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CORAL Diante de um projeto que trata de Mitos e Lendas, o que se passa por nossa cabeça ao começarmos mais um ano de Coral? Cla- ro, aprender a cantar, respirar, pulsar em conjunto e sentir o som que somos capazes de fazer com nossas vozes, além de con- quistarmos o imenso prazer que a música nos oferece. Mas onde está o Mito? Essa é a nossa pesquisa deste ano e tal- vez melhor do que termos respostas, possa- mos refletir sobre alguns pontos ainda tão recorrentes em nossa cultura. Será que Coral é uma coisa feita por pessoas sérias, sem alegria, que estão sempre preocupadas em “não errar”, antes de ter prazer no que fazem? Será que é coisa apenas para gente que “tem voz” ou que “já sabe cantar”? Será que é ativ i- dade apenas voltada para os Deuses antes do que para os iguais? Ou mesmo que é coi- sa de privilegiados inatingíveis em sua virtude aos olhos de uma platéia reprimida? Na realidade vemos o Coral como um espa- ço, antes de mais nada, de des -mistificação da música. Um lugar de encontro e descoberta, de possibilidades pessoais de desenvolvimento, de conscientização do espaço público, da exi s- tência do outro, da construção paulatina de uma ação conjunta e solidária. A possibilidade de ajudar (quarta-série com o seu repertório já conhecido) e ser ajudado (os “calourinhos” da terceira-série). A possibilidade de retribuir essa ajuda oportunamente. A obrigatoriedade da atividade para todos os alunos é justamente o que abre a possibi- lidade de desfazer qualquer idéia preconcei- tuosa, mistificada, do que seja uma atividade musical como um Coral. E é por estas razões que, a cada ano, estamos por um lado reedi- tando músicas antigas e por outro acrescen- tando novas músicas, associadas ao Projeto do ano em curso. As músicas escolhidas, por enquanto, para 2004, são “Estampas Euc a- lol” de Hélio Contreiras e “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”, de Raul Seixas, que tratam de diversos personagens míticos, e que f o- ram arranjadas com a idéia de oferecerem também a possibilidade de explorar outros elementos como palmas e uma idéia teatral condutora que dê um outro sentido à mera execução correta de uma música. Mito é ide- al e distante, inatingível. O Coral da Sá Perei- ra é o que é: vivo, pulsante, imperfeito, um quase caos nutrido pela efervescência de quase cinqüenta crianças em cada turno. Heterogêneo, em constante processo e ca- paz de nos dar um imenso prazer. Projeto: Elisabeth Von K. R. de Freitas Matemática: Andréa Nívea Inglês: Gabriela A. Irigoyen Expressão Corporal: Ana Cecília P Guimarães Educação Física : Renato Lent Música: Manoela Marinho Rego Teatro: Rodrigo Maia Artes: Sabrina Romeiro Tribo: Anselmo Carvalho Orientação: Andréa de Rezende Travassos Coordenação e Direção : Maria Teresa J. A. Moura e Maria Cecília J. A. M oura Relatório do Primeiro Semestre de 2004 Ensino Fundamental Rua Capistrano de Abreu, 29 - Botafogo Tel 535-2434 Rua Cesário Alvim, 15 - Humaitá Tel 3239-0950 www.sapereira.com.br / [email protected] TRIBO Escutar e ouvir. Duas faces da mesma moeda. Duas formas que só existem juntas. Ouvir é acreditar. Só ouve quem acredita em quem fala. E aí começa a complicação. A fala tem se proliferado além dos ouvidos. Tem pairado como um ruído de fundo. Pode ou não ser verdadeira. Pode ou não ter vera- Começamos a tribo buscando o ouvir. Pri- meiro uma música quase inaudível, depois o silêncio, depois os outros. Os menores, pri- meira e segundas séries, se deliciam com a existência de um espaço onde possam recla- mar, trazer suas insatisfações, suas insegu- ranças, seus protestos. Os maiores já se preocupam mais em estabelecer suas opini- ões, dar sugestões. Mas a verdade é que cidade. Pode ou não ter a fé de quem a pro- fere. Aos políticos já foi dado o direito de dizer o que quiserem quando em campanha. Aos pais o direito de falar e acreditar que não vão ser ouvidos. Aos professores o de solicitar sem a certeza de que vão ser aten- didos. É nesse ambiente que reclamamos que as crianças não ouvem. Mas não será a fala que está vazia? Quarta Série Manhã Alfredo Aghina Ferreira / Alice Martins / Beatriz Figueiredo Velho / Bernardo Oliveira Caldas / Caio Fragale Pastusiak / Catarina Reis Macedo / Clara Sabatella Lopes / Dhyan Monducci Simão de Oliveira / Guilherme Vasconcelos Boavista da C.junqueira / Isabel Carvalho Zanotelli / João Cotrim Coutinho / João Neves Beyssac / Laura Bruno Machado / Letícia da Silveira Lobo / Luana Bittencourt / Luana Prado / Luca Boal Silbert / Luisa Antonia Elias / Nicolau Lemme / Rafael Machado / Rafael Guinle Lima / Rebecca Louise Rowland / Tie Guarilha Leal / Tuli Grippi Chebabi / Yasmine Saab Azeredo

CORAL Relatório do Primeiro Semestre de 2004 · 2013. 10. 17. · de conscientização do espaço público, da exis-tência do outro, da construção paulatina de uma ação conjunta

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  • CORAL Diante de um projeto que trata de Mitos e

    Lendas, o que se passa por nossa cabeça ao começarmos mais um ano de Coral? Cla-ro, aprender a cantar, respirar, pulsar em conjunto e sentir o som que somos capazes de fazer com nossas vozes, além de con-quistarmos o imenso prazer que a música nos oferece. Mas onde está o Mito?

    Essa é a nossa pesquisa deste ano e tal-vez melhor do que termos respostas, possa-mos refletir sobre alguns pontos ainda tão recorrentes em nossa cultura. Será que Coral é uma coisa feita por pessoas sérias, sem alegria, que estão sempre preocupadas em “não errar”, antes de ter prazer no que fazem? Será que é coisa apenas para gente que “tem voz” ou que “já sabe cantar”? Será que é ativ i-dade apenas voltada para os Deuses antes

    do que para os iguais? Ou mesmo que é coi-sa de privilegiados inatingíveis em sua virtude aos olhos de uma platéia reprimida?

    Na realidade vemos o Coral como um espa-ço, antes de mais nada, de des -mistificação da música. Um lugar de encontro e descoberta, de possibilidades pessoais de desenvolvimento, de conscientização do espaço público, da exis-tência do outro, da construção paulatina de uma ação conjunta e solidária. A possibilidade de ajudar (quarta-série com o seu repertório já conhecido) e ser ajudado (os “calourinhos” da terceira-série). A possibilidade de retribuir essa ajuda oportunamente.

    A obrigatoriedade da atividade para todos os alunos é justamente o que abre a possibi-lidade de desfazer qualquer idéia preconcei-tuosa, mistificada, do que seja uma atividade musical como um Coral. E é por estas razões

    que, a cada ano, estamos por um lado reedi-tando músicas antigas e por outro acrescen-tando novas músicas, associadas ao Projeto do ano em curso. As músicas escolhidas, por enquanto, para 2004, são “Estampas Euca-lol” de Hélio Contreiras e “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”, de Raul Seixas, que tratam de diversos personagens míticos, e que fo-ram arranjadas com a idéia de oferecerem também a possibilidade de explorar outros elementos como palmas e uma idéia teatral condutora que dê um outro sentido à mera execução correta de uma música. Mito é ide-al e distante, inatingível. O Coral da Sá Perei-ra é o que é: vivo, pulsante, imperfeito, um quase caos nutrido pela efervescência de quase cinqüenta crianças em cada turno. Heterogêneo, em constante processo e ca-paz de nos dar um imenso prazer.

    Projeto: Elisabeth Von K. R. de Freitas Matemática: Andréa Nívea Inglês: Gabriela A. Irigoyen Expressão Corporal: Ana Cecília P Guimarães Educação Física: Renato Lent Música: Manoela Marinho Rego Teatro: Rodrigo Maia Artes: Sabrina Romeiro Tribo: Anselmo Carvalho

    Orientação: Andréa de Rezende Travassos Coordenação e Direção : Maria Teresa J. A. Moura e Maria Cecília J. A. Moura

    Relatório do Primeiro Semestre de 2004 Ensino Fundamental

    Rua Capistrano de Abreu, 29 - Botafogo Tel 535-2434

    Rua Cesário Alvim, 15 - Humaitá Tel 3239-0950 www.sapereira.com.br / [email protected]

    TRIBO Escutar e ouvir. Duas faces da mesma

    moeda. Duas formas que só existem juntas. Ouvir é acreditar. Só ouve quem acredita

    em quem fala. E aí começa a complicação. A fala tem se proliferado além dos ouvidos. Tem pairado como um ruído de fundo. Pode ou não ser verdadeira. Pode ou não ter vera-

    Começamos a tribo buscando o ouvir. Pri-meiro uma música quase inaudível, depois o silêncio, depois os outros. Os menores, pri-meira e segundas séries, se deliciam com a existência de um espaço onde possam recla-mar, trazer suas insatisfações, suas insegu-ranças, seus protestos. Os maiores já se preocupam mais em estabelecer suas opini-ões, dar sugestões. Mas a verdade é que

    cidade. Pode ou não ter a fé de quem a pro-fere. Aos políticos já foi dado o direito de dizer o que quiserem quando em campanha. Aos pais o direito de falar e acreditar que não vão ser ouvidos. Aos professores o de solicitar sem a certeza de que vão ser aten-didos. É nesse ambiente que reclamamos que as crianças não ouvem. Mas não será a fala que está vazia?

    Quarta Série Manhã Alfredo Aghina Ferreira / Alice Martins / Beatriz Figueiredo Velho / Bernardo Oliveira Caldas / Caio Fragale Pastusiak / Catarina Reis Macedo /

    Clara Sabatella Lopes / Dhyan Monducci Simão de Oliveira / Guilherme Vasconcelos Boavista da C.junqueira / Isabel Carvalho Zanotelli / João Cotrim Coutinho / João Neves Beyssac / Laura Bruno Machado / Letícia da Silveira Lobo / Luana Bittencourt / Luana Prado /

    Luca Boal Silbert / Luisa Antonia Elias / Nicolau Lemme / Rafael Machado / Rafael Guinle Lima / Rebecca Louise Rowland / Tie Guarilha Leal / Tuli Grippi Chebabi / Yasmine Saab Azeredo

  • Foi essa a forma que escolhemos para en-trar em contato com a essência do mito: uma história em que estão presentes ideais de co-ragem, de persistência, de um saber construí-do na relação com a natureza, com o trabalho e com a experiência. Através dessa leitura pudemos predispor as crianças ao desejo de pesquisar e estudar temas que contemplam as diversas áreas do conhecimento.

    Antes de iniciar a leitura, nossos primeiros passos foram trilhados a partir de um olhar mais detalhado sobre o título do Projeto Ins-titucional “Catando sonhos no velho e no novo mundo”. O que esse enunciado estava sugerindo? Partimos, então, para uma refle-xão sobre o que são “sonhos”.

    Nesse momento, os livros “Mania de Ex -plicação”, “Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento”, ambos de Adriana Falcão e al-guns textos de Eduardo Galeano foram fun-damentais para desconstruir, para ampliar e ressignificar a forma das explicações. As crianças conseguiram embarcar nesse exer-cício, descobriram vários significados para a palavra e usando a razão e a emoção, pude-ram perceber as várias maneiras de se dar uma explicação. Em seguida, aproveitando a letra do samba enredo “Catando sonhos no tempo”, composto pela Manoela, nossa pro-fessora de música, que falava de “histórias bonitas” e coisas “difíceis de explicar”, come-çamos a nos aproximar da essência dos mi-tos na sua tentativa de explicar o inexplicá-vel, de dizer o indizível, num modo intuitivo de compreender a realidade.

    Nesse contexto, assistir ao filme “Narradores de Javé”, foi uma oportunidade de trazer a riqueza das narrativas, das tradições orais na formação da identidade de um povo.

    Quando os livros começaram a chegar e fomos avançando na leitura, temas que tí-nhamos levantado como possibilidades de estudo, foram surgindo. O mar, em toda a sua grandeza, invadiu nossas aulas e o pro-jeto da turma foi batizado como “No imenso mar azul”.

    Mas que mar é esse? É o mar das Ciên-cias Naturais? Da História? Da Geografia? O mar da Literatura? Qual é sua origem? Qual é a sua importância? Que seres vivem nele ou dele? Muitas eram as perguntas, muitos os caminhos a seguir e muitos foram os ma-teriais trazidos pelas crianças.

    Logo no início pensamos que precisaría-mos pesquisar a formação dos Oceanos.

    PROJETO “O mito é a tentativa de dizer o indizí-

    vel. O ser humano, desde sua origem, vive um encontro com algo que experi-menta como maior que ele mesmo. De muitos modos ele tenta comunicá-lo falan-do do inefável, do sagrado, do mistério, dos deuses”.

    Tempo de Camélia – O espaço do mito. Zelita Seabra

    Que momento tão especial é esse em que nos concentramos para refletir e revisitar o percurso de uma turma durante um semestre!

    No ano em que o Projeto Institucional nos propõe uma aproximação com os mitos e lendas de todos os tempos, pensamos em ter a literatura como referência do projeto da quarta série.

    Para essa empreitada decidimos adotar o livro “O velho e o mar”, de Ernest Heming-way, um livro não necessariamente direcio-nado para o público infantil, mas um clássico da literatura.

    Começamos a leitura com muitas expectati-vas e logo pudemos sentir o que Ítalo Calvino quis transmitir ao falar que um clássico é “um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. Tivemos momentos de fascí-nio, temor, respeito e maravilhamento, tudo nos aproximando de um pensar mítico.

    “A perenidade dos mitos não é devida ao prestígio da fabulação, à magia da lite-ratura. É que ela atesta a perenidade mesma da realidade humana”.

    Mito e Metafísica. Georges Gusdorf

    ouvir é muito difícil. Provavelmente porque estamos prenhes de discursos vazios e sem sentido. Essa meia hora que mescla a medi-tação e o diálogo completamente desprendi-do de qualquer objetivo que não o diálogo, mas organizado é, às vezes, um tempo cur-tíssimo, às vezes enorme. Pode-se conse-guir falar e ouvir muito e muitas vezes não se falou nem ouviu nada. É um exercício sem fim.

    Se dá algum resultado, o tempo tem dito. Mas poderíamos cuidar de filtrar mais a nos-sa fala. Dizer só aquilo em que acreditamos verdadeiramente. Precisaríamos tentar não proibir o que não podemos garantir que fica-rá proibido. Não dizer nãos que virarão sim pela, às vezes simples, às vezes insuportá-vel, insistência, que pode virar especialidade nas nossas crianças.

    Precisamos, adultos que se propõem a coloborar na sua educação, sermos parcei-ros em uma fé verdadeira na verdade de cada um, única condição para que falando sejamos escutados, e ouvindo sejamos aco-lhedores.

    O tom deste texto pode parecer estranho aos que estão acostumados com nossos relatórios. Mas carrega um pouco das preo-cupações que temos compartilhado com nossas crianças e entre a equipe pedagógi-ca. Preocupações que têm tomado algum espaço no que temos pensado sobre o como educá-las e orientá-las para a vida, tarefas em que somos parceiros, famílias e escola.

    EDUCAÇÃO FÍSICA Começamos o semestre resgatando as

    regras de convivência. As Terceira e Quarta séries pediram e

    conseguiram o Pereirão todos os dias. So-bem sempre as duas turmas e tentamos rea-lizar uma confraternização entre elas. Para alcançarmos esse objetivo enfrentamos u-ma certa dificuldade, pois a Terceira demos-tra um respeito que se mistura com um certo temor dos mais antigos na escola. Mistura-mos os times e assim fazemos com que os mais velhos incentivem e convençam os mais novos a participar das brincadeiras.

    Cada dia da semana fazemos um jogo diferente com times mistos e regras que vi-sem mais a integração do que a competição.

    Realizamos, no ano passado, um grande torneio, que teve várias modalidades de jogos, torcida, grito de guerra, questões para serem respondidas. Tudo isso em dois dias de mobili-zação de toda a escola e engajamento das crianças. Pretendemos repeti -lo este ano e, para isso, já estamos nos organizando para a grande Olimpíada Sá Pereira, no segundo se-mestre. Aproveitamos o fato de ser o ano das Olimpíadas e, portanto, um momento significa-tivo para aprender mais. Dessa forma podere-mos estabelecer novos links com o assunto, contribuindo, cada vez mais, para a generaliza-ção desse conhecimento.

    MÚSICA Começamos o ano nos preparando para o

    bloco da escola. As aulas viraram animados ensaios para o nosso carnaval, onde as cri-anças tocaram instrumentos de percussão e cantaram. O tempo foi curto, mas deu para falar um pouco sobre os instrumentos que

    compõem a bateria das escolas de samba. No retorno às aulas, começamos as ativ i-

    dades de música com jogos e brincadeiras musicais. Depois dessa iniciação, buscando uma parceria com as aulas de Projeto e ins-pirados pela leitura do livro “O velho e o mar”, trouxemos a música de Dorival Cay m-mi, que está completando 90 anos, para ser apreciada. Ouvimos um pouco de sua obra e, depois de uma votação, escolhemos a canção “Canoeiro” para ser trabalhada.

    Para o arranjo dessa música contamos com bongô, reco-reco, pandeiro, agogô, cla-ve, caxixi, percussões de efeito, flautas e metalofones.

    A complexidade do arranjo exigiu das cri-anças concentração e coordenação, possibi-litando a vivência de noções de dinâmica, textura e forma, além do desafio de cantar e tocar simultaneamente. As crianças foram incentivadas a atentar para “trama sonora” formada pelo som de cada instrumento, en-tendendo, assim, que os sons se relacionam e que é necessário ouvir o colega para ga-rantir a unidade do arranjo. Esse trabalho foi apresentado na festa pedagógica. No segun-do semestre aprofundaremos o estudo do pandeiro e as noções de escrita e leitura mu-sical no pentagrama.

  • bém surrealista. O artista critica a arte como representação do real, por mais próximo que possa parecer. As crianças levantaram algu-mas representações do nosso mundo e al-guns símbolos criados pela humanidade: “A fotografia também é representação!” Em se-guida, fizeram uma interpretação do livro O Velho e o Mar com recorte e colagem de revistas e jornais. Adotando uma prática de apropriação de imagens, estabeleceram re-lações de significação diferentes daquelas habitualmente conhecidas entre os objetos, imagens e seus usos.

    Recolher imagens impressas para uma composição diferente do desenho possibili-tou uma reflexão sobre o significado das re-presentações em diferentes contextos, ação na qual quem está criando intervém na idéia inicial que a imagem expressa, tomando consciência desse processo através da apre-ciação das suas criações e de seus colegas.

    TEATRO Começamos o semestre aprendendo vá-

    rios jogos de regras, necessários para o en-tendimento da cena. Os jogos visam estimu-lar atitude, solidariedade, respeito, entre ou-tros aspectos. São eles: João e Joana, Gato e Rato, Congela, Máscara, Jogo do Passo... Jogos que já nos ajudaram e vêm nos auxili-ando, cada vez mais, a estar em cena de-

    monstrando desembaraço e maior possibili-dade de comunicação.

    Em seguida, através dos povos e países presentes na música composta para o carna-val “Tem Grego, tem Japonês, Indiano, Ára-be, Índio, Africano, Egípcio, Celta, Chinês”, demos início aos jogos dramáticos, que en-volveram a escolha de um lugar, um perso-nagem e uma situação para serem vivencia-das em um esquete.

    A partir do momento em que instalamos a cena, introduzimos o exercício de Criação de Histórias, com o tema vinculado ao projeto desfrutando de uma autoria coletiva. Con-quistamos, aí, uma passagem ao mundo das histórias fantásticas, com toda a sorte de acontecimentos. Grandes aventuras e emo-ções, sempre com muita imaginação.

    Para entrarmos nesse mundo fantástico utilizamos como estímulo uma poesia que conta uma lenda da praia dos Lençóis do Maranhão, intitulada “O Rei Que Mora no Mar”, de Ferreira Gullar. Este rico material deu origem a pequenas histórias criadas pe-las crianças a partir do exercício de imagina-ção ativa. Durante o processo das aulas-ensaio criamos, então, o conto “Histórias do Povo Encantado”. Uma livre adaptação inspi-rada na poesia de Ferreira Gullar. Ainda a-proveitamos o trabalho desenvolvido nas aulas de música “Canoeiro” de Dorival Caymmi, para finalizar a apresentação.

    EXPRESSÃO CORPORAL Foram ricas, intensas e produtivas as expe-

    riências corporais vivenciadas no semestre. A turma compreendeu bem as propostas de um trabalho que já pode ser desenvolvido de ma-neira subjetiva, buscando mais qualidade na movimentação. Depois da folia do samba, no bloco de carnaval, começamos o semestre aprendendo algumas dinâmicas que tinham como desafio coordenar a respiração e o mov i-mento corporal. Uma delas era de inspirar em dois segundos, segurar o fôlego em um, expi-rar em dois e agüentar sem fôlego um, tentan-do sincronizar o ritmo da respiração com todos os amigos da roda. Em outro exercício, as cri-anças tentaram sincronizar a inspiração de um colega em repouso, com a ação na expiração do outro e vice-e-versa. Foi estimulante e de-safiador encontrar o ritmo comum da respira-ção da dupla.

    Fizemos variados aquecimentos no chão, em círculos, em diagonais com cruzamentos, utilizando as quatro paredes da sala e apro-veitando as idéias de movimentos vindas do grupo. Trabalhamos muito com composição, criação de movimentos, suas possíveis ev o-luções e com a memória corporal. Para isso, cada um lembrava de alguns movimentos criados, trocava com o outro sua experiência e então, trabalhavam juntos, decidindo man-ter ou alternar ações, movendo-se em segui-da ou simultaneamente e assim por diante, refletindo sobre as possibilidades estéticas, trabalhando qualidades de força e leveza, ritmo, continuidade, rupturas, etc.

    O mar, tanto o de Caymi como o de “O Velho e o Mar” foram inspirações para dife-rentes improvisações nas aulas. Depois de ouvirmos o som vindo de dentro de uma con-cha, experimentamos as qualidades de mo-v imento das ondas batendo, serenas ou agi-tadas, com o corpo em movimentos circula-res. Em grupos, utilizando as idéias de cada um, inspiradas nos improvisos individuais, foram montadas seqüências para a criação de uma dança. Filmamos esse trabalho, tro-camos experiências apreciando, comentan-do e reproduzindo os movimentos de cada grupo. Depois aproveitamos essas idéias para a elaboração da coreografia apresenta-da na Festa Pedagógica, com músicas de Dorival Caymmi cantadas por Olívia Hime.

    Inovamos este ano ensaiando uma quadri-lha que foi incrementada com o trançado de um colorido Pau de Fitas para a festa caipira.

    Fizemos fichas informativas, colamos pes-quisas no caderno e escrevemos sínteses sobre esse processo. Isto nos levou ao A-tlas, à observação do mapa-múndi e a um desejo muito grande de aprender mais sobre a leitura desse tipo de “texto”.

    Começamos localizando Cuba, Havana, por conta de O Velho e o Mar. Depois, uma notícia de jornal sobre o degelo da Groenlân-dia nos encaminhou para a descoberta dos continentes, oceanos, das linhas imaginárias que dividem o planeta e também dos proble-mas ambientais, como o aquecimento global e o efeito estufa.

    Nessas atividades preparamos textos in-formativos em fichas da série “Conhecendo o mar” e fomos contemplando o mar das Ci-ências Naturais e Sociais, apoiados em mui-ta leitura e atividades de análise das caracte-rísticas desse tipo de texto.

    O mar da literatura veio com “O velho e o mar”, uma história que trata dos ciclos da vida, ao mos trar um velho e um menino na sua luta pela sobrevivência através do mar. Os mitos de todos os continentes e as poes i-as alimentaram nossa sensibilidade e nos falaram um pouco das características dos povos. Para encerrar, iniciamos a leitura da Odisséia, de Homero, em adaptação de Ruth Rocha, mais uma vez trazendo a reunião de vários temas, de todas as áreas, e preparan-do o terreno para as Olimpíadas.

    Essas relações dizem muito de nós, da nossa natureza humana, da forma como nos relacionamos com o mundo em que viv e-mos. Podemos ter vários olhares sobre o que nos rodeia, dependendo do nosso foco, nossos recursos e desejos.

    A partir das poesias, histórias e vídeos sobre o mar, quisemos também criar uma oportunidade para que as crianças escutas-sem os sentimentos que brotavam dentro delas diante do mar. Inspirados em Neruda e Galeano, fizemos um passeio com momen-tos de silêncio e reflexão em que tentamos traduzir as sensações através de fotos e pa-lavras.

    Quantas possibilidades o mar nos trouxe! Vivemos momentos particularmente signifi-cativos.

    Um grande desafio foi a preparação da exposição “Interpretações”. Tínhamos como proposta trazer, em diferentes linguagens, depoimentos, imagens, registros, reflexões que a história do velho Santiago, no livro e

    para o próximo semestre e tomamos em-prestados os dizeres de Fernando Pessoa – Obra Poética “Navegadores antigos tinham uma frase glo-

    riosa: ‘Navegar é preciso; viver não é preciso’. Quero para mim o espírito [d] esta frase,

    transformada a forma para a casar como eu sou:

    Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

    Não conto gozar a minha vida; nem em go-zá-la penso.

    Só quero torná-la grande...”

    MATEMÁTICA É sempre um misto de muitas sensações

    diferentes a entrada na quarta série. Euforia, ansiedade, medo, curiosidade, alegria e uma saudade antecipada ficam evidentes nos mais simples gestos e falas. Ora estão con-centrados e bem dispostos para a produção, ora a brincadeira e o descompromisso ame-açam a qualidade das discussões e das ati-v idades coletivas. Tudo muito normal e pre-v isível.

    De um modo geral, começam a ficar mais envolvidos com as propostas e vêm se esfor-çando para se comportar como co-responsáveis pelo andamento do trabalho. Si-nal de amadurecimento, marca desse tempo.

    Logo no início do ano tratamos de obser-

    no filme, inspirara nas crianças. Ir ao MAM para a visita a uma exposição de arte con-temporânea ampliou a forma de ver e fazer arte. Mesmo que ainda se mantivessem liga-das ao figurativo, elas conheceram novas possibilidades e se empenharam na curado-ria de sua própria exposição.

    Durante todo o período, tivemos o cader-no como parceiro inseparável. Acolhendo os registros de nosso percurso, ele tornou-se, como um diário de bordo, um documento fundamental da trajetória do projeto.

    Não podemos deixar de destacar que es-távamos garantindo o estudo da gramática formal de forma contextualizada, com o apoi-o da Cruzadinha, dos livros da Biblioteca, das notícias de jornal, em atividades que revelam que a regras e convenções estão presentes no nosso dia-a-dia. Sabendo que essa é uma compreensão construída grada-tivamente, sempre revisitamos os conteúdos, procurando observar regularidades e desco-brir regras, inclusive com a ajuda das crian-ças que prepararam aulas de gramática, pa-ra mostrar um outro enfoque para os temas.

    Nas produções de textos, os acordos e combinações daquilo que não podemos mais errar estão sendo sempre ampliados e incluí-dos no repertório de estratégias das crianças para serem usados nas revisões.

    Terminamos cheios de planos e idéias

  • var o horário e a distribuição das aulas de Matemática ao longo da semana. É preciso que cada um identifique, para poder se pla-nejar de forma eficiente, que dias têm mais tarefas, quando há pouco ou muito tempo, que dias são mais folgados... Esse tipo de preocupação justifica-se se pensarmos que já na quarta série, mas principalmente a par-tir dela, a dinâmica escolar vai exigir uma rotina e uma organização cada vez maiores. Tem dado resultado nosso investimento.

    Temos mais uma vez como companheiros o livro didático, as fichas e as apostilas que sistematizam e propõem uma variedade mai-or de tarefas. Mas, sem dúvida, é o caderno o nosso maior aliado. Nele registramos gran-de parte das conversas e descobertas que acontecem em sala. Gostaríamos que aos poucos ele ocupasse um lugar de destaque e se tornasse um material de consulta. Estão aprendendo a fazer registros personalizados de cada discussão. Essa tarefa exige, além de autonomia de pensamento e capacidade de síntese, muita concentração.

    Os jogos envolvendo as operações ainda são o ponto alto das aulas. É muito interes-sante vê-los colocando os conhecimentos que já possuem “em jogo”.

    “Se a matemática é uma coleção de relações formais e estabelec idas, não há lugar para discutir(...) Mas se matemát i-cas são também idéias e produções dos alunos, geradas a partir de um problema, então pode haver lugar para o debate e a demonstração. Nesse debate, nas tentat i-vas de provar ou refutar, os alunos apren-

    dem a explicar suas idéias, socializam -nas e se formam, pouco a pouco, na arte de demonstrar.”

    Block e Dávila, 1995 Durante a maior parte do semestre nos

    concentramos em estudos sobre os núme-ros: conheceram os números primos, obser-varam relações numéricas como “ser múlti-plo de” e “ser divisor de” e experimentaram usar a potenciação como forma de expressar uma multiplicação de fatores repetidos. Re-cuperamos a Apostila dos Quadradinhos – do ano passado – para representarmos grafi-camente números quadrados como 16, 25 e 64. “De quebra”, com malhas quadriculadas,

    fizemos atividades envolvendo os conceitos de área e perímetro.

    Terminamos esse primeiro período inau-gurando o trabalho com decimais. Entender e operar com grandezas menores que a uni-dade são desafios que exigem abstração e reversibilidade operatória. A leitura, a escrita e as operações com quantias e medidas a-proximam as crianças desse campo numéri-co a ser explorado daqui para a frente. En-tender a função da vírgula vai ser fundamen-tal para a construção de todos os conceitos. Por enquanto só estamos utilizando a nota-ção decimal. Depois trabalharemos com a representação fracionária. Para exercitar os conhecimentos que estão sendo explorados, planejamos uma saída para compras “de verdade”, com direito a cálculo de gorjeta e troco. A idéia é transformar o conteúdo esco-lar em experiência real e, assim, torná-lo parte de um repertório significativo dos alu-nos, sempre possível de ser aplicado na so-lução de situações e problemas da vida.

    Muitas idéias na cabeça e muito trabalho pela frente...

    INGLÊS Baseada num grande respeito por todas

    as línguas e formas de cultura, esta aborda-gem de ensino coloca o estudante no centro dos procedimentos didáticos, fazendo-o mo-bilizar diversos conhecimentos e capacida-des, além de despertar a curiosidade e o prazer de descobrir – não só novos dados

    lingüísticos – mas aspectos históricos e cul-turais dos usuários de outras línguas.

    Com esse enfoque começamos o ano buscando estratégias que abordassem as-pectos culturais, históricos e também lingüís-ticos da língua inglesa e dos povos que se expressam através desse idioma.

    Como temos duas aulas por semana, em uma delas trabalhamos os conteúdos espe-cíficos da língua inglesa para essa faixa etá-ria e na seguinte buscamos interconexões com o projeto institucional da escola. Dessa forma as crianças podem adquirir algumas habilidades e competências na utilização do Inglês como língua estrangeira e podem a-prender sobre ela e o seu contexto cultural.

    Iniciamos o ano estudando sobre a ori -gem dos nomes dos dias da semana em in-glês. Os nomes de quatro dias da semana foram dados em homenagem a alguns deu-ses da mitologia nórdica: Tuesday (Tyr’s day), Wednesday (Wooden’s ou Oden’s day), Thursday (Thor’s day) e Friday (Freyja’s day). Ouvimos histórias sobre cada um desses deuses e seus animais, vimos ilustrações e os desenhamos.

    Também descobrimos, no Atlas, onde fi-cam a Noruega, a Dinamarca e a Suécia – países que ocupam a região onde os vikings se concentravam. Assistimos a um video sobre a vida e a história dos vikings da série “O Homem” e ouvimos a “Cavalgada das Valquírias”, de Wagner.

    A turma se mostrou muito interessada e trouxe uma quantidade enorme de material para a sala de aula sobre os vikings. Pesqui-saram informações recolhidas da Internet e nos livros de casa. As informações trazidas para a escola foram muitas e diversas. As crianças, em grupos, tiveram que ler todo o material trazido e selecionar o que mais lhes parecia interessante para compartilhar com todos.

    Avaliamos que seria uma boa oportunida-de para que começassem a se familiarizar com o programa disponível na escola para colocar os seus trabalhos na internet. As crianças digitaram e diagramaram as infor-manções escolhidas juntamente com a foto de um desenho feito por eles para ilustrar o trabalho.

    Buscando uma ponte com as aulas de Projeto e o que estavam vivenciando sobre o “O Velho e o Mar”, pensamos em aproveitar

    uma atividade desenvolvida – a descrição feita por eles, no caderno, da animação “O velho e o mar” em apenas uma palavra. Lis-tamos e traduzimos essas palavras para o inglês e o fizemos de uma forma bem artísti-ca, com muita cor e letras grandes para que pudéssemos fazer uma exposição junto com os trabalhos realizados em Projeto. Além de desenhá-las, brincamos com essas palavras através de mímica, palavras cruzadas e for-ca. Ainda embarcados em “O Velho e o Mar” ouvimos e brincamos com a versão em in-glês da poesia “Oda al Mar” de Pablo Neru-da – Ode to the Sea. Fazendo um exercício de listening comprehension – compreensão auditiva – em grupos tentamos reconhecer o máximo de palavras ao ouvir a poesia sendo narrada pelo ator Ralph Fiennes. Depois pro-curamos e encontramos essas palavras re-conhecidas auditivamente na versão escrita. Terminamos o semestre com cada grupo escolhendo uma parte da poesia para me-morizar e apresentamos para todas as tur-mas.

    O conteúdo de língua inglesa que foi sele-cionado a partir do livro adotado – Hip Hip Hooray – para este primeiro semestre foi: obter e fornecer informações pessoais, per-guntar e informar: o que alguém vai fazer no dia seguinte (What is he/she going to do to-morrow? He/she is going to...); perguntar se alguém quer fazer algo e responder de forma

    positiva, negativa ou em dúvida (Do you want to...? Sure.That sounds like fun./ No, sorry./ I don’t know. Maybe.); o que alguém tem que fazer (What does he/she have to do? She/he has to...); convidar alguém para fazer algo utlizando Let’s... ; pedir para al-guém esperar porque tem que fazer algo (Wait! I have to ...) e vocabulário básico de ações e atividades cotidianas.

    ARTES Inspirados no tema Catando os Sonhos no

    Velho e no Novo Mundo lembramos do mov i-mento Surrealista, já que sua temática procu-ra valorizar o inconsciente, o sonho, trazendo-os para suas obras. Com a apreciação das Madona de Dali e Rafael, procuramos perce-ber as semelhanças e as diferenças dos ele-mentos estéticos que as constituem.

    Num segundo momento, apreciamos uma concha do mar e, em duplas, as crianças fizeram o desenho de observação com lápis pastel oleoso no papel canson. As conchas fizeram parte de uma composição pensada a partir de um jogo de criação coletiva que os surrealistas realizavam, “cadáver delicado”, onde cada participante escrevia o que vinha à mente sem os outros saberem. Para essa composição utilizamos a tinta guache na ela-boração de painéis.

    Uma outra atividade mobilizadora foi a apreciação da obra de René Magritte, tam-