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CORTE NO DEDO ESQUERDO POR BRUNO MOURA

corte no dedo esquerdo

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poemas do bruno moura. made in bahia

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CORTE NO DEDO ESQUERDO

POR BRUNO MOURA

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DEDICO AO BAND-AID SENTIMENTAL.

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meu presente sem passado ou futuro.

essa minha fase

é só uma frase

disfarçada de poema.

arquitetura dos prédios perdidos

a arquitetura d'um poema

tem seus altos e

baixos

não precisa de alvará para funcionar

e nem do crea para autorizar.

o tijolo de cada poema

faz o teto de todo

escritor.

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não conte até dez.

des

controle

amor

reais

poemas

de estou

dez

dias

horas

momentos para

lembrar

motivos

desconfigurar.

anúncio de jornal

troco minha agonia

por sua poesia.

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por onde anda a poesia?

catraca de ônibus

porta giratória

décimo quinto andar

elevo a dor, sobe!

elevador desce!

janela de carro

bala custa um real

boca de lobo

esgoto esgotado

ingresso acaba

rápido.

padaria tem fila

gisele desfila

cachorro espirra,

- não se esquece do pão!

sinal fechado

atravesso o vento

através da faixa

ônibus aparece

motorista abre

torta a porta

e esquece:

poesia não existe

sem cobrar a dor

da s o l i d ã o.

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que assim, seja

quanto mais eu rezo

mais poesia me aparece.

poema ecologicamente correto

apaguem as luzes do quarto

a lua irá iluminar os nossos

sonhos.

plágio

você ctrl c minha poesia,

eu ctrl v sua vida.

minguante desespero

a lua está cheia

de gente vazia.

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sem documento

talvez se não fosse

esse tanto de sensibilidade,

eu não seria poesia.

e agora?

você bagunçou o meu

coração,

e eu não sei fazer faxina.

poema engarrafado

todo engarrafamento

é um romance marginal,

e toda gente

poesia cansada,

de quem aguarda

pela próxima estação,

a chegada do expresso

saudade.

nessa avenida de carros,

rendo-me aos encantos

pedestres.

todo amor

é um engarrafamento.

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[enquadrado]

da janela do quarto vejo todo o mundo na qual

não desejo pertencer.

viver no mundo depois da minha janela

é perder todo o charme,

do mistério que carrego.

30 e 1 motivos

para sorrir

para chorar

para fazer da poesia,

trinta e um motivos para sonhar.

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ribeira

poesia só corre pro mar

desaba

deságua em

olhares estrangeiros.

mar é feito lágrima,

maré cheia é solidão.

morená

clan

destino

em ro

maria no

bomfim

de feira.

ê morená, bahia se escondeu em teu olhar.

terral

quando seu corpo

sopra em direção ao meu

sem norte

sem nada,

lá sou continente

d’um amor só.

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Hoje foi um daqueles dias em que eu não queria sair do ônibus. Hoje gostaria de

ficar aqui sentado, dividindo espaço e vida com esses passageiros

desconhecidos... Daqui de dentro vejo uma América do sul sucateada, a fronteira

com o Uruguai não cabe na baixa desta cidade da Bahia. Aqui, bem no subúrbio

do meu coração, puxo a cordinha do coletivo e solto na próxima estação.

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