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CORPO E PENSAMENTO:a invenção de outro sentido 1

Por Amauri Ferreira

Estudo filosófio ! "#1#

$$$%amauriferreira%om

Resumo: A &artir das ideias de Niet's(e) S&ino'a e *er+son) &odemos om&reender aur+,nia de esta-eleermos outro sentido &ara os estudos do or&o e do &ensamento) rom&endo oma l.ssia diotomia or&o/mente) &ara &odermos) enfim) afirmar a &ot,nia 0ue omum a am-os%O arti+o destaa duas sries de or&os: a dos or&os or+ani'ados) onstran+idos e &r.tios2 e a srie

dos or&os ativos) virtuosos e intensivos%

Palavras!(ave: ativo2 reativo2 virtude2 automatismo%

Atualmente fala!se muito so-re a sa3de do or&o) do seu -om funionamento or+4nio e)so-retudo) de uma su&osta esttia 5o or&o &ara ser e6i-ido7) o 0ue redu' o on(eimento do or&o(umano a&enas ao seu as&eto or+4nio 8 omo &odemos o-servar atravs do ulto e6a+erado 9sdietas) 9s irur+ias &l.stias e aos e6erios fsios) 0ue servem &ara 0ue as &essoas o-ten(am um

or&o su&ostamente -elo) &erfeito e saud.vel% Nesse sentido) sem&re falta &ara elas ;o< or&o &araser alançado%

1 Arti+o &u-liado na Revista Reichiana) n= 1>) em "#1#

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?e aordo om a diotomia or&o/mente) o or&o situa!se num +rau inferior de realidade emrelação 9 mente 8 e essa maneira de &ere-er não a&enas dominante nos nossos dias) mas foi

 &lantada (. muito tem&o no oidente% Se &artirmos da (istória da filosofia &odemos &ere-er 0ue) a &artir de Sórates) essa diotomia tornou!se omum no &ensamento oidental) o 0ue serviu &araontaminar muitos dos 0ue se dediaram a investi+ar o or&o a &artir de uma one&ção de 0ue ele um entrave &ara o ;verdadeiro< on(eimento% *asta o-servarmos 0ue no  Fédon) de Platão)

Sórates) @. muito &ró6imo da morte) fa' uma a&olo+ia da imortalidade da alma e da sua &urifiaçãoao se li-ertar) finalmente) do or&o) &ois este assola a alma) se+undo ele) om doenças) vios e &ai6es) servindo de o-st.ulo 9 ;verdade<: ;Buando ) &ois) 0ue a alma atin+e a verdade Temosdum lado 0ue) 0uando ela dese@a investi+ar om a a@uda do or&o 0ual0uer 0uestão 0ue se@a) oor&o) laro) a en+ana radialmente< 5 Fédon) A morte omo li-ertação do &ensamento7% Se+uindoessa mesma direção) Ren ?esartes) no s% D) di'ia 0ue os sentidos do or&o enganam a almae) em ra'ão disso) não &odem ser onfi.veis% ;At o momento &resente<) di' ele) ;tudo o 0ueonsiderei mais verdadeiro e erto) a&rendi!o dos sentidos ou &or intermdio dos sentidos2 mas 9sve'es me dei onta de 0ue esses sentidos eram fala'es) e a autela manda @amais onfiar totalmenteem 0uem @. nos en+anou uma ve'< 5 Meditações) Primeira meditação7%

Esse e0uvoo so-re a nature'a or&órea est. aom&an(ado de uma noção tam-m

distorida da nature'a do &ensamento) 0uando este +eralmente onfundido om a lin+ua+em) oma re&resentação) om a raionalidade) om as noçes universais% Mediante o ideal de instrução) o

 &ensamento sem&re a&aree omo força 0ue su-mete o or&o aos seus interesses de domnio eontrole das &ai6es) de domnio e ontrole da nature'a% Como alternativa a essa tradição filosófia)0ue remete a Sórates) Platão) ?esartes e outros &ensadores 0ue &artiram 5e não onse+uiram sair7da diotomia or&o/mente) enontramos nos esritos filosófios de Friedri( Niet's(e) *eneditusde S&ino'a e Genri *er+son vo'es a-solutamente afirmativas da im&ort4nia do or&o &ara o

 &ensamento) sem esta-eleer uma (ierar0uia) indo muito alm do 0ue (a-itualmente se di' so-re arelação entre o or&o e o &ensamento%

REATO E ATO

O des&re'o do or&o tomado &ela tradição filosófia oidental orres&onde 9 deso-ertaniet's(iana da ;(istória esondida da filosofia<% Niet's(e nos di' 0ue o ansaço de viver +eravalor 8 o valor dos es+otados) 0ue) em unssono) a&ontam a sada &ara os infort3nios da e6ist,nia

 &or meio do ideal% Hm &ro-lema 0ue entral na filosofia de Niet's(e o da +eração dos valores)que não está dissociada do modo como vivemos. Buando entendemos 0ue o &ensamento e o or&oe6&rimem a força da vida) não enontramos mais ra'ão em esta-eleer uma (ierar0uia entre eles%

Somente assim) ao viver afirmativamente) Niet's(e &Ide om&reender o 0ue levou al+uns dos+randes nomes da filosofia a &rodu'irem o-ras 0ue se&aram o &ensamento da vida: ; Meu novocaminho para o 'sim'. 8 Filosofia) tal omo at a+ora a entendi e vivi) a &roura volunt.riatam-m dos lados malditos e ondenados da e6ist,nia% A &artir da lon+a e6&eri,nia 0ue me deuuma tal &ere+rinação &elo +elo e &elo deserto) a&rendi a onsiderar de outra maneira tudo o 0ue foifilosofado at a+ora: 8 a (istória oculta da filosofia) a &siolo+ia dos seus +randes nomes veio 9 lu'

 &ara mim% JBuanto de verdade su&orta) a 0uanta verdade atreve-se um es&ritoK 8 isso foi &ara mima medida &ro&riamente dita% O erro uma covardia%%%< 5 A ontade de !oder ) 1#L17%

A rença no erro 50ue o ideal7 trata!se de uma fra0ue'a de viver e a ausa disso) se+undo Niet's(e) fisioló+ia) ou se@a) trata!se da ;indi+estão< das im&resses 0ue são &rodu'idas em nósonforme vivemos% ?esse modo) o (omem torna!se redu'ido 9 sua onsi,nia 0ue não &ara de re!

sentir) de re!a+ir o 0ue @. &assou 8 tudo 0ue foi e6&erimentado &assa a ter uma estran(a noção definalidade) ou se@a) de uma su&osta -oa ou m. intenção de al+um 5ou de uma entidadeso-renatural7 em reali'ar ertas açes so-re ele% Em ra'ão disso) a onsi,nia) no estado de

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ressentimento) 0uer ontrolar e @ul+ar tudo) dese@a im&edir 0ue o aaso ven(a ausar al+um &re@u'o pessoal ) @. 0ue a noção de ;&essoa< inseparável  do ressentimento) de uma onsi,nia 0ue dese@a)tena'mente) onservar a ilusão do eu% Se@a ristão ou ientista) o (omem reativo investe no idealastio) &arte do mundo ;im&erfeito< &ara o ;&erfeito<) d. o mais alto valor 9 onsi,nia 5 aalma 0ue ser. ;salva<) a ra'ão 0ue ir. ;orri+ir< a nature'a7%

Toda rtia de Niet's(e ao ristianismo e 9 i,nia &assa &or uma +enealo+ia dos valores

nasidos do ressentimento e da vin+ança ontra a vida% Por intermdio da inversão dos valoreso&erada &elo saerdote @udaio) se+undo a "enealogia da Moral ) o (omem su-mete!se ao seuas&eto onsiente e or+4nio) im&edindo 0ue im&ulsos ativos inonsientes tornem!se dominantesnele% O (omem ressentido um ti&o fisiolo+iamente es+otado) ina&a' de riar &ara alm de simesmo% Portanto) os valores 0ue ele re&rodu' e6&rimem o seu dese@o de onservar o seu modo deviver: ;Hma &rolon+ada refle6ão so-re a fisiolo+ia do es+otamento levou!me forçosamente 90uestão de 0uanto os @u'os dos es+otados teriam &enetrado no mundo dos valores< 5 A ontade de

 !oder ) L7% Tal es+otamento) 0ue tam-m de Sórates) de Platão) de ?esartes%%%) &arte do &ressu&osto de 0ue os sentidos do corpo mentem. Ao ontr.rio dessa rença) Niet's(e afirma 0ue a mentira 0ue  produto do uso e0uivoado 0ue os (omens fa'em da0uilo 0ue os sentidos indiam

 &ara eles 5onforme #rep$sculo dos %dolos) A ;ra'ão< na filosofia7% ?ia+nóstio niet's(iano: o

;mundo verdadeiro< e o su@eito do on(eimento) do livre!ar-trio) são mentiras 0ue mantm o(omem afastado de onde a vida aontee% Por isso a de+eneração do (omem rese ada ve' mais 8 e um dos sintomas disso o sentido do tra-al(o nas soiedades a&italistas% Buanto mais o (omemse sente &risioneiro do tra-al(o) maior a neessidade 0ue ele tem &ara -usar remdios 0ue aliviamo seu ansaço% Os (omens &r.tios) e6austos de tanto tra-al(o) rentes no 0ue (amam de ;virtudedo luro<) &reisam ada ve' mais de &ra'er e de distração) 0ue se tornam seus anestsios: ;Poisviver ontinuamente 9 aça de +an(os o-ri+a a des&ender o es&rito at 9 e6austão) sem&re fin+indo)fraudando) antei&ando!se aos outros: a aut,ntia virtude) a+ora) fa'er al+o em menos tem&o 0ueos demais% %%% Se ainda (. &ra'er om a soiedade e as artes) o &ra'er 0ue arran@am &ara si osesravos e6austos de tra-al(o< 5 A "aia #i&ncia) ">7%

 Niet's(e nos india 0ue o remdio &ara om-ater esse es+otamento a ação so-re ademasiada or+ani'ação do nosso or&o% Q inevit.vel 0ue o onforto e a se+urança) tão &ro&a+ados

 &elos valores vi+entes) reforem a so-reviv,nia e o -om funionamento dos ór+ãos do or&o) o0ue favoree o as&eto reativo da nossa e6ist,nia) mas 0ue tam-m limita o nosso on(eimentoso-re o or&o a&enas na sua realidade or+4nia% Nesse sentido) &odemos (amar de corpo reativo0uando o or&o est. su-metido a uma or+ani'ação moral% Ora) @ustamente essa &assividade emo&erar metamorfoses em si mesmo 0ue &reisa ser om-atida 8 e Niet's(e (ama de niilismo ativoa ação so-re a nossa &ró&ria &assividade &ara) enfim) &odermos e6&andir a nossa vontade de

 &ot,nia ao assimilarmos outras forças%Sa-emos 0ue) devido 9 or+ani'ação moral do or&o) nos entristeemos e fiamos distantes

do as&eto ativo da e6ist,nia% Nesse estado) (. o real &eri+o de onfundirmos o or&o om uma

 &risão%  Mas  o corpo não é uma prisão é ele que está aprisionado pela organi(ação utilitária.;Tudo a0uilo 0ue em mim sente<) di' Niet's(e) ;sofre de estar numa &risão2 mas a min(a vontade(e+a sem&re omo li-ertadora e &ortadora de ale+ria< 5 Assim Falou )aratustra) Nas il(as -em!aventuradas7% Ao ontr.rio do or&o reativo) &odemos (amar de corpo ativo a0uele 0ue se a-re 9se6&erimentaçes 8 assim o es&rito alimenta!se dos sentidos do or&o &ara distri-uir ri0ue'as) &arair alm de si: ;Assim o or&o atravessa a (istória 8 tornando!se outro e lutando% E o es&rito 8 0ueser.) &ara ele O arauto) om&an(eiro e eo de suas lutas e vitórias< 5 Assim Falou )aratustra) ?avirtude dadivosa7% Cuidar de si im&lia ter um uidado om as relaçes 8 e isso ; *cce +omo<) maisdo 0ue 0ual0uer outro esrito de Niet's(e) nos fornee um material valiosssimo% Es&eialmente noa&tulo ; !or que sou tão inteligente<) &odemos &ere-er 0ue a inteli+,nia menionada &or 

 Niet's(e est. relaionada 9 esol(a do lu+ar) do lima) da alimentação) da -e-ida) das om&an(ias)

das distraçes) em suma) de uma maneira de viver om o mnimo de ;não< ao 0ue nos ontr.rio) &ois orremos sem&re o riso de &erder muita ener+ia 0uando nos esforçamos &ara afastar &ara -emlon+e) de modo fre0uente) o 0ue não nos interessa% Em ra'ão disso) um desuido dessas &e0uenas

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oisas &ode im&edir) de fato) 0ue um +,nio vin+ue: ;Ten(o em mente um aso em 0ue um es&ritonot.vel e &otenialmente livre tornou!se estreito) enol(ido) um ra-u+ento es&eialista) &or sim&lesfalta de fine'a de instintos om relação ao lima< 5 *cce +omo) Por 0ue sou tão inteli+ente) "7%

MPOTNCA E RTH?E

 Niet's(e não dissoiava o on(eimento da vida da e6&eri,nia do or&o) assim omo &ensou S&ino'a no sulo D% O filósofo (oland,s di'ia 0ue tudo o 0ue est. na e6ist,nia sees,orça &ara &erseverar na sua &ró&ria nature'a% Assim) or&o e mente se esforçam &ara seremmodifiados: o esforço do or&o &ara aumentar suas one6es om outros or&os2 o esforço damente &ara &rodu'ir mais ideias) &ara on(eer ade0uadamente% Como não (. se&aração entre umor&o e outro or&o 5o atri-uto e6tensão indivisvel7) 0ual0uer or&o e6iste misturado om outrosor&os% Ora) se+undo S&ino'a) o nosso or&o) &or se relaionar om outros or&os 5sonoros)olfativos) +ustativos) t.teis) visuais7) &assa &or um  ,avorecimento ou um constrangimento da sua

 &ot,nia de a+ir e) simultaneamente) a nossa mente) 0ue est. unida ao or&o) ale+ra!se ouentristee!se de aordo om o favoreimento ou om o onstran+imento do or&o%

Portanto) um or&o im&otente &ara a+ir orres&onde a uma mente im&otente &ara &ensar%C(amamos de corpo impotente o or&o 0ue) na sua maior &arte) dominado &or relaçes omoutros or&os 0ue são ontr.rios 9 sua nature'a% Mesmo a ale+ria 0ue a mente e6&erimenta) 0uandoa&enas +erada &elo enontro fortuito de or&os 0ue se om&em 5ausa inade0uada7) envolveimpot&ncia do or&o e da mente% Q &ossvel &ere-ermos 0ue) &ara S&ino'a) os afetos!&ai6es deale+ria e de triste'a estão diretamente relaionados aos nossos enontros) ao nosso otidiano) 9snossas e6&erimentaçes% sso 0uer di'er 0ue não (. indivduo ontente ou melanólio em simesmo) omo se ele fosse um su@eito 0ue vivesse se&arado das suas relaçes ou) então) omo se asua mente não tivesse nen(uma relação om o seu or&o% Hm e6em&lo disso 0ue) &ara S&ino'a) oafeto de melanolia 0ue al+um e6&erimenta não est. dissoiado de um onstran+imento de todas as

 &artes do seu or&o) de uma su-missão a or&os e6teriores 0ue não se om&em om a suanature'a% Assim tam-m oorre om 0uem se suiida) @. 0ue o suidio envolve im&ot,nia) isto ) osuiida  produto de um domnio a-soluto de determinaçes e6teriores 0ue são ontr.rias 9 nature'ado seu or&o: ;%%% a0ueles 0ue se suiidam t,m o 4nimo im&otente e estão inteiramente dominados

 &or ausas e6teriores e ontr.rias 9 sua nature'a< 5 tica) L) Pro&% 1) es%7%Por outro lado) (amamos de corpo virtuoso  a0uele 0ue a&a' de &erseverar na sua

nature'a) de ser cada ve( mais a,etado por corpos que se compõem com ele. O (omem virtuosotorna!se menos determinado &elas irunst4nias e6ternas &or0ue a&a' de a+ir so-re os outrosor&os) de seleionar enontros) de ser a ausa ade0uada das suas &ai6es ale+res e) &or isso)

a&a' de e6&erimentar uma alegria ativa) 0ue distinta da ale+ria en0uanto &ai6ão% ?esse modo) o(omem virtuoso e6&erimenta um favoreimento ada ve' maior do esforço da sua mente &ara &ensar a ess&ncia do seu corpo  isto ) o or&o omo &arte de al+o 0ue eterno 5o atri-utoe6tensão7) omo &ot,nia de ser afetado: ;Tudo o 0ue a mente om&reende so- a &ers&etiva daeternidade não o om&reende &or one-er a e6ist,nia atual e &resente do or&o) mas &or one-er a ess,nia do or&o so- a &ers&etiva da eternidade< 5 tica) ) Pro&% ">7% Q inevit.vel 0ue a mente)ao &rodu'ir a ideia de 0ue a ess,nia do seu or&o não est. se&arada da sua &ot,nia de a+ir)tam-m ten(a a ideia da ess,nia de si mesma 5u@a ess,nia on(eer atravs da intuição7 e)somente assim) eperimenta 0ue eterna: ;Buem tem um or&o a&a' de muitas oisas tem umamente u@a maior &arte eterna< 5 tica) ) Pro&% >7% ;Assim<) afirma S&ino'a) ;esforçamo!nos)nesta vida) so-retudo) &ara 0ue o or&o de nossa inf4nia se transforme) tanto 0uanto o &ermite a

sua nature'a e tanto 0uanto l(e se@a onveniente) em um outro or&o) 0ue se@a a&a' de muitasoisas%%%< 5 tica) ) Pro&% >) es%7%

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AHTOMATSMO E NTENS?A?E

Por intermdio de S&ino'a) vimos 0ue o or&o uma &ot,nia de ser afetado e de afetar outros or&os) então) &odemos afirmar 0ue ele muda a ada enontro e 0ue) tam-m) modi,ica osor&os om 0ue ele se relaiona% O filósofo fran,s Genri *er+son nos di' 0ue o ser vivo ree-e

estmulos e tam-m os devolve) ou se@a) o ser vivo  perce/e  e age% ?os seres vivos 0ue sãoonstitudos &or um sistema nervoso mais sim&les at aos mais om&le6os) o intervalo entre osestmulos ree-idos e a res&osta efetuada orres&onde ao 0ue *er+son (ama de  (ona deindeterminação 0ue a li-erdade 0ue o ser vivo &ossui &ara a+ir so-re os or&os e6teriores% No(omem) essa 'ona de indeterminação orres&onde ao re-ro) @. 0ue este um ór+ão 0ue ree-e)analisa e seleiona estmulos &ara distri-u!los ao meanismo motor destinado a efetuar a res&ostaneess.ria% Portanto) o re-ro impede 0ue a res&osta a um estmulo ree-ido se@a diretamenteefetuada: ;O estmulo &erifrio) em ve' de &ro&a+ar!se diretamente &ara a lula motora da medulae de im&rimir ao m3sulo uma ontração neess.ria) remonta em &rimeiro lu+ar ao enfalo)tornando de&ois a deser &ara as mesmas lulas motoras da medula 0ue interv,m no movimentorefle6o< 5 Matéria e Mem0ria) Ca&% 1) &% "7%

medida 0ue o sistema nervoso ree-e os estmulos dos or&os e6teriores) (. umaom&le6idade resente dos meanismos motores do nosso or&o) o 0ue multi&lia as vias &ara anossa mel(or res&osta% Buanto mais o sistema nervoso se desenvolve) ;mais numerosos e distantestornam!se os &ontos do es&aço 0ue ele &e em relação om meanismos motores ada ve' maisom&le6os: deste modo aumenta a latitude 0ue ele dei6a 9 nossa ação) e nisso onsiste @ustamentesua &erfeição resente< 5 Matéria e Mem0ria) Ca&% 1) &% "U7% G.) &ortanto) um resimento dointervalo entre o estmulo ree-ido e a res&osta e6eutada% Ora) 0uanto maior a 'ona deindeterminação de um ser vivo) maior ser. a sua percepção consciente: ;E) om isso) a ri0ue'aresente dessa &ere&ção não deveria sim-oli'ar sim&lesmente a &arte resente de indeterminaçãodei6ada 9 esol(a do ser vivo em sua onduta em fae das oisas< 5 Matéria e Mem0ria) Ca&% 1) &%"U7% Em suma: onforme vivemos) somos afetados &elos movimentos transmitidos &elos outrosor&os) de tal maneira 0ue) devido 9 om&liação do nosso sistema nervoso) &odemos ter uma maior am&litude &ara as nossas açes% Andamos) falamos) esrevemos) et%) em ra'ão dos meanismosmotores 0ue foram &rodu'idos em nosso or&o devido 9 re&etição dos movimentos transmitidos

 &elos or&os 0ue nos modifiam%*er+son (ama de há/ito a memória do or&o 0ue est. relaionada aos seus meanismos

motores% O (.-ito fa' om 0ue a (esitação) ou se@a) o estran(amento) se@a ada ve' menor) e &or isso temos uma sensação de familiaridade e de um automatismo resente nas relaçes 0ueonstituem o nosso otidiano% Mas o 0ue ) de fato) uma &ot,nia do or&o) aa-a &or se tornar al+oem-otador 0uando o (omem &assa a investir ada ve' mais na vida &r.tia) om res&ostas r.&idas) o0ue inevitavelmente redu' a sua 'ona de indeterminação e a+rava a sua im&ossi-ilidade de

e6&erimentar% C(amamos de corpo automati(ado o or&o 0ue dominado &ela familiaridade) &ela &ratiidade) &ela utilidade soial% Nesse sentido) inevit.vel 0ue o &ensamento se@a onfundido omas a-straçes 0ue a nossa &ere&ção fa' da matria) om um on(eimento &r.tio e utilit.rio) omuma neessidade resente de instruir!se) de es&eiali'ar!se 8 o (omem &r.tio fa' uma tristeima+em do &ensamento ao ima+inar 0ue ele se redu' 9s oisas esta-eleidas%

Mas *er+son foi um filósofo 0ue &ensou o tem&o real% A sua o-ra denunia os 0uefalsifiam o tem&o ao es&aiali'.!lo 5o tem&o ronoló+io7 e 0ue) &or isso) &ermaneem distantesde &ensar a nature'a do tem&o omo duração ontoló+ia% Não se trata de um tem&o 0ue ,oi mas deum tem&o 0ue é) na medida em 0ue o nosso &assado não essa de atuali'ar!se @ustamente na nossa'ona de indeterminação e oe6istir om um &resente 0ue não essa de &assar% O-servamos umanimal 9 es&reita) mas não &odemos o-servar as intensidades 0ue se &rodu'em nele en0uanto dura%

Sua am&litude &ara a+ir notória em ra'ão da sus&ensão do sensório!motor e das vias motoras 0ue &ossui &ara a esol(a da mel(or res&osta) mas) onforme afirma *er+son) ;o 0ue não se v, atensão resente e onomitante da onsi,nia no tem&o< 5 Matéria e Mem0ria) Resumo e

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onlusão) &.+% ">#7% C(amamos de corpo intensivo  a0uele 0ue sus&ende o sensório!motor) 0ueaumenta a sua li-erdade &ara a+ir atravs da e6&eri,nia da duração) 0ue &ermite a +estação de umaideia% *er+son relaiona a noção de invenção 9 sus&ensão do or&o &r.tio e funional) &ara

 &ermitir uma atuali'ação ada ve' mais ria da nossa memória 8 uma memória a serviço da &rodução do futuro) do nosso  futuro% Por isso a &alavra ;indeterminação< não &oderia ser maisri+orosa: ela e6&rime a0uilo 0ue nosso) isto ) a nossa li-erdade orres&onde ao 0ue em nós não

determinado e6teriormente) 0uando não atendemos) ansiosamente) a uma demanda e6terior%Portanto) a esol(a efetuada) &or ser o resultado de uma es&era) de uma alimentação do tem&o)e6&rime o nosso ato riativo) a nossa a&aidade sin+ular de inventar o nosso futuro e o futuro domundo: ;O es&rito retira da matria as &ere&çes 0ue serão seu alimento) e as devolve a ela naforma de movimento) em 0ue im&rimiu sua li-erdade< 5 Matéria e Mem0ria) Resumo e onlusão)

 &.+% ">17%

?OENVA E SAW?E

imos duas sries de or&os: o reativo) o im&otente e o automati'ado onstituem a srie dosor&os or+ani'ados) onstran+idos e &r.tios2 o ativo) o virtuoso e o intensivo onstituem a sriedos or&os 0ue e6&erimentam) 0ue a+em so-re o mundo) 0ue inventam res&ostas% Podemos tam-mdestaar duas sries do &ensamento: a &rimeira relaionada aos or&os su-metidos 9 or+ani'açãoe6terior) 9 vida &r.tia) 0ue remetem a uma ima+em distorida do &ensamento) isto ) 0uando este onfundido om a ima+inação) om a raionalidade) om as re&resentaçes) om a lin+ua+em2 ase+unda srie remete aos or&os ativos) virtuosos e intensivos) onde o &ensamento om&reende o0ue l(e fa' &ensar) om&reende a sua real união om o or&o) om&reende a neessidade de afirmar os sentidos do or&o &ara ontinuar a se alimentar da vida%%% e devolver al+o indito a ela%

Srie dos (omens doentes) ada ve' mais automati'ados) ada ve' mais efia'es) ada ve'mais instrudos2 srie dos (omens saud.veis) 0ue se alimentam do tem&o) 0ue &ensam) 0ueinventam a si mesmos% Entendemos 0ue a doença do (omem no mundo atual não est. se&arada doseu meio soial) das suas maneiras de dese@ar) de &rodu'ir or&o ou) numa tentativa dee6&ressarmos isso mais laramente) da sua i+nor4nia so-re a im&ort4nia do or&o 8 das relaçõesdo corpo 8 &ara o &ensamento% sso nos leva a 0uestionar a ar0uitetura das idades) o desloamentodas &essoas &elas alçadas) ruas) -airros) as suas maneiras de (a-itar) de estudar) de tra-al(ar% Emsuma) os or&os (umanos sofrem) de modo +eral) das relaçes or+ani'adas &elas instituiçes% Ora)vimos 0ue) ao falarmos do or&o) não (. omo a-andonarmos a mente: o (omem ontem&or4neo

 sequer quer pensar  &or 0ue vive ansado) seu or&o est. es+otado) est. su+ado &elas instituiçes%Cor&o e mente estafados 8 eis um retrato do (omem ontem&or4neo% Se&arado das suas relaçes

afetivas) relaçes 0ue poderiam  ser or+ani'adas se+undo o seu dese@o) o (omem ontem&or4neoest. fi6ado nos enontros 0ue onstran+em a sua &ot,nia% Q inevit.vel 0ue a viol,nia resentenas metró&oles se@a um sintoma desse a&risionamento%

O -e-, (ora 0uando o seu or&o est. onstran+ido e -asta 0ue ele entre em one6ão omoutros or&os &ara o-servarmos o seu (oro essar% O adulto) su-metido ao onstran+imento &or ser ina&a' de esta-eleer outras one6es distintas da0uelas 0ue onstituem o seu (.-ito) est.

 &risioneiro das  promessas de se+urança e de reom&ensa) a&enas so-revive resi+nado e) em ra'ãodisso) -usa onsolo) distração) reon(eimento e%%% &oder% Não (. dese@o &elo &oder se não (ouver)antes) a &rodução de afetos tristes 8 e a or+ani'ação utilit.ria dos or&os &rodu') neessariamente)(omens tristes%

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8/3/2019 Corpo e Pensamento: a Invenção de Outro Sentido - Amauri Ferreira (PDF)

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REFERNCAS **XOYRZFCAS

PXAT[O% Fédon) Tradução: \or+e Palei]at e \oão Cru' Costa% Rio de \aneiro: Ediouro%?ESCARTES) Ren% Meditações% Tradução: Enrio Corvisieri% São Paulo: Nova Cultural) 1>>>% NET^SCGE) Friedri(% A ontade de !oder % Tradução: Maros S% P% Fernandes e Franiso \% ?%?e Moraes% Rio de \aneiro: Contra&onto) "##%

 __________% #rep$sculo dos %dolos. Tradução: Paulo Csar de Sou'a% São Paulo: Com&an(ia dasXetras) "##`%

 1111111111.  A "aia #i&ncia% Tradução: Paulo Csar de Sou'a% São Paulo: Com&an(ia das Xetras)"##1%

 __________%  Assim Falou )aratustra.  Tradução: M.rio da Silva% Rio de \aneiro: Civili'ação*rasileira) "##%

 __________%  *cce +omo. Tradução: Paulo Csar de Sou'a% São Paulo: Com&an(ia das Xetras)

1>>%SPNO^A) *eneditus de% tica% Tradução: Toma' Tadeu% *elo Gori'onte: Aut,ntia Editora) "##U%*ERYSON) Genri% Matéria e Mem0ria% Tradução: Paulo Neves% São Paulo: Martins Fontes) 1>>>%