiar interesse observa-se no
beneficiamento de aquênios de girassol, cujos coprodutos apresentam elevado potencial para
17
serem incluídos no sistema de produção animal. Com o crescimento na demanda por óleo de
girassol, as indústrias aumentaram a capacidade produtiva e consequentemente, a geração de
seus coprodutos. O resíduo, a torta e o farelo são os principais coprodutos da agroindústria de
demagação de grãos de girassol para obtenção de biodiesel ou óleo vegetal (CONAB, 2016;
USDA, 2016).
O resíduo de girassol é o primeiro coproduto gerado na agroindústria através da limpeza
dos grãos antes dos demais processamentos de extração do óleo. O produto é composto por
fragmentos de aquênios (principalmente chochos e quebrados), de pecíolos, de brácteas e de
inflorescências (capítulo e flores liguladas). Apesar de sua composição variar conforme a
proporção do material de origem aparenta ser fonte rica em fibras, proteínas e óleos essenciais.
Entretanto, logo após a limpeza, a indústria o queima, como medida preventiva a proliferação
de pragas.
O aproveitamento do resíduo de girassol como fonte de volumoso para ruminantes
representa uma possibilidade de reduzir custos com alimentação dos rebanhos. Todavia, essa
análise deve ser acompanhada da avaliação dos efeitos de sua inclusão na dieta, principalmente,
sobre o consumo e a digestibilidade dos nutrientes, principais variáveis que afetam o
desempenho dos animais (MERTENS, 1994).
Em estudos realizados por Coxworth et al. (1981); Aregheore (1996); Ngongoni et al.
(2007) foram verificados o potencial forrageiro dos capítulos de girassol. Aregheore (1996)
recomendou o duplo processamento como forma de homogeneizar os nutrientes e evitar o
hábito de seletividade, comum em ovinos. O primeiro apenas dos capítulos e o segundo, desses
com os demais ingredientes que compuseram a ração.
Ngongoni et al. (2007) verificaram nos capítulos vazios de girassol teor de nitrogênio (12
g kg-1 MS) equivalente às cascas de amendoim (14 g kg-1 MS), além de considerável teor de
EE residual (148 g kg-1 MS) e cinzas rica em cálcio (10 g kg-1 MS). No entanto, o material
apresentou elevado teor de lignina (122 g kg-1 MS). A lignina exerce efeito negativo na digestão
e tende a ser o principal fator a afetar o consumo e a digestibilidade dos nutrientes em
ruminantes (MERTENS, 1994).
A composição observada no resíduo de girassol parece ser diferente do resíduo da lavoura
de girassol. Estudos realizados por Drackley et al. (1985), com o resíduo da lavoura, o material
cortado cinco dias pós-colheita dos aquênios era constituído por razoável quantidade de talos e
folhas (65% de talos, 25% de capítulos e 10% de outros materiais). Os autores caracterizaram
quimicamente o produto com 6,1; 66,7; 56,6 e 15% de PB; FDN; FDA; e lignina,
respectivamente. A menor participação de aquênios, se comparado ao resíduo da limpeza dos
18
grãos pela indústria, sugere redução na concentração proteica e lipídica do material e maior
concentração de compostos fibrosos.
Por outro lado, o uso de aquênios de girassol na nutrição de ruminantes também desperta
o interesse da pesquisa como forma de elevar a densidade energética de dietas e melhorar o
desempenho e qualidade da carcaça dos animais (HOMEM JUNIOR et al., 2011; MAJEWSKA
et al., 2016). Homem Junior et al. (2011) observaram maiores ganhos de peso corporal diário
em ovinos alimentados com dieta acrescidas com 15% na MS de grãos de girassol. Os autores
acreditam que houve redução de poeira na ração, o que deve ter contribuído para a boa aceitação
dos animais à dieta.
Mir et al. (1995) relataram que a oferta de grãos inteiros de girassol em dietas de cordeiro
aumentaram o teor de proteína e gordura da digesta na porção proximal do intestino delgado,
fato que aumenta o fornecimento de nutrientes ao animal. No entanto, a atividade da amilase
na digesta intestinal foi mais responsiva à proteína e à gordura dietética em dietas mais ricas
em proteínas (16% PB) em relação ao controle (12% PB). Nesse estudo os autores verificaram
que proteína e gordura dietética afetaram a viscosidade da digesta intestinal dos ruminantes
sem, contudo afetar a concentração plasmática de CCK (colecistocinina) circulante. Os autores
justificaram que o efeito pode ter sido minimizado devido à forma de fornecimento de lipídeos
(sementes); aos níveis (14% na MS) que podem não ter sido suficientemente altos para provocar
uma resposta negativa e pelo momento de coleta da amostra, somente 4 horas após a
alimentação.
O elevado teor de EE observado nos aquênios pode melhorar a eficiência no uso da
energia, o que admite maior absorção e metabolismo dos substratos com melhor relação entre
nutrientes lipogênicos e gliconeogênicos (PALMQUIST & JENKINS, 1980). No entanto,
menor digestibilidade dos nutrientes, em especial dos componentes fibrosos foram
documentados em dietas com teores acima de 6% de EE (WARREN et al., 1988; HESS et al.,
2008; BLANCO et al., 2014).
Outros relevantes coprodutos da indústria do girassol são a torta e o farelo. A extração de
óleo dos grãos pode ser realizada por três processos: prensagem mecânica; pré-prensagem
seguida por uso de solvente; e extração por solvente. Com o uso de prensas mecânicas obtêm-
se como coproduto a torta de girassol. Mas, devido a ineficiência do processo, em geral, este
coproduto apresenta teor de extrato etéreo superior a 15% (NAGALAKSHMI et al., 2011).
Com a modernização das agroindústrias as prensas mecânicas estão sendo substituídas por
extratores químicos, geralmente o hexano que associado à alta temperatura aumenta a eficiência
19
de extração do óleo e o coproduto gerado é o farelo de girassol (MANDARINO, 1992;
CAMPBELL et al., 2016).
De acordo com NRC (2007), alimentos com concentrações superior a 200 g kg-1 de MS
de proteína bruta são reconhecidos como fontes proteicas. O farelo de girassol, apesar de ser
classificado como proteico (28-38% PB), apresenta elevado teor de fibra (46% FDN) (NRC,
2007; CARRERA et al., 2012). No entanto, vários fatores podem influenciar no valor nutritivo
do farelo de girassol, tais como a cultivar, sistema de plantio, grau de decortização das
sementes, e método de extração do óleo (MANDARINO, 1992; ALVES et al., 2012;
DALCHIAVON et al., 2016). Quando as cascas são preservadas, o farelo de girassol apresenta
altos teores de fibras e menor potencial energético (MANDARINO, 1992).
Dietas com elevado nível de fibra podem reduzir o consumo voluntário da ração. A fibra
diminui a aceitabilidade, provoca saciedade devido ao efeito de repleção ruminal e aumento da
retenção de água (VAN SOEST, 1994). Carvalho et al. (2014) indicaram a utilização de cal
hidratada para melhorar a degradação da FDN do coproduto. A hidrólise alcalina com 15 g de
Ca(OH)2 por kg de farelo de girassol foi suficiente para aumentar em 20% as degradabilidades
efetiva e potencial da FDN, sem prejudicar o aproveitamento proteico do farelo de girassol no
ambiente ruminal de novilhos.
Todavia, vários estudos indicam que o farelo de girassol possui valor nutritivo semelhante
ao farelo de soja e algodão (GARCIA et al., 2006; MOTA et al., 2015) e superior a torta de
girassol (Santos, 2008) e grãos secos de destilaria com solúveis-DDGS (GAO et al., 2015).
Clauss et al. (2016) argumentam que o trato gastrointestinal dos ruminantes (TGI) pode adaptar-
se às alterações na qualidade da dieta ou ao nível de consumo de alimentos. Indicam que a
flexibilidade do TGI assegura funções digestivas constantes (tais como, digestibilidade,
separação de partículas e fluxo da digesta) em diferentes níveis de consumo.
Irshaid et al. (2003) demostraram que o farelo de girassol poderia ser incorporado na
ração de cordeiros e ovelhas Awassi em lactação, sem qualquer efeito negativo sobre o consumo
e a digestibilidade dos nutrientes, bem como sobre o crescimento dos borregos e produção de
leite pelas ovelhas. Os autores acreditam que a boa aceitabilidade dos animais ao farelo de
girassol, provavelmente seja porque a palatabilidade desse coproduto seja tão boa quanto a do
farelo de soja.
Por sua vez, a suplementação dietética com fontes de boa degradabilidade aumenta a
oferta de nitrogênio para os microrganismos ruminais levando ao maior crescimento da
população microbiana, bem como ao aumento da eficiência de utilização da digesta (SNIFFEN
et al., 1992). À medida que a taxa de decomposição da digesta aumenta, o consumo de ração é
20
aumentado (VAN SOEST, 1994). Zagorakis et al. (2015) verificaram in situ alta
degradabilidade efetiva da PB (77,3%) em dietas a base de farelo de girassol. Apesar de baixa
degradabilidade no rúmen (6,7%) da fração “C”, esta não foi o suficiente para afetar in vivo a
digestibilidade total da PB (85,1%) e consequentemente, o consumo da MS.
Em pesquisa recente, Mota el al. (2015) analisaram dietas de novilhas associadas ao
fornecimento de cana de açúcar as fontes de proteína degradadas no rúmen (PDR): farelo de
soja, farelo de algodão, farelo de amendoim e farelo de girassol. Os autores não verificaram
diferenças significativas nos parâmetros de fermentação, síntese de proteína microbiana e
eficiência no uso de nitrogênio. Para os autores a quantidade de aminoácidos microbianos que
atingiu o intestino foi semelhante entre as diferentes fontes de PDR. Berchielli et al. (2011)
lembram que 50% a 80% dos aminoácidos absorvidos pelo ruminante tem origem microbiana.
Richardson et al. (1981) verificaram a digestibilidade aparente e a retenção de nitrogênio
através do balanço de compostos nitrogenados em dois experimentos. No primeiro substituíram
a ureia da dieta por 0, 5, 10 ou 20% de farelo de girassol na dieta de novilhos e no segundo,
com novilhas leiteiras, o concentrado proteico das dietas era a base de farelo de girassol (100%);
farelo de girassol (50%), farelo de algodão (50%); e farelo de algodão (100%). Em ambos os
experimentos não houve diferença para a digestibilidade aparente da matéria seca, matéria
orgânica e proteína bruta, bem como na retenção de nitrogênio.
No mesmo estudo acima, Richardson et al. (1981) avaliaram o desempenho de cordeiros
lanados alimentadas com a mesma dieta das novilhas, mas com 12 ou 8% de PB. Também não
houve diferenças para desempenho dos cordeiros quando as dietas apresentavam 12% de PB.
No entanto, resultados diferentes foram observados quando o teor proteico foi de apenas 8% de
PB. O farelo de algodão proporcionou resultados inferiores tanto para ganho de peso, conversão
alimentar e taxa de crescimento de lã. O que segundo os autores sugere que, sob condições de
insuficiência proteica, os aminoácidos contendo enxofre pode ser os primeiros a limitar o
desenvolvimento do animal. Portanto, em situações assim, o farelo de girassol, rico em
aminoácidos sulfurosos seria melhor indicado para compor a dieta.
Estudos realizados por Gao et al. (2015) apontaram o farelo de girassol (68,3%) como
boa fonte de PDR. Superior ao farelo de algodão (39,0%) e o DDGS (32,9%), que se mostraram
melhores como fonte de proteína não degradada no rúmen (PNDR) para cordeiros em
crescimento. Segundo os autores, os microrganismos removem seletivamente os aminoácidos
da PDR para seu metabolismo. Acrescentam que o tempo de degradação ruminal é diferente
entre os alimentos e a contaminação microbiana contribuem para a diferença no perfil
aminoacídico da PNDR que chega ao intestino quando comparado ao alimento consumido. O
21
farelo de girassol apresentou sequência de degradação ruminal dos aminoácidos essenciais
(Triptofano > Lisina > fenilanina > Valina > Histidina > Arginina). Entretanto, após a
degradação ruminal a lisina foi limitante em relação à proteína do corpo dos cordeiros.
Por outro lado Santos (2015) comparou a substituição parcial de farelo de soja na ração
concentrada por 8% de farelo de girassol; 10% de caroço de algodão ou 8% de torta de mamona
detoxificada na dieta de cordeiros Dorper X Santa Inês confinados (V:C-50:50). Apesar de não
observar diferenças na digestibilidade dos nutrientes entre os farelos de girassol e de soja, os
maiores valores de consumo de MS, MO, PB e FDN levaram a superioridade para o ganho de
peso total e ganho médio diário para os animais que consumiram a dieta contendo torta de
mamona detoxificada.
Para maximizar a produção de proteína microbiana, Berchielli et al. (2011) indicam a
sincronização entre a degradação de energia e proteína no rúmen. Assim, os estudos que
avaliem o efeito associativo entre os alimentos são importantes para formulação de dietas mais
eficientes. Mendes et al. (2006) sugeriram que o uso de farelo de girassol associado a fontes
energéticas prontamente disponíveis pode maximizar a digestão ruminal de novilhos de corte.
Adicionalmente, Louvandini et al. (2007) relataram que a substituição de farelo de soja
por 50% ou 100% de farelo de girassol no concentrado ocasionou aumento no consumo de
volumoso (feno de coast cross (Cynodon dactylon)) por ovinos. Comportamento semelhante
foi notado por Ávila et al. (2013), em ovinos alimentados por silagem de bagaço de sorgo
quando suplementados por 0, 7 ou 14 g kg-1 do PC de farelo de girassol. Os animais consumiram
em média 86% mais MS total e 8% mais MS da silagem. Os autores argumentaram que o
crescimento da microflora ruminal e a digestibilidade da fibra foram estimulados quando os
animais foram suplementados com farelo de girassol. A suplementação com proteína verdadeira
atua como catalisador da degradação da forragem no rúmen e aumenta o fluxo microbiano
ruminal (g bactéria dia-1) (DETMANN et al., 2014).
As características físicas favoráveis do farelo de girassol conferem ao coproduto bom
potencial para uso na formulação de rações para ruminantes (OLIVEIRA, 2008; GAO et al.,
2015; MOTA et al., 2015). Oliveira (2008) substituiu a mistura de farelo de soja mais farelo de
trigo, por farelo de girassol e não verificou efeito sobre o consumo de MS, MO, PB e CT com
a inclusão de até 21% de farelo de girassol no concentrado de vacas leiteiras. A maior taxa de
degradação da FDN (fibra detergente neutro) potencialmente degradada e as características
físicas da FDNi (Fibra detergente neutro indigestível), com alta densidade de partículas,
possivelmente reduziram o efeito seletivo pelo animal.
22
GARCIA et al. (2004), ao avaliar a inclusão de 0, 15, 30 e 45% de farelo de girassol em
concentrados para bovinos leiteiros, em fase de crescimento, também não encontraram
diferenças dos níveis de inclusão sobre os coeficientes de digestibilidade aparente da MS
(82,3%), PB (82,2%), FDN (72,5%) e FDA (70,5%). Os autores concluíram que, até o nível
45% de inclusão no concentrado, o farelo de girassol reduziu em 35% o custo de produção.
Portanto, pode ser utilizado, com eficiência, na dieta de bovinos leiteiros em fase de
crescimento.
23
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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28
CAPITULO I
INCLUSÃO DE RESÍDUO DE GIRASSOL NA DIETA DE OVINOS CONFINADOS
RESUMO:
O uso de alimentos alternativos em dietas de ovinos pode contribuir para a intensificação dos
sistemas de produção e aumento da disponibilidade de produtos cárneos no mercado interno.
Nesse estudo objetivou-se avaliar em ovinos, o consumo, a digestibilidade e o balanço de
nitrogênio de dietas com diferentes níveis de resíduo de girassol. Foram utilizados vinte (20)
borregos, não castrados, de aproximadamente 37 kg de peso corporal (PC), alojados em gaiolas
de metabolismo por um período de 21 dias, destes 15 para adaptação e 06 para coletas de
amostras. Os tratamentos experimentais foram compostos pela inclusão de 0, 12, 24 e 36% de
resíduo de girassol na matéria seca (MS) da dieta em substituição a silagem de milho. As dietas
experimentais, com 60% de volumoso e 40% de concentrado, foram fornecidas duas vezes ao
dia, permitindo 10% de sobras na matéria natural. Nos últimos seis dias foram quantificados
e coletados amostras das sobras, fezes e urina para posteriores análises laboratoriais. O
experimento foi conduzido em delineamento em blocos casualizados, com cinco repetições. Os
resultados indicaram ausência de efeito significativo (P>0,05) para consumo da MS, proteína
bruta (PB) e carboidratos totais (CT), com valores médios de 3,6; 0,41; e 2,7% do PC,
respectivamente. Verificou-se efeito linear (P
29
CHAPTER I
INCLUSION OF SUNFLOWER RESIDUE IN FEEDLOF SHEEP DIETS
SUMMARY:
The use of alternative foods in sheep diets can contribute to the intensification of production
systems and increase the availability of meat products in the domestic market. The objective of
this study was to evaluate sheep, intake, digestibility and nitrogen balance of diets with different
levels of sunflower residue. Twenty (20) uncastrated lambs of approximately 37 kg body weight
(CP) were housed in metabolism cages for a period of 21 days, 15 of these for adaptation and
06 for collection of samples. The experimental treatments were composed of the inclusion of
0, 12, 24 and 36% of sunflower residue in the dry matter (DM) of the diet in substitution of
corn silage. The experimental diets, with 60% of bulky and 40% of concentrate, were
distribuied twice a day, allowing 10% of leftovers in natural matter. In the last six days samples
of leftovers, stools and urine were quantified and collected for later laboratory analysis. The
experiment was conducted in a randomized complete block design with five replicates. The
results showed no significant effect (P>0.05) for DM, crude protein (CP) and total carbohydrate
(TC) intake, with mean values of 3.6; 0.41; and 2.7% of the CP, respectively. There was a linear
effect (P
30
1. INTRODUÇÃO
A ovinocultura de corte tem avançado ao longo dos anos e conquista novos mercados,
principalmente pela versatilidade da carne produzida (MALVA et al., 2016). No entanto, a
produção brasileira de carne ovina está aquém da demanda interna, principalmente pelas
diferenças organizacionais da cadeia produtiva existente (MAGALHÃES et al., 2016).
A ovinocultura, assim como as demais atividades pecuárias, busca a sustentabilidade
financeira, com superávits a cada lote produzido. O mercado demanda por carcaças com
qualidade, durante todo o ano e a um menor custo. Associado aos fatores genéticos, sanitários
e gerenciais, a nutrição animal é de extrema importância e responde por grande parte do custo
de produção (ZIGUER et al., 2010). Nesta perspectiva, o uso de alimentos alternativos surge
como uma oportunidade para melhorar a eficiência da cadeia produtiva. Os coprodutos
agroindustriais de menor valor comercial minimizam gastos com a nutrição animal, além de
favorecerem o reaproveitamento de matéria orgânica, muitas vezes considerada passivo
ambiental nas empresas (ABDALA et al., 2008; SOUZA et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2013).
Na última década as indústrias de beneficiamento de girassol aumentaram a capacidade
produtiva e consequentemente, a geração de coprodutos. O resíduo de girassol é o primeiro
coproduto gerado na agroindústria, resultado da limpeza dos grãos antes do processo para
extração de óleo. O material é composto por fragmentos de aquênios (chochos e quebrados),
pecíolos, brácteas e inflorescências, principalmente do capítulo e flores liguladas.
O alto teor de extrato etéreo (EE) observado no resíduo de girassol é atribuído à
participação dos grãos, que podem apresentar de 38,9% (DALCHIAVON et al., 2016) a 51,3%
de EE (JOBIM et al., 2008). Nos últimos anos, várias pesquisas buscaram comprovar as
propriedades dos grãos de girassol para ruminantes (FERNANDES et al., 2009; HOMEM
JUNIOR et al., 2010; MAIA et al., 2012). Fernandes et al. (2009) relataram maior concentração
de ácido linoleico conjugado (CLA) e ácidos graxos poli-insaturados no músculo de bovinos
que receberam grãos de girassol na dieta.
Além do elevado rendimento de óleo, os aquênios de girassol são fontes de proteína e
fibra. Alves et al. (2012) descreveram valores de 20,82% de proteína bruta e 31,21% de
carboidratos. Para os autores, o alto teor de carboidratos é atribuído às fibras presentes
principalmente nas cascas e aos carboidratos de reserva. A concentração dessas frações, bem
como da fração lipídica nos grãos pode ser alterada em função, do sistema de plantio, cultivar
e da posição dos aquênios no capítulo de girassol (ALVES et al., 2012; DALCHIAVON et al.,
2016).
31
Os capítulos de girassol também apresentam propriedades forrageiras para ruminantes
como fonte de fibra (COXWORTH et al., 1981; AREGHEORE, 1996; NGONGONI et al.,
2007). Ngongoni et al. (2007) verificaram nitrogênio em capítulos vazios comparável às cascas
de amendoim, além de considerável teor de EE residual e cinzas rica em cálcio. No entanto, o
material apresentou elevado teor de lignina (12,2% MS), composto que exerce efeito negativo
na digestão e tende a ser o principal fator nutricional a afetar a digestibilidade dos demais
componentes da parede celular em ruminantes (MERTENS, 1994).
No Brasil, em regiões próximas às agroindústrias o uso de resíduo de girassol é observado
entre os pecuaristas. Contudo, carece de informações sobre o valor nutriticional, da presença de
possíveis fatores tóxicos ou antinutricionais, da capacidade de interação com outras fontes e
principalmente, das quantidades máximas viáveis na formulação de dietas para cordeiros.
Assim, objetivou-se com este estudo avaliar o consumo e a digestibilidade dos nutrientes e o
balanço dos compostos nitrogenados de ovinos confinados alimentados com resíduo de girassol
em substituição a silagem de milho.
2. MATERIAL E MÉTODOS:
2.1. Caracterização do local e dos animais
A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Metabolismo Animal do Campus
Universitário de Rondonópolis da Universidade Federal do Mato Grosso, em Rondonópolis –
MT, cujas coordenadas geográficas são: 16º28’ Latitude Sul, 50º34’ Longitude Oeste. O clima,
segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw, tropical, com estações seca e chuvosas bem
definidas, verões quentes e úmidos e invernos frios e secos. A temperatura média anual é de
27,5ºC, oscilando entre 17ºC e 38ºC, para as médias de mínima e máxima, respectivamente. A
umidade relativa do ar é em média de 60% e a precipitação anual é de 1240 mm.
No experimento foram utilizados 20 ovinos machos, não castrados, sem raça definida,
com peso inicial médio de 39,05±1,49 kg que após pesagem, aplicação de anti-helmíntico e
complexo vitamínico foram transferidos para gaiolas de metabolismo animal dotadas de dois
comedouros e um bebedouro para fornecimento da ração experimental, do sal mineral e de
água. A higienização das gaiolas metabólicas e do Laboratório de Metabolismo Animal foi
realizada diariamente.
32
2.2.Caracterização do experimento e das dietas
O experimento teve duração de 21 dias, dos quais quinze corresponderam ao período de
adaptação e seis dias à coleta de dados. Foram avaliados: o consumo e a digestibilidade da
matéria seca e dos nutrientes e o balanço de compostos nitrogenados.
As rações experimentais, na proporção de 60% de volumoso e 40% de concentrado, em
base da matéria seca, foram fornecidas duas vezes ao dia, às 07:00 horas e às 16:00 horas,
permitindo sobras de até 10%, em base da matéria natural. A mistura entre o volumoso e a ração
concentrada foi realizada no próprio cocho, no momento do fornecimento aos animais. A
mistura mineral, cuja composição continha fosfato bicálcio, calcário calcítico, sal comum,
caulim, Nuviflav baunilha, enxofre, óxido de magnésio, sulfato de cobre, sulfato de manganês,
sulfato de cobalto, iodato de cálcio, selenito de sódio e óxido de zinco nas quantidades de
444,45; 146,12; 367,40; 0,99; 0,17; 12,18; 9,27; 0,40; 11,53; 0,40; 0,18; 0,03; 6,95 g kg-1,
respectivamente, foi fornecida em cocho individual ad libitum.
Os ovinos foram alimentados com dietas contendo diferentes quantidades de resíduo de
girassol nas dietas experimentais (Tabela 1). Os tratamentos foram constituídos pela adição de
0,0; 12; 24 e 36% de resíduo de girassol na matéria seca da dieta em substituição à silagem de
milho da dieta.
Tabela 1- Composição porcentual dos ingredientes nas dietas, valores em base da matéria seca.
Ingredientes Composição conforme níveis de substituição (%)
0,0 12 24 36
Silagem de milho 60 48 36 24
Milho fubá 27 31 34 38
Farelo de soja 13 09 06 02
Resíduo de girassol 0,0 12 24 36
Total 100 100 100 100
A composição química dos ingredientes utilizados nas dietas experimentais é apresentada
na Tabela 02. Na tabela 03 é exibida a composição química dos tratamentos conforme o nível
de inclusão de resíduo de girassol na matéria seca (MS) da dieta. As dietas experimentais foram
formuladas para conter 12,0% de proteína bruta (PB) para atender as exigências proteica e
energética de borregos para ganho médio diário (GMD) de 200,00 g dia-1, conforme
preconizado pelo National Research Council (NRC, 2007).
33
Tabela 2- Composição química da silagem de milho (SM), fubá de milho (FM), farelo de soja (FS) e do resíduo
de girassol (RG) utilizados nas dietas experimentais.
Fração analítica Ingredientes (g kg-1 MS)
SM FM FS RG
Matéria seca (g Kg-1) 297,49 915,52 934,85 934,40
Composição (g Kg-1 MS)
Matéria orgânica 940,49 944,37 945,02 940,32
Proteína bruta 78,11 90,25 534,52 176,71
Fibra em detergente neutro (FDN) 539,80 117,10 156,30 349,00
Fibra em detergente ácido 177,17 48,35 114,50 310,97
FDNcp 509,60 74,82 79,23 280,90
NIDN 7,06 6,13 5,80 6,87
NIDA 6,26 0,21 0,61 3,20
FDN indigestível 207,70 11,64 8,35 118,00
Extrato etéreo 25,11 56,02 17,39 230,27
Carboidratos não fibrosos 327,67 723,27 313,87 251,42
Carboidrato total 837,27 798,09 393,10 533,34
FDNcp: FDN corrigido para proteína e cinza; NIDN: nitrogênio insolúvel em detergente neutro; NIDA: teor de
nitrogênio insolúvel em detergente ácido.
Tabela 3- Composição química das dietas experimentais, conforme os níveis de resíduo de girassol.
Fração analítica Nível de resíduo de girassol nas dietas (% MS)
0,0 12,0 24,0 36,0
Matéria seca (MS g Kg-1) 548,78 625,21 700,97 778,29
Composição (g Kg-1 MS)
Matéria orgânica 937,36 941,79 943,08 940,24
Proteína bruta 127,06 123,52 124,95 125,07
Fibra em detergente neutro (FDN) 409,33 364,63 327,89 303,99
Fibra em detergente ácido 121,95 132,22 150,30 167,99
FDNcp 339,86 300,62 267,30 244,69
NIDN 10,88 13,22 13,71 14,20
NIDA 6,00 5,62 6,62 6,63
FDNindigestível 128,18 118,12 109,63 99,44
Extrato etéreo 34,30 60,44 85,19 113,1
Carboidratos não fibrosos (CNF) 395,08 424,36 441,06 437,97
Carboidrato total (CT) 776,00 757,83 732,94 702,08
FDNforragem FDNtotal-1 (%) 100 71,06 59,27 42,62
FDNcp: FDN corrigido para proteína e cinza; NIDN: nitrogênio insolúvel em detergente neutro; NIDA: nitrogênio
insolúvel em detergente ácido.
2.3.Coleta de amostras e análises químicas
Nos últimos seis dias experimentais, as fezes e as sobras das dietas foram colhidas duas
vezes ao dia, pesadas e amostradas em 10% da quantidade total. Ao final deste período foram
obtidas amostras compostas para cada animal. Na coleta total de fezes foram utilizadas bolsas
coletoras de couro ajustadas aos animais por meio de estruturas de tecido denominadas peitorais
(SOUZA et al., 2004).
Diariamente foram retiradas amostras da silagem, do resíduo de girassol e dos
concentrados fornecidos aos animais, obtendo-se, ao final do período de coleta, uma amostra
34
composta de cada alimento. Posteriormente, as amostras dos alimentos, sobras e fezes foram
pesadas e pré-secas em estufa de ventilação forçada a 60o C durante 72 horas (INCT-CA G-
001/1). Após secagem, as amostras foram novamente pesadas e trituradas em moinho tipo
Willey, com o uso de peneira de crivos de 1mm.
Para avaliação da composição química as amostras foram submetidas às análises de
matéria seca (MS) (INCT-CA G-003/1), matéria mineral (MM) (INCT-CA M-001/1), proteína
bruta (PB) (INCT-CA N-001/1), extrato etéreo (INCT-CA G-004/1), fibra em detergente neutro
(FDN) (INCT-CA F-002/1), proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) (INCT-CA N-
004/1), proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA) (INCT-CA N-004/1) e cinzas insolúveis
em detergente neutro (CIDN) (INCT- CA M-002/1), conforme os procedimentos descritos por
Detmann et al. (2012). A quantificação da fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) das
amostras de ingredientes, concentrados e sobras foram obtidas de acordo com metodologia
prescrita por Casali et al. (2008).
Os teores de carboidratos totais (CT) foram calculados segundo Sniffen et al. (1992): CT
= 100 – (%PB + %EE + %Cinzas), enquanto que os teores de carboidratos não fibrosos (CNF)
pela fórmula CNF = CT – FDNcp, em que FDNcp = FDN-(PIDN + CIDN).
Para a coleta de urina foram utilizadas bacias de polietileno mantidas abaixo de cada
gaiola, o que permitiu a coleta instantânea e total da urina de cada animal. Nas bacias foram
adicionados diariamente 100 ml de solução de ácido sulfúrico a 20% (CHEN e GOMES, 1992).
Um tecido de trama fechada foi preso à boca da bacia a fim de filtrar e evitar contaminação da
urina com pelo, velo e etc. A urina coletada a cada 24 horas foi quantificada, homogenizada e
retirado uma dose de 50 ml para análise de nitrogênio. As amostras foram armazenadas em
frascos plásticos identificados e congeladas a -15o C e posteriormente realizadas análises
laboratoriais
2.4.Consumo, digestibilidade aparente e balanço de compostos nitrogenado
O consumo de nutrientes foi calculado pela diferença entre a quantidade do nutriente
presente nos alimentos fornecidos e a quantidade do nutriente nas sobras. Posteriormente, foi
calculado o consumo de cada nutriente digestível, multiplicando a quantidade de nutriente
consumido pela sua digestibilidade, sendo o resultado expresso em gramas animal-1 dia-1, em
gramas peso metabólico-1 (g PC0,75) e em porcentagem do peso corporal (% do PC).
Os valores de nutrientes digestíveis totais observados foram calculados para as diferentes
dietas pela equação: NDT = PBD + EED x 2,25 + FDND + CNFD, em que PBD = proteína
35
bruta digestível; EED = extrato etéreo digestível; FDND = fibra em detergente neutro
digestível; CNFD = carboidrato não fibroso digestível (BRODY, 1945). Considerou-se que 1
kg NDT contém 4,409Mcal de energia digestível e para estimação da energia metabolizável das
rações, considerou-se o valor de 82% da energia digestível (NRC, 1985).
O balanço de compostos nitrogenados foi calculado pelas seguintes equações: BN ou
Nretido = Ningerido – (Nfezes + Nurina); Nabsorvido = Ningerido – Nfezes e Ningerido =
Nofertado – Nsobras, sendo expressos em g dia-1.
2.5.Delineamento experimental e análise estatística
O experimento foi conduzido em um delineamento em blocos casualizados, com cinco
repetições, sendo cada animal considerado uma unidade experimental e os blocos constituídos
de acordo com o peso dos animais. As variáveis obtidas foram submetidas à análise de variância
utilizando o software estatístico R versão 3.2.4 (R DEVELOPMENT CORE TEAM 2016),
segundo o seguinte modelo: Yijk = μ + αi +βj + eijk, onde: Yijk = valor observado; μ = média
geral; αi= efeito dos níveis utilizados; βj = efeito do bloco; e eijk = erro aleatório. Foi realizada
decomposição ortogonal da soma de quadrados de tratamentos em efeitos linear e quadrático,
para um α = 0,05.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A inclusão de 0, 12, 24 e 36% na MS de resíduo de girassol em substituição a silagem de
milho não influenciaram (P>0,05) os consumos de MS, matéria orgânica (MO) e proteína bruta
(PB) (tabela 4). As médias observadas foram de 1263,94 ± 66,13; 1190,26 ± 65,60; 170,17 ±
7,02 g dia-1, 3,07 ± 0,12; 2,89 ± 0,11; 0,41 ± 0,02% PC e 77,49 ± 2,90; 72,97 ± 2,87; 10,44 ±
0,41 g kg-1 PC0,75 para o consumo de MS, MO e PB, respectivamente. A ausência de efeito no
consumo voluntário da MS, MO e PB reflete a aceitabilidade dos animais pelo coproduto. A
aceitabilidade pelos ovinos a um alimento é indicativo dos aspectos qualitativos do mesmo, o
que pode ser compreendido através do consumo voluntário (VAN SOEST, 1994; CARVALHO
et al., 2009).
O resíduo de girassol não pode ser considerado uma fonte proteica, mas este apresentou
teor 17,6% de PB, fato que contribuiu para a redução da necessidade de farelo de soja nas dietas
experimentais (Tabela 2). Os consumos de MS (tabela 04) foram próximos a 1341,00 e 150 g
dia-1, valores estimados pelo NRC (2007), para cordeiros de maturidade tardia com PC e meta
36
para ganho de peso médio diário (GMD) semelhante aos utilizados nesse experimento. O uso
de dietas isoproteícas e o consumo semelhante de MS e MO podem justificar a ausência de
efeito para o consumo de PB.
Tabela 4- Consumo médio matéria seca (MS) e dos nutrientes das dietas, coeficiente de variação (CV) em função
do nível de inclusão de resíduo de girassol na dieta:
Nível de Inclusão (% MS TOTAL)
Consumo (g dia-1) 0,0 12 24 36 EPM P1
Matéria seca 1178,18 1310,92 1320,78 1245,90 64,41 0,193
Matéria orgânica 1102,66 1234,86 1245,83 1177,71 61,11 0,263
Proteína bruta 148,43 165,60 165,05 156,12 8,03 0,6742
Fibra em detergente neutro2 479,92 460,95 407,54 362,11 21,28 0,018
FDNcp3 425,62 403,54 366,15 326,49 19,48 0,017
Fibra em detergente ácido4 112,72 140,71 181,19 189,07 11,26 0,004
NIDN5 14,83 20,17 21,58 22,09 1,05 0,004
NIDA 4,43 5,32 4,79 4,53 0,33 0,094
FDNi6 154,53 196,81 155,38 128,19 8,66 0,009
Extrato etéreo7 41,25 83,76 115,72 144,45 11,10
37
O resíduo da limpeza dos grãos de girassol na agroindústria utilizado nesse estudo
diferenciou-se do resíduo de lavoura pós-colheita de girassol reportado por Drackley et al.
(1985), principalmente pela menor presença de talos e folhas. Rasool et al. (1998) compararam
a inclusão de 20% dos resíduos de lavouras de girassol, de soja e de palhada de trigo na dieta
de ovinos e caprinos. Os resíduos de lavoura de girassol promoveram menor consumo de MS,
porém com maiores GMD de peso.
Cerca de 30% do resíduo de girassol usado nesse estudo era composto por aquênios de
girassol, valor que correspondeu a 0,0; 3,62; 7,23; 10,85 g kg-1 de grãos conforme os níveis de
inclusão do coproduto na dieta dos animais. Essa quantidade foi inferior ao usado por Homem
Junior et al. (2010), que relataram redução no tempo de confinamento de 11 dias ao acrescentar
15% de grãos de girassol na dieta de ovinos. Segundo os autores houve maior aceitabilidade
dos animais à dieta com grãos de girassol, o que levou ao maior consumo da MS na fase inicial
do confinamento.
Os consumos de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente neutro corrigido
para cinzas e proteína (FDNcp) apresentaram reduções linear (P
38
fibrosa pelos microrganismos ruminais. Segundo Van Soest (1994), a fração indigestível é
propensa a aumentar o tempo de mastigação em função da dificuldade de reduzir o tamanho de
partícula.
Houve efeito linear crescente na fração de NIDN, com estimativas de acréscimos de 0,19
g dia-1 para cada unidade de inclusão de resíduo de girassol na dieta dos animais (Tabela 04).
Na dieta com 36% de inclusão de resíduo de girassol a fração NIDA foi 189% maior em
comparação à dieta sem a inclusão do coproduto. No entanto, não apresentou efeito (P>0,05)
sobre o consumo de NIDA, que teve valor médio de 4,77 g dia-1.
A maior concentração de carboidratos não fibrosos (CNF) e extrato etéreo (EE) presente
nas dietas, cuja origem foi principalmente, decorrente da maior participação do milho fubá e do
resíduo de girassol, respectivamente em relação à dieta controle (Tabela 01) alteraram (P>0,05)
os consumos dessas frações pelos animais. Para cada unidade de inclusão do coproduto houve
aumento de 5,08 e 2,85 g para CNF e EE, respectivamente (Tabela 04). Todavia, tal resultado
não afetou (P>0,05) o consumo de carboidratos totais (CT), justificado pela maior proporção
dessa fração na silagem milho nas dietas com maior participação desse ingrediente.
O consumo de EE foi superior ao relatado (2,07; 4,88; 8,13; e 11,24% de EE na MS) por
Castro (2013), que incluiu óleo de girassol em dietas de ovinos a base de feno de Tifton 85 e
farelo de girassol. O consumo de EE relatado pelo autor chegou a 120g dia-1, e afetou
negativamente o consumo da MS e dos nutrientes, bem como o desempenho dos animais.
O aumento no consumo de CNF e EE levam ao aumento na densidade calóricas das dietas
e pode ter consequências sobre a digestibilidade dos nutrientes dietéticos e desempenho animal
(HOMEM JUNIOR et al., 2011; GERON et al., 2013; MAJEWSKA et al., 2016). Os valores
médios do coeficiente de digestibilidade aparente da MS e dos nutrientes em função dos níveis
de inclusão de resíduo de girassol na dieta são apresentados na tabela 05. A adição de resíduo
de girassol não influenciou (P>0,05) os coeficientes de digestibilidade da MS, MO, e FDN, que
apresentaram valores médios de 71,11 ± 2,36; 72,93 ± 1,92; e 59,88 ± 2,71%, respectivamente.
A ausência de efeito na digestibilidade da MS, MO e FDN sugere que não houve diferença
na degradação ruminal desses componentes, ou ainda, se houve, essa foi compensada por uma
maior digestão no trato gastrintestinal inferior. Apesar de, possuir maiores valores de FDA, o
resíduo de girassol apresenta menores teores de FDN e FDNi comparado à silagem de milho
(Tabela, 03), fato que contribuiu favoravelmente com o consumo de MS digestível das dietas
contendo esse alimento, que apresentaram valor médio de 99,77 ± 73,26 g dia-1.
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Tabela 05- Coeficiente de digestibilidade (CD) em função dos níveis de inclusão de resíduo de girassol na MS,
coeficiente de variação (CV) e probabilidade de efeito pela análise de regressão.
Nível de inclusão (% MS do concentrado)
Ingrediente (%) 0,0 12 24 36 EPM P1
CDMS 69,73 70,70 74,56 69,45 1,13 0,783
CDMO 71,68 72,51 75,76 71,78 1,00 0,724
CDPB 68,95 70,26 73,07 70,12 0,91 0,783
CDFDN 62,19 59,68 61,50 56,13 1,45 0,281
CDEE2 86,69 92,97 95,85 94,46 0,86 0,001
CDCNF 82,65 82,36 86,01 82,70 0,67 0,552
CDCT 71,45 71,16 73,81 68,35 1,15 0,563
NDT3 70,87 75,67 81,98 81,35 1,36 0,014
CDMS: coeficiente de digestibilidade da matéria seca; CDMO: coeficiente de digestibilidade da matéria orgânica;
CDPB: coeficiente de digestibilidade da proteína bruta; CDFDN: coeficiente de digestibilidade da fibra em
detergente neutro; CDEE: coeficiente de digestibilidade do extrato etéreo; CDCNF: coeficiente de digestibilidade
do carboidrato não fibroso; CDCT: coeficiente de digestibilidade do carboidrato total; NDT: nutrie