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Pirilampos Vermelhos No horizonte Crepúsculos avermelhados É o pôr-do-sol E eu subo a ladeira De terra batida Com a alma verde De criança Saem do meu coração Pirilampos vermelhos E da sua luz brotam palavras escritas Que voam no vento Sem que ninguém As leia Ou contemple E acabam diluídas No pensamento Do poeta Maria Amélia Cortes Aluna da Usalma Fevereiro 2010 Fevereiro - Número 22 Cerimónia de entrega de Prémios de Poesia Correio da Usalma Página 12 Página 12 Página 12 Concurso O Saber Não Tem Idade No dia 18 de Dezembro do ano findo, realizou-se na sala Pablo Neruda do Fórum Romeu Correia, a cerimónia de entrega do prémio de Poesia e Ficção de Almada 2009, concurso a que concorreram quarenta e seis trabalhos. A sessão foi presidida pelo vereador da Cultura da CMA, engº. António Matos, com uma assistência numerosa, em que se incluiam muitos alunos e professores da Usalma. Este prémio foi atribuído à aluna da Usalma Maria Inácia Guerreiro Henriques Reis, com o trabalho “Paisagem com Fuga”, decisão tomada por unanimidade pelo júri, conforme foi referido pela porta-voz do mesmo, presente na cerimónia. Na sessão usaram da palavra todos os componentes da mesa, tendo o vereador da Cultura referido o seu agrado pela enorme participação e qua- lidade dos trabalhos apresentados, em especial o da vencedora. Usando da palavra, a Maria Inácia mostrou-se muito honrada com a dis- tinção, tendo dedicado o prémio ao Alentejo, de onde é natural. O júri do concurso premiou, ainda, três trabalhos, com menções honrosas, um de- les da aluna da Usalma, Maria Amélia Cortes Cordeiro, com o título O Silêncio da Musa A presentam-se, nesta página do Correio da Usalma, poemas destes trabalhos premiados, congratulando-se a Redacção pela honrosa distinção às nossas alunas. Livre, se me deixo envolver pelo véu de espuma imaterial que se solta das ondas sobre o mar e entrego ao vento dúvidas e medos. Livre, se visito o oráculo e não me deixo converter como se filha de Minerva fosse e livre se retomo das palavras o gosto agridoce. Livre, se me detenho à beira do abismo e com a consciência de quem roubou o fogo das Vestais desnudo repentinamente o luminoso mistério dum conceito com o vento salgado a fustigar-me o rosto e uma romã aberta sobre o peito. Livre sou, se sigo a minha rota guiada pelo rasto das estrelas quando ao largo oceano dos afectos as brisas favoráveis trazem velas. E se, como o pintor previu, os corvos sobrevoam a seara na época fecunda das colheitas sob um céu pesado de presságios, já livre não sou, me dou como perdida; mas aos astros conclamo o solstício de Verão e se, de novo, amadurecem as cerejas ao calor da minha mão, com palavras, conceitos e afectos reinvento a história de uma vida Maria Inácia Henriques Aluna da Usalma Livre

Correio da USALMA n.º 22

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Correio da USALMA n.º 22 fevereiro 2010

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Page 1: Correio da USALMA n.º 22

Pirilampos Vermelhos

No horizonteCrepúsculos avermelhadosÉ o pôr-do-solE eu subo a ladeiraDe terra batidaCom a alma verde De criançaSaem do meu coraçãoPirilampos vermelhosE da sua luz brotam palavras escritasQue voam no ventoSem que ninguém As leiaOu contempleE acabam diluídasNo pensamentoDo poeta

Maria Amélia Cortes Aluna da Usalma

Fevereiro 2010Fevereiro 2010

Fevereiro - Número 22

Cerimónia de entrega de Prémios de Poesia

Correio da UsalmaPágina 12Página 12Página 12

Concurso O Saber Não Tem Idade

No dia 18 de Dezembro do ano fi ndo, realizou-se na sala Pablo Neruda do Fórum Romeu Correia, a cerimónia de entrega do prémio de Poesia e Ficção de Almada 2009, concurso a que concorreram quarenta e seis trabalhos. A sessão foi presidida pelo vereador da Cultura da CMA, engº. António Matos, com uma assistência numerosa, em que se incluiam muitos alunos e professores da Usalma.

Este prémio foi atribuído à aluna da Usalma Maria Inácia Guerreiro Henriques Reis, com o trabalho “Paisagem com Fuga”, decisão tomada por unanimidade pelo júri, conforme foi referido pela porta-voz do mesmo, presente na cerimónia.

Na sessão usaram da palavra todos os componentes da mesa, tendo o vereador da Cultura referido o seu agrado pela enorme participação e qua-lidade dos trabalhos apresentados, em especial o da vencedora.

Usando da palavra, a Maria Inácia mostrou-se muito honrada com a dis-tinção, tendo dedicado o prémio ao Alentejo, de onde é natural.

O júri do concurso premiou, ainda, três trabalhos, com menções honrosas, um de-les da aluna da Usalma, Maria Amélia Cortes Cordeiro, com o título O Silêncio da Musa

A presentam-se, nesta página do Correio da Usalma, poemas destes trabalhos premiados, congratulando-se a Redacção pela honrosa distinção às nossas alunas.

Livre, se me deixo envolverpelo véu de espuma imaterial que se solta das ondas sobre o mare entrego ao vento dúvidas e medos.Livre, se visito o oráculo e não me deixo convertercomo se fi lha de Minerva fossee livre se retomodas palavras o gosto agridoce.

Livre, se me detenho à beira do abismoe com a consciênciade quem roubou o fogo das Vestaisdesnudo repentinamenteo luminoso mistério dum conceitocom o vento salgado a fustigar-me o rostoe uma romã aberta sobre o peito.

Livre sou, se sigo a minha rotaguiada pelo rasto das estrelasquando ao largo oceano dos afectosas brisas favoráveis trazem velas.

E se, como o pintor previu,os corvos sobrevoam a searana época fecunda das colheitassob um céu pesado de presságios,já livre não sou,me dou como perdida;mas aos astros conclamo o solstício de Verãoe se, de novo, amadurecem as cerejasao calor da minha mão,com palavras, conceitos e afectosreinvento a história de uma vida

Maria Inácia HenriquesAluna da Usalma

Livre

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Fevereiro 2010Fevereiro 2010 Fevereiro 2010Fevereiro 2010

Correio da Usalma Correio da Usalma

Notícias da Usalma Concerto de Natalpelo Coro Polifónico da Usalma

Pelo 2º ano consecutivo, as visitas ao Museu da Farmácia acompanhadas e orientadas pelo nosso colega, Miguel Chagas, têm sido um êxito. A próxi-ma, já esgotada, e última do presente ano lectivo, realizar-se-à no dia 9 de Abril.

Aconteceu: 26 de Fevereiro, no âmbito da saúde, decorreu um colóquio sobre Angeo-logia (AORTA É VIDA), no Frei Luís de Sousa;27 de Fevereiro, no Convento dos Capuchos, teve lugar o 2.º Encontro de Profes-sores, seguido de almoço no INATEL, Costa da Caparica.No mesmo dia, realizou-se o Espectáculo Musical - Cantar Zeca Afonso no Teatro Azul.

Acontecerá: 5 de Março, Inauguração da Exposição de Pintura e Poesia OUTSIDE, INSIDE, da aluna Marta Oliveira e Silva, a qual estará patente na Junta de Freguesia do Laranjeiro, até ao dia 28;11 de Março, Festival de Grupos Musicais Seniores, na Amadora, onde irá participar o coro da USALMA;11 de Março, Colóquio Acordo Ortográfi co, no Frei Luís de Sousa, pelas 17:00h;19 de Março, Colóquio Doença de Alzheimer, no Frei Luís de Sousa, pelas 15:00h;15 de Abril, Vamos aos fados, no Senhor Vinho, Lisboa;21 ou 28 de Abril, Festival de Teatro, com a participação dos alunos da turma de Teatro da USALMA;30 de Abril, Colóquio Pneumologia, no Frei Luís de Sousa, pelas 17:00h;

5 a 8 de Maio, Mostra do Ensino Superior;6 de Maio, Rastreio de Pneumologia, manhã e tarde;7 de Maio, 2ª Assembleia de Delegados, Auditório da Escola Secundária de Cacilhas Tejo;8 de Maio, Viagem de Estudo a Cáceres, 3 autocarros completamente cheios;14 de Maio, Colóquio S.O.S. Criança, no Frei Luís de Sousa, pelas 17:00h;17 a 28 de Maio, Renovação de matrícula; 21, 22 e 23 de Maio, Passeio cultural ao Porto, Braga e Guimarães e IX Encontro das UTIS.

Regras de funcionamento:

Renovação de matrículas - Para renovar é necessário ter frequentado o ano vigente com tudo regularizado; limite de quatro disciplinas, (excepto para os alunos que frequentaram com assiduidade); pagamento da ins-crição, seguro e jornal no acto da renovação (Maio); pagamento do 1.º semestre na 1.ª quinzena de Outubro (antes do início das aulas, ou, se preferirem, juntamente com a renovação de matrícula); só será devolvido dinheiro caso não haja capacidade de horário.

Escolas onde funcionam as aulas - As escolas são geridas por regras próprias e legislação emanada do Ministério da Educação que proíbem fumar dentro dos recintos escolares.

Os espaços que podem ser utilizados pelos alunos da Usalma são as salas de aula, durante o período es-tabelecido no horário.

Os alunos da Usalma devem ser uma referência positiva para as crianças da Escola.

O coro polifónico da Usalma par-ticipou, no passado dia 20 de De-zembro do ano fi ndo, num concer-to de Natal designado “DO NATAL AOS REIS EM CORO”, o qual de-correu na igreja do Seminário de S. Paulo, em Almada, com numerosa assistência.

Este concerto realizou-se em con-junto com os coros da Escola An-selmo Andrade e do Musicentro, tendo todos sido dirigidos pelo ma-estro Victor Gaspar.

O coro da Usalma interpretou os temas “Dona nobis Pacem” e “Non nobis Domine”, e ainda, em conjun-to com o coro da Anselmo “Ades-te Fideles”; com o da Musicentro “Quoniam Tu Solus Sanctus”. No fi nal os três coros interpretaram “A Caminho do presépio”.

Também, no dia 20 de Fevereiro, pelas 21:00 horas o Coro da Usalma integrado no projecto Língua, Cultura, Cidadania-ALReP (Almada Referencial do Ensino de Português), participou numa animação que antecedeu o espectáculo Génova 01.

A todos, os nossos Parabéns.

Ficha Técnica:

Direcção : Jerónimo de Matos

Redacção : Joaquim da SilvaFeliciano OleiroGracelinda NascimentoEmília Evaristo

Fotografi a: Joaquim Ribeiro

Designer Gráfi co: Joaquim Ribeiro

Colaboração: Américo MorgadoA. M. da Silva PinhoFeliciano OleiroFernando AntunesJosé Luís CarvalhoMargarida SimãoMaria Amélia CortesMaria Inácia Henriques

Paginação: Joaquim Ribeiro Sónia Tomás

Copy Desk: Sónia Tomás

Depósito Legal - 284512/08

ISSN 1647-1067

Redacção / Administração : Rua Conde Ferreira 2800-077 AlmadaTelefone e fax : 21 274 39 28E-Mail : [email protected]

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Ao Correr da PenaFevereiro 2010Fevereiro 2010 Fevereiro 2010Fevereiro 2010

Página 9Página 9Página 9 Correio da UsalmaCorreio da Usalma

Visita CulturalIntegrando a participação no concurso

anual “O SABER NÃO TEM IDADE” promovido pela RUTIS, este ano em Mi-randa do Corvo, a USALMA realizou, nos dias 29 e 30 de Janeiro, um passeio cultural à região de Coimbra.

Partimos com destino a Conímbriga onde chegámos cerca das 10.00h, ini-ciando-se de imediato a visita às Ruínas Romanas.

Começámos pelo espaço exterior. Uma chuva miudinha, inoportuna, não nos impediu de apreciarmos as inte-ressantes Ruínas de Conímbriga, clas-sifi cadas Monumento Nacional, e que constituem a mais bem estudada estação arqueológica do nosso país, apesar de só parcialmente escavada.

Acompanhados da nossa guia, detivemo-nos na Cor-tina Muralhada, Casa dos Esqueletos, Termas da Mu-ralha, Casa dos Repuxos (onde observámos belos mo-saicos), e outros pontos de muito interesse.

Porque o tempo urgia, a visita que de seguida fi ze-mos ao Museu Monográfi co ali localizado foi breve: observámos a maqueta (conjectural) do Fórum, bem como algumas peças recolhidas nas escavações.

Rumámos depois a Condeixa-a-Nova, para visitar a Casa Museu Fernando Namora, onde pudemos ver um acervo constituído por objectos pessoais e obras des-te escritor, médico, poeta e pintor, bem como pinturas oferecidas por amigos nacionais e estrangeiros.

Depois do al-moço em Coimbra (nome romano: Ae-minium), visitámos na Universidade: Biblioteca Joanina, edifi cada a partir de 1717, onde fo-ram utilizados ouro e madeiras exóticas do Brasil e possuin-do obras (300 mil) do séc. XII ao séc. XIX, é um dos “te-souros nacionais”; Cárcere Académico

(até 1832); Capela de S.Miguel, séc. XVI, arte manue-lina, destacando-se o órgão barroco; Sala dos Capelos.

Para além do interesse mostrado pela visita a todas aquelas dependências, despertou particular curiosida-de a muitos o “antigo cárcere medieval do Paço Real”, mais tarde cárcere académico decorrente do “foro par-ticular – foro académico”, cárcere esse “documentan-do hoje a única cadeia medieval subsistente em Portu-gal”.

Continuámos a visita no Museu Nacional Macha-do de Castro, instalado nos edifícios do antigo Paço Episcopal, área sob a qual se encontra um criptopórtico romano do século I que servia de base ao Fórum. Per-corremos com muito interesse o criptopórtico, consi-derado como “a maior obra de construção civil dessa

época conservada em Portugal”.

Devido a obras de remodelação que decorrem no Museu não pude-mos observar o seu acervo. Ficou-nos a vontade de uma nova visita, oportunamente.

De seguida fi -zemos uma breve visita à Sé Nova (séc. XVII) e Sé Velha (séc.XII) e,

Discorrer ao deslizar da pena enquadra-se no âm-bito das minhas opções, neste quartel da vida, em que entendo a escrita como uma terapia, e por isso mesmo, tem sido a escrita um dos meus “hobbies” preferidos. Para tal, é boa norma que seleccione-mos os temas e implicitamente nos detenhamos em pontos nucleares e daqui partamos para as nossas imaginativas deambulações.

Apesar da minha ocupação profi ssional activa já se encontrar distante, reconheço que a escrita conti-nua a fornecer-me assunto para breves comentários que, por judiciosos, vale a pena recriar.

Corria o ano de mil novecentos e cinquenta e qua-tro e leccionava uma terceira classe na Escola Masculina nº 1 de Montemor – o – Novo.

Como é fácil deduzir a mo-nodocência permite que do convívio professor – aluno re-sultem laços afectivos indelé-veis, situações marcantes que nos acompanham ao longo da vida.

Aqui o docente é o interlo-cutor mais próximo da família e por conseguinte é a pessoa a quem a criança entrega toda a gama de emoções que trans-porta de casa,

Esta cumplicidade propicia pequenos episódios que, pela sua singularidade, merecem uma breve alusão.

Durante a vigência do Es-tado Novo o ensino primário obedecia a moldes economi-cistas que se faziam sentir a todos os níveis. Na minha pessoa centravam-se obrigações inerentes às funções docentes e admi-nistrativas de director de escola e de delegado esco-lar. Para além do horário alargado que cumpria, era ainda, por vezes, constrangido a executar pequenas tarefas no decurso das aulas.

Naquele ano leccionava a terceira classe e es-tava a expirar o prazo para ultimar as folhas de vencimentos dos professores e pessoal auxiliar.

Transgredindo mais uma vez as normas legais, resolvi tirar cópias das referidas folhas no horá-rio escolar. Não o fi z sem, mais uma vez, porme-norizar o que pretendia.

Encarreguei a turma de redigir quatro a cinco fra-ses em tema livre, ilustradas com desenhos a seu gosto.

Recordo ter advertido, com acentuado ênfase, os meus pequenos pupilos: vão estar caladinhos por-que o professor vai fazer cópias das folhas e não se pode enganar.

Recolhidos os exercícios para correcção, fui sur-preendido com a seguinte frase: se não fossem as folhas a gente já sabia muito mais.

O exercício foi lido na aula e saudado o aluno pela pertinente observação que fazia e tão facil-mente compreensível.

Resolvi retomar este pe-queno episódio, já anterior-mente abordado para lançar um desafi o a todo o univer-so – APCA – USALMA, na perspectiva de que todos poderemos testemunhar si-tuações marcantes que nos permitem emitir juízos e tecer as mais diversas con-siderações que sem dúvida nos enriquecerão a todos.

À guiza de conclusão nos enriquecerão a todos.

À guiza de conclusão nos enriquecerão a todos.

devo ainda acrescentar o se-guinte: - Partindo da premis-sa de que professor é aquele que ensina, não deixa de ser igualmente verdade que a pessoa adestrada ou perita em qualquer assunto é igual-mente professor. Nesta pers-pectiva todos poderemos as-sim ser considerados.

A semântica permite-nos estas maravilhosas divagações e com elas me es-treio no “Correio da USALMA”.

Já me estava a esquecer de referir que a obser-vação feita pelo meu pupilo poderia servir como ponto de partida para uma análise histórica da orga-nização do ensino escolar primário na vigência do Estado Novo.

Quantos acontecimentos deste teor se encontra-rão “ arquivados “ na memória dos nossos parceiros neste universo de saberes e de experiências feito?

Aguardemos para ver. Feliciano OleiroAluno da Usalma

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Editorial

Correio da UsalmaCorreio da Usalma

ProfessorJerónimo de Matos

Bolero

Engraçado, dei comigo a cantar Bolero de Ravel, por vezes associo um determi-nado acontecimento ou leitura de um livro a uma música, e esta música é uma

das minhas preferidas, o tempo que estive suspensa no tempo passou tão rápido, foi como que uma levitação em palco mas sem espectadores. E, é engraçado estou a cami-nhar para sul, à minha direita está um sol poente lindíssimo com uns tons encarniçados e alaranjados, umas nuvens escuras que se querem infi ltrar e que encantam minha visão e me enchem a alma, à minha esquerda a lua já se levantou e está uma lua cheia, de uma beleza espantosa. Até parece que ambos os astros me estavam esperando para me beijar, no meio do namoro que o sol está a fazer à lua.

De facto os nossos olhos quando querem, ou quando estamos predispostos, eles em tudo vêem um brilho de amor, até o namoro do sol com a lua. Isso quer dizer que tam-bém nosso coração está transpirando amor, e nossos olhos vêem tudo o que os rodeia com muito mais atenção, com muito mais pormenor, e o Bolero de Ravel continua na minha cabeça. A música parece que tem sempre o mesmo tom, mas eu sei bem que não, a música vai progredindo e os acordes são tão intensos e melodiosos, que a paz interior é enorme.

Toda esta harmonia do Sol, Lua, música e coração, nos traz a paz semelhante à que sinto quando vejo o arco-íris, adoro o arco-íris:

- Suas cores estão ligadas aos sabores;- Suas cores estão ligadas aos cheiros;- Suas cores estão ligadas às sensações;- Suas cores estão ligadas aos sentidos;- Suas cores estão ligadas ao amor;- Suas cores estão ligadas às crianças;- Suas cores estão ligadas à alegria.Penso que o arco-íris é o equilíbrio da vida, se ele não existisse a vida não tinha este

sabor de esperança, sabor de viver com um mundo de cores, que nos alegram e nos mostram a paz depois de uma tormenta.

Obrigada arco-íris, pois apareces inesperadamente do nada, como de uma poça de água, de uma queda de água, de umas gotas de orvalho que se encontram nas plantas, depois de uma tempestade ou, claro, depois de umas boas chuvadas, mas que nos dão uma sensação de bem estar, harmonia, amor e, claro, na minha cabeça continua com os sons lindos e tranquilizantes de Bolero...

Margarida SimãoAluna da Usalma

1. A meio do sexto ano de existência da Usalma e apesar das circunstâncias em que funcionamos, pode dizer-se que o ensino universitário sénior decorre com normalidade e não tem cessado de

crescer em número e qualidade. Esta convicção foi confi rmada no 2.º Encontro de Professores que decorreu no dia 27 de Fevereiro p.p., no Convento dos Capuchos, onde fomos recebidos, os cerca de 60 participantes, com excelente hospi-talidade. No plenário que encerrou os trabalhos dos grupos disciplinares, as comunicações dos coordenado-res, para além de referências a aspectos específi cos da evolução nas áreas disciplinares, foram unânimes em dar testemunho de um ensino-aprendizagem muito participado e de um ambiente de trabalho exigente e afectivo. Ora, se a Usalma cresceu e evoluiu, apesar da dispersão, é lógico esperar que, no futuro próximo (dois anos?), quando dispuser de sede própria, condições de trabalho e convívio excelentes e espaços e serviços adequados às diferentes disciplinas, tenhamos uma Universidade Sénior de alto nível científi co, pedagógico e social. Foi por isso que os professores presentes no Encontro se regozijaram com a informação do Presiden-te da Direcção, dando conta do bom andamento dos projectos e da qualidade do programa de adaptação ao ensino sénior das instalações da antiga Cooperativa Almadense.

2. Neste número do boletim, para além de interessantes testemunhos, poemas e ensaios, destaca-se a honrosa participação da Usalma no concurso O saber não tem idade e o aproveitamento da

viagem a Miranda do Corvo, para visitas guiadas a Conímbriga, Condeixa (casa museu Fernando Namora), Coimbra e Miranda, com destaque para o seu Parque Biológico.

De referir também a participação do coro Polifónico da Usalma nos concertos de Natal e, mais re-centemente, na Mostra de Teatro de Almada.

Se juntarmos o facto de duas alunas da Usalma, a Maria Inácia Reis e a Maria Amélia Cortes, terem participado com êxito no Concurso de Poesia e Ficção de Almada, fi ca bem patente a intervenção cultural e cívica da Universidade Sénior, na dinâmica cultural do Concelho de Almada.

Aproveito a oportunidade para dirigir à Maria Inácia os parabéns pela qualidade dos seus poemas, que alcançaram um bem merecido 1.º prémio, sagrando-se a vencedora do Concurso e à Maria Amélia Cor-tes pela justa menção honrosa atribuída ao seu trabalho com o título Silêncio da Musa.

3. Quero ainda fazer apelo à participação do maior número de professores e alunos na extensa série de actividades que vão ter lugar nos meses de Março, Abril e Maio, com destaque para os

colóquios de saúde, visitas de estudo, conferências de cultura e espectáculos.Que o investimento que fazemos nestas actividades extra-curriculares seja usufruído, a bem da saúde

e da cultura, por um número cada vez maior, optimizando o esforço da Direcção e a disponibilidade dos nossos convidados que nos facultam o seu saber e o seu tempo de forma solidária e em regime de volunta-riado.

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Tesouros à Região de Coimbradepois de uma pausa numa pastelaria da Baixa, segui-mos para o hotel onde, após o jantar, teve lugar uma apreciada exibição de fados de Coimbra.

Na manhã seguinte começámos por visitar em Coim-bra a igreja do Convento de Santa Clara-a-Nova (séc.XVII), situada na colina da margem sul do Mondego. No altar está colo-cado o túmulo de prata da Rainha Santa Isabel, exe-cutado em 1612. Os restos mortais da Rainha Santa (mor-reu em 1336) foram transladados do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, situ-ado numa zona bai-xa, com frequência danifi cado pelas cheias do rio. Este convento tem vindo a ser recuperado e já tem visitas ao público.

Seguimos depois para Miranda do Corvo. Aqui che-gados, uma “madrinha” e um “padrinho” da Universi-dade Sénior local incumbidos de nos receber, condu-ziram-nos numa agradável visita ao Parque Biológico da Serra da Lousã. O parque, situado nas proximidades da vila, mostra raças autóctones da agropastorícia tra-dicional, aves, árvores de fruto, plantas de cheiro, bem

como antigos objectos ligados à prática agrícola e à vida rural. Pertence a uma Instituição de Solidariedade Social local. Uma das missões daquela instituição é a integração de trabalhadores defi cientes.

Finda a visita seguiu-se o almoço, cuja ementa incluiu a tradicional chanfana da região.

De tarde de-correu o concurso “O SABER NÃO TEM IDADE”, no qual a nossa equipa constituída pelos estudantes Maria José Sam-paio Lopes, Ana Maria Mendes das Neves e Cláudio Norberto Rodri-gues, represen-tou com brilho a USALMA ao atin-gir a fi nal. A equi-pa vencedora foi a de Torres Vedras, cidade onde, em

princípio, se realizará o concurso do próximo ano. Chegámos a Almada pelas 22:00 horas, depois de

uma viagem cultural que decorreu da melhor forma, avivou memórias a alguns, e a todos enriqueceu.

José Luís CarvalhoAluno da USALMA

Amizade coisa simplesCusta o acesso

e quando se alcança , cessa!

Telefone já não tocanoites mais frias

pode-se suicidar, pouco importa!Ninguém sofre uma lágrima

corta, disparanão ama quem nunca amou!

Deito-me no chão da minha mágoa.

Américo MorgadoProfessor da USALMA

Era uma vez

Vou ao leme de um corcel.Vou montado na garupa de um navio.Subverto. Escalo a Torre de Babel.Nas nuvens rodopio.Invento. Sulco mares... oceanos.Atravesso bosques.Percorro pradarias. Levo à cinturauma pistola com balas de quimeras.Empunho uma espada feita de um raio de luz. Ando à procura de tesouros.Acho-os nos lugares mais insólitos:Nas imediações de um castelo.Na parede esburacada de uma casa em ruínas. Sei de um,guardado por dragões,no fundo de uma caverna. Vou agora para lá...Levo a minha espada feita de um raio de luz. Num combate feroz venço dragões. E... Trago sílabas - pepitas de ouro.Palavras - jóias de diamante e safi ras.Moedas raras.Trago colares de rimas.Metáforas.Mel e vinhoem ânforas romanas.

Fernando AntunesAluno da Usalma

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Portugal País Periférico

Esta é uma verdade que nos habitu-ámos a ouvir, mas que só corres-

ponde a essa mesma verdade, do ponto de vista geográfi co enquanto inseridos na União Europeia. Mas Portugal de-tém um superior poder funcional que lhe advém do facto de deter a sobera-nia no tão famoso e apetecido triângulo estratégico Atlântico. Estamos natural-mente a falar do triângulo Continente, Açores e Madeira. Esta situação geo-gráfi ca privilegiada que detemos mas que não exploramos convenientemente em termos estratégicos, nomeadamen-te na estrutura portuária, e aqui com evidente importância o porto de Sines, enquanto porta marítima Peninsular de excelência e as plataformas insulares de Porto Santo e Terceira, dizia eu que este privilégio geográfi co torna-nos, num País que sendo periférico no en-quadramento Europeu, é indubitavel-mente central e charneira face à Amé-rica do Norte, e ainda nos dá a caracte-rística de prolongamento da U.E. para a África Ocidental e América do Sul.

Recordo aqui o enorme contributo que foi dado ao Mundo por Gilberto Freyre com o seu Lusotropicalismo, enquanto teoria de sustentação e de-senvolvimento da Língua Portuguesa nos trópicos, mas como espíritos mais inquietos e suspeitosos vislumbrassem nesta teoria antropológica, humanista e profundamente cultural, laivos de um renascido neo-colonialismo, levou a que alguns autores marxistas dos Pa-íses envolvidos no conceito, atacassem violentamente o pensamento tão bri-lhantemente desenvolvido por Freyre.

É contudo neste âmbito de afi rmação da Lusofonia, quer nas relações econó-

micas quer nos aspectos de segurança, que a relação Luso-Brasileira assume especial relevo e recomenda um atento e efi ciente estudo, no sentido duma re-avaliação séria e portanto descomple-xada, da história comum, aconselhan-do um “sedutor” piscar de olhos ao parceiro da Costa Oeste de África (An-gola), e podendo e devendo dar corpo àquilo a que Adriano Moreira chamou com grande sentido estético, o Oceano Moreno. Independentemente de outros e sérios propósitos relativos a Moçam-bique, Guiné-Bissau, S. Tomé e Prín-cipe, e Timor, entendo que o esforço de cooperação do Portugal do século XXI, deverá adquirir maior signifi ca-do no espaço balizador do já referido Oceano Moreno, ou seja Angola e Bra-sil, abarcando naturalmente a platafor-ma logística arquipelágica que é Cabo Verde, em cuja zona de infl uência, no curto prazo muitas acções de carácter preventivo e repressivo deverão ocor-rer no âmbito da segurança internacio-nal. Não devemos ignorar que a sua vizinha Nigéria é hoje uma das zonas do globo de signifi cativa incidência da pirataria marítima. Por isso cons-tatamos positivamente que não foi de simples cortesia a visita a Cabo Verde de uma importante delegação Politi-ca e Empresarial Portuguesa nem foi de simples cortesia a visita a Portugal do Presidente de Angola, País onde se prevê um crescimento económico anu-al na ordem dos dois dígitos, enquan-to que no nosso País estamos como na década de 1900, com um crescimento previsto na casa dos 0,5%.

Esta perspectiva ao ser observada peca por tardia, dado que as antigas

potências Europeias coloniais, há mui-to que incluíram nos seus conceitos estratégicos nacionais, acções de pre-servação da sua condição de potência marítima ex-colonizadora. Senão veja-mos:

A França insiste em marcar as fron-teiras da francofonia, um conceito que vai muito mais além da língua france-sa, não renunciando também à função de “gendarmerie” que vem exercendo com efi cácia na antiga África Fran-cesa, e porque não dizê-lo com im-plicações noutros Países adjacentes, como é o caso da Guiné-Bissau, com algum desprestígio nosso. Atente-se na celeridade de afi rmação pública, do Governo Francês, aquando dos assas-sinatos do Presidente e do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, da Guiné-Bissau. Tenho para mim que este incidente, deveria preocupar mui-tíssimo os governos Europeus, tendo em conta, as variáveis sociopolíticas envolvidas, que assentam em rivalida-des étnicas, passando por meras ques-tões de afi rmação pessoal e de poder, até ao insondável mundo do tráfi co de drogas, que utiliza a auto-estrada 10, assim chamada por se tratar de uma rota marítima, praticada sensivelmen-te ao longo do paralelo de latitude 10º N, que liga os dois pontos mais pró-ximos entre o continente Sul America-no e África, concretamente entre uma localidade costeira na Venezuela e o arquipélago dos Bijagós, para abaste-cer os mercados Europeus através da placa giratória actualmente existente em território da Guiné-Bissau centra-da naquele arquipélago composto por mais de 80 ilhas das quais menos de

10% são habitadas. A este respeito é bom lembrar que é em Lisboa que está sediado o Centro de Análise e de Ope-rações contra o Narcotráfi co Marítimo (MAOC) que reúne polícias de sete Países (Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Irlanda, Itália e Holanda), ten-do ainda como observadores o Canadá e os EUA, sendo que estes pretendem construir uma Base Operacional em Cabo Verde. Segundo alguns analistas a Guiné-Bissau, confi gura a natureza de Estado falhado, a caminho de se transformar em narco-Estado, dado o valor da droga ali trafi cada ser superior ao PIB. Estas considerações políticas sobre a natureza do Estado tem neces-sariamente em conta que o mesmo se resume a ter um território onde não é exercida a plena soberania no seu todo, tendo como elementos de validação, o Território (?) o Hino e a Bandeira, sen-do que o factor integrador por exce-lência, a Língua, está confi nado a um crioulo não totalmente comum a toda a população. Recordo que actualmen-te a Língua Portuguesa quase que se restringe à condição de Língua de con-veniência para ser usada nas Relações Internacionais do Estado. Esta ultima situação, a meu ver, é totalmente pena-lizante da potência colonizadora. Es-tou em crer, que dada a sua inserção no espaço Francófono Africano, no médio prazo, e se nada for feito para o evitar, a Língua ofi cial da Guiné-Bissau será o Francês.

O Reino Unido, por sua vez, pro-cura, com sucesso manter viva e au-tónoma a concepção da Comunidade Britânica, e também, aquilo que en-tende ser, provavelmente com toda a

propriedade, a sua relação privilegiada com os E.U.A., o que de alguma forma condiciona a sua adesão por inteiro e sem hesitações ao projecto Europeu. Tem-se constatado as suas difi culda-des em participarem de uma forma não mitigada, na construção da realidade da União.

Finalmente a Espanha, ainda que com difi culdades internas fruto da sua con-dição de Estado multinacional, conse-gue apesar disso e de uma forma quase homogénea, que todos contribuam para um Bem transfronteiriço assumido que é o da Hispanidade, hoje em dia, por si só uma realidade sócio política da mais elevada envergadura, em quase todo o continente americano, com excepção do Canadá, do Brasil e umas pequenas e quase irrelevantes outras comunida-des nacionais. Tudo isto sem perder de vista, igualmente com grande sucesso, a sua marcada e notada presença nos areópagos internacionais (Parlamento Europeu, NATO, UNESCO, etc.)

Concluindo, muito temos que fazer, para não perdermos os comboios das oportunidades transfronteiriças que estão ao nosso alcance, e não se trata de nenhuma posição neo-colonial, mas antes, também, globalizar as nossas capacidades económicas, políticas e culturais.

Eis então a condição dual em que nos posicionamos no Mundo: Perifé-ricos na Europa, mas País Charneira entre esta e as Américas e África.

A.M. da Silva e PinhoProfessor da Usalma