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CORAGEM PARA VENCER - UMA LIÇÃO DE FÉ, PERSEVERANÇA E CURA

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No dia 17 de Fevereiro de 2009 recebi o diagnóstico de uma doença rara. Depois daquele dia minha vida mudou. Parei de andar e de fazer quase todas as atividades que antes podia fazer sozinha. Era muito ativa e passei a ser uma pessoa completamente dependente em pouco tempo. Tendo que aprender a conviver com todas as mudanças e abdicações que a patologia me levaria a fazer, recorri à ajuda do Único que poderia me ajudar a vencer todos os desafios. A doença, apesar de tudo, me permitiu mudar meus conceitos sobre a vida, rever velhas crenças e analisar minhas ações, pensamentos e sentimentos, mas, além disso, permitiu que eu tivesse a oportunidade de conhecer alguém que sempre estivera ao meu lado, mesmo quando não tinha a capacidade de reconhecer Sua proteção. Neste livro retrato minha árdua jornada e comprovo que se você tem Fé e confiança em Deus tudo é possível.

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São Paulo 2012

CORAGEM PARA VENCERUma l ição de Fé, Perseverança e Cura

Diana Dias

COLEÇÃO NOVOS TaLENTOS Da LITERaTURa BRaSILEIRa

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Introdução

Muitos religiosos dizem que nada em nossa vida ocorre por obra do acaso, ou por alguma coincidência. Tudo acontece por um motivo, há sempre um propósito, algo que no futuro nos levará a ter outra concepção, outros conceitos e modos de ver e viver a vida.

Eu demorei um pouco a perceber que as adversidades da vida, mesmo hoje parecendo um tipo de “castigo”, podem nos dar força e servir para que em um futuro próximo tenhamos mais maturidade, sejamos mais humildes, compreensivos, res-ponsáveis, amorosos e pacientes. Cada problema ou situação difícil surge com o intuito de ensinar alguma lição, fazendo assim com que passemos por um processo de aprendizagem e evolução constantes.

Todas as pessoas enfrentaram, estão enfrentando ou enfrentarão algum tipo de adversidade durante sua “pas-sagem” pela Terra, seja uma crise financeira, problemas no casamento, enfermidade ou a perda de um ente querido.

Hoje, me sinto grata a Deus, que mesmo tendo permitido que eu tivesse de enfrentar grandes desafios, esteve sempre ao meu lado me dando apoio e força, fazendo que fosse possível vencer todos os obstáculos que apareceram no meu caminho. Porém, no início, meu pensamento e concepção eram muito diferentes. Por isso, decidi escrever este livro, no qual conto um pouco da minha curta experiência e que busca, acima de tudo, ajudar, você leitor, a ter outro olhar acerca da vida, rever suas atitudes e sentimentos, e mostrar que para todas as nossas ações

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há um determinado efeito, alterando não só nossas vidas como também a vida das demais pessoas com as quais convivemos.

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Capítulo 1

O desafio do diagnóstico

“Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado, receber a coroa da vida, que o Senhor

prometeu aos que o amam.” (Tiago 1:12)

O ser humano, quase sempre, escolhe o caminho mais fácil. Felizmente, podemos até ter a primeira palavra, mas quase nunca temos a última. Por vezes, enveredamos pelo caminho mais difícil, que acaba sendo a pior escolha. Mas na lida, acaba-remos trilhando o caminho que nos trará mais benefícios e um profícuo aprendizado. Basta disposição, obediência, confiança e retidão. Com Deus, sempre.

No meu caso não foi diferente. Ele tomou todas as decisões por mim, escolheu meu caminho e sem que eu soubesse ao certo me ajudou a trilhá-lo com coragem e força, que desconhecia.

Eu tinha uma vida considerada normal. Durante o dia, fazia atividades rotineiras como qualquer criança ou pré-ado-lescente. Mal sabia que as coisas começariam a ficar um pouco diferentes das habituais.

Durante praticamente toda a minha vida, tive uma ótima saúde. Enquanto outras pessoas adoeciam ou contraíam algum

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tipo de doença respiratória, eu continuava com a saúde inabalá-vel. Nunca havia ficado internada em hospitais e jamais precisei deles por causa das doenças comuns, apenas para exames roti-neiros, geralmente uma vez por ano.

No final de 2008, meu pai decidiu me levar ao hospital para tais exames; lembro que me sentia bem, apesar de uma incômoda fraqueza, que afetava principalmente os ombros e de algumas dores e sensações de mal-estar na região do fígado. Em relação à fraqueza, meus pais não demonstraram muita preo-cupação, pois como estava entrando na fase da puberdade, eles achavam normal que as garotas da minha idade ficassem com “preguiça” de vez em quando.

Tomava remédios, diariamente, para tentar amenizar as dores que sentia no fígado, mas elas não cessavam, apenas diminuíam. Com isso, meu pai me acompanhou em uma consulta ao clínico geral para relatar meu estado. O clínico pediu uma bateria de exames de sangue e disse que devería-mos retornar.

Com os resultados em mãos, o médico pôde concluir que dois dos exames, denominados TGO (transaminase glutâmico oxalacética) e TGP (transaminase glutâmico pirúvica), esta-vam consideravelmente anormais. Com esses e outros exames fechou-se assim o diagnóstico de hepatite A.

Continuei tomando alguns comprimidos por dia e fui ins-truída a não fazer nenhum tipo de esforço físico. Até então a vida seguia normalmente, exceto pela sensação de fraqueza nos ombros que havia se espalhado ao longo do braço e começava a aparecer na área das coxas, fazendo com que simples movimen-tos como pentear os cabelos e levantar de cadeiras muito baixas se tornassem muito difíceis.

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Mesmo com as dores sendo controladas por meio das medi-cações, a fraqueza não cessava. Passei a cair muito enquanto andava ou realizava as atividades diárias. Em decorrência das quedas, minha mãe começou a me acompanhar nas consultas. Em uma delas, o clínico geral nos indicou um neurologista.

Nessa consulta, a profissional, após avaliar os resultados dos exames de sangue e de imagem do cérebro, pediu para que minha mãe me retirasse da sala, pois queria ter uma conversa com ela, a sós. Essa atitude deixou-me nervosa, com raiva, como se uma adolescente de 14 anos não tivesse capacidade de entender aquela situação. Mas assim foi feito. Minha mãe fez o que a doutora havia sugerido. Depois de quase trinta minutos de conversa, chamou-me de volta à sala.

A médica começou a conversar comigo e falou sobre a possibilidade de eu ter uma doença chamada lúpus. Na época, não tinha muito conhecimento acerca do assunto e achei que era uma doença comum. Enquanto ela contava mais detalhes sobre essa patologia, eu pensava se fora mesmo necessário ter me tirado do consultório apenas para falar com a minha mãe sobre a possibilidade de eu ter lúpus. Afinal, era apenas uma possibilidade, certo? Ela não tinha certeza.

Se eu estivesse mesmo com essa doença, qual seria o pro-blema de o próprio paciente saber do que realmente sofre? Hoje, acho que a médica agiu daquela maneira para tentar me proteger não da doença em si, mas de como eu me sentiria se soubesse que estava doente e pior, de como seria minha vida a partir daquele exato momento. Ela estava preocupada com o meu estado emocional, nada mais. Sou grata a ela por demons-trar tanto zelo por uma pessoa com a qual não tinha nenhuma intimidade.

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Ainda não tínhamos o diagnóstico da patologia de que sofria, então decidimos consultar outros médicos. Fomos a outro clínico geral, este recomendado por muitas pessoas de confiança. Após avaliar os exames já realizados, solicitou mais exames de imagem e a atualização dos demais.

Um desses exames fora o de eletroneuromiografia, que, sem dúvida, foi o mais doloroso. Lembro-me de que chegamos ao consultório para a realização dele por volta das 16h. Ao entrar, a médica pediu que minha mãe me deitasse na maca, já que eu estava muito fraca. Depois de organizar todos os aparelhos, ela deu início ao exame, que avaliaria o funcionamento dos nervos e músculos.

A cada agulha introduzida, lágrimas escorriam pelo meu rosto. Pedi que o exame fosse interrompido, mas minha mãe me lembrou de que como morávamos no interior, não tinha como voltarmos para terminá-lo em outro dia, por isso eu teria de aguentar e permitir que a médica finalizasse o doloroso procedimento.

Isso durou cerca de uma hora. Durante esse tempo, pude sentir todos os nervos e músculos sendo perfurados por agulhas. Depois, eu e minha mãe fomos à rodoviária, pois como meu pai precisava trabalhar não podia nos acompanhar sempre, por isso começamos a andar muito de ônibus, o que não era uma tarefa fácil, pois não conseguia me movimentar sozinha. Minha mãe tinha de me ajudar a subir e descer os degraus sempre que pre-cisávamos nos deslocar para novos exames ou consultas.

O grande problema em ser carregada é o incômodo para quem está carregando. Na época, eu pesava 62kg e minha mãe era quem mais sofria com minha falta de mobilidade, mesmo

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não demonstrando quando sentia dores. Para tentar diminuir esse incômodo, a única coisa que podia fazer era tentar perder um pouco de peso a fim de aliviar as dores que ela, constante-mente, sentia na coluna.

Deixei de comer o que mais gostava. Desde criança, gostava muito de doces, bolos, sorvetes e refrigerantes. Parei de comer tudo isso para perder peso. Tirei da dieta uma grande quanti-dade de carboidratos. Em cerca de seis meses, perdi quase 15kg. Tenho certeza de que essa atitude não foi correta. O ideal é ter o acompanhamento de um nutricionista para elaborar um cardápio individual e balanceado, de acordo com as necessi-dades nutricionais diárias. Com minha dieta, frequentemente sentia tonturas, por isso não aconselho ninguém a começar um regime sem acompanhamento médico.

Fizemos todos os exames que o clínico geral havia pedido; recebemos os resultados na semana seguinte e voltamos ao médico, que os examinou. Os resultados revelaram que eu estava com miopatia. Ele explicou que a miopatia é basica-mente uma fraqueza muscular, ou seja, ainda não sabíamos de qual doença eu sofria. Não tínhamos ideia do que fazia meu corpo ficar tão fraco e o que estava fazendo com que sentisse tantas dores no fígado.

Ainda foi preciso consultar vários especialistas, de quase todas as áreas da medicina, à procura de respostas. Lembro que em uma dessas peregrinações, eu e minha mãe tínhamos aca-bado de chegar ao terminal rodoviário quando fomos recebidas por minha avó materna, R.S., que nos levou para visitar minha tia C. em sua casa. Depois da visita ela nos convidou para ir à igreja. Logo decidimos ir, seria maravilhoso pedir a bênção de

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Deus para que nos ajudasse a descobrir qual direção deveríamos seguir. Só não sabíamos que as nossas preces seriam atendidas tão rapidamente.

Pude ver e testemunhar que milagres realmente existem. Independentemente da sua religião e das suas crenças, se você possui fé e tem esperança de que as coisas podem dar certo, persista e não desista. Seu esforço nunca será em vão.

Fomos à igreja. Eu, na época, não possuía uma fé muito íntegra. Mas tenho certeza de que o acontecimento deste dia foi a resposta de todas as orações feitas não só por mim mas pela família inteira. Durante a cerimônia, orávamos e pedíamos a Deus que me abençoasse e que os médicos descobrissem logo o que eu tinha.

Depois da igreja, fomos ao hospital para uma consulta, agendada para aquela tarde, com o cardiologista. Nessa consulta foi solicitado um exame chamado eletrocardiograma, que veri-fica o funcionamento do coração. Por coincidência, o médico que havia feito o exame foi o mesmo a avaliá-lo. Constatado que não tinha nada de errado com meu coração, perguntou como eu me sentia. Minha mãe falou a respeito de todos os sintomas, dos exames feitos e das dores no fígado.

Depois de ouvir tudo o que ela tinha a dizer sobre nossa “luta” pelo diagnóstico, o médico perguntou-lhe se já havia me levado ao reumatologista. Ao ouvir essa palavra minha mãe se espantou, pois em sua concepção esse especialista cuidava ape-nas de idosos. Mesmo assim, decidimos marcar uma consulta. Minha mãe foi ao setor onde as consultas são agendadas e falou com uma moça, esta disse que não havia horários vagos naquele dia. Depois que minha mãe explicou que não tínhamos como retornar apenas para essa consulta, ela disse que me encaixa-

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ria, mas o médico só chegaria às 18h. Sem opção, esperamos durante quase quatro horas.

Com a chegada do reumatologista, enfim nos dirigimos ao seu consultório. Depois de avaliar todos os exames, o Dr. O.P., finalmente, receitou a primeira medicação específica para a fraqueza muscular e disse que eu sofria de uma doença chamada polimiosite. Nunca, em toda a minha vida, tinha ouvido falar dessa doença. No dia seguinte, fiz uma pesquisa sobre o assunto em alguns sites. Mas, infelizmente, percebi que a maioria dos cientistas não dão muita atenção a essa patologia.

Em várias fontes pesquisadas, pude constatar que as medicações prescritas para as patologias autoimunes são muito limitadas. Além disso, os meios de comunicação não demonstram nenhum tipo de preocupação em divulgá-las. Se as pessoas soubessem a respeito dessas doenças, tudo fica-ria mais fácil. Ao serem informadas corretamente sobre os sintomas, poderiam logo se encaminhar para um especia-lista e começar o tratamento antes de a doença se agravar. No mundo de hoje, em que diversas doenças são descober-tas pelos cientistas, fica cada vez mais difícil fazer um diag-nóstico rápido e preciso. O preocupante é que justamente a rapidez do diagnóstico pode muitas vezes ser a chave para a salvação de uma vida.

Pelas minhas pesquisas, não muito eficazes, entendi um pouco mais sobre esta patologia que afeta uma pessoa a cada cem mil. A polimiosite é uma doença autoimune, caracteri-zada pela fraqueza, inflamação e degeneração dos músculos. As partes mais afetadas são os braços, as coxas e os quadris,

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podendo atingir de forma simétrica todos os músculos do corpo.

A causa é desconhecida, mas a predisposição genética, alte-rações hormonais e mesmo uma redução no controle imunor-regulatório podem ter um papel crucial no desenvolvimento do processo inflamatório. Os sintomas são, basicamente, fra-queza muscular, dores articulares e musculares, dificuldade na deglutição, febre, fadiga e perda de peso. Em alguns pacientes, pode também haver comprometimento cardíaco e em casos mais raros está associada a outros tipos de patologias como câncer e lúpus.

A fraqueza muscular faz com que a pessoa, aos poucos, fique impossibilitada de realizar movimentos triviais como levantar de cadeiras, subir e descer escadas, e pentear os cabe-los. E, em alguns casos, confina o paciente ao leito ou à cadeira de rodas. Já que os músculos do pescoço são afetados, o simples ato de levantar a cabeça de um travesseiro torna-se uma tarefa impossível; os pulmões podem também ser afetados, causando dificuldade respiratória ou tosse. No entanto, os músculos das mãos, dos pés e da face não são atingidos. Ou seja, as células de defesa, por algum motivo, passam a enxergar quase todos os músculos do corpo como invasores, e passam a “atacar” todos eles. Esse tipo de patologia, em que o corpo reconhece nele próprio como um tipo de invasor, são as chamadas doenças autoimunes.

Um dos exames de sangue que o reumatologista havia pedido para confirmar o diagnóstico de polimiosite – o que não seria assim tão necessário para ele já que meu corpo apre-sentava os principais sintomas – foi um exame chamado creati-nofosfoquinase, mais conhecido pelos médicos como CPK ou

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somente CK. A taxa considerada normal era de 70-140. Meu exame tinha como resultado o valor de 11.699. Com isso, ficou claro que a inflamação estava em um grau bastante avançado.