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1 UNIVERSIDADE PREBISTERIANA MACKENZIE Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas CORRUPÇÃO E ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS CASO ODEBRECHT Luiz Campos Fernandes São Paulo 2019

CORRUPÇÃO E ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS CASO ODEBRECHTtede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/4185/2/LUIZ CAMPOS FERNANDES.pdf · 2 F363c Fernandes, Luiz Campos. Corrupção e estratégia

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UNIVERSIDADE PREBISTERIANA MACKENZIE

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas

CORRUPÇÃO E ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS

CASO ODEBRECHT

Luiz Campos Fernandes

São Paulo

2019

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F363c Fernandes, Luiz Campos. Corrupção e estratégia de negócio: o caso Odebrecht / Luiz Campos Fernandes. 288 f. : il. ; 30 cm Dissertação (Mestrado Administração de Empresas) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2019. Orientadora: Profa. Dimária Silva e Meirelles Bibliografia: f. 135-143 1. Estratégia. 2. Corrupção. 3. Modelos de negócios. 4. Lava jato. I. Meirelles, Dimária Silva e, orientadora. II. Título. CDD 658.4012

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Luiz Campos Fernandes

CORRUPÇÃO E ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS

CASO ODEBRECHT

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Dimária Silva e Meirelles

São Paulo

2019

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REITOR DA UNIVERSIDADE PREBISTERIANA MACKENZIE

PROF. DR. BENEDITO GUIMARÃES AGUIAR NETO

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROF. DR. PAULO BATISTA LOPES

DIRETOR DO CENTRO DE CIENCIAS SOCIAIS E APLICADAS

PROFESSOR DR. ADILSON ADERITO DA SILVA

COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

PROFESSOR DOUTOR WALTER BATAGLIA

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À minha esposa e filhos que sempre me apoiaram e incentivaram a continuidade de meus estudos e aos meus pais que estimularam a constante busca do saber.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família pelo apoio e estímulo aos estudos.

Aos colegas de curso pelo companheirismo e apoio nas horas de dificuldade;

Aos professores do programa de pós-graduação stricto sensu da Universidade Presbiteriana Mackenzie, pelo aprendizado enriquecedor e transformador;

À Prof.ª Dr.ª Dimária Silva e Meirelles pelas orientações, dedicação e todo apoio oferecido a elaboração desta pesquisa,

Aos membros da banca examinadora, pelas preciosas contribuições nas fases de aprovação do Projeto de Pesquisa e,

À CAPES e ao Fundo Mackenzie de Pesquisa pela bolsa concedida.

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“Eu tenho uma visão crítica de uma apropriação do

estado por elites extrativistas, que desenharam

políticas públicas que as favoreciam, quando não,

pura e simplesmente saqueavam o estado. E o

maior problema da corrupção não é propriamente o

desvio de dinheiro, é o conjunto de decisões erradas

que você toma motivado pela corrupção”. (...)

“Portanto, era um quadro de corrupção

institucionalizada que vinha de dentro do poder, é,

eu acho que ela, era produto, e de certa forma ainda

existe um pacto oligárquico no Brasil, parte da

classe política, parte da classe empresarial e parte

da burocracia estatal, há um pacto de saque ao

estado brasileiro e de desvio de dinheiros para fins

privados, seja o financiamento de campanha seja

para o próprio bolso. Aí vem esta imensa reação da

sociedade, aquilo eu me referi antes, uma reação

que vem de baixo para cima, e esta reação, começa

a mudar as instituições”. (...)

Luiz Roberto Barroso Ministro do Supremo Tribunal Federal

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RESUMO

O presente estudo de caso procura compreender a estratégia adotada pelo

grupo empresarial Odebrecht e sua participação ativa no escândalo de corrupção da

Lava Jato. A partir do aporte teórico de autores que tratam da grande corrupção e

autores da abordagem de estratégia como prática, busca-se identificar o dualismo

das ações empresariais adotadas na estruturação de ações de conquista de projetos,

financiamentos e novos mercados por meio da cooptação de políticos, agentes de

governo, imprensa e instituições financeiras, necessários à operacionalização dos

atos de corrupção e desenvolvimento de seus negócios. Como resultado, são

identificados padrões nas ações empreendidas e o uso de processos bem definidos e

estruturados em que o grupo consegue, por meio de associação criminosa com

agentes públicos, estruturas de governo, forças políticas e outras empresas do setor,

alcançar objetivos como a diversificação do portfólio de negócios, internacionalização,

ampliação de sua participação no mercado e maximização dos lucros. Ao mesmo

tempo em que o grupo buscava preservar sua sólida reputação no mercado brasileiro

e internacional, foram desenvolvidas ações que passavam por uma estrutura paralela,

não visível ao mercado, voltado as práticas ilícitas. A formação desta estrutura

demandou tempo e planejamento. Nesse sentido, identifica-se um modelo estratégico

que inclui 03 fases: incubação, modelagem e execução, e que se consolidou calcado

em 06 pilares: excelência que preza pela qualidade na entrega dos serviços, captura

– ações de influência com captura do estado – aproximação e atuação estratégica em

todas as esferas de governo de acordo com as suas pautas, gestão – estruturação de

uma unidade especifica para gestão e controle dos pagamentos de propinas,

Imprensa – promover a simpatia e controle de imprensa por meio das agências de

marketing e expansão geográfica – realizada por meio de países de cultura

semelhante ao do Brasil, com exportação da estratégia desenvolvida.

Palavras-chave: estratégia, corrupção, modelos de negócios, Lava Jato, recursos financeiros – Gestão

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ABSTRACT

The present case study seeks to understand the strategy adopted by the

Odebrecht business group and its active participation in the Lava Jato (Car Wash)

corruption scandal. From the theoretical contribution of authors dealing with the great

corruption and authors of the strategy approach as practice, we seek to identify the

dualism of business actions adopted in the structuring of projects to win projects,

financing and new markets through the co-optation of politicians, government agents,

press and financial institutions, necessary for the operationalization of acts of

corruption and development of their business. As a result, patterns are identified in the

actions undertaken and the use of well-defined and structured processes in which the

group is able, through criminal association with public agents, government structures,

political forces and other companies in the sector, to achieve goals such as

diversification, business portfolio, internationalization, increased market share and

profit maximization. While the group sought to preserve its solid reputation in the

Brazilian and international markets, actions were developed that went through a

parallel structure, not visible to the market, focused on illicit practices. The formation

of this structure took time and planning. In this sense, we identify a strategic model that

includes three phases: incubation, modeling and execution, and which was

consolidated based on 06 pillars: excellence that values the quality of service delivery,

capture - influence actions with state capture - approximation and strategic action in all

spheres of government according to its guidelines, management - structuring of a

specific unit for management and control of bribery payments, Press - promoting

sympathy and geographic expansion - conducted through countries of similar culture

to Brazil, with export of the developed strategy.

Keywords: strategy, corruption, business models, Car Wash

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social

DOE Departamento de Operações Estruturadas

DOJ U.S. Department of Justice

ECP Estratégia como Prática

FGV Fundação Getúlio Vargas

FIP Fundo de Investimentos e Participações

FUNCEF Fundação dos Economiários Federais

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBOPE Inteligência Pesquisa E Consultoria

IMF International Monetary Fund

IPEA Instituto de Pesquisa Econômicas Aplicada

MPF Ministério Público Federal

MPF/PR Ministério Público Federal do Paraná

O&G Óleo e Gás

ONU Organização das Nações Unidas

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

PDT Partido Democrático Trabalhista

PETROS Fundação Petrobras de Seguridade Social

PFL Partido da Frente Liberal

PIB Produto Interno Bruto

PMDB Partido Movimento Democrático Brasileiro

PNAD Programa Nacional de Análise de Domicílio

POSTALIS Instituto de Seguridade Social dos Correios e Telégrafos

PP Partido Progressista

PPA Plano Plurianual

PR Partido da República

PREVI Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil

PREVIC Superintendência Nacional de Previdência Complementar

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

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PSI Programa de Sustentação do Investimento

PSOL Partido Socialismo e Liberdade

PT Partido dos Trabalhadores

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

RDC Regime Diferenciado de Contratação (Lei nº 12.462/2011)

TEO Tecnologia Empresarial Odebrecht

TRF-04 Tribunal Regional Federal 4ª Região

TSE Tribunal Superior Eleitoral

UNODC United nations Office on Drugs and Crime

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Lista de Favorecidos pelo Esquema ......................................... 47

Figura 2 - Estratégia Pretendida e Emergente ............................................... 54

Figura 3 - Estratégia e Práxis ........................................................................ 58

Figura 4 - Processo de Validação da Informação .......................................... 66

Figura 5 - O tamanho do grupo empresarial .................................................. 71

Figura 6 Organograma Funcional – DOE....................................................... 84

Figura 7 Modelo de Influências ...................................................................... 87

Figura 8- Evolução de Desembolso do BNDES ............................................. 90

Figura 9 - Maiores tomadores de recursos do BNDES .................................. 93

Figura 10- Fluxo Operacional – BNDES Exim Pré-Embarque ........................ 99

Figura 11- Fluxo – BNDES Exim Pós-embarque Supplier Credit ................. 101

Figura 12 - O Caminho do lucro e da propina .............................................. 104

Figura 13 - Ciclo da Grande Corrupção ....................................................... 109

Figura 14- Fases da Estratégia .................................................................... 111

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Investimentos Públicos (2004-2015) ............................................ 82

Gráfico 2 - Setores favorecidos pelo PSI ....................................................... 91

Gráfico 3 - Captação Anual Odebrecht (2002-2015) ...................................... 94

Gráfico 4- Captação Grupo Odebrecht (2002-2015) ...................................... 95

Gráfico 5 - Recursos movimentados pelo DOE............................................ 107

Gráfico 6 - Evolução do Faturamento do Grupo (2001-2016) ...................... 108

Gráfico 7 - Operações da Lava Jato ............................................................ 131

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Aspectos da Grande Corrupção ................................................... 37

Quadro 2 - Características da Corrupção ...................................................... 40

Quadro 3 - Tipos de Estratégia ...................................................................... 53

Quadro 4 - Pluralidade da ECP ..................................................................... 56

Quadro 5 - Coleta de Dados Qualitativos ....................................................... 64

Quadro 6 - Dados secundários utilizados na pesquisa .................................. 65

Quadro 7 - TEO - Princípios Fundamentais ................................................... 72

Quadro 8 - TEO - Conceitos Essenciais ........................................................ 73

Quadro 9 - TEO - Critérios Gerais ................................................................. 73

Quadro 10 - TEO - Responsabilidade Empresarial ........................................ 74

Quadro 11 - Pagamentos de Suborno e Taxas de Retorno ......................... 105

Quadro 12 - Modelo de Gestão Oficial e Paralelo ........................................ 115

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Resultados da Operação Lava Jato ............................................... 49

Tabela 2 - Lula e as Coalizões Políticas ........................................................ 79

Tabela 3- Consolidação do Grupo Odebrecht com BNDES (2002-2015) ....... 96

Tabela 4- Captação Odebrecht com BNDES (2002-2015) ............................. 97

Tabela 5- Captação Braskem com BNDES (2002-2015) ............................... 98

Tabela 6 - Prejuízos dos Fundos de Pensão (2012-2016) ........................... 103

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GLOSSÁRIO

Compliance: Medidas tomadas por organizações para disciplinar o cumprimento da

lei do país onde atua. Para ser efetivo, é necessário que programas

de compliance também fortaleçam seus mecanismos de monitoramento interno, além

de criar políticas de relacionamento com o setor público e fornecedores.

Lei Anticorrupção: Legislação promulgada em 2013 pela República Federativa do

Brasil que normatiza a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas

pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira.

Boas Práticas: Conjunto de medidas que foram bem-sucedidas no monitoramento e

no combate à corrupção por determinada organização.

Auditoria interna: Mecanismo de organizações para identificar e avaliar práticas

internas com a finalidade de identificar eventuais problemas ou riscos.

Stakeholders: Todas as partes interessadas de uma empresa, tais como clientes,

fornecedores, funcionários, comunidades do entorno, acionistas, governos, entre

outras. As empresas devem estar atentas na relação com seus stakeholders, que

precisa ser sempre positiva e alinhada às exigências da sociedade.

Sarbanes-Oxley Act: Apelidada de Sarbox ou ainda de SOX, visa garantir a criação

de mecanismos de auditoria e segurança confiáveis nas empresas, incluindo ainda

regras para a criação de comitês encarregados de supervisionar suas atividades e

operações, de modo a mitigar riscos aos negócios, evitar a ocorrência de fraudes ou

assegurar que haja meios de identificá-las quando ocorrem, garantindo a

transparência na gestão das empresas

Insiders: Expressão em inglês para uma pessoa que tem acesso à informações

privilegiadas nas empresas, participando de operações importantes e obtendo

informações que possam ser usadas de forma ilegal para obter vantagem financeira.

Plea Agreement - Termo de acordo firmado com a Justiça Americana, para confissão

do crime e redução da pena.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 19

1.1 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 21

1.2 OBJETIVO GERAL ............................................................................................ 22

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 23

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 24

2.1 A CORRUPÇÃO NA HISTÓRIA DAS SOCIEDADES ......................................... 24

2.2 CORRUPÇÃO, SUBORNO E PROPINA ............................................................ 28

2.3 A GRANDE CORRUPÇÃO E SUAS CARACTERÍSTICAS ................................. 28

2.3.1 AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA CORRUPÇÃO ............................... 38

2.3.2 CLASSIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS DE CORRUPÇÃO ................................... 40

2.4 CORRUPÇÃO E VANTAGEM COMPETITIVA ................................................... 42

2.5 ESTRATÉGIA EMPRESARIAL ........................................................................... 53

2.6 ESTRATÉGIA EMPRESARIAL E CORRUPÇÃO: MODELO CONCEITUAL ....... 59

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICO ............................................................... 61

3.1 NATUREZA, ABORDAGEM, TIPO E ESTRATÉGIA DE PESQUISA .................. 61

3.2 OBJETO DO ESTUDO ....................................................................................... 62

3.3 TÉCNICA DE COLETA DE DADOS ................................................................... 63

3.4 TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS .................................................................. 66

4 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................ 69

4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO AMBIENTE DE NEGÓCIOS ................................... 69

4.2 O GRUPO EMPRESARIAL ODEBRECHT ......................................................... 70

4.3 AS FASES DO DESENVOLVIMENTO DA ESTRATÉGIA ................................... 74

4.3.1 INCUBAÇÃO ................................................................................................... 76

4.3.2 MODELAGEM ................................................................................................. 82

4.3.3 EXECUÇÃO ................................................................................................... 88

4.4 CICLO DA GRANDE CORRUPÇÃO ................................................................ 104

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................................... 110

5.1 O MODELO ESTRATÉGICO ............................................................................ 110

5.2 O DUALISMO ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA ........................................ 114

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5.3 FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O AMBIENTE DE CORRUPÇÃO ..... 115

5.3.1 REGIME DE CONTRATAÇÃO ...................................................................... 117

5.3.2 USO DE POLÍTICAS INDUSTRIAIS ............................................................. 117

5.3.3 IMPRENSA ................................................................................................... 118

5.4 CAPTURA DO ESTADO .................................................................................. 119

5.5 A ACEITAÇÃO DA CORRUPÇÃO NAS EMPRESAS ....................................... 122

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 125

6.1 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ........................................................................... 130

6.2 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS.................................................. 134

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 135

8 ANEXOS ............................................................................................................. 143

ANEXO A CARTA AO POVO BRASILEIRO (2002) ............................................. 144

ANEXO B TERMO DE DELAÇÃO DE EMILIO ODEBRECHT ............................. 150

ANEXO C ACORDO DE LENIÊNCIA DA ODEBRECHT COM O MPF ................ 154

ANEXO D ACORDO DE LENIÊNCIA DA BRASKEM COM O MPF ..................... 181

ANEXO E AÇÃO PENAL 50.46512-94.2016.4.04/7000 PR................................. 204

ANEXO F RELAÇÃO DE DENÚNCIAS OFERECIDAS PELO MPF/PR .............. 210

ANEXO G RELAÇÃO NOMINAL DOS ENVOLVIDOS NA 23ª FASE ................... 262

ANEXO H DESCRITIVO SOBRE O CLUBE DE FUTEBOL ................................. 270

ANEXO I ACORDO DE COLABORAÇÃO DE ANTÔNIO PALOCCI................... 276

ANEXO J DECLARAÇÃO DE EMILIO ODEBRECHT ......................................... 283

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1 INTRODUÇÃO

Carta ao Povo Brasileiro (Anexo A, Quadro 7), com esta carta de 2002, o então

candidato a presidente do Brasil - Luís Inácio Lula da Silva, se apresentava a nação

como aquele capaz de transformar o país e realizar os sonhos do povo brasileiro, de

construção de uma sociedade mais justa para todos, de uma economia forte e mais

empregos. A carta, sabe-se hoje, foi escrita com a colaboração de um dos maiores

empresários do setor de construção do Brasil, como consta de seu termo de

colaboração e depoimento1 realizado como parte do acordo de delação premiada do

ex-presidente do grupo Odebrecht. Era o primeiro sinal do início de uma relação

colaborativa entre as partes e o prenuncio de uma associação espúria entre o estado

e o grupo Odebrecht para desenvolvimento de uma estratégia empresarial vinculada

ao apoio do grupo à chegada de um candidato proletário ao posto de presidente da

república do Brasil.

A construção de qualquer estratégia empresarial prescinde da definição de

objetivos de médio e longo prazo, análise do ambiente de negócios, das forças e

fraquezas da empresa e da análise de oportunidades. Esta oportunidade veio pela

identificação da necessidade de suportar e colaborar com um governo que se

encontrava fragilizado após a descoberta em 2005, do escândalo conhecido como

“Mensalão do PT”2 , pelo qual o Partido dos Trabalhadores - PT, em busca de apoio

político, permitia ou realizava pagamentos mensais ou “mesadas” a vários partidos e

políticos da base aliada, em troca de apoio ao governo, por meio de desvio de recursos

ou práticas de sobrepreço em contratações das empresas públicas.

Com o estouro do escândalo, um novo modelo fazia-se necessário para

sustentação da base e isto veio por meio da nova política industrial e atração de

empresas para realização de projetos e financiamento da base política do governo, o

1 Vide áudio de depoimento em https://www.youtube.com/watch?v=XajFSXkpPao

2 Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Escândalo_do_Mensalão

1

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20

que perdurou até sua descoberta pelas investigações da Operação Lava Jato,

conduzidas pelo Ministério Público Federal e Polícia Federal brasileira em 2014, que

inicialmente era direcionada à investigação de doleiros em práticas de lavagem de

dinheiro, mas que apontou o envolvimento de altos executivos da Petrobras – Petróleo

Brasileiro S.A, e de diversas empresas de serviços, sendo o grupo Odebrecht

identificado como um dos principais atores do novo escândalo.

A grande corrupção está caracterizada no caso da Operação Lava Jato, fruto

de investigações realizadas pelo MPF e Policia Federal, e cujo nome faz referência a

uma rede de lavagem de carros e um posto de combustíveis de Brasília – DF, utilizado

por uma das organizações criminosas investigadas para movimentar altas somas de

recursos financeiros e realizar lavagem de dinheiro. Com o desdobramento das

investigações, foi verificado o envolvimento de grandes grupos empresariais de

diversos setores de atuação, que participaram do esquema criminoso, cujo principais

aspectos diziam respeito a corrupção de altos executivos da Petrobras e políticos.

Pela impossibilidade de abordarmos o universo de empresas envolvidas, este trabalho

se dedicará a analisar o envolvimento do grupo Odebrecht, principal grupo

empresarial privado envolvido, um dos maiores do país, com forte presença no

mercado nacional e internacional, e percebidos ou reconhecidos pela sociedade,

pelas boas práticas de gestão e qualidade de seus serviços, e além disto, são tidos

como referência nos mercados em que atuam, e modelo de sucesso a ser perseguido

por empresas menores. O destacado envolvimento do grupo, chama a atenção pelo

nível de sofisticação e “profissionalismo” adotado na criação de estrutura

independente, como uma unidade de negócios, voltada especificamente à prática de

negócios ilegais e que se manteve por vários anos, sem que fosse descoberta.

O recorte modelo de negócios, se justifica em razão da empresa apresentar

dois modelos distintos de operação, um voltado ao mercado formal e outro ilícito

voltado as ações de corrupção, cooptação e captura dotado de estrutura operacional

distinta e, cujos modelos convivem entre si, de forma distinta e isolada um de outro,

mas nossa abordagem neste estudo está relacionada à estratégia adotada pelo grupo

à partir das estruturas existentes e das competências do grupo, para a conquista dos

negócios e ampliação de sua rede de relacionamentos. O estudo estará circunscrito

aos anos de 2003 a 2015 referente ao período do governo do PT e aos fatos

publicitados por meio dos desdobramentos da Operação Lava Jato.

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21

O modelo estratégico concebido pelo grupo Odebrecht para realização de

negócios escusos, representa a base deste estudo, que buscou compreender a sua

criação e sua aplicação que tinha por base as práticas de corrupção e lavagem de

dinheiro e a associação entre as empresas do grupo Odebrecht e o governo brasileiro,

através de seus governantes eleitos pelo Partido dos Trabalhadores – PT, como Luís

Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, em contraste com as práticas que caracterizam

os modelos de negócios tradicionais regidos de acordo com as boas práticas de

mercado e de gestão pública.

1.1 JUSTIFICATIVA

A gravidade e os efeitos deletérios característicos da grande corrupção para a

sociedade, decorrem do desvio de finalidade das verbas públicas, aumento dos custos

dos projetos, degradação das instituições e dos ambientes de negócios, e acima de

tudo, a da condição de submissão do estado, aos interesses privados, o que não

coaduna com a probidade administrativa e ética pública. Além disto, estas práticas

inibem o desenvolvimento de um mercado competitivo e equilibrado, com possíveis

prejuízos para as finanças do país e de suas empresas públicas. Torna-se necessário

portanto, conhecer as razões, motivações e condições ambientais que em conjunto

propiciaram a formação de um mecanismo nefasto de grande escala e sua

manutenção por tantos anos.

O presente estudo buscou avaliar diferentes aspectos que possam auxiliar na

compreensão da real dimensão da grande corrupção instalada no Brasil e contribuir

com a reflexão e avaliação da sociedade sobre o grau de maturidade necessário às

suas instituições para a prevenção e inibição de novos eventos de grande corrupção

e a promoção da melhoria dos ambientes de negócios.

Não se encontrou na literatura de estratégia, alguma abordagem sobre a

questão da ilegalidade de negócios, nos quais a estratégia empresarial é

deliberadamente construída com adoção de práticas ilegais, o que nos deixa uma

lacuna, visto não ter sido identificada nenhuma abordagem anterior de

desenvolvimento de modelos e estratégias empresariais sustentadas em atos ilícitos

baseados na corrupção e captura dos governos e suas instituições. Como então

abordar um evento de longa duração, com centenas de participantes, que perdurou

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por cerca de 13 anos (2003-2015), e envolveu três presidentes da república em cinco

mandatos presidenciais, sem que se faça a análise sob a perspectiva da estratégica,

onde as estruturas e os mecanismos de ação foram devidamente pensados,

organizados e estruturados de acordo com as melhores práticas de estratégia e

gestão visando o acobertamento e perpetuação das práticas deletérias.

1.2 OBJETIVO GERAL

O objetivo do estudo é a compreensão das estratégias adotadas pelo grupo

Odebrecht, na condução de seus negócios, e a formatação de uma estratégia de

negócios que permitisse a alavancagem de projetos nacionais e internacionais com

ampliação do portfólio de negócios da empresa por meio da utilização de recursos

públicos e benesses concedidas pelo estado em decorrência de atos de corrupção e

cooptação de agentes públicos, agentes políticos e servidores, que propiciavam as

condições necessárias ao desvio de recursos públicos ou fornecimento de

informações privilegiadas, tendo como contrapartida a obtenção de recompensas

pelos seus atos.

Cabe ressaltar que a Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº8.429/19923) conceitua

agente público como “todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem

remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra

forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades

mencionadas no artigo anterior”, tratando-se pois de um gênero e, conforme definição

existente na Controladoria Geral da União – CGU4, O agente político é aquele

investido em seu cargo por meio de eleição, nomeação ou designação, cuja

competência advém da própria Constituição, como os Chefes de Poder Executivo e

membros do Poder Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Tribunais de Contas,

além de cargos de Diplomatas, Ministros de Estado e de Secretários nas Unidades da

Federação, os quais não se sujeitam ao processo administrativo disciplinar. Já

servidores públicos, são espécies de agentes administrativos ocupantes de cargo de

provimento efetivo ou cargo em comissão, regidos pela Lei nº 8.112/19905 e são

3 Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8429.htm 4 Disponível em http://www.cgu.gov.br/sobre/perguntas-frequentes/atividade-disciplinar/agentes-publicos-e-agentes-politicos 5 Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8112cons.htm

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passíveis de responsabilização administrativa, apurada mediante processo

administrativo disciplinar ou sindicância de rito punitivo.

O estudo pretende ainda, identificar os aspectos e as características de uma

estratégia voltada a criação de um modelo de negócios paralelo e dual, concebido e

estruturado às margens da legalidade, que visava sobretudo a maximização dos

lucros e domínio do mercado pelo fortalecimento econômico e uso da influência

política devido ao envolvimento de partidos políticos que estavam associados e

interessados em seu fortalecimento e perpetuação no poder através da captura de

recursos públicos.

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Com este estudo , espera-se poder compreender os principais aspectos de uma

estratégia empresarial formatada e desenvolvida com base na associação empresa-

estado e como esta associação entre as partes, possa ter contribuído com o

desenvolvimento, crescimento e perpetuação da grande corrupção no Brasil, pelo

fortalecimento de grupos políticos e empresariais, pela degeneração das instituições

públicas e da ética empresarial, em um ambiente hostil no qual, algumas empresas

sucumbiram ou abdicaram de seus princípios para a sobrevivência de seus negócios.

Além disto, espera-se poder identificar o modelo representado pela definição dos

fenômenos estudados e suas especificidades, associação ou interface que melhor

representem as “estratégias obscuras e corruptas” empregadas no modelo de negócio

concebido. Espera-se ainda, poder contribuir com olhar diferenciado voltado ao

pensamento estratégico, e com a reflexão da sociedade sobre o grau de maturidade

necessário às suas instituições para a prevenção e inibição de novos eventos de

grande corrupção.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Inicialmente, a busca do referencial teórico constitui-se na identificação e

resgate dos autores seminais, autores de referência e pesquisas acadêmicas

relacionadas ao constructo de estratégia empresarial, com abordagem das práticas

reconhecidas e usuais de mercado para estruturação dos modelos de negócios das

empresas.

Um segundo aspecto a ser avaliado refere-se a dualidade na condução de

negócios pelas empresas, onde as práticas adotadas na condução de seus negócios

nem sempre condizem e estão alinhadas com o discurso oficial da organização

relacionado à ética e relações com o mercado, configurando uma estratégia paralela

e dual, onde temos em uma mesma empresa a adoção de dois modelos de negócios

concorrentes, sendo que um se traduz na fachada publica com boas práticas

reconhecidas pela sociedade e que ajudam a construir a imagem da empresa quanto

a credibilidade e ética e, por outro lado, uma estrutura paralela e subterrânea que

opera às margens da legalidade, constituindo uma estratégia paralela de operação e

condução dos negócios, que não está visível à sociedade e que fere os princípios da

ética concorrencial.

2.1 A CORRUPÇÃO NA HISTÓRIA DAS SOCIEDADES

Os primeiros registros de corrupção remontam aos primórdios da humanidade

e das sociedades organizadas. Registros históricos demonstram a tentativa das

autoridades em coibir e controlar eventos de corrupção e suborno que já aconteciam

em 2.370 antes de Cristo como constam dos fragmentos preservados, do código de

Urukagina6 (2.370 ac). Ações de combate à corrupção também estão presentes nas

6 Um dos primeiros códigos a regular os deveres dos funcionários públicos – disponível em

http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4941

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leis da Mesopotâmia, como representadas no Código de Hamurabi7 (1.754 ac).

Verifica-se de igual forma, antigos registros na China e em textos hindus, como

apresentado em levantamentos realizados por Nichols e Robertson (2017).

A definição de corrupção se confunde com diferentes termos como suborno e

propina. No Brasil, a definição de suborno conforme dicionário Michaelis significa –

Ato ou resultado de corromper, corruptela e também é referido como propina que

representa a ação ou prática de prometer, oferecer ou pagar a uma autoridade,

governante, funcionário público ou profissional da iniciativa privada, um presente,

qualquer quantidade de dinheiro ou quaisquer outros favores para que a pessoa atue

de forma antagônica ou antiética perante seus deveres profissionais, e, isto é

considerado um crime, como na maior parte do mundo. Já a corrupção, segundo

Michaelis - Dicionário da Língua Portuguesa (2015) está relacionada ao “Uso de meios

ilícitos, e/ou de pessoas do serviço público, para obtenção de informações sigilosas,

a fim de conseguir benefícios para si ou para terceiros”.

Segundo Nichols e Robertson (2017), é extremamente difícil avaliar a amplitude

dos efeitos da corrupção e os custos envolvidos, mas segundo estudos do

International Monetary Fund – IMF (2016)8 estima-se que a corrupção movimente no

mundo algo em torno de 1,5 a 2 trilhões de dólares por ano, o que corresponde a 2%

(dois por cento) da economia global. Já em estudos da União Europeia9 os percentuais

de suborno envolvidos variam de 2 a 16% dos valores dos contratos, sendo os valores

mais altos identificados nos países subdesenvolvidos ou em fase de desenvolvimento.

Em estudo sobre a ocorrência de falhas de governança realizados por Primbs

e Wang (2016), abordando os casos da Siemens AG - considerado o maior caso de

corrupção na história da Alemanha e o caso de fraude contábil da Enron nos Estados

Unidos – um dos maiores e que resultou na falência de uma das mais conceituada

7 O Código de Hamurabi é um conjunto de leis criadas na Mesopotâmia, por volta do século XVIII a.C.,

pelo rei Hamurabi da primeira dinastia babilônica. O código é baseado na lei de talião, “olho por olho, dente por dente” – disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_de_Hamurabi

8 Disponível em https://www.imf.org/en/Publications/Staff-Discussion-

Notes/Issues/2016/12/31/Corruption-Costs-and-Mitigating-Strategies-43888 (acessado Junho-2019)

9 Disponível em http://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/STUD/2017/608687/EPRS_STU

(2017)608687_EN.pdf (acessado Junho-2019)

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empresa de consultoria do mundo – a Arthur Andersen10 em razão de sua conivência

no processo de fraude contábil, com reflexo na economia americana e que deu origem

a criação do Sarbanes-Oxley Act11.

Em 2006 a Siemens atuava em 190 países, possuía 475.000 empregados e se

descobriu que praticava atos de suborno em diversos países onde atuava, para

obtenção de vantagens, incluindo os jogos Olímpicos de Atenas – Grécia em 2004 e

em diversos países da África, além de 77 casos identificados na Nigéria, Rússia e

Líbia, alcançando a cifra de 20 milhões de euros utilizados diretamente em atos de

suborno e 1,3 bilhões de euros em pagamentos duvidosos ocorridos.

As investigações, diferentemente do caso brasileiro, indicaram que os eventos

de corrupção ocorridos, derivaram de ações independentes das unidades

operacionais e de seu corpo gerencial, sem uma coordenação central da empresa.

Contudo guardam características semelhantes no tocante ao desenvolvimento de

relacionamentos estratégicos e captura de governos por meio das ações de corrupção

e suborno em médio e longo prazo.

Estudo, desenvolvido por Cheung, Rau e Stouraitis (2012) analisa o quanto as

firmas pagam de suborno e quais os benefícios obtidos. O estudo englobou 166 casos

públicos de corrupção, envolvendo 107 empresas de capital aberto que subornaram

funcionários públicos em 52 países por um período de 30 anos (1971-2007),

conseguindo estabelecer relações entre o quanto de suborno foi pago, a média

recebida por cada agente público, o grau de incidência de corrupção interna e externa

e a performance das empresas envolvidas em relação as que não participaram.

O estudo concluiu que a prática de suborno contribuiu com o crescimento das

empresas envolvidas e que as que pagavam mais suborno eram justamente as que

tinham menor desempenho, o que pode indicar que, caso não participassem dos

10 Saiba mais em https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,arthur-andersen-e-condenada-por-

obstrucao-no-caso-enron,20020615p31889

11 A lei Sarbanes-Oxley, apelidada de Sarbox ou ainda de SOX, visa garantir a criação de mecanismos

de auditoria e segurança confiáveis nas empresas, incluindo ainda regras para a criação de comitês encarregados de supervisionar suas atividades e operações, de modo a mitigar riscos aos negócios, evitar a ocorrência de fraudes ou assegurar que haja meios de identificá-las quando ocorrem, garantindo a transparência na gestão das empresas. Disponível em https://www.sarbanes-oxley-101.com/sarbanes-oxley-compliance.htm

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processos os resultados das empresas seriam piores. A pesquisa também identificou

que os maiores casos estavam relacionados a agentes públicos de alto poder de

decisão, como ministros de estado, governadores e presidentes. O estudo não

conseguiu analisar casos relacionados às empresas de médio e pequeno porte, o que

não permite afirmar se a corrupção fragmentada traz ou não melhor resultado do que

nos grandes casos avaliados. Uma importante conclusão e que reforça a análise

realizada pela United States Agency for International Development - USAID, está no

fato de que os aspectos de governança corporativa reduzem as chances de corrupção

pública e facilitam a possibilidade de detecção.

Na interpretação e análise de pesquisadores pioneiros (LEFF, 1964;

HUNTINGTON, 1968 apud CHEUNG, 2012), a prática de suborno é aceitável e

eficiente em alguns casos, funcionando como graxa, para movimentar as

engrenagens da burocracia, e como resultado, isto promovia o desenvolvimento dos

países. Na literatura mais recente, também se verifica majoritariamente, linhas de

pensamentos contrários, que consideram a prática de suborno como uma areia a

danificar as engrenagens, introduzindo atrasos e custos às ações administrativas

(ADES e DI TELLA, 1997 e KAUFMANN e WEI, 1999, apud CHEUNG).

É possível perceber que a corrupção é um fenômeno de comportamento social

e transversal que existe desde os primórdios da sociedade e que apresenta diferentes

ângulos de análise, de acordo com o ponto de vista do observador, podendo em

alguns momentos se encarado como algo necessário e até benéfico, e em outros

como é a visão da maioria dos estudiosos, um comportamento nocivo e maléfico à

sociedade moderna, que prejudica o ambiente de negócios e corrompe as instituições,

devendo portanto ser combatido em todas as frentes.

O estudo buscou a construção deste processo no caso do grupo Odebrecht,

como ocorreu, e suas consequências com base em fatos públicos conhecidos e nas

revelações obtidas pelas investigações policiais, e verificar quais das duas correntes,

como a graxa necessária para movimentar as engrenagens da burocracia ou como a

areia a danificar as engrenagens, melhor se encaixa no caso da grande corrupção,

objeto de nosso estudo, restrita ao modelo desenvolvido pela Odebrecht.

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2.2 CORRUPÇÃO, SUBORNO E PROPINA

Conforme conclusões de estudos realizados pela USAID12 e apresentados por

meio da publicação AntiCorruption Assessment Handbook (2009), a corrupção está

relacionada frequentemente ao uso indevido da autoridade para obtenção de ganhos

privados. Ocorre sempre que funcionários públicos fazem mau uso da confiança a

eles depositada, como servidores públicos, tanto para ganhos monetários quanto não

monetários, que se desdobram e se acumulam, sejam para o próprio, seus amigos,

seus parentes ou seus interesses pessoais ou políticos.

A corrupção em qualquer contexto dado geralmente tem definições legais e

socioculturais, que nem sempre estão de acordo. Mas nem a lei nem a cultura são

imutáveis, e os esforços anticorrupção podem ter como alvo um ou ambos (lei e

cultura). Além disso, as práticas e sanções anticorrupção são frequentemente

referenciadas nas leis e regulamentos de um país, porém, os processos de

investigação e a execução de penas, podem ser fracas ou inexistentes. Se controles

apropriados não estiverem em vigor ou forem bem aplicados, a sensação de

impunidade pode prosperar entre os agentes corruptos e, consequentemente, a

corrupção no setor público pode degradar progressivamente as estruturas de

governança do país e sua capacidade de prestar serviços aos cidadãos.

Quando o mau uso do cargo público é percebido pelo agente, como um

comportamento de baixo risco e alto ganho, ele pode minar o estado de direito, a

legitimidade do governo, o crescimento econômico e o potencial de investimentos,

bem como os objetivos gerais de desenvolvimento de um país e de sua sociedade.

2.3 A GRANDE CORRUPÇÃO E SUAS CARACTERÍSTICAS

Uma das maiores estudiosas sobre corrupção e especialista no assunto de

direito administrativo, Susan Rose-Ackerman, professora de Jurisprudência da Henry

Luce Foundation, codiretora do Centro de Direito, Economia e Políticas Públicas da

12 A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, mais conhecida por seu

acrônimo em inglês USAID, é um órgão do governo dos Estados Unidos encarregado de distribuir a maior parte da ajuda externa de caráter civil. Disponível em https://www.usaid.gov/

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Yale Law School, discorre que evitar a corrupção parece muitas vezes ser uma

estratégia maximizadora de valor para as empresas. Diante deste conceito de

estratégia empresarial, Rose-Ackerman (1999) em seu artigo aborda o conceito da

grande corrupção e o ambiente e as condições em que esta ocorre, em especial nas

economias de países em desenvolvimento. Aborda ainda, as obrigações éticas das

empresas multinacionais e seus gerentes quando atuam em ambientes de corrupção,

destacando aspectos que ajudam a entender como ocorre a grande corrupção desde

sua origem, os custos envolvidos e as questões éticas das empresas.

A origem da grande corrupção, está diretamente relacionada as empresas que

pagam propinas para obter tratamento preferencial em contratos, concessões e

acordos de privatização, recebendo em contrapartida benefícios que podem

representar na adjudicação de um contrato, na obtenção de informações privilegiadas

que aumentem a competividade de uma oferta ou proposta comercial, aumentando a

probabilidade de ser bem-sucedida. Pagamentos também, são feitos para alterar

termos do contrato ou do ambiente regulatório em que estão inseridos,

desequilibrando as relações concorrenciais e aumentando as chances de sucesso da

empresa corruptora.

Mesmo quando se vislumbram ambientes ou processos aparentemente

saudáveis, as empresas por meio de seus gerentes, sentem-se compelidas a

corromper, devido ao entendimento de que o método é parte do ambiente de negócios

em que atuam, em que pese a existência de legislação em contrário. De forma geral,

o entendimento é de que os riscos à reputação são baixos o suficiente para justificar

os pagamentos e, que isto é parte de suas obrigações para maximização dos lucros

para com os acionistas. Isto decorre da sensação de impunidade e de proteção que

as empresas passam aos seus gerentes, que por sua vez, sentem-se protegidos e

que serão resguardados e recompensados pelos atos praticados, mesmo se

descobertos.

Outro aspecto diz respeito aos funcionários públicos, que muitas vezes formam

uma estrutura extremamente complexa e organizada de modo a oferecerem e

obterem vantagens nos negócios realizados pelo governo, em um sistema corrupto

em que os pagamentos são aceitáveis porque são um modo rotineiro de fazer

negócios no país. Em outros casos, o sistema é tão mal organizado e explorador que

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as empresas veem corrupção como a única maneira de organizar uma realidade

caótica.

Em contrário sensu, existem autores que conseguem enxergar efeitos positivos

nos atos de corrupção. Segundo Pastin (1986) apud Rose-Ackerman (1999) em

alguns casos, os pagamentos feitos por multinacionais para obtenção de contratos no

exterior, podem ser aceitáveis, pois eles equilibram os prós e contras da negociação,

ou seja, a negociação só existiu em razão da pratica de suborno, mas o país e a

sociedade se beneficiou do contrato firmado apesar do evento de corrupção

ocorrido13. A base de seu argumento sobre os “benefícios” relativos aos pagamentos

de suborno, estão exemplificadas no caso de suborno envolvendo a Lockheed Aircraft

Company para vencer um contrato do governo japonês para venda do avião Tristar14,

onde argumenta que apesar do suborno, ocorreu equilíbrio entre os benefícios para

os proprietários e trabalhadores da Lockheed Martin Corporation e conclui que o

pagamento do suborno se justificou neste caso, pois o Japão obteve um avião superior

apenas com um ligeiro aumento no custo. Conclui ainda que mesmo que os

pagamentos possam prejudicar os cidadãos e consumidores locais, isto é coerente

com o papel das corporações modernas, onde os benefícios superam os custos.

Outro ponto de análise de Rose-Ackerman (1999), se refere aos governos cujas

instituições se apresentam fracas e propicias ao ambiente de corrupção e negociatas,

no qual, as empresas se utilizam destes para justificar atos de corrupção e

comportamento antiético, como algo necessário para alcançarem seu objetivo maior

que consiste na criação de valor econômico no desenvolvimento de seus negócios.

O ambiente político e seus atores, também estão sujeitos as pressões e

interesses difusos para o atendimento de demandas partidárias e particulares dos

políticos que necessitam do apoio e financiamento de suas campanhas para

continuarem em cena, e para isto, muitos cedem em detrimento de seus princípios e

estabelecem acordos promíscuos em favorecimento de determinadas empresas por

13 NY TIMES, Japan arrests 17th offcial in the Lockheed bribe scandal, 1976, disponivel em

https://www.nytimes.com/1976/08/21/archives/japan-arrests-17th-official-in-the-lockheed-bribe-scandal.html

14 Mais informações em https://www.nytimes.com/1976/08/21/archives/japan-arrests-17th-official-in-

the-lockheed-bribe-scandal.html

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meio de informações privilegiadas ou pela elaboração e defesa de projetos de lei que

beneficiem à estas.

De acordo com Walzer (1973) (apud ROSE ACKERMAN (1999)), no conceito

de um político, se a eleição é suficientemente importante e os efeitos indiretos do

acordo são limitados, deve-se aprovar o acordo. Donagan (1977) (apud ROSE

ACKERMAN (1999)) vai mais longe ao argumentar que um acordo ilícito não ofende

a moralidade comum porque pode ser visto como um ato de defesa pessoal. Sob tais

teses de balanceamento, a corrupção é frequentemente aceita nas relações entre

empresas e políticos, fazendo parte do ambiente de fundo, que eles têm a obrigação

de mudar.

Para Rose-Ackerman (1999), grandes eventos de corrupção, podem prejudicar

o pleno funcionamento do estado e diminuir a eficiência da produção. A disputa e luta

das grandes empresas e grupos econômicos para se apropriarem dos ganhos com

projetos públicos podem ter um impacto destrutivo sobre o sistema econômico e

político de um país.

As outorgas de concessões públicas podem ter sua competividade prejudicada

e adquirir ineficiências em sua contratação em decorrência da corrupção. Os atos de

corrupção podem limitar o número de licitantes e favorecer aqueles com conexões

internas mais eficientes, limitar as informações disponíveis aos demais participantes

e introduzir custos adicionais de transações. Se altos funcionários, incluindo

governadores e chefe de estado, estão envolvidos e preocupados principalmente com

a maximização do ganho pessoal, eles podem inserir ineficiência na composição e

trajetória temporal do investimento da concessão. Consequentemente, decisões de

investidores podem ser afetadas pelo fato de estarem lidando com a corrupção de

líderes políticos.

O impacto da corrupção de alto nível vai além da mera escala do investimento

público e da perda receita para o orçamento público. Funcionários corruptos

selecionarão projetos e farão compras com pouca ou nenhuma justificativa econômica

e, frequentemente apoiam projetos de elefantes brancos com pouco valor na

promoção do desenvolvimento econômico. Um estudo empírico realizado por Rose-

Ackerman (1999) demonstra que altos níveis de corrupção estão associados a níveis

mais altos de investimento público como parcela do Produto Interno Bruto - PIB (e

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níveis mais baixos investimento direto e investimento estrangeiro). Os países mais

corruptos gastam relativamente menos em operações e manutenção e possuem

infraestrutura de qualidade inferior. Além disso, funcionários corruptos podem

representar altas taxas comissão ao negócio e acrescentar um risco ao processo.

A própria venalidade do governante pode torná-lo inseguro e sujeito à

derrubada. Essa insegurança induz ele a roubar mais, tornando-o ainda mais

inseguro, e assim por diante. Como consequência, terá relativamente uma taxa de

comissão elevada para projetos do governo e apoiará projetos com retornos rápidos

no curto prazo e custos distribuídos no futuro. Por outro lado, o concessionário (ou

contratado) pode temer que aqueles que estão no poder sejam vulneráveis à

derrubada por causa de sua corrupção.

Um novo regime pode não honrar os compromissos do antigo e, além disso,

mesmo que o atual regime permaneça no poder, o vencedor pode temer a imposição

de regras arbitrárias e demandas financeiras, uma vez que os investimentos já estão

feitos. Tendo praticado suborno no passado, a empresa está vulnerável a demandas

extorsivas no mercado futuro. Ressalta-se ainda que, a corrupção raramente será

limitada a um pagamento único aos altos funcionários. Em vez disso, o vencedor pode

ser uma empresa mais disposta do que outras a envolver-se em relacionamentos

corruptos contínuos e duradouros em toda a hierarquia para proteger seus interesses.

Os processos de privatização de empresas públicas muitas das vezes são

encarados como parte do processo de saneamento da máquina pública visando a

redução de prejuízos, redução de cargos com apadrinhamentos políticos e busca da

maior eficiência dos serviços públicos por meio da iniciativa privada. No entanto, os

processos de privatização muitas das vezes, podem representar uma janela de

oportunidades para ações escusas, advindas da corrupção e interferências indevidas

nos processos de privatização. Os processos de privatização pela ótica de um

corrupto podem ser mais interessantes do que as ações isoladas em licitações quando

comparadas aos incentivos e oportunidades de ganhos que podem ser obtidos em

contratos de concessões por meio de suborno a funcionários envolvidos no processo,

autoridades e até governantes em razão dos altos valores envolvidos e das regras de

privatização do processo. O agente corruptor irá buscar influenciar diretamente no

processo desde sua origem interferindo ou não na seleção dos ativos a serem

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privatizados, nas regras e condições de pagamento previstas, na entrada de

financiamento público por meio de linhas de crédito especiais para os adquirentes e

até mesmo na seleção dos concorrentes e cláusulas de barreiras que impeçam a

entrada de concorrentes não previstos ou não controláveis.

A pesquisadora Rose-Ackerman (1999) destaca que nos processos de

privatização, alguns incentivos à corrupção são mais específicos e elenca três fatores

que considera particularmente importantes.

I – Quando grandes empresas estatais são privatizadas existe uma baixa

confiabilidade na correta avaliação de seus ativos, além disso, o regime

regulatório que prevalecerá posteriormente pode ser pouco especificado. Estas

incertezas favorecem aos “insiders” corruptos pois criam todo o tipo de

oportunidades como o fornecimento de informações privilegiadas e não

disponíveis ao público, orientações para favorecimento dos pagamentos e

melhor fluxo de caixa, e tratamentos especiais durante o processo. Em casos

especiais, empresas com melhores conexões políticas e de relacionamento,

em semelhança ao demonstrado nos estudos de Lazzarini (2017), podem ser

favorecidas pelo acesso diferenciado as informações sigilosas das estatais ou

não disponíveis aos demais concorrentes. Em casos extremos, a venda é feita

por valores não declarados e a compradores duvidosos ou políticos alinhados

com o partido do poder e outros sem experiencia ou histórico na área de

negócios envolvida.

II – Agentes públicos envolvidos com corrupção podem apresentar

informações públicas negativas da empresa, o que faz com que a empresa

pareça fraca e pouco atrativa, depreciando o valor de seus ativos e, ao mesmo

tempo, fornecem informações privilegiadas aos “insiders” demostrando o

potencial da empresa e que ela está indo bem, sendo seu futuro promissor e

muitas vezes ancorado com contratações do próprio governo. A sociedade de

modo geral, tem a percepção de que o processo está sendo realizado de forma

criteriosa e honesta. Ocorrem ainda, promessas de que a supervisão

regulatória será branda e as metas se previstas, não serão de difícil

atendimento. A avaliação do resultado do leilão e do ágio obtido entre a

diferença entre o preço mínimo previsto e o obtido, pode ser comemorada como

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uma grande conquista do governo, contudo o processo precisa ser avaliado ao

longo de sua história. O processo de privatização muitas vezes representa um

grande sucesso para a empresa vencedora com a obtenção de altas taxas de

retorno, que nem sempre é resultante de uma melhor administração, mas sim,

resultados dos acertos realizados à margem do processo legal.

III – Uma empresa a ser privatizada vale mais se ela reter algum tipo de

poder de monopólio. Para alguns economistas a retenção de um monopólio vai

contra os objetivos de privatização, pois prejudica a livre concorrência. Para um

estado institucionalmente frágil ou precário e seus licitantes, assegurar o poder

de monopólio está no interesse de ambos e é entendido como oportunidade

por estes. Este conflito entre maximização da receita e concorrência de

mercado surge para todos os acordos de privatização. Se o estado prioriza os

princípios competitivos, pode ser incapaz de endossar abertamente a

permanência de um monopólio. Esta situação de conflito ou conjunção de

interesses das partes envolvidas e “insiders” acaba criando oportunidades de

acertos escusos voltados a corrupção e maiores bonificações ao envolvidos em

razão dos resultados dos processos.

A corrupção não possui fronteiras ou bandeiras e, envolve empresas

multinacionais ou não, pode produzir sérias distorções na maneira como estado e

sociedade atuam. Geralmente na compra ou desenvolvimento de uma estatal, o

estado paga muito nas operações de grande escala e quando vende por meio de

processos de privatização ou concessão, recebe muito pouco por seus ativos.

Situações como estas tratam-se de um fenômeno mundial que se verifica em vários

países observados nos estudos de Rose-Ackerman (1999) e isto decorre de

funcionários corruptos que distorcem ou influenciam negativamente as escolhas do

setor público para gerar benefícios em causa própria por meio de conluio com

agentes e empresas corruptoras, resultando em ineficiência das políticas públicas e a

realização de operações de aquisição ou venda de forma distorcida da realidade e

muitas vezes em detrimento de bons projetos semelhantes ou prioritários.

Em países em desenvolvimento, com instituições frágeis ou pouco reguladas a

corrupção está mais propensa a ocorrer em razão de tratar-se de um fenômeno

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bilateral com participação de um comprador e um vendedor que cooperam entre si em

busca de vantagens competitivas e pessoais. Este cenário favorece as empresas

multinacionais que enxergam nisto a oportunidade de se estabelecerem e realizarem

bons negócios, mesmo que em detrimento da ética e do respeito à livre concorrência,

mas por entenderem que isto é parte do jogo e para poderem entrar, terão de buscar

os canais de negociação com agentes públicos e insiders que promovam as melhores

condições de favorecimento em troca de benefícios individuais aos envolvidos.

Devemos ressaltar que estas considerações não representam uma regra de

comportamento das multinacionais, que na maioria das vezes são provenientes de

países desenvolvidos, com economias fortes e melhores regras de compliance.

Concluindo, os aspectos levantados por Rose-Ackerman (1999), esta defende

que a obrigação de se abster de corrupção deriva da posição organizacional e legal

das empresas, apelos à moralidade pessoal são inadequados e muitas vezes

inapropriado. Os principais gerentes e diretores precisam estabelecer diretrizes e

políticas corporativas claras e bem aplicadas contra a corrupção em vez de confiar na

moralidade pessoal dos funcionários, porque as empresas são criações legais e

operaram sujeitas as restrições legais, as firmas possuem obrigações para com a

ordem legal que são mais fortes do que as das pessoas físicas. No entanto, as

obrigações políticas e econômicas de uma empresa nem sempre são consistentes e

isto pode ser compreendido com a análise sobre alguns pontos desta relação e o

histórico das práticas adotadas.

Segundo Thompson (1987) apud Rose-Ackerman (1999), as corporações têm

personalidades legais. Isso não as transforma em seres humanos reais, e alguns

comentaristas insistem que essa falta de humanidade implica que as empresas não

podem ter obrigações morais. Eles acreditam por exemplo, que não é aconselhável

responsabilizar criminalmente empresas comerciais, mas sim seus executivos, já que

se assim fosse, a responsabilidade criminal daria às corporações os mesmos direitos

que os indivíduos com menos justificativa para essas proteções.

Cabe considerar que as empresas não devam ser tratadas como indivíduos,

mas não é possível esquecer que são geridas por indivíduos e isto não impede ou

elimina a obrigação de adotarem uma postura ética e responsável em suas tratativas

negociais, e não devem ser isentadas de suas responsabilidades por desvios de

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conduta, seja no âmbito das organizações ou por meio de seus indivíduos e suas

iniciativas próprias.

Outro ponto de análise sobre a corrupção e responsabilidade das empresas,

segundo Thompson (1987) (apud ROSE ACKERMAN, 1999) deve ser a compulsão;

A pessoa ou organização poderia ter agido de outra forma? Muitas das vezes esta é

a principal base da desculpa. De que não havia outra forma de agir em razão das

circunstâncias que se apresentavam. No contexto da corrupção, a compulsão resulta

de acionistas preocupados apenas com a lucratividade da empresa e desinteressados

em reivindicações morais de responsabilidade corporativa. Ocorre ainda, de

proprietários buscarem vender suas ações a compradores em potencial, mas estes

após conhecer as práticas empresariais, se recusam a investir na empresa

escrupulosa que possa ter a lucratividade limitada por fatores éticos. Se o

comportamento ético leva a empresa à falência, o dilema é mais agudo. Se apenas

reduzir a lucratividade reduzindo os lucros do monopólio, a empresa ainda pode ser

viável.

No Quadro 1 – Aspectos da Grande Corrupção, é apresentado um resumo dos

principais agentes envolvidos, suas motivações e as consequências ou resultados de

suas ações no contexto do ambiente em que estão inseridos.

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Quadro 1 - Aspectos da Grande Corrupção

A GRANDE CORRUPÇÃO Agente Motivação Resultado

Partidos Políticos

Políticos estão sujeitos as pressões e interesses difusos para o atendimento de demandas partidárias ou particulares que necessitam do apoio e financiamento de suas campanhas para continuarem em cena

Em contrapartida, estabelecem acordos promíscuos em favorecimento de determinadas empresas através de informações privilegiadas ou pela elaboração e defesa de projetos de lei que beneficiem à estas empresas. A corrupção é frequentemente aceita nas relações entre empresas e políticos, fazendo parte do ambiente de fundo, que eles têm a obrigação de mudar.

Líderes e representantes dos poderes

executivo, legislativo e

judiciário

Busca de vantagens pessoais e grandes recompensas financeiras ou apoio de empresas para permanência em cena nas esferas federal, estadual e municipal.

Outorgas de concessões públicas, com competividade prejudicada, sujeitas a ineficiências em sua contratação em decorrência da corrupção. Limitar do número de licitantes e favorecimento daqueles com conexões internas mais eficientes. Omissão de informações disponíveis aos demais participantes e introduzir custos adicionais de transações.

Insiders Venda de interferências políticas e de oportunidades relacionadas aos governos

Fornecimento de informações privilegiadas e não disponíveis ao público, orientações para ofertas públicas e tratamentos especiais durante os processos de privatização e concessões públicas.

Empresas

Estratégia de maximização de resultados

Obtenção de contratos, concessões e acordos de privatização através da obtenção de informações privilegiadas e adjudicação de contratos. Após a prática de suborno a empresa fica vulnerável a demandas extorsivas. A corrupção raramente será limitada a um pagamento único aos altos funcionários.

Busca de tratamento preferencial

Países em desenvolvimento

Benefícios fiscais e legais

Pagamentos para alterar termos do contrato ou do ambiente regulatório em que estão inseridos, desequilibrando as relações concorrenciais e aumentando as chances de sucesso da empresa corruptora.

Compulsão

Mesmo quando se vislumbram ambientes ou processos aparentemente saudáveis, as empresas através de seus gerentes, sentem-se compelidas a corromper, devido ao entendimento de que o método é parte do ambiente de negócios em que atuam.

Impunidade

Percepção de que os riscos à reputação são baixos o suficiente para justificar os pagamentos e, que isto é parte de suas obrigações para maximização dos lucros. Isto decorre da sensação de impunidade e de proteção que as empresas passam aos seus gerentes que por sua vez, sentem-se protegidos, resguardados e recompensados pelos atos praticados, mesmo se descobertos.

Funcionários Públicos

Formam uma estrutura extremamente complexa e organizada de modo a oferecerem e obterem vantagens nos negócios realizados pelo governo

Em um sistema corrupto em que os pagamentos são aceitáveis porque são uma parte rotineira de fazer negócios no país. Em outros casos, o sistema é tão mal organizado e explorador que os funcionários se vendem as empresas como a única maneira de organizar uma realidade caótica.

Formadores de políticas

publicas

Ministros, secretários e funcionários de alto nível, com poder de decisão e direcionamento das políticas públicas em busca de vantagens pessoais.

Selecionam projetos e fazem compras com pouca ou nenhuma justificativa econômica e, frequentemente apoiam projetos de elefantes brancos com pouco valor na promoção do desenvolvimento econômico. Trabalham com níveis mais altos de investimento público e podem apresentar altas taxas comissão ao negócio e acrescentar risco ao processo.

Governos e suas

Instituições

Instituições se apresentam fracas e propicias ao ambiente de corrupção e negociatas

As empresas se utilizam destes para justificar atos de corrupção e comportamento antiético, como algo necessário para alcançarem seu objetivo maior que consiste na criação de valor econômico no desenvolvimento de seus negócios.

Fonte: Elaborada pelo autor com base nos estudos de Rose Ackerman (1999)

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2.3.1 AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA CORRUPÇÃO

Durante as últimas décadas, com o aumento da globalização15 e de tratados

internacionais, verificou-se a necessidade de promover um ambiente saudável e

igualitário às oportunidades de negócios. A pesquisa e a prática internacional

demonstraram que existem características da corrupção que devam ser consideradas

em qualquer programa de reforma política e legal, no combate à criminalidade. A

estratégia anticorrupção defendida pela USAID em seu Practitioner’s Guide to

Anticorruption16 (2015) passa pelo entendimento de como o fenômeno da corrupção

se incorpora à rotina e estruturas de governo, e isto, permite o desenvolvimento de

ações direcionadas para coibir seu desenvolvimento. Dentre estas características,

destacam-se;

a. Corrupção é multisetorial.

A corrupção é tanto um problema de governança quanto econômico, e

se manifesta em todos os setores de desenvolvimento e prestação de serviços.

Seu início é facilitado pela ausência ou limitação de governança e controles

econômicos e suas consequências são frequentemente manifestadas em má

governança e distorções econômicas e estagnação. Essencialmente, a

corrupção pode ser vista como um problema de governança dentro de cada

setor.

b. A corrupção é multinível

A corrupção multinível pode ser encontrada em todos os níveis de governo

federal, estadual e municipal, seja de forma integrada ou isolada, não havendo

necessariamente uma relação direta entre os atos ilícitos praticados nos

diferentes níveis.

c. A corrupção se manifesta de muitas maneiras

A corrupção administrativa é tipicamente caracterizada como um abuso

diário de poder que afetam cidadãos e empresários - por exemplo, pedidos de

pequenos subornos ou brindes, dinheiro rápido e tráfico de influências para

15 Ver mais em https://brasilescola.uol.com.br/geografia/globalizacao.htm

16 Disponível em https://pdf.usaid.gov/pdf_docs/PA00K7PG.pdf

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fechar os olhos ao contornar as regras e regulamentos ou para obter o serviço,

benefício ou atendimento de uma solicitação que deveria ter sido feito

gratuitamente ou como parte da entrega do serviço público esperado. Os

grandes eventos de corrupção estão mais alinhados aos crimes de colarinho

branco e envolvem funcionários de nível superior em postos decisórios de alta

responsabilidade que recebem em contrapartida aos seus serviços e

informações escusas, elevadas somas de dinheiro que proveem tipicamente,

de propinas para direcionar grandes contratos públicos, apropriação indébita

de fundos públicos, irregularidades nas finanças públicas, no financiamento de

partidos políticos e campanhas, patrocínio político e clientelismo.

d. A corrupção pode promover a captura do Estado

Segundo Durán (2018), a Odebrecht veio a desenvolver um “modelo de

influencias” incialmente desenvolvido e aperfeiçoado no Brasil e depois

exportado para outros países com semelhança cultural, que significa dizer, com

tolerância a obtenção de benesses e de baixa maturidade institucional, como

países da África, América Latina, paraísos fiscais, mas também, em países com

instituições sólidas e maduras como Estados Unidos e países da Europa nos

quais as ações ilegais eram mais contidas ou inexistentes, mas que serviam

como referência técnico-comercial para uma empresa global.

Em resumo das características da corrupção resumidas no Quadro 2 –

Características da Corrupção, a seguir apresentado, é possível verificar que o caso

do grupo Odebrecht se encaixa nas 3 categorias principais – Multisetorial,

Administrativa e de Captura do Estado, sendo que as principais ações do grupo eram

alavancadas através da categoria Administrativa, onde tudo se iniciava e,

posteriormente para as outras duas. É possível ainda, perceber com base nas

investigações públicas, a adoção pelo grupo de todas as práticas que caracterizam a

Grande Corrupção como elencadas no Quadro 1.

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Quadro 2 - Características da Corrupção

CARACTERISTICAS DA CORRUPÇÃO TIPO CAUSA/AGENTE RESULTADOS

Multisetorial

Ausência ou falta de governança e controles econômicos

a) Atinge a todos os setores de governança e a prestação de serviços públicos; b) Prejudica a alocação e uso correto dos recursos públicos; c)Não existe obrigatoriamente uma relação entre atos praticados entre os diferentes níveis internos ou das esferas públicas.

Falta de transparência

Pode ocorrer nas esferas federal, estadual e municipal de forma isolada ou integrada.

Administrativa

Abuso diário de poder por agentes públicos e empresários

Pedidos de pequenos brindes ou suborno, dinheiro rápido e tráfico de influências para contrariar regras e regulamentos para obtenção do serviço desejado.

Os grandes eventos de corrupção estão mais alinhados aos crimes de colarinho branco e envolvem funcionários de nível superior em postos decisórios de alta responsabilidade

Recebem em contrapartida aos seus serviços e informações escusas, elevadas somas de dinheiro que visam tipicamente, obtenção de propinas para ganhar grandes contratos públicos, apropriação indébita de fundos públicos, irregularidades nas finanças públicas e no financiamento de partidos políticos e campanhas, patrocínio político e clientelismo

Captura do Estado

Ocorre quando as elites econômicas desenvolvem relacionamentos com autoridades políticas nas quais exercem influência indevida sobre elas e sobre políticas públicas para seu ganho pessoal.

Influência na definição de políticas públicas de acordo com os interesses de grupos privados; favorecimentos através de atos legislativos em favor de setores específicos; desenvolvimento de programas de privatização e concessão de serviços públicos; disponibilização de recursos públicos sem contrapartidas e/ou com taxas subsidiadas

Fonte: Elaborada pelo autor com base nos estudos realizados pela USAID (2006) e Durán (2018)

2.3.2 CLASSIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS DE CORRUPÇÃO

A definição do que seja corrupção apresenta-se com vários significados e

interpretações, mas uma em especial se mostra mais adequada a este estudo, por

consolidar em uma única frase, os aspectos de sociedade e ganhos ilícitos daqueles

que se utilizam das práticas de corrupção, que é a definição adotada pela organização

Transparência Internacional17 que assim a define;

“the abuse of entrusted power for private gain.”

Em tradução livre, “o abuso do poder confiado para ganho privado”, uma

definição que no caso expressa o abuso de confiança tanto dos governantes eleitos,

17 Disponível em Transparency International, Plain Language Guide (2009: 14):

http://www.transparency.org/whatwedo/pub/the_anti_corruption_ plain_language_guide

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quanto das empresas privadas conceituadas e dotadas de boa imagem pública, que

de forma associada, buscaram o aumento dos ganhos privados por meio da

corrupção, traindo a percepção de confiança da sociedade.

O primeiro tratado internacional a classificar a lavagem de dinheiro como crime

foi a "Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias

Psicotrópicas", firmada pela Organização das Nações Unidas - ONU, em Viena

(Áustria), em 1988. Cumprindo o compromisso assumido nesta Convenção de Viena,

o Brasil promulgou, em 03 de março de 1998, a Lei nº 9.61318, que tipificou o crime

de lavagem de dinheiro. Posteriormente, nova redação foi dada pela Lei nº12.683 de

201219 que atribui às pessoas jurídicas, de diversos setores econômicos e financeiros,

obrigações relacionadas à identificação de seus clientes, registro e monitoramento

das operações realizadas, comunicação de operações suspeitas, implementação de

procedimentos internos de controle e treinamento dos funcionários para a prevenção

e o combate à lavagem de dinheiro.

De acordo com a legislação brasileira, além da lavagem de dinheiro, são consideradas

práticas de corrupção;

i. Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou

propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de

infração penal;

ii. Caixa 2 – usar ou acumular recursos financeiros não contabilizados;

iii. Corrupção ativa – oferecer, a um indivíduo, vantagem indevida em troca de benefícios

não legais;

iv. Corrupção passiva – solicitar ou receber, para si ou para outrem, uma vantagem

indevida.

v. Tráfico de influência – solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem,

vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato predicado.

vi. Formação de quadrilha – associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando,

com objetivo criminoso.

vii. Gestão temerária – gerir recursos de terceiros de modo arriscado.

viii. Advocacia administrativa – patrocinar o servidor público de forma direta ou indireta.

18 Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9613compilado.htm

19 Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- 2014/2012/Lei/L12683.htm#art2

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ix. Concussão – exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem

indevida.

Dentre as previsões na legislação, e com base nos inquéritos realizados, é

possível perceber o enquadramento da Odebrecht S/A holding do grupo e da Brakem

S.A, braço petroquímico do grupo, nos itens i, iii, iv, v e vi conforme se verifica nos

termos dos Acordos de Leniência (Anexos E e F do Quadro 07), pagina 02, Seção II

– Partes e objeto do Acordo de Leniência, Clausula 4ª alínea a) firmados pelas

empresas Odebrecht e Braskem com o Ministério Público Federal em 01.12.2016 e

14.12.2016 respectivamente, e por meio do qual se comprometiam a colaborar com

as investigações.

2.4 CORRUPÇÃO E VANTAGEM COMPETITIVA

A análise das estratégias empresariais não aborda o tema da corrupção

diretamente, mas sim, por meio da discussão da obtenção de vantagem competitiva

pelas empresas mais próximas aos centros de poder em relação as demais. Isto se

dá por vários fatores de posicionamento de mercado e domínio tecnológico, mas

também por razões afetas ao relacionamento e ligações desenvolvidas entre

empresas por meio do cruzamento de posições acionárias e controle de diversos

grupos entre si, como a formação de consórcios em projetos de interesse das partes,

formando o que Lazzarini (2010) define como Capitalismo de Laços, ambiente no qual

o cruzamento de interesses, estratégias e de informações privilegiadas permite aos

atores principais orientar e de certa forma controlar o mercado em que atuam.

É esperado e previsível que em um ambiente de relações estreitas entre

membros do governo e, grupos empresariais economicamente favorecidos pelo

governo, ocorre invariavelmente um ajuste entre as partes, como etapa de um

processo de favorecimento, ajustamento, aplicação, revisão e correção das políticas

setoriais que passam a ser orientadas pela máxima de que “não existe almoço de

graça” e portanto, todos os benefícios obtidos devem ter contrapartida adequada a

quem os promove.

Ades e Di Tella (1997), buscam uma diferente uma abordagem para análise

das políticas industriais voltadas a formação de “campeões nacionais”, focando não

nos resultados do aumento de competividade e nem se ela representa ou não uma

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boa prática. O estudo buscou examinar se os possíveis benefícios das políticas

industriais ativas e alguns de seus efeitos quanto ao incremento da corrupção, como

um efeito colateral.

Estudos dos efeitos líquidos das políticas industriais realizados por Ades e Di

Tella (1997), visam avaliar se quando os efeitos líquidos forem negativos, a política

industrial na verdade é um empecilho ao investimento, à pesquisa e ao

desenvolvimento econômico.

Os resultados obtidos por Ades e Di Tella (1997) demonstram o quanto se deve

ser cauteloso ao se defender uma política industrial ativa, sobretudo em países cujos

índices de corrupção estão entre os mais elevados, uma vez que a própria lógica

industrialista é um estímulo para a formação de cartéis políticos e econômicos

envolvendo agentes do governo e empresas nacionais. Os modelos mais populares

em termos de política industrial (tarifas protecionistas, benefícios fiscais, privilégios às

empresas “eleitas” nos processos licitatórios, crédito abundante e políticas de

subsídios) estão diretamente associadas e positivamente correlacionadas com

maiores índices de corrupção, e representam maiores custos à sociedade.

A análise do conjunto de variáveis, demonstram que em qualquer que seja

a escala da política, ela se relaciona negativamente com a corrupção, o que corrobora

empiricamente com as teorias que associam menor corrupção a maiores índices de

concorrência. Ou seja, por um lado, países que adotam o protecionismo e políticas

que elegem campeãs nacionais reduzindo a concorrência, facilitam uma nova ordem

social pautada no industrialismo, com consequente aumento da corrupção. Por outro

lado, nos países onde as empresas concorrem livremente no mercado, em igualdade

de condições, existe menos espaço à corrupção e concessão de privilégios, o que

confirma o senso comum de que a corrupção está negativamente correlacionada com

índices de competição.

A abordagem das relações entre governo e empresas para a promoção do

desenvolvimento de políticas públicas e industriais e desenvolvimento de vantagens

competitivas para inserção em mercados globais, é abordada tangencialmente por

Lazzarini (2015) e nos dá algumas pistas sobre os mecanismos de facilitação. Estes

mecanismos em grande parte das vezes estão diretamente relacionados a obtenção

de linhas de créditos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

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Social - BNDES e demais bancos de fomento do governo federal e ainda, a

possibilidade de atuar em consórcio com fundos públicos de pensão ou bancos

federais em grandes projetos de infraestrutura ou bens e serviços.

A política industrial iniciada no segundo mandato de Lula (2007-2010) teve

continuidade e foi potencializada nos governos de Dilma Rousseff (2011-2016). A

política contava com um mecanismo bem conhecido e de resultados duvidosos; a

emissão de títulos públicos pelo Tesouro com remuneração pela SELIC (taxa de juros

da economia no Brasil) e repasse dos recursos ao BNDES que por sua vez,

emprestava as grandes empresas a juros anuais abaixo de 5% ao ano e com prazos

dilatados em até 30 anos, o que, na prática significava a realização de empréstimos

por meio de recursos públicos provenientes de impostos, de forma subsidiada à

empresas selecionadas pelo governo de acordo com sua aderência aos interesses e

planos de governo.

Considerando-se o planejamento estratégico do governo brasileiro no período

de 2003 a 2015, é possível notar nos estudos desenvolvidos por Lazzarini (2015) que

as condições necessárias à obtenção de vantagem competitiva por empresas

brasileiras em uma saudável associação com o governo estavam postas e seriam

possíveis. Por meio de uma política industrial – PI se dava apoio à indústria e ao

desenvolvimento dos meios de produção escassos e necessários ao atendimento das

demandas e metas do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, criado pelo

governo brasileiro para promover de forma estratégica, o rápido desenvolvimento do

país. O programa buscava o fortalecimento das empresas por meio da concessão de

subsídios governamentais e proteção às empresas brasileiras, tal qual ocorrido em

diversos países que adotaram políticas industriais baseadas em subsídios.

Defensores da política industrial de campeãs nacionais dizem que há um efeito

positivo associado à extração de recursos da população via impostos e subsequente

transferência desses recursos para grandes empresas, contudo, quando se verificam

efeitos negativos, diretos ou indiretos quanto ao aumento da corrupção, o efeito

positivo previsto se anula e faz com que a política adotada seja considerada

inadequada.

Apesar de várias condições estarem à época, satisfeitas para o

desenvolvimento de uma consistente política industrial e de desenvolvimento das

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empresas nacionais, inclusive para formação das campeãs nacionais, como as

empresas de engenharia atuando no exterior, a indústria do cimento, tecidos,

exportação do agronegócio, mineração e outros, todos apoiados pelo governo por

meio de incentivos fiscais e farto capital do BNDES, uma variável não estava

adequada e não fazia parte do modelo formal dos negócios.

Esta variável está relacionada a formação de organizações criminosas

constituídas por grandes empresas, que se envolveram e participaram ativamente de

intricado esquema de direcionamento de licitações e fraudes em empresas estatais,

em obras públicas e na elaboração programas de incentivos fiscais voltados a

indústria e empresas de exportação. Isto ocorria em associação com membros de

diversos níveis de governo e partidos políticos, com a contrapartida de irrigar o

esquema criminoso com recursos públicos desviados, lavagem de dinheiro,

distribuição de propinas e suborno à diversos políticos e agentes públicos (Anexo I,

Quadro 07) cuja responsabilidade de cada um dos envolvidos será apurada pela

justiça, não cabendo a este autor qualquer juízo de valor sobre os envolvidos.

Em março de 2014, viria a ocorrer em São Luís no Maranhão a prisão

do doleiro Alberto Youssef, dando início ao maior escândalo de corrupção e processo

investigativo da história do país, com reflexo no status quo da política, economia,

sociedade e gestão das empresas públicas e privadas, no Brasil e exterior. Conhecida

como Operação Lava Jato20, esta foi assim denominada, em razão das investigações

iniciais realizadas pela Polícia Federal, estarem relacionadas à lavagem de dinheiro

por um posto de combustíveis e lavagem de automóveis no nordeste do Brasil, mas

que na realidade, representava a ponta do iceberg de um grande esquema de

corrupção e desvio de dinheiro público.

As investigações iniciais mostraram o envolvimento de grandes empresas,

doleiros e políticos no intuito de fraudar e controlar os processos de contratação e

aquisição da Petrobras, maior estatal do Brasil e uma das maiores empresas de

petróleo do mundo. Devido ao crescente número de envolvidos, as investigações

foram desmembradas em várias fases, muitas vezes temáticas e, cujos

desdobramentos se perpetuam até os dias atuais e ainda resultam na abertura de

20 Saiba mais em http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-lava-jato/entenda-o-caso

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novos processos investigativos. A dimensão da Operação Lava Jato fica clara pela

grandeza seus números, em constante crescimento, que resultaram até o momento

em 2.476 procedimentos instaurados, 305 prisões, 548 pedidos de cooperação

internacional e a recuperação de R$ 44,85 bilhões à título de ressarcimento aos cofres

públicos e empresas lesadas, conforme informações divulgadas em maio de 2019,

pelo Ministério Público Federal do Paraná21 - MPF/PR.

O processo investigativo conduzido pelo MPF demonstrou que o esquema

criminoso já existia desde 200522 e envolvia grandes empreiteiras organizadas em

cartel, que pagavam propinas a altos executivos da estatal e outros agentes públicos.

Conforme apresentado na Figura 1 - Lista de Favorecidos pelo Esquema, os

praticantes da corrupção envolviam tanto atores econômicos quanto políticos, em

especial sintonia com os governos do Partido dos Trabalhadores – PT no período de

2003 a 2016, que se beneficiavam do esquema por meio do desvio de dinheiro

público, para obtenção de hegemonia política e perpetuação no poder.

As ações criminosas permearam por diversas empresas estatais e bancos

públicos, além de diversas esferas dos poderes legislativo e executivo com influência

sobre as tomadas de decisão dos investimentos públicos em infraestrutura, emendas

constitucionais e benefícios fiscais, como revelado nos depoimentos obtidos por meio

dos acordos de colaboração premiada.

A dimensão do esquema de negócios ilícitos e o grande número de políticos e

governantes envolvidos (ver Figura 1) representava uma força competitiva que

desequilibrava o mercado. Dados disponibilizados à partir das investigações

realizadas e acordos de delação premiada firmado com 77 executivos do grupo

Odebrecht possibilitaram conhecer melhor o tamanho do esquema criminoso, suas

ramificações e identificação dos envolvidos no escândalo, no entanto em razão das

investigações ainda não estarem concluídas, novos fatos deverão vir à tona,

aumentando o número dos crimes praticados e seus envolvidos.

21Disponível em http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-lava-jato/atuacao-na-1a-instancia/parana/resultado (acessado em Jun-2019)

22 Ver mais em http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/noticias-sp/lavo-jato-mpf-processa-ex-diretores-da-dersa-e-18-empreiteiras-por-prejuizo-de-r-593-milhoes-em-cartel-de-obras-em-sp/view

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Figura 1 - Lista de Favorecidos pelo Esquema

Fonte: Jornal Estadão, Infográfico – Abril de 2017

Fonte: Jornal Estadão, Infográfico 04/2017

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O envolvimento de agentes públicos e parlamentares, que gozam de foro

especial por prerrogativa de função, fez que com que a Polícia Federal reforçasse o

grupo de trabalho que atua nos tribunais superiores. Coube a essa equipe desenvolver

as ações de polícia judiciária perante o STF e STJ. O seguimento das investigações

policiais levou à deflagração de várias outras fases da Operação Lava Jato. As

condenações, amparadas em provas obtidas pela Polícia Federal, decorreram das

investigações e naturalmente, corroboraram a constatação inequívoca de que se

tratava de grande corrupção em vasto esquema de corrupção e desvio de recursos

públicos sem paralelos na história brasileira

Tamanha ousadia, desrespeito as instituições, atos de improbidade

administrativa e ações criminosas das mais diversas, levaram aos tribunais vários dos

envolvidos e resultaram em abertura de procedimentos, inquéritos e condenações,

como se apresenta na Tabela 1 – Resultados da Operação Lava Jato.

De forma geral, a corrupção em ambiente de negócios não se trata de uma

novidade. No entanto, o tamanho e número de envolvidos no caso Lava-Jato

desvelaram de forma nua e crua, a associação entre grandes grupos empresariais,

corporações e representantes do estado com o objetivo comum de apropriação e

desvio de recursos públicos da união por meio da realização de operações

fraudulentas, concessão de benefícios, majoração de preços e acordos espúrios entre

agentes do estado, políticos e empresas privadas.

O valor da propina variava de 1 a 5% do montante total dos contratos

superfaturados, sendo o suborno distribuído por meio de doleiros, agentes financeiros

e empresas de propaganda e marketing. Dado ao grande número de envolvidos e

acordos de delação premiada firmados, as investigações perduram até o momento,

sem previsão de encerramento e cujos resultados apresentados na Tabela 1,

demonstram o resultado parcial das investigações já realizadas.

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Tabela 1- Resultados da Operação Lava Jato

RESULTADOS DA OPERAÇÃO LAVA JATO (Jun-2019)

Procedimentos instaurados 3.211 Mandados Emitidos 2.586

Pedidos de Cooperação Internacional 754

Acordos de Colaboração premiada e leniência 231

Acusações Criminais 90

Pessoas distintas envolvidas 725

Crimes Tipificados (corrupção, lavagem, associação criminosa, etc..) 15

Sentenças de Condenação 253

Pessoas já condenadas 199

Anos de prisão somados 2.914

Acusações de Improbidade Administrativa 10

Pessoas físicas 63

Empresas principais 18

Partidos Políticos 3

Valores Envolvidos (em bilhões de reais)

• Montante das ações de improbidade R$ 18,30

• Valor total de ressarcimento pedido (incluindo multa) R$ 45,25

• Crimes já denunciados que envolvem pagamento de propina R$ 6,40

• Valores alvo de recuperação mediante acordos de colaboração R$ 13,71

• Valores já repatriados R$ 0,85

• Valores de bens dos réus já bloqueados R$ 3,20

Fonte: Elaborado com base em dados do Ministério Público Federal do Brasil - PR e RJ até maio de 2019.

O artigo “Maioria das empresas “campeãs nacionais” fracassou, mesmo com a

ajuda do BNDES”23 publicado 26.05.2017 pelo Jornal Zero Hora de Porto Alegre – RS

corrobora o anteriormente dito pelo procurador por meio da análise de especialistas

consultados pelo jornal, em que concluem que, apesar da estratégia não ser

excentricidade brasileira, teve problemas de aplicação no pais e não gerou os

resultados esperados em termos de desenvolvimento, crescimento econômico e

emprego. Comentários e opiniões emitidas pelos especialistas, convergem em um

mesmo sentido quanto ao insucesso da política e das práticas adotadas, conforme

transcrito abaixo;

23 Disponível em https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia/noticia/2017/05/maioria-das-empresas-

campeas-nacionais-fracassou-mesmo-com-ajuda-do-bndes-9801547.html (acessado em junho de 2019)

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Para o coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, Paulo

Furquim de Azevedo “a forma como foi usada essa política no Brasil, país com

tradição de promiscuidade entre público e privado, abre espaço para interesses

escusos, (....). Como foi feito, é discricionário, porque decide a sorte ou o fracasso de

empresas”.

Já, o professor de finanças Marcos Melo, do Ibmec do Distrito Federal, afirma

que “a intenção de inflar artificialmente companhias no país não deu resultado. A

fórmula tupiniquim, gera risco de empresas que buscam eficiência acabarem alijadas

do mercado por não estarem entre as eleitas do poder. Um governo passar recursos

para uma empresa se tornar maior e depois receber parte de volta é errado. E causa

desequilíbrio no mercado, pode prejudicar quem é mais eficiente, tem melhor produto

e corpo técnico, mas não tem proximidade.”

E finalmente, para Arthur Barrionuevo, da Escola de Administração de

Empresas de São Paulo da FGV, um dos problemas é a grande concentração de

crédito nas mãos de só um agente, o BNDES, com poder de emprestar a taxas

subsidiadas, a falta de competição entre bancos privados para atuarem em crédito

de longo prazo e o mercado de capitais pouco desenvolvido para as empresas se

financiarem. O resultado, avalia, é a postura de companhias muitas vezes mais

interessadas em buscar favores em vez da eficiência da operação

Estudo realizada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA em

201824 para discussão do impacto do Programa de Sustentação do Investimento –

PSI, na taxa de investimento da economia brasileira, destaca em sua conclusão que

o programa de governo representou um alto custo ao país, sem que apresentasse

resultados que justificassem sua aplicação e que inclusive possa ter contribuído para

a crise econômica brasileira iniciada em 2014. Conclui ainda, que no futuro novos

mecanismos de incentivo aos investimentos devam ser analisados para que não se

cometam os mesmos erros, conforme se apresenta nas considerações finais abaixo

transcrita;

“Na comparação com outros países, o que apareceu, como destaque

no Brasil, foi a forte queda da taxa de investimento no período posterior a 2013.

Esta queda pode ter sido causada pelo PSI, que teria gerado uma antecipação

de investimento nas empresas com acesso ao programa ou pode ser devida a

24 Disponível em http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8706/1/td_2421.pdf (acessado em

Junho de 2019)

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outros fatores como a crise econômica que se instalou no país em 2014. É

possível que o PSI tenha contribuído para causar a crise por meio de distorções

na alocação do capital, mas essa questão não foi objeto desta pesquisa.”

Em outro trecho;

“Desse modo, tanto as análises comparativas quanto a análise por

meio da unidade sintética apontam para a conclusão que o PSI não teve

impacto relevante na taxa de investimento no Brasil. Considerado o alto custo

fiscal do programa, conforme discutido na segunda seção deste artigo,

sugerem que novos programas desse tipo devem buscar outras formas de

mecanismos para estimular o investimento. Uma análise do impacto do PSI na

alocação de capital no Brasil pode ser de grande auxílio para ajudar em novas

formas de intervenção do BNDES ou mesmo na necessidade da existência de

tal tipo de intervenção.”

Pode-se perceber a política adotada pelo governo federal ao longo do segundo

governo Lula (2007-2010) e primeiro governo Dilma (2011-2014) mostrou-se bastante

equivocada e trouxe sérias consequências ao país pelo aumento do endividamento

público.

A grande corrupção desvendada pela Operação Lava-Jato, envolvendo

dezenas de grandes grupos empresariais em diversos setores de atuação, indicou

que parte dos grupos empresariais envolvidos possuíam forte presença no mercado

e eram percebidos e reconhecidos na sociedade pelas boas práticas de gestão e

qualidade de seus serviços, e considerados como modelos e referências a serem

seguidas por empresas menores.

A operação Lava-Jato veio clarear este ambiente de negócios por meio do

qual a política industrial adotada nos governos Lula e Dilma gerou favorecimento à

um certo grupo de empresas e no qual a Odebrecht se insere com destaque pelo

tamanho de sua participação na captação de recursos públicos e cujas praticas

visíveis após o desdobramento das investigações, demonstram que nos bastidores da

política pública ocorriam todo tipo de ilícitos como; propinas, desvios de verba,

financiamentos sem as devidas garantias, lavagem de dinheiro, superfaturamento,

uso de empresas fantasmas, favorecimento de políticos e partidos, além de

financiamento de ditaduras e países alinhados ideologicamente com o governo e

descontrole dos recursos públicos, resultando no aumento da dívida pública, ao

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mesmo tempo em que se buscava perpetuar grupos de campeãs nacionais e partidos

políticos no poder.

Em Lazzarini (2018)25 –verifica-se os primeiras reflexos da Operação Lava-

Jato na conceituação do autor e o claro entendimento de que a política de laços

também pode ter seu lado perverso,que corroboram com nosso entendimento;

“Sob influência de contatos – incluindo com políticos e governantes -, os

recursos poderiam ser mal alocados na sociedade, favorecendo os interesses das

partes envolvidas. Essa má alocação pode ocorrer de duas formas. Primeiro, induzindo

decisões empresariais pautadas por ideologias particulares ou motivos políticos dos

governantes (......). Segundo, conferindo vantagens àqueles que tem os “contatos

certos”, independentemente de seu mérito pessoal. (LAZZARINI, 2018, p.05)”

Em outro trecho, o autor aborda os efeitos colaterais do Capitalismo de Laços;

“Procuro sempre chamar a atenção para possíveis efeitos colaterais do

capitalismo de laços para que empresários e governantes possam avaliar as

consequências previstas ou imprevistas, dos seus atos. (LAZZARINI, 2018, p.08)”

E em nova passagem;

“Mas o dilema é que os laços criados podem rapidamente se tornar veículos

de favoritismo, conluio e proteção não justificada. Um exame mais profundo do caso

brasileiro e de outros países onde tais políticas foram aplicadas indica que é real e não

desprezível”. (LAZZARINI, 2018, p.09)

Os trechos acima transcritos deixam claro a preocupação em alertar quanto aos

riscos envolvidos no capitalismo de laços. Isto de certa forma nos ajudará a explicar como

um esquema de corrupção e improbidade administrativa tão gigantesco pode sobreviver

por tantos anos sem que viesse à tona a enormidade de ações e negócios realizados às

sombras.

No que tange a este trabalho, será adotado como ponto focal as operações

especificamente as empresas que compõem o grupo Odebrecht e suas participações, não

cabendo abordagem sobre as demais empresas que realizaram operações de captação

de recursos públicos em bancos ou fundos de pensão das empresas estatais.

25 “LAZZARINI, Capitalismo de Laços – Os donos do Brasil e suas conexões” 2º edição, 2018

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53

2.5 ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

Várias escolas de pensamento sobre a estratégia trabalham com a

complexidade de definir o que seja e a abrangência do termo “estratégia” no tocante

ao desenvolvimento dos negócios das empresas e seus objetivos. Mintzberg (1996)

avalia que não é possível adotar uma definição única para o termo que possa abranger

todas as suas particularidades de utilização. Assim, o autor propõe a adoção de cinco

definições distintas (5 P’s) e que de forma conjunta ou isolada conduzem a formação

da estratégia a ser concebida e adotada pela organização: estratégia como plano,

estratégia como manobra, estratégia como padrão, estratégia como posição e

estratégia como perspectiva, cujos objetivos e características estão resumidos no

Quadro 3 – Tipos de Estratégia.

Quadro 3 - Tipos de Estratégia

Tipo da Estratégia

Objetivo Característica

Como Plano Curso de uma ação planejada ou diretriz

- Preparadas previamente as ações pensadas - Desenvolvidas de forma consciente e com proposito

Como Manobra Enganar ou confundir o concorrente ou competidor

- A estratégia é utilizada para dar falsos sinais aos concorrentes, confundindo-os ou induzindo ao erro de avaliação

Como Padrão Define os comportamentos padrões da organização

-Abrange o comportamento desejado para a organização e seus membros e cultura empresarial que deseja ter

Como Posição Definir o seu ambiente de atuação e setorial

- Busca posicionar a organização no mercado em que atua e influenciá-lo a seu favor

Como Perspectiva Busca a avaliação de suas competências internas numa visão mais ampla dos seus objetivos

- É a forma como a empresa enxerga suas competências para definir suas estratégias de atuar e explorar novos mercados, seja de forma mais agressiva ou conservadora

Fonte: Com base nas definições de Mintzberg (1996) Segundo ainda Mintzberg (1996), por mais que existam diferentes definições

de estratégia, nem toda a estratégia inicialmente planejada será realizada na prática,

ao passo que nem todos os padrões surgirão sem ação propositada. A Figura 02 –

Estratégia Pretendida e Emergente, demonstra que a estratégia pretendida representa

o plano inicial, enquanto a estratégia realizada deriva do ocorrido ou verificado. A

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estratégia deliberada representa as intenções plenamente realizadas, enquanto a

estratégia emergente retrata o padrão que foi desenvolvido na ausência de intenções,

ou em detrimento delas. As estratégias, no entanto, nunca serão puramente

deliberadas ou totalmente emergentes. Elas sempre representarão um mix entre estes

extremos dado que as primeiras implicam a não ocorrência de qualquer aprendizado,

e já as segundas implicam a inexistência de qualquer controle sobre a implementação

da estratégia. Os estrategistas eficazes as combinam de maneira que reflitam as

condições existentes, especialmente a capacidade para prever e reagir a eventos

inesperados.

Figura 2 - Estratégia Pretendida e Emergente

Fonte: Mintzberg (1996)

A elaboração das estratégias empresariais apresenta algumas vertentes

diferentes, mas de forma geral são convergentes na busca dos resultados,

crescimento e perpetuação das empresas. Alguns pesquisadores possuem foco no

macro, mas outros entendem que o foco deve ser no “micro”, as pequenas atividades

que compõem a estratégia, como Paula Jarzabkowsky da Universidade de Aston e

Richard Whittington da Universidade de Oxford, que entre outros, desenvolveram

estudos sobre as microatividades. Whittington (2002) destaca que as tarefas de

estruturar a organização (organizing) e montar estratégias (strategizing), constituem

um trabalho intenso e extremamente sério, que demanda esforço e competência de

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uma equipe qualificada e abrange os aspectos tanto formais quanto informais, que

como destaca Whittington (2002), não se pode esperar, que a estratégia seja algo

simples.

Maia (2008) (apud WHITTINGTON, 2004) destaca a oportunidade para a

criação de uma agenda de pesquisa da estratégia após o modernismo. Que uma vez

rompidas as amarras com “a imparcialidade modernista e a teoria econômica”, tem-

se a vez de um enfoque mais sociológico para a estratégia, que cria duas agendas:

(1) uma agenda sociológica propriamente dita, que ambiciona compreender as “elites

da estratégia”, seu processo de formação, trajetórias de carreira, habilidades e

tecnologias e (2) uma agenda gerencial, especialmente registrada para garantir que

os produtos da agenda sociológica sejam transformados em vantagens para a prática.

Esta perspectiva, que ficou conhecida pelo termo “Estratégia como Prática” (do inglês,

strategy as practice).

Ainda segundo Maia (2008), de acordo com os pensadores da “Estratégia como

Prática” (ECP), pesquisas tradicionais em estratégia compartilham a visão de que

estratégia é um conceito abstrato, que simplesmente as empresas possuem. Com

base nesta premissa, os principais estudos sobre estratégia se pautam em ideias

como, as empresas possuam uma ou mais das diferentes competências estratégicas,

como a empresa X possui estratégia de diversificação, a empresa Y tem processos

de planejamento estratégico, a empresa Z possui processos de gestão da mudança,

entre outros.

Outros pesquisadores como Johnson et al (2007) observam que a perspectiva

da ECP assume que a estratégia faz parte das organizações e é executada pelos seus

membros, atores, de forma organizada e direcionada. Assim, a estratégia faz parte

das atividades de seus membros e desta forma, e o foco deve ser nas microatividades

envolvidas na construção da estratégia, e isto dá personalidade a mesma, tornando-

a única e de difícil imitação. Em resumo, o processo estratégico envolve as

pessoas fazendo estratégias.

“A Estratégia como Prática está essencialmente preocupada com a estratégia como

atividade das organizações, tipicamente a interação de pessoas, ao invés da estratégia

como propriedade das organizações.

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56

Desta forma, nosso foco recai em duas perguntas até então negligenciadas: o que as

pessoas envolvidas no processo estratégico realmente fazem, e como eles influenciam

os produtos deste processo”

(Johnson et al: 2007).

Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007) vão além e destacam outros aspectos

importantes no conceito da Estratégia como Prática: a contextualização das micro

ações, pela compreensão dos microfenômenos, que necessita levar em conta o

contexto no qual os agentes estão inseridos, uma vez que os diversos participantes

do processo estratégico não agem isoladamente, pois estão inseridos e integrados a

um mesmo ambiente social e organizacional.

Johnson et al (2007) destacam a pluralidade como uma das principais

características da ECP, dando como exemplos de pluralidade o observado na tabela

abaixo;

Quadro 4 - Pluralidade da ECP

Pluralidade (de) Característica Níveis de análise A ECP reconhece e se preocupa com a existência de diferentes

níveis de análise (microatividades, organizações e instituições) e principalmente nas inter-relação entre esses níveis

Atores O foco não está apenas na alta gerência das organizações e diferentemente, o ponto focal da ECP está nos demais atores, como consultores, média gerência e outros, internos e/ou externos à organização;

Variáveis dependentes uma vez que outras visões tentam explicar o desempenho organizacional em termos de medidas unitárias e relações causais entre variáveis. A ECP busca trabalhar com diversas variáveis dependentes relacionadas aos indivíduos, dos grupos de desenvolvimento da estratégia, das ferramentas e dos sistemas de planejamento.

Teorias A própria pluralidade relacionada a ECP, indica que é impossível que apenas uma teoria dê indique todas as respostas que se buscam.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Johnson et al (2007)

“Quanto a pluralidade, cabe destacar que, diferentemente das teorias típicas do

pensamento estratégico, que são construídas em torno de premissas (geralmente

divergentes) sobre vantagem competitiva, a Estratégia como Prática não é uma “nova

teoria” sobre a origem desta vantagem mas sim um outro olhar, que busca focar na a

mudança, que busca colocar os holofotes sobre a relevância na prática de todas as

teorias, e sobre as pessoas que as empregam, as ferramentas que utilizam, etc.”

(Jarzabkowski, 2004).

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57

Assim, a ECP também volta sua atenção para a infraestrutura social, como

ferramentas, tecnologias e discursos, por meio dos quais as micro-ações são

construídas, e as quais têm propriedades macro institucionalizadas que permitem sua

transmissão dentro e entre contextos distintos, enquanto são adotadas e adaptadas

de forma peculiar em cada micro-contexto. (SEIDL, 2007; WILSON e

JARZABKOWSKI, 2004).

Buscando contextualizar a Estratégia como Prática, segundo Maia (2008) (apud

WHITTINGTON, 2007), a ECP se situa dentro de um contexto mais amplo da “vez da

prática” (practice turn) na teoria social contemporânea. Autores como Pierre Bourdieu,

Michel Foucault e Anthony Giddens, preservadas suas diferenças de enfoque e de

terminologias, trabalham no sentido de sobrepujar a clássica dualidade entre o

“individualismo” e o “societismo”. No primeiro, os autores atribuem muita ênfase a

atores humanos individuais, negligenciando fenômenos macros. O societismo, por sua

vez, traz pensadores que atribuem os fenômenos de forma exagerada a forças sociais

maiores, relegando a micro-agência humana a um segundo plano.

Na teoria da prática, Maia (2008) (apud WHITTINGTON, 2007) destaca ao

menos três temas relevantes: Primeiro, há a questão social, dado que os teóricos da

prática estão ocupados (em diferentes formas) em como campos ou sistemas sociais

definem as práticas – entendimentos compartilhados, regrar cultuais, linguagens e

procedimentos – que guiam e permitem a atividade humana. Segundo; tais estudiosos

se firmam na individualidade por meio da defesa de outro sentido da prática; a

atividade verdadeira das pessoas “na prática”, nas condições sociais em que são

seguidas de formas aproximadas, de acordo com as exigências da situação. A

distinção entre as práticas e o que ocorre “na prática” indica um terceiro tema na vez

da prática: os atores de cujas habilidades e iniciativas a prática verdadeiramente

depende.

As discussões sobre os conceitos e proposições de Estratégia como Prática,

ao longo dos últimos anos, fez com que os teóricos buscassem estabelecer um

framework que representasse adequadamente as relações de estratégia e seus

conceitos; práxis, práticas e praticantes (atores). Seguindo este entendimento,

Jarzabkowiski, Balogun e Seidl (2007), desenvolveram o framework representado a

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seguir, onde cada conceito está representado por um diferente ponto de vista analítico

para a pesquisa, bem como um ponto de entrada distinto para que pesquisadores da

estratégia conduzam seus trabalhos.

Figura 3 - Estratégia e Práxis

Fonte: Jarzabkowiski, Balogun e Seidl (2007)

Práxis - Segundo Jarzabkowiski, Balogun e Seidl (2007), a práxis compreende

a interconexão entre a ação de vários indivíduos e grupos fisicamente dispersos, e as

instituições estabelecidas, ou de forma estratégica, representam um conceito social

amplo, com impactos significativos no direcionamento e sobrevivência da organização

ou de todo setor industrial.

Práticas - Jarzabkowiski, Balogun e Seidl (2007), consideram práticas,

representam no contexto organizacional, os procedimentos, ferramentas, normas,

processos e episódios estratégicos (reuniões de conselho, planejamento estratégico

etc.) que são utilizados pela organização.

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59

Praticantes – Para Jarzabkowiski, Balogun e Seidl (2007), praticantes são os

atores que lançam mão das práticas para agir e produzir práxis.

2.6 ESTRATÉGIA EMPRESARIAL E CORRUPÇÃO: MODELO CONCEITUAL

Do ponto de vista da ECP, os estrategistas também são ponto de análise

importante, pois são atores ativos do processo de construção social da estratégia,

produzindo assim, impactos em sua performance e sua sobrevivência.

O presente estudo de caso, busca compreender os fatores motivadores do

envolvimento de um grupo empresarial com sólida reputação no mercado brasileiro e

internacional com atos de corrupção em grande escala e quais as estratégias

adotadas pelo mesmo para estruturação de um modelo de negócios paralelo, voltado

às práticas ilícitas. Nesse sentido, propõe-se um modelo conceitual baseado no

dualismo das ações empresariais adotadas na condução dos negócios para conquista

de projetos de forma legal e ilícita.

O modelo conceitual aqui proposto (Figura 4) considera a relação de conluio

entre “estado x empresa” a partir da perspectiva de posicionamento (Mintzberg, 1996)

da organização no mercado, porém com a perspectiva de influenciá-lo politicamente

a seu favor. Para isso, utiliza a visão de estratégia como prática (Jarzabkowski, 2007),

na qual a práxis empresarial está relacionada as microatividades de financiamentos e

desenvolvimento de novos mercados pelo cooptação de políticos, agentes de

governo, imprensa e instituições financeiras, necessários à operacionalização dos

atos de corrupção e desenvolvimentos de seus negócios

Fonte: Jornal Estadão, Infográfico 04/2017

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60

Figure 1 - Framework - Modelo de Estudo

Fonte: Elaboração Própria a partir de Jarzabkowiski, Balogun e Seidl (2007)

O estudo considera que o desenvolvimento da Estratégia passou pela interação das

3 vertentes – Práxis, Plano de Poder e Atores, e pelo reconhecimento das

capacitações do grupo empresarial e de suas competências para pôr em pratica as

ações pretendidas. Conforme será apresentado a seguir, isto estava baseado em 06

pontos principais; a) Excelência, b) Captura, c) Gestão, d) Finanças, e) Mídia e f)

Expansão, que devidamente alinhados, permitiria o sucesso na busca dos objetivos;

Como destacado a seguir, o plano de poder estava associado ao controle do estado

e exportação do modelo a outros países sob influência geopolítica e os atores estão

representados por todos aqueles que se favorecessem ou atuassem para que as

práticas viessem a ocorrer e permitisse o desenvolvimento e execução da estratégia

tempo

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61

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICO

3.1 NATUREZA, ABORDAGEM, TIPO E ESTRATÉGIA DE PESQUISA

A natureza básica desta pesquisa, não apresenta finalidades imediatas, mas

busca produzir conhecimento a ser utilizado em pesquisas futuras. A abordagem a ser

utilizada para seu desenvolvimento será a qualitativa. Conforme definição de Creswell

(2009), a pesquisa qualitativa é um meio para explorar e para entender o significado

que os indivíduos ou grupos atribuem a um problema, em nosso caso, social. O

processo de pesquisa envolve as questões e procedimentos que emergem, os dados

tipicamente coletados no ambiente do participante, a análise dos dados indutivamente

construída a partir de particularidades para os temas gerais e as interpretações feitas

pelo pesquisador acerca dos significados dos dados.

A pesquisa qualitativa exploratória tem por finalidade obter mais informações

sobre a delimitação do tema e assunto com pouco ou nenhum conhecimento e

orientar os objetivos, métodos e a formulação das hipóteses ou mesmo dar um novo

enfoque. Para isto será utilizada a pesquisa bibliográfica e documental, e ainda a

análise e cotejamento de exemplos e práticas usuais de mercado e as adotadas pela

empresa alvo do estudo de caso. Já a pesquisa qualitativa descritiva, segundo Godoy

(2006), registra e descreve os fatos observados sem interferir neles, descrevendo as

características principais dos modelos de negócios formais estudados e os

observados no estudo de caso e caracterizados como ilícitos, possibilitando detalhar

a estrutura, os processos, as atividades e as principais divergências entre os modelos

no tempo, demonstrando sua complexidade sem se orientar por hipóteses

previamente concebidas.

Como paradigma de pesquisa, dadas as considerações e natureza da

pesquisa, a estratégia adotada para este estudo foi a pragmatista (consequência das

ações, centrada no problema da corrupção, pluralista e orientada ao mundo real).

Segundo Creswell (2009), o pragmatismo enquanto concepção, surge mais das ações

das situações e das consequências do que das condições antecedentes, onde é

possível utilizar todas as abordagens disponíveis para entender o problema, sendo

3

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62

possível escolher os métodos, as técnicas e os procedimentos de pesquisa que

melhor se ajustem as necessidades e propósitos. As pesquisas devem acontecer

dentro de um contexto social, histórico ou político, dentre outros, dentro da realidade

e verdade dos fatos.

3.2 OBJETO DO ESTUDO

Este trabalho de pesquisa, em razão de suas limitações de tempo e

recursos, irá abordar apenas um dos grupos empresariais envolvidos na Operação

Lava-Jato, em razão de sua relevância no esquema e por se tratar do maior grupo

privado do país, atuante no setor de construção, que é o grupo Odebrecht S/A. Esta

escolha se deve ao sofisticado e maciço esquema de corrupção desenvolvido pela

empresa e operado por mais de uma década, com início no ano de 2001, de acordo

com os depoimentos de colaboração premiada prestados pelos executivos da

empresa ao Ministério Público Federal do Brasil e à investigadores dos departamentos

de justiça dos Estados Unidos e Suíça. Nesse período, o grupo Odebrecht pagou

aproximadamente US$ 788 milhões em propinas a em vários países, cujos valores

estavam associados a obtenção de mais de 100 projetos em 12 países, incluindo

Angola, Argentina, Brasil, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala,

México, Moçambique, Panamá, Peru e Venezuela, conforme se verifica no Anexo C

(Quadro 06 - Plea Agreement DOJ, item 21, pag.07). A condução das práticas

criminosas era coordenada e acompanhada de perto pelos principais executivos da

empresa, de acordo com informações disponibilizadas pelo Departamento de Justiça

dos Estados Unidos – DOJ e Ministério Público Federal - MPF do Brasil. Todavia,

foram evitadas menções nominais aos investigados pela Operação Lava-Jato, exceto

nos casos em que foi necessária a identificação em razão da sua relevância na

compreensão do esquema ou em razão do cargo ou posição do investigado na

estrutura de comando.

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63

3.3 TÉCNICA DE COLETA DE DADOS

Gil (2008) define como dados primários os dados que não receberam

qualquer tratamento analítico, como; documentos oficiais, reportagens, cartas, diários,

filmes, fotografias, gravações etc. Dados secundários são os que de alguma forma já

foram analisados, tais como; relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas

estatísticas, entre outros.

Dada a natureza do assunto, não foram realizadas entrevistas com

executivos de empresas ou agentes públicos, por uma questão de privacidade e pela

dificuldade de registro e comprovação das entrevistas realizadas. A técnica de coleta

de dados se deu a partir do levantamento de dois tipos básicos de dados secundários:

documentos e materiais audiovisuais - Quadro 5 – Coleta de Dados Qualitativos.

Os dados utilizados para a análise foram os áudios dos interrogatórios

realizados e divulgados, de executivos de empresas, funcionários públicos e políticos

e as denúncias e sentenças. Alguns documentos estão disponíveis na página de

internet do MPF26 , assim como uma série de relatórios investigatórios emitidos pelo

Ministério Público Federal.

Os depoimentos realizados em juízo, a disponibilização dos vídeos pela

internet e o acesso as denúncias oferecidas pelo MPF (Anexo H, Quadro 06),

constituem em um material de enorme riqueza, pela qualidade dos inquéritos

realizados e pelas declarações constantes nos mesmos. O fato de os interrogatórios

terem sido realizados sob juramento, forçando as testemunhas a dizer a verdade,

como parte do acordo de delação premiada, confere alto grau de confiabilidade aos

depoimentos gravados e utilizados neste estudo, sendo que os referenciados estão

disponíveis através dos links indicados nas notas de rodapé ou na bibliografia

utilizada.

Embora os indivíduos sob interrogatório, estivessem sob a obrigação legal de

dizer a verdade e responder a todas as perguntas que lhes foram feitas, eles também

podem ter sua própria convicção sobre o que estão dispostos a admitir. Por diversas

ocasiões, depoentes e testemunhas, disseram ao interrogador que simplesmente não

26 http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-lava-jato/atuacao-na-1a-instancia/parana/denuncias-do-mpf/denuncias-e-sentencas

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conseguiam lembrar o que havia acontecido. Todos os interrogatórios foram gravados

e muitos também divulgados, transmitidos na televisão e dissecados pela imprensa,

no intuito de encontrarem brechas, contradições ou vilões do caso.

Quadro 5 - Coleta de Dados Qualitativos

Tipo de Coleta de Dados

Opção dentro dos Tipos Vantagem do Tipo Limitações do Tipo

Documentos a) Documentos públicos tais como minutas de reuniões, balanços, jornais, revistas, depoimentos, laudos, procedimentos investigatórios, acordos judiciais e sentenças.

b) Documentos privados como diários, cartas e relatórios.

a) Permite obter a linguagem e os termos utilizados;

b) Podem ser acessados no momento mais conveniente e pertinente à pesquisa;

c) Representam dados criteriosos pois os participantes receberam atenção ao compila-los;

d) Como evidências escritas, poupam tempo e gastos ao pesquisador para transcrevê-los.

a) Nem todas as pessoas são articuladas ou precisas;

b) Podem ser informações protegidas não acessíveis ao público ou privado;

c) Requer que o pesquisador busque informações em lugares difíceis de encontrar;

d) Os materiais podem estar incompletos;

e) Os documentos podem não ser autênticos ou precisos.

• Materiais Audiovisuais

a) Fotografias; b) Vídeos; c) Softwares; d) Filmes.

e) Pode ser um método conveniente para coleta de dados;

f) É criativo pois capta a atenção visualmente.

a) Pode ser difícil de interpretar;

b) Pode não ser acessível público ou provadamente;

c) A presença de um observador (ex. fotografo) pode afetar as respostas.

Fonte: Creswell (2010)

Dentre os documentos previstos na Coleta de Dados (Quadro 5) e foram utilizados

documentos públicos, áudios e vídeos, que constituem fonte de pesquisa dos

conceitos empregados, dos crimes praticados e evidencias dos fatos verificados e das

ações envolvidas, foram considerados aqueles mais relevantes por constituírem parte

da história e da base desta pesquisa, evitando-se uso de opiniões ou considerações

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65

que não possam ser comprovadas ou demonstradas por meio de documentos,

evitando-se possíveis incoerências.

Quadro 6 - Dados secundários utilizados na pesquisa

Relação de Anexos Constantes desta Pesquisa

Nº Documento Anexo Interesse Págs.

A Carta ao Povo Brasileiro, Lula (2002)

Redigida com contribuição do grupo Odebrecht para acalmar o mercado financeiro e parte da sociedade.

05

B Anexo 4 do Termo de Delação de Emilio Odebrecht – Contextualização da relação com Lula

Trata da relação do empresário com Lula desde o início da relação e sua participação frequente em reuniões para apresentação de demandas da empresa e sugestões das políticas públicas e leis aos governos de Lula.

03

C Termo de Acordo de Leniência firmado pela Odebrecht com o MPF do Paraná em dez/2016

Estabelece os termos do acordo de leniência firmado com o MPF envolvendo as justiças dos Estados Unidos e da Suíça, referentes aos casos de corrupção e estabelece o pagamento de multa aos 3 países no valor de USD 3,28 bilhões, correspondente a R$8,51 Bi, em 22 anos.

26

D Termo de Acordo de Leniência firmado pela Braskem com o MPF do Paraná em dez/2016

Estabelece os termos do acordo de leniência firmado com o MPF envolvendo as justiças dos Estados Unidos e da Suíça, referentes aos casos de corrupção e estabelece o pagamento de multa aos 3 países no valor de USD 975 Milhões correspondente a R$3,13 Bi, em 22 anos.

22

E Ação Penal 50.46512. -94.2016.4.04/7000 PR/Sentença da 13ª Vara Federal de Curitiba a Lula e mais 07 réus. Páginas 01, 213 a 216.

Condena o ex presidente Lula a 9 anos e 6 meses de reclusão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro com o agravante de uso do cargo público para a prática dos crimes. A pena posteriormente foi aumentada para 12 anos e 6 meses pelo TRF#04.

05

F Relação de denúncias oferecidas pelo MPF/PR.

Apresenta o descritivo das denúncias apresentadas, nome dos envolvidos e a chave eletrônica de acesso aos processos.

52

G Relação nominal dos políticos envolvidos na 23ª Fase da Operação Lava jato e seus partidos

Apresenta relação nominal dos supostamente envolvidos na lista de pagamentos da Odebrecht, indicando os partidos políticos, cargo e estado de origem e sujeitos à investigação criminal.

07

H Descritivo entregue pelo escritório de advocacia Catta Preta sobre o clube

Documento que define a relação entre as empresas envolvidas na associação criminosa para divisão das obras públicas, como se fossem regras de um clube de futebol – “regras do clube”

05

I Acordo de Colaboração premiada de Antônio Palocci-PT-N 53523-2017- de março de 2017

Apresenta os termos gerais do acordo com o ex ministro da economia do governo Lula e principal articulador do recebimento de propina para o PT. O processo de delação premiada e crimes envolvidos ainda se encontra em sigilo de justiça, mas pode elucidar parte dos crimes da Odebrecht e representar mais dois anos de investigações e inclusão das empresas do sistema financeiro.

06

J Declaração de Emilio Odebrecht sobre a Ação Penal 5021365-32.2017.404.7000/PR de 14/06/2018

Destaca sua relação com Lula e envolvimento na criação de medidas provisórias como o Refis da Crise e linha de crédito para Angola, além de confirmar os pagamentos ao PT em contrapartida aos interesses da Odebrecht junto ao governo federal refletidos na planilha Italiano

04

Fonte: Elaborado pelo autor

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66

3.4 TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS

A análise de dados constitui-se em uma etapa fundamental para discussão

e interpretação dos dados coletados, isto representa extrair sentidos dos dados, sejam

de texto ou de imagem. Para isto, buscou-se ir o mais fundo possível na compreensão

dos dados, trabalhando as camadas, como se descasca uma cebola e buscar se

possível, analisar por mais de um ângulo, de modo a confirmar a melhor compreensão

dos dados analisados. Vários processos genéricos podem ser estabelecidos na

proposta de comunicar a percepção das atividades de análises dos dados qualitativos

como os propostos por Creswell (2010) e por Rossman e Rallis (1998).

Creswell (2010) sugere que as análises de dados devem misturar passos

gerais com passos específicos da estratégia de pesquisa, de modo que o pesquisador

observe a análise de dados seguindo os passos do específico para o geral e

envolvendo níveis múltiplos de análises. A Figura 5 sugere uma abordagem de baixo

para cima e inter-relacionados, sendo os níveis enfatizados em quatro passos, como

detalhados após a Figura VI – Processo de Validação da Informação.

Figura 4 - Processo de Validação da Informação

Fonte: Modelo de Creswell (2010)

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67

Passo 1. Organização e preparação dos dados para análise. Isto compreende

separar e indexar os dados, digitalizar documentos, digitar anotações de

campo, separar e dispor dos dados de acordo com a origem, fontes de

informação e natureza do assunto.

Passo 2. Ler todos os dados. O primeiro passo é obter uma percepção geral

das informações e refletir sobre seu significado global. Quais as ideias gerais

dos dados, o que expressam, qual a credibilidade conferida.

Passo 3. Iniciar a análise detalhada por meio de um processo de codificação.

Conforme Rossman e Rallis (1998, p 171), a codificação é o processo de

organização do material em blocos ou segmentos de textos antes de atribuir

significado as informações Isto envolve manter os dados de texto ou figuras

reunidas durante a coleta de dados, segmentando essas categorias como um

termo, com frequência um termo baseado na linguagem real do participante (in

vivo).

Passo 4. Utilize o processo de codificação para gerar uma descrição do local

ou das pessoas e também das categorias ou temas para análises. A descrição

envolve uma apresentação detalhada das informações sobre pessoas, lugares

ou eventos em um local. A codificação será utilizada para criar um pequeno

número de temas ou categorias, talvez cinco a sete categorias para um estudo

de pesquisa. Esses temas são aqueles que aparecem como principais

resultados nos estudos qualitativos e são com frequência utilizados para criar

títulos nas seções de resultados dos estudos.

Passo 5. Informe como a descrição e os temas serão representados na

narrativa qualitativa. A abordagem mais popular é a utilização de uma

passagem narrativa para comunicar os resultados das análises. Essa pode ser

uma discussão que mencione uma cronologia dos eventos, a discussão

detalhada de vários temas (complementado com subtemas, ilustrações

especificas, e citações, ou uma discussão com temas interconectados.

Também é possível fazer uso de recursos visuais, figuras ou tabelas.

Passo 6. O último passo consiste na análise final dos dados e envolve realizar

uma interpretação ou extrair um significado de dados. Perguntar “quais foram

as lições aprendidas?” e de acordo com Lincoln e Guba (1985), captar a

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essência dessa ideia. Essas lições podem ser a interpretação pessoal do

pesquisador, expressa no entendimento que o investigador traz para o estudo

de sua cultura histórica e experiencias. Pode ser também um significado

derivado de uma comparação dos resultados com informações coletadas da

literatura ou teorias. Lincoln e Guba (1985), sugerem que os resultados

confirmam informações passadas ou delas divergem. Também pode sugerir a

necessidade de formulação de novas questões – questões levantadas pelos

dados e pela análise que o investigador não havia percebido ao início do

estudo. Além disto, quando os pesquisadores qualitativos utilizam uma lente

teórica, podem realizar interpretações que requerem agendas de ação e

reforma e mudança. Assim a interpretação na pesquisa qualitativa pode

assumir muitas formas, ser adaptada para diferentes tipos de projetos e ser

flexível para comunicar significados pessoais baseados na pesquisa e da ação.

O presente estudo. Levou em consideração alguns dos passos indicados,

como os de números 1, 2 3, 5 e 6, iniciando pela busca das informações e segregação

dos documentos de interesse que estivessem diretamente relacionados ao processo

investigativo da Lava-Jato e aos casos envolvendo o grupo ODEBRECHET, como

denúncias, sentenças, depoimentos escritos e em áudio e vídeo disponibilizados pela

justiça na internet ou à imprensa, sem a inclusão de documentos relacionados a outras

empresas envolvidas no caso.

O estudo também levou em consideração estudos e iniciativas

internacionais referentes à análise dos casos de grande corrupção e de organismos

internacionais voltados ao combate e a prevenção de crimes

Para realização do estudo também foram realizados levantamentos de

informações junto à base de dados do BNDES visando identificar a captação de

recursos realizadas pelo grupo junto ao órgão, e cujos resultados obtidos estão

demonstrados nos gráficos e tabelas presentes no estudo e seus anexos.

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69

4 ANÁLISE DOS DADOS

4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO AMBIENTE DE NEGÓCIOS

Dentre os fatos que viriam a ser apurados pelas investigações iniciadas em

2014 pela Operação Lava Jato, estavam as políticas públicas voltadas aos

investimentos em infraestrutura para combater os efeitos da crise econômica que

ecoava pelo mundo desde 2008 e destruía as principais economias emergentes, em

especial dos países integrantes do BRICS27 (Brasil, Rússia, Índia, China e África do

Sul). Com este propósito e ainda no mandato do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

- Lula (2003-2010) o Governo Federal busca priorizar o Programa de Aceleração do

Crescimento – PAC 1 (2007-2010)28 lançado no ano anterior, como uma estratégia

anticíclica unindo investimentos públicos e privados de modo a preservar as condições

de empregabilidade e fortalecer a renda dos trabalhadores, combinando

desenvolvimento com distribuição de renda e redução de desigualdades regionais.

O programa foi de fundamental importância para o país atravessar o

momento mais agudo da crise econômica mundial e serviu de plataforma eleitoral para

a campanha de Dilma Vânia Rousseff (2011-2016) que viria a ser a presidente e

sucessora de Lula em 2011. Ainda antes da eleição e com base na campanha política,

o governo Federal lança a segunda fase do programa, conhecido por PAC 2 que se

inicia em 2011 com uma enorme carteira de investimentos, com cerca de 37.000

empreendimentos distribuídos em 6 eixos de atuação – Transportes, Energia,

Cidades, Comunidade Cidadã, Minha Casa Minha Vida e Luz para Todos, com

investimentos estimados em R$ 1,35 trilhão até o final de 2014.

27 Mais informações em http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/mecanismos-inter-

regionais/3672-brics (acessado em Jun-2019)

28 Disponível em http://www.pac.gov.br/sobre-o-pac (acessado em Jun-2019)

4

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70

O conjunto de oportunidades e a proximidade de seletos grupos empresariais,

aliado à política do “presidencialismo de coalisão29”, propiciaram um ambiente

extremamente propício aos negócios ilícitos em razão da conjunção de interesses de

empresários e políticos em busca de recursos. De um lado as empresas visando a

potencialização de seus lucros e por outro lado, agentes públicos e políticos visando

interesses pessoais e partidários pela oportunidade de influência ou apoio aos

projetos públicos e privados em troca de favores e benefícios ilegais que se

caracterizam em casos de improbidade administrativa, corrupção ativa e passiva e

formação de quadrilhas.

4.2 O GRUPO EMPRESARIAL ODEBRECHT

Listado em 2014 entre os 10 maiores grupos empresariais do país conforme

ranking Valor 1000 do jornal Valor Econômico30 e com atuação em diversas áreas de

negócios. A Odebrecht representa um imenso conglomerado com 168 mil

colaboradores, presente em 27 países e uma receita bruta de R$107.679 milhões

(US$45.751 mil), conforme Relatório Anual31 da empresa, publicado em 2015.

O Grupo, ao longo de mais de 70 anos de trajetória, diversificou sua atuação e

buscou a excelência em conhecimento e aprimoramento da capacitação técnica, que

buscava traduzir em entregas qualificadas aos seus clientes. Os negócios têm

governança própria e buscam a autossuficiência financeira e operacional, cabendo a

Odebrecht S.A., holding do Grupo, apresentar as diretrizes e o direcionamento através

da criação de políticas empresariais, utilizadas como referência e que promovem, a

disseminação da cultura da empresa entre seus colaboradores e mercado. O portfólio

de atuação do Grupo Odebrecht se dá por meio de 07 áreas de Negócios

representadas pelas áreas de Agroindústria, Petroquímica, Transporte, Óleo & Gás,

Concessões, Residencial/Incorporadora e Engenharia e Construção.

29 Saiba mais em https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/12/1939782-presidencialismo-de-

coalizao-condena-pais-ao-atraso-como-mostra-lava-jato.shtml

30 Disponível em https://www.valor.com.br/valor1000/2015/ranking1000maiores

31 Disponível em https://www.odebrecht.com/pt-br/a-odebrecht/relatorios-anuais

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Figura 5 - O tamanho do grupo empresarial

Cultura Empresarial

A cultura empresarial era e ainda representa uma das grandes forças do grupo

e como anteriormente mencionado, a cultura e valores da empresa são transmitidos

pelos de programas de formação, treinamento e divulgação a seus colaboradores da

filosofia empresarial, conhecida como TEO – Tecnologia Empresarial Odebrecht, que

visa educar no presente novos e bons empresários e tem como mote “Sobreviver,

Crescer e Perpetuar”, e que se resume na definição da própria empresa;

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“à TEO é uma filosofia empresarial voltada para o fazer e focada na Educação

e no Trabalho. O conjunto articulado de seus Princípios, Conceitos e Critérios provê

aos Integrantes da Organização os fundamentos éticos, morais e conceituais que lhes

permitem atuar com direcionamento estratégico comum, unidade de pensamento e

coerência de ação”.

A TEO32 se concentra em 04 pilares que lidos de forma integrada, traduzem a

cultura da empresa e dá unicidade e padrão ao comportamento de todos seus

integrantes envolvidos nas rotinas e operações do grupo em todos os níveis. Estes

quatro pilares são; Os princípios fundamentais que estabelecem os valores culturais

e éticos que devem conduzir os negócios na Odebrecht estão assim definidos, Os

Conceitos Essenciais que garantem eficácia e clareza na comunicação e linguagem

comum para interação entre Líderes e Liderados, os oito Critérios Gerais, que

influenciam o modo de pensar e agir dos integrantes e a Responsabilidade

Empresarial de cada um dos integrantes que a cumpre por meio do trabalho com

qualidade e produtividade.

Quadro 7 - TEO - Princípios Fundamentais

TEO - Princípios Fundamentais

Confiança nas Pessoas, em sua capacidade e em seu desejo de evoluir;

Satisfação do Cliente, servindo-o com ênfase na qualidade, na produtividade e na

responsabilidade socioambiental;

Retorno aos Acionistas e valorização de seu patrimônio;

Parceria entre os Integrantes, que participam da concepção e da realização do trabalho, e

dos resultados que geram;

Autodesenvolvimento das Pessoas, sobretudo por meio da Educação pelo Trabalho,

assegurando a Sobrevivência, o Crescimento e a Perpetuidade da Organização;

Reinvestimento dos Resultados, para a criação de novas oportunidades de trabalho e para

o desenvolvimento das Comunidades.

Nota: Todos os integrantes da Odebrecht devem atuar em alinhamento a esses princípios, que

compõem a essência do Patrimônio Intangível dos Acionistas. Essas referências culturais e éticas

destinam-se a potencializar a capacidade individual do Integrante em sua atuação.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da Odebrecht

32 Disponível em https://www.odebrecht.com/pt-br/organizacao-odebrecht/tecnologia-empresarial-

odebrecht ( acessado em julho de 2019)

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Quadro 8 - TEO - Conceitos Essenciais

TEO - Conceitos Essenciais

1 A descentralização favorece o contato permanente e direto do Integrante com o Cliente e,

consequentemente, a percepção clara das suas necessidades. É importante também na

identificação e atração de novos Empresários;

2 A prática da confiança é a delegação planejada. Líderes devem estar seguros quanto à

retidão de caráter dos Integrantes e acreditar no potencial do profissional, em sua

competência e vontade de se desenvolver, além de seu alinhamento às Concepções

Filosóficas da Organização;

3 A Tarefa Empresarial consiste na identificação, conquista e satisfação do Cliente – um

processo contínuo e eficiente que garante sucesso nos desafios;

4 Os resultados devem sempre fluir dos Clientes para os Acionistas, pois a valorização do

seu Patrimônio Moral e Material é a principal garantia de Sobrevivência, Crescimento e

Perpetuidade da Organização.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da Odebrecht

Quadro 9 - TEO - Critérios Gerais

TEO - Critérios Gerais

1 O Ser Humano é a medida de todos os valores na Organização;

2 O Empresário deve dominar seu Negócio para satisfazer simultaneamente o Cliente e o

Acionista;

3 A Educação pelo Trabalho é indissociável da Tarefa Empresarial;

4 Os que prestam apoio aos Responsáveis por Negócios devem estar sempre orientados

para oportunidades e melhores resultados;

5 O profissional tem o direito de partilhar os resultados que diretamente contribui para gerar

e que possam ser medidos, faturados e pagos pelo Cliente;

6 O Empresário deve estar sempre aberto para reconhecer e pronto para corrigir rapidamente

seus erros;

7 A imagem que importa e faz diferença é aquela construída junto à Comunidade, com base

na satisfação de cada Cliente e no comprometimento com o bem-estar de todos;

8 Os Líderes têm o dever de promover sua própria saúde e a de cada um de seus Liderados,

bem como a segurança das operações, a qualidade de vida e a conservação ambiental nas

Comunidades em que atuam.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da Odebrecht

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Quadro 10 - TEO - Responsabilidade Empresarial

TEO - Responsabilidade Empresarial

1 Satisfazer as necessidades dos Clientes com produtos e serviços que resultem na melhoria

da qualidade de vida nas Comunidades;

2 Contribuir para o desenvolvimento socioeconômico, tecnológico e empresarial nos setores

e países onde atua;

3 Criar oportunidades de trabalho e de desenvolvimento para as Pessoas, inclusive

reinvestindo os resultados obtidos;

4 Gerar riquezas para o Governo e para a sociedade, por meio do recolhimento de impostos e encargos e da remuneração aos Fornecedores, Integrantes e Acionistas;

5 Assegurar o permanente respeito ao meio ambiente nas ações empresariais.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da Odebrecht

Em contraste com o código de ética e políticas da empresa, como preconizado

através da TEO, em 2005, à partir do momento que a empresa se vê desafiada a

suprir as demandas de recursos para manutenção da base política do governo, até

então sustentada pelas praticas identificadas no escândalo do mensalão, a

Odebrecht, identifica a necessidade de se estruturar e se adequar às novas práticas

operacionais, pelo aumento do número de operações de pagamento a serem

realizados no Brasil e no exterior. Para isto, parte para a criação de um departamento

independente, com estrutura contábil.

4.3 AS FASES DO DESENVOLVIMENTO DA ESTRATÉGIA

Conforme depoimento prestado à Polícia Federal em 13.12.201633, com ênfase

no Anexo 4 do Termo de Delação (Anexo B, Quadro 6), o empresário Emílio

Odebrecht reporta que foi apresentado a Luiz Inácio as Silva pelo ex-prefeito e

governador do Estado de São Paulo, Mario Covas ao final dos anos 80, em um almoço

na residência do político em São Paulo, que veio a durar cerca de 9 horas. Emilio, cuja

empresa estava iniciando relações de serviços com a Petrobras em Camaçari, se

mostrava aflito em razão da existência de uma greve promovida pelo sindicato e que

33 Depoimento Odebrecht, Emilio à polícia Federal em 13/12/2016, por conta do acordo de delação

premiada conforme vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=XajFSXkpPao

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75

afetava diretamente as obras da empresa na refinaria, gerando um desgaste junto ao

cliente e a possibilidade de prejuízos à empresa.

De acordo com as palavras do próprio Emilio Odebrecht nesta ocasião se

estabelecia uma relação de confiança e respeito entre o empresário e sindicalista que

começava a se destacar no cenário nacional;

“À época, que coincidia com o período de redemocratização do Brasil e com o

aumento dos investimentos da organização no setor petroquímico, houve ume

greve geral no polo de Camaçari, sem o envolvimento de líderes sindicais ou

do próprio sindicato. Como tínhamos dificuldade de dialogar com os

empregados, pedi apoio a Covas, que me sugeriu que conhecesse Lula.”

(minuto 01:18)

“Fomos apresentados na casa de Mário Covas, num sábado. O encontro fomos

[só]nós três. Relação de confiança [que havia] entre mim e Covas ele procurou

transferir para Lula. E tive uma empatia, sinceramente tive uma empatia com

ele neste dia. Foram nove horas de diálogo” (minuto 03:38)

“Pude falar com ele [Lula] sobre esse assunto, da greve. A greve estava

perdurando, com problemas seríssimos [para a Odebrecht]. Ele não só me

ajudou [a encerrar a paralisação] como criou uma condição de [a empresa] ter

relação diferenciada com sindicatos na Bahia.” (minuto 04:46)

“Isto para nós era importante, com os objetivos que nós tínhamos de

crescimento na área petroquímica etc., e passei a ter um processo de convívio

com ele, quase que institucional...” (minuto 4:49)

A partir deste encontro se estabelece uma relação de proximidade e respeito

mútuo conforme palavras do próprio depoente e corroboradas pelo ex-presidente da

empresa Pedro Novis em seu depoimento à Polícia Federal em 12.12.201634, também

na condição de delator;

“Talvez doutor Emílio, ao longo desses anos, tenha sido o empresário de maior

proximidade, até de relação de amizade [com Lula]”

As relações entre Emilio Odebrecht e Lula se fortaleceram ao longo dos anos

e o empresário teve grande importância no crescimento do político sindicalista. Lula

34 Depoimento de Pedro Novis ao MPF em 12.12.2016, disponível em

http://g1.globo.com/politica/operacao-lava-jato/videos/t/todos-os-videos/v/delacoes-da-odebrecht/5802579/

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era um líder sindical de expressão na região do ABC paulista e despertava o interesse

do grupo Odebrecht em seu crescimento político. A empresa passou então a financiar

as campanhas do candidato e desta relação começa a ser desenhado um projeto de

longo prazo, que visa o crescimento do grupo empresarial e a obtenção de apoios

políticos que possam auxiliar em demandas futuras. Os passos adotados pela

empresa desde 2002, indicam o desenvolvimento de um relacionamento forte entre a

empresa e o novo governo e a apresentação de pautas especificas do grupo, como

as relacionadas à privatização da área petroquímica da Petrobras, que contrariava os

interesses do grupo, que por sua vez, recorreu a Lula para impedir a continuidade do

processo. Desta proximidade, começa a surgir o desenho de uma estratégia

empresarial, voltada à integração da empresa para com o estado, o que viria ocorrer

de forma bastante intenção nos anos seguintes.

Através deste estudo e da percepção dos movimentos realizados pelo grupo

empresarial ao longo lapso temporal em análise, foi possível perceber diferentes fases

de desenvolvimento da estratégia desenvolvida especificamente para fins ilícitos, para

a captura das oportunidades vislumbradas com o ambiente de negócios fomentado

pelo novo governo. Os passos deste desenvolvimento foram separados em três

Fases, concebidas por este autor: Incubação, Modelagem e Execução, como

apresentadas a seguir e que ajudaram a formatar o modelo estratégico final do grupo

Odebrecht.

4.3.1 INCUBAÇÃO

A fase de incubação corresponde ao período de 2002 a 2005, que se inicia com

a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, que contava com apoio de grupos

empresariais, em especial do grupo Odebrecht, cujo presidente, declarou que o “apoio

financeiro” da empresa a Lula iniciou “quando ninguém o apoiava e não posso negar

que fazíamos pagamentos em volumes consideráveis”.

A eleição de Lula em 2002, veio emoldurada pelo desejo de mudanças na

sociedade brasileira, que almejava a renovação das lideranças políticas e uma gestão

pautada na ética e em programas sociais para inclusão e melhoria das condições de

vida das classes menos favorecidas e crescimento da economia do país. Sua chegada

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também representaria a ascensão do líder sindical que detinha fortes relações com o

meio empresarial e cujas campanhas foram seguidamente financiadas pelas

empresas, em especial a Odebrecht, que tinha no sindicalista um aliado de primeira

hora para contenção de movimentos grevistas que pudessem afetar ao grupo.

Lula, se apresentava à sociedade como uma alternativa à continuidade e com

uma proposta de governo voltada às classes sociais menos favorecidas, o que

angariava simpatia e projetava reais chances de vitória na disputa à presidente da

república. Em grande parte, a chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder deveu-

se compromisso firmado pela “Carta aos Brasileiros35”(Anexo A, Quadro 06) onde o

PT se comprometia com a manutenção das políticas econômicas do último governo.

Quando Lula tornou-se presidente, o empresário do grupo Odebrecht, mantinha

reuniões periódicas com ele, por vezes, trimestrais.

O primeiro ano é destinado ao fortalecimento da base de governo, que não

detinha a maioria e encontrava dificuldades de aprovação dos projetos apresentados

e a avaliação das dimensões da vitória e de como buscar a manutenção do partido no

governo, sem a perda da confiança depositada pela sociedade.

Nesta fase são discutidas as formas de perpetuação do partido no poder e as

alianças estratégicas com as empresas para geração de empregos. Ao final do

primeiro ano, o governo já consegue equilibrar as forças no congresso por meio do

emprego do presidencialismo de coalização, com a repartição de ministérios e cargos

nas empresas públicas em troca de apoio dos partidos agraciados com os cargos.

Segundo Melo (2012), professor de ciências políticas da Universidade Federal

de Minas Gerais, tal como FHC, Lula optou por constituir uma coalizão majoritária,

mas o fez em condições distintas. O primeiro pôde constituir um gabinete

ideologicamente contíguo, do centro para a direita, e composto pelos quatro maiores

partidos, à época, do Congresso Nacional - PMDB, PSDB, PFL e PP, mais o PTB.

Para Lula, a opção de uma coalizão majoritária ideologicamente coerente sempre

esteve descartada. Por outro lado, a esquerda, além de se mostrar dividida, nunca

ultrapassou um terço dos votos na Câmara ou no Senado. Por outro, uma aliança de

35 Silva, Luiz Inácio Lula, Carta ao povo brasileiro, 2002/ disponível em

http://csbh.fpabramo.org.br/uploads/cartaaopovobrasileiro.pdf

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centro-esquerda, apesar de numericamente viável, estava parcialmente prejudicada

pela oposição representada pelo PSDB, o segundo maior partido político e líder da

oposição, acompanhado pelo PFL. Com dois grandes partidos na oposição e o apoio

duvidoso do PMDB, Lula teve de incorporar um elevado número de partidos pequenos

e médios para chegar a uma coalizão que lhe desse alguma segurança. O resultado

foi que as coalizões formadas pelo governo petista, em seus dois mandatos, contaram

com o maior número de partidos e foram as mais heterogêneas, do ponto de vista

ideológico, de todo o período pós-Constituinte, conforme dados organizados por

Figueiredo e Limongi (2007).

As relações entre Executivo e Legislativo no primeiro mandato de Lula foram

marcadas por momentos de paralisia política e resistência aos projetos do governo. A

instabilidade podia ser percebida pelas sucessivas alterações na composição dos

Ministérios. No primeiro ano, Lula optou por distribuir cargos do governo apenas aos

partidos aliados que o apoiaram no segundo turno das eleições em 2004, com grande

destaque ao PMDB que configurava sua principal base de apoio.

Ao longo do primeiro mandato, a base do governo Lula foi abalada tanto por

disputas em torno do conteúdo das políticas como por conflitos a respeito da

distribuição de recursos. A distinção entre os dois tipos de problema ajuda a ilustrar o

que foi, e ainda é, a coalizão de Lula. No jogo político, os partidos, além de votos,

maximizam políticas e/ou recursos (postos ministeriais, nomeações, emendas

orçamentárias e tudo o mais). Podem almejar de forma articulada os dois objetivos ou

priorizar um deles. No sistema político brasileiro, no que se refere à quantidade de

recursos disponíveis, as vantagens de estar no governo são muito altas, assim como

o são os custos de partir para a oposição. Aderir à situação significa aumentar as

chances de sobrevivência política em um cenário extremamente competitivo. E foi

principalmente por isso que partidos conservadores, assim como congressistas eleitos

pelo PSDB e pelo DEM, migraram para um governo eleito pela esquerda.

Disputas pelo conteúdo das políticas de governo geraram desentendimentos e

resultaram no afastamento do Partido Democrático Trabalhista - PDT e o

descontentamento de alguns membros do PT, resultando na criação do Partido

Socialismo e Liberdade - PSOL pelos descontentes. A necessidade de acomodação

da base aliada na estrutura de governo e as disputas por verbas para fortalecimento

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dos partidos políticos, mobilizou deputados e senadores de partidos como PR, PTB,

PP e PMDB, que buscavam o atendimento de suas demandas pelo governo, que era

pressionado de todas as formas com pedidos e trancamento das pautas de votação,

resultando inclusive na eleição em fevereiro de 2005 de Severino Cavalcanti, um

desconhecido deputado, para a presidência da Câmara.

As dificuldades de conciliação de muitos interesses não era tarefa fácil, mas

fazia-se necessária a manutenção da maioria política no congresso (vide Tabela 02)

para avanço das políticas de governo e isto, como sabe-se hoje, após as denúncias

do presidente do PDT - Roberto Jefferson, em 2005, custava muito dinheiro, que era

proveniente do esquema de pagamento de uma “mesada” aos partidos políticos por

meio da transferência de recursos financeiros "não contabilizados" em troca de apoio,

escândalo que ficou conhecido como “mensalão” e que quase comprometeu a

reeleição de Lula em novembro de 2006 pela descoberta do esquema criminoso e

pela perda dos recursos financeiros até então distribuídos aos partidos da base.

Tabela 2 - Lula e as Coalizões Políticas

Partidos Coligados Início da Coalizão

Fim da Coalizão

Cadeiras na Câmara

(%)*

Cadeiras no Senado

(%)* 1º Mandato (2003-2006)

Coalizão 1 PT/PL/PCdoB/PSB/PTB/PDT/PPS/PV jan/03 jan/04 42,9 37

Coalizão 2 PT/PL/PCdoB/PSB/PTB/PPS/PV/PMDB jan/04 jan/05 62,38 54,3

Coalizão 3 PT/PL/PCdoB/PSB/PTB/PV/PMDB fev/05 mai/05 57,7 56,8

Coalizão 4 PT/PL/PCdoB/PSB/PTB/PMDB mai/05 jul/05 58,28 56,8

Coalizão 5 PT/PL/PCdoB/PSB/PTB/PP/PMDB jul/05 jan/07 69,59 56,8

2º Mandato (2007-2010)

Coalizão 1 PT/PCdoB/PSB/PDT/PR/PMDB/PTB/PRB/PP

fev/07 jan/08 65,1 62,9

(*) Cadeiras no início de cada coalizão Fonte: Melo (2012)

A compreensão dos interesses que uniam o governo federal e as empresas em

ilicitudes e conluio com a administração pública, passa pelo conhecimento dos

programas, metas e objetivos principais do governo no período que vai de 2004 a

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2014 sob administração de representantes eleitos por meio do Partido dos

Trabalhadores – PT.

De acordo com as regras do sistema eleitoral brasileiro36 , os candidatos à

presidência da república do Brasil, devem produzir e apresentar formalmente ao

Tribunal Superior Eleitoral – TSE na fase de sua candidatura, as propostas e as linhas

mestras do programa que defendem para seus governo, e que representam um

compromisso para com a sociedade no caso de ser consagrado vencedor das

eleições. Em um segundo momento, após a posse e instalação do governo, e, em

cumprimento ao disposto no art.165, § 1º, da Constituição Federal37 deverá ser

apresentado e submetido ao congresso nacional o Plano Plurianual – PPA, para o

próximo quadriênio que se inicia no segundo ano de mandato do novo governo, no

qual, de forma regionalizada, indicará as diretrizes, objetivos e metas da

administração pública federal para as despesas de capital e delas decorrentes e para

as relativas aos programas de duração continuada, por meio de Lei de iniciativa do

poder executivo, como disposto na Lei 10.933 de 11 de Agosto de 200438, que instituiu

o PPA para o quadriênio 2004-2007 apresentado pelo governo de Luís Inácio Lula da

Silva em seu primeiro mandato.

O programa de governo apresentado durante a campanha eleitoral pela qual

Lula foi eleito presidente em 2002, tinha como linha base criar um modelo de

desenvolvimento de longo prazo, indo além de seu período de sua vigência (2007) e

promover profundas transformações estruturais na sociedade brasileira. Integravam o

PPA, orientações, definição de programas sociais, estratégias de governo e a

identificação projetos e obras de infraestrutura a serem conduzidas pelo governo nos

períodos, e que incluíam as relativas do Programa de Aceleração do Crescimento –

PAC. O imenso conjunto de projetos, representava um investimento previsto em

36 Código Eleitoral e Legislação Complementar, Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997 - disponível em

http://www.tse.jus.br/legislacao/codigo-eleitoral/lei-das-eleicoes/lei-das-eleicoes-lei-nb0-9.504-de-30-de-setembro-de-1997

37 Parágrafo 1 Artigo 165 da Constituição Federal de 1988, - Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada.

38 Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.933.htm

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R$79,53 bilhões de reais, no período de 2004 a 2007 conforme dados do Ministério

da Economia apresentados no Painel de Obras39 pela secretaria de planejamento.

É apresentado o Plano Plurianual 2004 – 200740 conforme previsto no artigo

165, § 1º, da Constituição Federal e instituído pela da Lei nº 10.933, de 11 de agosto

de 200441, onde se prevê investimentos em infraestrutura, ampliação dos programas

sociais e maior atenção aos estados do norte nordeste.

Com a reeleição de Lula em 2006 (2007-2010) pelo PT e a eleição de Dilma

Rousseff em 2010 (2011-2014) pelo mesmo partido, houve continuidade do programa

político e as metas dos PPAs dos respectivos governos foram mantidas ou ampliadas

e os investimentos apresentaram forte crescimento, como se observa no Gráfico 01-

Investimentos Públicos (2004-2015), relativos aos projetos previstos e cujo montante

alcançava a quantia de R$1,16 trilhões no período acumulado entre 2004 a 2015, e

representasse um grande atrativo às empresas de construção. Isto fez com que

grandes grupos empresariais da área de construção se unissem em uma espécie de

clube com regras especificas (Anexo J, Quadro 06), para dividirem os projetos de

forma organizada e com o compromisso de repasse aos partidos políticos de um

percentual relativo ao valor dos projetos, variando de 01 a 5% do valor contratado,

como foi apurado nas investigações realizadas pela polícia federal. Ales dos recursos

dos investimentos públicos, a Odebrecht como participante do esquema, também teve

acesso a recursos das instituições financeiras públicas e dos fundos de pensão das

empresas públicas.

39 Disponível em

http://paineldeobras.planejamento.gov.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=paineldeobras.qvw&lang=pt-BR&host=Local&anonymous=true

40 Disponível em http://www.planejamento.gov.br/assuntos/planeja/plano-plurianual/ppas-anteriores

41 Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.933.htm

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Gráfico 1 - Investimentos Públicos (2004-2015)

Fonte: Ministério da Economia/Painel de Obras (SINCOV, PAC e Avançar) em Julho/2019

Após a reeleição, Lula (2007-2010), necessitava manter a base aliada e

significava a necessidade de obtenção de recursos financeiros por outras vias, uma

vez que após a descoberta do esquema do “mensalão”, os pagamentos haviam sido

interrompidos. Para isto, fazia-se necessário a obtenção de recursos por outras vias

e, em razão disto, cria-se um mecanismo de geração de recursos por meio das

empresas alinhadas com o governo federal. Dentre estas empresas, a Odebrecht,

teve um papel de destaque e fundamental importância em razão de sua proximidade

com os líderes do governo e por sua presença nacional e internacional, o que facilitava

a movimentação e geração de recursos no Brasil e no exterior.

4.3.2 MODELAGEM

Como o fortalecimento da base política do início do governo Lula, estava

relacionada à distribuição de cargos públicos e ministérios aos partidos de

sustentação que compunham o governo de coalizão, o escândalo abala o mundo

político, e a sustentação do governo, pela deflagração das investigações do

1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 1 1

-

1 0  0 0 0

2 0  0 0 0

3 0  0 0 0

4 0  0 0 0

5 0  0 0 0

6 0  0 0 0

7 0  0 0 0

-

2 0 0 ,0 0

4 0 0 ,0 0

6 0 0 ,0 0

8 0 0 ,0 0

1  0 0 0 ,0 0

1  2 0 0 ,0 0

N ú m ero de P ro jeto s e In vestim en to s - (R $ -B ilh ão )

Ob ras In v estim en to

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“mensalão”, nome dado à prática de realização de pagamentos mensais a políticos de

partidos aliados..

As descobertas das fontes de pagamento do mensalão e a necessidade de se

manter o esquema criminoso de cooptação política, fez com que o grupo Odebrecht,

assumisse por meio de seu esquema de suborno, a geração de recursos para

manutenção do esquema de corrupção iniciado no mensalão. Em razão disto, as

operações financeiras se ampliaram e isto fez com que a estrutura financeira secreta

até então existente, fosse revista e ampliada de tal forma, que a Odebrecht veio a

estabelecer a “Divisão de Operações Estruturadas - DOE”, que funcionava como um

departamento autônomo de suborno da Odebrecht para atendimento às demandas

das empresas do grupo.

Conforme investigações e acordo de leniência firmado com o MPF e o Plea

Agreement com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos – DOJ, para a devida

operacionalização do negócio paralelo, uma unidade de negócios foi devidamente

organizada e estruturada por meio do departamento de operações estruturadas –

DOE, que como toda e qualquer empresa, possuía estrutura para projetar as

operações de forma planejada em médio e longo prazo, contava com metas,

orçamentos e busca de resultados. Quando da conquista de novos projetos se

utilizava da estrutura formal para sua realização. Em razão do aumento do número de

operações e envolvidos, da necessidade de controle de todas as operações e

beneficiados, criou-se em 2006 a Divisão de Operações Estruturadas – DOE, com

controle e participação direta da presidência do grupo e de diretores, a quem cabiam

a aprovação dos compromissos, de acordo com o nível da autoridade e esfera de

influência.

O modelo está devidamente representado a seguir e consta apenas dos nomes

chaves e responsáveis para operação do DOE, até meados de 2009, o chefe da

Divisão de Operações Estruturadas reportava aos seus superiores (diretoria e

presidência) da Odebrecht as operações realizadas e inclusive, solicitava as

autorizações de pagamento dos subornos. Posteriormente, pela dimensão alcançada,

com centenas de favorecidos em diferentes países, essa responsabilidade foi

delegada a determinados líderes de negócios da empresa no Brasil e em outras

jurisdições.

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84

Figura 6 Organograma Funcional – DOE

Fonte: Baseado em dados do Ministério Público Federal

Conforme depoimentos dos delatores, de forma a ocultar e proteger as

atividades da Divisão de Operações Estruturadas, foi implantado um sistema de

comunicações totalmente separado e sem registro, que permitia aos membros da

DOE se comunicarem uns com os outros e com operadores financeiros externos e

demais agentes da estrutura sobre a movimentação financeira, os subornos

acordados e favorecidos, via segura e-mails e mensagens instantâneas, usando

codinomes e senhas.

A DOE operava estrategicamente no gerenciamento do orçamento “sombra”

para as operações de suborno da Odebrecht por meio de um sistema de computação

independente, utilizado para solicitar e processar pagamentos de suborno, taxas de

retorno, projetos envolvidos, codinomes e balanços de pagamento dos envolvidos e

ainda, elaboração de planilhas de acompanhamento e internalização do orçamento

paralelo. Os fundos para a sofisticada operação de suborno da empresa foram

gerados pelo setor financeiro da Odebrecht de diversas maneiras e através de

algumas das subsidiárias do grupo, incluindo a Braskem. Os recursos eram

canalizados pela DOE para uma série de entidades offshore de forma oculta, visando

a transferência posterior aos favorecidos nos acordos escusos, por meio de

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transferências bancárias por meio de uma ou mais entidades off-Shore, bem como

por meio de pagamentos em dinheiro dentro e fora Brasil, entregues em pacotes ou

malas deixadas em locais predeterminados.

O DOE em sua estrutura possuía áreas distintas para obtenção de recursos e

realização de pagamentos no Brasil e no exterior.

As Operações do DOE no Brasil

As operações no Brasil tinham como principal característica a entrega de

dinheiro em espécie aos envolvidos e para isto, era necessário realizar a obtenção

por meio de captação de recursos no comercio local e nas empresas de ônibus das

cidades das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Os valores eram direcionados a

locais previamente determinados e posteriormente remetidos aos cofres de empresas

de valores para posterior, a quem caberiam realizar as entregas aos destinatários das

quantias pré-determinados pelo DOE. Conforme apurado nas investigações, entre

somente em São Paulo, a Odebrecht teria movimentado entre maio de 2013 e maio

de 2015, mais de R$ 200 milhões a pessoas ligadas a políticos de diferentes Estados

e dos mais variados partidos.

Em análise realizada pelo jornal Estado de São Paulo42, pelo de cruzamento

de dados, verificou-se que muitos dos valores lançados nas planilhas da Odebrecht

ao lado dos codinomes criados para os políticos saíram mesmo do papel e chegaram

até a um destinatário. Em alguns casos, em quantias até superiores às confessadas

pelos delatores. O esquema da empresa chegou a contar com até 45 locais de coleta

de dinheiro, que era feita por agentes de transportadora de valores usada por doleiros

para fazer os pagamentos ilícitos da Odebrecht.

O modelo de influencias mais concretamente, buscava outorgar e permitir ao

grupo empresarial, fazer arranjos em diversos níveis de acesso e influencia, cabendo

ao pessoal da organização fazer amigos, ganhar aliados, convencer a críticos, cooptar

a imprensa local, debilitar os concorrentes, contar com árbitros comprometidos com a

empresa em casos de disputas arbitrais, manter relacionamentos com pessoas

42 https://www.estadao.com.br/infograficos/politica,odebrecht-o-caminho-do-dinheiro,1012421

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86

influentes e de decisão do governo, incluindo presidentes e ministros para obter e

fazer a melhores obras. Visava também criar, manter e ampliar as redes de

relacionamento com políticos e funcionários de governo tendo como base de

sustentação a capacidade da empresa em realizar obras com qualidade e

cumprimento dos prazos acordados, mas, no entanto, adotando preços maiores.

O uso de instrumentos lícitos, ilícitos e questionáveis para o desenvolvimento

e ampliação do modelo, tinha a clara missão de cooptação de aliados, dando em

contrapartida presentes e benesses dos mais diversos tipos, desde promoção de

festas, viagens e até pagamento de propinas correspondentes a um percentual do

valor do projeto em desenvolvimento ou execução. Por outro lado, a imagem

institucional da empresa era trabalhada e fortalecida por meio de ações de marketing

e adoção de políticas de governança onde a principal estrela era o modelo empresarial

desenvolvido e conhecido por Tecnologia Empresarial Odebrecht – TEO, onde eram

apresentadas e divulgadas as melhores práticas de engenharia, gestão e compliance

de modo exemplar e admirado pelo mundo corporativo.

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Figura 7 Modelo de Influências

Fonte: Durán, e-book (2018)

Este esquema se manteria de forma sistêmica até sua descoberta em 2014 pelas

investigações da Operação Lava Jato, resultando na abertura de processos

investigativos e criminais por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro,

formação de quadrilha, improbidade administrativa e outros crimes qualificados,

levando aos tribunais diversos envolvidos e resultando em novos procedimentos e

condenações. O tamanho do grupo empresarial e o grande número de envolvidos,

dificultava as investigações, sendo necessário o reforço no número de pessoas que

atuavam na força-tarefa formada pela Polícia Federal e Ministério Público que

atuavam nas investigações.

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A nova área era restrita e ficou conhecida como após sua descoberta pelas

investigações da Lava jato como “departamento de propina”, cuja operacionalização

era toda informatizada por meio de um sofisticado sistema adquirido pela Odebrecht

e que por questões de segurança, ficava baseado na Suíça, de modo a evitar o acesso

de curiosos e de eventuais investigações, como relatado ao Ministério Público Federal

pelo delator Camilo Gornati. O sistema de informática era utilizado para

operacionalizar repasses não contabilizados. As comunicações sobre pagamentos

eram feitas dentro desse sistema, batizado de Drousyus, ao qual os envolvidos no

setor tinham acesso.

4.3.3 EXECUÇÃO

Nesta fase, 2006-2015, estabelecem-se os grandes programas de investimento

do governo tendo como pano de fundo o pré-sal e a necessidade de investimentos

urgentes para atendimento a demanda futura de serviços. São criados projetos de

grande magnitude como minha casa minha vida, submarino nuclear, construção de

navios, plataformas e sondas, termoelétricas, gasodutos, construção de sedes e

refinarias, projetos de modernização das unidades industriais.

O governo estabelece alianças com países simpáticos ao regime bolivariano e

de esquerda desenvolvido pelo PT e com isto são direcionados recursos do Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES para construção de

projetos e aquisição de plantas industriais no exterior. Junto com financiamento do

BNDES eram incluídas as empresas parceiras para execução das obras e promoção

da engenharia nacional. Esta “exportação” dos serviços facilita o giro do dinheiro da

corrupção pois permite pagamentos no exterior.

Conforme retro mencionado, no início do segundo mandato do presidente Lula

(2007-2010) foi implementada nova política industrial, voltada ao desenvolvimento de

grandes empresas nacionais em diferentes ramos de atuação como

telecomunicações, agropecuária, transportes, serviços, petroquímica, alimentos e

outros, com vistas ao mercado interno e a exportação de bens e serviços, política que

ficou conhecida como a de criação de “campeões nacionais” que visava o crescimento

acelerado das empresas selecionadas que apoiavam ao governo, principalmente por

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89

concessão de crédito abundante por meio dos bancos públicos como Banco do Brasil

Caixa Econômica Federal e especialmente o BNDES à juros baixos anuais entre 1,8

a 3.9%, (sempre abaixo de 5%) e prazos de até 30 anos para pagamento. Além da

concessão de crédito, o BNDES investia na participação acionaria das empresas por

meio do BNDESPar – BDES Participações. A condição para ser eleita uma das

agraciadas pela política de campeã nacional, era ter alinhamento direto com o governo

federal, seus objetivos e decisões políticas e estratégicas. O discurso de defesa da

política industrial estava apoiado na criação de empregos e fortalecimento do país no

cenário econômico mundial, com as empresas agraciadas, exportando serviços e

produtos ao mercado externo.

Hoje, após 5 anos de intensas investigações e desdobramentos das operações

Lava Jato, temos conhecimento que a política industrial de campões nacionais

representou um grande fracasso e brutal aumento da dívida pública em razão do

enorme volume de recursos públicos disponibilizados. Além disto, a maior parte das

operações de credito ou participação acionaria estavam diretamente relacionadas ao

desvio de dinheiro público para o esquema de corrupção e manutenção do partido

político no poder, sendo os recursos desviados e direcionados a agentes públicos,

partidos políticos, políticos da base do governo e até para sustentação de governos

de outros países alinhados com a política externa e ideologia do governo.

Em artigo de 200743 escrito pelo procurador Júlio Marcelo de Oliveira para o

site jurídico CONJUR, fica clara a percepção de quão desastrosa foi a política adotada

e este lança dúvidas sobre o real proposito e interesse do governo em promover uma

política de campões nacionais com favorecimento de recursos financeiros em

detrimento de outras prioridades do país e das empresas concorrentes, como se

observa em suas palavras;

“As informações provenientes da "lava jato" lançam dúvidas se chegou mesmo a

haver uma tal política ou se tudo não passou de um pretexto para alavancar grupos

empresariais escolhidos de maneira não republicana, sem nenhuma transparência e

mediante o pagamento de elevadas propinas a agentes públicos. As colaborações

premiadas celebradas até o momento não deixam dúvidas de que houve tais

43 Disponível em https://folhapolitica.jusbrasil.com.br/noticias/466573114/politica-de-campeas-

nacionais-de-lula-foi-desastrosa-sob-todos-os-angulos-possiveis-diz-julio-marcelo

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90

pagamentos e de que sem eles muitas operações de financiamento ou de

participação em capital não teriam ocorrido”

Por outro lado, em defesa de seu programa, o governo federal em 2015,

argumentava que a transferência de papéis do tesouro aos bancos públicos, aumenta o

poder das linhas de crédito do Programa de Sustentação do Investimento (PSI)44, que

financia a compra de bens de capital (máquinas e equipamentos usados na produção),

exportações e investimentos em inovação. Essa política, no entanto, era fortemente

criticada pela oposição em razão do aumento da dívida bruta do Tesouro Nacional.

Figura 8- Evolução de Desembolso do BNDES

Apenas no último ano de nosso período de análise, O BNDES desembolsou R$

136 bilhões para projetos de investimento em 2015. O setor de Infraestrutura foi o que

registrou maior participação, com R$ 54,9 bilhões, ou 40,4% do total, seguido dos setores

de Indústria — para o qual o BNDES desembolsou R$ 36,9 bilhões (27,1%) —, Comércio

e Serviços (R$ 30,4 bilhões, ou 22,4%) e agropecuária (R$ 13,7 bi, ou 10,1%).

44 Mais informação em https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/estatisticas-

desempenho/desembolsos/desembolsos-nos-anos-anteriores/desembolsos-2015

Fonte: BNDES – Desembolso no PSI em Bilhões de reais

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91

Gráfico 2 - Setores favorecidos pelo PSI

Bancos Públicos

Segundo o Banco Central, o volume de crédito das instituições financeiras oficiais

representava 19,04% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no

país) em março de 2011. Em setembro de 2014, último ano do governo Lula, o montante

dos recursos já correspondia a 30,08% do PIB45. Por sua vez, o crédito proveniente dos

bancos privados, não apresentou crescimento significativo, ficando praticamente

estagnado, passando de 26,35% para 26,68% do PIB na mesma comparação.

Parte do avanço dos bancos públicos foi obtida por meio da política de corte de

juros nas linhas oficiais de crédito que entrou em vigor em 2012. A medida diminuiu

o spread bancário – diferença entre as taxas cobradas do tomador final e as usadas para

captar recursos. A redução do spread foi compensada pelo aumento no volume de

empréstimos e financiamentos liberados pelos bancos.

O reforço de capital das instituições públicas veio da injeção de quase R$ 400

bilhões em títulos públicos (dados de 2014), com a venda dos papéis no mercado

financeiro e aumento do volume de recursos disponíveis para empréstimo e permitiu

45 Disponível em http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2014-10/uso-de-bancos-publicos-

para-estimular-economia-divide-candidatos (acessado em Junho de 2019)

0

10

20

30

40

50

60Infra es trutura ; 54,9

Indus tria ; 36,9C om . e S er-v iços ; 30,4

Ag ropecua ria ; 13,7

R $ 1 3 5 ,9 B ilh õ e s PS I - 2 0 1 5

Fonte: BNDES – Desembolso no PSI em 2015

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92

a alavancagem dos créditos. A maior parte, R$ 339 bilhões, foi destinada ao BNDES,

que financia o investimento de empresas privadas.

A Captação de Recursos pelo Grupo Odebrecht

As operações de créditos realizadas pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica

Federal encontram-se em sob sigilo e não foram disponibilizadas informações ao

mercado sobre as operações de créditos realizadas. No entanto, temos ciência que

os valores movimentados por estas duas instituições também são relevantes e podem

implicar no aumento das captações realizadas pela Odebrecht e identificadas junto ao

BNDES.

À partir da divulgação em 2015 pelo BNDES dos dados relativos aos contratos

de exportação de serviços de engenharia entre 2007 e 2015, correspondentes ao total

de US$ 11,9 bilhões, que inclui financiamentos a obras e serviços em Cuba e Angola,

foi possível (dados até abril de 2019), o levantamento de informações e a constatação

de que cinco empreiteiras concentram 99,4% do valor contratado no período, sendo

que o grupo Odebrecht, foi o maior beneficiado, com US$ 8,4 bilhões ou 70%46 do

valor total concedido.

Uma das operações que teve detalhes revelados foi a contratação de serviços

da Companhia de Obras e Infraestrutura para obras de ampliação do Porto Mariel, em

Cuba. A operação foi feita em cinco etapas, com contratos firmados entre 2009 e 2013,

totalizando US$ 682 milhões. Cada uma das etapas, contou com taxa de juros fixada

em dólar, e variando de 4,44% a 6,91% ao ano.

A estratégia empresarial do grupo Odebrecht durante 2003-2015 esteve

diretamente ancorada nos recursos públicos disponibilizados pelo governo federal e

seus agentes, o que permitiu um crescimento acelerado do grupo Odebrecht no

mesmo período, com um vertiginoso crescimento de 765% em seu faturamento anual

no período de 13 anos, passando de R$17,3 para R$132,4 bilhões de reais. Em que

pese a competência e a qualidade da prestação de serviços prestados pela empresa,

é um crescimento extremamente elevado e fora dos padrões de mercado, mas que

46 Disponível em https://oglobo.globo.com/economia/bndes-divulgacao-de-contratos-mostra-que-odebrecht-

ficou-com-70-do-credito-para-obras-no-exterior-16337705 (acessado em junho de 2019)

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93

pode ser explicado pela forte alavancagem por recursos públicos e projetos

demandados pelo governo federal.

Como é de conhecimento público, após o início das investigações da Operação

Lava Jato e da divulgação dos acordos de delação premiada, ficaram evidenciadas as

relações estreitas mantidas pela empresa com os presidentes da república – Lula e

Dilma e ministros de estado, o que pode explicar a posição de destaque no número

de operações de credito realizadas e que colocam o grupo entre os 25 maiores

favorecidos (posições 05 e 19) com recursos públicos disponibilizados por meio do

BNDES no período de 2004 a 2018 de acordo com informação disponibilizada pelo

BNDES em seu site47.

Figura 9 - Maiores tomadores de recursos do BNDES

Fonte: BNDES (extraído da planilha com os 50 maiores tomadores de recursos)

47 Disponível em https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/consulta-operacoes-

bndes/maiores-clientes/!ut/p/z0/fY25DsJADES_hSJlZHMKyohTBIREgcI2yAkLGBJvyJrr7wm0SJTzNDMPDCRghO58JGUnlNd5a3q7xSAezzorXEzX2MSoG0-izShu9xFhDuZ_oX7g8_VqIjCZE7VPhSSVvfU7Fq-st-xrCvDkChugViS-pMpKxhRgPfG3XCk8sNAHFVbU-QALYldZH2Y518T6j6dVLYfLI5iS9BSyHBwkP7XyYtLXI2q8AWErE8Q!/

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94

Levantamento realizado no do site do BNDES considera as informações

disponibilizadas até junho de 2019, e o período compreendido entre 2002 a 2015,

onde é possível observar que nos anos de 2002 e 2016 extremos de nosso

levantamento e cujos mandatos presidenciais estavam à cargo de Fernando Henrique

Cardoso (1999-2002) e Michel Temer (2015-2018) o acesso ao credito foi bem menor

ou quase irrisório, quando comparado ao do período de 2003-2014 referente aos

governos de Lula e Dilma.

Gráfico 3 - Captação Anual Odebrecht (2002-2015)

No gráfico seguinte podemos observar a curva de evolução dos recursos

captados pela Grupo Odebrecht durante o governo Lula e Dilma Rousseff, sendo

interessante notar o rápido crescimento após 2005, ano em que o correu o escândalo

conhecido como Mensalão, relacionado a corrupção e desvios de recursos das

empresas públicas pelos partidos políticos coligados ao governo federal.

2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5 -

5 0 0  0 0 0  0 0 0

1  0 0 0  0 0 0  0 0 0

1  5 0 0  0 0 0  0 0 0

2  0 0 0  0 0 0  0 0 0

2  5 0 0  0 0 0  0 0 0

3  0 0 0  0 0 0  0 0 0

3  5 0 0  0 0 0  0 0 0

4  0 0 0  0 0 0  0 0 0

4  5 0 0  0 0 0  0 0 0

B N D E S - C a p t a ç ã o A n u a l G r u p o O d e b r e c h t ( R $ )

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados públicos disponibilizados pelo BNDES

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95

Gráfico 4- Captação Grupo Odebrecht (2002-2015)

Os dados constantes do gráfico 03 - Captação Grupo Odebrecht (2002-2015) acima

foram obtidos no site do BNDES e estão consolidados na Tabela 02 – Operações

Consolidadas, Grupo Odebrecht com BNDES (2002-2015) abaixo apresentada,

incluindo as várias empresas do grupo Odebrecht tomadoras de crédito e somadas as

operações realizadas em nome da petroquímica Braskem também pertencente ao

grupo, cujo montante das operações realizadas no período de 2002-2015 totalizaram

mais de 20,5 bilhões de reais

É perceptível o aumento do crédito concedido pelo BNDES a partir de 2005

(eixo4) e o crescimento acelerado do valor concedido, cuja variação média anual ficou

em 32% de um ano para o outro. Não nos cabe avaliar o mérito das operações

realizadas e a situação atual das operações quanto a quitação das operações de

crédito e das operações de renda variável, mas sim, observar que o acesso quase

irrestrito ao crédito público permitiu o planejamento a longo prazo e a alavancagem

dos negócios do grupo empresarial.

-

500.000.000

1.000.000.000

1.500.000.000

2.000.000.000

2.500.000.000

3.000.000.000

3.500.000.000

4.000.000.000

4.500.000.000

0

5E+09

1E+10

1,5E+10

2E+10

2,5E+10

2002

Grupo Odebrecht -Captação Consolidada no BNDES(2002-2015)

Ano Acumulado

2015

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados públicos disponibilizados pelo BNDES

R$

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96

Tabela 3- Consolidação do Grupo Odebrecht com BNDES (2002-2015)

BNDES - Empresas do Grupo Odebrecht com BRASKEM

Ano Operações Diretas e

Indiretas não Automáticas (1)

Operações Indiretas

Automáticas (1)

Operações de Renda Variável (3

Operações de Exportação Pré-

embarque (4)

Operações de Exportação Pós-

embarque (5)

Subtotal Geral (R$)

2002 489.219.574 - - 24.768.400 - 513.987.974

2003 - - - 71.770.000 101.460.800 173.230.800

2004 - 2.762.400 - - 78.000.000 80.762.400

2005 386.059.385 48.683.831 - - 148.428.680 583.171.896

2006 690.260.842 10.056.250 - - 81.324.696 781.641.788

2007 159.930.355 118.402.543 - - 786.733.658 1.065.066.556

2008 358.871.124 121.720.563 140.000.000 - 781.367.967 1.401.959.654

2009 718.096.939 86.181.867 73.280.000 169.328.500 1.473.092.788 2.519.980.094

2010 1.024.711.000 82.060.056 490.976.296 150.000.000 220.361.006 1.968.108.358

2011 528.955.425 99.346.618 - - 1.339.493.807 1.967.795.850

2012 697.820.397 7.407.046 - - 736.342.025 1.441.569.468

2013 863.563.000 27.224.355 1.000.000.016 - 1.229.628.693 3.120.416.064

2014 1.197.987.000 7.464.414 2.044.050.217 - 591.068.052 3.840.569.683

2015 580.814.000 841.500 - - 504.393.874 1.086.049.374

Subtotal 7.696.289.041 612.151.443 3.748.306.529 415.866.900 8.071.696.046 20.544.309.959

As operações realizadas estão desmembradas a seguir, em duas tabelas distintas contendo as operações das empresas do

grupo e da Braskem em separado em razão da diferença da aplicação dos recursos em infraestrutura, capitalização ou aquisição

de empresas e modernização.

R$

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados públicos disponibilizados pelo BNDES

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97

Tabela 4- Captação Odebrecht com BNDES (2002-2015)

BNDES - Empresas do Grupo Odebrecht

Ano Operações Diretas e

Indiretas não Automáticas (1)

Operações Indiretas

Automáticas (1)

Operações de Renda Variável (3

Operações de Exportação Pré-

embarque (4)

Operações de Exportação Pós-

embarque (5)

Subtotal Geral (R$)

2002 457.474.574 - - - - 457.474.574

2003 - - - - 101.460.800 101.460.800

2004 - 2.762.400 - - 78.000.000 80.762.400

2005 - 48.008.293 - - 148.428.680 196.436.973

2006 - 10.056.250 - - 81.324.696 91.380.946

2007 - 117.369.343 - - 786.733.658 904.103.001

2008 - 121.720.563 140.000.000 - 781.367.967 1.043.088.530

2009 150.000.000 86.181.867 73.280.000 169.328.500 1.473.092.788 1.951.883.155

2010 - 82.060.056 251.084.867 - 220.361.006 553.505.929

2011 - 99.346.618 - - 1.339.493.807 1.438.840.425

2012 25.832.842 4.601.900 - - 736.342.025 766.776.767

2013 - 27.224.355 1.000.000.016 - 1.229.628.693 2.256.853.064

2014 8.564.000 7.464.414 2.044.050.217 - 591.068.052 2.651.146.683

2015 - 841.500 - - 504.393.874 505.235.374

- - - - -

Subtotal 641.871.416 607.637.559 3.508.415.100 169.328.500 8.071.696.046 12.998.948.621

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados públicos disponibilizados pelo BNDES

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98

Tabela 5- Captação Braskem com BNDES (2002-2015)

BNDES - Tipos de Operação / Cliente Braskem

Ano Operações diretas e

indiretas não automáticas (1)

Operações indiretas

automáticas (2)

Operações de renda variável (3)

Operações de Exportação Pré-

embarque (4)

Operações de Exportação Pós-

embarque (5)

Consolidado por Ano

2002 31.745.000 - - 24.768.400 - 56.515.402

2003 - - - 71.770.000 - 71.772.003

2004 - - - - 2.004

2005 386.059.385 675.538 - - 386.736.928

2006 690.260.842 - - - 690.262.848

2007 159.930.355 1.033.200 - - 160.965.562

2008 358.871.124 - - - 358.873.132

2009 568.096.939 - - - 568.098.948

2010 1.024.711.000 - 239.891.429 150.000.000 - 1.414.604.439

2011 528.955.425 - - - 528.957.436

2012 671.987.555 2.805.146 - - 674.794.713

2013 863.563.000 - - - 863.565.013

2014 1.189.423.000 - - - 1.189.425.014

2015 580.814.000 - - - 580.816.015

Subtotal 7.054.417.625 4.513.884 239.891.429 246.538.400 - 7.545.361.338

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados públicos disponibilizados pelo BNDES

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99

As operações de crédito por meio do BNDES eram realizadas em de modo distinto

para atendimento ao mercado interno, atendido em moeda local e para atendimento

ao mercado externo por meio operações realizadas em dólar, de acordo com as

informações disponibilizadas pelo BNDES sobre as modalidades de contratação

voltadas à exportação;

Apoio à Exportação – Pré Embarque

O produto BNDES Exim Pré-embarque compreende as seguintes linhas de

financiamento: BNDES Exim Pré-embarque, BNDES Exim Pré-embarque Empresa

Âncora e BNDES Exim Pré-embarque Empresa Inovadora.

No produto pré-embarque, o financiamento é destinado à produção dos bens e serviços

destinados à exportação. Este apoio conta com a intermediação de um agente financeiro

credenciado ao BNDES, em geral bancos comerciais com os quais o exportador já mantém

relacionamento, e que são os tomadores do risco de crédito do exportador perante o BNDES.

Figura 10- Fluxo Operacional – BNDES Exim Pré-Embarque

Fonte: BNDES

1. Após aprovar o crédito, o Agente Financeiro encaminha ao BNDES o pedido de

financiamento, com informações sobre a operação de exportação e o Exportador. O

BNDES avalia, de acordo com parâmetros previamente estabelecidos, e aprova a

operação.

2. Após a contratação da operação entre o Agente Financeiro e o Exportador, o BNDES libera

os recursos ao Agente Financeiro.

3. Em seguida, o Agente Financeiro repassa os recursos ao Exportador.

4. O Exportador produz os bens e os exporta, cumprindo o compromisso de exportação a ser

posteriormente verificado pelo BNDES.

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100

5. Após o término da carência de principal do financiamento contratado, o Exportador inicia a

amortização das prestações, até a total liquidação financeira do contrato.

6. O Agente Financeiro repassa os pagamentos ao BNDES, até a total liquidação financeira

do contrato.

Pós-embarque – financiamento à comercialização no exterior

O produto BNDES Exim Pós-embarque compreende as seguintes linhas de

financiamento: BNDES Exim Pós-embarque Bens, BNDES Exim Pós-embarque

Serviços, BNDES Exim Pós-embarque Aeronaves e BNDES Exim Automático.

No produto pós-embarque, o objeto do financiamento é a comercialização de bens e

serviços brasileiros. Nesse caso, o BNDES antecipa à empresa brasileira exportadora o valor

dos bens ou serviços devidos pelo importador estrangeiro. Esse desembolso de recursos se dá

em reais no Brasil, e o importador estrangeiro passa a dever ao BNDES. Portanto, não há

remessa de divisas ao exterior. O pagamento do financiamento pelo importador estrangeiro é

realizado por intermédio de banco mandatário, que entre outras atribuições, fecha o câmbio e

repassa o valor em reais ao BNDES.

O financiamento à comercialização pode ser realizado por meio de duas modalidades

operacionais: supplier credit ou buyer credit, além da linha BNDES Exim Automático.

Supplier credit

Refinanciamento ao exportador por meio do desconto de títulos. Veja como funciona:

• O exportador concede ao importador financiamento por meio de carta de crédito, letras de

câmbio ou notas promissórias. Esses títulos deverão ser cedidos ou endossados pelo

exportador ao BNDES.

• O BNDES realiza o refinanciamento mediante o desconto dos instrumentos de pagamento,

e desembolsa os recursos ao exportador, à vista, em reais, no Brasil.

• O importador pagará ao BNDES no prazo definido.

• O banco mandatário realiza as transferências de recursos e documentos relativos à

operação.

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101

Figura 11- Fluxo – BNDES Exim Pós-embarque Supplier Credit

Fonte: BNDES

1. Após aprovada pelo BNDES a operação na modalidade Supplier Credit, o Exportador pode embarcar os produtos/executar os serviços para o Importador.

2. O Importador apresenta títulos ou cartas de crédito emitidos em favor do Exportador. 3. O Exportador realiza o endosso dos títulos ou a cessão das cartas de crédito em favor do

BNDES. 4. O Banco Mandatário envia ao BNDES a documentação comprobatória da exportação e o

pedido de liberação de recursos. 5. O BNDES analisa a documentação e, caso esteja em boa ordem, realiza o desembolso de

recursos ao Banco Mandatário. 6. Em seguida, o Banco Mandatário repassa os recursos ao Exportador. 7. Após o término da carência de principal do financiamento, o Importador inicia a amortização

das prestações, via Banco Mandatário, até a total liquidação financeira do contrato. 8. Em seguida, o Banco Mandatário repassa os pagamentos ao BNDES, até a total liquidação

do financiamento

Fundos de Pensão

Recorrendo a linha do tempo relativa aos casos de corrupção, devemos

destacar a realização de investigação realizada pelo congresso nacional por meio da

Comissão Parlamentar de Inquéritos – CPI em decorrência do escândalo do mensalão

e denúncias de desvios nos fundos de pensão dos Correios e demais fundos públicos

geridos pelo Partido dos Trabalhadores. Segundo afirmação do presidente da CPI dos

Fundos de Pensão, Efraim Filho48 (DEM-PB);

“o mesmo modus operandi dos desvios nos cofres da Petrobrás, investigados

pela Operação Lava Jato, e do escândalo do mensalão, foi utilizado para o

aparelhamento, tráfico de influência e desvios de recursos dos fundos de

48 Disponível em https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,desvios-em-fundos-de-pensao-tem-

mesmo-dna-do-mensalao-e-petrolao--diz-presidente-de-cpi,10000002127

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pensão dos funcionários da Petrobrás (Petros), Caixa Econômica Federal

(Funcef), Correios (Postalis) e Banco do Brasil (Previ). Os personagens desses

escândalos se interligam".

Como se observa no depoimento, do presidente da comissão parlamentar de

inquéritos, o “modus operandi” era o mesmo, para os casos do Mensalão e Lava-Jato,

o que corrobora nosso entendimento de que os eventos de corrupção perpetrados

pelos governos Lula e Dilma se inter-relacionam e apesar de serem distintos, tratam-

se de uma mesma estratégia de apropriação de recursos para financiamento de

partidos políticos e permanência no poder, com auxilio e conivência de um conjunto

de empresas privadas. Ressalta-se que apesar de não estarem ainda disponíveis as

informações sobre os desvios ocorridos nos fundos de pensão e as participações das

empresas nos desvios, é relevante destacar os prejuízos apurados até o momento e

a suspeita de que os mesmos tenham sido igualmente utilizados por empresas em

operações relacionadas à desvios de recursos e favorecimento de agentes públicos

e partidos políticos alinhados com o governo federal.

Os fundos de pensão da Petrobras – PETROS, Banco do Brasil - PREVI, Caixa

Econômica Federal - FUNCEF e Correios - POSTALIS também tiveram seus recursos

utilizados e em grande parte desviados em operações duvidosas e deficitárias, sendo

seus gestores oriundos em sua maioria do movimento sindical paulista (sindicato dos

bancários) e escolhidos pelo Partido dos Trabalhadores.

Os desvios e malversação dos recursos dos fundos de pensão acarretaram

abertura de procedimentos investigatórios criminais (nº 1.16.000.000239/2017-11 e

1.16.000.000992/2016-25 e Inquérito Policial nº 909/2016 (12728-97.2017.4.01.3400)

à cargo do Ministério Pulico Federal, cuja operação foi deflagrada em 05.09.2016 e

batizada de Greenfield49 para apuração das responsabilidades nos rombos de 18

bilhões de reais na FUNCEF por meio de investimentos fraudulentos ou temerários

realizados em empresas por meio de Fundos de Investimentos de Participações

(FIPs). Segundo o MPF, em geral, o FIP é instrumento utilizado pelo investidor

institucional (o fundo de pensão) para adquirir, indiretamente, participação acionária

em empresa (em alguns casos, também debêntures simples ou conversíveis). Dessa

49 Denuncia disponível em http://www.mpf.mp.br/df/sala-de-

imprensa/docs/den.greenfield.fip.enseada.revisado.final.assinado.pdf

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103

forma, em vez de o Fundo de Pensão comprar diretamente as ações da empresa-

alvo, ele adquire cotas do FIP, sendo o FIP (como pessoa jurídica) considerado

acionista da empresa (ou debenturista). Muitas das operações foram realizadas com

participação de bancos privados nacionais na condição de agentes dos bancos

públicos.

Os desdobramentos das investigações identificaram novos rombos e prejuízos

aos principais fundos de pensão, que em conjunto FUNCEF, PREVI, POSTALIS e

PETROS representam um prejuízo de 48,7 bilhões de reais segundo dados da

Superintendência Nacional de Previdência Complementar – PREVIC, cujos valores

somados no período de 2012 a 2016 representam o montante de cerca de 200 bilhões

de reais em prejuízos, sendo que cerca de 54 bilhões50 estão no foco das

investigações em andamento devido as evidências de fraudes, com vista ao

ressarcimento dos prejuízos as instituições. Em razão das operações encontrarem-se

em andamento, não é possível afirmar o favorecimento e envolvimento do grupo

Odebrecht nas fraudes ocorridas.

Tabela 6 - Prejuízos dos Fundos de Pensão (2012-2016)

Ano

Prejuízo Anual

(R$ Bilhão)

Prejuízo Acumulado

(R$ Bilhão)

2012 R$ 9,00 R$ 9,00

2013 R$ 31,00 R$ 40,00

2014 ND ND

2015 R$ 77,80 R$ 117,80

2016 R$ 70,60 R$ 188,40

Fonte: Elaborada pelo autor com dados da PREVIC

50 Conforme matéria do jornal Folha de São Paulo, disponível em

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/acordos-de-forca-tarefa-que-apura-desvios-na-caixa-e-fundos-de-pensao-somam-r-11-bi.shtml

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104

4.4 CICLO DA GRANDE CORRUPÇÃO

É possível afirmar que quando se cria um ambiente favorável à corrupção, isto

resulta em falcatruas. Neste contexto, o ambiente era extremamente favorável em

razão das elevadas reservas acumuladas pelo Tesouro Nacional herdadas dos

governos anteriores e da grande popularidade que detinha o novo governante do país.

Para atendimento das constantes demandas de recursos financeiros e

manutenção do esquema de corrupção e pagamento das propinas, a empresa

desenvolveu internamente uma complexa estrutura financeira com a finalidade de

contabilizar e realizar os pagamentos de suborno a agentes públicos, políticos e

autoridades governamentais de diversos países e partidos políticos

Figura 12 - O Caminho do lucro e da propina

As investigações realizadas pela polícia federal brasileira em conjunto com

as delações premiadas, foram capazes de identificar a existência de uma estrutura

departamental (DOE) dedicada à operacionalização das atividades de corrupção, por

meio da gestão dos compromissos assumidos junto aos favorecidos pelo esquema e

da geração de recursos para realização dos pagamentos, de acordo com níveis de

Fonte: G1, elaborado com base nos dados do DOJ em 14/04/2017

Fonte: Jornal O Globo, 12/2016

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105

aprovação devidamente formalizados. Observa-se que na estrutura do modelo que

existia inclusive uma estrutura voltada a abertura de contas correntes no exterior aos

favorecidos pelos processos de corrupção, com apoio jurídico e fiscal e de agências

de viagem de modo a promover a segurança dos processos e dar uma aparência legal

aos mesmos. As demandas eram geradas por meio de superintendentes regionais e

gerentes de contratos espalhados em dezenas de países, onde cada um possuía uma

“taxa de retorno” determinada, pela qual eram calculados os valores do suborno em

relação ao retorno do projeto,

As ações empreendidas pela Odebrecht para manutenção de seu modelo

de influências, implicava na obtenção de resultados diretos sobre os valores investidos

à título de benefícios e suborno aos envolvidos, sendo necessário manter uma taxa

de retorno proporcional aos investimentos realizados nas ações. De acordo com as

investigações realizadas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e

apresentadas no termo de acordo realizado com a Odebrecht e constantes dos termos

de Plea Agreement da Odebrecht51 e da Braskem 52 foram levantados os seguintes

dados relacionados a taxa de retorno obtida com as ações de suborno nos diversos

países em que a empresa atuou.

Quadro 11 - Pagamentos de Suborno e Taxas de Retorno

Pais Valores Pagos (US$ milhão)

Benefícios Obtidos (US$ milhão)

Taxa de Retorno

Angola 50,0 261,7 423% Argentina 35,0 278,0 694% Brasil 349,0 1.900,00 444% Colômbia 11,0 50,0 355% República Dominicana 92,0 163,0 77% Equador 33,5 116,0 246% Guatemala 18,0 34,0 89% México 10,5 39,0 271% Moçambique 0,9 n/a - Panamá 59,0 175,0 197% Peru 29,0 143,0 393% Venezuela 98,0 n/a - Total 785,90 3.159,70

Fonte: Plea Agreement – Departamento de Justiça dos Estados Unidos (2018)

51 Disponível em https://www.justice.gov/opa/press-release/file/919916/download

52 Disponível em https://www.justice.gov/opa/pr/odebrecht-and-braskem-plead-guilty-and-agree-pay-

least-35-billion-global-penalties-resolve

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106

As investigações realizadas pelo MPF/PR e Polícia Federal brasileira,

reforçadas pelas denúncias e revelações obtidas por meio dos acordos de delação

premiada firmados pela empresa Odebrecht, seus executivos e outros delatores

envolvidos no esquema criminoso, deixou evidenciado que a Odebrecht operou de

modo contumaz um esquema de suborno e manipulação das licitações públicas por

mais de uma década, começando em 2001. Investigações conjuntas realizadas entre

o Brasil, Suíça e Estados Unidos conseguiram rastrear o dinheiro utilizado nas ações

de corrupção em diversos países em que a empresa atuava e alguns dos beneficiados

pelo esquema criminoso. Em informe53 emitido pelo DOJ USA por ocasião do acordo

de colaboração firmado com à justiça americana em 2017 e conhecido como “Plea

Agreement” , foi levantado que durante os anos de 2001 à 2015 , a Odebrecht pagou

aproximadamente US$ 788 milhões em propinas a funcionários de governo, seus

representantes e partidos políticos em diversos países, a fim de obter contratos e

realizar negócios nesses países. O acordo com a justiça americana envolvia também

a BRASKEM

As investigações conjuntas e levantamentos realizados pelo DOJ USA, indicam

que a Odebrecht, seus funcionários e agentes tomaram várias medidas nos Estados

Unidos para ampliar o esquema, incluindo reuniões com outros conspiradores para

planejar ações a serem tomadas em conexão com a DOE, o movimento de produtos

criminais e outras condutas criminosas, resultando em pagamentos e / ou lucros

corruptos, de aproximadamente US$ 3,336 bilhões.

53 Disponível em https://www.justice.gov/opa/pr/odebrecht-and-braskem-plead-guilty-and-

agree-pay-least-35-billion-global-penalties-resolve

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Gráfico 5 - Recursos movimentados pelo DOE

Soma-se a isto, os pagamentos de suborno realizados pela Braskem, que

também admitiu se envolver em um amplo esquema de corrupção e suborno,

reconhecendo a abrangência de sua conduta. Em sua colaboração, a Braskem

informou que entre 2006 e 2014 realizou o pagamento de aproximadamente US$ 250

milhões por meio do DOE, em propinas a políticos e partidos políticos do Brasil, bem

como a um funcionário da Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras (Petrobras), a estatal

de petróleo do Brasil. Em troca, a Braskem recebeu vários benefícios, incluindo: taxas

preferenciais da Petrobras para a compra de matérias-primas utilizadas pela empresa;

contratos com a Petrobras; e legislação favorável e programas governamentais que

reduziram as obrigações tributárias da empresa no Brasil. Essa conduta resultou em

pagamentos e / ou lucros corruptos, totalizando aproximadamente US$ 465 milhões.

As operações se tornaram tão frequentes e vultosas que a empresa veio a

adquirir um banco nas Antígua, além de usar bancos em Andorra, Ilhas Virgens e

Belize, para auxiliar na movimentação dos recursos entre os diversos países. Para

realização de pagamentos de alto valor no exterior, a empresa contava inclusive com

uma equipe para assessoramento dos favorecidos na abertura de contas corrente em

bancos da Suíça ou outros países, de acordo com os termos de cada negociação.

Como resultado da política de captura do estado pelo alinhamento com o

governo federal e das estruturas desenvolvidas para captação de projetos e recursos,

o Grupo Odebrecht viveu um ciclo de crescimento acelerado ao longo de mais de uma

década. As ações de cooptação e captura presentes no modelo de negócios

Fonte: G1, elaborado com dados do DOJ, em 15/04/2017

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108

desenvolvido ocorriam em paralelo à estrutura formal existente, de modo

independente em termos de gestão, mas integrada com as demais áreas e unidades

da empresa, atuando de forma conjunta, pois a “estrutura paralela” dos negócios

ilícitos necessitava dos serviços e da boa imagem da empresa e de sua estrutura

operacional para a execução e entrega dos projetos negociados.

Neste tipo de ação, a taxa de retorno esperada era extremamente elevada

e atrativa como podemos observar no Quadro 11 – Pagamento de Suborno e Taxas

de Retorno constante do Plea Agreement com base nas investigações e acordo

firmados pela empresa com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Neste, a

taxa variava de 77% na República Dominicana à 694% na Argentina. A média no

Brasil, correspondia a 444%, o que talvez explique o vertiginoso crescimento do grupo,

correspondente à 765% entre os anos de 2003 a 2015, período de governo do Partido

dos Trabalhadores, com Lula e Dilma à frente, como se pode observar na figura 10 -

Evolução de Faturamento.

Gráfico 6 - Evolução do Faturamento do Grupo (2001-2016)

Fonte: Elaborado pelo autor com dados públicos da empresa

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109

A expansão crescente tornou necessária a inclusão de novas empresas ao

esquema de grande corrupção em razão das dimensões e falta de mão de obra

qualificada no país. As grandes empresas – núcleo duro passam a ser gerenciadoras

dos projetos e as menores as executantes. Estabelece-se um ciclo que se

retroalimenta continuamente, de forma a manter as engrenagens girando, com

inclusão de novos projetos, redação de editais e orçamentos pelas empresas e

licitações controladas (Figura 13)

Figura 13 - Ciclo da Grande Corrupção

Fonte: Elaborado pelo autor

D e f in iç ã o dos Proje tos

O rç a m ento +

S obrepre ç o

L ic ita ç ã o C ontrola da

F ina nc ia m ento Public o

Prop ina

E x ec uç ã o

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110

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 O MODELO ESTRATÉGICO

A partir do modelo conceitual aqui proposto e da análise dos dados identificou-se três

Fases, já mencionadas no capítulo anterior, que resumem o processo de sustentação

de uma estratégia dual de negócios. Inicialmente, como já apresentado, a Fase I –

incubação, representa o início do relacionamento entre o ex-presidente Lula e o grupo

Odebrecht, com apoio financeiro ao candidato e discussões sobre as políticas públicas

do pais e ações futuras, A Fase II – Modelagem, está relacionada ao aumento do

relacionamento e suporte do grupo empresarial ao presidente Lula e participação mais

ativa na orientação das políticas públicas, financiamento de campanhas e

estruturação do Departamento de Operações Estruturadas – DOE e finalmente, a

Fase III – Execução que é o momento em que se estabelecem os grandes programas

de investimentos, exportação de serviços pelo BNDES e política industrial, com

intensa participação do grupo Odebrecht, que obteve grandes vantagens junto ao

governo e em contra partida, abastecia os partidos e políticos com recursos ilícitos

provenientes dos atos de corrupção. Ressalta-se que este modelo não representa

obrigatoriamente o adotado e implantado pelo grupo empresarial nas ações que

desenvolveu à margem da legalidade ao longo de 2003-2015.

5

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Figura 14- Fases da Estratégia

Fonte: Elaborado pelo Autor

O desenvolvimento de um modelo estratégico para alcance dos resultados

mediante uso de práticas ilícitas passava pela premissa de perpetuação da empresa

principal através de suas competências e boas práticas mercadológicas e

operacionais e, a criação de um novo modelo direcionado a busca e desenvolvimento

de oportunidades fora do ambiente de negócios regulado e formal, adotando-se

práticas indesejadas ou ilegais.

Levando-se em consideração que o grupo empresarial ancorou grande

parte de suas ações nos projetos de estado, caracterizados pelas obras públicas,

incentivos à exportação de serviços e financiamento público para seu

desenvolvimento, identificamos as seguintes estratégias adotadas pela empresa:

1. Excelência na execução dos serviços e cultura empresarial. Este pilar é de

grande importância na estratégia pois significa a construção de imagem da

empresa, baseada na confiabilidade na execução dos serviços e no

cumprimento das entregas contratadas, visto que os contratantes envolvidos

nas ações ilícitas não poderiam ficar expostos a críticas públicas sobre os

serviços realizados. Em complemento, a cultura empresarial (TEO) implantada

em toda a organização criava uma espécie de amalgama entre a força de

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112

trabalho que cumpria suas atividades da melhor forma e de acordo com as

diretrizes apresentas pela alta direção.

2. Captura do estado, por meio da influência junto as lideranças políticas

brasileiras, em todos os níveis, desde o vereador até os congressistas,

ministros e presidente da república. A Odebrecht tinha força política e contava

com apoio dos líderes do país, em especial do ex-presidente Lula, como dito

em depoimento por Emilio Odebrecht, que atuava como um agente comercial,

abrindo portas para que ela fizesse negócios escusos com governos corruptos

em países pobres. Esta relação promiscua entre estado, políticos e empresa

se desenvolveu de forma tão intensa que o estado foi literalmente capturado

pela Odebrecht, que por sua vez passava a orientar as ações de estado de

acordo com suas demandas, e em troca, compensava aos envolvidos com

parte dos recursos desviados, ocorrendo em modo contínuo.

3. Gestão da Corrupção, por meio da criação de unidade especifica,

denominada Departamento de Operações Estruturadas – DOE, dotada de

planejamento, orçamento e sistema de tecnologia de informação (TI)

separados do existente no restante do grupo, com a finalidade de realizar a

gestão e controle das propinas, incluindo captação e destinação dos recursos

financeiros, dentro e fora da empresa, que incluía banco próprio, imensa rede

de operadores financeiros, empresas falsas, e gestão da propina por meio de

planilhas, codinomes e senhas;

4. Recursos financeiros, por meio de acesso amplo e irrestrito a capital e

financiamento dos bancos públicos brasileiros, como o BNDES, no qual as

empresas do grupo Odebrecht se beneficiaram de 88% de todo o crédito

concedido pelo banco para exportação dos serviços de engenharia entre 2003-

2015;

5. Controle da imprensa, pelo uso de empresas de marketing político, por meio

das quais, marqueteiros brasileiros eram levados a atuar nos negócios da

empresa no Brasil e no exterior por meio de apoio as campanhas políticas ou

desenvolvimento de ações de marketing para cooptação da imprensa local.

Esta prática facilitava os processos de corrupção e uso de mecanismos de

lavagem de dinheiro montados. As operações de lavagem de dinheiro, buscam

atividades subjetivas e de difícil precificação, como é o caso das atividades de

propaganda e marketing.

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113

6. Expansão geográfica, por meio da ampliação das atividades do grupo no

exterior por meio da exportação de serviços patrocinados pelo BNDES e uso

da influência política do ex-presidente Lula, junto à países alinhados

politicamente ou com instituições fracas e sujeitas à corrupção, como Cuba,

Angola, Peru, Honduras, Republica Dominicana, Panamá, e outros, por meio

de investimentos em obras de infraestrutura. O esquema de corrupção e

propina era de conhecimento da empresa e coordenado de forma hierárquica

e estruturada pelos seus executivos, envolvendo desde a presidência do grupo

até os gerentes de contratos, de forma organizada e estruturada, sendo os

subornos pagos por meio de uma complexa estrutura geração de recursos,

transporte e controle no pais e no exterior, envolvendo doleiros, empresas-

fantasma, transações não contabilizadas e contas bancárias em paraísos

fiscais e empresas no exterior, conhecidas como “off-Shore”.

Os seis aspectos suportavam as operações da empresa em todos os países

em que atuou, utilizando-os com maior ou menor ênfase, de acordo com o ambiente

de negócios e maturidade das instituições locais. De certo modo, além da exportação

de serviços por meio das políticas públicas suportadas pelo BNDES, a empresa

também exportou seu modelo de corrupção, no qual o principal ponto de conexão

estava relacionado ao financiamento de campanhas políticas locais, o que a

diferenciava de demais empresas, que tinham por pratica a compra de políticos ou

fraudes em licitações. O financiamento de campanhas, representava um ponto fraco

nas instituições e nos regimes democráticos dos países em que atuava, inclusive o

Brasil. Isto ainda permitia o estabelecimento de um relacionamento de longo prazo

com os políticos envolvidos, que ao passar dos anos ficavam cada vez mais

dependentes do esquema e amarrados à empresa, sendo capturados por esta sob o

risco de comprometerem sua imagem pública em caso de tentativa de romper com o

esquema no qual se envolveram.

Um caso notório, a exemplificar o acima, é o caso do Peru, onde a empresa

atuou por mais de 30 anos e corrompeu seguidamente vários políticos e presidentes

da república, até o estouro do escândalo, que acabou resultando tragicamente no

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suicídio54 em 2018 do ex-presidente Alan Garcia que governou o país por dois

mandatos (1985-1990 e 2006-2011) e que era acusado pelos procuradores peruanos

de ter recebido propinas da Odebrecht decorrentes de obras públicas realizadas pela

empresa e, igualmente, as denúncias se estenderam a outros três ex-presidentes do

país.

5.2 O DUALISMO ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA

Em que pese a cultura organizacional extremamente completa e

amplamente divulgada a todos os integrantes, à partir de 2014, com o andamento das

investigações pelo Ministério Público Federal do Brasil e pela policia Federal

brasileira, foi possível compreender que o discurso e as práticas empresariais

adotadas não condiziam com a filosofia empresarial e imagem pública, sendo possível

observar duas linhas distintas de atuação empresarial; uma adequada aos padrões

da sociedade formal e outro que funcionava em paralelo e voltado à realização de

práticas criminosas.

Nas ações ilegais em que o grupo se envolveu, de forma isolada ou por

meio de associação criminosa, as investigações identificaram a existência de um

padrão nas ações empreendidas e o uso de processos bem definidos e estruturados,

que indicam a adoção de uma estratégia especifica e devidamente pensada, para

alcance dos objetivos pretendidos pela organização na execução de seus planos de

negócios obscuros que se desenvolviam às margens da sociedade legal e em

contraste com os fundamentos éticos, morais e conceituais divulgados por meio da

filosofia empresarial da empresa, uma vez que a empresa estava atuando no mercado

por meio da formação de cartel e associação criminosa com agentes públicos,

estruturas de governo e forças políticas. Curiosamente, nos quatro pilares declarados

da TEO, a palavra ética não se faz presente em nenhum momento, não sendo

destacada como valor da empresa, apesar de constar em algumas citações fora da

mesma.

54 https://oglobo.globo.com/mundo/ex-presidente-do-peru-alan-garcia-se-suicida-apos-

receber-ordem-de-prisao-no-caso-odebrecht-23605329

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Quadro 12 - Modelo de Gestão Oficial e Paralelo

Empresa Formalmente Constituída (Oficial)

Posicionamento no Mercado

Práticas de Gestão Princípios

Imagem pública da empresa Formalizada

• Divulgação de Valores, Cultura e eficiência;

• Reconhecida por sua excelência nos mercados nacional e internacional

• Modelo de Gestão • Estrutura organizada • Responsabilidade Social

Atuação de acordo os pilares da TEO: Princípios fundamentais, Conceitos Essenciais, Critérios Gerais, e Responsabilidade Empresarial

Versus

Face oculta da unidade de Negócios Constituída (Paralela)

Posicionamento no Mercado

Práticas de Gestão Princípios

Unidade de Negócios paralela – “face oculta” (não pública)

• Modelo de Gestão; • Uso da imagem e da estrutura técnico

operacional para conquista de negócios

• Estrutura organizada • Contabilidade paralela - DOE; • Uso de doleiros para remessas ilegais; • Uso de bancos em paraísos fiscais; • Corrupção sistêmica; • Controle da mídia • Captura do estado e seus agentes

públicos • Altas taxas de retorno sobre o capital

investido na corrupção.

Desrespeita os pilares da TEO: Princípios fundamentais, Conceitos Essenciais, Critérios Gerais, e Responsabilidade Empresarial deixando de cumprir com; • Retidão e caráter dos

integrantes; • Geração de riquezas para o

governo e sociedade, • O respeito ao meio ambiente

nas ações empresariais.

Fonte: Elaborado pelo autor

5.3 FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O AMBIENTE DE CORRUPÇÃO

Dentre os fatores que contribuíram para o ambiente de corrupção no Brasil,

temos as ações empreendidas pelo partido dos Trabalhadores – PT e seus líderes,

na busca da hegemonia política por meio do fortalecimento econômico do partido pelo

desvio de recursos públicos.

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Relevante recordar que o governo Lula iniciado em 2003 não possuía base

política de apoio suficiente a aprovação dos projetos de governo assim, fazendo com

que o governo recém empossado buscasse alternativas para aumento de sua base,

pela atração de políticos e partidos e, isto ocorreu por meio da distribuição de cargos

públicos nas empresas e instituições públicas aos diversos partidos em troca de apoio

em condição que perdurou até a descoberta do escândalo do mensalão.

Além dos projetos nacionais de infraestrutura, o governo estava

determinado a desenvolver a política de campeões nacionais em diversas áreas como

a telefonia, agronegócio, setor naval, óleo & gás e serviços de engenharia e

construção, com investimentos intensos do BNDES e participação dos fundos de

pensão das estatais em consórcios de obras públicas com empresas privadas,

financiamento de projetos de expansão de grupos empresariais e também pela

exportação dos serviços destas empresas para países parceiros e alinhados com a

política externa do governo.

O conjunto de ações e pacotes de investimentos anunciados deram

dinamismo à economia e fizeram com que o país vivesse momentos de euforia, e se

acreditasse que a condição de economia forte e pleno emprego se perpetuaria por

muitos anos. Esta percepção era fruto de grandes investimentos em propaganda

oficial pelo governo federal, que anunciava a expectativa de que em pouco tempo

estaríamos entre as 05 maiores economias do mundo, conforme discurso oficial do

poder executivo, apoiado em uma conjunto de acontecimentos que combinados entre

si, desenhavam um cenário de muitas oportunidades para todos os segmentos de

serviços do país, de tal monta, que haviam projeções de falta de recursos para atender

a todas as demandas apresentadas.

Entre os acontecimentos especiais, estava o setor de Óleo e Gás que se

destacou pelo anúncio de gigantescas reservas de petróleo na faixa do Pré-Sal55, que

projetavam o país como um dos maiores produtores de petróleo do mundo em poucos

anos, e para isto, havia necessidade de desenvolvimento de infraestrutura capaz de

atender aos volumes de produção projetados e o aumento das riquezas do pais. O

55 Disponível em

http://www.petrobras.com.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A15839842B3B5F60142C446D76437CB (acessado em Junho-2019)

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estudo “Panoramas Setoriais 2030” apresentado pelo BNDES em 201756, destacava

os principais projetos de O&G para o país como, a construção de portos, navios,

sondas de exploração, plataformas, refinarias, dutos e demais utilidades. Some-se a

isto, os eventos da Copa do Mundo de Futebol de 201457 e os jogos Olímpicos de

201658 que requeriam obras de estádios e mobilidade em diversos estados brasileiros

e obras de infraestrutura como construção de barragens, metrô, ferrovias, aeroportos

e outras utilidades públicas.

5.3.1 REGIME DE CONTRATAÇÃO

Diversas medidas tributárias e administrativas que facilitaram a

implementação dos projetos, em especial, com redução das estruturas de fiscalização

e controle e criação do Regime Diferenciado de Contratação – RDC representado pela

Lei nº 12.462/201159 que simplificava os processos de contratação de obras públicas.

O governo também buscou o fortalecimento político por meio do presidencialismo de

coalizão, que acolhia diversos partidos na base do governo e os favorecia com

distribuição de cargos em estatais e autarquias, além de acolhimento de projetos

regionais, o que dava sustentação ao governo e seus projetos.

5.3.2 USO DE POLÍTICAS INDUSTRIAIS

Conhecidas como “campeãs nacionais”60 as empresas escolhidas para fazer

parte desta política de governo, hoje sabemos, estavam profundamente

comprometidas com obrigações de suportar e atender a base política por meio de

56 Disponível em

https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/14243/2/Panoramas%20Setoriais%202030%20-%20Petr%C3%B3leo%20e%20G%C3%A1s_P.pdf

57 Ver mais em http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/tire-suas-duvidas-sobre-os-investimentos-do-pais-para-

a-copa

58 Ver mais em http://www.brasil2016.gov.br/pt-br/pais-sede/investimentos-federais

59 Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12462compilado.htm

(acessado em Junho-2019)

60 Saiba mais em https://www.insper.edu.br/noticias/os-campeoes-nacionais-deram-certo/

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repasse de recursos para os partidos de das bases de apoio e suas campanhas

políticas. Esta política de privilégios às grandes empresas tinha como objetivo criar

empresas fortes e mundialmente competitivas em vários setores da economia: de

empreiteiras a telefônicas, passando por frigoríficos, empresa de alimentos, de

laticínios e de celulose.

5.3.3 IMPRENSA

Segundo Emilio Odebrecht61 em seu depoimento aos procuradores em abril de

2017, “a imprensa sabia de tudo e agora fica esta demagogia”, ou seja, sabiam o que

estava ocorrendo no Brasil e eram coniventes com isto. Conclui-se, portanto, que a

mesma abdicou de seu papel fundamental de fiscalização e questionamento ao

governo, como se espera de uma mídia independente e plural, em pró da sociedade.

Em democracias consolidadas, a mídia independente representa a força da

sociedade, como sua representante, realizando o trabalho de supervisão dos atos dos

poderes constituídos e dando voz à sociedade para apresentação de suas demandas.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE, a Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Continua 201762, no Brasil,

especificamente, a mídia tem uma influência notável sobre como os cidadãos veem a

política.

De acordo com o estudo, 89% dos entrevistados relataram que consideravam

a televisão sua principal fonte de informação para eventos políticos e cuja liderança

isolada com 73% segundo o IBOPE (2016) pertence a Rede Globo, que possui

presença em todo o território nacional, sendo assistida por mais de 100 milhões de

61 Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=gnOimxs5hzc

62 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-

noticias/releases/23445-pnad-continua-tic-2017-internet-chega-a-tres-em-cada-quatro-domicilios-do-pais

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119

5.4 CAPTURA DO ESTADO

De acordo com relatório emitido pela Transparência Internacional e entrevista63

com seu diretor-executivo no Brasil, a construtora Odebrecht criou uma espécie de

“fordismo da corrupção”, tamanha sua profissionalização, e apresenta algumas

semelhanças com outros cinco casos de grande corrupção no mundo – envolvem

autoridades locais de alto escalão, São quatro características em comum: envolvem

autoridades locais de alto escalão; envolvem o alto comando da empresa, não se

tratando de um comportamento isolado de um funcionário; em geral, são crimes de

altíssimo impacto social que levam à violação de direitos básicos; e são crimes que

distorcem a livre iniciativa e a concorrência no ambiente de negócios. No entanto, o

caso Odebrecht, se destaca dos demais apesar de compartilhar várias características,

pois tem aspectos muito próprios, nunca vistos conforme observado pelo entrevistado;

“Ela tinha uma metodologia geral aplicada em todos os casos. É quase um fordismo da

corrupção, uma linha de produção com métodos muito bem delineados. É o caso de

corrupção mais bem organizado já desvendado na história do capitalismo”

(Bruno Brandão, 2018)

Os atos praticados pelas organizações criminosas que se associaram no

intuito de se locupletarem dos recursos públicos e do poder, não é um mal exclusivo

ou próprio apenas do Brasil, mas um mal que aflige praticamente todos os países do

mundo em maior ou menor grau, variando a intensidade de acordo com o grau de

maturidade e governança das instituições públicas de cada país. Este problema tem

sido registrado em diversos países pelo mundo de forma semelhante ou com algumas

variações, mas sempre de modo intenso. Registraram-se escândalos de corrupção

em grandes e “respeitáveis” organizações como Enron, WorldCom, Siemens, Alstom,

Parmalat e Volkswagen dentre outras, empresas líderes em seus países como

Estados Unidos, Alemanha, França e Itália e que detêm sólidos padrões institucionais

e de governança.

63 Disponível em https://exame.abril.com.br/negocios/corrupcao-na-odebrecht-foi-a-mais-organizada-

da-historia-do-capitalismo/

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As investigações realizadas demonstraram a existência de uma relação de

interdependência entre o estado brasileiro e as empresas escolhidas para atuarem

em conjunto na geração de recursos aos partidos políticos e agentes públicos, por

meio de desvio do dinheiro público em operações fraudulentas e ilícitas. Isto

corrobora o entendimento das práticas de “captura do estado” e do capitalismo de

laços firmado entre o grupo Odebrecht e o estado brasileiro na aparente substituição

do meio de pagamento de recursos ilícitos ao esquema de cooptação política

desenvolvido pelo governo do presidente Lula por meio de pagamentos ilícitos aos

políticos da base de apoio no congresso, conforme esquema revelado pelo escândalo

do mensalão em 2006.

A captura do estado, é representada pela força da empresa em agir e pautar

as ações de governo propondo pautas, políticas públicas e criação de leis especificas

ou emendas à legislação. Esta relação simbiótica é fruto da associação criminosa que

se estabeleceu entre os governantes e a empresa, que detinha forte influência e amplo

conhecimento sobre todas as ações de governo e em razão disto, se locupletava por

meio da obtenção de benefícios e informações privilegiadas concedidos

especialmente à esta e em detrimento à concorrência.

Esta relação inadequada, fica evidenciada em declaração emitida (Anexo L,

Quadro7) e no depoimento prestado por Emilio Odebrecht em abril de 201764, ao MPF

e ao juiz da Lava-Jato em uma das ações em que era investigada a relação de um ex-

ministro da Fazenda do governo Lula – Antônio Palocci com a empresa e a prática de

lobby e corrupção. Em parte dos diálogos do depoimento abaixo transcrito, observa-

se a interferência da empresa na agenda pública do país, sob o pretexto de colaborar

com soluções para os problemas do país;

MPF: Sobre o relacionamento do seu filho, Marcelo Odebrecht, com o senhor Antônio Palocci, o senhor tem conhecimento? Emílio: Eu sei que se conheciam, conversavam, tinham um diálogo, talvez até com mais frequência do que comigo mesmo. MPF: E o senhor sabe se nessas conversas o senhor Marcelo Odebrecht também levava pleitos da empresa, discutia interesses da empresa com o sr. Antônio Palocci? Emílio: Saber eu não posso afirmar, mas eu deduzo que sim. Eu sempre orientei a todos executivos na Organização a nunca levaram apenas aquilo que eram os problemas da Organização, e sim aquilo que eram soluções para os problemas do país. Essa sempre foi uma preocupação. (grifo do autor)

64 Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=fvdmTEH6g00

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MPF: (Interrompe) O que que o senhor chama de soluções para os problemas do país?) Emílio: (Seguiu) … Era ênfase na agenda de todos os executivos, inclusive as do Marcelo. MPF: Eu não entendi quando o senhor fala que os executivos tinham que levar soluções dos problemas do país para as autoridades, o que o senhor quer dizer com isso? Emílio: Todo país tem seus problemas e muitos cidadãos e empresas têm o dever de dar suas contribuições de como solucionar suas carências, suas dificuldades. Sem dúvida nenhuma. O processo educacional, como resolver este problema no país? Sempre foi uma preocupação. Nós fomos o responsável por contribuir com o Congresso, inclusive, em várias políticas públicas. Por exemplo, a lei de concessão, nós éramos uma das empresas que trabalhou no exterior, nos Estados Unidos. Era a que mais tinha informações capazes de trazer contribuições nesse sentido. MPF: (Interrompe) E o senhor opinava na Lei de Concessões? E nesses casos o senhor opinava, os seus executivos eram orientados a levar essas orientações para o sr. Antônio Palocci? Emílio: Os executivos não eram orientados a levar para ninguém. Eles eram orientados em construir suas agendas de diálogo com as autoridades, levando contribuições daquilo que é importante para o país. E não levar egoisticamente apenas os seus interesses. MPF: E nesse momento, eram também apresentadas a empresa Odebrecht para solucionar estes problemas do país? Emílio: Eu não saberia dizer, sinceramente, eu sei que eles dialogavam. Agora, o que eles dialogavam, os executivos da Organização com as autoridades brasileiras, eu lhe confesso que o teor dessas agendas eu não conhecia. Agora, eu tenho certeza que eles levavam contribuições para as carências dos problemas brasileiros. Isso eu tenho certeza. MPF: E quando havia alguma questão de interesse da empresa, isso também era levado? Emílio: Claro! Acho que seria algo irreal um empresário ter um encontro com uma autoridade que ele não leve seus problemas também como empresários, sem dúvida nenhuma.

Com o avanço das investigações baseadas nas delações premiadas dos

executivos do grupo Odebrecht e seus desdobramentos, a cada fase, novas

informações são conhecidas se confirma o entendimento da ocorrência da “captura

do estado” pelo grupo, que atuava em todas as frentes de seu interesse e promovia

ações diretas de influência sobre os governantes do país, no congresso, ministérios,

nas autarquias, e empresas públicas.

De modo a exemplificar a associação existente entre estado e o grupo

empresarial, destacam-se alguns eventos onde esta relação fica mais evidente, com

a empresa atuando em todas as frentes de seu interesse, mesmo quando não

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integrava seu portfólio de negócios, como foram os casos da construção do submarino

nuclear em que foi diretamente escolhida sem a realização de concorrência pública e

sem que houvesse experiencia na área, das usinas de etanol no Brasil e em Cuba,

das sondas de perfuração de petróleo, da construção de navios (sem que tivesse um

estaleiro), das concessões do aeroporto do Galeão e do Maracanã, e dos contratos

de compra de nafta da Petrobras à preços abaixo do mercado, dentre outros casos

duvidosos ao longo dos 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores.

De igual forma, esta prática de captura do estado, pela qual executivos do grupo

levavam demandas do grupo e apresentavam sugestões de pautas públicas, veio a

ocorrer em outros países em que a empresa realizou negócios. Esta relação política

forte com o estado, era proveniente em grande parte, da doação de dinheiro para

campanhas políticas ou propina dada diretamente aos políticos e mandatários dos

países, em troca de contratos e benefícios à empresa, conforme apurado nas

investigações e nas conclusões do acordo de delação premiada firmado com o

departamento de Justiça dos EUA (Plea Agreemment), que incluía as operações da

empresa em países como Venezuela, Panamá, Colômbia, Peru, Argentina, Equador,

Republica Dominicana, Guatemala, México, Moçambique, Angola, El Salvador e

Cuba.

5.5 A ACEITAÇÃO DA CORRUPÇÃO NAS EMPRESAS

Grandes empresas possuem sistemas de controle e contabilidade alinhados

com os processos de gestão da empresa, contando com práticas adequadas e

passiveis de auditoria. Por outro lado, para realização de práticas rotineiras de

movimentação de recursos financeiros e pagamentos à agentes públicos, fazem-se

necessários controles específicos e uma estrutura paralela não contabilizada. A

viabilização de uma área operacional com esta finalidade, passa pela formação de

equipes especializadas e fortemente comprometidas com a empresa contratante.

Mesmo que paralelas, as operações, sejam legais ou não, exigem criatividade e uma

estrutura bem definida e organizada para que possam ser realizados os controle e

tarefas, sem que sejam geradas evidências contra a própria empresa. Partindo desta

premissa, algumas empresas em função do número projetos e de envolvidos, tiveram

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um elevado número operações voltadas à lavagem de dinheiro e distribuição de

propinas, acarretando a necessidade de estruturação de uma área específica dotada

de profissionais qualificados e alta tecnologia para atender as diversas demandas

provenientes do Brasil e do exterior.

Para isto, à exemplo da Odebrecht que criou a Divisão de Operações

Estruturadas, onde eram controlados todos os pagamentos realizados, origem dos

recursos e destinatários, bem como, o balanço das contas com os débitos e créditos

a receber. É de se estranhar que uma área específica e com práticas ilegais tenha

sobrevivido por tanto tempo e contado com o silencio e conivência de tantos

funcionários em várias partes do mundo. Segundo Manz et al (2005), uma

característica notável e perturbadora de muitos casos de corrupção é que eles não

resultaram de ações individualizadas, mas os atos exigiam geralmente a cooperação

de numerosos colaboradores, que geralmente participavam de atividades que

obviamente eram antéticas.

Os colaboradores geralmente são movidos a desafios e constantemente

doutrinados para darem o melhor de si na busca ao atendimento das metas das

empresas em que trabalham. Isto faz com que questões morais sejam relativizadas e

até desconsideradas quando do cumprimento de atos ilícitos. Ainda segundo Manz et

al (2005), o que ocorre é um processo de negação, uma tática de racionalização na

qual os indivíduos se convencem de que estão participando de atos corruptos por

causa das circunstâncias, ou seja, eles não têm uma escolha real. Por outro lado,

quando descobertos, os colaboradores custam a aceitar que estivessem praticando

atos criminosos e passiveis de reprovação, afinal deram o melhor de si pela empresa.

Para uma outra análise, de acordo com Maitlis e Christianson (2014),

Sensemaking é o processo por meio do qual as pessoas trabalham para compreender

questões ou eventos que são novos, ambíguos, confusos ou de alguma outra forma,

violam as expectativas. Na maioria das instâncias, os atos corrupção e suborno

também revelam distorções graves na sociedade e seus membros, e do senso comum

de probidade e respeito às leis, ao contar com a cooperação de inúmeros funcionários

que eram membros da comunidade, com vida social regular, bem diferentes da

imagem prototípica de um criminoso e que, muitas vezes, não se favoreciam

financeiramente dos esquemas. O envolvimento de centenas de indivíduos em atos

ilegais, e a persistência dos atos ao longo do tempo, é tanto perturbadora quanto

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intrigante, pois ao participarem de forma passiva ou ativa de atos de corrupção e

complexos esquemas de fraudes e desvios de recursos públicos promovidos pela

simbiose entre o estado e as organizações empresariais, perdem a noção de seus

atos e atuam de forma coordenada, como parte de uma missão de trabalho na

empresa a qual pertencem, o que vai de encontro às políticas de ética e governança

divulgadas aos colaboradores e ao mercado.

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125

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil durante os governos Lula e Dilma, viveu um período de euforia

pelo aquecimento da economia e pela força política dos mandatários em razão da

forte base aliada que dispunham. Havia também, grande sensação de impunidade

dos políticos e agentes públicos, decorrentes das poucas condenações e da não

continuidade das investigações de escândalos anteriores, como a Operação Castelo

de Areia65 que foi subitamente cancelada pela justiça e do caso do Mensalão66 que

resultou em poucas condenações aos envolvidos ou punições brandas. Isto reforçava

a sensação de impunidade aos responsáveis pelas práticas de corrupção e suborno,

e como resultado, aumentava a ousadia dos políticos, executivos e empresas

envolvidas nos esquemas.

A prisão do diretor de Engenharia da Petrobras, maior empresa pública do

país, assustou o mercado e desencadeou diversas investigações devido a

identificação do envolvimento de doleiros com executivos em posições estratégicas

na Petrobras. As investigações tiveram rápida evolução e se desmembraram em

fases, instaura-se no Brasil uma grave crise política e quase institucional, que se

mantem até os dias atuais, pela contínua revelação de detalhes do enorme esquema

de corrupção envolvendo todos os níveis do poder executivo (Federal, Estadual e

Municipal), Legislativo e suspeita-se, também do Judiciário.

Em 2015, a Polícia Federal prendeu o então presidente da construtora, Marcelo

Odebrecht. Dezenas de executivos e ex-executivo da empresa assinaram os acordos

de delação, confessando os atos de corrupção. Foi a maior colaboração premiada do

mundo. Até agora, a companhia se comprometeu a pagar 2,6 bilhões de dólares em

65 Saiba mais em https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/09/1915331-justica-manda-destruir-as-

provas-da-operacao-castelo-de-areia.shtml (acessada em Jun-2019)

66 Saiba mais em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2212200605.htm

6

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multas, mais 632 milhões de dólares da Braskem, subsidiária da Odebrecht que atua

no setor petroquímico.

O escândalo de grande corrupção, passou a ser considerado um dos

maiores do mundo pelo The Guardian em sua edição de junho de 201767, ficando clara

a participação dos altos mandatários da nação, por meio da participação em decisões

e ações promovidas pelo poder executivo, que ajudavam a promover de forma

coordenada e intencional, o ambiente favorável à ocorrência dos crimes e desvios do

dinheiro público, seja em favorecimento de partidos políticos e seus agentes ou da

iniciativa privada. As ações criminosas permearam por meio das empresas estatais,

investimentos públicos de infraestrutura, e nas esferas de poder representados pelo

congresso e casa civil onde eram negociadas emendas constitucionais e benefícios

fiscais, revelados nos depoimentos obtidos por meio dos acordos de colaboração

premiada com os envolvidos.

As investigações resultaram em condenação do ex-presidente Lula a 12

anos de prisão conforme sentença68 proferida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª

Região (Anexo G, Quadro 07), com cumprimento da sentença em regime fechado.

Além disto, houve a condenação de diversos políticos, do presidente da Câmara

Federal e de executivos de empresas privadas. Prosseguem ainda as investigações

de outras fases investigativas e do envolvimento de ministros de governo, e dos

últimos presidentes do Brasil, Dilma Rousseff e Michel Temer.

Nada disto no entanto, seria possível no entanto, sem a força de um grande

grupo empresarial como a Odebrecht, dotado de uma força de trabalho reconhecida

por sua capacidade e dedicação ao grupo, que diante da oportunidade de associação

ao governo do Partido dos Trabalhadores, entendeu equivocadamente, ser esta uma

grande oportunidade de crescer e diversificar.

Certamente, muitas surpresas ainda virão e que este estudo não se encerra

aqui, pois as investigações e desdobramentos continuam diuturnamente e uma nova

67 Ver https://www.theguardian.com/world/2017/jun/01/brazil-operation-car-wash-is-this-the-biggest-

corruption-scandal-in-history (acessado Junho-2019)

68 Ver mais em https://www.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=noticia_visualizar&id_noticia=13418

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política de governo começa a ser implantada com a promessa de combate à corrupção

e a negação das práticas do presidencialismo de coalizão que deterioravam o

ambiente político e propiciavam a corrupção.

Ao fim, como a grande maioria dos brasileiros, devo confessar minha

tristeza pela crise ocorrido no Grupo Odebrecht que apesar de seus erros, era

inegavelmente um dos melhores e maiores grupos de engenharia do mundo e uma

grande escola para muitos brasileiros que por lá passaram. Como dizia Ackerman,

“o ambiente político e seus atores, também estão sujeitos as pressões e

interesses difusos para o atendimento de demandas partidárias e particulares dos

políticos que necessitam do apoio e financiamento de suas campanhas para

continuarem em cena”,

Em resposta aos escândalos de corrupção e suborno, iniciativas de

combate à corrupção foram tomadas em diversos países, de forma coordenada ou

isolada ao longo dos últimos anos, sendo as iniciativas monitoradas por organismos

como o Banco Mundial por meio da publicação de diretrizes69, a organização não

governamental Transparência Internacional que monitora diversos países e que em

sua última publicação do Índice de Percepção da Corrupção70 (2018), colocou o Brasil

na 105ª posição entre 180 países e a Organização das Nações Unidas – ONU por

meio da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, que entrou em vigor em

29 de setembro de 2003, sob responsabilidade e fiscalização do Escritório contra

Drogas e Crimes – UNODC, da qual o Brasil é um dos países signatários, e cuja

finalidade da Convenção é definida em seu artigo primeiro como;

a) Promover e fortalecer as medidas para prevenir e combater mais eficaz e

eficientemente a corrupção;

b) Promover, facilitar e apoiar a cooperação internacional e a assistência técnica

na prevenção e na luta contra a corrupção, incluída a recuperação de ativos;

69 Disponível em https://www.worldbank.org/pt/country/brazil/brief/guidelines-preventing-combating-

fraud-corruption-program-for-results-financing (acessado Junho-2019)

70 Disponível em https://ipc2018.transparenciainternacional.org.br/#ipc-2018 (acessado em Jun-2019)

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c) Promover a integridade, a obrigação de render contas e a devida gestão dos

assuntos e dos bens públicos

Dentre outras iniciativas estão o fortalecimento das regras de compliance,

como as de contabilidade previstas na Lei Sarbanes-Oxley, aprovada em 2002 nos

Estados Unidos para melhorar as demonstrações contábeis e o combate à corrupção

internacional. Sarbanes-Oxley Act estipula uma penalidade máxima para declarações

financeiras falsas de 20 anos de prisão, e sua a aplicação foi intensificada e exige às

empresas públicas ou privadas a divulgar em relatórios periódicos, se eles adotaram

um código de ética para executivos financeiros seniores; caso não tenham adotado, é

necessário explicar por que não ocorreu. O Brasil assim como outros países é

signatário deste acordo71 e de diversas outras iniciativas envolvendo transparência

entre as operações financeiras bancárias e acordos internacionais de troca de

informações entre as instituições dos países participantes.

Nos cabe, portanto, como pesquisadores, continuar a estudar

acontecimentos como estes que deturpam o ambiente sadio dos negócios e buscar

contribuir com a reflexão de nosso trabalho para uma sociedade mais justa e

igualitária, dentro da ordem institucional para progresso do país e sociedade.

Neste sentido, acreditamos que o primeiro passo foi dado, pela carta aberta

à sociedade, por meio da qual o Grupo Odebrecht assume seus erros e pede

desculpas, prometendo se readequar as boas práticas de gestão e compliance com

a determinação de mudanças em um compromisso da organização para com o futuro,

conforme abaixo transcrevemos;

Desculpe, a Odebrecht errou – 01.12.2016

A Odebrecht reconhece que participou de práticas impróprias em sua atividade

empresarial.

71 Mais informações em

https://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?inline=1&fileId=8A8182A24D7BC0B4014D7E2E18084B0F

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Não importa se cedemos a pressões externas. Tampouco se há vícios que precisam ser

combatidos ou corrigidos no relacionamento entre empresas privadas e o setor público.

O que mais importa é que reconhecemos nosso envolvimento, fomos coniventes com tais

práticas e não as combatemos como deveríamos.

Foi um grande erro, uma violação dos nossos próprios princípios, uma agressão a valores

consagrados de honestidade e ética.

Não admitiremos que isso se repita.

Por isso, a Odebrecht pede desculpas, inclusive por não ter tomado antes esta iniciativa.

Com a capacidade de gestão e entrega da Odebrecht, reconhecida pelos clientes, a

competência e comprometimento dos nossos profissionais e a qualidade dos nossos

produtos e serviços, definitivamente, não precisávamos ter cometido esses desvios.

A Odebrecht aprendeu várias lições com os seus erros. E está evoluindo.

Estamos comprometidos, por convicção, a virar essa página.

Compromisso com o Futuro

O Compromisso Odebrecht para uma atuação Ética, Íntegra e Transparente já está em

vigor e será praticado de forma natural, convicta, responsável e irrestrita em todas as

empresas da Odebrecht, sem exceções nem flexibilizações.

Não seremos complacentes.

Este Compromisso é uma demonstração da nossa determinação de mudança:

1. Combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas, inclusive extorsão e

suborno.

2. Dizer não, com firmeza e determinação, a oportunidades de negócio que conflitem

com este Compromisso.

3. Adotar princípios éticos, íntegros e transparentes no relacionamento com agentes

públicos e privados.

4. Jamais invocar condições culturais ou usuais do mercado como justificativa para ações

indevidas.

5. Assegurar transparência nas informações sobre a Odebrecht, que devem ser precisas,

abrangentes e acessíveis e divulgadas de forma regular.

6. Ter consciência de que desvios de conduta, sejam por ação, omissão ou complacência,

agridem a sociedade, ferem as leis e destroem a imagem e a reputação de toda a

Odebrecht.

7. Garantir na Odebrecht, e em toda a cadeia de valor dos Negócios, a prática do Sistema

de Conformidade, sempre atualizado com as melhores referências.

8. Contribuir individual e coletivamente para mudanças necessárias nos mercados e nos

ambientes onde possa haver indução a desvios de conduta.

9. Incorporar nos Programas de Ação dos Integrantes avaliação de desempenho no

cumprimento do Sistema de Conformidade.

10.Ter convicção de que este Compromisso nos manterá no rumo da Sobrevivência, do

Crescimento e da Perpetuidade.

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130

A sociedade quer elevar a qualidade das relações entre o poder público e as empresas

privadas.

Nós queremos participar dessa ação, junto com outros setores, e mudar as práticas até

então vigentes na relação público-privada, que são de conhecimento generalizado.

Apoiamos os que defendem mudanças estruturantes que levem governos e empresas a

seguir, rigorosamente, padrões éticos e democráticos.

É o nosso Compromisso com o futuro.

É o caminho que escolhemos para voltar a merecer a sua confiança

6.1 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Esta pesquisa apesar de contar com grande quantidade de material já

disponibilizado pela justiça sobre as investigações realizadas, apresenta algumas

limitações relacionadas à atualização dos dados e dos fatos investigados devido as

operações de investigações continuarem em andamento e os dados apresentados

nesta pesquisa refletem as informações disponíveis até junho de 2019.

Esta pesquisa teve ainda de se limitar as questões relacionadas à visão macro

da estratégia do grupo, sem entrar em particularidades dos projetos e das empresas

ou áreas afetadas pela corrupção sistêmica que existia no Brasil. Existe ciência do

grande impacto sobre a Petrobras por ter sido a primeira grande estatal identificada

pelas investigações, mas outras estatais dos sistemas elétrico, nuclear, portos,

transportes e outros, certamente foram tanto ou mais afetadas e novas frentes estão

se abrindo, sobre o sistema financeiro e judiciário, isto no entanto, deverá ser motivo

de investigação e pesquisas futuras.

Atualmente a Operação Lava Jato atingiu o número de 61 operações realizadas

entre os anos de 2014 e 2019, como se aprecia no gráfico a seguir.

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131

Gráfico 7 - Operações da Lava Jato

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da Polícia Federal

As previsões mais otimistas são de que a Operação Lava Jato detém

informações e materiais para investigação por cerca de dois anos ainda. Uma das

novas linhas de investigação está relacionada à delação premiada de Antônio

Palocci72 (Anexo K, Quadro 6), ex-ministro de Lula, que expos os acordos e facilidades

concedidas à Odebrecht em troca de recursos para o PT, em especial pelo BNDES,

mas cujos detalhes da delação premiada firmada, ainda se encontram sob sigilo.

A conclusão deste trabalho se torna mais próxima visa promover o

questionamento e até a indignação pelos fatos ocorridos e em andamento e, para isto,

reproduzo aqui um discurso do ex juiz Federal Sérgio Moro, de Curitiba-PR, que se

empenhou nos últimos quatro anos no combate à corrupção e julgamento dos

envolvidos e que agora, como Ministro da Justiça do Brasil, persegue um novo

objetivo, que é fazer do Brasil um pais mais justo e seguro para todos os brasileiros.

72 MPF, Ministério Público Federal, http://www.mpf.mp.br/pr/sala-de-imprensa/docs/

denunciaPALOCCI.pdf

2 0 1 4 2 0 1 5 2 0 1 6 2 0 1 7 2 0 1 8 2 0 1 90

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

O p e r a ç õ e s d a L a v a Ja t o a o l o n g o d o T e m p o

An o Ac u m u lad o

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TRANSCRIÇÃO Discurso do Ministro Sérgio Moro no Confederação Nacional dos Municípios ocorrida em Brasília - DF em 10.04.2019.

Vídeo em https://youtu.be/pCBI273LM1M

“Boa tarde a todos, muito rapidamente eu quero aqui cumprimentar o Presidente da

Confederação Nacional dos Municípios (...),

“A sociedade brasileira também os últimos anos demonstrou uma mudança em exigir

mais dos administradores e administradoras públicas um padrão de probe..(sic), probidade,

perdão, na condução da coisa pública, ou seja, uma evolução muito significativa, que todos

sejam exemplos para a população. É, um pouco sobre os acontecimentos dos últimos anos

para deixar claro que, controle e punição a corrupção, não impacta vamos dizer, a gestão, muito

pelo contrário, caso revelado na operação lava jato envolvendo a Petrobras. Agora não sou

mais juiz do processo, tenho um pouco mais liberdade para falar, mais em síntese a história é

conhecida.

Pagamento sistemático de subornos em contratos da Petrobras para agentes da

própria estatal, diretores notadamente, também o CEO, também os gerentes, também alguns

empregados e parte desses valores, desses subornos, divididos com agentes políticos e

partidos políticos que, eram responsáveis pela nomeação e permanência desses agentes da

Petrobras na estatal. O que se verificava nesses casos, e foram vários casos o significado de

todos eles, é que o pagamento de suborno não só elevava os custos dos contratos, e que

minava os recursos disponíveis da Petrobras, mas que levavam os gestores a tomarem

decisões ineficientes do ponto da gestão da empresa.

Ou seja, ao invés dos gestores tomarem a decisão ótima, do ponto de vista da eficiência

Econômica da empresa, tomavam muitas vezes as piores decisões porque o interesse era

gerar oportunidades de fazer caixa, e não propriamente de fazer bons negócios. Para ficar em

alguns exemplos Petrobras adquiriu por mais ou menos 30 a 40 milhões de dólares, direito de

exploração de um campo de petróleo em Benin. Não há nada de errado em fazer investimento

desta espécie em um campo de petróleo da África. Ocorre que como foi revelado pela

investigação e pelos processos inclusive já julgados, a empresa vendedora pagou mais ou

menos cinco milhões de dólares ao gerente responsável pela condução do negócio na

Petrobras. Por outro lado, também pagou o valor menor, mas também significativo de mais de

um milhão de dólares a um parlamentar Federal que mantinha ligações com aquele setor da

empresa. O resultado; a Petrobras compra aquela área explora aquela área e não encontra

nada, um campo seco, poço seco. Isso é algo possível dentro da exploração do petróleo, não

é um resultado necessariamente de má-fé, mas o que foi verificado é que mediante o

pagamento da propina, o gerente da Petrobras relaxou os processos de avaliação daquele ativo

que estava sendo adquirido pela empresa.

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133

Um outro exemplo, apenas aqui ilustrativo, ainda se ouve, cada vez menos, alguns

defendendo que a corrupção pode ser uma graxa para funcionar as engrenagens da máquina

pública, quando na verdade nós sabemos que na verdade ela é areia, apenas emperra e

compromete esse funcionamento. Caso famoso, Petrobras adquiriu uma refinaria de Petróleo

em Pasadena nos Estado Unidos. Também nada errado em realizar um investimento na

aquisição de uma refinaria de petróleo pra, vamos dizer assim, produzir óleo de maior valor

agregado, isto é importante para o Brasil. Ocorre que as investigações dos processos revelam

que, a empresa vendedora da refinaria, vendeu lá 50% no primeiro momento a Petrobras,

pagou comissões não só a gerentes da Petrobras responsáveis pelo negócio e diretores, mas

igualmente também direcionou comissões aos próprios agentes da empresa vendedora,

responsáveis pelo negócio. Da mesma forma, para que fossem flexibilizados os padrões de

controle daqueles ativos. É uma refinaria que não estava em boas condições e chamada de

ruivinha, a ilustrar um processo avançado de ferrugem nas engrenagens daquela refinaria,

resultado, a Petrobras fez mais um mau negócio. Vendeu mais recentemente a Refinaria que

acabou tendo que comprar por completo, por preço muito inferior ao que ela pagou a mais de

15 anos atrás, e, apesar de todos os investimentos realizados para melhoria daquele ativo.

O que foi descoberto e que nos chamou muita atenção é que em grande parte, a

compra da refinaria velha tinha sido motivada pelo desejo de num segundo momento contratar

uma revisão daquela refinaria, chamam lá de revamp, que esse contrato de revisão da refinaria

geraria novas oportunidades para pagamento de subornos aos envolvidos. Ou seja, então, se

compra uma refinaria deliberadamente velha por um preço superior ao que ela vale pensando-

se ainda, em propinas que vão se ganhar num segundo momento, na revisão daquela refinaria.

Bem só vou ficar com estes dois exemplos. O que as investigações revelaram nos últimos

cinco anos é que a corrupção era grave, que a corrupção era sistêmica e houve uma mudança,

muito pela pressão da população, muito por uma mudança de comportamento institucional do

Ministério Público, da polícia e das cortes Justiça, várias destas pessoas responsáveis por

esses grandes crimes de corrupção foram responsabilizadas perante as cortes de Justiça. Se

eventualmente há, como acredito que há, exageros em ações de improbidade como foram ditas

pelos anteriores expositores, aqui não houve nenhum exagero, aqui houve simplesmente o

império da lei, em responsabilizar as pessoas pelos maus feitos que haviam cometidos, em

julgamentos abertos, observando sempre o devido processo. Isso joga uma responsabilidade

muito grande, perante os demais gestores, talvez até alguns excessos pontuais. Eu não gosto

de generalizar, não podemos generalizar, mas talvez alguns exageros pontuais de alguns

membros dos órgãos de controle, seja um pouco decorrente dessa percepção de que a

corrupção embora localizada, tenha essa gravidade dentro do Brasil. Aliada a uma percepção

de que em regra, essa grande corrupção segue impune, e eventualmente aquele órgão de

controle que não tem condições institucionais de agir de uma maneira, vamos dizer, segura e

forte em relação ao grande corruptor, acaba exagerando ao se vislumbrar em alguma

irregularidade que não necessariamente produto de má fé, praticada por um gestor menor.

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Eu acredito que nós estamos dentro de um processo de amadurecimento em que ao

mesmo tempo em que nós nos fortalecemos institucionalmente contra a grande corrupção,

talvez tenhamos um efeito colateral positivo, de, não sermos vamos dizer assim,

excessivamente rigorosos em relação a pequenas irregularidades, especialmente pequenas

irregularidades, muitas vezes, produto de um cipoal normativo ou legislativo que qualquer

gestor tem dificuldades de enfrentar. Acredito que nós paulatinamente vamos amadurecer em

conseguir discernir melhor na gestão entre os gestores da administração pública, o joio e o

trigo, e que nós possamos ser efetivos em relação aqueles que de fato, de má-fé, de dolo, com

má intenção ou eventualmente com culpa grave, mau gerem os recursos públicos. Mais

algumas considerações rápidas aqui sobre o panorama geral e agora gostaria de falar um

pouco sobre a gestão do Ministério da Justiça e segurança pública. (continua...)”

6.2 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Com base no trabalho desenvolvido, e com o mapa mental dos processos

ocorridos, considero que esta pesquisa possa ser replicada a outras áreas de

negócios que igualmente contaram com “empresas parceiras” do governo para

desenvolvimento de seus negócios, como no agronegócio, no ensino, indústria

automobilística e outros.

Gostaria também de conhecer por meio de uma métrica a ser adaptada ou

desenvolvida, o quanto que “vale a pena” o envolvimento de grupos empresariais com

a grande corrupção, pois empresas internacionais envolvidas em casos conhecidos e

que sobreviveram às suas condenações, hoje são líderes ou contam com posição

privilegiada em suas áreas de atuação.

Outra sugestão de pesquisa, está em conhecer as medidas de compliance

adotadas pelas empresas envolvidas e seus resultados alguns anos depois.

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135

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8 ANEXOS

8

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ANEXO A CARTA AO POVO BRASILEIRO (2002)

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ANEXO B TERMO DE DELAÇÃO DE EMILIO ODEBRECHT

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ANEXO C ACORDO DE LENIÊNCIA DA ODEBRECHT COM O MPF

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ANEXO D ACORDO DE LENIÊNCIA DA BRASKEM COM O MPF

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ANEXO E AÇÃO PENAL 50.46512-94.2016.4.04/7000 PR

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ANEXO F RELAÇÃO DE DENÚNCIAS OFERECIDAS PELO MPF/PR

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ANEXO G RELAÇÃO NOMINAL DOS ENVOLVIDOS NA 23ª FASE

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ANEXO H DESCRITIVO SOBRE O CLUBE DE FUTEBOL

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ANEXO I ACORDO DE COLABORAÇÃO DE ANTÔNIO PALOCCI

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ANEXO J DECLARAÇÃO DE EMILIO ODEBRECHT

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